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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA -SEDIS CURSO DE PEDAGOGIA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE APRENDIZAGEM IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ MAIA MARTINS-RN 2016

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL… · ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE APRENDIZAGEM Por IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA -SEDIS

CURSO DE PEDAGOGIA

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE

APRENDIZAGEM

IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ MAIA

MARTINS-RN

2016

IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ MAIA

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE

APRENDIZAGEM

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia, na modalidade à distância, do

Centro de Educação, da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como requisito parcial

para obtenção do título de Licenciatura em

Pedagogia.

Orientação: Profa. Ma. Elza Maria Silva de

Araújo Alves.

MARTINS-RN

2016

ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE

APRENDIZAGEM

Por

IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ MAIA

Artigo Científico apresentado ao Curso de

Pedagogia, na modalidade à distância, do

Centro de Educação, da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, como requisito parcial

para obtenção do título de Licenciatura em

Pedagogia.

Aprovado em 13 de junho de 2016.

BANCA EXAMINADORA

Profa. Ma. Elza Maria Silva de Araújo Alves (Orientadora)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Doutoranda. Janima Bernardes Ribeiro

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Profa. Doutoranda. Maria Aparecida da Silva Miranda.

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE

APRENDIZAGEM

Izabel Cristina da Costa Queiroz Maia1

Elza Maria Silva de Araújo Alves2

RESUMO

O presente artigo tem como foco a alfabetização e o letramento na Educação Infantil: uma

perspectiva de aprendizagem. A pesquisa está embasada no método qualitativo, no qual

entrevistarei alguns professores que atuam na área da Educação Infantil. Temos como objetivos

analisar as práticas de alfabetização e letramento na educação infantil em uma escola pública

no município de Martins/RN. A escolha em trabalhar essa temática se deu pelo fato de atuar

nesse nível de ensino e considerar relevante ensinar a alfabetização e letramento na Educação

Infantil, pois é por meio desse contato diversificado em seu ambiente social que as crianças

descobrem o aspecto funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade

pela linguagem. Assim, introduzir as práticas de alfabetização e letramento no contexto infantil

contribuirá para o desenvolvimento integral da criança, facilitando também para seu

aprendizado nas séries iniciais do ensino fundamental. Para responder essas questões a pesquisa

toma-se como bases referenciais teóricos de: Magda Soares (1998-2001-2003-2004-2009), Lev

Vygotsky (1984-1991), Emília Ferreiro e Ana Teberosky (2001-2003), Jean Piaget (1973-1975-

1998) e do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) no que se referem

à aprendizagem da linguagem escrita, os quais pressupõem interação entre sujeitos de uma

cultura letrada e requerem uma ação intencional e planejada. Foi em função disso que a

sociedade delegou à escola o papel de ensiná-la e, hoje, reconhece-se a possibilidade de

trabalhar o processo de construção dessa linguagem desde a Educação Infantil. Para buscar

dados reais sobre a pesquisa, procedeu-se à aplicação de um questionário adaptado e validado,

no qual entrevistamos cinco professoras que atuam na área da Educação Infantil, que

responderam ser relevante trabalhar as práticas de alfabetização e do letramento na Educação

Infantil. Selecionamos seis crianças para fazer a análise da escrita, e constatamos resultados

positivos em relação à evolução das práticas de alfabetizar/letrar na educação infantil. O

processo de aprendizagem nessa etapa da Educação Básica se amplia, na medida em que são

trabalhados, de modo intencional, os processos de produção e leitura de textos. Ao mesmo

tempo em que constroem o sistema alfabético de escrita, as crianças vão se apropriando dos

aspectos gráficos dessa linguagem, isto é, das letras, do uso de maiúsculas e minúsculas, da

pontuação, da segmentação e da orientação da escrita. Dessa forma, a alfabetização e letramento

são processos que caminham juntos, esse trabalho, em específico, buscou um repensar da

aquisição da língua escrita, baseado no alfabetizar letrando.

Palavras chave: Alfabetização. Letramento. Educação Infantil.

1 Graduanda do Curso de Pedagogia da EaD da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 2 Profª Orientadora: Graduada em Letras pela UFRN, Mestra em Estudos da Linguagem pela UFRN. Atua como

professora de Língua Portuguesa e Inglesa em escolas públicas, Faculdade e como Professora Pesquisadora no

Curso de Graduação em Pedagogia, EaD - UFRN.

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ALFABETIZATION AND LITERACY IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: A

LEARNING PERSPECTIVE

ABSTRACT

This article focuses on Alfabetization and literacy in kindergarten: a learning perspective. The

research is grounded in qualitative method, I will interview some teachers who work in the area

of early childhood education and it raims to analyze the alfabetization and literacy practices in

early childhood education. The choice to work this theme was made because of the acting for

twelve years in this level of education and consider relevant teaching alfabetization and literacy

in early childhood education, because it is through this diverse contact in their social

environment that children discover the functional aspect of written communication, developing

interest and curiosity about language. So introduce alfabetization and literacy practices in child

context contribute to the integral development of the child, also making it easier for their

learning in the early grades of elementary school. To answer these research questions it takes

as basis the theoretical frameworks of: Magda Soares (1998-2001-2003-2004-2009), Lev

Vygotsky (1984-1991), Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (2001-2003), Jean Piaget (1973-1975-

1998) and the National Curriculum Reference for Early Childhood Education (1998), as they

relate to learning the written language, which assumes interaction between subjects of a literate

culture and requires a deliberate and planned action. It was because of this that society has

delegated to the school's role to teach it, and today it is recognized that the ability to work the

process of construction of this language from kindergarten. To get real data on the research, we

proceeded to the application of an adapted and validated questionnaire, which interviewed five

teachers working in the field of early childhood education, respondents be relevant to work

alfabetization practices and literacy in kindergarten. We selected ten children to do the analysis,

and found positive results regarding the evolution of the practices of literacy / literate in early

childhood education. The learning process in this step Basic Education expands to the extent

they are been worked, intentionally, the production processes and reading text. While building

the alphabetic system of writing, the children go appropriating the graphic aspects of the

language, that is, the letters, the use of uppercase and lowercase letters, punctuation,

segmentation and writing guidance. Thus, alfabetization and literacy are processes that go

together, this work, in particular, sought a rethinking of written language acquisition, based on

literacy alphabetizing.

KEYWORDS: Alfabetization. Literacy. Child Education.

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1 INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como tema “Alfabetização e Letramento na Educação Infantil”.

A ideia de trabalhar esse tema surgiu em virtude de atuar como professora nesse nível de ensino

e por considerar relevante inserir as práticas sociais de leitura e escrita para os “pequeninos”,

porque essas práticas são à base de qualquer processo de ensino e de aprendizagem da

linguagem escrita, e que amenizam as dificuldades que muitos alunos ainda enfrentam ao

ingressarem no ensino fundamental.

Mesmo que a alfabetização seja um processo que só se inicia oficialmente no primeiro

ano do ensino fundamental, suas bases são lançadas bem antes disso, pois desde que nasce a

criança está exposta às práticas sociais da leitura e escrita.

Partindo dessa concepção, apresentamos neste artigo uma investigação realizada acerca

das práticas de alfabetização e letramento desenvolvidas na educação infantil em uma escola

pública, localizada no município de Martins RN, bem como algumas contribuições em inserir

esse processo desde cedo na vida das crianças na faixa etária de 0 a 6 anos.

De acordo com Magda Soares (2009), a alfabetização e o letramento devem ter sua

presença na Educação Infantil. Os pequenos, antes mesmo do ensino fundamental, devem ter

acesso tanto a atividades de introdução ao sistema alfabético e suas convenções – a

alfabetização, como também práticas sociais de uso da leitura e da escrita – o letramento.

