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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CI Ê NCIAS JUR í DICAS E ECON Ô MICAS INSTITUTO DE P Ó S-GRADUAÇ Ã O E PESQUISA EM ADMINISTRAÇ Ã O - COPPEAD Abertura à Participação em um Processo de Reestruturação O caso Reduc Mestrando: Dércio Santiago da Sva Júnior Orientadora: Pro. Anna Maria Campos Rio de Janeiro 1996

Abertura Participação em um Processo de Reestruturação · fortemente para fermentar o bolo dois caros amigos, ... passou a cobrar melhorias no setor ... exacerbação daquela

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURíDICAS E ECONÔMICAS

INSTITUTO DE PÓS-GRADUAÇÃO

E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO - COPPEAD

Abertura à Participação em um Processo de Reestruturação

O caso Reduc

Mestrando: Dércio Santiago da Silva Júnior

Orientadora: ProfB. Anna Maria Campos

Rio de Janeiro 1996

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ABERTURA À PARTICIPAÇÃO EM UM PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO: O CASO REDUC

Dérclo Santiago da Silva Júnior

Tese Submetida ao Corpo Docente do

COPPEAD - Instituto de Pós-Graduação

e Pesquisa em Administração - da

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessári

à obtenção do grau de Mestre em

Ciências (M. Sc.)

APROVADA POR:

�Cto ANNA MARIA CAMPOS

Presidente COPPEAD -UFRJ

A DE OLIVEIRA -EBAP

Rio de Janeiro, RJ - Brasil

março de 1996

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Ficha Catalográfica

SILVA JÚNIOR, Dércio Santiago da.

Abertura à participação em um processo de Reestruturação: o caso Reduc I Dércio Santiago da Silva Júnior. Rio de Janeiro: COPPEAD, 1 996.

XVII, 113 Is.

Dissertação - Universidade Federal do Rio de Janeiro, COPPEAO.

1. Reestruturação. 2. Poder. 3. PETROBRAs. 4. Reduc. 5. Tese (Mestr. - COPPEAD/UFRJ).

l. Titulo

iii

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RESUMO

RESUMO DA TESE APRESENTADA AO COPPEADIUFRJ COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

EM CIÊNCIAS (M. Se.).

ABERTURA À PARTICIPAÇÃO EM UM PROCESSO DE

REESTRUTURAÇÃO: O CASO REDUC

Déreio Santiago da Silva Júnior março de 1996

Orientadora: Profa. Anna Maria Campos

o presente estudo visa analisar as motivações que levaram à adoção de um processo

participativo de reestruturação em um sistema de poder fechado. Seu principal objetivo é

iluminar o fluxo de desejos e motivações encoberto pelo discurso institucional de aumento de

eficiência e de eficácia. O caso analisado foi o da Refinaria Duque de Caxias, unidade

industrial da PETROBRÁS, situada no Estado do Rio de Janeiro.

As conclusões sugerem que a aplicação de um processo de reestruturação em um

sistema de poder fechado não gera resultados como re-racionalizador do processo. Sugerem

também a existência de um outro efeito associável ao processo: a acomodação de tensões na

estrutura de poder.

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ABSTRACT

RESUMO DA TESE APRESENTADA AO COPPEADIUFRJ COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE

EM ciêNCIAS (M. Se.).

ABERTURA À PARTICIPAÇÃO EM UM PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO: O CASO REDUC

Déreio Santiago da Silva Júnior março de 1996

Orientadora: Profa• Anna Maria Campos

The present study aims to analyze the motives that have let to the adoption of a

participative process in the closed system of power, Its main purpose is to illuminate the flow of

wishes hidden by the institutional speech of increasing efticiency and efticacy, the case studied

has been that of the Duque de Caxias Refinery, a PETROBRAs industrial unit, p/aced in Rio de

Janeiro, Brazil.

Conclusions suggest that the application of a restructuring process in a c/osed system

power does not result in a rationalization of the processo It is also suggested the existence

another eftect assotiable to the process: the accommodation of tensions In the power structure.

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atrás de toda razão se esconde um desejo . . .

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Agradecimentos

Agradecer a todos que colaboraram para o atingimento deste objetivo

é uma tarefa impossível. A substituição de qualquer dos colaboradores, ainda

que não inviabilizasse, tornaria o trabalho uma obra diferente da atual. Assim

agradeço a todos que de algum modo ajudaram na confecção do todo.

Agradecimentos especiais porém à amiga e professora Anna Maria

Campos, que me mostrou que um fluido pode ter forma: a forma do vaso; e ao

também amigo e professor José Eduardo Teixeira Leite, na companhia de

quem a gênese da idéia floresceu e ocupou seu espaço. Colaboraram

fortemente para fermentar o bolo dois caros amigos, Jorge Ávila e Marco

Aurélio. Também foi de inestimável valor a generosa disponibilidade do amigo

Ricardo Luis, nessa estrada comigo há muitos anos.

No campo profissional, duas pessoas devem ser nominalmente

destacadas: o meu amigo e ex-chefe, o idealista teimoso que acreditou em

mim antes que eu pudesse fazê-lo, Jefferson Santos, e Luis Cesar Sampaio,

que há quatro anos atrás, apesar de ser para mim somente um nome no

organograma da empresa, possibilitou, no uso da sua posição h ierárquica, a

manutenção do vínculo entre mim e a PETROBRÁS.

Ainda no campo institucional, agradecimentos ao pessoal da Funcação

Estudar, cujo belo trabalho viabilizou minha permanência no programa de

intercâmbio.

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Nel período di scambio in /talia, un grupo di amici si e messo d'impegno

per farmi la vita piu confortevole e il tempo piu sfrutato. Sono loro: Adriana

Castelli, Fanty Benvenuto, Simona Tripoli e Uno Dimartino. A tutti loro, tante

grazie. Grazie também à carioca que possibilitou o primeiro contato com eles,

m inha amiga Cristina.

Por fim, but not least, agradecimentos a uma pequena lista de pessoas

especiais, que convivem regularmente comigo e cuja influência se faz sentir

em tudo que eu faça: minhas amigas Cláudia, Desirée e Ana Letícia, meus

irmãos, Marcello e Patrícia e meus pais, Dércio e Arlene.

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índice

1.INTRODUCÃO

1.1 o PROBLEMA

1.2 A QUESTÃO

1.3 A ORGANrzAçÃO EM ESTUDO

1.4 O MÉTODO

1.5 As LIMITAÇÕES

1.6 A ESTRUTURA DO TRABALHO

2. AS POSSIBILIDADES ESTRUTURAIS

2.1 ESTRUTURA SIMPLES

2.2 BUROCRACIA MÁQUINA

2.3 BUROCRACIA PROFISSIONAL

2.4 ESTRUTURA DrvrsIONALlZADA

2.5 ADHOCRACrA

3. A ATUACÃO DOS FATORES CONTINGENTES

3.1 IDADE

3.2 TAMANHO

3.3 SrsTEMA TÉCNICO

3.4 AMBIENTE

3.4.1 Os QUAlRO AMBIENTES DA ORGANIZAÇÃO

3.5 PODER

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4. A OUESTÃO DO PODER

4.1 A QUESTÃO Do PODER

4.2 T IPOS DE DoMINAÇÃO

4.3 A ORGANIZAÇÃO CARTESIANA

4.4 O PODER NAS ORGANIZAÇÕES

5. POSSÍVEIS CONFIGURACÕES DE PODER

5.1 ORGANIZAÇÃO INSTRUMENTAL OU INSTRUMENTO

5.2 ORGANIZAÇÃO SISTEMA FECHADO

5.3 ORGANIZAÇÃO AUTOCRÁTICA

5.4 ORGANIZAÇÃO MISSIONÁRIA

5.5 ORGANIZAÇÃO MERITOCRÁTICA

5.6 ORGANIZAÇÃO ARENA POLíTICA

6. A IDÉIA DE REESTRUTlJRACÃO

6.1 U MA IDÉIA DE VALOR: A TEORIA DO AGENTE

6.2 As OpÇÕES DE REESTRUTURAÇÃO

7. A METODOLOGIA DE AVALIACÃO

7.1 POSSmILIDADES DE AVALIAÇÃO

7.1.1 A Avaliação Objetiva

7.1.2 A Avaliação Subjetiva

7.2 O MÉTODO HERMENtUTICO-DIALÉTICO

7.3 A METODOLOGIA DA PESQillSA DE CAMPO

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8. APRESENTACÃO E ANÁLISE DOS DADOS 79

8.10 RELATO FACTUAL 79

8.1.1 As ESTRUTURAS 79

8.1.2 Os FATOS HISTóRICOS 81

8.2 REsULTADOS G ERAIS 82

8.3 REsULTADOS LIGADOS À QUESTÃO-G UIA 84

8.3.1 AS MOTIVAÇÕES DO AGENTE DEFLAGRADOR 84

8.3.2 A REAÇÃO DA LINHA MlIDlA 89

8.3.3 O ANDAMENTO DO PROCESSO 90

8.3.4 O AGENTE DEFLAGRADOR COMEÇA A ENCERRAR O PROCESSO 94

8.3.5 O Novo NÚMERO 1 95

8.3.6 A FORÇA DA ALTA G�CIA MlIDIA 96

8.3.7 A F1NAUZAÇÃO DO PROCESSO 98

8.3.8 RESULTADO 100

9. CONCLUSÕES E RECOMENDACÕES 103

BIBLIOGRAFIA 106

ANEXO 1 111

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1. Introdução

1.1 o PROBLEMA

Definir o problema é tarefa fundamental de quem decide escrever uma

monografia de mestrado. E talvez a mais difícil. No meu caso particular um

foco inicial, ainda que amplo, estava definido por acordo com o meu

empregador quando da liberação para o mestrado. Eu deveria escrever sobre

"assunto de relevante interesse para empresa", abordando particularmente o

processo de reestruturação organizacional por que passava a unidade na qual

era (e ainda sou) lotado: a Refinaria Duque de Caxias, Reduc, uma das

principais unidades industriais da PETROBRÁS.

Porém, as abordagens possíveiS a um processo de reestruturação são

m uitas. E, entre tantos fios da meada, qual deveria escolher? O processo de

escolha levou em consideração inquietações originadas em aproximadamente

seis anos de serviço entre os quadros daquela organização, realçadas e

desenvolvidas ao longo de mais de dois anos de cursos e discussões no

COPPEAD.

Os programas de reestruturação e de reorganização administrativa têm

estado cada vez mais "em moda", fruto da busca, por parte do sistema

produtivista como um todo, por melhorias contínuas nos índices de eficácia e

eficiência das organizações.

O Brasil se manteve, nas últimas décadas, bastante alheio à

necessidade da melhoria contínua de tais índices, em virtude de pesadas

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barreiras alfandegárias que protegeram as suas indústrias da predatória

competição internacional. Ao mesmo tempo em que tal proteção perm itiu certa

"tranquilidade" em relação à eficácia e eficiência, foi fundamental para a

criação do espaço onde uma indústria nacional pudesse crescer e adquirir

"massa crítica".

Passando ao largo das discussões de timing, que não pertencem ao

escopo deste trabalho, o fato é que, no momento atual, a economia brasileira

se abre à competição internacional e torna premente a busca pelas indústrias

de melhor desempenho, sob pena de morte organizacional.

Esta pressão foi exercida rio primeiro momento sobre as empresas

privadas, forçando-as a uma revisão generalizada em seus métodos e

procedimentos e "selecionando" apenas as capazes de adaptar-se à nova

realidade continuamente mais "exigente".

o passar do tempo, porém, tornou claro que também as empresas

estatais, tradicional meio-de-caminho entre a pretensa eficiência do privado e

a decantada ineficiência do público, se veriam forçadas a reagir, aderindo a

um discurso pró-ativo no que tange às mudanças pela busca de eficiência e de

eficácia. O conjunto da sociedade, cooptado pela idéia de desempenho,

passou a cobrar melhorias no setor público.

Nesta conjuntura estava formado um campo fértil para o crescimento

das recém importadas "sementes mágicas", métodos definitivos de solução da

ineficiência crônica, concebidos, testados e aprovados nas maiores e mais

bem sucedidas economias do mundo.

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Curiosamente cada método de solução definitiva era sucedido por

outro, também definitivo, ainda "mais total" que o anterior, num desfile

interminável de nomes: Gerência Por Objetivos (GPO), Total Quality Control

(TOC), Reengenharia, etc. Observação mais cuidadosa desses métodos

mostra uma interessante característica em comum: a aplicação (ou re­

aplicação) do método cartesiano, "disfarçado" em "novas" categorias

pretendendo explicar e corrigir todos os problemas cientificamente, com pouca

(ou nenhuma) atenção à componente autor, parte indissociável dos atores

organizacionais.

Interessantemente, o método de análise e síntese consegue realmente

resultados. Ainda que não perenes, vis-à-vis a constante necessidade de sua

re-aplicação sob nomes diversos, os resultados são possíveis (e sensíveis) se

a apl icação do método é razoavelmente bem contextualizada.

1.2 A QUESTÃO

A PETROBRÁS, inserida neste contexto, movimenta-se na direção de

fazer uma reestruturação interna, criando uma secretaria com esta função

específica, ao nível da diretoria da empresa. Essa ação, naturalmente,

despertou inquietações que perpassavam toda a estrutura da companhia. Logo

se assistiu ao aparecimento de programas de reestruturação locais, ao nível

de departamentos e até mesmo de unidades operacionais, sempre no sentido

de colaborar com a reestruturação maior, cujo estudo estava em curso nos

altos escalões da organização, "adiantando" o andamento do trabalho e

somando aos valores e objetivos institucionais uma visão das peculiaridades

locais.

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Particularmente no departamento onde são lotadas as unidades de

refino uma movimentação política tornou mais interessante, quase necessária,

a adoção de programas de reorganização administrativa das unidades

industriais.

Além deste pano de fundo, são cores locais características da Reduc:

uma situação de distribuição de poder especialmente desconfortável,

exacerbação daquela que é definida por Mintzberg (1 983) como um "sistema

fechado" e a presença em passado recente de longa greve isolada, que deixou

como sequela péssimo relacionamento entre "gerentes" e "colaboradores".

Assim, a Reduc decide engajar-se em um processo de reestruturação

e convoca entre os seus quadros, em todos os níveis hierárquicos, aqueles

que quisessem ser voluntários para participar de uma longa discussão sobre

como estava a Refinaria e como gostaríamos que ela estivesse no futuro.

A questão-guia que norteia este esforço de pesquisa pode então ser

formulada desse modo: uma vez que os processos de reestruturação

organizacional são re-aplicações do método analítico/sintético cartesiano,

porque na Reduc optou-se por discuti-los com as partes envolvidas?

Para responder a tal questão foram desenvolvidos dois esforços: (a)

desenvolvimento de um modelo conceptual capaz de explicar os fatos

históricos que se relacionam à reestruturação da Reduc; (b) desenvolvimento

de pesquisa de campo junto a atores participantes do processo de

reestruturação para, a partir de suas percepções, entender a opção pela forma

. participativa.

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A pesquisa me fez ver que decisões relativas a reestruturação, no caso

particular de organizações configuradas como um sistema de poder fechado

(e.g. mega-organizações, empresas estatais e o próprio Estado), demandam a

consideração de outros fatores, como os interesses e as motivações de

indivíduos ou grupos internos, apesar de os processos top-down serem a

indicação lógica.

1 .3 A ORGANIZAÇÃO EM ESTUDO

A Refinaria Duque de Caxias - Reduc - é uma unidade industrial da

PETROBRÁS, uma das maiores empresas brasileiras, cujo controle acionário

pertence ao Governo Federal, detentor de mais de 51% do capital votante. A

empresa se constitui então no instrumento da União no exercício constitucional

do monopólio do petróleo.

O ramo de atividades da empresa se caracteriza como maduro, com

baixa possibilidade de solavancos no ambiente. Além disso, existe toda uma

estrutura mundial para evitar descontinuidades no setor petrolífero,

considerado estratégico pela maioria das grandes nações do mundo.

Do ponto de vista de controles externos, a PETROBRÁS soma à sua

condição de monopolista de mercado uma carteira de fornecedores

adequadamente pulverizados e incapazes de formar uma unidade de pressão.

O acionista controlador, por sua vez, não tem um posicionamento estável em

relação aos objetivos da organização e estes mudam periodicamente, ao sabor

da conjuntura.

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Ao longo da pesquisa uma forte campanha de mídia esteve em curso

para romper as situações de monopólio e propriedade estatal ,

contrabalançada por movimentos nacionalistas. Estes movimentos, ainda que

não tão fortes quanto a mídia, têm conseguido diminuir a eficácia da pressão.

Apesar de ser parte da PETROBRÁS, a Reduc foi considerada para

fins desta análise uma organização de per si. Trata·se de uma indústria de

grande porte, com processo produtivo contínuo e muita estabilidade do

portfolio de produtos, já tendo superado o crescimento acelerado e a

instabilidade associados ao início de um empreendimento. A tecnologia de

produção é antiga e amplamente conhecida, comportando somente melhorias

e otimizações marginais.

Tendo identificado e situado a organização em estudo, o passo

seguinte é discutir que fatores explicam determinada estrutura para, com base

nesse referencial, situar a estrutura esperada para a Reduc.

1 .4 O MÉTODO

Para fornecer o ponto de partida para a viagem especulativa usei o

referencial teórico do professor Henry Mintzberg, apresentado na segunda

parte deste texto, capítulos 2, 3 e 5, onde mostro os motivos para a formação

de uma particular estrutura organizacional e discuto as configurações de

poder, suas origens e possibilidades. Tal referencial teórico me parece mais

adequado em função de contemplar, num mesmo modelo explicativo, a

formação de estruturas e os "atores" (internos e externos à organização)

envolvidos no "jogo do poder".

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A pesquisa de campo foi realizada no universo da Refinaria, e a

amostra selecionada buscou atender a dois critérios: (a) que fossem

contempladas opiniões de todos os níveis hierárquicos (b) que fossem

consideradas as opiniões dos contentes e dos descontentes com o resultado.

A coleta de dados observou o método hermenêutico-dialético, pela sua

particular adequação ao tipo de problema. O instrumento principal de coleta de

dados foi entrevista com roteiro semi-estruturado, que se sofisticava ao longo

do próprio processo.

Além das entrevistas formais, subsidiaram este trabalho os

documentos publicados pela Reduc e, dada a minha condição de observador

participante, infinitas "conversas de corredor" onde quase sempre as pessoas

se sentiam mais à vontade para exprimir livremente suas opiniões.

1 .5 As LIMITAÇÕES

Encabeça a lista de limitações a minha condição simultânea de

funcionário e pesquisador, que me abriu algumas portas mas fechou outras.

Paralelo a isso, ao mesmo tempo em que eu colhia opiniões, participava das

fases finais do processo observado e o influenciava, visto que trazia em cada

palavra ou comentário, o respaldo e o peso da minha recente imersão na área

acadêmica.

Além dessas limitações, existem aquelas inerentes ao modelo teórico

utilizado. Como todo modelo, o escolhido também implica uma redução da

realidade às variáveis por ele contempladas que foram, naturalmente, as

únicas "trabalhadas".

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Por último vale a pena mencionar as lim itações práticas, como a

inevitável finitude de recursos, sobretudo o tempo, o que torna o trabalho não­

exaustivo e impede qualquer pretensão de formular uma teoria a respeito do

assunto. Aliás, a bem da verdade, o resultado traduz mais dúvidas que

certezas. Ainda assim, ficarei muito satisfeito em despertar a atenção do leitor

para o assunto e, quem sabe, provocar tanto, que estimule a criação de uma

linha de pesquisa mais longa e mais sistemática.

