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Ação civil pública de improbidade administrativa

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Page 1: Ação civil pública de improbidade administrativa

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

0000359-23.2011.4.05.8201 MINISTÉRIO PUBLICO FEDERAL E OUTRO

(Adv. MARCOS ALEXANDRE B.W. DE QUEIROGA, PAULSTEIN

AURELIANO DE ALMEIDA) x EDNALDO DE SOUZA LIMA (Adv.

RODRIGO DOS SANTOS LIMA) x JORGE ERLANDO BATISTA DA

SILVA (Adv. PEDRO VICTOR DE MELO) x CLIDENOR JOSÉ DA

SILVA (Adv. TAINA DE FREITAS)

SENTENÇA TIPO: A (RESOLUÇÃO N.º 535/2006) AÇÃO CIVIL

PÚBLICA N.º 0000359-23.2011.4.05.8201 AUTOR: MINISTÉRIO

PÚBLICO FEDERAL RÉUS: EDNALDO DE SOUZA LIMA e outros

SENTENÇA I - RELATÓRIO Trata-se de ação civil pública por ato de

improbidade administrativa proposta, perante o Juízo da 4.ª Vara Federal

desta Seção Judiciária, pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em face de

CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, ex-prefeito do município de Cacimba de

Dentro/PB, JORGE ERLANDO BATISTA DA SILVA e EDNALDO DE

SOUZA LIMA, objetivando a condenação do primeiro demandado nas

sanções previstas no art. 12, II, da Lei n.º 8.429/92, e condenação dos demais

promovidos nas reprimendas positivadas no I do art. 12 da referida Lei. O

MPF alegou, em síntese, que (fls. 03/21): (i) o município de Cacimba de

Dentro/PB, durante a administração do então prefeito CLIDENOR JOSÉ DA

SILVA, firmou, nos anos de 2006, 2007 e 2008, os Convênios n.º 290/2006,

206/2007 e 946/2008 com o Ministério do Turismo, objetivando a promoção

e o incentivo ao turismo no município de Cacimba de Dentro, por meio do

apoio à realização do evento "São Pedro em Cacimba de Dentro"; (ii) o

Convênio 290/2006 foi liberado em parcela única, através da ordem bancária

n.º 14056, de 29.08.2006, creditado na conta corrente n.º 12.171-1, ag. 1344-

7, Banco do Brasil, tendo a União repassado ao final R$ 75.000,00 (setenta e

cinco mil), enquanto o Município se responsabilizou por contrapartida no

valor de R$ 2.250,00 (dois mil duzentos e cinqüenta reais). O término da

vigência do convênio era em 31 de agosto de 2006; (iii) o Convênio 206/2007

foi liberado em única parcela, por meio da ordem de bancária n.º 2681736, de

17.08.2007, creditado na conta corrente n.º 12.171-7, ag. 1344-7, Banco do

Brasil, tendo a União ao final entregue R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais),

enquanto a Edilidade se responsabilizou por contrapartida no importe de R$

1.500,00 (um mil e quinhentos reais). A vigência do convênio findou em 1.º

de setembro de 2007; (iv) o Convênio 946/2008 foi liberado em 22.09.2008,

tendo a União ao final entregue R$ 100.000,00 (cem mil reais), creditado na

conta corrente n.º 13842-8, ag. 1344-7, Banco do Brasil, enquanto a Edilidade

se responsabilizou por contrapartida no importe de R$ 3.000,00 (três mil

reais). A vigência do convênio findou em 28 de novembro de 2008; (v) as

prestações de contas atinentes aos Convênios n.º 290/2006 e 206/2007 foram

realizadas quase um ano após o prazo legal, todavia apresentando várias

irregularidades técnicas e impropriedades financeiras, conduta, assim, que se

amolda ao art. 10, I, da Lei n.º 8.429/92; (vi) o demandado CLIDENOR

JOSÉ DA SILVA não prestou contas dos recursos referentes aos ao Convênio

946/2008, cujo prazo expirou em 28.12.2008, o que ensejou a instauração de

Tomada de Contas Especial (Processo TCE n.º 72000.02736/2009-70), bem

como, devidamente notificado, não apresentou documentação complementar,

pelo que o município de Cacimba de Dentro foi inscrito no cadastro de

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inadimplentes do SIAFI, o que caracteriza ato ímprobo positivado no art. 11,

VI, da Lei n.º 8.429/92; (vii) acerca do Convênio n.º 290/2006, não consta

documento sobre a execução financeira, ficando patente a irregularidade da

despesa e a afronta à Lei n.º 4.320/64; (viii) ainda sobre o Convênio

290/2006, foram emitidos cheques em datas que não guardam relação com a

execução do convênio; (ix) o promovido CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, na

qualidade de prefeito e ordenador de despesa, deve ser responsabilizado por

ter liberado recursos sem a devida liquidação, conduta esta ímproba tipificada

no art. 10, XI, da Lei n.º 8.429/92; (x) foi reconhecida a inexigibilidade de

licitação na execução de todos os convênios em questão, no entanto inexiste

nos procedimentos referidos qualquer justificativa para a escolha dos entes

empresariais JBS PROMOÇÕES E EVENTOS e EPAE EDNALDO

PROMOÇÕES ARTÍSTICAS E EVENTO; (xi) as bandas Forrozão Vip e

Duquinha e Banda foram fornecidos por ambas as empresas, demonstrando

que não se tratavam de empresários exclusivos ao arrepio do que determina a

Lei n.º 8666/93; (xii) o demandado CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, de

