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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0527/16 Data do Acordão: 03-08-2016 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: ASCENSÃO LOPES Descritores: MATÉRIA DE FACTO MATÉRIA DE DIREITO INCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVO HIERARQUIA Sumário: I - Os recursos são específicos meios de impugnação de decisões judiciais, que visam modificar as decisões recorridas, e não criar decisões sobre matéria nova. II - Por isso, e em princípio, não se pode neles tratar de questões que não tenham sido apreciadas pela decisão impugnada, salvo questões novas de conhecimento oficioso e não decididas com trânsito em julgado. III - O Supremo Tribunal Administrativo apenas tem competência para conhecer de decisões dos tribunais tributários quando estiver em causa matéria exclusivamente de direito. Nº Convencional: JSTA000P20848 Nº do Documento: SA2201608030527 Data de Entrada: 26-04-2016 Recorrente: A... Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: A…………………., como representante fiscal de B…………, inconformada, recorreu da decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria (TAF de Leiria) datada de 11 de Março de 2016, que julgou improcedente o recurso que aquela havia deduzido após notificação da decisão de 06/01/2016 da Direcção de Finanças de Santarém, de avaliação indirecta da matéria colectável de IRS do ano de 2012. Conclusões da alegação de recurso da recorrente, A…………………… a fls. 216 «1) Conforme resulta de fls., foi apresentada no TAF de Leiria, uma petição de recurso, nos termos e com os fundamentos que acima se transcreveram, para melhor apreciação deste Venerando Tribunal; 2) Após contestação apresentada pela A.T., foi proferida sentença, que terminou concluindo: “Face a todo o exposto, julgo improcedente o presente recurso interposto por A……………. e B…………… e, por consequência, mantenho a decisão recorrida do Diretor de Finanças de Santarém de fixação do rendimento tributável para o ano de 2012, enquadrável na categoria G do IRS, com recurso à avaliação indireta, com as demais consequências legais”; 3) O Recorrente não concorda com tal decisão; 4) O Reclamante goza da legitimidade que lhe é atribuída, a ela própria, pelo artigo 15º da Lei Geral Tributária, como representante, nos precisos termos do n° 1 do artigo 5° do Código de Procedimento e de Processo Tributário. 5) E este teria sempre de ser notificado, para a apresentação dos elementos em causa [elementos de prova, já que é ele quem é o contribuinte]; 6) O representante apenas o representa, em elementos que não sejam referentes a dados concretos e que não sejam determinantes da sua vida pessoal; 7) Passa-se o seguinte: Ao tempo [2012] a representante era casada com o representado; Mas, já não o era, à data da notificação; Os movimentos objeto de derrogação do sigilo bancário, respeitam apenas ao representado; A representante não fez suprimentos, tanto, no exercício em causa, como em qualquer outro; A autorização de derrogação do sigilo bancário foi feita apenas no sentido das contas bancárias do representado; Apesar da declaração de rendimentos ser conjunta, os rendimentos são próprios de cada um dos cônjuges [apenas o cálculo do imposto a pagar é conjunto]; Estamos na presença de incongruência da notificação; 8) Quando foram solicitados documentos, teria de ser notificado o S.P., sendo que, o relatório da inspeção tributária já aparece noutra fase; 9) Não podemos entender outra coisa que não a existência do puro erro judiciário, quando a sentença considerou “bem-feitaa notificação relativa a ex-cônjuge, na pessoa do outro ex-cônjuge, já que o tribunal a quo descreveu corretamente a norma legal, mas veio dizer coisa diferente da descrita; 10) Deve, desta forma, revogar-se a decisão recorrida; 11) O audiente, apresentou uma declaração de rendimentos em 2013.12.17, a que coube o n° 2070-J0713-41, com rendimentos auferidos no estrangeiro, mais precisamente em Angola, quando o contribuinte B……………., não era residente no território português; 12) Relativamente ao exercício de 2012, que é o que está aqui em causa, o contribuinte declarou rendimentos de € 495.305,28, e não existiram outras situações de acréscimo de património ou de consumo; 13) Este rendimento é o constante de declaração de substituição, que o n° 3, do artigo 59°, do Código de Procedimento e de Processo Tributário lhe permite; 14) O projeto de relatório do serviço de inspeção tributária, no início do Capítulo V diz: “Nos termos dos artigos 87° alínea a), e artigo 89°-A, n° 5, da LGT, e ainda em conformidade com o preceituado no n° 1 alínea d) do artigo 9º do Código do IRS”, as correções ora propostas enquadram-se como rendimentos da categoria G; 15) A norma determinada na alínea a), do aludido n° 5, do artigo 89°-A: Considera-se: como rendimento tributável em sede de IRS, a enquadrar na categoria G; A diferença entre o acréscimo de património ou a despesa efetuada; E os rendimentos declarados pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação; 16) Para que fosse permitida a tributação da forma prevista na lei [no n° 5 do n° 4 do artigo 89°-A] seria necessário que: O valor dos suprimentos fosse superior em 30% ao valor dos rendimentos declarados; E ainda assim, esse excesso teria de ficar limitado [aos valores ético-jurídicos]; E delimitado [aos valores de 50% do excesso, caso existisse excesso]; Ao que se encontra preconizado no quadro 5, da tabela a que se refere o n° 4, do artigo 89°-A, ou seja, apenas 50% seria considerado rendimento; 17) Nos termos do artigo 89°A, teria de ser assim, como acima se transcreveu em tabela; 18) O n°4, do artigo 89°-A, só permite a tributação nos precisos termos, e pelos valores constantes dos quadros da tabela do mesmo n° 4 (ou seja: limita e delimita); 19) Esse apuramento com base no rendimento padrão, é um apuramento por método indireto; 20) Só esse apuramento por método indireto a fazer nos precisos do artigo 89°-A, da LGT, é que é considerado incremento patrimonial a tributar na cédula da categoria O do Código do IRS; 21) Qualquer outro apuramento a efetuar por métodos indiretos, teria, sempre, de ser tributado na categoria respetiva; 22) A fundamentação e a transcrição, a fls. 40 da sentença, do Ac. do STA de 8jul2009, nada tem a ver com a situação em concreto, e que foi colocada, uma vez que não se trata de acréscimos patrimoniais, não justificados, a que se refere o nº 4 do artigo 89°-A da LGT, e o citado Ac. só o entende como que normas de incidência objetiva quando efetivamente o não são, mas que não está aqui em causa; 23) O n°1, do artigo 75°, da LGT diz, para as declarações do contribuinte, mas, que não tem de estar relacionada com qualquer escrita [primeira parte do n° 1 do art.° 75° da LGT]; Acordão do Supremo Tribunal Administrativo http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/3aea... 1 de 21 12-09-2016 15:52

Acordão do Supremo Tribunal Administrativo · Administrativo e Fiscal de Leiria (TAF de Leiria) datada de 11 de Março de 2016, ... foi que reside em Angola, ali trabalha, ali obtém

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Acórdãos STAAcórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 0527/16Data do Acordão: 03-08-2016Tribunal: 2 SECÇÃORelator: ASCENSÃO LOPESDescritores: MATÉRIA DE FACTO

MATÉRIA DE DIREITOINCOMPETÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL ADMINISTRATIVOHIERARQUIA

Sumário: I - Os recursos são específicos meios de impugnação de decisões judiciais, que visam modificar asdecisões recorridas, e não criar decisões sobre matéria nova.II - Por isso, e em princípio, não se pode neles tratar de questões que não tenham sido apreciadas peladecisão impugnada, salvo questões novas de conhecimento oficioso e não decididas com trânsito emjulgado.III - O Supremo Tribunal Administrativo apenas tem competência para conhecer de decisões dos tribunaistributários quando estiver em causa matéria exclusivamente de direito.

Nº Convencional: JSTA000P20848Nº do Documento: SA2201608030527Data de Entrada: 26-04-2016Recorrente: A...Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICAVotação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: A…………………., como representante fiscal de B…………, inconformada, recorreu da decisão do TribunalAdministrativo e Fiscal de Leiria (TAF de Leiria) datada de 11 de Março de 2016, que julgou improcedenteo recurso que aquela havia deduzido após notificação da decisão de 06/01/2016 da Direcção de Finançasde Santarém, de avaliação indirecta da matéria colectável de IRS do ano de 2012.Conclusões da alegação de recurso da recorrente, A…… ……………… a fls. 216«1) Conforme resulta de fls., foi apresentada no TAF de Leiria, uma petição de recurso, nos termos e com osfundamentos que acima se transcreveram, para melhor apreciação deste Venerando Tribunal;2) Após contestação apresentada pela A.T., foi proferida sentença, que terminou concluindo: “Face a todo o exposto,julgo improcedente o presente recurso interposto por A……………. e B…………… e, por consequência, mantenho adecisão recorrida do Diretor de Finanças de Santarém de fixação do rendimento tributável para o ano de 2012,enquadrável na categoria G do IRS, com recurso à avaliação indireta, com as demais consequências legais”;3) O Recorrente não concorda com tal decisão;4) O Reclamante goza da legitimidade que lhe é atribuída, a ela própria, pelo artigo 15º da Lei Geral Tributária, comorepresentante, nos precisos termos do n° 1 do artigo 5° do Código de Procedimento e de Processo Tributário.5) E este teria sempre de ser notificado, para a apresentação dos elementos em causa [elementos de prova, já que éele quem é o contribuinte];6) O representante apenas o representa, em elementos que não sejam referentes a dados concretos e que não sejamdeterminantes da sua vida pessoal;7) Passa-se o seguinte: Ao tempo [2012] a representante era casada com o representado; Mas, já não o era, à data danotificação; Os movimentos objeto de derrogação do sigilo bancário, respeitam apenas ao representado; Arepresentante não fez suprimentos, tanto, no exercício em causa, como em qualquer outro; A autorização de derrogaçãodo sigilo bancário foi feita apenas no sentido das contas bancárias do representado; Apesar da declaração derendimentos ser conjunta, os rendimentos são próprios de cada um dos cônjuges [apenas o cálculo do imposto a pagaré conjunto]; Estamos na presença de incongruência da notificação;8) Quando foram solicitados documentos, teria de ser notificado o S.P., sendo que, o relatório da inspeção tributária jáaparece noutra fase;9) Não podemos entender outra coisa que não a existência do puro erro judiciário, quando a sentença considerou“bem-feita” a notificação relativa a ex-cônjuge, na pessoa do outro ex-cônjuge, já que o tribunal a quo descreveucorretamente a norma legal, mas veio dizer coisa diferente da descrita;10) Deve, desta forma, revogar-se a decisão recorrida;11) O audiente, apresentou uma declaração de rendimentos em 2013.12.17, a que coube o n° 2070-J0713-41, comrendimentos auferidos no estrangeiro, mais precisamente em Angola, quando o contribuinte B……………., não eraresidente no território português;12) Relativamente ao exercício de 2012, que é o que está aqui em causa, o contribuint e declarou rendimentos de €495.305,28, e não existiram outras situações de acréscimo de património ou de consumo;13) Este rendimento é o constante de declaração de substituição, que o n° 3, do artigo 59°, do Código de Procedimentoe de Processo Tributário lhe permite;14) O projeto de relatório do serviço de inspeção tributária, no início do Capítulo V diz: “Nos termos dos artigos 87°alínea a), e artigo 89°-A, n° 5, da LGT, e ainda em conformidade com o preceituado no n° 1 alínea d) do artigo 9º doCódigo do IRS”, as correções ora propostas enquadram-se como rendimentos da categoria G;15) A norma determinada na alínea a), do aludido n° 5, do artigo 89°-A: Considera-se: como rendimento tributável emsede de IRS, a enquadrar na categoria G; A diferença entre o acréscimo de património ou a despesa efetuada; E osrendimentos declarados pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação;16) Para que fosse permitida a tributação da forma prevista na lei [no n° 5 do n° 4 do artigo 89°-A] seria necessário que:O valor dos suprimentos fosse superior em 30% ao valor dos rendimentos declarados; E ainda assim, esse excessoteria de ficar limitado [aos valores ético-jurídicos]; E delimitado [aos valores de 50% do excesso, caso existisseexcesso]; Ao que se encontra preconizado no quadro 5, da tabela a que se refere o n° 4, do artigo 89°-A, ou seja,apenas 50% seria considerado rendimento;17) Nos termos do artigo 89°A, teria de ser assim, como acima se transcreveu em tabela;18) O n°4, do artigo 89°-A, só permite a tributação nos precisos termos, e pelos valores constantes dos quadros databela do mesmo n° 4 (ou seja: limita e delimita);19) Esse apuramento com base no rendimento padrão, é um apuramento por método indireto;20) Só esse apuramento por método indireto a fazer nos precisos do artigo 89°-A, da LGT, é que é consideradoincremento patrimonial a tributar na cédula da categoria O do Código do IRS;21) Qualquer outro apuramento a efetuar por métodos indiretos, teria, sempre, de ser tributado na categoria respetiva;22) A fundamentação e a transcrição, a fls. 40 da sentença, do Ac. do STA de 8jul2009, nada tem a ver com a situaçãoem concreto, e que foi colocada, uma vez que não se trata de acréscimos patrimoniais, não justificados, a que se refereo nº 4 do artigo 89°-A da LGT, e o citado Ac. só o entende como que normas de incidência objetiva quando efetivamenteo não são, mas que não está aqui em causa;23) O n°1, do artigo 75°, da LGT diz, para as declarações do contribuinte, mas, que não tem de estar relacionada comqualquer escrita [primeira parte do n° 1 do art.° 75° da LGT];

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24) No caso em concreto, o contribuinte não tem rendimentos que obriguem a escrita, e não tem escrita, o que nosparece que o tribunal está a conhecer um fundamento com o objetivo de conferir validade ao ato tributário que não lhefoi colocado para apreciação, e que se enquadra em nulidade por excesso de pronúncia;25) Diz-nos a alínea d), do n° 2, do artigo 75°, da LGT: “Os rendimentos declarados em sede de IRS se afastaremsignificativamente para menos, sem razão justificativa, dos padrões de rendimento que razoavelmente possam permitiras manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeito passivo nos termos do artigo 89.º-A”.26) Mas isso, só se verifica relativamente às manifestações de fortuna tipificadas no artigo 89°-A, não mais do que isso;27) O sumário do Ac. do TCA sul transcrito a páginas 47/48 da sentença em recurso, também não tem aplicação aocaso em concreto;28) Entendemos que não, e que o Tribunal errou: Não são os recorrentes, mas apenas um recorrente (B……………); Sóé suscetível a tributação enquanto incrementos patrimoniais, nos termos da tabela constante do artigo 89°A da LGT; Oconceito de manifestações de fortuna só está patente naquele artigo 89°A; Qualquer outra tributação, teria de ser,sempre feita, na respetiva cédula do CIRS; Não é possível fixar o rendimento tributável em causa, que não tenha porsuporte as manifestações de fortuna a que nos referimos em ii), por que não previstas na lei;29) Sempre dissemos que esta tributação indireta não se aplica [quase parece um TOC - transtorno obsessivo-compulsivo];30) O que o contribuinte sempre disse, foi que reside em Angola, ali trabalha, ali obtém rendimentos, mas tem famíliaem Portugal, e traz esses rendimentos para Portugal, mas o sistem a bancário não lhe permite fazertransferências , e como tal não tem provas, apenas por que não existem;31) Também sempre disse, que muitos dos valores que vieram, indevidamente a ser depositados nas suas contasbancárias, não lhe pertencem mas sim aos seus colab oradores, que se encontram a trabalhar em Angola , etambém eles impedidos de transferir a parte dos salários que lhes sobra, e identificou essas contas para as quais osvalores respetivos foram transferidos das suas contas em Portugal, para os familiares dos seus colaboradores emAngola;32) Quanto à fundamentação feita no projeto de relatório quanto ao artigo 87°, da LGT, sob o título realização daavaliação indireta, o artigo refere-se ao acréscimo de património ou despesa efetuada, incluindo liberalidades de valorsuperior a € 100.000,00;33) Interpretando a norma, verificamos que, não está em causa qualquer: Acréscimo de património, porquanto osrendimentos, e assim, os suprimentos não podem ser tributados; Por sua vez, não houve aumento de património porque não foram adquiridos bens imóveis; Qualquer despesa, não foi feita aquisição; ou Qualquer liberalidade, não severificam liberalidades, muito menos superior a € 100.000,00;34) Este artigo não tem qualquer aplicação, ao caso em concreto, e nunca deveria ter sido autorizada a avaliaçãoindireta;35) Quanto à aplicação de métodos indiretos, o CIRS, diz-nos que a determinação se verifica, nos casos e nascondições, dos artigos 87° a 89° da LGT;36) E, o n° 2, do artigo 39°, se refere ao atraso na execução da contabilidade ou escrituração de documentos ou à nãoexibição imediata de documentos;37) Está relacionado com rendimentos empresariais ou profissionais, sujeitos, ou não, a contabilidade organizada, masnão fora destes casos;38) O artigo 52° se refere a divergência de valores, o que nos parece que não está aqui em causa uma vez se refere avalores das transmissões (vendas);39) As justificações quanto aos elementos solicitados, ao abrigo de dever de colaboração, foram oportunamenteprestadas, como documento anexo à cópia do projeto de relatório;40) Esta fixação afigura-se como um absurdo (pois já referimos, acima, a ilegalidade);41) Questionámos ainda a prorrogação do ato de inspeção de 2015.09.27 para 2015.10.09, por que não justificada emconcreto, e, não se encontrar nas condições previstas nas alíneas a), a e) do n° 3, do artigo 36°, do RCPIT, eentendemos que se extinguiu o ato de inspeção em 2015.09.27;42) É verdade que o fundamento da alínea a), do n° 3, do artigo 36°, do RCPIT refere o elevado número de operações,mas essas operações constam das páginas 13/14 do relatório, e o volume não é elevado;43) Foi feita uma interpretação que não tenha qualquer correspondência na letra da lei, viola as regras constitucionaisgerais do Estado de Direito Democrático, nomeadamente da dos princípios da legalidade, da reserva de lei e dasespecíficas da atividade administrativa, nomeadamente da proporcionalidade, da justiça, da equidade e da boa-féconforme se dispõe nos artigos 18°, 103° e 266° da CRP;44) No caso em concreto, o Sr. IT fez tábua rasa da lei nomeadamente o artigo 89°- A da LGT exorbitando a sua função,arrogou-se na qualidade de legislador atribuir um sentido diferente ao artigo 89°-A que a letra da lei não lhe permite;45) À AT não é permitido liquidar e cobrança de impostos que não se façam nos termos da LEI (n°3, do artigo 103°, daConstituição);46) E, o apuramento não é permitido pelo art.° 89°-A da LGT;47) O n° 5, do artigo 89°-A da LGT, só estabelece a possibilidade de tributação em face de rendimentos padrão, e nãoqualquer outro;48) A sentença em lado algum o nega, e não foi considerado nenhum valor de património;49) Se a AT quisesse tributar o rendimento por métodos indiretos (ad oc), nunca poderia utilizar o instrumento do artigo89°-A da LGT;50) Por este motivo, e todos os que vêm sendo alegados, deve a sentença de fls. ser revogada, e, em consequência,anular-se a decisão de fixação da matéria tributável dos recorrentes do ano de 2012;51) O que se requer, com todas as consequências legais daí resultantes;Termos em que, pelos fundamentos acima alegados, e nos melhores de direito, se requer a revogação da sentença emrecurso, e de conformidade com o disposto na alínea e), do n° 1, do artigo 452°, do CPC, a anulação da avaliaçãoindireta, por ilegalidade, com os fundamentos.»

