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ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANÇA PÚBLICA GERÊNCIA DE ENSINO POLICIAL MILITAR UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS VICE-REITORIA DE PÓS GRADUAÇÃO E PESQUISA COORDENAÇÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU CONVÊNIO – UCG/SSPJ AÇÕES PREVENTIVAS COM VISTAS AO GERENCIAMENTO DE CRISES MAR CO AURELIO ALVES DE ARAUJO JOVAIR FERNANDES DA CUNHA

Ações Preventivas Com Vistas Ao Gerenciamento de Crises

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Ações Preventivas Com Vistas Ao Gerenciamento de Crises

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ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANA PBLICA

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ACADEMIA ESTADUAL DE SEGURANA PBLICA

GERNCIA DE ENSINO POLICIAL MILITAR

UNIVERSIDADE CATLICA DE GOIS

VICE-REITORIA DE PS GRADUAO E PESQUISA

COORDENAO DE PS-GRADUAO LATO SENSU

CONVNIO UCG/SSPJ

AES PREVENTIVAS COM VISTAS AO GERENCIAMENTO DE CRISES

MARCO AURELIO ALVES DE ARAUJO

JOVAIR FERNANDES DA CUNHA

GOINIA GO

Agosto 2004 / 25MARCO AURELIO ALVES DE ARAUJO

JOVAIR FERNANDES DA CUNHA

AES PREVENTIVAS COM VISTAS AO GERENCIAMENTO DE CRISES

Artigo Cientifico elaborado no Curso de Especializao em Direito-Concentrao em Segurana Pblica, coordenado pelo convnio Universidade Catlica do Estado de Gois/Superintendncia da Academia Estadual de Segurana Pblica do Estado de Gois, sob orientao do Professor Eurpedes Barsanulfo de Lima, como requisito para concluso final do curso.

GOINIA-GO

Agosto 2004 25

MARCO AURELIO ALVES DE ARAUJO

JOVAIR FERNANDES DA CUNHA

AES PREVENTIVAS COM VISTAS AO GERENCIAMENTO DE CRISES

MARCO AURELIO ALVES DE ARAUJO

Coronel da Polcia Militar do Estado de Gois, Bacharel em Direito, ps-graduado em Segurana Pblica pela PMGO (lato sensu). Comandante da 8Companhia Independente de Policia Militar. Comandante do 2 Batalho de Polcia Militar em Rio Verde, Gois. Comandante do 8 Comando Regional da Polcia Militar.

JOVAIR FERNANDE DA CUNHA

Tenente Coronel da Policia Militar do Estado de Gois. Bacharel em Direito. Especializao em Direito Constitucional e Direito Administrativo. Ps-graduado em segurana Pblica pela APMGO, (lato sensu). Chefe de Sees, Comandante de Pelotes, Sub-comandante de Batalhes, Comandante do 15 Batalho de Polcia Militar, sediado na cidade de Jata e Sub-comandante do 8 Comando Regional da Polcia Militar na Cidade de Rio Verde-GO.

Goinia-GO

Agosto 2004 25FOLHA DE APROVAO

Ttulo: AES PREVENTIVAS COM VISTAS AO GERENCIAMENTO DE CRISESPs-Graduados: Marco Aurlio Alves de Arajo

Jovair Fernandes da Cunha

Data: Goinia-Go., 25 de agosto de 2004

______________________________

EURIPEDES BARSANULFO LIMA

Professor Orientador

DEDICATRIAS

A minha querida esposa Kethy e ao meu amado filho Matheus, principal razo do meu bem viver, os meus sinceros agradecimentos e desculpas pelos momentos de preocupao por mim proporcionado, durante as viagens de Rio Verde a Goinia no transcorrer do Curso de Especializao em Segurana Pblica.

Marco Aurlio Alves de Araujo

Dedico este trabalho a minha esposa e filhos, os quais so as razes da minha existncia. Aos meus pais e irmos, chefes e comandados que de certa forma torce pelo nosso sucesso. Aos companheiros de trabalho, que no dia a dia tem nos auxiliados com dedicao e competncia, contribuindo assim para o engrandecimento de nossa pessoa.

Jovair Fernandes da Cunha

AGRADECIMENTO

Agradecemos ao supremo legislador do universo por nos ter dado sade. Aos nossos anjos de guarda que nos guardou dos perigos nas estradas onde percorremos mais de 60 mil quilmetros para freqentarmos este curso.

Agradecemos tambm as nossas esposas e filhos pela compreenso de nossas ausncias. Aos professores, coordenadores e colegas de curso pelo tempo alegre e proveitoso em que passamos juntos, dando-nos oportunidade de um maior aprendizado.

Em especial a Policia Militar do Estado de Gois pela oportunidade do nosso crescimento profissional e doutrinrio e sempre ocasionar em melhor qualidade dos nossos servios prestados a nossa sociedade.

RESUMOARAJO, Marco Aurlio Alves de & CUNHA, Jovair Fernandes da. Aes Preventivas com vistas ao Gerenciamento de Crises. Goinia: Universidade Catlica de Gois, 2004. 25p. (Artigo Cientfico Direito)O estudo para a realizao do artigo cientfico foi efetuado no Campus Universitrio da FESURV, Rio Verde-GO, por meio de bases de dados eletrnicos e on-line, assim como em bibliotecas particulares, tambm na cidade de Rio Verde (GO), onde foram pesquisadas as questes que envolvem o gerenciamento de crises, alm de programas desenvolvidos atravs das experincias nas cidades de Jata e Rio Verde, como comandantes de unidades da Polcia Militar do Estado de Gois. O mtodo de pesquisa adotado foi o hipottico dedutivo, ou seja, atravs da anlise do caso abstrato para o caso concreto, empregando-se o procedimento de dissertao. Nos resultados e discusso, verificou-se que a crise na Segurana Pblica se faz com homens bem treinados e preparados, alm de um nmero suficiente de viaturas nas ruas, pois, do contrrio, a segurana sempre ser insatisfatria. No gerenciamento de crises o planejamento essencial, objetivando contornar os obstculos e utilizar a melhor estratgia em caso de concretizao da crise. Assim, quando ocorre uma crise, no importa sua magnitude, as funes crticas do Estado se vem gravemente afetadas. O impacto sobre as pessoas e nos negcios do Estado depende de quo preparado est o Estado para responder crise ou emergncia. A crise no-seletiva, ou seja, nenhuma comunidade esta imune a ela e a polcia deve prever a ocorrncia de uma crise em sua rea de atuao, devendo toda a organizao policial estar preparada para enfrentar um evento crtico. Dessa maneira, o gerenciamento das crises dever ser realizado por policiais preparados, que agiro de acordo com procedimentos preestabelecidos e que foram simulados de forma repetida, objetivando a preservao de vidas e a aplicao da lei. de suma importncia a organizao policial estar capacitada para o gerenciamento de crises, priorizando a negociao, pois a sociedade tem uma expectativa quanto resoluo do problema e cobra a ao adequada, sempre com a preservao da vida. Assim, todo plano de segurana deve contemplar quatro fatores: a) proteo s vidas humanas; b) proteo propriedade; c) anulao da ameaa; e d) recuperar e estudar as ameaas e evidncias.

