acupuntura VG20 e memoria

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeo a todos aqueles que me apoiaram nessa jornada e,sem citar nomes, cada um sabe o quanto foi importante para que eu pudesse alcanar este resultado final. Aqui ficam o meu carinho e aminha gratido.

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    RESUMO

    Por muitos anos, a memria tem fascinado os filsofos, psiclogos eneurocientistas. No entanto, no est totalmente claro se possvel obtermelhora da memria. Sabe-se que a acupuntura uma terapia bemaceita no mundo e que suas intervenes milenares e contemporneasexercem grande influncia sobre doenas neurolgicas. Estudosdescritos na literatura mostram que a acupuntura no acuponto Baihui (VG20) diminuiu os danos causados por acidente vascular cerebral ouisquemia cerebral, alm de exercer efeitos positivos na reabilitaoneurofuncional e tratar condies como cefalias, tonturas e ansiedadetanto em humanos quanto em modelos animais. Sendo assim, o presente

    estudo procurou investigar se a acupuntura manual (AM) no Baihui (VG20) seria capaz de melhorar o aprendizado e a memria emcamundongos. Os animais foram tratados com AM por um perodomnimo de 15 dias e submetidos a testes de comportamento paraavaliao da memria, da ansiedade, da depresso e da dor. Otratamento com AM neste acuponto promoveu significativa melhora damemria de curta e de longa durao, tanto no teste de reconhecimentode objetos quanto da esquiva inibitria, quando comparado aos gruposcontrole e sham. Alm disto, a AM no Baihui (VG20) aumentou deforma significativa as escolhas corretas no sexto, stimo e oitavo dias nolabirinto radial de oito braos e reduziu o total de erros no stimo e nooitavo dias quando comparada aos grupos controle e sham. Por outrolado, a AM no Baihui (VG20) no apresentou atividade ansiolticaquando analisada no teste da caixa claro/escuro e no labirinto em cruzelevado. No entanto, promoveu significativa atividade antidepressiva noteste da suspenso da cauda quando comparada aos grupos controle esham. No teste da formalina, a AM mostrou um efeito antinociceptivorelacionado com a dor neurognica, mas no com a dor inflamatria.Assim, os dados do presente estudo demonstram que a estimulao doacuponto Baihui (VG20) pela AM induz melhora da aprendizagem e damemria, alm de ter importante atividade antidepressiva emcamundongos.

    Palavras-chave: Acupuntura manual. Memria. Depresso. Ansiedade.Camundongos.

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    ABSTRACT

    For many years, memory has fascinated the philosophers, psychologists,and neurobiologists. However, is not clear whether it is possible toobtain improved memory. It is known that acupuncture therapy is well-accepted in the world and its ancient and contemporary interventionsexert a strong influence on brain-related pathologies. Previous studiesshow that acupuncture at acupoint Baihui (GV20) decreased the damagecaused by stroke or cerebral ischemia as well as positive effects onneurofunctional rehabilitation and treat conditions such as headaches,dizziness and anxiety in both humans and in animal models. Thus, thisstudy aimed to investigate whether manual acupuncture (MA) in Baihui

    (VG20) could improve learning and memory in mice. The animals weretreated with MA for a minimum of 15 days and subjected to behavioraltests for evaluation of memory, anxiety, depression and pain.Treatmentwith MA in Baihui (VG20) caused a significant improvement in shortand long-term memory in both the test object recognition as inhibitoryavoidance when compared with the control and sham groups. Inaddition, the MA in Baihui (VG20) significantly increased the correctchoices in the sixth, seventh and eighth days in eight-arm radial mazeand reduced the total errors in the seventh and eighth days comparedwith the control and sham groups. On the other hand, the MA in Baihui (VG20) showed no anxiolytic activity when analyzed in the test boxlight/dark and elevated plus maze. However, it was able to promotesignificant antidepressant activity in the tail suspension test comparedwith the control and sham groups. In the formalin test, MA showed anantinociceptive effect associated with neurogenic pain, but not ininflammatory pain. Thus, the data from this study demonstrate thatstimulation of the acupoint Baihui (VG20) by manual acupunctureinduces improvement of learning and memory as well as havingimportant antidepressant activity in mice.

    Key words: Manual acupuncture. Memory. Depression. Anxiety. Mice.

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Anatomia do hipocampo......................................................21Figura 2 - Principais regies do sistema de memria...........................22Figura 3 - Vias de entrada e sada da formao hipocampal................23Figura 4 - Representao dos meridianos de acupuntura.....................27Figura 5 - Representao do meridiano Vaso Governador..................28Figura 6 - Estruturas envolvidas no estmulo da AM..........................30Figura 7 - Vias neurais de impulsos aferentes......................................31Figura 8 - Localizao do acuponto VG20...........................................42Figura 9 - Localizao do acuponto VG20 em camundongo...............43Figura 10 - Efeitos da AM no VG20 no reconhecimento de objetos ....54

    Figura 11 - Efeitos da AM no VG20 na tarefa de esquiva inibitria ....55Figura 12 - Efeitos da AM no VG20 no labirinto radial de oito braos.56Figura 13 - Efeito da AM no VG20 no teste da caixa claro/escuro.......57Figura 14 - Efeitos da AM no VG20 no labirinto em cruz elevado.......58Figura 15 - Efeitos da AM no VG20 no teste de suspenso da cauda....59Figura 16 - Efeitos da AM no VG20 no teste da formalina ..................60

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AM Acupuntura manualAMPA Alfa-amino-3-hidroxi-5-metil-4-isoxazolpropinicoAMPc Monofosfato cclico de adenosinaATP Trifosfato de adenosinaANOVA Anlise estatstica de uma varinciaBDNF Fator neurotrfico derivado do crebroCa2+ ClcioCA1 Corno de Amon 1CA3 Corno de Amon 3CAMKII Clcio-Calmodulina cinase II

    CCK-8 Colecistocinina8CEUA Comit de tica para o uso de animaisCREB Protena ligante ao elemento de resposta do AMPcCRP Protena reativa CDNA cido desoxirribonuclicoEA EletroacupunturaEPM Erro padro da mdiaERK Cinase ativada por estmulos extracelularesFGF-2 Fator-2 de crescimento de fibroblastosGABA cido -aminobutricoGDNF fator neurotrfico derivado de clulas gliaisIL-1 Interleucina 1 IL-6 Interleucina 6IR ndice de reconhecimentoLTM Memria de longa duraoLTP Potenciao de longa duraon Nmero de animais por grupo experimental

    NMDA N-metil D-AspartatoMTC Medicina tradicional chinesa NGF Fator de crescimento neural NPY Neuropeptdio YOMS Organizao mundial da sadeP43 Protena imunossupressora/mitognica linfocitriaPKA Protena cinase dependente de AMPcPKC Protena cinase CRO Tarefa de reconhecimento de objetos novos

    SNC Sistema nervoso centralSTM Memria de curta duraoTF Tempo gasto explorando o objeto familiar

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    TN Tempo gasto explorando o objeto novoTNF- Fator de necrose tumoral alfaUFSC Universidade Federal de Santa CatarinaVG Meridiano Vaso GovernadorVG20 Acuponto 20 do meridiano Vaso Governador - Baihui

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    SUMRIO

    1. INTRODUO................................................................................17 1.1 MEMRIA.......................................................................................171.1.1 Classificao das memrias...........................................................181.1.2 Mecanismos neurais, celulares e moleculares envolvidos naconsolidao das memrias....................................................................211.2 ACUPUNTURA..............................................................................251.2.1 Meridianos de acupuntura............................................................271.2.2 Pontos de acupuntura....................................................................291.2.3 Mecanismos neurais envolvidos na acupuntura...........................301.2.4 Efeitos teraputicos da acupuntura................................................32

    2. JUSTIFICATIVA.............................................................................37 3. OBJETIVOS.....................................................................................39 3.1 OBJETIVO GERAL.........................................................................393.2 OBJETIVOS ESPECFICOS...........................................................394. MATERIAL E MTODOS.............................................................41 4.1 ANIMAIS.........................................................................................414.2 TRATAMENTO COM ACUPUNTURA MANUAL......................414.3 TESTES COMPORTAMENTAIS...................................................444.3.1 Tarefa de reconhecimento de objetos novos.................................444.3.2 Tarefa de esquiva inibitria...........................................................454.3.3 Teste do labirinto radial de oito braos.........................................464.3.4 Teste da caixa claro/escuro............................................................474.3.5 Teste do labirinto em cruz elevado................................................484.3.6 Teste de suspenso da cauda.........................................................504.3.7 Nocicepo induzida por formalina...............................................514.4 ANLISE ESTATSTICA...............................................................515. RESULTADOS.................................................................................53 5.1 EFEITOS DA AM NO RECONHECIMENTO DE OBJETOS.......535.2 EFEITOS DA AM NA ESQUIVA INIBITRIA............................545.3 EFEITOS DA AM NO LABIRINTO RADIAL..............................565.4 EFEITOS DA AM NO TESTE DA CAIXA CLARO/ESCURO....575.5 EFEITOS DA AM NO LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO........585.6 EFEITOS DA AM NO TESTE DE SUSPENSO DA CAUDA....595.7 EFEITOS DA AM NO TESTE DA FORMALINA.........................606. DISCUSSO.....................................................................................61 7. CONCLUSO...................................................................................67

    REFERNCIAS...............................................................................69

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    1. INTRODUO

    1.1 MEMRIA

    Aprendizagem e memria so essenciais para os seres humanos.Praticamente todas as nossas atividades dirias como a conversa, o pensamento, a resoluo de problemas e a realizao de trabalho contamcom as informaes que adquirimos e armazenamos sobre o nossoambiente. Sem memria, vamos perder nossa identidade sobre quemsomos e o que somos. A aprendizagem e a memria no so processosespecficos que ocorrem em um local particular do encfalo, mas so

    estados funcionais que requerem a participao de numerosas estruturasnervosas e a correta ativao temporal entre elas (Pardo et al., 2010).Portanto, a aprendizagem depende do estado motivacional e emocionaldo individuo que vai aprender, do grau de ateno, dos seusconhecimentos e habilidades anteriores, de seus receptores sensoriais edo estado de seus msculos, no caso da aprendizagem motora (Pardo etal., 2010). A aprendizagem a aquisio de novas informaes ouconhecimentos, enquanto que a memria a aquisio, a formao, areteno e a evocao da informao aprendida (Izquierdo, 2002).

    Por muitos anos, a memria tem fascinado os filsofos, psiclogos e neurocientistas. No entanto, muitas questes permanecemsem respostas. Por exemplo, por que as pessoas podem lembrar certosfatos por muito tempo, mas outros episdios por apenas alguns minutos?Por que as pessoas se lembram de algumas partes da informao, masno de outras? As pessoas podem melhorar suas memrias?

