190
ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA ESTUDO DA VIABILIDADE DE FABRICAÇÃO DE DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES BASEADOS EM FILMES DE CARBETO DE SILÍCIO CRESCIDOS POR PECVD Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Engenharia São Paulo 2006

ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

ESTUDO DA VIABILIDADE DE FABRICAÇÃO DE DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES BASEADOS EM FILMES DE CARBETO DE

SILÍCIO CRESCIDOS POR PECVD

Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Engenharia

São Paulo 2006

Page 2: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

ESTUDO DA VIABILIDADE DE FABRICAÇÃO DE DISPOSITIVOS SEMICONDUTORES BASEADOS EM FILMES DE CARBETO DE

SILÍCIO CRESCIDOS POR PECVD

Tese apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutor em Engenharia

Área de Concentração:

Engenharia de Microeletrônica

Orientador:

Prof. Dr. Marcelo N. P. Carreño

São Paulo 2006

Page 3: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador. São Paulo, 25 de setembro de 2006. Assinatura do autor ____________________________ Assinatura do orientador _______________________

FICHA CATALOGRÁFICA

Oliveira, Alessandro Ricardo

Estudo da viabilidade de fabricação de dispositivos semicondutores baseados em filmes de carbeto de silício crescidos por PECVD / A. R. Oliveira -- ed. rev. -- São Paulo, 2006. 170 p.

Tese (Doutorado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos.

1. Carbeto de Silício 2. PECVD 3. Dispositivos Semicondutores. I. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos.II.t

Page 4: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, Celso e Clarisse, ao meu irmão Adriano e a minha noiva Adriana pelo carinho e apoio que me ofereceram em todos os momentos.

Page 5: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer primeiramente a FAPESP pelo auxílio financeiro, a

todos do Grupo de Novos Materiais e Dispositivos e principalmente ao meu

orientador Prof. Dr. Marcelo N. P. Carreño e a Prof. Dra Inés Pereyra pela

oportunidade e por toda dedicação.

A professora Márcia Carvalho de Abreu Fantini pelas medidas de XRD e

por todas as sugestões.

A professora Dra. Magali Estrada del Cueto pela amizade e colaboração

nos estudos de simulação dos transistores de filme fino.

Ao amigo Henrique Peres pelos processos de dopagem por implantação

iônica.

Ao amigo Gustavo P. Rehder pela ajuda no desenvolvimento das

máscaras de processo.

A Kátia Franklin pela inestimável ajuda com as medidas elétricas dos

capacitores e transistores MOS, por todas as sugestões e discussões e

principalmente pela amizade e apoio nos momentos difíceis.

Ao professor Dr. Manfredo H. Tabacniks e ao Dr. Marcel Dupret pelas

medidas SIMS.

Aos amigos Edison F. Motta, Emerson Arashiro, Alexandre T. Lopes,

Denise Criado, Márcia Ribeiro e Marco Alayo pela amizade, apoio no

laboratório e momentos de descontração.

Ao pessoal do Laboratório de Microeletrônica: Tereza, Rita, Márcio Valle,

João, Marco e Cristina pelo precioso apoio no processamento em sala limpa.

Page 6: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

SUMÁRIO

FICHA CATALOGRÁFICA ...................................................................................... i

LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. i

LISTA DE TABELAS ............................................................................................... vi

LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS .....................................viii

RESUMO .................................................................................................................... xi

ABSTRACT............................................................................................................... xii

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO............................................................................... 1

1.1 - INTRODUÇÃO ................................................................................................ 1

1.2 - OBJETIVOS ..................................................................................................... 3

1.3 - ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................ 4

CAPÍTULO 2 – ESTADO DA ARTE ....................................................................... 5

2.1 - INTRODUÇÃO À TECNOLOGIA DO SIC..................................................... 5

2.2 – O CARBETO DE SILÍCIO CRISTALINO (C-SIC) ......................................... 7

2.2.1 - Politipos e definições................................................................................. 7

2.2.2 - Propriedades elétricas............................................................................... 9

2.2.3 - Aplicações dos dispositivos baseados em SiC ......................................... 10

2.2.4 - Produção do SiC...................................................................................... 11

2.3 - O CARBETO DE SILÍCIO AMORFO HIDROGENADO (A-SIC:H) ............ 17

2.3.1 - Os mecanismos de condução nos semicondutores amorfos .................... 19

CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS................................... 25

3.1 - OBTENÇÃO DOS FILMES ........................................................................... 25

3.1.1 - Amostras depositadas com e sem diluição em hidrogênio ...................... 27

3.2 - TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO.......................................................... 30

3.2.1 - Perfilometria............................................................................................ 30

3.2.2 - Espectroscopia de Infravermelho (FTIR)................................................ 31

3.2.3 - Difração de raios X (XRD) ...................................................................... 32

3.2.4 - Condutividade elétrica no escuro............................................................ 33

3.2.5 - Espectrometria de massa de íons secundários (SIMS)............................ 36

Page 7: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

3.3 – METODOLOGIA........................................................................................... 41

3.3.1 – Processos de Fabricação ........................................................................ 41

I. Cristalização e corrosão dos filmes ............................................................. 41

II. Processos de dopagem................................................................................ 42

3.3.2 – Dispositivos............................................................................................. 50

I. Capacitores tipo metal-óxido-carbeto de silício (MOSiC) .......................... 50

II. Heterojunções SiC/Si ................................................................................. 61

III. Transistores de filme fino.......................................................................... 72

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................. 82

4.1 - PARTE 1: CRISTALIZAÇÃO E CORROSÃO DOS FILMES DE SIC ............................ 82

4.1.1 - Cristalização............................................................................................ 82

4.1.2 - Corrosão .................................................................................................. 90

4.2 - PARTE 2: DOPAGEM ......................................................................................... 95

4.2.1 - Dopagem in-situ com N2.......................................................................... 95

4.2.2 - Implantação iônica de boro (B+) e difluoreto de boro (BF2+) .............. 100

4.2.3 - Difusão térmica de alumínio ................................................................. 107

4.3 - PARTE 3: DISPOSITIVOS.................................................................................. 113

4.3.1 – Capacitores MOSiC .............................................................................. 113

4.3.2 – Heterojunções SiC/Si ............................................................................ 122

4.3.3 – TFTs de SiC........................................................................................... 132

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES ........................................................................... 140

TRABALHOS FUTUROS ..................................................................................... 144

ANEXO A – TRABALHOS DECORRENTES.................................................... 145

ANEXO B – CARACTERIZAÇÃO DOS CAPACITORES MOS .................... 147

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 158

Page 8: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Figuras

i

LISTA DE FIGURAS

Figura 2. 1 – Estrutura atômica do SiC: (a) ligações tetraédricas (b) camada

dupla hexagonal com átomos de silício e carbono ligando

tetraedricamente.............................................................................. 8

Figura 2. 2 – Seqüência de empilhamento de diferentes politipos de SiC:

(a) 3C-SiC, (b) 4H-SiC e (c) 6H-SiC.............................................. 8

Figura 2. 3 – Estrutura cristalina de diferentes polítipos de SiC mostrados

paralelamente ao plano (1120): (a) estrutura cúbica 3C-SiC,

(b) hexagonal 4H-SiC e (c) hexagonal 6H-SiC.............................. 8

Figura 2. 4 – Esquema do arranjo cristalográfico do politipo 6H-SiC..... 9

Figura 2. 5 – Desenho esquemático do processo de sublimação via

crescimento por semente. O processo é uma modificação do

processo original de sublimação de Lely........................................ 13

Figura 2. 6 – A esquerda uma lâmina de 6H-SiC de 2,5 cm fabricada pela Cree

Research em 1990, e a direita cristais de 6H-SiC obtidos pelo

método de Lely e Acheson.............................................................. 14

Figura 2. 7 – Microscopia de força atômica de um típico micropipe na

superfície de um 6H-SiC................................................................. 15

Figura 2. 8 – Densidade de spin Ns para filmes obtidos por GD e SP como

uma função de x. Os dados foram retirados da referência [64]...... 19

Figura 2. 9 – Densidade de estados para um semicondutor amorfo. EC e EV

separam o intervalo de energia entre estados localizados e não

localizados....................................................................................... 21

Figura 2. 10 – Esquema dos principais mecanismos de condução esperados em

semicondutores amorfos........................................... 22

Figura 2. 11 – Ilustração da dependência da temperatura com a condutividade.

A energia de ativação está associada com os vários processos

descritos anteriormente................................................................... 24

Figura 3. 1 – Representação esquemática do sistema PECVD utilizado para

obtenção dos filmes......................................................................... 26

Page 9: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Figuras

ii

Figura 3. 2 – Espectros de absorção na região do infravermelho do a-SiC:H

dos tipos C3680 e C3690H não-dopado......................................... 32

Figura 3. 3 – Esquema dos contatos elétricos para medida de condutividade. 34

Figura 3. 4 – Sistema de caracterização elétrica: (a) micromanipuladores,

(b) eletrômetro e (c) sistema de aquecimento................................. 35

Figura 3. 5 – Curvas de condutividade em função da temperatura para

amostras não-dopadas de a-SiC:H tipo C3680 e C3690H.............. 36

Figura 3. 6 – Esquema da técnica SIMS................................................... 37

Figura 3. 7 – Relação entre a forma do perfil da profundidade e a área

detectada......................................................................................... 39

Figura 3. 8 – Número de artigos publicados no campo do SiC nas últimas

décadas: (quadrados abertos) como material semicondutor e

(triângulos fechados) como estruturas metal-óxido-semicondutor

MOS................................................................................................ 51

Figura 3. 9 – Curvas obtidas a altas (linha contínua) e baixas

(linha pontilhada) freqüências, medidas am ambos sentidos

(inversão → acumulação e acumulação → inversão) a

temperatura ambiente num capacitor tipo-p de 6H-SiC [125]........ 55

Figura 3. 10 – Estrutura final do capacitor MOSiC............................................... 61

Figura 3. 11 – Diagrama de bandas qualitativo para um semicondutor com

composição uniforme e gradual...................................................... 63

Figura 3. 12 – Diagrama de bandas qualitativo para um semicondutor de gap

estreito localizado entre duas camadas de semicondutores de gap

largo................................................................................................ 63

Figura 3. 13 – Diagrama de bandas de energia de uma heterojunção p-n.............. 66

Figura 3. 14 – Esquema do heterodiodo..................................................... 71

Figura 3. 15 – Layout das máscaras de processo utilizadas para a fabricação dos

TFTs................................................................................................ 74

Figura 3. 16 – Ilustração da seqüência das etapas de processos para a fabricação

dos TFTs de a-SiC:H..................................................................... 75

Figura 3. 17 – Perfil de dopagem por implantação iônica de fósforo simulado

TRIM.............................................................................................. 78

Page 10: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Figuras

iii

Figura 3. 18 – Estrutura Final................................................................................. 81

Figura 4. 1 – Microscopia óptica da superfície das amostras tratadas

termicamente a 1000 ºC por 2 horas............................................... 84

Figura 4. 2 – Espectro na região do infravermelho dos filmes de SiC

como-depositado e recozidos termicamente a 550, 750 e

1000 ºC............................................................................................ 85

Figura 4. 3 – Deconvolução aplicada ao espectro FTIR da amostra recozida a

750 ºC.............................................................................................. 86

Figura 4. 4 – Evolução da fração cristalina e do conteúdo de hidrogênio,

estimada dos espectros FTIR, como uma função do processo de

recozimento térmico........................................................................ 87

Figura 4. 5 – Espectros de difração de raios X para as amostras de SiC como-

depositadas e recozidas a 1000 ºC.................................................. 88

Figura 4. 6 – Espessuras dos filmes para as amostras de SiC como-depositadas

e cristalizadas.................................................................................. 89

Figura 4. 7 – Taxa de corrosão para amostra de SiC como-depositada:

(a) como uma função da concentração de O2 na mistura gasosa e

(b) como uma função da potência de rf. Os outros parâmetros

estão indicados na figura................................................................. 91

Figura 4. 8 – Taxa de corrosão para amostra como-depositada como uma

função da pressão de processo. Os demais parâmetros estão

indicados na figura.......................................................................... 92

Figura 4. 9 – Taxa de corrosão para as amostras como-depositada e recozidas

em função da temperatura de recozimento. Os demais parâmetros

estão indicados na figura................................................................. 93

Figura 4. 10 – Condutividade versus 1/T para amostras intrínsecas e dopadas

in-situ com N2: a) amostras tipo C3680 sem diluição em H2 e

b) amostras tipo C3690H crescidas com diluição em H2................ 96

Figura 4. 11 – Espectro FTIR das amostras intrínsecas e dopadas in-situ com

nitrogênio: (a) amostras tipo C3680 (menor ordem estrutural) e

(b) amostras tipo C3690H (maior ordem estrutural)....................... 98

Page 11: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Figuras

iv

Figura 4. 12 – Bandgap óptico das amostras intrínsecas e dopadas in-situ com

nitrogênio........................................................................................ 99

Figura 4. 13 – Condutividade versus 1/T para amostras: intrínsecas (quadrado),

dopadas com B+ (triângulo) e dopadas com BF2+ (círculo)............ 100

Figura 4. 14 – Perfil de boro das amostras dopadas por implantação iônica de

BF2+ e B+......................................................................................... 102

Figura 4. 15 – Cratera formada pelo feixe de íons primários: (a) Medida de

perfilometria da profundidade e (b) Microscopia óptica da

superfície......................................................................................... 104

Figura 4. 16 – Espectro FTIR das amostras de a-SiC:H não-dopada e dopadas

por implantação iônica com B+ e BF2+........................................... 105

Figura 4. 17 – Caracterização IxV para verificação dos contatos elétricos............ 108

Figura 4. 18 – Condutividade em função da condição de dopagem....................... 108

Figura 4. 19 – Resistividade em função dos valores de temperatura de processo. 109

Figura 4. 20 – Resistividade em função da temperatura........................................ 111

Figura 4. 21 – Espectros FTIR das amostras dos Grupos 1, 2 e 3......................... 113

Figura 4. 22 – Estrutura do capacitor MOS de Si contendo as estruturas:

convencional (vertical) e proposta (horizontal).............................. 114

Figura 4. 23 – Curvas C-V a alta freqüência dos capacitores de Si para:

(a) estrutura vertical e (b) estrutura horizontal............................... 115

Figura 4. 25 – C-V a alta freqüência dos capacitores de SiC com oxidação:

(a) térmica seca e (b) térmica úmida............................................... 117

Figura 4. 26 – Curvas C-V a alta freqüência dos capacitores de SiC com

isolantes depositados por PECVD: (a) óxido de silício e

(b) oxinitreto de silício. 119

Figura 4. 27 – Campo elétrico de ruptura, EB, em função das amostras dos

Grupos 1 e 2.................................................................................... 120

Figura 4. 28 – Esquema da medida e curvas I-V características das

heterojunções PECVD SiC tipo-p/Si tipo-n medidas a diferentes

temperaturas: (a) como-depositada (b) recozida a 550 ºC,

(c) a 750 ºC e (d) a 1000 ºC............................................................ 124

Page 12: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Figuras

v

Figura 4. 29 – Curva I-V característica em escala linear das heterojunções SiC

tipo-p/Si tipo-n medidas a temperatura ambiente para as amostras

como-depositada e recozidas a 550, 750 e 1000 ºC........................ 125

Figura 4. 30 – Dependência da temperatura com o termo pré-exponencial A

para as amostras como-depositada (círculos) e recozida a 550 ºC

(quadrados)..................................................................................... 127

Figura 4. 31 – Densidade de corrente de saturação, J0, em função da

temperatura para as amostras como-depositada e recozida a

550 ºC.............................................................................................. 128

Figura 4. 32 – Curva de capacitância-voltagem característica da amostra

como-depositada............................................................................. 130

Figura 4. 33 – Curvas de saída de um TFT de a-SiC:H de dimensões L = 20 µm

e C = 300 µm.................................................................................. 132

Figura 4. 34 – Curvas de transferência de um TFT de a-SiC:H de dimensões

L = 20 µm e C = 300 µm................................................................ 133

Figura 4. 35 – Curvas de saída de um TFT de a-SiC:H com um filme isolante de

espessura de 250 nm....................................................................... 135

Figura 4. 36 – Estrutura do TFT simulado............................................................. 137

Figura 4. 37 – Comparação entre as curvas de saída simuladas para diferentes

densidades de estados localizados na banda proibida de um TFT

de a-SiC:H....................................................................................... 138

Page 13: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Tabelas

vi

LISTA DE TABELAS

Tabela 2. 1 – Comparação entre os principais politipos de SiC com Si e GaAs.

Os dados foram retirados das referências [1,26]............................ 10

Tabela 3. 1 – Condições de deposição de a-Si0,5C0,5:H........................................ 29

Tabela 3. 2 – Tipos de substratos usados na deposição de amostras.................... 30

Tabela 3. 3 – Elementos dopantes com suas respectivas energias de ionização

em 6H-SiC...................................................................................... 44

Tabela 3. 4 – Condições de dopagem in-situ com N2........................................... 46

Tabela 3. 5 – Propriedades elétricas de óxidos crescidos sobre 3C, 4H e

6H-SiC............................................................................................ 53

Tabela 3. 6 – Condição de deposição das amostras obtidas por PECVD............. 57

Tabela 3. 7 – Parâmetros utilizados para o processo de oxidação térmica........... 57

Tabela 3. 8 – Condição de deposição das amostras isolantes obtidas por

PECVD........................................................................................... 58

Tabela 3. 9 – Resultados de caracterizações I-V e C-V de vários tipos de SiC/Si

heterojunções.................................................................................. 69

Tabela 3. 10 – Condição de deposição das amostras obtidas por PECVD............. 70

Tabela 3. 11 – Condição de deposição dos filmes de a-Si1-XCX:H......................... 76

Tabela 3. 12 – Condições de processo de dopagem por implantação de íons de

fósforo............................................................................................. 78

Tabela 3. 13 – Condição de deposição das amostras isolantes obtidas por

PECVD........................................................................................... 79

Tabela 4. 1 – Número das ligações Si-C, Si-H e C-H para as amostras como-

depositada e recozidas. A concentração de hidrogênio foi

estimada pela relação (NSi-H+NC-H/NSi-H+NC-H+NSi-C).................... 87

Tabela 4. 2 – Energia de ativação (EA) e gap óptico (EG) da amostras

tipo C3680 e C3690H dopadas com uma concentração de

1×1020 cm-3..................................................................................... 101

Tabela 4. 3 – Composição do substrato de vidro da marca Corning tipo 7059.... 104

Tabela 4. 4 – Condições de dopagem das amostras referentes à Figura 4. 19...... 109

Tabela 4. 5 – Condições de dopagem das amostras referentes à Figura 4. 20….. 111

Page 14: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Tabelas

vii

Tabela 4. 6 – Parâmetros elétricos dos capacitores MOS extraídos das

estruturas vertical e horizontal a partir da curva C-V a alta

freqüência........................................................................................ 115

Tabela 4. 7 – Parâmetros elétricos extraídos a partir da curva C-V a alta

freqüência dos capacitores MOS de SiC oxidados termicamente.. 118

Tabela 4. 8 – Parâmetros elétricos extraídos a partir da curva C-V a alta

freqüência dos capacitores MOS de SiC com isolantes

depositados por PECVD................................................................. 119

Tabela 4. 9 – Processos de condução básicos. EG é o gap de energia, k é a

constante de Boltzmann, T é a temperatura absoluta, η é o fator

de idealidade (obtido a partir da inclinação de região linear de

corrente), EA é a energia de ativação e ΦB é a barreira de energia. 126

Tabela 4. 10 – Parâmetros utilizados na simulação do TFT de a-SiC:H................ 138

Page 15: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Símbolos, Siglas e Abreviaturas

viii

LISTA DE SÍMBOLOS, SIGLAS E ABREVIATURAS

ω : Número de onda.

α(ω): Coeficiente de absorção.

η: Fator de idealidade.

φF: Potencial de Fermi.

ψF: Potencial de Fermi.

φM: Função trabalho do Metal.

φMS: Diferença entre as funções trabalho do metal e do semicondutor.

χOX: Afinidade eletrônica do óxido.

χS: Afinidade eletrônica do semicondutor.

φS: Função trabalho do semicondutor.

ψS: Potencial de superfície no semicondutor.

β-SiC: Carbeto de silício cúbico.

α-SiC: Carbeto de silício hexagonal.

µ: mobilidade.

a-Si:H: Silício amorfo hidrogenado.

a-SiC:H: Carbeto de silício amorfo hidrogenado.

B2H6: Gás Diborana.

C: Capacitância.

CH4: Gás Metano.

CMAX: Capacitância máxima em regime de acumulação.

CMIN: Capacitância mínima em regime de inversão a alta freqüência.

COX: Capacitância do óxido.

c-SiC: Carbeto de silício cristalino.

CT: Capacitância total do capacitor MOS.

C-V AF: Curva Capacitância – Tensão de Alta Freqüência.

C-V BF: Curva Capacitância – Tensão de Baixa Freqüência.

CVD: Chemical Vapor Deposition.

Dit: Densidade de estados de interface.

EA: Energia de ativação.

Page 16: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Símbolos, Siglas e Abreviaturas

ix

EB: Campo elétrico de ruptura.

EC: Nível de condução.

EF: Nível de Fermi.

EFM: Nível de Fermi do Metal.

EG: Largura da banda proibida.

Ei: Nível intrínseco.

ESR: Electron Spin Resonance.

EV: Nível de valência.

Evácuo: Nível de energia de vácuo.

EXAFS: Estrutura Fina Estendida de Absorção de Raios X.

FTIR: Infrared Fourier Transform.

GaAs: Arseneto de gálio.

GD: Glow Discharge.

H2: Gás Hidrogênio.

I: Corrente.

IDS: Corrente entre fonte e dreno.

J: Densidade de corrente.

J0: Densidade de corrente de saturação.

k: Constante de Boltzmann (1,38062×10-23 J/K).

LED: Light Emitting Diode.

MBE: Molecular Beam Epitaxy.

MEMS: Microelectromechanic Systems.

MOS: Estrutura Metal-Óxido-Semicondutor

MOSFET: MOS-Field-Effect-Transistor.

MOSiC: Estrutura Metal-Óxido-SiC.

N2: Gás Nitrogênio.

N2O: Gás Óxido Nitroso.

NA: Concentração dopantes aceitadores.

ND: Concentração dopantes doadores.

ni: Concentração de portadores intrínsecos.

P: Potência.

p: Pressão.

Page 17: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Lista de Símbolos, Siglas e Abreviaturas

x

PDS: Photothermal Deflection Spectroscopy.

PECVD: Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition.

PH3: Gás Fosfina.

q: Carga do elétron (1,602×10-19 C).

Qeff: Concentração de cargas efetivas.

RCA: Radio Corporation of America.

rf: Rádio freqüência.

RIE: Reactive Ion Etching.

SCLC: Space Charge Limited Current.

Si: Silício.

SiC: Carbeto de Silício.

SiH4: Gás Silano.

SIMS: Secondary Ion Mass Spectrometry.

SiO2: Óxido de silício.

SiOXNY: Oxinitreto de silício.

T: Temperatura.

TFT: Thin Film Transistor.

tOX: Espessura do óxido.

V: Tensão.

Vbi: Potencial interno.

VDS: Tensão aplicada entre os contatos de fonte de dreno.

VFB: Tensão de banda plana.

VG: Tensão aplicada no contato de porta.

WD: Largura da região de depleção.

XANES: X-Ray Absorption Near Edge Structure.

XRD: X-Ray Diffraction.

ε0: Permissividade elétrica no vácuo (8,84×10-14 F/cm).

εOX: Permissividade elétrica do óxido (3,9×10-13 F/cm).

εS: Permissividade elétrica do semicondutor.

εSiC: Permissividade elétrica do SiC (9,7×10-13 F/cm).

σd: Condutividade elétrica no escuro.

Page 18: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Resumo

xi

RESUMO

Neste trabalho é estudada a viabilidade de produção de dispositivos

eletrônicos baseados em filmes semicondutores de carbeto de silício estequiométrico

(a-Si0,5C0,5:H) obtidos por deposição química por vapor assistida por plasma,

PECVD. A proposta do projeto envolve a realização de uma série de trabalhos que

permitam avaliar as potencialidades do a-SiC:H para a fabricação de dispositivos

semicondutores simples.

Deste modo, desenvolvemos as principais etapas para a construção de

dispositivos, as quais envolveram a dopagem elétrica por diferentes técnicas com a

utilização de diferentes elementos dopantes, a corrosão seletiva por plasma e a

obtenção um dielétrico apropriado e compatível com a tecnologia do SiC, bem como

o desenvolvimento de processos de cristalização, que podem se mostrar

fundamentais para melhorar as propriedades dos filmes de a-SiC:H.

Com tais processos aprimorados, fabricamos estruturas MOSiC (metal-óxido-

carbeto de silício) a partir do SiC cristalizado, utilizando como dielétrico de porta o

SiO2 crescido por oxidação térmica (seca e úmida) dos próprios filmes de carbeto de

silício cristalizados. Essas estruturas apresentaram o comportamento típico de um

capacitor MOS, com regiões de acumulação, depleção e inversão bem definidas em

todos os casos. Também fabricamos heterojunções de filmes de SiC tipo-p (como

depositado e tratado termicamente) sobre substratos de Si tipo-n, os quais mostraram

boas caracterísitcas retificadoras para as heteroestruturas formadas pelo a-SiC:H

como-depositado e tratado termicamente a 550 ºC. Além do mais, também

projetamos, fabricamos, modelamos e caracterizamos transistores de filme fino de

a-SiC:H. De acordo com as caracterizações elétricas observamos que podemos

controlar a condutividade do canal, embora os dispositivos ainda precisem ser

aprimorados para se obter melhores níveis de corrente.

Vemos, portanto que, embora ainda tenham que ser aperfeiçoados, foram

construídos com sucesso dispositivos eletrônicos semicondutores baseados em filmes

de a-Si0,5C0,5:H obtidos por PECVD.

Page 19: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Abstract

xii

ABSTRACT

In this work we studied the viability to build devices based on stoichiometric

amorphous silicon carbide semiconductor films (a-Si0.5C0.5:H), obtained by plasma

enhanced chemical vapor deposition technique. The project proposal involves the

realization of a series of studies that evaluate the potentialities of the a-SiC:H for the

fabrication of simple semiconductor devices.

In this way, we developed the main steps for the devices’ fabrication, which

involved electric doping, by different doping techniques using different doping

sources, selective plasma etching and the obtention of an appropriate and compatible

dielectric for SiC technology. Besides, we performed crystallization processes that

were essential to improve the properties of the amorphous films.

By establishing the processes steps, we manufactured MOSiC (metal-oxide-

silicon carbide) structures starting from crystallized SiC and using SiO2 as the gate

dielectric, which was obtained by thermal oxidation (wet and dry) of the crystallized

silicon carbide films. All the structures presented a typical MOS capacitor behavior,

with accumulation, depletion and inversion regions well-defined in all the cases. We

also fabricated heterojunctions formed by p-type SiC films (as-deposited and

annealed) on n-type silicon substrates that showed good rectifying characteristics for

as-deposited and annealed at 550ºC a-SiC:H films. Moreover, we designed,

manufactured, modeled and characterized a-SiC:H thin film transistors. The electric

characterization demonstrated that it is possible to control the channel conductivity;

however, the devices still need to be improved to obtain better current levels.

Although some improvement still need to be made, we built successfully

electronic semiconductor devices based on a-Si0.5C0.5:H films obtained at low

temperatures by PECVD technique.

Page 20: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 1 - Introdução

1

CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO

1.1 - INTRODUÇÃO

O interesse em desenvolver dispositivos semicondutores baseados em carbeto

de silício (SiC) está relacionado às extraordinárias propriedades deste material [1].

Devido à sua alta dureza mecânica, o carbeto de silício foi primeiramente muito

utilizado como material abrasivo e em ferramentas de corte, mas nos últimos anos

vem despertando cada vez maior interesse para aplicações eletrônicas e opto-

eletrônicas. De fato, o SiC é um semicondutor de alto gap (maior que 2,4 eV) que

soma à sua estabilidade química e alta condutividade térmica (superior à do cobre),

uma alta tensão de ruptura (~3,8×106 V/cm) e uma alta velocidade de saturação de

portadores (para elétrons é de ~2×107 cm/s). Por isso, é indicado para o

desenvolvimento de circuitos eletrônicos que possam operar em condições extremas

de temperatura e potência, como é o caso de aplicações em eletrônica de potência na

indústria aeronáutica, na instrumentação para reatores nucleares, em satélites e naves

espaciais [1,2,3] onde o silício não pode ser utilizado ou tem aplicação limitada.

O atual interesse que o SiC desperta teve início a partir do final da década de

80, com o desenvolvimento de técnicas de fabricação de lâminas que pudessem

realmente ser utilizadas como substratos na fabricação de dispositivos

semicondutores a base deste material. As técnicas de crescimento em questão

envolvem processos de sublimação de SiC policristalino a temperaturas da ordem de

2500 ºC, no entanto também têm sido estudadas técnicas de crescimento epitaxial a

partir de fonte gasosa [4,5]. Estas técnicas operam em temperatura um pouco

menores (~1300-1800 oC) e são utilizadas para crescer películas de SiC sobre

substratos de silício. Assim, em função desta disponibilidade crescente de substratos

de SiC de boa qualidade, os últimos 15 anos testemunharam numerosos trabalhos

visando o aprimoramento das técnicas de obtenção, a compreensão de suas

propriedades e o desenvolvimento de tecnologias que permitissem fabricar

dispositivos eletrônicos de SiC. Como resultado desse esforço, progressos

significativos têm sido alcançados e hoje em dia a literatura reporta a fabricação de

diodos, transistores de efeito de campo, sensores, estruturas microeletromecânicas

Page 21: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 1 - Introdução

2

(MEMS) e até circuitos amplificadores, totalmente baseados em SiC cristalino, que

podem operar a temperaturas de até ~600 ºC [6,7].

Nesse contexto, a técnica de Deposição Química por Vapor Assistida por

Plasma (“Plasma Enhanced Chemical Vapor Deposition”, ou PECVD) surge como

um método alternativo para obtenção de SiC em baixas temperaturas. Seu maior

atrativo é a possibilidade de crescer películas finas de SiC a temperaturas abaixo de

400 ºC sobre diversos tipos de substratos, tais como vidro, polímeros, as tradicionais

lâminas de silício, etc. O material assim obtido, porém, é uma liga amorfa

hidrogenada de silício-carbono, de composição variável, denominada “a-Si1-XCX:H”

[8], que tem sido utilizada com sucesso no desenvolvimento de diversos dispositivos

ópticos e optoeletrônicos, como células solares com estrutura PIN [9], diodos

emissores de luz (LED) [10] e como camada isolante em transistores de filme finos

(TFT) [11]. É importante destacar que essas ligas não possuem exatamente as

mesmas propriedades daquelas do SiC cristalino, não somente pelo fato por serem

amorfas, mas também porque sua composição (presença de átomos de hidrogênio) e

ordenamento dos seus átomos não são idênticos ao do carbeto de silício cristalino.

O Grupo de Novos Materiais e Dispositivos (onde foi desenvolvido este

trabalho) é um dos poucos que trabalha com filmes finos de a-SiC:H obtidos por rf

PECVD a partir da mistura gasosa de SiH4+CH4 no Brasil. As pesquisas com este

material tem permitido ao grupo atingir um bom entendimento das suas propriedades

e das condições necessárias para obtenção de um material de boa qualidade. A este

respeito podemos dizer que a principal contribuição tem sido identificar uma

condição particular de crescimento (condição de “starving plasma” [12,13]) na qual

o material obtido apresenta menores concentrações de microporos, maiores bandas

proibidas (até ~ 4 eV em filmes ricos em carbono) e, em filmes estequiométricos

(a-Si0,5C0,5:H), uma ordem química e estrutural semelhante à do SiC cristalino

[13,14,15,16]. Em outras palavras, um material com estrutura semelhante à do SiC

cristalino, com baixas concentrações de poros, baixa incorporação de hidrogênio e

com átomos de silício ligando-se preferencialmente a átomos de carbono.

Dentre essas propriedades as mais importantes e promissoras são a ordem

química e estrutural do material, já que estamos falando de uma liga amorfa, nas

Page 22: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 1 - Introdução

3

quais em geral, a desordem estrutural é um sério obstáculo à obtenção de uma

dopagem elétrica eficiente. De fato, é uma característica quase universal dos

semicondutores amorfos a dificuldade em se obter altas eficiências de dopagem, o

que em última instância limita a aplicação destes materiais em dispositivos

eletrônicos.

Nos últimos anos as pesquisas do grupo têm permitido demonstrar que a

ordem química e estrutural do material pode ser melhorada ainda mais crescendo os

filmes em maiores potências de rf e diluindo em hidrogênio a mistura precursora de

(silano + metano) [17]. A diluição em hidrogênio é uma técnica bastante conhecida

para obter nanocristais de silício e o grupo a utilizou para maximizar a ordem

química do a-SiC:H. Assim, resultados obtidos por EXAFS e XANES indicam que o

material obtido nestas condições é efetivamente mais ordenado [15,17], de modo que

é de grande interesse tentar fabricar dispositivos à base deste material, daí a

motivação para desenvolvermos este trabalho.

1.2 - OBJETIVOS

No presente trabalho estudamos a viabilidade de fabricação de dispositivos

eletrônicos semicondutores baseados em filmes de carbeto de silício estequiométrico

(a-Si0,5C0,5:H) obtidos por PECVD. Nesse sentido a proposta do projeto envolve duas

linhas de pesquisa principais: uma primeira, que é o desenvolvimento e

aprimoramento dos processos básicos para a fabricação dos dispositivos; e uma

segunda, a qual trata da fabricação propriamente dita dos dispositivos

semicondutores baseados neste material. O objetivo é desenvolver, fabricar e

caracterizar estruturas básicas que avaliem as potencialidades do material, e não o

desenvolvimento de um tipo específico de dispositivo.

Page 23: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 1 - Introdução

4

1.3 - ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

Esta tese está dividida em 6 capítulos. Cada capítulo procura abordar um

assunto de forma quase independente dos demais, mas dando subsídios para que o

leitor possa na leitura de cada capítulo ter a informação para auxiliá-lo na

compreensão do capítulo seguinte.

No capítulo 1 é apresentado um breve resumo histórico, abordando o

interesse que o carbeto de silício desperta para a fabricação de dispositivos

eletrônicos. Ainda neste capítulo estão descritos os objetivos e justificativas para o

desenvolvimento deste trabalho.

No capítulo 2 é apresentado o estado da arte na pesquisa e desenvolvimento

das tecnologias empregadas na obtenção do semicondutor, caracterização e

fabricação de dispositivos baseados em SiC.

No capítulo 3 são descritas, de forma sucinta, o processo de obtenção das

películas de SiC no reator PECVD e todas as técnicas de caracterização utilizadas,

além das metodologias adotadas no trabalho.

O capítulo 4 traz ao leitor os resultados obtidos utilizando as técnicas

anteriormente descritas. Em seguida, é feita toda análise dos resultados das

caracterizações físicas, estruturais e elétricas do material e dos dispositivos.

O capítulo 5, por sua vez, permite ao leitor ter uma visão global de todo o

trabalho desenvolvido, as dificuldades encontradas, as propostas de solução e a

conclusão obtida com base nos resultados e discussões.

Por fim, no anexo A expomos os trabalhos apresentados em eventos nacionais

e internacionais e, no anexo B, uma breve introdução à teoria dos capacitores MOS.

Page 24: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

5

CAPÍTULO 2 – ESTADO DA ARTE

2.1 - INTRODUÇÃO À TECNOLOGIA DO SiC

Na atualidade, diversos dispositivos eletrônicos e circuitos semicondutores

baseados em carbeto de silício cristalino estão sendo desenvolvidos para aplicações

que envolvam altas temperaturas e altas potências, onde os semicondutores

tradicionais, como o silício e o arseneto de gálio, não podem operar adequadamente

[19,20,21].

Uma característica importante do SiC é que seu óxido nativo é o óxido de

silício (SiO2), o que traz vantagens evidentes uma vez que, como na tecnologia do

silício, pode ser usado como porta dielétrica em estruturas MOS, como camada

passivadora ou como máscara em processos de fabricação. O SiC também possui alta

condutividade térmica (até 3,3 vezes maior que a do Si à 300K) e alto campo elétrico

de ruptura (até 10 vezes maior que o do Si). Portanto, é esperado dispositivos de SiC

possam operar em condições extremas e possibilitem melhorias significativas no

desempenho de uma ampla variedade de dispositivos utilizados na indústria

automotiva, de telecomunicações e de sensores em geral [18,19,20].

Entretanto, estas evidentes vantagens ainda têm que ser desenvolvidas

experimentalmente, o que esbarra no fato da tecnologia de crescimento de cristais de

SiC ainda necessitar de avanços para obtenção de um material de melhor qualidade.

Além disso, a tecnologia de fabricação de dispositivos eletrônicos ainda não se

encontra desenvolvida num grau requerido para a incorporação segura destes

dispositivos em sistemas eletrônicos [21,22,23].

Além do desenvolvimento de métodos de “bulk” para obter lâminas de SiC,

também tem sido muito estudado o crescimento de películas epitaxiais sobre

substratos de silício, devido às vantagens de simplicidade e compatibilidade com as

atuais tecnologias de semicondutores. Entretanto, de um modo geral, uma limitação

dessas técnicas são as altas temperaturas envolvidas, acima de 1300 ºC.

Alternativamente, o carbeto de silício amorfo hidrogenado (a-SiC:H) também

tem atraído grande interesse tecnológico por permitir a produção de películas com

propriedades que podem ser ajustadas de acordo com as necessidades de diferentes

Page 25: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

6

aplicações tecnológicas. Por exemplo, filmes de a-SiC:H ricos em carbono, podem

apresentar propriedades similares ao diamante, como alta dureza e baixo coeficiente

de fricção. Estes filmes têm sido usados para aplicações mecânicas como camadas

protetoras em discos rígidos de computadores, lentes, ferramentas mecânicas entre

outras mais [24]. Ligas de a-SiC:H ricas em silício, por outro lado, possuem menor

concentração de defeitos estruturais e apresentam boas propriedades elétricas (tal

como uma eficiente dopagem elétrica), as quais propiciam a aplicação em

dispositivos eletrônicos, como em células solares e diodos emissores de luz [25,26].

Neste contexto, películas de a-SiC:H estequiométricas que sejam

verdadeiramente a fase amorfa do c-SiC têm sido pouco investigadas, sendo a maior

parte dos trabalhos da literatura dedicados a filmes com baixo conteúdo de carbono.

Como já foi dito, o SiC cristalino é um semicondutor de alto gap que apresenta

excelentes propriedades elétricas, mecânicas e térmicas, portanto é razoável supor

que sua contrapartida amorfa, se produzida em condições apropriadas possua pelo

menos propriedades similares [27,28]. Diversas aplicações podem ser beneficiadas

com essa possibilidade, por exemplo, o uso do carbeto de silício amorfo pode ser

preferido se comparado com o uso do material monocristalino. Isto porquê a relativa

baixa temperatura de formação possibilita depositá-lo sobre os mais diversos

substratos (inclusive sobre os sensíveis à temperatura), e proporciona uma maior

compatibilidade entre os processos de obtenção do carbeto de silício com a atual

tecnologia do silício, sendo bastante interessante para aplicação em dispositivos.

Page 26: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

7

2.2 – O CARBETO DE SILÍCIO CRISTALINO (c-SiC)

2.2.1 - Politipos e definições

O SiC possui muitas formas cristalinas com a mesma composição química,

isto se deve às diferentes seqüências de empilhamento dos átomos (ver figura a

seguir). Este fenômeno é chamado de politipismo. Cada estrutura cristalina é

chamada de politipo. Apesar do fato que todos os politipos do SiC consistem em

50% de átomos de carbono ligados covalentemente com 50% de átomos de silício,

cada politipo possui suas propriedades eletrônicas características. Existem mais de

100 politipos conhecidos, porém só alguns são comumente crescidos de forma

aceitável para uso como um semicondutor. Os politipos mais comuns utilizados em

aplicações eletrônicas são o 3C-SiC, 4H-SiC e o 6H-SiC. O 3C-SiC, também

conhecido como β-SiC, é o único com uma estrutura cristalina cúbica. Os politipos

não-cúbicos são chamados ambiguamente de α-SiC. Os politipos 4H-SiC e o 6H-SiC

são dois de muitos cristais possíveis com estrutura hexagonal. O politipo 15R-SiC é

o mais comum com uma estrutura romboédrica.

Como as propriedades eletrônicas são peculiares de cada estrutura cristalina, é

necessário um entendimento maior da estrutura cristalina e de suas terminologias. Os

diferentes politipos de SiC são compostos de diferentes seqüências de empilhamento

de bicamadas de Si-C (também chamadas de camadas duplas), onde cada bicamada

de Si-C pode ser simplesmente vista como um plano de átomos de silício unida a um

plano de átomos de carbono. O plano formado por uma bicamada de átomos de Si e

C é conhecido como plano basal, enquanto que o eixo-c de direção cristalográfica,

também conhecido como direção de empilhamento, é definido como normal em

relação ao plano da bicamada Si-C (ver Figura 2. 1, 2 e 3).