ABSTRACTARAJO, Marco Aurlio Alves of & it COINS, Jovair Fernandes of the. Preventive actions with views to the Administration of Crises. Goinia: Catholic university of Gois, 2004. 25p. (Scientific article - Right)

The study for the accomplishment of the scientific article was made at the Academical Campus of FESURV, Rio Green-GO, through bases of electronic data and on-line, as well as in private libraries, also in the city of Green Rio (GO), where they were researched the subjects that involve the administration of crises, besides programs developed through the experiences in the cities of Jata and Rio Verde, as Colonel of the military police of the State of Gois. The research method adopted it was the hypothetical deductive, in other words, through the analysis of the abstract case for the concrete case, being used the dissertation procedure. In the results and discussion, it was verified that the crisis in the Public Safety is done well with men and prepared, besides an enough number of vehicles in the streets, because, otherwise, the safety will always be unsatisfactory. In the administration of crises the planning is essential, aiming at to outline the obstacles and to use the best strategy in case of materialization of the crisis. Like this, when it happens a crisis, it doesn't import your magnitude, the critical functions of the State if they see seriously affected. The impact on the people and in the businesses of the State it depends of how prepared it is the State to answer to the crisis or emergency. The crisis is no-selective, in other words, any community this immune one to her and the police should foresee the occurrence of a crisis in your area of performance, owing the whole organization policeman to be prepared to face a critical event. Of that it sorts things out, the administration of the crises should be accomplished by prepared policemen, that will act in agreement with preset procedures and that they were simulate in a repeated way, aiming at the preservation of lives and the application of the law. It is of highest importance the organization policeman to be qualified for the administration of crises, prioritizing the negotiation, because the society has an expectation with relationship to the resolution of the problem and you/he/she collects the appropriate action, always with the preservation of the life. Like this, all glides of safety it should contemplate four factors: the) protection to the human lives; b) protection to the property; c) annulment of the threat; and d) to recover and to study the threats and evidences.

SUMRIO

RESUMO....................................................................................................................7

ABSTRACT................................................................................................................8

LISTA DE ABREVIATURAS...................................................................................9

1 - INTRODUO.....................................................................................................11

2 - GERENCIAMENTO DE CRISES........................................................................13

2.1 - Conceitos de crise e de gerenciamento de crises A Segurana Pblica..........13

2.2 - O gerenciamento de crises na legislao brasileira e no Estado de Gois..........15

2.3 - As caractersticas das crises e o gerenciamento tcnico.....................................19

2.4 A execuo dos trabalhos no gerenciamento de crises......................................22

3 - EXPERINCIAS DESENVOLVIDAS NA REA DO 8. CRPM.....................24

4 - CONCLUSES....................................................................................................32

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS........................................................................34

LISTA DE ABREVIATURAS

CRPM................................................................................Comando Regional de Polcia Militar

GSIPR...................................Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica

SAEI....................................................Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais

CDN...............................................................................................Conselho de Defesa Nacional

CREDEN......................................................Cmara de Relaes Exteriores e Defesa Nacional

BPM...................................................................................................Batalho de Polcia Militar

CPU..................................................................................Comandante do Policiamento Urbano

PM........................................................................................................................Policial Militar

PPM............................................................................................................Posto Policial Militar

GPT............................................................................................Grupo de Patrulhamento Ttico

1 - INTRODUO

A tenso social decorrncia da insatisfao de um interesse, principalmente quando essa insatisfao decorre da resistncia de algum, sendo importante que os conflitos sejam eliminados e encontrados a paz social, escopo do Estado.

importante, frisar, porm, que os conflitos, no so mais apenas individuais, entre Caio e Tcio. Os conflitos podem envolver direitos que dizem respeito a uma coletividade de pessoas ou indeterminadamente a todas s pessoas.

Dentro da atual sociedade so cada vez mais freqentes as leses em massa, ou seja, as leses que violam direitos de pessoas que, em princpio so indeterminadas, fazendo surgir conflitos de massa, que devem ser solucionados atravs de mecanismos diferentes, com uma organizao que apresente meio capaz de resolver satisfatoriamente os problemas, interrompendo a crise que gerou a intranqilidade social.

cada vez mais comum a criao de gabinete destinado ao gerenciamento de crises, seja em empresas privadas ou no setor pblico, sendo esta definida como um evento ou situao crucial que exige uma resposta especial, a fim de assegurar uma soluo aceitvel. Por sua vez, gerenciamento de crises o processo de identificar, obter e aplicar os recursos necessrios antecipao, preveno e resoluo de uma crise.

Gerenciamento de Crises , na verdade, um tema muito atual e, por isso mesmo, o presente trabalho objetiva traar uma nova apresentao do gerenciamento de crises no mbito da Segurana Pblica, com seus naturais desdobramentos no mbito do 8. CRPM.

Diante desse quadro, a inteno deste artigo cientfico ser a de analisar o conceito de crise e de gerenciamento de crise no mbito da Segurana Pblica, com especial nfase para os trabalhos da polcia militar desenvolvidos na rea circunscricional do 8. Comando Regional de Polcia Militar, traando seus fundamentos jurdicos, seu histrico e sua evoluo legislativa, bem como expondo suas principais caractersticas.

