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1 A TRAJETÓRIA DO POVO OFAIÉ: TERRITORIALIDADE E RECONHECIMENTO DE DIREITOS TERRITORIAIS SIQUEIRA, Simoni S. * RESUMO O presente trabalho aborda a etnia Ofaié, localizada na área Anodhi, município de Brasilândia, Estado de Mato Grosso do Sul. Muitos caminhos foram percorridos pelos Ofaié ao longo dos anos, através dos rios Samambaia, Três Barras, Serra da Bodoquena, Rio Paraná e Sucuriú. Na década de 1950, por ocasião de sua expulsão da fazenda Boa Esperança, localizada em Brasilândia, aproximadamente 200 índios passaram a ocupar as margens úmidas do Rio Verde, ainda no tempo do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). No entanto, foram muitas andanças e lutas até fixarem-se território. Em 1956, insatisfeitos com a área, retornaram a Brasilândia buscando fixar-se nas terras onde estavam sepultados seus parentes. Praticamente considerados extintos, perseguidos e ameaçados pelos fazendeiros, na década de 60 já não passavam de poucas dezenas segundo Darcy Ribeiro (1977). A situação de conflito que envolveu o povo Ofaié sempre esteve muito presente, só foi minimizada em 1997 quando a Companhia Energética de São Paulo (CESP) comprou uma área e destinou aos Ofaié com 484 hectares. A forte marca de “extinção étnica” pode ser um dos fatores que levou essa etnia a ser tão pouco estudada por pesquisadores nos dias atuais, partindo do pressuposto que no passado a região percorrida pelos Ofaié foi uma das mais visitadas por viajantes e exploradores. O principal objetivo deste trabalho é realizar uma pesquisa partindo do conceito de territorialidade, a partir de uma etnografia sobre os Ofaié presentes na região de Brasilândia/MS, abordando sua organização social e suas relações interétnicas. Palavras-chave: Etnicidade. Ofaié. Território A trajetória do Povo Ofaié A etnia Ofaié, grupo indígena da família Macro-Jê, atualmente habita na TI de nome Anodhi, no município de Brasilândia, localizado ao Leste do Estado de Mato Grosso do Sul, a uma latitude 21°15´21” Sul e a uma longitude 52°02’13” Oeste, limitando ao leste com o rio Paraná. Na área que estão fixados reside além de Ofaié, não índios, Guarani e Kaiowá. Segundo Siasi/Sesai (2014) o número da população neste local era de 69 índios. * Cursa Mestrado em Antropologia na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail: [email protected]. Esta comunicação tem como base minha pesquisa que está sendo desenvolvida na minha dissertação de mestrado.

A TRAJETÓRIA DO POVO OFAIÉ: TERRITORIALIDADE E ......RECONHECIMENTO DE DIREITOS TERRITORIAIS SIQUEIRA, Simoni S.* RESUMO O presente trabalho aborda a etnia Ofaié, localizada na

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A TRAJETÓRIA DO POVO OFAIÉ: TERRITORIALIDADE E

RECONHECIMENTO DE DIREITOS TERRITORIAIS

SIQUEIRA, Simoni S.*

RESUMO

O presente trabalho aborda a etnia Ofaié, localizada na área Anodhi, município de

Brasilândia, Estado de Mato Grosso do Sul. Muitos caminhos foram percorridos pelos Ofaié

ao longo dos anos, através dos rios Samambaia, Três Barras, Serra da Bodoquena, Rio Paraná

e Sucuriú. Na década de 1950, por ocasião de sua expulsão da fazenda Boa Esperança,

localizada em Brasilândia, aproximadamente 200 índios passaram a ocupar as margens

úmidas do Rio Verde, ainda no tempo do Serviço de Proteção ao Índio (SPI). No entanto,

foram muitas andanças e lutas até fixarem-se território. Em 1956, insatisfeitos com a área,

retornaram a Brasilândia buscando fixar-se nas terras onde estavam sepultados seus parentes.

