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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, ABRIL/2013 - ANO XVI - N o 195 O ESTAFETA Foto Arquivo Pró-Memória É tempo de pinhão. Nesta época do ano, pelas ruas da cidade, nas quitandas e na feira deparamo-nos com grande quantidade de pinhões sendo vendidos. Deliciosos e com grande valor nutricional, podem ser degustados de dife- rentes maneiras. É grande a variedade de pratos produzidos com essa semente. Com aroma típico e sabor inconfundível, o pinhão pode ser degustado cozido, assado, servi- do com carne ou no estrogonoff, em bolos, paçocas ou doces. O gosto por essa iguaria faz com que algumas cidades serranas da região promovam animados festivais do pinhão nesse período, atraindo grande nú- mero de visitantes. O pinhão é a semente da araucária, ár- vore características dos planaltos da região sul do Brasil, em altitudes de 800 a 1200m. A floresta com araucárias é conhecida popularmente como pinhal ou pinheiral, em função da marcante presença do pinheiro- do-paraná ou pinheiro-brasileiro, árvore di- ferente de qualquer outra pelo tronco reto e imponente, e copa alta em forma de taça ou de guarda-chuva, sempre acima de todas as outras. Além do mais, é uma árvore de ori- gem muito antiga, tendo seus ancestrais surgidos na face da Terra há mais de 200 milhões de anos. Floresta Ombrófila Mista é o nome dado à floresta com araucárias. Ombrófila é uma palavra de origem grega que quer dizer “ami- ga da umidade”, ou seja, que não tem perí- odo seco ao longo do ano. Araucária é par- te do nome científico do pinheiro-do- paraná, que, completo, é Araucária angustifólia. Até o século 19, na Serra da Mantiqueira havia extensas áreas de florestas com araucárias. Com a ocupação humana e o desmatamento, ocorreu uma grande trans- formação da paisagem, com a substituição das florestas por lavouras e pastagens. Ha- via extensos pinheirais que, infelizmente, se transformaram em madeira ou carvão. Pen- sava-se que esse patrimônio natural nunca fosse acabar. Mas acabou... Em pouco mais de um século de ocupação o homem des- truiu o que a natureza construiu paciente- mente durante milhões de anos. Resta mui- to pouco das florestas com araucárias. A perda da diversidade dessa floresta, decor- rente do desmatamento, é um fato reconhe- cido. Não podemos esquecer, contudo, a principal utilidade da floresta: a manuten- ção da qualidade do ambiente em que vive- mos; e disso, lamentavelmente, também já perdemos muito. Basta olhar para nossos rios e ver como estão suas águas. Muito se tem escrito e falado sobre os fatores que concorrem para a melhoria da educação no Brasil. Esses questionamentos podem gerar respos- tas envolvendo questões filosóficas e sociológicas, visando a uma proposta que atenda a urgência de tantas e tão profundas mudanças. São vários os fatores que interferem negativamente na qualidade da educa- ção no Brasil. Em primeiro lugar, é preci- so que haja, efetivamente, por parte dos governantes e profissionais da área, vontade férrea para equacionar e resol- ver tais fatores. Todos sabem que muitas de nossas crianças estão fora da escola pelos mais variados e perversos motivos. Outras, apesar de frequentarem as escolas por três, quatro ou mais anos, não apren- dem sequer a ler e efetuar as mais ele- mentares operações matemáticas. Muitos professores permanecem he- roicamente cumprindo seu dever com amor e superando as mais diversas difi- culdades, enquanto outros, desencan- tados com os baixíssimos salários e o desprestígio social, seguem trabalhan- do à espera da sonhada aposentadoria. Poucos jovens optam pela área da Educação. Quando o fazem, são motivo de chacota por parte dos amigos, que os taxam de loucos suicidas. Há, tam- bém, os que, quando colocados diante da realidade, preferem outros caminhos para sobreviver com relativo conforto e dignidade, dedicando apenas parte do tempo na manutenção de seu ideal. Enfim, precisamos trazer as crianças para a escola, oferecer atividades que as motivem a permanecer e aprender. Os pais precisam entender a importância do conhecimento nas vidas de seus filhos e, consequentemente, incentivar e aju- dar. Os professores precisam de salári- os dignos e valorização social, e dele são merecedores. Com a melhoria da educação, ocor- rerão mudanças substanciais em diver- sos aspectos da economia do país, in- clusive na estrutura do mercado de tra- balho. A formação de nossos jovens está aquém do necessário. O aumento do número de anos de estudo, porém, têm contribuído para a geração de empregos com carteira assinada. As últimas araucárias A floresta com araucárias é conhecida como pinhal ou pinheiral, em função da presença do pinheiro- brasileiro, árvore diferente de qualquer outra pelo tronco reto e imponente, e copa alta em forma de taça ou candelabro. É nossa obrigação preservar e conservar o pouco que dela sobrou na Mantiqueira.

ABRIL 2013

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O ESTAFETA 195

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E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, ABRIL/2013 - ANO XVI - No 195

O ESTAFETAFoto Arquivo Pró-Memória

É tempo de pinhão. Nesta época do ano,pelas ruas da cidade, nas quitandas e nafeira deparamo-nos com grande quantidadede pinhões sendo vendidos.

Deliciosos e com grande valornutricional, podem ser degustados de dife-rentes maneiras. É grande a variedade depratos produzidos com essa semente. Comaroma típico e sabor inconfundível, o pinhãopode ser degustado cozido, assado, servi-do com carne ou no estrogonoff, em bolos,paçocas ou doces. O gosto por essa iguariafaz com que algumas cidades serranas daregião promovam animados festivais dopinhão nesse período, atraindo grande nú-mero de visitantes.

O pinhão é a semente da araucária, ár-vore características dos planaltos da regiãosul do Brasil, em altitudes de 800 a 1200m.

A floresta com araucárias é conhecidapopularmente como pinhal ou pinheiral, emfunção da marcante presença do pinheiro-do-paraná ou pinheiro-brasileiro, árvore di-ferente de qualquer outra pelo tronco reto eimponente, e copa alta em forma de taça oude guarda-chuva, sempre acima de todas asoutras. Além do mais, é uma árvore de ori-gem muito antiga, tendo seus ancestraissurgidos na face da Terra há mais de 200milhões de anos.

Floresta Ombrófila Mista é o nome dadoà floresta com araucárias. Ombrófila é umapalavra de origem grega que quer dizer “ami-ga da umidade”, ou seja, que não tem perí-odo seco ao longo do ano. Araucária é par-te do nome científico do pinheiro-do-paraná, que, completo, é Araucáriaangustifólia.