maneira conveniente e dolosa, tornou inexigível licitação, frustrando o caráter

competitivo do certame, logo praticou a conduta descrita no art. 10, inciso

VIII, da Lei n.º 8.429/92; (xiii) EDNALDO DE SOUSA LIMA, representante

da EPAE - EDNALDO PROMOÇÕES ARTÍSTICAS E EVENTOS, e JOSÉ

ERLANDO BATISTA DA SILVA, representante da JBS PROMOÇÕES E

EVENTOS, receberam indevidamente os valores repassados pelo município,

enriquecendo-se ilicitamente, desse modo, incidiram no art. 9.º, XI, da Lei n.º

8.429/92. A inicial foi instruída com Procedimento Administrativo n.º

1.24.001.000134/2009-70 em apenso. A União requereu o seu ingresso no

polo ativo do feito (fls. 32/34) Os demandados foram notificados por carta

precatória para apresentarem manifestação escrita nos termos do § 7.º do art.

17 da Lei n.º 8.429/92 (fls. 46-v, 131 e 122). O demandado EDNALDO DE

SOUSA LIMA apresentou defesa escrita (fls. 48/62), ocasião em que suscitou

como preliminar a incompetência absoluta da Justiça Federal, por inexistir

interesse da União, já que as verbas objeto dos convênios foram incorporadas

ao patrimônio municipal. Em sede meritória, sustentou: (a) ao contrário do

que alega o MPF, o promovido detinha cartas de exclusividade dos artistas

contratados; (b) os artistas contratados são consagrados pelo público daquela

região e a consagração exigida pela lei não precisa necessariamente ser

excepcional com grande extensão territorial; (c) os valores cobrados para a

realização dos shows estão abaixo da média de mercado à época, durante os

festejos juninos; (d) as bandas contratadas atenderam perfeitamente ao que

pretendia a Administração, ficando os turistas e a população local satisfeitos

com as apresentações; (e) o MPF não aponta nos autos qualquer

irregularidade no processo de contratação das bandas; (f) não concorreu para

a prática de ato ímprobo; (g) o autor não obteve êxito em demonstrar que a

parte ré agira com dolo. Requereu, por fim, a rejeição da inicial. O requerido

JORGE ERLANDO BATISTA DA SILVA apresentou manifestação prévia,

assemelhada à acostada por EDNALDO DE SOUSA LIMA (fls. 133/142),

motivo pelo qual se mostra dispensável a descrição da daquela peça. O

demandado CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, por sua vez, em sua resposta

escrita (fls.182/190) instruída com os documentos de fls.192/232, aduziu que:

(a) alegação ministerial está embasada na desaprovação de prestação de

contas ocorrida por questões formais, porém que não ocasionaram efetivo

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dano ao erário; (b) a prestação de contas dos convênios referentes aos anos de

2006 e 2007 foram desaprovadas por falta de entrega de documentos

complementares, quando o promovido a eles não tinha mais acesso; (c) é

público e notório que os eventos foram realizados no município de Cacimba

de Dentro; (d) não está inerte aos fatos relatados, havendo solicitado junto à

Secretaria Executiva da Coordenação de Convênios do Ministério do Turismo

informações acerca da documentação complementar necessária para a

aprovação dos Convênios questionados; (e) para que se possa considerar a

hipótese de existência de improbidade, faz-se necessária a existência de dano

ao erário e a demonstração que o agente tenha agido com má-fé, o que não

ocorreu no caso em tela (fls. 182/190). Por meio da decisão de fls. 239/246,

foi deferido o ingresso da União na lide na qualidade de litisconsórcio ativo,

rechaçada a preliminar de incompetência da Justiça Federal arguida pelo réu

EDNALDO DE SOUZA LIMA e recebida em parte a inicial, ou seja, "apenas

em relação às irregularidades na prestação de contas dos Convênios nº

290/2006 e 206/2007 firmados entre o Município de Cacimba de Dentro/PB

com o Ministério do Turismo, bem como na irregularidade nos

procedimentos de inexigibilidade de licitação nºs 001/2006, 001/2007 e

005/2008" (fl.246). Em razão da instalação da 12.ª VF, os autos foram

redistribuídos a este Juízo (fls. 265 e 274-v). As contestações dos réus JOSÉ

ERLANDO BATISTA DA SILVA, EDNALDO DE SOUSA LIMA e

CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, repousam às fls. 283/292, 295/318 e 344/352,

respectivamente, pelas quais reiteraram os termos das manifestações escritas

de (fls. 133/142, 48/62 e 182/190, respectivamente). O MPF e a União

impugnaram às contestações às fls. 370/372 e fls.375/377, respectivamente.