Praticamente considerados extintos, perseguidos e ameaçados pelos fazendeiros, na década de

60 já não passavam de poucas dezenas segundo Darcy Ribeiro (1977). A situação de conflito

que envolveu o povo Ofaié sempre esteve muito presente, só foi minimizada em 1997 quando

a Companhia Energética de São Paulo (CESP) comprou uma área e destinou aos Ofaié com

484 hectares. A forte marca de “extinção étnica” pode ser um dos fatores que levou essa etnia

a ser tão pouco estudada por pesquisadores nos dias atuais, partindo do pressuposto que no

passado a região percorrida pelos Ofaié foi uma das mais visitadas por viajantes e

exploradores. O principal objetivo deste trabalho é realizar uma pesquisa partindo do conceito

de territorialidade, a partir de uma etnografia sobre os Ofaié presentes na região de

Brasilândia/MS, abordando sua organização social e suas relações interétnicas.

Palavras-chave: Etnicidade. Ofaié. Território

A trajetória do Povo Ofaié

A etnia Ofaié, grupo indígena da família Macro-Jê, atualmente habita na TI de nome

Anodhi, no município de Brasilândia, localizado ao Leste do Estado de Mato Grosso do Sul, a

uma latitude 21°15´21” Sul e a uma longitude 52°02’13” Oeste, limitando ao leste com o rio

Paraná. Na área que estão fixados reside além de Ofaié, não índios, Guarani e Kaiowá.

Segundo Siasi/Sesai (2014) o número da população neste local era de 69 índios.

* Cursa Mestrado em Antropologia na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). E-mail: [email protected]. Esta comunicação tem como base minha pesquisa que está sendo desenvolvida na minha dissertação de mestrado.

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A situação de conflito na terra Ofaié sempre foi muito presente, só foi minimizada

quando a Companhia Energética de São Paulo (CESP) comprou uma área destinada à criação

da reserva indígena Ofaié de 484 hectares (1997) e os deslocou para lá.

Discorrer sobre o território Ofaié, sem duvida, configura algo complexo e impõe a

priori algumas definições, ou seja, é necessário localizar o objeto de estudo no espaço

geográfico, delimitando e definindo de quais Ofaié o projeto irá tratar. Isso se deve aos muitos

grupos Ofaié e muitos são os territórios apontados como tradicionais e pertencentes a esse

povo. Assim, Carlos Alberto dos Santos Dutra faz a divisão em duas grandes áreas onde

incidem os maiores registros de ocupação Ofaié. Vejamos:

A primeira área proposta abrange, portanto, as sub-bacias do rio Verde e Pardo,

incluindo o rio Taquaruçu e diversos outros córregos e ribeirões que correm

paralelos a esses dois rios em direção ao rio Paraná. Tem como linha imaginaria

divisória o traçado do rio Pardo, ao sul, e rio Sucuriú, ao norte. A segunda área

abrange as sub-bacias do rio Ivinhema, prolongando-se em direção noroeste, além

da serra de Maracaju, pelas sub-bacias dos rios Miranda e Negro e seus afluentes

(DUTRA, 2017, p. 36).

Também conhecidos como Ofaié- Xavante†. Segundo Urquiza a partir da ideia de

outros pesquisados segue a definição:

Ofayé é autodenominação, o nome como eles mesmos se denominam. Entretanto,

como viviam em uma região do Centro-Oeste habitada pelos índios Xavante, os

sertanejos em geral estendiam essa denominação a todos os diferentes povos

indígenas que ocupavam a região, fato que resultou em vários equívocos na leitura.

O primeiro a tentar esclarecer a distinção entre esses povos foi Nimuendajú

(Nimuendajú, 1993) e mais tarde Darcy Ribeiro (URQUIZA, 2010, p. 59).

A trajetória da etnia Ofaié foi marcada por lutas, perseguições e principalmente pela

forte marca de “extinção étnica” imputada ao grupo. Muitos caminhos foram percorridos

pelos Ofaié ao longo de séculos, através dos rios Samambaia, Três Barras, Serra da

Bodoquena, Rio Paraná e Sucuriú. É importante ressaltar que a ausência de informação no

† Desde o momento do seu aparecimento na documentação brasileira eles foram chamados de diferentes modos, tendo seu nome grafado de varias e diversas maneiras: Opayé, Opaié, Ofaié, Faiá, Faié, Afaiá, Araés, Ypaié, Xavante, Chavante, Shavante, Chavante-Ofaié, Chavante-Opaié, Kurura, Guachi, Wahéi, entre outros. Foram chamados de Shavante provavelmente por viverem numa região de vegetação do tipo savana, onde havia predomínio de arbustos (DUTRA, 2017, p.59)

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relato dos pioneiros, bandeirantes e monçoneiros, pode ser explicada pelo fato de que nesse

período ainda se encontrar bastante difundida, o que não era Tupi, era chamado de Tapuia.