Até o século 19, na Serra da Mantiqueirahavia extensas áreas de florestas comaraucárias. Com a ocupação humana e odesmatamento, ocorreu uma grande trans-formação da paisagem, com a substituiçãodas florestas por lavouras e pastagens. Ha-via extensos pinheirais que, infelizmente, setransformaram em madeira ou carvão. Pen-sava-se que esse patrimônio natural nuncafosse acabar. Mas acabou... Em pouco maisde um século de ocupação o homem des-truiu o que a natureza construiu paciente-mente durante milhões de anos. Resta mui-to pouco das florestas com araucárias. Aperda da diversidade dessa floresta, decor-rente do desmatamento, é um fato reconhe-cido. Não podemos esquecer, contudo, aprincipal utilidade da floresta: a manuten-ção da qualidade do ambiente em que vive-mos; e disso, lamentavelmente, também jáperdemos muito. Basta olhar para nossosrios e ver como estão suas águas.

Muito se tem escrito e falado sobreos fatores que concorrem para a melhoriada educação no Brasil. Essesquestionamentos podem gerar respos-tas envolvendo questões filosóficas esociológicas, visando a uma propostaque atenda a urgência de tantas e tãoprofundas mudanças.

São vários os fatores que interferemnegativamente na qualidade da educa-ção no Brasil. Em primeiro lugar, é preci-so que haja, efetivamente, por parte dosgovernantes e profissionais da área,vontade férrea para equacionar e resol-ver tais fatores.

Todos sabem que muitas de nossascrianças estão fora da escola pelos maisvariados e perversos motivos. Outras,apesar de frequentarem as escolas portrês, quatro ou mais anos, não apren-dem sequer a ler e efetuar as mais ele-mentares operações matemáticas.

Muitos professores permanecem he-roicamente cumprindo seu dever comamor e superando as mais diversas difi-culdades, enquanto outros, desencan-tados com os baixíssimos salários e odesprestígio social, seguem trabalhan-do à espera da sonhada aposentadoria.

Poucos jovens optam pela área daEducação. Quando o fazem, são motivode chacota por parte dos amigos, queos taxam de loucos suicidas. Há, tam-bém, os que, quando colocados dianteda realidade, preferem outros caminhospara sobreviver com relativo conforto edignidade, dedicando apenas parte dotempo na manutenção de seu ideal.

Enfim, precisamos trazer as criançaspara a escola, oferecer atividades queas motivem a permanecer e aprender. Ospais precisam entender a importância doconhecimento nas vidas de seus filhose, consequentemente, incentivar e aju-dar. Os professores precisam de salári-os dignos e valorização social, e delesão merecedores.

Com a melhoria da educação, ocor-rerão mudanças substanciais em diver-sos aspectos da economia do país, in-clusive na estrutura do mercado de tra-balho. A formação de nossos jovens estáaquém do necessário. O aumento donúmero de anos de estudo, porém, têmcontribuído para a geração de empregoscom carteira assinada.

As últimas araucárias

A floresta com araucárias é conhecida como pinhal ou pinheiral, em função da presença do pinheiro-brasileiro, árvore diferente de qualquer outra pelo tronco reto e imponente, e copa alta em forma detaça ou candelabro. É nossa obrigação preservar e conservar o pouco que dela sobrou na Mantiqueira.

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Imagem - Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Percorrendo as ruas de Piquete, seusmoradores não têm ideia de como foi difícile trabalhoso a cidade adquirir a fisionomiaque tem hoje.

Do núcleo urbano inicial, emancipadoem 1891, aos dias atuais, um longo e tortuo-so caminho foi percorrido por diferentesadministrações.

De maneira espontânea e desordenada,as casas foram sendo erguidas às margensdo caminho para Minas, paralelo ao Ribei-rão do Piquete. Eram poucas as ruas.

Apertada num fundo de vale, as cons-truções foram edificadas em área de preser-vação, colocando em risco moradores e ge-rando problemas para sucessivas adminis-trações. A falta de planejamento urbanoobservada em Piquete não era prerrogativado município, como não o era para a maioriadas cidades brasileiras, que nasceram e cres-ceram sem organização básica, sem inter-venção sanitária e higiênica, procedimen-tos que só surgiriam mais tarde.

A expansão das cidades brasileiras, comrápida urbanização da sociedade, foi umadas principais questões sociais a ser enfren-tada por todo o país a partir do início doséculo 20. Piquete experimentou, nas primei-ras décadas de sua emancipação, de manei-ra drástica, o crescimento de seu núcleo ur-bano. Município agrário, voltado para a pro-dução do café, viu, com espanto, a passa-

gem da condição de rural para urbana com oinício das obras militares na região, em 1902,e a inauguração da Fábrica de Pólvoras semFumaça, em 1909. Essas obras atraíram paraa cidade grande contingente populacional.

Por essa época, Piquete assistiu à im-plantação de um modelo de planejamentourbano sem precedentes. Bem adaptada àpaisagem, a Vila da Estrela foi construídapara moradia de oficiais militares e mestres.Norteou o que de mais moderno e avança-do havia àquela época: luz elétrica, águaencanada, fossas assépticas, ruas calçadas,ajardinamento e disponibilidade de meiosde transporte. Era a área nobre da cidade,vista como fronteira de expansão e civiliza-ção, como ideal a ser perseguido pelos de-mais moradores.

A expansão do núcleo populacional paraas proximidades da serra ocorreu pela faltade moradias para a crescente população,migrante da zona rural. Ao final da décadade 1930, a Fábrica iniciou um amplo traba-lho social com a construção de vilas operá-rias. Para isso, adquiriu de Mariana Relvasum amplo terreno onde foram construídas,com planejamento, centenas de casas. Den-tro desse trabalho, além das residências,foram edificados inúmeros edifícios de gran-de valor arquitetônico que impactaram sig-nificativamente a comunidade. A partir des-sas obras a cidade foi adquirindo nova

fisionomia, passando a se enquadrar nosmoldes ditos “civilizados”. Caminhava, en-tão, para o futuro. Arruamentos, calçamen-tos, canalização de água e esgoto, pontes,muros de arrimo... Tudo passou a serconstruído contando com o beneplácito daFábrica.

A municipalidade piquetense semprecontou com essa parceria em obras de inte-resse da coletividade. Município pobre esem arrecadação, foram grandes as dificul-dades de seus diversos administradores.Apesar de tudo, novos bairros foram sur-gindo e a cidade se expandindo.

Revendo velhas fotografias, fica paten-te a importância da Fábrica para o municípiotambém na definição de sua arquitetura eplanejamento urbano.

A contribuição da Fábrica no processo de urbanização de Piquete

Nesta foto do final da década de 1940, observam-se, em destaque, a Vila da Estrela, a Pharmácia da Fábrica, o Campo do Estrela, o Hospital, a IgrejaMetodista, o Parque Zoológico e as obras do Elefante Branco. Todas obras da Fábrica, colaboraram para a definição do perfil urbanístico de Piquete.

Fotos Arquivo Pró-Memória

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

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Laurentino Jr.

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Há pessoas que são infelizes porquequerem. Têm tudo o que muitos gostariamde ter – material e profissionalmente –, têmsaúde e a família unida. O que mais desejari-am? Em minha opinião, isso é tudo que mefaria realizado. E tenho somente que agra-decer por evidenciar-me muito feliz.

O problema de alguns – sempre em mi-nha modesta opinião – é não permitir quetodos tenham as mesmas condições. Julgam-se superiores. Não admitem ser igualados –muito menos superados. Dessa maneira, vi-vem amargos, reclamando de tudo, cegos àprópria felicidade que deixam de desfrutar.

