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APC 1-12956 Órgão : Segunda Turma Cível Classe : APC – APELAÇÃO CÍVEL - RMO Num. Processo : 2004 01 5 001295-6 Apelante(s) : DISTRITO FEDERAL CARLOS HENRIQUE DE ALMEIDA E OUTROS MINISTÉRIO PÚPLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS. Apelado(s) : ANTONIO AUGUSTO HUEBEL REBELLO DISTRITO FEDERAL CARLOS HENRIQUE DE ALMEIDA Relator : Desembargador JOÃO MARIOSI Revisora : Desembargadora CARMELITA BRASIL EMENTA CIVIL – PROCESSUAL CIVIL – AÇÃO CIVIL PÚBLICA – DANOS AO MEIO AMBIENTE – RESERVA BIOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS – PRELIMINARES ILEGITIMIDADE RECURSAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO E NULIDADE DE DECISÃO – REJEITADAS DEPREDAÇÃO AMBIENTAL OBRIGAÇÃO DE RECUPERAR A ÁREA DEGRADADA NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO DOS RÉUS – PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO DO DISTRITO FEDERAL E À REMESSA OFICIAL – PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. 1 – Os laudos técnicos constantes dos autos, foram unânimes em reconhecer a degradação ambiental ocasionada à Reserva, em decorrência de loteamento. 2 – O objetivo pretendido pelo autor, ao ajuizar a presente ação civil pública, não tangenciou a posse ou propriedade da área em discussão, mas sim, a condenação dos responsáveis na obrigação de recuperar parte da Reserva, comprovadamente degradada. 3 – A imissão na posse da TERRACAP, em razão da desapropriação, em nada afastou a responsabilidade dos réus pelos danos causados à área. 4 – A recuperação do dano ambiental incumbe ao empreendedor do evento danoso. 1

Acordao 217817-2005

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CIVIL – PROCESSUAL CIVIL – AÇÃOCIVIL PÚBLICA – DANOS AO MEIO AMBIENTE –RESERVA BIOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS –PRELIMINARES ILEGITIMIDADE RECURSAL DOMINISTÉRIO PÚBLICO E NULIDADE DE DECISÃO –REJEITADAS – DEPREDAÇÃO AMBIENTAL –OBRIGAÇÃO DE RECUPERAR A ÁREADEGRADADA – NEGADO PROVIMENTO AORECURSO DOS RÉUS – PARCIAL PROVIMENTO AORECURSO DO DISTRITO FEDERAL E À REMESSAOFICIAL – PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSODO MINISTÉRIO PÚBLICO.

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APC 1-12956 rgo:Segunda Turma Cvel Classe:APC APELAO CVEL - RMO Num. Processo:2004 01 5 001295-6 Apelante(s):DISTRITO FEDERAL CARLOS HENRIQUE DE ALMEIDA E OUTROS MINISTRIO PPLICO DO DISTRITO FEDERAL E TERRITRIOS. Apelado(s):ANTONIO AUGUSTO HUEBEL REBELLO DISTRITO FEDERAL CARLOS HENRIQUE DE ALMEIDARelator:Desembargador J OO MARIOSI Revisora:Desembargadora CARMELITA BRASIL EMENTA CIVILPROCESSUALCIVILAO CIVILPBLICADANOSAOMEIOAMBIENTE RESERVABIOLGICADEGUASEMENDADAS PRELIMINARESILEGITIMIDADERECURSALDO MINISTRIOPBLICOENULIDADEDEDECISO REJEITADASDEPREDAOAMBIENTAL OBRIGAODERECUPERARAREA DEGRADADANEGADOPROVIMENTOAO RECURSO DOS RUS PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSODODISTRITOFEDERALEREMESSA OFICIALPROVIMENTOPARCIALAORECURSO DO MINISTRIO PBLICO. 1 Os laudos tcnicos constantes dos autos, foramunnimesemreconheceradegradao ambientalocasionadaReserva,emdecorrnciade loteamento. 2Oobjetivopretendidopeloautor,ao ajuizar a presente ao civil pblica, no tangenciou a posse ou propriedade da rea em discusso, mas sim, acondenaodosresponsveisnaobrigaode recuperarpartedaReserva,comprovadamente degradada. 3 A imisso na posse da TERRACAP, em razodadesapropriao,emnadaafastoua responsabilidadedosruspelosdanoscausados rea. 4Arecuperaododanoambiental incumbe ao empreendedor do evento danoso. 