1.6 A ESTRUTURA DO TRABALHO

o trabalho será dividido em nove capítulos, contando esta introdução,

seguidos da bibliografia e dos anexos. O desenvolvimento, por sua vez, será

desdobrado em três partes: a primeira parte, FUNDAMENTOS TEÓRICOS,

contempla cinco capítulos: 2 - POSSIBILIDADES ESTRUTURAIS, 3 - A ATUAÇÃO DOS

FATORES CONTINGENTES, 4 - A QUESTÃO DO PODER, 5 - As CONFIGURAÇÕES DO

PODER e 6 - A IDÉIA DE REESTRUTURAÇÃO.

Na segunda parte, METODOLOGIA, descrevo em um único capítulo as

possibilidades de avaliação, o método hermenêutico·dialético e a metodologia

usada na pesquisa de campo.

A terceira, consiste na apresentação dos resultados e análise. Nesta

se misturam fatos históricos, percepções dos entrevistados e especulações

permitidas pelo estudo teórico.

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2. As Possibilidades Estruturais

Historicamente, ao longo das transformações do processo produtivo, o

trabalho individual do artífice foi cedendo lugar ao trabalho coletivo. No

começo, os grupos de trabalho eram bastante pequenos e formados por

aprendizes. Todo o trabalho era da mesma "natureza" e o artífice podia, do seu

posto no "centro"1 do processo de produção, controlar/decidir todas as

situações.

Do mesmo modo, no começo do "mundo das organizações" os

pequenos empreendimentos podiam, apesar de terem tarefas de naturezas

diversas, ser controlados do "centro". A figura do dono/empreendedor podia

estar presente em toda a organização, alinhando continuamente os objetivos

com o seu olhar.

Quando as organizações continuaram a crescer e o "dono" tornou-se

uma figura distante e não visível, o problema de alinhar os interesses de cada

decisor individual, para cada tarefa específica, tornou-se muito complicado.

Para contornar, ou minorar, esse problema foram propostos sistemas de

delegação do poder de decisão, controlados por sistemas de influência, que se

sofisticaram e se formalizaram mais e mais com o passar do tempo.

Assim, pode-se defin ir ESTRlITURA como um sistema de delegação do

poder de decidir acompanhado de um sistema realimentativo de controle de

1 A palavra "centro' é usada aqui para indicar a posição de onde se nucleia o poder formal. É o equivalente à posição '�opo' numa burocracia tradicional.

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decisão. Esse sistema pode apresentar variados graus de formalização, de

delegação e de controle. A combinação das possibilidades define as diversas

estruturas.

No seu compêndio sobre estruturas organizacionais, Mintzberg usa

como definição de estrutura, "o conjunto total de caminhos pelos quais a

organização divide o seu trabalho em diversas tarefas e provê coordenação

entre elas" (Mintzberg 1 979 pg. 2).

Na mesma obra, o autor propõe uma classificação dos tipos de

estruturas, fundamentada na maneira como se organizam os "caminhos" e

"delegações". Tal classificação permite a visão geral das possibilidades

estruturais. Sua descrição será o propÓSito deste capítulo.

Para compreender a classificação das estruturas convém primeiro

dividir a organização em partes, nomeá-Ias e definí-Ias. Mintzberg divide a

organização em cinco partes principais: ápice estratégico - a "cúpula" da

organização, lugar do dirigente máximo e da diretoria; núcleo operacional -

grupo hierarquicamente mais baixo, os "executantes"; linha média - composta

pelos diversos níveis gerenciais entre o ápice estratégico e o núcleo

operacional; tecnoestrutura - grupo destinado a analisar e rever continuamente

os procedimentos e funcionamentos da organização; e o grupo não ligado

diretamente à atividade fim da organização: o staff de apoio.

Tais partes estão presentes em qualquer estrutura organizacional,

tendo sua importância aumentada ou minorada conforme a configuração

estrutural prevalecente.

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Definidas as partes passo à definição dos tipos ideais de estruturas, ou

seja, representações que exacerbam uma determinada característica para fins

de análise, sem contudo pretender descrever organizações reais.

Organizações reais são compostas de partes de todos os tipos, sendo que um

prevalece e dá o "tom" geral do funcionamento do conjunto.

A seguir é apresentada a tipologia construída por Mintzberg a partir

dos tipos ideais.

2.1 ESTRUruRA SIMPLES .

A estrutura simples é a que se forma de modo "quase" espontâneo em

uma organização nascente. A idéia de nascente não comporta organizações

que por ação dos grandes grupos de capital já nascem grandes. O termo

"nascente" se aplica ao conjunto de passos de um empreendedor que agrega à

uma boa idéia, muitos sonhos, vontade ilimitada de trabalhar e pouco capital.

A estrutura simples é típica de organizações jovens e pequenas,

inseridas num ambiente simples e dinâmico, eventualmente hostil. Tais

condições, somadas à possibilidade de um modus operandi não sofisticado,

permitem O · nascimento/crescimento apoiado num conjunto peculiar de

idéias/habilidades. A coordenação. se desenvolve principalmente pela

supervisão direta do trabalho dos executantes. A parte principal dessa

organização centralizada e orgânica é o executivo. Caracteristicamente o

empreendedor/criador supervisiona direta ou quase diretamente todas as

tarefas.

1 1

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2.2 BUROCRACIA MÁQUINA

Com o passar do tempo o crescimento tira do empreendedor a

possibilidade de continuar a supervisionar "pessoalmente" todas as atividades

desenvolvidas na organização. Quando finalmente a organização consegue o

seu espaço, surge necessidade de alterar o mecanismo de coordenação: da

supervisão direta para a padronização dos procedimentos de trabalho. Tal

padronização consiste no desenvolvimento de regras e normas que em seu

conjunto balizam as decisões cotidianas, limitando o espaço de decisão de

cada nível. Todas as decisões não previstas e/ou "fora de alçada" são

obrigatoriamente remetidas ao nível hierárquico imediatamente superior.

A definição clara dos espaços de atuação, tanto na direção "horizontal"

- especialização - quanto na "vertical" - hierarquia - só é possível quando o

produto e seu processo de fabricação são bem conhecidos. Tal delim itação de

espaços provoca o aparecimento de um certo "jargão", que cria a preferência

por relações pessoais com indivíduos da mesma área. Essa preferência, os

ganhos de escala possíveis e o processo de produção "mecanizável", em

conjunto, induzem à adoção típica da departamentalização funcional.

A padronização dos procedimentos de trabalho, se estende por toda a

organização e torna especialmente importante a parte da mesma onde são

formalizados estes procedimentos, chamada por Mintzberg de tecnoestrutura.

2.3 BUROCRACIA PROFISSIONAL

No chamado ambiente complexo a natureza da tarefa depende de tal

modo do operador que não permite o estabelecimento de procedimentos

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formalizados. A necessidade imposta pelo cotidiano é de tal maneira variada

que exige do operador capacidade de fazer escolhas baseado num conjunto

complexo de variáveis. A dinâmica do processo leva à escolhas discricionárias

também ancoradas em escolhas igualmente discricionárias. Neste caso, a

coordenação é garantida padronizando-se as habilidades dos operadores, de

modo a permitir o atingimento de resultados satisfatórios ainda que por

conjuntos de escolhas diferentes. São organizações deste tipo escolas e

hospitais, onde a execução da tarefa, por não poder ser "mecanizada", guarda

dependência dos operadores. O núcleo operacional é a parte-chave da

organização, que fica, desse modo, menos sujeito à força do sistema

burocrático de controle.

É de se notar que a padronização de procedimentos para o restante da

organização - todas as partes de apoio - continua valendo. A diferença

fundamental nesse tipo é que toda a organização "gravita" em torno do núcleo

operacional.

2_4 ESTRUTURA DIVISIONALIZADA

Esse tipo de estrutura contempla os casos em que a burocracia

máquina, com o tempo, continua crescendo para responder ao aumento da

diversidade de produtos e/ou localização geográfica das unidades de

produção. Surgem dificuldades para a formalização de comportamentos que

atendam às especificidades pecul iares e/ou locais. Além disto, a proliferação

de n íveis hierárquicos exigida pela amplitude de controle e a ocorrência de

"gordura" de setores e seções pelo envelhecimento e/ou crescimento criam o

espaço propício para que se estabeleçam os jogos de poder. Do ponto de vista

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do ápice estratégico, persiste o problema de coordenar toda a organização até

o núcleo operacional. A solução mais comum é dividir a organização em sub­

organizações adaptadas a cada classe de produtos ou a cada região. Assim, a

coordenação fica dividida em duas partes: o núcleo operacional (das sub­

organizações) por seus sub-ápices estratégicos e estes pelo ápice do todo

organizacional.

Nas sub-organizações se configuraria a estrutura mais conveniente

para enfrentar suas próprias condições contingentes. Na prática observa-se

que, por razões descritas no próximo capítulo, normalmente prevalece a

burocracia máquina.

Já no caso do controle dos sub-ápices estratégicos, a coordenação é

facilitada pela padronização dos resultados das unidades individualmente.

Neste contexto ganha muita força a gerência de linha média, enquanto ápices

estratégicos das sub-organizações. Ocorre então notável delegação de poder,

com grande amplitude discricionária de decisões, comprometidas quase tão

somente com resultados.

2.5 AOHOCRACIA

A adhocracia é a estrutura que se forma para enfrentar problemas em

ambientes complexos e dinâmicos. Quando o produto não permite domínio

cognitivo da sua natureza e as condições de trabalho mudam frequentemente,

torna-se necessário o uso contínuo de ajustes entre os indivíduos que

concorrem para o atingimento dos objetivos da organização. Assim, ganham

especial relevo os dispositivos de ligação, os canais de comunicação entre os

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operadores e especialistas, que devem ajustar-se e re-ajustar-se

continuamente.

A metáfora mais adequada a este tipo de estrutura é a metáfora

orgânica, visto que ela "reage" aos estímulos, modificando-se para atender

condições variáveis. Neste contexto os especialistas, sejam ligados à atividade

fim , sejam às de apoio, tornam-se parte-chave da organização.

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3. A Atuação dos Fatores Contingentes

o fio condutor de Mintzberg (1979) orienta os passos seguidos na

discussão sobre fatores contingentes em relação à formação de uma estrutura.

Tal discussão não reproduz a riqueza da obra em seu original; apresenta

apenas uma visão geral, percorrendo o "caminho" de modo sintético e

chegando às conclusões.

Na terminologia de Mintzberg, fatores contingentes são as condições

que explicam configurações mais adequadas ou que devem ser consideradas

para favorecer a "estabilidade" das estruturas organizacionais.

Tal estabilidade significa ajuste contínuo da estrutura à realidade dos

fatores contingentes, sob pena de incorrer em altos custos e conviver com a

instabil idade resultante da não adequação. Infelizmente os fatores

contingentes não se oferecem de maneira facilmente identificável e

mensurável no ex-ante, obrigando o decisor máximo a usar grande dose de

percepção sUbjetiva2• A adequação dessa escolha será então "verificada" pela

qualidade do desempenho da organização no ex-post, em comparação com

outras organizações em situação semelhante.

Cabe reiterar que tais fatores são de fato "contingentes". Sua

contingência se revela a despeito de a percepção inadequada, por parte do

2 De fato, a pesquisa da adequada consistência entre parâmetros de desígn e fatores contingentes foi fe�a sempre buscando as correlações entre as contingências enfrentadas e as escolhas fe�as pelas organizações "sobreviventes" ou "vencedoras" no ex-posto

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gerente principal, não promover sua necessária consistência com os

parâmetros de designo Nesse caso o preço se faz sentir na ineficiência elou

ineficácia, associadas à situação intrinsecamente instável, até que a posição

seja revista.

Mintzberg (1 979) propõe que a estrutura efetiva requer uma

consistência interna entre os parâmetros de design e os fatores contingentes.

Podem ocorrer casos, sobretudo em organizações governamentais, em que a

razão de existência esteja prioritariamente associada ao atingimento de

objetivos3• Nesse caso, a organização deverá sustentar sua necessária

eficácia à custa de uma redução de eficiência.

Com base nos resultados de suas pesquisas, Mintzberg sugere a

adoção de cinco dimensões de fatores contingentes como suficiente para

explicar as ações contingenciais sobre a formação de estruturas. Essas cinco

dimensões são: idade, tamanho, sistema técnico, ambiente e poder. Nas

seções seguintes procuro descrever o modo de atuação contingente dessas

dimensões e situar a organização objeto desse estudo.

Mintzberg formula 16 hipóteses quanto à atuação dos fatores

contingentes sobre a estrutura. Essas hipóteses contemplam as diferentes

dimensões propostas e serão apresentadas a seguir.

3 Exemplos deste tipo se encontram em organizações governamentais cuja razão de existência não está em um critério de eficiência mas de eficácia com produção de ganhos colaterais não associáveis diretamente à organização (9.g. NASA) ou como opção de sobrevida na expectativa de uma mudança conjuntural (9.g. uma unidade do exército sob ataque de um inimigo nitidamente superior à espera de reforços).

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3.1 IDADE

Primeiro fator contingente, a idade deve ser considerada sob duas

óticas distintas: a idade da organização e a idade da indústria. Isto enseja

duas h ipóteses a respeito de sua atuação sobre a estrutura:

HIPÓTESE 1 - Quanto mais velha a organização, maior a formalização de

comportamentos.

Aqui a idade da organização se relaciona com o tempo de existência.

Fundamentalmente introduz a maturidade dos processos de produção. Tal

maturidade se manifesta no relacionamento com fornecedores, no

relacionamento com consumidores ou ainda no domínio sobre a tecnologia de

produção.

Uma pergunta chave para a compreensão do mecanismo de atuação

da idade é "nós já não vimos isso antes?". Dada a finitude do conjunto de

tarefas a serem executadas, quanto mais vezes estas tarefas são

desempenhadas, maior é a compreensão, por parte dos indivíduos envolvidos,

dos relacionamentos entre elas. Isso não só permite, como também induz, ao

aparecimento de uma formalização dos procedimentos associados à

realização de tarefas na organização.

Tanto a Reduc quanto a PETROBRÁS, com idades entre 30 e 40 anos

respectivamente, podem ser consideradas maduras, já tendo superado os

arroubos da juventude.

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HIPÓTESE 2 - A estrutura reflete a idade de fundação da indústria.

A segunda hipótese é que as organizações tendem a apresentar

estruturas que refletem condições técnico-econômicas, tradições, doutrinas

etc., que floresciam na época do surgimento da indústria a que pertencem.

No caso da indústria de petróleo, seu surgimento se deu pouco depois

da metade do século passad04 e o desenrolar dos acontecimentos permitiu a

formação de uma grande empresa, a Standard Oi/, que se estendia por todo os

Estados Unidos. Como forma de administração e controle seu fundador,

Rockefeller, estabeleceu então um sofisticado sistema de delegação e

controles, na forma burocrática, espelhado na administração de outras

organizações gigantes da época: as estradas de ferro e a administração

pública.

3.2 TAMANHO

o tamanho é definido efetivamente pelo entendimento lato sensu da

palavra tamanho. A dimensão "número de participantes", contudo, é a

fundamental, e as implicações associadas são descritas nas três hipóteses

subsequentes.

• Segundo Daniel Versin: O Petróleo, uma história de ganância, dinheiro e poder.

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HIPÓTESE 3 - Quanto maior a organização, mais elaborada sua estrutura,

mais especializadas as tarefas, mais diferenciadas as unidades e mais

desenvolvida a componente administrativa.

o aumento de tamanho permite e causa aumento do número de

funções especialistas e, consequentemente, uma maior especialização das

divisões. As funções especialistas se tornam cada vez mais especialistas,

criando uma "lógica da especialidade" dentro de cada divisão. Tal lógica

facil ita a coordenação e a comunicação intra-divisões e cria uma dificuldade

de igual proporção no relacionamento inter-unidades. Isso provoca uma

demanda de mecanismos de coordenação e comunicação nesse canal (inter­

unidades) cada vez mais sofisticados.

Os mecanismos de comunicação e coordenação, em especial aqueles

formais, devem ser repensados para poder lidar eficazmente com o número

cada vez maior de informações e opções. A inevitável elaboração provoca o

desenvolvimento desproporcional da "componente administrativa" em relação

à "componente operacional".

O exemplo clássico dessa situação é o da análise da diferença entre

uma pequena quitanda e o supermercado. Na primeira, o dono recebe as

mercadorias, coloca-as no lugar e permanece atrás do balcão, vendendo e

controlando estoque e caixa. No supermercado, pode ocorrer que o caixa e o

indivíduo que recebe a mercadoria nem se conheçam.

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HIPÓTESE 4 - Quanto maior a organização, maior o tamanho médio das

unidades.

Duas premissas explicam esta hipótese. A primeira, associada à

especialização das unidades, segue o seguinte raciocínio: o aumento de

tamanho da organização permite usufruir melhor das vantagens da

especialização, formando unidades mais especializadas. A homogeneidade

das unidades permite o uso da formalização como mecanismo de coordenação

das tarefas possibilitando maior amplitude de controle.

A segunda é associada à velocidade de crescimento. Partindo da idéia

de que o crescimento da organização é contínuo, enquanto as mudanças de

estrutura são intermitentes, existe um período de defasagem, durante o qual

ocorre aumento da amplitude de controle.

Essa segunda premissa permite a enunciação de um corolário da

hipótese: quanto maior a velocidade de crescimento de uma organização tanto

maior o tamanho médio das unidades.

HIPÓTESE 5 - Quanto maior a organização, maior o grau de fonnalização

dos comportamentos.

Do mesmo modo que a primeira, esta hipótese está ligada à

compreensibilidade e a previsibilidade do trabalho. Varia, contudo, a origem do

conhecimento que permite a formalização. Na hipótese 1 este conhecimento

era oriundo da experiência própria, adquirida com o passar do tempo. Nessa

hipótese o conhecimento provém do compartilhamento de experiências entre

os gerentes da linha média.

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Novamente, a formalização das rotinas de trabalho é usada como

mecanismo de coordenação intra-divisão, em detrimento da supervisão direta,

que passa a atuar como mecanismo secundário.

Resumindo as hipóteses sobre tamanho, pode-se montar a seguinte

cadeia de idéias: maior tamanho, maior especialização, maior diferenciação

entre as unidades, maior ênfase nos mecanismos de coordenação intra-divisão .

baseados na formalização, maior necessidade de coordenação inter-divisão,

maior formalização nas comunicações, maior sofisticação e elaboração da

estrutura administrativa. Em síntese, caminho cada vez mais livre para

instalação de uma burocracia máquina.

Associando as conclusões relativas à velocidade de crescimento

àquelas ligadas ao tamanho, vale a pena notar que a dinâmica de crescimento

é um "fator desestruturante", atuando no sentido de reduzir a força de

instalação da formalização burocrática. A já mencionada diferença entre o

"crescimento contínuo" e a "estruturação discreta" é potencializada pela

velocidade de crescimento, que provoca uma defasagem sempre maior entre o

informal (o que ocorre) e o formal (o que é previsto) e implica que as novas

formalizações estejam cada vez mais atrasadas em relação ao informal. Duas

assertivas sintetizam esta idéia:

• para duas organizações de mesmo tamanho, aquela com

menor velocidade de crescimento terá maior formalização de comportamento,

portanto, mais burocracia;

• para duas organizações de mesma velocidade de crescimento a

maior terá maior formalização de comportamento e, de novo, mais burocracia.

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Do conjunto destas idéias se percebe o efeito

formalizador/burocratizante do passar do tempo para uma estrutura com baixa

(ou nula) taxa de crescimento. A extrapolação deste raciocínio mostra um

efeito envelhecedor/senilizante do passar do tempo numa burocracia com

baixa taxa de crescimento, onde o efeito formalizador começa a redundar-se

pela estrutura, "engordando" a burocracia com aumento recursivo de controles,

de pessoal para executar estes controles e de mais controles para controlar

este pessoal, num ciclo vicioso infinito.