Para responder as nossas indagações nos centramos nos seguintes referenciais teóricos:

Magda Soares (1998-2001-2003-2004-2009), Lev Vygotsky (1984-1991), Emília Ferreiro e

Ana Teberosky (2001-2003), Jean Piaget (1973-1975-1998) e do Referencial Curricular

Nacional para a Educação Infantil (1998).

A pesquisa realizada teve como objetivos: a) analisar práticas de alfabetização e

letramento na educação infantil e b) observar, na escrita das crianças, indícios da importância

de se introduzir desde cedo, práticas de alfabetização e do letramento no contexto infantil. Está

centrada no método qualitativo. Foi realizada uma investigação para saber em que nível de

alfabetização se encontrava os alunos dessa instituição de ensino. Ressaltamos que foi escolhida

uma amostra da resposta de 50% dos alunos pesquisados.

Além disso, foi utilizado para análise um questionário, no qual cinco educadoras que

atuam na área da Educação Infantil do Centro Educacional Prof.ª Agá Fernandes, instituição

localizada na cidade de Martins/RN, responderam a algumas indagações sobre o entendimento

que possuem a respeito da alfabetização e letramento, como desenvolvem a prática educativa

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em torno desses conceitos e as possíveis contribuições para aquisição da leitura e escrita pelas

crianças.

Durante muito tempo, a educação infantil restringiu o contato das crianças com a escrita,

acreditando que se tratava de uma atividade escolarizada, mais pertinente às crianças maiores e

não as pequenas que ainda precisavam brincar. Atualmente, já se reconhece que, assim como

tudo que está em seu entorno, as crianças notam a presença da escrita e se interessam por

desvendá-la. Cabe aos professores, cuidar para que o contato com a escrita seja prazeroso,

desafiador, encantador, mantendo aceso o desejo da criança de aprender a escrever.

Até pouco tempo atrás, essa era uma tarefa difícil de realizar. Os antigos métodos de

alfabetização, baseados em práticas de prontidão em exercícios repetitivos de coordenação

motora estavam muito presentes nas representações dos professores e, em muitos casos, eram

os únicos recursos conhecidos. Ainda hoje, essa é uma realidade em muitas regiões do país.

Tais métodos, apesar de populares, são inconvenientes porque afastam as crianças de um

contato significativo com as manifestações socialmente aceitas da escrita, e enfatizam a

decodificação de escrito, mas não a significação, a compreensão e fruição da linguagem que se

usa para escrever.

Apesar das divergências metodológicas dos teóricos da área, existe certo consenso sobre

o fato de que a aprendizagem da linguagem escrita não depende de um amadurecimento

psicológico ou biológico, mas sim, de complexos processos de construção de conhecimentos

ancorados nas oportunidades sociais que as crianças possam ter com a escrita.

Atualmente, não se defende qualquer método de alfabetização, mas sim uma abordagem

que trabalhe diversas práticas sociais de leitura e escrita, que trate as manifestações de nossa

língua em sua complexidade e não da decodificação de sinais simples.

Nesta pesquisa, a alfabetização e o letramento são apresentados como etapa muito

importante na educação infantil, pois o processo de construção da base alfabética durante o qual

as crianças formulam e reformulam hipóteses, construindo explicações sobre o que a escrita

representa e como ela é representada, elas vão se apropriando da dimensão sonora da escrita,

percebendo a relação entre o que falamos e o que escrevemos, desenvolvendo passo a passo a

capacidade de representação alfabética e aproximando-se progressivamente das convenções

ortográficas com suas regularidades e irregularidades.

Dessa forma, através da pesquisa de campo realizada pudemos perceber a importância

de introduzir as práticas de alfabetização e letramento na primeira fase da criança na escola,

pois desde o seu nascimento a criança interage com os signos, figuras, letras, números e tudo

que possa ter um significado para a linguagem escrita. E a educação infantil, apesar de ser uma

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fase na qual predomina a oralidade, torna-se uma etapa fundamental para a alfabetização e

letramento, na qual as crianças possam vivenciar práticas que integrem conhecimentos

construídos por elas no âmbito da oralidade e da escrita.

Dessa forma, segue no tópico abaixo informações relevantes para a compreensão do

tema a ser debatido nesse artigo.

2 HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO

A história da alfabetização iniciou-se quando os homens tiveram que criar sistemas de

símbolos e signos, isto é, criaram formas de representar para que pudessem viver em

coletividade, comunicando-se uns com os outros, trocando informações, enfim, agindo no

mundo.

Colaborando com a exposição acima, é relevante citar Oliveira (1992, p. 15), quando

nos mostra os três períodos principais da história da Alfabetização.

Da antiguidade até o século XVIII, aproximadamente, quando o método

utilizado era exclusivamente sintético, normalmente o processo alfabético.

A partir do século XVIII, com o início da oposição teórica ao método sintético,

que só se efetivou no início do século XX com Decroly (lembrando que a

partir desse período coexistiram os processos fônico e silábico, do método

sintético, bem como os processos de palavração, sentenciarão e global de

contos, do método analítico).

Na atualidade, vivemos a revisão crítica dos métodos tradicionais de

alfabetização, provocada pelos índices continuamente alarmantes de fracasso

escolar nessa fase da escolarização, e com questionamentos propiciados, a

partir da década de 1980, pelas pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky

sobre a Psicogênese da Língua Escrita.

Com isso, podemos dizer que houve um grande avanço no sistema de alfabetização, e

que, com o avanço de pesquisas sobre os métodos de alfabetização poderão facilitar cada vez a

aquisição do conhecimento pelo aluno.

Destacamos ainda a importância da escrita no processo de alfabetização, pois essa

contribui para que o leitor possa ter um maior contato com a linguagem escrita.

De acordo com Cagliari (1999, p.10)

Constata-se de que o inventor da escrita inventou ao mesmo tempo as regras

da alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao leitor decifrar o que está

escrito, entender como o sistema de escrita funciona e saber como usá-lo

apropriadamente. A alfabetização é, pois, tão antiga quanto os sistemas de

escrita. De certo modo, é a atividade escolar mais antiga da humanidade.

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Diante dessa visão, o processo de alfabetização ocorre pela compreensão da natureza

desse sistema de representação, ou seja, o educando vai reconstruir esse sistema comparando

suas hipóteses sobre a escrita com a escrita convencional, até construir uma representação

alfabética.

A educação infantil, como campo de estudo e prática na educação, é relativamente

recente, atualmente essas instituições não têm mais a conotação de um simples cuidado com a

criança enquanto a família trabalha. Hoje se preconiza que o cuidar e o educar devem estar

presentes de forma integrada e que a rotina diária deve ser planejada, organizada e considerada

como elemento constitutivo da prática pedagógica. De acordo com Soares (2009, p.8).

Até muito recentemente, assumia-se que a criança só poderia dar início ao seu

processo de aprendizagem da leitura e da escrita em determinada idade e, por

conseguinte, em determinado momento de sua educação institucionalizada,

como por exemplo, aqui no Brasil, aos 06 anos, idade de ingresso no primeiro

ano do ensino fundamental.

Ao pensar em propostas pedagógicas para essa faixa etária, precisaremos conhecer as

concepções de desenvolvimento humano e aprendizagem para podermos ofertar uma proposta

com qualidade e de acordo com as potencialidades de crianças entre zero e seis anos. Conhecer

como elas aprendem, conhecem o mundo e se desenvolvem deve ser a base para todo o trabalho

do educador, além de compreendermos a importância do lúdico e, especialmente, das

brincadeiras de faz de conta para o desenvolvimento.

