Agricultura Camponesa Para a Soberania Alimentar

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    VI CLOC-VC

    Para garantir o direito alimentao

    Osvaldo Len

    Um dos ganhos do Ano Internacional da Agri-cultura Familiar proporcionado pela ONUem 2014, o qual teve como pano de fundo acrise alimentria, foi o de haver contribudode alguma forma a visibilizar o debate entrea agricultura campesina e o agronegcio, quese mantinha oculta pela simbiose estabelecidaentre este e o poder miditico.

    No mbito oficial, por assim dizer, o diretorgeral da FAO, Jos Graziano da Silva, em seudiscurso de abertura da 24 sesso do Comi-t de Agricultura (COAG) em Roma, declarou:Os responsveis polticos devem apoiar umaampla gama de enfoques para reformar ossistemas alimentrios mundiais, tornando-osmais saudveis e sustentveis, e reconhecerque 'no podemos confiar de imediato em ummodelo intensivo para aumentar a produo eque as solues do passado revelaram seus li-mites... (e) solicitando uma mudana de pa-radigma, afirmou que os principais desafiosatuais so reduzir o uso de insumos agrcolas,especialmente a gua e os produtos qumicos,com o objetivo de conseguir um tipo de agri-

    cultura, silvicultura e pesca mais sustentveise produtivas a longo prazo.1.

    Neste contexto ocorrer o VI Congresso de Co-ordenao Latino-americana de Organizaes

    1 Comunicado imprensa FAO, 30 de setembro de2014.

    do Campo (CLOC) Via Campesina, de 10 a17 de abril prximo, em Buenos Aires, com aparticipao de delegaes de mais de 80 en-tidades de 18 pases da Amrica Latina e Cari-be, no qual a disputa com o agronegcio serum dos temas centrais. A programao aindainclui a V Assembleia Continental de Mulherese a IV Assembleia da Juventude2.

    Dois modelos

    O agronegcio (agrobusiness) o reflexo dasmudanas estruturais na produo agrcola da

    nova fase do capitalismo, homogeneizada pelocapital financeiro e pelas empresas transna-cionais, que surge nos anos 80 do sculo pas-sado.

    Segundo Joo Pedro Stedile, dirigente do MSTdo Brasil, este modelo se caracteriza sucinta-mente por: organizao da produo agrcolana forma de monocultivos (um s produto) emescalas de reas cada vez maiores; uso inten-sivo de mquinas agrcolas, expulsando a mo

    de obra do campo; a prtica de uma agricultu-ra sem agricultores; a utilizao intensiva devenenos agrcolas, os agrotxicos, que destro-em a fertilidade natural do solo e seus micro--organismos, contaminam as guas na camadafretica e inclusive a atmosfera ao adotar os

    2 A CLOC foi forjada no calor da campanha conti-nental 500 Anos de Resistncia Indgena, Negra ePopular, para constituir-se formalmente no congres-so realizado em Lima, Peru, de 21 a 25 de fevereirode 1994.

    Osvaldo Len diretor da revista AmricaLatina em Movimento, editada pela AgnciaLatino-Americana de Informao (ALAI)

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    desfoliantes e secantes que se evaporam naatmosfera e retornam com as chuvas. E so-bretudo contaminam os alimentos produzidos,com consequncias gravssimas para a sadeda populao. Usam cada vez mais sementes

    transgnicas, padronizadas, e agridem o meioambiente com suas tcnicas que buscam ape-nas a maior taxa de lucro em menor tempo3.

    Frente a este modelo de agronegcio social-mente injusto, economicamente invivel, in-sustentvel para o meio ambiente e para todaa biodiversidade, e uma produo mercantilde alimentos com graves consequncias paraa sade da populao , as organizaes docampo articuladas na Coordenao Latino-

    -americana do Campo (CLOC- Via Campesi-na) desenvolveram o conceito de SoberaniaAlimentria, partindo do princpio de que osalimentos no podem ser considerados umamercadoria, pois a alimentao um direito sobrevivncia da humanidade, e que por issomesmo, em todos os lugares do mundo, cadapovo tem o direito e o dever de produzir seusprprios alimentos.

    Neste sentido, o documento preparatrio4

    aponta: Realizaremos nosso VI Congressoavanando na elaborao poltica da nossaproposta de uma nova sociedade, na qual aSoberania Alimentria sustentada pela con-cretizao de Reformas Agrrias Integrais ePopulares nos devolva a alegria e a convicosoberana de continuar trabalhando e cuidandoda Me Terra para produzir os alimentos quenossos povos exigem e que a humanidade ne-cessita para garantir seu desenvolvimento. Eem seguida define: A questo da alimentao um tema estratgico para a autonomia deum povo e para a Soberania da Nao. Assim,vemos que a Agricultura Campesina e Indgenacumprem um papel fundamental em qualquerpas que vislumbre ser soberano.

    3 Las tendencias del capital sobre la agricultura,Amrica Latina en Movimienton 459, ALAI, outubrode 2010.

    4 Rumbo al VI Congreso Continental. SecretaraOperativa CLOC-VC - Argentina, Abril 2015.

    A agricultura campesina, assinala o texto, uma maneira de ser, de viver e de produzirno campo, baseada no resgate de tradies,costumes e culturas dos Povos Originrios. Ocampesinato e os povos indgenas vivem em

    uma constante luta pela autonomia produtiva,atravs da diversificao da produo e da uti-lizao de subprodutos de uma produo paraa outra, em busca do equilbrio ecolgico,atravs de uma forte relao com a natureza,o auto-abastecimento e o abastecimento locale regional de alimentos saudveis, constituin-do-se no elemento bsico para a promoo dasoberania alimentria.

    E para confirmar que a agricultura campesi-

    na no menos produtiva que o agronegcioe que o supera em razo de fatores sociais,culturais e ecolgicos que satisfaz, o docu-mento destaca: Os campesinos e indgenasacessam apenas 24,7% das terras e territrios,so responsveis por mais de 70% da produode alimentos do mundo. Grandes quantidadesdesses alimentos so comprados a preos bai-xos pelas grandes transnacionais e enviadospara longe das reas onde foram produzidosou se destinam a outros fins que no a alimen-tao, fato que leva a uma distribuio noequitativa dos mesmos, gerando fome e mis-ria nos setores e pases mais pobres do mundo.A terra e o territrio so as bases fundamen-tais para a Agricultura Campesina e Indgena epara a soberania alimentria; ter acesso a elae explor-la racional e adequadamente vitalpara o desenvolvimento humano equitativo.

    Conexo global: salvar o planeta

    Como integrante da Via Campesina, uma dele-gao da CLOC participou do Encontro Mundialde Movimentos Populares (Roma-Vaticano, 27a 29 de outubro de 2014), no qual as organi-zaes do campo em dilogo com o Papa Fran-cisco salientaram a gravidade da destruioambiental, por uma nfima minoria, que comum modelo de produo e consumo que prio-riza o lucro antes da vida, est devastando oplaneta e as formas de vida e culturas que omantm. As alteraes climticas produzidas

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    por este modelo e essa minoria esto amea-ando a existncia da Terra e de todos os seresvivos, includos os humanos5. E convocarampara os seguintes compromissos:

    - A defesa da permanncia dos povos docampo em seus territrios e da agricultu-ra camponesa e outras formas de produodos povos que so base de nossa alimenta-o

    - Um chamado para determos os graves im-pactos sociais e ambientais da minerao,o desmatamento e outras indstrias con-taminantes, e advogarmos pelo controledelas.

    - Um repdio claro aos organismos e cultivostransgnicos e seus efeitos. ...os transg-nicos so um perigo grave e suas promessasde maior produtividade e de terminar coma fome no tem base econmica, cientfi-ca, tampouco biolgica.

    - Realizar um pronunciamento contra o pa-tenteamento e manipulao de todos osseres vivos.

    - Repudiar a privatizao da gua, da terra,das sementes e dos recursos naturais.

    - Repudiar as falsas solues diante dasMudanas Climticas, assim como a ener-gia nuclear, as mega-barragens, a geoenge-nharia e aos mercados de Carbono.

    Agroecologia

    Em seu VI Congresso Continental, a CLOC--VC se prope a avanar na construo de umprojeto poltico popular e na gerao de pro-postas para polticas pblicas. Nesse sentido,no documento preparatrio reala, como umde seus desafios, que o programa deve de-fender uma nova matriz de produo de re-cursos agrcolas, agora baseada na agroecolo-

    5 Mensajes ledos al Papa, EMMP, http://alainet.org/active/78544

    gia, como uma forma concreta de enfrentara forma capitalista de espoliar a natureza. Aagroecologia mais que um conjunto de tc-nicas alternativas para produzir no campo, um modelo, um instrumento necessrio para

    derrotar o modelo capitalista, que somenteconsegue produzir fazendo uso de venenos,destruindo a natureza.

    Sob esta perspectiva, a Agroecologia e aTransio Agroecolgica como uma nova basetcnica e cientfica para a produo de ali-mentos, fibras e biomassa, em quantidade equalidade suficientes para o abastecimentonacional e para as exportaes, preservandoe conservando a base de recursos naturais

    existentes nos biomas e ecossistemas, consti-tuindo condies para a transio atravs deconhecimentos tcnicos e uma nova rota paraos insumos, com estruturas industriais locais eregionais para produzi-los e distribu-los.

    Alm disso, destaca que as sementes crioulas,patrimnio dos povos a servio da humanida-de, so determinantes a qualidade, a diver-sidade e quantidade de alimento produzidos,portanto esto vinculados diretamente So-

    berania Alimentria. As sementes determi-nam o modelo produtivo adotado. As semen-tes nativas esto adaptadas ao solo, ao climade sua regio, portanto so determinantes noenfrentamento do modelo agroqumico, por-tanto fundamentais para o enfrentamento smultinacionais. Enquanto isso, o uso de se-mentes transgnicas aumenta a utilizao deagrotxicos e insumos qumicos, aumentandoo desequilbrio ambiental e criando um ciclono qual cada vez se usa mais venenos e insu-mos qumicos, gerando mais desequilbrio e,dessa forma, a necessidade de utilizar maisinsumos qumicos e venenos.

