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APELAÇÃO CÍVEL (1 E 2) CONDOMÍNIO E CONSTRUÇÃO POR ADMINISTRAÇÃO. CONTRATO REGULADO PELA LEI Nº 4.591/64. INADIMPLÊNCIA DE CONDÔMINO. RESCISÃO CONTRATUAL COM LEILÃO EXTRAJUDICIAL DA UNIDADE DO CONDÔMINO INADIMPLENTE. PLEITO DE DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA ADMINISTRADORA. INADIMPLEMENTO DAS PARCELAS QUE ENSEJOU A REALIZAÇÃO DE LEILÃO EXTRAJUDICIAL ADJUDICAÇÃO PELO CONDOMÍNIO EM SEGUNDA PRAÇA. LEGALIDADE. AUSÊNCIA DE SALDO A SER DEVOLVIDO AO EXCLUÍDO - IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO DOS VALORES PAGOS PROCEDIMENTO DA LEI Nº 4.591/64. SENTENÇA REFORMADA. APELAÇÃO 1 CONHECIDA E PROVIDA PARA ACOLHER A ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DO PRIMEIRO APELANTE. APELAÇÃO 2 CONHECIDA E PROVIDA PARA JULGAR IMPROCEDENTE O PLEITO INICIAL.(TJPR - 7ª C.Cível - AC 707207-1 - Londrina - Rel.: Sandra Bauermann - Unânime - J. 02.08.2011)
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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OEO documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br
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7ª CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº 707.207-1, DA COMARCA DE LONDRINA - 1ª VARA CÍVEL. APELANTE (1) : GRANACON CONSTRUÇÕES CIVIS LTDA
APELANTE (2) : CONDOMÍNIO CENTER SUL SHOPPING APELADO : MUG ACESSÓRIOS LTDA RELATORA CONV.1: JUÍZA SANDRA BAUERMANN
APELAÇÃO CÍVEL (1 E 2) – CONDOMÍNIO E
CONSTRUÇÃO POR ADMINISTRAÇÃO. CONTRATO
REGULADO PELA LEI Nº 4.591/64. INADIMPLÊNCIA DE
CONDÔMINO. RESCISÃO CONTRATUAL COM LEILÃO
EXTRAJUDICIAL DA UNIDADE DO CONDÔMINO
INADIMPLENTE. PLEITO DE DEVOLUÇÃO DAS
PARCELAS PAGAS. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD
CAUSAM DA ADMINISTRADORA. INADIMPLEMENTO
DAS PARCELAS QUE ENSEJOU A REALIZAÇÃO DE
LEILÃO EXTRAJUDICIAL – ADJUDICAÇÃO PELO
CONDOMÍNIO EM SEGUNDA PRAÇA. LEGALIDADE.
AUSÊNCIA DE SALDO A SER DEVOLVIDO AO
EXCLUÍDO - IMPOSSIBILIDADE DE DEVOLUÇÃO DOS
VALORES PAGOS – PROCEDIMENTO DA LEI Nº
4.591/64.
SENTENÇA REFORMADA.
APELAÇÃO 1 CONHECIDA E PROVIDA PARA
ACOLHER A ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM
-- 1 Em substituição ao Des. Luiz Osório Moraes Panza – Por designação da Presidência.
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Apelação Cível nº 707.207-1 fls. 2
DO PRIMEIRO APELANTE.
APELAÇÃO 2 CONHECIDA E PROVIDA PARA JULGAR
IMPROCEDENTE O PLEITO INICIAL.
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação
Cível nº 707.207-1, de Londrina – 1ª Vara Cível, em que é apelante 1 GRANACON CONSTRUÇÕES CIVIS LTDA, apelante 2 CONDOMÍNIO
CENTER SUL SHOPPING e Apelado MUG ACESSÓRIOS LTDA.
I – Trata-se de recursos de apelação cível interpostos por
GRANACON CONSTRUÇÕES CIVIS LTDA e CONDOMÍNIO CENTER SUL
SHOPPING, em face da r. sentença de fls. 236/246, que julgou parcialmente
procedente o pedido inicial, para declarar rescindido o contrato firmado entre
as partes, determinar que os réus promovam solidariamente a restituição do
valor pago, condenando, ainda, as rés ao pagamento de 2/3 das custas e
despesas processuais, bem como honorários advocatícios fixados em 10%
(dez por cento) sobre o valor da condenação.