Às fls. 383/384, este Juízo afastou a preliminar de incompetência da Justiça

Federal, saneando o feito. Devidamente intimados os réus para especificar

provas a produzir (fl. 387), apenas o promovido EDNALDO DE SOUSA

LIMA requereu a produção de prova testemunhal (fls. 389/390). O MPF, por

sua vez, apresentou rol de testemunhas (fls. 404/405). Os pedidos de

produção de prova formulados pelas partes foram deferidos, razão pela qual

foi designada audiência de instrução e julgamento. A oitiva da testemunha

arrolada pela parte ré, José Simplício, repousa às fls. 468/471 - gravada em

mídia. O promovido CLIDENOR JOSÉ DA SILVA colacionou aos autos

novos documentos (fls. 476/498). A audiência de instrução foi realizada,

ocasião em que o MPF, ante a ausência dos réus JORGE ERLANDO

BATISTA DA SILVA e CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, requereu a dispensa

das oitivas respectivas, o que foi deferido pelo Juízo, já que o depoimento

atendia requerimento outrora formulado pelo Parquet. Foi colhido o

depoimento do demandado EDNALDO DE SOUZA LIMA e inquiridas as

testemunhas André Silva dos Santos, Pedro Januário da Silva, Maria José

Guilhermino de Macedo (declarante), Romualdo Fernandes Nicolau,

Franciraldo de Araújo Costa e Fernando Rodrigues do Nascimento, arroladas

pela parte autora, e de Josimar Batista da Silva (declarante) e Hélio Pereira de

Lima, arroladas pela parte ré (fls. 499/514 - gravada em mídia). Por fim,

abriu-se às partes o prazo de cinco dias para a apresentação de alegações

finais. O réu CLIDENOR JOSÉ DA SILVA ofereceu alegações finais às fls.

519/521, ocasião em que arguiu a nulidade processual por cerceamento de

defesa, pois, consoante advoga o demandado, o Juízo deixou de colher o

depoimento do suscitante, apesar de haver deferido outrora a produção de tal

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prova. O MPF, em suas razões derradeiras, sustentou: (i) a impossibilidade de

se reconhecer o cerceamento defesa, porquanto (i.1) as partes foram

intimadas da audiência por meio dos seus patronos, conforme certidão de fl.

408; (i.2) o pedido de depoimento da parte contrária é uma simples faculdade,

podendo ser reavaliado pela parte interessada; e (i.3) o réu apresentou defesa

preliminar e contestou a demanda, exercendo o direito à ampla defesa. No

mérito, com lastro nos fundamentos apresentados na inicial, postulou que seja

reconhecida em parte a pretensão autoral (fls. 524/539). A União alegou em

sede de alegações finais (fls. 545/547): (i) os réus não foram capazes de

refutar os atos de improbidade que lhe foram imputados; (ii) a mera alegação

de inexistência de má-fé e enriquecimento ilícito não se mostra suficiente

para afastar a responsabilidade pelos atos perpetrados pelos promovidos; (iii)

os atos praticados pela parte ré contrariaram os princípios administrativos que

norteiam a atuação dos agentes públicos. O demandado JORGE ERLANDO

BATISTA DA SIILVA aduziu em sua manifestação final (fls. 551/555 e

569/573): a) a contratação das bandas ocorreu em conformidade com o art. 25

da Lei n.º 8.666/93; b) foi procurado pelo município de Cacimba de Dentro

por ser notadamente o responsável pelas bandas contratadas; (c) os grupos

musicais eram consagrados pela opinião pública e amplamente conhecidos na

região; (d) levando-se em consideração o preço informado na proposta, seria

desarrazoado promover um procedimento licitatório em virtude da ausência

de concorrência; (e) apenas participara do certame a convite do Município,

não obtendo qualquer vantagem extraordinário com o contrato firmado, eis

que o serviço foi devidamente prestado; (f) colaborou com o MPF,

entregando-lhe documentos e prestando depoimento, indicativo de boa-fé do

réu; (g) para a configuração da improbidade prevista no art. 10 da Lei n.º

8.429/93, é indispensável dolo ou má-fé e dano ao erário, o que não restou

demonstrado nos autos. Por fim, o réu EDNALDO DE SOUSA LIMA

apresentou alegações finais por meio de petição idêntica à oferecida por

JORGE ERLANDO BATISTA DA SIILVA (fls. 557/561 e 563/567). O

promovido CLIDENOR JOSÉ DA SILVA ofereceu, às 576/591, razões finais

complementares à de fls. 519/521. Vieram os autos conclusos para sentença.

II - FUNDAMENTAÇÃO II.1. PRELIMINARES A parte ré, durante a

evolução processual arguiu duas questões preliminares ao mérito: (i) a

incompetência da Justiça Federal por haver a verba recebida se incorporado

ao patrimônio do município de Cacimba de Dentro; e (ii) o cerceamento de

defesa por ter este Juízo deixado de colher o depoimento do suscitante, apesar

de haver deferido outrora a produção de tal prova. A questão prévia da

incompetência da Justiça Federal foi apreciada e afastada, por meio da

decisão, que recebeu parcialmente a inicial (fls. 239/246), proferida pelo

Juízo de origem (4.ª Vara Federal). A decisão de fls. 383/384, por sua vez,

rejeitou a preliminar de incompetência suscitada nas contestações do réus,

saneando o feito. Trata-se, portanto, de questão já decidida no processo, não

se justificando sua reapreciação nessa fase processual. No que concerne à

alegação de cerceamento de defesa por parte do réu CLIDENOR JOSÉ DA

SILVA, razão não lhe assiste. O depoimento do litigante deve,

obrigatoriamente, ser requerido pela parte adversa do depoente, porquanto se

busca obter com tal instituto a confissão deste. Se apenas o Ministério

Público, na qualidade de parte adversa, pode requerer o depoimento pessoal

do réu, não há dúvida de que também pode dispensar sua oitiva. Em vista

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disso, e considerando que parte não pode requerer o seu próprio depoimento