    Estudos empricos da memria no sculo XIX j estabeleciamfatos fundamentais sobre a avaliao da aprendizagem e as funes doesquecimento, atravs do fenmeno da amnsia retrgrada, com a perdade acesso s memrias formadas antes dos eventos que causaram a lesocerebral (para reviso ver Nadel e Hardt, 2011). A idia de que amemria leva tempo para consolidar depois da aprendizagem foimencionada pela primeira vez por Mller e Pilzecker em 1900. Atravsde estudos pioneiros com seres humanos, foi descoberto que a memriada informao recentemente aprendida era interrompida peloaprendizado de outras pequenas informaes dadas logo aps oaprendizado inicial. Assim, sugere-se que os processos subjacentes a

    novas memrias persistem primeiro em um estado frgil e depoisconsolidam ao longo do tempo (McGaugh, 2000; para reviso ver Nadele Hardt, 2011). A hiptese da consolidao ainda orienta as pesquisas

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    que investigam o envolvimento dos sistemas neurais e os processoscelulares que permitem a memria duradoura (Glickman, 1961;McGaugh, 1966; McGaugh e Herz, 1972; Weingartner e Parker, 1984;Polster et al., 1991; Dudai, 1996; Lechner et al., 1999; McGaugh, 2000;Izquierdo et al., 2006; Nadel e Hardt, 2011). A consolidao damemria envolve uma complexa rede de sistemas cerebrais e eventosmoleculares, os quais podem estar envolvidos em muitos tipos dememria em animais e humanos (Izquierdo et al., 2006).

    Diferentes cadeias de eventos moleculares que envolvem osreceptores de glutamato, a protena cinase dependente de clcio e decalmodulina (CaMKII), a protena cinase A (PKA), a protena cinase C(PKC) e a cinase ativada por estmulos extracelulares (ERK1/2) so

    necessrias para a formao da memria de longo prazo (LTM) naregio CA1 do hipocampo, da amgdala basolateral, do crtexentorrinal, do crtex parietal e do crtex cingulado (Izquierdo et al.,2006). Tambm baseado nos eventos moleculares e celularesdesencadeados pelo fator neurotrfico derivado do crebro (BDNF) edas evidncias de que essas mudanas estruturais provavelmente estoenvolvidas no armazenamento da memria, sugere-se que o BDNF participa da consolidao da LTM no hipocampo (Medina et al., 2008).O BDNF aumenta o nmero de espinhas dendrticas dos neurnios piramidais da regio CA1 atravs de um mecanismo ERK dependente.Tambm o BDNF modifica a estrutura dos dendritos nas proximidades,aumentando assim o nmero de sinapses excitatrias CA3-CA1 emculturas do hipocampo (Medina et al., 2008).

    1.1.1 Classificao das Memrias

    As memrias dos humanos e dos animais provm dasexperincias vividas e ocorrem de muitas formas, cada uma delasenvolvendo sistemas neurais distintos e alteraes celulares que levamtempo para emergir e que ento persistem. A noo de que existemmltiplas formas de memria foi expressa ainda em 1890, quandodistinguiram entre a memria primria e a memria secundria (parareviso ver Nadel e Hardt, 2011). Atualmente as memrias soclassificadas de acordo com o seu contedo (declarativa ou explcita, de procedimento ou implcita), de acordo com a sua durao [memria de

    curta durao (STM) e de longa durao (LTM)] e de acordo com a suanatureza: consolidada (STM, LTM) em oposio passageira, momento

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    a momento, como acoantece na memria de trabalho (Izquierdo et al.,1999; Nadel e Hardt, 2011).

    A memria de trabalho e os outros tipos de memria (STM eLTM) participam de fenmenos completamente diferentes. A memriade trabalho principalmente dependente da atividade eltrica das clulasdo crtex pr-frontal, que esto ligadas a outras regies enceflicas. Ela persiste somente enquanto esta atividade eltrica mantida, ou seja, ela basicamente um sistemaon-line . A STM e a LTM so, ao invs disso,sistemas cujo papel principal o de preservar memriasoff-line para usoquando necessrio (Izquierdo et al., 1999).

    O termo memria de trabalho foi mencionado pela primeira vezna literatura animal e est ligado de forma proeminente com os

    conceitos de Honig e o subsequente trabalho de Olton (Honig, 1978;Olton et al., 1979). Honig fez uma distino entre a memria dereferncia e a memria de trabalho, a qual fixa a informao relevanteapenas para a realizao da tarefa atual, momentnea (Honig, 1978). Ogrupo de Olton, utilizando o labirinto radial, estudou o substratoanatmico da memria de trabalho e da memria de referncia,descobrindo que as leses do sistema hipocampal prejudicam a memriade trabalho, mas no a memria de referncia (Olton et al., 1979).

    A memria de trabalho a de menor tempo, pois dura desegundos at 3 minutos. Ela serve para gerenciar a realidade edeterminar o contexto em que os diversos fatos, acontecimentos e asinformaes ocorrem e se eles devem ser arquivados (Izquierdo, 2002).Psicologicamente, a memria de trabalho est associada com acapacidade de lembrana e processamento das informaes de curto prazo para se obter de decises ou para solucionar problemas. Elarepresenta um conjunto mais elaborado de estruturas hipotticas e de processos que se concentram mais na manipulao do contedo damemria do que na sua manuteno por um determinado perodo. A base anatmica da memria de trabalho tem sido intensamente estudadanos ltimos anos tanto em humanos quanto em animais (Nadel e Hardt,2011). Assim, observou-se que vrias regies cerebrais estoenvolvidas, como as regies do crtex pr-frontal, crtex parietal,tlamo, regio temporal medial e cerebelo (Izquierdo, 2002).

    A memria de referncia representa o conhecimento de aspectosde uma tarefa que permanecem constantes entre os ensaios.Originalmente, o termo foi introduzido para distinguir dois tipos de

    conhecimentos que o rato pode manter em uma tarefa no labirinto radial:o conhecimento sobre quais dos braos do labirinto que sempre contemuma recompensa alimentar em cada ensaio (memria de referncia) e

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    memria para os braos que j foram visitados em busca de alimento noensaio atual (memria de trabalho) (Olton et al., 1979). A memria dereferncia, ao contrrio da memria de trabalho, est sujeita consolidao da memria, isto , a estabilizao progressiva ao longo dotempo, que requer a transcrio de RNA e a sntese de protenas,ocorrendo alteraes morfolgicas de longa durao nas sinapses dosneurnios que participam da representao da memria (Nadel e Hardt,2011).

    Embora lanada e at hoje utilizada principalmente paradescrever o comportamento e os requisitos para tarefas espaciais(principalmente do labirinto radial e do labirinto aqutico de Morris), amemria de referncia representa uma definio operacional que no

    pode ser exclusivamente ligada a um paradigma especfico experimental(Shapiro e Caramanos, 1990). Basicamente a memria de refernciaassemelha-se memria semntica e no memria episdica, isto , aoconhecimento comum em episdios em vez do especfico para um nicoevento determinado (Olton et al., 1979).

    Como qualquer outra forma de memria de longo prazo, amemria de referncia representa o ponto de extremidade de uma sriede processos que, comeando com a transduo sensorial, a ateno e acodificao, resultam em mudanas de comportamento de longadurao, a partir da qual a existncia da memria inferida.Consequentemente, as intervenes farmacolgicas em qualquer pontodesta srie de processos podem afetar o desempenho nos testes dememria (Nadel e Hardt, 2011). Estudos iniciais sobre a memria dereferncia no labirinto radial sugerem que o hipocampo necessrio para a memria de trabalho, mas no para a memria de referncia(Olton et al., 1979). Ele mantm a informao de quais braos dolabirinto foram visitados em cada ensaio, mas no mantm a informaode quais braos continham os alimentos. Assim, a aquisio inicial damemria de referncia depende do hipocampo, mas a reteno de longo prazo da memria de referncia depende de estruturas corticais (Shapiroe Caramanos, 1990).

    As memrias de procedimentos ou implcitas so memrias dehabilidades motoras ou sensoriais, adquiridas de uma formainconsciente, exigem muita repetio e dependem das vias perceptivas ereflexas (Izquierdo, 2002). As memrias declarativas ou explcitas noso imediatamente estabelecidas e este processo leva de 3 a 6 horas e

    envolve uma sequncia de processos moleculares especficos na reaCA1 do hipocampo e em suas ligaes (Figura 1). A memria de curtadurao (STM) tem o papel de conservar as informaes enquanto seu

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    armazenamento definitivo no for feito. A memria de longa durao(LTM) leva tempo para ser consolidada e pode durar meses ou anos. Oconjunto desses processos e o seu resultado final so denominados deconsolidao (Izquierdo, 2002). O termo STM usado para designar amemria que se desenvolve dentro de alguns segundos ou minutos edura por vrias horas enquanto que o termo LTM usado para designaras memrias com durao mnima de 24 h.

    Figura 1 - Anatomia do hipocampo.

    Fonte: adaptada de John R. Hesselink,http://spinwarp.ucsd.edu/neuroweb/Text/br-800epi.htm

    1.1.2 Mecanismos Neurais, Celulares e Moleculares Envolvidos naConsolidao das Memrias

    Ainda no se sabe como caracterizar estas formas de memriascom todos os detalhes, quais os sistemas neurais que esto envolvidos,quais os processos celulares e moleculares constituem a consolidao damemria (Nadel e Hardt, 2011). Porm os estudos demonstram que osmecanismos da memria de trabalho, da STM e da LTM soessencialmente distintos e sugerem ligaes entre a memria de trabalhoe a LTM no crtex pr-frontal, e entre a memria de trabalho e a STMno CA1, no crtex parietal e no crtex entorrinal ao nvel dos receptoresde glutamato (Izquierdo et al., 1999, 2007). As memrias de trabalho, aSTM e a LTM so reguladas por subsistemas separados no encfalo.Elas esto envolvidas com vrios mecanismos moleculares em nvel de

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    receptores, alguns dos quais podem estar interligados (Izquierdo et al.,1999; Nadel e Hardt, 2011). No entanto, todos os tipos de memriadependem da atividade integrada de diversos locais do encfalo (Figura2) e recebem inervao dos grandes sistemas moduladores como o dadopamina, o da noradrenalina, o da serotonina e o da acetilcolina(Izquierdo, 2002; Nadel e Hardt, 2011).

    Figura 2 - Ligaes uni e bidirecionais entre as principais regies do sistema dememria no lobo temporal medial.

    Fonte: adaptada de Nadel e Hardt, 2011.

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    O hipocampo uma das reas mais importantes do encfaloassociada ao aprendizado e memria em mamferos. A regio CA1emite fibras excitatrias que fazem sinapses com as clulas do crtexentorrinal. Este, por sua vez, emite axnios ao giro denteado, projetando para a regio CA3, cujos axnios fazem sinapses excitatrias com asclulas piramidais da regio CA1 (Figura 3). Este circuito interno dohipocampo funcionalmente ativo e capaz de evidenciar a plasticidade, pelo menos sob a forma de potenciao de longa durao (Izquierdo,2002; Zhang e Zhu, 2011).

    Figura 3 - Vias de entrada e sada da formao hipocampal.

    Fonte: adaptada de Zhang e Zhu, 2011.CE=crtex entorrinal, GD=giro denteado, Sub=subculo.