A entidade recorrida, AT. veio apresentar as suas c ontra alegações com o seguinte quadroconclusivo:«A) Nas suas alegações e conclusões de recurso, os Recorrentes esgrimem argumentos novos que não constam dap.i., nem são referidos na douta sentença, o que fazem designadamente nas alíneas 7), 11), 12), 13), 14), 15), 16), 17),18), 19), 20), 21), 30), 31), 32), 33), 34), 35), 36), 37), 38), 39), 40) e 41) das suas conclusões.B) No recurso interposto de uma sentença, a que o recorrente assaca determinado vício e cuja anulação requer, o que éobjecto de apreciação são os fundamentos que, no seu entender, a inquinam.C) O âmbito do recurso circunscreve-se, apenas e tão só, isolada ou conjuntamente, dependendo do teor do mesmo, àapreciação pelo Tribunal superior da fundamentação de facto e ou de direito da decisão judicial de que se recorre, dadecisão propriamente dita e, caso seja invocada omissão de pronúncia, das alegações das partes produzidas em juízoque não foram apreciadas e que, alegadamente, o deveriam ter sido.D) Não constituindo o recurso, reconhecida e inelutavelmente, uma nova apreciação da mesma causa, mas sim osindicar de uma decisão judicial, todas as alegações que não se contenham nos limites referidos no ponto anterior daspresentes alegações, não constituem fundamentos susceptíveis de pôr em crise a decisão de que se recorre e, comotal, não têm qualquer relevância, não devendo sequer ser apreciados pelo tribunal ad quem.E) Sem conceder, e na eventualidade de assim não vir a ser entendido, sempre se dirá que todo o vertido nesses pontosdas conclusões não é de molde, minimamente sequer, a pôr em causa todo o vertido na douta Sentença, nãoenfermando a mesma dos vícios que os Recorrentes tacitamente lhe assacam, como não padece da causa de nulidade

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que os mesmos lhe imputam.F) Ora, relativamente ao entendido e decidido pela douta sentença, os Recorrentes começam por afirmar, na página 10das suas alegações, que “Na decisão ora recorrida, na página 56 diz-se: “Ora, no caso em apreço, contrariamente aoinvocado pelos recorrentes, a notificação do teor do relatório de inspeção tributária não configura um ato pessoal paraos termos do sobredito normativo, pois não está em causa qualquer notificação para comparência nos serviços daAutoridade Tributária ou no Tribunal’ excedo esse que corresponde ao último parágrafo da página 55 da Sentença e nãoà ”página 56”.G) Afirmam os Recorrentes, de seguida, que “Mas, o que foi invocado, não foi isso. A montante, e quando foramsolicitados documentos, teria de ser notificado o S.P., sendo que, o relatório da inspeção tributária já aparece noutrafase.”, que “Parece que o Tribunal não entendeu a diferença;” e que “O que se lamenta, mas não podemos entenderoutra coisa que não a existência do puro erro judiciário, quando a sentença considerou “bem-feita” a notificação relativaa ex-cônjuge, na pessoa do outro ex-cônjuge, já que o tribunal a quo descreveu corretamente a norma legal, mas veiodizer coisa diferente da descrita.”, o que consubstancia a invocação de erro de interpretação e aplicação do direito doart. 40°, n° 1 e n° 2 do CPPT, sustentando os Recorrentes que “Deve, desta forma, revogar-se a decisão recorrida.” —afirmações essas que reiteram nas alíneas 8) a 10) das suas conclusões - sem que lhes assista qualquer razão.H) Com efeito, nesse excedo da Sentença que é transcrito pelos Recorrentes, assim como nos 5° a 7° parágrafos dapágina 55 e nos 1° e 2° parágrafos da página 56 da Sentença (todos compreendidos no sub-título “v) ilegalidade danotificação” da Sentença), o Meritíssimo Juiz faz uma correta apreciação das alegações constantes da p.i. do recurso(concretamente das que se reconduzem à invocação de “nulidade procedimental” - a que se alude no 1° parágrafo dapágina 56 da Sentença - que não se verifica) e, bem assim, uma acertada interpretação, e aplicação ao caso, dasnormas jurídicas referidas nesses parágrafos.I) No 4° parágrafo da pág. 13 das suas Alegações, os Recorrentes voltam a referir-se à Sentença quando afirmam “Afundamentação e a transcrição, a fls. 40 da sentença, do Ac. do STA de 8jul2009, nada tem a ver com a situação emconcreto, e que foi colocada, uma vez que não se trata de acréscimos patrimoniais, não justificados, a que se refere on°4 do artigo 89°-A da LGT, e o citado Ac. só o entende como que normas de incidência objetiva quando efetivamente onão são, mas que não está aqui em causa.”, no que lhes falece razão.J) Os Recorrentes estão a referir-se ao 2° parágrafo da página 40 da douta Sentença (“Neste sentido, veja-se o Acórdãodo STA de 8 de Julho de 2009 (Proc.° n.º 0579/09), onde se diz que “Os índices (...)“), que é precedido de váriosparágrafos em que o Meritíssimo Juiz atenta no “mecanismo” das “manifestações de fortuna”, afirmando que “nãoencontramos apenas regras de determinação da matéria tributável: encontramos também regras próprias de incidênciaobjetiva (também designada de incidência real) e disposições de garantia”, a que se segue a invocação do aludidoAcórdão.K) Assim, a invocação desse Acórdão encontra plena justificação, sendo que nos restantes parágrafos compreendidosno sub-título “ii) Ilegalidade da avaliação indireta.”, o Meritíssimo Juiz faz uma correta apreciação das alegaçõesconstantes da p.i. do recurso (que se reconduzem à invocação da “ii) ilegalidade da avaliação indireta” que não severifica) e, bem assim, uma profunda e acertada interpretação, e aplicação ao caso, das normas jurídicas referidasnesses parágrafos.L) No 5° parágrafo da pág. 13 das suas Alegações, os Recorrentes transcrevem o 3° parágrafo da página 45 daSentença, ou da “fls. 45 da sentença”, após o que afirmam, no 7° parágrafo da pág. 13 e na alínea 24) das suasconclusões que “No caso em concreto, o contribuinte não tem rendimentos que obriguem a escrita, e não tem escrita, oque nos parece que o tribunal está a conhecer um fundamento com o objetivo de conferir validade ao ato tributário quenão lhe foi colocado para apreciação, e que se enquadra em nulidade por excesso de pronúncia.”, sem que tenhamqualquer razão.M) Com efeito, no 3° parágrafo da página 45, ou da “fls. 45 da sentença”, bem como nos parágrafos seguintes, oMeritíssimo Juiz faz uma correta e acertada “análise do regime regra e, nessa medida, convocar o princípio da verdadedeclarativa.” (“para se aquiescer do verdadeiro alcance e extensão da inversão do ónus da prova estabelecida para oscasos do artigo 89.°-A da LGT”), como previamente afirmara no 2° parágrafo dessa página.N) Assim sendo, e contrariamente ao alegado pelos Recorrentes, o Tribunal não “está a conhecer um fundamento com oobjetivo de conferir validade ao ato tributário que não lhe foi colocado para apreciação” (aliás, do sub-título “FactosProvados” da Sentença, não consta que os Recorrentes tenham “escrita”, ou “contabilidade”, nem que a tal estivessemobrigados, sendo que tal nunca é afirmado no titulo “B) De Direito” da Sentença, nem nos respetivos sub títulos), dondenão se verifica a invocada “nulidade por excesso de pronúncia.”O) No último parágrafo da pág. 13 das suas Alegações, os Recorrentes transcrevem o 2° parágrafo da página 46 daSentença, ou da “fls. 46 da sentença”, após o que transcrevem o 3° parágrafo da pág. 46 da sentença e referem aalínea d), do n° 2 do ad. 75° da LGT, afirmando, no 4° parágrafo da página 14 das suas alegações, que “Mas isso, só severifica relativamente às manifestações de fortuna tipificadas no artigo 89°-A, não mais do que isso.”, o que reafirmamna alínea 26) das suas conclusões, sem qualquer razão.P) Ora, reafirmando-se todo o vertido na alínea M) das presentes conclusões, é indubitável que, no caso em apreço,estão reunidos todos os pressupostos da alínea f) do art. 87° e do n° 5 do art. 89°-A ambos da LGT, ao abrigo dos quaisa decisão do Diretor de Finanças de Santarém, com data de 6/01/2016 (que fixou o rendimento coletável de IRS deA…………. e de B…………….., referente ao ano de 2012, no valor de 3.028.119,71€), foi proferida.O) Os Recorrentes também não têm qualquer razão, pelos motivos referidos na alínea M) das presentes conclusões,quando afirmam, no 5° parágrafo da página 14 das suas alegações e na alínea 27) das suas conclusões, que “Osumário do Ac. do TCA sul transcrito a páginas 47/48 da sentença em recurso, também não tem aplicação ao caso emconcreto.”R) No 6° parágrafo da página 14 das suas alegações, os Recorrentes afirmam que “A fls. 51 da sentença em apreço, sediz: ‘Nos termos expostos, não estando justificada a manifestação de fortuna, deverá manter-se o ato recorrido que fixouaos recorrentes rendimento a tributar em sede de categoria G de IRS, improcedendo, por isso, nesta parte o presenterecurso” após o que afirmam, no parágrafo seguinte dessa página, que “Porém, entendemos que não, e que o Tribunalerrou:”, pelos motivos referidos nas alíneas i) a v), o que reafirmam na alínea 28) das suas conclusões, sem que tenhamqualquer razão.S) Com efeito, não tendo os Recorrentes a mínima razão quanto ao vertido nas alíneas i) a v) e na alínea 28) das suasConclusões, forçoso se torna concluir que não se verifica qualquer erro na interpretação e aplicação do direito, nemqualquer erro de julgamento.T) A esta mesma conclusão se chega, relativamente ao vertido nos 3° a 9° parágrafos da página 15 das alegações dosRecorrentes e nos 1° a 11° parágrafos da página 16 (que é reafirmado nas alíneas 29) a 41) das conclusões dosRecorrentes), com referência ao 6° parágrafo de página 50 da sentença, a que se alude no 2° parágrafo da página 15das alegações dos Recorrentes.U) Com efeito, e reafirmando-se o afirmado alíneas A) a D) destas conclusões, todo o vertido nesses parágrafos dessaspáginas 15 e 16 e nas alíneas 29) a 41) das conclusões dos Recorrentes, não é de molde a pôr em causa, minimamentesequer, a correta apreciação das alegações constantes da p.i. do recurso (que se reconduzem à invocação da ‘li)ilegalidade da avaliação indireta’ que não se verifica), nem a profunda e acertada interpretação, e aplicação ao caso,das normas jurídicas referidas nesse sub-título ii) ilegalidade da avaliação indireta” da douta Sentença.V) No último parágrafo da página 16 das suas alegações, os Recorrentes afirmam que “A fls. 48 da sentença se diz que:“contrariamente ao invocado pela recorrente, tem previsão legal na alínea a) do n° 3 do sobredito normativo” sendo queesse excedo não corresponde a qualquer linha da página 48, ou “fls. 48 da Sentença”, nem a qualquer excedo daSentença.W) Por sua vez, no 1° parágrafo da página 17 das suas alegações, os Recorrentes afirmam que “E, a fls. 49 da

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sentença se transcreve uma súmula do parecer do DMMG que refere que: “é de ordem disciplinador ou ordenador eainda transcreve a não inconstitucionalidade do n°2 do art.°36°, excerto esse que não corresponde a qualquer linha dapágina 49 da Sentença proferida nos presentes autos, nem a qualquer excedo da Sentença.X) Por fim, e reafirmando-se todo o vertido nas alíneas A) a E) destas conclusões, não pode deixar de se assinalar quetodo o vertido nos demais parágrafos das alegações dos Recorrentes e nas demais alíneas das suas conclusões, não éde molde a por em causa minimamente sequer, a correta apreciação das alegações constantes da p.i. do recurso, nema profunda e acertada interpretação, e aplicação ao caso, das normas jurídicas referidas nos sub títulos do título “B) DeDireito” da douta Sentença.Y) Do exposto, a douta Sentença recorrida não enferma dos vícios nem da causa de nulidade que os Recorrentes lheassacam, nem enferma de qualquer outro vício ou causa de nulidade, pelo que deve ser confirmada.Z) Como nota final, e tendo presente que a Sentença fixou, e bem, “O Valor da causa em €3.028.119,71”, não pode aEntidade Recorrida deixar de afirmar que, em seu entender, encontram-se preenchidos os pressupostos previstos no n°7 do art. 6° do Regulamento das Custas Processuais, para que possa haver lugar à dispensa do “remanescente da taxade justiça”, a que se alude nessa norma, dada à não grande complexidade “da causa”, ou seja do presente recurso, e àconduta processual da Entidade Pública Recorrida, dispensa essa que, com a devida vénia, se requer.»

O Ministério Público junto deste STA emitiu parecer a fls 267/218 com o seguinte teor:«Recurso interposto por A…………., representante fiscal de B…………….., sendo recorrida a F.P.:1 - Erro na decisão proferida quanto à notificação.Invoca-se, para além do mais, que o recorrente devia ter sido notificado para a apresentação de elementos em falta comfundamento no disposto nos artigos 15.º da L.G.T. e 5º n.º 1 do C.P.P.T..Não constando que tenha sido revogada a nomeação de representante fiscal não é de reconhecer o dito erro.2- Ilegalidade da tributação por métodos indiretos efe tuada nos termos do disposto nos artigos 75.º, 87.º n.º 1 al.f) e 89.º -A n.ºs 4 e a 5 al. a) da L.G.T..A fixação da matéria coletável em sede de I.R.S. de 2012 assentou em acréscimos de património não justificados queforam apurados a partir de montantes transferidos para contas bancárias do contribuinte, e a que foram deduzidos devalores justificados, a crescer aos valores declarados em que os montantes assim apurados a 100% não tinham sidoincluídos.A «divergência não justificada» a que se refere a al. f) do art. 87.° da L.G.T. permite a avaliação por métodos indiretosdesde que por montantes superiores a € 100 000.O enquadramento em “manifestação de fortuna” por «outros acréscimos patrimoniais não justificados» constante dosn.ºs 4 e 5 al. a) do art. 89°-A da L.G.T. permite ainda a fixação pelos rendimentos padrão previstos nesta última normasem necessidade de se recorrer ao previsto no art. 90.º da L.G.T..Ora, se na previsão constante do n.º 5 al. a) do art. 89.º-A da L.G.T. consta o enquadramento em rendimento tributávelem sede de I.R.S., a enquadrar na categoria G, é possível a fixação da dita matéria que foi ainda efetuada porreferência ao artigo 39.º do Código do I.R.S..3- Extinção do procedimento pelo decurso do prazo em 2015.09.27, nos termos do art. 36.º n.º 3 alíneas a) e c) doR.C.P.I.T.;Reitera-se o entendimento tido em anterior parecer do prazo previsto ser ordenador.4 - A violação de várias regras e princípios constitucionais, nomeadamente, por que se rege a atividade administrativa.A fixação da matéria coletável é abrangida por normas que, sendo de incidência, estão por isso sujeitas à reserva de leifiscal, incluindo na vertente da sua não aplicação retroativa, termos em que são de interpretar - artigos 165.º n.º 1 alíneai) e 103.º da Constituição da República e 11.º n.º 1 da L.G.T..Se, face ao enquadramento que foi efetuado, não será de pôr em causa a fixação por métodos indiretos comfundamento na existência de acréscimos injustificados, já quanto ao apuramento a “100 % da soma dos montantesanuais transferidos” para a conta do contribuinte, o que foi efetuado com fundamento no previsto no art. 89.º-A. 4 daL.G.T., só na redação dada pela Lei n. 55-A/2012, de 29/10 colhe fundamento - na anterior versão tal ocorria apenas a50%.É certo que, tendo esta Lei entrado em vigor a 30-10-2012, para produzir efeitos a 1-1-2012, o período da tributaçãoainda não tinha totalmente ocorrido, razão pela qual se impõe a adequação do previsto na dita nova norma deincidência. Assim, pelo menos, defendem Diogo Leite de Campos, Benjamim Silva Rodrigues e Jorge Lopes de Sousaem Lei Geral Tributária, 4.ª ed. 2012, pág. 130, citando Alberto Xavier que defende ser de dar lugar à aplicação da lei“pro rata temporis”.Concluindo:Não sendo de anular a avaliação indireta que foi efetuada, pode impor-se que seja reduzida a matéria coletável que foifixada “pro rata temporis”.»