1 APC 1-12956 2 Acrdo Acordam os Desembargadores da Segunda Turma Cvel do Tribunal de J ustia do Distrito Federal e dos Territrios, JOO MARIOSI - RELATOR, CARMELITA BRASIL Revisora, WALDIR LENCIO JNIOR Vogal, sob a presidncia do Desembargador J. J. COSTA CARVALHO, em APELAO DOS AUTORES, NEGAR PROVIMENTO; APELAO DO DISTRITO FEDERAL E REMESSA OFICIAL, PROVIDAS PARCIALMENTE; APELAO DO MINISTRIO PBLICO, PROVIDA PARCIALMENTE. UNNIME, de acordo com a ata do julgamento e notas taquigrficas. Braslia (DF), 07 de abril de 2005. Desembargador J .J . COSTA CARVALHO Presidente Desembargador J OO MARIOSI Relator APC 1-12956 3RELATRIO Transcrevo o relatrio da Promotoria de J ustia contido na petio de apelao: Trata-se Ao Civil Pblica com pedido de liminar proposta pelo Distrito Federal em face de Carlos Henrique de Almeida e Outros sob o argumento de que os rus, na qualidade de empreendedores, vendedores e adquirentes, causaram danos ao meio ambiente na Reserva Biolgica de guas Emendadas decorrentes da tentativa de implantao do parcelamento ilegal do solo denominado Chcaras Monteiro. Objetivando ainda, a paralisao do referido parcelamento, eis que clandestino, pois no foi aprovado pelos rgos competentes e nem registrado no Cartrio de Registro de Imveis, implantado, assim, em desacordo com as leis federais e distritais. Para a propositura da ao, o Distrito Federal anexou os seguintes documentos: cpia do Decreto n. 6004/1981, no qual ficou declarado que a Reserva Biolgica de guas Emendadas de utilidade pblica para fins de desapropriao; Relatrio do Grupo Executivo e Relatrio de danos ambientais (fl. 13/23); cpias de escrituras pblicas(fls.25/82). O pedido de liminar foi indeferido sob o fundamento de que implicaria antecipao do mrito (fl. 83). Os rus apresentaram contestao (fls. 99/101, 112/116, 148/158, 201/207, 210, 211, 216/225, 282, 283, 333/336), requerendo a improcedncia de todos os pedidos. O autor, em rplica, peticionou s folhas 405/490, pleiteando no mrito a procedncia da ao. O Ministrio Pblico do Distrito Federal e Territrios manifestou-se s fls. 568 e 569, favorvel procedncia do pedido. s fls. 596/603 foi proferida a sentena de mrito que julgou improcedente todos os pedidos da Ao Civil Pblica. O Distrito Federal interps recurso de apelao (fls. 605/616) o qual foi recebido fls. 707. Os rus, CARLOS HENRIQUE DE ALMEIDA E MINAS EMPREENDIMENTOS IMOBILIRIOS E AGROPASTORAIS LTDA apresentaram apelao. O ru ANTONIO AUGUSTO HUBEL REBELLO apresentou as contra-razes de fls. 709/715. Por fim, o Distrito Federal apresentou contra-razes s fls. 716/720. Os autos foram remetidos ao E. Tribunal de J ustia, tendo retornado primeira instncia, por solicitao do Ministrio Pblico oficiante em segundo grau, para intimao do membro do Parquet com atribuies para atuar frente ao juzo monocrtico. Estando, assim, os autos para cincia e manifestao desta Promotoria de J ustia. Apelao do Ministrio Pblico, s fls. 726-736, pedindo a reforma da sentena para que os rus sejam obrigados a indenizar os danos causados Reserva. Contra-razes de Carlos Henrique de Almeida s fl s. 740-745. APC 1-12956 4A Procuradoria de J ustia oficia s fls. 753, pelo conhecimento e provimento dos recursos do Distrito Federal e do Ministrio Pblico, e pelo conhecimento e no provimento do apelo do ru. o relatrio. VOTOS O Senhor Desembargador JOO MARIOSI - Relator Conheo dos recursos, eis que presentes os