    O mecanismo de consolidao da memria necessita daativao dos receptores glutamatrgicos AMPA, NMDA emetabotrpicos na regio CA1 do hipocampo, na regio basolateral daamgdala, no crtex medial e no crtex entorrinal (Izquierdo et al., 2006;Izquierdo e Medina, 1997). Depois ocorre uma sequncia de eventosmoleculares, os quais apresentam dois picos de ativao no hipocampo,seguidos de vrias vias de sinalizao e fatores de transcrio, com aexpresso de genes e a sntese de protenas (Izquierdo e Medina, 1997;Bernabeu et al., 1997; Izquierdo et al., 2006; Klann e Sweatt, 2008;Alberini, 2008).

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    Nos primeiros minutos da aquisio da memria, o aumento doCa2+ citoplasmtico vai ativar a CAMKII, desencadeando uma cascatade reaes. Os receptores AMPA so fosforilados, aumentando a suasensibilidade e condutncia resultando em um aumento na ligao deAMPA na regio CA1, possibilitando assim a manuteno da potenciao de longa durao (LTP) ou de memrias (Cammarota et al.,1996, 2000, 2002). Verificou-se que a atividade do receptor AMPA permanece elevada em CA1 por horas aps um treino na esquivainibitria (Cammarota et al., 1996, 1998).

    Verificou-se tambm que a CAMKII medeia a fosforilao deuma grande quantidade de protenas na plasticidade sinptica, incluindoos receptores AMPA e NMDA e o fator de transcrio constitutivo

    CREB entre outros, agindo em stios diferentes aos da PKA (Cammarotaet al., 1998, 2000; Izquierdo e Medina, 1997; Soderling, 2000; Izquierdoet al., 2006, 2008). A ao da PKA dependente da sua ligao com aadenosina monofosfato cclico (AMPc), sendo mediadora dafosforilao de CREB, cuja ativao crucial para a manuteno daLTP e da LTM (Bernabeu et al., 1997; Izquierdo e Medina, 1997).

    O aumento do clcio intracelular ir ativar tambm vriasisoformas da PKC (Boniniet al., 2005), ocorrendo a fosforilao dosubstrato pr-sinptico associado protena 43 (P43) que est envolvidana mobilizao do glutamato das vesculas sinpticas na membrana pr-sinptica, fundamental para a formao da memria e para a gerao deLTP (Izquierdo e Medina, 1997; Izquierdo et al., 2006).

    Em torno de 12 horas aps a aquisio da memria, o fatorneurotrfico BNDF fundamental na regio CA1 do hipocampo para aconsolidao das memrias que persistiram poucas horas antes. Mesmocom a injeo de inibidores da sntese protica em CA1, a liberaoendgena e local de BDNF ou sua administrao exgena em CA1, permite que essas memrias persistam por vrias semanas, enquanto quesem o BDNF a persistncia de no mximo dois dias (Bekinschtein etal., 2007, 2008). Na verdade o BDNF aumenta o nmero de espinhasdendrticas dos neurnios piramidais CA1 de forma dependente daERK. Em culturas de hipocampo o BDNF tambm modifica a estruturados dendritos, aumenta o nmero de sinapses excitatrias CA3-CA1 eregula a ramificao axonal e o refinamento das sinapses (Medina et al.,2008).

    Existem dados identificando uma associao entre

    comprometimentos da memria e marcadores da inflamao sistmica.Estudos tm mostrado que nveis elevados de fator de necrose tumoralalfa (TNF-) so encontrados em pacientes com transtorno cognitivo

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    leve em comparao com controles normais (Alvarez et al., 2007;Bermejo et al., 2008). Variveis biolgicas inter-relacionadas, queafetam tanto a inflamao sistmica quanto a cognio, tm sidoavaliadas (IL-1, IL -6, CRP e TNF-), com a crescente evidncia de queum pequeno aumento da inflamao sistmica est associado diminuio da funo cognitiva, especialmente na velocidade do processamento (Trollor et al., 2011).

    Por outro lado, investigaes na rea da biologia doenvelhecimento apontam que os radicais livres alm de estaremenvolvidos com a patognese de muitas doenas, esto envolvidos como declnio do desenvolvimento cognitivo, em particular o aprendizado ea memria (Liu et al., 2003). Sabe-se que a populao de idosos tem

    sofrido um aumento substancial em praticamente todos os pases domundo. No caso do Brasil, em 2002 a populao de idosos (pessoas comidade igual ou superior a 60 anos) era da ordem de 15 milhes dehabitantes (Camarano, 2002). Em 2011, o Brasil apresentou umcontingente de aproximadamente 21 milhes de idosos; em 2025 essenmero passar para 32 milhes, quando o Brasil ocupar o sexto lugarno mundo em populao idosa, e em 2050 o percentual de idosos serigual ou superior ao de crianas de 0 a 14 anos (Brasil, 2011).

    Na prtica clnica verifica-se que muitos so os agentes que podem prejudicar a memria durante a codificao e a consolidao. Noentanto, o arsenal para melhorar a memria em potencial bastantemodesto. Alm disso, o efeito parece ser limitado para reforar novasmemrias durante a codificao e o perodo inicial da consolidaocelular, que pode durar de alguns minutos a horas aps o aprendizado(Shema et al., 2011). Assim, para se obter uma vida longa e comqualidade e diante do reconhecimento dos benefcios que a acupuntura possue no tratamento de vrias doenas, torna-se vivel a busca pornovas tcnicas na tentativa de melhorar a memria.

    1.2 ACUPUNTURA

    A acupuntura a nica abordagem teraputica que trata asdoenas por meio da puno de certos pontos do corpo humano comdiferentes tipos de agulhas e de manipulao (Xia et al., 2010). Teve asua origem na China h muitos sculos atrs e logo se expandiu para o

    Japo, Coreia e para as demais regies da sia (Xia et al., 2010). Ela amplamente utilizada nos sistemas de sade desses pases e oficialmente reconhecida pelos governos e bem recebida pelo pblico

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    em geral (Xia et al., 2010). Foi introduzida na Europa no incio dosculo XVII e tem sido praticada em todo o mundo, especialmentedepois da dcada de 70, porm o ceticismo sobre a sua eficcia aindaexiste em pases onde a medicina ocidental moderna a base doscuidados da sade, principalmente naqueles onde a acupuntura aindano amplamente praticada (Xia et al., 2010).

    A riqueza das experincias acumuladas na prtica da MedicinaTradicional Chinesa (MTC), ao longo dos seus 2500 anos dedesenvolvimento, tem comprovado a grande variedade de doenas que podem ser tratadas efetivamente com este mtodo de tratamento (Xia etal., 2010). Em reconhecimento ao crescente interesse mundial peloassunto, a Organizao Mundial da Sade (OMS) realizou um simpsio

    sobre acupuntura em junho de 1979, em Pequim, na China (Xia et al.,2010). Praticantes da acupuntura de diferentes pases foram convidadosa identificar os desequilbrios fisiolgicos, os quais poderiam ser beneficiados com esta terapia. Desde ento muitas pesquisas tm sidorealizadas com o objetivo de investigar os mecanismosneurofisiolgicos da acupuntura, procurando responder principalmentecomo a acupuntura funciona e tambm fornecer evidncias paracomprovar a sua eficcia (Xia et al., 2010).

    Acupuntura significa literalmente a puno com uma agulha(WHO, 2002). No entanto o termo "acupuntura" usado em um sentidomais amplo, incluindo o agulhamento tradicional no corpo, amoxabusto, a eletroacupuntura, o laser acupuntura, a acupuntura emmicrossistemas (como auricular, rosto, mos e no couro cabeludo) e aacupresso (aplicao de presso em locais selecionados) (WHO, 2002).Segundo a literatura chinesa antiga (The Suwen of Neijing), no incio dasociedade primitiva, a agulha de acupuntura usada para tratar doenasera de pedra (Xia et al., 2010). Com o desenvolvimento das foras produtivas apareceram as agulhas de osso e de bambu (Xia et al., 2010). No entanto, aps a inveno das tcnicas de fundio do metal e de suasferramentas, as pessoas comearam a usar agulhas feitas de bronze, deferro, de ouro e de prata (Xia et al., 2010). Atualmente, as agulhas deao inoxidvel so amplamente adotadas para o tratamento (Xia et al.,2010). Essas agulhas finas e afiadas so inseridas em pontos especficosdo corpo, conhecidos como acupontos, com estimulao mecnica,eltrica ou outro tipo de estimulao fsica (WHO, 2002).

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    1.2.1 Meridianos de Acupuntura

    Para a MTC, os meridianos e os acupontos so dois conceitosimportantes. Os meridianos, de uma forma geral, so denominados de"Jing e Luo". De acordo com a literatura, os meridianos so vias quetransportam oQi (energia) e o sangue, regulam o yin e o yang (duasforas fundamentais opostas de onde parte toda a fisiopatogeniaenergtica do organismo humano), conectam os rgos ( zang ) com asvsceras (f u) e associam o exterior com o interior, bem como a partesuperior com a parte inferior do corpo humano (Figura 4) (Cheng, 1990;Zhang, 1990; Qiu e Chen, 1992; Zhu, 1998; Zhao e Li, 2002; Li, 2003).

    Figura 4. Representao dos meridianos principais de acupuntura.

    Fonte: adaptada de http://www.medicinaoriental.com.br.

    Os meridianos harmonizam as atividades do corpo humano efazem a integrao com o meio formando uma entidade completa. Sodivididos em meridianos e colaterais. Os meridianos so os troncos principais que correm tanto longitudinalmente quanto do interior para oexterior do corpo, ao passo que os colaterais so como redes que seentrecruzam no corpo, mais finos e menores do que os meridianos

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    (Cheng 1990; Zhang 1990; Qiu e Chen 1992). Com base na teoriamorfogentica, o sistema meridiano originou-se de uma rede de centrosde organizao. No contexto do desenvolvimento embrionrio e daevoluo das espcies, provvel que a origem evolutiva do sistemameridiano precedesse todos os outros sistemas fisiolgicos, incluindo osistema nervoso, o sistema circulatrio e o sistema imunolgico (Shang,2001). Seu cdigo gentico pode ter servido como um modelo a partirdo qual os novos sistemas evoluram. Consequentemente ele sobrepe einterage com os outros sistemas, mas no apenas uma parte do sistemanervoso, do sistema imunolgico ou do sistema circulatrio (Shang,2001).

    O meridiano Vaso Governador (VG, Figura 5) uma convergncia

    dos trs meridianos yang da mo e do p. Por isso ele tambm chamado de mar dos meridianos yang . Este meridiano inicia a partir docccix, ascendendo pelo interior da coluna vertebral e entra no encfalo,controlando e administrando o yang externamente e comunicandointernamente com oQi dos rgos. Assim, ele pode ser usado paraequilibrar o yin e normalizar o yang , regular oQi e o sangue, promovero fluxo suave doQi dos meridianos e estimular as funes motoras. Ele pode ser usado para o tratamento de todos os tipos de doenas cerebraise espinais (Wen-dong et al., 2005).