O assunto ser tratado de forma clara e objetiva. As questes sobre o gerenciamento de crises sero analisadas com fundamento em estudos desenvolvidos por renomados juristas que discorrem sobre o assunto, facilitando o entendimento dos que esto iniciando a pesquisa do tema.

No primeiro captulo, o estudo cuidar do gerenciamento de crises na legislao brasileira, bem como sero analisados os conceitos jurdicos de crise e de gerenciamento de crises, suas formas e modos de execuo dos trabalhos. No captulo sobre experincias desenvolvidas na rea do 8. CRPM, o artigo cientfico ir tratar das diversas experincias realizadas nas cidades de Jata e Rio Verde, no Estado de Gois, que enaltecem a organizao para o combate s crises e, por conseguinte, realizam a manuteno da democracia. Por fim, na concluso, confirmar-se- a necessidade de organizao para extinguir as crises e seus efeitos.2 GERENCIAMENTO DE CRISES

2.1 Conceitos de crise e de gerenciamento de crises a Segurana Pblica

COSTA (2003, Internet) escreve que crise um evento crtico, penoso, danoso, difcil e portanto exige uma resposta especfica. E o gerenciamento de crises consistes, segundo o Autor, em controlar o problema e tudo o que gira em torno de seu permetro, inclusive seus desdobramentos (COSTA, 2003, Internet).

ALEMANO & ELMIR (1996, p. 9), afirmam que a palavra crise vem do latim crisis, atravs do grego kpioig.

Atravs de uma definio legal, o Gabinete de Gerenciamento de crise do Estado do Cear, diz que:

Crise todo o incidente ou situao crucial no rotineira, que exija uma resposta especial da Polcia, em razo da possibilidade de agravamento conjuntural, inclusive com risco de vida para as pessoas envolvidas, e que possa manifestar-se atravs de motins em presdios, assaltos a bancos com refns, seqestros, atos de terrorismo, tentativas de suicdio, ocupao ilegal de terras, bloqueios de estradas, dentre outras ocorrncias de vulto, surpreendendo as autoridades e exigindo uma postura imediata das mesmas, com emprego de tcnicas especializadas.

O Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica, ligado ao Ministrio da Justia, afirma que:

Crise o fenmeno complexo, de diversas origens possveis, internas ou externas ao pas, caracterizado por um estado de grande tenso, com elevada probabilidade de agravamento e risco de srias conseqncias, no permitindo que se anteveja com clareza o curso de sua evoluo.

Com efeito, crise um evento crtico, que exige uma resposta especfica, qual no se tem controle sobre o seu desdobramento, tendo o gabinete de gerenciamento de crises a funo de identificar a possibilidade de ocorrer a crise, criar um grupo para trabalhar na sua soluo e treinar as pessoas para cada funo, caso esta ocorra.

Para a segurana pblica, a crise possui uma identidade diferente da aplicada no meio empresarial. Uma crise no precisa ser necessariamente um transtorno para organismos de segurana da empresa, podendo ser materializada em qualquer problema que afete a organizao empresarial. Contudo, na essncia, os mtodos de trabalho e desenvolvimento so idnticos, isto , identificar a possibilidade de ocorrer a crise, criar um grupo para trabalhar na sua soluo e treinar as pessoas para cada funo.

Na segurana pblica o gerenciamento de crises um processo amplo, onde o Estado busca identificar os possveis locais de ecloso de crises e obter os recursos humanos e materiais para sua preveno e resoluo, se necessrio. O Estado, antecipando e prevenindo a ocorrncia de crise, mantm preparados policiais com formao tcnica, assim como equipamentos adequados para aplicao ao caso concreto e especfico.

Veja-se que remdios falsificados, alimentos deteriorados, produtos com defeitos podem conduzir uma empresa ao seu falecimento. Da mesma forma, rebelies em presdios, seqestros, combates armados no campo e nas cidades podem impelir o Estado h uma tenso social que poder afetar a credibilidade nas instituies governamentais e, por conseguinte, a prpria democracia.

Assim, fundamental ao Estado a implementao do gabinete de gerenciamento de crises. O Decreto n. 3.897, de 24 de agosto de 2001, fixa as diretrizes para o emprego das Foras Armadas na garantia da lei e da ordem, dispondo que constitui incumbncia do Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica prevenir a ocorrncia e articular o gerenciamento de crises, inclusive, se necessrio, ativando e fazendo operar o Gabinete de Crise.

Portanto, o gerenciamento de crises nada mais do que a articulao de um grupo de pessoas que juntas tomaro decises coordenadas em resposta contingncias ocorridas contra a integridade fsica ou a liberdade de uma pessoa, ou que ameacem as instituies do Estado.

2.2 O gerenciamento de crises na legislao brasileira e no Estado de Gois.

O gerenciamento de crises um aspecto importante na legislao brasileira. As principais crises, reconhecidas na Constituio Federal de 1988, revelam ser aquelas que do fundamento aos decretos do estado de defesa e estado de stio, conforme artigos 136 e 137, respectivamente.

De fato, prev o artigo 136, da Constituio Federal, que:

O Presidente da Repblica pode, ouvidos o Conselho da Repblica e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de defesa para preservar ou prontamente restabelecer, em locais restritos e determinados, a ordem pblica ou a paz social ameaadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes propores na natureza.

Por sua vez, o artigo 137, da Constituio Federal, estabelece que:

Art. 137. O Presidente da Repblica pode, ouvidos o Conselho da Repblica e o Conselho de Defesa Nacional, solicitar ao Congresso Nacional autorizao para decretar o estado de stio nos casos de:

I - comoo grave de repercusso nacional ou ocorrncia de fatos que comprovem a ineficcia de medida tomada durante o estado de defesa;

II - declarao de estado de guerra ou resposta agresso armada estrangeira.

O Decreto n. 3.897, de 24 de agosto de 2001, regulamentando as diretrizes para o emprego das Foras Armadas na garantia da lei e da ordem, determina que:

Art. 7 Nas hipteses de emprego das Foras Armadas na garantia da lei e da ordem, constitui incumbncia:

...................................................................................................................