    Polticas pblicas

    Para fortalecer a agricultura campesina e in-dgena e a soberania alimentria, a CLOC-VCreconhece que necessrio lutar por polticaspblicas, tais como:

    http://alainet.org/active/78544&lang=eshttp://alainet.org/active/78544&lang=eshttp://alainet.org/active/78544&lang=eshttp://alainet.org/active/78544&lang=es
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    a) Reforma Agrria Popular e Integral. Distri-buio de terras, juntamente com polticasde fortalecimento do setor produtivo. Li-mite do tamanho das propriedades; proibi-o da venda de terras para estrangeiros,

    etc. Expropriao de terras com explora-o de trabalho escravo ou situao anlo-ga a esta.

    b) Poltica de stocks (estoques) reguladores.O Estado compra a produo no perodo desafra-colheita, armazena-a e a coloca nomercado no perodo entre colheitas.

    c) Poltica de preos mnimos. Garante umpreo mnimo que cubra os custos de pro-

    duo e uma margem de renda para as fa-mlias campesinas e limita os preos pagospelos trabalhadores urbanos.

    d) Assistncia tcnica. Orientada para os sis-temas campesinos de produo, incenti-vando a produo de alimentos, com equi-pes multidisciplinares, de forma gratuita ecapaz de atender a todas as famlias cam-pesinas.

    e) Crditos subsidiados para a produo dealimentos. Garante que as famlias cam-pesinas produzam alimentos, obtenhamrenda e possam colocar os alimentos nomercado a preos acessveis para os traba-lhadores urbanos.

    f) Direitos dos agricultores. Reconhecimentopelos servios ambientais prestados, pro-teo ao conhecimento tradicional, redis-tribuio dos benefcios, participao nas

    decises sobre a conservao e o uso sus-tentvel dos recursos fitogenticos para aalimentao.

    g) Legislao. Legislao especfica para aproduo, industrializao e comercializa-o da produo campesina, como formade incentivo para a produo de alimentos.

    h) Educao campesina. Orientada para a re-alidade local, contextualizada, que prepa-re a juventude campesina para atuar nocampo, com orgulho de ser campesina.

    i) Mercados institucionais. Que os governoscomprem alimentos para os programas dealimentao escolar, hospitais, asilos epara o sistema carcerrio diretamente doscamponeses e de suas organizaes.

    j) Nova circulao de insumos. Reconhecer,apoiar a estrutura produtiva e organizar alogstica de distribuio de insumos natu-rais, que no agridam o meio ambiente.

    k) Programa de transio agroecolgica. Re-conhece e apoia processos, com uma am-pliao gradual de incentivos de acordocom o progresso implementado pelas fam-lias campesinas no processo de transio..

    l) Apoio a processos de cooperao. Coopera-tivas, associaes, empresas comunitrias,agroindstrias, mercados populares...

    m) Reconhecimento do modo campesino de

    fazer agricultura. o nico capaz de darrespostas aos principais dilemas da huma-nidade:

    - Crise alimentria.

    - Crise energtica.

    - Crise ambiental.

    Estas e outras medidas podem resolver o pro-blema da crise de alimentos, diminuir a pres-so nas grandes cidades e garantir condiesde vida digna para as famlias trabalhadorasdo campo e das cidades. Com estas polticaspblicas e esta lgica de produo campesinapoderemos alcanar a Soberania Alimentar.

    Traduo: Daniela Pericolo Sgiers(Coletivo Chasqui)

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    Os desafios da reforma

    agrria integral e popularMarina dos SantosN

    as ltimas dcadas, em todo o ContinenteLatino Americano, os/as camponeses/as,

    indgenas e afrodescendentes vivem um pro-cesso permanente de disputa entre dois pro-jetos na agricultura: um do capital e outro dostrabalhadores.

    De um lado, defendendo o projeto do capital,esto os latifundirios, as empresas capitalis-tas nacionais e multinacionais, os bancos, osgrandes meios de comunicao e os governosconservadores. Esse setor vem a todo custotentando concentrar a terra, a gua, os mi-nrios e os produtos, produzindo em reas demonocultivos com prioridade para exportaoutilizando cada vez menos mo-de-obra e uti-lizando cada vez mais agrotxicos, se apro-

    priando das sementes e transformando-as empatentes privadas e utilizando-se da transge-nia, bem como apropriando-se e disputandocada vez mais os territrios com as populaestradicionais, colocando em risco todos os bensda natureza. So os chamados agrohidroneg-cios e o mineralnegcio, com o principal obje-tivo de conquistar o lucro mximo.

    De outro lado, esto os camponeses/as, co-munidades indgenas, trabalhadores agrco-

    las, afrodescendentes, pescadores e mulherestentando resistir e construindo um modelo deproduo baseado no trabalho, na viabilizaode suas vidas no campo, na produo de ali-mentos saudveis para si e para os trabalha-

    dores urbanos, na preservao e recuperaodo meio ambiente.

    Estes dois projetos nos deixam claro que o queest em disputa na agricultura a luta de clas-ses entre o capital e os trabalhadores. O agro-

    hidronegcio e o mineralnegcio com o apoiodos governos atravs de polticas pblicas deincentivo com grandes volumes de recursos,se tornaram hegemonia na sociedade, afinalpassaram a priorizar os investimentos na pro-duo de soja (se transformando nos maioresprodutores e exportadores de soja do mundo),de milho, de cana-de-acar (com suas usinaspara acar e etanol), no cultivo extensivo deeucalipto para celulose para produo de car-vo vegetal (para usinas guseiras siderrgicas

    de exportao do minrio de ferro) e pecuriaextensiva. Poucas empresas agroindustriais decapitais nacionais e estrangeiros passaram acontrolar praticamente todo o comrcio dascommodities e houve uma crescente centrali-zao do capital que atua na agricultura, poispassaram a controlar as sementes, os fertili-zantes, os agroqumicos, o comrcio, a indus-trializao de produtos agrcolas e o comrciode mquinas agrcolas. Tudo isso, trazendo s-rias mudanas e consequncias estruturais napropriedade da terra, da produo, do empre-go e da renda para os trabalhadores do campoe da cidade, pois nessa correlao de foras oagronegcio segue em ofensiva na concentra-o dos bens da natureza, na disputa territo-rial e utilizando a mdia burguesa para fazerpropaganda de seus feitos e contra os traba-lhadores.

    Para os movimentos camponeses, indgenas,afrodescendentes e pescadores organizados

    Marina dos Santos da Direo Nacional doMST/Brasil e Membra da Comisso Polticada Coordenao Latino Americana de organi-zaes do Campo CLOC, pela Amrica do Sul.

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    na Amrica Latina, desde a Coordenao La-tino Americana de Organizaes do Campo CLOC, est claro que para enfrentar essemodelo, hoje a luta passa por enfrentar o de-bate da Reforma Agrria Integral e Popular.

    Por qu? Porque a partir da realidade agrriaatual, dominada pelo projeto do capital e dainviabilidade da Reforma Agrria clssica, sobhegemonia da burguesia, na qual se pretendiaapenas dividir a terra para desenvolver as for-as produtivas do campo e mercado e servirpara o desenvolvimento do capitalismo, no mais necessria, apesar de ser tido muitoimportante para a humanidade, especialmen-te nos pases onde fora realizada. Hoje, como sistema financeiro em vigncia, a burguesia

    no quer mais faz-la, abandonou-a, em ou-tras palavras: no precisa mais dela. Porm,os governos no conseguiram resolver os con-flitos sociais e naturais da sociedade capita-lista: dos sem terras, das comunidades ind-genas, dos quilombolas, dos atingidos pelasmineradoras e barragens, dos desmatamentos,da contaminao das guas e mananciais, dacontaminao dos alimentos por agrotxicos,da destruio ambiental, da falta de perspec-tiva da juventude do campo, da explorao eviolncia causada s mulheres, da eliminaoda biodiversidade, da concentrao da terrae todos os bens da natureza, dentre outros.

    A Reforma Agrria Integral e Popular umaconcepo de Reforma Agrria que interes-sa no somente os camponeses, mas o con-junto da classe trabalhadora, especialmentedos trabalhadores e trabalhadoras que vivemnos grandes centros urbanos. Sinaliza para oconjunto das bases dos movimentos e todosos aliados da sociedade, de que essa Reforma

    Agrria que defendem sobretudo Popular!

    Essa proposta de Reforma Agrria Integral ePopular requer medidas amplas, para alm dadistribuio da terra, que sintetiza o modelode agricultura defendida pelos movimentos. uma forma de resistncia ao modelo de agri-cultura capitalista do agrohidronegcio e domineralnegcio e prope um processo de ac-mulo de foras, tendo como objetivo a cons-truo de um novo modelo de agricultura,

    voltado para as necessidades dos povos. Servetambm para orientar os movimentos nas lu-tas, nas pautas de reivindicaes e nas aesprticas por longos anos.

    Os pilares da Reforma Agrria Integral e Popu-lar consistem em:

    1. Democratizao da terra: garantias de quea Reforma Agrria no seja somente a dis-tribuio das terras, mas o acesso a todosos bens da natureza e os de produo naagricultura. Compreendendo tudo que es-teja naquele territrio, como as matas,florestas, guas, minrios, sementes e todabiodiversidade, proibindo o desenvolvimen-

    to de projetos de extrao mineral por par-te de empresas nos territrios reformados,pois os minrios devem ser utilizados deforma sustentvel, em benefcio da comu-nidade e de todo o povo. Da mesma forma,exigir que a posse e o uso da gua estejamsubordinados aos interesses e necessidadesde toda a populao, pois a gua um bemna natureza e deve ser utilizada em benef-cio de toda a humanidade, por isso, a guano mercadoria e no pode ter proprie-

    dade privada. Tambm a garantia a todosos trabalhadores e trabalhadoras do direitoao acesso a terra para morar e trabalhar.

    2. Organizao da Produo Agrcola: priori-zar a produo de alimentos saudveis paratoda a populao, garantindo o princpio dasoberania alimentar, livres de agrotxicose de sementes transgnicas. Desenvolverprogramas de soberania energtica em to-dos os territrios, com base em fontes al-ternativas renovveis, como vegetais noalimentcios, energia solar, hdrica e eli-ca. Organizar a produo e comercializa-o com base em todas as formas de coo-perao agrcola.

    3. Desenvolver uma nova matriz tecnolgicade produo e distribuio da riqueza naagricultura: exigir dos Estados polticas decrditos, pesquisas e financiamentos volta-dos para uma produo agrcola baseados

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    na agroecologia e com aumento de produ-tividade do trabalho e das reas, em equi-lbrio com a natureza. Garantir programasde reproduo, armazenagem e distribui-o das sementes crioulas e agroecolgicas

    de produo dos camponeses, inseridos noprograma de soberania alimentar do pas.Combater a propriedade privada intelec-tual das sementes, animais, bens naturais,biodiversidade ou sistemas de produo ecombater a produo e comercializao deagrotxicos e sementes transgnicas emtodos os pases.