O que é preciso para sermos felizes?Esta é uma pergunta que tem diferentes

respostas. Para cada pessoa a felicidade éalcançada de uma maneira. Para alguns, bas-ta muito pouco. Para outros, custa muito.Para um terceiro grupo, além de terem tudoo que desejam, têm que minar a felicidadealheia... Esses últimos são aqueles que –inconscientemente, espero – ficam infelizescom a felicidade de outros. Isso certamentelhes faz mal; corrói-lhes as entranhas comum sentimento que causa dor, que adoece.

Se nos contentarmos em ser felizes ape-nas, sem nos preocuparmos com a vidaalheia, a felicidade nos chegaria muito maisrapidamente.

É tão simples, meus amigos...Vamos viver com entusiasmo, vamos

agradecer o milagre da vida, da saúde, danatureza... Aproveitemos o amanhecer, oentardecer, o anoitecer... Agradeçamos o sol,a chuva, o frio e o calor... Respeitemo-nosmais... Amemo-nos mais... Festejemos diari-amente as conquistas – nossas, de familia-res, de amigos, de todos... Estas são, certa-mente, ingredientes de uma receita de felici-dade... Passemos longe da inveja, da críticamaldosa, do baixo astral, do pessimismo, das“nuvens negras” que nos cercam...

Uma coluna de O ESTAFETA é muitopouco para listar os motivos da felicidade.Mas é suficiente para desejar a todos leito-res que sejam muito felizes...

Qual o preço dafelicidade?

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Filho mais novo de Laurentino Gonçal-ves Dias e Ana Maria Ribeiro do AmaralDias, Laurentino Gonçalves Dias Júnior atéhá pouco tempo era conhecido somentepelo apelido de infância, Kiko, dado por suamãe.

Nascido em 17 de junho de 1970, Kikopassou sua infância em Piquete. Estudouna Escola de Primeiro e Segundo Graus daFPV, sempre sob a direção do professorLeopoldo. Tem carinho especial por sua pri-meira professora, Odete Pereira, mas lem-bra-se com reverência dos demais: ainda noJardim de Infância, Irene Hipólito; no primá-rio, Nega do Bitu, as irmãs Rosalba eRosângela Mazziero e Marina Meirelles; daquinta à oitava série, foram vários: ShirleyVillar, Betinho Luz, Dinho Maduro, MaraMeirelles, José Ricardo, Guelzita GalvãoSalles... “Foram 10 anos dos quais não meesqueço... Propiciaram-me bases sólidas emdiversas áreas...”. Dos colegas desse perío-do, não convive com todos, mas guarda re-cordações especiais de muitos. “A internet,com o Facebook, está sendo ótimo para re-ver esses e outros amigos, além de fotosincríveis”.

Aos 14 anos, foi estudar em São Josédos Campos. “Não foi uma escolha fácil.Meus amigos de então ou ficaram em Pi-quete ou foram para Guaratinguetá, estudarno COTEG, onde eu também havia sido apro-vado”. Lembra-se bem de sua ida para SãoJosé dos Campos, acompanhado pela mãe.“Hoje avalio quão difícil foi para ela deixar omimado filho caçula sozinho, apesar de euter ficado os primeiros meses em casa deminha tia”. Não se arrepende da escolha:“A ETEP (Escola Técnica ProfessorEverardo Passos) foi muito importante emminha vida. Lá também fiz amizades que per-duram até hoje e que me moldaram pessoale profissionalmente”.

Em 1988, de São José dos Campos foipara São Paulo. Nove anos depois, de SãoPaulo, foi para o exterior, “projeto não fina-lizado, mas que me rendeu frutos tambémespeciais”. A volta da Alemanha foi segui-da por uma série de acontecimentos que otrouxeram de volta a Piquete, já em 1998.

Nesse mesmo 1998, passou a colaborarcom a Fundação Christiano Rosa. No início,digitava os artigos de O ESTAFETA. De-pois, passou a colaborar com a editoração.“A Fundação Christiano Rosa finalizou mi-nha formação”, resume. “Até conhecer o

trabalho da FCR, desconhecia também mi-nha cidade. A partir do conhecimento de suahistória, de sua gente, da participação emseu cotidiano, passei a amar Piquete. A FCRme apresentou minha terra natal, me fez re-conhecer a importância de minhas raízes”.Incentivado pelo sucesso profissional dosinstituidores da FCR, ingressou na entãoFaculdade de Engenharia Química deLorena (FAENQUIL). “A ajuda dos amigosda FCR foi essencial para que eu me formas-se; sem minha família e eles, não teria con-seguido”. Ressalta que, hoje, identifica-semuito com seus pais nos trabalhos que rea-liza junto à FCR e em seu modo de vida: seupai fez parte da SAP (Sociedade Amigos dePiquete) e do Rotary de Piquete. Nessas ins-tituições, era sempre secretário; sua mãe,costureira, foi presidente da extinta “CrecheSorriso” por muitos anos, além das ativida-des na Casa da Amizade, que congregavaas esposas dos rotarianos. “Vejo que o tra-balho voluntário me foi despertado por ami-gos, mas já devia fazer parte de mim”.

Kiko vive para sua família. Acredita quesomente com ela e por ela conseguirá atin-gir seus objetivos. Mantém sua casa em Pi-quete. “Aqui é meu porto-seguro”, afirma.Morando fora de Piquete por motivos pro-fissionais, faz questão de estar sempre

em Piquete e de partici-par como cidadão desua cidade. “Hoje já souconhecido também por‘Lau’ ou ‘Laurentino’,como meu pai. Orgu-lho-me disso.”

Kiko afirma que“não se imagina forada Fundação e nãoconsegue pensar emum mês sem editar OESTAFETA. Queropoder colaborar sem-pre com Piquete.Quero, como diz umaamiga, “retribuir oque recebi de minhacidade natal”.

Kiko e membros da Fundação Christiano Rosa, em 1999

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� � � � � � � � �Piquete, abril de 2013Página 4

Admitir as diferenças entre pontos devista, avaliações próprias e críticas ao ato esituações que nos rodeiam é qualidade deinteligência, discernimento e competênciaadquirida com conhecimento e, principal-mente, experiência. Não é preciso ser douto,bastante é dar atenção, aprender a obser-var, a se organizar e não se deixar ir pelasopiniões de outros, as que são manipula-das. Entretanto, não basta se posicionarcontra, mas argumentar, discutir e apresen-tar as bases nas quais são construídas asideias. Assim, valem essas posições frenteàs propagandas.