2- FUNDAMENTAÇÃO:A decisão de 1ª Instância deu como assente a seguin te matéria de facto a fls. 163/177 verso.

A)Com data de 30-03-2015 os Serviços de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarémemitiram a Ordem de Serviço 01201500576 para ação de inspeção externa para o exercício de 2012 aB……………… e A………………. — (cfr. processo instrutor apenso).

B)Em 05-10-2015 a Divisão de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçou aC……………., na qualidade de mandatário de A………….., representante fiscal de B…………, o ofício nº5502 de notificação de prorrogação do procedimento de inspeção credenciada pela Ordem de Serviçoidentificada na alínea antecedente. — (cfr. processo instrutor apenso).

C)Na mesma data a Divisão de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçou aA………….., em nome pessoal e na qualidade de representante fiscal de B…………….., o ofício n.º 5503de notificação de prorrogação do procedimento de inspeção credenciada pela Ordem de Serviçoidentificada em A). — (cfr. processo instrutor apenso).

D)Em 08-10-2015 a Divisão de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçou aC………….., na qualidade de mandatário de A………… representante fiscal de B………., o ofício nº 5625de notificação para remeter justificação para cada um dos movimentos a crédito ocorridos no exercício de2012, identificados nas contas de depósitos à ordem Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Salvaterra deMagos, do Banco Santander Totta e da Caixa Económica Montepio Geral. — (cfr. fls. 57 a 62 dos autos].

E)Em 23-10-2015 o Exmo. Mandatário da recorrente remeteu à Direção de Finanças de Santarém cheques eordens de transferência bancárias em nome do recorrente. — (cfr. processo instrutor apenso].

F)Em 18-11-2015 a Divisão de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçou aA……………, em nome pessoal e na qualidade de representante fiscal de B…………., o ofício nº 6304 de

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notificação da conclusão dos atos de inspeção respeitantes à Ordem de Serviço identificada em A). — (cfr.processo instrutor apenso).

G)Com data de 30-11-2015 a Divisão de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçoua A……………, em nome pessoal e na qualidade de representante fiscal de B……………, o ofício n. 6481de notificação do projeto de relatório de inspeção tributária relativo ao ano de 2012.— (cfr. processoinstrutor apenso].

H)Na mesma data os Serviços de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçaram oofício n. 6488 ao Exmo. Mandatário da Recorrente de idêntico teor ao referido na alínea anterior. — (cfr.processo instrutor apenso].

I)Em 05-01-2016 os Recorrentes, através do seu Mandatário, exerceram por escrito junto da Direção deFinanças de Santarém o direito de audição pedindo o arquivamento do procedimento.— (cfr. processoinstrutor apenso].

J)Na mesma a Divisão de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém, endereçou o ofício n.º46 a C………….., na qualidade de mandatário de A……….., representante fiscal de B………….., denotificação do relatório final de inspeção dos sujeitos passivos ora recorrentes. — (cfr. fls. 64 dos autos).

K)Em 25-01-2016 a Divisão de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçou o ofícion.º 105 a C……………, na qualidade de mandatário de A………….. representante fiscal de B………………,em substituição e anulação do ofício mencionado na alínea anterior, de notificação do relatório final deinspeção dos sujeitos passivos ora recorrentes, onde consta, além do mais, o seguinte:“(...) 1.4- Descrição sucinta das correções da ação inspetivaOs valores constantes do quadro apresentado na página anterior têm por base as seguintes correções:1.4.1 - IRS1.4.1.1- Exercício de 2012I.R.S, € 2.509253,11 - correção ao rendimento coletável declarado, em resultado da existência deacréscimos patrimoniais não justificados nos termos da alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º da Lei GeralTributaria (cujos cálculos se encontram patentes no Capitulo V do presente Relatório de Inspeção)) sendoo rendimento coletável proposto no valor de € 3.028.119,71 assim apurado:

Capítulo II - Objetivos, âmbito e extensão da ação de inspeção1. Credencial e período em que decorreu a açãoFoi realizado um procedimento de inspeção aos sujeitos passivos B………… com o N.I.F. ………., eA……….. com o N.I.F. …………., ao abrigo de ordem de serviço, emitida para o ano de 2012.O procedimento inspetivo de cariz externo encontra-se credenciado, conforme definido no artigo 46.º doRCPITA, pela Ordem de Serviço 01201500576, sobre a qual recaiu o despacho autorizador do Chefe deDivisão de Inspeção Tributária 1 da Direção de Finanças de Santarém.Em conformidade com o preceituado na alínea 1) do n.º 3 do artigo 59.º da LGT, e do n.º 1 do artigo 49º doRCPITA, o procedimento inspetivo externo para o exercício de 2012 foi notificado ao S.P. através de cartaaviso enviada pelo ofício n.º 1730 de 31-03-2015.Os atos inspetivos foram iniciados no dia 13 de Abril de 2015, com a assinatura da Ordem de Serviço peloSP B (cônjuge à data dos factos), em consonância com a disposição legal prevista no artigo 51.º doRCPITA.Por sua vez, em 05-10-2015, através do ofício n.º 5502, notificou-se o mandatário do SP B (conformeprocuração outorgada em 02-06-2015) da necessidade de prorrogação do procedimento de inspeção, porum período adicional de 3 meses, como prescreve o n.º 4 do artigo 36.º do RCPITA, tendo-se, nessemomento, projetado a respetiva conclusão até ao dia 13 de Janeiro de 2016. Não obstante o quadronormativo reivindicado pelo artigo 40.º do CPPT, foi dado conhecimento de tal prorrogação ao S.P Batravés do ofício n.º 5503 do dia 05-10-2015.Os atos inspetivos foram concluídos no dia 18 de Novembro com a notificação da nota de diligência aomandatário do S.P. B através do ofício nº 6295. Através do ofício n.º 6340 nos termos do n.º 1 do artigo61.º do RCPITA, também se deu conhecimento desse facto ao S.P. B (que para além da condição decônjuge e co sujeito passivo na ação inspetiva em curso é também representante fiscal do S.P. A).2. Motivo, âmbito e incidência temporalA presente ação de fiscalização aos S.P. surge na sequência da entrega de uma declaração desubstituição da modelo 3 de IRS, para o ano de 2012, consubstanciando uma alteração significativa dosvalores inicialmente declarados (na primeira declaração).O sujeito passivo apercebeu-se da enorme incongruência que subsistia entre o valor de suprimentosrealizados em favor de sociedades das quais era sócio e o montante dos seus rendimentos declarados emsede IRS, alterou o valor dos seus rendimentos em 17-12-2013, submetendo nessa ocasião umadeclaração de substituição modelo 3 de IRS a que coube o n.º 2070-2013-J0713-41, e onde figuramrendimentos 20 vezes superiores aos anteriormente declarados.A ação de inspeção é de âmbito parcial, para o exercício de 2012, nos termos da alínea b) do n.º 1 doartigo 14.° do Regime Complementar de Inspeção Tributária e Aduaneira (RCPITA).3. Outras situações3.1 - Caraterização do Sujeitos PassivosNo ano em análise, neste procedimento, verificamos que o sujeito passivo não se encontrava coletado emnome individual para o exercício de qualquer tipo de atividade comercial, agrícola ou industrial.3.2 - Obrigações FiscaisNo ano em análise no tocante à situação declarativa do sujeito passivo em sede de IRS, o mesmoapresentou duas declarações de rendimento, conforme “print” extraído do sistema informático.

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Os S.P. apresentaram no dia 17-12-2013 a declaração de substituição modelo 3 de IRS, para efeitos deImposto Sobre Rendimentos de Pessoas Singulares, tendo inscrito nessa declaração a seguintecomposição do agregado familiar:

Sujeito Passivo A – B…………….., NIF ………….Sujeito Passivo B – A…………… , NIF …………..Dependente – D……………..…., NIF …………..Dependente – E………………, NIF ……………..

Os S.P. declararam no anexo A (Rendimentos da categoria A - Trabalho dependente), os seguintes valoresauferidos na empresa F……………., Lda” e “G……………., Lda.”Rendimentos do trabalho dependente declarados no Anexo A

Declararam no Anexo l - Benefícios Fiscais e deduções os seguintes valores;

Deduções à coleta declarados no anexo H

Declararam no Anexo J - Rendimentos obtidos no estrangeiro (Angola), pelo S.P.. A os seguintes valores:

Rendimentos de trabalho dependente obtidos no estrangeiro declarados no anexo – J

Relativamente às relações económicas que mantém ou manteve com outros sujeitos passivos,verificamos, as que se seguem, conforme “print” extraído do sistema informático.

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3.2.1 - Diligências efetuadas3.2.1.1- De modo a comprovar se os rendimentos declarados pelos sujeitos passivos por via da declaraçãode substituição de IRS, apresentada no dia 17-12-2013, estavam de acordo com os rendimentos auferidos,foi elaborada informação, ao abrigo do artigo 63.º-B n.º 1 alínea b) da LGT, no sentido de solicitar àsenhora Diretora Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira a derrogação do sigilo bancário ao SP A-B……………….3.2.1.2 - Com base na informação elaborada, a senhora Diretora Geral da Autoridade Tributária autorizou,através da decisão do dia 21 de Maio de 2015, o acesso aos documentos bancários existentes nasinstituições bancárias, relativos a todas as contas em que o S.P A – B……………, fosse titular.3.2.1.3 - Obtida a autorização de acesso às contas bancárias por parte da senhora Diretora Geral daAutoridade Tributária, foi solicitado ao Banco de Portugal informação sobre as entidades bancárias em queo S.P. A fosse titular, nos termos do artigo 63.º da LGT.Através da informação enviada pelo Banco de Portugal concluímos que o S.P. A é titular de contasbancarias nas seguintes instituições de crédito - CCAM SALVATERRA DE MAGOS, B SANTANDERTOTTA S.A. e CAIXA EC. MONTEPIO GERAL.3.2.1.4 - Foi igualmente solicitado a cada uma das instituições de crédito os extratos bancários das contasem que o S.P. A fosse titular.3.2.1.5 -Analisados os extratos bancários nas instituições de crédito supra referidas, verificamos aexistência de contas em dólares (Banco Santander Totta S.A.) e diversas contas em euros (CCAMSalvaterra de Magos, Banco Santander Totta SA e Caixa Económica Montepio Geral), um volume elevadode movimentações, quer em número de depósitos e transferências bancárias quer em termos de valores,sendo que os depósitos em dinheiro e transferências bancarias, que no exercício em causa atingiram omontante de €2.698.359,07 e dólares 705.957,85, abaixo discriminados:

Soma dos depósitos e transferências a favor do SP A em 2011:

No tocante às contas em dólares, de modo a apurar o rendimento em moeda com curso legal em Portugal,foi realizada a conversão dos dólares para euros, com base nas taxas de referência diária publicada peloBanco de Portugal. Os cálculos encontram-se discriminados no anexo 1, da presente informação eatingiram o montante de € 547.666,13, pelo que o valor total da entrada de fluxos financeiros em eurosascende a € 3.246.025,20 (€2.698.359,07 + €547.666,13) - valores constantes do anexo I à presenteinformação.3.2.1.6 - A fim de se verificar a origem das importâncias depositadas nas suas contas foi notificado o DrC………….. na qualidade de mandatário de A…………. (SP B) representante fiscal de B……………., aoabrigo do dever de colaboração, consagrado no artigo 59.º n.º 4 da Lei Geral Tributária e artigos 9.º e 48.°do RCPITA, através do ofício n.º 5626 do dia 08-10-2015, para justificar para cada um dos movimentos acrédito, entradas nas instituições de crédito antes mencionadas, esclarecendo se se trata de rendimentosde trabalho dependente, efetuar a prova de tal rendimento e no caso de não se enquadrar naquele tipo derendimento identificar a origem do fluxo financeiro juntando o respetivo comprovativo, conforme notificaçãoem anexo III. Não constante o quadro normativo reivindicado pelo artigo 40.° do CPPT, foi dadoconhecimento da notificação ao SP B através do ofício n.º 5683 do dia 09-10-2015.3.2.1.7 - O mandatário do SP B, enquanto representante fiscal do SP A, apresentou as justificaçõeselencadas infra:3.2.1.8 - Das justificações apresentadas pelo mandatário do SP B enquanto representante fiscal do SP Apassamos a analisá-las:Confrontando o quadro apresentado pelo mandatário relativamente aos depósitos na CCAM de Salvaterracom os extratos bancarias da conta do Caixa Ec. Montepio Geral verificamos que nos seguintes dias:- 16-05-2012, na conta CAIXA EC. MONTEPIO GERAL, houve a transferência da importância em causa(€46.500,00), estando deste modo justificado o valor da transferência em questão;- 07-06-2012, na conta CAIXA EC. MONTEPJO GERAL, houve a transferência da importância em causa (€27.000,00) estando deste modo justificado o valor da transferência em questão;- 07-08-2012, na conta CAIXA EC. MONTEPIO GERAL, houve a transferência da importância em causa(€2.000,00) estando deste modo justificado o valor da transferência em questão;- 19-10-2012, verifica-se que no mesmo dia houve transferências entre contas na mesma importância emcausa (€35.000,00] estando deste modo justificado o valor da transferência em questão;- 16-11-2012, verifica-se pelo extrato conta corrente da SP A na empresa “G………….. Lda” o pagamento

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da importância em causa (€1.732,94), estando deste modo justificado o valor da transferência em questão;- 7-12 e 10-12-2012 o mandatário faz referência “irmã de B……………..”, não menciona a que se deve taistransferência em causa (€1.200,00+€50,00), apesar de não justificar a que titulo se deve taistransferências, aceita-se a importância em questão.Relativamente ao quadro aos movimentos na conta do “Banco Santander Totta S.A”, que o Mandatário doSP B refere ser depósitos respeitante aos vencimentos do SP A e SP B, apesar não ter sido enviado osrespetivos recibos de vencimento) aceitam-se as importâncias em causa no valor de € 27 321,83.Pelo exposto, não obstante os múltiplos registos de depósitos e transferências recebidas) o representantefiscal do SP A apenas justificou o valor de € 140.804,77 (113.482,94 + 27.321,83) correspondente aosseguintes depósitos:

O valor total dos depósitos em euros ascende a € 3.246.025,20 (€ 2.698.359,07 + € 547.665,13), tendosido aceite a justificação no valor de € 140.804,77, o total do valor dos depósitos não justificados é de€3.105.220,43 (€ 3.246.25,20 + €140.804,77).O SP A apenas declarou rendimentos de trabalho dependente auferidos em Portugal e no estrangeiro, nãotendo declarado rendimentos de outra natureza.Os valores depositados nas suas contas bancárias (pessoais) são muito superiores aos valoresdeclarados, não existem outras fontes de rendimentos e não foi provado e demonstrado a que se devemas transferências/depósitos efetuados nas suas contas 527240135598806 da CCAM, 516- 104454462 doMG e bem assim nas contas 000318815332020 e 000311179591024 do Santander no valor de €3.105.220,43. Note-se que os valores depositados nas suas contas bancárias são muito superiores aosvalores declarados) não tendo sido oferecida nenhuma explicação demonstrativa de que estes depósitos etransferências não constituem rendimentos a tributar.Capitulo III - Descrição dos factos e fundamentos das correções meramente aritméticas à matéria tributávelNão aplicável ao caso em apreciaçãoCapitulo IV- Motivo e exposição dos factos que implicam o recurso a métodos indiretos.Como estatui o artigo 85.° da LGT (Lei Geral Tributária, aprovada pelo Decreto-Lei 398/98) de 17 dedezembro): “A avaliação indireta é subsidiária da avaliação direta.”Com efeito) é dada primazia à determinação da matéria coletável por via de correções técnicas emdetrimento do seu apuramento com recurso a métodos indiretos. Contudo) no caso em apreço) não seafigura como exequível uma avaliação direta da matéria coletável, em virtude dos factos e com base nosfundamentos que subsequentemente se elencam.Em primeiro lugar, nenhum dos SP está coletado para o exercício de alguma actividade, nem existequalquer tipo de contabilidade organizada ou escrita, ainda que simplificada, que permitam imputar essesrendimentos e determinar, por métodos diretos) qual o valor a tributarem sede de IRS.Tratam-se apenas de depósitos e transferências bancárias realizadas em contas particulares, e para o qualnão foi produzida justificação.Ora, um dos pressupostos para a realização de uma avaliação indireta assenta na: “Acréscimo depatrimónio ou despesa efetuada, incluindo liberalidades, de valor superior a (euro) 100 000,00 verificadossimultaneamente com a falta de declaração de rendimentos ou com a existência, no mesmo período detributação, de uma divergência não justificada com os rendimentos declarados (conforme alínea f) do artigo87.º da LGT).Primeiramente, no que concerne a esta divergência não justificada com os rendimentos declarados, há quedistinguir entre a primeira declaração de rendimentos de 2012 submetida em 25-04-2013, onde figuravaum Rendimento Coletável de € 25.175,48 e a segunda declaração, submetida em 17-12-2013, onde esseRendimento Coletável ascendeu a € 518.866,60, um valor 20 vezes superior ao previamente declarado.Foram depositados ou transferidos para as contas à ordem do S.P. A o valor de € 3.246.025,20 no ano de2012, quando o rendimento declarado em termos líquidos (considerando a segunda declaração) foi de €518.866,60 sem que tivessem sido indicadas outras fontes de rendimentos que permitissem demonstrar aque se deviam as transferências e os depósitos efetuados nas suas contas, tendo somente justificado queo valor de € 113.482,94 não eram rendimentos seus.Assim, não restam dúvidas que esta divergência não é justificada com os rendimentos declarados, quer naprimeira, quer na segunda declaração de rendimentos.O valor apurado resulta de um procedimento de derrogação do sigilo bancário, como prescreve o 11 doartigo 89°-A do mesmo diploma legal: A avaliação indireta no caso da alínea f) do n.º 1 do artigo 87º deveser feita no âmbito de um procedimento que inclua a investigação das contas bancárias, podendo no seudecurso o contribuinte regularizar a situação tributária, identificando e justificando a natureza dosrendimentos omitidos e corrigindo as declarações dos respetivos períodos.É este valor que tem de ser considerado como rendimento de Categoria G, tal como é enunciado peloartigo pela alínea d) do artigo 9º do CIRS, em consonância com a alínea a) do n.º 5 do artigo 89º-A. domesmo diploma legal que dispõe: “Considera-se como rendimento tributável em sede de IRS, a enquadrarna categoria G, quando não existam indícios fundados, de acordo com os critérios previstos no artigo 90.ºque permitam à administração tributária fixar rendimento superior, a diferença entre o acréscimo depatrimónio ou a despesa efetuada) e os rendimentos declarados pelo sujeito passivo no mesmo período detributaçãoFinalmente, salienta-se que estes rendimentos deverão ser tributados à taxa especial prevista no n.º 11 doartigo 72° do CIRS: “Os acréscimos patrimoniais não justificados a que se refere a alínea d) do n.º 1 do

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artigo 9º, de valor superior a (euro) 100 000,00 são tributados à taxa especial de 60%.”Face ao exposto, estão reunidos os pressupostos e verificados os requisitos que pautam o recurso aavaliação indireta da matéria coletável, não tendo, de todo o modo, sido cumprido o ónus que cabia aosSujeitos Passivos, em conformidade com o postulado no n.º 3 do artigo 74º da LGT; “Em caso dedeterminação da matéria tributável por métodos indiretos, compete à administração tributária o ónus daprova da verificação dos pressupostos da sua aplicação, cabendo ao sujeito passivo o ónus da prova doexcesso na respetiva quantificação”.Destarte, tendo-se verificado um acréscimo injustificado de património superior a 100.00,00 €, verificadosimultaneamente com uma divergência não justificada com os rendimentos declarados (quer na primeiradeclaração como na própria declaração de substituição) não restará outra alternativa que não seja orecurso a métodos indiretos de determinação da matéria tributável. Face ao exposto é ilidida a presunçãode verdade declarativa prevista no n.º 1 do artigo 75.° da LGT.Assim, nos termos do n.º 2 do artigo 75.º, alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º n.º11 do artigo 89°-A, todos daLGT, em consonância com o previsto no n.º 1 do artigo 39.º do CIRS propõe-se a aplicação de métodosindiretos para apuramento da matéria tributável em IRS, no exercício de 2012, cujos cálculos são expostosno capítulo seguinte.V - Critérios e cálculos dos valores corrigidos com recurso a métodos indiretosNos termos dos artigos 87.º alínea f) e 89°-A, n.º 5 da LGT, e ainda em conformidade com o preceituadono nº 1 alínea d) do artigo 9.º do Código do IRS, as correções ora propostas enquadram-se comorendimentos da categoria G.Os elementos ao dispor da AT, obtidos pela autorização de acesso por parte da Senhora Diretora Geral daAutoridade Tributária, anteriormente referidos, que consubstanciam acréscimos patrimoniais nãojustificados e foram obtidos através da análise das contas bancárias tituladas por B……………. nasseguintes instituições financeiras:

De salientar que, de modo a evitar uma dupla tributação nos montantes supra mencionados não foramrelatados os movimentos, respetivamente débitos em contrapartida de créditos em outras contas ouvice-versa, conforme relação no quadro infra:Depósitos entre contas do mesmo titular

• Depósito no dia 14-05-2012 no valor de € 36.000,00, na CCAM é referente ao cheque n.º 110 da conta doB. SANTANDER TOTTA SA - conta -00318815332020;• Depósito no dia 19-06-2012 no valor de €8.000,00, na CCAM é referente ao cheque n.º 113 da conta doB. SANTANDER TOTTA S.A - conta — 003 18815332020;Depósito no dia 23-07-2012 no valor de € 50.00,00 na CCAM é referente ao cheque n.º 116 da conta doB.SANTANDER TOTTA S.A-conta— 003 18815332020;Depósito no dia 06-08-2012 no valor de €27.500,00 na CCAM é referente ao cheque n.º 119 da conta do B.SANTANDER TOTTA S.A - conta — 003 18815332020.Pelo exposto há que abater ao total dos depósitos o valor de € 121.500,00.De modo a evitar a dupla tributação nos montantes supra mencionados o mandatário do SP não justificouquais os depósitos respeitantes às remunerações auferidas na empresa “H……………, Lda.” de acordocom o valor declarado no anexo J da declaração modelo 3 de IRS o valor líquido é de € 474.467,32[495.305,28-3.401,80- 17.436,16).Sendo assim, considerando os movimentos a crédito registados nas contas bancárias tituladas, pelo SP,subtraído dos rendimentos liquidos declarados (€ 474.467,32) e dos valores para os quais o mandatáriojustificou (€ 140.804,77), e os valores depositados inter contas (€121.500,00), subsiste objetivamente umadivergência não justificada entre o património evidenciado e o rendimento declarado no valor de €2.509.253,11, assim determinado:

Em face do exposto e de acordo com o disposto no artigo 39•2 do CIRS conjugado com o estipulado naalínea f) do n.º 1 do artigo 87º da LGT, propõe-se a determinação do rendimento por métodos indiretos,procedendo os Serviços de Inspeção à fixação do conjunto dos rendimentos, nos termos do n.º 2 do artigo65.º do CIRS, nos montantes resumidos no quadro infra:O rendimento coletável corrigido que é proposto resulta em € 3.028.119,71 e foi apurado do seguintemodo:

Capítulo VI -

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Capítulo IX — Direito de AudiçãoNota prévia: O Projeto de Correções do Relatório de Inspeção foi notificado por carta registada através doOfício n.º 6488, de 30-11-2015, pelo que se presume a sua notificação em 03-12- 2015.O prazo para o exercício do direito de audição foi concedido por 25 dias, isto é, terminando a 28-12-2015.Contudo, às 18h42 do dia 30-12-2015, veio o Sujeito Passivo exercer o direito de audição, por meio demensagem de correio eletrónico.O exercício deste direito de audição peca por intempestivo. Sem prejuízo do exposto é o mesmo tido emconta pela AT com consideração por cada um dos seus 28 articulados que ora se analisam,desmontando-se cada um dos argumentos invocados.A……………., residente em Rua …………, ………. 2120-………. …………, contribuinte n.º ……….., comoRepresentante Fiscal de B………….., contribuinte n.º ……………, residente no estrangeiro (Angola), vemexercer o direito de audição ao apuramento adicional de matéria coletável de IRS do exercício de 2012, deconformidade com a notificação feita pelo Ofício n.º 6488, de 30-11-2015, com notificação feita em01-12-2015, com os seguintes fundamentos:Questiona-se, naturalmente, que estando em causa um direito de audição, não se tenha utilizado a cartaregistada, como se determina no n.º 3 do artigo 38.º do CPPT que se transcreve:As notificações não abrangidas pelo n.º 1, bem como as relativas às liquidações de tributos que resultemde declarações dos contribuintes ou de correções à matéria tributável que tenha sido objeto de notificaçãopara efeitos do direito de audição, são efetuadas por carta registada.E, também se questiona por que não foi cumprido o n.º 3 do artigo 41.° (sic) do CPPT, que nos diz:3 - As notificações serão feitas por carta ou aviso registados, dirigidos pare o domicílio ou escritório dosnotificados podendo estas ser notificadas pelo funcionário competente quando encontradas no edifício doserviço ou tribunal.3ºResulta das normas acima identificadas (articulados no 2.° e 3.º) que se pretendeu reduzir o prazo paradedução da defesa) e logo a redução de direitos do contribuinte, constitucionalmente reconhecidos, pois enotificação com A/R se considera feita no dia em que for assinado e a carta registada se presume só noterceiro dia posterior.4ºE, isto não é só uma simples formalidade, mas concretamente uma ilegalidade, já que o contribuinte tem aconsciência de que o direito de audição é feito por carta registada.Nos articulados 1.º a 4.º, vem o Sujeito Passivo sugerir que a AT teria notificado o Projeto de correções doRelatório de Inspeção por carta registada com aviso de receção (em vez de se proceder à notificação porcarta registada), e que essa alegada notificação por carta registada com aviso de receção teria ocorridopor via de um processo de intenção impregnado de má fé.Invoca o Sujeito Passivo “que se pretendeu reduzir o prazo para dedução da defesa, e logo a redução dedireitos do contribuinte, constitucionalmente reconhecidos, pois a notificação com A/R se considera feita nodia em que for assinado e a carta registada se presume só no terceiro dia posterior”.A esse respeito cabe esclarecer que:a) Ao contrário do que alega o Sujeito Passivo, o mandatário da representante do S.P. foi notificadoatravés do ofício nº 6488 do dia 30-11-2016 e foi dado conhecimento ao representante do SP da referidanotificação através do ofício n.º 6487 do dia 30-11-2016, mas ambas as notificações foram concretizadasatravés de carta registada.b) Se porventura essa notificação tivesse ocorrido por meio de carta registada com aviso de receção, nempor isso se estaria (salvo melhor e mais esclarecida opinião) perante uma ilegalidade, mas tal condutaconfiguraria, na pior das hipóteses, um exemplo de excesso de zelo por parte da AT, na ânsia de garantirque o SP tomasse conhecimento daquele Projeto de Correções. Aliás, no mesmo sentido, é precisamentepara garantir que o SP toma conhecimento desse Projeto de Correções que se procede ao envio do Ofícion.º 6487 do dia 30-11-2015 para o seu representante fiscal, quando atento o disposto no n.º 1 do artigo40.º do CPPT, seria suficiente o envio do Ofício n.º 6488 do mesmo dia, remetido ao mandatário. Emambas as circunstancias, estar-se-ia perante uma situação de utilização de um critério mais exigente doque o prescrito na lei, na prossecução do interesse público da certeza da notificação e nada mais.5.ªPor outro lado, o não acatamento das instruções superiores, nomeadamente o item 1.2 da circular n.º13/99, de 1999.07.07 da então DGCI (que era sigla da Direção Geral dos Impostos), constitui, além dailegalidade, também responsabilidade disciplinar. Isto independentemente do Sr. Tributário, a exemplo doque fez na resposta no relatório, relativamente ao exercício de 2011,vir invocar a teoria da conspiração, ouseja, quando confrontado com as ilegalidades por si praticadas, sempre se defende, com os meiosartificiosos ao seu dispor. Isto contradizendo a CARTA DO UTENTE DOS SERVIÇOS DAADMINISTRAÇÃO FISCAL, que no seu artigo 1º nos diz: “Os utentes têm o direito a ser tratados comcortesia, respeito, rapidez, correção, clareza e privacidade”, ou seja, o Sr. Inspetor Tributário que julga tudopode, tem o direito de nada respeitar, mas vejamos se, no final, as posições não se irão inverter.No articulado 5º o Sujeito Passivo vem invocar a “resposta no relatório, relativamente ao exercício de2011”.O presente Direito de Audição tem por objeto o Projeto de Correções do Relatório de Inspeção relativo aoano de 2012. Sem nada conceder e subscrevendo todos os pontos abordados no direito de audição dorelativo ao ano anterior, importa salientar que eventuais respostas ao direito de audição exercido no âmbitodo Projeto de Correções do Relatório de Inspeção 2011 não têm cabimento em sede deste procedimento,salvo se as mesmas concretizassem alguma influência material ou mesmo formal no resultado dascorreções apuradas para 2012, o que não se verifica.O mesmo se aplica ao afirmado no final deste articulado: “O Sr. Inspetor tributário que julga tudo pode, temo direito de nada respeitar, mas vejamos se, no final, as posições não se irão inverter”.Mesmo que o afirmado não mereça qualquer concordância, nem por isso se afigura pertinente rebater nodireito de audição 2012 aquilo que se poderia des conspiração, ou seja, quando confrontado com asilegalidades por si praticadas, sempre se defende, com os meios artificiosos ao seu dispor. Istocontradizendo a CARTA DO UTENTE DOS SERVIÇOS DA ADMINISTRAÇÃO FISCAL, que no seu artigo1.º nos diz: “Os utentes têm o direito a ser tratados com cortesia, respeito, rapidez, correção, clareza eprivacidade”, ou seja, o Sr. Inspetor Tributário que julga tudo pode, tem o direito de nada respeitar, masvejamos se, no final, as posições não se irão inverter.No articulado 5º o Sujeito Passivo vem invocar a “resposta no relatório, relativamente ao exercício de