Condomínio Center Sul Shopping interpôs embargos de
declaração (fls. 248/251) que foram rejeitados conforme decisão de fls.
303/304.
Em razões recursais (fls. 306/320), sustenta Granacon
Construções Civis Ltda, preliminarmente, ser parte ilegítima para figurar no
pólo passivo da presente demanda, pois sua participação no empreendimento
restringiu-se à execução da obra, mediante o recebimento da taxa de
administração prevista no contrato.
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Apelação Cível nº 707.207-1 fls. 3
No mérito, afirma que a sentença merece reforma, pois a
apelada ingressou no empreendimento pelo sistema de construção direta, ou
seja, a preço de custo, cuja finalidade era a construção de unidades
condominiais e a lei que regulamenta a questão prevê a possibilidade de
“retirada pela venda de unidade a outrem, ou, caso isso não seja possível,
através de leilão extrajudicial” (fls. 312).
Assevera que, a partir do momento em que um condômino
deixa de efetuar os pagamentos, sobrecarrega os demais, vez que a obra não
é interrompida. Ademais, a sentença ao determinar a devolução dos valores
pagos, fere o disposto no art. 63, §4º da Lei nº 4.591/64, pois a apelada
deixou de arcar com as parcelas devidas e, portanto, em virtude do leilão, terá
direito à restituição apenas do saldo, se houver.
Afirma, ainda, que o condomínio teve que adjudicar a
unidade da apelada para que os prejuízos não fossem maiores e em virtude
da inexistência de licitantes, fato que não configura qualquer lucro por parte
da apelante.
Alega que se trata de parceria firmada entre as partes e
não uma compra e venda direta, sendo, portanto, incabível a devolução dos
valores pagos, tal como determinada pela sentença, razão pela qual, requer a
reforma da decisão, com o consequente afastamento da condenação pelas
verbas de sucumbência.
Condomínio Center Sul Shopping, por sua vez, também
interpôs recurso de apelação (fls. 346/357) pugnando pela reforma da
sentença, pois a apelada ingressou no empreendimento pelo sistema de
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construção direta, ou seja, a preço de custo, cuja finalidade era a construção
de unidades condominiais e, a lei que regulamenta a questão prevê a
possibilidade de “retirada pela venda de unidade a outrem, ou, caso isso não
seja possível, através de leilão extrajudicial” (fls. 312).
Assevera que, a partir do momento em que um condômino
deixa de efetuar os pagamentos, sobrecarrega os demais, vez que a obra não
é interrompida. Ademais, a sentença ao determinar a devolução dos valores
pagos, fere o disposto no art. 63, §4º da Lei nº 4.591/64, pois a apelada
deixou de arcar com as parcelas devidas e, portanto, em virtude do leilão, terá
direito à restituição apenas do saldo, se houver.
Afirma, ainda, que o condomínio teve que adjudicar a
unidade da apelada para que os prejuízos não fossem maiores e em virtude
da inexistência de licitantes, fato que não configura qualquer lucro por parte
da apelante.
Alega que se trata de parceria firmada entre as partes e
não uma compra e venda direta, sendo, portanto, incabível a devolução dos
valores pagos, tal como determinada pela sentença, razão pela qual, requer a
reforma da decisão, com o consequente afastamento da condenação pelas
verbas de sucumbência.
Ambos os recursos foram recebidos em ambos os efeitos
(fls. 383).
A apelada apresentou contrarrazões a ambos os recursos
(fls. 387/393).
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O Relator originário converteu o feito em diligência,
determinando que as partes se manifestassem sobre a efetivida adjudicação
do bem.
O segundo apelante postulou pela prorrogação do prazo
assinalado, e os demais não se manifestaram.
Em razão de devolução dos autos pelo Relator Originário
com base no artigo 29, parágrafo 3º, do RITJPR e posterior designação da
Presidência deste Tribunal, vieram-me os autos conclusos.
É a breve exposição.
II – VOTO E A SUA FUNDAMENTAÇÃO
Recebo os recursos, eis que presentes os pressupostos
de admissibilidade, visto interpostos tempestivamente e porque atende aos
demais pressupostos processuais.
Trata-se de ação de rescisão de contrato c/c devolução de
parcelas pagas ajuizada por MUG Acessórios Ltda em face de Condomínio
Center Sul Shopping e Granacon – Construções Civis Ltda.