Page 27: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

8

(a) (b)

Figura 2. 1 – Estrutura atômica do SiC: (a) ligações tetraédricas (b) camada dupla hexagonal com átomos de silício e carbono ligados tetraedricamente.

(a) 3C-SiC (b) 4H-SiC (C) 6H-SiC

Figura 2. 2 – Seqüência de empilhamento de diferentes politipos de SiC: (a) 3C-SiC, (b) 4H-SiC e (c) 6H-SiC.

(a) 3C-SiC (b) 4H-SiC (C) 6H-SiC

Figura 2. 3 – Estrutura cristalina de diferentes polítipos de SiC mostrados paralelamente ao plano (1120): (a) estrutura cúbica 3C-SiC, (b) hexagonal 4H-SiC e (c) hexagonal 6H-SiC.

A Figura 2. 4 esquematiza a seqüência de empilhamento do politipo

6H-SiC, o qual requer seis bicamadas de Si-C para definir uma célula unitária ao

longo da direção do eixo-c. O carbeto de silício é semicondutor polar pelo eixo-c, ou

seja, cada extremidade deste eixo é terminada com átomos de silício e carbono,

respectivamente. Como mostrado na Figura 2. 4, estas superfícies são chamadas de

“silicon face” e “carbon face”, respectivamente. Maiores informações a respeito do

politipismo cristalográfico do SiC podem ser obtidas na referência [29].

Page 28: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

9

Figura 2. 4 - Esquema do arranjo cristalográfico do politipo 6H-SiC.

2.2.2 - Propriedades elétricas

Devido ao diferente arranjo dos átomos de Si e C na rede cristalina do SiC,

cada politipo exibe propriedades ópticas e elétricas particulares. Algumas destas

propriedades são mostradas na Tabela 2. 1 para os politipos 3C, 4H 6H-SiC. Para

comparação também é apresentada as propriedades do Si e GaAs. Na referência [30]

e em suas respectivas referências pode ser encontrada uma análise mais detalhada

destas propriedades.

Como o silício é o semicondutor mais utilizado na eletrônica de estado-sólido

comercial, naturalmente é uma importante referência para avaliação. Dessa maneira,

os principais politipos de SiC possuem vantagens e desvantagens em suas

propriedades básicas quando comparadas às do Si. Das propriedades apresentadas as

mais interessantes do SiC em relação às do Si são o alto campo elétrico de ruptura, o

largo “gap” de energia e a alta condutividade térmica.

Page 29: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

10

Tabela 2. 1 - Comparação entre os principais politipos de SiC com Si e GaAs. Os dados foram

retirados das referências [1,30]

Propriedades Silício GaAs 4H-SiC 6H-SiC 3C-SiC

Gap de Energia (eV) 1,1 1,42 3,2 3,0 2,4

Constante Dielétrica 11,9 13,1 9,7 9,7 9,7

Campo Elét. Ruptura a (MV/cm) 0,6 0,6 3 3,2 > 1,5

Cond. Térmica (W/cm-K) 1,5 0,5 3 – 5 3 – 5 3 – 5

Conc. Portadores Intrínsecos (cm-3) 1010 ~ 106 ~ 10-7 ~ 10-5 ~ 8

Mob. elétrons b (cm2/V-s) 1400 8500 800 400 750

Mob. lacunas c (cm2/V-s) 600 400 115 90 40

Dopantes Doadores e

Energia Ionização (meV)

P: 45

As: 54 Si: 5,8

N: 45

P: 80

P: 80

N: 85 N: 50

Dopantes Aceitadores e

Energia Ionização (meV) B: 45

Be: 28

Mg: 38

Al: 200

B: 300

Al: 200

B: 300 Al: 270

Diâmetro da lâmina d (cm) 20 7,62 5,08 5,08 5,08

Preço d (US$) por lâmina 40* 100* 890** 450** 1900***

a ND = 1017 cm-3; b ND = 1016 cm-3; c NA = 1016cm-3; d Ano de 2004

*Wafer World Inc [31]; **Intrinsic Semiconductor [32]; ***Hoya Technologies [44]

2.2.3 - Aplicações dos dispositivos baseados em SiC

- Operação a altas temperaturas

O seu elevado gap de energia e a conseqüente baixa concentração de

portadores intrínsecos do SiC permitem manter seu comportamento de semicondutor

a temperaturas muito mais altas que no caso do silício, por exemplo. Isto possibilita

que dispositivos baseados neste material possam operar a temperaturas muito mais

elevadas. Como é sabido, um dispositivo semicondutor pode operar até um limite de

temperatura onde a contribuição dos portadores intrínsecos, gerados banda a banda, é

desprezível na condução do material, então a condutividade elétrica é controlada pela

concentração intencional de impurezas (dopantes). Com o aumento da temperatura,

os portadores intrínsecos aumentam exponencialmente e conseqüentemente a

Page 30: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

11

corrente de fuga cresce em uma escala inaceitável. De fato, a temperaturas

suficientemente altas, a operação do dispositivo semicondutor é superada pela

condutividade incontrolável dos portadores intrínsecos que excedem a concentração

intencional de dopantes. Assim, dependendo da característica de um dispositivo, a

concentração de portadores intrínsecos limita a operação dos dispositivos. No caso

do Si, o limite de operação é de aproximadamente 300 ºC. Já no caso do SiC, que

possui menor concentração de portadores intrínsecos, estudos teóricos indicam que

os dispositivos podem operar a temperaturas superiores a 800 ºC. Este limite de

temperatura ainda não foi alcançado experimentalmente, porém, tem sido

demonstrada a operação de dispositivos a temperaturas de até 600 ºC [33,34].

- Operação a altas potências

O alto campo elétrico de ruptura e a alta condutividade térmica do SiC

permitem que dispositivos baseados em SiC operem eficientemente em densidades

de potências extremamente altas. O campo elétrico de ruptura do SiC é

aproximadamente 8 vezes maior que para o silício, assim um dispositivo de uma

dada dimensão de SiC irá suportar uma tensão 8 vezes maior que o mesmo

dispositivo de silício. Por outro lado, a alta condutividade térmica propicia uma

dissipação mais eficiente de calor do dispositivo. Com isso, componentes de

resfriamento, que são normalmente necessários para impedir o superaquecimento dos

dispositivos que operam a altas potências, podem ser muito menores ou até mesmo

eliminados.

2.2.4 - Produção do SiC

- Histórico da produção do SiC

A maior parte das importantes propriedades elétricas do SiC já são

conhecidas há décadas. Ainda no começo da era dos semicondutores, o SiC também

foi considerado, em conjunto com o silício e o germânio, como um dos candidatos à

Page 31: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

12

fabricação dos primeiros transistores. Porém, para a produção comercial em massa de

dispositivos eletrônicos são necessários alguns pré-requisitos, como uma consistente

produção de lâminas, com tamanho e qualidade reprodutíveis, o que não foi

inicialmente possível para o caso do SiC. Muitos materiais semicondutores podem

ser derretidos e recristalizados em grandes monocristais por meio de uma “semente

cristalina”, como é o caso do método de Czochralski empregado para a produção de

silício. Isto facilita razoavelmente a produção em massa de lâminas de Si. Porém, nas

pressões utilizadas convencionalmente o SiC sublima ao invés de fundir, portanto

não é possível obter SiC pelas técnicas tradicionais de derretimento amplamente

utilizadas para a produção de lâminas de Si.

Na década de 50, a produção do SiC era possível somente pelo processo

industrial de Acheson para a obtenção de materiais abrasivos [35]. Em 1955, um

processo de sublimação foi desenvolvido por J. A. Lely no laboratório de pesquisas

da Philips, em Eindhoven, Holanda [36]. No processo de Lely a nucleação dos

cristais é descontrolada, e o material resultante é crescido randomicamente em

cristais hexagonais [37]. Apesar da alta qualidade cristalina que pode ser obtida com

o método de Lely, o processo nunca foi considerado como uma técnica importante

para uma exploração comercial futura por causa do rendimento baixo a da obtenção

de cristais irregulares com diferentes tamanhos. Num processo modificado, que é um

processo de crescimento por sublimação por semente, estes problemas são superados,

entretanto ao preço de uma qualidade cristalina consideravelmente mais baixa. O

método foi obtido com sucesso primeiramente por Tairov e Tsvetkov, em 1978 [38],

embora tentativas prévias de um procedimento de crescimento semelhante tinham

sido arriscadas por Hergenrother et al. [39]. Seguindo o sucesso de Tairov e

Tsvetkov, em 1987, um grupo de pesquisa liderado por R. F. Davis, da Universidade

Estadual da Carolina do Norte (NCSU), anunciou a implementação do processo de

sublimação via crescimento por semente [40], que é uma modificação do processo

original de sublimação de Lely, o qual pode ser visto na Figura 2. 5. Entretanto, a

tecnologia para a produção em escala comercial do SiC só foi alcançada no final da

década de 80. Mais precisamente em 1987, pesquisadores do grupo da NCSU

fundaram uma pequena empresa, chamada Cree Research [41], para produzir

Page 32: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

13

comercialmente lâminas de SiC e, em 1990, dispunham de lâminas de 6H-SiC com

25 mm de diâmetro.

1 – Tampa 2 – Sistema de aquecimento 3 – Fonte de SiC 4 – Reator de grafite 5 – Isolamento 6 – Semente cristalina

Na técnica modificada de Lely, o SiC em pó ou em grânulos é colocado dentro de um reator cilíndrico de grafite. O reator é selado por uma tampa também de grafite, sob a qual é fixada uma semente cristalina, como ilustrado ao lado. O reator é aquecido em uma atmosfera de argônio, a uma pressão abaixo da pressão atmosférica, até aproximadamente 2200 ºC. Um gradiente térmico é aplicado ao longo do reator de tal maneira que o SiC em pó, localizado ao fundo do reator, permaneça a uma temperatura mais alta que a da semente cristalina. O gradiente térmico é mantido tipicamente na ordem de 20 - 40 ºC/cm. O SiC em pó sublima à alta temperatura, formando um vapor de carbono contendo diferentes moléculas de silício, tais como Si2C, SiC2, Si2 e Si. Considerando que o gradiente térmico é escolhido tal modo que a parte mais fria do reator é a posição da semente, o vapor se condensará em SiC e o cristal crescerá.

Figura 2. 5 - Desenho esquemático do processo de sublimação via crescimento por semente. O processo é uma modificação do processo original de sublimação de Lely. A Figura foi retirada da referência [42].

Deste modo, antes de 1980 os dispositivos eletrônicos eram

experimentalmente confinados em pequenos blocos irregulares de cristais de SiC da

ordem de 1 cm2, crescidos pelo método de Lely. No entanto, a partir de 1990, com a

produção comercial de lâminas pela Cree Research, ocorreu um ressurgimento das

pesquisas com o SiC sem precedentes. Atualmente, lâminas com mais 35 mm de

diâmetro dos politipos 3C, 4H e 6H estão disponíveis comercialmente, as quais são

produzidas por diversas empresas de todo o mundo [41,43,44]. Na Figura 2. 6 pode

ser visto exemplos uma lâmina de 6H-SiC produzida pela Cree Research em 1990 e

Page 33: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

14

cristais de 6H-SiC obtidos pelo método de Lely e Acheson, os quais representam os

substratos obtidos antes de 1990.

Figura 2. 6 - A esquerda uma lâmina de 6H-SiC de 2,5 cm fabricada pela Cree Research em

1990, e a direita cristais de 6H-SiC obtidos pelo método de Lely e Acheson.

- Crescimento epitaxial de SiC

Como vimos, atualmente já é possível encontrar comercialmente lâminas de

diferentes politipos, porém estas são extremamente caras, pequenas e geralmente de

qualidade inferior (densidade de defeitos) quando comparadas com as lâminas de Si

ou GaAs (ver Tabela 2. 1). O principal obstáculo à produção de lâminas de SiC de

alta qualidade é a formação dos defeitos chamados de “micropipes”. Micropipes são

defeitos em forma de buracos que podem penetrar grandes distâncias no cristal.

Graças ao progresso alcançado nos últimos anos, têm sido fabricadas lâminas com

densidade de defeitos cada vez mais baixos. Isto não é surpreendente se

considerarmos que as lâminas de Si e GaAs passaram por décadas de

aperfeiçoamento. Na Figura 2. 7 pode ser visto uma microscopia de força atômica de

um micropipe típico na superfície de um substrato de 6H-SiC.

Page 34: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

15

Devido às “deficiências” apresentadas pelas lâminas de SiC, a maioria dos

dispositivos eletrônicos de SiC não são fabricados diretamente sobre as lâminas de

SiC, mas sim em camadas de SiC de alta qualidade crescidas epitaxialmente sobre as

lâminas obtidas por sublimação. Atualmente existe uma grande variedade de técnicas

de crescimento epitaxial de SiC, como epitaxia em fase líquida (LPE) [45], MBE

(“molecular beam epitaxy”) [46] e CVD (deposição química por vapor) [47]. A

técnica de crescimento por CVD é considerada como o método mais comum de

crescimento epitaxial de SiC. Nesta técnica é possível produzir camadas epitaxiais

reprodutíveis e de qualidade. Esta técnica possui algumas variantes, mas consiste

basicamente no aquecimento de um substrato de SiC em uma câmara com um

ambiente composto por gases que contém silício e carbono. Estes gases são

decompostos termicamente na superfície do substrato sob condições bem controladas

de pressão, fluxo e temperatura, promovendo o crescimento de um filme

monocristalino. O crescimento epitaxial por CVD convencional é realizado a

temperaturas entre 1400 e 1700 ºC e pressões de 0,1 até 1 atm, resultando em taxas

de crescimento da ordem de micrometros por hora [48,49]. Taxas de crescimento

maiores, da ordem de centenas de micrometros por hora, são obtidas a temperaturas

ainda mais altas, acima de 2000 ºC [50].

Figura 2. 7. Microscopia de força atômica de um micropipe típico na superfície de um 6H-SiC [51].

Page 35: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

16

- Crescimento heteroepitaxial de SiC sobre substratos de Si

O crescimento de filmes de SiC sobre substratos de silício é muito vantajoso

por permitir combinar as propriedades interessantes do carbeto de silício com o baixo

custo do substrato e a bem conhecida tecnologia do silício.

Com este fim, um dos primeiros trabalhos referente ao crescimento

heteroepitaxial de SiC sobre substratos de silício ocorreu em 1983 [52], e a partir de

então diversos trabalhos têm sido reportados [5,53,54]. Nestes estudos, as películas

de SiC são do politipo cúbico (3C-SiC), devido à estrutura cúbica do substrato de

silício. Porém, devido às diferenças de constante de rede (diferença de 20 % entre o

Si e o SiC) e do coeficiente de expansão térmica (diferença de 8 %), a heteroepitaxia

do SiC utilizando o Si como substrato normalmente resulta no crescimento do

3C-SiC com uma alta densidade de defeitos estruturais [55].Como no caso do

crescimento homoepitaxial, para o crescimento de SiC sobre Si normalmente é

utilizada a técnica de CVD a temperaturas acima de 1400 ºC [56].

Na década de 80 foram apresentadas as primeiras tentativas de fabricação de

dispositivos eletrônicos baseados em 3C-SiC crescido sobre silício, porém estes

dispositivos, transistores de efeito de campo tipo metal-óxido-semicondutor

(MOSFET), apresentavam grande corrente de fuga [57] ou baixa corrente de

saturação [58] devido à alta densidade de defeitos estruturais. Contudo, nos últimos

anos ocorreu um grande avanço na tecnologia de crescimento heteroepitaxial e já se

encontra disponível comercialmente lâminas do politipo 3C-SiC, fabricadas pela

Hoya Advanced Semiconductor Technologies [44]. Esta melhoria significativa da

tecnologia do crescimento epitaxial, em conjunto com a disponibilidade de uma

tecnologia de processamento mais madura, tem levado a um renovado interesse a

este politipo e a dispositivos baseados em 3C-SiC. Estes avanços tecnológicos já

podem ser notados na fabricação de dispositivos eletrônicos baseados neste material

[59,60,61]. Como exemplo, em contraste com a mobilidade de canal muito baixa de

dispositivos MOSFET fabricados a partir do 4H-SiC (geralmente < 25 cm2/V-s),

dispositivos baseados em 3C-SiC têm demonstrado uma mobilidade efetiva de canal

da ordem de 160 cm2/V-s [59]. Assim, o potencial de integração com a tecnologia do

silício se tornou ainda mais interessante com estes avanços alcançados na tecnologia

de processamento do SiC.

Page 36: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

17

2.3 - O CARBETO DE SILÍCIO AMORFO HIDROGENADO (a-SiC:H)

Ligas de carbeto de silício amorfo hidrogenado de estequiometria variável

(a-Si1-XCX:H) têm sido normalmente empregadas em aplicações eletrônicas e

fotônicas, devido principalmente à possibilidade de variar o seu gap de energia

(de ~1,8 eV até ~4 eV) controlando a incorporação de carbono nos filmes.

Em função desta possibilidade vários trabalhos têm sido realizados no sentido

de esclarecer as propriedades estruturais, ópticas e elétricas do carbeto de silício

amorfo. Apesar disso, as propriedades do material são bastante sensíveis aos métodos

e às condições de deposição, em função disso, a literatura reporta resultados muitas

vezes conflitantes.

As primeiras tentativas de se depositar películas de a-SiC utilizaram técnicas

como CVD, sputtering e glow discharge (PECVD). O primeiro trabalho sobre a

obtenção do carbeto de silício amorfo hidrogenado data de 1977, onde Anderson e

Spear [62] estudaram as propriedades ópticas e elétricas de várias ligas de a-Si

depositadas por PECVD, entre elas o a-SiC. A hidrogenação do carbeto de silício

surgiu em referência a um trabalho desenvolvido por Spear e LeComber [63], onde

os autores demonstraram a importância da hidrogenação em filmes de silício amorfo,

o qual o hidrogênio tem um papel fundamental: o de saturar as ligações incompletas,

diminuindo a densidade de estados na banda proibida, resultando num gap melhor

definido e que proporciona uma maior mobilidade de portadores. Desde então uma

grande variedade de técnicas e métodos têm sido utilizados para a obtenção do

a-SiC:H.

No que se refere às propriedades ópticas do a-SiC:H, os dois parâmetros

principais são o índice de refração e o gap óptico, os quais dependem diretamente da

composição dos filmes.

No que diz respeito às propriedades elétricas do a-SiC:H, estas são

determinadas pela densidade de estados permitidos no gap, que têm origem na

desordem e nos defeitos estruturais do material, e têm grande influência sobre o

transporte eletrônico nos semicondutores. Em semicondutores amorfos os defeitos

mais comuns são os “dangling bonds”, ou ligações incompletas, as quais introduzem

Page 37: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

18

estados localizados próximos ao meio do gap e atuam como armadilhas para elétrons

e lacunas. Já a desordem estrutural introduz estados localizados nas bordas das

bandas de condução e valência, dando origem às chamadas caudas, as quais atuam

como armadilhas rasas.

Vários estudos têm sido realizados para determinar a densidade de estados na

banda proibida (DOS). Por meio de medidas como a SCLC (“Space Charge Limited

Current”), PDS (“Photothermal Deflection Spectroscopy”) e técnicas como ESR

(“Electron Spin Resonance”) e fotocondutividade, estes estudos indicam que o

aumento da concentração de carbono nas películas de a-Si1-XCX:H aumenta a

densidade de estados em seu gap. Apesar disso, não há consenso sobre a relação

entre a densidade de defeitos e a concentração de carbono, silício e hidrogênio na

rede atômica do a-SiC:H. Dados de SCLC publicados por Schmidt [64] estão em

acordo com os resultados de PDS e ESR obtidos por Boulitrop [65] e Morimoto [66]

(ver Figura 2. 8), mostrando um aumento da densidade de estados com aumento de x.

A Figura 2. 8 mostra a densidade de spin Ns derivada do sinal ESR como função da

concentração de carbono x, para filmes depositados por plasma (GD) e por sputtering

(SP). O sinal ESR é considerado ser originado das ligações incompletas dos átomos

de Si ou C. Como podemos ver, a densidade de spin Ns para filmes depositados por

plasma aumenta aproximadamente 4 ordens de grandeza com o aumento de x de 0

para 0,77. Filmes obtidos por SP apresentam um comportamento semelhante ao

apresentado pelo obtidos por GD, porém com um aumento de 3 ordens de grandeza.

Por outro lado, medidas de PDS e fotocondutividade realizadas por

Skumanich [67] e Fiorini [68] mostram que filmes de a-SiC:H com baixos conteúdos

de carbono não exibem grande variação da densidade de defeitos quando comparado

com o material sem carbono (a-Si:H).

Isso mostra que há muito para ser entendido sobre a criação de defeitos em

ligas amorfas de silício-carbono. Não obstante, é aceito que a desordem da rede do

silício é ligeiramente perturbada pela incorporação de pequenas quantidades de

carbono, porém a interpretação quantitativa é contraditória, haja visto que o método e

os parâmetros para a obtenção dos filmes influenciam diretamente sobre as

propriedades das películas.

Page 38: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

19

Figura 2. 8 – Densidade de spin Ns para filmes obtidos por GD e SP como uma função de x. Os

dados foram retirados da referência [66].

2.3.1 - Os mecanismos de condução nos semicondutores amorfos

Durante as últimas décadas tem havido um grande interesse na obtenção e

estudo das propriedades físicas dos sólidos amorfos. A motivação deve-se

principalmente a duas razões: primeiramente a pesquisa dos materiais no estado

amorfo, que apresenta grandes desafios no campo da ciência dos materiais e, em

segundo lugar, a possibilidade de desenvolver materiais de interesse para aplicações

na área da eletrônica, óptica e áreas correlacionadas [69].

O silício amorfo hidrogenado foi um dos primeiros materiais no campo dos

semicondutores amorfos a receber um grande impulso tecnológico. Já partir da

década de 70 despertou grande interesse quanto a sua potencialidade na fabricação de

células solares, devido entre outros aspectos, à possibilidade de ser obtido em baixas

temperaturas e em grandes áreas, à perspectiva de custo de produção reduzido. Desde

então têm sido utilizados na fabricação de scanners para fac-símile, detectores de

Page 39: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

20

imagens e principalmente em mostradores de cristal líquido de matriz ativa, que hoje

em dia movimenta um mercado milionário.

Em termos estruturais, um semicondutor cristalino exibe grande periodicidade

nas posições relativas entre os átomos, com as orientações das ligações se repetindo

regularmente, dando origem a uma estrutura periódica que se estende ao longo de

todo o material. Esta é chamada de “ordem de longo alcance”. Do ponto de vista da

estrutura de bandas, os materiais cristalinos apresentam bandas com bordas abruptas

e uma região bem definida de energias proibidas. No caso dos semicondutores

amorfos isso não acontece e os átomos ligam-se tridimensionalmente de forma

irregular. Certamente os átomos ligados com seus primeiros vizinhos não apresentam

irregularidades muito significativas, devido à sua natureza química que impõe que

cada átomo deve completar suas ligações segundo sua valência química, com

comprimentos e ângulos de ligações característicos. Assim, no material amorfo cada

átomo liga-se aos seus primeiros vizinhos de uma mesma forma, constituindo uma

“ordem de curto alcance” que não difere muito daquele no material cristalino,

porém, conforme nos afastamos, as ligações perdem gradativamente a regularidade

espacial.

A perda da ordem de longo alcance e o aumento dos defeitos na rede causam

efeitos importantes sobre as propriedades do material amorfo, como a diminuição da

mobilidade, tempo de vida e livre caminho médio dos portadores. Porém, permanece

uma estrutura de bandas de energia, já que esta é conseqüência da ordem de curto

alcance, ou seja, das distâncias interatômicas e dos ângulos das ligações, e não

apenas da periodicidade dos potenciais atômicos. Nos materiais amorfos, como é o

caso do a-SiC:H, a estrutura de bandas de energia apresenta uma distribuição

contínua de estados permitidos, localizados naquilo que passa a ser uma pseudo

banda proibida. Este pseudo-gap apresenta as chamadas “caudas” das bandas de

condução e de valência (ver Figura 2. 9), constituídas por estados originados pelas

desordens nas ligações atômicas e uma alta densidade de “estados profundos”

(localizados no meio do gap), provenientes principalmente de dangling-bonds

(ligações incompletas) e impurezas. Portanto, as propriedades dos semicondutores

amorfos são determinadas por dois tipos de estados de energias disponíveis para os

Page 40: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

21

elétrons: estados estendidos, nas bandas de energia, e estados localizados, no interior

do gap.

Figura 2. 9 – Densidade de estados para um semicondutor amorfo. EC e EV separam o intervalo de energia entre estados localizados e não localizados.

Uma maneira de diminuir a concentração de defeitos na banda proibida é a

introdução de hidrogênio no material. É sabido que o hidrogênio incorporado em

pequenas porcentagens atômicas (aproximadamente 10%) age como elemento

passivador, saturando as ligações químicas incompletas (dangling-bonds),

conseqüentemente diminuindo a densidade de estados permitidos na banda proibida

do material. Dessa maneira, o maior controle sobre o processo de crescimento e o

desenvolvimento de técnicas capazes de reduzir a quantidade de impurezas e defeitos

nos filmes permitiram uma investigação mais apurada de suas propriedades

intrínsecas. Também, a adição controlada de dopantes associada com um melhor

entendimento da incorporação dos mesmos no material é fundamentalmente para as

aplicações em dispositivos eletrônicos.

Em função das particularidades da distribuição de estados no pseudo-gap, o

transporte de portadores em semicondutores amorfos pode seguir basicamente três

caminhos de condução. Estes caminhos, ou melhor, mecanismos de transporte de

Pseudogap

Cauda da Banda de Valência

Cauda da Banda de Condução

Aceitadores Doadores

Defeitos Profundos

EV EF EC

Estados Estendidos

Estados Localizados

Page 41: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

22

portadores são: a) condução nos estados estendidos (σ1), b) condução nas caudas das

bandas (σ2) e c) condução por hopping (saltos) no nível de Fermi (σ3). A Figura 2. 10

apresenta um esquema dos três principais mecanismos de condução esperados num

semicondutor amorfo.

Figura 2. 10 - Esquema dos principais mecanismos de condução esperados em semicondutores amorfos.

(a) Transporte por portadores excitados entre as extremidades de mobilidade

via estados estendidos (não-localizados) nas bandas de condução e

valência: A condutividade é dada por:

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −=

kTEAexp0σσ ,

sendo 0σ um fator pré-exponencial e EA a energia de ativação.

Este mecanismo de condução domina principalmente a altas

temperaturas (tipicamente para temperaturas acima da temperatura ambiente)

e corresponde à condução entre estados estendidos. EA é a diferença entre o

nível de Fermi e a borda de mobilidade, ou seja, EC-EF para elétrons e EF-EV

para lacunas, onde EC e EV são os limiares de mobilidade para as bordas das

bandas de condução e valência, respectivamente.

σ1

σ2

σ3

σ2

σ1

EC

EF

EV

EA

σ1

EB

σ2 σ3

Densidade de estados

Energia

Page 42: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

23

Elaborando um gráfico de lnσ versus 1/T, teremos uma linha reta se

EC-EF é uma função linear de T no intervalo de temperatura medido. Dessa

maneira podemos obter a energia de ativação através do coeficiente angular

da reta, sendo que σ0 será o valor da condutividade em 1/T = 0.

(b) Transporte de portadores excitados em estados localizados nas caudas das

bandas de valência e condução: A condutividade é dada por:

kTE

b

b−

= expσσ ,

que corresponde ao transporte ativado termicamente por hopping em estados

localizados nas caudas, com Eb = EB+W, onde W é a energia de hopping

(energia de ativação da ordem de kT) e EB é a energia média do caminho de

condução nos estados de cauda. A energia de ativação W deve diminuir com

o decréscimo da temperatura, uma vez que o portador terá menos energia para

saltar de um estado localizado para outro. Normalmente o valor do fator σb é

várias ordens de grandeza menor que o valor do fator pré-exponencial σ0 e

depende da densidade de estados e da superposição das funções de onda.

(c) Transporte via estados localizados no meio da banda proibida: A

temperaturas muito baixas, a condução por saltos será dada principalmente

por estados localizados no meio do gap na forma:

41

0 )(exp T

T

h

= σσ .

Este mecanismo de transporte é conhecido como variable-range

hopping, que domina a baixas temperaturas ou em amostras com uma alta

densidade de defeitos. Este mecanismo corresponde à condução por hopping

em torno do nível de Fermi, EF. Temos T0 = 16α3/kN(EF), onde α é o

comprimento de localização da função de onda e N(EF) é a densidade de

estados no nível de Fermi. Para os semicondutores amorfos, o comprimento

de localização é tipicamente da ordem de aproximadamente 10 Å [70]. Este

comportamento da condutividade geralmente é observado em semicondutores

amorfos não hidrogenados que apresentam uma alta densidade de defeitos

[71].

Page 43: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 2 – Estado da Arte

24

A condutividade total, para todos os processos, é obtida a partir da somatória

de todos os estados de energia disponíveis, conforme mostrado na figura a seguir.

T -1/4Eb = EB + W

EA = EC - EF

ln σ

1/T

Figura 2. 11 – Ilustração da dependência da temperatura com a condutividade esperada de acordo com o modelo da referência [71]. A energia de ativação está associada com os vários processos descritos anteriormente.

Como podemos notar, os processos de condução ocorrem simultaneamente,

porém, a contribuição de cada um destes processos à condutividade total depende em

geral da temperatura e da densidade de defeitos do material. Para altas temperaturas a

condução nos estados estendidos das bandas é dominante, enquanto para baixas

temperaturas a condução se dá por tunelamento termicamente ativado entre os

estados localizados do gap. Portanto, a condutividade em função da temperatura

pode, em princípio, ser expressa em forma geral por uma relação da forma [71]:

41

0 )(

0 expexpexp TT

hkTE

bkTE bA −−−

++= σσσσ

Uma descrição mais detalhada dos diferentes mecanismos de transporte nos

semicondutores amorfos pode ser encontrada nas referências [71,72].

Page 44: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

25

CAPÍTULO 3 - PROCEDIMENTOS EXPERIMENTAIS

Descreveremos neste capítulo o crescimento dos filmes e as metodologias

utilizadas na caracterização dos filmes depositados pela técnica PECVD, assim como

as características dos equipamentos utilizados e seus principais componentes.

3.1 - OBTENÇÃO DOS FILMES

Todos os filmes estudados neste trabalho foram crescidos pela técnica de

deposição química a vapor assistida por plasma [73] (“Plasma Enhanced Chemical

Vapour Deposition”, ou PECVD). Nesta técnica as moléculas dos gases precursores,

ou reagentes, são quebradas por um campo elétrico aplicado entre duas placas de

eletrodos, sendo que os radicais resultantes desta decomposição reagem

quimicamente e formam o filme sólido. O sistema de deposição é de acoplamento

capacitivo com os eletrodos em configuração triodo. Este sistema opera com um

gerador de rádio freqüência de 13,56 MHz e permite controlar vários parâmetros no

processo de deposição, tais como: potência de rf, fluxo dos gases, pressão de

processo e temperatura do substrato. Um diagrama esquemático da sua configuração

é apresentado na Figura 3. 1.

O sistema de aquecimento do porta-substratos é do tipo resistivo, com uma

temperatura máxima de operação de aproximadamente 400 ºC. O monitoramento da

temperatura é feito via termopar, colocado diretamente sobre o porta-substratos. A

pressão de deposição é monitorada por um manômetro tipo “baratron” que é

controlada por uma válvula de processo.

Page 45: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

26

sensor de pressão

gases

válvula automática

sensor / controlador de fluxo

. . . .

. . . .

rf gerador de

potência de rf

bombas mecânicas de processo

bomba de alto vácuo

eletrodos

resistência

substrato

Figura 3. 1 – Representação esquemática do sistema PECVD utilizado para obtenção dos filmes.

O reator conta com dois sistemas de bombeamento de vácuo, um para

processo de limpeza da câmara (alto vácuo por meio de uma bomba turbo molecular)

e o outro para a etapa de deposição (bomba mecânica de processo). A etapa de alto

vácuo tem como função garantir que a deposição seja tanto quanto possível isenta de

contaminantes prejudiciais às características dos filmes, e é ativada horas antes de

realizar a deposição. Este sistema é composto por uma bomba turbomolecular

modelo V-450, assistida por uma bomba rotatória de pré-vácuo modelo SD-300,

ambas fabricadas pela Varian. Isto permite que se atinjam pressões em torno de

10-6 Torr no interior da câmara de processo. A monitoração da pressão é realizada

por um medidor do tipo cátodo frio, capaz de medir pressões entre 10-3 e 10-9 Torr. O

sistema de vácuo para a etapa de deposição é composto por uma bomba mecânica

rotatória de duplo estágio modelo TRIVAC-D65-B em série com outra do tipo Roots,

modelo Ruvac-WAU-251-US, ambas de fabricação Leybold-Heraeus. O controle da

pressão de deposição pode ser realizado manualmente por uma válvula tipo borboleta

em série com uma válvula automática (throttle valve) que é controlada por um

equipamento de fabricação MKS. A monitoração da pressão para esta etapa é

realizada por um medidor do tipo pressão absoluta (sistema capacitivo, Baratron-

122A, MKS) que permite medidas entre 10 e 10-3 Torr. Este medidor de tipo baratron

Page 46: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

27

é um manômetro cujo funcionamento independe da espécie gasosa, realizando a

medida através da variação da capacitância devido à influência da pressão sobre uma

das placas do capacitor.

3.1.1 - Amostras depositadas com e sem diluição em hidrogênio

Como dito anteriormente, na deposição química a vapor assistida por plasma,

as moléculas dos gases precursores (silano (SiH4) e metano (CH4)) são quebradas por

um campo elétrico aplicado entre duas placas de eletrodos, e os radicais produtos

desta decomposição reagem quimicamente e formam o filme sólido. Nesse sentido,

seus respectivos produtos de decomposição primária são os radicais neutros SiH2,

SiH3, CH3 e CH2, enquanto que espécies como SiH, CH, Si e C também são

formadas, mas com diferença de pelo menos uma ordem de grandeza em proporção

[74].

É sabido que a densidade de potência de rf (potência total fornecida aos

eletrodos dividida pela área dos mesmos) e a pressão na câmara durante o processo

de crescimento dos filmes governam as reações químicas no plasma. Atualmente se

aceita a existência de dois diferentes regimes de densidade de potência de rf, válidos

para uma mistura gasosa de metano a silano: os regimes de alta e baixa densidade de

potência de rf. Consideramos que a deposição é realizada no regime de alta

densidade de potência de rf quando a densidade de potência é suficientemente alta

para ativar tanto a quebra do silano quanto à do metano, por colisões elétron-

molécula, que se decompõe independentemente um do outro. Por outro lado,

podemos dizer que a deposição é realizada no regime de baixa densidade de potência

de rf quando ela é baixa o bastante para que praticamente não exista deposição de

filme a partir do metano puro, mas seja ainda suficientemente alta para promover a

quebra do silano.

Neste último regime, para um mesmo fluxo de silano a taxa de deposição é

independente da composição gasosa num grande intervalo de concentrações de

metano, mas diminui enormemente para altas concentrações do mesmo, dizemos

assim então que nos encontramos dentro das condições de plasma faminto por silano.

Page 47: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

28

Nestas condições os radicais de silano têm maior probabilidade de reagirem com

moléculas de metano do que com moléculas ou radicais de silano. Isso ocorre não

somente para altos fluxos de metano, mas também para um menor fluxo de silano

e/ou menor pressão na câmara de deposição, justamente porque conseguimos

diminuir a densidade de moléculas e radicais de silano bem como seu tempo de

permanência na câmara de deposição. Com isso diminuímos a probabilidade de um

possível encontro e, portanto, diminuímos o número de reações entre eles. Como

conseqüência disso o carbono se incorpora no filme unicamente por reações químicas

induzidas pelos radicais de silano com moléculas de metano, uma vez que

praticamente não ocorre deposição a partir do metano puro, o que favorece a

formação de ligações Si-C no material obtido [27,74].

Como uma forma de conseguir um material mais ordenado estruturalmente os

filmes também podem ser crescidos em diluição em hidrogênio, esta técnica é

amplamente utilizada na obtenção de filmes microcristalinos de silício crescidos por

PECVD [75]. Esta técnica induz a competição entre os processos de corrosão e

deposição, fazendo com que grande parte das ligações C-Hn e Si-H sejam eliminadas

do filme durante seu crescimento, diminuindo a quantidade incorporada de

hidrogênio e favorecendo uma maior coordenação entre átomos de silício e carbono,

promovendo a deposição de filmes mais densos, homogêneos e com menor

quantidade de poros [27].

0 1 2 3 4

Si-C-Si

Si-C

Tran

sfor

mad

a de

Fou

rier

(u.a

.)

Distância Aparente (Å)

3690H

0 1 2 3 4

Si-C-Si

Si-Si

Si-C

Tran

sfor

mad

a de

Fou

rier

(u.a

.)

Distância Aparente (Å)

β-SiC c-Si

Figura 3.1.1. Transformada de Fourier dos dados de EXAFS de: (a) amostra tipo C3690H e (b) Espectros das referências (c-Si e β-SiC), mostrando seus picos característicos.

Page 48: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

29

A diferença de ordem química e estrutural entre as amostras C3680 e C3690H

pode ser analisada a partir da medida de EXAFS (ou Estrutura Fina Estendida de

Absorção de Raios X). O resultado para a amostra do tipo C3690H é apresentado na

anterior (Figura 3.1.1.a). Os dados apontam que nossas amostras de a-Si0,5C0,5:H

apresentam as duas primeiras esferas de coordenação, correspondentes às ligações de

primeiros vizinhos (Si-C) e segundos vizinhos (Si-C-Si). É importante destacar que

os resultados não apresentam o pico referente à ligação Si-Si, indicando que o

material é composto essencialmente por átomos de silício ligados a átomos de

carbono. No momento não dispomos no momento dos resultados de EXAFS da

amostra tipo C3680, mas podemos extrapolar a partir de análises feitas em amostras

crescidas em condições semelhantes às amostras crescidas sem diluição em H2 (como

nossa C3680) são mais desordenadas, exibindo uma pequena fração de átomos de

silício ligados a silício. Uma análise detalhada destes comentários pode ser

encontrada na referência [27].

Assim, neste trabalho utilizamos dois tipos de amostras de a-Si0,5C0,5:H. Num

primeiro conjunto, as amostras são crescidas nas mesmas condições de amostras já

estudadas anteriormente. Ou seja, serão amostras próximas da estequiometria (x~0,5)

que exibem uma elevada ordem química e estrutural (tipo C3680) [27]. No segundo

conjunto as amostras, também quase estequiométricas (x~0,5), os filmes serão

crescidos com diluição em H2 (tipo C3690H), o que como já dissemos, promove o

crescimento de um material ainda mais ordenado, semelhante ao c-SiC [76]. O

principal objetivo aqui é estudar o comportamento num material com melhores

propriedades. Na tabela a seguir são apresentadas às condições de crescimento para

os dois tipos de amostras.

Tabela 3. 1 - Condições de deposição do a-Si1-XCX:H.

Amostra Tipo

Fluxo SiH4

(sccm)

Fluxo CH4

(sccm)

Fluxo H2(sccm)

Densidade de Potência

(mW/cm2) Temp. (ºC) x* H

(at. %)**

C3680 3,6 14 - 50 320 0,53 35 ± 3 C3690H 3,6 32,4 200 250 320 0,52 22 ± 2

*Concentração de carbono estimada por RBS. **Concentração de hidrogênio estimada por FTIR.

Page 49: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

30

A densidade de potência rf é obtida a partir da divisão da potência total

aplicada nos eletrodos pela área dos mesmos (400 cm2). Os filmes foram depositados

em diferentes substratos, escolhidos em concordância com as propriedades a serem

estudadas e com os processos de caracterização a serem utilizados. Na Tabela 3. 2

são apresentados os tipos de substratos utilizados e as técnicas de caracterização a

que se destinam.

Tabela 3. 2 - Tipos de substratos usados na deposição de amostras.

Tipo de Substrato Caracterização

Vidro Corning Elétrica

Silício com degrau Espessura

Silício Cristalino Espectroscopia FTIR

3.2 - TÉCNICAS DE CARACTERIZAÇÃO

3.2.1 - Perfilometria

Esta medida tem como objetivo a determinação da espessura dos filmes

depositados. Esta técnica mede basicamente as variações de planicidade nas

amostras, o sensor do aparelho é composto por uma fina agulha de diamante que

realiza movimentos horizontais sobre a superfície da amostra, as translações verticais

que a agulha sofre durante o percurso são detectadas pelas mudanças elétricas de um

transformador diferencial linearmente variável (LVDT), cujo núcleo está acoplado

mecanicamente no mesmo eixo da agulha. As mudanças produzem um sinal elétrico

proporcional ao deslocamento vertical da agulha, os sinais são digitalizados via

conversor e armazenados na memória em forma de dados para posterior

manipulação. Devido à alta sensibilidade do aparelho é necessário que ele opere

numa área com um mínimo de vibrações mecânicas. O aparelho utilizado foi um

perfilômetro Tencor, modelo Alpha Step 500, localizado no Laboratório de

Microeletrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Page 50: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

31

3.2.2 - Espectroscopia de Infravermelho (FTIR)

As medidas de espectroscopia na região do infravermelho [77] (“Fourier

Transform Infrared Spectroscopy”, ou FTIR) produzem informações a respeito das

ligações atômicas do material. Dessa maneira, essas medidas tiveram o objetivo de

estudar a estrutura atômica dos dois tipos de a-SiC:H obtidos por PECVD utilizados

neste trabalho (C3680 e C3690H), antes e depois da dopagem e dos tratamentos

térmicos.