Essa é a primeira etapa da educação básica, segundo o artigo 21, da Lei de Diretrizes e

Bases Nacional nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 e tem como objetivo cuidar e educar

crianças de zero a cinco anos de idade. Nesse sentido, o Referencial Curricular Nacional para

o referido ensino organiza o seu currículo em eixos temáticos a fim de contemplar o

desenvolvimento integral da criança, nos aspectos cognitivos, sociais, afetivos, motores, entre

outros.

A educação infantil requer planejamento adequado à faixa etária e às peculiaridades da

infância. Para isso, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) traz

orientações para o trabalho pedagógico docente, trata-se de um documento construído

especialmente para os profissionais dessa área, prevê fornecer referências e orientações

pedagógicas e contribuir para práticas educativas de qualidade.

Segundo o que consta o RCNEI (BRASIL, 1998, p.117):

A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem

da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui

em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão

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e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada

ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro

competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever.

Na Educação Infantil trabalhar de forma lúdica com atividades de alfabetização só

trazem benefícios aos pequeninos, pois é brincando que eles aprendem. Neste caso, é

importante integrar atividades livres e direcionadas, pois todas são fundamentais para o

desenvolvimento integral do aluno e de suas capacidades. A partir disso compreendemos que:

[...] atividades de expressão como o desenho, a pintura, a brincadeira de faz-

de-conta, a modelagem, a construção, a dança, a poesia e a própria fala [...]

são essenciais para a formação da identidade, da inteligência e da

personalidade da criança, além de constituírem as bases para a aquisição da

escrita como um instrumento cultural complexo (MELLO, 2009, p.22).

Assim, trabalhar essas habilidades nessa fase é muito importante, pois a mesma requer

profunda atenção no que se refere ao respeito das peculiaridades e esquemas de conhecimentos

próprios a cada faixa etária e nível de desenvolvimento das capacidades criativas das crianças.

É preciso reconhecer que o acesso inicial à língua escrita não se reduz ao aprender a ler

e escrever no sentido de aprender a grafar palavras e decodificar palavras, não se reduz à

alfabetização no sentido que é atribuído a essa palavra. Soares (2009, p. 7) destaca alguns

objetivos sobre o acesso inicial a leitura e a escrita que são:

Compreender o que é lido e escrever de forma que os outros

compreendam o que se escreve;

Conhecer diferentes gêneros e diferentes portadores de textos e fazer

uso deles para ler e para escrever;

Participar adequadamente dos eventos de várias naturezas de que fazem

parte a leitura ou a escrita;

Construir familiaridade com o mundo da escrita e adquirir

competências básicas de uso da leitura e da escrita;

Desenvolver atitudes positivas em relação à importância e ao valor da

escrita na vida social e individual.

É notório perceber que os objetivos citados por Soares (2009) estão introduzidos, porque

durante o tempo de permanência na escola, a criança participa de atividades diversificadas e

direcionadas, seja através do brincar, das leituras lidas pelo professor, do contato direto com

livros infantis, ou seja, elas estão rodeadas de materiais que facilitará seu conhecimento sobre

o processo de leitura e escrita.

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Dessa forma, é importante ressaltar que a alfabetização na educação infantil deve ser

introduzida de forma que não deva ser tão sistematizada, e que a criança conheça e adentre em

um mundo da escrita e das letras de forma divertida. Assim, mostramos no tópico seguinte

informações acerca da alfabetização na educação infantil.

2.1 ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Embora a alfabetização não seja uma exigência de aprendizagem da educação Infantil,

observamos com Vygotsky (1991) que o ensino da linguagem escrita pode ter lugar, desde a

pré-escola, e que se respeite todo o processo de desenvolvimento pelo qual cada criança deve

passar. O importante na aquisição da linguagem escrita é que ela seja percebida como algo

importante e necessário pela criança. Essa é a primeira conclusão a que o autor chega, “[...] a

leitura e a escrita devem ser algo de que a criança necessite.” (id, p.156) e que sejam percebidos

como algo relevante para sua vida.

Para entender melhor o conceito de alfabetização, vejamos o que afirma Soares (2003,

p. 15):

[...] o termo alfabetização designa tanto o processo de aquisição da língua

escrita quanto o de seu desenvolvimento: etimologicamente, o termo

alfabetização não ultrapassa o significado de “levar à aquisição do alfabeto”,

ou seja, ensinar o código da língua escrita, ensinar as habilidades de ler e

escrever; [...] alfabetização em seu sentido próprio, específico: processo de

aquisição de código escrito, das habilidades de leitura e escrita. [Grifo no

Original]

Assim, para a autora, alfabetizada é a pessoa que aprende a ler e escrever, mesmo que

não faça uso das mesmas, ou seja, não incorporam à sua vida a prática da leitura e da escrita.

Do ponto de vista de Soares, as atividades do cotidiano escolar da educação infantil

como os rabiscos, os desenhos, os jogos, as brincadeiras de faz-de-conta, não são consideradas

atividades de alfabetização, mas na verdade já faz parte desse processo.

A fase inicial da aprendizagem da língua escrita, constituindo, segundo

Vygotsky, a pré-história da linguagem escrita: quando atribui a rabiscos e

desenhos ou a objetos a função de signos, a criança está descobrindo sistemas

de representação, precursores e facilitadores da compreensão do sistema de

representação que é a língua escrita. (Soares, 2009, p.8)

Constatamos, desse modo, que é a partir dos rabiscos ou desenhos realizados pelas

crianças, ou seja, aquilo que elas se apropriam são símbolos que mais adiante são transformados

em letras para representar à escrita. Ainda, segundo Vygotsky, “as vivências de representações

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semióticas, não propriamente linguísticas, é um primeiro passo em direção à representação da

cadeia sonora da fala pela forma gráfica da escrita” (Soares, 2009, p.8).

A fase citada acima pode ser comparada como a pré-história da escrita onde às crianças

supõem estar escrevendo quando na verdade estão rabiscando ou imitando a escrita dos adultos,

isso significa um avanço no processo de alfabetização, um reconhecimento da natureza

arbitrária da escrita. É o primeiro nível, entre os níveis por que passam as crianças em seu

processo de conceptualização do sistema alfabético, identificados tão claramente por Emília

Ferreiro e Ana Teberosky (2001): níveis icônicos e da garatuja, pré-silábico, silábico, silábico-

alfabético e alfabético.

Conforme Soares (2009), quase todos esses níveis podem ocorrer na educação infantil.

As pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky (2001), identificaram os níveis investigando

comportamentos de crianças de 4, 5 e 6 anos, e nesses estudos comprovaram que sendo bem

orientadas e incentivadas por meio de atividades adequadas e de natureza lúdica, evoluem

rapidamente em direção ao nível alfabético.

De acordo com Piaget, o processo de desenvolvimento de determinadas habilidades

motoras e intelectuais se dá através de estágios: “um estágio comporta ao mesmo tempo um

nível de preparação, por um lado, e de acabamento, por outro [...] é necessário distinguir, em

toda a sucessão de estágios, de processos de formação ou de gênese e as formas de equilíbrio

finais [...].” (PIAGET, 1973b, p. 52).

Piaget fala sobre a teoria do desenvolvimento da criança, onde descreve quatro estágios,

que ele próprio chama de fases de transição (PIAGET, 1975). São eles: Sensório-motor (0 – 2

anos); Pré-operatório (2 – 7, 8 anos); Operatório-concreto (8 – 11 anos); operatório – formal (8

– 14 anos). De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas quatro fases na mesma

ordem, porém, cada pessoa tem seu tempo e sua maturação para iniciar e terminar cada uma

dessas fases. Por isso, a classificação das faixas etárias não pode ser considerada regra.