    4. Industrializao e poltica agrcola: desen-volver pequenas agroindstrias no interior

    do pas, garantindo agregar valor produ-o e gerar maior renda para a populaocamponesa e promover um desenvolvi-mento equilibrado entre as regies, assimcomo desenvolver centros de pesquisas,qualificao tcnica e intercmbio de co-nhecimentos, voltados para as atividadesdas agroindstrias e a preservao ambien-tal. Exigir do Estado polticas pblicas quegarantam os instrumentos de poltica agr-cola para todos os/as camponeses/as ga-rantias de preos rentveis, crdito ruraladequado, seguro rural, assistncia tcnicae tecnolgica, armazenagem, mquinas,equipamentos e insumos necessrios paraa atividade agrcola. Exigir que os/as cam-poneses/as tenham participao efetiva naformulao de todas as polticas pblicaspara a agricultura.

    5. Educao: o acesso educao uma dascondies bsicas da construo do proje-to de Reforma Agrria Integral e Popular,pois a educao um direito fundamentalde todas as pessoas e deve ser atendido noprprio lugar onde elas vivem e respeitan-do o conjunto de suas necessidades huma-nas e sociais. Para isso, exigir do Estado eimplementar programas massivos de alfa-betizao de jovens e adultos do campo,universalizar o acesso educao bsicae ampliar o acesso de jovens e adultos educao profissional de nvel mdio e su-perior com prioridade s demandas e de

    desenvolvimento do conjunto das comuni-dades camponesas.

    6. Lutas: sem um profundo processo de lu-tas, organizao e presso pelo conjunto

    da sociedade, no ser possvel conquistaresse projeto de Reforma Agrria Integral ePopular. Este, s ser possvel com enfren-tamento do campesinato a esse modelo,atravs das lutas, das ocupaes de terras,de resistncia e de sobrevivncia. A reali-zao deste projeto de transio dos bensda natureza e da agricultura latino-ameri-cana, s ser superado quando for de fatouma bandeira defendida pelo conjunto dasociedade, em um contexto histrico de

    existncia e aliana entre governos popu-lares, que coloque o Estado a servio dasmaiorias, com um movimento de massas,que coloquem os trabalhadores como sujei-tos polticos permanentes pelas mudanas.

    Diante desse quadro, vrios desafios estocolocados nesse momento histrico, que sosentidos especialmente nesse perodo de pre-parao e realizao do VI Congresso da CLOC,a realizar-se, de 10 a 17 de Abril, em Buenos

    Aires, Argentina.

    Atuar prioritariamente, nas contradies docapital e do agrohidronegcio e do mineral-negcio. necessrio identificar em cada pasos principais inimigos dos/as camponeses/ase fazer aes de denncias sobre as contradi-es para toda a sociedade. Bem como reali-zar ocupaes nos grandes latifndios, enfren-tando o debate da funo social da terra;

    Atualizar o estudo e debate sobre as experin-cias e processos de Reformas Agrrias existen-tes e aprofundar sobre o conceito de ReformaAgrria Popular;

    Durante a realizao do VI Congresso, deba-ter temas importantes, que dialogam direta-mente com as comunidades afetadas, como:povos originrios, assalariados, barragens etrocas de experincias nos temas de soberaniaalimentar, agroecologia, feminismo popular e

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    socialismo; bem como realizar lutas concretasem defesa da terra, gua e Reforma Agrria;

    Continuar a realizao de misses e de solida-riedade entre os pases com mais conflitos de

    terras, como Guatemala, Honduras, Panam,Colmbia e Paraguai, sobretudo ao Brasil em2016, quando se completam 20 anos do Massa-cre de Eldorado dos Carajs, e a impunidadesobre o massacre perdura;

    Continuar exigindo dos governos que cumpramas deliberaes da Conferncia Internacionalsobre Reforma Agrria e Desenvolvimento Ru-ral CIRADR, em cada pas e em nvel interna-cional, realizada em Porto Alegre Brasil, em

    maro de 2006;

    Massificar o processo de formao da juventu-de do campo e articular-se com a juventudeurbana, buscando fortalecer os laos de orga-nizao e aes conjuntas;

    Continuar trabalhando e acompanhando otema dos Direitos Campesinos para garantirque em 2016, seja aprovado pela ONU;

    Por fim, as razes da Reforma Agrria Integrale Popular no esto somente no esgotamentoobjetivo da reforma agrria clssica. Elas bro-

    tam e crescem no enfrentamento dos sujeitostrabalhadores contra as foras do capital, quecada vez mais se apropria de todos os bens danatureza, da sade e da cultura popular paratransformar tudo em lucro. Por isso, essa pro-

    posta no se destina apenas aos trabalhadoresdo campo, ela abrange todas as foras e segui-mentos que acreditam nas mudanas da socie-dade. Por isso, acreditamos ser fundamentalarticular alianas com os trabalhadores dascidades, como forma de enfrentar a correla-o de foras na luta de classes e buscar terconquistas concretas para o avano cada vezmais, nas bases dos movimentos e na socie-dade em geral, da Reforma Agrria Integral ePopular.

    Bibliografia consultada:

    Programa Agrrio do MST; Secretaria Nacionaldo MST, 2013, So Paulo.

    Documentos de Trabajo Rumbo al VI Congre-so Continental de Coordinadora Latino Ame-ricana de Organizaciones Del Campo; Secre-taria Operativa, 2014, Argentina.

    Relatrio da Reunio do Coletivo Terra, guae Territrio da Via Campesina Internacional;Roma, Janeiro/fevereiro 2015, Itlia.

    www.movimientos.org

    http://movimientos.org/http://movimientos.org/http://www.movimientos.org/
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    Campesinato e os projetos

    para a AgriculturaValter Israel da Silva

    Existem trs teses sobre o campesinato, queorientam as formas de olhar o campo e,

    portanto, de pensar e gerir as polticas pbli-cas, sejam de apoio, sejam de bloqueio a cer-tas formas de fazer agricultura.

    Em rpidas palavras estas teses podem serdescritas como seguem:

    O Fim do Campesinato:

    Esta tese prev o fim do campesinato em duascategorias. Uma que perde os meios de pro-duo e se proletariza, ou seja, passa a ven-der sua fora de trabalho mesmo no campo ouindo embora para as cidades. E outra, que am-

    plia seu acmulo nos meios de produo, pas-sa a proletarizar parte daquelas famlias queperderam os meios de produo. A maior partedesta ltima categoria ficaria dependente deapoios sociais e polticas pblicas.

    A Metamorfose Camponesa(A Agricultura Familiar):

    Esta tese se apresenta como uma espcie deterceira via e diz que a mo de obra familiar

    no vai desaparecer, mas a forma camponesasim. Deste modo, o campons ter que sofreruma metamorfose e se transformar em umagricultor familiar, ou seja, assumir a tecno-logia, se especializar em algum ramo da pro-duo, ser integrado indstria, etc. E isso

    trabalhado em uma dicotomia, em que ocampons atrasado e o agricultor familiar moderno.

    O Fim do Fim do Campesinato:

    Esta tese, em resumo, diz que o campesinatosempre existiu e sempre vai existir. Para Gus-man & Molina o campesinato encontra formasde cooperao e cria um espao prprio den-tro do capitalismo e por isso resiste. Carvalhonos faz compreender que a manuteno docampesinato interessa inclusive para o capi-tal, como forma de apropriao da renda daterra.

    As trs teses acima descritas apontam paratrs modelos produtivos, ou, para trs proje-tos de desenvolvimento do campo, aos quaisdenominamos: Agronegcio, Agricultura Fami-liar e Agricultura Camponesa.

    Agronegcio:

    O Agronegcio, aqui compreendido como pac-to de poder entre os latifundirios, o capitalfinanceiro e as multinacionais, que recebe

    fortes incentivos dos governos e da grande m-dia, se caracteriza por: latifndio, monocul-tivos, mquinas pesadas, insumos qumicos,venenos, sementes transgnicas..., traz comoconsequncia: desequilbrio ambiental, super-pragas, dependncia de crdito e insumos,contaminao por venenos, concentrao derenda e riqueza, excluso social, uso desorde-nado de recursos naturais como terra e gua,e pelo monocultivo, traz sria perda de biodi-versidade.

    Valter Israel da Silva,campons, militante doMovimento dos Pequenos Agricultores MPABrasil

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    Agricultura Familiar:

    A agricultura familiar o projeto pensado des-de o capital para a pequena propriedade. Algica da gesto a mesma de uma empresa

    rural capitalista, o agronegcio em escalareduzida. Desta forma temos uma mescla deprojetos, onde se confundem trabalho fami-liar com contratao de mo de obra, mono-cultivos com diversificao, commodities comproduo de alimentos, e principalmente umaconfuso entre a lgica econmica camponesa(que se baseia na relao trabalho-consumo) ea lgica capitalista (com foco no lucro).

    Este projeto retira as questes culturais da

    vida camponesa (seu modo de ser e de viver),e transforma a agricultura em uma profisso.

    Esta confuso ideolgica leva a muitas fam-lias camponesas especializao em um ramoda produo, a intensificao da produo, nabusca de uma economia de escala (mesmo empequena propriedade), para tanto, a buscapor crdito, novos investimentos no desen-volvimento das foras produtivas, entrandoem um ciclo sem fim de aumento da produ-

    tividade para cobrir os custos de produo eum aumento nos custos de produo para au-mentar a produtividade. Este ciclo chega a umlimite de endividamento e de capacidade deexpanso produtiva pelo limite no tamanho dapropriedade, e muitas vezes leva a famlia adeixar a agricultura e a perder a propriedade.

    Agricultura Camponesa:

    A Agricultura Camponesa no uma profisso,

    um modo de ser, de viver e de produzir. Tempor base as famlias e comunidades campone-sas. Suas principais caractersticas so: peque-na propriedade, trabalho familiar, controle doprocesso produtivo, diversidade produtiva, se-mentes crioulas, base agroecolgica, tcnicasapropriadas ao sistema campons de produ-o. O sistema campons de produo umacombinao entre produo agrcola (anual eperene) com produo animal e a utilizaodos subprodutos de uma produo para outra.

    A agricultura camponesa tem o foco na me-lhoria da qualidade de vida das famlias e nadiminuio da penosidade do trabalho.

    A Agricultura Camponesa busca diminuir a

    dependncia em insumos. Quanto maior a di-versidade produtiva, maior a possibilidade desubprodutos de um ramo da produo servi-rem de insumos para outro ramo da produo,portanto maior a autonomia produtiva, ou,melhor dizendo, menor a dependncia.

    Segundo estudos da GRAN, 92,3% das unidadesagrcolas do mundo so camponesas ou ind-genas, estas acessam apenas 24,7% das terras(provavelmente 90% das famlias camponesas

    e indgenas sobrevivem com menos de 2 hec-tares e ao menos a metade delas, com menosde 1 ha por famlia), ainda assim, respondempor mais de 70% da produo de alimentos,so mais produtivas que as grandes proprieda-des e geram mais empregos.