Da leitura da petição inicial constata-se que a autora
aderiu ao condomínio requerido, comprometendo-se na aquisição da loja 131,
com área útil de 24,88m², mediante o pagamento de entrada (em 1995), cujo
valor foi dividido em três parcelas de R$ 1.643,32 e mais as parcelas mensais,
que pagou até 16.01.1998 (34ª parcela) totalizando um valor pago de R$
24.917,49.
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Asseverou que, em virtude dos atrasos para a
inauguração do empreendimento, aumentos constantes no valor das parcelas,
de forma supervalorizada, e diversos problemas de administração apontados
na exordial, deixou de efetuar os pagamentos, fato que ensejou que sua
unidade fosse levada a leilão extrajudicial.
Em razão de tais fatos, pugnou pela rescisão do contrato,
com a devolução das parcelas pagas, devidamente acrescida de juros de
mora e correção monetária.
O douto magistrado ao proferir sentença, afastou as
preliminares e julgou parcialmente procedente o pedido inicial, com base nos
seguintes fundamentos:
“Depois de ultimado o procedimento de venda extrajudicial,
contudo, fica caracterizada a ofensa a direito da condômina.
(...) Uma vez que arrematado pelo valor da dívida, então não
houve a devolução de qualquer valor à autora.
Ora, fica bastante claro o enriquecimento sem causa do
empreendimento por conta desta diferença na medida em que
arremata dívida de pouco mais de doze mil reais através a
aquisição de direitos sobre unidade sujos direitos passavam
dos vinte mil reais.” (fls. 242).
1. Da ilegitimidade passiva ad causam da primeira
apelante :
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Preliminarmente, pretende a primeira apelante Granacon
Construções Civis Ltda o reconhecimento da sua ilegitimidade passiva, eis que
apenas executou a obra, mediante o recebimento de valor correspondente à
taxa de administração.
Razão lhe assiste.
Da leitura da carta de adesão acostada aos autos às fls.
32/33, bem como da ata da assembleia geral de constituição do condomínio
Londrina Outlet Center se vislumbra que a primeira apelante seria responsável
pela administração da construção do empreendimento, recebendo taxa de
administração. Além disso, os pagamentos eram realizados em favor do
condomínio, conforme boletos bancários juntados aos autos com a inicial.
Do que resulta a conclusão de que o negócio jurídico
celebrado pelo autor/apelado não constituiu compra e venda de imóvel, mas
de ingresso em sistema de condomínio fechado, referente ao empreendimento
denominado Condomínio Londrina Outlet Center, em que a participação da
parte autora foi de participação no referido empreendimento com os demais
condôminos, cujo empreendimento foi administrado pela primeira apelante.
É certo que a primeira apelante também foi contratada
pelo condomínio para a prestação de serviço de engenharia (edificação do
empreendimento), e o fato de ter iniciado a promoção da formação do
condomínio, não constituem elementos suficientes para se desconfigurar o
contrato ao qual aderiu o apelado, que se configura como de edificação pelo
sistema de incorporação imobiliária em condomínio, cuja regulação é dada pela
Lei 4591/64.
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Diante de tais constatações, entendo que razão assiste à
primeira apelante ao alegar sua ilegitimidade passiva ad causam para
responder a presente demanda, em que o apelado objetiva a rescisão do
referido contrato, com a devolução de valores pagos no empreendimento, na
qualidade de condômino.
2. Do mérito:
Quanto ao mérito em relação a segunda apelante, esta
sustenta que o autor deu causa à rescisão do contrato a partir do momento em
que deixou de efetuar o pagamento das parcelas do contrato. Além disso,
havendo atraso no pagamento das parcelas, a unidade adquirida foi levada a
leilão extrajudicial e, portanto, o autor, ora apelado tem direito ao recebimento
apenas do saldo do leilão, após deduzidos os valores inadimplidos e demais
despesas, não havendo que se falar em restituição das as importâncias pagas.
Sobre o tema, o referido dispositivo legal estabelece as
regras para o leilão extrajudicial de unidade condominial contratada pelo
regime de administração ou a preço de custo, a saber: Art. 63. É lícito estipular no contrato, sem prejuízo de outras sanções, que a falta de pagamento, por parte do adquirente ou contratante, de 3 prestações do preço da construção, quer estabelecidas inicialmente, quer alteradas ou criadas posteriormente, quando for o caso, depois de prévia notificação com o prazo de 10 dias para purgação da mora, implique na rescisão do contrato, conforme nele se fixar, ou que, na falta de pagamento, pelo débito respondem os direitos à respectiva fração ideal de terreno e à parte construída adicionada, na forma abaixo estabelecida, se outra forma não fixar o contrato.