Por exemplo, os políticos, para arregi-mentar simpatias e votos, usam os palan-ques para prometer novas medidas, investi-mentos, atendimentos às necessidades, in-centivos e críticas aos desmandos dos queos antecederam. O cumprimento das promes-sas fica para as possibilidades do eráriopúblico, das verbas disponíveis pelos sis-temas federal e estadual, desde que consi-gam as articulações certas e os caminhospara esses fins sejam de sinalizações, decódigos do domínio dos controladores dapassagem dos atalhos e das veredas miste-riosas somente conhecidas pelos iniciados.Requer o uso do jargão, isto é, da lingua-gem convencionada que contém as chavesque, como em “Alice no país das maravi-lhas”, de Lewis Carroll, são das que referemtamanho, ou seja, as que fazem crescer e asque fazem diminuir, entender a retórica, odiscurso e os diálogos, por incompreensí-veis que possam ser, por exemplo, como o

“sorriso do gato de Cheshire”, sem o animalvisualizado. Veja-se em “Alice” – equiva-lente a usar o telefone e representar um diá-logo falso, porque do outro lado não há ointerlocutor. Mas, engana-se o espectadorao lado, ansioso pelo atendimento e a verbaassegurada. Depois, o vazio e novas pro-messas, articulações, disposições e peregri-nações pelos labirintos da hierarquia, osfamosos processos e “castelos” de muitosguardas e emolumentos que Franz Kafka,famoso autor polonês, soube explorar até aangústia e o desespero das expectativas.

Mas, caro leitor, não se preocupe nemse amofine se não tiver lido as obras cita-das. Não tem importância. O que estou con-siderando é que, se não forem usados oscódigos próprios, os atendimentos não sãofeitos, nem as prováveis promessas cum-pridas. Para chegar às escalas superioresdo poder é preciso ter acessos, e esses têmde ser negociados exaustivamente.

Bem, mas estávamos falando de discutirdiferenças, ter divergências de opinião e, sepreciso for, trabalhar com opostos ao con-senso, ou seja, à aceitação geral, cujas ba-ses são manipuladas pelos interesses explí-citos ou não. Para ilustrar esses comentári-os, uma discordância emitida pelo articulis-ta do “O Estado de São Paulo” (20/12/12),Demétrio Magnoli, que divulgou um traba-lho no qual, por ocasião da morte de OscarNiemeyer, se colocou como não parte dacomunidade que aplaude irrestritamente asobras do artista, embora aceitando algumas,maravilhado pelo engenho e arte, repudiou

outras, sempre comparando-o a outro arqui-teto – Le Corbusier, francês que, segundo oarticulista, serviu como colaboracionista àsforças invasoras da França na época da 2ªGuerra Mundial.

Segundo a ótica de Magnoli, Niemeyercomo Corbusier baseavam-se no princípiode que “o plano deve governar e a rua devedesaparecer” (frase de Le Corbusier em 1924,que Niemeyer seguiu).

São palavras textuais do sociólogoDemétrio Magnoli: “O impulso destrutivoestá contido em cada uma das intervençõesarquitetônicas de ambos” (leia-se LeCorbusier e Niemeyer), “inclusive nas maisbelas”. Segundo o ponto de vista do autordo artigo, intitulado “Niemeyer, a arquitetu-ra da destruição”, uma edificação deNiemeyer jamais estaria relacionada signifi-cativamente e funcionalmente ao entornoconstruído, o qual ele desprezaria por nãoter emergido de seu traço de arquiteto mai-or. A crítica se excede para acrescentar queas obras de Niemeyer acabam por não ad-quirir identidade, mas para servir somente àcontemplação de seus monumentos à auto-ridade. Assim, os pontos de encontro e mer-cados em Brasília estariam diluídos, reser-vando-se o projeto “à estética do poder”.Afinal, a cada um seu juízo.

Aí está um exemplo discordante das opi-niões gerais, principalmente do realce dadoquando da morte do famoso arquiteto.

Dóli de Castro Ferreira

Discordância é um direito?

É com tristeza que tomamos conheci-mento, mais uma vez, do fracasso da edu-cação básica no estado de São Paulo. OIDESP, instrumento utilizado pelo governopara aferir o nível de educação oferecidanas escolas públicas, nos revelou uma ver-gonhosa realidade: o estado mais rico daUnião não consegue gerir o bem maior deuma sociedade, a educação.

No campo da educação, a qualidade nãodeve ser optativa, e sim obrigatória. Nãopodemos falar em educação “mais ou me-nos”; ou a oferecemos com responsabili-dade, num nível avançado, ou permanece-mos nesse mesmo patamar. Teorias váriastêm surgido para tratar o problema; entre-tanto, sabemos que a miséria é o mal que sedeve atacar primeiro por meio de políticaspúblicas e setoriais. O Pisa, sistema de ava-liação educacional internacional, ratificaesta afirmação: a Finlândia está em 1º lugarno ranking, com índice de pobreza em 4%;os Estados Unidos aparecem em 10º lugar,com índice de miséria em 25%. Bem, no Bra-sil, desnecessários quaisquer comentários.

Entretanto, temos exemplos positivosde escolas que deram certo, mesmoinseridas em realidades problemáticas. E éneste contexto que me posiciono como edu-cadora: é possível fazer a transposição dateoria para a prática e alcançar bons resul-tados. Um bom aporte teórico nos é apre-sentado por Lino de Macedo, no artigopublicado na Revista Pátio março/maio de2013, cujo título – “Do impossível ao ne-cessário” – tomo licença de colocar nestetexto. O autor discorre sobre ainterdisciplinaridade, advogando em seufavor: trata-se de uma boa estratégia para

“Do impossível ao necessário” – é preciso acreditar“tornar o ensino mais significativo para oaluno. Ele comunga das mesmas ideias deGarcia (2006, p. 21), um colaborador dePiaget, quando este afirma que a educaçãoé um sistema complexo, uma totalidade or-ganizada, na qual os elementos nãos sãoseparáveis, portanto, não podem ser estu-dados isoladamente. Isto implica em trans-formar radicalmente nossa visão sobre asvariáveis que o constituem. Por variáveis, oautor refere-se, além dos problemas das dis-ciplinas, a aspectos relacionados, por exem-plo, aos alunos, sua família, suas condiçõessocioculturais, cognitivas e afetivas; aosprofessores, sua formação, seu plano decarreira e os recursos que utilizam para en-sinar e avaliar; aos gestores, sua formação,condução de projetos e liderança na esco-la; aos sistemas de avaliação e seus indica-dores de mudança; aos recursos e à visãopolítica e econômica que transformaram oensino em uma necessidade social e um di-reito individual.

Caracterizar essas variáveis, observarseus modos de atuação, realizar recortes deestudos e analisar os processos resultan-tes de suas interações significa, para esseautor, pensar o ensino como um sistemacomplexo. É sob esta perspectiva queMacedo enfatiza que a escola deve adotar avisão interdisciplinar em seu projeto educa-cional. As variáveis constituem, assim, opressuposto desta visão.