    Figura 5 - Representao do meridiano VG e do acuponto Baihui (VG20).

    Fonte: Figura adaptada de http://www.furnituremade.com

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    1.2.2 Pontos de Acupuntura

    Os acupontos so os locais do corpo usados para as terapias daacupuntura; so a base estrutural e funcional para um tratamento deacupuntura eficaz e so os locais por onde os rgos e as vscerastransportam oQi para a superfcie do corpo atravs dos meridianos (Qiue Chen, 1992; Li, 2003). A nomenclatura e a localizao da maioriadesses acupontos foram estabelecidas na MTC desde a antiguidade. Sem 1958, logo aps a aplicao da acupuntura para anestesia emcirurgias de tireoidectomia na China, os professores do Departamento deAnatomia e Histologia da Universidade de Xangai decidiram estud-los.De 1958 a 1960 eles dissecaram 324 acupontos de 12 meridianos em

    oito cadveres adultos para explorar a relao entre os meridianos, os pontos de acupuntura e os nervos. Eles descobriram que todos os pontosestavam localizados sobre estruturas nervosas, sendo esta a primeiraevidncia de que os meridianos possuem uma relao direta com osnervos perifricos (Xia et al., 2010).

    Na perspectiva da neurocincia, pode-se considerar como pontode acupuntura um local tanto receptor quanto efetor de sinais. Noentanto, ainda existem muitas dvidas a respeito da sua natureza. Osacupontos possuem algumas estruturas especiais em comparao com osno-acupontos? Se sim, quais so os tecidos/clulas que formam essasestruturas especiais do acuponto? Qual o componente(s) que estimulado pelo agulhamento nos acupontos? Que estrutura medeia ossinais aferentes e eferentes da acupuntura para induzir os efeitos biolgicos? Todas estas perguntas so essenciais para esclarecer a teoriados meridianos na MTC. Embora estas questes no estejam totalmenteelucidadas, tm-se dados sugerindo que a base estrutural dos acupontosest intimamente relacionada com a distribuio espacial dos nervos perifricos em torno dos vasos, msculos, tendes e outras estruturas,com os sinais sendo transmitidos para o encfalo para processamento(Zhou e Huang, 2010).

    Estudos microscpicos nos pontos de acupuntura revelaram assuas bases morfolgicas, seus mecanismos de sensao e de efeito daacupuntura. Apesar dos acupontos s compreenderem estruturasconhecidas como nervos, vasos linfticos, msculos e tendes, existemainda especificidades relativas das caractersticas histolgicas dos pontos de acupuntura (figura 6) quando comparados com os no-

    acupontos (Nakazo, 1987; Zhang et al., 2012).Histologicamente verificam-se vrios tipos de terminaesnervosas livres, receptores, corpsculos de Ruffini, corpsculos de

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    Meissner, corpsculos de Krause, corpsculos lamelares e fusosmusculares ao redor dos acupontos (Wang et al., 1985; Zhang et al.,2012).

    Figura 6 - Representao de estruturas envolvidas no estmulo manual daacupuntura.

    Fonte: Figura adaptada de Zhang et al., 2012.

    1.2.3 Mecanismos Neurais Envolvidos na Acupuntura

    Muitos dados sugerem que a sinalizao da acupuntura (figura7) transmitida principalmente pelos nervos sensoriais somticos, comfibras aferentes dos nervos simpticos envolvidas na atividade de alguns pontos de acupuntura (Li, 2003; Zhang et al., 2012).

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    Figura 7 - Mltiplas vias neurais transmitindo impulsos aferentes de diferentesacupontos.

    Fonte: Figura adaptada de Zhang et al., 2012.

    As fibras nervosas so mielinizadas dos tipos I, II (fibrasgrossas) e III (fibras finas), predominando o tipo II (Lu et al., 1979,1983, 1986; Zhang et al., 2012). No sistema nervoso central (SNC), amedula espinal, o tronco cerebral, o hipotlamo, o tlamo e o crtex

    cerebral integram os sinais aferentes da acupuntura, formando sadas deregulao atravs das vias aferentes (Huge et al., 2000). Muitos estudosdemonstram que o impulso induzido pela acupuntura transmitido para

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    os interneurnios na medula espinal e, em seguida, para o centronervoso superior pelo funculo lateral ventral da medula espinal (parareviso ver Huge et al., 2000; Zhang et al., 2012). Alm disso, existeuma forte relao entre os pontos dos meridianos e as vsceras emtermos de conexo nervosa (Zhang et al., 2012).

    Os mecanismos bsicos da interao entre os pontos dosmeridianos e as vsceras esto relacionados com as inervaessegmentares e a convergncia dos nervos somticos e autonmicos dosmesmos segmentos espinais. Existem centenas de teorias sobre osmeridianos e os acupontos, mas no h qualquer teoria com evidnciasconvincentes para demonstrar as suas estruturas fsicas. Com base noconhecimento da neurocincia atual, acredita-se que a funo dos assim

    chamados meridianos e acupontos so altamente dependentes daatividade do sistema nervoso (Zhou e Huang, 2010).

    1.2.4 Efeitos Teraputicos da Acupuntura

    As pessoas questionam se a acupuntura tem um efeitoteraputico real, ou se ela funciona apenas atravs do efeito placebo, do poder da sugesto, ou do entusiasmo com que os pacientes desejam umacura. H, portanto, necessidade de estudos cientficos que avaliem aeficcia da acupuntura em condies clnicas controladas. Ao contrrioda avaliao de um novo medicamento, ensaios clnicos controlados deacupuntura so extremamente difceis de realizar. O efeito teraputicoda acupuntura depende muito da competncia do acupunturista, da suacapacidade e habilidade em selecionar e localizar os pontos deacupuntura e em manipular as agulhas. Isso pode explicar em parte asdisparidades ou incoerncias nos resultados apresentados por diferentesautores, mesmo quando os estudos so realizados com as mesmas basesmetodolgicas (Xia et al., 2010). Devido ao sucesso de procedimentoscirrgicos realizados sob a analgesia atravs da acupuntura, o tratamentoda dor com acupuntura tem sido extensivamente estudado (Xia et al.,2010). Alm disso, estudos clnicos de acupuntura em outras doenasneurolgicas, como a epilepsia, a isquemia cerebral, distrbiosneuroimunes e distrbios reprodutivos tambm esto sendo realizadoscom xito (Xia et al., 2010).

    Estudos em humanos e animais mostram que a acupuntura

    produz muitos efeitos benficos atravs do sistema nervoso central, noentanto os substratos neurais da ao da acupuntura no socompletamente claros. Estudos de ressonncia magntica demonstraram

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    que o sistema lmbico desempenha um papel importante para os efeitosda acupuntura (Fang et al., 2009). Esta pesquisa mostrou que aacupuntura produz inibio do sistema lmbico-paralmbico-neocortical.As regies inibibas foram vistas no crtex pr-frontal medial (plofrontal, cingulado pregenual), no lobo temporal (amgdala, hipocampo e parahipocampo) e no crtex medial posterior (precuneus, cingulado posterior) (Fang et al., 2009). J o crtex sensrio-motor (crtexsomatossensorial, crtex motor suplementar), o tlamo e as estruturas paralmbicas como a nsula e o crtex cingulado anterior mostraramativao (Fang et al., 2009).

    Pesquisas sobre a acupuntura, especialmente as investigaesmecanicistas sobre analgesia com acupuntura, resultaram em muitas

    informaes. Elas mostraram que os sinais gerados pela acupunturamanual ou pela eletroacupuntura (EA) eram capazes de influenciar aliberao, a sntese, a recaptao e a degradao dos neurotransmissorese moduladores centrais, incluindo monoaminas (por exemplo, aserotonina, noradrenalina e dopamina), acetilcolina, aminocidos,substncia P, prostaglandina, colecistocinina8 (CCK-8), somatostatina eos fatores neurotrficos (Wen et al., 2010). Em geral, a acupunturaaumenta a atividade dos peptdeos opiides endgenos, alm deserotonina, dopamina, acetilcolina e aminocidos inibidores, tais como ocido -aminobutrico (GABA), a glicina e a taurina, enquanto queatenua a atividade da noradrenalina e de aminocidos excitatriosincluindo o glutamato e o cido asprtico (Wen et al., 2010). Noentanto, os efeitos da acupuntura sobre os neurotransmissores emoduladores centrais so dependentes do estado do organismo e dascondies da acupuntura (por exemplo, parmetros de estimulao eacupontos), e variam de regio para regio no sistema nervoso central(Wen et al., 2010). Embora estes dados tenham sido obtidos a partir de

    grande parte dos estudos sobre analgesia com acupuntura, razovel presumir que a acupuntura capaz de modular funes do encfaloatravs da regulao de neurotransmissores e moduladores centrais, porque todos os neurotransmissores e moduladores influenciados pelaacupuntura participam direta ou indiretamente na regulao neural emmuitos aspectos (Wen et al., 2010).

    Outros estudos demonstraram que a acupuntura pode regular osfatores neurotrficos no sistema nervoso central. Existem evidncias deque a eletroacupuntura pode aumentar a expresso do fator neurotrfico

    BDNF no crtex, no hipocampo e em outras regies enceflicas, protegendo o encfalo de leses de isquemia e hipxia (Wen et al.,2010). Alm disso, presume-se tambm que o fator neurotrfico

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    derivado de clulas gliais (GDNF) est envolvido nos efeitos produzidos pela acupuntura (Wen et al., 2010). Pesquisas mostraram que aeletroacupuntura pode regular a expresso de BDNF e de seusreceptores na medula espinal, produzindo um efeito teraputico sobreleses nessa regio. Utilizando a tcnica de imunohistoqumica paradeterminar os efeitos da eletroacupuntura sobre os nveis do BDNF, dofator de crescimento dos nervos (NGF), e do fator-2 de crescimento defibroblastos (FGF-2), observou-se que a eletroacupuntura pode promover o aumento da expresso desses fatores neurotrficos namedula espinal quando lesionada (Wen et al., 2010). Essas evidnciasapontam que a acupuntura pode aumentar a atividade de fatoresneurotrficos no sistema nervoso central na maioria das condies (Wen

    et al., 2010). Portanto, acredita-se que a acupuntura pode regularmltiplas funes cerebrais atravs da regulao de neurotransmissorese moduladores, o que pode ser a base para o efeito teraputico daacupuntura em certos distrbios neurolgicos (Wen et al., 2010).