Falando da organização em foco, do ponto de vista do tamanho, tanto

a PETROBRÁS como a Reduc são, sem dúvida, grandes. A primeira se situa

entre as cinco maiores empresas brasileiras por quase qualquer critério

(ativos, faturamento, número de empregados, etc.). Já a Reduc é a maior entre

as unidades industriais da corporação sob a ótica mista de volume produzido e

variedade de produtos, ou a segunda, se o critério for exclusivamente

capacidade de produção.

Sob a ótica do tamanho, ambas deveriam comportar-se como

burocracias. Organizações de mesmo tamanho teriam muita dificuldade de se

coordenar por supervisão direta. O uso da formalização como mecanismo de

coordenação e controle intra-divisões associado a elaborados processos de

comunicação inter-divisões faz-se obrigatório.

3_3 SISTEMA TÉCNICO

Para incluir as influências do modus operandi na formação de

estruturas, Mintzberg definiu o fator contingente chamado sistema técnico,

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também conhecido como "tecnologia de operação", que é, em última análise, o

ferramental que o executante usa para transformar inputs em outputs.

Tal definição permite ainda a divisão do sistema técnico em duas

dimensões:

• a dimensão regulação, definida como '� influência do sistema

técnico no trabalho dos operadores";

• a dimensão sofisticação, definida como '� medida da

complexidade ou 'intríncamento' do sistema técnico, ou seja, o quanto é difícil

de ser compreendido".

Na atividade de refino de petróleo o sistema técnico pode ser dito

fortemente regulado e altamente sofisticado em função das características

técnicas associadas ao equipamento necessário ao desenvolvimento do

processo contínuo de produção.

A indústria de petróleo se enquadra no caso que Joan Woodward,

citada por Mintzberg ( 1 979) denominou indústria de processo contínuo. Nesse

tipo de indústria o ciclo de desenvolvimento requer separação bastante clara

entre duas partes independentes na organização: para a parte interna,

operacional, com pouca discricionariedade, orientação de curto prazo, um

rígido controle do cotidiano produzido pela máquina automatizada. Para a de

desenvolvimento de produto e processo, ampla liberdade de decisão,

orientação de longo prazo e ênfase nas "relações sociais".

o fator característico das organizações que produzem por processo

contínuo é a automatização do núcleo operacional que garante a coordenação

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total das atividades nesse n ível. Já no nível do staff seus membros seriam

encorajados a desenvolver uma coordenação por ajustes mútuos entre

experts, enfatizando o uso dos mecanismos de ligação, em detrimento das

formalizações várias, características das burocracias.

HIPÓTESE 6 - Quanto mais regulado o sistema técnico mais formalizado o

trabalho operacional e mais burocrática a estrutura do núcleo operacional.

Esta hipótese diz respeito somente ao núcleo operacional e é fácil de

ser compreendida com base nos mecanismos de coordenação das tarefas.

Para um trabalho repetitivo e que depende de pouca expertise, formalização e

padronização são mecanismos mais eficazes e eficientes que ajustes mútuos.

o extremo da idéia, o automatismo mecânico do processo contínuo, é,

em última análise, a burocracia perfeita. Sem metáforas, todas as regras estão

contidas no funcionamento de uma máquina.

Firmas de prOdução em massa desenvolvem obsessão por controle e

procedimentos, a partir da crença de que os trabalhadores devem ser

constantemente vigiados e "empurrados" para fazer o seu trabalho. É curioso

notar que nesse tipo de firma o fracionamento do trabalho atinge graus

altíssimos e que o trabalhador é de fato "desligado" do resultado da produção,

tornando o cotidiano da produção vazio e dando lugar a significativo

desestímulo para o trabalho.

Porém, a mentalidade do controle burocrático é forte. O conforto e a

segurança que os procedimentos e normas propiciam fazem com que estes

transbordem do núcleo operacional e se alastrem por toda a organização,

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contaminando desde supervisores até o ápice estratégico. Assim, a conhecida

burocracia máquina se fortalece na organização de produção em massa.

HIPÓTESE 7 - Quanto mais sofisticado o sistema técnico, mais elaborada

a estrutura da administração, maior a descentralização seletiva; e maior o uso

dos dispositivos de ligação.

o aumento de sofisticação de funcionamento do sistema técnico

implica a criação de um staff de apoio cada vez mais especializado.

Necessariamente o nível de expertise dos técnicos do staff envolvidos no

apoio aumenta.

A coordenação de tarefas descentralizadas se dá caracteristicamente

através do ajuste mútuo. A preferência coletiva pelo ajuste mútuo dispensa e

rejeita mecanismos de formalização de procedimentos. A comunicação direta é

facilitada pela padronização da linguagem.

HIPÓTESE 8 - A automatização do núcleo operacional transforma a estrutura

da administração de burocrática em orgânica.

A automatização do núcleo operacional implica a sequência de

eventos descritos para a organização com processo produtivo contínuo, ou

seja, todo o controle da tarefa passa a estar contido no funcionamento da

máquina o que, como demonstrado por Woodward, elimina a fonte de muitos

dos conflitos sociais que permeiam a organização. Logo, fica minimizada a

obsessão por controle que, combinada com o aumento da expertise

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generalizado, espalha o uso de mecanismos de ligação e ajustes mútuos por

toda a estrutura.

Resumindo as considerações sobre o sistema técnico temos:

• um sistema técnico regulado burocratiza o núcleo operacional, submetido à

mais perfeita das burocracias: a máquina sem metáforas;

• um sistema técnico sofisticado carece de maior elaboração da estrutura do

staff de apoio;

• um sistema técnico automatizado desburocratiza a estrutura acima do núcleo

operacional.

o modus operandi da Reduc, na sua característica de unidade de

produção contínua, é regulado e sofisticado. É sofisticado porque os

equipamentos são em si mesmos muito complexos, trazendo no bojo de sua

concepção a enorme quantidade e variedade de conhecimentos técnicos da

equipe de especialistas que os projetaram. Tal complexidade, associada ao

processo de produção contínuo, obriga à utilização de máquinas

automatizadas de grande porte (grossa maneira, do tamanho de um

quarteirão!) o que, em princípio, não deixa espaço para muita

discricionariedade por parte dos operadores.

A PETROBRÁS trabalha controlando uma miríade de unidades que

possuem diversos modos de operação, o que dificulta, sobremaneira, definir

um modo de operação que lhe seja próprio. Além disto, a definição deste

parâmetro não é fundamental para a corporação.

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3.4 AMBIENTE

Para efeito desta análise o ambiente, definido como o entorno da

organização, deve ser visto em quatro dimensões distintas: estabilidade,

complexidade, diversidade de mercado, hostilidade. Nos parágrafos seguintes

serão explicadas cada uma dessas dimensões, o que facilitará a compreensão

das hipóteses.

ESTABILIDADE - Esta dimensão diz respeito à frequência com que

ocorrem situações inesperadas. A característica fundamental da mudança que

afeta a estabilidade é a imprevisibilidade.

São identificados como fatores capazes de influenciar a estabilidade

organizacional, entre outros: comportamento dos agentes do govemo,

comportamento dos agentes econômicos; alteração das preferências do

consumidor, ação de competidores, condições climáticas; e até mesmo do ritmo

de crescimento da organização.

o ambiente pode variar num contínuum que vai de estável a dinâmico.

COMPLEXIDADE - Esta dimensão procura exprimir o quanto o

conhecimento envolvido na realização de uma determinada atividade é

dominado. Não importa que a produção se dê por uma longa e detalhada

sequência de procedimentos, se tanto a sequência quanto os procedimentos já

são conhecidos. Assim, por exemplo, o ambiente de uma fábrica de automóveis

ou de vídeos-cassete é definitivamente simples, enquanto o de uma agência

espacial é, sem dúvida, complexo. Uma refinaria de petróleo, por conseguinte,

não deve ser considerada organização imersa em um ambiente complexo, visto

que os conhecimentos envolvidos no desempenho da tarefa são amplamente

dominados.

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Na dimensão complexidade o ambiente varia do simples ao complexo.

DIVERSIDADE DE MERCADOS - Reflete o número de mercados com

características individualizantes - situação geográfica, faixa de renda,

características sociais, etárias ou culturais - que devem ser atendidos pela

organização.

Varia do integrado (uma mesma característica para todo o mercado)

ao diversificado.

HOSTILIDADE - Varia do plácido ao hostil e procura indicar a reação

dos outros agentes que compõem o ambiente à sobrevivência da

organização. Várias são as fontes possíveis de hostilidade entre as quais

podemos citar o govemo, grupos de pressão (sobre a opinião pública),

lobbies, fomecedores e concorrentes. Apesar de tipicamente dinâmico, o

ambiente hostil se diferencia por seu efeito particular sobre a estrutu ra da

organização.

Feita a definição, passo às hipóteses que propõem a natureza da

contingência entre cada dimensão e a estrutura.

HIPÓTESE 9 - Quanto mais dinâmico o ambiente, mais orgânica a estrutura.

Num ambiente estável a organização tem maior possibilidade de

predição das condições futuras, o que lhe permite formalizar e padronizar

produtos e comportamentos. Tal possibilidade favorece a instalação de uma

burocracia que extrapola o núcleo operacional; a organização tende a ser

formalizada da base ao topo.

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Note-se que não é o ambiente estável que leva à burocracia, mas a

estabilidade favorece a ação dos outros fatores contingentes burocratizantes,

tais como idade e tamanho. Já um ambiente dinâmico favorece uma estrutura

orgânica, a despeito de outros fatores contingentes tais como idade, tamanho

ou sistema técnico.

A "indústria de petróleo" já possui uma grande estabilidade natural,

reforçada pelos cuidados extremados dos agentes econômicos em geral, a

quem não convém descontinuidades no fornecimento do precioso insumo

energético.

Além disso, o monopólio cria uma forte "simulação" de estabilidade,

especialmente quando o conjunto de fornecedores não detém poder de

barganha. Tal condição pode mesmo compensar a instável atuação política do

Estado.

HIPÓTESE 10 - Quanto mais complexo o ambiente, mais descentralizada é a

estrutura.

o conhecimento da tarefa está diretamente relacionado com a

possibilidade de formalização e de padronização. A complexidade do ambiente

torna difícil, tanto a padronização dos procedimentos quanto a concentração,

em um indivíduo, das informações necessárias à tomada das decisões

cotidianas. Torna-se necessário, assim, delegar a decisão a n íveis

hierárquicos mais "baixos", mais próximos das questões a serem decididas.

As estruturas imersas em ambientes simples tendem para a burocracia

máquina, padronizada e centralizada.

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Como já foi mencionado, organizações que pertencem à indústria de

petróleo se enquadram em um ambiente caracteristicamente simples.

3.4.1 Os OUATRO AMBIENTES DA ORGANIZAÇÃO

A composição de ambientes nas dimensões estabilidade e

complexidade perm ite obter como resultado quatro tipos de estrutura:

burocrática centralizada, burocrática descentralizada, orgânica centralizada e

orgânica descentralizada. A complexidade seria o fator preponderante para a

não padronização enquanto a instabilidade seria associada à

descentralização.

Destarte, Mintzberg montou uma matriz (Tabela 1 ) onde as duas

dimensões, combinadas, têm como resultado quatro padrões estruturais.

Tabela 1

ESTAVEL DINÂMICO

descentralizado e burocrático descentralizado e orgânico COMPLEXO

(padronização de habilidades) (ajuste mútuo)

centralizado e burocrático centralizado e orgânico SIMPLES

(padronização do processo de trabalho) (supervisão direta)

extraída de Mlntzberg (1979) pág 286

Contudo, as hipóteses sobre o ambiente não se esgotam nas

dimensões de estabilidade e complexidade. A hipótese 1 1 introduz uma nova

variável: a diversidade de mercados.

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HIPÓTESE 1 1 - Quanto maior a diversidade de mercados da organização,

maior a tendência a estruturar-se em unidades baseadas nos mercados.

A diversidade de mercado é associada à variedade de produtos e

serviços necessários para atender os diversos clientes da organização.

Esta característica é fortemente correlacionada com o tamanho, visto

que empresas grandes ou fisicamente dispersas têm muito maior possibilidade

de enfrentar realidades diversas. Essas realidades justificam tanto a

diversificação de produtos para atender diferentes segmentos do mercado

como para atender a diversificação de requisitos legais em diferentes

instâncias políticas.

Observe-se que a divisionalização real supõe ligação à holding apenas

por um acordo de metas. A presença de uma função crítica comum (e.g.

produção de um insumo básico, compra compartilhada de matéria prima ou

recrutamento de pessoal centralizado) às unidades impede a formação de

divisões de fato.

HIPÓTESE 12 - Hostilidade extrema leva a organização a centralizar

temporariamente a sua estrutura.

As reações negativas dos diversos agentes no ambiente da

organização podem forçá-Ia a táticas de defesa que se refletem no aspecto

estrutural através de maior centralização das decisões, ainda que temporária.

Tornam-se imprescindíveis respostas ágeis e coerentes com o quadro

global. Deste modo, o tempo necessário aos ajustes entre diversos cérebros

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decisores se reduz ao m ínimo, obrigando a concentração das decisões em um

só cérebro.

A estrutura' então caminha, guardadas as restrições oriundas

principalmente do tamanho, na direção da estrutura simples, onde todas as

decisões se reportam ao decisor principal.

HIPÓTESE 13 - Disparidades ambientais levam a organização a

descentralizar-se seletivamente em diferenciadas "constelações de trabalho".

Aqui aparece o exemplo clássico da atuação das companhias de

petróleo. Ao mesmo tempo em que disputam um a um os clientes dos postos

de abastecimento, se unem na pesquisa de processos de obtenção de

gasolina mais econômicos para todas.

Observam-se alianças numa área de atuação entre as mesmas

organizações que se digladiam em outras áreas. Tal disparidade introduz a

idéia de sub-ambientes e a possibilidade de diferentes estratégias para cada

um deles.

Concluindo a discussão sobre o ambiente temos:

• um ambiente estável facilita a instalação de uma burocracia;

• um ambiente dinâmico porta a organização a uma estrutura orgânica, a

despeito da ação dos outros fatores contingentes;

• a complexidade ambiental leva à necessidade de descentralização enquanto a

simplicidade permite a centralização, provavelmente por efeito das

necessidades de poder dos membros da estrutura;

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• um grande nível de hostilidade ambiental leva à uma centralização temporária, a

despeito de todos os outros fatores.

Resumindo a posição da organização focalizada em relação às

h ipóteses ambientais temos: o negócio da Petrobrás tem um crescimento

estável. As novidades desestabilizantes a nível internacional são raras e o

mundo está preparado para enfrentá-Ias, visto que instabilidades nesta

indústria não interessam a ninguém. A nível nacional, a Petrobrás tem o

monopólio de quase todo o ciclo produtivo do seu negócio, o que lhe garante

um certo conforto em relação aos seus clientes. Apesar de a possível quebra

deste monopólio representar instabilidade, não tendo acontecido até o período

de análise, foi possível trabalhar com o monopólio como condição dada.

A detenção de monopólio em quase todo o ciclo de produção num país

de dimensões continentais traz significativa variedade de mercados. A

segmentação se explica tanto geograficamente como por ramo de atividade,

associado ao ciclo de produção.

Ainda sobre o ambiente, convém assinalar que, dadas as

características de tamanho e exigências tecnológicas da corporação, os

fornecedores se tornam necessariamente pequenos e pulverizados, o que

torna pouco, ou nada, significativo seu poder de pressão sobre a empresa.

Caracteriza-se, pois, também este segmento do ambiente como estável.

Enquanto inserida num sub-ambiente da Petrobrás, a Reduc se

beneficia da estabilidade que caracteriza a corporação. Por outro lado, como

unidade industrial, a Reduc também detém notável variedade de "sub-sub­

ramos" no seu sub-ramo do negócio da corporação. Isto faz com que seja

34

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particularmente notada, além de provocar segmentação do seu parque

industrial por áreas de afinidade.

3.5 PODER

HIPÓTESE 14 - Quanto maior o controle externo sobre a organização, mais

centralizada e fonnalizada a estrutura.

o controle externo da organização se dá mais efetivamente quando

feito através do seu executivo principal. Uma vez controlado o executivo

principal, este irradia seu controle por toda a estrutura, normatizando

procedimentos e reduzindo a discricionariedade das decisões, criando a

tendência à formação de uma burocracia.

Note-se que o controle externo deve provir de fonte única ou de fontes

coordenadas. A multiplicidade de poderosos externos tende a cancelar a

eficácia das ações de poder individuais, permitindo mais "conforto operacional"

para a organização.

Além do controle focalizado com objetivos claros, é condição

necessária ao aparecimento da tendência centralizadora-burocratizante a

detenção de poder por parte do executivo chefe. Tal poder tanto pode ser

carismático (como o do líder de um partido político fortemente ideológico) ou

legal (originado, por exemplo, em decisão da assembléia de acionistas).

No caso da organização em estudo, as fontes de poder externas são

caracteristicamente descoordenadas. A alternância do foco sobre os

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interesses controladores da organização permite que internamente se

justifique uma série de decisões e atitudes incoerentes entre si.

HIPÓTESE 15 - As necessidades de poder dos indivíduos tende a gerar

estruturas excessivamente centralizadas.

A busca de poder é uma característica individual valorizada e

incentivada na cultura ocidental. Se tal característica encontra pOSSibilidade

dentro da estrutura organizacional (por exemplo um executivo chefe sem poder

suficiente para controlar a estrutura) ela provoca o aparecimento de "núcleos"

de poder ao redor das pessoas mais bem sucedidas em concentrá-lo.

Nas palavras de Mintzberg, " ... os gerentes do ápice estratégico

promovem centralização em ambas as dimensões - vertical e horizontal -; os

gerentes da linha média promovem centralização vertical até o limite de seu

próprio nível e centralização horizontal para aumentar o seu poder ao interno

da estrutura . . . " (1 979 pg. 291 ).

o resultado são "concentrações locais" de poder, em torno de

indivíduos e grupos que avocam para si maior quantidade possível de

informações e decisões.

Na organização focalizada a já referida inconstância nas diretrizes

organizacionais faz com que esse fenômeno apareça muito frequentemente.

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HIPÓTESE 16 - A moda favorece a "estrutura do dia", nem sempre a mais

adequada.

o mundo das organizações é, regularmente, revolucionado por novas

teorias, que prometem mais eficiência e eficácia aos que as adotam. Algumas

dessas teorias trazem em seu bojo uma nova formação estrutural como, por

exemplo, o surgimento da matriz em substituição à unicidade de chefia.

No caso de organizações nas quais os objetivos ou são confusos ou

têm vida breve, a adoção de tais estruturas revolucionárias se torna

"oportunidade de ouro" para uma reformulação da distribuição de poder.

Motivados pela possibilidade de melhorar sua posição de poder, e respaldados

pela justificativa institucional da moda, indivíduos não hesitam em mexer na

estrutura da organização, não necessariamente preocupados com a

adequação da nova estrutura aos objetivos organizacionais.

37

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4. A Questão do Poder

o poder está entre os mais difíceis temas a abordar em trabalhos

acadêmicos. A amplitude do objeto e a miríade de abordagens possíveis torna

qualquer ótica escolhida pequena em relação ao total.

De todo modo, dada a importância do assunto para a compreensão do

problema, incluo aqui um apanhado de idéias sobre as questões relativas ao

poder que julgo suficientes para a compreensão do caso focalizado.

4.1 A QUESTÃO Do PODER

Na nossa sociedade o poder é habitualmente visto como expressão de

um conjunto de normas, implícitas ou explícitas, que definem o fazer e o não

fazer. Tais regras pretendem assegurar um funcionamento harmônico do

sistema social, o que nem sempre é conseguido.

Os elementos da nossa cultura levam à crença de que as regras

racionais podem e devem ser cumpridas de bom grado por todos os

indivíduos, visto que são necessárias para o funcionamento ótimo do conjunto.