pessoal, não há que se falar em cerceamento de defesa, Afasto, portanto, a

preliminar de cerceamento de defesa suscitada pelo demandado CLIDENOR

JOSÉ DA SILVA. II.2. MÉRITO Observados os precisos termos da decisão

de fls. 239/246, cumpre analisar, nesta oportunidade, apenas as

"irregularidades na prestação de contas dos Convênios nº 290/2006 e

206/2007 firmados entre o Município de Cacimba de Dentro/PB com o

Ministério do Turismo, bem como na irregularidade nos procedimentos de

inexigibilidade de licitação nºs 001/2006, 001/2007 e 005/2008" (fl.246).

Prestação de contas incompleta relativa aos Convênios n.º 290/2006 e

206/2007 Ao promovido CLIDENOR JOSÉ DA SILVA está sendo imputada

a prática de ato de improbidade administrativa consistente na prestação de

contas incompleta, extemporaneamente, relativas aos Convênios n.º 290/2006

e 206/2007, firmados entre o Município de Cacimba de Dentro e o Ministério

do Turismo, cujo objeto era a promoção e o incentivo ao turismo, mediante o

apoio ao evento "Festejos de São Pedro Fora de Época". O Ministério do

Turismo, por meio do Parecer Técnico de Análise de Prestação de Contas n.º

424/2008, às fls. 57/58 - apenso 2, vol. 1/2, ao analisar a prestação de contas

referente ao Convênio n.º 290/2006, constatou a inexistência de documentos a

permitir a análise do cumprimento do objeto do Convênio indigitado. Fez

menção à ausência de filmagem ou fotografia do evento e da estrutura de

palco; de declaração do convenente, atentando a realização do show; e

declaração de autoridade local diversa do prefeito. Por meio da Nota Técnica

de Análise n.º 545/2008, o ente concedente apontou a presença de inúmeras

impropriedades de natureza financeira na prestação de contas realizada pelo

município de Cacimba de Dentro, às fls. 68/74 - apenso 2, vol. 1/2. O réu

CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, a despeito de comunicado, não sanou as

irregularidades aventadas, conforme indica o Memo. n.º

421/2009/CGCV/DGI/SE/MTur (fls. 57/58 - apenso 2, vol. 1/2). Este último

documento esclarece, ainda, que, ante a inércia do demandado em corrigir as

falhas encontradas na justificação das contas, após ser comunicado através do

Ofício n.º 2253/2008/DGI/SE/Mtur, o qual estava acompanhado do

demonstrativo do débito, o município de Cacimba de Dentro foi inscrito na

"Inadimplência Efetiva". Tais atos, por conseqüência, convergiram na

instauração do procedimento de Tomada de Contas Especial. Resta

demonstrado, portanto, a irregularidade na prestação de contas do Convênio

290/2006, por parte do ex-prefeito CLIDENOR JOSÉ DA SILVA. No que

concerne à prestação de contas do Convênio n.º 206/2007, a sucessão de atos

perpetrados pelo Ministério do Turismo ocorreu de forma assemelhada àquele

acima registrado, em razão do mesmo motivo: a incompletude da justificação

das despesas atinentes à execução do Convênio em comento. Às fls. 46/47 -

apenso 2, vol. 2/2. Ademais, repousa o Parecer Técnico de Análise de

Prestação de Contas n.º 247/2008, pelo qual é destacada a insuficiência de

documentos comprobatórios da realização do evento "Festejos de São Pedro

Fora de Época". No mesmo sentido, consta dos autos Nota Técnica de

Análise n.º 406/2008, que elenca diversas impropriedades na prestação de

contas em questão (fls. 59/67 - apenso 2, vol. 2/2), as quais obstam a

fiscalização dos gastos da Edilidade, consequentemente, a comprovação da

escorreita aplicação dos recursos transferidos. Tais irregularidades ensejaram

a instauração de Tomadas de Contas Especial. É o que se depreende do

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Memo. 420/2009/CGCV/DGI/SE/Mtur (fls. 59/67 - apenso 2, vol. 2/2).

Impende frisar que o prazo de prestação de contas referente à execução dos

Convênios n.º 290/2006 e 206/2007 findou durante o mandato do ora

promovido, logo cabia exclusivamente a ele demonstrar a regular aplicação

dos recursos repassados pela União. A aduzida obrigação de presta contas

caracteriza-se como "ato de ofício", sendo a impropriedade e o atraso na sua

prática a conduta vedada prevista no art. 11, II, da Lei n.º 8.429/92. Há,

inclusive, julgado do Tribunal Regional Federal da 5.ª Região nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE IMPROBIDADE. EX-

PREFEITO DE NOSSA SENHORA DAS DORES-SE. PRELIMINARES

DE NÃO APLICAÇÃO DA LEI Nº 8.429/92 A AGENTES PÚBLICOS

MUNICIPAIS E DE CERCEAMENTO DE DEFESA AFASTADAS.