Nesse contexto, por muito tempo a etnia Ofaié foi confundida com outros índios, para

Manuela Carneiro da Cunha(2009) não era só o caso do Brasil. Esse foi um problema de

quase todos os países que se viram diante da tarefa de constituir uma nacionalidade. Na

África, por exemplo, a etnicidade era vista como um empecilho que dificultava sua

construção. Assim, o primeiro registro dos Ofaié surge com Curt Nimuendajú; Dutra cita que:

Foi, sem duvida, Curt Nimuendajú quem elaborou e desenhou os primeiros limites

das terras desta nação, trabalho que foi publicado no Mapa etnográfico do Brasil

Meridional. Como ele mesmo recorda, os limites das terras desta nação foram

elaborados e desenhados por mim, e não por Hermann von Ihering (1850-1930), que

erroneamente apresentou aquela pesquisa como sua. No artigo intitulado A propôs

des indiens Kukura du Rio Verde (Brésil), Curt Nimuendajú localiza os Ofaié, ao

Norte, dividindo suas terras com a nação Kayapó Meridional, que habitava o

chamado Sertão de Camapuã, no alto Inhanduí, e também nas cabeceiras dos rios

Pardo e Verde. ( DUTRA, 2011, P. 107-1080).

Segundo R. P. Rasteiro,

Com registro arqueológico revelado, podemos identificar alguns elementos de

semelhança que definiram esses grupos, e que, consequentemente, os articulou

dentro de uma filiação arqueológica denominada Tradição Aratu. Isso

provavelmente deve estar relacionado a eventos migratórios e processos de trocas

constantes entre esses grupos indígenas, porem, ao pensar nesses Kayapó

Meridionais como diversos grupos Jê, diferentes entre si, acompanhando os estudos

etnológicos atuais que demonstram a complexidade organizacional de cada

grupo[...] (RASTEIRO, 2015, p.86).

Nesse contexto, um dos grandes motivos dos paulistas bandeirantes adentrarem na

região sul de Mato Grosso, no século XVIII, foi à caça ao indígena, que era de grande

importância para a lavoura paulista. Segundo Siqueira, Costa e Carvalho:

[...] as bandeiras foram expedições organizadas com a finalidade

primeira de caçar índios, objetivando vende-los, posteriormente, como

mão-de-obra escrava. Esta prática de se ter índio como mercadoria

para comercializa-lo, nasceu no planalto Piratiningano e dele foi

característico (SIQUEIRA et al. 1990. p.7).

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Nos trajetos realizados pelos monçoneiros, para atravessar a colônia corriam vários

perigos, um dos principais eram os nativos que moravam na beira dos rios. Para as monções,

o rio Tiete era muito significativo, foi dele que se abriram passagens para outros rios

importantes de trajeto, como o rio Paraná, rio Ivinhema, rio Anhanduí, rio Verde e rio Pardo,

entre outros, dando direção às minas de Cuiabá.

Territorialidade e Reconhecimento dos direitos territoriais

No imaginário dos conquistadores, o “elemento” indígena sempre foi entendido como

habitante de um espaço desconhecido, ou seja, indefinível. Nesse contexto, surgem alguns

conceitos que são imprescindíveis para fazermos a distinção entre terra indígena e território e

territorialidade indígena.

O conceito Terra remete a um processo politico-jurídico conduzido pelo Estado, ao

qual conhecemos como terra indígena (territorialização), ou seja, pertence á União, no

entanto, com usufruto das sociedades indígenas. Já no caso do Território Indígena, é tudo

aquilo que foi construído ao longo dos anos pelos povos indígenas. É muito mais do que um

espaço físico; envolve elementos religiosos, simbólicos; é uma construção social. Nesse

contexto, o território é parte da construção social de tais povos, bem como de sua

cosmologia/cosmovisão. Os Kaiowá, por exemplo, definem terra como muito mais do que um

lugar para se por os pés, o chamam de “Tekoha”. Conceito definido por Graciela Chomorro e

Isabelle Combès dizem que,

No que toca aos povos guarani falantes, que se definem, sobretudo, pelo tekoha – o

lugar onde eles são o que são, lugar que promete e faz possível o que serão –, desde

séculos se insiste em deixá-los sem um lugar onde possam pôr os pés. Então, dá-se a

dramática situação de que sem tekoha não há teko, sem lugar onde ser, não há ser. E

o mesmo acontece com os demais povos indígenas que vivem em Mato Grosso do

Sul: suas identidades transformam-se numa questão de territorialidade também, que

não é a possessão de uma propriedade privada, mas uma terra comunitária onde se

possa viver e ser (CHAMORRO; COMBÉS, 2015, p. 16).