Esta técnica consiste na incidência de uma determinada radiação sobre a

película produzindo mudanças no estado vibracional das moléculas que compõem o

material. A freqüência de radiação necessária para mudar o estado vibracional da

molécula está geralmente compreendida na região de infravermelho (0,77 μm ∼ 1000

μm). Durante a vibração de uma molécula devida, por exemplo, a uma radiação

infravermelha, a distribuição de carga sofre uma mudança periódica e, em geral

como conseqüência, o momento dipolar também muda periodicamente.

Quando a freqüência de radiação, incidindo sobre uma molécula, coincide

com a freqüência de ressonância natural da molécula, ocorrerá uma mudança no

estado vibracional, que se for acompanhada por uma mudança no momento dipolar e,

portanto, na energia da molécula, uma banda de absorção associada com este estado

vibracional será observada no espectro de absorção. A intensidade desta absorção

dependerá da magnitude da transição do momento dipolar enquanto que a freqüência

da absorção dependerá das massas dos átomos envolvidos e suas posições relativas

para a determinada ligação [78,79]. Em materiais amorfos, apesar destes

apresentarem um arranjo de primeiros átomos vizinhos muito similar ao material

cristalino, há dispersão tanto na distância das ligações dos elementos presentes como

no ângulo das ligações, o que provoca o alargamento das bandas de absorção dos

espectros. Assim o aumento de desordem num material amorfo originará mudanças

nas ligações químicas dos elementos componentes causando deslocamento da

freqüência de ressonância daquelas estruturas desordenadas dentro do material

amorfo.

Os espectros de infravermelho de ambos os tipos de amostras de a-SiC:H são

apresentados na figura a seguir, onde aparecem normalizados pela espessura para que

Page 51: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

32

possamos compará-los de forma que todas as variações no espectro sejam de caráter

composicional.

3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 400

(b)

(a)

C-Hn Si-Hn

Si-CHn

Si-C(a) - C3690H(b) - C3680

Abso

rbân

cia

(u.a

.)

Número de onda (cm-1) Figura 3. 2 – Espectros de absorção na região do infravermelho do a-SiC:H dos tipos C3680 e C3690H não-dopado.

Através do espectro apresentado podemos observar as bandas de absorção no

infravermelho características do a-SiC:H e as ligações químicas as quais elas estão

associadas. Os espectros de absorção das amostras de a-SiC:H foram obtidos a partir

de medidas de absorção utilizando um espectrofotômetro por transformada de

Fourier, modelo FTS-40, Bio Rad, pertencente ao Laboratório de Microeletrônica da

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

3.2.3 - Difração de raios X (XRD)

A difração de raios X [80] (“X-Ray Diffraction”, ou XRD) é uma técnica

comumente utilizada para análise da estrutura cristalina dos materiais, que possibilita

distinguir se o filme é amorfo ou cristalino. Com essa técnica também é possível

distinguir os politipos cristalinos existentes em uma matriz.

Page 52: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

33

O principio desta técnica está baseado na interação de um feixe de raios X

com o material em análise, uma vez que o comprimento de onda do raio (~1 Å) tem a

mesma ordem de grandeza das distâncias interatômicas.

A distinção entre um material cristalino e um amorfo poderá ser feita na

análise do difratograma, a intensidade espalhada por um material cristalino é quase

nula em todo o espectro, exceto em certos ângulos, onde indica picos intensos e

finos, determinados pela Lei de Bragg. Os materiais amorfos possuem estruturas

características por uma quase total ausência de periodicidade, e uma tendência

apenas à ordem local, vista no empacotamento atômico preferencial a certa distância

típica; o resultado é um difratograma mostrando somente um ou dois máximos

alargados. Quanto menor for o tamanho do grão cristalino, mais larga será a reflexão.

O limite de transição entre um material cristalino e amorfo é um assunto controverso.

A diferença entre um material cristalino e um amorfo está na dimensão da ordem de

longo alcance, ou seja, no tamanho do cristalito. Considera-se, como é comumente

definido pela literatura, um material nanocristalino aquele que possui um

empacotamento entre 5 e 50 planos cristalinos, portanto, um tamanho de grão entre

10 Å e 100 Å. Para tamanho de grão maior que 100 Å, considera-se que o material é

microcristalino.

Para a análise de nossas amostras utilizamos os equipamentos de XRD do

Laboratório de Cristalografia do Instituto de Física da USP (LCr-IFUSP). Foram

utilizados os equipamentos URD-6, marca Zeiss Jena, com geometria Theta-2Theta e

potência do filamento de 0,8 KW (40KV/20mA), e um outro difratômetro Rigaku,

com geometria Theta-Theta e gerador de raios X de 3 kW. Ambos os equipamentos

utilizam a radiação Kα do Cu, com λ=1,5418 Å. Os dados foram analisados

consultando e comparando com os resultados mais comuns encontrados na literatura.

3.2.4 - Condutividade elétrica no escuro

Para a caracterização elétrica das amostras dopadas e não-dopadas utilizamos

medidas de condutividade no escuro. Este tipo de caracterização tem sido

amplamente empregado pelo meio científico para avaliar a dopagem de materiais

semicondutores, pois permite determinar importantes parâmetros do material, tais

Page 53: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

34

como a energia de ativação (deslocamento do nível de Fermi) e a variação da

condutividade elétrica em função das condições de dopagem.

As medidas foram realizadas em películas crescidas sobre substratos isolantes

de vidro (Corning 7059) com baixo conteúdo iônico. Contatos de Al em arranjo

coplanar foram evaporados sobre a superfície de a-SiC:H, os quais foram

sinterizados por uma etapa de recozimento térmico a 420 ºC durante 20 minutos. O

esquema dos contatos elétricos é apresentado na figura a seguir.

(a)

(b)

Figura 3. 3 – Esquema dos contatos elétricos para medida de condutividade.

Page 54: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

35

A caracterização elétrica foi realizada utilizando um eletrômetro Keythley,

modelo 6517A, na configuração I/V (corrente/tensão). A condutividade elétrica foi

obtida através da medida de corrente elétrica para temperaturas que variavam entre

27 até 250 ºC a uma tensão constante de 40 V. A tensão aplicada foi escolhida de

forma que a amostra se encontre em regime ôhmico. Um sistema completamente

automático foi usado para medir a condutividade como uma função da temperatura.

As medidas foram realizadas em duas etapas diferentes, porém sucessivas: a primeira

partindo da temperatura ambiente e aquecendo lentamente até 250 ºC, e a segunda,

resfriando lentamente até a temperatura ambiente. O sistema de caracterização

elétrica é apresentado na Figura 3. 4.

Figura 3. 4 - Sistema de caracterização elétrica: (a) micromanipuladores, (b) eletrômetro e (c) sistema de aquecimento.

A partir destes resultados elaboramos um gráfico da condutividade no escuro

em função do inverso da temperatura. Uma função de Arrhenius foi aplicada aos

dados para cada condição de dopagem. Deste modo, a energia de ativação da

condutividade pode ser obtida como função da condição da dopagem, podendo

avaliar o seu efeito. Baseado na reprodutibilidade dos resultados foi calculado um

erro menor que 10% para a medida de condutividade. Para a energia de ativação o

erro foi obtido por comparação do máximo e mínimo ajuste da função de Arrhenius.

Page 55: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

36

As amostras de a-SiC:H indicam o mecanismo de condução por estados

estendidos (não-localizados) nas bandas de condução e valência como principal

mecanismo de condução elétrica com a variação da temperatura medida. Uma curva

típica da condutividade em função da temperatura para uma amostra não dopada é

mostrada na Figura 3. 5.

0,0020 0,0022 0,0024 0,0026 0,002810-14

10-12

10-10

10-8

C3680: EA = 1,2 eV (Gap = 2,4 eV)

C3690H: EA = 1,4 eV (Gap = 2,9 eV)

Con

dutiv

idad

e (Ω

.cm

)-1

1/T (K-1)

500 480 460 440 420 400 380 360

σ = σ0 exp (-EA/kT)

Temperatura (K)

Figura 3. 5 - Curvas de condutividade em função da temperatura para amostras não-dopadas de a-SiC:H tipo C3680 e C3690H.

Como podemos ver na figura anterior a condutividade exibe um

comportamento ativado termicamente e os níveis de Fermi das amostras encontram-

se muito próximos do meio do gap, justamente como deve ser num material

semicondutor não-dopado. Podemos notar também que devido à alta resistividade

das amostras intrínsecas (o limite de sensibilidade da medida de condutividade do

eletrômetro é de aproximadamente 10-13 (Ω.cm)-1) só foi possível medir a

condutividade elétrica a temperaturas relativamente altas, acima de 150ºC.

3.2.5 - Espectrometria de massa de íons secundários (SIMS)

A Espectrometria de Massa de Íons Secundários [81] (“Secondary Ion Mass

Spectrometry”, ou SIMS) é uma técnica analítica que pode ser usada para

Page 56: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

37

caracterizar sólidos (e alguns líquidos) desde a superfície até uma profundidade de

aproximadamente 30 μm. A técnica utiliza um feixe de íons primários (0,5-20 keV)

para provocar uma “pulverização” (sputtering) da superfície da amostra, produzindo

partículas ionizadas secundárias que são detectadas usando um espectrômetro de

massa. A Figura 3. 6 ilustra o método SIMS. O feixe de íons primários pode ser de

O2+, O-, Cs+, Ar+, Xe+, Ga+ entre várias possibilidades, sendo que feixes de O2

+ são

normalmente usados para detecção de espécies eletropositivas, enquanto os de Cs+

são utilizados para espécies eletronegativas. A amostra pode ser interceptada pelo

feixe de íons primários em diferentes ângulos de incidência, com uma faixa típica até

60º da normal. O processo de pulverização não envolve apenas a remoção de átomos

de superfície pela perda de energia da espécie primária na forma de uma cascata de

colisões, mas também é acompanhado pela implantação da espécie primária na

amostra. Assim, diversas espécies são formadas pela interação do feixe com a

amostra, porém somente os íons secundários positivos e negativos são as espécies de

interesse para a análise SIMS. Os íons secundários são extraídos por campos

elétricos e sua massa é analisada.

Figura 3. 6 - Esquema da técnica SIMS.

FONTE DE ÍONS

AMOSTRA

ESPECTRÔMETRO DE MASSA

DETECTOR

ANALISADOR DEENERGIA

IMAGEM

PERFIL

ESPECTRO DE MASSA

íons primários

(O+)

íons secundários

Page 57: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

38

A Figura 3. 6 mostra os três tipos de análises que podem ser realizadas pela

técnica SIMS: espetros de massa, perfis de profundidade e imagens produzidas pelos

íons. O espectro de massa é obtido através de pulverização da amostra, enquanto o

espectrômetro de massa varre a faixa de massas atômicas. Se a superfície da amostra

é pulverizada muito lentamente, removendo menos de 1 % da monocamada superior

de átomos enquanto o espectrômetro de massa é varrido, o espectro irá conter

informações sobre quais massas moleculares estão presentes e suas intensidades. Esta

aplicação é chamada de SIMS estático.

O SIMS também pode ser utilizado no modo de coleção de dados, de modo

análogo ao microscópio eletrônico de varredura (MeV). Neste caso, ao invés de obter

imagens da amostra usando um feixe de elétrons focado e detectar elétrons

secundários emitidos da amostra, a imagem é formada por um bombardeio com um

feixe de íons, que grava uma imagem formada por íons secundários emitidos da

amostra que são detectados por um espectrômetro de massa. Desta maneira pode se

obter um mapeamento de elementos químicos e sua distribuição espacial na amostra.

Perfis de profundidade são obtidos se o espectrômetro de massa monitorar

continuamente os íons secundários excitados pela pulverização numa mesma região

da amostra. Além disso, uma ou mais massas poderão ser detectadas

consecutivamente trocando rapidamente de canal entre as massas. Perfis de

profundidade precisos requerem um bombardeamento iônico uniforme na área

analisada, evitando coletar íons das paredes da cratera formada, adjacente à

superfície da amostra. A Figura 3. 7 mostra um esquema da dependência do perfil de

profundidade com o tempo/profundidade de pulverização para diferentes regiões,

onde os íons secundários são coletados. Com o objetivo de obter uma boa resolução,

a área pulverizada dever ser maior que a área de detecção. A área pulverizada é

definida como a área percorrida pelo feixe de íons primários. A área de detecção, por

sua vez, é localizada em uma “janela” central que corresponde normalmente a 20%

da área varrida pelo feixe de íons. A Figura 3. 7 indica que a forma do perfil das

espécies monitoradas depende significantemente do tamanho da área detectada. Se a

área detectada for à mesma do feixe, então as espécies monitoradas no filme podem

ser detectadas em regiões mais profundas que aquelas do perfil real, uma vez que

contribuições das paredes da cratera formada pelo feixe ainda estarão presentes.

Page 58: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

39

0 1 2 3 4

REGIÃO CENTRAL COLETADA

FEIXE TOTAL COLETADO

REGIÃO COLETADA

PENETRAÇÃO UNIFORME

FEIXE DE ÍONS PRIMÁRIOS

Den

sida

de d

e ío

ns s

ecun

dário

s

Tempo ou Profundidade

Figura 3. 7 - Relação entre a forma do perfil da profundidade e a área detectada.

Perfis de profundidade e espectros de massas são dados complementares.

Espetros de massas produzem informações úteis sobre interferências de massa

necessárias, com o intuito de tomar decisões sobre quais espécies compõem o melhor

perfil ou o melhor limite de detecção em um perfil de profundidade.

Concluindo, a técnica SIMS pode ser usada para identificar e quantificar uma

determinada espécie de interesse na superfície estudada ou pode ainda ser usada para

estudar as distribuições das espécies em função da profundidade da amostra. Nesse

último caso, os íons de interesse são monitorados em função do tempo de análise

(tempo de pulverização do filme). O tempo de análise pode ser convertido em

profundidade medindo-se a profundidade da cratera num perfilômetro, enquanto a

escala de intensidade pode ser convertida em concentração usando-se os fatores de

sensibilidade apropriados. Historicamente, tem sido difícil obter uma análise

quantitativa usando SIMS. A taxa de geração de íons secundários pode variar mais

de 6 ordens de grandeza de um dado material para outro. Estas variações na

sensibilidade para elementos não podem ser modeladas com precisão usando

modelos teóricos para emissão de íons. A necessidade para quantificar as espécies

Page 59: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

40

forçou a comunidade que utiliza SIMS a desenvolver uma extensa base de padrões

para calibrar instrumentos empiricamente para sensibilidade.

O perfil de profundidade dos átomos de boro na dopagem por implantação

iônica de B+ e BF2+ foi determinado pela técnica SIMS utilizando um equipamento

Cameca, modelo SQ156, pertencente ao Laboratório de Materiais e Feixes Iônicos

(LAMFI) do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. É importante aqui

destacar que o perfil do flúor não pôde ser analisado por se tratar de uma espécie

eletronegativa, a qual necessita de um feixe primário de Cs+, que não se encontra

disponível no equipamento. O perfil de boro foi obtido monitorando os íons

secundários B+ produzidos pelo bombardeamento iônico primário de oxigênio com

uma energia de 9 keV. O foco do íon primário foi centrado numa área quadrada de

100 μm x 100 μm. Uma técnica de abertura eletrônica foi usada para assegurar que a

massa analisada só foi contada a partir de íons secundários que tinham sido

pulverizados de uma janela central de 20% da área do feixe primário, eliminando

assim grande parte dos íons pulverizados das paredes de cratera. Os íons de boro

monitorados em função do tempo de análise foram convertidos em profundidade

medindo-se a profundidade da cratera, a qual foi determinada pelo perfilômetro

descrito anteriormente.

Page 60: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

41

3.3 – METODOLOGIA

Apresentamos aqui os processos básicos para a fabricação de dispositivos

baseados em a-Si0,5C0,5:H obtido por PECVD. Estes processos envolvem a dopagem

e corrosão, bem como processos de cristalização que podem se mostrar fundamentais

para melhorar as propriedades dos filmes de a-SiC:H. Por fim, apresentamos a

tecnologia empregada para a fabricação dos primeiros dispositivos protótipos, entre

eles capacitores MOS, heteroestruturas SiC/Si e transistores de filme fino.

3.3.1 – Processos de Fabricação

I. Cristalização e corrosão dos filmes

Para fabricar dispositivos eletrônicos ou MEMS, é exigida uma corrosão

seletiva do material porque o SiC é inerte à maioria das substâncias químicas aquosas

a temperaturas menores que 600 ºC. A corrosão úmida através de ácidos ou bases

não é um método prático para fabricação de dispositivos de SiC, porém, foi mostrado

que corrosões secas baseadas em plasmas de compostos fluorados são capazes de

produzir taxas de corrosão aceitáveis (10-100 nm/min) [82,83]. Os mecanismos

básicos para a corrosão do SiC em plasmas fluorados consistem em uma combinação

de reações químicas (reações com F e O) e físicas (íons enérgicos) para o processo de

remoção. Em geral, os parâmetros que devem ser considerados para o processo de

corrosão seca por plasma incluem a taxa de corrosão, seletividade com relação à

camada de mascaramento, anisotropia e presença ou ausência de resíduos na região

corroída. Como mencionado anteriormente, filmes amorfos e cristalinos de SiC

devem ser utilizados na fabricação de dispositivos para sejam avaliados quanto ao

seu desempenho. Assim, apresentamos a cristalização de filmes de a-SiC:H obtidos a

baixas temperaturas pela técnica PECVD e a corrosão destes respectivos filmes

utilizando plasmas baseados em CHF3+O2.

Deste modo, filmes de a-SiC:H foram produzidos utilizando a técnica

PECVD a partir da mistura gasosa de silano (SiH4), metano (CH4) e hidrogênio (H2).

Page 61: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

42

As condições de deposição são dadas na Tabela 3. 1, onde as concentrações de

carbono e hidrogênio (deduzido do espectro FTIR), também são mostradas.

As amostras foram depositadas sobre substratos de silício (100) e o processo

de cristalização foi realizado num forno em alto vácuo (pressões da ordem de

~10-6 Torr) a 550, 750, 1000 e 1250 ºC por 2 horas. Nestes experimentos, a natureza

das ligações químicas foi determinada pela espectrometria FTIR. Considerando a

banda de absorção do espectro FTIR, a concentração de ligações nos filmes é dada

por [84]:

NSi-C,Si-H,C-H = A ∫ ωωωα d)( ,

onde α(ω) é o coeficiente de absorção, ω é o número de onda e A é um coeficiente

para as ligações Si-H (1,4×1020 cm-2), C-H (1,35×1021 cm-2) e Si-C (2,13×1019 cm-2).

Assim, a intensidade integrada é diretamente proporcional à concentração das

ligações nos filmes [85,86] e o conteúdo de hidrogênio pode ser calculado. Medidas

de difração de raios X (XRD) foram realizadas para analisar a cristalização do

material.

Utilizando estes filmes amorfos e cristalizados, experimentos de corrosão

foram realizados num reator de placas paralelas com eletrodos de Al no modo de

corrosão de reação por íon reativo (“Reactive Ion Etching”, ou RIE), com uma

freqüência de rf de 13,56 MHz. A temperatura T e o fluxo de gás total (CHF3+O2)

foram mantidos constantes em 20 ºC e 50 sccm, respectivamente. Os parâmetros

variáveis foram à porcentagem de O2 na mistura com CHF3, a pressão de processo p

e a potência P. Um perfilômetro Tencor Alfa Step 500 foi usado para determinar as

espessuras corroídas.

II. Processos de dopagem

Geralmente, para aplicações em dispositivos, é desejado preparar filmes com

o máximo de condutividade elétrica. Filmes finos de a-SiC:H com condutividade

Page 62: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

43

apropriada têm sido tradicionalmente obtidos pela dopagem in-situ, ou seja, durante

o crescimento dos filmes.

Filmes de a-SiC:H com alta condutividade elétrica, alta transparência e baixa

densidade de defeitos são necessárias, por exemplo, na tecnologia de produção de

células solares e podem ser obtidos por dopagem in-situ com boro (dopagem tipo-p)

ou fósforo (dopagem tipo-n) [87]. Geralmente a dopagem tipo-p é produzida

adicionando o gás B2H6 (diborana) junto aos gases precursores (normalmente SiH4 +

CH4), enquanto para dopagem tipo-n é obtida utilizado o gás PH3 (fosfina). Técnicas

de dopagem pós-deposição, como a implantação iônica, não têm sido muito aplicadas

para o a-SiC:H. Esta técnica oferece algumas vantagens importantes sobre a

dopagem in-situ, entre as principais podemos citar a possibilidade de controlar a

concentração de impurezas e a possibilidade de criar padrões de dopagem. Não

obstante, a criação de danos à rede devido ao processo de implantação é a principal

desvantagem desta técnica. Como no carbeto de silício cristalino, é necessário

realizar um processo de recozimento térmico para recuperar os danos causados à rede

e principalmente para ativar eletricamente as impurezas. Por causa da alta densidade

de estados permitidos no gap existente nos materiais amorfos, os poucos trabalhos

que reportam a implantação iônica como processo de dopagem utilizam altas doses

de impurezas [88,89], acima de 1019 cm-3.

No caso do carbeto de silício cristalino, a dopagem é normalmente realizada

via implantação iônica e dopagem epitaxial controlada (in-situ). A dopagem por

difusão térmica de dopantes, muito utilizada na tecnologia do silício, não é utilizada

em c-SiC por requerer temperaturas muito altas, acima de 1800 ºC. Isso se deve à

elevada energia da ligação do Si-C, que implica num baixo coeficiente de difusão de

impurezas em c-SiC [90].

Os elementos químicos comumente empregados como dopantes doadores e

aceitadores em SiC são os do grupo V e grupo III da tabela periódica. A implantação

de alumínio é utilizada para produzir filmes tipo-p, já que este elemento produz os

melhores resultados de aceitadores ativos em SiC. A dopagem com nitrogênio, por

outro lado, produz os melhores resultados em filmes de SiC tipo-n. Assim como no

silício, o fósforo também pode ser utilizado como impureza doadora, sendo que a

Page 63: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

44

energia de ionização do fósforo é comparável à do nitrogênio e também produz

dopagem tipo-n, conforme é mostrado na tabela abaixo.

Tabela 3. 3 - Elementos dopantes com suas respectivas energias de ionização em 6H-SiC.

Elemento Energia de Ionização Nitrogênio 54 ± 5 meV [95]

Fósforo 80 ± 5 meV [95] Alumínio 200 - 250 meV [96]

Boro 300 - 400 meV [96]

Outra técnica que também tem sido muito estudada em c-SiC é a dopagem

durante o processo de crescimento epitaxial (in-situ) [91]. Larkin et al. [92]

desenvolveu uma técnica de controle de dopantes conhecida como “site-competition

epitaxy”. A dopagem é controlada desde altas doses (>1×1019 cm-3) até baixas doses

(aproximadamente 1×1014 cm-3) com a introdução de uma fonte dopante em conjunto

com a variação da fonte de gás de Si e C. Silano e propano são as típicas fontes de

gases de silício (Si) e carbono (C), respectivamente. O estudo desta técnica também

foi reproduzido em outros laboratórios que usam o gás metano como fonte de

carbono. A técnica site-competition epitaxy tem sido utilizada para controlar a

incorporação de dopantes como o nitrogênio, fósforo, alumínio e boro. As lâminas

são normalmente dopadas tipo-n durante o seu crescimento por meio da adição dos

gases fosfina ou nitrogênio, e tipo-p por diborana ou trimetilalumínio. Taxas de

crescimento típicas de lâminas homoepitaxiais de 6H-SiC tipo-n são de

aproximadamente 3 μm.h-1. O controle da quantidade de dopantes a serem

incorporados substitucionalmente no cristal de SiC é realizado através do ajuste da

relação da fonte de gases de Si/C no reator de crescimento. O modelo é baseado em

competições entre átomos de nitrogênio e carbono nos sítios de C e com átomos de

alumínio e silício competindo nos sítios de Si na rede do SiC. Esta técnica também é

utilizada para o boro e o fósforo. Muitos grupos de pesquisas têm rotineiramente

produzido o crescimento homoepitaxial de SiC de alta qualidade.

Como podemos notar, tanto em a-SiC como em c-SiC ambos os tipos de

dopagem, in-situ e a implantação iônica, são ferramentas vitais para fabricação de

dispositivos eletrônicos. A implantação iônica tem a vantagem da possibilidade de

Page 64: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

45

uma dopagem seletiva, além da facilidade do controle prévio de impurezas a ser

incorporado no material. Por outro lado à dopagem in-situ tem a vantagem de não

introduzir danos à rede do material, a qual elimina a necessidade de etapas

posteriores de dopagem e de recozimento térmico para ativação de impurezas e

reconstrução da rede, além de ser um processo mais simples e econômico, uma vez

que o filme já sai dopado reator de deposição e não necessita de processos

subseqüentes.

Em trabalhos anteriores [28,93,94] foram desenvolvidos estudos sobre a

dopagem elétrica de filmes de a-Si1-XCX:H quase estequiométricos (x~0,5) obtidos

pela técnica PECVD a baixas temperaturas (320ºC). As amostras foram dopadas

tipo-n e tipo-p pelas técnicas de implantação iônica e difusão térmica. Para dopagem

tipo-n foi utilizada a técnica de implantação iônica de nitrogênio e fósforo, com

diferentes doses, energias e tratamentos térmicos pós-implantação. Para a dopagem

tipo-p foi empregado o processo de difusão térmica de alumínio, estudando

diferentes temperaturas e tempos recozimento. Também foram feitos testes de

dopagem por implantação iônica de boro.

Agora, neste presente trabalho, a proposta é a de aprimorar ainda mais estes

processos de dopagem. Assim, apresentamos um estudo de dopagem in-situ com

nitrogênio para formação de películas dopadas tipo-n a partir do próprio reator de

deposição PECVD. Além disso, realizamos também um estudo detalhado de

aprimoramento da dopagem tipo-p com o processo de implantação iônica com BF2+,

e via difusão térmica de alumínio, em conjunto com a cristalização dos filmes, este

processo seguiu-se conforme os estudos apresentados anteriormente de cristalização.

As condições de dopagem tipo-n, com nitrogênio, e tipo-p, com boro e alumínio, são

apresentadas a seguir:

A. Dopagem “in-situ” com nitrogênio

Em carbeto de silício cristalino o nitrogênio e o fósforo são os dopantes mais

utilizados. Devido à sua menor energia de ionização (~54 meV), a dopagem com

nitrogênio é normalmente mais eficiente, além de ser um gás de baixo custo e não

Page 65: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

46

tóxico [95]. Portanto, neste trabalho apresentamos um estudo da dopagem in-situ

com N2 em filmes de a-Si0,5C0,5:H obtidos em baixas temperaturas por PECVD. Os

filmes foram crescidos com e sem diluição em hidrogênio na mistura gasosa

precursora, com o intuito de estudar o efeito da dopagem em materiais com diferente

ordem química e estrutural.

A dopagem foi obtida através da adição de pequenas quantidades de N2 à

mistura gasosa (SiH4 + CH4) com o objetivo de promover a incorporação do

nitrogênio nos filmes de a-Si0,5C0,5C:H. Neste caso foram estudadas amostras

crescidas nas mesmas condições da Tabela 3. 1. A quantidade de N2 adicionada à

mistura gasosa é dada na Tabela 3. 4. O efeito da dopagem foi avaliado através de

condutividade elétrica no escuro (σd) e pela energia de ativação (EA) obtidos de

medidas corrente-voltagem (IxV) a diferentes temperaturas. A natureza das ligações

químicas foi determinada por espectroscopia no infravermelho (FTIR).

Tabela 3. 4 - Condições de dopagem in-situ com N2.

Amostra Tipo Nome Fluxo N2 (sccm)

N0,1 0,1 N0,5 0,5 C3680 N1,0 1,0 N0,1 0,1 N0,5 0,5 C3690H N1,0 1,0

B. Dopagem por implantação iônica com B+ e BF2+

Para a formação de perfis de dopagem tipo-p são utilizados íons de átomos

trivalentes do grupo III da tabela periódica (especialmente Al e B em SiC). Em

comparação com o alumínio, em SiC o boro possui menor solubilidade e um nível

aceitador mais profundo no seu gap de energia. Por outro lado, o boro possui um

interesse especial devido à sua menor massa. Com isso, sua implantação causa

menos danos à rede cristalina e possibilita a utilização de menores energias de

Page 66: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

47

implantação para alcançar uma mesma profundidade ou, no caso de maiores

energias, uma maior facilidade em se obter junções profundas.

Porém, a massa menor torna-se um problema para a obtenção de uma alta

concentração de dopantes na superfície, prejudicando, por exemplo, a obtenção de

um bom contato ôhmico. Troffer et al. [96] apresentaram um estudo a respeito da

dopagem de Al e B via implantação iônica, onde o efeito da difusão do boro durante

o recozimento térmico pós-implantação para ativação das impurezas e reconstrução

da estrutura cristalina foi analisado. Foi observado que o tratamento térmico

promove uma difusão do boro para o substrato, e a superfície sofre uma exodifusão

dos seus átomos, influenciando diretamente o comportamento elétrico das amostras.

Diversos trabalhos têm reportado o processo de difusão de boro em c-SiC [97,98].

Na tecnologia do silício, onde o boro é a principal impureza doadora, é muito

difícil obter uma junção p+/n ultra-rasa devido ao tunelamento do boro e à sua

difusão. Para satisfazer à necessidade da formação de uma junção ultra-rasa, várias

adaptações têm sido implementadas nos processos, como exemplo, a utilização de

energias de implantação extremamente baixas. Diversos artigos [99,100] têm

reportado uma alternativa a esta questão, que é a utilização da implantação iônica de

BF2+. A implantação utilizando BF2

+ ao invés de B+ tem sido amplamente utilizada

na formação de camadas tipo-p para a fabricação de dispositivos eletrônicos

baseados em Si, devido a sua maior massa e conseqüente minimização do efeito de

tunelamento do íon implantado.

Até então, nossos resultados prévios com implantação iônica com boro [93]

não foram muito satisfatórios e, baseados nos bons resultados apresentados pela

literatura do silício relacionada com a produção de junções rasas p+, decidimos

investigar aqui pela primeira vez o efeito da implantação de BF2+ em nossos filmes

de a-Si0,5C0,5:H.

Estes experimentos de dopagem com B+ e BF2+ foram realizados no

implantador iônico pertencente ao Laboratório de Microeletrônica da Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo. As condições de processo são apresentada

na tabela a seguir, as quais foram definidas de acordo com simulações prévias

realizadas no simulador SRIM-2000 utilizando múltiplas doses e energias, com a

Page 67: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

48

finalidade de produzir uma camada homogeneamente dopada de 300 nm. Uma

concentração fixa de 1×1020 cm-3 de B+ e BF2+ foram estudados. Após o processo de

dopagem foi realizado um tratamento térmico em 550 ºC por 1 hora num sistema em

alto vácuo (~10-6 Torr) para induzir a ativação elétrica dos elementos dopantes e

redução dos danos causados à rede. O efeito da dopagem foi avaliado através da

varição da condutividade elétrica no escuro (σd) e pela energia de ativação (EA)

obtidos de medidas corrente-voltagem (IxV) a diferentes temperaturas. A natureza

das ligações químicas foi determinada pela espectroscopia no infravermelho (FTIR) e

o perfil de profundidade dos átomos de boro foi determinado pela técnica SIMS.

Condições de dopagem das amostras de a-SiC:H por implantação de BF2+ e B+.

Concentração Energia Doses 10 keV D1 = 5,00 1014 cm-2 30 keV D2 = 1,00 1014 cm-2 C= 1020 at./cm3 65 keV D3 = 1,50 1015 cm-2

C. Dopagem por difusão térmica de alumínio

Nos últimos anos tem ocorrido um significante progresso na compreensão das

propriedades do carbeto de silício cristalino, no crescimento de monocristais e no

desenvolvimento de uma tecnologia voltada para a produção de dispositivos

eletrônicos baseados especificamente em SiC. Não obstante, ainda são muitos os

obstáculos a serem superados antes do SiC poder ser amplamente utilizado em

dispositivos. Muitos destes problemas estão relacionados com o recozimento para

reconstrução dos danos produzidos no cristal pela implantação iônica (já que este é

praticamente o único método praticável para dopagem seletiva devido à necessidade

de temperaturas muito elevadas para a dopagem por difusão térmica) e mais

especificamente com a ativação elétrica de átomos aceitadores em SiC [101]. Em

contraste com o doador nitrogênio, todos os átomos aceitadores possuem um nível

aceitador relativamente profundo em SiC. Assim, é muito difícil produzir baixas

resistividades em lâminas tipo-p de SiC, a qual é necessária, por exemplo, para a

formação de bons contatos ôhmicos num material tipo-p.

Page 68: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

49

O principal elemento aceitador em SiC é o alumínio, com uma energia de

ionização de aproximadamente 200 meV. De acordo com modelos teóricos [101] são

necessárias concentrações maiores que 2×1020 cm-3 para se obter resistividades

abaixo de 0,1 Ω.cm em temperatura ambiente. Além disso, outro problema está

relacionado com a solubilidade do Al em c-SiC, na qual em concentrações acima de

2×1020 cm-3 tem havido problemas com a ativação das impurezas devido à

precipitação de Al. Heera et al. [102] tem reportado a dopagem de altas

concentrações de Al por implantação em SiC nanocristalino, onde a estrutura

eletrônica e a capacidade de incorporação de impurezas são modificadas.

Em trabalhos anteriores [93] temos realizado com sucesso a dopagem tipo-p

em filmes de a-SiC:H via difusão térmica de Al, que indica apresentar um coeficiente

de difusão térmica diferente do c-SiC por se tratar de um material amorfo. Agora,

neste novo trabalho, promovemos a dopagem dos filmes a temperaturas um pouco

mais elevadas, com o objetivo de também cristalizar o material.

Para a dopagem por difusão térmica foi depositada uma película de Al de

aproximadamente 50 Ǻ pela técnica de Electron Beam, e o processo de difusão

seguiu-se conforme os estudos de cristalização realizados previamente: tratamentos

térmicos a 550, 750 e 1000 ºC por 2 horas num sistema em alto vácuo com pressões

da ordem de 10-6 Torr.

Para a caracterização elétrica, eletrodos de Al em arranjo coplanar foram

obtidos por evaporação térmica, uma posterior sinterização foi realizada em 400 ºC

por 20 minutos. O efeito da dopagem foi avaliado através da condutividade elétrica

no escuro (σd) e pela energia de ativação (EA) obtidos de medidas corrente-voltagem

(IxV) a diferentes temperaturas. A natureza das ligações químicas foi determinada

por espectroscopia no infravermelho (FTIR).

Page 69: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

50

3.3.2 – Dispositivos

I. Capacitores tipo metal-óxido-carbeto de silício (MOSiC)

Como já dito anteriormente, o carbeto de silício é um material semicondutor

interessante para aplicações que envolvem altas temperaturas, altas potências e altas

freqüências devido as suas propriedades elétricas e mecânicas. Embora,

historicamente, o SiC tenha sido o primeiro semicondutor a apresentar

eletroluminescência, a dificuldade em obter cristais levou o desenvolvimento de

outros materiais semicondutores (sendo que o principal deles foi o da indústria do

silício), conseqüentemente o interesse pelo SiC diminuiu muito no final dos anos 60.

Porém, no final da década de 1970, foram desenvolvidos novos métodos para

obtenção de cristais a de crescimento epitaxial, como o método de Lely e o CVD.

Com estes novos métodos as propriedades elétricas de lâminas do SiC se

encontravam num padrão que permitia fabricar uma grande variedade de dispositivos

eletrônicos, embora ainda não fossem produzidas lâminas comercialmente, o que só

ocorreu no final da década de 1980.

A Figura 3. 8 mostra o número de artigos produzidos relacionados à

tecnologia do SiC ao longo dos anos. Neste gráfico percebe-se claramente um

crescimento de exponencial do número de artigos referentes ao SiC a partir da

década de 1980, devido o aperfeiçoamento e produção comercial de lâminas de SiC.

Outra característica extremamente importante do carbeto de silício é que ele é o

único material semicondutor, além do silício, a produzir termicamente óxido de

silício. Não obstante, a qualidade deste óxido é adequada para fabricação de

dispositivos eletrônicos industrialmente. Muitos pesquisadores têm estudado o

crescimento de SiO2 sobre SiC visando a melhoraria da sua qualidade. Como pode

ser visto na Figura 3. 8, a contribuição de artigos com estruturas SiO2/SiC (análises

física, química e elétrica de estruturas MOS) também tem crescido exponencialmente

no últimos anos.

Camadas isolantes de óxido são necessárias em muitas aplicações: (i) a

principal de todas, para fabricar estruturas MOS, que é a primeira etapa para

Page 70: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

51

integração; (ii) para fabricar óxido de campo usado, por exemplo, em estruturas

“mesa” de diodos de bloqueio de tensão reversa >1 kV, no qual o campo elétrico de

superfície é maior que em dispositivos baseados em silício e (iii) como máscara para

fabricação de dispositivos. Para as duas primeiras aplicações é necessária uma boa

qualidade elétrica do óxido (resistividade e um campo elétrico de ruptura o mais alto

possível).

Como podemos notar a fabricação de estruturas MOS é uma ferramenta

importante para caracterização elétrica de um semicondutor e de fundamental

importância para a fabricação de dispositivos eletrônicos. Com isso em mente, neste

capítulo apresentaremos um breve estado da arte a respeito da oxidação e

caracterização de capacitores tipo metal-óxido-carbeto de silício (MOSiC), em

conjunto com os primeiros resultados experimentais referentes a oxidação de filmes

cristalizados de SiC PECVD, além da caracterização elétrica de diferentes estruturas

MOSiC feitas a partir deste material.

Figura 3. 8 - Número de artigos publicados no campo do SiC nas últimas décadas: (quadrados abertos) como material semicondutor e (triângulos fechados) como estruturas metal-óxido-semicondutor MOS. Os dados foram retirados da referência [103].

- Oxidação térmica

Crescido sob as mesmas condições, a oxidação térmica do SiC é mais lenta

que a oxidação do Si. Numa oxidação realizada em condições convencionais (fluxo

de O2 ou H2O entre 800 e 1200 ºC) são necessárias várias horas de processo para

Page 71: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

52

obter uma camada de óxido. Por exemplo, o crescimento de 40 nm de óxido seco a

1150 ºC em uma lâmina de 6H-SiC leva 3,5 horas no experimento descrito na

referência [104]. Os óxidos térmicos têm sido caracterizados por elipsometria e

espectroscopia Auger, apresentando uma sílica praticamente estequiométrica.

Como tem sido demonstrado [105], os fenômenos e comportamentos da

cinética de oxidação do SiC são os mesmos que descrevem a oxidação do Si, como

definido por Deal e Grove [106]. No início, o regime de crescimento do óxido é

linear, no qual a oxidação é limitada pelas reações na interface SiO2/SiC. Então, uma

vez formada a camada de óxido, a espécie oxidante tem que passar através desta

camada de óxido. Durante esta fase controlada pela difusão, a taxa de oxidação se

torna menor e apresenta um regime de crescimento parabólico. Esta lei de

crescimento pode ser escrita como:

x2 +Ax = B(t + τ),

onde x é a espessura do óxido e t é o tempo de oxidação. Quando um óxido de

espessura x é formado, 0,45x é consumido da espessura do SiC. A constante τ leva

em conta a espessura inicial da camada de óxido. A razão B/A é chamada de taxa

linear e é proporcional à taxa de reação da reação mais lenta. A constante B é

proporcional ao coeficiente de difusão, o qual é chamado de taxa parabólica. Estas

duas constantes são ativadas termicamente como exp(-EB/A/kT) e exp(-EB/kT) para a

taxa linear e parabólica, respectivamente.

A dependência da taxa de oxidação em relação aos diferentes politipos não é

conhecida. Parâmetros como concentração de dopantes, face do cristal (face-Si ou

face-C), pressão parcial de oxigênio e temperatura de oxidação são fatores que

aparentemente determinam o processo de oxidação do SiC [107]. Dados

experimentais também têm demonstrado que a face-C oxida mais rapidamente que a

face-Si.

A oxidação de SiC amorfo [108,109] é muito mais rápida que a oxidação do

SiC cristalino. Alguns trabalhos [109,110] têm mostrado que o óxido formado em

regiões do SiC que tenham sido amorfizadas (mudadas para o estado amorfo) por

implantação iônica, é de baixa qualidade de ponto de vista elétrico e não pode ser

usado como isolante em dispositivos MOS. Porém pode ser utilizado como camadas

espessas de óxido de campo [110], uma vez que a taxa de crescimento é muito maior

Page 72: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

53

que do c-SiC. Também é possível usar este óxido para fabricar regiões oxidadas

localmente, de maneira similar à oxidação local da tecnologia do silício (LOCOS).