    Sabe-se que o hipocampo uma das duas grandes estruturas dosistema lmbico envolvidas no movimento, na motivao e na memria.O hipocampo pode contribuir para o aumento da ansiedade e,indiretamente, influenciar o humor e a cognio atravs de conexescom a amgdala e o crtex pr-frontal (Liu e Yu, 2010). Sabe-se tambmque disfunes no hipocampo contribuem diretamente para os dficitscognitivos. Com base nestas observaes, muitos estudos sobre omecanismo de ao da acupuntura focaram o seu efeito no hipocampo(Liu e Yu, 2010). Estudos sugerem que a acupuntura pode ter efeitosobre distrbios como depresso, possivelmente pela modulao daexpresso do neuropeptdio Y (NPY) no hipocampo (Liu e Yu, 2010).Outros estudos demonstraram que a acupuntura pode estimular a proliferao celular no giro denteado do hipocampo durante otratamento de doenas relacionadas com a depresso (Liu e Yu, 2010).A eletroacupuntura realizada no ponto Baihui (VG20) foi capaz derestabelecer a proliferao de clulas progenitoras do hipocampoquando reduzidas pelo modelo de depresso induzida por estressecrnico em ratos (Liu e Yu, 2010). Assim, os dados mencionadosanteriormente sugerem que o uso da acupuntura ou acupunturacombinada com outra terapia pode ser to eficaz quanto outro tipo detratamento normalmente usado na medicina ocidental, tal como psicoterapia e drogas, para aliviar os sintomas da depresso (Liu e Yu,

    2010). Diferente de outros tratamentos que passaram por diversas fasesde estudos pr-clnicos at serem praticados em humanos, a acupuntura

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    seguiu o caminho inverso, sendo primeiro utilizada no homem pormilhares de anos para depois ser estudada em animais (MacPherson etal., 2007). O resultado foi uma enorme compilao de dados empricossobre como utilizar os pontos de acupuntura e uma destas aplicaes queauxiliaram a trazer a acupuntura para o ocidente foi sua utilizao notratamento dos transtornos emocionais, os quais tm influncia diretasobre os vrios tipos de memrias e sobre o comportamento, tanto emanimais como em humanos (MacPherson et al., 2007).

    Pesquisas antigas e contemporneas relatam que a acupunturatem um efeito considervel sobre o estado psicolgico e docomportamento. Evidncias de estudos experimentais e clnicossugerem que a acupuntura exerce uma forte influncia na liberao de

    opiides endgenos no encfalo, como endorfinas, encefalinas edinorfinas. Alm disso, o sistema opiide endgeno est envolvido emdiversas funes mentais como a aprendizagem e a memria (Sher,1998). De acordo com estudos de neuroimagem, a acupuntura tambmtem demonstrado ser eficaz atravs da modulao da frequncia daestimulao neuronal, com base na teoria da modulao da frequnciada funo enceflica (Chen et al., 2011).

    Jing e colaboradores (2008), usando fatias do hipocampo deratos com diabetes mellitus e/ou isquemia cerebral, investigaram oefeito da acupuntura manual sobre a potenciao de longa durao(LTP) na rea CA1. Os ratos foram tratados com acupuntura manual emvrios pontos, depois foram avaliadas as respostas para a LTP na regioCA1 aps a estimulao de alta frequncia (100 Hz, 100 pulsos) noscolaterais de Schaffer. Os resultados indicaram que a acupuntura pode promover a recuperao do declnio da amplitude e da taxa deinclinao induzidos pelo diabetes mellitus e pela isquemia cerebral,contribuindo para a melhora da capacidade de memria em ratos atravsdo controle da plasticidade sinptica neuronal no hipocampo (Jing et al.,2008). Tambm tem sido demonstrado que a acupuntura emdeterminados acupontos melhorou a capacidade de aprendizagem e dememria em modelo da Doena de Alzheimer em ratos (Miao, 2009).Outro estudo mostrou que a acupuntura nos pontosTanzhong (CV17),

    Zhongwan (CV12),Qihai (CV6), Zusanli (ST36) and Xuehai (SP10)melhorou a aprendizagem e a memria em modelo de demncia emratos, exercendo um efeito protetor sobre o comprometimento cognitivo(Yu, 2005).

    Neste sentido, observa-se que nos ltimos anos houve uminteresse crescente dos neurocientistas pela acupuntura, os quais estodirecionando suas pesquisas para a elucidao dos provveis

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    mecanismos de ao (Kaptchuk, 2002; Manni et al., 2010; Han, 2011),as reas do encfalo envolvidas (Biella et al., 2001; Uchida et al., 2003;Dhond et al., 2007; Fang et al., 2009; Xia et al., 2010; Shen et al., 2011)alm de entender a dinmica temporal dos efeitos imediatos e/ouretardados da acupuntura (Chen et al., 2006; Dhond et al., 2008; Xia etal., 2010; Menezes et al., 2010; Qin et al., 2011).

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    2. JUSTIFICATIVA

    Ns somos aquilo que lembramos. A memria uma intrigantefaculdade mental que permite registrar, armazenar e manipular asinformaes obtidas atravs de experincias vividas. Geralmente estanos remete ao passado, pois tudo que faz parte da memria j ocorreu, porm a memria tambm compe o nosso presente, pois com estacapacidade que interagimos com o mundo e com os outros. Infelizmentemuitos so os agentes que podem prejudicar o aprendizado e a memria. No entanto, o arsenal para melhorar a memria em potencial ainda bastante modesto (Izquierdo, 2002).

    conhecido que durante o ciclo da vida o dficit cognitivo

    interfere negativamente em todas as fases e que na sociedade atualexistem diversos fatores que afetam os processos de aprendizagem ememria, entre eles o estado emocional do indivduo (Schwabe et al.,2011). Todo mundo est familiarizado com o estresse e experimenta-ode diferentes formas e graus todos os dias, podendo gerar sintomas deansiedade e de depresso.

    A perda da memria um dos problemas mais frustrantes paraas pessoas. Portanto, com um aumento da expectativa de vida e visandouma vida mais ativa e saudvel, um plano de aes deve ser estabelecido para enfrentar os dficits cognitivos, inclusive terapias preventivas para preservar e melhorar a memria. Assim, solues mais eficazes eviveis para a sade pblica precisam ser oferecidas e a acupuntura podeser uma parte fundamental da soluo.

    Diante destas informaes, a proposta deste trabalho torna-seinteressante e inovadora uma vez que o nosso objetivo verificar os possveis benefcios da acupuntura na melhora da aprendizagem e damemria. Alm disso, os dados obtidos podem fornecer subsdios paraos benefcios da acupuntura nos distrbios da memria.

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    3. OBJETIVOS

    3.1 OBJETIVO GERAL

    Verificar os possveis efeitos da AM no acuponto Baihui (VG20) na melhora da aprendizagem e da memria em camundongos,como tambm em alguns comportamentos do tipo ansioltico,antidepressivo e antinociceptivo.

    3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    1. Verificar os possveis efeitos da AM no acuponto Baihui (VG20) na memria de reconhecimento de objetos.2. Verificar os possveis efeitos da AM no acuponto Baihui

    (VG20) sobre as memrias de curta e de longa durao emcamundongos na tarefa de esquiva inibitria.

    3. Verificar os possveis efeitos da AM no acuponto Baihui (VG20) na melhora da memria espacial em camundongos atravs dolabirinto radial de oito braos.

    4. Verificar os possveis efeitos tipo ansiognicos ouansiolticos da AM no acuponto Baihui (VG20) atravs do labirinto emcruz elevado e do teste da caixa claro/escuro.

    5. Verificar o possvel efeito antidepressivo da AM no acuponto Baihui (VG20) atravs do teste de suspenso da cauda.

    6. Verificar os possveis efeitos antinociceptivos da AM noacuponto Baihui (VG20) atravs do teste de formalina.

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    4. MATERIAL E MTODOS

    4.1 ANIMAIS

    Para a realizao dos experimentos foram utilizados 155camundongos Swiss fmeas de aproximadamente dois meses de idade, pesando entre 25 e 35 g, provenientes do Biotrio Central daUniversidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Uma vez recebidos doBiotrio Central, os animais foram mantidos no biotrio do Laboratriode Neurobiologia da Dor e Inflamao, Departamento de CinciasFisiolgicas/CCB/UFSC, em microisoladores com circulao de ar, em

    gaiolas de 12x30x18 cm (6 animais por gaiola), com temperaturamantida a 22 2C e ciclo 12 h claro/12 h escuro (claro a partir das 6:00h), com livre acesso a gua e comida. Antes dos experimentos, osanimais foram aclimatados ao laboratrio por um perodo mnimo de 1h,e todos os procedimentos foram conduzidos de acordo com as normasde cuidados com animais de laboratrio e as diretrizes ticas parainvestigao em animais conscientes (Zimmermann, 1983; Brasil,2008).

    Todos os protocolos experimentais foram previamenteaprovados pelo Comit de tica para o Uso de Animais (CEUA) daUniversidade Federal de Santa Catarina, sob registro PP00475. Osanimais foram distribudos em trs grupos (n = 8-13): Controle, Sham-acupuntura e Acupuntura. O nmero de animais utilizados e osestmulos empregados foram os mnimos necessrios para demonstrar osefeitos dos tratamentos.

    4.2 TRATAMENTO COM ACUPUNTURA MANUAL

    A acupuntura foi aplicada no acuponto Baihui (VG20) e em umno-acuponto entre a raiz da cauda e o corpo do animal, com estmulosmanuais, por um perodo de 15 dias consecutivos, exceto para o teste dolabirinto radial de oito braos, cujo tratamento somou um total de 19sesses. O Baihui (VG20) um ponto sobre o meridiano denominadoVaso Governador, e est localizado no ponto mais alto da cabea, ondetodos os meridianos yang se encontram (Ju et al., 2009; Hwang et al.,

    2011). Este acuponto exerce vrias funes sobre o sistema nervosocentral e os seus principais efeitos teraputicos esto no alvio dascefalias, nas sequelas de acidente vascular cerebral, nas tonturas, na

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    ansiedade e na insnia (Zhao et al., 2007; Ju et al., 2009; Satoh, 2009).Alm disso, ele regula as funes cardiovasculares e neurovegetativas(Gao et al., 2012). Em um estudo sobre a localizao do VG20 (figura8) em humanos, atravs de ressonncia magntica, foi demonstrado queele est localizado no sulco pr-central do lobo frontal (Shen et al.,2010).

    Figura 8 - Localizao do acuponto VG20.

    Fonte: Figura adaptada de Kinumedicina, 2013.

    O mtodo para determinar os pontos de acupuntura emcamundongos o mtodo transposicional, que localiza esses pontosatravs da transformao dos pontos da acupuntura humana para aanatomia animal (Yin et al., 2008). No camundongo (figura 9) o VG20est localizado na cabea, no plano sagital mediano entre os doismsculos temporais (o equivalente ao msculo epicrnio do humano),na interseco de uma linha que liga os pices dos ouvidos direito eesquerdo (Hwang et al., 2011). Assim, o no-acuponto escolhido,localizado na juno entre a cauda e a ndega, considerado como o ponto de controle mais adequado para evitar possveis efeitos daacupuntura (Hwang et al., 2011).

    A estimulao do acuponto Baihui (VG-20) foi realizadaatravs de uma agulha de acupuntura (0.18 x 8 mm) de ao inoxidvel,inserida com uma discreta inclinao angular de aproximadamente 30,voltada para a parte caudal do animal, at uma profundidade de 3 mm(cutnea e muscular).

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    Figura 9 - Localizao do acuponto VG20 em camundongo.