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§ 1º Se o débito não fôr liquidado no prazo de 10 dias, após solicitação da Comissão de Representantes, esta ficará, desde logo, de pleno direito, autorizada a efetuar, no prazo que fixar, em público leilão anunciado pela forma que o contrato previr, a venda, promessa de venda ou de cessão, ou a cessão da quota de terreno e correspondente parte construída e direitos, bem como a sub-rogação do contrato de construção.
§ 3º No prazo de 24 horas após a realização do leilão final, o condomínio, por decisão unânime de Assembléia-Geral em condições de igualdade com terceiros, terá preferência na aquisição dos bens, caso em que serão adjudicados ao condomínio.
§ 4º Do preço que for apurado no leilão, serão deduzidas as quantias em débito, todas as despesas ocorridas, inclusive honorário de advogado e anúncios, e mais 5% a título de comissão e 10% de multa compensatória, que reverterão em benefício do condomínio de todos os contratantes, com exceção do faltoso, ao qual será entregue o saldo, se houver.
Vislumbra-se, portanto, que o condomínio terá preferência
na aquisição dos bens e poderá, portanto, adjudicá-lo, hipótese em que, do
preço obtido no leilão serão deduzidos, além do valor do débito, as despesas
mencionadas no §4º do referido artigo, e somente eventual saldo é
restituído ao condômino inadimplente.
No caso em exame, o procedimento legal para a
realização do leilão extrajudicial não é objeto de discussão entre as
partes, de modo que se entende a regularidade do procedimento. Aliás, o
apelado, em suas contrarrazões, acaba por reconhecer que houve a
“arrematação” do bem pela parte apelante à fl.392, daí que entendo
desnecessária novas diligências quanto a este ponto (adjudicação do
bem).
Em tendo havido a adjudicação da unidade pelo
condomínio, o apelado só teria direito à devolução do que pagou se a
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arrrematação de sua unidade tivesse se dado por valor superior ao
quantum devido, mais os referidos encargos referidos no parágrafo 4º do
artigo 63 da Lei 4591/94, acima reproduzido.
O que não ocorreu no caso em exame, uma vez que
o valor da adjudicação foi suficiente apenas para quitar a dívida da parte
autora, conforme incontroverso.
Observe-se, que, em inexistindo licitantes, o
condomínio podia adjudicar o bem em segunda praça. No caso, o bem
foi arrematado pelo valor da dívida.
O douto magistrado entendeu que a aquisição dos direitos
sobre a unidade condominial, por intermédio da adjudicação em leilão
extrajudicial ocorreu por valor muito inferior e que, por esta razão, deve haver a
devolução dos valores pagos, após a dedução “de todos os encargos previstos
em lei” (fls. 244).
Ocorre que não se pode falar em abusividade na
adjudicação da unidade pelo Condomínio, quando no primeiro leilão não
houve interessados. Ocorre que o parâmetro a ser utilizado é o valor do
bem e não o valor das parcelas pagas. Além disso, o valor de mercado
pode ser considerado para concluir que o preço de venda foi vil e
desproporcional.
Neste ponto o autor não logrou êxito em se
desincumbir do seu ônus probatório, qual seja/apelado, provar que o
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preço da adjudicação é vil. Aliás, a questão sequer foi abordada sob esta
ótica, o que seria imprescindível diante do procedimento previsto na Lei º
4.591/64.
Por tais razões, não se pode falar em enriquecimento
ilícito do condomínio, que seguiu o procedimento legal previsto para o
caso, não se podendo lhe impor a devolução de qualquer valor ao
apelado quando não existiu saldo ao valor da adjudicação.