- Propriedades elétricas

Uma grande parte dos estudos tem sido dedicada à análise de capacitância (C)

em função da voltagem (V), C(V), de dispositivos MOS baseados em SiC.

Para a limpeza inicial dos substratos, o procedimento mais comum é,

primeiramente, desengordurar as lâminas usando uma seqüência de solventes

orgânicos como acetona, tricloroetileno (TCE) e metanol ou propanol [111]. Entre

cada etapa, a lâmina é enxaguada em água deionizada (água DI). Então, a amostra é

limpa quimicamente em HF ou HNO3 e novamente em água DI. Finalizando,

submete-se a limpeza padrão RCA (Radio Corporation of America) [112]. Após o

processo de oxidação, é freqüentemente realizado um processo de recozimento

térmico em ambiente de Ar à mesma temperatura de oxidação, com o intuito de

diminuir cargas e armadilhas de interface no óxido [103]. Tem sido comumente

observado que dispositivos baseados em SiC possuem uma grande quantidade de

cargas e armadilhas de interface, tanto em oxidação úmida como seca, quando

comparados aos fabricados em Si.

Tabela 3. 5 - Propriedades elétricas de óxidos crescidos sobre 3C, 4H e 6H-SiC.

Politipo Campo Elétrico de Ruptura (MV cm-1) Índice de Refração Resistividade

(Ω.cm) 6H 8 [110], 9,5 [113] 1,463 ± 0,003 [108] 2×1012 [108]

9,5 [114] 10 [115,116] 2 [108], 10-11 [117]

3C 2,5 [118], 3,3 [119] 1,49 ± 0,05 [108] 8,5×1015 [118] 6 [120], 8 [121] ~1016 [119] 10 [115]

4H 10 [115]

A Tabela 3. 5 sumariza algumas propriedades do óxido crescido sobre SiC.

Como pode ser visto o campo elétrico de ruptura, EB, é da ordem de 8-11 MV cm-1,

valor comparável aos dos óxidos crescidos sobre Si (13 MV cm-1). Friedrichs et al.

Page 73: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

54

[115] mostraram que o campo elétrico de ruptura não depende nem do politipo (4H e

6H-SiC) e nem da concentração de dopantes. Porém, alguns estudos realizados em

politipos cúbicos (3C-SiC) tem apresentado baixos valores de EB, de 2,5 até

6 MV cm-1 [118,120]. De acordo com Soloviev et al. [122], a ruptura ocorre em

locais que possuem defeitos estruturais (como regiões com diferentes orientações

cristalográficas, inclusões de politipos e diferentes concentrações de dopagem entre

outras). O índice de refração é o mesmo do óxido crescido sobre silício, de 1,457

[108], e alta resistividade, da ordem ~1016 Ω cm, têm sido reportada pela literatura

[119].

- Propriedades elétricas deduzidas partir de medidas C-V

O capacitor MOS é a estrutura básica para caracterização de tecnologias

MOS. Ele é muito utilizado para esta finalidade pela simplicidade da sua fabricação e

análise. A estrutura MOS é formada por um material condutor (alumínio, silício

policristalino altamente dopado, etc.), isolante (dióxido de silício, oxinitreto de

silício, etc.) e semicondutor (silício, carbeto de silício, etc.). A diferença com um

capacitor de placas paralelas é a troca de uma das placas metálicas por um

semicondutor. A partir daí, tem-se uma capacitância adicional (capacitância do

semicondutor) que em série com a capacitância tradicional devido ao isolante

(capacitância do óxido), altera o valor final da capacitância total do dispositivo. A

alteração da capacitância total é função da tensão aplicada nos terminais do

dispositivo e pode ser observada na curva de capacitância em função da tensão

(C-V). A partir das medidas de capacitância em função da tensão a alta e baixa

freqüência (C-V AF e C-V BF) pode-se extrair uma série de parâmetros tecnológicos

fundamentais.

Como o carbeto de silício possui um alto gap de energia (aproximadamente

3 eV para o 6H-SiC), portanto a concentração de portadores intrínsecos é muito

menor que para o silício (ver Tabela 2. 1), a qual produz uma taxa de geração e

recombinação de portadores muito pequena comparadas com o Si. Com isso, não é

comum observar a formação da camada de inversão em dispositivos MOSiC sem

iluminar as amostras, principalmente para dispositivos tipo-p [123,124].

Page 74: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

55

Em geral, curvas a altas freqüências (AF) são obtidas a 1 MHz ou

100 kHz. A Figura 3. 9 mostra curvas C-V obtidas a 1 MHz de um capacitor tipo-p

de 6H-SiC [125] (linha contínua). O deslocamento na tensão de banda plana, ΔVFB,

em relação à curva teórica (não apresentada) é devido à quantidade de cargas efetivas

presentes no óxido (Qeff), da ordem de 1012 cm-2. Quando a estrutura está

originalmente em acumulação e a rampa de tensão é aplicada à porta, a capacitância

entra em depleção profunda se a amostra estiver no escuro. Após iluminá-la a

camada de inversão é formada. Quando a tensão de porta muda a estrutura de

inversão para acumulação, observa-se uma “lombada” na capacitância

[103,120,124], devido à densidade de estados de interface. Com o aumento da

concentração de lacunas, a densidade de estados de interface diminui através da

captura de lacunas, produzindo a lombada observada, como também é observado em

estruturas MOS de Si em 77 K [126]. A histerese apresentada é um indicativo de que

o número de estados não é igual à temperatura ambiente. Esta histerese também tem

sido reportada em estruturas MOS de Si 77 K [126] e no experimento de Shenoy et

al. [111]. Os autores [111] sugerem que as armadilhas responsáveis por esta histerese

estão próximas à interface e interagem com o semicondutor por tunelamento.

Figura 3. 9 - Curvas obtidas a altas (linha contínua) e baixas (linha pontilhada) freqüências, medidas am ambos os sentidos (inversão → acumulação e acumulação → inversão) a temperatura ambiente num capacitor tipo-p de 6H-SiC [125].

Capacitâncias a baixas freqüências (BF) são medidas usando o método quase-

estático (QSM), utilizando um tempo de varredura lento da ordem de

20 mV s-1. No caso da Figura 3. 9, quando a medida é feita da inversão para a

Page 75: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

56

acumulação, a presença de um pico na zona de depleção é interpretada como função

das armadilhas de interface [125]. Realizando a medida em outra direção, a presença

do pico é devida às condições de não-equilíbrio, por exemplo, a injeção de

portadores minoritários que estão em excesso na superfície do substrato [127].

Quando esta carga de superfície não se recombina em uma determinada a taxa de

varredura. A densidade de estados de interface, Dit, geralmente tem sido obtida

utilizando as curvas a baixa freqüência, a qual pode ser calculada pelo método

descrito por Brews e Niccolian [128].

- Detalhes experimentais

Para a fabricação dos capacitores MOSiC foram utilizados diferentes

dielétricos, de modo a comparar o comportamento dos dispositivos baseados com

estes diferentes isolantes. Dessa maneira dividimos o experimento em três grupos de

capacitores:

• Grupo 1 – Capacitores MOSiC (metal-óxido-carbeto de silício), com

óxidos crescidos termicamente a partir do SiC PECVD cristalizado:

oxidação seca e úmida;

• Grupo 2 – Capacitores MOSiC (metal-óxido-carbeto de silício) com

diferentes isolantes depositados por PECVD: óxido de silício e oxinitreto

de silício e

• Grupo 3 – Capacitores MOS (metal-óxido-silício) fabricados a partir de

substratos de silício via oxidação térmica seca, para ser utilizado como

um capacitor de referência.

Filmes de a-SiC:H com espessura de 850 nm foram depositados por PECVD

sobre lâminas tipo-n de Si(100) (ρ ~ 3 Ω.cm) de 2 polegadas. As condições de

deposição são apresentadas na Tabela 3. 6, onde a concentração de carbono dos

filmes, medida por RBS, também é mostrada.

Para a fabricação dos capacitores do Grupo 1, após a deposição dos filmes

amorfos foi realizado um processo de cristalização num forno em ambiente de N2 a

Page 76: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

57

1100 ºC por 2 horas. Como pode ser visto no capítulo referente ao processo de

cristalização, é formado um filme de 3C-SiC policristalino. Após um processo de

limpeza padrão RCA em ambiente de sala limpa, uma etapa de oxidação seca

sacrificial (processo chamado convencionalmente de “gettering”) foi realizada a

900 ºC durante 30 minutos (aproximadamente 80 nm de espessura de SiO2). A

camada de óxido foi removida por uma solução de HF com o intuito de remover

pequenos defeitos causados pela cristalização além de remover impurezas da

superfície. As amostras foram então novamente limpas e oxidadas. A Tabela 3. 7

apresenta as condições de oxidação seca e úmida utilizadas para este processo.

Por outro lado, para a fabricação dos capacitores do Grupo 2, logo em

seguida a deposição do a-SiC:H foi depositado o filme isolante, no mesmo processo,

sem a abertura da câmara PECVD. As condições de deposição dos filmes de SiO2 e

SiOXNY são mostradas na Tabela 3. 8. Somente então, com a estrutura

isolante/SiC/Si formada, foi realizado o processo de cristalização seguindo as

mesmas condições utilizadas para as amostras do Grupo 1.

Tabela 3. 6 - Condição de deposição das amostras obtidas por PECVD.

Amostra Fluxo SiH4 (sccm)

Fluxo CH4 (sccm)

Fluxo H2 (sccm)

rf (W)

Temp. (ºC)

Espessura (nm) x

C3690H 3,6 32,4 200 20 320 850 ± 30 0,52

Tabela 3. 7 - Parâmetros utilizados para o processo de oxidação térmica.

Oxidação Limpeza Temperatura Tempo Espessura

Seca Gettering: 80 nm de SiO2 +

RCA 1000 ºC 160 min 158 nm

Úmida Gettering: 80 nm de SiO2 +

RCA 900 ºC 90 min 61 nm

Para o processo de fabricação do capacitor de Si de referência, Grupo 3,

seguiu-se as mesmas seqüências empregadas para a fabricação do MOSiC fabricado

com oxidação térmica seca (Grupo 1). Neste processo de oxidação da lâmina de

referência de silício obteve-se um óxido térmico com a espessura de 125 nm, ou seja,

30 % mais fino que o óxido obtido sob as mesmas condições de processamento a

Page 77: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

58

partir do SiC PECVD cristalizado (160 nm). Como vimos anteriormente, a literatura

reporta que a oxidação térmica do SiC monocristalino é mais lenta que a oxidação do

Si monocristalino crescidos sob as mesmas condições. Portanto, isto é um indicativo

de que nosso material “cristalizado” ainda deve ser policristalino e conter uma

grande quantidade de defeitos estruturais que contribuirão fortemente na qualidade

do óxido obtido e, conseqüentemente, diretamente no desempenho dos dispositivos.

Dando continuidade a fabricação dos dispositivos de SiC, foi realizada uma

etapa de fotolitografia do óxido, na qual uma parte da camada de SiO2 foi removida

para que contatos elétricos pudessem acessar o SiC. Um esquema das máscaras

utilizadas no processo de fotolitografia para a fabricação da estrutura MOSiC é

apresentada na Figura 3. 10. Os dispositivos foram então metalizados através da

evaporação térmica de Al, com espessura de aproximadamente 500 nm. Os contatos

elétricos foram definidos por um processo litográfico convencional, definindo

geometrias quadradas de áreas de 9, 16 e 25×10-4 cm2. Para melhorar a qualidade dos

contatos elétricos foi realizado um recozimento térmico a 400 ºC por 20 min.

Tabela 3. 8 - Condição de deposição das amostras isolantes obtidas por PECVD.

Isolante Fluxo SiH4 (sccm)

Fluxo N2O (sccm)

rf (W)

Temp. (ºC)

Espessura(nm)

SiO2 3 39 100 320 226 SiOXNY 15 45 200 320 140

Os capacitores foram caracterizados eletricamente a partir de medidas de

capacitância-tensão (C-V) a alta freqüência (taxa de varredura de 20mV/s), utilizando

um equipamento Keithley Serie 82. A partir destas medidas extraímos as principais

características elétricas.

(a) Máscara C1 - Definição da geometria para corrosão do filme isolante (acesso ao filme

semicondutor)

300 μm

300 μm

50 μm

50 μm

Page 78: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

59

(b) Máscara C2 - Definição dos contatos elétricos

Máscaras de Processo

A seguir ilustramos a seqüência das etapas do processo para a fabricação dos

capacitores MOSiC:

A – Limpeza química do substrato de Si

B – Deposição do filme de SiC pela técnica PECVD

C – Deposição ou crescimento do filme isolante

20 μm

250 μm

Page 79: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

60

D – Fotogravação com a Máscara C1 e corrosão do filme isolante (acesso ao SiC)

E – Fotogravação com a Máscara C2 (lift-off) e deposição do filme metálico

F – Remoção do fotoresiste e definição dos contatos elétricos: Estrutura final

Legenda:

Substrato Silício Isolante

Alumínio Filme SiC PECVD

Fotoresiste

Page 80: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

61

Vista superior do dispositivo

Figura 3. 10 - Estrutura final do capacitor MOSiC.

II. Heterojunções SiC/Si

Estudos com heteroestruturas de SiC/Si são interessantes, por exemplo, para

fabricação de transistores heterobipolares [129,130] ou para dispositivos

optoeletrônicos [131,132]. O uso do carbeto de silício amorfo pode ser preferido se

comparado com o uso do material monocristalino por causa da temperatura de

formação ser relativamente baixa, a qual garante uma maior compatibilidade entre os

processos de obtenção do carbeto de silício com a atual tecnologia do silício. Além

disso, as propriedades de heterojunções de filmes de c-SiC e poli-SiC crescidos sobre

c-Si sofrem com a elevada diferença das constantes de rede e dos coeficientes de

expansão térmica entre os dois materiais, gerando um stress residual e uma alta

densidade de defeitos de interface. Apesar deste inconveniente, existem várias

aplicações que podem ser beneficiadas com esse sistema heteroepitaxial. SiC/Si com

propriedades aperferfeiçoadas possuem potenciais aplicações, por exemplo, em

dispositivos chaveadores [133,134], sensores [135] e sistemas microeletromecânicos

(MEMS) como membranas com baixo stress [136].

Desse modo, é importante obter heterojunções de SiC/Si de alta qualidade e

entender suas propriedades físicas e elétricas. A literatura tem reportado que a

deposição de películas de SiC sobre Si em baixas temperaturas resulta em junções

contato isolante

contato SiC

Page 81: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

62

com pobre desempenho elétrico, isto é, com baixa voltagem de ruptura e elevada

corrente reversa de fuga [137].

Assim sendo, é de grande interesse fabricar heterojunções de a-SiC:H

PECVD depositado a baixa temperatura sobre substratos de silício cristalino e

estudar, por exemplo, o efeito do processo de cristalização. Com isso em mente,

neste capítulo apresentamos uma breve introdução teórica, com os conceitos básicos

relativos às heterojunções, e também os resultados experimentais de heterojunções de

SiC/Si com filmes de carbeto de silício amorfos e cristalizados. O objetivo é

comparar o desempenho de heterojunções de SiC/Si desde a fase amorfa até um

material policristalino.

- Conceitos básicos

Diodos p-n convencionais utilizam perfis de dopagem de modo a controlar as

correntes de elétrons e lacunas. As cargas de doadores e aceitadores ionizados na

região de depleção, perto do limite entre os semicondutores tipo-n e p, criam um

campo elétrico no qual resulta uma barreira de potencial para elétrons e lacunas. A

energia de potencial para elétrons é determinada pela parte inferior da banda de

condução e a energia potencial para lacunas é determinada pelo topo da banda de

valência. Na presença de um campo elétrico as bandas são entortadas, mas ainda

permanecem paralelas entre si.

Mudando a composição do material em função da espessura, é possível criar

novas formas de governar o comportamento de elétrons e lacunas, como foi

explicado por Kroemer [138]. A Figura 3. 11 compara qualitativamente o diagrama

de bandas de semicondutores com uma composição uniforme e gradual e,

conseqüentemente, com gaps de energia uniforme e gradual, respectivamente. Em

um semicondutor gradual, o campo “empurra” elétrons e lacunas para a mesma

direção.

Se a mudança da composição do material é abrupta, a mudança no gap de

energia também é abrupta, como ilustrado na Figura 3. 12. O diagrama de bandas

mostrado nesta figura corresponde a uma camada de um semicondutor com gap de

energia estreito localizado entre duas camadas de um semicondutor de gap largo.

Page 82: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

63

Figura 3. 11 - Diagrama de bandas qualitativo para um semicondutor com composição uniforme e gradual.

Figura 3. 12 - Diagrama de bandas qualitativo para um semicondutor de gap estreito localizado entre duas camadas de semicondutores de gap largo.

Se a camada de gap de energia estreito for bastante fina, forma-se um poço de

potencial quântico para portadores de cargas. As mudanças abruptas na banda de

condução e de valência são criadas por forças químicas produzidas pelo contato entre

os dois diferentes materiais que formam a heteroestrutura.

Os dois exemplos descritos nas figuras anteriores mostram claramente que

um sistema baseado em heteroestruturas que pode abrir novas e interessantes

possibilidades para dispositivos semicondutores. Como dispositivos incluem diodos,

transistores, células solares, diodos emissores de luz, lasers e outros dispositivos

EC

EV

EC

EV

energia

distância

composição uniforme composição gradual

EC

EV

energia

distância

Page 83: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

64

optoeletrônicos. Porém, neste trabalho foi investigada apenas uma heteroestrutura

baseada num heterodiodo.

Quando dois semicondutores diferentes são unidos os átomos da

heterointerface têm que formar ligações químicas. Se as constantes de rede dos dois

materiais são diferentes, os átomos da heterointerface têm que se ajustar

desenvolvendo uma tensão. Se esta tensão excede um valor crítico, resulta em

deslocações na rede cristalina, as quais são imperfeições que se propagam por várias

camadas atômicas. Outra conseqüência dos defeitos de rede entre dois materiais

numa heterojunção é a formação de estados de interface, similar aos da interface

metal-semicondutor. Estes defeitos atuam como centros de geração e recombinação

para elétrons e lacunas, limitando o tempo de vida e a mobilidade. O resultado disso

pode ser a obtenção de dispositivos com propriedades eletrônicas muito pobres. Um

possível modo de evitar este problema é usar materiais com constantes de redes

muito parecidos, como no caso do GaAs e AlAs. Outra maneira é usar uma fina

película alternativa entre os dois materiais semicondutores, que distribui mais

uniformemente as tensões entre os dois materiais, inibindo a formação de defeitos.

Por exemplo, em heteroestruturas de SiC/Si, tem sido estudada [139] a modificação

da superfície do Si (111) pela pré-deposição de uma fina película de Ge sobre o Si

em combinação com o posterior crescimento epitaxial de SiC. Este crescimento

promove uma melhora substancial nas propriedades elétricas da heterojunção. Em

resumo, as interfaces de heterojunções podem estar longe da ideal, especialmente

quando a diferença de constante de rede for grande.

Não obstante, um modelo para uma heterojunção ideal, que foi primeiramente

desenvolvido por Anderson [140], tem sido muito útil para compreender o

comportamento destes dispositivos. De acordo com este modelo, a banda de energia

em cada um dos materiais que forma a heteroestrutura não é afetada.

Conseqüentemente, o problema se reduz a um alinhamento da banda na

heterointerface. Anderson assumiu que o nível de energia de vácuo é contínuo e que

a descontinuidade da banda de condução é determinada pela diferença das

eletroafinidades, X1 e X2, das duas regiões:

ΔEC = X1 – X2

A descontinuidade da banda de valência é então dada por:

Page 84: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

65

ΔEV = ΔEG – ΔEC = ΔEG – X1 + X2

onde ΔEG é a descontinuidade do gap de energia. Porém, este modelo está em

desacordo com os dados experimentais e diferentes modelos alternativos têm sido

propostos (por exemplo, Kromer et al. [141] e Tersoff et al. [142]).

Tersoff postulou que as descontinuidades da banda das heterojunções são

controladas pelo mesmo mecanismo que controla a altura de barreira em diodos

Schottky. Além da troca de elétrons que acontece entre os dois materiais no caso

ideal, este mecanismo responde também pela troca de portadores com estados de

interface. De acordo com este modelo, considerando os dois materiais

separadamente, a descontinuidade da banda de condução pode ser relacionada à

diferença das alturas das barreiras Schottky como nível de vácuo, qφb1 e qφb2, então:

ΔEC = q(φb1 - φb2).

Eizenberg et al. [143] testou este modelo experimentalmente medindo as alturas das

barreiras Schottky e a descontinuidade de bandas para AlXGa1-XAs (com diferentes

valores de x) e GaAs utilizando a técnica de fotoemissão interna e obteve boa

correlação.

Na maioria dos modelos, entretanto, a única diferença em relação ao modelo

ideal de Anderson é a diferente escolha do ΔEC/ΔEV. Em princípio este parâmetro

pode ser determinado experimentalmente. Porém, diferentes experiências reportam

valores um pouco diferentes, até mesmo para a heterojunção de AlXGa1-XAs/GaAs,

que tem sido amplamente estudada.

Quando dois semicondutores formam uma heterojunção, o nível de Fermi

dever ser constante ao longo do sistema em equilíbrio. Como para uma junção p-n

convencional, esta exigência conduz a um entortamento das bandas, como mostrado

na figura a seguir.

Page 85: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

66

Figura 3. 13 - Diagrama de bandas de energia de uma heterojunção p-n.

Se a descontinuidade da banda de condução, ΔEC, é conhecida, o potencial interno,

Vbi, pode ser encontrado a partir desta figura:

qVbi = EG1 - ΔEFn - ΔEFp + ΔEC

Aqui, EG1 é o gap de energia do semicondutor de gap estreito, o qual nós

assumimos ser dopado tipo-p, ΔEFp é a diferença entre o nível de Fermi e o topo da

banda de valência neste material, e ΔEFn é a diferença entre a parte debaixo da banda

de condução e o nível de Fermi do semicondutor de gap largo.

Page 86: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

67

- Propriedades elétricas

As propriedades elétricas que caracterizam uma heterojunção são obtidas a

partir das curvas características de corrente-tensão (I-V) e capacitância-tensão (C-V).

De fato, a partir destas propriedades é possível obter informações a respeito da

estrutura de bandas de uma heterojunção (por exemplo, o tipo de heterojunção e o

potencial interno), bem como determinar seu desempenho como dispositivo.

Portanto, a seguir descrevemos brevemente os principais modelos usados pela

literatura para explicar o comportamento elétrico dos dispositivos.

Quando dois semicondutores com condutividades opostas são colocados em

contato, as cargas são transferidas de um para o outro até que os níveis de Fermi

sejam igualados. Isso causa a formação de uma região de depleção em ambos os

lados da interface. Anderson [140] mostrou que a expressão para a capacitância de

junção de uma heterojunção com estados de interface desprezíveis pode ser derivada

facilmente. Com base neste modelo a capacitância de junção por unidade de área de

uma heterojunção abrupta pode ser escrita como:

C = 2/1

2/1

).()(2

−−⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

+VV

NNNNq

bippnn

pnpn

εεεε

,

onde Nn e Np são as concentrações de doadores e aceitadores, e εn e εp são as

constantes dielétricas dos semicondutores tipo-n e p respectivamente, Vbi é o

potencial interno, V a tensão aplicada e q a carga eletrônica. Como pode ser visto,

com esta expressão é possível extrair o valor do potencial interno Vbi a partir de um

gráfico de C-2 em função de uma tensão reversa V. O comportamento é linear e

quando extrapolado até interceptar o eixo de tensão é obtido o potencial interno. De

fato, a variação linear da curva C-2 em função de V é um indicativo da presença de

uma heterojunção abrupta e tem sido freqüentemente utilizada para determinar o

valor experimental de Vbi.

As curvas de corrente-tensão de uma variedade grande de heterojunções têm

sido extensivamente caracterizadas em diversos trabalhos. Alguns dos resultados

destas investigações são apresentados na Tabela 3. 9. Como pode ser visto, tem sido

uma prática comum comparar as características de tensão direta com uma relação de

corrente-tensão do tipo:

Page 87: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

68

I ∝ ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛kT

qVη

exp ,

onde η, o fator de idealidade, é um parâmetro relacionado a várias propriedades

físicas da heterojunção. É interessante notar que esta expressão se assemelha às

expressões teóricas dos modelos de condução por difusão, emissão e emissão-

recombinação [194].

Newman [144], porém, observando seus resultados experimentais de corrente

em função da tensão e da temperatura mostrou que a relação de corrente-tensão

mostrada anteriormente não descrevia adequadamente seus resultados obtidos, mas

sim pela expressão:

I ∝ exp(AV) exp(BV)

onde A e B são constantes essencialmente dependentes da voltagem e temperatura.

Esta relação empírica foi mais tarde justificada por Donnely e Milnes [145] com base

no mecanismo de condução por tunelamento-recombinação.

Embora as curvas com polarizações reversas também tenham sido medidas

junto com as polarizações diretas, muito pouca atenção tem sido dada a esta análise.

Normalmente tem sido observado quase em todos os trabalhos baixo valor de tensão

de ruptura, o que não tem sido bem entendido. Alguns autores, porém, têm fitado

seus experimentos baseados na relação de “power-law”, na forma IR ∝ Vm, onde m é

≥ 1, tentando explicar seus resultados com base no modelo de tunelamento de Riben

e Feucht [146].

Page 88: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

69

Tabela 3. 9 - Caracterizações I-V e C-V de vários tipos de heterojunções de SiC/Si.

Concentração de

impurezas (cm-3) Corrente direta

Heterojunção Tipo Doadores

Tipo-n

Aceitadores

Tipo-p

Potencial

Interno

obtido por

C-V (eV) η

I∝ exp(qV/ηkT)

Ref.

3C-SiC/Si n-p 1016 1015 - - [147]

3C-SiC/Si n-p 1017 7 ×1014 - - [148]

nc-SiC/Si n-p 1015 - - - [149]

nc-SiC/Si n-p 1015 1019 - 1,9 [150]

a-SiC/Si n-p 1015 5 ×1017 0,55 >1,5 [151]

3C-SiC/Si n-p - - 0,39 1,6 [152]

a-SiC/Si n-p 1015 - 0,8 1,58 [153]

a-SiC/Si n-p 1015 - 2,6 >1,5 [137]

3C-SiC/Si n-p 1015 - 0,57 1,05 [154]

3C-SiC/Si n-p 1015 1016 0,75 1,2 [139]

3C-SiC/Si n-p 1016 1015 0,58 1,3 [155]

a-SiC/Si p-n 1016 1015 - 1,2 [191]

a-SiC/Si n-p 1015 - - 1,3 [156]

- Detalhes experimentais

Filmes de a-SiC:H com espessura de 350 nm foram depositados por PECVD

sobre lâminas tipo-n de Si(100) (ρ ~ 3 Ω.cm). As condições de deposição são

apresentadas na Tabela 3. 10, onde a concentração de carbono dos filmes, medidas

por RBS, também é mostrada. Heterojunções foram fabricadas com filmes como-

depositados e recozidas em vácuo a 550, 750 e 1000 ºC por 2 horas.

Os dispositivos foram então fabricados pela evaporação térmica de contatos

ôhmicos de Al, com espessura de aproximadamente 500 nm, sobre as superfícies do

SiC e Si. Os contatos elétricos sobre o SiC foram definidos por um processo

litográfico convencional, em geometrias quadradas de área de 9×10-4 cm2. Para

melhorar a qualidade dos contatos elétricos foi então realizado um recozimento

térmico a 400 ºC por 20 min. Um esquema da estrutura fabricada pode ser visto na

Figura 3.14.

Page 89: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

70

Tabela 3. 10 - Condição de deposição das amostras obtidas por PECVD.

Amostra Fluxo SiH4 (sccm)

Fluxo CH4 (sccm)

Fluxo H2 (sccm)

rf (W)

Temp. (ºC)

Espessura (nm) x

C3690H 3,6 32,4 200 20 320 350 ± 20 0,52

As caracterizações elétricas das heteroestruturas foram feitas a partir de

medidas elétricas de corrente-voltagem (I-V) características, na faixa de temperatura

entre 27 e 200 ºC, utilizando um analisador de semicondutor HP 4145A, e curvas de

capacitância-voltagem (C-V) utilizando um HP4280A que opera a freqüência de

1 MHz.

A seguir ilustramos a seqüência das etapas do processo para a fabricação dos

das heterojunções:

A – Limpeza química do substrato de Si

B – Deposição do filme de SiC pela técnica PECVD

C – Metalização em ambos os lados (superfícies do Si e SiC) e fotogravação do filme metálico sobre a

superfície do SiC para definição da geometria dos contatos

Page 90: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

71

D – Estrutura Final

Figura 3. 14 - Esquema do heterodiodo.

Substrato Silício

Alumínio

Filme SiC PECVD

contato inferior (substrato Si)

contato superior (filme SiC)

Page 91: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

72

III. Transistores de filme fino

Aqui apresentaremos o desenvolvimento, fabricação e caracterização de

transistores de filme fino de a-SiC:H. Um estudo de simulação dos dispositivos foi

realizado no México em colaboração com a professora Dra. Magali Estrada del

Cueto, do Centro de Investigación y de Estudios Avanzados del Instituto Politécnico

Nacional (Cinvestav).

- Introdução

Transistor de filme fino (“Thin Film Transistor”, ou TFT), como o próprio

nome diz, são transistores baseados em filmes finos semicondutores depositados

sobre os mais diversos substratos, que proporcionam uma alternativa para o campo

da eletrônica de grandes áreas e baixos custos. A grande maioria destes dispositivos é

feita de silício amorfo. A primeira proposta de desenvolvimento de TFT de silício

amorfo para aplicações em dispositivos foi feita por LeComber et al. [157], em 1979.

Desde então, as pesquisas destes dispositivos têm crescido mundialmente, o que

resultou na utilização em diversas aplicações. Talvez o maior exemplo seja como

matriz ativa em mostradores de cristal líquido, o qual tem sido aplicado em produtos

comerciais por diversas empresas de todo o mundo [158]. Outras importantes

aplicações incluem a área de sensores [159,160].

A fabricação de TFTs baseados em outros materiais semicondutores amorfos

não tem sido normalmente reportada. Este fato se deve principalmente à dificuldade

de fabricação com sucesso de dispositivos eletrônicos baseados em semicondutores

amorfos. Como vimos anteriormente, a presença de estados localizados na banda

proibida e a sua distribuição influenciam diretamente nas características destes

dispositivos. Mesmo para o caso do silício, que tem sido amplamente estudado, os

dispositivos amorfos apresentam valores de mobilidades muito baixos quando

comparados ao cristalino. Além disso, a resistência série de fonte e dreno possui uma

influência muito significativa.

Com relação ao carbeto de silício cristalino, a literatura tem reportado

amplamente a fabricação de transistores, dividindo-se em duas categorias: uma

Page 92: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

73

primeira que utiliza substratos (lâminas) de SiC e, uma segunda, feita a partir de

filmes finos cristalinos de SiC, TFTs, depositados sobre lâminas de silício. Em geral,

os dispositivos baseados em lâminas de SiC como substrato possuem melhores

características que aqueles de filmes finos de SiC. Além disso, notamos também que

praticamente não existe fabricação de TFTs de a-SiC, e de dispositivos com filmes

depositados sobre outros substratos que não sejam o Si.

Deste modo, neste trabalho pretendemos desenvolver a fabricação de

transistores de filme finos de a-SiC:H depositados por PECVD em baixas

temperaturas (320 ºC). Estes dispositivos poderão ser fabricados sobre diferentes

substratos, constituindo uma alternativa para a eletrônica de grande área e de baixo

custo.

- Estrutura do dispositivo e fabricação

O carbeto de silício amorfo é um material semicondutor que possui uma alta

resistividade elétrica, por isso, para a fabricação dos nossos dispositivos, utilizamos

uma estrutura com o contato de porta na parte superior do TFT, com o intuito de

diminuir a resistência série de fonte e dreno [161]. Esta estrutura é mais estável para

a fabricação de regiões de fonte e dreno, as quais são feitas por implantação iônica.

Desse modo, para a fabricação dos dispositivos, foi projetado um conjunto de

máscaras que contém 16 células. Cada célula possui 9 dispositivos com dimensões

diferentes entre si. Foram fabricados transistores com largura de canal L = 20, 40 e

60 μm e comprimento de canal de 100, 200 e 400 μm.

Definidas as dimensões dos dispositivos a serem fabricados, foram então

projetadas um conjunto com 3 máscaras:

• Máscara M1 - Definição das marcas de alinhamento e das regiões de fonte e dreno.

• Máscara M2 - Definição das regiões de corrosão no filme isolante para acesso ao semicondutor.

• Máscara M3 - Definição dos contatos elétricos.

Na Figura 3. 15 (a) (b) e (c), apresentamos o “layout” das máscaras, que

foram desenhadas utilizando o programa o AutoCad 2000.

Page 93: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

74

(a) M1 – Implantação: fonte e dreno

(b) M2 – Ataque SiO2 para abertura dos contatos de fonte e dreno

(c) M3 - Metalização

Figura 3. 15 – Layout das máscaras de processo utilizadas para a fabricação dos TFTs.

Page 94: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

75

A Figura 3. 16 ilustra a seqüência de etapas do processo para a fabricação

destes dispositivos. Logo em seguida apresentamos uma descrição detalhada de cada

etapa.

A

D

B

E

C

F

G - Estrutura Final

Legenda:

Figura 3. 16 - Ilustração da seqüência das etapas de processos para a fabricação dos TFTs de a-SiC:H.

Substrato: vidro Corning 7059

Filme de a-SiC:H

a-SiC:H dopado tipo-n

Filme isolante de oxinitreto de silício

Alumínio

Fotoresiste

Page 95: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

76

A – Limpeza química

Esta limpeza é feita seguindo-se um procedimento padrão, que consiste nas

seguintes etapas mergulhando as lâminas em soluções de:

1. NH4OH/ H2O2/H2O (1:1:5) em 80ºC por 10 minutos. Esta solução remove

a gordura e os metais do grupo IB e IIIB (Cu, Ag, Zn, Cd);

2. HCl/H2O2/H2O (1:1:5) em 80ºC por 10 minutos. Esta solução dissolve os

íons alcalinos (Na+, K+) e hidróxidos de Fe+3, Al+3 e Mg+3 das superfícies

dos substratos.

Entre uma etapa e outra, as lâminas de silício são enxaguadas com água

deionizada (água DI) durante 3 minutos e deixadas mais 3 minutos dentro do béquer

com água, e novamente enxaguadas. Depois de realizadas todas as etapas, as lâminas

são secas com nitrogênio, colocadas num recipiente especifico para seu transporte e

não são mais expostas ao ambiente de laboratório.

B – Deposição do filme semicondutor de a-SiC:H por PECVD

Filmes de a-SiC:H foram produzidos utilizando a técnica PECVD a partir da

mistura gasosa de silano (SiH4), metano (CH4) e hidrogênio (H2). As condições de

deposição são dadas na Tabela 3. 11, onde as concentrações de carbono e hidrogênio

(deduzido do espectro FTIR) também são mostradas.

Tabela 3. 11 - Condição de deposição dos filmes de a-Si1-XCX:H.

Amostra Fluxo SiH4

(sccm)

Fluxo CH4

(sccm)

Fluxo H2

(sccm)

rf (W)

Temp. (ºC)

Espessura (nm)

C3690H 3,6 32,4 200 100 320 620 ± 30

C – Fotogravação para definição das regiões de fonte e dreno

As etapas do processo de fotolitografia do tipo lift-off (“invertida”) para

definição das regiões de fonte e dreno são as seguintes:

Page 96: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

77

1. Aplicação do fotorresiste AZ5214 com umidade relativa do ar de 50% e

temperatura de 25ºC na sala. A velocidade do Spinner é de 4500 rpm com

tempo de 40seg.

2. Pré-cura do fotorresiste numa chapa quente (hot-plate) com temperatura de

90ºC durante 4 minutos.

3. Exposição em luz ultravioleta (S = 9 mW/cm2) do fotorresiste durante 16

segundos no modo CI-II (ajuste da fotoalinhadora) com a máscara M1.

4. Cura do fotorresiste numa chapa quente (hot-plate) com temperatura de

118ºC durante 1 minuto e 45 segundos.

5. Exposição em luz ultravioleta (S = 9 mW/cm2) do fotorresiste durante 40

segundos no modo CI-II (ajuste da fotoalinhadora) sem máscara.

6. Revelação do fotorresiste sensibilizado com solução reveladora. O tempo de

revelação foi de aproximadamente 1 minuto e 10 segundos.

D – Dopagem por implantação iônica das regiões de fonte e dreno

As irradiações foram realizadas em um implantador iônico instalado no

Laboratório de Microeletrônica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.

Neste processo de dopagem tipo-n foi definido uma implantação de íons de fósforo,

com concentração de 1×1021 cm-3, a qual foi escolhida de acordo com estudos

prévios de condutividade. Com intuito de obter-se um perfil de dopagem constante

ao longo de uma profundidade de aproximadamente 2000 Å, utilizamos múltiplas

energias e fluências de feixe, as quais foram simuladas pelo programa TRIM [162].

O perfil de dopagem simulado pode ser visto na Figura 3. 17. As condições do

processo são apresentadas na Tabela 3. 12.

Após o processo de dopagem as amostras foram submetidas a uma etapa de

recozimento térmico para ativação das impurezas e rearranjo do material. O processo

foi feito num forno em alto vácuo (pressão de 5×10-7 Torr) a 550 ºC por 1 hora.

Page 97: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

78

Tabela 3. 12 - Condições de processo de dopagem por implantação de íons de fósforo.

Concentração Energia Doses

10 keV D1 = 2,00×1015 at/cm2 30 keV D2 = 3,20×1015 at/cm2 63 keV D3 = 5,50×1015 at/cm2 C = 1021 cm-3

100 keV D4 = 9,00×1015 at/cm2

500 1000 1500 2000 2500 3000 35001012

1013

1014

1015

10 keV 30 keV 63 keV 100 keV Perfil Final

Log

Con

cent

raçã

o (c

m-2)

Profundidade (Angstrom)

Figura 3. 17 – Perfil de dopagem por implantação iônica de fósforo simulado TRIM.

E – Deposição do filme isolante de oxinitreto de silício por PECVD

Para a obtenção dos filmes de oxinitreto de silício, SiOxNy, foram utilizadas

misturas gasosas de silano e óxido nitroso (SiH4 + N2O) à temperatura de 320 ºC. Em

trabalhos prévios desenvolvido pelo Grupo de Novos Materiais e Dispositivos [163],

foram estudadas as propriedades dielétricas e de interface deste material, visando à

aplicação em dispositivos MOS e de filme fino. Portanto, aqui neste trabalho, nós

utilizamos condições de processo aperfeiçoadas para a obtenção dos filmes isolantes

de SiOxNy, a qual é apresentada na tabela a seguir.

Page 98: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

79

Tabela 3. 13 - Condição de deposição das amostras isolantes obtidas por PECVD.

Isolante Fluxo SiH4 (sccm)

Fluxo N2O (sccm)

rf (W)

Temp. (ºC)

Espessura (nm)

SiOXNY 15 45 200 320 140

F – Fotogravação para definição das regiões de acesso fonte e dreno para

metalização

Idem procedimento da etapa C, utilizando a máscara M2 e corroendo o

oxinitreto de silício em solução de HF.

G – Evaporação de filme de alumínio – Contatos metálicos

Para a evaporação do filme metálico de alumínio foi utilizada uma

evaporadora localizada na Sala Limpa do Laboratório de Microeletrônica da

Universidade de São Paulo. Antes da evaporação foi realizada uma nova etapa de

fotolitografia tipo lift-off, utilizando a máscara M3. Momento antes de carregar as

amostras na câmara de processo, mergulhou-se a lâmina em solução buffer de HF

(BOE) durante aproximadamente 5 segundos seguido de enxágüe durante 1 minuto.

Os parâmetros do processo de deposição do filme de alumínio por evaporação

foram:

• Pressão base: 2×10-6 mTorr.

• Pressão: 4×10-5 mTorr.

• Taxa de deposição: 10 nm/s.

• Espessura do filme: 0,5 µm.

A remoção do alumínio foi feita mergulhando-se a lâmina fotogravada em

solução de H3PO4/HNO3 (proporção 9,5:0,5) aquecida a 30ºC. O tempo de corrosão

foi de aproximadamente 1 minuto. Depois de feita a corrosão as lâminas foram

enxaguadas em água DI (resistividade = 18 MΩ.cm). O fotorresiste foi retirado da

lâmina com acetona, álcool isopropanol e água DI (resistividade = 18 MΩ.cm). Em

seguida, foi feita uma limpeza utilizando-se o mesmo procedimento descrito na etapa

A.

Page 99: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

80

Por fim, foi feita a sinterização do filme de alumínio para formação de

contato ôhmico, obtendo-se a estrutura final, a qual pode ser vista na Figura 3. 18. O

processo foi realizado em forno térmico convencional com temperatura de 350ºC. A

seqüência de passos do processo de sinterização do contato de alumínio é a seguinte:

• Entrada da barqueta de quartzo no forno, em ambiente de gás verde

(8%H2/92%N2) com fluxo de 1 l/min, por tempo maior que 3 minutos.