A lógica dos povos indígenas vê o um território, como um bem coletivo.

Nesse contexto, o presente projeto pretende enfatizar a questão da territorialidade

Ofaié, partindo do pressuposto que há pouco material produzido por pesquisadores,

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antropólogos e historiadores sobre a tal etnia em Brasilândia. Falar sobre a territorialidade

Ofaié é muito mais do que falar de um local habitado por eles. Segundo Paul Little, a “Noção”

territorial integra todos os grupos humanos. Para ele a territorialidade é:

[...] o esforço coletivo de um grupo social para ocupar, usar, controlar e se

identificar com uma parcela específica de seu ambiente biofísico, convertendo-a

assim em seu “território” ou homeland. (cf. Sack 1986:19). Casimir (1992) mostra

como a territorialidade é uma força latente em qualquer grupo, cuja manifestação

explícita depende de contingências históricas. O fato de que um território surge

diretamente das condutas de territorialidade de um grupo social implica que

qualquer território é um produto histórico de processos sociais e políticos. Para

analisar o território de qualquer grupo, portanto, precisa-se de uma abordagem

histórica que trata do contexto específico em que surgiu e dos contextos em que foi

defendido e/ou reafirmado (LITTLE, 2002, p. 3-4).

Segundo Joao Pacheco de Oliveira Filho (1998) caberia chamar a atenção para a

diferença entre territorialização (um processo social deflagrado pela instancia politico-estatal)

e territorialidade (um estado ou qualidade inerente a cada cultura e sua organização social).

Quanto ao conceito de territorialização,

A noção de territorialização é definida como um processo de

reorganização social que implica: 1) a criação de uma nova unidade

sociocultural mediante o estabelecimento de uma identidade étnica

diferenciadora; 2) a constituição de mecanismos políticos e

especializados; 3) a redefinição do controle social sobre os recursos

ambientais; 4) a reelaboração da cultura e da relação com o passado

(OLIVEIRA FILHO, 1998, p.55).

Territorialidade se relaciona com as formas próprias como cada povo elabora suas

práticas sócio-culturais na interação da natureza com o todo que o cerca, inclusive o cosmos,

ou seja, um sentido mítico que extrapola a noção geográfica de terra. Já o conceito de

territorialização remete par a ação “de fora para dentro”, geralmente deflagrado pela instancia

politica do Estado-Nação, gerando um profundo reordenamento social, cultural, politico e da

própria “redefinição do controle social sobre os recursos ambientais” (FILHO, 1998).

A partir da definição dos conceitos citados acima, poderemos fazer uma analise mais

profunda da questão territorial que envolve a sociedade Ofaié.

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A área Indígena habitada pelo grupo a partir de 1997 compreendia 487 hectares de

extensão e recebe a designação de “Comunidades Indígenas Ofaié-Xavante”. Após a

aquisição pela compra, em 2002, de parte da área juridicamente declarada de posse dos Ofayé

no ano de 1992, o grupo passou a ocupar pouco mais de mil hectares. Esta área localiza-se ao

sul e a oeste do município de Brasilândia, próxima ao limite de divisa com o município de

Santa Rita do Pardo (MS). É importante ressaltar que segundo Mirtes C. Borgonha:

A expressão “comunidade” confunde-se com noção de “Território”, pois ora é

utilizada para designar a área em que o grupo habita, ora para identificar o grupo

indígena. É interessante observar que por “Comunidade Indígena Ofaié-Xavante”

entende-se a área indígena de propriedade do grupo, em sua totalidade, sendo este o

nominativo utilizado no expediente da FUNAI e demais órgãos administrativos,

assim como pelas lideranças. Outra expressão frequentemente utilizada pelos

funcionários das entidades administrativas (federais, estaduais e municipais) e por

alguns moradores de Brasilândia que tem contato com os Ofayé para se referirem a

localidade é “aldeia dos Ofayé” ou “Aldeia Ofayé”. (BORGONHA, 2006, p.69)

A área indígena é delimitada por dois lotes de terra, entre os moradores da aldeia há

certas distinções para designar as áreas adquiridas em 1997 e 2002. Assim, Borgonha tece a

seguinte definição:

[...] a primeira área, referindo-se ao local adquirido 1997; e a segunda área, para a

propriedade que os Ofayé obtiveram em 2002. Os moradores usam os termos “outra

área’, “outra aldeia” e também “aldeia de cima” e “aldeia de baixo” – porém com

menos frequência-, para se referirem às distintas localidades. As expressões “outra

área” e “outra aldeia” são geralmente utilizadas pelos moradores da primeira área.

