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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA -SEDIS
CURSO DE PEDAGOGIA
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE
APRENDIZAGEM
IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ MAIA
MARTINS-RN
2016
IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ MAIA
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE
APRENDIZAGEM
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade à distância, do
Centro de Educação, da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como requisito parcial
para obtenção do título de Licenciatura em
Pedagogia.
Orientação: Profa. Ma. Elza Maria Silva de
Araújo Alves.
MARTINS-RN
2016
ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE
APRENDIZAGEM
Por
IZABEL CRISTINA DA COSTA QUEIROZ MAIA
Artigo Científico apresentado ao Curso de
Pedagogia, na modalidade à distância, do
Centro de Educação, da Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, como requisito parcial
para obtenção do título de Licenciatura em
Pedagogia.
Aprovado em 13 de junho de 2016.
BANCA EXAMINADORA
Profa. Ma. Elza Maria Silva de Araújo Alves (Orientadora)
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Profa. Doutoranda. Janima Bernardes Ribeiro
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Profa. Doutoranda. Maria Aparecida da Silva Miranda.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
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ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: UMA PERSPECTIVA DE
APRENDIZAGEM
Izabel Cristina da Costa Queiroz Maia1
Elza Maria Silva de Araújo Alves2
RESUMO
O presente artigo tem como foco a alfabetização e o letramento na Educação Infantil: uma
perspectiva de aprendizagem. A pesquisa está embasada no método qualitativo, no qual
entrevistarei alguns professores que atuam na área da Educação Infantil. Temos como objetivos
analisar as práticas de alfabetização e letramento na educação infantil em uma escola pública
no município de Martins/RN. A escolha em trabalhar essa temática se deu pelo fato de atuar
nesse nível de ensino e considerar relevante ensinar a alfabetização e letramento na Educação
Infantil, pois é por meio desse contato diversificado em seu ambiente social que as crianças
descobrem o aspecto funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade
pela linguagem. Assim, introduzir as práticas de alfabetização e letramento no contexto infantil
contribuirá para o desenvolvimento integral da criança, facilitando também para seu
aprendizado nas séries iniciais do ensino fundamental. Para responder essas questões a pesquisa
toma-se como bases referenciais teóricos de: Magda Soares (1998-2001-2003-2004-2009), Lev
Vygotsky (1984-1991), Emília Ferreiro e Ana Teberosky (2001-2003), Jean Piaget (1973-1975-
1998) e do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) no que se referem
à aprendizagem da linguagem escrita, os quais pressupõem interação entre sujeitos de uma
cultura letrada e requerem uma ação intencional e planejada. Foi em função disso que a
sociedade delegou à escola o papel de ensiná-la e, hoje, reconhece-se a possibilidade de
trabalhar o processo de construção dessa linguagem desde a Educação Infantil. Para buscar
dados reais sobre a pesquisa, procedeu-se à aplicação de um questionário adaptado e validado,
no qual entrevistamos cinco professoras que atuam na área da Educação Infantil, que
responderam ser relevante trabalhar as práticas de alfabetização e do letramento na Educação
Infantil. Selecionamos seis crianças para fazer a análise da escrita, e constatamos resultados
positivos em relação à evolução das práticas de alfabetizar/letrar na educação infantil. O
processo de aprendizagem nessa etapa da Educação Básica se amplia, na medida em que são
trabalhados, de modo intencional, os processos de produção e leitura de textos. Ao mesmo
tempo em que constroem o sistema alfabético de escrita, as crianças vão se apropriando dos
aspectos gráficos dessa linguagem, isto é, das letras, do uso de maiúsculas e minúsculas, da
pontuação, da segmentação e da orientação da escrita. Dessa forma, a alfabetização e letramento
são processos que caminham juntos, esse trabalho, em específico, buscou um repensar da
aquisição da língua escrita, baseado no alfabetizar letrando.
Palavras chave: Alfabetização. Letramento. Educação Infantil.