A prática quotidiana porém mostra que nem todos estão dispostos a ser

somente atores, seguindo o roteiro, e um número significativo de pessoas

(senão todas) introduz variações no texto e altera o resultado de acordo com

seus próprios interesses e convicções, exercendo sua capacidade autoral e

não se preocupando muito com o resultado agregado.

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Se no contexto social a aplicação da racionalidade cartesiana deveria

vir disfarçada pela associação de "elevados" objetivos sociais, no ambiente

das organizações eficiência e eficácia foram justificativas suficientes para

aplicação implacável do método cartesiano nos processos organizacionais. Em

confronto com a parcela autor de cada indivíduo observa-se que tal aplicação

gera um n ível de stress que acaba por in viabilizar diretamente a satisfação

pessoal dos participantes e indiretamente as pretendidas eficiência e eficácia

do processo. Nas palavras de Anna Maria Campos:

"A teoria organizacional voltada para a transfonnação da ordem

social deverá preocupar-se menos em antecipar e controlar

'comportamentos organizacionais' e voltar-se para melhor

entendimento da ação de indivíduos. Estes não são apenas atores,

mas também autores; não meros objetos, mas sujeitos; não

apêndices das máquinas, mas seres dotados de sentimentos,

emoções, atitudes. S6 assim poderá reencontrar o caminho em

busca do ideal de liberdade, justiça e auto-realizaçãos".

Assim, a aplicação da racionalidade cartesiana pura em processos que

envolvam indivíduos humanos não é viável. Para a "produção de efeitos

intencionados" o sistema deve ser capaz de contemplar um horizonte mais

largo, de transitar entre o mutuamente exclusivo de "um ou outro" e o

simultaneamente inclusivo do "sim, mas também".

5 CAMPOS, Anna Maria. Do Comportamento à Ação Organizacional. (s.n.!.) Texto Datilografado, 1 2 páginas.

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4.2 TIPos DE DOMINAÇÃO

Segundo Max Weber são três os lipos fundamentais de dominação

observados nos sistemas sociais: o tradicional, o carismático e o racional-

legal6. Caracteriza cada tipo de dominação a natureza da aceitação, da parte

de quem obedece, que o legitima7•

A dominação tradicional é aquela onde a legitimidade se baseia em

mitos fundacionais, na crença de que o passado autoriza o presente. As

crenças dos antepassados são incontestáveis. Esse tipo de dominação é

fundamentalmente reacionária e confere estabilidade ao sistema social. Com

sua característica de fomação mitológica, a dominação tradicional não possui

qualquer base racional.

A dominação carismática também não possui qualquer base racional,

fundamentando-se no "encaixe" da personalidade de um indivíduo com a

imagem de líder existente no inconsciente de um determ inado grupo. Como é

personalíssima, a dominação carismática não pode ser delegada nem

herdada. Forma-se um poder cujos limites são dados pela própria

personalidade do indivíduo-l íder. Esse tipo de dominação está ligada ao

conceito de liderança e é fundamento das forças revolucionárias.

É interessante notar que os adeptos da racionalidade instrumental

procuram negar que o poder do líder tenha base em sua personalidade;

6 KAST, F. E. & ROSENZWEIG, J. E. Organização e administração: um enfoque slstêmlco. São Paulo, Pioneira, vol. 1 , 1 976.

7 PRESTES MOTIA & PEREIRA, L. C. Bresser, op., cit., págs. 26 e 27.

40

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preferem tentar defin ir liderança com bases estritamente racionais, relegando

a segundo plano conjuntural a ação da característica carismática do lider.

o terceiro tipo, a dominação racional-legal, se fundamenta na

assunção da idéia de lei como boa e necessárias e no método cartesiano. Esse

tipo de dominação procura, através da impessoalidade, a manutenção de uma

produção maior que o consumo associado.

4.3 A ORGANIZACÃO CARTESIANA

o método cartesiano toma como possível a compreensão do todo pela

compreensão das partes que o compõem. Assim, as dificuldades de um todo

complexo são paulatinamente reduzidas em partes cada vez menores, até que

a parte seja compreensível. Esta fase é chamada análise. Em seguida, as

partes, agora "compreendidas", são remontadas no todo original, que agora

também passou a ser conhecido.

A aplicação destas idéias ao processo produtivo resulta na conclusão

de que o todo do processo pode ser segmentado em partes, e estas, por sua

vez, em outras menores. Além disso, cada uma dessas pequenas partes se

relaciona com as outras de algum modo, também compreensível, e tal

relacionamento deve - e pode - ser coordenado e otimizado por um conjunto

de regulamentos positivos9•

• Sobre este assunto são interessantes as idéias de S. Freud, expostas em "O mal estar na civilização".

e A idéia de regulamento pos�ivo é, simplificada mente, que as normas sobre as quais se pautam as soluções dos problemas estão estabelecidas ex ante.

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A idéia de regulamentos positivos traz associada a idéia da

preditibilidade de comportamentos, desconsiderando a já mencionada

possibilidade de autoria subjetiva do indivíduo humano, supondo uma

impessoalidade de cargos e funções que o dia-a-dia do trabalho contradiz. Por

este motivo é tão assustador à burocracia o by-pass de normas e

regulamentos. Esse comportamento deve ser sempre punido, ainda que os

objetivos tenham sido atingidos com mais eficiência ou eficácia.

No parágrafo a seguir, PRESTES MOTTA ratifica essas posições

sobre a burocracia:

"O caráter impessoal da burocracia é claramente definido por

Weber quando ele diz que ela obedece o princípio da administração

'sine ira ac studio ', sem ódio ou paixão. A burocracia é mais

plenamente desenvolvida quanto mais se desumaniza, quanto mais

completamente alcança as caracteósticas especfflcas que são

consideradas como virtudes: a eliminação do amor, do ódio e de

todos os elementos pessoais, emocionais e irracionais, que escapam

ao cálculo. Em outras palavras, dentro de uma burocracia, em seu

estado puro, não há lugar para sentimentos, para o favoritismo,

para gratidão, para as demonstrações de simpatia e antipatia. O

administrador burocrático é um homem imparcial e objetivo, que

tem como missão cumprir as obrigações de seu cargo e contribuir

para a consecução dos objetivos'o" .

10 PRESTES MOTI A & PEREIRA, L. C. Bresser, op., c�., pág. 33.

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Vale aqui ressalvar que a montagem burocrática para as organizações

não é intrinsecamente má. Na verdade, na maioria das organizações

produtivas o sistema de dominação racional-legal e a montagem burocrática

são desejáveis para todos. Em uma organização real se misturam em doses

diferentes, se alternando na predominância, os três tipos de dominação,

garantindo o equi líbrio entre renovação e estabilidade11 •

Essa alternância no mix de formas de dominação atuantes explica

também os desempenhos diversos obtidos por diferentes indivíduos nos

papéis de gerência. Analisando esse assunto Simon 12 define o conceito de

"zona de aceitação", o quanto de uma ordem é cegamente cumprida e o

quanto dela é discutido. Aqui fica claro que por mais sofisticados que sejam os

mecanismos de punição e recompensa de um sistema de dominação racional-

legal, nunca serão suficientes para obrigar o cumprimento cego de toda e

qualquer ordem. Observe-se também, que os mecanismos de dominação

carismática, apesar de conseguir levar este "cumprimento cego" a limites muito

maiores, são personalíssimos, não podendo ser transferidos de uma pessoa à

outra.

Portanto, um sistema de dominação racional-legal trabalha com uma

"faixa de reatividade" dos subordinados, que obriga o "chefe" a uma

11 É curioso assinalar que em tempos como os atuais, quando ventos do oriente prenunciam a emergência necessária de um novo paradigma, essa classHicação dos tipos de dominação possa ser comparada à trindade veda: Visnu, a inércia; Shiva, a destruição; e Brahma, a criação. Segundo o mito veda da criação do mundo os tres deuses se alternam em predominância, apesar de sempre presentes, grantindo o equilíbrio entre renovação e estabilidade. (o mito veda é descr�o em O Mahabharata)

12 SIMON, Herbert. Comportamento Administrativo. Rio de Janeiro, FGV, 3a edição, 1 979, págs. 1 33 a 1 36.

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negociação que é tão maior quanto menor for a sua "liderança natural", seu

carisma.

Assim, o aumento da quantidade de indivíduos provoca um aumento

geométrico nas manifestações de capacidade autoral e de capacidade reativa,

o que parece indicar a necessidade de aumento do teor de dominação

carismática - liderança - e no mix de formas de dominação atuantes na

realidade organizacional. Cada vez mais torna-se evidente a dificuldade de o

sistema burocrático racional-legal dar conta sozinho de tudo e de todos dentro

da organização produtiva.

4.4 O PODER NAS ORGANIZAÇÕES

Na sociedade atual existe uma forte contaminação entre a lógica do

"humano" e a lógica do mercado. Em outras palavras, os valores do mercado

(lucro, produtividade, etc.) influenciam e justificam decisões no cotidiano

humano e buscam se perpetuar no tempo. Nas palavras de PRESTES MOTTA:

"A reprodução de uma formação social capitalista e burocrática

implica na reprodução do sistema de classes sociais que o

caracteriza através da promoção da acumulação do capital, da

reprodução da força de trabalho, da reprodução das relações de

poder e submissão e das idéias que os homens têm das relações

sociais em geral 13 ...

13 PRESTES MOTIA, Fernando C. O Que é Burocracia? São Paulo, Brasiliense, 1 2a edição, pág. 33.

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Desse modo, se espera que toda organização social gere e sustente

instituições reprodutoras do status quo, "escolas" onde o modelo é

apresentado e tornado "natural" ao indivíduo.

Na sociedade de Estado, produtivista, o modelo de reprodução

também é formado tipicamentes pelas escolas, fortemente marcadas pelas

características burocráticas, sempre voltadas para a eficácia e para a

eficiência.

Note-se que, na dupla qualidade de reprodutoras e mantenedoras do

marco situacional, as institu ições sociais, incluindo o governo, estabelecem

entre si um processo dialético marcado pela contínua influência recíproca.

Assim, a vida e o cotidano das pessoas passa a ser marcado pela

produtividade.

Contudo, na reciprocidade do processo dialético as organizações

passam a sentir os efeitos das capacidades autorais dos sujeitos participantes.

Nas organizações produtivas o discurso e as regras do sistema racional-legal

não se mostram capazes de sustentar as necessidades de eficiência e/ou

eficácia. Os conflitos existentes entre os sujeitos-autores e as regras ·

burocráticas fazem aparecer um grande espaço para a ação da liderança

carismática, que atua na já mencionada zona de aceitação.

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É fácil ver agora a organização como uma arena de conflitos,

permeada de negociações, onde a burocracia não pode mais funcionar com a

pureza da racionalidade técnica, sendo obrigada a reconhecer a dimensão

humana dos indivíduos. Citando Motta:

"A racionalidade da conquista e manutenção do poder se choca,

em muitas vezes, com a racionalidade desenhada para a

organização em termos de seus produtos e serviços!"" .

Observe-se que, quando imposta de fora para dentro, a necessidade

de atingimento de índices de eficiência e eficácia ganha foro de obrigação,

impondo maior aplicação da lógica racional-legal na organização e, portanto,

um comportamento mais próximo do burocrático em estado "puro". No entanto,

se nenhuma pressão externa é exercida sobre a organização, o sistema

racional-legal se torna mais "elástico", permitindo maior ação de líderes

carismáticos internos.

Também os grupos de especialistas originados na divisão "científica"

das tarefas constituem redutos de defesa de interesses corporativos da sua

especialidade, ratificando, de modo curioso, a característica humana desejante

dos especialistas, que buscam apoios de discurso para a

manutençã% btenção de situação privilegiada. A ação desses especialistas

sobre a tessitura burocrática forma o que já foi descrito como burocracia

profissional.

14 MOTIA, Paulo Roberto. Razão e Intuição: recuperando o ilógico na teoria gerenciaI. Revista de Administração Pública. Rio de Janeiro, v 22, n. 3 págs. 77-94, jul.lset. 1 988, pág. 85.

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Dentro da visão da organização como arena política podemos

entender que os objetivos organizacionais são, na verdade, a soma ponderada

dos objetivos individuais, onde o peso de ponderação é dado pela posição na

cadeia racional-legal, pelo carisma e pela capacidade de justificar "no

discurso" suas opiniões. Vale recordar aqui a abordagem de Fleury'5 sobre a

questão da cultura como ideologia, ocultando e instrumentalizando as relações

de poder. Também Kaufmann e Keeley tecem críticas ao modelo orgânico

exatamente pelo favorecimento que estes modelos emprestavam aos

interesses comuns, escondendo a realidade dos interesses individuais'6.

A ligação entre os objetivos individuais se torna patente. A ligação

entre o valor da empresa e as decisões do executivo-chefe é lucidamente

assinalada em famoso artigo de Jensen e MecLing da área de finanças

corporativas, escrito na década de setenta. Os autores fundam, do ponto de

vista financeiro, uma discussão que se tornou famosa e foi denomidada de

"Teoria do Agente". Esta ligação pinta de cores fortes os símbolos de poder,

tais como o tamanho da sala ou o número de secretárias. Note-se que tal idéia

pode ser estendida, com as devidas ponderações de impacto, às decisões de

cada indivíduo da estrutura, não se restringindo, absolutamente, ao executivo

principal. No capítulo 6 este assunto será discutido com mais detalhes.

Desse modo é possível perceber porque administrar uma mudança de

estrutura numa organização moderna pede uma nova postura e entendimento

para velhas questões. A questão do poder é talvez a mais importante visto que

15 FLEURY, op. ch., pág. 6.

18 Citado por MOTIA, op. cit., pág. 86.

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permeia todo o processo reduzindo ou criando o espaço das decisões. Saber

"vender" a idéia da mudança, tanto "para dentro" como "para fora", como

importante e necessária, é uma habilidade cada vez mais requerida aos

administradores, e sem a qual o processo é fadado ao insucesso.

o próximo capítulo formaliza as configurações de distribuição de poder

segundo Mintzberg ( 1983), de modo a possibilitar o enquadramento da

organização sob estudo e iluminar a ação das forças racionais-legais e

carismáticas sobre a sua estrutura e seus indivíduos participantes.

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5. Possíveis Configurações de Poder

o objetivo deste capítulo é descrever as possíveis configurações

"naturais" de poder assumidas pelas organizações, do ponto de vista de

Mintzberg ( 1 983). A tipologia mintzberguiana tem como méritos principais a

grande abrangência e a visão de que um sistema de poder deve levar em

conta influenciadores internos e externos.

A classificação das formas de distribuição de poder inicialmente foram

feitas levando em conta somente um grupo de influenciadores, seja ele o grupo

interno, como Etzioni ( 1 961 )17, ou o grupo externo, como Blau e Scott (1 962)18.

Posteriormente, Rhenman (1 973)19 e Mintzberg (1 983), propuseram

classificação em que ambos os grupos de infuência eram levados em conta. A

classificação de Mintzberg, contudo, é ao mesmo tempo mais abrangente e

mais detalhada.

A classificação de Mintzberg tem como princípio geral o fato de que no

mundo das organizações, a exemplo do mundo físico, existem "posições de

estabilidade estrutural", que são função do equilíbrio de forças entre entidades

internas e externas à organização. Nos seus coletivos estes grupos são

chamados de coalizão interna e coalizão externa e se compõem por diferentes

entes:

17 ETZIONI, A. A Comparativa analysls of complax organlzatlons. New York, Free Press. 1 961,

,. BLAU, P.M. & 5COn W.R. Formal organlzatlons: a comparativa approsch. 5an Francisco, Chandler, 1 962.

,. RHENAMN, E. Organlzatlon theory for long-range plannlng. New York, John Willey, 1 973.

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A coalizão interna é formada por:

a) o CEO (chief executive officei) , gerente de maior poder na

organização, ocupando a posição do topo da hierarquia. É o ponto de

maior concentração de poder em um indivíduo;

b) os executantes, trabalhadores que estão diretamente envolvidos na

produção de produtos e serviços da organização;

c) os gerentes de linha, indivíduos que formam a cadeia de

autoridade/informação entre o CEO e os executantes;

d) os analistas da tecno-estrutura, responsáveis pelo design e

operação dos sistemas de planejamento e controle formal;

e) o staft de apoio, grupo formado pelos indivíduos encampados do

apoio indireto aos executantes;

f) a ideologia, composta de crenças compartilhadas pelos

influenciadores internos, que diferenciam a organização das outras.

A coalizão externa, por sua vez, é formada por:

a) os proprietários, que detêm o título de propriedade legal sobre a

organização;

b) os associados, englobando os fornecedores - que provêem os

insumos; clientes - que consomem os produtos; parceiros - com os

quais a organização mantém relações cooperativas; e competidores

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da organização - supostos competidores objetivos numa relação

econômica clássica - ;

c) as associações de empregados, divididas em sindicatos - para os

executantes com baixa especialização - e associações de classe -

para os especialistas;

d) os públicos, representantes de interesses do público em geral que

podem ser divididos em três categorias gerais: (i) agrupamentos

genéricos, como famílias e formadores de opinião - defensores do

interesse público -, (ii) agrupamentos de interesse especial, como

ecologistas, associações comunitárias e lobbistas de interesses

particulares e, (iii) governo em todos os seus níveis - nacional,

regional, local, departamentos, ministérios, agências, etc. - que

detêm, tecnicamente, a autoridade da sociedade e a capacidade de

estabelecer regras e leis.

° board of dírectors, a diretoria, apesar de estar fisicamente dentro

das fronteiras da organização, é composto de elementos representativos dos

outros grupos. Nele se encontram representados os influenciadores internos e

externos, segundo o seu poder, observando e influenciando o decisor

"principal" da organização, o CEO, e constituindo uma "ponte" entre as

coalizões interna e externa.

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A coalizão interna encontra estabilidade apenas quando somente um

dos seus sistemas de influência20 é claramente dominante. Apesar de estarem

sempre presentes, os sistemas de influência se alternam no domínio da

organização durante suas diversas fases temporais.

Este princípio - da dominância de somente um dos sistemas de

influência - se soma ao já mencionado princípio das "combinações naturais"

entre coalizão interna e externa para formar um pequeno conjunto de

elementos "típicos" ou "genuínos" de distribuição de poder na organização.

Estes elementos são ditos "típicos' ou "genuínos", e não "ideais", porque não

são "o que seria desejável", mas tão somente caricaturas dos extremos entre

os quais vão se situar as organizações reais.

A ação destes dois princípios é definida nas quatro hipóteses a seguir:

I . Uma coalizão externa dominada por um influenciador externo, ou

por mais de um, desde que tenham objetivos convergentes, ajusta-se mais

naturalmente a uma coalizão interna burocrática, tendendo a reforçá-Ia.

A coerência de objetivos externos, seja originada em um só poder, seja

derivada do consenso ou acordo, impõe à organização um conjunto de metas

claras pelas quais o seu desempenho será avaliado. O executivo principal,

nomeado pelo influenciador externo e responsável pelo atingimento de tais

metas, procura então alinhar os objetivos e controlar as ações dos indivíduos

na organização através de uma estrutura burocrática.

20 Controle pessoal, ideológico, por especialista ou político.

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1 1 . Uma coalizão externa dividida (com mais de um foco de poder)

tende a se ajustar mais naturalmente a uma coalizão interna politizada, e vice­

versa, tendendo a se reforçarem mutuamente.

A existência de mais de um foco de poder na coalizão externa permite

o apoio a mais de um grupo ou facção de poder interna, viabilizando a

ocorrência de uma luta política interna à organização. Em menor grau, a

presença de mais de um grupo de poder interno possibilita a ação de mais de

um grupo de interesse externo à organização.