pressupostos de admissibilidade. Trata-se de Ao Civil Pblica proposta pelo Distrito Federal em face dos rus, alegando que na qualidade de empreendedores, vendedores e adquirentes, causaram danos ao meio ambiente na Reserva Biolgica de guas Emendadas. O MM. J uiz julgou improcedente o pedido, nos termos da sentena de fls 596/603. Inconformados, interpuseram os rus recurso de apelao pleiteando condenao do autor em honorrios advocatcios. O Ministrio Pblico e o Distrito Federal requereram a reforma da deciso para que os rus sejam condenados a pagar a indenizao para restituio do ambiente. Preliminarmente Rejeito a preliminar de ilegitimidade recursal do Ministrio Pblico argida pelo ru Carlos Henrique de Almeida, uma vez que o representante ministerial tem legitimidade recursal, na posio de fiscal da lei. No prospera tambm a pretenso do apelado de ver nula a deciso de fl. 174, que determinou a baixa dos autos em diligncia para dar cincia ao Ministrio Pblico. Trata-se de despacho de mero expediente que dispensa a publicao do despacho, pois destinada aoMinistrio Pblico, que tem vista pessoal dos autos. Rejeito, pois, a preliminar de nulidade argida. No Mrito Visa o autor, Distrito Federal, ao ajuizar a presente ao civil pblica, a condenao dos rus na obrigao de recuperar parte da Reserva Estao Ecolgica de guas Emendadas, que havia sido objeto de depredao ambiental. Os danos ao meio ambiente restaram efetivamente comprovados nos autos pelo Relatrio Tcnico de Danos, Relatrio de Vistoria e pela Percia realizada, que em parte, transcrevo: APC 1-12956 5Partindo do princpio que degradao ambiental a alterao progressiva das caractersticas do meio ambiente, em virtudedaatividadehumana,podendocausardesequilbrioe destruioparcialoutotaldosecossistemas, consequentementeaimplantaodoparcelamentoemestudo geroudegradaeseimpactosambientaisdostipos mencionadosnarespostadoquesiton.01,acrescidosdos seguintes: retirada da vegetao nativa, compactao do solo, remooparcialdosoloagricultvel,etc.osimpactos ambientais negativos causados pela referida degradao so: -reduo da rea de infiltrao; -aumento do coeficiente de escoamento superficial das guas pluviais; -reduo do volume de gua que percola no perfil do solo, diminuindo a recarga dos aqferos; -diminuio da fertilidade natural do solo; -colaboraoparaquebradoequilbrioecolgico, devidoaoafastamentodealgumasespciesde animaissilvestresexistentesnascadeias alimentares, e- reduo da flora silvestre. O Instituto de Ecologia e Meio Ambiente do Distrito Federal IEMA concluiu em seu Relatrio de Vistoria (fls. 362/365), que: V- Concluso ntida a diferena fitofisionmica da rea em questo comparada com reas adjacentes intactas. A recuperao natural da rea alterada pela ao antrpica no tem ocorrido, de forma que esta encontra-se descaracterizada de seu estado original. A imisso na posse da TERRACAP em 1987, em razo da desapropriao, no afasta a responsabilidade daqueles que causaram danos rea em questo. Das pessoas relacionadas pelos apelantes, tenho que incumbe aos apelados Carlos Henrique de Almeida e Mina Empresa Brasileira de Empreendimentos Imobilirios e Agropastoril Ltda., indenizar os danos causados na Estao Ecolgica de guas Emendadas. Com efeito, so eles os responsveis pelo empreendimento. Abriram ruas entre as quadras, desmataram, cercaram e lotearam a rea. APC 1-12956 6Assim, a obrigao de recuperar a rea degradada da responsabilidade dos rus acima citados. Ressalte-se que o valor da indenizao deve ser apurado