1 Graduanda do Curso de Pedagogia da EaD da Universidade Federal do Rio Grande do Norte 2 Profª Orientadora: Graduada em Letras pela UFRN, Mestra em Estudos da Linguagem pela UFRN. Atua como
professora de Língua Portuguesa e Inglesa em escolas públicas, Faculdade e como Professora Pesquisadora no
Curso de Graduação em Pedagogia, EaD - UFRN.
5
ALFABETIZATION AND LITERACY IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION: A
LEARNING PERSPECTIVE
ABSTRACT
This article focuses on Alfabetization and literacy in kindergarten: a learning perspective. The
research is grounded in qualitative method, I will interview some teachers who work in the area
of early childhood education and it raims to analyze the alfabetization and literacy practices in
early childhood education. The choice to work this theme was made because of the acting for
twelve years in this level of education and consider relevant teaching alfabetization and literacy
in early childhood education, because it is through this diverse contact in their social
environment that children discover the functional aspect of written communication, developing
interest and curiosity about language. So introduce alfabetization and literacy practices in child
context contribute to the integral development of the child, also making it easier for their
learning in the early grades of elementary school. To answer these research questions it takes
as basis the theoretical frameworks of: Magda Soares (1998-2001-2003-2004-2009), Lev
Vygotsky (1984-1991), Emilia Ferreiro e Ana Teberosky (2001-2003), Jean Piaget (1973-1975-
1998) and the National Curriculum Reference for Early Childhood Education (1998), as they
relate to learning the written language, which assumes interaction between subjects of a literate
culture and requires a deliberate and planned action. It was because of this that society has
delegated to the school's role to teach it, and today it is recognized that the ability to work the
process of construction of this language from kindergarten. To get real data on the research, we
proceeded to the application of an adapted and validated questionnaire, which interviewed five
teachers working in the field of early childhood education, respondents be relevant to work
alfabetization practices and literacy in kindergarten. We selected ten children to do the analysis,
and found positive results regarding the evolution of the practices of literacy / literate in early
childhood education. The learning process in this step Basic Education expands to the extent
they are been worked, intentionally, the production processes and reading text. While building
the alphabetic system of writing, the children go appropriating the graphic aspects of the
language, that is, the letters, the use of uppercase and lowercase letters, punctuation,
segmentation and writing guidance. Thus, alfabetization and literacy are processes that go
together, this work, in particular, sought a rethinking of written language acquisition, based on
literacy alphabetizing.
KEYWORDS: Alfabetization. Literacy. Child Education.
6
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como tema “Alfabetização e Letramento na Educação Infantil”.
A ideia de trabalhar esse tema surgiu em virtude de atuar como professora nesse nível de ensino
e por considerar relevante inserir as práticas sociais de leitura e escrita para os “pequeninos”,
porque essas práticas são à base de qualquer processo de ensino e de aprendizagem da
linguagem escrita, e que amenizam as dificuldades que muitos alunos ainda enfrentam ao
ingressarem no ensino fundamental.
Mesmo que a alfabetização seja um processo que só se inicia oficialmente no primeiro
ano do ensino fundamental, suas bases são lançadas bem antes disso, pois desde que nasce a
criança está exposta às práticas sociais da leitura e escrita.
Partindo dessa concepção, apresentamos neste artigo uma investigação realizada acerca
das práticas de alfabetização e letramento desenvolvidas na educação infantil em uma escola
pública, localizada no município de Martins RN, bem como algumas contribuições em inserir
esse processo desde cedo na vida das crianças na faixa etária de 0 a 6 anos.
De acordo com Magda Soares (2009), a alfabetização e o letramento devem ter sua
presença na Educação Infantil. Os pequenos, antes mesmo do ensino fundamental, devem ter
acesso tanto a atividades de introdução ao sistema alfabético e suas convenções – a
alfabetização, como também práticas sociais de uso da leitura e da escrita – o letramento.