Assim, cada estágio por qual a criança passa constitui-se em formas particulares de

equilíbrio, caracterizam-se por uma sucessão constante de aquisições, sendo sua ordem

cronológica bastante variável, pois esta depende da experiência anterior do sujeito, do meio

social, que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estágio, e não somente da sua

maturação biológica.

Na concepção de Piaget (1973) além da equilibração, outros fatores são responsáveis

pelo desenvolvimento cognitivo: a maturação, as experiências com o objeto de conhecimento e

a transmissão ou interação social.

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Em outra perspectiva, a aprendizagem da leitura e da escrita se inicia na educação

infantil. Os professores dessa clientela devem realizar um trabalho acompanhando

gradativamente a idade cronológica das crianças, primeiramente fazer exercícios

mimeografados de coordenação perceptivo-motora, como passar o lápis sobre linhas

pontilhadas, ligar elementos gráficos (levar o passarinho ao ninho, fazer os pingos da chuva

etc.). Essas atividades tornam-se características das instituições de educação infantil. Depois

vem outro trabalho com base na cópia de vogais e consoantes, ensinadas uma de cada vez, essa

atividade tem como objetivo possibilitar à criança relacionar sons e escrita por associação,

repetição e memorização de sílabas.

A prática em geral realiza-se de forma supostamente progressiva: primeiro as vogais,

depois as consoantes; em seguida as sílabas, até chegar às palavras. Outra face desse trabalho

de segmentação e sequenciação é a ideia de partir de um todo, de uma frase, por exemplo,

decompô-la em partes até chegar às sílabas. Acrescenta-se a essa concepção a crença de que a

escrita das letras pode estar associada, também, à vivência corporal e motora que possibilita a

interiorização dos movimentos necessários para reproduzi-las “A instituição de Educação

Infantil é um lugar onde predomina o espontâneo e as brincadeiras prazerosas, ou seja, há uma

atmosfera não diretiva no trabalho pedagógico". (ARCE, 2010, p.21).

Vale ressaltar diante desse contexto, a importância de trabalhar de forma lúdica com os

pequeninos, uma vez que, proporciona uma aprendizagem prazerosa por meio do brinquedo,

das brincadeiras do faz de conta, do desenho e dos jogos, favorecendo o desenvolvimento

integral das crianças pequenas. Portanto, todas essas práticas educativas desenvolvidas pelo

professor de educação infantil devem ser orientadas e direcionadas, tornando assim, um

trabalho voltado para o aprendizado do aluno e que este seja capaz de desenvolver suas

capacidades de imaginação e criação.

Trabalhar frequentemente atividades consideradas de natureza lúdica como a repetição

de parlendas, a brincadeira com frases e versos trava-línguas, as cantigas de roda, a

memorização de poemas, podem influenciar de forma positiva para a compreensão do princípio

alfabético. Para Soares (2009, p.8) “jogos voltados para o desenvolvimento da consciência

fonológica, se realizados sistematicamente na educação infantil, criam condições propícias e,

inclusive, necessárias para a apropriação do sistema alfabético”.

Ensinar as letras para crianças dessa faixa etária deve-se seguir uma sequência gradativa

para que a criança comece a assimilar o processo inicial da escrita. Partindo desses

pressupostos, citamos o que consta no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

- RCNEI (1998, p.120):

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Nas atividades de ensino de letras, uma das sequências, por exemplo, pode ser

primeiramente uma atividade com o corpo (andar sobre linhas, fazer o

contorno das letras na areia ou na lixa etc.), seguida de uma atividade oral de

identificação de letras, cópia e, posteriormente, a permissão para escrevê-la

sem copiar. Essa concepção considera a aprendizagem da linguagem escrita,

exclusivamente, como a aquisição de um sistema de codificação que

transforma unidades gráficas.

Nas últimas décadas, pesquisas baseadas na análise de produções das crianças e das

práticas correntes, têm apontado novas direções no que se refere ao ensino e a aprendizagem da

linguagem oral e escrita, considerando a perspectiva da criança que aprende. Ao considerar as

crianças ativas na construção de conhecimentos e não receptoras passivas de informações, há

uma transformação substancial na forma de compreender como elas aprendem a falar, a ler e a

escrever.

Diante disso, o letramento deve ser trabalhado de forma mais sistematizada pelos

professores da área, por esses possibilitarem uma gama de conhecimentos para as crianças. Em

virtude disso, fazemos uma exposição pertinente sobre o letramento no próximo tópico.

2.2 LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O termo letramento é uma palavra nova em nosso país, pois até bem pouco tempo, no

início de 1980, não ouvíamos falar sobre o assunto. Foi mais ou menos em 1986 que Mary

Kato, em seu livro: “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”, da Editora Ática,

escreve as primeiras palavras referentes ao tema, tornando-se tema de discussão entre

pesquisadores e profissionais da Educação Infantil.

Nesse sentido, podemos compreender que na Educação Infantil deve-se preocupar com

o desenvolvimento da linguagem enquanto processo de interação, isto é, com o processo

denominado nos últimos tempos de letramento, termo que Soares (2001, p. 24) define como:

[...] letramento é que um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto é, ser

analfabeto, mas ser, de certa forma, letrado (atribuindo a este adjetivo sentido

vinculado a letramento). Assim, um adulto pode ser analfabeto, porque

marginalizado social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a

leitura e a escrita têm presença forte, se interessa em ouvir a leitura de jornais

feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros leem para ele, se dita

cartas para que um alfabetizado as escreva ( e é significativo que, em geral,

dita usando vocabulário e estruturas próprios da língua escrita), se pede a

alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse

analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em

práticas sociais de leitura e de escrita [...]

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Em outras palavras, o que a autora pontua é que letrado é o indivíduo que passa a fazer

uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita, ou seja, é aquela

pessoa que, além de saber ler e escrever faz uso frequente e competente da leitura e da escrita.

Segundo o Referencial Curricular para a educação infantil nas sociedades letradas, as

crianças, desde os primeiros meses, estão em permanente contato com a linguagem escrita. É

por meio desse contato diversificado em seu ambiente social que elas descobrem o aspecto

funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por essa linguagem.

Diante do ambiente de letramento em que vivem, as crianças podem fazer, a partir de dois ou

três anos de idade, uma série de perguntas, como “O que está escrito aqui? ”, ou “O que isto

quer dizer? ”, indicando sua reflexão sobre a função e o significado da escrita, ao perceberem

que ela representa algo.

Nesse documento ainda é importante mencionar que, para aprender a escrever a criança

terá de lidar com dois processos de aprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita

da língua – o que a escrita representa e como – e o das características da linguagem que se usa

para escrever. A aprendizagem da linguagem escrita está intrinsicamente associada ao contato

com textos diversos, para que as crianças possam construir sua capacidade de ler, e às práticas

de escrita, para que as crianças possam desenvolver a capacidade de escrever autonomamente.

Constata-se, que, desde muito pequenas, as crianças podem usar o lápis e o papel para

fazer garatujas, imprimindo marcas, tentando imitar a escrita dos mais velhos, assim como se

utilizam de livros para emitir sons e gestos como se estivessem lendo. Partindo desse

entendimento, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI 1998, p.128)

“ressalta a importância do manuseio de materiais, de textos (livros, jornais, cartazes, revistas,

etc.) pelas crianças, uma vez que ao observar produções escritas a criança, vai conhecendo de

forma gradativa as características formais da linguagem”.