• Manter a amostra neste ambiente durante 30 minutos.

• Retirada da barqueta de quartzo do forno, em ambiente de gás verde

(8%H2/92%N2) com fluxo de 1 l/min, por tempo maior que 3 minutos.

(a) Dispositivo Final – Esquema da vista superior do TFT.

L

C

M1 – Definição das regiões de F e D

M2 – Abertura no isolante p/ contatos

M3 – Geometria dos contatos elétricos

Page 100: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 3 – Procedimentos Experimentais

81

(b) Dispositivo Final - Microscopia óptica dos dispositivos.

Figura 3. 18 – Estrutura Final.

As curvas características dos TFTs foram extraídas a partir de um analisador

de parâmetros de semicondutores HP 4155A a temperatura ambiente.

Page 101: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

82

CAPÍTULO 4 – RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo apresentaremos os resultados experimentais, os quais foram

divididos em três partes e serão apresentados em forma de tabelas e gráficos a fim de

ajudar sua análise e compreensão.

Na Parte 1 apresentamos um estudo referente ao processo de cristalização e

corrosão dos filmes de carbeto de silício obtidos por PECVD. Foram analisados

filmes estequiométricos de a-SiC:H crescidos com diluição em H2 na condição de

“silane starving plasma”. O objetivo foi o de investigar o processo de transição de

filmes amorfos de SiC, com diferente ordem química e estrutural, em filmes

policristalinos de SiC. Análises como a absorção óptica na região do infravermelho

(FTIR) e difração de raios X (XRD) foram utilizadas para avaliar o processo de

cristalização dos filmes.

Na Parte 2 aperfeiçoamos alguns processos de dopagem, uma vez que

questões importantes e pendentes de trabalhos anteriores ainda precisavam ser

respondidas. Assim, nesta parte, apresentamos um estudo de dopagem in-situ com

nitrogênio para formação de películas dopadas tipo-n durante o crescimento dos

filmes. Para a dopagem tipo-p, por sua vez, estudamos o processo dopagem por

implantação iônica com BF2+ e o de difusão térmica com alumínio. O processo de

dopagem por difusão de alumínio foi realizado em conjunto com um processo de

cristalização dos filmes de SiC, conforme os resultados apresentados na Parte 1 de

cristalização do material.

Por fim, na Parte 3, apresentamos a fabricação dos primeiros dispositivos

propriamente ditos de SiC PECVD, a saber heterodiodos de SiC/Si, capacitores tipo

MOSiC (metal-óxido de silício-carbeto de silício) e transistores de filmes finos

TFTs.

4.1 - Parte 1: Cristalização e corrosão dos filmes de SiC

4.1.1 - Cristalização

Os filmes de SiC como-depositados e cristalizados possuem superfícies lisas

e espelhadas, sem qualquer indicação de formação de “pinholes” (furos) nos filmes,

Page 102: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

83

o qual é comprovado pelas medidas de microscopia óptica. Porém, como pode ser

apreciado pela Figura 4. 1(a), alguns filmes de SiC apresentam trincas,

provavelmente originadas pela diferença entre os coeficientes de expansão térmica e

os de constante de rede. O aparecimento de trincas em filmes de SiC cristalizados

sobre substratos de silício também tem sido reportado pela literatura [164,165]. Por

outro lado, a Figura 4. 1(b) mostra imagens de micrografia óptica da superfície de

filmes de SiC cristalizados a 1000 ºC fabricados sobre substratos de silício, os quais

não apresentam qualquer tipo de fissura no filme. Este aparecimento de trincas é um

fenômeno que ocorre aleatoriamente e pode estar relacionado com diversos

problemas experimentais além dos já apresentados anteriormente, como exemplo:

contato da amostra com o porta-substrato do reator PECVD durante o crescimento do

filmes, rampa de aquecimento e resfriamento do processo de cristalização, limpeza

do substrato de silício entre outros. Esta é ainda uma questão em aberto e que deve

ser mais bem estudada. Foram realizados diversos processos de cristalização em

diferentes amostras e condições de processo, e mesmo assim não foi verificada

nenhuma relação entre a condição de processo e aparecimento das trincas.

(a) Capacitores de SiC cristalizados sobre substratos de Si(100).

Page 103: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

84

(b) Transistores de filme fino de SiC cristalizados sobre substratos de Si(100).

Figura 4. 1 - Microscopia óptica da superfície das amostras tratadas termicamente a 1000 ºC por 2 horas.

A estrutura e a configuração das ligações químicas dos filmes de carbeto de

silício antes e depois do recozimento térmico foram investigadas por FTIR, os

espectros são mostrados na Figura 4. 2. Como pode ser visto a amostra como-

depositada exibe as características típicas do carbeto de silício amorfo hidrogenado: a

banda principal a 780 cm-1 relacionada com modo de vibração stretching da ligação

Si-C, a banda ao redor de 2100 cm-1 devida ao modo de vibração stretching da

ligação Si-H e em 2900 cm-1 a banda relacionada ao modo de vibração stretching da

ligação C-H. Além disso, é mostrado um ombro ao redor de 950 cm-1, que é devido

ao modo de vibração Si-CHn.

Page 104: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

85

3000 2800 2600 2400 2200 2000 1000 750 500

Si-CHn @ 950 cm-1

(Si-H)stretching@ 2100 cm-1

750 ºC

550 ºC

1000 ºC

como depositada

5X

(C-H)stretching@ 2900 cm-1

(Si-C)stretching@ 800 cm-1

Abs

orçã

o, α

(ω) (

u.a.

)

Número de onda (cm-1) Figura 4. 2 - Espectro na região do infravermelho dos filmes de SiC como-depositado e recozidos termicamente a 550, 750 e 1000 ºC. A região compreendida com os números de onda entre 1900 e 3100 cm-1 foi ampliada cinco vezes para facilitar a observação das variações nas propriedades estruturais das amostras.

No entanto, o processo de recozimento introduz variações significantes nas

propriedades estruturais das amostras. É observado que para os filmes recozidos a

posição do pico das ligações Si-C, inicialmente centrado em ~760 cm-1 para o filme

como-depositado, desloca-se para 800 cm-1, além disso, se torna mais pronunciado e

fino. A evolução da forma e o estreitamento da largura das bandas são uma indicação

da cristalização do material. De fato, a forma de uma Gaussiana reflete uma

distribuição Gaussiana dos comprimentos e ângulos das ligações Si-C, a qual

caracteriza o estado amorfo. Por outro lado, a banda em forma de Lorentziana é

característica de uma baixa distorção dos ângulos e a uma baixa dispersão das

ligações, o que é consistente com um ambiente mais ordenado das ligações Si-C

[166,167], indicando uma ordem crescente da cadeia atômica devido à formação de

micro-cristalitos [168]. Dessa maneira, a evolução do espectro FTIR da Figura 4. 2 é

uma indicação de uma variação estrutural induzida pelo tratamento térmico.

Para estimar a fração cristalina das amostras, nós deconvoluímos a banda ao

redor de 800 cm-1 em componentes Gaussianas e Lorentzianas. A Figura 4. 3

Page 105: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

86

reproduz um exemplo típico da deconvolução aplicada aos espectros de FTIR. A

fração cristalina pode ser estimada pela relação de L/(L+G), onde L e G representam

as áreas das componentes Lorentziana e Gaussiana, respectivamente. Este método já

foi adotado em condições comparáveis por outros autores [169], e pode ser

justificado pelo fato que é assumido que L, em contraste com G, é proporcional à

quantidade de ligações Si-C na fase cristalina. A Figura 4. 4 mostra a fração

cristalina como uma função da temperatura de recozimento. Como pode ser visto, a

fração cristalina aumenta com o aumento da temperatura de recozimento. Para

amostra recozida a 750 ºC a fração cristalina é ~45%, enquanto que a amostra

recozida a 1000 ºC é praticamente totalmente cristalizada. Resultados semelhantes

foram obtidos por Calcagno et al. [169], que investigou a cristalização de filmes

estequiométricos de SiC obtidos por PECVD e obteve a transição de material amorfo

para cristalino na faixa de temperatura entre 850-950 ºC.

1200 1000 800 600 400

recozida a 750 ºC Experimental Fit (Si-CHn)amorfo - G (Si-C)amorfo - G (Si-C)cristalino - L

Abs

orçã

o, α

(ω) (

a.u.

)

Número de onda (cm-1)

Figura 4. 3 - Deconvolução aplicada ao espectro FTIR da amostra recozida a 750 ºC.

A Tabela 4. 1 mostra a densidade das ligações Si-C, Si-H, C-H e as

concentrações estimadas de hidrogênio do espectro FTIR da Figura 4. 2. Como pode

ser visto, a concentração das ligações Si-H e C-H decrescem continuamente para

Page 106: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

87

altas temperaturas, contudo a concentração de ligações C-H permanece sempre

superior as Si-H. Por outro lado, a densidade de ligações Si-C apresenta um aumento

com o aumento da temperatura de recozimento.

Tabela 4. 1 - Número das ligações Si-C, Si-H e C-H para as amostras como-depositada e recozidas. A concentração de hidrogênio foi estimada pela relação (NSi-H+NC-H/NSi-H+NC-H+NSi-C).

Amostra NSi-H (×1022 cm-3)

NC-H (×1022 cm-3)

NSi-C (×1022 cm-3)

Concentração de Hidrogênio

como-depositada 0,16 0,28 1,53 22 % recozida a 550 ºC 0,10 0,18 1,83 13 % recozida a 750 ºC 0,06 0,13 1,91 9 %

recozida a 1000 ºC 0 0 2,40 0 %

Estes resultados indicam que ocorre uma desorpção de hidrogênio na forma

de espécies voláteis, resultando em um filme composto preferencialmente por

ligações Si-C mais ordenada.

0 200 400 600 800 100020

30

40

50

60

70

80

90

100

110

Con

cent

raçã

o de

hid

rogê

nio,

HC (

%)

como-depositada

Fraç

ão c

rista

lina,

f C (%

)

Temperatura de recozimento (ºC)

0

5

10

15

20

25

Figura 4. 4 - Evolução da fração cristalina e do conteúdo de hidrogênio, estimada dos espectros FTIR, como uma função do processo de recozimento térmico.

Maiores evidências a respeito da cristalização dos filmes de carbeto de silício

foram obtidas através da caracterização por XRD. Os difratogramas foram obtidos na

Page 107: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

88

configuração θ-2θ ao longo do intervalo 20-50º. A Figura 4. 5 mostra os resultados

para as amostras como-depositada e recozida a 1000 ºC. Um difratograma de um

substrato de silício monocristalino (100) também é apresentado para comparação. As

características principais das curvas da Figura 4. 5 são o destacado pico de difração

localizado em ~34º (relacionado ao substrato de silício) e a uma banda larga em

~35,6º, provavelmente relacionada ao 3C-SiC. É importante aqui destacar que esta

região também pode estar associada com a difração do 4H-SiC (hexagonal),

entretanto o mais provável é que seja realmente a formação do plano (111) do

politipo 3C-SiC (cúbico) por se tratar de uma epitaxia do substrato de silício, que

também possui uma estrutura cúbica [167,168,169]. O pico em 35,6º foi então

analisado após a subtração do pico devido ao substrato de silício, este procedimento

também foi adotado por outros autores [170]. Neste caso a dedução do tamanho de

grão pela fórmula de Scherrer, que é associada à largura a meia altura (FWHW) do

pico de difração, é dificultada devido à proximidade destes dois picos. Também

podemos notar a presença de um pico em ~29º, que pode ser atribuído a cristalitos de

Si(111) [170].

20 25 30 35 40 45 501

10 3C-SiC(111)

substrato c-Si como depositada recozida a 1000 ºC 3C-SiC em 35,6 º

Inte

nsid

ade

(u.a

.)

2θ (graus) Figura 4. 5 - Espectros de difração de raios X para as amostras de SiC como-depositadas e recozidas a 1000 ºC.

Page 108: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

89

Embora também tenha sido observado o pico de difração característico do

3C-SiC para a amostra recozida a 750 ºC, notamos um significativo aumento do

mesmo para a amostra recozida a 1000 ºC. Este resultado corrobora com o resultado

de fração cristalina obtido pelo espectro FTIR, o qual indica uma cristalização quase

que completa para a amostra recozida a 1000 ºC.

Outro efeito importante induzido pelo processo de recozimento térmico foi a

densificação do filme, o qual é mostrado na Figura 4. 6 por um gráfico da espessura

do filme de SiC em função da temperatura de recozimento. Como podemos ver, a

espessura dos filmes decresce com o aumento da temperatura de recozimento,

alcançando seu valor mínimo para a amostra recozida a 1000 ºC. Podemos notar que

este comportamento está em acordo com a variação estrutural sugerida pela Figura 4.

4.

250 500 750 1000 1250

450

480

510

540

570

600

630

660

como-depositado

Espe

ssur

a do

film

e (n

m)

Temperatura de recozimento (ºC)

Figura 4. 6 - Espessuras dos filmes para as amostras de SiC como-depositadas e tratadas termicamente.

Page 109: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

90

4.1.2 - Corrosão

Antes de caracterizar o processo de corrosão por plasmas baseados em CHF3

dos filmes cristalizados de SiC, foi primeiramente determinada uma taxa de corrosão

ótima. Neste estudo, amostras como-depositadas foram caracterizadas em função da

concentração de oxigênio na mistura de gasosa, potência de rf aplicada e da pressão

de processo. Uma vez que as condições de processo foram aprimoradas, as corrosões

dos filmes amorfos e cristalizados de SiC foram analisados em detalhes.

A corrosão do a-SiC:H é um processo complexo que envolve efeitos físicos e

químicos na remoção dos átomos de Si, C, H do filme. Como quebrar as ligações de

Si-H ou C-H em filmes de a-SiC:H é relativamente fácil, o principal fator limitante

para o processo de corrosão é a remoção dos átomos de carbono [171]. A corrosão

do SiC por RIE (Reactive Ion Etching) tem sido comumente investigada utilizando

gases fluorados misturados com oxigênio [172]. Em geral, a dissociação de gases

fluorados leva à formação de átomos livres de F e fragmentos fluorados, que reagem

com os átomos de silício. Por outro lado, a corrosão do carbono pode ser feita pela

adição de O2 na mistura de gasosa, assim os produtos SiF4 e COn (n = 1 ou 2),

respectivamente, são voláteis [172].

Para caracterizar o efeito do oxigênio misturado com o CHF3, na Figura 4.

7(a) é mostrada a taxa de corrosão para o material como-depositado como uma

função de concentração de oxigênio na mistura gasosa, mantendo constante os outros

parâmetros de corrosão. É observado um aumento geral na taxa de corrosão com o

aumento de oxigênio na mistura até aproximadamente 60%, onde é alcançada uma

máxima taxa de corrosão de 32 nm/min. Aumentando ainda mais a concentração de

O2 ocorre uma diminuição na taxa de corrosão. Este efeito tem sido amplamente

reportado na corrosão de SiC em plasmas baseados em CHF3 [173]. O aumento da

taxa de corrosão com a adição de oxigênio não é surpreendente, na verdade é bem

conhecido que a adição de oxigênio aumenta a concentração de átomos de F na fase

gasosa (aumentando a corrosão de silício) [171], além de remover rapidamente os

átomos de carbono através da oxidação. Em altas porcentagens de O2 (> 60%) o nível

de átomos livres de F chega a um ponto de saturação e então começa a diminuir,

Page 110: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

91

tornando-se um fator limitante no processo de corrosão [172], fazendo com que a

taxa de corrosão do SiC diminua abruptamente.

Usando a concentração de O2 que conduz a máxima taxa de corrosão, foi

então variada a potência de rf, partindo de 100 W até 200 W, em passos de 25 W. Os

resultados são mostrados na Figura 4. 7 (b). Como pode ser visto a taxa de corrosão

aumenta linearmente com o aumento da potência de rf. Uma taxa de corrosão

máxima de 86 nm/min foi obtida para a potência de 200 W.

20 30 40 50 60 70 8015

20

25

30

35

como-depositado a-Si0,5C0,5:H

(a)

rf = 100 Wp = 100 mTorrT = 20 ºC

Taxa

de

corr

osão

(nm

/ m

in)

% Oxigênio

100 120 140 160 180 20020

30

40

50

60

70

80

90

100

(b)

O2 = 60 %p = 100 mTorrT = 20 ºC

como-depositado a-Si0,5C0,5:H

Taxa

de

corr

osão

(nm

/ m

in)

Potência de rf (W)

Figura 4. 7 - Taxa de corrosão para amostra de SiC como-depositada: (a) como uma função da concentração de O2 na mistura gasosa e (b) como uma função da potência de rf. Os outros parâmetros estão indicados na figura.

Page 111: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

92

Por fim, o efeito da pressão de processo foi analisado. Fixando a mistura

gasosa em CHF3/60%O2 e a potência de rf a 200 W, a pressão foi variada de

80 mTorr até 300 mTorr. Como mostrado na Figura 4. 8, é observado um aumento

monotônico da taxa de corrosão até 200 mTorr, para pressões mais altas (entre 200-

300 mTorr) a taxa de corrosão permanece quase constante em 125 nm/min. Como

pode ser visto, a pressão do processo tem um forte efeito em todos os parâmetros de

corrosão. Isto pode ser devido ao fato de que a concentração das espécies ativas

aumenta com uma pressão crescente [174], conseqüentemente aumentando a taxa de

corrosão. Características de corrosão semelhantes foram observadas por outros

autores [171,174], a qual foi dividida em dois regimes: o primeiro a baixas pressões,

onde a taxa de corrosão é limitada pela reação devido à baixa concentração dos

reagentes. O segundo regime, porém, é dado que o aumento da pressão corresponde a

um aumento da densidade de espécies de neutras, da qual resulta em uma limitação

da variação da taxa de corrosão.

Por fim, é importante mencionar que as áreas corroídas obtidas estão livres de

resíduos poliméricos indesejáveis, fazendo com que este processo seja muito

satisfatório para fabricação de dispositivos baseados neste material.

80 120 160 200 240 280 320

70

80

90

100

110

120

130

como-depositado a-Si0,5C0,5:H

O2 = 60 %rf = 200 WT = 20 ºC

Taxa

de

corr

osão

(nm

/ m

in)

Pressão de processo (mTorr)

Figura 4. 8 - Taxa de corrosão para amostra como-depositada como uma função da pressão de processo. Os demais parâmetros estão indicados na figura.

Conhecendo e utilizando as condições de processo para a obtenção da maior

taxa de corrosão do material como-depositado, analisamos então o comportamento

com material cristalizado. As taxas de corrosão para o SiC amorfo e cristalizado são

Page 112: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

93

mostradas na Figura 4. 9 como uma função da temperatura de recozimento. Como

pode ser visto, a taxa de corrosão diminui com o aumento da temperatura de

recozimento. Porém, é importante notar que a taxa de corrosão diminui abruptamente

para amostras recozidas a temperaturas abaixo de 750 ºC e, por outro lado, diminui

mais lentamente acima desta temperatura de recozimento. Com base nestes

resultados, nós podemos dividir a taxa de corrosão em função da temperatura de

recozimento em duas fases: a primeira, para amostras recozidas a temperaturas

abaixo de 750 ºC, onde a taxa de corrosão deve ser afetada principalmente pela

efusão de hidrogênio e compactação do filme; e a segunda fase, acima de 750 ºC, que

pode ser associada principalmente à maior cristalização de filme.

250 500 750 1000 125030

40

50

60

70

80

90

100

110

120

130

O2 = 60 %rf = 200 Wp = 300 mTorrT = 20 ºC

como-depositada (320 ºC)

Taxa

de

corr

osão

(nm

/ m

in)

Temperatura de recozimento (ºC)

Figura 4. 9 - Taxa de corrosão para as amostras como-depositada e recozidas em função da temperatura de recozimento. Os demais parâmetros estão indicados na figura.

Nós atribuímos os dois comportamentos distintos da Figura 4. 9 à maior

cristalização dos filmes a temperaturas de recozimento acima de 750 ºC. De fato, as

altas taxas de corrosão observadas para as amostras recozidas a temperaturas abaixo

de 750 ºC podem ser relacionadas com a alta concentração de hidrogênio presente

nos filmes, uma vez que a energia de dissociação das ligações Si-H (298 kJ/mol) e

C-H (337 kJ/mol) são menores que a ligação Si-C (435 kJ/mol). Assim, o hidrogênio

reage relativamente rápido com os átomos de F, criando sítios ativos, que aumentam

a taxa de corrosão, baixando a barreira de energia para as formações de outros

Page 113: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

94

produtos voláteis. Por outro lado, a cristalização induzida por temperaturas acima de

750 ºC compactam os filmes de SiC, maximizando as fortes ligações Si-C, reduzindo

então a taxa de corrosão. Reforçando isto, podemos notar na Figura 4. 4 e Figura 4. 6

que filmes recozidos a 1000 ºC alcançam máxima densificação e são cristalizados

quase que completamente, por conseguinte a taxa de corrosão tende a alcançar um

limite mais baixo, como mostrado em Figura 4. 9. Além disso, este limite é ao redor

de 40 nm/min, muito próximo dos 35 nm/min reportados pela literatura para a

corrosão do 3C-SiC monocristalino usando condições de processo similares (60% de

O2 na mistura de CHF3/O2) [172].

Concluindo, nesta parte do trabalho apresentamos um estudo referente à

cristalização de filmes de SiC obtidos por PECVD na condição de “plasma faminto

por silano” e a corrosão por RIE destes filmes usando plasmas de CHF3+O2. O

estudo de cristalização indica que os recozimentos térmicos induzem a cristalização

do material. Os filmes foram caracterizados por FTIR e XRD; estes resultados

mostraram evidências de cristalização do SiC com a formação de policristais cúbicos

de carbeto de silício (3C-SiC).

No estudo referente ao aperfeiçoamento dos parâmetros de corrosão dos

filmes de a-SiC:H verificou-se um aumento na taxa de corrosão do SiC com o

aumento do oxigênio na mistura gasosa. Foi obtida uma taxa máxima de 32 nm/min

para 60% de O2 na mistura de gás. O aumento da potência de rf mostra um

crescimento linear da taxa de corrosão, alcançando um valor de máximo de 86

nm/min para 200 W de potência. Pressões de processo crescentes conduzem a um

aumento monotônico da taxa de corrosão, e permanecem quase constante a um valor

máximo de 125 nm/min na faixa de pressão entre 200-300 mTorr.

Para os filmes cristalizados foi observada uma forte influência do grau de

cristalinidade sobre a taxa de corrosão. O recozimento térmico promove a efusão do

hidrogênio e uma compactação dos filmes, favorecendo um aumento da fração

cristalina dos filmes. O aumento da temperatura de recozimento provoca um

aumento da ordem química, com a formação de estruturas cristalinas ordenadas, que

resultam em uma redução na taxa de corrosão.

Page 114: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

95

4.2 - Parte 2: Dopagem

4.2.1 - Dopagem in-situ com N2

A condutividade em função da temperatura para as amostras dopadas in-situ

crescidas com diferentes fluxos de N2, obtidas com e sem diluição em hidrogênio,

são mostradas na Figura 4. 10 a e b.

Podemos observar que a condutividade das amostras depositadas sem

diluição em hidrogênio (C3680) apresenta um comportamento mais consistente que

as amostras crescidas com diluição e que, para maiores concentrações de N2 na

mistura gasosa, maior é condutividade elétrica dos filmes, resultando em uma clara

indicação do efeito da dopagem elétrica nestes filmes. Por outro lado, para amostras

depositadas com diluição em hidrogênio (C3690H – Figura 4. 10b) os resultados não

são tão evidentes, e podemos notar variações no comportamento da condutividade

elétrica. Por exemplo, para maiores temperaturas (maiores que aproximadamente

460 K) as condutividades das amostras dopadas e intrínsecas tendem a ser a mesma.

Além disso, amostras com maiores níveis de condutividade (crescidas com 0,5 a

1,0 sccm de N2) exibem dois regimes de condutividade: o primeiro com baixa

energia de ativação (~0,15 eV) em baixas temperaturas e um segundo, para

temperaturas maiores que 450 K, com energia de ativação próxima da 0,9 eV. Ainda,

para a amostra depositada com 1 sccm de fluxo de nitrogênio pode ser notado até

mesmo um terceiro regime de condução, com energia de ativação de

aproximadamente 0,6 eV para temperaturas intermediárias.

Page 115: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

96

0,0018 0,0021 0,0024 0,0027 0,003010-13

10-12

10-11

10-10

10-9

C3680 - sem diluição H2

EA = 0,8 ± 5% eV

EA = 0,6 ± 5% eV

EA = 1,2 ± 5% eV

0,5 sccm 0,1 sccm intrínseca

Con

dutiv

idad

e (Ω

.cm

)-1

1/T (K-1)

550 500 450 400 350Temperatura (K)

(a)

0,0018 0,0021 0,0024 0,0027 0,003010-13

10 -12

10 -11

10 -10

10 -9

E A = 0,80 ± 5% eV E A = 0,95 ± 5% eV

E A = 0,15 ± 5% eV E A = 0,10 ± 5% eV

E A = 1,4 ± 5% eV

C3690H - com dilu ição H 2

E A = 0,8 ± 5% eV

1 ,0 sccm 0 ,5 sccm 0 ,1 sccm in trínseca

Con

dutiv

idad

e (Ω

.cm

)-1

1 /T (K -1)

550 500 450 400 350Tem peratura (K )

(b)

Figura 4. 10 - Condutividade versus 1/T para amostras intrínsecas e dopadas in-situ com N2: a) amostras tipo C3680 sem diluição em H2 e b) amostras tipo C3690H crescidas com diluição em H2.

Page 116: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

97

Apesar das características particulares exibidas pela amostra C3690H, as

quais necessitam de maiores estudos para um melhor entendimento sobre o seu

comportamento, para a amostra C3680 é observado um aumento da condutividade

que é consistente com os resultados reportados por Nakaaki e Naito [175] sobre

filmes depositados utilizando a técnica PECVD, e que podem ser atribuídos ao

aumento do nível de dopagem (incorporação do nitrogênio como impureza

substitucional) com o aumento do fluxo de N2. A curva da amostra C3680 crescida

com maior fluxo de N2 (1 sccm) não é mostrada na Figura 4. 10 devido a problemas

com os contatos elétricos.

Para verificar a incorporação de nitrogênio nos diferentes níveis de dopagem

relacionados aos fluxos estudados, espectros FTIR e análise sobre o gap óptico das

amostras foram realizados. Os resultados referentes às medidas FTIR das amostras

intrínsecas e dopadas, tipo C3680 e C3690H, são mostrados nas Figura 4. 11 a e b,

respectivamente. Como esperado, os espectros das amostras não dopadas (0% de

fluxo de N2) mostram as características típicas de um carbeto de silício amorfo

hidrogenado, ainda evidenciando diferenças em suas ordens química e estrutural.

Deste modo, todos os espectros exibem uma banda principal em 780 cm-1,

relacionada à ligação Si-C no modo stretching, em 1020 cm-1 a banda relacionada à

vibração Si-CHn. A vibração da ligação C-H stretching posiciona-se em torno de

2900 cm-1 e a banda volta de 2100 cm-1 corresponde à vibração stretching da ligação

Si-H. As amostras crescidas com diluição em H2, C3690H (Figura 4. 11b),

apresentam menor incorporação de hidrogênio e uma mais pronunciada banda Si-C,

indicando uma maior incorporação de ligações Si-C com conseqüente aumento de

sua ordem química e estrutural. Por outro lado, para ambos os tipos de amostras,

pequenas quantidades de nitrogênio em sua composição induzem a mudanças,

especialmente para a amostra menos ordenada C3680. Para maiores fluxos de N2, em

amostras depositadas sem diluição em hidrogênio, é possível observar o

aparecimento de uma pequena banda ao redor de 1000 cm-1, a qual pode ser atribuída

à vibração da ligação Si-N [175]. Também é notado que para os maiores fluxos de

nitrogênio é aumentada à vibração da ligação Si-H, acompanhada pelo decréscimo da

banda Si-C.

Page 117: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

98

3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 400

1,0 sccm N2

0,5 sccm N2

0,1 sccm N2

intrínseca

Si-HC-H

Si-H Si-CHn

Si-C (a) C3680 - N2 in-situ

Abso

rbân

cia

(u.a

.)

Número de onda (cm-1)

3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 400

C-H

Si-H

Si-CHn

Si-C

1,0 sccm N2 0,5 sccm N2 0,1 sccm N2 intrínseca

(b) C3690H - N2 in-situ

Abso

rbân

cia

(u.a

.)

Número de onda (cm-1)

Figura 4. 11 - Espectro FTIR das amostras intrínsecas e dopadas in-situ com nitrogênio: (a) amostras tipo C3680 (menor ordem estrutural) e (b) amostras tipo C3690H (maior ordem estrutural).

Os valores de gap calculados pela técnica de extrapolação de Tauc [176] são

apresentados na Figura 4. 12 em função do fluxo de nitrogênio. Para ambos os tipos

Page 118: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

99

de amostras, C3680 e C3690H, não são apreciadas mudanças significativas em seus

valores. Os resultados de FTIR e gap óptico são uma indicação que a incorporação

do nitrogênio permanece a níveis suficientemente baixos para não provocar

mudanças significativas no material.

Para concluir, neste trabalho estudamos o efeito da dopagem in-situ com o

gás N2 de filmes estequiométricos de a-SiC:H com diferentes ordens química e

estrutural, obtidos pela técnica PECVD a baixas temperaturas. Primeiramente

podemos concluir que, em ambos os tipos de materiais, maiores esforços são

necessários para obter maiores níveis de condutividade. Porém, para aplicações nas

quais são desejadas menores concentrações de dopantes, como por exemplo, na

região de canal de um transistor MOS, a dopagem in-situ com N2 apresentou níveis

de condutividades promissoras para a construção de dispositivos eletrônicos devido a

sua facilidade de processamento e o baixo custo. Contudo, para as amostras C3690H,

cujas características observadas nas medidas elétricas de condutividade versus

temperatura apresentaram dois regimes de condução que devem ser mais bem

entendido e novos estudos são necessários.

0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,01,8

2,0

2,2

2,4

2,6

2,8

3,0

3,2

3,4

3,6 C3690H C3680

Ban

dgap

ópt

ico

(eV)

Fluxo N2 (sccm)

Figura 4. 12 - Bandgap óptico das amostras intrínsecas e dopadas in-situ com nitrogênio.

Page 119: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

100

4.2.2 - Implantação iônica de boro (B+) e difluoreto de boro (BF2+)

O efeito da implantação com B+ e BF2

+ sobre as propriedades elétricas do

a-Si0,5C0,5:C pode ser apreciado na Figura 4. 13 e Tabela 4. 2. Como podemos ver a

condutividade das amostras dopadas com boro não é muito alta, confirmando os

pobres resultados obtidos em trabalhos anteriores [93]. Por outro lado, os valores de

condutividade elétrica para amostras dopadas BF2+ são muito promissores,

alcançando valores da ordem de 10-1 (Ω.cm)-1 e apresentando uma energia de

ativação baixa (~18 meV). É importante destacar que estes níveis de condutividade

obtidos com implantação de BF2+ são muito expressivos para uma dopagem tipo-p

num semicondutor de alto gap, valores superiores aos reportados pela literatura da

dopagem de boro implantado em a-SiC:H [89]. Estes níveis de condutividade podem

ser comparados inclusive com os reportados pela literatura de dopagem por

implantação iônica tipo-p em c-SiC [177]. Até o momento tem sido um desafio à

produção de camadas tipo-p com elevada eficiência de dopagem, mesmo para o SiC

cristalino, principalmente a implantação de boro, a qual a dopagem não conduz a

resultados satisfatórios.

0,0018 0,0021 0,0024 0,0027 0,0030 0,0033

10-13

10-11

10-9

10-7

10-5

10-3

10-1

101

intrínsecas

B+

B+

BF2+

BF2+

Símbolo cheio - C3680Símbolo aberto - C3690H

Con

dutiv

idad

e (Ω

.cm

)-1

1/T (K-1)

550 500 450 400 350 300Temperatura (K)

Figura 4. 13 - Condutividade versus 1/T para amostras: intrínsecas (quadrado), dopadas com B+ (triângulo) e dopadas com BF2

+ (círculo).

Page 120: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

101

Relembrando, na literatura do silício [99,100] a implantação com BF2+ no

lugar de B+ é utilizada para produzir lâminas rasas p+. De fato, devido a sua maior

massa, o BF2+ não apresenta os problemas normalmente associados com a

implantação de B+, como o tunelamento e a difusão/exodifusão no material. Por estas

razões nós esperamos evitar as instabilidades térmicas observadas em nossos

experimentos prévios com este elemento. Efetivamente a curva σ vs. 1/T das

amostras implantadas com BF2+ na Figura 4. 13 são bastante estáveis e reprodutíveis.

Tabela 4. 2 - Energia de ativação (EA) e gap óptico (EG) da amostras tipo C3680 e C3690H dopadas com uma concentração de 1×1020 cm-3.

Amostra Tipo Íon Energia de ativação (eV) Gap óptico (eV)

intrínseco

B+

1,20

0,20

2,4

2,3 C3680

BF2+ 0,25 2,1

intrínseco

B+

1,40

0,20

3,0

2,9 C3690H

BF2+ 0,15 2,5

Também podemos observar que, comparando com a dopagem tipo-n com

fósforo realizada previamente [178], a dopagem tipo-p com BF2+ conduz a maiores

valores de condutividade elétrica e menores valores de energia de ativação. Este fato

pode estar relacionado particularmente com a boa propriedade aceitadora do BF2+, o

qual deve ser mais bem estudado. Mas também pode ser uma conseqüência das

propriedades de baixa injeção de elétron dos nossos contatos de Al. De fato, é

conhecido da literatura do SiC cristalino que o alumínio não é um bom contato

elétrico para aplicações em materiais tipo-n, uma vez que ele introduz uma elevada

barreira para os elétrons na interface metal/semicondutor. Para SiC tipo-n, bons

contatos ôhmicos são obtidos em metais como níquel, titânio e tungstênio. Além

disso para a formação de um contato ôhmico é necessário um processo de

recozimento térmico em elevadas temperaturas (acima de 800 ºC) [179]. Por outro

lado, como o Al é uma impureza aceitadora em SiC, qualquer difusão de alumínio

sob os eletrodos pode definir uma região p+, a qual atua com um bom contato injetor

para amostras de a-SiC:H dopadas tipo-p. Assim, nos experimentos aqui descritos

Page 121: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

102

nossos contatos elétricos baseados em Al provavelmente possuem uma boa

propriedade de injeção para o material dopado tipo-p, mas certamente não atua da

mesma maneira para o caso da dopagem tipo-n.

A seguir, na Figura 4. 14, mostramos o perfil de boro em função do tempo de

sputtering (pulverização) para as amostras de a-SiC:H dopadas por implantação

iônica de BF2+ e B+. A abscissa dos gráficos é o tempo de sputtering, medido em

segundos.

0 100 200 300 400102

103

104

interface: a-SiC:H / substrato

Log

(Con

tage

ns/s

eg)

Tempo de sputtering (seg)

0,0 0,6 1,2 1,8 2,4

(Corning glass 7059)substratoa-SiC:H

Profundidade (μm)

I/I BF2+

I/I B+

Figura 4. 14 - Perfil de boro das amostras dopadas por implantação iônica de BF2+ e B+.

Como vimos anteriormente, na literatura do silício a implantação de BF2+ é

utilizada em vez de B+ para produzir camadas rasas p+. De fato, devido a sua maior

massa, BF2+ não apresenta os problemas normalmente associados com a implantação

de B+, como o tunelamento do boro. Com o intuito de verificar se o efeito é

responsável pela condutividade alta em nossas amostras implantadas com BF2+, nós

medimos o perfil de distribuição de boro das implantações com BF2+ e B+ pela

técnica SIMS. Os resultados são mostrados na Figura 4. 14, onde a abscissa do

gráfico é o tempo de sputtering, medido em segundos. O perfil em profundidade

correspondente, estimado por medida de perfilometria da profundidade da cratera

Page 122: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

103

formada (ver Figura 4. 15), é mostrado no eixo superior da mesma figura. A linha

tracejada em 0,6 μm indica a espessura do filme.

Como pode ser visto, a amostra implantada com BF2+ exibe uma

concentração de boro maior que a amostra implantada com B+. Esta diferença se

estende ao longo de toda espessura do filme, especialmente na superfície. Devido à

falta de um padrão apropriado para calibrar a sensibilidade do SIMS infelizmente nós

não pudemos obter os valores absolutos da concentração de boro. Então, na Figura 4.

14 mostramos que a implantação com BF2+ leva a uma concentração de boro de

aproximadamente uma ordem de grandeza maior que a obtida com a implantação de

B+. Este comportamento é provavelmente devido a efeitos de efusão induzida pelo

processo de tratamento térmico. De fato, como reportado para o silício cristalino

[180], o coeficiente de difusão do boro implantado por BF2+ é menor do que o

implantado por B+. Baseado nisto, acreditamos que em nossos filmes de a-SiC:H a

presença do flúor pode estar reduzindo a difusão de boro na etapa de recozimento

térmico, por isso obtemos uma maior concentração de boro na amostra implantada

com BF2+. Na Figura 4. 15 também podemos observar um perfil de boro para

profundidades maiores que 0,6 μm, a qual é devida à presença de boro na

composição (ver Tabela 4. 3) do substrato de vidro Corning 7059 (bária alumínio

borosilicato).

0,0 100,0µ 200,0µ 300,0µ 400,0µ 500,0µ-12,0µ

-10,0µ

-8,0µ

-6,0µ

-4,0µ

-2,0µ

0,0

Tempo de sputtering = 1800 seg

Espessura SiC = 0,6 μminterface SiC / substrato

Prof

undi

dade

da

crat

era

(m)

Largura (m) (a)

Page 123: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

104

(b)

Figura 4. 15 – Cratera formada pelo feixe de íons primários: (a) Medida de perfilometria da profundidade e (b) Microscopia óptica da superfície.

Tabela 4. 3 – Composição do substrato de vidro da marca Corning tipo 7059.

Composição Concentração (%) SiO2 49 Al2O3 10 B2O3 15 BaO 25

As2O3 1

A alta condutividade elétrica das amostras implantadas com BF2+ também

pode estar relacionada à presença de flúor no filme. De acordo com a literatura do

silício amorfo [181,182], a incorporação de átomos de flúor pode produzir um efeito

similar ao do hidrogênio na redução da densidade de estados na banda proibida.

Matsumura et al. [183] tem reportado uma dopagem in-situ tipo-p com boro pela

adição do gás BF3 em filmes de a-Si:F, sem a adição do gás hidrogênio. Nestes

filmes os átomos de flúor atuam saturando as ligações incompletas (dangling-bonds)

e os de boro como átomos dopantes aceitadores. Baseado nisto, acreditamos que um

efeito similar possa estar ocorrendo em nossas amostras. Neste caso os átomos de

flúor, como o hidrogênio, também reduzem a densidade de estados na banda

proibida, saturando os dangling-bonds, melhorando as propriedades de transporte

eletrônico do material.

Page 124: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

105

Por último, a alta condutividade elétrica poderia estar relacionada aos defeitos

originados pela mudança estrutural dos filmes, induzidas pelo processo de

implantação iônica. Sobre isto, um espectro de absorção FTIR na Figura 4. 16 mostra

que o processo de implantação não introduz mudanças significativas no material,

descartando esta possibilidade.

Neste trabalho, portanto, foi estudada a dopagem elétrica tipo-p por

implantação iônica com B+ e BF2+ em a-Si0,5C0,5:H com elevada ordem química e

estrutural. Pela primeira vez na tecnologia do a-SiC:H foi utilizada a implantação de

BF2+, a qual apresentou uma condutividade no escuro de ~10-1 (Ω.cm)-1, valor

comparável aos reportados pela literatura do c-SiC. Amostras com estas

condutividades apresentam uma baixa energia de ativação (~0,15 eV), indicando

essencialmente um processo de condução não ativado termicamente.

3200 2800 2400 2000 1600 1200 800 400

(C-H) @ 2900 cm-1 (Si-H) @ 2100 cm-1

Si-CHn @ 950 cm-1

(Si-C) @ 800 cm-1 não-dopada I/I B+

I/I BF2+

Abso

rbân

cia

(u.a

.)

Número de onda (cm-1)

Figura 4. 16 – Espectro FTIR das amostras de a-SiC:H não-dopada e dopadas por implantação iônica com B+ e BF2

+

O perfil de distribuição dos átomos dopantes de boro no a-SiC:H, foi medido

através da técnica de espectrometria de massa de íons secundários (SIMS). Além

disso, obtivemos também informações a respeito das ligações químicas presentes no

material através da espectroscopia na região do infravermelho (FTIR). De acordo

com as caracterizações realizadas, acreditamos que devido à maior concentração dos

átomos de boro associada à diminuição da densidade de defeitos (saturação dos

Page 125: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

106

dangling-bonds pelos átomos de flúor) são os principais fatores responsáveis pela

maior eficiência da dopagem do a-SiC:H implantado com BF2+ com relação a

implantação com B+.