IRREGULARIDADES NA APLICAÇÃO DE VERBAS FEDERAIS DO

FNS. MÁ-FÉ CARACTERIZADA. ART. 11, CAPUT E II DA LEI Nº

8.429/92. PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E

PROPORCIONALIDADE OBSERVADOS NA APLICAÇÃO DAS

PENAS. 1. Omissis. 2. A constitucionalidade da Lei nº 8.429/92 deriva das

disposições do art. 37, parágrafo 4º, da CF, sendo meio legal hábil para coibir

atos ímprobos dos agentes da Administração Pública nos níveis federal,

estadual e municipal. Referida Lei não padece de inconstitucionalidade, tendo

sido tal diploma legal elaborado de acordo com os ditames constitucionais.

Precedentes (TRF 5, AC 489381/PE, 2ª Turma, Rel. Francisco Barros Dias,

DJE 19/08/2010 e TRF 5, AC 473122/CE, 4ª Turma, Rel. Lázaro Guimarães,

DJE 12/05/2011). Preliminar não acolhida. 3. Omissis. 4. Omissis. 5.

Configura ato de improbidade a constatação de irregularidades no uso de

verbas públicas proveniente do Fundo Nacional da Saúde, com notas de

liquidação com data bem anterior às datas de emissão das notas fiscais, bem

como a ausência de prestação de contas no prazo devido e de forma irregular

(art. 11, caput e II da Lei nº 8.429/92). 6. A sanção aplicada ao réu, de multa

civil, observou estritamente os princípios da razoabilidade e

proporcionalidade em face da gravidade da conduta ímproba praticada

(violação de princípios da Administração Pública e retardar ou deixar de

praticar, indevidamente, ato de ofício). 7. Apelação parcialmente provida.

TRF-5, AC 555743, 3.ª T., Rel. Des. Marcelo Navarro, u., DJE -

Data::06/06/2013 - Página::182. (Grifei). Cumpre observar, ainda, que o

gestor sucessor do município de Cacimba de Dentro/PB relatou em petição

inicial, a qual principiou demanda proposta perante o Juízo da 4.ª Vara

Federal desta Seção Judiciária, que, em virtude da omissão das prestações de

contas atinentes aos Convênios n.º 290/2006 e 206/2007, procedera-se à

inscrição daquela Edilidade na lista de inadimplentes do Governo Federal

(SIAFI), o que ocasionou grandes prejuízos ao Município, eis que

impossibilitou este ente de realizar novos convênios e de receber verbas

federais. Destarte, ante as provas coligidas aos autos, tenho por

suficientemente demonstrado que o réu CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, de

forma dolosa e deliberada, prestou contas, de forma incompleta, fora do prazo

determinado, em relação à execução dos Convênios n.º 290/2006 e 206/2007

firmados com o Município do Turismo, conduta qualificada como ato de

improbidade administrativa nos termos do art. 11, II, da Lei n.º 8.429/92.

Irregularidades nos procedimentos licitatórios O Ministério Público Federal

sustenta, em sua inicial, que o demandado CLIDENOR JOSÉ DA SILVA

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contratou, injustificadamente, sem prévio procedimento licitatório, os entes

empresários EPAE EDNALDO PROMOÇÕES ARTÍSTICAS E EVENTOS,

para a execução dos Convênios n.º 290/2006 e 206/2007, e JBS

PROMOÇÕES E EVENTOS, para a execução do contrato atinente ao

Convênio n.º 946/2008, visto que não detinham a exclusividade das bandas

de forró objeto do contrato, dessa forma, "dispensando" a licitação

indevidamente, conduta esta positivada no art. 10, VIII, da Lei n.º 8.429/92.

Acerca do instituto da inexigibilidade do procedimento licitatório, a Lei n.º

8.666/93 preceitua: Art. 25. É inexigível a licitação quando houver

inviabilidade de competição, em especial: [...] III - para contratação de

profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário

exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião

pública. À luz da regra citada, na hipótese de contratação de profissional do

setor artístico, é imprescindível que, além de se mostrar inviável a

competição, o artista seja consagrado pela crítica especializada ou pela

opinião pública, bem como o contrato seja firmado diretamente ou por meio

de empresário exclusivo, o que afasta a possibilidade de contratação por meio

de empresa intermediária. Desse pensar não diverge a jurisprudência,

observe-se: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INDISPONIBILIDADE DE BENS.

DECISÃO QUE POSTERGOU A ANÁLISE DA LIMINAR EM RAZÃO

DA AUSÊNCIA DE INDÍCIOS DA PRÁTICA DE ATO ÍMPROBO.