em liquidao por arbitramento. Providos os recursos do Distrito Federal e do Ministrio Pblico, julgo prejudicada a pretenso de honorrios feita pelos outros recorrentes. Ante o exposto, nego provimento ao recurso dos rus e dou parcial provimento aos recursos do Distrito Federal e M.P para reformar a sentena e julgar procedente o pedido para condenar os rus Carlos Henrique de Almeida e Mina Empresa Brasileira de Empreendimentos Imobilirios e Agropastoril Ltda. na obrigao de indenizar os danos causados na Estao Ecolgica de guas Emendadas, devendo o valor ser apurado em liquidao por arbitramento. A quantia paga dever ser revertida ao FUNAM para restauraes ambientais da referida Estao Ecolgica. Condeno, ainda, os rus ao pagamento das custas e dos honorrios advocatcios que fixo em 10% sobre o valor da condenao. como voto. A Senhora Desembargadora CARMELITA BRASIL - Revisora Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheo dos recursos interpostos pelo Distrito Federal e pelos rus Carlos Henrique de Almeida e Mina Empresa Brasileira de Empreendimentos Imobilirios e Agropastoril Ltda. Principiopeloexamedapreliminardeilegitimidade recursaldoMinistrioPblicoargidapeloruCarlosHenriquedeAlmeidaem contra-razes. Sustenta o requerido que, in casu, o Ministrio Pblico, como fiscal da lei, no teria legitimidade recursal. Tenho que no assiste razo ao apelado. Esclarecedora, neste particular, a lio do Professor J os dos Santos Carvalho Filho, in Ao Civil Pblica, 4 Edio, Editora Lumen J uris, p. 188, verbis: A Lei n 7.343/85 no fez qualquer referncia expressa legitimidade para recorrer. Sendo assim, h de aplicar-se a regra pertinente prevista no Cdigo de Processo Civil, como consta do art. 19 da lei. Resulta da que, na ao civil pblica, o Ministrio Pblico poder recorrer seja atuando como parte, seja como custos legis, norma que, j foi visto, tem previso no art. 499, 2, do Cdigo de Processo Civil. No que se refere particularmente legitimao recursal do Ministrio Pblico, havia dvidas entre os Tribunais em relao atuao como custos legis. O Cdigo de Processo Civil, entretanto, ps fim expressamente controvrsia, admitindo a legitimidao ministerial, seja como parte seja como fiscal da lei. ..................................omissis....................................... No obstante, tem legitimidade recursal, na posio de fiscal da lei, ainda que as partes no tenham recorrido, como j sumulado pelo Superior Tribunal de J ustia. APC 1-12956 7 V-se que no h falar-se em ilegitimidade recursal do Ministrio Pblico, razo pela qual rejeito a preliminar. Quanto preliminar de nulidade da deciso de fl. 174 que determinou a baixa dos autos em diligncia para dar cincia ao Ministrio Pblico da r. sentena, melhor sorte no socorre ao apelado. Ora, a chamada deciso alm de constituir-se em despacho de mero expediente destinada ao Ministrio Pblico que, como de sabena geral, tem vista pessoal dos autos, dispensando, por isso, a publicao do despacho. Assim, no prospera a pretenso do apelado de ver nula a deciso acima e, muito menos, desconsiderado o recurso interposto pelo Ministrio Pblico, afigurando-se ilgica a preliminar sustentada. Destarte, restando presentes os pressupostos de admissibilidade, conheo, tambm, do recurso interposto pelo Ministrio Pblico. Cuida-se de ao civil pblica ajuizada pelo Distrito Federal objetivando a condenao dos suplicados, indicados na inicial, na obrigao do ressarcimento dos danos ambientais ou da restaurao ao status quo ante da