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2011”.O presente Direito de Audição tem por objeto o Projeto de Correções do Relatório de Inspeção relativo aoano de 2012. Sem nada conceder e subscrevendo todos os pontos abordados no direito de audição dorelativo ao ano anterior, importa salientar que eventuais respostas ao direito de audição exercido no âmbitodo Projeto de Correções do Relatório de Inspeção 2011 não têm cabimento em sede deste procedimento,salvo se as mesmas concretizassem alguma influência material ou mesmo formal no resultado dascorreções apuradas para 2012, o que não se verifica.O mesmo se aplica ao afirmado no final deste articulado: “O Sr. Inspetor tributário que julga tudo pode, temo direito de nada respeitar, mas vejamos se, no final, as posições não se irão inverter”.Mesmo que o afirmado não mereça qualquer concordância, nem por isso se afigura pertinente rebater nodireito de audição 2012 aquilo que se poderia designar como respostas (às “respostas” de 2011) como sede réplicas e tréplicas se tratasse... Até porque, como se viu, independentemente da opinião a formularsobre essa matéria, a mesma não influencia o resultado apurado para 2012.Da legitimidade6ªA Reclamante, goza da legitimidade que lhe é atribuída a ela própria pelo artigo 15º da Lei Geral Tributária,e, como Representante, nos precisos termos do n.º 1 do artigo 5º do Código de Procedimento e deProcesso Tributário.7ªPorém, o que está em causa, não é a Representante. Mas sim o Representado. E, este, teria sempre deser notificado para a apresentação dos elementos em causa, já que é ele quem é o contribuinte. ORepresentante apenas o representa, em elementos que não sejam referentes a dados concretos e quesejam determinantes da sua vida pessoal.No que respeita aos articulados 6.º e 7º importa esclarecer que em conformidade com o artigo 40.º doCPPT, o Sujeito Passivo foi notificado na pessoa do seu mandatário através do Ofício n.º 5626 do dia8-10-2015 e foi também dado conhecimento ao representante fiscal do SP dessa mesma notificaçãoatravés do Ofício n.º 5683 do dia 9-10-2015.Ao ser designado um mandatário, é este que passa a ser notificado de tudo o que concerne ao SujeitoPassivo, com ressalva de algum ato que deva ser pessoalmente pelo próprio.Ora, a remessa de informação sobre os elementos solicitados não constitui nenhum ato pessoal que nãopossa ser praticado pelo representante fiscal ou por mandatário, donde não se compreende em quemedida é que “o Representado teria sempre de ser notificado para a apresentação dos elementos emcausa...Da legalidade e do pedido8ªO audiente, apresentou, uma declaração de rendimentos com rendimentos auferidos no estrangeiro, maisprecisamente em Angola, quando o contribuinte B……………, não era residente no território português.9ªRelativamente ao exercício de 2012, que é o que está aqui em causa, o contribuinte declarou rendimentosde €495.305,28.Nos articulados 8º e 9º o comportamento tributário do Sujeito Passivo é enunciado de formamanifestamente incompleta sendo necessário explicar:Em primeiro lugar, a declaração modelo 3 de IRS a que coube o n.º 2070-2012-J0713-41 foi submetida em2013.12.27 apurando-se um rendimento coletável de 518.866,60 €. E nessa mesma declaração constavam495.305,28 €, obtidos no estrangeiro.Em segundo lugar, essa foi uma declaração de substituição, submetida na sequência de uma açãoinspetiva onde o Sujeito Passivo foi confrontado com as incongruências constavam da primeira declaração.Finalmente, refira-se que na declaração de rendimentos original de 2013.04.25 (2070-2012- 10785-66), orendimento coletável era de apenas 25.175,48 €, cerca de 21 vezes inferior ao rendimento constante dadeclaração de substituição.10.ªO projeto de relatório do serviço de inspeção tributária, logo no início do Capitulo V diz: Nos termos dosartigos 87.º alínea a) e artigo 89.º n° 5 da LGT, e ainda em conformidade com o preceituado no n.º 1 alínead) do artigo 9.º do Código do IRS, as correções ora propostas enquadram -se como rendimentos dacategoria G”11.ªVejamos o texto do n.º 5 do artigo 89.°-A da LGT (redação do artº 2º. da Lei n.º 94/2009-01/09J, comoponto de partida:Para efeitos da alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º:a) Considera-se como rendimento tributável cm sede de IRS, a enquadrar na categoria G, quando nãoexistam indícios fundados, de acordo com os critérios previstos no artigo 90.º, que permitam àadministração tributária fixar rendimento superior, a diferença entre o acréscimo de património ou adespesa efetuada, e os rendimentos declarados pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação;b) Os acréscimos de património consideram-se verificados no período em que se manifeste a titularidadedos bens ou direitos e a despesa quando efetuada;c) Na determinação dos acréscimos patrimoniais, deve atender-se ao valor de aquisição e, sendodesconhecido, ao valor de mercado;d) Consideram-se como rendimentos declarados os rendimentos líquidos das diferentes categorias derendimentos.12.ªInterpretação da norma determinada na alínea a) do aludido n.º 5 do artigo 89°-A:a) considera-se como rendimento tributável em sede de IRS, a enquadrar na categoria G:b) a diferença entre o acréscimo de património ou a despesa efetuada,c) e os rendimentos declarados pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação.13.ªPara que fosse permitida a tributação da forma prevista na LGT (no n.º 5 do n.º 4 do artigo 89.º -A serianecessário que o valor dos suprimentos fosse superior em 30% ao valor dos rendimentos declarados, eainda assim, esse excesso teria de ficar limitado aos valores ético-jurídicos e delimitado (aos valores de50% do excesso, caso existisse excesso), ao que se encontra preconizado no quadros da tabela a que serefere o n.º 4 do artigo 89°-A, ou seja, apenas 50% seria considerado rendimento, como se transcreve

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14.ªÉ, isto, que é determinado precisamente na parte final do n.º 4 do artigo 89°-A: o rendimento padrãoapurado nos termos da tabela seguinte: (Redação dada pela Lei n.º 53 -A/2006, de 29/12).15.ªMas, o n.º 4, do artigo 89°-A só permite a tributação nos precisos termos e pelos valores constantes dosquadros da tabela do mesmo n.º 4 (ou seja: limita e delimita).Nos articulados 10.ª a 15.ª, o Sujeito Passivo tenta passar a ideia que o facto tributário em análise seriauma eventual desproporção entre o valor de rendimentos declarado (dois anos após a obtenção derendimentos) e valor de suprimentos realizado em 2012.A Ideia que o Sujeito Passivo tenta passar é que, a ser tributado, essa tributação teria de ser concretizadaatravés do n.º 4 do artigo 89.°-A. Este artigo estabelece um quadro de desvios ao rendimento padrão que oSujeito Passivo bem conhece, e cuja norma pretendia fazer aplicar em clara subversão da ratio iuris.Foi por isso que, quando confrontado pelo Inspetor Tributário com a enorme divergência que subsistiaentre o rendimento coletável, de apenas 25.175,48 €, e os suprimentos realizados 150.000,00 €, veio oSujeito Passivo a entregar a aludida declaração de substituição modelo 3 de IRS a que coube o n.º2070-2012-J0713-41, submetida em 2013.12.27.Foi exatamente por isso que se procedeu ao levantamento do sigilo bancário do Sujeito Passivo, tendo-seapurado entradas de dinheiro em 2012 de 3.246.025,20 €.Assim, no caso concreto foi levantado o sigilo bancário, o que permitiu apurar as entradas em dinheiro.16.ªJá quanto à fundamentação feita no projeto de relatório quanto ao artigo 87.° da LGT, sob o títulorealização da avaliação indireta, o artigo refere-se ao acréscimo de património ou despesa efetuada,incluindo liberalidades de valor superior a €100.000,00.17.ªInterpretando a norma, verificamos que, não está em causa qualquer:i) Acréscimo de património;ii) Por sua vez, não houve aumento de património por que não foram adquiridos bens imóveis;iii) Qualquer despesa, não foi feita aquisição; ouiv) Qualquer liberalidade, não se verificam liberalidades, muito menos superior a 100.000.00 €;v) Nem foi feita a prova de qualquer acréscimo de património18.ªLogo, este artigo não tem qualquer aplicação, ao caso em concreto, e nunca deveria ter sido autorizada aavaliação indireta, donde resulta a sua ilegalidade primordial.Contudo, nos articulados 16.º a 18.º pretende o Sujeito Passivo fazer passar a ideia de que teria declaradorendimentos superiores aos suprimentos ah initio, quando essa foi uma mera solução de recurso quandoaquele foi “apanhado em falso”.Com efeito, não pode a AT (como pretende o Sujeito Passivo) esquecer 3.246.025,20 € de acréscimospatrimoniais sobre a forma de depósitos e transferências bancárias.Tal volume de recebimentos assume uma enorme desproporção com os valores declarados na primeiradeclaração (25.175,48 €) e até da segunda declaração (518.866,60 €).Face ao exposto, não poderiam aqueles montantes ser ignorados, tendo sido dada oportunidade ao SujeitoPassivo de Justificar a natureza dos rendimentos omitidos em virtude do disposto nos nºs 3 e 11 do artigo89.°-A da LGT.A este valor de 3.246.025,20 € foram desconsiderados 736.772,09 €, justificados pelo Sujeito Passivo e daanálise efetuada, conforme consta do Capitulo V do Relatório de Inspeção, pelo que sobram 2.509.253,11€ não justificados pelo Sujeito Passivo.E este valor constitui inequivocamente um acréscimo de património subsumível na alínea f) do artigo 87.ºda LGT, enquadrando-se os 2.509.253,11 € como rendimentos de categoria G, atento ao disposto no n.º 5do artigo 89.ºA da LGT e alínea d) do n. 1 do artigo 9.º do CIRS.19.ªQuanto à aplicação de métodos indiretos, o CIRS, diz-nos que a determinação se verifica, nos casos e nascondições dos artigos 87.º a 89.º da LGT.20ª.E, o n.º 2 do artigo 39.º se refere ao atraso na execução da contabilidade ou escrituração de documentosou à não exibição imediata de documentos.21.ªOu seja, está relacionado com rendimentos empresariais ou profissionais, sujeitos, ou não, a contabilidadeorganizada, mas não foca destes casos.

Respondendo aos pontos 19º. a 21.º refira-se que o artigo 39.º é aplicável quando, em sede de IRS seprocede a uma avaliação indireta nos casos e condições previstas nos artigos 87.º a 89.º da LGT, nãoexistindo aí nenhuma dificuldade de interpretação a não ser uma eventual confusão na perspetiva doSujeito Passivo.É o que está em causa são recebimentos em contas bancárias que o Sujeito Passivo não conseguejustificar. Para o efeito, é irrelevante se o Sujeito Passivo não está enquadrado no regime da contabilidadeorganizada Aliás, em parte nenhuma do Projeto de Correções do Relatório de Inspeção se faz referência auma contabilidade organizada.O que transparece é uma aparente confusão que impera na argumentação expendida ao longo de todo odireito de audição.22.ªJá quanto ao artigo 52.º se refere a divergência de valores, o que nos parece que não está aqui em causauma vez se refere a valores das transmissões (vendas).Mais uma vez se revela aqui o exercício algo desconexo do direito de audição. O Sujeito Passivo fazreferência a um artigo 52.º (presume-se do CIRS) que aparece aqui sem qualquer justificaçãocompreensível.

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Utiliza-se a expressão: “Já quanto ao artigo 52.º ... “, mas não percebe porquê. Não existe referência aeste artigo no Projeto de Correções do Relatório de Inspeção nem faria sentido se houvesse, pois que esteartigo prende-se com divergências de valores em eventuais transações de valores mobiliários, nada tendohaver como caso em apreço.23.ªAs justificações quanto aos elementos solicitados, ao abrigo de dever de colaboração foramoportunamente prestadas, como documento 35 anexo à cópia do projeto de relatório. 19.°As justificações quanto aos elementos solicitados foram referidas no Projeto de Correções do Relatório deInspeção, Capitulo II, ponto 3.2.1.8, páginas 11, 12 e 13 e comportam o montante de 140.804.77 € queforam excluídos da tributação.Para além desse valor foi anda excluído um total de 121.500.00 € (depósitos e transferências entre contascom o mesmo titular), bem como 474.467,32 € (correspondendo à totalidade do rendimento líquidoauferido em Angola).No total, considerou-se como justificado um valor global de 736.772.09 € que não foi sujeito a tributação(vide Quadro da página 16 deste Relatório).24.ªEsta fixação, afigura-se como um absurdo (pois referimos, acima, a ilegalidade).25.ªAssim como discordamos da prorrogação do ato de inspeção de 2015.09.27 para 2015.10.09, por que nãojustificada em concreto, e não se encontrar nas condições das alíneas a) a c) do n.º 3 do artigo 36.ª doRCPIT, e entendemos que se extinguiu o ato de inspeção em 2015.09.27.Ao contrário do que é postulado nos articulados 24.º a 25.º a decisão de avaliação indireta da matériacoletável não padece de nenhuma ilegalidade. Antes se poderá afirmar o contrário: A fixação da matériacoletável por métodos indiretos decorre de imposição legal, na medida em que verificados os pressupostosda alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º e n.º 3, 5 e 11 do artigo 89.º A, ambos da LGT, não poderia a AT deixarde tributar a divergência apurada como rendimentos de Categoria G.No que concerne à prorrogação do prazo do procedimento, preconizada no artigo 36.º do RCPITA, estareveste-se da maior naturalidade em situações de derrogação do sigilo bancário, tal como atesta ainformação de 2015.09.30 com Despacho do Exmº. Sr. Chefe de Divisão 2015.10.05.Fica aqui no entanto a correção, na medida em que aquela prorrogação teve o início no dia 2015.16.13 enão no dia 2015.09.27.26.ªComo nos diz o artigo 55º da LGT: A administração tributária exerce as suas atribuições na prossecuçãodo Interesse público, de acordo com os princípios da legalidade, da igualdade, da proporcionalidade, dajustiça, da imparcialidade e da celeridade, no respeito pelas garantias dos contribuintes e demaisobrigados tributários.27.ªÀ AT não é permitido liquidar e cobrança de impostos que não se façam nos termos da lei (n.º 3 do artigo103.° da Constituição). E o apuramento não é permitido pelo art.° 89.° -A da LGT.Nos articulados 26.º e 27.º são citadas normas que naturalmente não se contestam, embora não seperceba o motivo pelo qual quais são agora invocadas, nem de que modo a sua interpretação poderiasuscitar alterações ao Projeto de Correções do Relatório de Inspeção.28.ªNa verdade,1) O contribuinte não obteve no exercício em causa, rendimentos da categoria G, nem os incrementospatrimoniais calculados no projeto de relatório;2) A avaliação indireta é ilegal, por falta de verificação dos fundamentos a que se refere a alínea f) doartigo 87.º da LGT;3) O artigo 89°-A da LGT é muito claro quanto às situações em que é permitida a consideração dasmanifestações de fortuna e outros acréscimos patrimoniais;

Os pressupostos constantes da alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º LGT encontram-se reunidos, uma vez que:1- Existe um acréscimo patrimonial superior a 100.000,00 €;2- Esse acréscimo não foi justificado pelo Sujeito Passivo;3- Existe uma divergência significativa entre o acréscimo patrimonial (3246.025,20 €) e o valor nãojustificados pelo S.P (a saber: 140.804,77 €, 121.500,00 € e 474.467,32 €) e o rendimento coletávelresultante da declaração de substituição (518.866,60 €).Essa divergência, conforme consta do quadro da página 16, ascende a 2.509.253,11 € (3.246.025,211 € -140.804,77 € - 121.500,00 € - 474.467,32 €), ou seja, a diferença entre o valor dos depósitos etransferências bancárias recebidas nas contas do Sujeito Passivo em 2012 e os valores não justificados sópode ser considerado como rendimentos de Categoria G, atento o disposto na alínea o do n.º 1 do artigo87.º, n.º 5 do artigo 89º -A, ambos da LGT e alínea d) do nº 1 do artigo 9.º CIRS.4) No caso em concreto o contribuinte declarou rendimentos de €555.332,25, e não fez suprimentossuperiores em 30% a valor de rendimento declarado;5) E, só seria de aplicar o artigo 89°-A no caso em que os suprimentos, não só fossem de valor superioraos rendimentos, mas que os excedessem em mais de 30%;O valor que o S.P menciona como rendimento coletável é o valor do ano de 2011, porquanto o valor doano de 2012 é de €518.866,60.Ainda assim, conforme previamente exposto, por um lado este valor só foi declarado após constataçãopelo IT que existia uma enorme divergência entre os suprimentos realizados no valor de 150.000.00 € erendimento coletável de 25.175,48 €.Numa tentativa de fazer afastar a norma contida no n.º 4 do artigo 89.º-A foi submetida uma declaração desubstituição com um rendimento bruto muito superior à primeira declaração (518.866,60 €), e mesmoassim nem sequer esse imposto foi pago. Certo é que o valor real de recebimentos ronda o quíntuplodesse montante.6) O contribuinte exerceu o dever de colaboração com os elementos de que dispõe, e não era obrigado àconservação dos elementos referentes aos movimentos das suas contas bancárias, por que não há lei quetal determine;Na realidade o que está em causa é a necessidade de demonstrar qual a proveniência dos recebimentos.No caso concreto, incumbe um ónus ao Sujeito Passivo consignado no n.º 3 do artigo 89º-A da LGT.

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Como se viu anteriormente, esse ónus não foi cumprido, tendo o Sujeito Passivo conseguido justificardocumentalmente apenas uma ínfima parte das entradas em dinheiro nas contas.7) O estado Angolano não permite transferências normais de capitais, donde resulta a criatividade dosoperadores, especialmente segundo a divisa €, mas também segundo a divisa $ (dólar) em que asaquisições no mercado nacional demoram 7 a 8 meses, na melhor das hipóteses. E, Portugal, por falta desegurança de avultados valores monetários, ainda [pois nada nos garante a solvabilidade] nos aconselha odepósito em contas bancárias. Os trabalhadores e outros operadores terão de utilizar todos os meios paraque os seus valores adquiridos em território angolano sejam pelos seus familiares residentes no território.Esta conclusão final do ponto 7) é difícil de compreender. Em 28 articulados ao longo de 8 páginas dodireito de audição, não foi escrita uma única palavra a este respeito que pudesse suportar este parágrafo.Salvo melhor interpretação, sugere-se que existem recebimentos em contas bancárias do Sujeito Passivoque não são rendimentos.Postula-se ainda a criatividade dos operadores, especialmente segundo a divisa €, face às restrições doEstado Angolano.Tentando inferir o sentido proposto nesta conclusão, apenas se poderá dizer que não cabe à ATpronunciar-se sobre estas restrições impostas por outro Estado soberano ou sobre a criatividade deoperadores e trabalhadores.Para a AT, a realidade é simples: Se existem (recebimentos) ENTRADAS em contas bancárias que nãoconstituam rendimentos, cabe aos beneficiários dessas ENTRADAS demonstrar onde estão ascorrespondentes SAÍDAS, para que se percebam se são estes ou outros os beneficiários.No caso em apreço, apenas se conseguiu perceber e demonstrar uma fração dessas ENTRADAS pelo queo remanescente só poderá ser considerado como rendimento.Não tendo sido trazidos ao procedimento quaisquer elementos suscetíveis de alterar as conclusões doProjeto de Correções do Relatório de Inspeção, são de manter as correções anteriormente propostas.(...).“. — [cfr. processo instrutor apenso).