1 1 1 . A coalizão externa passiva permite que a configuração de poder

reflita a dominância dos sistemas de influência pessoal, ideológico, por

especialista (profissional) ou burocrático na coalizão interna; todas essas

combinações tenderão a reforçar a passividade da coalizão externa.

Esta hipótese complementa as anteriores na definição das

configurações naturais de poder. Ela explicita que o vácuo de poder gerado

por uma coalizão externa passiva será ocupado pelo modo como o poder se

distribui na coalizão interna. A partir destas três primeiras h ipóteses já se pode

concluir pelas configurações de poder estáveis.

IV. Quaisquer outras combinações de coalizões externa e interna

geram n íveis de conflito, de moderado a intenso, que instabilizam a

configuração, forçando-a no curto/médio prazo para uma das seis primeiras.

Esta útima h ipótese explicita a instabil idade das combinações que não

se encaixam nas primeiras três hipóteses. Tais combinações são ditas

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instáveis porque o seu nível de conflito interno cria condições favoráveis à sua

rápida transformação na combinação chamada de arena política.

A Tabela 2 mostra as combinações possíveis entre as coalizões

interna e externa:

Tabela 2

Combinações entre as Coalizões

Coalizão Externa Coalizão Interna Configuração de Poder

Dominada Burocrática INSTRUMENTAL

Passiva Burocrática SISTEMA FECHADO

Passiva Personalizada AUTOCRÁTICA

Passiva Ideológica MISSIONÁRIA

Passiva Profissional MERrrocRÁTICA

Dividida Politizada ARENA POLfrlCA

Dominada Personalizada INSTÁVEL

Dominada Ideológica INSTÁVEL

Dominada Profissional INSTÁVEL

Dominada Politizada INSTÁVEL

Passiva Politizada INSTÁVEL

Dividida Burocrática INSTÁVEL

Dividida Personalizada INSTÁVEL

Dividida Ideológica INSTÁVEL

Dividida Profissional INSTÁVEL

fonte: Mintzberg (1983) pág 307

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Nos parágrafos a seguir apresento um resumo das características

relativas às seis configurações estáveis de poder.

5.1 ORGANIZACÃO INSTRUMENTAL OU INSTRUMENTO

A organização instrumental deve atender as demandas de um poder

externo, seja originado de um único influenciador ou de um consenso entre

eles.

A origem do controle externo é uma dependência crítica do meio

ambiente, seja fornecimento, demanda ou requisito legal. O caminho do

controle é normalmente o executivo chefe, responsabilizado pelo atendimento

de metas operacionais explícitas.

Para controlar o atingimento de tais metas o executivo principal instala

um sistema de controles e delegações, burocrático e centralizado, estimu lando

os seus colaboradores com recompensas materiais e lhes oferecendo poucas

oportunidades de dispor de poder real21•

5.2 ORGANIZACÃO SISTEMA FECHADO

Essa organização reflete a falta de foco ou acordo dos controladores

externos. O poder externo encontra-se disperso, desorganizado e desfocado,

quase sempre pela existência de um grande número de influenciadores, sem

que seja possível determinar qual opinião prevalece.

21 Poder, como foi dito, é entendido como a capacidade de influenciar decisões.

55

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A lacuna de poder criada é ocupada pelos administradores chave da

organização, que instalam uma estrutrura burocrática de delegação de poder,

na qual "espaços" de poder são moeda de troca para a manutenção das

posições hierárquicas.

Livre de controles externos, a organização vai se aparelhar para tentar

controlar o meio ambiente, evitando, tanto quanto possível, o aparecimento de

um influenciador dominante. Seus objetivos são, pela ordem de importância,

sobrevivência, eficiência, controle e crescimento.

5.3 ORGANIZACÃO AUTOCRÁTICA

Nessa organização, um executivo principal carismático encontra uma

coalizão externa passiva. Todo o poder é então fruto das qualidades pessoais

desse indivíduo, que possui controle centralizado de todos os acontecimentos.

A lealdade ao líder deve ser regularmente reiterada e demonstrada, o que

impede virtualmente a existência de "jogos políticos".

É uma forma comum em organizações pequenas e jovens, e com

funcionamento "não-transparente". A idade e o crescimento da organização ou

a morte do líder tendem a modificar essa configuração de poder.

5.4 ORGANIZACÃO MISSIONÁRIA

Essa é uma forma de organização que, através de uma forte ideologia,

procura manter a coalizão externa passiva. Essa ideologia forte também serve

para "enquadrar" os participantes da coalizão interna. A meta da organização é

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agora a missão, seu atingimento e aperfeiçoamento. Tudo o que estiver fora

desse foco deve ser rejeitado.

Um forte l íder carismático no passado ou uma atividade

institucionalmente reconhecida como "boa,,22 são os eventos de origem típicos

dessa concepção de organização.

5.5 ORGANIZACÃO MERITOCRÁTICA

o poder aqui origina·se nos conhecimentos dos especialistas que

executam as tarefas da organização. A coalizão interna é do tipo "profissional"

e o instrumento de troca é o conhecimento, existindo um pequeno espaço para

atividade política. A natureza do trabalho do especialista torna·o

razoavelmente imune às pressões do ambiente. A coalizão externa é então

"pacificada".

A lealdade dos especialistas é para com a especialidade, o que torna

associações de classe de especialistas entidades bastante poderosas. A

comunicação e interação entre eles se dá pela sua técnica, pelo seu ramo de

conhecimento. Isso permite que o aumento da especialização tenha sempre

prioridade sobre a tarefa e o especialista não hesite em trocar de organização

buscando maior especialização.

22 A legislação brasileira por exemplo confere uma série de vantangens. inclusive fiscais. às organizações reconhecidas como "de utilidade pública". Igrejas, templos e partidos políticos também recebem benefício especial da lei.

57

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A condição para o surgimento desse tipo de organização é a existência

de uma atividade operacional de alta complexidade, exigindo profissionais com

alto n ível de conhecimento.

5.6 ORGANIZACÃO ARENA POLíTICA

Havendo um número pequeno (maior que um e menor que quatro) de

focos de poder estabelece·se um conflito, seja entre as coalizões, seja dentro

delas. O conflito é a característica fundamental da organização arena política.

Normalmente as pressões conflitivas são originadas em focos de poder

externos23, que se fazem representar dentro da organização e ali reproduzem

o conflito. Como resultado, na melhor das hipóteses, a organização torna-se

presa a uma infinidade de regras e normas que visam atender aos objetivos de

cada foco de poder; na pior das hipóteses a organização é paralisada pelo

conflito.

Apesar de parecer disfuncional, a organização arena política tem como

objetivo permitir a transição entre as configurações de poder.

Definidas as formas de distribuição de poder, o próximo capítulo

subsidia a idéia de reestruturação, de modo que se possa avançar para a idéia

de reestruturação num sistema de poder fechado.

23 A existência de poucos focos fortes de poder caracteriza a coalizão externa dividida, onde há conflito. Um foco de poder (ou o consenso) determina a coalizão externa dominada. Uma miríade de pequenos focos de poder, com múltiplos objetivos, indica uma coalizão externa passiva.

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6. A Idéia de Reestruturação

o funcionamento de uma organização supõe o alinhamento de

interesses entre os participantes. Tais interesses, se não iguais, devem ao

menos ser convergentes. As divergências entre interesses geram ineficiência e

custos, não contribuindo para o atingimento dos objetivos organizacionais.

No princípio da vida da organização o "olhar disciplinadorn24 do

fundador garante centralizadamente a coordenação e o alinhamento dos

interesses individuais. Com o crescimento porém, o empreendedor não é mais

capaz de garantir tal coordenação, visto que seu olhar já não consegue mais

atingir todas as partes da organização. Uma estrutura de coordenação e

controle é então estabelecida de modo a possibilitar a vigilância das partes

não acessíveis ao olhar central. Na maior parte das vezes a estrutura que se

estabelece é a burocracia máquina. Fruto de racionalização cartesiana de um

processo produtivo, a burocracia máquina é a expressão estrutural mais

eficiente para o atendimento deste processo.

Assim, na burocracia máquina o desalinhamento entre os objetivos

organizacionais e os dos indivíduos que compõem a estrutura provoca perdas

especialmente claras. Nas organizações em que essa estrutura é a mais

adequada, a única ação do desalinhamento é provocar ineficiência e custos.

24 Conforme definição de FOUCAL T, Michel. Vigiar e Punir: o nascimento da prisão. 4' edição. Petrópolis: Vozes, 1 986.

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A partir da estrutura burocrática inicialmente estabelecida, o passar do

tempo provoca um crescimento desigual pela estrutura. Livres do planejamento

centralizado que gerou a estrutura burocrática inicial, os diversos gerentes de

linha locais esforçam-se por fazer crescer seus setores e divisões, o que lhes

traz cada vez mais prestígio e poder. Inicia-se o círculo vicioso do crescimento

não racional25 e desordenado, onde poder e capacidade de persuasão se

tornam fatores fundamentais nas determinações de investimento e

contratação.

Em organizações nas quais o poder se distribui como um sistema

fechado esse crescimento "em causa própria" fica potencializado. A

possibilidade de receber apoio nos setores e divisões "abaixo" de si leva cada

gerente a estimular o surgimento de sub-setores, apoiando e justificando para

os seus superiores a necessidade de se dividir em novas chefias o que

acontecia sob apenas uma. É claro que a anuência das chefias superiores é

dada em troca do mesmo tipo de apoio, perpetuando o sistema fechado.

o afastamento do modelo de racionalidade suposto pela burocracia

causa, como já dito, uma ineficiência no processo produtivo que abre espaço

para o surgimento de diversos processos de revitalização organizacional.

Reengenharia, Total Quality Control, reestruturação, gerência por objetivos, etc

são todos nomes coloridos para a mesma ação: repensar racionalmente o

processo produtivo, reenquadrando-o, tanto quanto possível, nas premissas

25 É uma suposlçao sina qua non para a adoção da estrutura burocrática a possibilidade da racionalização, no mais puro sentido do método cartesiano, dos processos.

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tayloristas, sofisticadas cada vez mais pelo cada vez maior conhecimento das

reações humanas.

6.1 UMA IDÉIA DE VALOR: A TEORIA DO AGENTE

Em 1 976, Jensen e Mec Ling publicaram um artigo que se tornou

famoso por ser o primeiro a associar a estrutura de propriedade (e também a

composição do capital) às decisões do executivo principal, e essas ao valor

das ações da empresa.

E como se dá essa relação de causalidade? Exemplo simples, aplicado

à decisão de investimento aparentemente pouco custosa mostra como se

estabelece nova tendência nas decisões do executivo chefe.

Imagine·se a decisão de comprar um carro para a locomoção do

executivo chefe. Em uma empresa cujo capital fosse todo de propriedade

desse executivo principal, essa decisão seria tomada somente com base na

real necessidade a ser atendida, a escolha recaindo sobre o modelo que

tivesse a menor relação custo/desempenho sob a ótica da organização,

provavelmente um modelo básico de carro econômico. Note·se que, nesse

caso, todo o rendimento sobre o capital da empresa pertence a esse mesmo

executivo e luxos desnecessários são pagos pela redução desse rendimento.

Em uma segunda empresa, cujo o capital fosse dividido em 5 1 % na

propriedade do executivo principal e 49% pulverizado entre acionistas

minoritários, a decisão pelo modelo econômico já não seria tão óbvia.

Observe·se que a redução do rendimento sobre o capital é agora dividida,

aproximadamente, pela metade, entre o executivo principal e os acionistas não

61

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controladores. Agora o conforto de um carro luxuoso, desfrutado somente pelo

executivo principal é parcialmente pago pelos outros acionistas. Em modernas

sociedades anônimas, onde existem ações sem direito a voto, é possível

controlar uma empresa com parcelas de capital expressivamente mais baixas

que 50%26.

A análise feita para aquisição de um veículo pode se aplicar a

qualquer outra decisão do executivo chefe, afetado na objetividade de suas

escolhas não s6 em relação a luxos e benesses, mas também em sua

preferência por riscos.

A redução dos dividendos (ou o aumento do risco) oriunda dessa

mudança de comportamento do executivo principal afeta o valor das ações27 e,

por um mecanismo análogo, aumenta o custo de capital da organização.

o raciocínio que liga o valor das ações às decisões do executivo chefe

pode ser aplicado à decisões em todos os níveis da estrutura. Observe-se que

as decisões de gastos afetas aos gerentes em cada n ível da estrutura e

também comprometem o retorno do acionista pelo seu afastamento da

"racionalidade pura". Na verdade, mesmo os desperdícios perpetrados pelos

executantes desvinculados dos objetivos da organização reduzem esse retorno

e, consequentemente, o valor da ação.

26 No Brasil, 1 6,5% do cap�al total mais uma ação.

'll Está embutida a suposição de que as ações são racionalmente apreçadas pelo desconto do fluxo de dividendos futuro em relação ao nível de risco da empresa.

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Num sistema de poder fechado, o não controle do executivo principal é

a situação característica. Sem sofrer pressões da coalizão externa e muitas

vezes possuidor de parcela ínfima do capital total (ou até mesmo de

nenhuma), o executivo principal tem como único objetivo sustentar sua

posição, mantendo o poder de decidir sobre gastos e investimentos e

influenciando a coalizão externa. Também constitui ganho secundário

significativo o status associado à posição de chefe principal.

Engajado nesse movimento de manutenção da própria posição de

poder e sem o controle externo, o executivo chefe se sente à vontade para,

através de liberdades e liberalidades, angariar a simpatia e o apoio dos níveis

hierárquicos inferiores. A obtenção desse apoio, fundamental para a

perpetuação do status quo, custa uma soma de dinheiro que torna o sistema

produtivo menos eficiente28 do que o necessário para o funcionamento da

organização instrumento equivalente.

Destaque-se que na organização instrumentalizada pela distribuição

de poder, a organização instrumento, a cobrança sobre o executivo chefe vem

associada à delegação de poder, que permite a manutenção da posição de

executivo principal independentemente do apoio ou simpatia internos. Na

organização instrumento o poder assume preponderantemente a forma

racional-legal e vem "de fora para dentro" na organização.

28 Eficiência é entendida como uma função inversamente proporcional ao custo de atingimento dos objetivos. Assim, ineficiência é uma característica inerente a qualquer processo, a uns em maior grau que outros. A eficiência infinita - custo zero - é um objetivo teórico. E necessário manter clara a dijerença conceitual em relação à eficácia, que é entendida como o grau de atingimento dos objetivos estabelecidos.

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6.2 As OpÇÕES DE REESTRUTURAÇÃO

Como foi dito, a organização com estrutura burocrática necessita

periodicamente de uma reavaliação cartesiana de processos, seja esta

chamada reengenharia ou reestruturação. Qualquer nome que esse processo

tenha, qualquer que seja o discurso em que sê apoia o "novo" conjunto de

definições e categorias empregado, a sua síntese e objetivo serão os mesmos:

a rearrumação da "máquina" visando maior eficiência.

Mas a máquina já não é tão pequena e simples. É muito difícil para um

indivíduo, ou mesmo para um grupo, analisar, individual e integradamente,

todos os processos envolvidos no funcionamento de uma grande empresa.

Dentro dessa limitação, como distinguir entre o realmente necessário e o

"dispensável" a bem da eficiência? À distância, é difícil separar o joio do trigo.

Como solução deve·se buscar a cooptação de indivíduos mais

próximos aos processos, capazes de julgar "com maior propriedade" a

relevância ou não de cada processo para o atingimento dos objetivos

organizacionais.

Numa organização instrumento essa "cooptação ideológica" é

relativamente fácil. O trade·of( entre a cabeça dos outros ou a sua própria,

ainda que cuidadosamente disfarçado das pessoas em palavras bonitas, é

facilmente compreendido e decidido da maneira conveniente para a

organização pela maioria dos chefes. Ainda que um ideólogo corajoso escolha

a própria cabeça, será logo substituído por outro de comportamento modal

que, à vontade, indicará as cabeças a cortar.

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Em uma organização sistema fechado esse processo já não se dá de

maneira tão simples. A dificuldade de cortar cabeças impõe um caminho

motivacional diferente. Visto que os reforços negativos não são possíveis, a

estimulação deve se dar pelos reforços positivos. O gerente da linha média,

elemento a ser cooptado, deve ser seduzido por um aumento nas benesses e

liberalidades e assim induzido a indicar lugares de corte. E quando o faz,

quase sempre indica cortes "pela paralela", mostrando reduções possíveis nas

áreas de outros gerentes médios, pois a sua, absolutamente indispensável ao

bom funcionamento da organização, já está "muito abaixo do limite",

precisando de aumento de quadros para tornar o trabalho apenas "humano".

Assim, os cortes corresponderão a aumentos, equi librando os níveis de poder

dos diferentes gerentes da linha média.

Na organização sistema fechado uma reestruturação não causa o

efeito rejuvenescedor esperado em uma organização instrumento. O resultado

será o alívio das tensões causadas pelas concentrações de poder na linha

média.

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7. A Metodologia de Avaliação29

7.1 POSSIBILIDADES DE AVALIAÇÃO

É pressuposto de um processo qualquer de reeslruturação a melhoria

da eficácia e da eficiência do funcionamento do sistema. Melhorias de eficácia

e eficiência se oferecem, em algum modo, a processos de avaliação.

Neste estudo a questão-guia objetiva as motivações para a adoção de

um processo participativo de reestruturação. Na sua característica de

participativo tal processo buscaria, junto aos próprios indivíduos que seriam

cortados, as sugestões para o corte de funções e, consequentemente, de

pessoas. É de se esperar portanto que esse processo apresente baixa, ou

mesmo nenhuma eficácia.

Assim, um caminho curto e incontestável para justificar a adoção do

processo participativo seria a mensuração objetiva dos resultados obtidos, em

termos de ganho de eficácia no processo produtivo.

Por esse motivo considerei primeiro a viabilidade de alternativas

objetivas de avaliação. Constatada a inviabilidade dessa opção, parti para as

possibilidades de avaliar o processo subjetivamente, através das percepções

29 A concepção desse item foi fortemente influenciada pelo trabalho de VERGARA, Sylvia C. Pesquisa Participante: pressuposlos epislemológicos e melodologia. Trabalho apresentado na disciplina de Metodologia da Pesquisa do Curso de Doutorado em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, setembro de 1 985.

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dos atores participantes. As duas próximas seções discutem e pretendem

justificar a escolha.

7.1.1 A A valiacão Objetiva

A diversidade de resultados pode ser objetivamente mensurada na

variação do fluxo de caixa líquido gerado pela organização. Tendo como fixo

que se espera um aumento de eficiência, deve poder ser mensurada a redução

dos custos de produção, combinada ou não com aumento das receitas. Os

índices da contabilidade gerencial devem ser capazes de explicitar esse

número, ou pelo menos apontar para ele num futuro subsequente à zona de

turbulência que acompanha qualquer modificação estrutural. Embora o tempo

de acomodação seja inevitável, a contabilidade deverá ser capaz de mostrar

essa melhoria de resultados.

Na organização enfocada esse tipo de avaliação não seria possível, já

que a contabilidade não está estruturada de modo a poder fornecer dados com

a agregação necessária à observação desses valores.

Outra possibilidade de avaliação objetiva seria a mensuração do

aumento do valor das ações da empresa, negociadas em bolsa de valores, não

vinculável a outros fatores ou a uma alta generalizada no mercado30• Como no

caso das decisões do executivo chefe, cujas escolhas afetam o valor de

30 A bem da verdade existe aqui o pressuposto financeiro implícito de que um aumento do fluxo de caixa esperado ou uma redução do nível de risco são percebidos objetivamente pelo mercado de ações e a variação de valor imediatamente incorporada ao preço da ação.

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mercado das ações, um alinhamento de objetivos e consequente aumento de

eficiência deve refletir na avaliação da empresa pelo mercado de ações.