reserva biolgica conhecida como guas emendadas, na medida da responsabilidade de cada um, em virtude da criao de um loteamento irregular em rea declarada de utilidade pblica. O MM. J uiz julgou improcedente o pedido sob o fundamento de que a prova pericial no apontou nenhum dano ao meio ambiente ou ao ecossistema da Reserva Ecolgica guas Emendadas. Irresignado, apelou o Distrito Federal esclarecendo que a rea em questo unidade de conservao de relevncia incomparvel por abrigar o fenmeno natural nico em todo o mundo, conhecido como guas Emendadas que so nascentes indispensveis para o abastecimento de crregos e rios da regio. Salienta a existncia de vedao legal implantao de loteamento, asseverando que as atividades de arruamento e desmatamento, atingindo inclusive matas ciliares, eram proibidas ao tempo do incio do empreendimento, de acordo com as restries impostas pela Lei n 4.771/65. Sustenta, ainda, que o Decreto n 6004/1981, ao declarar a rea de utilidade pblica, para fins de desapropriao, consignou em seu art. 3 a proibio de realizao de benfeitorias de quaisquer espcies dentro dos limites da Estao. Assevera que os danos ambientais foram de fato comprovados saciedade, tanto pelas concluses do Relatrio do Grupo Executivo trazido aos autos com a inicial, bem como pelo Relatrio de Vistoria juntados s fls. 362/374, realizado durante a tramitao do feito e, ainda, pela prpria percia elaborada pelo Instituto de Criminalstica da Secretaria de Segurana Pblica. Afirma que a recuperao do dano ambiental incumbe obrigatoriamente ao empreendedor do evento danoso, estendendo-se a todos os que igualmente concorreram para o resultado degradante, destacando que, embora seja usual a imposio aos responsveis da obrigao de recuperar a rea degradada, a melhor soluo seria a converso da obrigao de fazer em indenizao pecuniria, tambm permitida pela legislao, por se tratar de danos verificados em Estao Ecolgica que apresenta sensibilidade ambiental incomum, sendo recomendvel que o Poder Pblico, recebendo o valor da indenizao, execute diretamente a reparao do ambiente. Requer, assim, o conhecimento e provimento do presente recurso para reformar a r. sentena, condenando os apelados a indenizarem os danos ambientais apurados na percia. APC 1-12956 8Os rus, Carlos Henrique de Almeida e Mina Empreendimentos Imobilirios e Agropastoris Ltda, tambm inconformados, interpuseram recurso pleiteando a condenao do autor no pagamento dos honorrios advocatcios, ante a existncia de m-f por parte deste. Salienta que h exatamente 15 anos atrs tanto a Terracap como o Distrito Federal j estavam na posse do imvel e, ainda assim, insistiu o autor em continuar na presente ao, mesmo tendo cincia de que a rea no havia sido objeto de depredao ambiental, conforme reconhecido na r. sentena.Pede, assim, o conhecimento e provimento da presente apelao, arbitrando-se os honorrios advocatcios no percentual de 10% sobre o valor aproximado da gleba, objeto da lide, a ser apurado na fase de liqidao de sentena. O Ministrio Pblico do Distrito Federal tambm ofertou recurso pugnando a reforma da r. sentena a fim de que os rus sejam condenados a obrigao de ressarcir os danos causados na Reserva Biolgica guas Emendadas.Insiste que os danos ao meio ambiente restaram efetivamente comprovados pelo Relatrio Tcnico de Danos, Relatrio de Vistoria e, ainda, pela Percia realizada, salientando que a responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente objetiva de acordo com o