Os que vivem na segunda área comumente fazem uso dos adjetivos ‘cima/baixo”,

mas utilizam também as expressões “outra área” e “outra aldeia” (BORGONHA,

2006, p. 71).

Partindo do pressuposto da forma com a qual adquiriram a área indígena “ sua

titularidade tem impacto direto na organização social do grupo” (BORGONHA, 2006, p. 69).

Segundo Mirtes Cristiane Borgonha, na época de sua pesquisa, eles estavam organizados na

área indígena em,

75 pessoas, entre Ofaié, Guarani e não-índios. Entre os moradores da área indígena,

45 Ofayé, 19 são filhos de um individuo Ofayé com um individuo Guarani, 7 são

filhos de um individuo Ofayé com um individuo não-índio e os demais se

consideram filhos de pai e mãe Ofayé; 26 pessoa são Guarani ( entre eles há Guarani

Kaiowá e Guarani Nhandéva) e 4 pessoas são não-índias (BORGONHA, 2006,

p.70).

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Assim, “as distintas identidades aparecem bem marcadas no convívio e na co-

residência, distinção também presente em seus discursos de auto-afirmação” (BORGONHA,

2006, p.70).

A área indígena é delimitada em “duas áreas”, como já falamos anteriormente, a

primeira adquirida 1997 e a segunda em 2002.

Na área doada a eles pela CESP em 1997 foi construída com orientação do cacique

Ataíde em forma de configuração espacial, as casa dispostas em forma de circulo, distantes

100 metros umas das outras, tendo ao centro a escola, o posto de saúde, o armazém e o poço

artesiano, dispostos a uma configuração triangular, em 2005 essa área já tinha 14 casas.

Assim, “os caminhos que ligam as casas ao centro sugerem a configuração de uma aldeia

radial jê” (BORGONHA, 2006, p. 71).

No final dos anos de 1990 e inicio dos anos 2000, os indígenas dessa aldeia utilizavam

uma construção inacabada para realização de cultos evangélicos, lembrando que a edificação

foi erguida com incentivo dos Guarani Kaiowá. Porem, na atualidade o local esta desativado,

e os moradores recebem constantemente visitas de movimentos católicos e evangélicos.

A segunda etapa conhecida por “segunda área”, esta interligada a primeira por uma

estreita faixa de terra ao fundo da primeira área, é composta de 7 casas, as terras são

destinadas a produção agrícola, criação de gado e açudes para piscicultura.

O plantio e a alimentação é algo que depende também de recursos da CESP e da

FUNAI, os equipamentos agrícolas, o combustível e as sementes são obtidos com recursos do

convênio da CESP/FUNAI e quem gerencia esses recursos é o IDATERRA‡ em parceria com

a Associação Indígena Ofayé (BORGONHA, 2006).

Quanto á questão da educação escolar a aldeia conta com o funcionamento de apenas

uma escola, que oferece o ensino de 1ª a 4ª série, com classes multisseriada. No entanto, a

escola é uma realidade difícil para os Ofaié, pois quando terminam a 4ª precisam se descolar

até a cidade de Brasilândia para dar continuidade aos estudos. Já a saúde da aldeia é de

responsabilidade 20° Distrito Sanitário Especial Indígena e da FUNASA§.

‡ Instituto de Desenvolvimento Agrário, Assistência Técnica e Extensão Rural de Mato Grosso do Sul. § Fundação Nacional da Saúde.

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Nas relações de comunicação entre segundo Mirtes C Borgonha “de um modo geral, a

interação entre os moradores é comedida e restrita. São poucos os momentos em que se pode

presenciar manifestações coletivas (BORGONHA, 2006, p.80).

Há uma divisão entre as atividades realizadas pelos homens e pelas mulheres. Nesse

contexto, as mulheres estão envolvidas com os afazeres domésticos, e quando não o fazem

estão na segunda área cuidando das roças ou pescando, e compartilham o carpir, plantar e

colher as lavouras com os homens.