Parece complicado, no entanto é simples:basta que haja comprometimento da equipegestora e professores na elaboração de umcurrículo interdisciplinar. Pense em uma aulade literatura em que abordemos, por exem-plo, o Romantismo. O professor de Língua

Portuguesa discorre sobre esse movimen-to literário fazendo com que os alunos co-nheçam e explorem os múltiplos sentidospresentes nos poemas e romances lidos:Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Cas-tro Alves, José de Alencar entre outros,aprofundando assim, o conhecimento denossa língua. O professor de História mos-tra o contexto sociocultural em que essesescritores viveram, viajando no espaço etempo em que as obras foram produzidas.O professor de Arte aprofunda suas análi-ses na leitura de obras de artistas da épocacomo Rugendas e Debret, mostrando osregistros pictóricos da vinda da FamíliaReal para o Brasil. Em Geografia, o conheci-mento do contexto geopolítico do Brasil ePortugal pode contribuir para que o alunotenha uma visão mais ampla dos dois paí-ses. Em Ciências, como nessa época hou-ve o desenvolvimento da botânica, o pro-fessor da referida disciplina pode discorrersobre o citado conteúdo.

Cria-se, assim, um currículo dinâmico,com mais significado para o aluno, em queo todo foi construído pelas partes.Interdisciplinaridade significa alterar a for-ma de tratar os conteúdos escolares; signi-fica trocar um regime individual e isoladopor um regime coletivo. Para Piaget (2001,p.49) “há metas que só podem ser efetiva-mente atingidas se pessoas ou entes seconsorciam, sem o que não se pode atingiro resultado almejado.” É preciso aprendera trabalhar em um regime de cooperação ecolaboração dentro da escola, enfrentarconflitos de ordem política, ideológica ecurricular. É preciso, sobretudo, acreditar.

Profa.Evelize Chaves

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As notícias que ainda chegam da Repú-blica do Máli, principalmente pela internet,são, no mínimo, aterrorizantes. País da Áfri-ca sem saída para o mar, considerado o séti-mo maior daquele continente(tamanho parecido com o daÁfrica do Sul), faz fronteira comArgélia, Níger, Mauritânia eBurkina Fasso, entre outros pa-íses. Sua população é estima-da em cerca de 12 milhões depessoas e, na sua maioria, vi-vem no sul, já que, ao norte, afronteira é o meio do desertodo Saara. Quase metade dessapopulação vive muito abaixo dalinha da pobreza, com apenasum (1) dólar por dia. Dentrodessa metade estão os que nãopossuem sequer essa qualifica-ção – são mais que miseráveis.

Para fazer uma singela com-paração, a grande São Paulo tempopulação estimada em 22 mi-lhões de habitantes. Portanto,mais que o dobro de pessoas que vivem nopaís da África conhecido por Máli, e que amaioria das pessoas globalizadas sequer sa-bia da sua existência até começarem a apa-recer essas terríveis notícias.

Por isso, o mundo ocidental está atemo-rizado, horrorizado com as notícias vindasde lá, as quais dão conta das atrocidadesque a população civil, indefesa e miserável,vem sofrendo. Os detalhes estão estampa-dos nos noticiários das televisões, jornais einternet.

Boa parte desses doze milhões de pes-soas é paupérrima, analfabeta, miserável sobtodos os pontos de vista (material eimaterial). Além disso, vivem o horror de nãoserem mais donas de suas vidas, de nãopoderem praticar atos corriqueiros do dia adia porque alguns grupos, autointituladosjusticeiros e salvadores da pátria, aplicamcom rigor ainda mais absurdo que de costu-me as regras da “sharia”: cortam mãos e/oupés desses miseráveis, arrancam da família

Somos humanos?seus filhos ainda crianças para transformá-los em assassinos, espancam até matar emnome de absolutamente nada!!! Apenas etão somente para demonstrar que eles po-

dem tudo quando estão com armas nasmãos. Esses grupos impõem o poder de vidae morte contra a população para que ela sai-ba que não tem a quem recorrer e para quenão esqueça quem manda naquele miserá-vel pedaço de terra.

Já assistimos cenas semelhantes em pa-íses que passaram por essa doentia guerraem nome de nada, guerra de irmãos, comoAngola, Serra Leoa e Ruanda. Nem de lon-ge, porém, podemos medir o horror pratica-do em Máli, nem dizer que as cenas já nãonos chocam. Afinal, são pessoas que estãodo outro lado do mundo, vivendo uma rea-lidade muito diferente da nossa. Lutam so-mente com o instinto de sobrevivência, jáque outros meios não possuem: nem cora-gem, nem ideal, nem armas, nem diplomacia.Estão lá, apavoradas, fugindo como podempara os países vizinhos, não antes de ver osmembros de suas tribos e famílias serem mu-tilados ou dizimados pelos “salvadores dapátria” de armas em punho.

A ONU enviou algumas tropas para ten-tar conter a onda de horror que a cada dia sealastra, se espalhando pelo país como umcâncer. Manda também ajuda humanitária

como comida e remédios paraminimizar o sofrimento. Mas sa-bemos que, na maioria das ve-zes, essa ajuda fica nas mãos dequem tem as armas, ou seja, nãochega ou chega deficitariamenteà população que tanto precisadela.

Ver tudo isso chega a darpena da raça humana. Até ondevamos? Onde vamos parar? O serhumano consegue fazer comseus semelhantes coisas tão cru-éis, tão degradantes. São verda-deiros genocídios em nome denada e de ninguém, apenas dointeresse de grupos. Ainda as-sim se intitulam líderes dessespovos, a quem matam, mutilam,tiram tudo, inclusive a liberdadee a dignidade. Lembra outros

tempos, em que brancos iam para a África“caçar” negros para serem escravos das eli-tes brancas da época. Mão de obra sem cus-to para os grandes empreendedores de en-tão, principalmente na agricultura. Pareceque voltamos no tempo de maneira aindapior. Hoje, porém, é o próprio irmão de san-gue, de cor, de tribo, de etnia quem trucidaos seus iguais.

Somos humanos? Ou precisamos urgen-temente de um super-humano? Quem seria?Alguém poderia pôr fim à intolerância, àdesumanidade, à visão desfocada de comose deve agir com os outros? Como reverteresse quadro que deriva diretamente do opor-tunismo de quem detém as armas em detri-mento de quem apenas quer viver pacifica-mente sua vida?

“Quem sabe, o super-homem venha nosrestituir a glória, mudando como um deus ocurso da história...”. Quem sabe?

Eunice Ferreira

Outono na Mantiqueira

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Quem visita Piquete logo se apaixonapela geografia do município.

A Serra da Mantiqueira, que corta a ci-dade, concorre para a beleza da paisagem. Acada estação do ano um colorido diferenteque, num jogo de luz e sombra, deixa a serracom um matizado que impressiona. No ou-tono, as tonalidades de luz, especialmenteno alvorecer e no entardecer, deixam-na ain-da mais bonita.

Basta conhecer a Serra da Mantiqueirapara sentir que, se existem lugares especi-

ais neste planeta, este é um deles. Não setrata apenas da forte impressão que provo-ca sua geografia irregular de grandes dimen-sões, as paisagens variadas e deslumbran-tes. São várias as razões pelas quais pode-se dizer que se trata de um local realmentemágico.

O outono é uma das épocas mais propí-cias para conhecê-la. Caminhar por seus tri-lhos, galgar o cume de seus inúmeros pi-cos... Vislumbrar o Vale do Paraíba de cimados Marins, a 2422m de altitude, munido ou

não de um binóculo e de uma câmera foto-gráfica, é deslumbrante.