art. 14, 1 c/c art. 4, inciso VII da Lei n 6.938/81. Examino, primeiramente, os recursos interpostos pelo Distrito Federal e pelo Ministrio Pblico do Distrito Federal, j que ambos pleiteiam a reforma da r. sentena, sustentando a comprovao cabal dos danos ambientais. Em que pese o entendimento esposado pelo ilustre magistrado na r. sentena, tenho que assiste razo aos apelantes quanto comprovao dos danos causados Reserva Ecolgica de guas Emendadas. Com efeito, todos os laudos tcnicos constantes dos autos, saliente-se, feitos em pocas diversas, foram unnimes em reconhecer a degradao ambiental ocasionada Reserva, em decorrncia da implantao do loteamento. Colhe-se do Relatrio Tcnico de Dano Ambiental (fls. 13/20), realizado em 16/05/86, verbis: ....consta que o referido loteamento composto por 101 lotes, divididos em 10 Quadras, servidos por 08 ruas de acesso aos lotes. ..................................................................................... O loteamento vistoriado evidencia todos os sinais de ao antrpica, que se fez notar pelo desmatamento da vegetao nativa para implantao de culturas como o arroz e outras de subsistncia, a construo de residncias, a criao de animais e todas as modificaes decorrentes do assentamento humano. ......................................................................................... A ao de desmatamento com retirada da cobertura vegetal nativa alteradora de todo o ecossistema em face das modificaes que promove tanto no nvel dos recursos hdricos afetando a qualidade e a quantidade do regime dos mesmos como do solo que perde sua cobertura e proteo fsica contra o impacto das chuvas, tornando-se elemento fcil de APC 1-12956 9desassociao e conseqente carreamento (arraste) para os fundos dos vales, assoreando os rios e diminuindo a calha dos mesmos. ...................................................................................... Em termos de danos ambientais j consumados pela implantao do loteamento podemos arrolar: - a proximidade da ocupao humana traz srias ameaas aosanimaisprotegidospelareserva,queseroatrados pelas plantaes, tornando-se alvos fceis aos caadores; - asespciesanimaisendmicas(dedistribuiorestrita), rarasouameaadasdeextino,principalmenteasde grandeporte,noteroreasuficientequegarantasua sobrevivncia; - osdesmatamentosjefetuadosparaimplantaode culturas,perturbaramsensivelmenteacoberturade cerradodarea,comosefeitosjcitadosnocorpodeste relatrio; - existem, na reserva reas de brejo (veredas com Buritis), queso,semelhantementeaosesturios,ecossistemasde equilbriolbil,edepouqussimoconhecimentocientfico sujeitando-seaodesaparecimentosemquesequer saibamos o que se est extinguindo; - comoesseloteamentofoiimplantadosemaaprovao oficialdosrgoscompetentes,inexistemnormasde orientao aos ocupantes dos lotes para o uso racional do ambiente,citandoatainexistnciadefossasspticase sumidouro,paraotratamentoprimriodosefluentesdas edificaes. Por sua vez, em 01/07/1994 o Instituto de Ecologia e Meio Ambiente do Distrito Federal (IEMA) concluiu em seu Relatrio de Vistoria (fls. 362/365): A vegetao encontra-se em estado natural em pequenas manchas de cerrado e nas matas galeria apresentando-se alterada, atravs de desmatamento, em aproximadamente 60% da rea (vide mapa anexo 06), sendo dominada por gramneas exticas. ............................................................................................. III. DANOS AMBIENTAIS VERIFICADOS a)Foiconstatado,pelaobservaonolocalepor fotografias