    A B

    Fonte: figura A adaptada de Gao et al., 2012; figura B adaptada de Liu et al.,2013.

    Para o procedimento de insero da agulha o animal foigentilmente segurado pela sua parte dorsal. Aps a insero, a agulha foimanipulada e rodada (180) a uma velocidade de duas rotaes porsegundo durante 15 segundos, em seguida os animais ficaram com asagulhas inseridas por mais 10 minutos (Cidral-Filho et al., 2011; daSilva et al., 2011; Hwang et al., 2011), sem qualquer tipo de conteno,em um cercado de acrlico de 100 x 30 cm. Durante este perodo osanimais foram observados para verificar a permanncia da agulha noacuponto. O animal retirava a agulha numa mdia de trs vezes porsesso, sendo imediatamente recolocada e estimulada como descritoanteriormente. A estimulao do ponto sham (na juno entre a cauda ea ndega do animal) seguiu a mesma metodologia, sendo que a agulhafoi inserida voltada para a parte cranial. O grupo controle tambm passou pelo mesmo procedimento, sem a insero de agulha. Decorridoso perodo de tratamento com a acupuntura e com a sham-acupuntura, osanimais foram analisados nos modelos experimentais de memria,ansiedade, depresso e dor descritos a seguir.

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    4.3 TESTES COMPORTAMENTAIS

    4.3.1 Tarefa de reconhecimento de objetos novos

    Este paradigma de aprendizagem e de memria, inicialmentedescrito por Ennaceur e Delacour (1988), baseia-se nas habilidadesexploratrias naturais dos roedores expostos a um novo ambiente. Adiferena na explorao entre um objeto visto anteriormente, chamado aquide objeto familiar, e um objeto novo tomada como um ndice dedesempenho da memria. Este comportamento pode ser facilmentequantificado e utilizado para estudar uma simples memria dereconhecimento, bem como memrias mais complexas do tipo espacial,

    temporal e episdica em roedores (Dere et al., 2007).Os treinos e os testes na tarefa de reconhecimento de objetosforam realizados numa arena circular de campo aberto de 50 cm dedimetro, feita de plstico de cloreto de polivinila, como descritoanteriormente (Ennauceur e Delacour, 1988; Mello-Carpes e Izquierdo,2012). Foram utilizados 36 camundongos e o primeiro procedimentoconsistiu na habituao dos animais na caixa de testes. Antes do treino,cada animal foi colocado no aparato durante quinze minutos por dia paraexplorao livre por quatro dias consecutivos. No quinto dia, considerado odia do treino, aps a 15 sesso de acupuntura, dois objetos similares (A eA) foram colocado s no aparato e os animais ficaram explorando-oslivremente durante cinco minutos (fase de apresentao dos objetos). Osobjetos eram feitos de cermica vidrada (formato de porquinho). Aexplorao foi definida como cheirar ou tocar os objetos com o focinhoe/ou as patas dianteiras. Contudo, no foi considerado comportamentoexploratrio quando o animal permaneceu sentado ou andando em tornodos objetos.

    As sesses de testes foram realizadas trs horas e vinte e quatrohoras aps o treinamento, onde um dos objetos foi substitudo (fase dereconhecimento dos objetos). Para avaliar a memria de curta durao(STM), aps trs horas do treino, um dos objetos foi aleatoriamentetrocado por um novo objeto (B), de vidro e em formato de um pequenocastial. Os camundongos foram reintroduzidos no aparato por um perodoadicional de cinco minutos. Vinte e quatro horas aps o treino, para avaliara memria de longa durao (LTM), o objeto B foi trocado por outro novoobjeto (C), tambm de vidro e em formato de uma pequena bola, e mais

    uma vez os animais foram reintroduzidos no aparato por mais cincominutos. Para evitar estmulos olfativos persistentes e preferncias, os

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    Mais tarde, o crtex entorrinal e o crtex parietal posterior envolvem-see tornam-se necessrios para a formao da memria e para arecuperao de longo prazo (Izquierdo e Medina, 1997).

    Como descrito anteriormente (Quevedo et al., 1999), a esquivainibitria uma caixa de acrlico de 50 25 25 cm, cujo piso consistede barras de ao inoxidvel em paralelo (1 mm de dimetro) comespaos entre elas de 1 cm. Uma plataforma de 7 cm de largura x 2,5 cmde altura colocada no cho da caixa do lado oposto da paredeesquerda. O animal colocado na plataforma e a sua latncia paradescer na grade com as quatro patas medida com um dispositivoautomtico.

    Para este experimento foram utilizados 36 camundongos. Na

    sesso de treino, aps a 15 sesso de acupuntura, imediatamente aps oanimal descer na grade, ele recebeu um choque nas patas por doissegundos (Izquierdo et al., 1992, 1997; Jerusalinsky et al., 1992; Roesleret al., 1998), com uma intensidade de 0,4 mA (Roesler et al., 1998).

    Nas sesses de testes nenhum choque nas patas foi administradoe a latncia de descida (mximo de 180 segundos) foi usada como umamedida de reteno da memria (Izquierdo et al., 1992, 1997;Jerusalinsky et al., 1992; Roesler et al., 1998; Izquierdo et al., 2006).

    O animal recebeu uma nica sesso de treino e duas sesses detestes. Uma sesso foi realizada trs horas aps o treino para avaliar amemria de curta durao (STM). Vinte e quatro horas depois do treinofoi realizada outra sesso de teste para avaliar a reteno da memria delonga durao (LTM).

    4.3.3 Teste do labirinto radial de oito braos

    Vrias tarefas de aprendizagem esto disponveis para testar ashabilidades de orientao espacial em camundongos. O teste maisutilizado o labirinto aqutico de Morris, que foi desenvolvidooriginalmente para ratos. No entanto, verificou-se que os camundongosso animais que vivem em habitats secos, de modo que uma tarefaaqutica pode ser menos adequada para eles, devido ao estresse que ela possa induzir (Crusio e Schwegler, 2005).

    Tal como acontece com muitas tarefas comportamentais, olabirinto radial tambm foi originalmente desenvolvido para ser usado

    com ratos. Estudos mais recentes tm tentado adaptar este aparato paracamundongos, que so geralmente mais ansiosos e mais sensveis aoestresse do que os ratos. Para evitar a ansiedade induzida pela altitude, o

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    labirinto colocado sobre o cho da sala de testes e os braos sofechados. A plataforma central mede 22 centmetros de dimetro, os braos tm 25 cm de comprimento, 6 cm de largura e 6 cm de altura.Pistas visuais so colocadas no labirinto e fora dele para ajudar naorientao espacial (Crusio e Schwegler, 2005).

    A partir do dia antes do pr-treino at o final dos experimentos,os animais foram mantidos numa dieta de restrio alimentar, onderecebiam rao por duas horas dirias, logo aps os experimentos, comgua disponvel livremente. No pr-treino, aps dez sesses deacupuntura, os camundongos foram colocados no aparato por cincominutos por dia para se adaptarem, sem conter alimentos nos braos,durante dois dias. A partir do terceiro dia as habilidades de

    aprendizagem e memria foram avaliadas de acordo com o mtododescrito previamente por Olton e Samuelson (1976).Diariamente, aps a 12 sesso de acupuntura, os camundongos

    foram submetidos a sesses regulares de testes por oito diasconsecutivos e as sesses de acupuntura foram mantidas sempre antesdos testes. Em cada teste os animais tinham cinco minutos para visitartodos os oito braos e comer os reforos alimentares (bolinhas dechocolate) que foram colocados sempre nos mesmos braos (1, 2, 5 e 6).Para iniciar cada ensaio, o animal foi colocado na plataforma central,com uma orientao aleatria, deixando-o entrar em qualquer um dos braos. O desempenho do animal em cada ensaio foi avaliado atravs dedois parmetros: o nmero de escolhas corretas nos primeiros quatro braos e o nmero de erros, que foi definido como a escolha de braos jvisitados (Ward et al., 1999; Mizuno et al., 2000; Egashira et al., 2004;Watanabe et al., 2013). Para evitar estmulos olfativos persistentes e preferncias, o aparato foi higienizado com etanol 20% depois de testarcada animal.

    4.3.4 Teste da caixa claro/escuro

    O teste claro/escuro baseado na averso natural dos roedores areas muito iluminadas e no comportamento exploratrio espontneodesses animais em resposta a fatores moderados de estresse, isto ,ambiente novo e luminoso (Crawley e Goodwin, 1980). Uma situaode conflito natural ocorre quando um animal exposto a um ambiente

    desconhecido ou a objetos novos. O conflito entre a tendncia paraexplorar e a tendncia inicial de evitar o desconhecido (Bourin e

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    Hascot, 2003). A atividade exploratria o resultado combinado dessastendncias em situaes novas.

    Assim, o teste claro/escuro usado como um ndice daatividade ansioltica, que avalia o comportamento do animal numa caixacom dois compartimentos. O compartimento claro e grande iluminadoe o compartimento preto e pequeno escuro. Um aumento nastransies sem um aumento na locomoo espontnea consideradocomo um reflexo da atividade ansioltica (Belzung et al., 1987). Amelhor medida a percentagem de tempo gasto e o comportamentoexploratrio em cada compartimento (Hascot e Bourin, 1998). Estemodelo tem a vantagem de ser rpido e de fcil execuo, sem o treino prvio dos animais, sem privao de alimento e de gua e so usados

    estmulos naturais (Bourin e Hascot, 2003).A caixa claro/escuro (45 x 27 x 27 cm) consiste de duascmaras ligadas por uma abertura (7,5 x 7,5 cm) localizada ao nvel docho no centro da parede de divisria. A cmara pequena (18 x 27 cm)foi pintada de preto e coberta com tampa de vidro acrlico e a cmaramaior (27 x 27 cm) foi pintada de branco. Uma iluminao mais fortefoi fornecida por uma lmpada de 60 watts localizada a 40 cm acima docentro da cmara branca.

    Os camundongos usados para este experimento foram osmesmos 36 que passaram pelo teste de RO, portanto o teste da caixaclaro/escuro foi realizado um dia aps a ltima sesso de acupuntura. Osanimais foram colocados no centro da cmara branca de costas para aabertura e exploraram o aparato durante cinco minutos. Um observadordistante cerca de 1 m da caixa registrou o comportamento dos animaisnesse intervalo de tempo. Aps, os camundongos foram retirados dacaixa pela base das suas caudas e voltaram sua gaiola de origem. Acaixa foi higienizada com uma soluo de etanol a 20% entre os testes.

    Os comportamentos observados foram: a latncia para entrar nacmara escura, o nmero de vezes que o animal passou de uma cmara para outra, o tempo em que o animal gastou no lado escuro da caixa e otempo que o animal gastou no lado claro da caixa.

    4.3.5 Teste do labirinto em cruz elevado

    Trata-se de um teste de comportamento animal que surgiu com

    os estudos sobre a explorao e o medo, realizados por Montgomery em1958. Esse autor levantou a hiptese de que a estimulao provocada pela novidade (na forma de um ambiente desconhecido) produzia

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    reaes conflituosas de medo e curiosidade, evidenciadas comotendncias de esquiva e aproximao, respectivamente (Montgomery,1958). No labirinto em forma de Y, utilizado originalmente porMontgomery, observava-se uma menor frequncia de entradas no braoaberto (sem paredes) em comparao com o brao fechado (cercado por paredes altas) (Pellow et al., 1985).