Também tal avaliação não seria possível no caso da organização em

estudo, enquanto parte de uma organização maior. O reflexo de sua eficiência

não pode ser isolado em função da infinidade de variáveis que afetam o valor

das ações da holding. Não havendo como eliminar os ruídos, esse método foi

descartado.

7.1.2 A A valiacão Subjetiva

Excluídas as possibilidades de avaliação objetiva restou a opção por

uma avaliação sUbjetiva, procurando na percepção das pessoas participantes

da organização as motivações e opiniões relativas ao processo de

reestrutu ração.

A coleta deste tipo de informação pode se dar por meio de

questionário ou entrevista. O questionário dispensa a presença ativa (ou pró­

ativa) do pesquisador e não pode ser alterado ad hoc.

A entrevista por sua vez pode ser feita com roteiro rígido, quando se

assemelha muito a um questionário, de modo semi-estruturado, onde existe um

grupo de perguntas de referência, ou de modo completamente aberto.

O roteiro rígido é mais adequado a estudos não exploratórios, onde

importa buscar a correlação estatística existente entre fatores ligados ao

processo de reestruturação.

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A entrevista semi-aberta permite que se investigue de modo dinâmico

as percepções do entrevistado não só sobre a questão original, mas também

sobre questões paralelas ou mesmo sobre novas questões que surjam no

momento da entrevista.

Na avaliação subjetiva de um processo de reestruturação é importante

reduzir a presença forte de viéses pessoais ao mesmo tempo em que se

procura a impressão dos entrevistados sobre aspectos ligados ao andamento

e ao resultado do processo.

Por ser este um estudo exploratório dos problemas associados a um

processo de reestruturação e em face a natureza dos dados (percepções de

atores envolvidos no processo), buscou-se entre as alternativas de pesquisa

qualitativa uma que fosse capaz de propiciar maior discussão sobre os

fenômenos sociais a observar. O método hermenêutico-dialético, entre as

alternativas de pesquisa participativa, apareceu como oportunidade de

especular a partir da experiência pregressa, propiciando a particularização que

se fizesse necessária ao caso em estudo.

7.2 O MÉTODO HERMENÊUTica-DIALÉTICO

A crença na ciência como verdade absoluta e a consagração do

método empírico em nossa sociedade atingiu seu auge no final do século

passado. Quando as sociedades ocidentais se depararam com fenômenos que

o método científico não conseguia explicar - os fenômenos relativos a física

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atômica ., ficou patente a necessidade de uma revisão no método explicativo.

Capra31 assinala a incapacidade do método:

"A teoria quântica acabara de por abaixo os conceitos clássicos

de objetos sólidos e de leis da natureza estritamente deterministas.

No nível subatômico, os objetos materiais sólidos da física clássica

dissolvem-se em padrões de probabilidade semelhante a ondas;

esses padrões, em última instância, não representam probabilidades

de coisas mas sim probabilidades de interconexões. ( . . . ) A partição

cartesiana entre o eu e o mundo, entre o observador e o observado,

não pode ser efetuada quando lidamos com a matéria atômica. Na

Física atômica, jamais podemos falar sobre a natureza sem falar, ao

mesmo tempo, sobre nós mesmos".

Outro fato que contribuiu para o desenvolvimento e aceitação de

outros métodos de pesquisas, que não o empírico, foi o desenvolvimento das

ciências sociais cujo objeto é também sujeito, tornando impossível a suposta

neutralidade do pesquisador. Essa percepção de que o objeto das ciências

sociais é também sujeito veio depois da tentativa de aplicar os critérios do

positivismo nessa área do saber.

Para Habermas32 é impossível aos homens proceder com indiferença

em relação ao mundo que eles constru íram como supostamente poderiam em

31 CAPRA, Fritjo!. o Tao da FIslca. São Paulo, Cultrix, 9a edição, t 989, pág. 58.

32 Citado por VERGARA, op. cit. pág. 5.

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relação aos fenômenos da natureza. Já para Horkheimer33, não existe teoria

da sociedade que não inclua interesses políticos; não há reflexão neutra,

conduzindo à decisões e ações na atividade histórica concreta.

No início, os cientistas sociais foram também influenciados pelo

paradigma positivista-lógico e pretenderam estender a racionalidade

instrumental à totalidade do ser. Com o passar do tempo, percebeu-se que a

realidade social é um dos aspectos da realidade humana que mais clama por

outro tipo de pensamento: o pensamento dialético. Nessa dimensão é

imprescindível entender os aparentes paradoxos, percebendo que esses

constituem partes de uma mesma realidade ou, metaforicamente falando,

lados diferentes de uma mesma moeda.

Não quero dizer que, ao resgatar a lógica dialética, o método empírico

(que tem por base a lógica clássica) deva ser deixado de lado. Na verdade, o

paradigma hermenêutico-dialético necessita da síntese dos aparentes

paradoxos, constituindo a síntese dos diversos pensamentos. Dentro do

paradigma hermenêutico-dialético, então, percebe-se que o uso do método

empírico ou do interpretativo dependerá da natureza do problema estudado. O

resgate da lógica dialética vem para complementar a lógica clássica e não

para suplantá-Ia. Segundo Konder34:

"Durante séculos, a hegemonia do pensamento metafísico nos

acostumou a reconhecennos somente um tipo de contradição: a

33 Citado por VERGARA, op. cit. pág. 6.

.. KONDER, Leandro. O Que é Dialética? São Paulo, Brasiliense, 228 edição, t 99t , págs. 48 e 49.

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contradição lógica. A lógica, como toda ciência, ocupa-se da

realidade apenas em um determinado nível; para alcançar resultados

rigorosos, ela limita o seu campo e trata de uma parte da realidade.

As leis da lógica são certamente válidas no campo delas; e - nesse

campo de validade - a contradição é a manifestação de um defeito

de raciocínio. Existem, porém, dimensões da realidade que não se

esgotam na disciplina das leis lógicas. Existem aspectos da

realidade humana que não podem ser compreendidos isoladamente:

se queremos começar a entendê-los, precisamos observar a

conexão íntima que existe entre eles e aquilo que não são".

Algumas das críticas mais severas ao positivismo vieram dos filósofos

da Escola de Frankfurt. Eles partem do pressuposto de que o homem é um ser

de dimensão histórica, que vive em uma realidade concreta, particular,

produzida, contraditória. A dimensão histórica garante ao homem a

pOSsibilidade de negação e superação da realidade, com vistas à

emancipação humana. Desta forma a ciência deixa de ter como objetivo

somente a explicação dos fenômenos através das teorias, e passa a explicá­

los para a obtenção dessa emancipação.

Segundo Radnitzy35: "os produtos da pesquisa são auxiliados em

termos de sua relevância para a práxis da pesquisa e para a práxis política e

social, cujo fim último é a emancipação do homem".

35 Citado por VERGARA, op. cito pág. 4.

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Já para Habermas36 a validação das léis dialéticas não trata de

relações particulares de funções específicas e contextos isolados; antes de

relações fundamentais de dependência, "por cuja mediação o mundo social

aparece determinado como totalidade, presente em todos os seus momentos".

o método dialético integra teoria e prática, sintetizadas na práxis. Ele

integra a visão do conjunto e a das partes, a unidade e a diversidade em

operações de síntese e de análise. Nesse método é importante a percepção da

dimensão mediata e imediata. Esta última é a que percebemos imediatamente,

enquanto a primeira é a que vamos descobrindo aos poucos, com o decorrer

da experiência. Assim, paulatinamente nos capacitamos a interferir nesse

processo, construindo e reconstruindo essa dimensão. Disso decorre a

possibilidade de se avaliar corretamente toda a significação do fenômeno.

Diferentemente do método empírico, o método dialético dá ênfase à

compreensão do sentido. Konder37 explica:

"(. .. ) a análise dos fenômenos quantificáveis da natureza não é o

terreno do método dialético; antes, o da história humana e o da

transformação da sociedade. Por essa razão, esse método leva à

revisão do passado à luz do presente e questiona o presente em

nome do futuro".

36 Citado por VERGARA, op. cit. pág. 4.

37 Citado por: VERGARA, op. cit. pág. 5.

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o método hermenêutico-dialético não separa o sujeito do objeto; mas

sim supõe co-participação de todos, com suas diferentes representações da

realidade e com suas ações, no processo de pesquisa. Na visão de Radnitzy38,

o cientista quer que seus resultados sejam contribuições ao diálogo

progressista da humanidade, logo o cientista precisa do público como

fundamento lógico de seu trabalho.

Dentro dessa nova visão, já não se pode admitir um cientista isento da

responsabilidade do possível uso dos resultados de sua pesquisa. Todos que

participam da pesquisa são co-responsáveis pelos resultados produzidos. Há

uma relação direta entre os pressupostos epistemológicos (método dialético) e

a prática da pesquisa.

Por último, é interessante ressaltar o caráter particular e único da

pesquisa pelo método hermenêutico-dialético. Com essa visão fica muito difícil

(e até mesmo leviano) a generalização dos resultados obtidos em uma dada

pesquisa. Essa característica do método hermenêutico-dialético é acentuada

por Habermas38 que afirma que as conexões interdependentes e complexas do

contexto h istórico estão além dos sistemas considerados globalmente.

É claro que, por ser o método dialético um aspecto complementar e

não substitutivo, a experiência acumulada durante a pesquisa poderá sempre

ser utilizada em conjunto com as de outras pesquisas para conclusões e

tipificações de ordem mais genérica.

38 Citado por: VERGARA, op. cit. pág. 6.

39 Citado por VERGARA, op. cit. pág. 6.

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7.3 A M ETODOLOGIA DA PESQUISA DE CAMPO

Pela própria natureza do método utilizado para a realização da

pesquisa é muito difícil se imaginar um receituário para sua aplicação.

Entretanto, Le Boterf e Grossi40 idealizaram um modelo tentando sistematizar o

desenvolvimento da pesquisa participante.

Devido à escassez de recursos (temporais, financeiros e humanos)

não foi possível realizar a pesquisa seguindo integralmente o modelo

idealizado por Le Boterf e Grossi. Porém, tomei·o como referência e adaptei-o

às minhas condições específicas de pesquisa.

Dentro do meu projeto de pesquisa foi possível identificar três fases

distintas41 • A realização das fases contudo não ocorreu linearmente, havendo

situações de retorno a etapas anteriores para incorporação de aprimoramentos

sugeridos pela experiência da etapa seguinte.

40 Como descr�o por VERGARA, op. cito pág. B . ., O modelo de Le Boterf e Grossi possui uma quarta fase que é a programação e aplicação de um

plano de ação que contribua para a solução dos problemas encontrados. Não foi realizada essa quarta fase pela falta de recursos já alegada e por não ser o escopo desse trabalho.

75

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As fases podem ser assim descritas:

1 ª fase - montagem institucional e metodológica: (i) discussão do

projeto de pesquisa com o orientador; (ii) definição do tema, objetivo, conceitos

e método; (iii) justificativa para a escolha do tema; (iv) concepção do trabalho.

2@ fase - estudo preliminar e provisório sobre o assunto escolhido:

(i) revisão bibliográfica; (ii) elaboração de Um modelo conceptual; (ii i)

conhecimento dos pontos de vista dos indivíduos e dos grupos envolvidos.

3i fase - análise crítica dos problemas considerados prioritários

durante a fase de entrevistas e "feedbac/(' dos resultados à organização

pesqulsada: (i) expressão das representações do problema; (ii)

questionamento dessas representações; (ii i) reformulação do problema; (iv)

conclusão da pesquisa e "feedbacl<' dos resultados à organização que

participou do projeto.

No meu caso, funcionário da organização há quase dez anos, a coleta

de dados e informações foi facilitada por alguns fatores, ao mesmo tempo que

prejudicada por outros.

A condição de funcionário me abriu portas, formais e informais, e me

permitiu acesso à informações que um "estranho" não conseguiria. Também a

minha experiência pessoal "encurtou" caminhos de busca, fazendo com que

evitasse as "ruas sem saída".

Do lado das desvantagens o excesso de "intimidade" me criou,

algumas vezes, dificuldades para "ser levado a sério" e as barreiras

h ierárquicas tiveram que ser negociadas com cuidado.

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Contudo, a lim itação mais forte foi o inevitável enviesamento. O meu

contato cotidiano com as pessoas criou um fluxo de informações, de mim e

para mim, que pode ter vindo a tingir a formação do modelo teórico explicativo.

Além disso, pode ter fornecido aos entrevistados subsídios para "escolha" de

suas respostas. A solução do afastamento temporário sofreu pressão contrária

da estrutura burocrática, relutante em "perder", ainda que temporariamente, o

controle sobre o meu trabalho.

A coleta de dados foi feita mediante a realização de entrevistas e

debates. No in ício do processo eram previstas cerca de 60 entrevistas,

procurando alcançar indivíduos em diversos níveis hierárquicos para entender

o problema de diversos ângulos. O andamento do processo, no entanto,

mostrou ser impossível a realização de tantas entrevistas formais. Contudo

apareceu uma nova possibilidade de coleta de dados: a entrevista

desestruturada. Muitos dos entrevistandos resistentes, sob diversos

argumentos, à entrevista formal, falaram horas de pé no corredor com um

cafezinho na mão.

Os dados colhidos focalizaram o ponto de vista das pessoas

envolvidas no processo de mudança, não somente sobre esse processo, mas

também sobre várias questões paralelas, com intenção de contextualizar as

opiniões do entrevistado e também de enriquecer a pesquisa.

Ao longo das entrevistas foram feitos questionamentos, com vistas não

só a avaliar como as pessoas percebiam os problemas envolvidos no processo

de reestruturação mas, ao mesmo tempo, estimular nos entrevistados um novo

olhar sobre o todo dos acontecimentos.

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As entrevistas foram apoiadas em um roteiro bastante amplo, para dar

conta da personalização durante a entrevista, de acordo com as respostas do

entrevistado. Sempre que possível procurei obter dos entrevistados sua visão

acerca dos pontos fortes e fracos do processo de reestruturação e sugestões

para melhoria. O roteiro das entrevistas está no Anexo1 .

Pode-se dizer, então, que a pesquisa realizada teve caráter

interpretativo dos problemas associados a um processo de reestruturação, de

modo a gerar "insightS' para pesquisas futuras mais detalhadas.

78

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8. Apresentação e Análise dos Dados

Como explicado no capítulo sobre metodologia, a proposta inicial era

fazer cerca de 60 entrevistas, de cerca de uma hora, abrangendo todos os

níveis hierárquicos da organização em estudo. Tal intenção foi frustrada, e

entendo que os motivos que impediram o atingimento pleno deste objetivo são,

em si mesmo, dados, cuja relevância não pode ser desprezada.

Para facilitar a compreensão esta seção será dividida em três partes.

O Relato Factual, onde forneço ao leitor informações factuais que permitirão o

entendimento da análise procedida durante a apresentação dos dados nas

partes Resultados Gerais e Resultados Ligados à Questão-Guia.

8.1 O RELATO FACruAL

8.1.1 As EsTRUTURAS

A Reduc é uma das unidades do departamento industrial da

PETROBRÁS. Nessa condição, tinha, antes da reestruturação de que trata

este estudo, uma estrutura mais ou menos padrão, comum às outras unidades

deste departamento. Tal estrutura tipicamente previa a partição da unidade

industrial em divisões, e de cada divisão em unidades menores, os setores.

Alguns setores eram divididos em partes ainda menores, as seções. Apesar de

os setores serem ligados, caracteristicamente, à divisões existiam setores

ligados diretamente ao ápice estratégico, chamados setores autônomos. A

avaliação numérica mostra 9 divisões, 53 setores, mais 4 diretamente ligados

à superintendência, e 1 4 seções.

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Cabe assinalar que essa avaliação numérica era a da estrutura formal.

A estrutura de fato operacional, conhecida como "informal" apesar de ser

divulgada por escrito, possuia 1 0 divisões, 49 setores, mais 7 diretamente

ligados à superintendência, e 1 6 seções.

o ápice estratégico, em ambas as estruturas, além do executivo

principal, o superintendente, possuía dois superintendentes adjuntos, com uma

divisão de responsabil idades que provocava uma primeira divisão formal na

hierarquia, acima do nível das divisões.

A outra extremidade, o núcleo operacional, era caracteristicamente

dividida em equipes, com um supervisor designado pelo último chefe formal, o

chefe de setor ou o chefe de seção. Algumas vezes, em espeCial no caso dos

setores que não eram divididos em seções, existiam dois níveis "informais" de

supervisão.

o resultado era uma cadeia de comando formada por:

superintendente, superintendente adjunto, chefe de divisão, chefe de setor,

chefe de seção, supervisor e executante. Ou seja, sete n íveis hierárquicos.

Após a reestruturação, o desenho da hierarquia ficou formalizado em 8

divisões ou plantas, 33 setores, 5 setores diretamente ligados à

superintendência e 3 assessorias. Plantas ou divisões são o mesmo nível

hierárquico ligado a atividades diferentes. O nível de seção desapareceu,

compensado por um aumento na quantidade de supervisões e supervisões

duplas. O ápice estratégico tem agora somente um superintendente adjunto,

cujas funções se confundem com as do superintendente, respondendo os dois

como um e dividindo seu trabalho por volume, não por atividade.

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A cadeia de comando agora tem cinco níveis: superintendente (ou

superintendente adjunto), chefe de divisão ou planta, chefe de setor,

supervisor e executante. A presença do segundo supervisor aumenta esse

número para seis.

A diferença fundamental entre uma e outra estrutura é que os

trabalhos de manutenção dos equipamentos ligados à atividade fim se

desenvolviam exclusivamente sob a chefia de uma divisão. Na estrutura nova,

parte do serviço de manutenção, particularmente daquela ligada ao cotidiano,

foi remanejado para o controle dos chefes de plantas ou divisões, onde se

desenvolve atividade industrial.

8.1.2 Os FATOS HISTÓRICOS

É tida por todos como marco das motivações que precipitaram a

reestruturação uma greve de cerca de 30 dias ocorrida em fins de 1990. Tal

greve ocorreu apenas na Reduc, envolveu somente os setores operacionais -

ligados à atividade de produção - e terminou sem vencedores. O objetivo da

greve não foi atingido e o resultado foi um péssimo clima de trabalho.

Nesse mesmo ano a Reduc contratou uma consultoria especializada

em relações humanas com o objetivo de, treinando o corpo gerencial, melhorar

as relações interpessoais.

Finda a greve a refinaria contratou uma outra consultoria com o intuito

de fornecer as condições necessárias à promoção de um processo de

reestruturação.

81

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Ambas as consultorias prestavam ou já haviam prestado serviços em

outras unidades da PETROBRÁS.

Em fins de 1 991 começava o processo de coleta de informações que

iria resultar na reestruturação participativa objeto deste estudo.

Na metade do segundo semestre de 1993 o superintendente foi

substituído.

Em meados de 1 994 foi implantada a nova estrutura da Reduc.

8.2 RESULTADOS GERAIS

Dos 60 nomes selecionados, somente 25 resultaram em entrevistas

formais. Dos 35 restantes, cerca de 20 acabaram entrevistados informalmente,

de pé, junto ao bebedouro ou tomando um cafezinho. Os restantes evitaram

sistematicamente os assédios (limitados a quatro tentativas). A entrevista,

formal ou informal, acabou durando sempre de duas a três horas.

Entre os que acabaram permitindo a entrevista informal vê-se,

claramente, que o medo que opiniões "politicamente incorretas" (quase todos

são de opinião de que "nada mudou") chegassem aos ouvidos de seus

superiores havia impedido a entrevista formal. Note-se que sigilo era uma

garantia oferecida juntamente com o pedido de agendamento da entrevista.

Como garantia adicional era oferecida ainda a possibilidade da entrevista não

gravada.

A propósito, entre os formalmente entrevistados somente dois

"preferiram" que a entrevista não fosse gravada; o restante, tipicamente,

82

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declarava que "falaria o mesmo na frente de qualquer um". Também entre os

formalmente entrevistados, um outro grupo pequeno, cerca de quatro pessoas,

evitou a exposição excessiva, "recitando" os documentos oficiais da empresa.