areas (vide cpias nos anexos 04, 05 e 06), a alterao/degredao de aproximadamente 120ha, atravs de desmatamento, abertura de vias, terraplanagem, plantio eintroduodeespciesexticas,cercamento, construes, drenagem, represamento etc. APC 1-12956 10b)Aberturadeviasdeacesso,emextensode aproximadamente14Kmcomdesmatamento, terraplanagem,compactao,exposioeprocesso erosivo do solo. c)RepresamentodocrregoMonteiroatravsde barragem e piscina, criando obstculo e ictiofauna. d)Invasodegramneasexticas,capim-gordura (MelinisminutifloraeAndropogom,provavelmente Bisquamulatus),naquasetotalidadedasreasalteradas, competindo com espcies nativas pela ocupao do solo e exposioaosol.Estasgramneasapresentam-se,nas pocasdeseca,comoextremamenteinflamveistornando o combate ao incndio florestal praticamente impossvel. e)Quantidadedesconhecidadecisternasefossas abandonadas. f)Drenagemecanalizaodasnascentesdo crrego Monteiro. IV DANOS AMBIENTAIS POTENCIAIS a)Grandesriscosdeincndiosflorestaisforade controle,devidoaintroduodeespciesexticascomo capim-gordura e pinheiros. b)Afugentamentodafaunapelaalteraodeseu habitat natural. c)Riscodeperdadevidashumanaseanimaisem acidentescompoosecisternasabandonadas,emlocais desconhecidos,geralmentecobertosporgramneas, funcionandocomoverdadeirasarmadilhas.Jsetem conhecimento da morte de um veado nestas condies. d)Riscodeferimentosemanimaissilvestres, causados por restos de cercas de arame farpado. V. CONCLUSO ntida a diferena fitofisionmica da rea em questo comparada com reas adjacentes intactas. A recuperao natural da rea alterada pela ao antrpicanotemocorrido,deformaqueesta encontra-sedescaracterizadadeseuestado original. (grifo nosso) No mesmo sentido, a percia realizada em12/11/97 pelo Instituto de Criminalstica da Secretaria de Segurana Pblica (fls. 525/553), ao contrrio do entendido pelo ilustre magistrado, apontou sim, inmeras degradaes, como se pode observar da resposta ao quesito n 16, verbis: APC 1-12956 11 Partindo do princpio que degradao ambiental a alterao progressiva das caractersticas do meio ambiente, em virtude da atividadehumana,podendocausardesequilbrioedestruioparcialou totaldosecossistemas,conseqentementeaimplantaodo parcelamentoemestudogeroudegradaeseimpactosambientais dos tipos mencionados na resposta do quesito n 01, acrescidos dos seguintes:retiradadavegetaonativa,compactaodosolo, remooparcialdosoloagricultvel,etc.Osimpactosambientais negativos causados pela referida degradao so: - reduo da rea de infiltrao; - aumentodocoeficientedeescoamentosuperficialdas guas pluviais; - reduodovolumedeguaquepercolanoperfildo solo, diminuindo a recarga dos aqferos; - diminuio da fertilidade natural do solo; - colaborao para quebra do equilbrio ecolgico, devido ao afastamento de algumas espcies de animais silvestres existentes nas cadeias alimentares, e - reduo da flora silvestre. De certo que, em virtude do longo tempo decorrido entre as percias realizadas, os danos maiores j no parecem mais to extensos como poca em que o loteamento ainda estava ativo. Entretanto, a meu sentir, no podemos desconsiderar que mesmo depois de mais de 10 anos, muito do que foi degradado ainda no se recuperou, demonstrando, ao contrrio do que afirma o expert, que os danos no foram em pequena escala, tanto que ainda remanescem, mesmo depois de longo tempo.Assim, no restam dvidas de que os danos existiram, sendo certa, portanto, a responsabilidade daqueles que o causaram. No entanto, neste particular, entendo no haver