Para responder as nossas indagações nos centramos nos seguintes referenciais teóricos:
Magda Soares (1998-2001-2003-2004-2009), Lev Vygotsky (1984-1991), Emília Ferreiro e
Ana Teberosky (2001-2003), Jean Piaget (1973-1975-1998) e do Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil (1998).
A pesquisa realizada teve como objetivos: a) analisar práticas de alfabetização e
letramento na educação infantil e b) observar, na escrita das crianças, indícios da importância
de se introduzir desde cedo, práticas de alfabetização e do letramento no contexto infantil. Está
centrada no método qualitativo. Foi realizada uma investigação para saber em que nível de
alfabetização se encontrava os alunos dessa instituição de ensino. Ressaltamos que foi escolhida
uma amostra da resposta de 50% dos alunos pesquisados.
Além disso, foi utilizado para análise um questionário, no qual cinco educadoras que
atuam na área da Educação Infantil do Centro Educacional Prof.ª Agá Fernandes, instituição
localizada na cidade de Martins/RN, responderam a algumas indagações sobre o entendimento
que possuem a respeito da alfabetização e letramento, como desenvolvem a prática educativa
7
em torno desses conceitos e as possíveis contribuições para aquisição da leitura e escrita pelas
crianças.
Durante muito tempo, a educação infantil restringiu o contato das crianças com a escrita,
acreditando que se tratava de uma atividade escolarizada, mais pertinente às crianças maiores e
não as pequenas que ainda precisavam brincar. Atualmente, já se reconhece que, assim como
tudo que está em seu entorno, as crianças notam a presença da escrita e se interessam por
desvendá-la. Cabe aos professores, cuidar para que o contato com a escrita seja prazeroso,
desafiador, encantador, mantendo aceso o desejo da criança de aprender a escrever.
Até pouco tempo atrás, essa era uma tarefa difícil de realizar. Os antigos métodos de
alfabetização, baseados em práticas de prontidão em exercícios repetitivos de coordenação
motora estavam muito presentes nas representações dos professores e, em muitos casos, eram
os únicos recursos conhecidos. Ainda hoje, essa é uma realidade em muitas regiões do país.
Tais métodos, apesar de populares, são inconvenientes porque afastam as crianças de um
contato significativo com as manifestações socialmente aceitas da escrita, e enfatizam a
decodificação de escrito, mas não a significação, a compreensão e fruição da linguagem que se
usa para escrever.
Apesar das divergências metodológicas dos teóricos da área, existe certo consenso sobre
o fato de que a aprendizagem da linguagem escrita não depende de um amadurecimento
psicológico ou biológico, mas sim, de complexos processos de construção de conhecimentos
ancorados nas oportunidades sociais que as crianças possam ter com a escrita.
Atualmente, não se defende qualquer método de alfabetização, mas sim uma abordagem
que trabalhe diversas práticas sociais de leitura e escrita, que trate as manifestações de nossa
língua em sua complexidade e não da decodificação de sinais simples.
Nesta pesquisa, a alfabetização e o letramento são apresentados como etapa muito
importante na educação infantil, pois o processo de construção da base alfabética durante o qual
as crianças formulam e reformulam hipóteses, construindo explicações sobre o que a escrita
representa e como ela é representada, elas vão se apropriando da dimensão sonora da escrita,
percebendo a relação entre o que falamos e o que escrevemos, desenvolvendo passo a passo a
capacidade de representação alfabética e aproximando-se progressivamente das convenções
ortográficas com suas regularidades e irregularidades.
Dessa forma, através da pesquisa de campo realizada pudemos perceber a importância
de introduzir as práticas de alfabetização e letramento na primeira fase da criança na escola,
pois desde o seu nascimento a criança interage com os signos, figuras, letras, números e tudo
que possa ter um significado para a linguagem escrita. E a educação infantil, apesar de ser uma
8
fase na qual predomina a oralidade, torna-se uma etapa fundamental para a alfabetização e
letramento, na qual as crianças possam vivenciar práticas que integrem conhecimentos
construídos por elas no âmbito da oralidade e da escrita.