II - do Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica:

...................................................................................................................

c) prevenir a ocorrncia e articular o gerenciamento de crises, inclusive, se necessrio, ativando e fazendo operar o Gabinete de Crise;

Assim, estado de defesa e estado de stio so situaes em que se organizam medidas destinadas a debelar ameaas ordem pblica ou paz social, mediante a atuao do Gabinete de Crise, que objetiva, inicialmente, prevenir a ocorrncia das crises e, posteriormente, se necessrio, ativar as medidas repressivas para fazer cess-las (SILVA, 1995, p. 695).

A Portaria GSIPR n. 24, de 7 de agosto de 2003, que aprova os Regimentos Internos do Gabinete da Subchefia Militar e da Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais do Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica, determina que:

ANEXO III.

REGIMENTO INTERNO DA SECRETARIA DE ACOMPANHAMENTO E ESTUDOS INSTITUCIONAIS

CAPTULO I

DA COMPETNCIA

Art. 1 Secretaria de Acompanhamento e Estudos Institucionais - SAEI, compete:

...................................................................................................................

VI - acompanhar o andamento de propostas de edio de instrumentos legais e jurdicos, em tramitao na Presidncia da Repblica, relacionados com o gerenciamento de crise e com o assentimento prvio;

VII - elaborar estudos e propor medidas para aumentar a eficincia das estruturas envolvidas no gerenciamento de assuntos relacionados com as competncias do CDN e da CREDEN;

VIII - articular rgos e instituies para prevenir ocorrncia de crise e coordenar o gerenciamento de crises, em caso de grave e iminente ameaa estabilidade institucional;

...................................................................................................................

CAPTULO III

DAS COMPETNCIAS DAS REAS

...................................................................................................................

Art. 4 rea de Acompanhamento compete:

V - acompanhar o andamento de propostas de edio de instrumentos legais e jurdicos, em tramitao na Presidncia da Repblica, relacionados com o gerenciamento de crise;

VI - providenciar a convocao dos membros e organizar os meios necessrios realizao das reunies do CDN e da CREDEN;

VII - manter o banco de dados e atualizar a carta de situao da SAEI, priorizando os temas selecionados como crticos;

VIII - apresentar uma abordagem do assunto aos representantes dos ministrios e rgos envolvidos no gerenciamento de crise, em sua fase preventiva; ...

Extra-se desta Portaria GSIPR n. 24, de 7 de agosto de 2003, que o Estado busca combater as crises mediante atuaes preventivas e repressivas. As primeiras, consistentes na elaborao de legislao especfica, na elaborao de estudos e propostas de medidas para aumentar a eficincia das estruturas envolvidas no gerenciamento de crises, bem como articulando rgos e instituies para prevenir ocorrncia de crise, alm de manter atualizado o banco de dados de situaes crticas e apresentando uma abordagem do assunto aos representantes dos ministrios e rgos envolvidos no gerenciamento de crises em sua fase preventiva. As segundas, repressivamente, coordenando o gerenciamento de crises mediante o fornecimento de informaes essenciais s negociaes.

Como enfatiza SANT`ANNA (1999, p. 12):

Gerenciamento de crise no uma cincia exata, uma panacia ou um processo rpido e fcil de soluo de problemas, pois cada crise apresenta caractersticas nicas, exigindo, portanto, solues individualizadas, que demandam uma cuidadosa anlise e reflexo. Crise mal gerenciadas podem acarretar problemas de responsabilidade civil para o Estado, especialmente nos casos em que ocorrem a morte de refns. A crise no-seletiva e inesperada. Em outras palavras, ningum esta imune ocorrncia de uma crise em sua rea de atuao e tampouco pode prever quando esse evento vai ocorrer. Sendo assim toda e qualquer organizao policial h que estar adremente preparada para o enfrentamento da um evento crtico. Essa ao, onipresente principalmente em conjunturas de liberdades democrticas, faz com que os erros por ventura cometidos pelos rgos de segurana no gerenciamento de uma crise sejam vistos sob uma lente de aumento. Alm disso, a ampla divulgao de tais erros causa um desgaste da confiana do pblico na organizao policial e um constrangimento natural dentro da prpria polcia.

No Estado de Gois, regulamentao da matria surgiu em agosto de 2002, com o Decreto Estadual n. 5.642, que dispe sobre a criao da comisso de gerenciamento de crise, sendo a disciplina de Gerenciamento de Crises includa nos cursos de formao de policiais a menos de cinco anos.

Determina o Decreto Estadual n. 5.642/2002, que:

Art. 1. Fica criada a Comisso de Gerenciamento de Crises, subordinada ao Secretrio da Segurana Pblica e Justia, com a finalidade de gerenciar e buscar solues legais s crises de natureza policial, porventura advindas do sistema de segurana pblica do Estado.

Art. 2. A Comisso de Gerenciamento de Crises ser presidida pelo Secretrio da Segurana Pblica e Justia e composta pelo Comandante-Geral da Polcia Militar, Diretor-Geral da Polcia Civil e por um Delegado de Polcia Civil e um Oficial da Policial Militar, ambos com formao em curso de gerenciamento de crises.

Dessa forma, no Estado de Gois, a Comisso de Gerenciamento de Crises encontra-se subordinada ao Secretrio da Segurana Pblica e Justia, tendo como objetivo buscar solues legais s crises de natureza policial, porventura advindas do sistema de segurana pblica do Estado.

O aparato legal que objetiva ordenar o gerenciamento de crises no obsoleto, como podem pensar os menos desavisados, ao contrrio, ao utilizar o Gabinete de Gerenciamento de Crises, o Estado est demonstrando ao agressor que se encontra apto a responder toda e qualquer agresso que venha a se configurar como anormal aos padres estabelecidos pela sociedade, e tornando clara a sua disposio em reprimir cada quebra de conduta causadora de dano vida ou s suas instituies.

