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A trafulhice do conversor ortográfico do regime António Emiliano Nota original publicada no Grupo ACORDO ORTOGRÁFICO NÃO! no Facebook. trafulhice (trafulha + -ice) s. f. Acto ou dito de trafulha. = ALDRABICE, INTRUJICE O Lince é uma aplicação que uma coisa moribunda chamada Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC, Lisboa) desenvolveu para converter [sic] textos escritos segundo a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945 em textos com a ortografia definida pelo AO90. É um “conversor ortográfico” distribuído gratuitamente que foi adoptado pela ministra da cultura canavilhas e depois pelos governos da república de pinto de sousa, passos e cavaco como instrumento oficial de aplicação do AO90 na administração pública e nas escolas, sem concurso público. No Portal da Língua Portuguesa, o Lince é apresentado oficialmente assim: «O Lince não é um editor de texto nem um verificador ou corretor ortográfico, e apenas converte texto escrito corretamente [sic] segundo os instumentos [sic] ortográficos anteriormente em vigor, nomeadamente o Formulário Ortográfico de 1943, seguido no Brasil, e o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1945, vigente nos restantes países da CPLP, segundo as suas revisões de 1971 e 1973, respetivamente [sic].» O Lince foi feito por um centro de investigação que não tem i) história em matéria de investigação em ortografia, nem ii) competências de regulação linguística (em Portugal, só a Academia das Ciências tem tais competências e não as pode delegar). Quando se converte um texto através do Lince, a aplicação insere no fim do documento convertido esta nota, em jeito de certificação dos textos convertidos: «Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico [sic] - convertido pelo Lince.» Problemas: 1. ‘Acordo Ortográfico’ não existe. ‘Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa’ existe: é um tratado. ‘Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)’ também existe: é o Anexo I do tratado. As coisas têm nome; se o Lince é uma ferramenta

A TRAFULHICE DO LINCE

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"A TRAFULHICE DO CONVERSOR ORTOGRÁFICO DO REGIME", por António Emiliano. Nota original publicada no Grupo ACORDO ORTOGRÁFICO NÃO! no Facebook.

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A trafulhice do conversor ortográfico do regime

António Emiliano Nota original publicada no Grupo ACORDO ORTOGRÁFICO NÃO! no Facebook. trafulhice (trafulha + -ice) s. f. Acto ou dito de trafulha. = ALDRABICE, INTRUJICE

O Lince é uma aplicação que uma coisa moribunda chamada Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC, Lisboa) desenvolveu para converter [sic] textos escritos segundo a Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945 em textos com a ortografia definida pelo AO90. É um “conversor ortográfico” distribuído gratuitamente que foi adoptado pela ministra da cultura canavilhas e depois pelos governos da república de pinto de sousa, passos e cavaco como instrumento oficial de aplicação do AO90 na administração pública e nas escolas, sem concurso público. No Portal da Língua Portuguesa, o Lince é apresentado oficialmente assim: «O Lince não é um editor de texto nem um verificador ou corretor ortográfico, e apenas converte texto escrito corretamente [sic] segundo os instumentos [sic] ortográficos anteriormente em vigor, nomeadamente o Formulário Ortográfico de 1943, seguido no Brasil, e o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1945, vigente nos restantes países da CPLP, segundo as suas revisões de 1971 e 1973, respetivamente [sic].» O Lince foi feito por um centro de investigação que não tem

i) história em matéria de investigação em ortografia, nem ii) competências de regulação linguística (em Portugal, só a Academia das

Ciências tem tais competências e não as pode delegar). Quando se converte um texto através do Lince, a aplicação insere no fim do documento convertido esta nota, em jeito de certificação dos textos convertidos: «Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico [sic] - convertido pelo Lince.» Problemas: 1. ‘Acordo Ortográfico’ não existe. ‘Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa’ existe: é um tratado. ‘Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)’ também existe: é o Anexo I do tratado. As coisas têm nome; se o Lince é uma ferramenta

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informática oficial (ainda que ilegal) tem de usar designações oficiais. ‘Acordo Ortográfico’ para os autores do Lince é o quê? O tratado ou o anexo do tratado? Obs. 1: no ILTEC não devem ligar grande coisa a Terminologia e aos nomes das coisas porque o próprio Lince tem 2 nomes oficiais na janela de abertura: à esquerda 1) Lince - conversor para a nova ortografia; à direita 2) ferramenta de conversão de texto para o Acordo Ortográfico. Obs. 2: Para? Preposição ou verbo? 2. ‘Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1945’ não existe. A designação oficial é ‘Convenção Ortográfica Luso-Brasileira (1945)’. 3. O Lince não corrige a ortografia dum texto, só “converte”. Ora, se o Lince declara que um texto está escrito conforme o AO e deixa passar erros de ortografia, então não pode declarar o que declara, porque o AO90 não tem nenhuma estipulação explícita do tipo: “todos os erros ortográficos são admissíveis desde que conformes ao AO”. Dito de outra forma, na voragem de acordizar a ortografia portuguesa, o governo português e o ILTEC permitem que um texto processado pelo Lince contenha erros ortográficos, desde que a sua ortografia esteja conforme às regras do AO! 4. Se o Lince é um conversor e não um corrector, então não serve para nada. Um corrector conforme ao AO deve corrigir a ortografia, seja lá o que for que se entenda por ortografia, convertendo a COLB45 em AOLP90. O Lince não corrige, só converte. 5. O Lince limita a liberdade ortográfica que o AO90 confere aos “lusófonos”. P. ex., se eu “meter” a forma FRACCIONÁMOS no Lince, a coisa converte-a em FRACIONÁMOS, não me deixando escolher entre as 4 formas “correctas” possíveis segundo o AO90: FRACCIONÁMOS, FRACIONÁMOS [sic], FRACCIONAMOS e FRACIONAMOS [sic]. 6. Se eu meter os verbos AVERÍGUA [sic] ou ENXÁGUA [sic] (formas que o AO consagra e que estão ao nível do *SUPÔNHAMOS ou do *FÁÇAMOS) o Lince não faz nada... 7. O Lince, tal como o AO90, é uma m...onstruosidade e devia ser denunciado. O ILTEC devia ser encerrado depois de décadas de, em minha opinião absolutamente subjectiva e insignificante, irrelevância científica. Publicado na Biblioteca do Desacordo Ortográfico a 1 de Fevereiro de 2012