Dessa forma, segue no tópico abaixo informações relevantes para a compreensão do
tema a ser debatido nesse artigo.
2 HISTÓRIA DA ALFABETIZAÇÃO
A história da alfabetização iniciou-se quando os homens tiveram que criar sistemas de
símbolos e signos, isto é, criaram formas de representar para que pudessem viver em
coletividade, comunicando-se uns com os outros, trocando informações, enfim, agindo no
mundo.
Colaborando com a exposição acima, é relevante citar Oliveira (1992, p. 15), quando
nos mostra os três períodos principais da história da Alfabetização.
Da antiguidade até o século XVIII, aproximadamente, quando o método
utilizado era exclusivamente sintético, normalmente o processo alfabético.
A partir do século XVIII, com o início da oposição teórica ao método sintético,
que só se efetivou no início do século XX com Decroly (lembrando que a
partir desse período coexistiram os processos fônico e silábico, do método
sintético, bem como os processos de palavração, sentenciarão e global de
contos, do método analítico).
Na atualidade, vivemos a revisão crítica dos métodos tradicionais de
alfabetização, provocada pelos índices continuamente alarmantes de fracasso
escolar nessa fase da escolarização, e com questionamentos propiciados, a
partir da década de 1980, pelas pesquisas de Emília Ferreiro e Ana Teberosky
sobre a Psicogênese da Língua Escrita.
Com isso, podemos dizer que houve um grande avanço no sistema de alfabetização, e
que, com o avanço de pesquisas sobre os métodos de alfabetização poderão facilitar cada vez a
aquisição do conhecimento pelo aluno.
Destacamos ainda a importância da escrita no processo de alfabetização, pois essa
contribui para que o leitor possa ter um maior contato com a linguagem escrita.
De acordo com Cagliari (1999, p.10)
Constata-se de que o inventor da escrita inventou ao mesmo tempo as regras
da alfabetização, ou seja, as regras que permitem ao leitor decifrar o que está
escrito, entender como o sistema de escrita funciona e saber como usá-lo
apropriadamente. A alfabetização é, pois, tão antiga quanto os sistemas de
escrita. De certo modo, é a atividade escolar mais antiga da humanidade.
9
Diante dessa visão, o processo de alfabetização ocorre pela compreensão da natureza
desse sistema de representação, ou seja, o educando vai reconstruir esse sistema comparando
suas hipóteses sobre a escrita com a escrita convencional, até construir uma representação
alfabética.
A educação infantil, como campo de estudo e prática na educação, é relativamente
recente, atualmente essas instituições não têm mais a conotação de um simples cuidado com a
criança enquanto a família trabalha. Hoje se preconiza que o cuidar e o educar devem estar
presentes de forma integrada e que a rotina diária deve ser planejada, organizada e considerada
como elemento constitutivo da prática pedagógica. De acordo com Soares (2009, p.8).
Até muito recentemente, assumia-se que a criança só poderia dar início ao seu
processo de aprendizagem da leitura e da escrita em determinada idade e, por
conseguinte, em determinado momento de sua educação institucionalizada,
como por exemplo, aqui no Brasil, aos 06 anos, idade de ingresso no primeiro
ano do ensino fundamental.
Ao pensar em propostas pedagógicas para essa faixa etária, precisaremos conhecer as
concepções de desenvolvimento humano e aprendizagem para podermos ofertar uma proposta
com qualidade e de acordo com as potencialidades de crianças entre zero e seis anos. Conhecer
como elas aprendem, conhecem o mundo e se desenvolvem deve ser a base para todo o trabalho
do educador, além de compreendermos a importância do lúdico e, especialmente, das
brincadeiras de faz de conta para o desenvolvimento.