“São as relações de parentesco que constituem substancialmente a vida na aldeia, o

que pode ser notado nos discursos e nas ações cotidiana dos moradores” (BORGONHA,

2006, p.89).

Com tantas remoções forçadas os Ofaié acabaram se dispersando em pequenos grupos,

assim “falam de seus parentes que não moram na aldeia, indicando que eles optaram por viver

na cidade de Brasilândia e em outras cidades dos Estados de Mato Grosso do Sul e de São

Paulo, ou permaneceram na Bodoquena ou nas aldeias Guarani de Amambai, Caarapó e

Dourados” (BORGONHA, 2006, p.89).

A (re)existência do Povo Ofaié

O presente trabalho aborda o povo Ofaié da área indígena Anodhi, localizada na

região de Brasilândia no Estado de Mato Grosso do Sul. A trajetória de sofrimento,

perseguição e morte desse povo, bem como o retorno para a região onde estão localizados e as

terras de suas primeiras ocupações.

Os Ofaié de Brasilândia habitaram, tradicionalmente, por muitas décadas, a margem

direita do rio Paraná. Segundo Carlos Alberto dos Santos Dutra:

No relato dos primeiros viajantes e exploradores do século XVIII e XIX, em suas

incursões pelo Centro-Oeste brasileiro, o indígena Ofaié raramente é mencionado. Durante o

chamado ciclo do ouro, que se deu em Mato Grosso a partir de 1718, as estradas que

estabeleceram contato com os bravos indígenas que perambularam no curso do varadouro

Tiete-Paraná-Pardo, rumo às minas de Cuiabá, nenhuma delas particulariza qualquer contato

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com os Ofaié, erroneamente chamados pelos colonizadores pela denominação genérica

“Chavantes” (DUTRA, 2011. P. 103).

Entretanto, foi à documentação do período que coincide com a criação do Serviço de

Proteção aos Índios, as Comissões de Linhas Telegráficas, do lado mato-grossense, e a

realização das expedições cientificas que desbravaram o oeste paulista, que praticamente

apresentou os indígenas Ofaié à sociedade brasileira.

A partir das pesquisas realizadas por Dutra (1996), o primeiro contato com essa etnia

deu-se durante o ciclo do ouro da América Portuguesa, por ocasião das bandeiras de

apresamento que ocorreram nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso (que neste período

abrangia também o território do hoje Mato Grosso do Sul), e Goiás, entre 1687 e 1722).

Assim, Dutra relata quanto às informações não oficiais:

As primeiras noticias dos Ofaié nos são fornecidas, a maioria delas, pelos viajantes e

exploradores, que em seus registros e apontamentos dignaram-se relatar a presença

destes silvícolas nas regiões por onde passavam, bem como puderam observar

algumas de suas características e costumes tribais. Diversas foram as expedições que

desceram o rio Tietê, conhecido como o Rio Bandeirante, e o rio Paraná, subindo os

rios Pardo e Anhanduí ate as terras de Aquidauana à procura, a principio, de índios

para escravizar e depois, em busca de ouro das minas de Cuiabá (DUTRA, 1996, p.

85).

Entre as diversas pesquisas realizadas por estudiosos sobre os Ofaié, podemos citar a

de João Américo Peret** que faz a referencia oficial mais antiga, localizando estes tradicionais

ocupantes da margem direita do rio Paraná, ele também é o organizador do Mapa Etnográfico

do Brasil.

No entanto, somente a partir de 1903, Candido Mariano da Silva Rondon estabeleceu

o primeiro contato pacifico com os Ofaié, estimando-os em aproximadamente 2.000

indivíduos. Logo após, o processo dizimatório foi muito rápido, sendo que em 1910 o número

** Indigenista, também arqueólogo, escritor, jornalista, acadêmico, roteirista cinematográfico e fotógrafo. Como indigenista trabalhou no serviço de proteção ao índio (SPI) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) no período de 1950 a 1970 tendo convivido, nesta época, com o Marechal Rondon e sertanistas conhecidos como os irmãos Villas Boas, Francisco Meirelles e Gilberto Pinto. Participou da criação do Museu do Índio e da criação da ‘Comissão Pró-Índio, no Rio de Janeiro. Atualmente participa do ‘Movimento em Defesa da Economia Nacional’ (MODECON) e do ‘Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos’ (CEBRES), organização voltada às questões indígenas e problemas de fronteiras.