Neste mesmo sentido são os seguintes precedentes
deste Tribunal: CONDOMÍNIO E CONSTRUÇÃO POR ADMINISTRAÇÃO, A
PREÇO DE CUSTO. INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE
DEFESA DO CONSUMIDOR. CONTRATO REGULADO PELA
LEI Nº 4.591/64. INADIMPLÊNCIA DE MAIS DE TRÊS
PARCELAS CONSECUTIVAS. RESCISÃO CONTRATUAL
COM LEILÃO DA UNIDADE DO CONDÔMINO
INADIMPLENTE. ADJUDICAÇÃO PELO CONDOMÍNIO EM
SEGUNDA PRAÇA. LEGALIDADE. AUSÊNCIA DE SALDO A
SER DEVOLVIDO AO EXCLUÍDO. PEDIDO DE
RESSARCIMENTO JULGADO IMPROCEDENTE. RECURSO
DESPROVIDO. 1. Tratando-se de edificação pelo sistema de
incorporação imobiliária pelo preço real ou de custo, em que
várias pessoas se reúnem em condomínio para a construção
do edifício por administração própria, não há falar-se em
aplicação do Código de Defesa do Consumidor, diante da
inexistência da figura do fornecedor do produto ou serviço e do
consumidor. 2. Tendo o Condomínio observado o procedimento
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legal (art. 63, da Lei 4.591/64) e contratual para a alienação da
unidade do condômino inadimplente e desta não resultando
diferença a maior entre o valor da arrematação e o saldo
devedor, não há que se falar em restituição de qualquer
importância à autora.” (TJPR - 5ª C.Cível - AC 0138404-1 -
Maringá - Rel.: Des. Domingos Ramina - Unânime - J.
29.04.2003)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL CONDOMÍNIO E
CONSTRUÇÃO POR ADMINISTRAÇÃO,
A PREÇO DE CUSTO EMPREENDIMENTO ORGINALMENTE
ADMINISTRADO PELA CONSTRUTORA ENCOL
INADIMPLEMENTO ALIENAÇÃO DA COTA-PARTE VIA
LEILÃO EXTRAJUDICIAL - AÇÃO PRETENDENDO A
NULIDADE DOS ATOS CONSTITUTIVOS -
INAPLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO
CONSUMIDOR RELAÇÃO CONTRATUAL REGIDA PELA LEI
Nº 4.591/64 - INADIMPLÊNCIA CONFESSADA -
RESCISÃO CONTRATUAL COM LEILÃO DA UNIDADE DO
CONDÔMINO INADIMPLENTE - ADJUDICAÇÃO DO IMÓVEL
PELO CONDOMÍNIO RECORRIDO EM SEGUNDA PRAÇA -
REGULARIDADE PREÇO VIL INOCORRÊNCIA AUSÊNCIA
DE DEMONSTRAÇÃO DE INCORREÇÃO DO VALOR DA
AVALIAÇÃO RESTITUIÇÃO DAS PARCELAS PAGAS
IMPOSSIBILIDADE VALORES QUE FORAM PAGOS A
TERCEIRO E NÃO AO APELADO - PEDIDO DE
RESTITUIÇÃO JULGADO IMPROCEDENTE - RECURSO
DESPROVIDO.” (TJPR - 8ª C.Cível - AC 0733092-3 - Foro
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Apelação Cível nº 707.207-1 fls. 13
Central da Região Metropolitana de Curitiba - Rel.: Juiz Subst.
2º G. Marco Antônio Massaneiro - Unânime - J. 19.05.2011).
Ante o exposto, entende-se que a r. sentença deve sofrer
reforma, para excluir da lide, por ilegitimidade passiva ad causam o primeiro
apelante Granacon Construções Civis Ltda (CPC, art.267, VI) e, no mérito,
para julgar improcedente o pedido inicial.
Em virtude da reforma da sentença, em face do
provimento dos recursos, impõe-se a inversão dos ônus da sucumbência, de
modo que a parte autora/apelada deverá arcar com a integralidade das custas
processuais e os honorários advocatícios dos patronos dos apelantes, os quais
fixo em R$1.000,00( Um mil reais) para cada um, com fulcro no artigo 20,
parágrafo 4º, do CPC, observados os parâmetros do parágrafo 3º do artigo 20
do mesmo Código.
III - DECISÃO:
Diante do exposto, acordam os Desembargadores da 7ª
Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de
votos, em conhecer e dar provimento ao recurso de apelação nº 01 para
acolher a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam e dar provimento ao
recurso de apelação nº 02 para julgar improcedente o pleito inicial, nos termos
do voto da Relatora.
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Apelação Cível nº 707.207-1 fls. 14
Participaram da sessão e acompanharam o voto do
Relatora os Excelentíssimos Desembargadores Antenor Demeterco Junior e
Lenice Bodstein.
Curitiba, 02 de agosto de 2011.
Juíza Subst. 2º G. SANDRA BAUERMANN
Relatora Convocada