2.3 As caractersticas das crises e o gerenciamento tcnico

As crises possuem as seguintes caractersticas: a) repentinas; b) srias; c) rpidas; e, d) sensacionalistas. Em regra, as crises so repentinas, isto , no h como prever ou antecipar sua ocorrncia, razo pela qual, apesar de sbitas, a trabalho prvio de informaes essencial para evit-la ou ameniz-la. So geralmente srias, envolvendo o risco de vidas ou o equilbrio das instituies governamentais. Em princpio, so rpidas, pois desencadeiam situaes que se dinamizam velozmente e com caractersticas transitrias. So sensacionalistas, pois a viso do evento que a mdia repassa ao pblico emotiva e pode repercutir negativamente em ocorrendo erro no procedimento de gerenciamento da crise.

Assim, a crise no precisa ser necessariamente um transtorno para organismos de segurana, porquanto pode ser qualquer problema que afete a organizao, como exemplo, um seqestro, uma rebelio em presdio, fechamento de rodovias, embates nas reintegraes de posse, etc. Ademais, h problemas que podem ser resolvidos aplicando medidas protocolares comuns e o resultado ser perfeitamente previsvel, enquanto, h outros que no, como queles que se utilizam da influncia da mdia na opinio pblica.

Para o gerenciamento de crises necessria uma mnima organizao para que se permita identificar as pessoas que detm o poder de deciso. Em geral, recomenda-se que o Gabinete de Crises seja composto por quatro pessoas que devem ter o poder de deciso, possuir grande domnio emocional e, de acordo com o problema, mudar algum de seus membros para melhor adequar suas solues.No caso do Gabinete de Crises do Estado de Gois, como assinalado anteriormente, a Comisso de Gerenciamento de Crises ser presidida pelo Secretrio da Segurana Pblica e Justia e composta pelo Comandante-Geral da Polcia Militar, Diretor-Geral da Polcia Civil e por um Delegado de Polcia Civil e um Oficial da Policial Militar.

A especializao da coordenao do Gabinete de Crises exigida em virtude de que a reao deve ser imediata e direta, pois uma resposta rpida pode salvar a vida de pessoas, assim como pelo fato de que a alta direo da equipe de gerenciamento de crises precisa dos fatos rapidamente para responder de forma apropriada e eficiente.

Portanto, como j ocorre no Estado de Gois, o coordenador do grupo de gerenciamento de crises deve ser o Secretrio da Segurana Pblica, que acompanhado dos demais integrantes da Comisso de Gerenciamento de Crises poder concorrer com decises diretas para a soluo do evento crtico. Alm destes, aconselha-se que faa parte do Gabinete de Crises pessoas ligadas ao departamento jurdico (Procuradoria), bem assim de especialistas da rea, como negociantes, engenheiros (estudo de plantas e estruturas), etc., em cada caso especfico.

COSTA (2003, Internet), analisando o crime de extorso mediante seqestro e o gerenciamento de crises, afirma que:

Algumas vantagens so perceptveis ao adotar-se esse tipo de gerenciamento:

O evento ser tratado de forma profissional por pessoas experientes no assunto e no influenciadas pelo stress, o que permite calcular os riscos e medidas durante o gerenciamento;

Possibilita a utilizao de alternativas tticas para a soluo, que sejam boas para a instituio e vtimas e ruim para os criminosos. O processo de negociao (primeira alternativa ttica) pode ser realizado por integrantes da instituio em conjunto com a polcia. Outros so de competncia exclusiva da polcia;

Atravs da adoo do Gerenciamento Tcnico, o tipo de modalidade de crime tende a se reverter. Isso porque os criminosos procuram lucro fcil, rpido e sem trabalho, e o processo de Gerenciamento Tcnico pode ser altamente desgastante. Na maioria das vezes, esses bandidos abandonam o evento e so forados a pensar em outra modalidade de ataque, pelo risco da extorso mediante seqestro.

Assim, to logo uma situao de emergncia seja estabelecida, ter-se- um plano, o qual ser aplicado, sendo que todos esto bem treinados naquilo que tem que ser feito.

Escreve BRASILIANO (2003, Internet) que:

Os benefcios do planejamento de contingncia (olhar para o futuro na tentativa de antecipar acontecimentos) validaram-no como uma importante ferramenta para qualquer organizao ou instituio que precise planejar sua sobrevivncia em caso de um evento adverso. Um aspecto especial do planejamento de contingncia efetivo o desenvolvimento de exerccios simulados, os quais propiciam aos participantes a mais prxima dramtica experincia no confronto e no manejo de ocorrncia grave ou uma real crise.

No h dvidas de que a inobservncia destes aspectos tcnicos poder trazer riscos indesejveis para as operaes no gerenciamento de crises. Hoje, com as experincias pregressas de casos concretos em todo o mundo, pode-se dizer, com certeza, que a utilizao de policiais sem treinamento especfico, de acordo com cada caso concreto, uma opo de alto risco no gerenciamento de crises.

Portanto, obrigao do Estado fornecer os meios necessrios para o treinamento contnuo das equipes que compem a Comisso do Gerenciamento de Crises, sob pena de arcar com resultados indesejveis e extremamente prejudiciais reputao da polcia e do Estado.

2.4 A execuo dos trabalhos no gerenciamento de crises

Os trabalhos do Gabinete de Gerenciamento de Crises devem iniciar antes da ecloso da crise, isto , devem comear com as simulaes dos eventos. A equipe precisa conseguir nestas simulaes a superao em relao a tudo aquilo que adverso. Por esta razo, o tempo de reao em uma crise a coluna mestra do resultado satisfatrio. Na verdade, a simulao auxilia enormemente para que a gerenciamento de crises alcance um harmonioso, eficiente, organizado e efetivo resultado com as ocorrncias de crises.

Como escreve BRASILIANO (2003, Internet) o uso regular de exerccios de treinamento simulado a resposta que a maioria das empresas internacionais tm adotado para assegurar que a eficcia seja plenamente atingida, dentro dos parmetros do plano de gerenciamento.

Esta noo no diferente na segurana pblica, sendo comum a criao de equipes tticas de combate ao seqestro, ao trfico ilcito de entorpecentes, ao furto de carros, etc., com enorme aproveitamento tcnico.