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de indivíduos desta etnia já havia sofrido um decréscimo para aproximadamente 900 índios

descreve CARUSO (1977 apud CARUSO et al, 2003, p. 17).

Na medida em que as cercas de arame foram sendo levantadas, ou seja, quando os

latifundiários começaram a tomar posse das terras, se viram obrigados a percorrer as matas ao

longo dos rios Samambaia e Três Barras.

Nesta época, segundo CARUSO:

Um grupo bastante significativo podia ser encontrado no interior da fazenda Boa

Esperança. Da empresa inglesa Brazil Land Cathe Packing Company, conhecida

como fazenda dos “Norte Americanos” que deu origem ao município de Brasilândia

(CARUSO, 2003, p. 17).

Porém na década de 1950, por ocasião de sua expulsão da Fazenda Boa Esperança, no

município de Brasilândia aproximadamente 200 índios passaram a ocupar as margens úmidas

do rio Verde, tendo sidos identificados e catalogados pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI)

em 1953. Insatisfeitos com as condições da área retornaram á Brasilândia buscando fixar-se

nas terras onde estavam sepultados seus parentes, nas margens do córrego Sete.

Nesse contexto, perseguidos e ameaçados pelos fazendeiros, e à beira da extinção, esta

etnia, na década de 60 já não passava de poucas dezenas de indivíduos, vivendo praticamente

no anonimato até a década de 70, quando Darcy Ribeiro (1977 apud CARUSO ET AL 2003,

p. 17) considerou-os extintos.

Hoje são poucos, mesmo tendo sido considerados ‘”extinto”( RIBEIRO, 1997), estão

“misturados”(FILHO, 1998) entre os Guarani e Kaiowá e não-índios, no município de

Brasilândia.

A história do território Ofaié é repleta de varias contestações principalmente sobre

forte marca de “extinção étnica” imputada ao grupo, à luta pelas suas terras também abrange

um grande contexto, como o fato denunciado pelo jornalista Luiz Carlos Lopes, em 1976 os

Ofaié viviam em um profundo estado de miséria, apesar das denuncias nada foi feito. No

entanto, o que mais nos chama a atenção é um local tão visitado pelos viajantes e

exploradores entre os séculos XVII e XVIII, os quais causaram seu quase extermínio, foi tão

pouco visitado pelo SPI e principalmente pelos pesquisadores.

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A ideia de desaparecimento de grupos indígenas, acabou se tornando a partir da

metade do século XX, uma grande preocupação para a antropologia brasileira.

Nesse contexto, Laraia que “ao lado da preocupação com a reconstituição da cultura

tradicional, inicia-se a investigação dos efeitos do contato das populações indígenas com as

frentes de expansão da sociedade nacional” (LARAIA. 1990 p.1990 apud BORGONHA,

2006, p.37).

Eduardo Galvão traz para discussão o conceito de “aculturação”. Já, Darcy Ribeiro

propõe diferentes tipos de situações de contato, classifica as “frentes de expansão” da

sociedade nacional e propõe uma nova politica indigenista, levando em conta os interesses das

populações indígenas, ou seja, era preciso tomar uma providência quanto ao desaparecimento

dos indígenas. Assim, Darcy Ribeiro em 1957 organiza um novo quadro da situação dos

grupos indígenas brasileiros quanto ao grau de integração na sociedade nacional.

Mesmo com questão imposta por Ribeiro quanto aos Ofaié sobre a ideia de sua

extinção, o autor faz uma ressalva e diz “talvez se encontrem ainda indivíduos falantes

dispersos pela região em que vivam, pois a nossa categoria extintos refere-se, essencialmente,

ao desaparecimento do grupo como entidade étnica” ( RIBEIRO, 1996, p.510 apud em

BORGONHA, 2006, p.38).

Entretanto, a partir da abordagem aculturativa de Darcy Ribeiro, Viveiro de Castro

(1999), define que:

Teria vindo politizar, em vários sentidos, a problemática formalista da aculturação,

denunciando o etnocídio que se escondia sob esse rótulo neutro, inserindo-o no

quadro da expansão diferencial da fronteira econômica nacional e prevendo a

extinção sociocultural dos povos indígenas (VIVEIROS DE CASTRO, 1999, p.

125).