CONTRATAÇÃO DE ARTISTAS PARA FESTIVAL CULTURAL POR

MEIO DE EMPRESA INTERMEDIÁRIA. NÃO PREENCHIMENTO DOS

REQUISITOS DE INEXIGIBILIDADE PREVISTOS NO ARTIGO 25, III,

DA LEI DE LICITAÇÃO. RECURSO PROVIDO. 1. A Prefeitura Municipal

de Paranapuã firmou o convênio com o Ministério do Turismo objetivando

recursos públicos para realizar o "1º Festival Cultural de Paranapuã". Ocorre

que a contratação de artistas junto à empresa "M. Sampaio Promoções

Artísticas Ltda" foi celebrado mediante Processo de Inexigibilidade de

Licitação. 2. Para configurar a hipótese de inexigibilidade de licitação

prevista no inciso III, do art. 25, da Lei de Licitações, a contratação dos

artistas deve se dar diretamente com o artista ou através do seu empresário

exclusivo, que é aquele que gerencia o artista de forma permanente. A figura

do empresário exclusivo não se confunde com o mero intermediário na

medida em que este detém a exclusividade limitada a apenas determinados

dias ou eventos. 3. No caso, os atestados firmados pelos representantes legais

dos artistas declaravam que a exclusividade se limitava aos shows do dia 03

ou 04 de maio no 1º Festival Cultural de Paranapuã. 4. Assim, não foram

preenchidos os requisitos do inciso III do art. 25 da Lei nº 8.666/93 uma vez

que a contratação não foi diretamente com os artistas ou através de

empresário exclusivo, mas sim por meio de pessoa interposta. 5 . Quanto ao

periculum in mora, decorre da simples presença do requisito inaugural (fumus

boni iuris), já que a jurisprudência do STJ localiza no § 4º do art. 37 da

Constituição a base irretorquível dessa providência, tão logo seja visível a

verossimilhança das práticas ímprobas. 6. Agravo de instrumento provido

para decretar a indisponibilidade de bens dos agravados. TRF-3, AI 485377,

6.ª T., Rel. Des. Johonsom Di Salvo, u., e-DJF3 Judicial 1 DATA:02/08/2013

..FONTE_REPUBLICACAO. No presente caso, é incontroverso que os réus

EDNALDO DE SOUSA LIMA e JORGE ERLANDO BATISTA DA

Page 8: Ação civil pública de improbidade administrativa

SILVA, empresários individuais titulares das firmas EPAE EDNALDO

PROMOÇÕES ARTÍSTICAS E EVENTOS e JBS PROMOÇÕES E

EVENTOS, respectivamente, intermediaram a contratação das bandas que se

apresentaram na festividade junina "São Pedro em Cacimba de Dentro", nos

anos de 2006, 2007 e 2008, no município de Cacimba de Dentro/PB.

Constam dos autos, contratos firmados entre CLIDENOR JOSÉ DA SILVA,

prefeito municipal à época, EDNALDO DE SOUSA LIMA e JORGE

ERLANDO BATISTA DA SILVA, cujos objetos foram as apresentações das

bandas Forrozão Vip, Banda Stillus, Hélio Teclado, Ferro na Boneca, Izilho e

Banda (fls. 86/88 - apenso 1, volume único), nos dias 07, 08 e 09 de julho de

2006; e as bandas musicais Colo de Menina, Forrozão Vip, Hélio dos

Teclado, Duquinha e Banda, nos dias 06, 07 e 08 de julho de 2007 (fls.

111/112 - apenso 1, volume único), no que toca ao primeiro empresário; e os

artistas Hélio dos Teclados, Forró Pele Morena, Mersinho Sanfoneiro e

Banda, Forró Sacanear, Ezielio Show, Forrozão Vip, Duquinha e Banda,

Desejo de Menina, Cavalo de Pau, Edy Santos e Banda Fogo na Roupa, nos

dias 28, 29 e 30 de junho de 2008, no município de Cacimba de Dentro/PB.

Tais acordos não foram precedidos de licitação, sob a justificativa da

Comissão Permanente de Licitação de que as "Bandas Musicais, acima

citadas, embora não sendo consagrada pela crítica especializada, já que isto

ocorre com os Grupos Musicais, mas as Bandas citadas são consagradas pela

opinião Pública Regional, pela suas notoriedade especialização no ramo, pois

o preceito legal acima referido" (sic) (fls. 86 e 107 - apenso 1, volume único e

fl. 184 dos autos). Ocorre que, na espécie, os promovidos EDNALDO DE

SOUSA LIMA e JORGE ERLANDO BATISTA DA SILVA não

gerenciavam permanentemente as bandas aduzidas alhures. O primeiro réu,

inclusive, colacionou documentos aos autos, nos quais foram atestados pelos

representantes legais dos artistas que a exclusividade em questão limitava-se

a determinados dias já apontados acima (fls. 64/72). A improbidade ganha

contornos mais definidos com o testemunho de Romualdo Fernandes

Nicolau, Pedro Januário da Silva, Fernando Rodrigues do Nascimento e

André Silva dos Santos que, a despeito de integrarem a comissão de licitação

no período entre 2006 2008, demonstraram desconhecer o significado da

expressão "inexigibilidade de licitação" (fls. 499/514 - gravada em mídia), o

que torna evidente que os artistas eram escolhidos exclusivamente pelo ex-

prefeito CLIDENOR JOSÉ DA SILVA. E mais, o funcionário Pedro Januário

da Silva esclareceu que inexistira debate acerca da inexigibilidade por parte

da Comissão de Licitação (fls. 499/514 - 04'00"/04'14" - gravada em mídia).