Note-se que cada exerccio simulado nico porque todas as situaes podem acarretar circunstncias imprevisveis e so expostas a riscos diferentes. Destarte, o treinamento dos membros da Comisso de Gerenciamento de Crises permite: a) que estes possam suportar a presso para dirigir a crise; b) aumentam o conhecimento e compreenso de procedimentos do gerenciamento de crises; c) fornecem aos membros da Comisso suporte tcnico aos seus papis e constri uma equipe capaz e confiante; d) possibilita rever o procedimento do gerenciamento de crises e garantir a sua adequao; e) permite identificar fraquezas nas operaes; f) possibilita identificar e avaliar planos especficos de contingncia; g) torna possvel testar comunicaes, lugares, equipamentos e contatos no gerenciamento de crises; h) pode-se entender as presses e exigncias do pessoal durante as crises graves; e, i) reassegurar-se de que a Comisso responder em um tempo eficiente.Outrossim, cada caso deve receber um tratamento direto e personalizado. Para que isso tenha efeito, uma boa anlise de riscos considerar a maioria das possibilidades, inclusive, em casos extremos, a quantidade de perda aceitvel.

A Comisso de Gerenciamento de Crises deve reunir-se em um local com boa infra-estrutura principalmente para o Secretrio da Segurana Pblica, uma vez que a este se torna imprescindvel um desenvolvimento rpido das decises tomadas. Para tanto, deve ter ao seu alcance comunicao adequada, equipamento de informtica, equipamentos de gravao (udio e vdeo), todas as informaes sobre os envolvidos, alm de fcil acesso s informaes constantes de bancos de dados sobre o assunto.

Por outro norte, os responsveis por dirigir a execuo dos trabalhos de reao em situao de crise, devem manter informado o participante da Comisso de Gerenciamento de Crises sobre os resultados das decises e aes aplicadas, pois, se necessrio, podero alterar as perspectivas e direo da negociao.

Observe-se, como exemplo, para o caso especfico de seqestro, deve haver ainda a figura de um negociador, que no deve pertencer ao grupo de gerenciamento de crise, no deve ter autonomia para tomar decises e, principalmente, no deve ser amigo da famlia da vtima e possuir conhecimento do linguajar usado pelos marginais.

3 - EXPERINCIAS DESENVOLVIDAS NA REA DO 8. CRPM

Em situaes de crise na segurana pblica comuns autoridades civis, diretores de organizaes privadas, comandantes de organizaes policiais e os prprios policiais comparecerem no local destas ocorrncias e de forma inadvertida e no-intencional, mas sim por puro despreparo tcnico no assunto, passarem a querer resolver a situao baseado no empirismo e na pura sorte, fatores estes que, quase na totalidade, transformam uma ocorrncia de alta complexidade, no raras vezes, em um acmulo de procedimentos e comportamentos intuitivos, excluindo-se todo o profissionalismo que deveria existir em tais casos, como profissionais de segurana pblica.

Assim, qualificar o profissional da rea de segurana pblica para analisar e gerenciar as situaes de crises, capacitando-o a identificar e utilizar, frente s alternativas de soluo, os procedimentos operacionais e os meios tcticos adequados, torna-se necessrio e a isso se d o nome de gerenciamento de crises.

Portanto, deve-se trabalhar para que o gerenciamento de crise seja o mais tcnico possvel.Na administrao das crises deve haver resposta de emergncia, isto , reao ordenada e planejada para um evento de emergncia com o propsito de salvar vidas e a propriedade. Um plano identifica e minimiza as vulnerabilidades, minimiza as perdas, assegura uma estabilidade social.

O plano de contingncia um conjunto de procedimentos, inventrios de recursos disponveis, mapas, croquis especficos, fluxograma de processos, glossrio de termos e plano de acionamento (colaboradores, terceiros, especialistas, autoridades e participantes do plano de auxlio mtuo), que sero chamados antes e ou durante e ou depois da ocorrncia da crise.

Uma seqncia de aes para elaborao do plano deve ser observa: a) designao de um coordenador de emergncia; b) designao de uma estrutura organizacional; c) elaborao das polticas de segurana; d) desenvolvimento da anlise de risco; e) mapeamento dos processos crticos e no crticos; f) definio da emergncia para cada processa; g) anlise de impacto no caso de concretizao do sinistro; h) elaborao de rotinas de recuperao; i) fazer os inventrios dos recursos, prprios ou no, para realizar as operaes; j) formalizao dos planos; k) definio de responsabilidades especficas; l) plano de abandono das reas de uma forma ordenada, rpida e segura; m) programa de capacitao dos envolvidos, inclusive com simulados;

Dessa forma, o objetivo do plano concentrar-se na soluo dos problemas e evitar que uma crise se transforme em uma catstrofe, por exemplo, sobre o enfoque de direo defensiva, todo acidente de trnsito se inicia em uma contraveno de trnsito e pela perspectiva de segurana contra incndio, todo grande incndio se inicia em um pequeno foco.

As preparaes do gerenciamento de crises no sero nunca o mais importante aspecto dos servios de segurana pblica. Contudo, devem ser levadas a srio. Manuais de gerenciamento de sinistros e planos emergenciais no devem ser guardados na gaveta. Observe-se que a segurana pblica no igual s empresas privadas, que podem pagar por assessoria de segurana em momento de crises. Assim, exerccios regulares simulados, talvez um por ano, so o melhor meio de manter a equipe familiarizada com os procedimentos de gerenciamento de crises.

No entanto, como mencionado anteriormente, o gerenciamento de crises na segurana pblica no se limita aos casos isolados em que se deve dar uma resposta imediata ao problema, como ocorre em um seqestro, pois os problemas podem ser crnicos e estarem inseridos na prpria corporao militar que cuida da segurana pblica ostensiva.

Assim, o combate criminalidade, muitas vezes no depende somente de efetivo e melhores condies de trabalho, mas tambm de muita criatividade e perseverana em tentar mudar certos paradigmas.