Do conjunto de entrevistas, formais e informais, uma outra informação

interessante merece ser evidenciada: a ignorância sobre o processo

organizacional42• Tal característica apareceu, na amostra, com maior

frequência (aproximadamente 90%) entre os indivíduos do núcleo operacional

e da gerência média diretamente ligada a ele.

Já no grupo formado pela "alta" gerência média, pelo staffe pelo ápice

estratégico a proporção se inverte, e somente 10% das pessoas parece estar

alheio ao processo organizacional.

Uma explicação possível para esse fato pode ser a necessidade de

assumir um cargo gerencial para ter progressão financeira, o que empurra

bons técnicos para a gerência média. Nas palavras de um entrevistado: " .. . A

GENTE TEM o PÉSSIMO HÁBITO DE PEGAR O BOM TÉCNICO PARA FAZER UM MAU

GERENTE .....

o segundo nível de gerência média é bem mais restrito e exigente, o

que reduz a possibilidade de o mau gerente seguir carreira. Sobre esse

assunto recomenda-se a execução de estudos e avaliações complementares.

42 Defino como processo organizacional o conjunto formado pela estrutura, jogos de poder e motivações que envolve o cotidiano de uma organização.

83

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Ressalve-se contudo que em todos os grupos foram encontradas

pessoas com percepção muito acurada dos processos organizacionais como

um todo.

8.3 RESULTADOS LIGADOS À QUESTÃO-GUIA

As respostas buscadas prioritariamente pela pesquisa eram aquelas

ligadas à questão-guia. Se os processos de reestruturação organizacional são

re-aplicações do método analítico/sintético cartesiano, por que na Reduc

optou-se por discuti-los com as partes envolvidas?

Como a resposta a essa pergunta foi procurada por perguntas

tangentes, o resultado é um painel de fragmentos de respostas, um quebra­

cabeças faltando peças. O preenchimento das lacunas foi feito com base no

modelo conceptual. O texto analítico é ilustrado com citações literais das

entrevistas. Onde se fez necessário, tais citações são explicadas.

8.3.1 As MOTIVAÇÕES DO AGENTE DEFLAGRADOR

O modelo conceptual faz entrever uma possível resposta para o fato

de a reestruturação ter sido participativa: o executivo máximo de um sistema

fechado teria perdido poder de modo excessivo nas negociações com a linha

média e buscou a ratificação do núcleo operacional, mais susceptível à ação

do poder carismático, para montagem de uma nova estrutura de linha média.

Nessa montagem seria possível criar novos espaços para acomodar

focos de poder e fazer degolas convenientes. Note-se que, se houvesse apoio

externo, tais modificações não precisariam do apoio interno. Seria possível,

84

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então, concluir por dois pontos: (i) falta de apoio externo para o executivo

principal, e, ( i i) conturbação interna provocada pela ação de outros focos de

poder. Nas entrevistas esses dois pontos foram evidenciados:

..... 0 A043 ESTAVA MUITO DESGASTADO COM O DEPARTAMENT044 ( ... )

OFICIALMENTE TINHA A HISTÓRIA QUE ELE [O AD]45 JÁ ESTAVA HÁ MUITO TEMPO

AQUI ... "

..... A REDUC SEMPRE FOI MUITO QUESTIONADA PELA SEDE, O AO TAMBÉM

( ... ) A GRANDE DIFICULDADE DO AO ERA LIDAR COM AUTORIDADE, TANTO PARA

CIMA COMO PARA BAIXO ... "

..... NO MEIO DO CONFLITO ELE [o AD] TEM MUITA DIFICULDADE DE DECIDIR,

O NNl46 DECIDE ... "

..... [0 AD tinha] DIFICULDADE DE IMPOR AUTORIDADE E DE FAZER UM

EMBATE COM O SEU CHEFE ( ... ) ISSO TRANSPARECIA COMO UM PULSO FRACO, DE

DEIXAR AS COISAS CORREREM ... "

Alguns depoimentos registram a percepção da dificuldade do AO em

exercer poder racional-legal, por falta de apoio externo (do "departamento").

Outras percepções (páginas 89 e 98) sugerem que para o exercício do

poder carismático ele se sentia muito à vontade.

43 o AO é o Agente Deflagrador, indivíduo que foi capaz de iniciar o processo de reestruturação e de fazer com que esse processo fosse participativo.

44 A PETROBRÁS é dividida em diretorias, estas em departamentos e os departamentos em unidades operacionais. A Reduc é uma unidade operacional, portanto, subordinada a um departamento.

46 O texto em itálico entre colchetes foi introduzido para contéxtualizar os fragmentos, tornando-os inteligíveís, não fazendo parte da citação literal.

.. O NN1 é O Novo Número 1 , que substituiu o AO na posição de executivo principal.

85

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Já a respeito da conturbação interna tem-se:

" ..• ERA CHEIA DE NICHOS DE PODER ... "

" •.• A REFINARIA SEMPRE TEVE ESTA NÃO CONVI�NCIA ENTRE OS GRUPOS

QUE SE FORMARAM ( ... ) FOI UMA GRANDE BRIGA DE PODER ENTRE OS GRUPOS ( ... )

UMA TBNTATIV A DE DEFENDER OS SEUS PONTOS DE VISTA c. .. ) É CLARO QUE TINHA

MUITO WBBY ... "

" ... OS PROBLEMAS DE GESTÃO E POSTURA, SOMADOS ÀS DIFICULDADES DE

CORTAR CABEÇAS, LEVARAM O AD A PRECIPITAR A ESTRUTURA NUM PROCESSO

DE REESTRUTURAÇÃO PARTICIPATIVO, COM A ESPERANÇA QUE ESTE PERMITISSE,

NUM FUTURO PRÓXIMO, A CRIAÇÃO DAS DESCULPAS PARA A DEGOLA ... "

Nestes trechos são claros os problemas de funcionamento do sistema,

bem como a existência de núcleos conflitantes de poder. O último trecho

retoma a necessidade da criação de "oportunidades" para promover

mudanças.

Ainda nesta linha de idéias:

" . . . EXISTIAM DUAS FORMAS DE PROBLEMAS: ADMINISTRATIVOS E

GERENCIAIS E UMA P • . . BRIGA DE PODER ( ... ) AI NÃO DAVA PARA MEXER NUM SEM

TOCAR NO OUTRO ... "

" ... APESAR DA POSSffiILIDADE DA ESTRUTURA ANTIGA FUNCIONAR, AS

DISCUSSOES PARTICIPATIVAS, QUE COMEÇARAM APóS A SAlDA DO PENÚLTIMO

SUPERINTENDENTE, LEVARAM À CONSTATAÇÃO DE QUE AQUELE ERA MAIS

ADAPTADO À RELAÇOES DE TRABALHO MAIS HIERARQUIZADAS .. . "

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Neste último trecho fica claro que desde a assunção do cargo pelo AO

as discussões participativas, ou seja, a negociação e o exercício do poder

carismático se tornaram um hábito.

Uma outra motivação para a reestruturação era a melhoria de relações

com o controlador externo. Se "o departamento" via com bons olhos uma

reestruturação, era conveniente promovê-Ia. Programas de reestruturação bem

sucedidos eram bem vistos pelo controlador externo e potencializavam

carreiras. Excertos das entrevistas ilustram este ponto:

" ..• OS CHEFES N 147 DE OUTRAS UNIDADES QUE HAVIAM PROMOVIDO

REESTRUTURAÇOES NAS SUAS ÁREAS MELHORARAM SUAS POSSffiILIDADES DE

CHEGAR A POSIÇÃO DE Nl DO DEPARTAMENTO DA HOUJING .....

" ... 0 AD TINHA UMA AMBIÇÃO PELO PODER MUITO GRANDE, ERA UM

HABILíSSIMO POLíTICO, FALAVA EM PúBLICO MUITO BEM .....

Como já foi mencionado, o AO tinha muito desenvolvida sua

capacidade de usar o poder carismático. Além destas conveniências, a adoção

de um processo participativo não corria riscos do não engajamento do núcleo

operacional, que não identificou sua participação como um risco para si

mesmo. Se alguém corria risco, esse alguém era a linha média.

" ... NÃO TEVE NECESSIDADE DE CORTE DE PESSOAL PORQUE A GENTE

TRABALHA MUITO CONTRATADO [mão de obra sub-contratada] E Aí A GENTE

PODE CORTAR AÍ .....

47 Chefe N1 é o executivo de nível mais alto. Na nomeclatura da Reduc ele é o superintendente ou "o super". A ele seguem os N2 (chefes de divisão) e os N3 (chefes de setor). No passado existiram também os N4 (chefes de seção). Existe também a figura do N1', um superintendente adiunto, pretensamente com a mesma autoridade formal do "super".

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Neste ponto da análise a questão-guia já foi respondida. Os

fragmentos das entrevistas mostram que o AO, provavelmente, precipitou a

organização num processo de reestruturação por dois motivos: (i) existia um

n ível muito alto de conflito e ineficiência internos, com muito poder difundido

na linha média e (ii) o controlador externo via com bons olhos ações que

buscassem aumento de eficiência e eficácia.

O processo foi participativo por não dispor o AO de apoio externo para

implementá-lo através do exercício do poder racional-legal. Já as negociações

e discussões envolvidas no processo participativo foram um excelente espaço

de manobra para o exercício do poder carismático, forma de poder na qual o

AO se sentia muito confortável . A tudo isso se somava a facil idade de engajar

o núcleo operacional, que não antecipava sobre si mesmo consequências das

mudanças.

Além das informações constatadas a partir das entrevistas, se pode

especular sobre outras "vantagens" associadas ao processo participativo.

Primeiro, ele tornou-se inatacável na sua característica de participativo, visto

que o contexto o coloca como "politicamente correto". Segundo, criou um

estado de confusão interna à organização tão grande que tornaria difícil a

substitu ição do executivo principal pelo tempo que durasse o processo.

Apesar de respondida a questão-guia, a análise do restante do

material permite uma interessante visão da atividade das posições de poder

dentro de um sistema fechado, durante um processo de reestruturação

participativa, quando a hierarquia racional-legal entra em "suspensão".

88

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Por exemplo, o que esperar como reação da linha gerencial média?

8.3.2 A REACÃO DA LINHA MÉDIA

A estrutura, leia-se os gerentes da linha média, interpretou a

reestruturação como uma oportunidade e um risco, sobre o qual o empenho

pessoal era indispensável. Privada do seu poder racional-legal, a linha média

teve que se introduzir no discurso da nova realidade e praticar o exercício do

poder carismático. Como se vê:

" ... NO INÍCIO ERA UM PROJETO DO AD MAS DEPOIS A ESTRUTURA VIU O QUE

ESTAVA ACONTECENDO, VIU QUE TINHA QUE SE ENGAJAR SENÃO IA SAffi FORA DO

PROCESSO ... "

" ... OS CHEFES DE N2 'ABANDONARAM' SEUS POSTOS NAS MÃos DE

SUBSTITUTOS E SE CONCENTRARAM EM APRENDER OS FUNDAMENTOS TEÓRICOS

DA NOVA ONDA".

"Jogando" nas novas regras, os gerentes da linha média reestabelecem a

briga pelo poder.

" ... AI A ESTRUTURA SE ENGAJOU E PASSOU A SER UMA BRIGA DE PODER • . . "

" ... 0 AD TINHA O PODER REAL E O PODER DE FATO, MAS DURANTE O

PROCESSO OUTROS LIDERES SURGmAM ... "

" ... A ESTRUTURA PASSOU A CONDUZIR O PROCESSO ... "

Assim, os depoimentos mostram a percepção dos gerentes da alta

linha média de que também no exercício do poder carismático "a estrutura" era

capaz de induzir as decisões do núcleo operacion'al.

89

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Nesse contexto, ficou evidente que a necessidade de alianças era

muito forte .

... .. 0 GRUPO É [era] TÃO IMPORTANTE, QUE QUEM SAI [saía] DO GRUPO

FICA[va] DESCONFORTÁVEL".

Durante o processo a linha média retomou sua força, formou alianças

e estava em campo trabalhando para influenciar o resultado. Isso gerou, sem

dúvida, uma reação nos outros participantes do processo, especialmente no

núcleo operacional, convocado como autor pelo AO. Como o andamento do

processo foi visto pelos participantes?

8.3.3 O ANDAMENTO DO PROCESSO

o resultado da re-tomada de poder pela alta linha média foi uma

sensação generalizada de descontrole. Mesmo os gerentes da baixa linha

média não percebiam a direção tomada pelo processo. Algumas pessoas

acreditavam que o AO havia perdido o controle da situação .

... .. 0 SUPER TINHA QUE SER O CONDUTOR DESTE NEGócIO ( ... ) E NÃO FOI..."

..... A MEU VER, [o processo] FUGIU DO CONTROLE DO AD, QUE NÃO

CONSEGUIU IMPLANTAR A SUA ESTRUTURA, TERMINANDO ENGOLIDO PELO

PROCESSO ... "

o sintoma mais claramente percebido desta falta de controle era a

forte influência que um pequeno grupo tinha nas decisões ·participativas".

Como ilustra um dos depoimentos:

90

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" ... 0 PROCESSO ASSIM NÃO FOI TÃO PARTICIPATIVO PORQUE ACABOU SENDO

CONDUZIDO POR UMA MINORIA ... "

Outra percepção general izada, que corroborava a idéia de que o AO

havia perdido o controle, é a do andamento lento e confuso. Se um andamento

lento parece "normal" pelas características de participação, a confusão é

atribuída à falta de competência da consultoria contratada para assessorar a

reestruturação.

" ..• 0 PROCESSO SE DESENVOLVEU DE MODO LENTO, COMO SERIA DE SE

ESPERAR DE UM PROCESSO PARTICIPATIVO ... "

" . . • AQUELA COISA DE PROCESSO PARTICIPATIVO ( ... ) ATÉ PASSAR TUDO

PARA TODO MUNDO ... "

" [ ... os indivíduos que decidiam] FORAM INFLUENCIADOS PELOS

PROPOSITORES DA OUTRA PROPOSTA ( ... ) GANHARAM NO GRITO ( ... ) E SEMPRE

TIVERAM MUITO APOIO NA CONSULTORA 48 ( • • • ) QUE FEZ UMA ANÁLISE DE

LONGE ... "

As opiniões não claras e não diretivas da consultoria são interpretadas

como falta de competência ou como falta de experiência. A hipótese de que

tais opiniões fossem deliberadamente ambíguas não foi claramente aventada

por ninguém.

48 A referência a uma consultrora, ao invés de a uma consulttoria, se explica pelo fato dessa consultoria ser prestada exclusivamente por um indivíduo, uma mulher, que era mu�o visível, aparecia frequentemente nas reuniões do grupo e se tornou conhecida de todos pelo nome.

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" ... 0 ANDAMENTO FOI CONFUSO PORQUE FOI ORIENTADO POR UMA

CONSULTORA EXTERNA QUE APARENTEMENTE NÃO TINHA EXPER�CIA DE

ADMINISTRAÇÃO ( ... ) PARECIA MAIS FILÓSOFA ... "

Note-se que opiniões ambíguas são especialmente adequadas a

permitir a acomodação das brigas pelo poder e ao exercício do poder

carismático, como se entrevê no fragmento abaixo:

" ... NÃO TINHA UM ROTEIRO ( ... ) SE DAVA UM PASSO HOIB SEM SABER QUAL

SERIA A DIREÇÃO DE AMANHÃ ( ... ) AI FICOU ESPAÇO LIVRE PARA UMA GRANDE

GUERRA DE PODER ... "

Com o passar do tempo os blocos de poder começaram a ficar claros.

O núcleo operacional retornou ao seu papel secundário, as qualidades da

participação foram um pouco "abandonadas" pelo discurso. Os pudores em

declarar a própria posição como de controle começaram a ceder e a

participação excessiva começa a se tornar incômoda.

" ... 0 ADMINISTRAR ESSE NEGÓCIO É MUITO DIFIcIL ( ... ) A GENTE [a alta

gerência média] DEIXOU A PARTICIPAÇÃO IR ATÉ UM NNEL MUITO BAIXO . . • "

Particularmente incômodos são aqueles que não vêem, ou não querem

ver, o seu papel de coadjuvantes, insistindo em defender suas idéias até o

último recurso.

" ... A DIFICULDADE É ATÉ ONDE IR COM ESTA PARTICIPAÇÃO ( • • . ) TEM MUITA

GENTE QUE NÃO SABE O QUE É PARTICIPAÇÃO ( ... ) AS PESSOAS CONFUNDEM

PARTICIPAÇÃO COM A ACEITAÇÃO DAS SUAS IDÉIAS ... "

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..... A [dificuldade] É QUE NÃO SEI SE O AJUDANTE DE UMA ATIVIDADE

SIMPLES DEVE OPINAR NA FORMAÇÃO DE ESTRU1URA DA ORGANIZAÇÃO ( ... ) TEM

VANTAGENS, MAS SERÃ QUE VALE A PENA? . . "

Depois de "assentada a poeira" e re-estabelecido o poder da linha

média, o desengajamento do núcleo operacional foi inevitável.

..... A REESTRU1URAÇÃO COMEÇOU A FICAR MUITO CONCENTRADA NO

GRUPO DE REESTRU1URAÇÃO ... "

Esse fato foi interpretado de dois modos: (i) entre os egressos, como

reação natural à continuidade da atividade participativa e, (ii) entre os

remanescentes como reação de quem havia se engajado no processo por

motivos outros que não o resultado do processo. Nas palavras de um dos

remanescentes:

..... A PARTE SIGNIFICATIVA DAS PESSOAS ESTAVA ALI POR OUTROS MOTIVOS

( . . . ) TALVEZ HORA EXTRA, TALVEZ VlAGENS49, TALVEZ PARA MATAR

TRABALHO ... "

É fácil perceber que o fato de a gerência média ter recuperado o poder

após o susto inicial afetou muito profundamente o restante do processo.

o AO contudo continua o processo. Aparentemente com mais controle

do que supunha o núcleo operacional. Talvez por julgar suficiente -

a

redistribuição do poder, talvez por ter recebido notícias do seu iminente

49 Na parte inicial do processo algumas pessoas foram mandadas à outras unidades da PETROBRÁS para conhecer o trabalho de reestruturação desenvolvido lá.

93

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afastamento, o AO toma a decisão de conduzir o processo de reestruturação

para o seu fim.

8.3.4 Q AGENTE DEFLAGRADOR COMECA A ENCERRAR o PROCESSO

Atendida a necessidade de redistribuição do poder, mesmo que não

completamente, era hora de organizar a nova estrutura de modo a concentrar

poder nas próprias mãos. O excesso de participação já não fazia sentido.

apoio.

"[o AD provoca] . .. MUDANÇA DA FORMA DE TRABALHO; [agora,] DOS T�

GRUPOS APENAS UM TRATA DA REAL ESTRUTURA DE PODER ENQUANTO OS

OUTROS TRATAM DO PERIFÉRICO E AS DECISÕES, QUE ERAM TOMADAS NO FÓRUM

COMPOSTO PELOS T� GRUPOS REUNIDOS, PASSA A SER TOMADA PELO

SUPER/ccdo; [é uma] VIRADA DE MESA ( . . . ) NESTA FASE A IDÉIA DE

"PARTICIPATIVO" COMEÇA A PERDER EFETIVIDADE E O AD TENTA PRECIPITAR A

DECISÃO PELA ESTRUTURA POR PLANTAS ( ... ) O AD É COLHIDO PELA SUA

SUBSTITUIÇÃO, SAI DE CENA E VEM UM OUTRO CHEFE Nl DE FORA DA

ORGANIZAÇÃO ... "

Simultaneamente se promoveria a degola e a troca de posições por

" ... 0 AD APOIA ESTA SEGUNDA [uma estrutura por plantas] E MANOBRA

POLITICAMENTE DE MODO A CONSEGUIR O APOIO DOS CHEFES N2 QUE INTENTAM

CONTINUAR COM AO MENOS ESTE NívEL DE CHEFIA ... "

" .. . 0 AD QUERIA UMA ESTRUTURA EM PLANTAS E JÁ ESTAVA QUASE

CONSEGUINDO QUANDO A CABEÇA DELE ROLOU ... "

50 CCG, Comttê de Controle Gerencial, é formado pelo superintendente da Reduc e pelos ocupantes das posições hierárquicas diretamente ligadas a ele. Também é chamado estrutura básica.