Page 126: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

107

4.2.3 - Difusão térmica de alumínio

Como no caso das amostras intrínsecas cristalizadas, as amostras dopadas por

difusão térmica de Al a temperaturas acima de 550 ºC também apresentam

cristalização do a-SiC:H, com a formação de cristais de 3C-SiC.

Com relação às caracterizações elétricas, primeiramente apresentamos os

resultados de medidas elétricas IxV para verificar o caráter ôhmico dos contatos

elétricos. Foram depositados 500 nm de Al por evaporação térmica com subseqüente

tratamento térmico de sinterização dos contatos, realizado a 550ºC por 1 hora. Como

podemos notar na Figura 4. 17 a corrente elétrica cresce linearmente com o aumento

da tensão. A seguir, na Figura 4. 18 apresentamos os valores de condutividade

elétrica em função da temperatura de recozimento para difusão/cristalização do

material. Podemos notar claramente o efeito da dopagem, demonstrando o aumento

da condutividade a temperatura ambiente, que cresce em torno de 11 ordens de

grandeza em relação à amostra intrínseca.

De acordo com os resultados de cristalização dos filmes de a-SiC:H,

separamos em duas fases a evolução da condutividade elétrica. A primeira ocorre

entre 350 e 500 ºC, na qual notamos um elevado aumento da condutividade em

relação à temperatura de difusão. Creditamos principalmente este aumento de

condutividade devido à maior eficiência da difusão do Al com o aumento da

temperatura e, conseqüentemente, da eficiência da dopagem, uma vez que ainda se

trata de um material amorfo. A segunda fase, acima de 500 ºC, nós associamos o

aumento da condutividade elétrica também com o aumento da eficiência da

dopagem, porém agregada ao efeito da cristalização do material, uma vez que existe

uma maior continuidade espacial para o movimento dos elétrons.

Page 127: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

108

-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0-8,0x10-4

-4,0x10-4

0,0

4,0x10-4

8,0x10-4

C3690H - Dif.550-90

Contatos de Al - sinterização: 550ºC por 1 hC

orre

nte

(A)

Tensão (V) Figura 4. 17 – Caracterização IxV para verificação dos contatos elétricos.

100 200 300 400 500 600 700 800 900 100010-12

10-10

10-8

10-6

10-4

10-2

100

1000ºC por 2 h

750ºC por 2 h550ºC por 2 h

500ºC por 2 h

450ºC por 6 h

350ºC por 6 h

fase amorfa - trabalhos anterioresfase cristalina - trabalho atual

Difusão térmica de Al em SiC C3690H

Con

dutiv

idad

e (Ω

.cm

)-1

Temperatura de difusão (ºC)

Figura 4. 18 - Condutividade elétrica a temperatura ambiente em função da condição de dopagem.

Na figura a seguir apresentamos um gráfico comparando as resistividades

obtidas em nosso estudo com os dados reportados pela literatura do c-SiC utilizando

Page 128: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

109

a implantação iônica (I/I) de Al. As condições de processo utilizadas pela literatura

são apresentadas na tabela abaixo. O gráfico é dado em função da temperatura de

recozimento que, em nosso caso, é utilizada para a dopagem por difusão e

cristalização e, no caso da literatura, é dada para ativação das impurezas e

recristalização. Como se pode notar foram obtidos níveis de resistividade muito

promissores, comparáveis ao da literatura do c-SiC, porém com temperaturas de

processamento consideralvelmente inferiores.

400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 200010-2

10-1

100

101

102

I/I Al - literatura c-SiCDifusão Al e cristalização a-Si0,5C0,5:H

C3690H

Experimentos de dopagem com Al selecionados para a produção de baixa resistividade tipo-p em c-SiC

Res

istiv

idad

e (Ω

.cm

)

Temperatura de recozimento (ºC)

Figura 4. 19 - Resistividade em função dos valores de temperatura de processo.

Tabela 4. 4 - Condições de dopagem das amostras referentes à Figura 4. 19.

Legenda Concentração de

Al (cm-3) Temperatura de implantação (ºC)

Recozimento (ºC/min)

Referência

2,0×1018 500 1800/30 Troffer et al. [96] 1,6×1020 Ambiente 1700 Kimoto et al. [184] 5,0×1019 400 1550/10 Wirth et al. [185] 1,0×1020 650 1670/12 Billon et al. [186]

∆ 1,5×1020 800 1600/15 Handy et al. [187]

1,0×1020 850 1600/45 Rao et al. [188]

Page 129: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

110

Como dissemos anteriormente é muito difícil produzir carbeto de silício

tipo-p com baixa resistividade devido o seu elevado nível aceitador. Além do mais,

de acordo com modelos teóricos, são necessárias concentrações acima de

2×1020 cm-3 para obter resistividades abaixo de 0,1 Ω.cm à temperatura ambiente, o

que gera a necessidade de elevadas temperaturas para ativação das impurezas e

reconstrução da estrutura cristalina. Além disso, outro problema está relacionado

com a solubilidade do Al no c-SiC, para o qual em concentrações acima de

2×1020 cm-3 tem havido problemas com a ativação das impurezas devido à

precipitação de Al.

Sabendo disso, Heera et al. [102] conseguiram obter baixos valores de

resistividade (<0,1 Ω.cm) partindo de uma lâmina de 6H-SiC (Figura 4. 20). Em seu

trabalho, a dopagem foi produzida pela combinação de altas doses (1,0 –

3,3×1016 cm-2) e múltiplas energias (50-450 keV) de implantação iônica de Al+ a

temperaturas extremamente baixas, de aproximadamente –130ºC, para a produção de

um material nanocristalino. Segundo o autor, a amorfização do material possibilita

uma incorporação maior de Al no carbeto de silício, o que consequentemente

aumenta a eficiência da dopagem. A recristalização do material foi induzida pela

implantação de 5×1015 cm-2 de Si+ a 500 ºC, com subseqüente tratamento térmico a

1500 ºC por 10 minutos.

Acreditamos que um mecanismo semelhante esteja ocorrendo com nossas

amostras, uma vez que obtivemos baixos níveis de resistividade com temperaturas de

processamento relativamente baixas. A seguir apresentamos os resultados obtidos

por Heera [102], em conjunto sobrepomos um outro gráfico com os valores de

condutividade elétrica obtidos para as amostras dopadas por difusão térmica a 550,

750 e 1000 ºC. Podemos notar que as amostras cristalizadas apresentam valores de

resistividades e os comportamentos em função da temperatura semelhantes aos

reportados por Heera et al. [102]. As vantagens do nosso processo com relação ao

processo descrito na Figura 4. 20 estão relacionadas principalmente a dois pontos: à

facilidade e ao baixo custo do nosso processo, que não exige sofisticados sistemas de

dopagem e pode ser realizado a temperaturas bem inferiores. Além disso, Heera, em

seu processo, partiu de uma lâmina de 6H-SiC que custa aproximadamente

US$ 450 (ver Tabela 2.1) e, em nosso caso, partimos de um substrato de Si

Page 130: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

111

consideravelmente mais barato (~US$ 10). Dessa forma, com o exposto

anteriormente, fica evidente a maior facilidade e o menor custo da tecnologia

proposta neste trabalho.

Figura 4. 20 - Resistividade em função da temperatura. Os dados da literatura foram retirados do trabalho de Heera et al. [102], em conjunto também são apresentados os nossos resultados de difusão térmica. As condições de dopagem são apresentadas na tabela abaixo.

Tabela 4. 5 - Condições de dopagem das amostras referentes à Figura 4. 20.

Amostra Al

(cm-3)

Temperatura Implantação

(ºC)

Dose implantação silício.

(500 keV/500 ºC)

Recozimento (ºC)

Estrutura

L 1,5×1020 400 - 1500 Cristalina

L_Si 1,5×1020 400 5,0×1015 cm-2 1500 Cristalina

L_IBIC 1,5×1020 -130 5,0×1015 cm-2 1500 Nanocristalina

H 5,0×1020 400 - 1500 Cristalina

H_Si 5,0×1020 400 5,0×1015 cm-2 1500 Cristalina

H_IBIC 5,0×1020 -130 5,0×1015 cm-2 1500 Nanocristalina

X 5,0×1020 400 - 1650 Cristalina -- ? difusão - 550 Nanocristalina -- ? difusão - 750 Nanocristalina -- ? difusão - 1000 Nanocristalina

Page 131: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

112

Os elevados valores de condutividade apresentados para amostras difundidas

e cristalizadas com Al podem ser explicados pela formação de uma banda de

impureza, devido a uma alta densidade de átomos de Al eletricamente ativos.

Podemos notar também que o material apresenta um comportamento termicamente

ativo, o que descarta a possibilidade de uma condução metálica, a qual é

independente da temperatura. De qualquer maneira, outras análises devem ser

realizadas, como exemplo, medidas de efeito Hall para comprovar o caráter tipo-p

das amostras além da determinação da concentração dopantes presente no material.

Nesta parte do trabalho, portanto, demonstramos a possibilidade de dopagem

em conjunto com um processo de cristalização de filmes de a-Si0,5C0,5:H via difusão

térmica de alumínio. Como no caso das amostras intrínsecas, o tratamento térmico

conduz à formação 3C-SiC. Cabe aqui destacar que não foi possível realizar a

caracterização elétrica nas amostras tipo C3680 devido à formação de trincas. Porém,

em amostras tipo C3690H que não apresentaram trincas foram obtidos baixos níveis

de resistividade elétrica, da mesma ordem dos materiais cristalinos. A dopagem por

difusão térmica de Al conjuntamente com um processo de cristalização é um

processo promissor de dopagem se comparado com o tradicional processo de

implantação iônica de Al em SiC. Isso se deve à grande simplicidade e baixo custo

do processo, com a obtenção de valores de resistividade muito próximos aos

reportados pela literatura utilizando o processo de dopagem por implantação iônica,

da ordem de 1 Ω.cm, entretanto com temperaturas de processamento muito

inferiores. Outro importante ponto a destacar é a inovação do processo de dopagem

em SiC, uma vez que a literatura não reporta nenhum trabalho com esta técnica de

dopagem.

Page 132: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

113

4.3 - Parte 3: Dispositivos

4.3.1 – Capacitores MOSiC

Para investigar o tipo de ligações químicas presentes nas camadas de óxido,

foram realizadas medidas de espectroscopia na região o infravermelho FTIR. A

Figura 4. 21 mostra o espectro FTIR das amostras dos Grupos 1, 2 e 3.

Como podem ser visto, os espectros exibem as características típicas de um

óxido de silício. O pico de absorção em 1050 cm-1, devido ao modo de vibração

stretching da ligação Si-O, é claramente visível para todas as amostras. Além deste

pico, mais outros dois picos menores também estão presentes: o primeiro, em 800-

810 cm-1, atribuído ao modo de vibração bending da ligação Si-O e um segundo, em

460 cm-1, relacionado ao modo de vibração rocking da ligação Si-O. Ainda é possível

notar que a amostra de oxinitreto de silício também apresenta um espectro muito

semelhante ao do óxido de silício, sugerindo que o tratamento térmico realizado para

a cristalização do SiC deve ter promovido uma oxidação destes filmes, uma vez que

estes experimentos não foram realizados em ambiente a vácuo.

500 1000 1500 2000 2500

Si-O rocking @ 460 cm-1

Si-O bending @ 810 cm-1 Si-O stretching @ 1050 cm-1

SiC/SiO2 térmico úmido

SiC/SiOXNY PECVD

Si/SiO2 térmico seco (referência)

SiC/SiO2 PECVD

SiC/SiO2 térmico seco

Abs

orbâ

ncia

(u.a

.)

Número de onda (cm-1) Figura 4. 21 - Espectros FTIR das amostras dos Grupos 1, 2 e 3.

Page 133: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

114

A seguir apresentamos a caracterização elétrica das amostras, a qual se

iniciará pela amostra de referência de Si. Normalmente um capacitor convencional

possui uma estrutura vertical, ou seja, com os contatos elétricos paralelos. Porém, em

nosso caso, estamos utilizando filmes de SiC e não lâminas, portanto necessitamos

de um suporte mecânico para os filmes e, conseqüentemente, todos contatos elétricos

estão localizados na superfície superior do dispositivo.

Nesse sentido, o primeiro passo foi comparar o comportamento dos

dispositivos fabricados com a estrutura proposta com o comportamento dos

dispositivos baseados na estrutura convencional, a partir de capacitores fabricados

com lâminas de referência de Si, que é um material muito estudado e conhecido pela

literatura. Deste modo, foram fabricadas ambas as estruturas numa mesma amostra,

vertical (convencional) e horizontal (proposta para os filmes de SiC), de modo a

comparar as curvas C-V características. Na Figura 4. 22 apresentamos um esquema

das estruturas utilizadas para a caracterização elétrica.

Figura 4. 22 - Estrutura do capacitor MOS de Si contendo as estruturas: convencional (vertical) e proposta (horizontal).

Na Figura 4. 23 e Tabela 4. 6 mostramos as curvas características de

capacitância em função da tensão em alta freqüência (1 MHz) e os parâmetros

extraídos das estruturas horizontal e vertical, respectivamente.

+ -~ CONTATO DE BULK (estrutura “proposta”)

CONTATO DE PORTA (comum p/ as estruturas) ( d t t )

Metal – Alumínio Óxido (~ 0,1 μm) Substrato de Silício

~ +

-

CONTATO DE BULK (estrutura “convencional”)

Page 134: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

115

-12 -9 -6 -3 0

20

30

40

50

60

70

80

90(a)

silício - estrutura vertical

Cap

acitâ

ncia

(pF)

Tensão aplicada (V)

-12 -9 -6 -3 0

6,0

8,0

10,0

12,0

14,0

16,0 (b)

silício - estrutura horizontal

Cap

acitâ

ncia

(pF)

Tensão aplicada (V)

Figura 4. 23 - Curvas C-V a alta freqüência dos capacitores de Si para: (a) estrutura vertical e (b) estrutura horizontal.

Tabela 4. 6 - Parâmetros elétricos dos capacitores MOS extraídos das estruturas vertical e horizontal a partir da curva C-V a alta freqüência corrigida pela resistência série.

Capacitor VTH (V)

VFB(V)

Qeff (cm-2)

COX (pF)

tox (Å)

Área calculada

(cm2) Si vertical -7,3 -3,6 6,18 ×1011 83,11 1250 28 ×10-4

Si horizontal -6,7 -3,4 6,89 ×1011 80,95 1250 26 ×10-4

Page 135: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

116

Como se pode observar as curvas apresentam um comportamento de um

semicondutor tipo-n praticamente idêntico. De acordo com a Tabela 4. 6 podemos

notar que os parâmetros característicos das curvas, tais como tensão de limiar (VTH),

tensão de banda plana (VFB) e densidade de cargas no óxido (Qeff) possuem valores

muito próximos, dentro de um erro experimental, o que sugere que os dispositivos

são idênticos, a não ser pelos valores de capacitância. De fato, devido à resistividade

do substrato (~3 Ω.cm), não devemos esperar que a capacitância da estrutura

horizontal seja idêntica à estrutura vertical. A maioria dos capacímetros comerciais

mede a capacitância utilizando o modelo paralelo de um capacitor MOS, por esse

motivo, se houver uma resistência não desprezível associada em série com a estrutura

(resistência série), pode-se introduzir um erro na extração dos parâmetros da curva

C-V [128]. Por isso os valores das capacitâncias são diferentes para as estruturas.

Assim, para a extração dos parâmetros elétricos de todas as estruturas

horizontais foi necessária à correção da curva C-V, a qual foi realizada pelo próprio

programa do equipamento de medida. Com base na caracterização elétrica realizada

nos capacitores de Si fabricados a partir das estruturas horizontal e vertical, podemos

observar que os resultados são em geral muito semelhantes (ver Tabela 4. 6), o que

nos habilita a caracterizar os capacitores fabricados a partir dos filmes cristalizados

de SiC com a estrutura horizontal.

Deste modo, na Figura 4. 24 e Tabela 4. 7 mostramos as curvas de

capacitância em função da tensão a alta freqüência (1 MHz) características e os

parâmetros extraídos amostras do Grupo 1, capacitores de SiC com óxido térmico

seco e úmido, respectivamente.

É importante aqui destacar que para a extração dos parâmetros característicos

das curvas C-V foram consideradas algumas constantes da literatura do 3C-SiC, tais

como a constante dielétrica: ε3C-SiC = 9,7, o número de portadores intrínsecos a

temperatura ambiente: ni = 8 cm-3 e a altura da banda proibida: EG = 2,4 eV (ver

Tabela 2. 1). Em todos os dispositivos baseados em SiC só foi possível obter a curva

em alta freqüência, devido à alta corrente de fuga dos dispositivos [128], o que

impossibilitou o cálculo da densidade de estados de interface. Outra informação

importante que pode ser obtida dos capacitores baseados em nossos filmes de SiC é

que todos apresentam um comportamento típico de um semicondutor tipo-p.

Page 136: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

117

Lembrando que estes dispositivos consistem de uma estrutura formada SiC

“intrínseco” depositado sobre um substrato de Si tipo-n. Conseqüentemente, o

comportamento tipo-p só pode ser devido ao filme de SiC, o que indica que nossos

filmes intrínsecos possuem uma dopagem não intencional tipo-p.

Através da Tabela 4. 7 vemos um deslocamento na tensão de banda plana,

VFB, que é devido à quantidade de cargas efetivas presente no óxido (Qeff), da ordem

de 1012 cm-2.

-50 -40 -30 -20 -105,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0 (a)

inversão - acumulação acumulação - inversão

SiC - oxidação seca

Cap

acitâ

ncia

(pF)

Tensão aplicada (V)

-25 -20 -15 -10 -5

30

40

50

60 (b)

inversão - acumulação acumulação - inversão

SiC - oxidação úmida

Cap

acitâ

ncia

(pF)

Tensão aplicada (V) Figura 4. 24 - Curvas C-V a alta freqüência dos capacitores de SiC com oxidação: (a) térmica seca e (b) térmica úmida.

Page 137: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

118

Tabela 4. 7 - Parâmetros elétricos extraídos a partir da curva C-V a alta freqüência dos capacitores MOS de SiC oxidados termicamente.

Capacitor WDMAX (nm)

NA (cm-3)

VFB (V)

COX (pF)

Qeff (cm-2)

tox (Å)

Área Calculada

(cm2)

SiC/Seco 816 6,8×1015 -24,7 30 3,14×1012 1584 26×10-4

SiC/Úmido 91 2,5×1016 -15,8 60 5,2×1012 612 27×10-4

Na Figura 4. 25 e Tabela 4. 8 mostramos as curvas de capacitância em função

da tensão a alta freqüência (1 MHz) características e os parâmetros extraídos

amostras do Grupo 2, capacitores de SiC com óxido de silício e oxinitreto de silício

depositados por PECVD, respectivamente. Podemos notar que para estes dispositivos

também foram encontradas cargas efetivas presentes no óxido (Qeff) da ordem de

1012 cm-2, da mesma ordem de grandeza reportada pela literatura para filmes

isolantes depositados em SiC [103,118]. Podemos notar que para ambos os casos,

quando a estrutura está originalmente em acumulação e a rampa de tensão é aplicada

à porta, a capacitância entra em depleção profunda. Como o carbeto de silício possui

um alto gap de energia (~ 2,4 eV), a concentração de portadores intrínsecos é muito

menor que para o silício, por exemplo (da ordem de 8 cm-3 para o 3C-SiC), o qual

produz uma taxa de geração e recombinação de portadores muito pequena comparada

com o Si. Tem sido comum observar o fenômeno de depleção profunda em

dispositivos MOSiC, principalmente para dispositivos do tipo-p [189,190].

Page 138: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

119

-25 -20 -15 -10 -5 010,0

15,0

20,0

25,0(a)

inversão - acumulação acumulação - inversão

SiC/SiO2 PECVD

Cap

acitâ

ncia

(pF)

Tensão aplicada (V)

-20 -16 -12 -8 -4 0

12,0

16,0

20,0

24,0

28,0

32,0(b)

inversão - acumulação acumulação - inversão

SiC/SiOXNY PECVD

Cap

acitâ

ncia

(pF)

Tensão aplicada (V)

Figura 4. 25 - Curvas C-V a alta freqüência dos capacitores de SiC com isolantes depositados por PECVD: (a) óxido de silício e (b) oxinitreto de silício.

Tabela 4. 8 - Parâmetros elétricos extraídos a partir da curva C-V a alta freqüência dos capacitores MOS de SiC com isolantes depositados por PECVD.

Capacitor WDMAX (nm)

NA (cm-3)

VFB (V)

COX (pF)

Qeff (cm-2)

tox (Å)

Área calculada

(cm2) SiC/SiO2 559 8,2×1015 -15,6 26 1,31×1012 2260 25×10-4

SiC/SiOXNY 91 1,1×1016 -13,3 29 1,77×1012 1390 24×10-4

Page 139: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

120

Para a caracterização da qualidade dos isolantes também foram feitas medidas

de corrente em função da tensão para obter o valor de campo elétrico de ruptura, EB.

Os resultados de EB são apresentados na Figura 4. 26. Para todos os capacitores

foram obtidos baixos valores de campos de ruptura (0,5-1,8 MV/cm), fenômeno

conhecido como ruptura precoce [128], resultado este que é normalmente atribuído à

baixa qualidade do óxido. No caso das amostras do Grupo 2, as quais o isolante foi

depositado por PECVD, foram obtidos os valores mais baixos (menores que 1

MV/cm). Uma hipótese para este fato é que no caso das amostras do Grupo 2 o

processo de cristalização dos filmes de SiC ocorreu após a deposição dos isolantes, o

que pode ter prejudicado a qualidade do isolante. Por outro lado, para as amostras do

Grupo 1 (oxidadas termicamente) também apresentaram valores baixos de EB, porém

com níveis comparáveis aos reportados pela literatura do 3C-SiC monocristalino (ver

Tabela 3. 5).

0,0 400,0k 800,0k 1,2M 1,6M 2,0M0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

5,0

térmico seco térmico úmido SiO2 PECVD SiOXNY PECVD

Den

sida

de d

e co

rren

te, J

(A c

m-1)

EB (V cm-1) Figura 4. 26 - Campo elétrico de ruptura, EB, em função das amostras dos Grupos 1 e 2.

Assim, nesta parte do trabalho demonstramos a viabilidade de fabricação de

capacitores MOSiC baseados em filmes cristalizados de SiC obtidos por PECVD a

baixas temperaturas. A oxidação térmica destes filmes resultou na formação de um

típico óxido de silício, com uma taxa de crescimento superior ao dos óxidos

crescidos, sob mesmas condições, em substratos de silício cristalino (contrário do

observado em oxidação de SiC monocristalino), sugerindo que estes filmes de SiC

Page 140: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

121

cristalizados devem apresentar grande quantidade de defeitos estruturais. As

propriedades elétricas dos dispositivos fabricados com óxidos crescidos

termicamente e isolantes depositados por PECVD demonstraram que os filmes de

SiC possuem um comportamento típico de um semicondutor tipo-p. Para todos os

capacitores foram obtidos baixos valores de campos de ruptura (0,5-1,8 MV/cm),

porém, no caso dos oxidados termicamente, com valores comparáveis aos reportados

pela literatura do 3C-SiC. As cargas efetivas presentes no óxido são da mesma ordem

de grandeza reportado pela literatura do SiC, de 1012 cm-2.

É importante destacar que estes são resultados preliminares e ainda

necessitam de um estudo mais aprofundado, bem como um aperfeiçoamento dos

processos de fabricação que também deve ser realizado. Entretanto, embora estes

resultados ainda sejam preliminares e apresentem características inferiores aos

reportados pela literatura do SiC monocristalino, demonstram ser promissores por se

tratar de filmes que foram obtidos a baixas temperaturas e cristalizados

posteriormente.

Page 141: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

122

4.3.2 – Heterojunções SiC/Si

De acordo com os resultados obtidos no capítulo anterior (capacitores

MOSiC), foi observado um comportamento tipo-p em nossos filmes de SiC obtidos

por PECVD, portanto, para a caracterização das heterojunções, nós assumimos a

formação de um heterodiodo de SiC tipo-p/Si tipo-n, uma vez que a dopagem tipo-n

do substrato de Si era previamente conhecida.

A partir disso, analisamos as curvas I-V características das amostras como-

depositadas e recozidas termicamente (550, 750 e 1000 ºC). A Figura 4. 27(a-d)

mostra o esquema da caracterização elétrica e a dependência I-V com a temperatura.

Esquema da caracterização elétrica I-V das heterojunções SiC/Si.

A

Substrato Silício

Alumínio

Filme SiC PECVD

Page 142: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

123

-1 0 1 2 310-6

10-4

10-2

100

102

(a) como-depositada

27 ºC 50 ºC 100 ºC 150 ºC 200 ºCD

ensi

dade

de

corr

ente

(A/c

m2 )

Tensão aplicada (V)

-1 0 1 2 310-8

10-6

10-4

10-2

100 (b) recozida a 550 ºC

27 ºC 50 ºC 100 ºC 150 ºC 200 ºC

Den

sida

de d

e co

rren

te (A

/cm

2 )

Tensão aplicada (V)

Page 143: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

124

-1 0 1 2 310-5

10-3

10-1

101 (c) recozida a 750 ºC

27 ºC 50 ºC 100 ºC 150 ºC 200 ºC

Den

sida

de d

e co

rren

te (A

/cm

2 )

Tensão aplicada (V)

-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 810-4

10-3

10-2

10-1

100

101

102 (d) recozida a 1000 ºC

27 ºC 50 ºC 100 ºC 150 ºC 200 ºCD

ensi

dade

de

corr

ente

(A/c

m2 )

Tensão aplicada (V)

Figura 4. 27 – Esquema da medida e curvas I-V características das heterojunções PECVD SiC tipo-p/Si tipo-n medidas a diferentes temperaturas: (a) como-depositada (b) recozida a 550 ºC, (c) 750 ºC e (d) 1000 ºC.

A Figura 4. 27 mostra as diferenças entre as amostras como-depositada e

amostras recozidas, principalmente com relação às amostras tratadas termicamente a

Page 144: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

125

750 e 1000 ºC. Como pode ser visto, a amostra como-depositada se comporta como

um diodo típico, com uma densidade de corrente reversa relativamente baixa. Por

outro lado, para amostras recozidas, podemos notar que a densidade de corrente

reversa aumenta de acordo com aumento da temperatura de recozimento térmico.

Este comportamento é um indicativo de que pode estar ocorrendo um aumento da

densidade de defeitos na heterointerface SiC/Si em função do aumento da

temperatura de processo, uma vez que o recozimento provoca a cristalização do

material (ver capítulo cristalização). Estes defeitos podem atuar como centros de

geração e recombinação para elétrons e lacunas, limitando o tempo de vida e a

mobilidade [194]. Como resultado, podemos ver a obtenção de dispositivos com

propriedades eletrônicas muito pobres, principalmente para os tratados a 750 e

1000 ºC, que efetivamente apresentam uma fração cristalina de SiC apreciável. Na

Figura 4. 28 mostramos um gráfico IxV em escala linear para a amostra tratada a

1000 ºC (com maior fração cristalina) que, como se pode notar, apresenta um

comportamento típico de um resistor, com a corrente crescendo praticamente

linearmente com a tensão aplicada.

-5 -4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4 5

-0,02

-0,01

0,00

0,01

0,02 recozida a 1000 ºC

Cor

rent

e (A

)

Tensão aplicada (V) Figura 4. 28 - Curva I-V característica em escala linear das heterojunções SiC tipo-p/Si tipo-n medidas a temperatura ambiente para as amostras como-depositada e recozidas a 550, 750 e 1000 ºC.

Levando em conta estas características, separamos a análise das amostras em

dois grupos diferentes: amostras com densidade moderada de corrente reversa

(como-depositada e recozida a 550 ºC) e amostras com densidade alta de corrente

Page 145: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

126

reversa (recozida a 750 e 1000 ºC). A seguir analisamos o mecanismo de transporte

dominando para cada amostra e sua dependência com a temperatura.

- Amostras como-depositada e recozida a 550 ºC

De acordo com os modelos de retificação de junção, a relação entre a

densidade de corrente J e a tensão aplicada é expressa por [194]:

( )1).(),( ).(0 −= VTAeTJTVJ

onde J0 é a densidade de corrente de saturação, a qual é extraída do gráfico IxV em

escala logarítmica a partir da extrapolação da região linear até a tensão igual a zero

volt, e A é um coeficiente que normalmente depende da temperatura T. As expressões

particulares para J0 e A dependem do mecanismo que domina a corrente. Um resumo

dos mecanismos básicos de condução [194] é apresentado na Tabela 4. 9.

Tabela 4. 9 - Processos de condução básicos. EG é o gap de energia, k é a constante de Boltzmann, T é a temperatura absoluta, η é o fator de idealidade (obtido a partir da inclinação de região linear de corrente), EA é a energia de ativação e ΦB é a barreira de energia.

Mecanismo de condução Η A J0

Difusão η = 1 A = q/kT J0 α exp(-EG/kT) Recombinação η ≤ 2 A = q/ ηkT J0 α exp(-EG/2kT) Tunelamento η ≠ constante A = constante J0 α exp(-EA/kT)

Emissão η = 1 A = q/kT J0 α [exp(-ΦB/kT)]kT3/2

Então, como um primeiro passo para elucidar qual mecanismo de corrente é

dominante, a Figura 4. 29 mostra a dependência do coeficiente de temperatura A para

as amostras como-depositada e recozida a 550 ºC.

Para ambas amostras o parâmetro A tem uma dependência bastante linear com

1000/T, contudo diminui como o aumento de temperatura para amostra como-

depositada. Do gráfico de log J-V (Figura 4. 27a e b), para tensões menores que

0,5 V foram derivados os valores do fator de idealidade. Para a amostra como-

depositada o valor de η encontrado é quase que independente da temperatura, de

aproximadamente η = 1,6 ± 0,1. Estes resultados indicam que o mecanismo de

transporte de difusão-recombinação é dominante nesta amostra. Por outro lado, para

amostra recozida a 550 ºC, a origem da corrente é diferente. O fator de idealidade

Page 146: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

127

demonstra para ser dependente da temperatura (a baixas temperaturas (~27 ºC) o

valor é de η = 1,6 ± 0,1 e cresce como o aumento de temperatura, chegando a um

valor de η = 3,3 ± 0,2 para ~200 ºC) sugerindo que o mecanismo de transporte por

tunelamento é dominante neste caso.

1,8 2,0 2,2 2,4 2,6 2,8 3,0 3,2 3,4 3,6

4

8

12

16

20

24

28 como depositada recozida a 550 ºC

1000/T (K-1)

A ( V

-1 )

Figura 4. 29 - Dependência da temperatura com o termo pré-exponencial A para as amostras como-depositada (círculos) e recozida a 550 ºC (quadrados).

Com intuito de confirmar o mecanismo de transporte dominante nesta região,

foi estudada a dependência da J0 com a temperatura. A Figura 4. 30 mostra a

dependência densidade de corrente de saturação J0 em função de 1/kT para ambas as

heteroestruturas. Como pode ser visto, J0 depende exponencialmente de T e dá para

uma energia de ativação EA = 1,08 eV para amostras como-depositadas. Podemos

notar que o valor da energia de ativação desta amostra é muito próximo do valor do

gap de energia do silício cristalino (~1,12 eV) e confirma a indicação prévia que o

mecanismo de condução principal é difusão-recombinação (ver Tabela 4. 9). O

mesmo mecanismo de condução foi achado em heteroestruturas de SiC/c-Si por

outros autores [191,192].

Page 147: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

128

22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 4210-9

10-8

10-7

10-6

10-5

10-4

10-3

10-2

EA = 1,25 eV

EA = 1,08 eV

como depositada recozida a 550 ºC

1/KT (eV-1)

Den

s. c

orre

nte

de s

atur

ação

J0 (

A/cm

2 )

Figura 4. 30 - Densidade de corrente de saturação, J0, em função da temperatura para as amostras como-depositada e recozida a 550 ºC.

Para a amostra recozida a 550 ºC, o gráfico de log (J0) versus 1/kT também é

linear e dá uma energia de ativação EA = 1,25 eV. O valor experimental da energia

de ativação, EA = 1,25 eV, é maior que EF-EV obtidos de medidas de condutividade

da dopagem tipo-p de nossos a-SiC:H [93]. Assim, o transporte de corrente nesta

região pode ser devido ao multitunelamento de elétrons da banda de condução do Si

para estados localizados no gap de energia do a-SiC:H em ET = EV + 1,25 eV e

subseqüente emissão destes elétrons de ET para a banda de condução do a-SiC:H

recozido a 550 ºC.

- Amostras recozidas a 750 e 1000 ºC

Nesta seção nós analisaremos as amostras com densidade alta de corrente

reversa. Como pode ser visto na Figura 4. 27(c) e (d), as amostras recozidas a 750 e

1000 ºC não apresentam um comportamento típico de um diodo retificante, mas sim

de um resistor, no qual a corrente aumenta praticamente de forma linear em função

do aumento da tensão aplicada (Figura 4. 28).

Como já dissemos anteriormente, podemos notar que a densidade de corrente

reversa aumenta com o aumento da temperatura do tratamento térmico, e que pode

ser associada a um aumento da densidade de defeitos presentes na heterointerface

Page 148: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

129

devido à cristalização do material. A elevada diferença entre as constantes de rede

(20%) e dos coeficientes de expansão térmica (8%) entre c-SiC/c-Si, provoca um

stress residual e uma alta densidade de defeitos na heterointerface [193], os quais

atuam como centros de geração e recombinação para elétrons e lacunas, limitando o

tempo de vida e a mobilidade. Uma recombinação muito rápida na interface implica

que haverá uma retificação muito baixa, ou até mesmo nenhuma retificação [194].

Esta é a provável causa do baixo nível de retificação dos dispositivos que são

cristalizados, entretanto um estudo mais aprofundado ainda deve ser realizado.

- Medidas C-V características

A existência da uma região de depleção nas vizinhanças da heterojunção

SiC/Si pode ser confirmada pela medida C-V. A Figura 4. 31 mostra as curva 1/C2 -V

característica, medidas a temperatura ambiente polarizando reversamente a

heterojunção SiC como-depositado/Si. Como podemos ver a capacitância da junção

decresce com o aumento da tensão reversa, apresentando uma relação linear 1/C2 -V

(a qual indicada uma heterojunção abrupta [194]). Este resultado indica que a

camada de depleção é ampliada na redondeza da interface da heterojunção com o

aumento da tensão reversa, justamente como numa junção de p-n convencional.

Em uma heterojunção SiC tipo-p/Si tipo-n, a capacitância diferencial como

uma função da tensão aplicada é determinada pela relação da capacitância de junção

por unidade de área:

C = 2/1

2/1

).((2

−−⎥⎥⎦

⎢⎢⎣

+VV

NNNNq

Dppnn

pnpn

εεεε

,

onde Nn e Np são as concentrações de doadores e aceitadores, e εn e εp são as

constantes dielétricas dos semicondutores tipo-n e p respectivamente, Vbi é o

potencial interno, V a tensão aplicada e q a carga eletrônica.

Considerando a constante dielétrica do 3C-SiC de 9,7 e a concentração de

doadores do Si de aproximadamente 2,2 ×1015 cm-3, estimada a partir da resistividade

da lâmina de Si tipo-n (3 Ω cm), a concentração de aceitadores do SiC pode ser

estimada utilizando a relação anterior. Dessa maneira, foi então encontrada uma

Page 149: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

130

concentração de aceitadores de aproximadamente 8,5 ×1015 cm-3 no SiC como-

depositado.

No caso das amostras recozidas termicamente (550, 750, e 1000 ºC durante 2

horas) foram obtidos valores de potencial interno muito altos (acima de 2 eV),

indicando a presença de uma alta densidade de estados na interface SiC/Si [195,196].

-2,1 -1,8 -1,5 -1,2 -0,9 -0,6 -0,3 0,0 0,3 0,6 0,90

1x1022

2x1022

3x1022

4x1022

5x1022

VD ~ 0,6 V

como depositada

1/C

2 (F-2)

Tensão aplicada (V)

Figura 4. 31 - Curva de Capacitância-voltagem característica da amostra como-depositada.

Concluindo, como podemos notar, heterodiodos formados por SiC tipo-p,

amorfo e tratado termicamente, sobre substratos de Si tipo-n foram fabricados e

caracterizados eletricamente. As curvas I-V mostraram boas propriedades

retificadoras para as amostras como-depositada e tratada termicamente a 550 ºC.

Diferentes mecanismos de transporte foram encontrados como origem da corrente.

Para a amostra como-depositada o mecanismo de transporte dominante deve ser o de

difusão-recombinação, enquanto que para a recozida em 550 ºC o mecanismo de

transporte por tunelamento deve ser o dominante. No caso das amostras recozidas a

750 e 1000 ºC foi observada uma elevada densidade de corrente reversa, a qual foi

sugerida que poderia ser associada a um aumento dos defeitos na heterointerface

SiC/Si como uma função do processo de cristalização, porém novos estudos ainda

devem ser realizados. A partir de medidas C-V, foi encontrado para amostra como-

depositada uma concentração de aceitadores de Np = 8,5×10-15 cm-3, e um potencial

Page 150: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

131

interno de Vbi = 0,6 V. No caso das amostras recozidas (550, 750, e 1000 ºC durante

2 horas) não foi possível obter este parâmetros devido provavelmente à presença de

defeitos na heterointerface SiC/Si.

Page 151: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

132

4.3.3 – TFTs de SiC

Na Figura 4. 32 apresentamos um esquema da caracterização elétrica dos

transistores de a-SiC:H em conjunto com as curvas de saída de um TFT com canal de

20 µm de largura e 300 µm de comprimento. O gráfico mostra a corrente de dreno

IDS como uma função da tensão aplicada entre dreno e fonte VDS, para diferentes

tensões VG aplicadas na porta. Como podemos ver, quando aplicamos uma tensão

VG<0 a corrente tende a diminuir, enquanto para VG>0 a corrente de dreno cresce até

aproximadamente 12 nA para VG=14V (com VDS=40 V).

Esquema da caracterização elétrica dos transistores.

-5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45-2,0n

0,0

2,0n

4,0n

6,0n

8,0n

10,0n

12,0n

L = 300 μmC = 20 μm

VG = 14 V VG = 7 V VG = 0 V VG = -7 V VG = -14 V VG = -21 V VG = -28 V

Cor

rent

e de

dre

no, I

DS (

A)

Voltagem de dreno, VDS (V) Figura 4. 32 – Curvas de saída de um TFT de a-SiC:H de dimensões L = 20 µm e C = 300 µm.

VDS VG

Substrato: Corning 7059

Filme de a-SiC:H

a-SiC:H dopado tipo-n

Isolante

Alumínio

Porta Dreno Fonte

Page 152: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

133

É importante notar na figura anterior que o comportamento da corrente IDS em

função de VDS é muito similar para os diferentes valores de VG, apresentando um

lento crescimento da corrente com VDS, diferentemente do que se deve esperar de

uma curva típica de um transistor, na qual a variação de corrente é abrupta com VDS.

Isto pode ser um indicativo de que o aumento de corrente seja dado pela soma de

uma corrente de fuga que atravessa o filme isolante de oxinitreto de silício. De fato,

realizando testes (fixando VDS = 0 V, variando o valor de VG e medindo IDS),

verificamos que o valor da corrente de fuga no filme isolante é da ordem da corrente

apresentada pelo dispositivo.

Na Figura 4. 33 mostramos as curvas de transferência dos dispositivos. Como

se pode ver não existe um comportamento característico de um transistor. Se

medirmos IDS ao fazer as medida de IDS vs. VDS, vemos que por está passando muita

corrente IG. Este comportamento é típico de um filme isolante muito fino que

apresenta uma alta corrente de fuga [161].

-30 -20 -10 0 10 20 30

-1,0n

0,0

1,0n

L = 300 μmC = 20 μm

VDS = 0 V VDS = 0,1 V VDS = 10 VC

orre

nte

de d

reno

, ID

S (A

)

Voltagem de Porta, VGS (V)

Figura 4. 33 – Curvas de transferência de um TFT de a-SiC:H de dimensões L = 20 µm e C = 300 µm.

Page 153: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

134

Como una tentativa de minimizar as grandes correntes de fuga através do

óxido de porta, nós fabricamos novos dispositivos depositando filmes de SiOxNy com

espessura maior, de 250 nm.

Portanto, o novo processo de fabricação se segue:

1. Limpeza química do substrato;

2. Deposição de a-SiC:H intrínseco (500 nm) sobre corning 7059;

3. Deposição de SiO2 PECVD (500 nm) (máscara para implantação);

4. Fotolitografia M1 e corrosão do SiO2 para definir fonte e dreno;

5. Implantação iônica tipo-n com fósforo (concentração: 1×1021 cm-3);

6. Tratamento térmico para ativar as impurezas implantadas (550 ºC por 2

horas);

7. Remoção total do SiO2;

8. Limpeza química;

9. Deposição do filme isolante de SiOxNy por PECVD (250 nm);

10. Fotolitografia M2 e corrosão do isolante para definir os contatos de fonte

e dreno;

11. Fotolitografia M3, lift-off e metalização com alumínio e

12. Tratamento térmico a 350 ºC por 30 min para sinterização dos contatos

elétricos.