Entretanto, Roberto Cardoso, vem romper com o paradigma aculturativo ainda

subscrito por Darcy Ribeiro. Vejamos,

Inspirado na noção de 'situação colonial', extraída da sociologia africanista de

Balandier, Cardoso de Oliveira deslocou o foco analítico da cultura para as relações

sociais, ao propor o conceito de fricção interétnica. Se Darcy Ribeito polítizou a

aculturação, Cardoso de Oliveira a sociologizou, lançando mão de uma paleta

eclética de referências, do marxismo à etnociência, do estruturalismo à

fenomenologia. Mais tarde, ele iria migrar da problemática da 'fricção' para a da

'identidade', e depois para a da 'etnicidade' - em um percurso repetido por vários de

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seus discípulos-, sem abandonar a questão geral do contato interétnico (VIVEIROS

DE CASTRO, 1999, p.125)

A definição de grupo étnico, identidade e etnicidade, possuem uma definição bem

complexa. A revisão do conceito segundo Fredrik Barth (2000) resultou na incorporação das

noções de identidade étnica e etnicidade, com criticas contundentes a concepção tradicional

que concebia o grupo étnico como unidade cultural distinta, separada. Já sobre a etnicidade

Poutignat E Streiff-Fenart definem que:

Estudar a etnicidade consiste, então, em inventariar o repertório das

identidades disponíveis em uma situação pluriétnica dada e descrever

o campo de saliência dessas identidades nas diversas situações de

contato. A análise situacional da etnicidade liga-se ao estudo da

produção e da utilização das marcas, por meio das quais os membros

das sociedades pluriétnica identificam-se e diferenciam-se, a ao estudo

das escolhas táticas e dos estratagemas que acionam para se safarem

do jogo das relações étnicas (POUTIGNAT; STREIFF-FENART,

1998, p. 117).

Falar da etnia Ofaié é ter de falar das relações que eles estabeleceram com o meio,

seus círculos migratórios e trocas culturais que mantiveram ao longo do tempo, e assim,

estudar seu território, requer atenção para não se cometer a ingenuidade de acreditar que o

isolamento geográfico seja a explicação para a diversidade étnica e a manutenção dos povos

indígenas como os Ofaié.

Ao contrario “as fronteiras étnicas persistem apesar do fluxo de pessoas que as

atravessam” (BARTH, 1998, p.62). Identidade: enquanto é capaz de atribuir a si próprio e

fazer serem atribuídas pelos outros adscrições enunciadoras de diferenças étnicas; valores de

uma identidade étnica que também se expressam enquanto materialidades culturais.

No caso da etnia Ofaié, quando viveram na Reserva Indígena Kadiwéu, dividiram a

área com alguns Guarani e Kaiowá, deste convívio resultaram casamentos entre integrantes

dos dois grupos, quando retornaram a Brasilândia “uma Ofaié que havia casado com um

Guarani veio se juntar-se ao grupo (BORGONHA, 2006, p. 90). Em 1997, quando

conseguiram finalmente a titularidade da área indígena, os Guarani e não-índios também se

assimilaram aos Ofaié. Segundo Fredrik Barth:

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Em primeiro lugar, torna-se claro que as fronteiras étnicas permanecem apesar do

fluxo de pessoas que as atravessam. Em outras palavras, as distinções entre

categorias étnicas não dependem da ausência de mobilidade, contato e informação,

mas implicam efetivamente processos de exclusão e de incorporação (BARTH,

2000, p.26).

E assim é necessário voltarmos à ideia de Max Weber, “de que as comunidades étnicas

podiam ser formas de organizações eficientes para a resistência ou conquista de espaços, em

suma, que eram formas de organização politica”(CUNHA, 2009, p.237).

No caso Ofaié em meio a tantas remoções forçadas, e ausência de material etnográfico

posto que, após uma pesquisa bibliográfica preliminar na atualidade parece haver somente a

pesquisa de Mirtes Cristiane Borgonha em 2006, falar da sua territorialidade e dizer “que a

cultura original de um grupo étnico, na diáspora ou em situações de intenso contato, não se

perde ou se fundi simplesmente, mas adquiri uma nova função, essencialmente e que se

acresce às outras” (CUNHA, 2009, p.237).

Assim, a partir da pesquisa etnográfica que pretende enfocar o processo de

territorialidade Ofaié, parece se constituir em mais que isso, pois é (Re) viver a manutenção

de tal etnia e suas (Re) construções sócio-culturais.

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