Dessa forma, dispor livros para as crianças manusearem constituem práticas que devem

estar presentes desde os primeiros anos de vida, no qual as crianças podem imitar uma variedade

de gestos e ações que vão muito além dos limites de suas próprias capacidades. Por meio da

imitação, a criança irá apropriar-se dos comportamentos leitores e significar a prática da leitura,

condição necessária para a aprendizagem.

Desde muito pequenas as crianças elaboram uma série de ideias e hipóteses provisórias

antes de compreender o sistema escrito em toda sua complexidade. Sendo assim o Referencial

Curricular Nacional para Educação Infantil (1998, p. 128) destaca que:

16

As hipóteses elaboradas pelas crianças em seu processo de construção de

conhecimento não são idênticas em uma mesma faixa etária, porque

dependem do grau de letramento de seu ambiente social, ou seja, da

importância que tem a escrita no meio em que vivem e das práticas sociais de

leitura e escrita que podem presenciar e participar.

Diante desse contexto, as crianças que convivem em um ambiente letrado, onde suas

famílias fazem uso dessas práticas sociais de leitura e escrita, com certeza irá aprender com

mais facilidade do que aquelas que vivem em ambientes onde essas práticas não circulam.

O letramento tem um início muito cedo e é algo que não termina nunca, ou seja, vivemos

em um mundo letrado, onde temos acesso a muitas informações, como revistas, livros, bulas de

remédio, placas, etc. É importante ter claro, que letrar é mais do que alfabetizar, porque

conforme Soares (2003) o letramento é a capacidade de entendimento que o sujeito tem sobre

o que vê, escuta e lê.

Soares (2009) ainda aponta que, a leitura frequente de histórias para crianças é, sem

dúvida, a principal e indispensável atividade de letramento na educação infantil. Se

adequadamente desenvolvida, essa atividade conduz a criança, desde muito pequena, a

conhecimentos e habilidades fundamentais para a sua plena inserção no mundo da escrita. Para

soares (2009, p.8), essa atividade

[...] que leva a criança a se familiarizar com a materialidade do texto escrito,

conhecer o objeto livro ou revista, descobrir que as marcas na página,

sequência de letras, escondem significados, que textos é que são “para ler”,

não as ilustrações, que as páginas são folheadas da direita para a esquerda, que

os textos são lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo, que os

livros têm autor, ilustrador, editor, tem capa, lombada...

Ao manusear os livros, as crianças podem mobilizar aquilo que aprenderam ao ouvir

histórias lidas pelo professor, imitando seus comportamentos leitores. Na exploração desse

objeto podem reproduzir gestos de folhear, apontar para as palavras e imagens, pronunciar

palavras ao percorrerem o texto com os olhos, significando simultaneamente a prática de leitura

e o objeto livro. O contato com textos e imagens, bem como a possibilidade de manusear o

livro, permite que aprendam, sobretudo, o uso e o significado social do livro, distinguindo-o

dos brinquedos e de outros objetos de seu cotidiano.

Soares (2009) aponta que a leitura de histórias é uma atividade que enriquece o

vocabulário da criança e proporciona o desenvolvimento de habilidades de compreensão de

textos escritos, de inferência, de avaliação e de estabelecimento de relações entre fatos. Tais

17

habilidades serão transferidas posteriormente para a leitura independente, quando a criança se

tornar apta a realizá-la.

De acordo com os pressupostos teóricos da concepção de letramento, a criança, desde o

momento que entra em contato com a linguagem, escrita e oral, e percebe sua função, que é

para a primeira, o registro da fala e, para a segunda, ler o que está registrado, já está participando

do processo de letramento, diz Soares (2004). Assim, podemos afirmar que a criança faz parte

de um mundo letrado, mundo que, na verdade, já faz parte desde o seu nascimento, pois desde

este momento já interage com os signos, figuras, letras, números e tudo que possa ter significado

para a linguagem escrita. A autora considera essa criança letrada, vejamos:

[...] a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los,

brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material

escrito e percebe seu uso e função, essa criança é ainda “analfabeta”, porque

não aprendeu a ler e escrever. Mas já penetrou no mundo do letramento, já é,

de certa forma, letrada. (SOARES, 2009, p, 24).

Diante das palavras da autora, a criança que não é alfabetizada, mas está imersa de

diversos materiais no seu dia a dia, na família ou na escola, compreende as histórias contadas,

finge que está escrevendo, de certa forma essa criança não é alfabetizada, mas, é letrada.

Além dos textos literários, a autora destaca que é de suma importância trabalhar outros

tipos de textos, como os textos informativos, textos injuntivos, textos publicitários, textos

jornalísticos, histórias em quadrinhos, etc. Introduzir desde cedo esses diversos gêneros textuais

na instituição de educação infantil, dar suporte para a criança identificar o objetivo de cada

gênero, o leitor a que se destina o modo específico de ler cada gênero.

Na Educação Infantil, é um dever trabalhar com a concepção de letramento com as

crianças, desde o momento que esta chega à instituição infantil, estimulando-a a participar

ativamente do processo de construção da leitura e da escrita do seu mundo e não do mundo do

educador ou dos autores de cartilhas e livros didáticos. Fazer com que as crianças tenham

liberdade de expressão e que possam experimentar as múltiplas linguagens, como a música,

dança, artes, leituras de literatura infantil clássica e brasileira, histórias em quadrinhos, jogos,

brinquedos e brincadeiras, entre outras.

Atividades de letramento com a escrita podem e devem ter presença frequente na

Educação Infantil, diante disso Soares (2009, p. 9) destaca:

A todo o momento, surgem oportunidades de registrar algo como apoio à

memória, de ditar para o adulto uma carta que se quer enviar a alguém, de

construir um cartaz sobre um trabalho desenvolvido. Enfim, são inúmeras as

18

situações que podem ser aproveitadas para que as crianças percebam a função

de escrita para fins diversos e a utilizem em práticas de interação social.

É de suma importância trabalhar as práticas da leitura e escrita, pois são à base de

qualquer processo de ensino aprendizagem da linguagem escrita. Não é possível pensar sobre

a escrita sem praticá-la. Não trabalhar essas práticas significa ocultar esse assunto das crianças,

já que é impossível obter informações sobre a escrita fora dos atos sociais em que ela se

manifesta.

Para dar início ao processo de leitura e escrita, a criança precisa entender que letras

representam os sons das palavras faladas e que tenham conhecimento de duas habilidades que

são: o conhecimento alfabético e a consciência fonológica. Essas duas habilidades são

conhecidas como preditores do sucesso na alfabetização, pois como está no Referencial

Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p.122):

Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um conhecimento

de natureza conceitual, precisa compreender não só o que a escrita representa,

mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso

significa que a alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades

relacionadas à percepção, memorização e treino de um conjunto de

habilidades sensório-motoras. É, antes, um processo no qual as crianças

precisam resolver problemas de natureza lógica até chegarem a compreender

de que forma a escrita alfabética em português representa a linguagem, e assim

poderem escrever e ler por si mesmas.

Assim, para que as crianças se apropriem da linguagem escrita precisa compreender o

sistema de representação de códigos de ordem conceitual e construírem conhecimento por meio

de práticas que têm como ponto de partida e de chegada o uso da linguagem e a participação

nas diversas práticas sociais de escrita.

Em virtude do exposto, trabalhar junto a alfabetização e o letramento é de fundamental

importância para um bom processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Assim, ressaltamos

alguns pontos de vista no tópico abaixo, bem como a análise dos dados coletados no campo de

pesquisa, já mencionado anteriormente, referente ao processo de alfabetização e letramento.

2.3 INTEGRANDO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

A alfabetização e o letramento são componentes da introdução da criança no mundo da

escrita que devem ser trabalhadas de forma integrada. Dessa forma, “Alfabetizar e letrar são

duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário, o ideal seria alfabetizar letrando, ou

19

seja, ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita” (SOARES,

1998, p. 47).