    A Manipulao da Informao:

    O que acontece que os grandes meios decomunicao manipulam informaes para

    manter os interesses dos grandes produtores.Desta forma, escondem os problemas causa-dos por esta lgica produtiva e vendem umaideia de miserabilidade e baixa produtividadecamponesa e uma ampla produo de alimen-tos por parte do agronegcio. Desta forma,principalmente a sociedade urbana vive alie-nada dos processos produtivos, da origem eda qualidade do alimento que consome e dasconsequncias dos modelos de produo.

    Estratgias de comunicao doAgronegcio

    Apesar de todas as consequncias j apresen-tadas, o agronegcio atua no congresso nacio-nal e com um forte esquema de propagandapara manter-se hegemnico na sociedade.Para tanto utiliza as estratgias de propagan-da apresentadas no trecho a seguir, que foiorganizado com base no estudo de KleybsonFerreira de Andrade, entre as principais estra-

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    tgias podemos citar:

    Tudo Agro:... a imagem criada pelo agro-negcio a de que existe no pas apenas umaagricultura, tecnificada, moderna, produtiva

    e sustentvel. O agronegcio seria assim, anica forma de produzir no campo. Os produ-tores que no alcanaram tal patamar deve-riam ser assessorados para tal.

    Funcionar como uma orquestra: A primeiracondio para uma boa propaganda a infati-gvel repetio dos temas principais. Porm,a simples repetio dos temas de forma me-cnica ser responsvel por levar rapidamen-te ao tdio. Por isso, a repetio deve se dar

    atravs de uma grande diversidade de ferra-mentas.

    O princpio da valorizao de si e a desquali-ficao do outro: A construo da imagem po-sitiva do agronegcio passa, necessariamente,pela negao de camponeses, ambientalis-tas e outros grupos como alternativa para ocampo. Uma tarefa das mais importantes oesforo por desmoraliz-los, apresentando-oscomo ligados ao atraso, ao improdutivo e at

    mesmo destruio do meio ambiente.

    Toda a imagem positiva, ligada modernida-de, produo, preservao, etc., posta so-bre o agronegcio, ao passo que todas as ca-ractersticas negativas presentes no campo,como a pobreza, a baixa produtividade, etc., despejada sobre os invasores, radicais deesquerda, defensores de ideologias atrasa-das.

    A suposta ameaa permanente ao agro-negcio: Uma situao que aparece de formaperidica nos artigos e pronunciamentos dosetor patronal anuncia uma hipottica situ-ao de instabilidade e insegurana, na qualconstantemente esses setores estariam sendoameaados por grupos indgenas, sem-terra,invasores. Esta situao serve de pretex-to para reivindicar do Estado uma ao maiscontundente na defesa do agronegcio, queseria a atividade mais importante praticada

    no campo, e por isso seria imperioso recebermaior proteo contra tais grupos.

    A inverso de prioridades ou o Padro daInverso: A ideia de que o meio de comuni-

    cao poderia escolher qual informao seriaapresentada como a mais relevante em deter-minados casos, invertendo as prioridades parajustificar determinadas situaes e atitudes.

    Silenciar quando convm ou o padro daocultao: No se trata do desconhecimentosobre certos temas, mas pelo contrrio, umdeliberado silncio militante sobre determi-nados fatos da realidade.

    Esquivar-se dos problemas: absolutamentecompreensvel que um grupo que busca se le-gitimar diante de toda a sociedade jamais vaise declarar a favor de certos temas. Questesnegativas como trabalho escravo, degradaoambiental, corrupo, etc., jamais seriam de-fendidas por quem busca apoio social.

    A melhor defesa o ataque: Quando se estsobre ataque do adversrio, a melhor sada assumir o contra-ataque.

    Ttica da emulao: O conceito de emulao,segundo o prprio dicionrio, tem o signifi-cado de um sentimento que leva a igualaralgum ou, podemos dizer, busca estimularque se queira igualar a algum. Esse raciocnioexplica o grande esforo de dar publicidades experincias produtivas exitosas do setor,que possam ser exemplos que, por um lado,so utilizados para estimular todo o setor ase esforar por se igualar a tal experincia, e

    por outro para se apresentar para a sociedadecomo uma referncia incontestvel.

    O mito da liderana exemplar: A formao dalegitimidade de uma determinada organiza-o e de seu projeto na sociedade, em muitoscasos, passa por construir sobre a imagem deum indivduo, as qualidades que expressariamtodos os anseios dos grupos sociais que tal or-ganizao busca representar. A construo daliderana em torno da senadora Ktia Abreu,

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    presidente da CNA, seria um mote fundamen-tal da propaganda poltica da entidade, inclu-sive vinculando sua imagem com a da Presi-dente Dilma.

    Bibliografa ConsultadaANDRADE, Kleybson Ferreira de, A voz do AGRO, odiscurso da CNA e a representao do rural do Brasil,2013, disponvel em http://www.mpabrasil.org.br/biblioteca/trabalhos-academicos/voz-do-agro-o-discurso-da-cna-e-representacao-dos-interesses-doconsultado em 03/10/2013.

    CARVALHO, Horcio Martins de. O Campesinato noSculo XXI Possibilidades e Condicionantes para o seu

    desenvolvimento no Brasil. Editora Vozes, 2005.

    GUZMN, Eduardo, S.; MOLINA, Manuel, G. Sobrea evoluo do conceito de campesinato. 3 ed. SoPaulo. Expresso Popular, 2005.

    GRAIN. http://www.grain.org/es/article/

    entries/4956-hambrientos-de-tierra-los-pueblos-indi-genas-y-campesinos-alimentan-al-mundo-con-menos-de-un-cuarto-de-la-tierra-agricola-mundial - 10 junio2014.

    SILVA, V.I., Classe Camponesa Modo de ser, de viver ede produzir, ICPJ, 2014.

    Traduo: Vitor Taveira(Coletivo Chasqui)

    - realidade regional atualizada diariamente

    - dinmicas sociais

    - noticas, opinio e anlise

    - mais de 81 mil documentos catalogados

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    O Ano Internacional da

    Agricultura Familiar esuas perspectivasSecretaria Operativa da CLOC - Va Campesina

    Oano de 2014 foi declarado pela Organiza-o das Naes Unidas para a Alimentao

    e a Agricultura (FAO) como o ano o internacio-

    nal da agricultura familiar (AIAF). A inteno,de acordo com a FAO, era visibilizar a agricul-tura familiar dos pequenos produtores, enfo-cando na importncia de tais para a erradi-cao da fome e da pobreza, enfatizando suacapacidade de fornecer alimentos, gestionaros recursos naturais e proteger o meio am-biente para o desenvolvimento sustentvel,pontualmente em zonas rurais.

    A inteno de reposicionar a agricultura fami-

    liar e coloc-la no centro das polticas agrco-las, ambientais e sociais das agendas nacionais,em alguns casos, avanou com a criao de le-gislaes e de um pouco de oramento fixo, oque pe em dvida a continuidade de polticasorientadas para aprofundar mudanas no sen-tido de um desenvolvimento mais equitativo eequilibrado, mas, por outro lado, outros pasesda regio necessitam de uma mudana no mar-co legislativo, regulamentrio e poltico, comono caso do Chile, por exemplo.

    Como CLOC- VC incidimos, ao lado de outrosatores, para que o AIAF fosse proclamado.Cabe pontuar que houve trabalho articuladoao interior da FAO e de intermediao com osmovimentos sociais, a sociedade civil, pes-cadores artesanais, pastores, camponeses e

    camponesas, agricultores familiares, povosoriginrios, trabalhadores sem terra, pasto-ralistas do mundo inteiro, sobre o que deba-

    temos com os Estados. Nossas posies erammais prximas, por exemplo, do Grupo do Ca-ribe e da Amrica Latina (GRULAC), mas a re-lao com outras posies eram mais comple-xas e difceis, como no caso do setor privado.

    Foi um resultado das lutas e dos debates deduas dcadas e que comearam a plasmar-seem 2009 no seio da FAO.

    A FAO retrocedeu em seus passos, para retor-nar a confiar de que somente pode lutar con-

    tra a fome de mo dada agricultura campe-sina, indgena e familiar.

    A declarao do Ano Internacional da Agri-cultura Familiar pela FAO permitiu perceberque nos pases e nas regies h uma disputaconceitual sobre os modelos agropecurios (Oque significa agricultura familiar? Qual suaimportncia e seu papel? Quais so as causasda fome?) e interceder como CLOC-VC, desdenossa viso e trabalho como movimento con-

    tinental, revalorizando os saberes e prticasancestrais dos povos da Amrica.

    Por exemplo, ns participamos da Confern-cia da Agricultura Familiar, que a ComissoEuropeia organizou no final de novembro de2014, onde ns participamos como CLOC-ViaCampesina, em um cenrio que demonstrou adiferena entre a lgica da agricultura campo-nesa familiar versus a ideologia imposta pelocapital financeiro.

    Secretaria Operativa da Coordenadora La-tino-americana de Organizaes do Campo(CLOC) - Via Campesina, com sede na Argen-tina.

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    Sem dvida foi uma etapa importante, mastemos que continuar insistindo com propostasintegrais que apontem para mudar a lgicaimperante nos mbitos governamentais, orga-nismos regionais e internacionais para ter um

    outro panorama para o futuro. Virar o jogo,que as corporaes transnacionais no contro-lem a renda alimentar dos povos, mas que oprprio povo tenha o controle, fornea a seusmercados locais com seus alimentos e contemcom os recursos necessrios para poderem sersujeitos produtivos, com projees e uma par-ticipao ativa dos Estados.

    No obstante, ns devemos continuar com aresistncia, a defesa dos territrios povoadose controlados pelo campesinato e avanar ra-

    dicalmente com as ocupaes de terra, des-congestionar as cidades grandes! Porque hque retornar ao campo, trabalhar a terra paraalimentar os povos, para recuperar a biodiver-sidade. O sistema produtivo diverso, agroe-colgico do campesinato, o ar condicionadodo planeta!

    Est comprovado que com somente um quartode territrios arveis do mundo, ns, campo-neses e camponesas, alimentamos a 70% da

    populao mundial, e, de acordo com a FAO,mais de 40% dos alimentos da cadeia agroin-dustrial so perdidos pela decomposio. 90%do mercado mundial de gros est nas mosde quatro corporaes: ABC, Bunge, Cargil eDreyfus. Monsanto controla 27% do mercadoglobal de sementes, e, ao lado de outras novecorporaes, de 90% do mercado dos agrotxi-cos. Esta concentrao os permite pressionarespeculativamente de modo que os preosdoscommodities aumentem sistematicamente.Alm disso, sua estreita aliana com a ban-ca internacional permite dispor de uma massaenorme de capital de origem especulativa que usado para a acumulao de terras, o lobbye a presso aos governos do mundo, a corrup-o, narcotrfico, etc.