L)Com data de 06-01-2016 o Diretor de Finanças de Santarém proferiu despacho nos seguintes termos:“Concordo na totalidade com o teor do presente relatório e parecer”. - (cfr. processo instrutor apenso).

M)Na mesma data os Serviços de Inspeção Tributária da Direção de Finanças de Santarém endereçaram aC……………, na qualidade de mandatário de A……….., representante fiscal de B…….., o ofício n.º 105 denotificação do relatório de inspeção identificado em C). — (cfr. processo instrutor apenso].

N)Em 18-01-2016 deu entrada neste TAF o presente recurso. - (cfr. fls. 3 dos autos].Encontra-se ainda provado que:

O)Os ora Recorrentes interpuseram recurso da decisão proferida pela Diretora-Geral da Autoridade Tributáriae Aduaneira, com data de 21-05-2015, em que é visado B…………, com referência ao ano de 2012, a quecoube o n° 1039/15.7BELRA deste TAF.— (cfr. fls. 147 a 166 dos autos].

P)Em 16-10-2015, no processo referido na alínea anterior foi proferida Sentença, que julgou verificada aexceção perentória da caducidade do direito de ação, invocada na Oposição, e absolveu a Recorrida dopedido, transitada em julgado. — [fls. 167 a 175 dos autos].

3- DO DIREITO:Para se decidir pela improcedência da reclamação ex pressou a decisão recorrida a seguintefundamentação de direito a fls. 178 e seguintes

(…)B) De DireitoAs questões que cumpre decidir são as invocadas i) a existência de dois relatórios, ii) ilegalidade da notificação, iii) ailegalidade da avaliação indireta, iv) a ilegalidade da prorrogação do período de inspeção e v) a falta de fundamentaçãodo relatório de inspeção.Analisemos então as sobreditas questões, à luz dos critérios estabelecidos no artigo 124.º do CPPT.Antes porém, vejamos a invocada exceção da violação do caso julgado material.Decorre do probatório, conforme vem invocado pela Autoridade Tributária e Aduaneira e é corroborado pelo DignoMagistrado do Ministério Público, que A…………, como “Representante Fiscal” de B………….., interpôs recurso dadecisão de derrogação do sigilo bancário, proferida pela Diretora-Geral da Autoridade Tributária e Aduaneira, datada de21-05-2015, em que é visado B……………….., quanto ao ano de 2012, requerendo a sua anulação.Este recurso foi instaurado neste TAF sob o n.º 1039/15.7BELRA, no qual foi proferida Sentença, transitada em julgado,a julgar verificada a exceção perentória da caducidade do direito de ação e absolvendo a Recorrida do pedido.Confrontadas as petições iniciais verifica-se que existe uma reprodução da matéria peticionada nessa ação e napresente, conforme bem identifica e de forma pormenorizada o Digno Magistrado do Ministério Público no seu parecer,referindo que “Significa, isso, que só a matéria articulada nos arts 8.º a 15.º 20.º a 23.º 26.º 27.º 35º a 33º e na al. v) doart. 63.º da presente ação não consta da p.i daquela outra ação.Por outro lado, em relação às conclusões formuladas em ambas as ações, só as primeiras 3 da presente ação nãoconstavam acolá.Há a realçar que aquela ação terminou com sentença, de 16/X/2015, transitada em julgado, que absolveu a AT dopedido, nos termos do art 576/3 do CPC, o que, enquanto decisão de mérito, produz caso julgado material, ou seja, orecorrente não pode aqui granjear os desígnios, já resolvidos, que não logrou obter naquela outra ação.”.O caso julgado configura exceção dilatória que, a ocorrer, obsta a que o tribunal conheça do mérito da causa, dandolugar à absolvição da instância (cfr. artigo 576º do CPC).A exceção de caso julgado pressupõe a repetição de uma causa depois de a primeira já ter sido decidida por sentençaque já não admite recurso ordinário e tem por finalidade evitar que o tribunal seja colocado na alternativa de contradizerou de reproduzir uma decisão anterior (nºs 1 e 2 do artigo 580º do CPC).Repete-se a causa quando se propõe uma ação idêntica a outra quanto aos sujeitos, ao pedido e à causa de pedir(artigo 581.º n.º 1 do CPC).Há identidade de sujeitos quando as partes são as mesmas sob o ponto de vista da sua qualidade j (artigo 581º, n.º 2 doCPC).Há identidade de pedido quando numa e noutra causa se pretende obter o mesmo efeito jurídico (artigo 581.º, n.º 3 doCPC).Há identidade de causa de pedir quando a pretensão deduzida nas duas ações procede do mesmo facto jurídico, sendoque nas ações constitutivas e de anulação a causa de pedir é o facto concreto ou a nulidade específica que se invoca

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para obter o efeito pretendido (artigo 581.º n.º 4 do CPC).No caso vertente, do confronto das petições iniciais, resulta inequívoco que, quanto à identidade de sujeitos, do ladoativo da relação material controvertida encontram-se os Recorrentes e do lado passivo a Autoridade Tributária eAduaneira.Quanto ao pedido , se naquela ação se pretende a anulação do despacho da Diretora-Geral da Autoridade Tributária eAduaneira que derrogou o sigilo bancário do Requerente, nesta visa-se a anulação do despacho do Diretor de Finançasde Santarém que fixou a matéria coletável dos recorrentes para efeitos de IRS do ano de 2012, ou seja, o efeito jurídicopretendido não é o mesmo.Por conseguinte, não estamos perante a repetição de uma causa, sendo seguro que o pedido formulado a finalnestes autos é, efetivamente, o de anulação da decisão de fixação da matéria coletável e não de derrogação de sigilobancário.Conclui-se por isso, falhar um dos pressupostos cumulativos para a verificação da exceção do caso julgado. Todavia, seassim é quanto às causas, já o mesmo não sucede quanto à causa de pedir, designadamente na parte em que sequestiona a decisão de derrogação de sigilo bancário.Neste particular, declarada naqueloutro processo a caducidade do direito de ação e não sendo impugnada a sentençaque assim decide forma-se caso julgado material quanto às questões ali sindicadas, nos termos do disposto nos artigos619°, n.º 1 e 621.º do CPC.Assim, no caso dos autos, na parte em que se questiona a decisão de derrogaçã o do sigilo bancário, o Tribunalestá impedido de sobre ela se pronunciar, uma vez qu e a mesma já se consolidou na ordem jurídica, sob p enade ofensa do caso julgado material.Neste contexto, o Tribunal irá emitir pronuncia apenas quanto aos vícios invocados respeitantes à decisão do Diretor deFinanças de Santarém de fixação da matéria tributável dos recorrentes do ano de 2012.1) Quanto à existência de dois relatórios de inspeçã o.Quanto a esta questão adiante-se desde já, que não se vislumbra qualquer vício ou ilegalidade.Conforme vem explicitada de forma clara na contestação da Entidade Recorrida, o segundo relatório substituiu oprimeiro pelo fato de a Autoridade Tributária e Aduaneira ter aceite o requerimento do exercício de audição préviaapresentado pelos Recorrentes para além do respetivo prazo, obrigando a, por virtude da pronúncia sobre osargumentos invocados, reformular o inicialmente notificado.Sendo certo que os Recorrentes, neste particular, também não invocam nenhum vício ou irregularidade em concreto,pelo que improcede esta alegação.ii) Ilegalidade da avaliação indireta.Conforme consta do probatório, os Recorrentes apresentaram para o ano de 2012 uma declaração modelo 3 de IRS desubstituição, fazendo contar da mesma um rendimento coletável de 518.866,60€, sendo 495.305,28€, rendimentosobtidos no Estrangeiro.Levantado o sigilo bancário dos Recorrentes, a Autoridade Tributária e Aduaneira apurou entradas em dinheiro em 2012no montante de 3.246.025,20€; No apuramento da matéria coletável foram atendidos 736.772,09€, justificados pelosaqui Recorrentes, encontrando-se por justificar a quantia de 2.509.253,11€.Considera por isso, a Autoridade Tributária e Aduan eira, que está em causa um acréscimo de patrimóniosubsumível na alínea f) do artigo 87.º da LGT, enqu adrando-se tal montante como rendimentos de categor ia G,atento o disposto no n.º 5 do artigo 89.º da LGT e alínea d) do n.º 1 do artigo 9.° do CIRS.Vejamos então.Para o efeito importa deixar expressas algumas considerações sobre o regime aqui em causa.De acordo com o disposto no artigo 81°, nº 1, da LGT, a avaliação indireta da matéria tributável é subsidiária daavaliação direta, só podendo ser efetuada nos casos previstos na lei. Estes casos são os elencados no n.º 1 do artigo87º do mesmo diploma legal, que, atualmente, determina as seguintes situações de recurso à avaliação indirecta:a) Regime simplificado de tributação, nos casos e condições previstos na lei;b) Impossibilidade de comprovação e quantificação directa e exacta dos elementos indispensáveis à corretadeterminação da matéria tributável de qualquer imposto;c) A matéria tributável do sujeito passivo se afastar, sem razão justificada, mais de 30% para menos ou, durante trêsanos seguidos, mais de 15% para menos, da que resultaria da aplicação dos indicadores objectivos da actividade debase técnico-científica referidos na presente lei.d) Os rendimentos declarados em sede de IRS se afastarem significativamente para menos, sem razão justificada dospadrões de rendimento que razoavelmente possam permitir as manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeitopassivo nos termos do artigo 89.º-A.e) Os sujeitos passivos apresentarem, sem razão justificada, resultados tributáveis nulos ou prejuízos fiscais durantetrês anos consecutivos, salvo nos casos de início de actividade, em que a contagem deste prazo se faz do termo doterceiro ano, ou em três anos durante um período de cinco.f) Acréscimo de património ou despesa efectuada, incluindo liberalidades, de valor superiora € 100 000, verificadossimultaneamente com a falta de declaração de rendimentos ou com a existência, no mesmo período de tributação, deuma divergência não justificada com os rendimentos declarados.2 - No caso de verificação simultânea dos pressupostos de aplicação da alínea d) e da alínea f) do número anterior, aavaliação indireta deve ser efectuada nos termos dos nºs 3 e 5 do artigo 89º-A. -O legislador definiu, assim, um conjunto de situações em que cessa a presunção de veracidade das declarações docontribuinte, prevista no artigo 75º, nº 1, da LGT, atendendo a que, no que para os autos releva, as manifestações defortuna, em sentido amplo, refletem níveis de rendimento desproporcionados com os rendimentos declarados (V. a estepropósito, o acórdão do TCAS, de 5 de julho de 2005 – pº nº 00649/05).Trata-se de um mecanismo circunscrito às pessoas singulares, pelo que apenas se reflete em termos de IRS (aocontrário do que sucede em outros ordenamentos, como é o caso do ordenamento espanhol, em que a tributação pormeio de presunções na sequência de manifestações em bens consumidos decorre do artigo 134.º da ley del impuestosobre sociedade – cfr. João Sérgio Ribeiro, tributação Presuntiva do rendimento…, cit, p.283, nota 638)., pois orendimento que se venha a apurar, por recurso a este método, é enquadrável na categoria G do IRS — incrementospatrimoniais (alínea d) do nº 1, do artigo 9º do Código do IRS).Sob esta designação de «manifestações de fortuna» não encontramos apenas regras de determinação da matériatributável: encontramos também regras próprias de incidência objetiva (também designada de incidência real) edisposições de garantia.São regras de incidência objetiva, como se sabe, as que integram o elemento objetivo do facto tributário. O facto jurídicoconstitutivo da obrigação tributária, que integra o elemento determinante dessa obrigação (localizado na previsãonormativa), desdobra-se estruturalmente em dois elementos essenciais: o elemento objetivo (a regra de «incidênciareal) e o elemento subjetivo (a regra de «incidência pessoal»).O elemento objetivo do facto tributário, por sua vez, é suscetível de ser encarado, do prisma estrutural, sob váriosângulos distintos, que representam verdadeiros subelementos daquele facto e integram, por isso, a regra de incidênciaobjetiva: o elemento material, que é o acontecimento natural ou fenómeno de natureza económica, um ato ou negóciojurídico ou um estado, uma situação ou qualidade de uma pessoa; o elemento temporal, que é o momento ou períododa sua verificação; o elemento quantitativo, que respeita aos factores legais de medição do objeto material do imposto(...), preceitos que definem quer a realidade a medir (mercadorias, rendimento), quer a unidade de medida (peso,dimensão, valor monetário), quer os próprios critérios jurídicos a que deve obedecer essa medição.Neste sentido, veja-se o Acórdão do STA, de 8 de Julho de 2009 (Proc. nº 0579/09), onde se diz que “Os índicesconstantes da tabela do nº 4 do artigo 89.º da LGT são como que normas de incidência objetiva de IRS, deslocadas

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embora do respectivo Código, integradores do conceito de “acréscimos patrimoniais não justificados” a que alude aalínea d) do n. 1, do artigo 9.º do Código do IRS (…).Ora, as manifestações de fortuna têm por base uma ocorrência da vida real que vai servir, «de per si» de elementomaterial do facto tributário: o acréscimo patrimonial de origem desconhecida. Ao deparar-se com a aquisição, fruição oucessão de determinado bem, o legislador deduz um determinado rendimento) adquirido em data e por meio que nãoaverigua, declinando, assim (e por opção legislativa), saber se se trata de um rendimento de trabalho, empresarial, decapital ou outro e integrando-o por isso, numa nova categoria objetiva de tributação, de natureza indiferenciada, a dosacréscimos patrimoniais não justificados.Assim, na tributação com base em manifestações de fortuna, em sentido amplo, podem ser discernidas duas tipologiasde situações:a) A correspondente ao artigo 87.º n.º 1, alínea d) da LGT, que determina a possibilidade de avaliação indireta quando“os rendimentos declarados em sede de IRS se afastarem significativamente para menos, sem razão justificada, dospadrões de rendimento que razoavelmente possam permitir as manifestações de fortuna evidenciadas pelo sujeitopassivo nos termos do artigo 89º.-A;b) A constante da alínea f) da mesma disposição legal, segundo a qual é possível tal avaliação indireta, quando haja“um acréscimo de património ou despesa efetuada, incluindo liberalidades, de valor superiora €100.000, verificadossimultaneamente com a falta de declaração de rendimentos ou com a existência, no mesmo período de tributação, deuma divergência não justificada com os rendimentos declarados”.Atentando nas alíneas d) e f) supracitadas, verifica-se que estão, desde logo, previstas como situações de recurso aavaliação indireta aquelas em que a capacidade declarada (ou não declarada, de todo) difere da capacidademanifestada: são as situações de manifestações de fortuna (alínea d) e de acréscimos patrimoniais não justificados(alínea f)).Verifica-se, pois, uma dualidade de situações: a da existência de manifestações de fortuna, em sentido estrito, às quaiscorrespondem determinados rendimentos padrão e a da existência de incrementos patrimoniais ou despesa nãojustificados.A tributação por avaliação indireta, por via das manifestações de fortuna, encontra desenvolvimento no artigo 89º-A daLGT, que define com detalhe os seus requisitos e pressupostos, para além das próprias garantias dos contribuintes.Estabelece este normativo que “1 - Há lugar a avaliação indireta da matéria coletável quando falte a declaração derendimentos e o contribuinte evidencie as manifestações de fortuna constantes da tabela prevista no n.º 4 ou quando orendimento líquido declarado mostre uma desproporção superior a 50%, para menos, em relação ao rendimento padrãoresultante da referida tabela.2 - Na aplicação da tabela prevista no n.-° 4 tomam-se em consideração:a) Os bens adquiridos no ano em causa ou nos três anos anteriores pelo sujeito passivo ou qualquer elemento dorespetivo agregado familiar;b) Os bens de que frua no ano em causa o sujeito passivo ou qualquer elemento do respetivo agregado familiar,adquiridos, nesse ano ou nos três anos anteriores, por sociedade na qual detenham, direta ou indiretamente,participação maioritária, ou por entidade sediada em território de fiscalidade privilegiada ou cujo regime não permitaidentificar o titular respetivo.c) Os suprimentos e empréstimos efetuados pelo sócio à sociedade, no ano em causa, ou por qualquer elemento do seuagregado familiar.3 - Verificadas as situações previstas no n.º 1 deste artigo, bem como na alínea f) do artigo 87.º cabe ao sujeito passivoa comprovação de que correspondem à realidade os rendimentos declarado sede que é outra a fonte das manifestaçõesde fortuna ou o acréscimo de património ou o consumo evidenciados.4 - Quando o sujeito passivo não faça a prova referida no número anterior relativamente às situações previstas no nº 1deste artigo, considera-se como rendimento tributável em sede de IRS, a enquadrar na categoria G, no ano em causa, eno caso das alíneas a) e b) do n.º 2, nos três anos seguintes, quando não existam indícios fundados, de acordo com oscritérios previstos no artigo 90º, que permitam à administração tributária fixar rendimento superior, o rendimento padrãoapurado nos termos da tabela seguinte:

5- No caso da alínea f) do artigo 87.º considera-se como rendimento tributável em sede de IRS, a enquadrar nacategoria G, quando não existam indícios fundados, de acordo com os critérios previstos no artigo 90.º, que permitam àadministração tributária fixar rendimento superior, a diferença entre o acréscimo de património ou o consumoevidenciados e os rendimentos declarados pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação.6- A decisão de avaliação da matéria coletável pelo método indireto constante deste artigo é da competência do diretorde finanças da área do domicílio fiscal do sujeito passivo, sem faculdade de delegação.7- Da decisão de avaliação da matéria coletável pelo método indireto constante deste artigo cabe recurso para o tribunaltributário, com efeito suspensivo, a tramitar como processo urgente, não sendo aplicável o procedimento constante dosartigos 91.º e seguintes.11 - A avaliação indireta no caso da alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º deve ser feita no âmbito de um procedimento queinclua a investigação das contas bancárias, podendo no seu decurso o contribuinte regularizar a situação tributária,identificando e justificando a natureza dos rendimentos omitidos e corrigindo as declarações dos respetivos períodos.”A alínea f) do n.º 1 do artigo 87.º abrange, assim, uma realidade enquadrável num conceito amplo de manifestações defortuna e designada por acréscimo ou incremento patrimonial não justificado, definido em concreto por comparação como rendimento declarado, sendo precisamente esta a situação dos autos.Este normativo, como vimos, dispõe que a avaliação indireta da matéria coletável só pode efetuar-se em caso deexistência de uma divergência não justificada de, pelo menos, um terço entre os rendimentos declarados e o acréscimode património ou o consumo evidenciados pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação.Por seu turno, decorre do artigo 89.º n.º 3 do mesmo código que verificadas as situações previstas na alínea f) do artigo87.º cabe ao sujeito passivo a comprovação de que correspondem à realidade os rendimentos declarados e de que éoutra a fonte das manifestações de fortuna ou o acréscimo de património ou o consumo evidenciados.Acrescentando o n.º 5 deste normativo que no caso da alínea f) do artigo 87.º considera-se como rendimento tributávelem sede de IRS, a enquadrar na categoria G, a diferença entre o acréscimo de património ou o consumo evidenciados e

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os rendimentos declarados pelo sujeito passivo no mesmo período de tributação.”Da conjugação destas disposições legais resulta que, detetada pela Autoridade Tributária e Aduaneira uma divergênciaentre os valores declarados pelo sujeito passivo através da sua declaração Modelo 3 do IRS e um acréscimo patrimonialou consumo evidenciado, aquela encontra-se legitimada a presumir, através da avaliação indireta, um rendimentoresultante dessa diferença de valores.Nestes casos, cabe ao contribuinte a prova de que correspondem à realidade os rendimentos declarados e de que éoutra a fonte das manifestações de fortuna evidenciadas. Para o efeito, o contribuinte deve apresentar os respetivoselementos probatórios demonstrativos de que a fonte das manifestações de fortuna apresentadas não é constituída porrendimentos indevidamente não declarados.A aplicação deste regime depende do pressuposto da omissão da declaração de rendimentos ou da apresentação dedeclaração com rendimentos desproporcionados, para menos, face ao nível de rendimento evidenciado pelasmanifestações de fortuna apresentadas.Isto é, só a verificação de um destes pressupostos legitima a Autoridade Tributária e Aduaneira à aplicação do métodode avaliação indireta por manifestações de fortuna, uma vez que esta, face ao disposto no artigo 81°, n.º 1 da LGT (“Amatéria tributável é avaliada ou calculada diretamente segundo os critérios próprios de cada tributo, só podendo aadministração tributária proceder a avaliação indireta nos casos e condições expressamente previstas no lei’), só éadmitida, excecionalmente, nos casos taxativamente previstos.Trata-se, pois, de um dos casos particulares de determinação indireta do rendimento coletável, de base indiciária,através do recurso a sinais exteriores de riqueza ou de despesa, estranhos à matéria coletável sujeita a imposto, quefuncionarão com índices de quantificação dessa matéria. É um sistema destinado a suprir a ausência de declaração docontribuinte ou como meio de fiscalização da verosimilhança da declaração do contribuinte entre os rendimentosdeclarados e os sinais que põem em causa a confiança que pode merecer esta declaração.A alínea f) ao artigo 87.º da LGT, foi introduzida pela Lei n.º 55-B/2004, de 30 de Dezembro, alargando a anterior basede incidência do IRS, na categoria G, nestas situações de divergência entre os rendimentos declarados para efeitos deIRS e o acréscimo de património ou os consumos evidenciados pelo sujeito passivo. Esta alteração legislativa visousuprir as insuficiências do método de tributação das manifestações de fortuna, em relação aos contribuintes quecanalizam os seus rendimentos não declarados, para consumos diferentes dos previstos no artigo 89.°-A da LGT, comosucede no caso em apreço.Como já se referiu, de acordo com o disposto no nº 3 do artigo 89°-A, da LGT uma vez verificadas as situaçõesprevistas no n.º 1, cabe ao sujeito passivo a prova de que correspondem à realidade os rendimentos declarados e deque é outra a fonte do acréscimo do património, nomeadamente herança ou doação, rendimentos que não estejaobrigado a declarar, utilização do seu capital ou recurso ao crédito.Assim, em termos de efeitos, e de harmonia com o consignado no artigo 89.º da LGT, a verificação dos pressupostospara a determinação da matéria coletável acarreta, desde logo, uma inversão do ónus da prova.Neste âmbito, e para se aquiescer do verdadeiro alcance e extensão da inversão do ónus da prova estabelecida para oscasos do artigo 89.º da LGT, cumpre estabelecer uma análise do regime regra e, nessa medida, convocar o princípio daverdade declarativa.Vigora no nosso ordenamento jurídico, o princípio da declaração e da veracidade da escrita, segundo o qual sepresumem verdadeiras as declarações do contribuinte. Significa, portanto, que nos casos em que a declaração docontribuinte estiver em conformidade com os elementos constantes da sua contabilidade e esta se mostrar organizadanos termos da lei e não se verificarem erros, inexatidões, ou outros indícios fundados de que ela não corresponde àrealidade, presume-se que a matéria tributável declarada é a real.Assim, o princípio da verdade declarativa coloca na esfera de atuação dos contribuintes a iniciativa no procedimento deapuramento, fixação e pagamento dos impostos, ficando a AT vinculada a liquidar os tributos com base na declaraçãodo contribuinte, sem prejuízo do direito que lhe é concedido de proceder, a posteriori, ao controlo dos factos declarados.Do lado do contribuinte compete-lhe a prova de que os valores declarados são reais e indispensáveis e que declaroutodos as situações a que estava legalmente vinculado, quando, efetivamente, a AT tenha carreado elementos de factoque sejam suscetíveis de abalar a dita presunção da escrita.Porém, conforme já referido anteriormente, a determinação da matéria coletável de harmonia com o artigo 89.º da LGT,é realizada de acordo com a avaliação indireta da matéria coletável, mormente, quando falte a declaração derendimentos, quando o contribuinte evidencie as manifestações de fortuna referidas na tabela constante do n. 4, docitado normativo, ou quando se verifique um acréscimo de património ou despesa efetuada, conforme se encontraprevisto na al. f) do n.º 1 do artº 87º do mesmo código.Com efeito, procede-se à avaliação indireta nas situações em que não existem elementos fiáveis e suficientes parademonstrar exatamente o valor dos rendimentos ou bens sujeitos a tributação razão pela qual, a sua tributação é feitacom base em indícios, presunções ou outros elementos de que a AT disponha.De notar que, no âmbito da avaliação indireta, a AT tem de demonstrar, por um lado, que a declaração não espelha averdadeira situação tributária do contribuinte, e por outro lado, que é, de facto, impossível aceder-se à verdade fiscal docontribuinte pelo método de avaliação direta.Daí que se possa afirmar que na tributação das manifestações de fortuna, o ónus probatório da Autoridade Tributária émitigado, dado que não tem de demonstrar que os elementos declarados não correspondem à realidade, basta-lhe,portanto, demonstrar o facto que segundo a lei constitui uma manifestação de fortuna. Há, por conseguinte, umaexclusão da presunção de veracidade das declarações dos contribuintes.Porém, é de ressalvar que, também neste âmbito, a AT não tem de provar que lhe é impossível aceder à verdadeirasituação tributária do contribuinte por métodos diretos uma vez que o legislador confere-lhe a faculdade de decidirdiretamente pela tributação por métodos indiretos, sem necessidade de qualquer outra justificação. Sem necessidadesequer da formulação de um juízo sobre a valia concreta do facto manifestado para desfazer a credibilidade dadeclaração do contribuinte (quando exista).Ora, tendo presente que a AT não tem de provar a falta de veracidade da declaração e/ou escrita ou documentação desuporte, de demonstrar a impossibilidade de aceder à verdadeira situação tributária do contribuinte por métodos diretos,de encontrar e justificar um método de quantificação adequado para determinação da matéria coletável, resulta para siuma diminuição do seu esforço probatório e instrutório e, logo, uma maior eficiência no seu âmbito de atuação.Ao invés, ao sujeito passivo é instituído um ónus bastante salientado, pois tem de comprovar a realidade dosrendimentos declarados, demonstrar que é outra a fonte das manifestações de fortuna ou do acréscimo do patrimónioou da despesa efetuada.Nalguns casos podemo-nos encontrar perante uma prova muito exigente, doutrinalmente denominada por diubolicoprobatio, pois não basta a demonstração de factos que determinem uma dúvida séria sobre a existência do factotributário, no fundo, não basta uma contraprova, mas sim a prova de um facto negativo (inexistência do facto).Porém, a jurisprudência tem entendido que o alcance desta inversão tem de ser contrabalançado com o princípio doinquisitório, não podendo, portanto, a AT eximir-se da sua função instrutória, dado que a presunção só pode operarnuma situação de non liquet.«2. No recurso do meio processual acessório previsto no art. ° 146.º do CPPT, do despacho que determina a avaliaçãoindirecta da matéria colectável, pode a contribuinte vir fazer a prova de que é outra a fonte das manifestações de fortunaevidenciadas ainda que a não tenha feito no procedimento respectivo;3. Ainda que neste procedimento caiba ao contribuinte o ónus da prova contrária à manifestação de fortunaobjectivamente apurada, o mesmo não obsta, por força do princípio do inquisitório também aqui vigente, que a AT devarealizar todas as diligências necessárias à descoberta da verdade material.» (excerto do sumário do acórdão do TCA sulnº 00419/04, de 18 de janeiro de 2006).

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Neste sentido, veja-se o decidido no Acórdão do TCA Sul, de 23-09-2008, cujo sumário se transcreve:«1) Nas situações em que as manifestações de fortuna estejam em desproporção com os rendimentos declarados, a ATestá legitimada a proceder à avaliação indirecta da matéria tributável (cfr. art 87.-°, alínea d), da LGT, alínea aditada pelareferida Lei n.º 30-G/2000), salvo se o contribuinte provar que os rendimentos declarados correspondem à realidade(inversão do ónus da prova) e que a fonte dos rendimentos necessários para assegurar as manifestações de fortunaevidenciadas é outra (cfr. art 89.-°-A, n.º 3, da LGT).II -A prova exigida ao contribuinte é apenas quanto à fonte das manifestações de fortuna evidenciadas, por forma adeterminar-se as mesmas foram omitidas à declaração para efeitos de IRS.III -Tendo o Contribuinte feito prova de que mobilizou, no ano a que respeita a aquisição, capital mutuado que aplicou naaquisição do imóvel em causa, tal prova é suficiente para ilidir a presunção de evasão fiscal relativamente aosrendimentos declarados naquele ano.IV - Não é exigível ao Contribuinte, para efeitos de ilidir a referida presunção, a demonstração da forma como adquiriuesses capitais (a menos que estivesse demonstrado que os mesmos foram gerados no próprio ano), pois o que está emcausa é apenas averiguar se foram ou não omitidos rendimentos na declaração do próprio ano.»Na mesma esteira de valoração conceptual, convoque-se o também douto Acórdão do TCA Sul, de 05 de Julho de2005, cujo sumário (apenas excerto) se transcreve:«(...) IV - A prova exigida ao contribuinte é apenas quanto à fonte das manifestações de fortuna evidenciadas, por formaa determinar se as mesmas foram omitidas à declaração para efeitos de IRS.V- Assim, fazendo o Contribuinte prova de que mobilizou, no ano a que respeita a aquisição e no ano imediatamenteanterior, capitais que detinha em conta de depósito a prazo, de montante suficiente para efectuar a aquisição em causa,cujo pagamento foi efectuado ao longo daqueles dois anos, tal prova é suficiente para ilidir a presunção de evasão fiscalrelativamente aos rendimentos declarados naquele ano.VI - Não carece o Contribuinte, para efeitos de ilidir a referida presunção, de demonstrar a forma como adquiriu essescapitais (a menos que estivesse demonstrado que os mesmos foram gerados no próprio ano), pois o que está em causaé apenas averiguar se foram ou não omitidos rendimentos na declaração do próprio ano.VII - Em todo o caso, entendendo a AT que a prova apresentada pelo Contribuinte e referida em V não era suficiente, eque ele devia também demonstrar a origem do capital em depósito bancário a prazo, deveria tê-lo notificado para esseefeito antes de decidir pela tributação por métodos indirectos ao abrigo do disposto no art. 87º, alínea d), da LGT.»Para além do que acima se deixou exposto, importa ainda salientar que nem todos os incrementos patrimoniais sãoacréscimos patrimoniais para efeitos de IRS, ou seja, nem todos os acrescimentos patrimoniais são rendimentostributáveis em sede deste imposto. Vêm ao caso as mais-valias potenciais ou latentes. Em Portugal, «só há lugar atributação quando a mais-valia é realizada, ou seja, quando o activo é transaccionado. A imposição das mais-valiasestá, assim, subordinada ao princípio da realização, segundo o qual estão excluídas da tributação as valorizações dosactivos que não tenham sido vendidos — ou melhor, que não tenham sido objecto de alienação onerosa — pelorespectivo titular» (José Guilherme Xavier de Bastos,-IRS, incidência Real e Determinação dos rendimentos líquidos,Coimbra Editora, pág.385, Aliás o mesmo sucede em I.R.C.)Ora, os rendimentos a presumir nos termos dos artigos 87.º alínea f) e 89º-A. nº. 5 ambos da LGT são justamente aenquadrar na categoria G, isto é, a tratar como mais-valias. E tendo como certo que estes normativos não constituemregras de incidência real (as quais deveriam ter sido, então, introduzidas no CIRS), deve entender-se que não sepretendeu ali alargar a base tributária a rendimentos que pudessem constituir mais-valias latentes mas introduzirmecanismos de presunção de rendimentos resultantes de mais-valias realizadas.O que ali se pretendeu foi, por isso, surpreender a divergência entre os rendimentos declarados e aqueles que deveriamter sido declarados de acordo com as regras gerais de incidência, e não trazer à coleta rendimentos que, se tivessemsido declarados, não poderiam ter sido tributados de acordo com essas regras.Por outro lado ainda, a função dos artigos 87.º alínea f) e 89.º n.º 5, citados, é a de presumir rendimentos com base emmanifestações de fortuna. Procura-se ali deduzir de um facto conhecido (manifestado) a existência de um rendimento(fortuna) não declarado.O «acréscimo de património» que ali releva é o que evidenciar a capacidade de gastar num determinado ano, isto é, oque denuncie um rendimento necessário para tal acréscimo, rendimento esse que a declaração respetiva não evidencia.E só evidencia a capacidade de gastar o património que só pôde acrescer ao acervo dos bens do contribuinte gastando.Ou seja, só constitui «acréscimo de património» para os efeitos dos artigos 87º. alínea f), e 89.º-A n.º 5, ambos da LGTa valorização resultante da aplicação de rendimentos do sujeito passivo no exercício em causa.Parece seguro que, apesar de aludir a «acréscimo de património ou despesa», o legislador teve sempre em vista oconsumo evidenciado nesse acréscimo e o que ele implica como indício de rendimento. Pela simples razão de que estamanifestação de fortuna é tributada em IRS, que é um imposto sobre o rendimento, e não um imposto sobre opatrimónio ou sobre o consumo.Por outro lado e ao aludir a «acréscimo de património», o legislador não pretendeu senão tributar o rendimentoevidenciado na aquisição do bem correspondente no ano em que é detetada a sua fruição, por ser desconhecida a dataem que essa aquisição foi efetuada. Presumindo, assim, que essa aquisição foi efetuada no ano em que foi detetada aposse do mesmo.Tecidas estas considerações, voltemos ao caso dos autos.A verificação por parte da AT, no âmbito do levantamento do sigilo bancário do Recorrente, de entradas de dinheiro nomontante de 3.246.025,20€ quando, na declaração de rendimentos apresentada foi inscrito o valor de 518.866,60€, ejustificados 736.772,09€, encontrando-se por justificar a quantia de 2.509.253,11€, determinou a aplicação do dispostono artigo 87.º n.º 1 al. f) da LGT e o recurso ao método indireto de determinação da matéria tributável.Como já dissemos, este artigo elenca de forma taxativa as ocorrências em que a AT se pode socorrer da avaliaçãoindireta, encontrando-se, entre elas as situações de acréscimos patrimoniais não justificados (nº 1 alínea f).Como vimos também, verificada uma das situações daquele artigo a presunção de veracidade das declarações previstano art. 75.º do mesmo código é colocada em causa.A evidência de um acréscimo de património em medida superior a um terço dos rendimentos declarados pelo recorrenteno mesmo período, permite concluir pela objetiva divergência não justificada, entre o património evidenciado e orendimento declarado, pelo que tem fundamento legal a realização da avaliação indireta da matéria coletável em IRS doano de 2011, nos termos da alínea f) do artigo 87.º da LGT.Conclui-se por isso, que a AT procedeu conforme as supra mencionadas disposições legais.Outro passo importa dar de seguida: saber se os Recorrentes conseguiram elidir a presunção em que se baseou a AT,ou seja, se os Recorrentes demonstraram que correspondem à realidade os rendimentos declarados e de que é outra afonte do acréscimo de património verificado.Ora, vista a petição inicial do presente recurso, constata-se que os Recorrentes limitam-se a fazer a sua interpretaçãodo regime das manifestações de fortuna acima descrito, sem alegar e muito menos demonstrar o que lhe competia.Não bastaria a prova testemunhal que arrolaram e que foi dispensada pelo Tribunal, face ao disposto nos artigos 392º eseguintes do Código Civil, outrossim, cabia aos Recorrentes, nos termos do nº 3 do artigo 89.º da LGT, demonstrarcabalmente, não só através de uma alegação circunstanciada mas sobretudo documentada sobre a origem e o alegadodestino das quantias pecuniárias existentes na sua conta bancária, ou seja, demonstrar o nexo causal entre a alegadafonte e o incremento patrimonial constatado pela AT.Efetivamente, como resulta do enquadramento acima efetuado deste regime de tributação e face aos elementos deprova carreados pela AT para o procedimento inspetivo, impunha-se que os Recorrentes apresentassem em Tribunalprova documental suficiente para contrariar a factualidade apurada, por forma a demonstrar que, afinal, fora outra afonte das manifestações de fortuna e que o recorrente in casa não se encontrava obrigado a declará-las.