Dessa forma, é necessário compreender a diferença entre os dois conceitos e que cada

um possui suas peculiaridades, não devendo confundir a função e o significado de cada um, no

entanto, é de fundamental importância que se realize uma alfabetização articulada com o letrar,

pois é impossível na sociedade atual em que vivemos permitir que nossos alunos sejamos

privados de conhecer o que é o letramento, e não existe maneira melhor de apresentá-lo do que

associado ao alfabetizar.

Assim, percebemos que existe uma diferença entre o alfabetizar e o letrar, porém,

embora sejam conceitos distintos, os dois precisam caminhar juntos, para que haja um sucesso

no trabalho de apropriação das habilidades linguísticas na Educação Infantil (BRASIL, 1998).

A base será sempre o letramento, já que leitura e escrita são, fundamentalmente, meios

de comunicação e interação, enquanto a alfabetização deve ser vista pela criança como

instrumento para que possa envolver-se nas práticas e usos da língua escrita. Assim, a história

lida pode gerar várias atividades de escrita, como pode provocar uma curiosidade que leve à

busca de informações em outras fontes; frases ou palavras da história podem vir a ser objeto de

atividades de alfabetização, poemas podem levar à consciência de rimas e aliterações.

O essencial é que as crianças estejam imersas em um contexto letrado, pois sabemos

que o processo de alfabetização se desenvolve mais facilmente quando as crianças chegam à

escola tendo uma maior familiaridade com a escrita, obtida em contextos nos quais ela circula

com usos e funções sociais. Tal como na vida cotidiana, a escola pode apresentar situações,

contextos e materiais capazes de estimular o interesse e a atenção dos alunos.

Por essa razão, um elemento importante do trabalho de alfabetização se refere à

qualidade e à diversidade do material que é disponibilizado no contexto escolar, ou seja, na

criação e manutenção, pelo professor, de um ambiente alfabetizador. Metodologicamente, a

criação desse ambiente se concretiza na busca de levar as crianças em fase de alfabetização a

usar a língua escrita, mesmo antes de dominar as primeiras letras, organizando a sala de aula

com base nela.

Conceitualmente, a defesa da criação do ambiente alfabetizador estaria baseada na

constatação de que saber para que a escrita sirva e saber como é usada em práticas sociais,

auxiliariam a criança em sua alfabetização, por dar significado e função ao processo de ensino-

aprendizagem da língua escrita e por criar a necessidade de se alfabetizar, favorecendo, assim,

a exploração, pela criança, do funcionamento da língua escrita.

20

Para Ana Teberosky (2003), um ambiente alfabetizador “é aquele em que há uma cultura

letrada, com livros, textos - digitais ou em papel – um mundo de escritos que circulam

socialmente. A comunidade que usa a todo o momento esses escritos, que faz circular ideias

que eles contêm, é chamada alfabetizadora”. Permitindo desta maneira, a inserção da língua

escrita no cotidiano do alfabetizando, sejam por meio de revistas, jornais, gibis, cartazes, das

palavras na lousa, ou de situações cotidianas, como outdoors, letreiro de ônibus ou metrô, caixas

eletrônicos etc.

Constata-se a partir desse contexto que as crianças constroem conhecimentos sobre a

escrita muito antes do que se supunha e de que elaboram hipóteses originais na tentativa de

compreendê-la amplia as possibilidades de a instituição de educação infantil enriquecer e dar

continuidade a esse processo. Essa concepção supera a ideia de que é necessário, em

determinada idade, instituir classes de alfabetização para ensinar a ler e escrever. Aprender a

ler e a escrever fazem parte de um processo ligado à participação em práticas sociais de leitura

e escrita.

Diante dessa realidade, segue no próximo tópico a análise de uma pesquisa realizada

com alunos e professores do Centro Educacional Professora Agá Fernandes, instituição

localizada na cidade de Martins/RN.

2.4 A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO

INFANTIL: A CRIANÇA E SEU PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO

Segundo o Referencial Curricular para Educação Infantil, as crianças que são

provenientes de famílias em que a leitura e a escrita são marcantes, apresentam maior facilidade

para lidar com as questões da escrita, do que aquelas que não têm este modelo de práticas de

leitura em seu lar. É essencial na prática pedagógica com as crianças da Educação Infantil ter

um ambiente letrado, pois quanto mais cedo forem estimuladas mais estarão contextualizadas

no mundo atual.

Com a finalidade de investigar e coletar dados sobre o processo de Alfabetização e

Letramento na Educação Infantil foi realizada uma visita na turminha do Jardim IV, no qual

pude observar como acontece esse trabalho em sala de aula, perceber os avanços dos alunos e

ver de perto a importância de introduzir desde cedo essas práticas no cotidiano escolar das

crianças.

Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil “As crianças têm

ritmos próprio e a conquista de suas capacidades linguísticas se dá em tempos diferenciados,

21

sendo que a condição de falar com fluência, de produzir frases completas e inteiras provém da

participação em atos de linguagem”.

Diante do exposto, apresentamos e a análise dos dados coletados.

As pesquisas sobre o processo de alfabetização vêm mostrando que, para poder se

apropriar do nosso sistema de representação da escrita, a criança precisa construir respostas

para duas questões:

1- O que é a escrita?

2- Qual a estrutura do modo de representação da escrita?

Vejamos abaixo alguns registros de alunos sobre o processo de desenvolvimento da

escrita.

FIGURA 01 FIGURA 02

22

FIGURA 03

Na figura 01, o garoto acredita que uma letra representa uma palavra, a menor unidade

de emissão sonora. Para ele, é preciso um número mínimo de letras para que esteja escrito

alguma coisa, porém, já tem noção do valor sonoro das letras. Ele acredita que uma letra pode

ser considerada uma palavra.

Na figura 02, a menina ainda não estabelece diferença clara entre o sistema de

representação da escrita e do desenho, em três palavras que ditamos, ela fez desenhos para

representar à escrita e as demais palavras ditadas escreveu apenas uma letra, mas, percebeu que

as palavras diferentes correspondiam a escritas diferentes, portanto, essa criança encontra-se no

nível pré-silábico.

Na figura 03, a hipótese com a qual essa menina trabalhava é a de que cada letra

representa uma emissão sonora, isto é, uma sílaba oral. A aluna demonstra um razoável

conhecimento do valor sonoro convencional das letras, adaptando-as as necessidades de sua

hipótese conceitual. A criança se encontra na hipótese silábica, em que descobre que a

quantidade de partes de uma palavra escrita tem correspondência com a quantidade de partes

da mesma palavra falada (emissão oral).

Por meio das observações e registros dos alunos sobre o desenvolvimento da escrita,

percebemos que houve um grande avanço para essas crianças de apenas cinco anos de idade,

pois analisando as produções realizadas por elas percebemos que tomam consciência,

gradativamente, das características formais da linguagem.

Os registros de escrita das crianças são excelentes fontes para a avaliação e o estudo do

professor. Por isso, além das escritas infantis, é importante que o professor as complemente

com informações recolhidas em suas observações e conversas com as crianças.

23

Continuando a investigação sobre o tema abordado, foi realizada uma entrevista com

cinco professoras que atuam na escola Centro Educacional Professora Agá Fernandes do

município de Martins para buscar respostas e dados sobre as práticas de Alfabetização e

Letramento na Educação Infantil.