possibilidade de condenar todos os rus apontados na inicial, que totalizam cinqenta, como pretendem os ora apelantes. Na verdade, cuidando-se de loteamento, inmeros foram os adquirentes, sendo que no h como se apurar detalhadamente quais desses praticaram atos que contriburam para a degradao ocorrida, uma vez que muitos, aps a aquisio, tiveram seus lotes desapropriados, sem sequer realizar quaisquer benfeitorias na rea. Ameuver,oquesepodeterporcertaa responsabilidadedoprimeiroesegundorus,CarlosHenriquedeAlmeidaeMina EmpresaBrasileiradeEmpreendimentosImobilirioseAgropastorilLtda,osquais realizaramoempreendimento,abrindoruasentreasquadrasedividindooslotes APC 1-12956 12paraalien-los.Esses,comcerteza,contriburamparaadegradaodarea, desmatando,cercandoe,principalmente,loteandoreailegalmente,sendo conhecedoresdequesetratavadeReservaEcolgicadesumaimportncia, inclusive, declarada de utilidade pblica para fins de desapropriao. Dessa forma, incumbe aos rus, apontados acima, a obrigao de recuperar a rea degradada, mostrando-se mais adequado, conforme esclarecido pelo Distrito Federal, que essa obrigao seja convertida em indenizao, em razo da extrema sensibilidade ambiental da Reserva. Destaque-se que o valor da indenizao deve ser apurado em liquidao por arbitramento. Passo, agora, anlise da apelao interposta por Carlos Henrique de Almeida e Mina Empreendimentos Imobilirios e Agropastoris Ltda. Sustentam os ora apelantes que houve m-f por parte do autor em continuar com a presente ao, mesmo j detendo a posse do imvel h exatamente 15 anos e tendo cincia de que a rea no havia sido objeto de depredao ambiental. Insiste, assim, na condenao do autor no pagamento dos honorrios advocatcios. Sem razo os ora apelantes. Diante do desfecho dado aos recursos do Distrito Federal e do Ministrio Pblico, fica sem nenhum sentido a alegao de m-f e a pretenso de condenao em honorrios feita pelos ora recorrentes. Vale ressaltar que o objetivo pretendido pelo autor, ao ajuizar a presente ao civil pblica, no tangenciou a posse ou propriedade da rea em discusso, mas sim, a condenao dos responsveis na obrigao de recuperar parte da Reserva, comprovadamente degradada. Ademais, a imisso na posse da Terracap em 1987, em razo da desapropriao, em nada afastou a responsabilidade dos ora apelantes pelos danos j causados rea, tendo, na verdade, atenuado as degradaes que seriam bem mais severas se o loteamento ainda estivesse na ativa. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO AO RECURSO DOS RUS E DOU PARCIAL PROVIMENTO S APELAES DO DISTRITO FEDERAL E DO MINISTRIO PBLICO E DA REMESSA OFICIAL para reformar a r. sentena e julgar procedente o pedido to somente quanto aos rus CARLOS HENRIQUE DE ALMEIDA e MINA EMPRESA BRASILEIRA DE EMPREENDIMENTOS IMOBILIRIOS E AGROPASTORIL LTDA para conden-los na obrigao de indenizar os danos causados na Estao Ecolgica de guas Emendadas, devendo o valor da indenizao ser apurado em liquidao por arbitramento. Determino que a quantia paga seja revertida ao FUNAM e utilizada nas restauraes ambientais da Estao Ecolgica de guas Emendadas. Devero, ainda, os rus, acima indicados, arcarem com o pagamento das custas e dos honorrios advocatcios que fixo em 10% sobre o valor da condenao. como voto. O Senhor Desembargador WALDIR LENCIO JNIOR Vogal APC 1-12956 13Com o Relator. DECISO APELAODOSAUTORES,NEGOU-SE PROVIMENTO;APELAODODISTRITOFEDERALEREMESSAOFICIAL, PROVIDASPARCIALMENTE;APELAODOMINISTRIOPBLICO,PROVIDA PARCIALMENTE. UNNIME.