Com efeito, no ano de 1999, ao assumir o comando do 15. BPM em Jata, Estado de Gois, o autor do presente estudo, Jovair Fernandes da Cunha, constatou, inicialmente, que o efetivo estava deficiente e o nmero de ocorrncias era muito alto. Verificou-se, tambm, que o oficial que prestava servios durante o dia era o CPU, que no acompanhava o desenrolar das ocorrncias, porque tambm era chefe de seo. Os coponistas eram quase todos soldados, no tendo praticamente nenhuma autoridade sobre os demais que trabalhavam nas viaturas, muitas vezes cabos e at sargentos, em uma absurda subverso de funes, ou seja, soldados na funo de graduados e vice-versa. As reclamaes da populao eram expressivas, principalmente por maus tratos de PMs no atendimento de ocorrncias. Observou-se, ainda, que no havia um oficial de patrulhamento acompanhando as ocorrncias, sendo que o nmero de oficiais, nove ao todo, era suficiente para a realizao dos servios. No horrio de expediente, atentava-se que os oficiais no tinham muito servio, sendo que ficavam ociosos nos corredores do quartel. Tambm no tinha CPU a noite.

Diante da situao em crise, e de tantas reclamaes por parte da sociedade, que afirmava estar faltando policiamento em toda a cidade, tomou-se as seguintes decises: a) realizao de uma reunio com os Oficiais; b) escala de quatro CPUs, sendo dois diurno e dois noturno, exigindo dos Oficiais que acompanhassem todas as ocorrncias, sem exceo, e que os mesmos deveriam ficar o tempo todo no trabalho externo, acompanhando as viaturas operacionais, sendo que o retorno ao quartel se daria apenas quando fossem chamados, e os que fossem trabalhar a noite deveriam realizar o trabalho ininterruptamente, pois estariam dispensados das funes administrativas e tinham suas folgas asseguradas, assim como o restante da tropa; c) direcionou-se as funes administrativas para o restante dos oficiais, que alm de serem chefes de sees, tambm trabalhariam como oficial de dia, auxiliando no servio operacional, caso fosse necessrio; d) orientao de que os CPUs tinham autonomia para fazerem operaes, bem como para deslocarem as viaturas para locais e regies onde estes julgassem serem mais necessrias; e) substituio dos coponista, que eram soldados, por graduados, objetivando dar ordens repassadas, com a conseqente celeridade no desenvolvimento das aes.

Diante destas medidas, notou-se que a crise, instalada h bastante tempo, foi solucionada sem maiores transtornos, tendo o nmero de ocorrncias diminudas sensivelmente. A populao no mais reclamava de maus tratos em relao s abordagens de policiais nas ruas, pois, anteriormente, devido a falta de acompanhamento das ocorrncias por parte dos CPUs, alguns policiais abordavam as pessoas e as maltratavam.

Assim, com a presena constante do oficial CPU fiscalizando o servio e dando apoio nas ocorrncias de vulto, a tropa sentiu mais segurana para agir, principalmente os policiais realmente interessados em prestar um bom trabalho (a maioria), vindo at a induzir queles policiais indisciplinados, que praticavam abusos de autoridade, a mudar a forma de agir, contribuindo para um servio de qualidade.

Uma outra situao de crise na segurana pblica foi encontrada na cidade de Rio Verde, Estado de Gois. Com efeito, a partir de 1998 a cidade tem passado por uma transformao econmica, com a introduo de indstrias de grande porte. Dessa forma, devido pujana econmica e ao ritmo acelerado de crescimento, e tambm as constantes matrias veiculadas pela mdia em nvel nacional, retratando uma realidade, em que a cidade uma das que mais oferece condies favorveis para morar, trabalhar e fazer futuro, realidade esta no muito condizente com a que se divulgou.

Contudo, com a divulgao de que Rio Verde tem se sobressadas economicamente, multides de pessoas tm migrado a cada ano, umas em busca de melhores condies de vida, de emprego ou de um trabalho que lhe seja mais compensatrio e em melhores condies.

Como no poderia deixar de ocorrer, atrs do desenvolvimento econmico vm os indivduos acostumados ao ganho fcil, atravs de suas aes materializadas nos estelionatos, assaltos, roubos, etc. Tambm, com a chegada de um grande nmero de pessoas, onde a maioria no consegue trabalho, ficando ociosos, principalmente nas periferias, sem nenhuma condio de vida, acabam por entrar na criminalidade, com a prtica de delitos para sobreviverem.

Com isso, nos ltimos anos a criminalidade havia aumentado na cidade de Rio Verde. Vrios delitos de vulto comearam a ocorrer na cidade, exigindo resposta enrgica. As ocorrncias de delito contra o patrimnio aumentavam assustadoramente, e as ocorrncias de crimes contra as pessoas cresciam quase da mesma forma. A crise de segurana estava instalada e a cobrana da sociedade era expressiva.

Diante da crise foram tomadas vrias medidas no sentido de tentar reverter o quadro catico que havia sido instalado na cidade de Rio Verde. Primeiro, procurou-se reunir as autoridades pblicas e expor todas as idias que poderiam ser aplicadas na soluo dos problemas, solicitando destas autoridades o necessrio apoio e parcerias, para que o projeto de redirecionamento das aes fosse colocado em prtica.

De imediato, a Prefeitura Municipal, atravs de seu mandatrio, adquiriu algumas viaturas e motos para aumentar o nmero de veculos em patrulhamento nas ruas, inibindo assim as aes dos marginais.

Com a inaugurao do presdio regional, foi possvel oferecer um nmero maior de vagas para recolher os condenados, possibilitando melhores condies para que os magistrados pudessem aplicar a lei, tendo em vista que no presdio velho no havia celas suficientes, onde os presos ficavam amontoados, resultando em constantes fugas e colocando em risco a populao da cidade, principalmente os circunvizinhos, pois a cadeia pblica esta localizada no centro da cidade.

Internamente, na Polcia Militar, foi realizado um esforo concentrado, onde alguns Postos Policiais Militares (PPMs) foram fechados e a mquina administrativa enxugada, aumentando o nmero de policiais e viaturas nas ruas, que passaram de cinco viaturas por turno de trabalho, para oito a dez.