    A verso atualmente utilizada do labirinto em cruz elevado pararatos foi inicialmente proposta por Handley e Mithani, em 1984, e posteriormente validada por Pellow e colaboradores em 1985. Em 1987,Lister publicou um estudo demonstrando que o labirinto em cruzelevado tambm podia ser utilizado como um modelo de ansiedade emcamundongos. Ele consiste de dois braos abertos (30 5 cm) e dois

    braos fechados (30 5 15 cm) dispostos de tal modo que os dois braos abertos ficam um em frente ao outro. Os braos so ligados poruma plataforma central (5 x 5 cm). O aparato tem a forma de uma cruz e elevado a uma altura de 40 cm acima do cho.

    O animal exposto a um ambiente com dois braos abertos edois braos fechados, com braos do mesmo tipo opostos entre si. Assesses so padronizadas pelo tempo de observao de cinco minutos everifica-se a explorao dos animais nos braos do labirinto. Ao longoda sesso, os animais diminuem progressivamente sua atividade geral, principalmente o nmero de entradas nos braos abertos, passando cadavez mais tempo nos braos fechados. No total, entretanto, a observaodo nmero mdio de entradas e do tempo de permanncia em cada tipode brao nos cinco minutos de sesso (ndices tradicionalmenteutilizados para este modelo) mostra uma acentuada preferncia pelaexplorao dos braos fechados, evidenciada por um maior nmero deentradas e um maior tempo de permanncia neles. Esta preferncia aumentada em animais que receberam agentes ansiognicos e diminuiuem animais que receberam agentes ansiolticos (Walf e Frye, 2007).

    Foram utilizados 27 animais para realizao deste experimento. No dia do teste, aps a 15 sesso de acupuntura, cada camundongo foigentilmente colocado na extremidade distal de um dos braos abertos doaparato com o focinho voltado para a plataforma central (Orzelska et al.,2013), sendo permitido explorar o local por cinco minutos. Ento foiregistrado o tempo que o animal levou para se mover a partir do braoaberto para um dos braos fechados (latncia de transferncia), o tempogasto nos braos abertos e o tempo gasto nos braos fechados. O critrio

    de entrada do animal nos braos foi cruzar com todas as quatro patasuma linha imaginria que separa os braos do espao central (Itoh et al.,1990; Hlinak e Krejci, 2002; Biala e Kruk, 2008; Orzelska et al., 2013).

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    Para evitar estmulos olfativos, os braos foram higienizados com etanol20% depois de testar cada animal.

    4.3.6 Teste de suspenso da cauda

    Desde a sua introduo em 1985, o teste de suspenso da caudatornou-se um dos modelos mais utilizados para avaliar a atividadeantidepressiva em camundongos (Cryan et al., 2005). A quantidade dedados gerados nas duas dcadas seguintes mostrou que o estresseinevitvel de suspender um camundongo pela cauda pode darinformaes valiosas sobre a capacidade dos animais para lidar com

    uma situao estressante. Alm disso, e talvez o mais importante para odesenvolvimento de medicamentos antidepressivos, os estudos com oteste de suspenso da cauda podem ser teis no futuro desenrolar dasvias moleculares, genticas e neuroqumicas envolvidas na aodepressiva e antidepressiva (Cryan et al., 2005).

    O teste de suspenso da cauda baseado na observao de queos roedores, aps movimentos iniciais na tentativa de escapar,desenvolvem uma postura imvel quando colocados numa situaoestressante inescapvel (Thierry et al., 1986).

    Os animais tratados com antidepressivos antes do teste tentamescapar por um perodo de tempo mais longo do que os tratados comveculo. O teste geralmente bastante rpido, com uma durao de seisminutos, e o tempo que passam imveis registrado manualmente ouatravs de um dispositivo automtico. Tratamentos antidepressivosagudos diminuem esses ndices de imobilidade (Cryan et al., 2005). Avantagem deste teste a sua capacidade para detectar um amploespectro de antidepressivos, independentemente do seu mecanismo deao, alm de ser barato, com um mtodo fcil e simples de execuo.

    Participaram deste experimento os mesmos 27 animais que jhaviam passado pelo teste do labirinto em cruz elevado. Portanto, umdia aps a 15 sesso de acupuntura, cada camundongo foi suspenso pelacauda (2 cm da extremidade) com uma fita adesiva por um perodo deseis minutos, sendo colocado a uma altura de 60 cm acima do cho. Alatncia do primeiro momento de imobilidade aps a agitao inicial e otempo total de imobilidade foram quantificados para posterior avaliao.

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    4.3.7 Nocicepo induzida por formalina

    O teste de formalina em camundongos um modelo vlido econfivel de nocicepo e sensvel para diversas classes de frmacosanalgsicos (Hunskaar e Hole, 1987).

    A resposta formalina apresenta uma fase precoce e uma fasetardia, permitindo avaliar dois tipos distintos de nocicepo. A faseinicial, tambm chamada de fase neurognica, causada predominantemente pela ativao das fibras C (nociceptivas) devido estimulao qumica direta de nociceptores (Tjolsen et al., 1992). A fasetardia, conhecida como fase inflamatria, dependente da combinaode uma reao inflamatria nos tecidos perifricos e de alteraes

    funcionais no corno dorsal da medula espinal, caracterizada pelaliberao de mediadores inflamatrios (Hunskaar e Hole, 1987; Tjolsenet al., 1992).

    Participaram deste experimento 28 animais. Para coleta dosdados, aps a 15 sesso de acupuntura, os camundongos receberamuma injeo de 20 L de formalina 2,5% (em salina estril) viaintraplantar na regio ventral da pata posterior direita. Foi observado otempo que os animais permaneceram lambendo ou mordendo a patainjetada em intervalos de 0-5 minutos (fase neurognica) e de 15-30minutos (fase inflamatria) aps a injeo de formalina.

    4.4 ANLISE ESTATSTICA

    Os resultados foram analisados atravs do programa Graph PadPrism verso 5.01 (2005, San Diego, CA, USA). Os dados apresentados para os testes de reconhecimento de objetos, labirinto radial de oito braos, labirinto em cruz elevado, caixa claro/escuro, suspenso dacalda e formalina possuem uma distribuio normal, de acordo com oteste de Shapiro Wilk (P>0,05). Desta forma, os resultados foramexpressos como mdia + erro padro da mdia e foram avaliados atravsda anlise de varincia (ANOVA) de uma via seguidos pelo teste deStudent-Newman-Keuls. Os dados obtidos no teste de esquiva inibitria, por serem no paramtricos conforme o teste de Shapiro Wilk (P

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    5. RESULTADOS

    5.1 EFEITOS DA AM NA TAREFA DE RECONHECIMENTO DEOBJETOS NOVOS

    Os resultados apresentados na figura 10A demonstram que otratamento com AM no Baihui (VG20) durante 15 dias no afetou ondice de reconhecimento de objetos (F2,33=1,526; p=0,232) durante otreino quando comparado aos grupos controle e sham. No entanto, osdados apresentados nas figuras 10B e 10C demonstram que o tratamentocom AM no Baihui (VG20) durante 15 dias promoveu significativo

    aumento do ndice de reconhecimento de objetos quando analisado namemria de curta durao, 3h aps o treino (F2,33=18,95; p=0.0001), ena memria de longa durao, 24h aps o treino (F2,33=85,00;

    p=0.0001), comparado aos grupos controle e sham. Isto sugere que aAM no Baihui (VG20) promoveu um aumento da reteno da memriade RO de curta e de longa durao em camundongos.

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    Figura 10 - Efeito da AM no VG20 na memria de reconhecimento de objetos.

    C Sham AM0.0

    0.2

    0.4

    0.6 A - Treino

    n d i c e

    R e c o n

    h e c

    i m e n

    t o ( I R )

    C Sham AM0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8 ***

    # # #B - STM

    n d i c e

    R e c o n

    h e c

    i m e n

    t o ( I R )

    C Sham AM0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1.0 C - LTM ***# # #

    n d i c e

    R e c o n

    h e c

    i m e n

    t o ( I R )

    Os dados representam o ndice de reconhecimento de objetos, obtido peloscamundongos tratados e pelo controle. (A) sesso de treino; (B) STM (3 h apstreino); (C) LTM (24 h aps treino). Os resultados representam a mdia de 10 a13 animais e as linhas verticais indicam o erro padro da mdia (E.P.M.).***P

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    ao grupo controle, mas no quando comparado ao grupo sham. Noentanto, os dados apresentados na figura 11C demonstram que otratamento com AM no Baihui (VG20) durante 15 dias promoveusignificativo aumento na latncia de decida na esquiva inibitria quandoanalisado na memria de longa durao, 24h aps o treino [ H (3), N32=16,50; p=0.0003], comparado aos grupos controle e sham. Estesresultados sugerem que a AM no Baihui (VG20) promoveu um aumentoda reteno da memria aversiva de curta e de longa durao emcamundongos

    Figura 11 - Efeitos da AM no VG20 na STM e LTM de camundongos avaliados

    na tarefa de esquiva inibitria.

    C Sham AM0

    50

    100

    150

    200 A - Treino

    L a

    t n c

    i a ( s )

    C Sham AM0

    50

    100

    150

    200 *B - STM

    L a

    t n c

    i a ( s )

    C Sham AM0

    50

    100

    150

    200*

    # # #C - LTM

    L a

    t n c

    i a ( s )

    Os dados representam a mediana de 9 a 13 animais e as linhas verticaisrepresentam os intervalos interquartis das latncias para descer na grade notreino (A), na memria de curta durao (B) e de longa durao(C). *p

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    5.3 EFEITOS DA AM NO LABIRINTO RADIAL DE OITO BRAOS

    No teste da memria espacial, com relao memria dereferncia (aprender a localizar os braos onde sempre havia comida), osdados apresentados na figura 12 demonstram que a AM no Baihui (VG20) durante 19 dias promoveu uma melhora significativa namemria quando analisada no labirinto radial de oito braos. A figura12A mostra que a AM no Baihui (VG20) aumentou de formasignificativa as escolhas corretas no sexto (F2,25=3,599; p=0,0423),stimo (F2,25=4,238; p=0,0260) e oitavo dias (F2,25=4,433; p=0,0225)quando comparada aos grupos controle e sham. Alm disso, os dadosapresentados na figura 12B demonstram que o tratamento com AM no

    Baihui (VG20) promoveu significante diminuio do total dos erros nostimo (F2,25=5,014; p=0,0148) e no oitavo (F2,25=8,968; p=0,0012) diasquando comparado com os grupos controle e sham. Isto sugere que aAM no Baihui (VG20) foi capaz de melhorar a memria espacial emcamundongos

    Figura 12 - Efeitos da AM no VG20 na memria espacial de camundongosanalisados no teste do labirinto radial de oito braos.