A entrevista foi desenvolvida através de um questionário respondido pelas docentes da

devida escola. Sobre o uso de questionário como instrumento de pesquisa, Gray (2012) ressalta

que é um instrumento que deve ser utilizado em situações adequadas aos objetivos da pesquisa,

pois uma atividade favorável para a realização de pesquisas em educação.

Desse modo, o questionário ficou organizado com as seguintes questões:

1) Como se dá o processo de Alfabetização e Letramento na Educação Infantil?

2) Que estratégias você utiliza?

3) Na sua concepção, os alunos já trazem um conhecimento de leitura e escrita?

4) Quais as principais dificuldades encontradas ao desenvolver um trabalho de

alfabetização?

5) Alfabetização e Letramento caminham juntos? Por quê?

QUESTÕES RESPOSTAS DAS EDUCADORAS

1) Como se dá o processo de Alfabetização e

Letramento na Educação Infantil?

Professor 1: De forma lúdica e através de

técnicas necessárias para juntos exercer a arte e a

ciência da escrita e da leitura, e certamente

contribuirá para o desenvolvimento do processo

escolar.

Professor 2: O processo de alfabetização e

letramento na Educação Infantil, oferece um

espaço em que a criança tem acesso a leitura e a

escrita antes do ensino fundamental, traçando

laços ao conhecimento do aluno. A partir daí, a

criança cria um espaço lúdico em que, o aluno

descobre a sua visão do mundo apreendendo,

fazendo parte do processo de aprendizagem.

Professor 3: Se dá através de boas práticas de

ensino, isto é, dando oportunidades para as

crianças falarem o que pensam, sobre

determinada coisa ou assunto.

Professor 4: O processo de alfabetização e

letramento na Educação Infantil, se dá através do

processo ensino aprendizagem, juntamente com a

interação, aluno-professor, aluno-aluno durante o

decorrer do cotidiano escolar, embasando-se na

zona de aproximação da clientela.

Professor 5: É necessário mais do que apresentar

para os alunos as letras e sua relação com os sons,

é preciso trabalhar com textos reais estimulando

a leitura e escrita dos diversos gêneros textuais.

24

2) Que estratégias você utiliza?

Professor 1: Utilizamos murais nas paredes da

sala com letras, números, figuras, nomes dos

mesmos, jogos, brincadeiras, historinhas,

músicas, vídeos e materiais concreto que ajudam

no desenvolvimento das crianças.

Professor 2: Uma forma que trabalho com os

alunos do ensino infantil é explorando do lúdico

da criança, uma vez que esse já tem um

conhecimento de vivência, fazendo parte de um

mundo letrado por ter conhecimento e estarem

imersos no ambiente a sua volta.

Professor 3: Os meios de comunicação, livros

infantis, brincadeiras, jogos, brinquedos

educativos e os materiais didáticos, e sempre

pesquisando coisas novas para aprimorar o

conhecimento dos mesmos, tudo isso ajuda-nos a

desenvolver melhor nosso trabalho.

Professor 4: As estratégias utilizadas são as

ferramentas didáticas e as mídias da educação.

Professor 5: Uma sala colorida com diversos

materiais como cartazes, alfabeto fixado na

parede, livros, exposição dos trabalhos, listagem

com o primeiro nome deles, utilizo muito as

cantigas, o lúdico, o faz de conta etc.

3) Na sua concepção, os alunos já trazem um

conhecimento de leitura e escrita?

Professor 1: Sim, ao chegar à escola, as crianças

já trazem conhecimento de mundo, cabe aos

professores usarem mecanismos formais para

explorar esses conhecimentos de leitura e escrita.

Professor 2: Sim, sem dúvida os alunos já trazem

uma boa bagagem quando chega na escola. A

leitura, a escrita e a fala são atividades sociais no

qual o aluno está envolvido e por isso eles como

sujeitos que ensinam e aprendem e que já trazem

consigo conhecimentos diferentes, quando

chegam à escola.

Professor 3: Sim, quando os mesmos chegam a

escola, eles já trazem algum conhecimento, cabe

aos professores aprimorarem esses

conhecimentos.

Professor 4: Sim. Na minha concepção é claro

que os alunos já trazem algum conhecimento

sobre a leitura e a escrita. Pois no mundo de hoje

as crianças vivem na “era digital”, que

consideramos uma grande ferramenta para o

avanço do conhecimento. Isto é conhecimento do

mundo moderno. É com noção da leitura que

temos uma escrita mais correta e vice-versa.

Professor 5: As crianças já vão para a escola com

o conhecimento obtido de maneira informal, os

espaços que frequentam, os objetos, livros que

tem acesso, enfim, eles trazem esse conhecimento

que é absorvido no seu cotidiano.

4) Quais as principais dificuldades encontradas

ao desenvolver um trabalho de alfabetização?

Professor 1: As dificuldades encontradas são

conhecer as habilidades de cada criança, porém,

introduzir as mesmas nas práticas sociais de

25

leitura e escrita é um desafio e ao mesmo tempo

um processo que ocorre nas interações sociais

vivenciadas por elas.

Professor 2: Os alunos do Ensino Infantil, hoje

são vistos como pessoas em formação, cujo

potencial deve ser desenvolvido levando em

consideração os conhecimentos prévios deles e

suas dificuldades encontrada no processo de

alfabetização, estimulando a criança a pensar

criticamente utilizando os diversos recursos

oferecidos pelo professor.

Professor 3: Temos dificuldades, mais

procuramos melhorar estudando, pesquisando e

buscando novos conhecimentos a cada dia para

desenvolver um bom trabalho na educação.

Professor 4: As dificuldades encontradas são

diversas: A falta de interesse dos alunos com o

seu ensino aprendizagem, a não colaboração e

não acompanhamento dos pais na aprendizagem

escolar dos seus filhos etc.

Professor 5: Muitas vezes é a falta de

acompanhamento dos pais, a indisciplina dos

alunos, a falta de interesse deles durante as

atividades diárias, algumas vezes o professor se

acomoda e não busca novos conhecimentos,

novas ferramentas para aperfeiçoar seu trabalho.

5) Em sua opinião, Alfabetização e Letramento

caminham juntos? Por quê?

Professor 1: Sim, porque não existe

alfabetização sem que tenha um letramento,

enquanto um se preocupa com as habilidades de

ler e escrever, o outro se preocupa com a função

social de ler e escrever.

Professor 2: Com certeza, para formar cidadãos

pensantes é preciso que tome conhecimento de

tudo que está presente no seu cotidiano e que este

também aprenda a distinguir o novo, do que já

tem conhecimento. Ou seja, todo sujeito letrado

necessariamente nem precisa alfabetizado.

Professor 3: Sim, porque para se ter um bom

letramento é preciso também está alfabetizado e

vice-versa. Pois isso é importante diante da nossa

sociedade.

Professor 4: Sim. Sempre. Uma complementa a

outra. Ambas andam de mãos dadas em busca de

um aprendizado e um conhecimento mais eficaz,

desde que haja interesse do alunado.

Professor 5: Sim, a alfabetização tem sentido

quando desenvolvida em um contexto de

letramento, por meios de atividades de

letramento, este por sua vez, só pode

desenvolver-se na dependência da aprendizagem

do sistema de escrita.

Fonte: dados coletados pela autora

26

Ao analisar a primeira questão sobre como se dá o processo de alfabetização e

letramento, as professoras citaram o lúdico como estratégia principal, por meio de boas práticas

de ensino e da interação aluno-professor, aluno-aluno. Vemos, então, que o processo

construtivo exige da interação entre os sujeitos envolvidos nas ações realizadas nessas

instituições, possibilitando que as crianças se apropriem e produzam conhecimentos no

processo ensino aprendizagem.