Os piquetenses somos privilegiados:temos a Mantiqueira ao longo de todo oano... Passemos a admirá-la com mais pai-xão... Passemos a observá-la com mais cari-nho... Certamente perceberemos que temosum monumento como em poucos lugares domundo, que tem a capacidade, como todabela obra da natureza, de nos confortar esurpreender sempre... Aproveitemos essabeleza que nos foi dada...

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� � � � � � �Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, abril de 2013

Crônicas Pitorescas

Palmyro Masiero

O cacoete...

Menino Canhão

A estória que passo a contar não tratade feiúra, mas, sim, de um canhão de artilha-ria.

Em meados de 1955, tinha eu quinze anosde idade, quando, em excursão, fui conhe-cer o Rio de Janeiro.

Nosso destino foi a Baía da Guanabara,mais precisamente a praia de Copacabana, aPrincezinha do Mar, cantada por todos.

Acompanhado do primo Jucenal, poucomais velho do que eu, ficávamos ora na praia,ora na água de marolas esbranquiçadas quese quebravam insistentemente na areiaalvacenta.

O primo começou a brincar na areia fa-zendo um castelo. Peguei a pazinha e fuiajudá-lo no seu engenho.

Certo momento, ao encher a pá, bati emalgo estranho, duro. Tirando cada vez maisareia, notei um tubo amarelo brilhoso... Con-tinuei cavando, cavando... Começou a ajun-tar curiosos, que passaram a me ajudar nadescoberta do objeto.

Para meu espanto e de todos, tratava-sede um canhão – um canhão de artilharia. E,pasmem, um canhão de artilharia de ouro!

Foi um bulício danado... Deu polícia,ambientalista e até historiador que afirmavase tratar de um canhão francês deixado pelovice-almirante Nicolas Durand de Ville-gaignon ao instalar uma bateria à entradada Baía da Guanabara, em 1555, quando dainvasão francesa...

Fiquei na minha...Vieram os fotógrafos, jornalistas e radia-

listas... A mídia me assediava por saber detudo... Eu não sabia de nada...

O canhão de ouro foi recolhido pelo go-verno do Rio de Janeiro e ficou à disposi-ção do Itamaraty.

Os franceses nunca reclamaram sua per-da. Foi aprovado, então, pelo Congresso,seu derretimento, a fim de aumentar o lastrodo Tesouro Nacional.

Tempos depois, fui agraciado com a me-dalha de Honra ao Mérito e a recebi, com adesastrosa descoberta, o apelido de “meni-no canhão”.

Acesse na internet, leia edivulgue o informativo

“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

www.issuu.com/oestafeta

Desde o nascimento (faltam provas arespeito...), surgiu o vício que, com o pas-sar dos anos, mudou para hábito e terminoucaindo no cacoete. Bastava ter uma dasmãos livres que, indubitavelmente, um dedoestava fazendo limpeza no nariz. Não é umassunto muito higiênico, sabemos... Mas,fazer o quê, né?! Do indicador ao minguinho,de ambas as mãos, todos os dedos sabiamcomo tratar as fendas nasais do cara. Cadaum parecia ter um recanto onde era especia-lista. O dedão – ao menos ainda – não forautilizado, tornando-se, assim, um estranhodentro da mania.

As primeiras broncas surgiram quandoainda era um garotinho. Levava um dos de-dos às narinas e lá vinha um tapinha na mão.Um, dois, três... O quarto já não havia... man-cava-se, ora bolas... Procurava um recôndi-to e, na solidão, fuçava as ventas com afã e,inconscientemente, vingança, deixando ossalões nasais limpíssimos. Encerados... Épossível que até as fibrilas brilhassem... Dainfância nasceu o trauma que carregaria parao resto da vida. Alguém contra?

No primário e no ginásio não resolveramas chamadas de atenção. Ao escrever, inva-riavelmente a outra mão tinha um dedo emserviço nasarino... Não pensem que não fa-zia esforço para acabar com esse sestro. Fezaté promessa! Andar com ambas as mãosamarradas seria um despandongo! Nempressentia quando um dos dedos tomava orumo da fossa nasal. Sem sentir, alheado,quando dava por si, tinha um carnudo roli-ço enfiado no buraco, que era retirado rapi-damente. Bobeou, voltava a escarafun-chação na toquinha do naso! Sentia-se in-feliz. O apelido “salão grená” lhe impostodoía... Mais duro quando começou a namo-rar... Que sacrifício segurar os dedos vicia-dos. Caso sério! Batalha ingente!

Foi... Foi, sim senhor... A um médico. Nãoresolveu... O ato era mecânico, além daracionalidade. Teria que criar o cacoete in-verso. E frutificá-lo. Só via uma solução:amputar as mãos. Besteira, pois pode entrar

no livro dos recordes como o nariz mais lim-po do mundo. Ou o mais fuçado!

Agora, com os filhos crescidos, a coisatornou-se dramática. A mulher e os reben-tos passaram a vigiá-lo. Marcação cerrada.A um simples movimento de elevação de umdedo, seja para que destino fosse, ouvia umgrito. Uma razão muito especial estava àsportas para que essa duríssima marcação setornasse implacável. O limpador de nariz foraeleito presidente da Sociedade Amigos deBairro onde morava e a cerimônia de posseseria no sábado seguinte. Os familiares ti-nham receio de que lá à mesa, sobre o palco,ele começasse a fuçar o nariz frente à galerabairrista que estaria no salão. Seria a apote-ose do vexame.

Conchavou com a mulher. Teria a espo-sa ao lado na mesa. Um chute na perna ouno pé cada vez que algum dedo tomasserumo perigoso. Chegou o grande sábado.Todos engravatados, mesa florada, iníciodas atividades. Após a abertura é empos-sado no cargo e vai, com a esposa, sentar-se ao lado do prefeito. Começaram os dis-cursos. Pela ordem, falariam o presidentesainte, o prefeito e, finalmente, o presidenteentrante. Ao final, o baile. No salão. Do clu-be! Discursinhos demorados... Durante afalação alheia, levou bons chutes nas per-nas pela artilheira de sua mulher. Dedos tor-turados aspiravam à fendazinha respirante...Fanáticos...

Em dado momento, achou por bem se-gurar com uma das mãos a da sua mulher e,com a outra, um cinzeiro ali colocado. As-sim, ambas as mãos estariam ocupadas eseus dedos não pensariam no que não de-viam... Justamente quando discursava o pre-feito, a mulher, olhando para o povo naplateia, viu que todo mundo estava rindo. Odiscurso era sério. Notou horrorizada a cau-sa: estivera tão abstraída pela falação doprefeito que nem sentira... O marido estavacom um dedo no nariz... E, pior, o dedo era odela!

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Juntei tanta coisa a vida inteira,

que agora é difícil me livrar.

Quantos vestidos, quantos sapatos,

quanta mala pra leiloar.

A morte é nua, não tem gavetas,

que a gente possa suplementar.