    1 2 3 4 5 6 7 8

    1.5

    2.0

    2.5

    3.0

    3.5

    * * *

    A

    Dias

    T o

    t a l d e

    A c e r t o s

    1 2 3 4 5 6 7 8

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    * **

    B

    Dias

    T o

    t a l d e

    E r r o s

    Controle Sham AM

    Os dados representam o total de acertos (A) e o total de erros (B) no teste dolabirinto radial de oito braos. Os resultados mostram a mdia de 9 a 10 animaise as curvas indicam o erro padro da mdia (E.P.M.). *P

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    57

    5.4 EFEITOS DA AM NO TESTE DA CAIXA CLARO/ESCURO

    Os resultados da atividade do tipo ansioltica avaliados peloteste da caixa claro/escuro esto representados na figura 13 (A-D),mostrando que a AM no Baihui (VG20) durante 15 dias no alterou deforma significativa o tempo de permanncia no lado claro (F2,33=0,1387; p=0,8710), o tempo de permanncia no lado escuro (F2,33=0,1387; p=0,8710), o nmero de cruzamentos do lado claro para o escuro(F2,33=0,3962; p=0,6760) e a latncia para o primeiro cruzamento dolado claro para o escuro (F2,33=1,250; p=0,299) da caixa claro/escurodurante a sesso de teste quando comparada aos grupos controle e sham.

    Figura 13 - Efeitos da AM no VG20 na ansiedade de camundongos analisadosno teste da caixa claro/escuro.

    C Sham AM0

    40

    80

    120 A

    T e m p o n o

    C l a r o

    ( s )

    C Sham AM0

    50

    100

    150

    200

    250 B

    T e m p o

    n o

    E s c u r o

    ( s )

    C Sham AM0

    10

    20

    30 C

    N m e r o

    d e

    C r u z a m e n

    t o s

    C

    l a r o

    / E s c u r o

    C Sham AM0

    10

    20

    30

    40 D

    L a

    t e n c

    i a ( s )

    Os dados representam o tempo de permanncia na rea clara (A), o tempo de permanncia na rea escura (B), o nmero de cruzamentos do lado claro para oescuro da caixa claro/escuro (C) e a latncia para do primeiro cruzamento dolado claro para o escuro (D) no teste da caixa claro/escuro. Os resultadosrepresentam a mdia de 10 a 13 animais e as linhas verticais indicam o erro padro da mdia (E.P.M.).

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    5.5 EFEITOS DA AM NO LABIRINTO EM CRUZ ELEVADO

    Os resultados apresentados na figura 14 (A-C) demonstram quea AM no Baihui (VG20) durante 15 dias no alterou de formasignificativa o tempo de permanncia no brao aberto (F2,24=0,8308; p=0,4479), o tempo de permanncia no brao fechado (F2,24=1,000; p=0,3828) e a latncia para a entrada no brao fechado (F2,24=2,051; p=0,1505) do labirinto em cruz elevado durante a sesso de teste quandocomparada aos grupos controle e sham.

    Figura 14 - Efeitos da AM no VG20 na ansiedade de camundongos analisados

    no labirinto em cruz elevado.

    C Sham AM

    0

    20

    40

    60

    80

    100 A

    T e m p o n o

    b r a o

    a b e r t o

    ( s )

    C Sham AM

    0

    50

    100

    150

    200 B

    T e m p o n o

    b r a o

    f e c

    h a

    d o

    ( s )

    C Sham AM0

    20

    40

    60 C

    L a

    t n c

    i a ( s )

    Os dados representam o tempo de permanncia nos braos abertos (A), o tempode permanncia nos braos fechados (B) e a latncia que o animal levouinicialmente para se mover do brao aberto para um dos braos fechados (C) nolabirinto em cruz elevado.Os resultados representam a mdia de 8 a 10 animaise as linhas verticais indicam o erro padro da mdia (E.P.M.). One-wayANOVA seguido pelo teste Student-Newman Keuls.

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    5.6 EFEITOS DA AM NO TESTE DE SUSPENSO DA CAUDA

    Os resultados da possvel atividade do tipo antidepressivaavaliados pelo teste de suspenso da cauda esto mostrados na figura 15.O tratamento dos animais com a AM no Baihui (VG20) durante 15 dias promoveu significativo aumento da latncia para o incio da resposta deimobilidade (F2,24=15,68; p

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    5.7 EFEITOS DA AM NA NOCICEPO INDUZIDA PORFORMALINA

    Os resultados dos possveis efeitos antinociceptivos avaliados pelo teste da formalina esto mostrados na figura 16. O tratamento dosanimais com a AM no Baihui (VG20) durante 15 dias promoveu umareduo no comportamento nociceptivo (F2,23=10,63; p=0,0005) na faseinicial do teste de nocicepo induzida por formalina quando comparadoaos grupos controle e sham (figura 16A). Por outro lado, os dadosapresentados na figura 16B mostram que o efeito nociceptivo nasegunda fase do teste no foi significativo entre os grupos (F2,25=0,750; p=0,4824). Estes dados sugerem que a AM no Baihui (VG20 foi capaz

    de produzir propriedades antinociceptivas parciais somente na dorneurognica em camundongos.

    Figura 16 - Efeitos da AM no Baihui (VG20) na nocicepo de camundongosanalisados no teste de nocicepo induzida por formalina.

    C Sham AM0

    20

    40

    60

    80

    *#

    A - Neurognica

    T e m p o

    d e

    R e s p o s

    t a ( s )

    C Sham AM0

    70

    140

    210

    280

    350

    420B - Inflamatria

    Os dados representam o tempo de resposta na primeira fase (A) e o tempo de

    resposta na segunda fase (B) no teste de nocicepo induzida por formalina. Osresultados representam a mdia de 8 a 10 animais e as linhas verticais indicam oerro padro da mdia (E.P.M.). *P

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    6. DISCUSSO

    Na maioria dos estudos sobre os efeitos da acupuntura emanimais conscientes, necessrio manter o animal contido ouanestesiado para a insero da agulha. No nosso tratamento, para evitaro estresse induzido pela conteno, os camundongos foramcuidadosamente manuseados para a insero da agulha e, em seguida, osanimais foram colocados livremente em uma rea de 100 cm x 30 cm,com a agulha ainda inserida. Alm disso, para evitar estresse adicional,decidimos trabalhar com apenas um ponto. Assim, todos os animais,tanto os que foram estimulados com a agulha de acupuntura quanto o

    grupo controle foram igualmente submetidos ao mesmo tipo demanuseio a fim de eliminar possveis interferncias nos resultados.A medicina oriental classifica os aspectos da leso cerebral em

    diferentes sndromes ou padres de acordo com seus sintomas clnicos.O encfalo considerado um caso especial na fisiologia chinesa econhecido como um dos rgos "extraordinrios". De acordo com ateoria da MTC, a essncia do rim produz a medula que forma o encfalocomo o "mar da medula". O encfalo desempenha funes do pensamento e da memria e considerado como o mais limpo rgodentro do corpo. Se ele for prejudicado por algum tipo de trauma, oresto do corpo torna-se mais susceptvel s doenas (Xia et al., 2010).

    O Baihui (VG20) considerado um dos pontos de acupunturamais importantes do Vaso Governador, o qual faz coneco com oencfalo, e tambm de todo o sistema de meridianos (Shen et al., 2010).Ele vascularizado por uma rede formada pelas artrias e veiastemporais superficiais e pelas artrias e veias occipitais de ambos oslados e inervado pelo ramo do nervo occipital maior (Shen et al.,2010). Muitos dos seus efeitos sobre as doenas cerebrais j foramestudados. Em 1996 um grupo de pesquisadores demonstrou que aocluso bilateral das artrias cartidas comum produz significativoaumento dos nveis de xido ntrico e de endotelina no encfalo de ratos(para reviso ver Liu e Zhu, 2011). Alm disto, os mesmos autoresdemonstraram que a eletroacupuntura em pontos do meridiano VasoGovernador (VG20 e VG14) foi capaz de restabelecer o aumento dosnveis de xido ntrico e de endotelina no encfalo e no sangue dos ratosque sofreram ocluso bilateral das artrias cartidas comum (para

    reviso ver Liu e Zhu, 2011). Assim, demonstraram que aeletroacupuntura nesse meridiano tem efeito protetor sobre o danoneural induzido por isquemia cerebral em ratos (para reviso ver Liu e

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    Zhu, 2011). Alm disso, em 2005, outra pesquisa demonstrou que aeletroacupuntura nos acupontos Baihui (VG20) e Fengfu (VG16), aolongo do meridiano Vaso Governador, foi capaz de reduzir a convulso(epilepsia) produzida pela micro-injeo de penicilina no hipocampo deratos atravs da regulao da concentrao do transportador doaminocido taurina, aumentando assim a sua liberao (para reviso verLiu e Zhu, 2011).

    Neste sentido, proposto que o acuponto Baihui (VG20) tenhaum efeito estimulante sobre o sistema nervoso central, promovendo aliberao de neurotransmissores ou neuromoduladores no encfalo e namedula espinal. Estas alteraes neuroqumicas podem estimular ashabilidades naturais de cura do corpo e promover o bem-estar fsico e

    emocional (Shen et al., 2010). Com base no que se conhece a respeito damodulao da memria, possvel afirmar que vrios estudosconvergem, apoiando o ponto de vista de que a memria relacionada aeventos emocionais modulada por um sistema regulador endgenomediado pelos hormnios de estresse e pela amgdala cerebral (Quevedoet al., 2003).

    Pesquisas demonstraram tambm que a acupuntura tem umainfluncia direta sobre a neuroplasticidade e a neurognese (Wingate,2012). O encfalo tem a capacidade de criar novas conexes neurais eat mesmo novas clulas do sistema nervoso. At recentemente pensava-se que qualquer perda de neurnios devido leso ou aoenvelhecimento era permanente em adultos. Sabe-se agora que asclulas-tronco neurais ainda esto ativas em certas partes do encfaloadulto, no giro dentado do hipocampo e na zona subventricular, e que aneurognese possvel em todos os principais tipos de clulas neurais:neurnios, astrcitos e oligodendrcitos (Wingate, 2012). Um recenteestudo mostrou que a acupuntura induz a diferenciao celular e dosneuroblastos no hipocampo, fornecendo evidncias de que ela pode serutilizada como uma terapia de estimulao da neurognese (Wingate,2012). Tambm foi demonstrado que a acupuntura tem efeito nasinalizao do AMPc, importante na proliferao, na diferenciao esobrevivncia de clulas precursoras neuronais, bem como na regulaodo fator neurotrfico que interfere no crescimento, diferenciao esobrevivncia dos neurnios (Wingate, 2012).

    Ademais, foi demonstrado que a eletroacupuntura no VG20 eno VG16 reduziu o nvel do comprometimento neurolgico e aumentou

    a expresso do gene 15 relacionado com a plasticidade (CPG15) nohipocampo de ratos com isquemia e reperfuso cerebral e melhorou aneuroplasticidade