    De que comrcio livre nos falam? O mer-cado refm das corporaes e do capitalfinanceiro, dos mesmos que destroem a bio-diversidade, geram a crise ambiental comseus monocultivos, so responsveis pelos s-

    rios problemas de sade e de contaminaocausados pela fumigao indiscriminada doscampos com milhares de milhes de tonela-das de agrotxicos, do trabalho escravo, douso indiscriminado de combustveis fsseis, da

    destruio dos mercados locais, entre outros.Isto nos faz ver com claridade que no pos-svel harmonizar a agricultura familiar com aagricultura das corporaes, assim como noser possvel terminar com a fome pela modesse modelo nascido com a revoluo verde.

    Nossos objetivos, em grande medida, pude-ram se concretizar durante o ano de 2014,mas aqueles que faltam tm sequncia comas organizaes envolvidas nos processos des-sas mudanas que favorecem o campesinato,

    principalmente nos que se refere SoberaniaAlimentar e a Reforma Agrria Integral.

    Ns continuaremos mantendo as aes comfora nas datas e nos assuntos chaves de nossaagenda:

    - 7 de abril, Dia Internacional da Luta Cam-pesina

    - 16 de outubro, lutas pela soberania alimen-tar de encontro s companhias transnacio-

    nal.- A afirmao da urgncia da Reforma Agr-

    ria e da democratizao da terra e dos bensnaturais (Campanha Global pela ReformaAgrria).

    - A luta contra os transgnicos e a defesa dassementes crioulas (a Campanha pela Defe-sa das Sementes como patrimnio dos po-vos ao servio da humanidade).

    - A luta contra os agrotxicos (Campanha

    Global contra os Agrotxicos e em Defesada Vida).

    Definitivamente, ns pensamos que h condi-es para sermos imparveis. Foi um ano comluzes e sombras, mas vai trazer frutos para ossujeitos que merecem finalmente a justia, aomenos na Amrica Latina e no Caribe.

    Traduo: Joo Gabriel Almeida(Coletivo Chasqui)

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    Como garantia para a Soberania Alimentar

    Uma declarao dosDireitos Camponeses

    Diego Montn

    AIII Conferncia Internacional da Via Cam-pesina, realizada em Braslia, que aprovou

    a Carta dos Direitos das Camponesas e dosCamponeses, foi a mudana de etapa num

    processo que comeou junto com o sculo XXI,com a expectativa de construir una Conven-o Internacional dos Direitos Camponeses,sob a feroz ofensiva neoliberal que assolavao mundo inteiro. A V Conferncia, levada acabo em Maputo, frica, em 2008, ratificou omesmo e avanou em definir os mecanismospara interagir na Organizao das Naes Uni-das (ONU).

    Na luta pela Terra, ns das organizaes

    camponesas, estamos sendo perseguidos e cri-minalizados, com centenas de dirigentes en-carcerados e assassinados. Ns resistimos globalizao neoliberal com aes de massa,pacficas, mas contundentes, impedindo de-salojamentos, realizando ocupaes de terrasimprodutivas e de latifndios, mobilizando asruas, ocupando edifcios pblicos para sermosouvidos, sempre abertos ao dilogo para aconstruo de alternativas, entretanto com acerteza de que a terra no se negocia. Do

    Banco Mundial, da FAO e da OMC divulgaram--se concluses que pretendiam responsabilizarpela fome o atraso tecnolgico e a ascen-so dos camponeses e decretaram O Fim doCampesinato, como circunstncia do Fim daHistria de Fukuyama. A proposta do capitalpara a agricultura foi a revoluo verde emsua verso transgnica.

    Hoje, j com mais de trs anos de discussoformal no mbito do Conselho de Direitos Hu-manos da ONU se consolida o processo em di-reo a uma Declarao dos direitos dos cam-

    poneses e outras pessoas que trabalham nomeio rural, com vista consecuo de umaDeclarao nas Naes Unidas e construode uma Conveno Internacional dos DireitosCamponeses, para ampliar e hierarquizar di-reitos existentes e consolidar novos direitos.Um caminho que os povos indgenas e de for-ma similar as organizaes das trabalhadorase dos trabalhadores j percorreram. Emboraa caracterizao terica dos sujeitos s vezespode se sobrepor a indgenas, trabalhadores

    ou camponeses, existem na atualidade inume-rveis situaes que mantm vazios de juris-prudncia em relao ao respeito dos direitoshumanos segundo a cultura e a identidade. Odireito terra, por exemplo, pode ser um as-pecto determinante para o desenvolvimentoda vida e de muitos outros direitos. Assim,uma camponesa, que se sente parte/filha daterra e da natureza, ao ser despojada da mes-ma, perde parte do seu ser, alm de seu lugarde estar, fica incompleta, com sua identidade

    ferida. Tanto as observaes gerais dos DESC(direitos econmicos, sociais e culturais) comoas recentes Diretrizes Voluntrias da Terra queaprovou a FAO, vo nesse sentido, contudo,ao serem somente orientaes, os estados noesto obrigados a cumpri-las. O poder judi-cial, geralmente ligado ao poder econmico,desconhece todos esses instrumentos.

    Na atualidade, ns, camponesas e campone-ses, estamos expostos a violaes sistmicasDiego Montn, integrante da Secretaria Ope-

    rativa da CLOC-VC

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    de nossos direitos. O capital financeiro damo de empresas transnacionais desencadeouuna grande ofensiva para subordinar os bensnaturais, a terra e a agricultura, aos interessesda banca internacional, destruindo mercados

    locais, desalojando camponeses, arrasandomilhes de hectares de bosques, provocandodeslocamentos e migraes, gerando a maiorcrise alimentar da histria da humanidade. Amercantilizao dos alimentos e a concentra-o do setor agroalimentar permitem aos gru-pos corporativos manipular os preos e regularo abastecimento de alimentos nos mercados,ocasionando, em muitos casos, que esses inte-resses condicionem e pressionem os governos,lesionando seriamente as democracias.

    Em 2012, o governo da Bolvia, sob a presidn-cia de Evo Morales, que participou do inicioda CLOC Via Campesina, assumiu o desafio,apresentando o Projeto de declarao dosdireitos camponeses e de outras pessoas quetrabalham nas zonas rurais no Conselho deDireitos Humanos, conseguindo uma resoluoque deu incio a um processo formal e a cria-o de um Grupo de Trabalho (GT).

    Em 2014, uma nova resoluo do Conselho,

    patrocinada por 11 governos, entre eles os daBolvia, Cuba, Equador, Argentina, Filipinas,frica do Sul, ratificou a necessidade des-sa declarao. Em fevereiro de 2015, o GTapresentou um novo projeto. No prembuloestabelece: Reconhecendo a contribuio

    passada, presente e futura dos campone-ses para a conservao e melhora da bio-diversidade e para assegurar a soberaniaalimentar, fundamentais para o sucesso dosobjetivos de desenvolvimento convenciona-

    dos internacionalmente (...). Reconhecendoque, a fim de garantir a soberania alimen-tar das pessoas, fundamental respeitar,

    proteger e promover os direitos reconheci-dos nesta Declarao(...).

    Em seus artigos, ratifica os direitos que jexistem em outras declaraes, como porexemplo, o direito vida, ao trabalho digno, sade, e se explicitam novos direitos paraos camponeses e obrigaes dos estados a

    respeito. Entre eles, o direito terra, pro-priedade coletiva, s sementes, aos meios deproduo, ao acesso aos mercados e preosjustos, agua de consumo e de produo, aouso e gesto dos bens naturais, e a no serem

    prejudicados por agrotxicos e transgnicos.O diretor da FAO, Graziano da Silva, tambmavaliou a necessidade de uma declarao dosDireitos Camponeses, mediante uma video-conferncia em uma das reunies de GT, nasquais explicou o papel estratgico da agricul-tura camponesa na luta contra a fome.

    Na jornada, foram somando-se aliados impor-tantes como a UITA (Unio Internacional deTrabalhadores Agrcolas), CITI (Conselho Inter-nacional de Tratados Indgenas), WAMIP (Alian-a Mundial de Povos Indgenas Mveis), WFFP(Frum Mundial de Povos Pescadores), FIMARC(Federao Internacional de Adultos RuraisCatlicos), junto a ONGs como FIAN, CETIM,CELS, que acompanham o processo. Destamaneira j no apenas uma proposta da ViaCampesina, mas uma petio de uma granderede de organizaes populares de produtoresde alimentos.

    Embora haja resistncia dos que defendem osinteresses das corporaes, o processo contacom o apoio do Grupo Amrica Latina y el Ca-ribe (GRULAC) e do G77 + China, assim que odebate daqui para a frente vai se centrar nocontedo, j que se assumiu mais do que certaa necessidade da Declarao.

    por isso que concentraremos a presso enegociao em elementos estratgicos comoo direito terra, a funo social da terra, e

    a necessidade de profundas reformas agrriascomo obrigaes dos estados assim como a de-finio do tema da declarao, a necessidadede garantir a vida digna no campo, em termosde servios, sade, educao etc...

    A atual crise geopoltica, na qual os EstadosUnidos vai perdendo paulatinamente a hege-monia global, tem permitido um dilogo maiorpara a Governana Internacional, assim comoa disputa de juzos e acordos com respeito s

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    solues para a crise alimentar e climtica.Todavia, para a Via Campesina, claro queenquanto as instituies e as economias na-cionais ou regionais estejam controladas emmaior medida pela burguesia, o plano de ao

    de movimento popular continuar requerendouma luta ativa e frontal contra as corporaese capital financeiro, sendo a principal ferra-menta dos povos a ao direta, a organizaoe a luta de massas. Esta Declarao ser uma

    importante contribuio neste sentido, em ummomento histrico da Amrica Latina, onde estratgica a defesa dos processos populares,democrticos e os direitos conquistados, eisso s possvel com o aprofundamento das

    transformaes.

    Traduo: Sergio Barboza(Coletivo Chasqui)

    http://www.cloc-viacampesina.net/
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    Caminho ao socialismo

    Integrao dos povos-Integrao regional

    Edgardo Garca

    Breve histria da IntegraoLatino-Americana

    Amrica Latina e o Caribe so povos unidospor sua longa histria de lutas contra o colo-nialismo e atualmente contra o imperialismoe o seu capital transnacional. Em suas ori-gens, as culturas milenares se desenvolveramem todo o continente, aquelas que impulsio-naram o comrcio, a cincia e a cultura, umasno declnio e outras no pice de seu processo.