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Com acima se deixou exposto, competia aos Recorrentes, nos termos do disposto no n.º 3 do artigo 89.º da LGT, o ónusda prova de que os valores declarados são reais e que declararam todas as situações a que estavam legalmentevinculados, prova essa que não fizeram.Assim, e em conclusão, a AT enquadrou a situação em causa nestes autos, nos termos do n.º 5 do art. 89.º-A e naalínea f) do n.º 1 do art. 87.º, ambos da LGT, resultante da divergência, muito superior a € 100.000,00, entre osrendimentos declarados pelo recorrente e o acréscimo de património evidenciado nas suas contas bancárias,divergência essa que não foi devidamente justificada.Assim, tem fundamento legal a realização da avaliação indireta da matéria coletável em IRS do ano de 2011 doRecorrente nos termos da alínea f) do artigo 87.º da LGT.Nos termos expostos, não estando justificada a manifestação de fortuna, deverá manter-se o ato recorrido que fixou aosRecorrentes rendimento a tributar em sede de categoria G de IRS, improcedendo, por isso, nesta parte o presenterecurso.iii) ilegalidade da prorrogação do período de inspeção.Alegam os Recorrentes que a prorrogação do ato de inspeção, por que não justificada em concreto, e não se encontrarnas condições das alíneas a) a c) do nº. 3 do artigo 36.º do RCPITA, se extinguiu o ato de inspeção.Atentemos nesta questão.Dispõe o artigo 36.º do RCPITA, sob a epígrafe “Início e prazo do procedimento de inspeção”, que “1 - O procedimentode inspeção tributário pode iniciar-se até ao termo do prazo de caducidade do direito de liquidação dos tributos ou doprocedimento sancionatório, sem prejuízo do direito de exame de documentos relativos a situações tributárias jáabrangidas por aquele prazo, que os sujeitos passivos e demais obrigados tributários tenham a obrigação de conservar.2 - O procedimento de inspeção é contínuo e deve ser concluído no prazo máximo de seis meses a contar danotificação do seu início.3-O prazo referido no número anterior poderá ser ampliado por mais dois períodos de três meses, nas seguintescircunstâncias:a) Situações tributárias de especial complexidade resultante, nomeadamente, do volume de operações, da dispersãogeográfica ou da integração em grupos económicas nacionais ou internacionais das entidades inspecionadas;b) Quando, na ação de inspeção, se apure ocultação dolosa de factos ou rendimentos;c) Nos casos em que a administração tributária tenha necessidade de recorrer aos instrumentos de assistência mútua ecooperação administrativa internacional;d) Outros motivos de natureza excecional, mediante autorização fundamentada do diretor-geral da Autoridade Tributárioe Aduaneira.4 - A prorrogação do prazo do procedimento de inspeção deve ocorrer até ao seu termo, antes da emissão da nota dediligência, e é notificada à entidade inspecionada com a indicação da data previsível do termo do procedimento.Conforme decorre do probatório, a ampliação do período de inspeção por mais três meses foi autorizado por estar emcausa um elevado volume de operações, o que, contrariamente ao invocado pela Recorrente, tem previsão legal naalínea a) do n.º 3 do sobredito normativo.Para além disso, conforme refere a este propósito o Digno Magistrado do Ministério Público no seu parecer, “(...) no quetoca ao art. 36º do RCPIT, que o prazo aí fixado é de ordem disciplinador ou ordenador, sem que a respetivaultrapassagem implique a caducidade do procedimento ou a invalidade do ato visado com ele, tal como decidiu o TC, noAc. 566/08 (Pº 1171/07) e nos demais nele citados:” Não julgar inconstitucional a norma do artigo 36.º n.º 2 quandointerpretada no sentido de que a ultrapassagem do prazo aí fixado não determina a caducidade do procedimento deinspecção tributária nem a invalidade dos actos de liquidaçãoAssim, parecendo-nos desnecessárias mais considerações, improcede esta alegação dos Recorrentes.iv) falta de fundamentação do relatório de inspeção.Invocam os Recorrente a falta de fundamentação do relatório de inspeção, estando impedido de contradizer o própriorelatório, por que não consegue entender as razões de direito que levaram o autor naquele sentido.É certo que o dever de fundamentação dos atos administrativos pela Administração é um direito inerente àcorrespondente garantia dos contribuintes e encontra-se consagrado ao nível dos diversos códigos tributários.O dever de fundamentação dos atos tributários insere-se nos princípios de natureza análoga aos direitos, liberdades egarantias enunciadas no Título II da parte 1.ª da CRP, e encontra-se constitucionalmente consagrado no artigo 268.°, n.º3, nos termos do qual “os actos administrativos estão sujeitos a notificação aos interessados, na forma prevista na lei, ecarecem de fundamentação expressa e acessível quando afetem direitos ou interesses legalmente protegidos”.Este dever de fundamentação, dos atos administrativos em geral, encontra ainda acolhimento no artigo 152.º do Códigode Procedimento Administrativo e, ao nível específico dos atos tributários, no artigo 77.º da LGT, que determina aobrigatoriedade de fundamentação dos atos tributários, fundamentação essa que deve conter, ainda que sucintamente,as disposições legais aplicadas, a qualificação e a quantificação dos factos e as operações de apuramento da matériatributável e do imposto.Pretendeu o legislador, reforçar as garantias da legalidade administrativa e dos direitos individuais dos cidadãos perantea Administração Pública em geral. Na verdade, a falta de fundamentação das suas decisões dificulta, muitas vezes, asua impugnação, graciosa ou contenciosa e uma opção consciente por parte do visado entre a aceitação da legalidadedo ato e a impugnação do mesmo.Por isso, a fundamentação deve ser expressa, através duma exposição sucinta dos fundamentos de facto e de direito dadecisão; clara, permitindo que, através dos seus termos, se apreendam com precisão os factos e o direito com base nosquais se decide; suficiente, possibilitando, ao administrado ou contribuinte, um conhecimento concreto da motivação doato, ou seja, que exponha as razões de facto e de direito que determinaram o órgão administrativo atuar como atuou; econgruente, de modo que a decisão constitua conclusão lógica e necessária dos motivos invocados como suajustificação, envolvendo entre eles um juízo de adequação, não podendo existir contradição entre os fundamentos e adecisão.Por outro lado, é equivalente à falta de fundamentação, a adoção de fundamentos que, por obscuridade, contradição ouinsuficiência, não esclareçam, concretamente, a motivação do ato por forma a permitir-lhe conhecer as razões de facto ede direito que determinaram a sua prática e porque motivo se decidiu num sentido e não noutro.Importa, pois, que o contribuinte, destinatário da decisão, fique minimamente ciente do iter volitivo da administração noque concerne à determinação da matéria coletável, implicando a violação destes requisitos da decisão a respetivailegalidade.Daí que, como já o dissemos, o artigo 77º da LGT imponha a fundamentação dos atos praticados em matéria tributáriaque afetem os direitos e interesses dos contribuintes - fundamentação de facto e de direito — enquanto garantia docontribuinte, que, sendo incumprida, inquina o ato praticado.Assim, em matéria tributária, tal dever de fundamentação (embora nem sempre com o mesmo grau de exigência) devesempre conter as disposições legais aplicáveis, a qualificação e quantificação dos factos tributários, bem como asoperações de apuramento da matéria tributável e do imposto.A fundamentação exigível em cada caso vária consoante o concreto tipo de ato, possuindo um carácter instrumental dopróprio ato, devendo a sua suficiência ser aferida pelo comprometimento da possibilidade de reação graciosa ou judicialcontra o mesmo.No caso presente, visto o relatório de inspeção tributária que deu origem à fixação do rendimento coletável doRecorrente para efeitos de IRS do ano de 2012, não se vislumbra qualquer insuficiência ou deficiência à fundamentaçãolegalmente exigida pois o mesmo permite perceber, de forma clara, que a sua motivação reside na existência demovimentos bancários de contas do Recorrente que ascendem a € 3.246.025,20, sem que tenha sido dada totaljustificação documentada dos mesmos, estando € 2.509.253,11 não justificados.

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Considerando o que acima foi dito acerca da fundamentação legal e analisado o mencionado relatório de inspeção nãodetetamos qualquer obscuridade, contradição ou insuficiência que inquine o mesmo, nem os Recorrentes dizem, emconcreto, onde reside a alegada falta de fundamentação, pois não invoca facto ou ato algum concreto que quisessesaber e que lhe tenha sido omitido pela AT, ou que obstasse a uma defesa cabal sobre todo o iter cognoscitivo seguidopor aquela.Assim é clara a conclusão de que o relatório inspetivo em causa encontra-se devidamente fundamentado,improcedendo, por consequência, o alegado vício de falta de fundamentação.v) ilegalidade da notificaçãoNeste particular, invocam os Recorrentes que a notificação dirigida ao mandatário deveria ter sido também endereçadaao interessado na medida em que se trata de um ato pessoal.Nos termos do disposto no artigo 40.º n.º 1 do CPPT, quando um interessado processual constituiu mandatário para sefazer representar no processo ou no procedimento tributário, todas as notificações a este interessado terão que serefetuadas na pessoa do mandatário constituído e no escritório deste.Nos termos do n.º 2 deste artigo, “Quando a notificação tenha em vista a prática pelo interessado de ato pessoal, alémda notificação ao mandatário, será enviada carta ao próprio interessado, indicando a data, o local e o motivo dacomparência.”.Ora, no caso em apreço, contrariamente ao invocado pelos Recorrentes, a notificação do teor do relatório de inspeçãotributária não configura um ato pessoal para os termos do sobredito normativo, pois não está em causa qualquernotificação para comparência nos serviços da Autoridade Tributária Aduaneira ou no Tribunal.Assim, estando assente que a notificação da decisão aqui recorrida foi notificada, através do Ofício n° 105, aomandatário de A………………, representante fiscal de B……………., inexiste a nulidade procedimental invocada.Termos em que, parecendo-nos desnecessárias mais considerações, improcede também esta alegação dosRecorrentes.vi) Quanto à dispensa do remanescente da taxa de justiça.Considera a Entidade Pública Demandada, que se encontram preenchidos os pressupostos previstos no n.º 7 do art. 6.ºdo Regulamento das Custas Processuais, para que seja dispensada do remanescente da taxa de justiça prevista nestenormativo, face à não grande complexidade da causa e à sua conduta processual.Vejamos.Dispõe o n.º 7 do artigo 6.º do RCP que «Nas causas de valor superior a € 275.000,00 o remanescente da taxa dejustiça é considerado na conta afinal, salvo se a especificidade da situação o justificar e o juiz deforma fundamentada,atendendo designadamente à complexidade da causa e à conduta processual das partes, dispensar o pagamento».Esta dispensa do remanescente da taxa de justiça tem natureza excecional, pressupondo uma menor complexidade dacausa e uma simplificação da tramitação processual aferida pela especificidade da situação processual e pela condutadas partes.A meu ver, não se verificam os referidos requisitos legais para a dispensa do pagamento do remanescente da taxa dejustiça porquanto nem a questão tratada no recurso pode ser considerada de complexidade inferior à comum, nem severificou qualquer simplificação da tramitação processual, seja em razão da concreta situação processual, seja pelaconduta processual das partes, que se limitou ao que lhes é exigível e legalmente devido (neste sentido vide o acórdãoda secção de contencioso tributário do Supremo tribunal Administrativo de 9 de julho de 2014, proferido no processonº1319/13, publicado no apêndice ao diário da republica de 19 de outubro de 2015).

Termos em que indefere-se o requerido pedido de dispensa do pagamento do remanescente da taxa de justiça.

IV - DISPOSITIVOFace a todo o exposto, julgo improcedente o presente recurso interposto por A………… e B…………….. e, porconsequência, mantenho a decisão recorrida do Director de Finanças de Santarém de fixação do rendimento tributávelpara o ano de 2012, enquadrável na categoria G do IRS, com recurso à avaliação indireta, com as demaisconsequências legais.

DECIDINDO NESTE STA

Questão prévia:Sendo pelas conclusões das alegações que se delimita o objecto do recurso (art.635° n°4 do CPC vigente/art.2° al. e) CPPT), cumpre, previamente assinalar que nas conclusões das suas alegações a recorrentenos nºs 30 e 31 invoca matéria de facto que não consta do probatório e que, implicitamente, entende quedo mesmo deveria constar pois patentemente pretende retirar consequências jurídicas de tal matéria.Com efeito, refere que:“(…)30) O que o contribuinte sempre disse, foi que reside em Angola, ali trabalha, ali obtém rendimentos, mas temfamília em Portugal, e traz esses rendimentos para Portugal, mas o sistem a bancário não lhe permite fazertransferências , e como tal não tem provas, apenas por que não existem;31) Também sempre disse, que muitos dos valores que vieram, indevidamente a ser depositados nas suas contasbancárias, não lhe pertencem mas sim aos seus colab oradores, que se encontram a trabalhar em Angola , etambém eles impedidos de transferir a parte dos salários que lhes sobra, e identificou essas contas para as quais osvalores respetivos foram transferidos das suas contas em Portugal, para os familiares dos seus colaboradores emAngola;

Disso deu conta o despacho do Relator de 29/06/2016 que consta dos autos a fls. 270 e Vº o qual foidevidamente notificado às partes.E, subsequentemente, a Fazenda Pública veio aos autos a fls. 275 a 278, sustentar a competência desteSTA em razão da hierarquia por em seu entender se tratar de matéria/argumentos novos que não constamda petição inicial mas, com o devido respeito, entendemos que não lhe assistir razão.Como é sabido, tratando-se de questões novas as mesmas não podem ser conhecidas, com excepção dasque sejam de conhecimento oficioso. Assim, não pode em sede de recurso conhecer-se de questõesnovas, ou seja, de questões que não tenham sido objecto da sentença, pois os recursos jurisdicionaisdestinam-se a reapreciar as decisões proferidas pelos tribunais inferiores – visando anulá-las ou alterá-lascom fundamento em vício de forma (nulidade) ou de fundo (erro de julgamento) – e não a decidir questõesque, podendo e devendo ter sido suscitadas antes, o não foram.Neste sentido, entre muitos outros, os seguintes acórdãos desta Secção de Contencioso Tributário doSupremo Tribunal Administrativo:- de 5 de Novembro de 2014, proferido no processo n.º 1508/12, publicado no Apêndice ao Diário daRepública de 15 de Janeiro de 2016 (http://www.dre.pt/pdfgratisac/2014/32240.pdf), págs. 3709 a 3713,também disponível em http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/a3886f1588995f5f80257d8e00337760?OpenDocument;- de 27 de Maio de 2015, proferido no processo n.º 328/14, ainda não publicado no jornal oficial, disponívelem

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4- DECISÃOTermos em que se declara incompetente, em razão da hierarquia, este STA para o conhecimento dopresente recurso, determinando a remessa dos autos ao TCA – Sul, por ser o competente.

Sem custas.

Lisboa, 3 de Agosto de 2016. - Ascensão Lopes (relator) - Maria do Céu Neves – Pedro Delgado.

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