Page 154: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

135

-10 0 10 20 30 40-20,0p

0,0

20,0p

40,0p

60,0p

L = 20 μmC = 300 μm

VG= 10 V VG= 8 V VG= 6 V VG= 4 V VG= 2 V

Cor

rent

e de

dre

no, I

DS(

A)

Voltagem de dreno, VDS(V)

Figura 4. 34 – Curvas de saída de um TFT de a-SiC:H com um filme isolante de espessura de 250 nm.

Na Figura 4. 34 apresentamos as curvas de saída de um TFT de a-SiC:H

fabricado com o filme isolante de espessura de 250 nm. Nesta figura podemos ver

que a corrente de dreno também tende a decrescer com o aumento da tensão aplicada

a porta, além do mais todas as curvas possuem valores de corrente IDS muito baixos

(da ordem de pA) devido à maior espessura do filme isolante. Além disso, também

vemos que as curvas estão muito próximas. Este comportamento é um indicativo da

existência de uma elevada resistência séria, o que deve ser típico do a-SiC:H, que é

um semicondutor muito resistivo.

Com o intuito de tentar diminuir esta resistência série, foi realizado um teste

no qual o dispositivo foi aquecido até 80 ºC e media-se a sua curva de saída a

diferentes temperaturas. Se a resistência série realmente diminuísse a corrente de

origem deveria aumentar mais rapidamente, separando um pouco mais as curvas.

Porém, o que foi notado é que esta faixa de temperatura não foi suficiente para

promover um aumento de corrente.

Page 155: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

136

- Simulação dos dispositivos

Desde alguns anos atrás, o Grupo de Novos Materiais e Dispositivos trabalha

em colaboração com a professora Dra. Magali Estrada del Cueto e seu grupo, do

Centro de Investigación y de Estudios Avanzados del Instituto Politécnico Nacional

(CINVESTAV), México, D.F., na obtenção e caracterização de TFTs de silício

amorfo a-Si:H. O grupo possui grande experiência na fabricação, caracterização e

modelamento de dispositivos baseados em semicondutores amorfos, especialmente

no caso de silício amorfo. Assim, com esta colaboração, foram analisadas por

simulação as curvas esperadas de transferência e de saída características dos TFTs de

a-SiC:H para diferentes distribuições de estados localizados. Esta simulação foi feita

no simulador ATLAS, da SILVACO International, licenciado pelo centro de

pesquisa CINVESTAV.

Estrutura do dispositivo e parâmetros de entrada

Como é sabido, a presença de estados localizados nas caudas e no meio da

banda proibida determinam fortemente as características dos dispositivos baseados

em semicondutores amorfos. Para o a-SiC:H, tem sido reportado que a densidade dos

estados localizados depende da concentração de carbono no filme. Aumentando a

concentração acima de 0,5 é produzido um aumento excessivo da densidade de

estados e, conseqüentemente, um filme de baixa qualidade do ponto de vista elétrico

[197]. Entretanto, a distribuição dos estados localizados tem sido pouco estudada e

não é bem compreendida. Por esta razão, consideraremos a presença de ambos

estados, nas caudas e profundos no meio da banda, como tendo uma dependência

exponencial e uma energia de ativação. Partiu-se de uma distribuição de estados

localizados baseada num modelo para o silício amorfo hidrogenado [198] com

valores de banda proibida do a-SiC:H tipo C3690H (2,9 eV) e mobilidade de banda

(µ = 0,01 cm2/Vs), dessa maneira se analisou a influência da distribuição e a

densidade de estados para TFTs de a-SiC:H. A estrutura simulada é apresentada na

figura abaixo.

Page 156: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

137

Figura 4. 35 - Estrutura do TFT simulado.

Resultados

A Figura 4. 36 mostra a comparação entre as curvas de transferência para um

TFT com dimensões L = 10 µm e C = 110 µm e de espessura do a-SiC:H intrínseco

de 0,1 µm, correspondentes a diferentes densidades e distribuições de estados

localizados na banda proibida. Os parâmetros incluídos em cada simulação são

apresentados na tabela a seguir.

Nas simulações apresentadas na Tabela 4.10 podemos notar que apenas para a

densidade de estados de 1×1017 cm-3eV-1 (simulações 3 e 5) foi obtido uma curva de

transferência típica de um transistor, na qual se observa um considerável aumento de

corrente IDS com o aumento da tensão VG, para um VDS constante. Para densidade de

estados acima deste valor verificamos não é possível formar um canal sob a porta dos

dispositivos.

Page 157: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

138

Tabela 4. 10 – Parâmetros utilizados na simulação do TFT de a-SiC:H.

Simulação Densidade de estados (cm-3eV-1) Temperatura (K) VDS (V) Caráter da

distribuição 1 5×1018 300 10 tipo-n

2 5×1018 423 10 tipo-n

3 1×1017 300 10 tipo-n

4 1×1018 300 10 tipo-p

5 1×1017 300 10 tipo-p

6 1×1018 300 10 tipo-n

0 4 8

10-12

10-15

10-18

VDS constante

1 2 3 4 5 6

Cor

rent

e de

dre

no, I

DS (A

)

Tensão de porta, VG (V) 1 - Densidade de estados de 5×1018 cm-3eV-1 (T = 300K e tipo-n)

2 - Densidade de estados de 5×1018 cm-3eV-1 (T = 423K e tipo-n)

3 - Densidade de estados de 1×1017 cm-3eV-1 (T = 300K e tipo-p)

4 - Densidade de estados de 1×1018 cm-3eV-1 (T = 300K e tipo-p)

5 - Densidade de estados de 1×1017 cm-3eV-1 (T = 300K e tipo-n)

Legenda:

6 - Densidade de estados de 1×1018 cm-3eV-1 (T = 300K e tipo-n)

Figura 4. 36 – Comparação entre as curvas de transferência simuladas para diferentes densidades de estados localizados na banda proibida de um TFT de a-SiC:H.

Page 158: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 4 – Resultados e Discussão

139

Estes resultados sugerem que em nosso caso, na fabricação e caracterização

experimental dos nossos TFT, possa estar ocorrendo algo semelhante. Nosso material

deve possuir uma elevada densidade de estados em sua banda proibida, a qual não

permite a formação de um canal devido à alta taxa de recombinações causadas pela

excessiva densidade de defeitos presente no filme.

Uma maneira tentar resolver este problema seria promover a redução da

densidade de estados no a-SiC:H, que pode ser obtida pela cristalização do material.

Como o processo de cristalização dos filmes envolve uma etapa de recozimento

térmico a temperatura de aproximadamente 1000 ºC, não pudemos cristalizar os

dispositivos já fabricados, uma vez que os mesmos foram depositdos sobre substratos

de vidro. Deste modo, seria necessário à utilização de outros substratos, que

suportem esta temperatura de processamento, como por exemplo, lâminas de quartzo.

Contudo, nesta parte do trabalho projetamos, fabricamos, simulamos e

caracterizamos transistores de filme finos de a-SiC:H obtidos por PECVD a baixas

temperaturas. A partir das caracterizações elétricas notamos que os dispositivos não

funcionaram como esperado, não apresentando um bom comportamento para um

TFT. Os dispositivos apresentavam elevadas correntes de através do filme isolante e

possuíam altas resistências de canal. Com o intuito de compreender o que estava

ocorrendo, foi realizado um estudo de simulação destes dispositivos. Foi observado

que a elevada densidade de estados presente em sua banda proibida deve ser a

principal causa do mau funcionamento dos dispositivos. É importante destacar que

estes são resultados preliminares e ainda necessitam de um estudo mais aprofundado,

bem como um aperfeiçoamento dos processos de fabricação que também deve ser

realizada (por exemplo, a fabricação de TFTs de SiC policristalinos). Devido às

interessantes propriedades físicas do carbeto de silício, em conjunto com a

possibilidade de fabricação e modelamento destes dispositivos, é pertinente o

aprofundamento deste estudo por oferecer um campo de pesquisa muito interessante

para sua aplicação na eletrônica de baixo custo.

Page 159: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 5 – Conclusões

140

CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES

O objetivo deste projeto foi estudar a viabilidade de fabricar dispositivos

semicondutores baseados em filmes de carbeto de silício estequiométrico

(a-Si0,5C0,5:H) obtidos por PECVD, material que tem sido bastante estudado pelo

Grupo de Novos Materiais e Dispositivos e que ainda não havia sido testado em

dispositivos eletrônicos. Assim sendo, a proposta do projeto envolveu a realização de

uma série de trabalhos que permitiram avaliar as potencialidades do a-SiC:H PECVD

na contrução de dispositivos semicondutores básicos, e não a fabricação e o

aperfeiçoamento de um tipo específico de dispositivo.

Nesse sentido, a metodologia adotada envolveu as seguintes atividades:

1. Aprimoramento dos processos de dopagem: Na dopagem tipo-n nós

estudamos o processo de dopagem in-situ com nitrogênio (durante o

crescimento dos filmes). Os resultados mostraram que, enquanto pequenos

fluxos de N2 (menores que 1 sccm) adicionados à mistura gasosa induzem um

pequeno aumento na condutividade elétrica dos filmes (para

aproximadamente 10-9 (Ω.cm)-1), maiores fluxos levam à formação de ligas

nitrogenadas. Assim, embora a obtenção de maiores condutividades elétricas

exija novos estudos, os resultados demonstraram que este é um caminho

promissor, que tem como principal vantagem à facilidade de processamento,

já que os filmes dopados são obtidos diretamente no reator PECVD.

Com relação à dopagem tipo-p aperfeiçoamos os processos cujo

estudo havia sido iniciado anteriormente e precisavam ser melhorados. Nesse

sentido estudamos a implantação de BF2+ ao invés de B+, obtendo resultados

muito promissores. De fato, a condutividade no escuro de filmes dopados

com 1×1020 cm-3 foi da ordem de 10-1 (Ω.cm)-1. Numa segunda abordagem,

também estudamos a dopagem tipo-p por difusão térmica de alumínio, com a

qual foram obtidas condutividades da ordem de 1 (Ω.cm)-1 em processos de

difusão realizados a 1000 ºC. Estabelecemos, portanto, dois métodos para

obter a dopagem tipo-p, utilizando boro e alumínio como impurezas, obtendo

Page 160: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 5 – Conclusões

141

em ambos os casos valores de condutividade elétrica comparáveis aos

reportados pela literatura do c-SiC.

2. Cristalização e corrosão dos filmes: Objetivando investigar a cristalização

dos filmes finos de a-Si0,5C0,5:H estudamos as variações induzidas nas

propriedades do material por tratamentos térmicos a altas temperaturas. Os

resultados destas pesquisas mostraram evidências de cristalização do SiC para

temperaturas acima de 750 ºC, com a formação de cristais de carbeto de

silício cúbico (3C-SiC). Ainda, com o intuito de comprovar a qualidade

desses filmes e sua aplicabilidade na fabricação de dispositivos, estudamos a

corrosão por plasma dos filmes como-depositados e cristalizados, onde

pudemos observar uma forte influência do grau de cristalinidade dos filmes

sobre a taxa de corrosão. De fato, o recozimento térmico promove a efusão de

hidrogênio e uma compactação dos filmes, promovendo um aumento da

fração cristalina e uma redução da taxa de corrosão. Assim, amostras

recozidas a 1000 ºC apresentam taxas de corrosão semelhantes às reportadas

pela literatura do SiC cúbico cristalino.

3. Oxidação e fabricação de capacitores MOS com filmes de SiC cristalizados:

Em virtude do nosso interesse em fabricar dispositivos que operem por efeito

de campo, um pré-requisito fundamental é dispor de um dielétrico apropriado

e de boa qualidade. Para dispositivos baseados em SiC PECVD uma

alternativa natural é utilizar SiO2 também obtido por PECVD, porém, como

no caso do silício o óxido nativo do SiC é o SiO2, é muito interessante obter a

oxidação térmica do SiC. Sendo assim, estudamos a oxidação térmica seca e

úmida do SiC cristalizado (a 1100 ºC) e obtivemos com ambas as técnicas

filmes de óxido de silício com boas propriedades estruturais. Na oxidação

térmica seca são necessárias 3 horas para se obter filmes de SiO2 com 158 nm

de espessura a temperatura de 1000 oC. Já na oxidação úmida (a 900 oC), é

necessário 1,5 horas para crescer 61 nm de SiO2. Finalmente, a partir destes

resultados fabricamos estruturas MOSiC a partir do SiC cristalizado,

utilizando como dielétrico de porta filmes de SiO2 obtidos por oxidação

térmica (seca e úmida) dos próprios filmes de aSi0,5C0,5:H e também de filmes

Page 161: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 5 – Conclusões

142

isolantes depositados por PECVD. Todas as estruturas apresentaram um

comportamento típico de um capacitor MOS, com regiões de acumulação,

depleção e inversão bem definidas. Entretanto, devido a problemas com

correntes de fuga e elevadas resistências série, não pudemos obter as curvas

em baixa freqüência, de forma que não foi possível determinar a densidade de

estados de interface.

4. Fabricação e caracterização de heterojunções de (SiC tipo-p)/(Si tipo-n):

Uma heterojunção não é necessariamente um dispositivo, entretanto diversos

sistemas eletrônicos tem se beneficiado de heteroestruturas devido à

possibilidade de aplicação de diferentes materiais com características próprias

num único dispositivo, daí a importância de entender o comportamento das

heterojunções. Com esse intuito, estudamos heterojunções de filmes de SiC

tipo-p (como depositado e tratado termicamente) sobre substratos de Si

tipo-n. As curvas I-V mostraram boas propriedades retificadoras nas junções

com a-SiC:H amorfo (como depositado) e tratado termicamente a 550 ºC. No

caso das amostras recozidas a 750 e 1000 ºC observamos um aumento da

corrente reversa e uma perda do caráter retificante da junção. Este

comportamento pode estar associado a um aumento dos defeitos na interface

SiC/Si como resultado do processo de cristalização do filme de SiC, porém

estudos mais aprofundados são necessários para esclarecer o mecanismo de

transporte através da heterojunção.

5. Fabricação de transistores de filme fino: Também projetamos, fabricamos,

modelamos e caracterizamos TFTs de a-SiC:H. De acordo com as

caracterizações elétricas observamos que podemos controlar a condutividade

do canal, mas os dispositivos ainda precisam ser aprimorados para se obter

melhores níveis de corrente e um comportamento de transistor aceitável. De

acordo com os resultados de modelamento, o desempenho pobre dos

dispositivos foi atribuído à existência de uma alta concentração de estados

localizados no interior do gap dos filmes de a-SiC:H.

Page 162: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Capítulo 5 – Conclusões

143

Vemos, portanto, que embora ainda tenham que ser aperfeiçoados, foram

desenvolvidos os processos básicos para a produção de dispositivos baseados em

a-Si0,5C0,5:H obtido por PECVD. Estes processos envolvem: a dopagem elétrica por

diferentes técnicas utilizando diferentes elementos dopantes; a corrosão seletiva por

plasma, a obtenção um dielétrico apropriado e compatível com a tecnologia do SiC,

bem como o desenvolvimento de processos de cristalização que podem se mostrar

fundamentais para melhorar as propriedades dos filmes de SiC.

Apesar das dificuldades encontradas, consideramos que os objetivos

principais do projeto foram alcançados, ficando o aperfeiçoamento dos resultados

para trabalhos futuros que, de uma forma ou de outra, certamente seriam necessários.

Nossa principal contribuição foi demonstrar com sucesso a viabilidade de fabricação

de dispositivos semicondutores totalmente baseados em a-SiC:H obtido por PECVD.

Por último, deve ser mencionado que, como conseqüências do trabalho desenvolvido

neste projeto, foram apresentados diversos trabalhos em conferências nacionais e

internacionais, dos quais quatro artigos foram publicados em periódicos

internacionais indexados.

Page 163: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Trabalhos Futuros

144

TRABALHOS FUTUROS

Com relação ao estudo da dopagem elétrica dos filmes de SiC é necessário

aprofundar nossos conhecimentos sobre a incorporação dos elementos dopantes no

material. Por exemplo, nada sabemos a respeito dos sítios ocupados pelos elementos

dopantes, o que tem grande importância para aumentar a eficiência da dopagem e

inclusive obter melhores resultados. No caso da dopagem in-situ (durante o

crescimento dos filmes) este conhecimento permitiria elaborar novas estratégias de

deposição.

Apesar de todos os avanços alcançados, uma questão pendente de grande

relevância está relacionada aos contatos elétricos. De fato, a junção ou contato metal-

semicondutor é de fundamental importância para os dispositivos eletrônicos, pois é

ela que permite a formação da conexão do dispositivo semicondutor com o mundo

vizinho e/ou externo, incluindo a formação das interconexões entre dispositivos

dentro de um circuito integrado. Além de conexões com e entre dispositivos, a

junção metal-semicondutor pode também constituir a parte intrínseca de alguns tipos

de dispositivos, como é o caso do diodo tipo Schottky. Até o momento temos

utilizados contatos elétricos “convencionais” de alumínio, os quais não são

necessariamente os mais indicados para o SiC.

Uma vez concluído o desenvolvimento dos contatos, novos dispositivos MOS

poderiam ser fabricados empregando os contatos aperfeiçoados. A estrutura dos

dispositivos fabricados poderiam ser as mesmas daquelas usadas em trabalhos

prévios (durante o projeto de doutorado), com o contato de porta de Al e o isolante o

SiO2, e os resultados então comparados com aqueles obtidos anteriormente, com

contatos elétricos não-aperfeiçoados.

Page 164: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo A – Trabalhos Decorrentes

145

ANEXO A – TRABALHOS DECORRENTES

Parte dos trabalhos realizados neste período, em conjunto com resultados

obtidos durante o projeto de mestrado e que deram início a esta proposta, foram

apresentados em eventos nacionais e internacionais:

1. A. R. Oliveira, I. Pereyra e M. N. P. Carreño, “Optimization of n and p-type

doping by ion implantation in highly ordered stoichiometric a-SiC:H

obtained by PECVD”, foi apresentado no 20th International Conference On

Amorphous & Microcrystalline Semiconductors: Science & Technology -

ICANS20, realizado em Campos do Jordão-SP em setembro de 2002.

2. A. R. Oliveira e M. N. P. Carreño, “In-situ and ion implantation nitrogen

doping on near stoichiometric a-SiC:H films by PECVD”, foi apresentado no

18th Symposium On Microelectronics Technology And Devices” - SBMicro

2003, o qual foi publicado no periódico Journal of Integrated Circuits and

Systems, Volume 1 (2004) 26.

3. A. R. Oliveira, I. Pereyra e M. N. P. Carreño, “Structural and electrical

properties of low-temperature PECVD SiC/c-Si heterostructures”, foi

apresentado no 2nd Brazilian Material Research Society Meeting - SBPMat,

realizado no Rio de Janeiro – RJ, de 26 a 29 de outubro de 2003, o qual foi

publicado na periódico Materials Science and Engineering B, Volume 112

(2004) 144.

4. A. R. Oliveira e M. N. P. Carreño, “Formation of 3C-SiC films on silicon by

thermal annealing process” foi apresentado no 19th Symposium on

Microelectronics Technology and Devices - SBMicro 2004, o qual foi

publicado no The Electrochemical Society Proceedings, Volume 2004-03

(2004) 283.

Page 165: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo A – Trabalhos Decorrentes

146

5. A. R. Oliveira e M. N. P. Carreño, “Electrical characterization of post-

growth crystallized PECVD SiC films” foi apresentado no 3nd Brazilian

Material Research Society Meeting - SBPMat, realizado em Foz do Iguaçu -

PR, de 26 a 29 de outubro de 2004.

6. A. R. Oliveira e M. N. P. Carreño, “Post thermal annealing crystallization

and reactive ion etching of SiC films produced by PECVD” foi apresentado

no 21th International Conference On Amorphous & Nanocrocrystalline

Semiconductors: Science & Technology – ICANS21, realizado em setembro

de 2005 na cidade de Lisboa, Portugal, o qual foi publicado no periódico

Journal of Non-Crystalline Solids 352 (2006) 1392.

7. A. R. Oliveira e M. N. P. Carreño, “N and p-type doping of PECVD a-SiC:H

obtained under “silane starving plasma” condition with and without

hydrogen dilution”, foi publicado no periódico Materials Science and

Engineering B 128 (2006) 44-49.

Page 166: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

147

ANEXO B – CARACTERIZAÇÃO ELÉTRICA DOS CAPACITORES MOS

A estrutura de um capacitor MOS apresenta três interfaces: metal/óxido,

óxido/semicondutor e semicondutor/metal, como ilustra a Figura A1(a). A Figura

A1(b) apresenta o diagrama de bandas de energia de um capacitor MOS ideal em

equilíbrio termodinâmico. Um capacitor é considerado ideal quando não há presença

de cargas no óxido ou na interface óxido/semicondutor, as funções trabalho do

semicondutor e do metal são idênticas, e a distribuição de dopantes no substrato

(semicondutor) é uniforme.

Figura A1 (a) – Estrutura de um capacitor MOS considerando um semicondutor tipo-p.

EC: energia do limite inferior da banda de condução; EFS: energia do nível de Fermi no semicondutor tipo-p; EFM: energia do nível de Fermi no metal; EV: energia do limite superior da banda de valência; EI: energia do nível de Fermi no semicondutor intrínseco; EG=EC-EV: banda proibida; EVAC: energia de referência no nível de vácuo; φM: função trabalho do metal; φS: função trabalho do semicondutor; χS: afinidade eletrônica do semicondutor; χOX: afinidade eletrônica do óxido; ψS: potencial de superfície no semicondutor; ψF=(EI-EFS): potencial de Fermi.

Figura A1 (b) – Diagrama de bandas de energia de um capacitor MOS ideal tipo-p.

Um capacitor MOS é fabricado da seguinte forma: sobre um material

semicondutor (substrato) é depositada ou crescida (oxidação térmica) uma camada

fina de um material isolante (normalmente óxido de silício). Utilizando-se um

material condutor (metal), são formados dois eletrodos: o primeiro sobre a camada de

óxido (denominado eletrodo superior) e o segundo sob o semicondutor (denominado

isolante semicondutor tipo-p

metal

M O S

φM χOX

χS φS

EC

EI EFS EV

nível de vácuo

+ + + + + + + +

Semicondutor tipo-p

Metal

Óxido

Page 167: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

148

eletrodo do substrato), como ilustra a Figura A1(a). Basicamente, os dispositivos

com estrutura metal-óxido-semicondutor (MOS), quando polarizados por um sinal de

tensão elétrica aplicado entre seus eletrodos, operam sob o efeito do campo elétrico

resultante na superfície do semicondutor. Maiores informações podem se obtidas nas

referências [199,200,201,202].

-4 -2 0 2 4

10

20

30

40

50

60

70

INVERSÃOACUMULAÇÃO DEPLEÇÃO

alta frequência

baixa frequência

CMIN

CMÁX

Cap

acitâ

ncia

(pF)

Tensão (V)

Figura A2 - Esboço de uma curva C-V de um capacitor MOS ideal com substrato tipo-p.

Para uma análise qualitativa das características C-V de um capacitor MOS

ideal é necessário definir diferentes situações de polarização em função de ψF e ψS,

sendo VG a tensão no eletrodo superior em relação ao eletrodo do substrato

(aterrado). O potencial de superfície do semicondutor ψS é função de VG e está

relacionado com o encurvamento das bandas de energia. Considera-se nesta

descrição que o substrato é do tipo-p. Para o substrato do tipo-n a descrição é

semelhante. Na superfície do semicondutor podem ocorrer seis situações [199]:

1) VG<<0 e ψ<<0: acumulação de portadores majoritários (lacunas);

2) VG=0 e ψS=0: condição de banda plana (não há encurvamento das bandas de

energia);

3) VG>0 e ψF>ψS>0: formação da camada de depleção de lacunas (portadores

majoritários);

Page 168: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

149

4) VG>>0 e ψS=ψF: condição de superfície intrínseca, ou seja, superfície do

semicondutor com concentração de portadores majoritários (lacunas) igual à de

minoritários (elétrons);

5) VG>>>0 e 2ψF>ψS>ψS: condição de inversão fraca - concentração de

portadores minoritários (elétrons) maior que a de majoritários (lacunas);

6) VG>>>>0 e ψS>2ψF: condição de inversão forte - concentração de elétrons

muito maior que a de lacunas;

As características das curvas C-V (Figuras A2) podem ser divididas em três

regiões [199]:

i. Região de acumulação: aplicando-se uma tensão negativa no eletrodo

superior (VG<< 0), as lacunas, que são os portadores majoritários (substrato

tipo-p), são atraídas à superfície do substrato (interface óxido/semicondutor).

A concentração de lacunas aumenta na superfície do semicondutor,

formando-se uma região de acumulação de portadores majoritários. O nível

de energia de Fermi (EFS) aproxima-se da banda de valência. Como este nível

mantém-se constante em equilíbrio térmico, há um encurvamento das bandas

de energia de valência (EV) e condução (EC) (Figura A3(b)). A camada de

acumulação, para uma concentração alta de portadores majoritários, pode ser

considerada como o segundo eletrodo de um capacitor de placas paralelas,

pois o primeiro é o eletrodo superior, resultando em um campo elétrico

EB=-VG/tOX no óxido, como ilustra a Figura A3(a). Em condição de

acumulação forte, desde que ocorra um contato ôhmico direto entre o

substrato tipo-p e a região de acumulação das lacunas, a capacitância da

estrutura MOS é máxima e aproximadamente igual à capacitância no óxido,

que é:

CMAX = COX = (ε0.εOX.A)/tOX,

onde COX é a capacitância no óxido, ε0 é a permissividade no vácuo, εOX é a

permissividade no óxido, A é a área do eletrodo superior e tOX a espessura do

óxido.

Page 169: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

150

Figura A3 – (a) Esquema da região de acumulação no capacitor e (b) Diagrama de bandas de energia na estrutura MOS, com o encurvamento nos níveis de energia EC, EV e EI.

Diminuindo-se a tensão negativa no eletrodo superior (VG<0), a

camada de acumulação de portadores majoritários é reduzida, pois o campo

elétrico no óxido fica menos intenso. Diminuindo-se ainda mais a tensão no

eletrodo superior para VG=0, a camada de acumulação é extinta, tornando as

concentrações de portadores na superfície semelhante as do corpo do

substrato. Nesta condição não há encurvamento das bandas de energia

(condição de banda plana, ou “flat band”, ver Figuras A4(a) e (b)) e a tensão

aplicada no eletrodo superior é denominada tensão de banda plana (VFB),

sendo CFB a capacitância de banda plana correspondente. Para o capacitor

MOS ideal, a tensão VFB é nula.

- - - - - - - -

+ + + + + + + +

VG<<0

região de acumulação

EB

(a)

isolante semicondutor tipo-p

metal

M O S

EC

EI EFS EV

EFM |qVG|

++ ++++++++++++

- - - - - - - - -

(b)

Page 170: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

151

Figura A4 – (a) Esquema da condição de banda plana no capacitor e (b) Diagrama de bandas de energia na estrutura MOS, não há encurvamento nos níveis de energia EC, EV e EI.

ii. Região de depleção: para uma tensão no eletrodo superior maior que a tensão

de banda plana (VG>VFB), ocorre um deslocamento dos portadores

majoritários (lacunas) da superfície do substrato, expondo os íons das

impurezas aceitadoras (cargas negativas). Assim, forma-se uma região de

depleção de portadores na superfície, com largura WD, constituída pelos íons

aceitadores, que compensa o campo elétrico aplicado (Figura A5(a)). Na

condição de depleção, ocorre à aproximação do nível de Fermi em direção ao

meio da banda proibida do semicondutor e o encurvamento de bandas, como

é esquematizado na Figura A5(b). Ressalta-se que a largura WD é

proporcional ao potencial de superfície ψS(VG), que está relacionado com o

encurvamento das bandas, ou seja, é função da tensão VG aplicada no eletrodo

superior. WD é dado por: 2/1

,...2

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡ Ψ=

DA

SSD Nq

W ε ,

onde εS é o coeficiente de permissividade do semicondutor, q é a carga do

elétron e NA,D é a concentração de dopantes aceitadores ou doadores,

respectivamente.

- - - - -

+ + + + +

VG=0

(a)

isolante semicondutor tipo-p

metal

M O S

EC

EI EFS EV

(b)

+ + + + + + +

Page 171: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

152

A esquematização da região de depleção e o respectivo diagrama de

bandas de energia da estrutura MOS estão nas Figuras A5(a) e (b).

Figura A5 – (a) Esquematização da região de depleção no capacitor e (b) Diagrama de bandas de energia na estrutura MOS, com o encurvamento nos níveis de energia EC, EV e EI.

A capacitância relacionada à região de depleção é associada em série

com a capacitância do óxido do eletrodo superior, resultando em uma

capacitância total da estrutura do capacitor MOS: 2/1

)(11)( ⎥

⎤⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛=

GSDOXGT VCC

VC ,

onde CT é capacitância total da estrutura MOS, COX é a capacitância no óxido

e CSD(VG) é a capacitância da região de depleção, que é dada por:

)()(

GD

SGSD VW

VC ε= ,

onde εS é a constante dielétrica do semicondutor.

iii. Região de inversão: aumentando-se ainda mais a tensão VG aplicada no

eletrodo superior da estrutura MOS (VG>>VFB), consegue-se igualar as

concentrações de portadores (minoritários e majoritários) com a concentração

do nível intrínseco do semicondutor (n=p=ni). Neste caso, os níveis intrínseco

e de Fermi no diagrama de bandas assumem valores iguais. Ocorre a atração

de portadores minoritários (elétrons) em direção a superfície do substrato.

(a)

- - - - - - - -

+ + + + + + + +

VG>0

região de depleção

EB

WD

(b)

EFM

isolante semicondutor tipo-p

metal

M O S

EC

EI EFS EV qVG ++++++++++

- - - - - - - - -

Page 172: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

153

Forma-se uma camada de inversão do tipo-n na interface

semicondutor/isolante. Com um valor maior de VG (mantendo-se as

condições de equilíbrio), há um aumento na concentração de elétrons na

superfície do substrato, ΨS(VG) torna-se saturado e WD torna-se constante,

alcançando um valor máximo. Esta é a condição de inversão forte (VG>2VFB

⇒ ΨS >2ΨF), com WD=WDMAX (região de depleção com largura máxima). O

nível de Fermi aproxima-se da banda de condução próxima da superfície,

como mostram as Figuras A6(a) e (b).

Figura A6 – (a) Esquematização da região de inversão forte no capacitor e (b) Diagrama de bandas de energia na estrutura MOS, com o encurvamento nos níveis de energia EC, EV e EI.

O valor da capacitância da estrutura MOS, em condição de inversão, é função

da freqüência do sinal AC de polarização aplicado no eletrodo superior. Para as

medidas C-V em baixa freqüência, tipicamente entre 5 a 100 Hz, o período de um

sinal AC é muito maior que o tempo de resposta dos portadores minoritários. Então,

quando formada a camada de inversão, ocorre a geração de pares elétrons-lacunas

suficiente para compensar o sinal aplicado, ou seja, os elétrons (portadores

minoritários) em alta concentração acompanham o sinal AC de baixa freqüência,

mantendo-se um estado de equilíbrio. Assim, a capacitância total para a condição de

inversão torna-se igual à COX.

Para medidas C-V a alta freqüência (> 1 kHz), em condições de acumulação e

depleção, há portadores majoritários em concentração suficiente para responder a um

sinal AC deste tipo. Mas, na inversão, a capacitância é determinada pelo tempo de

(a)

- - - -

+ + + + + + + +

VG>>>0

região de depleção

camada de inversão

- - - - - - - -

(b)

EFM

isolante semicondutor tipo-p

metal

M O S

EC

EI EFS EV qVG +++++++

- - - - - - - - - - - - - - - -

Page 173: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

154

resposta dos portadores minoritários. Para um sinal de polarização a alta freqüência,

há um atraso dos portadores minoritários em relação a este sinal AC, ou seja, estes

portadores não são gerados em taxa alta suficiente para compensar o sinal aplicado

no eletrodo superior. Ocorre a modulação da camada de depleção de largura máxima

e constante. Na condição de inversão forte, portanto, a capacitância total da estrutura

MOS torna-se mínima: 2/1

1⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛=

S

DMAX

OXMIN

WC

,

onde CMIN é a capacitância total mínima para condição de inversão utilizando um

sinal de polarização de alta freqüência, WDMAX é a largura da camada de depleção,

COX é a capacitância no isolante e εS a constante dielétrica do semicondutor.

Numa estrutura MOS não ideal, há a presença de cargas no isolante e na

interface semicondutor/isolante, e as funções trabalho do metal e do semicondutor

são diferentes. Isto provoca um deslocamento da curva C-V da estrutura MOS real

em relação a ideal, pois a diferença de potencial entre os eletrodos do capacitor MOS

(VG) depende diretamente da diferença das funções trabalho (φMS), da tensão no

óxido (VOX), que é relacionada com as cargas efetivas no óxido Qeff, e do potencial

de superfície ΨS:

SMSOXG VV Ψ++= φ

(a) Para um capacitor MOS ideal, a torna-se:

VG=ψS, pois VOX = 0 e φΜS=0.

Para VG=VFB (condição de banda plana); ψS=0, portanto, VFB=0.

(b) Para um capacitor MOS real:

OXeffOX C

AQV .= ,

onde A é a área do dispositivo.

Da expressão anterior, tem-se que:

[ ]A

CVQ OXFBMSeff .−= φ .

Desta maneira, verifica-se um deslocamento no eixo da tensão (de VFB=0 para

VFB =VG) da curva C-V experimental (real) em relação à teórica. A técnica C-V

permite determinar importantes propriedades elétricas das estruturas MOS, através

Page 174: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

155

de comparação das curvas experimentais e teóricas. Diferentes procedimentos de

medidas e métodos (recursivo, gráficos e de deslocamentos de curvas C-V) são

utilizados para determinar estas propriedades, como: capacitância de banda plana

(CFB), tensão de banda plana (VFB), largura da camada de depleção (WD), espessura

do óxido (tOX), concentração efetiva de dopantes eletricamente ativos (NA,D, sendo A

para dopantes aceitadores de elétrons e D para dopantes doadores de elétrons) e a

densidade de carga efetiva no óxido (Qeff).

DETERMINAÇÃO DAS CARACTERÍSTICAS ELÉTRICAS

• Cálculo da espessura do óxido.

Quando o capacitor está em regime de acumulação, tem-se que CT = CMAX.

Neste caso, a capacitância máxima está relacionada à capacitância do óxido por

unidade de área (COX), assim temos:

ACC OXMÁX .= ,

onde A, é a área da porta do capacitor MOS.

Substituindo pela equação COX=ε0.εOX/tOX, e isolando tOX, tem-se:

AC

tMÁX

OXOX .

.0 εε= .

• Cálculo da largura máxima da região de depleção.

Como visto anteriormente, é possível obter a largura máxima da região de

depleção quando a capacitância do dispositivo atinge seu valor mínimo (CMIN),

correspondendo à associação em série da capacitância máxima com a capacitância de

depleção. A capacitância mínima no semicondutor é dada por:

Page 175: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

156

⎥⎥⎥⎥

⎢⎢⎢⎢

−=

MÁXMIN

SIC

CCA

CMÍN 11

1.1 .

Deste modo, a largura máxima da região de depleção é dada por:

MINSiC

SiCDMAX C

W εε .0= .

• Cálculo da densidade de dopantes

Para o calculo da concentração efetiva de dopantes eletricamente ativos

temos:

i

A

DMAX

SiCA n

NqTk

WqN ln...

..4

2

ε= .

São necessárias algumas interações para se obter o valor de NA.

• Cálculo tensão de banda plana

Para obter o valor da tensão de banda plana experimentalmente, deve-se

primeiramente calcular a capacitância de banda plana (CFB) de acordo com os

modelos teóricos básicos por meio da seguinte expressão:

A

SiC

SiC

OXOX

OXFB

NqTkt

C

.

..2

εεεε

+= .

Page 176: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

157

Obtendo-se o valor da capacitância de banda plana, encontra-se o valor

correspondente de tensão para o mesmo na curva C-V de alta freqüência. O valor

adquirido será referente à tensão de banda plana (VFB).

• Cálculo da densidade de carga efetiva no óxido.

Na estrutura MOS real ocorre à presença de cargas no óxido e na interface

isolante/semicondutor, o que causa um deslocamento no eixo da tensão (de VFB=0

para VFB=VG) da curva C-V experimental (real) em relação à teórica (ideal). A

neutralidade global de cargas na estrutura MOS é alcançada pela presença de uma

carga imagem no semicondutor ou no metal correspondente às cargas no óxido e na

interface isolante/semicondutor. Define-se como densidade de cargas efetivas no

óxido Qeff, a densidade da carga imagem induzida no semicondutor.

Da expressão anterior, é obtida experimentalmente a tensão de banda plana.

Utilizando este valor podemos isolar a densidade de carga efetiva no óxido

resultando na seguinte expressão:

[ ]q

CVq

QN OX

FBMSSiCeff

SS .)0( −=== φψ .

• Cálculo do Campo Elétrico de Ruptura

Para a obtenção do campo elétrico máximo de ruptura do dielétrico de porta

do capacitor MOS, aplicam-se tensões progressivamente maiores até que se observe

uma mudança brusca (de várias ordens de grandeza) no valor da corrente medida.

Essa medida é feita polarizando-se o capacitor MOS na região de acumulação.

Quando se observa esse aumento abrupto de corrente diz-se que foi atingida a tensão

de porta para a qual o óxido rompe (VB). Esta tensão pode ser utilizada no cálculo da

tensão elétrica de ruptura do óxido. A tensão VB é a tensão de porta para a qual

ocorre a ruptura, mas como visto anteriormente, quando aplicada uma tensão na

porta do capacitor MOS, parte cai no óxido e parte cai no semicondutor, até que se

Page 177: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Anexo B – Caracterização Elétrica dos Capacitores MOS

158

atinja uma situação de banda plana, onde, para valores menores que VFB, nós teremos

toda a tensão aplicada caindo sobre o óxido (B.4.1).

Assim, tem-se que o valor de campo de ruptura EB é dado por:

OX

BB t

VE = .

Page 178: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

158

REFERÊNCIAS [1] Morkoç, H.; Strite, S.; Gao, G. B.; Lin, M.E.; Sverdlov, B.; Burns, M.; Large-band-gap SiC,

III-V nitride, and II-VI ZnSe-based semiconductor-device technologies, J. Appl. Phys. 76 (1994) 1364.

[2] Dreike, P. L.; Fleetwood, D. M.; King, D. B.; Sprauer, D. C.; Zipperian, T. E.; An overview of

high-temperature electronic device technologies and potential applications, IEEE Trans. Comput. Hybrids, Man. Tech. A17 (1994) 594.

[3] Casady, J. B.; Johnson, R. W.; Status of silicon carbide (SiC) as a wide-bandgap

semiconductor for high-temperature applications: A review, Solid State Elec. 39 (1996) 1409.

[4] Fujiwara, H.; Danno, K.; Kimoto, T.; Tojo, T.; Matsunami, H.; Effects of C/Si ratio in fast

epitaxial growth of 4H-SIC(0001) by vertical hot-wall chemical vapor deposition, J. of Cryst. Growth 281 (2005) 370.

[5] Kubo, N.; Kawase, T.; Asahina, S.; Kanayama, N.; Tsuda, H.; Moritani, A.; Kitahara, K.;

Epitaxial growth of 3C-SiC on Si(111) using hexamethyldisilane and tetraethylsilane, Jpn. J Appl. Phys. 43 (2004) 7654.

[6] Neudeck, P. G.; Beheim, G. M.; Salupo, C. S.; 600 ºC logic gates using silicon carbide

JFET's, Government Microcircuit Applications Conference Technical Digest, Anahiem, CA, 421-424 (2000).

[7] Brown, D. M.; Ghezzo, M.; Kretchmer, J.; Krishnamurthy, V.; Michon, G.; Gati, G.; High

temperature silicon carbide planar ic technology and first monolithic SiC operation amplifier IC, Second International High Temperature Electronics Conference, Charlotte, NC, 1, Sandia National Laboratories, Albuquerque, NM, 1994, XI-17.

[8] Bullot, J.; Schimidt, M. P.; Physics of amorphous-silicon carbon alloys, Phys. Stat. Sol. (b)

143 (1987) 345. [9] Tawada, Y.; Kondo, M.; Okamoto, H.; Hamakawa, Y.; Window effects of hydrogenated

amorphous silicon-carbide in a P-I-N a-Si solar-cell, Jpn. J. Appl. Phys. 21 (1982) 297. [10] Chen, Y. A.; Hsu, M. L.; Laih, L. H.; Hong, J. W.; Chang, C. Y.; Characteristics of SiC-

based thin-film LED fabricated using plasma-enhanced CVD system with stainless steel mesh, Electr. Lett. 35 (1999) 1274.

[11] Pereyra, I.; Carreño, M. N. P.; Andrade, A. M.; TFTs with an a-SiCx:H insulator layer,

Springer Proceedings in Physics 62 (1992) 387. [12] Solomon, I.; Schkidt, M. P.; Tran-Quoc, H.; Selective low-power plasma decomposition of

silane-methane mixtures for the preparation of methylated amorphous silicon, Phys. Rev. B 38 (1988) 9895.