    A solidariedade, a complementaridade e a co-operao foram elementos fundamentais quefacilitaram processos da integrao econmi-ca e social frente submisso do neocolonia-lismo que o imprio impulsiona.

    A proximidade geogrfica facilitou processosintegracionistas durante toda a histria recen-te dos povos de Amrica Latina e do Caribe,por razes territoriais, culturais, de cosmovi-so e identidade. Foi no comeo do sculoXIX que as tenses polticas e as rivalidadeseconmicas e sociais aceleraram processosindependentistas subregionais, desde o gritodo Ipiranga no Brasil, at o grito de Doloresno Mxico. Em todo o continente, por mais

    de 500 anos, encenaram-se lutas populares derevolta contra a imposio colonial e a des-truio violenta das condies de vida pelos

    povos originrios.

    Nesta travessia, a criao da Gr-Colmbiado Libertador Simn Bolivar e a criao dasprovncias unidas da Amrica Central pelo ge-neral Francisco Morazn tiveram a intenocriar povos livres. Da mesma maneira, Jean--Jacques Dessalines, em sua primeira etapa,obteve a primeira nao independente no Hai-ti. Mais tarde, os libertadores da Amrica doSul, Bolvar e San Martn, se encontraram em

    Guayaquil e aceleraram a independncia.

    Aproximadamente 110 mais tarde, AugustoCsar Sandino prope trabalhar pelo sonho su-premo de Bolvar, o 20 de maro de 1929, aosrepresentantes dos governos dos 21 Estadoslatino-americanos.

    Nos ltimos anos, por circunstncias polticase econmicas, os pases da regio conforma-ram diversos organismos de integrao, mui-

    tos deles associados mobilidade de capitais,para fortalecer o modelo econmico e social;incluindo at tratados militares-polticos. Al-guns destes ainda permanecem, como o casodo Mercosul, do Sistema de Integrao Centro--Americana (SICA) e da Comunidade do Caribe(CARICOM). A crise poltica na regio, a in-competncia destes acordos na regio, levou--os ao colapso, como mecanismos de integra-o superficial e de resultados discretos.

    Edgardo Garca lder da Associao dosTrabalhadores do Campo (ATC) da Nicargua;atual coordenador da CLOC-VC da AmricaCentral e membro da comisso coordenadorainternacional VC.

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    A integrao dos governos

    O ascenso de governos progressistas promoveuespaos para construir uma nova integrao.Chegamos assim na era do governo do Coman-

    dante Hugo Chvez, que ao lado do Coman-dante Fidel Castro caminharam para a criaodo Aliana Bolivariana para os Povos de Nos-sa Amrica (ALBA) a fim construir a unidadena Amrica Latina e no Caribe. Dentro destemarco se concretizou acordos econmicos, po-lticos, culturais, energticos e sociais. Nelesconvergem os governos os mais progressistasda regio, junto implementao do TratadoComercial dos Povos.

    Vale destacar a disposio da ALBA para con-ter a voracidade do imprio e da subordinaodos povos e governos dvida externa, pas-sando por cima das necessidades de atenobsica e da gerao de emprego e seguranasocial, cujo o melhor exemplo se viu na fra-ternidade entre Chvez- Kirchner no impulsoemancipador do povo e do governo argentino.

    Situao que provocou que hoje falemos deuma Cpula das Amricas com a presena do

    governo de Cuba. No se resolveu o bloqueioextra regional que impe os Estados Unidos,mas cada vez mais o coro das naes da Am-rica e do mundo leva para a mesa poltica estee outros problemas coloniais que o imperialis-mo no aceita liberar e resolver.

    O panorama da Amrica Latina e do Caribejuntou muitos lderes da regio para a criaoda Unio das Naes Sul-Americanas (UNA-SUL), e finalmente a conformao da Comuni-

    dade dos Estados Latino-americanos e Caribe-nhos (CELAC).

    A integrao que ns necessitamosconstruir

    Desde a Coordenadora Latino-Americana dasOrganizaes do Campo e da Via Campesina,ns falamos de uma unidade integracionistapara estabelecer sinergias que melhorem ascondies de vida dos povos, a justia social,

    a equidade e complementaridade para umasociedade mais igualitria visando ao socialis-mo.

    A integrao implica processos em que o ca-

    pital nacional se organiza para confrontar amundializao com maior competitividade emaior incremento de ganhos. A internaciona-lizao fora os grandes grupos capitalistas ase associar em blocos; se no morrem como asoligarquias. No o mesmo SICA, MERCOSUR,que a ALBA.

    Os movimentos sociais para ALBA

    A articulao dos movimentos sociais para a

    ALBA uma proposta de integrao continen-tal anti-imperialista, antineoliberal e antipa-triarcal, impulsionada pelos movimentos dabase social organizada e com capacidade demobilizao popular, que lutam pela igualda-de, pela liberdade e por uma emancipao au-tntica na regio.

    Este processo foi criado com as organizaessociais dos movimentos, no obstante, notem conseguido uma interao com os gover-

    nos porque suas intenes so diferentes.

    Os pases da Amrica Central e do Caribe sebaseiam mais na aplicao dos acordos da Pe-trocaribe, que colocar nesses pases petrleoe derivados atravs de emprstimos brandos;em parte pagos por servios e pela produoalimentar. A mudana na Amrica do Sul aindarequer mais trabalho para encontrar esse fiocondutor de articulao e complementaridaderegional.

    A reflexo acima destacada revive de novoos temas da CLOC-VC para a contradio e acomplementaridade regional e nacional com aagroindstria ante o slogan DO BEM VIVER.

    Desafios da CLOC - Via Campesina

    Os grandes desafios que o movimento campo-ns e indgena tem afetar os processos de in-

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    tegrao real para conseguir que nossos povosparticipem em igualdade de condies.

    Uma participao que deve ser para conquis-tar as polticas pblicas que beneficiam nosso

    setor, nos assuntos de soberania alimentar epara a realizao de uma reforma agrria ge-nuna e popular.

    O debate pendente

    Os debates e as aes para afetar os espaosde poder so e continuaro sendo o sustentodo internacionalismo trabalhador, campons epopular.

    Deve-se propor ao movimento popular a lutapara alcanar o poder, a fim de que a classetrabalhadora obtenha condies de vida me-lhores. Esta uma luta de raiz social e pol-tica desde os indicadores do desenvolvimentohumano e dos investimentos financeiros, or-amentrios, para enfrentar o analfabetismo,a dvida externa, a distribuio da terra e dariqueza que so a base para a orientao dodesenvolvimento para alm do caos causadopelo neocoloniasmo.

    Lutar por uma sociedade no patriarcal, jque esta afasta as mulheres dos centros de

    poder. Em todos os espaos da articulao,ns devemos nos esforar para a equidade degnero e para a participao real dos jovens.

    Ampliar uma estratgia desde a CLOC - VC,

    para a atendar a CELAC, a UNASUL e ALBA--TCP.

    Globalizar nossa viso das experincias de ar-ticulao regional do movimento social comfrica, sia Brics.

    Para aprofundar nossa viso e mtodos dealiana com a classe trabalhadora, sindicatosorganizados, consumidores/as, ambientalistaspor regio, e com os que vivem nos pases da

    Europa, nos Estados Unidos e no Canad.

    Para terminar, um balano de nossa relaocom a ONU e suas distintas instncias.

    Desde a CLOC - VC, insistimos a passar doacordo, do tratado da integrao, para a al-ternativa da responsabilidade social comparti-lhada porque essa a base socialista de cadaum de acordo com sua responsabilidade e suacapacidade.

    Traduo: Joo Gabriel Almeida(Coletivo Chasqui)

    En el ao de la agricultura familiar:

    Polticas y alternativas en el agro

    No. 496, junio de 2014

    Osvaldo Len, Joo Pedro Stedile, Micl Savia,

    Horacio Martins de Carvalho, Franois Houtart,

    Elsy Vera, Emilio Garca, Diego Montn y

    Deo Carrizo

    http://www.alainet.org/es/revistas/165257http://www.alainet.org/es/revistas/165257http://www.alainet.org/es/revistas/165257
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    A agroecologia: base da

    soberania alimentarRilma Romn e Marlen SnchezA

    humanidade hoje est ameaada,submetida a mltiplas crises de carter

    estrutural: poltica, energtica, econmica,ambiental e alimentar.

    Desde o ano de 1992 no Frum Global, Fidel

    Castro alertou: Uma importante espcie bio-lgica est a ponto de desaparecer pela rpi-da e progressiva eliminao de suas condiesnaturais de vida: o homem.

    Como se definiu no Primeiro Encontro de Agro-ecologia e Sementes Camponesas (Crioulas),realizado na Tailndia, no mundo de hoje emdia, nosso sistema de alimentao e as formasde vida rural esto sob ataque do capital fi-nanceiro internacional e as corporaes trans-

    nacionais, que contam com o apoio de gover-nos, acordos de livre comrcio e instituiesfinanceiras internacionais como a OrganizaoMundial do Comrcio (OMC), Fundo MonetrioInternacional (FMI) e do Banco Mundial.

    A reestruturao neoliberal, liberalizao,privatizao e desregularizao criaram ocenrio para uma onda, dirigida pelas crisesrecorrentes do sistema capitalista, de novainverso e capitalizao do agronegcio e ou-

    tras empresas que exploram os recursos natu-rais para agroexportaes, agrocombustveis,plantaes industriais (desertos verdes),

    minerao, represas e outras grandes infra-estruturas, turismo, venda de agrotxicos etransgnicos.

    O capital tem redescoberto reas rurais emuma escala no vista desde a era da conquista

    colonial, isso levou a grilagem em escala mas-siva, levando os povos camponeses e indge-nas, e a outros povos do campo, a uma verda-deira guerra pela terra e o territrio com astransnacionais, o capital e os governos, cujasforas repressivas esto expropriando e des-locando as populaes rurais e criminalizan-do seus movimentos, enquanto que os meiosde comunicao dominantes, pertencentes aocapital, estigmatizam o protesto social.

    Quando os povos rurais perdem suas terras eterritrios, estes caem nas mos do agroneg-cio e outros grileiros. O agronegcio promoveo monocultivo industrial que produz comidacara e no saudvel, que faz com que as pes-soas adoeam, que destri a vida social dascomunidades rurais, levando migrao mas-siva, que envenena a terra com agrotxicose transgnicos, e que parte de um sistemaalimentar global corporativo que uma dasprincipais fontes de emisses de gases de efei-

    to estufa, que esto causando o aquecimentoglobal.