No mesmo passo, a testemunha Fernando Rodrigues do Nascimento informou

que recebia a documentação toda pronta (fls. 499/514 - 07'44"/07'50" -

gravada em mídia). A Comissão, portanto, atuava apenas para conferir

aparência de legalidade à escolha unilateral dos empresários contratados pelo

promovido CLIDENOR JOSÉ DA SILVA. As provas colacionadas aos autos

demonstram, portanto, que foi indevida a contração dos entes empresários

EPAE EDNALDO PROMOÇÕES ARTÍSTICAS E EVENTOS, para a

execução dos Convênios n.º 290/2006 e 206/2007, e JBS PROMOÇÕES E

EVENTOS, para a execução do contrato atinente ao Convênio n.º 946/2008,

tendo em vista a dispensa indevida do prévio procedimento de licitação. Esta

conduta é qualificada como ato de improbidade administrativa que causa

prejuízo ao Erário pelo art.10, VIII, da Lei nº 8.429/92: "frustrar a licitude de

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processo licitatório ou dispensá-lo indevidamente". Cumpre observar que a

dispensa indevida de licitação, por impedir que a administração pública

contrate a melhor proposta, causa dano in re ipsa, descabendo exigir do autor

da ação civil pública a prova a respeito do tema. Do contrário, seria inócua a

exigência constitucional de contratação mediante prévia licitação pública

(art.37, XXI, CF), visto que o administrador poderia contratar empresa de sua

livre escolha sem sofrer qualquer sanção. Nesse sentido é a jurisprudência do

Superior Tribunal de Justiça, conforme demonstra o seguinte precedente

daquela Corte: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL DE IMPROBIDADE.

INDEVIDA DISPENSA DE LICITAÇÃO. DANO AO ERÁRIO.

RESSARCIMENTO. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO

PÚBLICO. CARACTERIZAÇÃO DE CULPA DA EMPRESA

CONTRATADA. PROVA DO PREJUÍZO. DANO IN RE IPSA.

NECESSIDADE DE PRÉVIO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO,

INACUMULATIVIDADE DE PENAS E IMPOSSIBILIDADE DE

RESTITUIÇÃO INTEGRAL DO QUE FOI RECEBIDO CARENTES DE

PREQUESTIONAMENTO. DISCUSSÃO DOS TEMAS NO VOTO

VENCIDO. SÚMULA 320/STJ. 1. Omissis. 2. Evidenciado no acórdão

recorrido, à luz das circunstâncias fático-processuais descritas pelo Tribunal

de origem, a culpa por parte da empresa contratada sem licitação, cabe a

condenação com base no art. 10 da Lei nº 8.429/1992 e a aplicação das

penalidades previstas no art. 12, II, do mesmo diploma. Precedentes. 3. A

indevida dispensa de licitação, por impedir que a administração pública

contrate a melhor proposta, causa dano in re ipsa, descabendo exigir do autor

da ação civil pública prova a respeito do tema. Precedentes da Segunda

Turma. 4. Omissis. 5. Recurso especial conhecido em parte e não provido.

REsp 817921, Rel. Min. Castro Meira, 2ª Turma, DJe 06/12/2012 Procedente,

portanto, a pretensão de ressarcimento do dano material causado à União no

valor de R$ 231.750.00 (duzentos e trinta e um mil setecentos e cinqüenta

reais), correspondente ao total da verba objeto dos convênios em comento.

Com efeito, resta demonstrado que o demandado CLIDENOR JOSÉ DA

SILVA, de maneira dolosa, tornou inexigível licitação, em afronta ao art. 25,

III, da Lei n.º 8.666/93, ato de improbidade que causou dano ao erário, nos

termos do art. 10, VIII, da Lei n.º 8.429/92, no montante de R$ 231.750.00

(duzentos e trinta e um mil setecentos e cinqüenta reais). Enriquecimento

ilícito dos réus Ednaldo de Sousa Lima e Jorge Erlando Batista da Silva O

Ministério Público atribui aos réus EDNALDO DE SOUSA LIMA e JORGE

ERLANDO BATISTA DA SILVA, a prática do ato ímprobo positivado no

art. 9.º, XI, eis que, segundo o autor, os aduzidos promovidos incorporaram,

aos seus patrimônios verba ou valores integrantes do acervo patrimonial das

entidades, ao receberem indevidamente as quantias atinentes à apresentação

dos artistas na festividade "São Pedro em Cacimba de Dentro", nos anos de

2006 a 2008. O art. 9.º, caput, e XI, da Lei n.º 8.429/92, estabelece: Art. 9°

Constitui ato de improbidade administrativa importando enriquecimento

ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em razão do

exercício de cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas entidades

mencionadas no art. 1° desta lei, e notadamente: [...] XI - incorporar, por

qualquer forma, ao seu patrimônio bens, rendas, verbas ou valores integrantes

do acervo patrimonial das entidades mencionadas no art. 1° desta lei; Na

espécie, apesar de ser incontroverso que aos réus EDNALDO DE SOUSA

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LIMA e JORGE ERLANDO BATISTA DA SILVA foram pagas as quantias

objetos dos convênios em tela, o conjunto probatório não se mostra

suficientemente denso a demonstrar que os demandados EDNALDO DE

SOUSA LIMA e JORGE ERLANDO BATISTA DA SILVA enriqueceram

ilicitamente com os atos ímprobos, acima analisados, perpetrados pelo

litisconsorte passivo CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, uma vez que as

testemunhas foram uníssonas em esclarecer que os artistas contratados se

apresentaram no evento São Pedro em Cacimba de Dentro", nos anos de 2006

a 2008, no município de Cacimba de Dentro/PB. Ademais, as provas

testemunhais coadunam-se com os documentos digitais acostados aos autos,

que demonstram a apresentação dos artistas contratados (fls. 111 e 498).