Sobre as estratégias que utilizam em sala de aula, de uma forma geral, a maioria utiliza

os materiais fixados nas paredes como letras, números, figuras, nomes dos alunos etc. Foi

possível identificar que as professoras mantêm um trabalho voltado para leitura através de

contação de história, foi citado também jogos, cartazes, materiais didáticos, músicas, vídeos

entre outros. Percebemos de modo geral que é através do lúdico que as professoras desenvolvem

seu trabalho em sala de aula. Como afirma Piaget (1998, p. 160), “a atividade lúdica é o berço

obrigatório das atividades intelectuais da criança, ou seja, indispensável à prática educativa”.

Sobre os conhecimentos de leitura e escrita se os alunos já trazem de casa, todas

relataram que sim, pois eles, como seres pensantes, convivem em ambientes onde esses

conhecimentos circulam e por eles são adquiridos.

Sobre as dificuldades encontradas em desenvolver o trabalho de alfabetização citaram a

falta de interesse por parte dos alunos, a falta de acompanhamento dos pais, como também

descobrir as habilidades de cada um para desenvolver um bom trabalho.

As educadoras responderam que o processo de alfabetização e letramento caminham

juntos, e que uma complementa a outra, pois cada uma tem sua função específica de ser

trabalhada dentro do contexto escolar.

Com base nas questões respondidas, foi possível perceber que as professoras trabalham

com um objetivo comum; a possibilidade de as crianças da educação infantil terem algum

conhecimento sobre o sistema alfabético de escrita, no qual elas vão se apropriando dos

aspectos gráficos dessa linguagem, isto é, das letras, do uso de maiúsculas e minúsculas, da

pontuação, da segmentação e da orientação da escrita.

Desse modo, os resultados da pesquisa foram significativos, pois as professoras

reconhecem que a educação infantil é a base da Educação e deve ser concebida e entendida

como um momento fundamental no desenvolvimento infantil, uma vez que as crianças se

utilizam de diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem ideias e

hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar.

27

3 CONSIDERAÇÕES

Diante da pesquisa realizada, obtivemos resultados relevantes sobre o processo de

alfabetização e letramento na educação infantil. Através das observações pudemos perceber

como esse processo acontece no âmbito educacional, à importância de inserir as crianças dessa

faixa etária nas práticas sociais de leitura e escrita e a possibilidade de uma construção de

conhecimentos antes de entrar no ensino fundamental.

Ao término deste trabalho, acreditamos que os objetivos desejados foram alcançados,

pois durante as visitas realizadas na turma do Jardim IV, constatamos que são grandes os

avanços das crianças no processo de aprendizagem quando inseridas desde cedo as práticas de

alfabetizar e letrar no contexto escolar. Nos registros feitos pelos alunos percebemos que o

processo de aprendizagem nessa etapa da Educação Básica se amplia, na medida em que são

trabalhados, de modo intencional, os processos de produção e leitura de textos. Ao mesmo

tempo em que constroem o sistema alfabético de escrita, as crianças vão se apropriando dos

aspectos gráficos dessa linguagem, isto é, das letras, do uso de maiúsculas e minúsculas, da

pontuação, da segmentação e da orientação da escrita.

De acordo com os dados coletados das professoras entrevistadas, evidenciamos que elas

trabalham de forma intencional e planeja as práticas em sala de aula, utilizam a ludicidade como

estratégias para um bom desenvolvimento na aprendizagem dos alunos, já que o ato de educar

é uma prática transformadora, carregada de intencionalidade, onde todos os sujeitos envolvidos

neste processo, alunos e educadores, são sujeitos históricos, isto é, são responsáveis pela

construção histórica da sociedade da qual fazem parte.

Podemos afirmar que a criança é um ser social, sujeito atuante nas diversas práticas

sociais, e que é preciso conhecer seus modos de produção e expressão, para planejar situações

capazes de desafiá-las, ajudando-as a avançar nas suas aprendizagens e no seu desenvolvimento

de suas capacidades.

Nesse processo, o professor tem um papel fundamental, ele deve se responsabilizar por

propiciar bons contextos de mediação e ter competência de criar condições para que as

aprendizagens ocorram, considerando e respeitando o ritmo de aprendizagem de cada criança,

pois é ele quem planeja as melhores atividades, aproveita as diversas situações do cotidiano e

potencializa as interações.

Refletir sobre a possibilidade de uma iniciação à língua escrita adequada às

características da Educação Infantil implica em garantir às crianças o acesso à herança cultural

da escrita, responsável por mudanças fundamentais na história dos homens e no próprio modo

28

de pensar. Implica ainda incluir todas as crianças no contexto da cultura escrita, acolher suas

diferentes práticas sociais e o sentido que elas podem construir.

É, portanto, desafio da Educação Infantil democratizar o acesso às práticas sociais da

leitura e da escrita presentes na cultura letrada, disponibilizando as crianças os conhecimentos

e as experiências necessárias para pensar sobre sua própria língua. No Brasil, em especial, essa

defesa é ainda mais necessária, dado que, para a grande maioria das crianças, é na escola que

se encontra a única oportunidade de obter informações que desde sempre circulam entre as

famílias mais escolarizadas.

O contato com a leitura e a escrita, entretanto, não garante que todas as crianças leiam

e escrevam autonomamente aos cinco anos. Tampouco isso é objetivo desse segmento, o que

não impede que isso ocorra muitas vezes. O que importa é garantir à criança a oportunidade de

pensar sobre o assunto, de ter ideias próprias sobre como se lê e como se escreve e testar suas

hipóteses.

Pode-se dizer que há duas esferas de conhecimento em jogo na aprendizagem da escrita.

O primeiro deles e o mais importante é o funcionamento da linguagem escrita. Saber como se

expressa por escrito, transitando com propriedade nos diferentes contextos de comunicação, do

oral e informal para o formal e escrito, é um conhecimento fundamental que pode ser construído

desde a educação Infantil. Além disso, as crianças também podem pensar sobre como se

escreve, quais são as regras que regem o funcionamento desse sistema e que permite a elas

desvendar o mistério, a magia da escrita, a razão pela qual qualquer pessoa pode pronunciar as

mesmas palavras por meio do mesmo conjunto de letras, como enfatizou Emília Ferreiro

(2006).

Ao ler e escrever por conta própria em contextos socialmente reais de escrita, as crianças

podem aprender as diferentes funções que a escrita assume no mundo: informar, educar, divertir

etc. Reconhecer o papel simbólico da escrita na cultura, suas funções e os valores que os adultos

atribuem a ela são algumas das aprendizagens possíveis. Dessa forma, o processo de

aprendizagem dessa linguagem pelas crianças nessa etapa da Educação Básica se amplia, na

medida em que são trabalhados, de modo intencional, os processos de produção e de leitura de

textos.

Portanto, os dados da pesquisa nos revelam que os professores possuem um

conhecimento sobre os conceitos de alfabetização e letramento e ressaltaram a importância de

trabalhar esses conceitos de forma integrada, pois ambos devem estar presentes nas instituições

de educação infantil como práticas sociais reais, de forma significativa e criativa, mediando às

múltiplas relações que são estabelecidas com e entre as crianças.

29

4 REFERÊNCIAS

ALBERT, É.. Letramento no contexto da Educação Infantil: Uma análise com crianças de

0 a 2 anos. Disponível

em<http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/IIICILLIJ/Trabalhos/Trabalhos/S4/evelinalbert.pdf>

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colocando o ensino como eixo norteador do trabalho pedagógico com crianças de 4 a 6 anos”.

In: ARCE, A.; MARTINS, L. M. (Orgs.). Quem tem medo de ensinar na educação infantil?

:em defesa do ato de ensinar. 2ªedição. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.

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