Joguemos fora o peso-excesso,

para o navio não afundar.

Excesso

Olga de Sá

Page 7: ABRIL 2013

� � � � � � � � �Piquete, abril de 2013 Página 7

A tradicional Semana Santa cultuadapelos católicos é uma pausa no ano após aQuaresma, subsequente ao Carnaval, paranos lembrar do poder vivificador da Pás-coa, momento maior da cristandade.

A trajetória comemorada para alcançarseu apogeu no Domingo de Páscoa é referi-da por um evento móvel no calendário anu-al e tem a ver com o movimento lunar, isto é,liga-se à elipse da lua descrita ao redor daTerra para, nas diferentes fases, atingir agrande data num esplendoroso plenilúnio.Notem a lua cheia no evento pascal. Ela in-voca a grande figura de um Deus que sehumaniza para cumprir, como os homens, ociclo de vida até à tortura e morte na cruz,catarticamente celebrada pelos fiéis presosà angústia da morte sacrificial, ainda quan-do a Igreja faz hoje mais reconhecer aimantação da Páscoa – redentora na pro-messa da ressurreição e da vida eternizada.

No rito da Igreja contemporânea, a se-mana é da Páscoa. A ela se dirige. Nela secontextualiza. Para que tudo se realizasse,Cristo, atingida a idade madura dos adul-tos, adentrou Jerusalém, cidade eleita da cris-tandade no promontório sagrado. O assimchamado Domingo de Ramos introduz o mis-tério da trajetória que revela os grandes mo-mentos da paixão, morte e ressurreição doCristo, que, como humano, entra,

A Cruz e a Páscoaapoteoticamente recebido, em Jerusalém.Assim teria de ser profeticamente reconhe-cido como necessário à ambiguidade pelaqual um povo o aclama e glorifica, para, emoutro momento, exigir sua crucificação. É oque afirmam as escrituras sagradas.

Haveria um poder divino exponencial emglória como ameaça a um poder terreno se-quioso de reconhecimento e dominador?Herodes finalmente satisfaz sua curiosida-de em encontrar Jesus e, estando em Jeru-salém, nesses dias, interrogou-o, zomboudele, desafiou-o. Mas Jesus resistiu sem semacular. Ameaçado e enviado a Pilatos pararesponder sobre sua inquietante influênciasobre o povo quanto à recusa e à excessivacobrança de impostos, deveria ser julgadoe castigado. Afinal, contrapondo-se a César,Cristo admitia-se como rei, acima dos reis,pois conjugava o divino ao humano. Era,para o império, subversivo, e por tal deveriaser julgado. O que foi feito, e de tal maneira,que se induziu o Cristo à crucificação, comopenalidade maior, aceita pelo povo, sem aintromissão de Pilatos, que se ausentou dojulgamento, aceitando o veredicto popularna admissão de que a verdade não pode serconceituada. A atribuição de subversivobastaria como ameaça maior à máquina dopoder, pois, o que é a verdade? pergunta ogrande fiscal. A manipulação popular se

completou e a massa aderiu a uma propostade substituição de um indiciado Barrabáspor um perigoso ícone de paz, dado comoagitador do povo, além de tudo, milagreiro.E enquanto Pilatos lavava as mãos, comose colocasse apenas rendido à vontade po-pular, o drama da Paixão se desenrolava, jáestava cumprindo o ritual. A passagem peloJardim das Oliveiras, a transfiguração, a San-ta Ceia, a celebração da Eucaristia e a trai-ção. Os caminhos para a Cristandade pre-param o ato final protagonizado por Pilatosentregando o réu para os algozes.

A morte na Cruz, após o martírio, con-cluiu dramaticamente o episódio, e a ressur-reição, como chave de significação, conce-de ao acontecimento a glória maior da pro-messa cumprida em salvar, perdoar e permi-tir à humanidade o beneplácito de uma res-surreição traduzida em vida eterna. Francis-co, o novo Papa, que ora temos, refaz essecaminho voltado para os humildes.Detratado por seus opositores logo após aeleição, expôs-se às análises e, serenamen-te, aproximando-se dos fiéis, procura, comojesuíta, cultor da ciência e da técnica, pro-var o espírito da disciplina e da ordem, oque, para os membros dessa Companhia, éfeito para a maior glória da Igreja.

Dóli de Castro Ferreira

Nascido na fazenda Cabaceiras, fregue-sia de Muritiba, comarca de Cachoeira, filhodo Dr. Antônio José Alves e Clélia Brasíliade Castro Alves, o poeta baiano nunca dei-xou de ser um menino coberto de sol.

Antônio de Castro Alves foi o meninoda Praça. A vida lhe deu apenas 24 anospara edificar a Praça cujos limites se fixaramem Recife, Salvador, Rio de Janeiro e SãoPaulo.

Os pulmões, que teimavam em amorte-cer-lhe a voz; o pé amputado, consequênciade um tiro acidental, que queria frear-lhe opasso – nada intimidou o menino cobertode sol.

A Praça do menino baiano tem a sua sín-tese no drama histórico Gonzaga ou a Revo-lução de Minas e no poema Os Escravos.

A Praça de Castro Alves se desenvol-veu nos meios acadêmicos onde seus ver-sos era declamados.

Em São Paulo, onde frequentou a Facul-dade de Direito, sua peça despertou entusi-asmo quando de sua encenação no TeatroSão José.

Gonzaga ou a Revolução de Minas im-brica a opressão do homem, no caso a es-cravidão negra, e a opressão do povo peloregime de força, que espelhara a Inconfi-dência Mineira.

O espetáculo teatral termina com o de-gredado Tomás Antônio Gonzaga no altode um rochedo da África, pronunciando onome de sua Pátria e de sua Amada.

A arte imita a vida, que imita a arte.Outro baiano de Cachoeira retirou-se

para a África, em exílio voluntário. Percor-reu as possessões portuguesas e fixou-seem Funchal, na Ilha da Madeira, onde fale-ceu em 1898.

Negro, André Pinto de Rebouças usoutodo o poder de sua influência em benefíciode seus irmãos de cor.

Sua Praça estendeu-se do meio acadê-mico – era professor na faculdade – ao go-verno propriamente dito.

Engenheiro, com especialização em do-cas e ferrovias, em virtude de contratos detrabalho, teve acesso aos órgãos do Gover-no e mesmo ao Paço Imperial.

Incluía ainda o jornalismo, o que propi-ciou a união de forças com Joaquim Nabucoe José do Patrocínio na luta cotidiana paraavançar meio passo de cada vez no cami-nho da libertação dos escravos.

Rebouças já esquadrinhara a estruturaagrária brasileira e, assinada a Lei Áurea, sepreparava para uma nova batalha.

Elaborou uma legislação que previa aeducação dos ex-escravos e sua fixação nasterras.

Com a intempestiva Proclamação da Re-pública sentiu que as luzes de sua Praça seapagavam.

Amigo pessoal da Princesa Isabel, dequem recebera as maiores gentilezas, o ne-gro André Rebouças sentiu que não haviamais lugar para ele na cena brasileira.