Impende dissociar, no presente caso, a conduta ímproba praticada pelo réu

CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, ao contratar bandas de forró, mediante ente

empresarial intermediário, impedindo o procedimento concorrencial, que se

enquadra nos tipos do art. 10, VIII, da Lei n.º 8.429/92, da atuação dos

empresários demandados que prestaram o serviço, objeto dos contratos

firmados. Em verdade, no que toca ao elemento subjetivo, as produzidas nos

autos não são suficientes para evidenciar a existência de conluio entre o ex-

prefeito e os empresários, mormente destes, para fins de enriquecimento

ilícito mediante a dispensa indevida da licitação, principalmente tendo em

conta de que a obrigação contratual foi integralmente adimplida. Ante tal

contexto, não ficou demonstrada a presença do elemento subjetivo - no caso,

o dolo - requisito essencial para a caracterização do ato de improbidade

administrativa na modalidade de enriquecimento ilícito. É caso, portanto, de

reconhecer a improcedência do pedido ministerial no que concerne à

condenação dos promovidos EDNALDO DE SOUSA LIMA e JORGE

ERLANDO BATISTA DA SILVA. Estando caracterizado o ato de

improbidade administrativa imputado ao réu, CLIDENOR JOSÉ DA SILVA,

devem ser aplicadas as sanções previstas no art. 12, inciso II da mencionada

Lei n.º 8.429/92, com observância do disposto no parágrafo único do referido

artigo. Ressalte-se que as sanções em questão devem ser aplicadas com base

nos seguintes critérios: o princípio da proporcionalidade, correlacionando-se

a natureza da conduta de improbidade e a penalidade imposta; a extensão do

dano eventualmente causado e o proveito patrimonial possivelmente obtido

pelo agente; a intensidade do dolo ou da culpa do agente; a reincidência do

agente, as circunstâncias do fato. Antes da definição das sanções aplicáveis

ao caso, observo que o réu CLIDENOR JOSÉ DA SILVA não mais exerce o

mandato de prefeito do município de Cacimba de Dentro/PB, cargo

atualmente ocupado por Edmilson Gomes de Souza. Ante tal circunstância,

não há como aplicar a sanção de perda da função pública. III -

DISPOSITIVO Ante o exposto, rejeito as preliminares suscitadas pelos réus

e, no mérito, julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para condenar

apenas o réu CLIDENOR JOSÉ DA SILVA, pela prática da conduta prevista

no art. 10, VIII e art. 11, II, da Lei n.º 8.429/92, nos termos do art. 12, II, da

Lei referida, às seguintes sanções: a. suspensão dos direitos políticos por 5

(cinco) anos; b. ressarcimento integral do dano causado ao Erário, no

montante de R$ 231.750.00 (duzentos e trinta e um mil setecentos e

cinqüenta reais), corrigido monetariamente, a partir da data do repasse da

verba, e acrescidos de juros de mora, a partir da citação, nos termos do

Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na Justiça Federal;

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c. pagamento de multa civil no valor de R$ 231.750.00 (duzentos e trinta e

um mil setecentos e cinqüenta reais), corrigido monetariamente, a partir da

data do repasse da verba, e acrescidos de juros de mora, a partir da citação,

nos termos do Manual de Orientação de Procedimentos para os Cálculos na

Justiça Federal; d. proibição de contratar com o Poder Público ou receber

benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda

que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo

prazo de 5 (cinco) anos. Condeno o réu CLIDENOR JOSÉ DA SILVA ao

pagamento das custas processuais devidas. Observando absoluta simetria de

tratamento, é incabível a condenação do réu vencido ao pagamento de

honorários advocatícios ao MPF, visto que o Ministério Público, em sede de

ação civil pública, somente é condenado ao pagamento de honorários é caso

de comprovada e inequívoca má-fé. Nesse sentido: STJ, EREsp 895530, Rel.

Min. Eliana Calmon, 1ª Seção, DJe 18/12/2009. Após a certificação do

trânsito em julgado: a. oficie-se ao Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba

para fins de ciência da suspensão dos direitos políticos do réu; b. oficiem-se à

Administração Federal, ao Tribunal de Contas da União - TCU; ao Tribunal

de Contas do Estado da Paraíba; ao Banco Central do Brasil - BCB; ao Banco

do Brasil S/A; à Caixa Econômica Federal - CEF; e ao Banco do Nordeste do

Brasil - BNB, dando notícia desta sentença, para que eles observem a

proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou

incentivos fiscais ou de creditícios, pelo prazo de 05 (cinco) anos; c.

providencie-se o cadastramento deste processo na página do Conselho

Nacional de Justiça - CNJ na internet, no Cadastro Nacional de Condenações

Cíveis por Ato de Improbidade Administrativa. Publique-se. Registre-se.

Intimem-se. Guarabira/PB, 21 de agosto de 2013. TÉRCIUS GONDIM

MAIA Juiz Federal Titular 12ª VF/SJPB aan JUSTIÇA FEDERAL SEÇÃO

JUDICIÁRIA DA PARAÍBA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE GUARABIRA

12.ª Vara Federal da Seção Judiciária da Paraíba PROCESSO Nº. 0000359-

23.2011.4.05.8201 20