[13] Carreño, M.N.P.; Filmes de carbeto de silício da alto gap obtidos pela técnica PECVD, Tese

de doutorado, Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (1994).

[14] Carreño,M. N. P.; Pereyra, I.; Fantini, M. C. A.; Takahashi, A.; Landers R.; Microvoids in

diamond-like amorphous-silicon carbide, J. Appl. Phys 75 (1994) 538.

Page 179: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

159

[15] Pereyra, I.; Carreño, M. N. P.; Wide gap a-Si1-XCX:H thin films obtained under starving

plasma deposition conditions, J. Non-Cryst. Sol. 201 (1996) 110. [16] Mastelaro, V.; Flank, A. M.; Bittencourt, D. R. S.; Pereyra, I.; Fantini, M. C. A.; Carreño, M.

N. P.; On the structural properties of a-Si1-XCX:H thin films, J. Appl. Phys 79 (1996) 1324. [17] Pereyra, I.; Villacorta, C. A.; Carreño, M. N. P.; Prado, R. J.; Fantini, M. C. A.; Highly

ordered amorphous silicon-carbon alloys obtained by RF PECVD, Brazilian J. Phys. 30 (2000) 533.

[18] Trew, R. J.; Yan, J. -B.; Mock, P. M.; The potential of diamond and sic electronic devices

for microwave and millimiter-wave power application, Proceedings of the IEEE 79 (1991) 598.

[19] Weitzel, C. E.; Moore, K. E.; Silicon carbide and gallium nitride rf power devices, power

semiconductor materials and devices, Material Research Society Symposia Proceedings, 483, S.J. Pearton, R.J. Shul, E. Wofgang, F. Ren , S. Tenconi, Eds., Material Research Society, Warrandale, PA (1998) 111.

[20] Bhatnagar, M.; Baliga, B. J.; Comparison of 6H-SiC, 3C-SiC, and Si for power devices,

IEEE Trans. Electr. Dev. 40 (1993) 645. [21] Dimitrijev, S.; Silicon carbide as a material for mainstream electronics, Microelectronic

Engineering, 83 (2006) 123. [22] Harris, C. I.; Savage, S.; Konstantinov, A.; Bakowski, M.; Ericsson, P.; Progress towards SiC

products, Appl. Surf. Sci. 184 (2001) 393. [23] Neudeck, P. G.; Progress in silicon carbide semiconductor electronics technology, J. Elect.

Mater. 24 (1995) 283. [24] Robertson, J.; Hard amorphous (diamond-like) carbons, Progr. Solid State Chem., 21 (1991)

199. [25] Bullock, J. N.; Bechinger, C.; Benson, D. K.; Branz, H. M.; Semi-transparent a-SiC:H solar

cells for self-powered photovoltaic-electrochromic devices, J. Non-Cryst. Sol. 200 (1996) 1163.

[26] Patil, S. B.; Kumbhar, A. A.; Saraswat, S.; Dusane, R. O.; Preliminary results on a-SiC:H

based thin film light emitting diode by hot wire CVD, Thin Solid Films 430 (2003) 257. [27] Prado, R. J.; Análise das propriedades químicas, morfológicas, estruturais de filmes finos

de a-Si1-XCX:H depositados por PECVD, Tese de Doutorado, Instituto de Física da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (2001).

[28] Oliveira, A. R.; Dopagem elétrica de filmes finos de carbeto de silício amorfo hidrogenado

(a-SiC:H) obtido por PECVD, Dissertação de Mestrado, Departamento de Sistemas Eletrônicos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (2002).

[29] Powell, J. A.; Pirouz, P.; Choyke, W. J.; Growth and Characterization of Silicon Carbide

Polytypes for Electronic Application, Semiconductor Interfaces, Microstructures, and Devices: Properties and Applications, Z.C. Feng, Eds, Institute of Physics Publishing, Bristol, United Kingdom, 257 (1993).

[30] Penls, G.; Morkoç, H.; Monemar, B.; Janzén, E.; Silicon Carbide, III-Nitrides, and related

materials, Mater. Sci. Forum 264-268, (1998) 1.

Page 180: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

160

[31] Maiores informações no sítio: http://www.waferworld.com/ [32] Maiores informações no sítio: http://www.intrinsicsemi.com/ [33] Neudeck, P. G.; 600 ºC Digital Logic Gates, Nasa Lewis Research & Technology Report

(1999). [34] Hasanuzzaman, M.; Islam, S. K.; Tolbert, L. M.; Alam, M. T.; Temperature dependency of

MOSFET device characteristics in 4H- and 6H-silicon carbide (SiC), Sol. State Electron. 48 (2004) 1877.

[35] Knippenberg, W. F.; Growth phenomena in silicon carbide, Philips Res. Repts. 18 (1963)

161. [36] Lely, J. A.; Darstellung von einkristallen von silizium karbid und beherrschung von art

und menge der eingebauten verunreinigungen, Ber. Deut. Keram. Ges., 32 (1955) 229. [37] Powell, J. A.; Crystal growth of 2H silicon carbide, Appl. Phys. 40 (1969) 4660. [38] Tairov, Y. M.; Tsvetkov, V. F.; Investigation of growth processes of ingots of silicon

carbide single crystals, J. Cryst. Growth, 43 (1978) 209. [39] Hergenrother, K. M.; Mayer, S. E.; Mlavsky, A. I.; Silicon Carbide, Proceedings of the

Conference on Silicon Carbide held in Boston, Massachusetts, April 2-3, 1959, Editors J.R. O'Connor and J. Smiltens, Pergamon Press, (1969).

[40] Carter Jr., C. H.; Tang, L.; Davis, R. F.; 4th National Review Meeting on the Growth and

Characterization of SiC, Raleigh, NC, USA, 1987; U.S. Patent No. 4,866,005 (Sept. 12, 1989) R. F. Davis, C. H. Carter Jr., C. E. Hunter.

[41] Maiores informações no sítio http://www.cree.com [42] Maiores informações no sítio http://www.ifm.liu.se/matephys/local_info/popular/Chapter3.html [43] Maiores informações no sítio http://www.sicrystal.de [44] Maiores informações no sítio http://www.hast.co.jp/e/index.html [45] Khan, M. N.; Nishizawa, S.; Arai, K.; Healing defects in SiC wafers by liquid-phase epitaxy

in Si melts, J. Cryst. Growth 254 (2003) 137. [46] Lampert, W. V.; Eiting C. J.; Smith, S. A.; Mahalingam, K.; Grazulis, L.; Haas, T. W.;

Homoepitaxy of 6H-SiC by solid-source molecular beam epitaxy using C60 and Si effusion cells, J. Cryst. Growth 234 (2002) 369.

[47] Ellison, A.; Zhang, J.; Peterson, J.; Henry, A.; Wahab, Q.; Bergman, J. P.; Makarov, Y. N.;

Vorob’ev, A.; Vehanen, A.; Janzén, E.; High temperature CVD growth of SiC, Mater. Sci. Eng. B 61-62 (1999) 113.

[48] Ellison, A.; Zhang, J.; Henry, A.; Janzén, E.; Epitaxial growth of SiC in a chimney CVD

reactor, J. Cryst. Growth 236 (2002) 225. [49] Meziere, J.; Ucar, M.; Blanquet, E.; Pons, M.; Ferret, P.; Di Cioccio, L.; Modeling and

simulation of SiC CVD in the horizontal hot-wall reactor concept, J. Cryst. Growth 267 (2004) 436.

Page 181: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

161

[50] Kordina, O.; Hallin, C.; Henry, A.; Bergman, J. P.; Ivanov, I.; Ellison, A.; Son, N. T.; Janzén,

E.; Growth of SiC by hot-wall CVD and HTCVD, Phys. Stat. Sol. (b) 202 (1997) 321. [51] Strunk, H.P.; Dorsch, W; Heindl, J; The nature of micropipes in 6H-SiC single crystals,

Adv. Eng. Mater. 2 (2000) 386. [52] Nishino, S.; Powell, J. A.; Will, H. A.; Production of large-area single-crystal wafers of

cubic SiC for semiconductor devices, Appl. Phys. Lett 42 (1983) 460. [53] Panknin, D.; Stoemenos, J.; Eickhoff, M.; Heera, V.; Voelskow, M.; Skorupa, W.; The

beneficial role of flash lamp annealing on the epitaxial growth of the 3C-SiC on Si, Appl. Surf. Sci. 184 (2001) 377.

[54] Forster, C.; Cimalla, V.; Ambacher, O.; Pezoldt, J.; Low temperature chemical vapor

deposition of 3C-SiC on Si substrates, Mater. Sci. Forum 483 (2005) 201. [55] Kim, K. C.; Park, C. I.; Roh, J. I.; Nahm, K. S.; Hahn, Y. B.; Lee, Y.; Lim, K. Y.; Mechanistic

study and characterization of 3C-SiC(100) grown on Si(100), J. Electrochem. Soc. 148 (2001) C383.

[56] Madapura, S.; Steckl, A. J.; Loboda, M.; Heteroepitaxial growth of SiC on Si(100) and (111)

by chemical vapor deposition using trimethylsilane, J. Electrochem. Soc. 146 (1999) 1197. [57] Kondo, Y.; Takahashi, T.; Sukuma, E.; Misawa, S.; Daimon, H.; Yamanaka, M.; Yoshida, S.;

High-temperature operation of silicon carbide MOSFET, J. Appl. Phys. 26 (1987) 310. [58] Shibahara, K.; Saito, T.; Nishino, S.; Matsunami, H.; Fabrication of inversion-type n-channel

MOSFETs using cubic-SiC on Si(100), IEEE Electron. Device Lett. 7 (1986) 692. [59] Wan, J.; Capano, M. A.; Melloch, M R.; Cooper, J. A.; N-channel 3C-SiC MOSFETs on

silicon substrate, IEEE Electon Device Lett 23 (2002) 482. [60] Ohshima, T.; Lee, K. K.; Ishida, Y.; Kojima, K.; Tanaka, Y.; Takahashi, T.; Yoshikawa, M.;

Okumura, H.; Arai, K.; Kamiya, T.; The electrical characteristics of metal-oxide-semiconductor field effect transistor fabricated on cubic silicon carbide, Jpn. J. Appl. Phys. 42 (2003) L625.

[61] Lee, K. K.; Ishida, Y. I.; Ohshima, T.; Kojima, K.; Tanaka, Y.; Takahashi, T.; Okumura, H.;

Arai, K.; Kamiya, T.; N-channel MOSFETs fabricated on homoepitaxy-grown 3C-SiC films, IEEE Electron Device Lett. 24 (2003) 466.

[62] Anderson, D. A.; Spear, W. E.; Electrical and optical-properties of amorphous silicon-

carbide, silicon-nitride and germanium carbide prepared by glow-discharge technique, Phil. Mag. B 35 (1977) 1.

[63] Spear, W. E.; LeComber, P. G.; Substitutional doping of amorphous silicon, Sol. Stat. Com.

17 (1975) 1193. [64] Schmidt, M. P.; Bullot, J.; Gauthier, M.; Cordier, P.; Salohon, I.; Tran-Quoc, H.; Influence of

carbon incorporation in amorphous hydrogenated silicon, Phil. Mag. B51 (1985) 581. [65] Boulitrop, F.; Bullot, J.; Gauthier, M.; Schmidt, M. P.; Catherine, Y.; Disorder and density of

defects in hydrogenated amorphous-silicon carbon alloys, Sol. Stat. Com. 54 (1985) 107.

Page 182: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

162

[66] Morimoto, A.; Miura, T.; Kumeda, M.; Shimuzu, T.; Defects in hydrogenated amorphous

silicon-carbon alloy-films prepared by glow-discharge decomposition and sputtering, J. Appl. Phys. 53 (1982) 7299.

[67] Skumanich, A.; Frova, A.; Amer, N. M.; Urbach tail and gap states in hydrogenated a-SiC

and a-SiGe alloys, Sol. Stat. Com. 54 (1985) 597. [68] Fiorini P., Evangelisti F., Frova A., Materials Issues in Aplications of Amorphous Silicon

Technology, editado por D. Adler, A. Madam, M.J. Thompsom, MRS Symp. Proc., Vol 49, Pittsburg (1985) 195.

[69] Spear, W. E.; Electroni c properties of amorphous semiconductors, International Course of

the Physics of Modern Materials, Proceedings, Trieste, (1978) 427. [70] Street, R. A.; Hydrogenated amorphous silicon, Cambridge University Press, New York

(1991). [71] Mott, N. F.; Davis, E. A.; Electronic process in non-crystalline materials, Claredon Press,

Oxford (1979). [72] Madan, A.; Shaw, M. P.; The physics and applications of amorphous semiconductors,

Academic Press, New York (1988). [73] Hirose, M.; Glow Discharge, em Semiconductor and Semimetals, Vol 21-A, Academic Press,

editado por J. I. Pankove (1984). [74] Prado, R. J.; Propriedades químicas e morfológicas de filmes de carbeto de silício amorfo,

Dissetação de Mestrado, Instituto de Física, Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (1997).

[75] Kondo, M.; Toyoshima, Y.; Matsuda, A.; Ikuta, K.; Substrate dependence of initial growth

of microcrystalline silicon in plasma-enhanced chemical vapor deposition, J. Appl. Phys., 80 (1996) 6061.

[76] Prado, R. J.; Fantini, M. C. A.; Tabacnicks, M. H.; Pereyra, I.; Flank, A. M.; Thin films of

a-Si1-XCX:H deposited by PECVD: the rf power and H2 dilution, Mater. Sci. Forum 338-342 (2000) 329.

[77] Colthup, N. B.; Introduction to Infrared and Raman Spectroscopy, Academic Press (1975). [78] Decius, J. C.; Hexter, R. M.; Molecular Vibrations in Crystals, McGraw-Hill (1977). [79] Wilson Jr., E. B.; Decius, J. C.; Cross, P. C.; Molecular Vibrations, Dover Publications Inc.,

New York, (1955). [80] Warren, B. E.; X-Ray Diffraction, Dover Publications Inc., New York (1990). [81] Wilson, R. G.; Stevie, F. A.; Magee, C. W.; Secondary Ion Mass Spectrometry: A practical

handbook for depth profiling and bulk impurity analysis, Wiley-Interscience Publication (1989).

[82] McDaniel, G.; Lee, J. W.; Lambers, E. S.; Pearton, S. J.; Holloway P.; Ren, H. F.; Grow, J. M.;

Bhaskaran, M.; Wilson, R. G.; Comparison of dry etch chemistries for SiC, J. Vac. Sci. Technol. A 15 (1997) 885.

Page 183: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

163

[83] Schmidt, U.; Eickhoff, M.; Richter. C.; Krotz, G.; Schmitt-Landsiedel, D.; Etching

characteristics and mechanical properties of a-SiC:H thin films, Sens. Actuators A 94 (2001) 87.

[84] Suzaki, Y.; Shikama, T.; Yoshioka, S.; Yoshii, K.; Yasutake, K.; Concentration and thermal

release of hydrogen in amorphous silicon carbide films prepared by rf sputtering, Thin Solid Films 311 (1997) 207.

[85] Suzaki, Y.; Inoue, S.; Hasegawa, I.; Yoshii, K.; Kawabe, H.; Atomic-structure of amorphous

Si1-XCX films prepared by rf sputtering, Thin Solid Films 173 (1989) 235. [86] Demichelis, F.; Giorgis, F.; Pirri, C. F.; Tresso, E.; Compositional and structural-properties

of hydrogenated amorphous silicon-carbon films prepared by ultra-high-vacuum plasma-enhanced chemical-vapor-deposition with different carbon-sources, Phil. Mag. B 72 (1995) 913.

[87] Basu, N.; Ganguly, G.; Ray, S.; Barna, A. K.; Phosphorus doping and photoinduced changes

in hydrogenated amorphous-silicon carbon alloy-films, Jpn. J. Appl. Phys. 28 (1992) 1776. [88] Demichelis, F.; Galoni, R.; Pirri, C. F.; Rizzoli, R.; Summonte, C.; Tresso, E.; Amorphous

silicon technology, Mater. Res. Soc. 258 (1992) 93. [89] Demichelis, F.; Crovini, G.; Pirri, C. F.; Tresso, E.; Galloni, R.; Summonte, C.; Rizzoli, R.;

Zignani, F.; Rava, P.; Boron and phosphorus doping of a-SiC-H thin-films by means of ion-implantation, Thin Solid Films 265 113 (1995).

[90] Hallen, A.; Janson, M. S.; Kuznetsov, A. Y.; Ion implantation of silicon carbide, Nucl.

Instrum. Meth. B 186 (2002) 186. [91] Kordina, O.; Henry, A.; Bergman, J. P.; Son, N. T.; Chen, W. M.; Hallin, C.; Janzén, E.; High-

quality 4H-SiC epitaxial layers grown by chemical-vapor-deposition, Appl. Phys. Lett. 66 (1995) 1373.

[92] Larkin, D. J.; SiC dopant incorporation control using site-competition CVD, Phys. Stat.

Sol. (b) 202 (1997) 305. [93] Carreño, M. N. P.; Pereyra, I.; P-type doping in a-Si1−xCx:H obtained by PECVD, J. Non-

Cryst. Solids 266-269 (2000) 699. [94] Carreño, M. N. P.; Pereyra, I.; Peres, H. E. M.; N-type doping in PECVD a-Si1−xCx:H

obtained under “starving plasma” condition, J. Non-Cryst. Solids 227-230 (1998) 483. [95] Lossy, R.; Reichert, W.; Obermeier, E.; Characterization of 3C-SiC doped by nitrogen

implantation, Mater. Sci. Eng. B 46 (1997) 156. [96] Troffer, T.; Schadt, M.; Frank, T.; Itoh, H.; Penls, G.; Heindl, J.; Strunk, H. P.; Maier, M.;

Doping of SiC by implantation of boron and aluminum, Phys. Stat. Sol. 162 (1997) 277. [97] Panknin, D.; With, H.; Mucklich, A.; Skorupa, W.; Electrical and microstructural properties

of highly boron-implantation doped 6H–SiC, J. Appl. Phys. 89 (2001) 3162. [98] Bockstedte, M.; Mattausch, A.; Pankratov, O.; Boron in SiC: structure and kinetics, Mater.

Sci. Forum 353 (2000) 447.

Page 184: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

164

[99] Nakada, A.; Kanemoto, K.; Oka, M. M.; Tamai, Y.; Ohmi, T.; Influence of fluorine in BF2

+ implantation on the formation of ultrashallow and low-leakage silicon p(+)n junctions by 450-500 degrees C annealing, J. Appl. Phys. 81 (1997) 2560.

[100] Kanemoto, K.; Nakada, A.; Ohmi, T.; Minimization of BF2

+ implantation dose to reduce the annealing time for ultra-shallow source/drain junction formation below 600 degrees C, Jpn. J. Appl. Phys. 37 (1998) 1100.

[101] Heera, V.; Panknin, D.; Skorupa, W.; The beneficial role of flash lamp annealing on the

epitaxial growth of the 3C-SiC on Si, Appl. Surf. Sci. 184 (2001) 307. [102] Heera, V.; Madhusoodanan, K. N.; Mucklich, A.; Panknin, D.; Skorupa, W.; Low-resistivity,

p-type SiC layers produced by Al implantation and ion-beam-induced crystallization, Appl. Phys. Lett. 81 (2002) 70.

[103] Raynald, C.; Silica films on silicon carbide: a review of electrical properties and device

applications, J. Non-Cryst. Sol. 280 (2001) 1. [104] Stein von Kamienski, E. G.; Portheine, F.; Stein, J.; Golz, A.; Kurtz, H.; Charge trapping in

dry and wet oxides on n-type 6H–SiC studied by Fowler–Nordheim charge injection, J. Appl. Phys. 79 (1996) 2529.

[105] Fung, C. D.; Kopanski, J. J.; Thermal-oxidation of 3C silicon-carbide single-crystal layers

on silicon, Appl. Phys. Lett. 45 (1984) 757. [106] Deal, B. E.; Grove, A. S.; General relationship for the thermal oxidation of silicon, J. Appl.

Phys. 36 (1965) 3770. [107] Zheng, Z.; Tressler, R. E.; Spear, K. E.; Oxidation of single-crystal silicon-carbide: Part 1.

Experimental studies and Part 2. Kinetic-model, J. Electrochem. Soc. 137 (1990) 854 (Parte 1); 1812 (Parte 2).

[108] Suzuki, A.; Ashida, H.; Furui, N.; Matsumani, H.; Thermal-oxidation of SiC and electrical-

properties of Al-SiO2-SiC MOS structure, Jpn. J. Appl. Phys. 21 (1982) 579. [109] Ueno, K.; Seki, Y.; Enhanced oxidation of ion-implanted Si-face of 6H-SiC, Jpn. J. Appl.

Phys. 33 (1994) L1121. [110] Alok, D.; Baliga, B. J.; McLarty, P. K.; Thermal-oxidation of 6H-silicon carbide at

enhanced growth-rates, IEEE Elec. Dev. Lett. 15 (1994) 424. [111] Shenoy, J. N.; Chindarole, G. L.; Melloch, M. R.; Cooper Jr., J. A.; Palmour, J. W.; Irvine, K.

G.; Characterization and optimization of the SiO2/SiC metal-oxide-semiconductor interface, J. Electron. Mater. 24 (1995) 303.

[112] Kern, W.; Puotinen, D. A.; Cleaning solutions based on hydrogen peroxide for use in silicon

semiconductor technology, RCA Ver. 31 (1970) 187. [113] Bano, E.; Ouisse, T.; Lassagne, P.; Billon, T.; Jaussaud, C.; High temperature dependence of

Fowler-Nordheim emission tunneling current in (6H) and (4H) SIC MOS capacitors, Inst. Phys. Conf. Series 142 (1996) 733.

[114] Akita, H.; Kimoto, T.; Inoue, N.; Matsumani, H.; Thermal oxidation of B-doped p-type 6H-

SiC and fabrication of MOS diodes, Inst. Phys. Conf. Series 142 (1996) 725.

Page 185: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

165

[115] Friedrichs, P.; Burte, E. P.; Schorner, R.; Dielectric strength of thermal oxides on 6H-SiC

and 4H-SiC, Appl. Phys. Lett. 65 (1994) 1665. [116] Alok D., Baliga B. J., McLarty P. K., Electrical-properties of thermal oxide grown on

n-type 6H-silicon carbide, Appl. Phys. Lett. 64 (1994) 2845. [117] Shenoy, J. N.; Das, M. K.; Cooper, J. A.; Melloch, M. R.; Palmour, J. W.; Effect of substrate

orientation and crystal anisotropy on the thermally oxidized SiO2/SIC, J. Appl. Phys. 79 (1996) 3042.

[118] Shibahara, K.; Nishino, S.; Matsunami, H.; Metal-oxide-semiconductor characteristics of

chemical vapor-deposited cubic-SiC, Jpn. J. Appl. Phys. 23 (1984) L862. [119] Shinohara, M.; Yamanaka, M.; Misawa, S.; Okumura, H.; Yoshida, S.; C-V characteristics of

MOS structures fabricated of Al-doped p-type 3C-SiC epilayers grown on Si by chemical vapor deposition, Jpn. J. Appl. Phys. 30 (1991) 240.

[120] Avila, R. E.; Kopanski, J. J.; Fung, C. D.; Behavior of inversion layers in 3C silicon carbide,

J. Appl. Phys. 49 (1986) 334. [121] Fuma, H.; Kodama, M.; Tadano, H.; Sugiyama, S.; Takagawa, M.; Springer Proc. Phys. 56

(1992) 237 [122] Soloviev, S.; Khlebnikov, I.; Madangarli, V.; Sudarshan, T. S.; Correlation between oxide

breakdown and defects in SiC waters, J. Electron. Mater. 27 (1998) 1124. [123] Inoue, N.; Kimoto, T.; Yano, H.; Matsunami, H.; Deep interface states in SiO2/p-type alpha-

SiC structure, Jpn. J. Appl. Phys. 36 (1997) L1430. [124] Berberich, S.; Godignon, P.; Locatelli, M. L.; Millán, J.; Hartnagel, H. L.; High frequency CV

measurements of SiC MOS capacitors, Sol. Stat. Electr. 42 (1998) 915. [125] Raynaud, C.; Autran, J.; Balland, B.; Guillot, G.; Electrical characterization of instabilities

in 6H silicon carbide metal-oxide-semiconductor capacitors, J. Appl. Phys. 76 (1994) 993. [126] Goetzberger, A.; Behavior of MOS inversion layers at low temperature, IEEE Trans.

Electron. Dev. 14 (1967) 787. [127] Neudeck, P.; Kang, S.; Petit, J.; Tabib-Azar, M.; Measurement of n-type dry thermally

oxidized 6H-SiC metal-oxide-semiconductor diodes by quasi-static and high-frequency capacitance versus voltage and capacitance transient techniques, J. Appl. Phys. 75 (1994) 7949.

[128] Nicollian, E. H.; Brews, J. R.; MOS Physics Technology, Willey, New York (1982). [129] Sagii, T.; Yamazaki, T.; Ito, T.; Si hetero-bipolar with a fluorine-doped SiC emitter and a

thin highly doped epitaxial base, IEEE Trans. Electron Dev. 37 (1990) 2331. [130] Aoyama, T.; Sugii, T.; Ito, T.; Determination of band line-up in β-SiC/Si heterojunction for

Si-HBT's, Appl. Surf. Sci. 41-42 (1989) 584. [131] Louro, Fantoni, A.; Fernandes, M.; Maçarico, A.; Schwarz, R.; Vieira, M.; Optoelectronic

characterization of a-SiC:H stacked devices, J. Non-Cryst. Sol. 338-340 (2004) 345.

Page 186: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

166

[132] Cocorullo, G.; Della Corte, F. G.; Rosa, R.; Rendina, I.; Rubino, A.; Terzini, E.; a-Si:H/

a-SiC:H waveguides and modulators for low-cost silicon-integrated optoelectronics, J. Non-Cryst. Sol. 227-230 (1998) 1118.

[133] Wu, K. H.; Fang, Y. K.; Ho, J. J.; Hsieh, W. T.; Chen, T. J.; Novel SiC/Si heterostructure

negative-differential-resistance diode for use as switch with high on/off current ratio and low power dissipation, IEEE Electron. Dev. Lett. 19 (1998) 294.

[134] Sheng, S. P.; Spencer, M. G.; Tang, X.; Zhou, P.; Wongtchoutgul, K.; Taylor, C.; Harris, G. L.;

An investigation of 3C-SiC photoconductive power switching devices, Mater. Sci. Eng. B 46 (1997) 147.

[135] Kroetz, G. H.; Eickhoff, M. H.; Moeller, H.; Silicon compatible materials for harsh

environment sensors, Sens. Actuators A 74 (1999) 182. [136] Chassagne, T.; Ferro, G.; Goubeyre, C.; Le Berre, M.; Barbier, D.; Monteil, Y.; How to grow

unstrained 3C-SiC heteroepitaxial layers on Si (100) substrates, Mater. Sci. Forum 353-356 (2000) 155.

[137] Nazarov, A. N.; Vovk, Y. N.; Lysenko, V. S.; Turchanikov, V. I.; Scryshevskii, V. A.; Ashok,

S.; Carrier transport in amorphous SiC/crystalline silicon heterojunctions, J. Appl. Phys. 89 (2001) 42.

[138] Kroemer, K.; Heterostructure bipolar transistors and integrated circuits, Proc. IEEE 70

(1982) 13. [139] Pezoldt, J.; Forster, Ch.; Weih, P.; Masri, P.; Electrical characterization of SiC/Si

heterostructures with Ge-modified interfaces, Appl. Surf. Sci. 184 (2001) 79. [140] Anderson, R. L.; Experiments on Ge-GaAs heterojunctions, Solid State Electron. 5 (1962)

341. [141] Kroemer H.; Heterostructure bipolar transistor: What should we build?, J. Vac. Sci.

Technol. B 1 (1983) 112. [142] Tersoff, J.; Theory of semiconductor heterojunctions - the role of quantum dipoles, Phys.

Rev. B 30 (1984) 4874. [143] Eizenberg, M.; Heiblum, M.; Nathan, M. I..; Braslau, N.; Mooney, P. M.; Barrier-heights and

electrical properties of intimate metal-AlGaAs junctions, J. Appl. Phys 31 (1987) 1516. [144] Newman, P. C.; Forward characteristics of heterojunctions, Electron. Lett. 1 (1965) 265. [145] Donnelly, J. P.; Milnes, A. G.; Current/voltage characteristics of p-n Ge-Si and Ge-GaAs

heterojunctions, Proc. IEE 113 (1966) 1468. [146] Riben, A. R.; Feucht, D. L.; NGE-PGAAS Heterojunctions, Solid State Electron. 9 (1966)

1055. [147] Hwang, J. D.; Fang, Y. K.; Chen, K. H.; Yaung, D. N.; A novel β-SiC/Si heterojunction

backward diode, IEEE Electron. Dev. Let. 16 (1995) 193. [148] Karazhanov, S. Zh.; Atabaev, I. G.; Saliev, T. M.; Kanaki, É. V.; Dzhaksimov, E.; Excess

tunneling currents in p-Si-n-3C-SiC heterostructures, Semiconductors 35 (2001) 77.

Page 187: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

167

[149] Colder, H.; Marie, P.; Pichon, L.; Risk, R.; Hydrogenated nanocrystalline silicon carbide:

fabrication, properties and heterostructure device application, Phys. Stat. Sol. (c) 1 (2004) 269.

[150] Kerdilles, S.; Berthelot, A.; Risk, R.; Fabrication and properties of low-temperature

(≤600 ºC) processed n-type nanocrystalline SiC/p-type crystalline Si heterojunction diodes, Appl. Phys. Lett. 80 (2002) 3772.

[151] Magafas, L.; Georgoulas, N.; Thanailakis, A.; Electrical properties of a-SiC/c-Si(p)

heterojunctions, Semicond. Sci. Technol. 7 (1992) 1363. [152] Forster, Ch.; Masri, P.; Pezoldt, J.; Electrical characterization of SiC/Si heterostructures

with modified interfaces, Mater. Sci. Forum 389-393 (2002) 355. [153] Rahman, M. M.; Yang, C. Y.; Sugiarto, D.; Byrne, A. S.; Ju, M.; Tran, K.; Lui, K. H.; Asano,

T.; Stickle, W. F.; Properties and device application of hydrogenated amorphous silicon carbide films, J. Appl. Phys. 67 (1990) 7065.

[154] Yih, P. H.; Li, J. P.; Steckl, A. J.; SiC/Si heterojunction diodes fabricated by self selective

and by blanket rapid thermal chemical vapor deposition, IEEE Trans. Electron Dev. 41 (1994) 281.

[155] Chaudhry, M. I.; Electrical transport properties of crystalline silicon carbide/silicon

heterojunctions, IEEE Electron Dev. Lett. 12 (1991) 670. [156] Marsal, L. F.; Pallares, J.; Correig, X.; Domíngues, M.; Bardés, D.; Calderer, J.; Alcubilla, R.;

Electrical properties of PECVD amorphous silicon-carbon alloys from amorphous-crystalline heterojunctions, Diamond Rel. Mater. 6 (1997) 1555.

[157] LeComber, P. G.; Spear, W. E.; Ghaith, A.; Amorphous silicon field-effect device and

possible application, Electron. Lett. 15 (1979) 179. [158] Maiores informações no sítio: http://www.lcd-tv-reviews.com/pages/what_is_tft_lcd.php [159] Powell, M. J.; Hughes, J. R.; Bird, N. C.; Glasse, C.; King, T. R.; Seamless tiling of

amorphous silicon photodiode-TFT arrays for very large area x-ray image sensors, IEEE Transactions on Medical Imaging 17 (1998) 1080.

[160] Dong, L.; Yue, R. F.; Liu, L. T.; Su, X.; Design and fabrication of single-chip a-Si TFT-

based uncooled infrared sensors, Sensors and Actuators A 116 (2004) 257. [161] Powell, M. J.; The physics of amorphous-silicon thin-film transistors, IEEE Trans. Elect.

Dev. Lett. 12 (1989) 2753. [162] Maiores informações visitar o sítio: http://www.srim.org/index.htm#SRIMMENU [163] Albertin, K. F.; Estudo e fabricação de capacitores MOS com camada isolante de SiCxNy

depositada por PECVD, Dissertação de Mestrado, Departamento de Engenharia de Sistemas Eletrônicos, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil (2003).

[164] Lee, H. G.; Kang, T. W.; Hong, S. U.; Paek, M.C.; Kim, T. W.; Crystallization of 3C-SiC

(111) thin films grown on Si (111) substrates by post thermal annealing, Jpn. J. Appl. Phys. 40 (2001) 6304.

Page 188: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

168

[165] Sun, Y.; Miyasato, T.; Improvement of annealing properties of SiC/Si structure, Jpn. J.

Appl. Phys. 39 (2000) L396. [166] Musumeci, P.; Reitano, R.; Calcagno, R.; Roccaforte, F.; Mackhtari, A.; Grimaldi, M. G.;

Relaxation and crystallization of amorphous silicon carbide probed by optical measurements, Phil. Mag. B 76 (1997) 323.

[167] Kerdiles, S.; Berthelot, A.; Gourbilleau, F.; Rizk, R.; Low temperature deposition of

nanocrystalline silicon carbide thin films, Appl. Phys. Lett. 76 (2000) 2373. [168] Basa, D. K.; Smith, F. W.; Annealing and crystallization processes in a hydrogenated

amorphous Si-C alloy film, Thin Solid Films 192 (1990) 121. [169] Calcagno, L.; Musumeci, P.; Roccaforte, F.; Bongiorno, C.; Foti, G.; Crystallization process

of amorphous silicon-carbon alloys, Thin Solid Films 411 (2002) 298. [170] Toal, S. J.; Reehal, H. S.; Barradas, N. P.; Jeynes, C.; Growth of microcrystalline beta-SiC

films on silicon by ECR plasma CVD, Appl. Surf. Sci. 139 (1999) 424. [171] Choi, W. K.; Shi, J.; Chor, F.; Characteristics and mechanism of inductive coupled plasma

etching of hydrogenated amorphous silicon carbide films, J. Vac. Sci. Technol. B 21 (2003) 1415.

[172] Yih, P. H.; Saxena, V.; Steckl, A. J.; A review of SiC reactive ion etching in fluorinated

plasmas, Phys. Status Solidi B 202 (1997) 605. [173] Fleischman, A. J.; Zorman, C. A.; Mehregany, M.; Etching of 3C-SiC using CHF3/O2 and

CHF3/O2/He plasmas at 1.75 Torr, J. Vac. Sci. Technol. B 16 (1998) 536. [174] Saggio, G.; Verona, E.; Di Rosa, P.; La Mônica, S.; Salotti, R.; Schirone, L.; Reactive ion

etching characterization of a-SiC-H in CF4/O2 plasma, Mater. Sci. Eng. B 29 (1995) 176. [175] Nakaaki, I.; Saito, N.; Optical, electrical and structural properties of amorphous SiCN:H

films prepared by rf glow-discharge decomposition, Appl. Surf. Sci. 169 (2001) 468. [176] Tauc, J.; Grigorovici, R.; Optical properties and electronic structure of amorphous

germanium, Phys. Stat. Sol. 15 (1966) 627. [177] Heera, V.; Madhusoodanan, K N.; Mucklich, A.; Skorupa, W.; Nanocrystalline SiC layers

produced by ion-beam-induced crystallization - morphology and resistivity, Diam. Relat. Mater. 12 (2003) 1190.

[178] Oliveira, A. R.; Carreño, M. N. P.; Phosphorus implantation on near stoichiometric

a-SiC:H films, Eletrochem. Soc. Proc. 328 (2002) 381. [179] Wan, J. W.; Capano, M. A.; Melloch, M. R.; Formation of low resistivity ohmic contacts to

n-type 3C-SiC, Solid State Electron. 46 (2002) 1227. [180] Dusch, A.; Marcon, J.; Masmoudi, K.; Olivié, F.; Benzohra, M.; Ketata, K.; Ketata, M.;

Modeling of the transient enhanced diffusion of boron implanted into preamorphized silicon: the case of BF2+ implantation, Mater. Sci. Eng. B 80 (2001) 65.

[181] Janai, M.; Weil, R.; Pratt, B.; Properties of fluorinated glow-discharge amorphous-silicon,

Phys. Rev. B 31 (1985) 5311.

Page 189: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

169

[182] Ke, N.; Wong, S. P.; Peng, S.; Lin, S.; Electrical characteristics of fluorine implanted

a-Si:H thin films at high fields, Chem. Phys. 46 (1996) 93. [183] Matsumura, H.; Nakagome, Y.; Furukawa, S.; Conductivity and p-n-type control of

fluorinated amorphous-silicon (a-Si-F) without incorporating hydrogen, J. Appl. Phys. 52 (1981) 291.

[184] Kimoto, T.; Yano, H.; Tamura, S.; Miyamoto, N.; Fujihira, K.; Negoro, Y.; Matsunami, H.;

Recent progress in SiC epitaxial growth and device processing technology, Mater. Sci. Forum 353 (2001) 543.

[185] Wirth, H.; Panknin, D.; Skorupa, W.; Efficient p-type doping of 6H-SiC: Flash-lamp

annealing after aluminum implantation, Appl. Phys. Lett. 74 (1999) 979. [186] Billon, T.; Bluet, J. M.; Camassel, J.; Contreras, S.; Robert, J. L.; Pernot, J.; Michaud, J. F.; Al

and Al/C high dose implantation in 4H-SiC, Mater. Sci. Forum 338-342 (2000) 885. [187] Handy, E. M.; Jones, K. A.; Derenge, M. A.; Chi, P. H.; Vispute, R. D.; Venkatesan, T.;

Papanicolaou, N. A.; Mulpuri, J. M.; Rao, V.; Effectiveness of AlN encapsulant in annealing ion-implanted SiC, J. Appl. Phys. 86 (1999) 746.

[188] Rao, M. V.; Griffiths, P.; Gardner, J.; Holland, O. W.; Ghezzo, M.; Kretchmer, J.; Kelner G.;

Freitas Jr., J. A.; Al, Al/C and Al/Si implantations in 6H-SiC, J. Electron. Mater. 25, (1996) 75.

[189] Inoue, N.; Kimoto, T.; Yano, H.; Matsunami, H.; Deep interface states in SiO2/p-type alpha-

SiC structure, Jpn. J. Appl. Phys. 36 (1997) L1430. [190] Berberich, S.; Godignon, P.; Locatelli, M. L.; Millán, J.; Hartnagel, H. L.; High frequency CV

measurements of SiC MOS capacitors, Sol. Stat. Electr. 42 (1998) 915. [191] Marsal, L. F.; Martin, I.; Pallares, J.; Orpella, A.; Alcubilla, R.; Annealing effects on the

conduction mechanisms of p(+)-amorphous-Si0.8C0.2:H/n-crystalline-Si diodes, J. Appl. Phys. 94 (2003) 2622.

[192] Theunissen, M. J. J.; Mertens, M. C.; Clegg, J. B.; Zalm, P. C.; Vandenhout, D. E. W.;

Experimental-study of diffusion and interface segregation of p in an LPCVD Si-Carbon emitter structure, J. Electrochem. Soc. 142 (1995) 226.

[193] Marsal, L. F.; Pallares, J.; Correig, X.; Orpella, A.; Bardés, D.; Alcubilla, R.; Analysis of

conduction mechanisms in annealed n-Si1–xCx:H/p-crystalline Si heterojunction diodes for different doping concentrations, J. Appl. Phys. 85 1216 (1999).

[194] Sharma, B. L.; Purohit, R. K.; Semiconductor heterojunctions, Pergamon Press, New York

(1974). [195] Chattopadhyay, P.; Haldar, D. P.; Capacitance-voltage characteristics of anisotype

heterojunction in the presence of interface states and series resistance, Appl. Surf. Sci. 171 (2001) 207.

[196] Seghier, D.; Hauksson, I. S.; Gislason, H. P.; Evidence of strong effect from the interface on

the electrical characteristics of ZnSe/GaAs heterojunctions, J. Appl. Phys. 85 (1999) 3721. [197] Wang, Y.; Structural properties of hydrogenated amorphous silicon carbide alloys, Appl.

Surf. Sci. 193 (2002) 138.

Page 190: ALESSANDRO RICARDO DE OLIVEIRA

Referências

170

[198] Tsai, Y.; An efficient analytical model for calculating trapped charge in amorphous

silicon, IEEE Transactions on Computer-Aided Designed of Integrated Circuits and Systems 13 (1994) 725.

[199] Swart, J. W.; Dói, I.; Diniz, J. A.; Apostila do curso: Oficina de Microfabricação:

Construção de CI's MOS, http://www.ccs.unicamp.br/cursos/fee107/download/cap05.pdf. [200] Sze, S. M.; Physics of Semiconductor Devices, J. Willey, New York (1981). [201] Sze, S. M.; Semiconductor Devices: Physics and Technology, J. Willey, New York (1985). [202] Streetman, B. J.; Banerjee, S.; Solid State Electronic Devices, Prentice-Hall, New Jersey

(2000).