    A mudana climtica, hoje, uma realidade:o aumento das temperaturas e do nvel domar, existem grandes contaminaes da terrae das guas, baixa fertilidade dos solos, poucadisponibilidade de gua, diminuio da biodi-versidade, se aumenta os eventos climticosextremos que ocasionam severos dados as co-munidades e ecossistemas, ampliando a vulne-

    Rilma Romn Nogueira engenheiraagrnoma, membro da ANAP-Cuba. Coordenao coletivo Semente Agroecolgica e Biodiversi-dade da CLOC e a Via Campesina Internacional.Marlen Snchez, da ATC de Nicargua, gra-duada do IALA de Venezuela.

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    rabilidade das populaes mais empobrecidas,em particular as mulheres indgenas e rurais.

    Soberania alimentar

    A Via Campesina promove, desde 1996, a pro-posta de Soberania Alimentar como um objeti-vo estratgico e como resposta ao conceito deSegurana Alimentar que tem ocasionado maisfome e pobreza s famlias camponesas.

    A Soberania Alimentar um conceito alterna-tivo que se apoia aos povos e sua luta contraas polticas neoliberais, como aquelas impos-tas pelas instituies financeiras internacio-nais, a OMC e as corporaes transnacionais

    do agronegcio, atravs do livre comrcio.

    A Soberania Alimentar o direito dos povos adefinir suas polticas agrcolas e de alimentos,a proteger e regular sua produo nacionalagrcola e agropecuria, a proteger seus mer-cados domsticos do dumping dos excedentesagrcolas e das importaes a baixos preos deoutros pases.

    A Soberania Alimentar consiste em organizar a

    produo e o consumo de alimentos de acordocom as necessidades das comunidades locais,outorgando prioridade produo e o consu-mo domsticos e locais. Em consequncia, ostrabalhadores sem-terra, o campesinato e apequena agricultura devem ter acesso terra,a gua, as sementes e aos recursos produtivosassim como uma oferta adequada de serviospblicos.

    A agroecologia

    Desde a Coordenao Latino-americana deOrganizaes do Campo (CLOC) e a Via Cam-pesina Internacional (VC) promovemos a agro-ecologia como o nico caminho, pertinente,vivel e eticamente admissvel para conquis-tarmos a soberania alimentar, com a unio dasforas, vontades e capacidades de todos nos-sos povos.

    Identificamos a agroecologia como patrim-nio dos povos rurais e ancestrais a servio dahumanidade, um modo de ser, de viver eproduzir, tem bases biolgicas e sociais, comuma forte relao com a natureza, com en-

    foque de gnero, com elevada diversificao,reciclagem de produtos e insumos, grandeautonomia a partir do autoabastecimento e oabastecimento local e regional de alimentossaudveis.

    De forma coletiva e em numerosos encontrosde intercmbios nacionais e internacionais,temos sistematizado as experincias prti-cas da aplicao da Metodologia Campons aCampons ou sensivelmente h utilizao de

    prticas agroecolgicas nos pases que inte-gram a CLOC e Via Campesina, e temos che-gado, ao longo de vrios anos de trabalho, aosseguintes resultados:

    A agroecologia integra-se com a humanidadeem harmonia e em equilbrio com a natureza,no a vemos afastada, est muito vinculadapelas lutas pela terra, o territrio, o acesso agua, aos mercados nacionais e locais, o quepropicia autonomia. Se inicia com os campo-

    neses e camponesas, os povos tradicionais eas sementes indgenas. Constitui um processosocial, cultural e poltico e uma ferramen-ta para a transformao coletiva da realida-de, se baseia no intercmbio, a cooperaoe a ao coletiva entre os povos, no dilogohorizontal dos conhecimentos camponeses eindgenas e os conhecimentos cientficos, integral, poltica e respeita a Me Terra. Asmulheres representam um papel fundamentalajudando a construir novas relaes dentro dafamlia contra o patriarcado, oferecem aten-o a novas oportunidades aos jovens, liber-tadora e fortalece nossa identidade coletivacomo camponeses, povos indgenas e outraspopulaes rurais, sociais e culturais, produzalimentos saudveis, comunitria e com va-lores anticapitalistas.

    Estamos contra e enfrentamos os agrotxicos,os transgnicos, o monocultivo, os agroneg-cios, a substituio de insumos e a agricultura

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    orgnica neoliberal que mantm o monoculti-vo, as leis e tradados de sementes e sua mer-cantilizao, o verticalismo e a privatizaodos conhecimentos, a propriedade intelectualsobre a vida, a grilagem e os grandes latifn-

    dios privados, o patriarcado e outras formasde explorao, o ataque contra o capital e oneoliberalismo que provoca fome, desnutrioe crises no mundo.

    Nossa proposta continuar promovendo aagroecologia entre todas as organizaes daCLOC e Via Campesina atravs de programasde formao, visitas de intercmbios, produ-o e distribuio de materiais educativos e aidentificao e documentao de casos exito-

    sos; promovemos a criao de programas, es-colas e institutos de formao agroecolgicos(IALAs) e programas de Campesino a Campesi-no; a defesa e o fortalecimento dos sistemasde sementes camponesas locais, a luta pelaterra e a gua; exigimos aos governos em to-dos os nveis a adoo de polticas pblicasque favoream a agroecologia e a soberaniaalimentar.

    So muitas as metas e desafios ao longo do

    nosso caminho at alcanar a soberania ali-mentar de nossos povos, por isso damos gran-de importncia a formao de novas geraescom a criao e implementao de IALAs queformam militantes e/ou membros, que so no-meados pelos movimentos camponeses, ind-genas e afrodescendentes organizados no con-tinente como profissionais integrais altamentecapacitados para a transformao social, ca-pazes de contribuir significativamente com aagricultura autnoma, para a soberania ali-mentar, com a consolidao dos movimentossociais camponeses, para o aprofundamento

    de uma convivncia democrtica, participati-va e protagonista das comunidades, sempre nombito da inteirao construtiva, ideolgica ecriativa.

    Estes institutos se visualizam a mdio prazocomo centros de educao superior que for-maro estudantes latino-americanos e cari-benhos provenientes da base dos movimentossociais camponeses, quem, ao regresso a suasregies de origem, contribuiro com o desen-volvimento endgeno, integral e agroecolgi-co de sua regio e a fortalecer as lutas contrao neoliberalismo, os agronegcios capitalistas,a dependncia em todas suas formas e a de-predao ambiental. Seu trabalho estar dire-

    tamente orientado para alcanar a soberaniaalimentar e a integrao solidria dos povosda Amrica Latina, do Caribe e do mundo.

    A CLOC/VC, em um contexto de tremendosembates ao capital, prope grandes desafiosque buscam passar de uma lutar mobilizadoraa uma estratgia de formao constante epermanente nos campos polticos, ideolgicose tcnicos dos e das militantes que assumi-ram objetivos claros para a continuidade da

    luta do movimento campesino. A educao eos IALSs promovem a formao de estudan-tes camponeses como profissionais integrais,com uma nova tica que contribua com a or-ganizao dos trabalhadores rurais, indgenas,pescadores artesanais e camponeses na cons-truo e fortalecimento de um novo modo deproduo, orientado pelo socialismo, apoiadona agroecologia.

    Traduo: Taisa Lewitzki

    (Coletivo Chasqui)

    http://www.integracion-lac.info/
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    Migrao e juventudes

    camponesas, indgenas eafrodescendentesSayra Ticay e Gonzalo Galvn

    Na Amrica Latina e no Caribe existem apro-ximadamente 130 milhes de jovens entre

    15 e 30 anos, sendo o nosso continente conhe-cido como o mais jovem. Em um contexto emque a grande maioria dos pases da AmricaLatina e do Caribe afirmam ter conseguido umbom desempenho econmico, sobrepondo-sepaulatinamente aos impactos da recente crisefinanceira internacional, os/as jovens aparen-temente contam com as condies favorveispara o seu desenvolvimento integral em dife-rentes mbitos de sua vida. Mais escolarizadosdo que as geraes anteriores, com um maiordomnio das novas tecnologias e uma maior

    adaptabilidade em comparao aos adultos,teriam maiores oportunidades de ascender amelhores condies de trabalho e perspecti-vas de carreira.

    Ainda assim, a situao do trabalho e ou-tros fatores pem aos/s jovens um desafiopoltico nesta regio porque seus desejos detrabalhar e de construir uma vida a partir deseus empregos esbarram com a realidade deum mercado de trabalho no qual devem se de-

    frontar com um alto desemprego e a informa-lidade.

    As foras econmicas e polticas tm encon-

    trado maneiras distintas de atrair fora detrabalho barata e vulnervel para assegurara competitividade de diversos setores produ-tivos. As diferenas entre o desenvolvimentoeconmico das naes e suas populaes, ademanda dos pases desenvolvidos de forteenvelhecimento demogrfico, assim como asconjunturas polticas e sociais que enfraque-cem a seguridade social tm feito crescer omal da migrao, convertendo-o em um de-safio, sendo esta o resultado da inter-relaode fatores estruturais e condies individuais.Os modelos estruturas ajudam a entender ocontexto da ao social dos diferentes agen-

    tes, mas em nenhum caso permitem entendere explicar tal ao.

    Na atualidade, o fluxo migratrio mais impor-tante a nvel mundial o dos trabalhadorespouco qualificados da Amrica Latina e do Ca-ribe at os Estados Unidos. Este padro tam-bm se reproduz na migrao inter-regional,onde pases antes de destino como Argentina,Costa Rica ou Venezuela tm perdido sua im-portncia para a emergncia de novas econo-

    mias como Brasil, Chile, Colmbia ou Mxico.Mesmo que os Estados Unidos continuem sen-do o principal receptor, ganham cada vez maisimportncia o Canad, a Alemanha, o Japo ea Austrlia, fato induzido por polticas migra-trias organizadas bilateralmente para pesso-as que busquem trabalho, asilo ou solicitem acidadania de seus pais ou avs. A complexida-de das migraes na regio tal que muitasnaes so ao mesmo tempo pas de origem,de destino e de trnsito.

    Sayra Carolina Ticay Lpez, Movimiento Ju-venil del Campo MJC-ATC Nicargua. Juven-tude CLOC-VC Amrica Central e Articulaode Jovens CLOC-VC.Gonzalo Galvn, Juventude MNCI Argentina.Articulao de Jovens CLOC-VC.

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    Transculturao

    Para os jovens migrantes, a insero laboral esocial pode ser menos traumtica quando setrata de regies e pases cultural e geografica-

    mente vizinhos. No atual momento de grandemobilidade populacional e ante a relao in-tensa entre culturas diferentes, pode obser-var-se a formao de comunidades transnacio-nais, onde as trocas mantm traos de uma eoutra cultura (e outras ainda) e que por suavez transformam as culturas originais no quens chamamos transculturao.