Aliado a tudo isso, foram desenvolvidas aes constantes em abordagens, barreiras e blitz e um afrontamento maior aos bandidos de alta periculosidade, tirando de circulao vrios destes. Implantou-se, tambm, um outro tipo de policiamento que at ento ainda no havia sido praticado na regio, isto , a instalao do GPT MOTOS, com equipes de policiais armados e bem equipados, e com uma maior flexibilidade de ao e movimentao no patrulhamento da rea central, vindo com isso a inibir sensivelmente a ao dos marginais naquela rea. Desenvolveu-se, ainda, treinamento quase que dirio para a tropa especializada, com uma maior qualificao para que estes pudessem desenvolver o trabalho com mais tcnica e aproveitamento, dando, portanto, um maior nmero de respostas positivas das aes desenvolvidas.

Outra medida para conter a criminalidade, desta feita, nas escolas da cidade de Rio Verde, que era um tanto quanto alarmante, onde meliantes, usando o oportunismo e da falta de policiamento, assediavam estudantes para a prtica de crimes, principalmente no trfico e no uso de drogas, bem como aliciamento de menores para a prostituio e outros delitos, foram buscas mediante a realizao de convnios entre a Policia Militar e a Prefeitura Municipal.

Diante da situao, procurou-se buscar parcerias nos seguimentos organizados e, principalmente, perante o Poder Pblico municipal, com elaborao de convnios entre a Polcia Militar e a Prefeitura Municipal de Rio Verde, ficando acertado que haveria dois policiais militares de servio em cada escola do Municpio.

Os reflexos do gerenciamento de crises foram expressivos, haja vista que em curto espao de tempo a questo da criminalidade nas escolas fora sistematicamente reduzida, uma vez que o policiamento fardado, atuando dentro das escolas, no dava a mnima oportunidade para que os infratores pudessem agir nas imediaes e at mesmo no interior dos estabelecimentos escolares, como agiam anteriormente. Veculos com som alto e grupos de pessoas desocupadas eram convidadas a se afastarem das proximidades dos recintos escolares, como tambm vendedores ambulantes nas imediaes das escolas eram constantemente fiscalizados e advertidos quanto venda de bebidas alcolicas e cigarros para estudantes menores de idade.

Outra situao que muito contribuiu para o xito dessas aes foi o auto ndice de motivao dos policiais militares empregados no convnio, que em seus horrios de folga, poderiam aumentar sua renda familiar, mediante escala extra, estando as mesmas amparadas pelo Estado, em caso de ocorrncia de incidente, uma vez que todos os seus direitos esto assegurados com a homologao do convnio.

Um outro aspecto relevante a ser observado foi a grande satisfao apresentada por parte dos diretores, professores e pais de alunos, demonstrada em reunio pblica com a participao de inmeros seguimentos da sociedade rio-verdense, que agradeciam a Polcia Militar e ao Poder Pblico municipal pela tranqilidade e a segurana daquela coletividade. Na reunio foram citados que no mais ocorrem fatos tais como: agresses por parte de alunos professores, alunos que desobedeciam regras internas, onde entravam e saiam sem dar satisfao a ningum, alunos que adentravam em sala de aula portanto bebidas alcolicas, etc.

Assim, em uma anlise de tudo o que foi exposto, pode-se dizer que a crise de segurana que havia sido instalada na cidade de Rio Verde foi solucionada, pois no se v falar em ocorrncias de vulto na cidade, isto , aquelas que causam um temor maior na sociedade. Anteriormente registravam-se at quarenta ocorrncias dirias, muitas delas de vulto. Hoje, registram-se uma mdia de cinco ocorrncias diariamente e as de vulto raramente ocorrem. Desta forma, a crise foi resolvida e o que se extrai dela que a segurana se faz com homens preparados e viaturas em nmero suficiente nas ruas, pois, do contrrio, a segurana sempre ser insatisfatria, e a sociedade sempre ir reclamar, alis, com toda razo.

4 - CONCLUSES

Quando ocorre uma crise com o Estado, interna ou externa, ou um desastre, no importa sua magnitude, as funes crticas do Estado se vem gravemente afetadas. O impacto sobre as pessoas e nos negcios do Estado depende de quo preparado est o Estado para responder crise ou emergncia.

O mesmo ocorre na Segurana Pblica, principalmente quando existem vidas em perigo. Dessa forma, o planejamento essencial para reverter os efeitos da crise, objetivando contornar os obstculos e utilizar a melhor estratgia em caso de concretizao da crise.

A luz da doutrina especializada, qualquer tarefa de gerenciamento de crise tem duplo objetivo que prioritariamente so: preservar a vida e aplicar a lei. Estes dois objetivos significam que a preservao da vida deve estar, para os responsveis pelo gerenciamento de um evento crtico, acima da prpria aplicao da lei. A sua aplicao pode esperar at que sejam presos os perpetradores da crise, ao passo que a perda da vida irreparvel.

Como dito anteriormente, a crise no-seletiva, ou seja, nenhuma comunidade esta imune a ela e a polcia devem prever a ocorrncia de uma crise em sua rea de atuao, devendo toda a organizao policial estar preparada para o enfrentamento de um evento crtico.

No se admite, hoje, que o assunto crise seja tratado de uma forma improvisada pelos diversos segmentos da polcia, uma vez que existe vasta doutrina nacional e internacional que fixam parmetros de comportamentos e disciplinam a atuao conjunta das polcias, sendo dever do Estado treinar policiais nas diversas especialidades que a contingncia poder exigir, objetivando uma abordagem de carter cientfico ao problema.

Dessa maneira, o gerenciamento das crises dever ser realizado por policiais preparados, que agiro de acordo com procedimentos preestabelecidos e exaustivamente simulados, objetivando a preservao de vidas e a aplicao da lei.

de suma importncia a organizao policial estar capacitada para o gerenciamento de crises, priorizando a negociao, pois a sociedade tem uma expectativa quanto resoluo do problema e cobra a ao adequada, sempre com a preservao da vida.

Assim, todo plano de segurana deve contemplar quatro fatores: a) proteo s vidas humanas; b) proteo propriedade; c) anulao da ameaa; e d) recuperar e estudar as ameaas e evidncias.

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