94

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Apesar disso, parece que a falta de apoio externo se tornou rejeição, e

o AO perdeu, ele próprio, a posição .

..... 0 AO NÃO SAIU, FOI SAlDo ( ... ) POR QUE o SUPER QUE TINHA ANTES ERA

o Fulano E ELE TINHA UM ESTILO MUITO PARECIDO COM O AO ( ... ) Uá] o Sicrano

[chefe do departamento] RESOLVEU MUDAR O ESTILO DO SUPER E, AÍ, A

PRIMEIRA COISA QUE ELE FFZ FOI MUDAR O AO; O NNI SEMPRE FOI O CARA DE

CONFIANÇA DO Sicrano E ELE DEVE TER VINDO PARA CÁ DAR UMA ARRUMADA NA

REDUC NO ESTILO QUE ELE [super do departamento] GOSTARIA QUE FOSSE MAIS

OBJETIVO, MAIS PRAGMÁTICO .. . "

Junto com ele caíram também os seus "homens de confiança".

" . . . Fulano, Sicrano E Beltrano [que estão entre os poucos que foram

excluídos] SEMPRE FORAM O ESCUDO DO AD ( ... ) RECEBIAM A CULPA DOS

PROBLEMAS E DIVIDIAM OS LOUROS ( ... ) ELES NUNCA FORAM FORTES NA

ESTRUTURA ... "

Como é razoável de se supor, a gerência média segregou os

escudeiros do AO, no que não foi impedida por ninguém.

Para o lugar do AO, o N1 do departamento mandou um novo N 1 . Como

ele foi percebido?

8.3.5 O Novo NÚMERO 1

Num primeiro momento, a gerênCia média precisa "medir" o NN1,

avaliar a quantidade de poder que vem instrumentalizada nele. O NN1 não

tinha compromissos internos, poderia promover uma degola generalizada.

95

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" ... E ASSIM O [novo super do departamento] TROUXE PARA cÁ ALGUÉM

AFINADO COM ELE ( ... ) DE REPENTE, O NNl QUE NÃO CONHECIA NINGUÉM

TOMARIA AS DECISOES ''DIÁCEIS'' SEM MUITO PROBLEMA ... "

o núcleo operacional também tinha essa percepção.

" ... NA ÉPOCA A GENTE TEVE ESPERANÇA QUE COMO O NOVO SUPER NÃO

CONHECIA NINGUÉM ELE PODIA DAR UMA SACUDIDA, UMA RENOVADA NA

ESTRUTURA ..• "

o NN1 é alinhado com o poder externo, não conhece ninguém e em

princípio poderia "tudo".

" ... 0 NNl, APESAR DAS DIFICULDADES, TINHA UMA GRANDE VANTAGEM:

ELE TINHA UM CAMINHO DENTRO DO DEPARTAMENTO QUE O AD NÃO TINHA;

MUITA GENTE TINHA RESTRIÇOES AOAD, O NNl FALAVA DE IGUAL..."

" ... 0 NNl É EXTREMAMENTE AFINADO COM O NOVO SUPER DO

DEPARTAMENTO ... "

" .•. 0 NNl É DE UMA OBJETIVIDADE MUITO GRANDE, ASSUME OS DESGASTES

( • . . ) MAS NÃO FALA EM PúBLICO TÃO BEM COMO O AD ( .. . ) PARA A

ORGANIZAÇÃO, O TIPO DO NNl É MAIS ADEQUADO ... "

o NN1 , contudo, é um chefe experiente. Não partiria para o embate

sem antes avaliar "os oponentes". Afinal, quem é a alta gerência média?

8.3.6 A FORCA DA ALTA GER1tNCIA MÉDIA

Como é fácil de perceber, a alta linha média se vê como muito

poderosa. Ao menos como bastante poderosa para enfrentar com sucesso

mesmo um N1 "tirano".

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..... AI CHEGA AQUI ENCONTRA A CCO MUITO FORTE E BEM ORGANIZADA ... "

..... [a mudança de SUPER durante o processo) NÃO [criou uma

descontinuidade) POR DOIS MOTIVOS: A CCO JÁ ESTAVA MUITO FORTE, NÓS

ASSUMIMOS O PROCESSO E PODIA VIR O SUPER QUE VIESSE QUE A GENTE NÃO IA

LARGAR ( . . • ) A SEGUNDA COISA É QUE O NNl JÁ TINHA PASSADO POR UM

PROCESSO SEMELHANTE [na sua unidade de origem) ... "

..... [a troca de superintendentes) NÃO ATRAPALHOU; COMO O PROCESSO JÁ

ESTAVA SENDO TOCADO NUM NlvEL ASSIM, 'MAIS BAIXO' , NÃO FFZ MUITA

DIFERENÇA ... "

..... AGORA NÓS SOMOS IMUNES ATÉ MESMO A UMA TROCA DE

SUPERINTENDENTE ( . . • ) EU NÃO CONSIGO VER UM TIRANO DIRIGINDO ISSO AQUI,

ELE SOFRERIA REAÇÃO DA ESTRUTURA BÁSICA ... "

É verdade que o comportamento do NN1 ratifica essa posição .

..... 0 NNl, INFLUENCIADO POR MANOBRAS POLmCAS INTERNAS [à

organização] - MANOBRAS ESTAS QUE PROVIDENCIARAM, INCLUSIVE, A

PRESENÇA DA CONSULTORIA DE APOIO AO PROCESSO, DECLARANDO TER

ENCONTRADO UM DESVIO DAS PREMISSAS FIWSÓFICAS FUNDAMENTAIS -, ADIA A

DECISÃO PELA ESTRUTURA; NESTE MOMENTO, SE % QUE MUITOS CHEFES N2

PROCURAM REVER SEU APOIO À ESTRUTURA POR PLANTAS - O NNl JÁ TINHA

CONDUZIDO UM PROCESSO SEMELHANTE EM SUA UNIDADE DE ORIGEM E A

CONCLUSÃO FOI UMA MA TRIZ ... "

Na chegada do NN1 , um movimento interno tenta reverter a situação,

procurando na proximidade do novo chefe, motivo para provocar uma nova

redistribuição de poder. Tal movimento não foi, afinal, bem sucedido. A

gerência média conseguiu manter a distribuição de poder feita no vácuo da

partida do AO. Como relata um entrevistado entre gargalhadas:

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" . • . A ESTRUTURA FINAL FOI UMA ESTRUTURA MISTA, 98% PLANTAS E 2%

MATRIZ ... "

Nesse ponto o NN1 e a alta gerência média já haviam se conhecido, já

haviam se avaliado reciprocamente. Como o NN1 , então, conduziu o processo

ao seu final?

8.3.7 A FINALIZA CÃO DO PROCFSSO

Como era de se esperar, as ações do . NN1 foram no sentido de

retornar, tão logo quanto possível, à normalidade operacional.

" ... 0 NNI ACELEROU o PROCESSO, ELE JÁ VEIO COM ESTA INTENÇÃO."

" ... A IMPLANTAÇÃO FOI MUITO RÁPIDA ... "

" ... 0 PROCESSO JÁ ESTAVA MUITO DEMORADO ( ... ) E TINHA OS RESULTADOS

DA REFINARIA, COM AQUELA COISA DO AD, QUE OLHAVA (sa' P'RA FORA, E

NINGUÉM OLHAVA P'RA DENTRO ... "

" ... NÃO, [a mudança de super] ACELEROU [o andamento da

reestruturação], MAS Só ...

" ... JÁ O NNI TINHA O OBJETIVO DE ACABAR LOGO COM ESSA P . . . ; E

ACABOU."

" ... NA FASE DE DECISÃO DEIXOU DE SER PARTICIPA TIVO ... "

Ratifica essa posição a capacidade do NN1 de fazer aprovar, pelo

controlador externo, a nova estrutura.

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" ..• 0 NOSSO NNl ME SURPREENDEU POSITNAMENTE ... ELE CONSEGUIU

APROVAR ISSO [a nova estrutura] QUANDO A DIRETORIA JÁ TINHA DITO QUE NÃO

APROVARIA MAIS NADA ... "

As lim itações de velocidade foram dadas pela necessidade de manter

estabilidade na estrutura, ou seja, de negociar e realinhar os focos internos de

poder. Ora, foco de poder engajado restava somente a alta gerência média. O

núcleo operacional há muito já tinha abandonado o processo. Os que

remanesceram não eram absolutamente capazes de criar problemas.

Desse modo, a solução dada foi uma consulta aos participantes, para

que sugerissem nomes para a formação da alta gerência média. Entre os

nomes sugeridos, após entrevistas, o NN1 e os dois N1 adjuntos escolheriam

os representantes para formar a nova estrutura básica. O procedimento se

repetiu, agora conduzido pelos novos chefes, para a baixa gerência média. O

andamento desse procedimento, contudo, não foi muito bem percebido pelo

núcleo operacional, como se vê a seguir:

" .•. AS PESSOAS QUE ACABARAM VOTANDO A ESTRUTURA FINAL NÃO FORAM

AS MAIS INDICADAS OU AS MAIS CAPAZES PARA DECIDIR, FORAM AS QUE TNERAM

MAIS SACO PARA FICAR ATÉ O FIM ... "

..... AI ME DÁ UMA DÚVIDA SE O FATO DA CCO TER CONDUZIDO O PROCESSO

NÃO DETERMINOU ISSO ( ... ) SE ELA NÃO DEFENDIA SEUS INTERESSES .. . "

" •.• AS VINTE PESSOAS QUE BATERAM O MARTELO CERTAMENTE NÃO ERAM

AS MAIS CAPAZES PARA FAZ�-LO .•. "

99

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..... 0 QUE EU VI É QUE COMEÇOU COM MUITA PARTICIPAÇÃO E NO FINAL A

ALTA ADMINISTRAÇÃO COLOCOU O QUE ELES TINHAM DECIDIDO DESTA OU

DAQUELA MANEIRA . . • "

A gerência média, entretanto, se defende:

..... NO NÍVEL OPERACIONAL AS PESSOAS SÃO INCAPAZES DE INDICAR NOMES

NAS ÁREAS DIFERENTES DAS SUAS ( ... ) SE A GENTE NÃO OUSASSE A GENTE NÃO

TERIA MUDADO NADA, AS PESSOAS SÃO MUITO CONSERVADORAS . . • "

..... [os colaboradores pensam que] SE O CHEFE NÃO É MUITO F.D.P . • É

MELHOR AQUELE MESMO QUE CORRER O RISCO DE MUDAR ( ... ) APENAS POR

NúMEROS DE INDICAçOES A GENTE NÃO TERIA MUDADO NADA .•. "

Essas foram as percepções colhidas sobre o processo de finalização

da reestruturação. O próximo título descreve as percepções sobre o resultado.

8.3.8 REsULTADO

Como era de se esperar, as opiniões entre os indivíduos do núcleo

operacional e da baixa gerência média refletem a impressão de que nada

mudou.

.. ... A GENTE ESPERA V A QUE CONSEGUISSE CHEGAR EM ALGO MAIS OUSADO

C . . ) MAS FOI AO CONTRÁRIO ... "

..... MUDOU ALGUMAS COISAS MAS EU NÃO SEI SE FICOU MUITO DIFERENTE

DO QUE ERA ANTES ( ... ) NÃO REDUZIU O NúMERO DE CCG, NEM DE NíVEIS

HIERÁRQUICOS. REDUZIU O DE CHEFES DE SETOR ... "

..... TODO MUNDO QUE ERA CONTINUA SENDO • . . "

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" ... 0 RESULTADO É DECEPCIONANTE PARA OS 'PARTICIPANTES' EM GERAL,

REPETINDO FUNDAMENTALMENTE OS MESMOS NOMES DO NÍVEL EQUIVALENTE DA

ESTRUTURA ANTIGA; DECEpÇÃO GENERALIZADA ENTRE OS 'COLABORADORES' ... "

Alguns são mais específicos:

" ... [na estrutura. não mudou) NADA ( ... ) VOC� OLHANDO, AS PESSOAS SÃO

AS MESMAS ( . . . ) EU ESPERAVA UM NÍVEL ESTRATÉGIC051 MENOR ( ... ) E O TÁTICO

UM POUCO MAIS VOLTADO PARA O OPERACIONAL, COM MAIS AUTONOMIA ... "

" ... EU ESPERAVA UMA MUDANÇA MAIOR ( ... ) VOC� PENSA EM MUDAR

ORIENTAÇOES DIRETRIZES ( . . • ) SE vQct OLHAR AS CABEÇAS SÃO MAIS OU MENOS

AS MESMAS ( ... ) ASSIM, A CABEÇA PENSANTE NÃO MUDOU ... "

" . . . PENSO QUE O PROBLEMA FUNDAMENTAL OU SEJA, AS DEFIC�CIAS DE

GESTÃO E DE POSTURA DO PESSOAL, NÃO FORAM RESOLVIDOS, MAS APENAS

MAQUlADOS . . . "

Mesmo no nível de alta gerência média, alguns identificam a estrutura

nova com a antiga.

" ... 0 RESULTADO, AINDA QUE NÃO TENHA ATENDIDO OS DESEJOS DO AD,

NÃO FOI RUIM; É VERDADE QUE A ESTRUTURA ANTERIOR TAMBÉM NÃO ERA RUIM,

AINDA QUE ANTIQUADA; NA VERDADE, A ESTRUTURA QUE SE � FUNCIONAR

ATUALMENTE É AQUELA ANTIGA, DISFARÇADA ATRÁS DA NOVA FORMALMENTE

INSTALADA ... " Uá era um hábito na Reduc trabalhar com uma estrutura

formal e outra informa�

51 Atualmente, estão definitivamente incorporadas ao jargão da Reduc as expressões "estratégico' para fazer referência à alta gerência média e ao ápice estratégico, "tático" para a baixa gerência média e "operacional" para o núcleo operacional.

101

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" ... A GENTE AINDA EXPERIMENTA A ESTRUTURA NOVA MAS, QUANDO

APARECEM OS PROBLEMAS SE RETORNA À SEGURANÇA DA ESTRUTURA ANTIGA ... "

Sobre a variação de "tamanho" da estrutura é interessante notar a

contradição contida nos fragmentos retidos da entrevista do mesmo gerente:

" •.. TEVE CORTE DE GERENTES ( ... ) A GENTE TINHA O VíCIO - NATURAL - DE

RESOLVER TUDO COLOCANDO MAIS GENTE .•. "

" .•. COMO A GENTE OPTOU POR UMA ESTRUTURA DESCENTRALIZADA, NUM

PRIMEIRO MOMENTO HOUVE NECESSIDADE DE DUPLICAÇÃO DE RECURSOS ( • . . )

GEROU UM INCHAÇO •.. "

" •.. 0 QUE ENGORDOU A ESTRUTURA [nova] FORAM AS ASSESSORIAS, QUE

SÃO TEMPORÁRIAS ... "

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9. Conclusões e Recomendações

A conclusão principal deste estudo é a resposta da questão-guia:

transparece no resultado das entrevistas que a reestruturação foi motivada

pela combinação de baixa eficiência de funcionamento com conveniência

política de exibir ao controlador uma nova estrutura. O processo foi

participativo porque faltava ao AO o necessário apoio do poder externo para

promovê-lo de modo racional-legal.

Uma segunda conclusão importante é que, na percepção da estrutura

como um todo, nada mudou. De modo explícito, nas palavras do núcleo

operacional, ou nas entrelinhas, no discurso da alta gerência média-, todos

corroboram o ponto de vista de que as modificações foram superficiais.

Também a força da gerência média é uma constatação que não pode

ser desprezada. Numa estrutura burocrática, em especial no caso de um

sistema de poder fechado, é de se esperar que a gerência média seja forte. O

particular, no caso da Reduc, é a separação nítida da gerência média em alta

e baixa, onde a alta concentra uma quantidade inesperadamente grande de

poder.

Além dessas conclusões, é digno de nota o despreparo general izado

da baixa gerência média para o processo organizacional e a desmotivação

generalizada, em especial do núcleo operacional, causada pela sensação "de

que nada muda mesmo".

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A tudo isso soma-se a constatação que perpassa todo o trabalho, de

que, em sistemas de poder fechados, programas de reestruturação,

particularmente aqueles "participativos", são contraditórios como idéia, não

atendendo à intenção reestruturante. Tais programas, quando muito, servem

para acomodar "distorções" na malha de poder interna à organização.

A questão-guia deste estudo não enseja recomendações diretas à

organização focalizada. As conclusões acessórias, contudo, recomendam um

expresso programa voltado para superar a falta de motivação generalizada, em

especial no núcleo operacional e na baixa gerência média. Um caminho

possível no caso desses dois extratos seria o aumento das responsabilidades

associadas a indivíduos e cargos, através da redução de um nível hierárquico.

Tal redução seria porém muito difícil, visto que exige o ingresso de um ápice

estratégico dotado de muito "poder externo".

o treinamento gerencial do extrato da baixa gerência média é outra

recomendação motivada pelas conclusões acessórias. Tal treinamento pode

vir a constituir um caminho para a motivação dessa gerência média e, "por

tabela", do núcleo operacional. É verdade que a percepção desse horizonte de

médio prazo pode fazer com que a alta gerência média reaja no curto prazo.

No caso da adoção dessa estratégia - o treinamento da baixa gerência

média - o acompanhamento e o estudo das reações e dos resultados se

constituiria fonte interessantíssima de trabalhos acadêmicos.

Também seriam interessantes objetos de estudo acadêmico as

reestruturações levadas a cabo em empresas estatais privatizadas. Nessas

empresas, um sistema fechado de poder é submetido a controle externo. Como

1 04

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reage a gerência média? Como reage o núcleo operacional? Pelos jornais são

recebidas notícias de que no momento anterior à tomada do poder existe uma

grande reação de ambos os grupos. As revistaS especializadas, entretanto,

têm mostrado que após o fim do processo o núcleo operacional está cooptado

e motivado enquanto a organização melhora em todos os índices tradicionais

de medição de desempenho. Um levantamento dos pontos de vistas dos

atores internos à essas estatais privatizadas, que permitisse uma comparação

com os resultados do presente trabalho, levaria sem dúvida a um alargamento

da visão sobre os processos de reestruturação.

105

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Formação Acadêmica

Tempo de Empresa

Histórico Breve

Como você vê:

Sua opinião Sobre:

Anexos

ENTREVISTA

a PETROBRÁS

a Reduc

o Monopólio

as Empresas Estatais

o porquê da reestruturação

o andamento - por quê?

o resuHado - por quê?

a efetividade - por quê?

O que você acha que mudou:

na estrutura - por quê?

no funcionamento - por quê?

O que você acha do processo participativo - validade, adequação - por quês?

O que você entende que seja "estrutura"?

Era adequada? - por quê?

Agora é? - por quê?

Pode melhorar? - como? (Especificar)

o que você acha que seriam as tarefas de um "SUPER" no cotidiano?

E durante uma reestruturação?

Você acha que a mudança de "SUPER" durante o processo criou uma descontinuidade?

Atrapalhou? Sim/não/porquês

Quais caracterlsticas são marcantes no "SUPER" novo? E no antigo? Po uês?

1 1 1