Cachoeira os mandou. Um poeta e umengenheiro. Um branco e um preto. Doisfocos de luz na Praça da Abolição.

Abigayl Lea da Silva

A Praça e a Abolição

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� � � � � � � � �Piquete, abril de 2013Página 8

O dia 21 de abril é feriado nacional. Tra-ta-se de uma homenagem que o Brasil pres-ta ao sacrifício de Joaquim José da SilvaXavier, que foi enforcado e esquartejado em21 de abril de 1792, devido ao seuenvolvimento com a Inconfidência Mineira– um dos primeiros movimentos organiza-dos pelos habitantes do território brasileirovisando a conseguir a independência dopaís de Portugal.

Vale a pena saber exatamente por que sepresta essa homenagem a Tiradentes.

No século 18, o Brasil era uma colôniaportuguesa que gerava grandes lucros parasua metrópole, em função do ouro e dos di-amantes descobertos na região que ficouconhecida como das Minas Gerais. Essa re-gião tornou-se o centro econômico e cultu-ral do país. Nela surgiram várias cidades ri-cas e importantes como Vila Rica, atual OuroPreto, São João d’El Rei e Sabará.

Portugal explorava o ouro brasileiro, masnem todas as pessoas ligadas ao garimpopagavam os impostos cobrados pela metró-pole. Havia, também, muito contrabandodessas riquezas minerais. Além disso, es-sas riquezas não eram infinitas e começa-ram a escassear. O governo português, po-rém, acreditava que a diminuição no volumede seus lucros com a mineração era somen-te devido ao contrabando e à sonegaçãodos brasileiros. Por isso, começou a aumen-

tar os impostos e tomar medidas repressi-vas contra os nativos de sua colônia. Des-se modo, os brasileiros se revoltaram e issoaconteceu quase na mesma época em queos Estados Unidos se tornaram independen-tes da Inglaterra. Ao mesmo tempo, na Eu-ropa, filósofos e pensadores criticavam aMonarquia e o poder absoluto dos reis.

O feriado de 21 de abril

Por volta do ano 56 da era cristã, oApóstolo Paulo destinou às comunidadesda Galácia uma bela Carta Apostólica, umverdadeiro manifesto da liberdade cristã,em franca oposição aos costumes sociaise religiosos que orientavam a convivêncianaquela região da Ásia menor em meadosdo primeiro século.

No terceiro capítulo, do verso 27 ao 29,Paulo apresenta às comunidades cristãs daregião da Galácia o modo novo de viverdaqueles que aderem a Cristo. Escreve:"Todos vocês foram batizados em Cristo,se revestiram de Cristo. Não há mais dife-rença entre judeu e grego, entre escravo ehomem livre, entre homem e mulher, poistodos vocês são um só em Jesus Cristo".Essas palavras eram lidas num mundo emque judeus não aceitavam conviver comgregos, a escravidão era uma dura realida-de numa sociedade machista e patriarcal.O que Paulo propunha, portanto, era umgrande desafio para as comunidades cris-tãs – uma verdadeira revolução nos costu-mes.

Os cristãos tiveram, desde muito cedo,que se habituar com a idéia de igualdadeentre as pessoas. Superar as questões deraça, posição social e gênero foi sempreum caminho a ser feito pelos seguidores

Em Cristo desaparecem as diferençasde Jesus. Hoje não é diferente. Existem mui-tas desigualdades também em nosso tem-po. É muito importante que os cristãosapoiem as lutas empreendidas por minoriasem busca de dignidade e respeito aos seusdireitos. Temos assistido a vitórias impor-tantes desses grupos. Quanto às questõesde gêneros e raciais, existem boas notíciasvindas da sociedade. Aos poucos tem-seampliado a tolerância, o respeito às diferen-ças, os espaços de liberdade. Essas são con-quistas que devem ser celebradas com ale-gria por aqueles que sonham com o Reinode Deus. Quanto à distribuição maisequitativa das riquezas, ainda estamos mui-to aquém do desejado, embora tenha havi-do uma melhora significativa nos últimosanos.

O direito à propriedade da terra e dosbens necessários à vida ainda é um tabuque precisa ser rompido. Vivemos num paísde latifúndios e de acúmulo de capital fi-nanceiro e de sem-terras e miseráveis – umduro contraste. O direito à propriedade semlimites ainda é algo inquestionável, um prin-cípio mais valorizado que qualquer outro. Éverdade que esse é um direito fundamentalpara a ordem social, mas precisa ser um di-reito garantido a todos os cidadãos. Daí anecessidade de que seja limitado, para que

não sobre a poucos o que falta à maioria.Isso tem sustentado e tornado insuperá-vel o gritante desnível existente entre asclasses sociais mais abastadas e as maispobres. Precisamos avançar nesta questão.Há um contingente de empobrecidos cla-mando por uma distribuição mais justa dasriquezas, pela socialização das proprieda-des privadas e privantes, um direito nega-do há gerações.

Enquanto reinam as desigualdades, len-do a carta aos Gálatas sonhamos com aigualdade e nos sentimos iguais. Diante depessoas importantes, que ocupam os pri-meiros lugares, não raramente de modo ar-rogante, os cristãos não se sentem meno-res; diante dos mais débeis do mundo oscristãos não se sentem superiores. Não sedeixam humilhar e não humilham. Possuema clara convicção de que todos são iguais,embora a realidade ainda não seja assim.

O Tempo Pascal é momento de renova-ção das comunidades cristãs. Cremos queo Deus que ressuscitou o seu Messias Je-sus renova também a vida dos cristãos. QueEle inspire nossas comunidades aredescobrir a igualdade de dignidade en-tre os seres humanos como um caro princí-pio cristão.

Pe. Fabrício Beckmann

Tudo isso influenciou as elites de MinasGerais e as levou a conspirar em prol da in-dependência. A maioria dos conspiradoreseram homens ricos e cultos, como CláudioManuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.

As ideias liberais ganhavam cada vezmais adeptos. O movimento criava corpo,mas foi delatado. As prisões foram numero-sas. Ocorreu uma devassa, inquérito rigo-roso para julgar os acusados de sedição,crime infame segundo a Coroa Portuguesa.No processo, foram envolvidos 34 acusa-dos. Tiradentes assumiu a responsabilida-de pelo crime. Mentiu ser o único chefe eapresentou os companheiros como inocen-tes a quem pervertera. Condenado à forca,foi decapitado e teve cortado o corpo emquatro partes. A Coroa quis, com o espetá-culo do enforcamento, afirmar seu domíniosobre a colônia brasileira. Tiradentes tenta-ra, com o sacrifício, salvar os companheirose abrir ao povo o caminho da emancipaçãopolítica.

Na morte, venceu Tiradentes. A cada ins-tante, tornava-se mais difícil para Portugalimpedir que ideias liberais se propagassempelo Brasil. E, em cada novo pensamentorebelde, em cada gesto de desobediênciapolítica, em cada desejo de liberdade, esta-va a sombra de um homem enforcado.Tiradentes mostrou o caminho.

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