    A migrao jovem tem importantes conse-quncias sobre a estrutura de populao dos

    lugares de origem e de destino. Os jovens quemigram no so os nicos componentes ativos;os que no migram tm uma grande importn-cia, pois so eles que podem e devem facilitara insero e evitar prticas xenfobas contraaqueles que vm viver em seus lugares.

    A juventude migrante, pobre e sem capital hu-mano suficiente para competir na sociedadedo conhecimento o setor mais vulnervel,ainda mais se a sua condio migratria ile-

    gal. O conhecimento do mercado de trabalhoestado-unidense, a idade e a prpria experi-ncia laboral do migrante definem condiesdiferentes. Assim, um a cada cinco jovensou adolescentes, se no encontra emprego,voltam a seus pases (se tm sorte, j que grande a travessia em que podem perder atmesmo suas vidas para poder chegar ao pasque tinham em mente).

    Ns, jovens da CLOC-VC da Amrica Latina,

    vemos a grande escala de migrao de nos-sas juventudes do campo e da cidade, j queem alguns pases os governos tm empregadomal os recursos do Estado, favorecendo os em-presrios nacionais e transnacionais, deixandoassim vulnervel a juventude do campo e dacidade de baixos recursos econmicos, geran-do pobreza, pobreza extrema e inseguranaque abatem os nossos pases. Grandes contin-gentes de populao jovem migram para ascidades mais importantes de seus pases, at

    outros pases da regio e at outros continen-tes, aos Estados Unidos e Europa, em buscade emprego para ajudar suas famlias. GrandeParte desta populao jovem e em sua maio-ria, mulher.

    As principais causas da migrao identifi-cadas em nossa regio so:

    - Carncia de investimento produtivo nazona rural e falta de polticas como a re-forma agrria para favorecer a populaorural, indgena e afrodescendente.

    - M qualidade dos servios bsicos (educa-o, sade, moradia, entre outros).

    - Altos nveis ou porcentagens de pobrezaextrema.

    - Insegurana, criminalizao e perseguiopor apoiar lutar por direitos.

    - Existncia de feminicdios.

    - Desapropriao forada.

    - Endividamentos.

    - O desemprego como principal causa.

    - A necessidade de contribuir para com aeconomia domstica, ou de sua prpria so-brevivncia, que faz que os adolescentesdeixem de estudar para buscar um empre-go.

    - Reunificao familiar: quando os pais estolonge de seus filhos, veem como a forma demandar traz-los para reintegrar a famlia.

    - Violncia intrafamiliar, que tem feito comque adolescentes e jovens fujam de seuslares para preservar sua integridade fsica,em especial quando pai ou me se envolveem uma nova relao conjugal.

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    Os efeitos da migrao podem serclassificados em trs aspectos:

    Nas famlias: h a desintegrao familiar.Se j so pais, deixam seus filhos e filhas

    em responsabilidade dos avs que em suaadolescncia so presas fceis aos vcios egravidez indesejadas, entre outros.

    Na comunidade: h uma baixa porcentagemde liderana juvenil para incorporar-se nosgovernos locais ou comits que possam velarpelo bem estar da populao. As polticas ne-oliberais no do oportunidade juventudede integrar-se produtivamente sociedade.Como mencionvamos anteriormente, no h

    polticas concretas de formento produocamponesa nem ao desenvolvimento integralda populao do campo.

    Sociedade: logicamente h uma mudanadrstica dacultura ou transculturao, uns re-gressam e outros no regressam a suas regiesde origem; em sua maioria, quando regres-sam, voltam descapacitados e descapacita-das, tendo perdido sua identidade e voltadocom vcios ou prticas novas como as drogas

    e a criminalidade, que em vez de levar ao de-senvolvimento das sociedades, fomentam suaprpria destruio.

    A juventude migrante, quando inicia sua tra-vessia em busca de novas e melhores oportu-nidades para desenvolver-se, encontra-secom inmeras coisas que atentam contra suavida e integridade, sendo estas:

    No transcurso da viagem:

    - Trfico de pessoas.- Violncia e prostituio involuntria.- Delinquncia organizada.- Diversos tipos de acidentes (descarrilamen-

    to de vages, ataques de bandos, etc.)- Operaes policiais nas fronteiras que os

    obriga a buscar rotas alternativas, onde osriscos de perder a vida so maiores.

    - Sequestros.- Desapario.- Torturas.

    - Narcotrfico.- Extorso.

    Ao chegar ao seu destino:- Discriminao racial e xenofobia.

    - Explorao do trabalho.- Insegurana pessoal.- Assdio sexual.- Perda da dignidade humana.- Perda da identidade cultural.

    Desenvolvimento integral dos povos

    Nossas organizaes CLOC/VC desempenhamum papel importante para o desenvolvimen-to integral de nossos povos partindo da rei-

    vindicao dos direitos humanos, acesso aosbens comuns e Soberania Alimentar, sendotambm a migrao um dos nossos eixos deluta de trabalho com dois enfoques: promo-ver e garantir o direito que como ser huma-no tem cada um e cada uma dos migrantese definir estratgias e aes para que o pro-blema migratrio diminua. Atualmente se esttrabalhando em um plano de ao dirigido aminimizar este mal.

    Temos que definir estratgias, aes e apre-sentar propostas de polticas pblicas aosgovernos para que se faam frente a estaproblemtica, j que estes consideram queaumentando o investimento estrangeiro gerar--se- mais emprego e, assim, minimizar-se-a migrao, mas se esquecem de proteger efomentar a produo nacional e o desenvolvi-mento comum, deixando expostos os direitosdos trabalhadores e das trabalhadoras s gran-des empresas e empresrios nacionais capita-

    listas.

    Estamos apostando, com nossas organizaes,na formao poltico-ideolgica e tcnica, as-sistncia e assessoria tcnica e legal, projetosalternativos favorveis ao meio ambiente, quesejam autossustentveis e gerem uma alterna-tiva econmica s juventudes em suas comu-nidades e assim evite sua migrao, promo-vendo o seu desenvolvimento integral.

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    Alguns pases contam com secretarias para ajuventude nas quais observamos muitas debi-lidades para proteger e promover verdadei-ramente o desenvolvimento da juventude; ossistemas educativos e de sade so limitados,

    o que deixa uma grande porcentagem dos jo-vens sem poder acessar estes benefcios; porisso, devemos interferir com propostas con-cretas nestes espaos a fim de que se possamgerar melhores oportunidades de desenvolvi-mento para o nosso setor nos nveis educativo,produtivo e laboral.

    Como jovens da CLOC-VC, vamos impulsionaruma grande campanha de incidncia polticaa favor da juventude para que esta no seja

    discriminada e excluda em todos os processosagrrios, educativos e de sade, e para queseja tomada em conta como sujeito de direito

    e ator indispensvel para o desenvolvimentopoltico, econmico e social de cada um dospases. Demandamos o acesso terra e aosmeios de produo, e vemos a agroecologiacomo a nica alternativa e caminho para con-

    seguir a soberania alimentar de nossos povos.

    Juventude resgatando nossas vidas,nossa identidade,

    Regatando nossa me terra, dizemosbasta de migrao, basta de violao

    de nossos direitos humanos.

    Queremos viver e querermos viver empaz.

    Traduo: Coletivo Chasqui

    http://www.revistachasqui.org/
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    Aparticipao das mulheres com propostas,aes e reivindicaes prprias na Coor-

    denao Latino-Americana de Organizaesdo Campo (CLOC-VC) como tambm na ViaCampesina internacional se traduziu em umprocesso de progressiva afirmao no senti-

    do do reconhecimento pleno da organizao.Os congressos da CLOC, desde sua segundaedio, esto precedidos de uma AssembleiaContinental de Mulheres do Campo. A V As-sembleia ter lugar em Buenos Aires, de 12 a13 de Abril de 2015.

    Aspectos como o princpio de paridade de par-ticipao em todos os nveis ou a luta contraa violncia s mulheres, j no so s deman-das das mulheres, mas tambm polticas assu-

    midas pelo conjunto da CLOC-VC. Assim, porexemplo, em 2012, a CLOC-VC afirma:

    Lutamos para construir um projeto desociedade global, justo e igualitrio,ns campesinas e campesinos recha-amos toda forma de violncia contraas mulheres e desde nossa Assembleiachamamos a continuar denunciando efazendo frente violncia intrafami-liar no campo e a violncia que aconte-

    ce na maior parte do mundo contra asmulheres nas empresas e no trabalhoassalariado. Saudamos a organizaoe a luta das mulheres por sua emanci-pao e por avanar na igualdade degnero e sua participao nos espaosde poder.

    (Concluses da Assembleia Conti-nental da CLOC-VC, Mangua)

    O debate sobre o feminismo tambm est pre-sente dentro da Coordenao, como constanas concluses da IV Assembleia de Mulheres(Quito, 2010): reafirmamos nossa vontadede continuar lutando para que a proposta fe-minista continue contribuindo para definir as

    mudanas socialistas que ansiamos, pelo quelutaremos sem cessar at que as foras combi-nadas do capitalismo e do patricarcado sejamparte do passado. Se trata, justamente, dedesenvolver uma proposta de feminismo cam-pesino, popular e socialista, pensando no snas mulheres, mas tambm em uma sociedademais justa, igualitria e em harmonia com anatureza.

    E acontece que, sem dvidas, os aspectos es-

    pecficos de gnero so um eixo central desuas aes; mas tambm de se destacar queas propostas e aes das mulheres da CLOC--VC abarcam uma temtica muito mais ampla. mais, em vrios aspectos da problemticado campo, elas assumiram lideranas e rei-vindicam ser historicamente as defensoras ouprotetoras das sementes da humanidade. Jus-tamente entre os temas de maior importnciadefinidos pelas mulheres esto, por um lado,a soberania alimentar, que implica produziralimentos saudveis, distribudos localmen-te; e por outro, as lutas em defesa da terra,da gua, da biodiversidade e das sementes,frente s empresas e corporaes de agrone-gcios.

    Erradicar a violncia

    Para Marina dos Santos, dirigente do Movi-mento Sem Terra do Brasil e integrante daComisso Poltica da CLOC-VC, as mulheres

    Mulheres do campo

    afirmam lideranasALAI

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    avanaram muito nos espaos organizativos,especialmente a respeito da participao dasmulheres e a poltica de paridade nas organi-zaes. Praticamente todas as organizaesque compem a regio sul-americana da VC

    tm definida uma poltica de paridade, co-mentou, em conversa com a ALAI, durante areunio de balano que a Articulao de Mu-lheres da CLOC-VC Sul Amrica realizou emQuito, em setembro de 2014.

    No obstante, ela diz que no