Essa é a primeira etapa da educação básica, segundo o artigo 21, da Lei de Diretrizes e
Bases Nacional nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996 e tem como objetivo cuidar e educar
crianças de zero a cinco anos de idade. Nesse sentido, o Referencial Curricular Nacional para
o referido ensino organiza o seu currículo em eixos temáticos a fim de contemplar o
desenvolvimento integral da criança, nos aspectos cognitivos, sociais, afetivos, motores, entre
outros.
A educação infantil requer planejamento adequado à faixa etária e às peculiaridades da
infância. Para isso, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) traz
orientações para o trabalho pedagógico docente, trata-se de um documento construído
especialmente para os profissionais dessa área, prevê fornecer referências e orientações
pedagógicas e contribuir para práticas educativas de qualidade.
Segundo o que consta o RCNEI (BRASIL, 1998, p.117):
A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem
da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui
em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão
10
e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada
ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro
competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever.
Na Educação Infantil trabalhar de forma lúdica com atividades de alfabetização só
trazem benefícios aos pequeninos, pois é brincando que eles aprendem. Neste caso, é
importante integrar atividades livres e direcionadas, pois todas são fundamentais para o
desenvolvimento integral do aluno e de suas capacidades. A partir disso compreendemos que:
[...] atividades de expressão como o desenho, a pintura, a brincadeira de faz-
de-conta, a modelagem, a construção, a dança, a poesia e a própria fala [...]
são essenciais para a formação da identidade, da inteligência e da
personalidade da criança, além de constituírem as bases para a aquisição da
escrita como um instrumento cultural complexo (MELLO, 2009, p.22).
Assim, trabalhar essas habilidades nessa fase é muito importante, pois a mesma requer
profunda atenção no que se refere ao respeito das peculiaridades e esquemas de conhecimentos
próprios a cada faixa etária e nível de desenvolvimento das capacidades criativas das crianças.
É preciso reconhecer que o acesso inicial à língua escrita não se reduz ao aprender a ler
e escrever no sentido de aprender a grafar palavras e decodificar palavras, não se reduz à
alfabetização no sentido que é atribuído a essa palavra. Soares (2009, p. 7) destaca alguns
objetivos sobre o acesso inicial a leitura e a escrita que são:
Compreender o que é lido e escrever de forma que os outros
compreendam o que se escreve;
Conhecer diferentes gêneros e diferentes portadores de textos e fazer
uso deles para ler e para escrever;
Participar adequadamente dos eventos de várias naturezas de que fazem
parte a leitura ou a escrita;
Construir familiaridade com o mundo da escrita e adquirir
competências básicas de uso da leitura e da escrita;
Desenvolver atitudes positivas em relação à importância e ao valor da
escrita na vida social e individual.
É notório perceber que os objetivos citados por Soares (2009) estão introduzidos, porque
durante o tempo de permanência na escola, a criança participa de atividades diversificadas e
direcionadas, seja através do brincar, das leituras lidas pelo professor, do contato direto com
livros infantis, ou seja, elas estão rodeadas de materiais que facilitará seu conhecimento sobre
o processo de leitura e escrita.
11
Dessa forma, é importante ressaltar que a alfabetização na educação infantil deve ser
introduzida de forma que não deva ser tão sistematizada, e que a criança conheça e adentre em
um mundo da escrita e das letras de forma divertida. Assim, mostramos no tópico seguinte
informações acerca da alfabetização na educação infantil.
2.1 ALFABETIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
Embora a alfabetização não seja uma exigência de aprendizagem da educação Infantil,
observamos com Vygotsky (1991) que o ensino da linguagem escrita pode ter lugar, desde a
pré-escola, e que se respeite todo o processo de desenvolvimento pelo qual cada criança deve
passar. O importante na aquisição da linguagem escrita é que ela seja percebida como algo
importante e necessário pela criança. Essa é a primeira conclusão a que o autor chega, “[...] a
leitura e a escrita devem ser algo de que a criança necessite.” (id, p.156) e que sejam percebidos
como algo relevante para sua vida.
Para entender melhor o conceito de alfabetização, vejamos o que afirma Soares (2003,
p. 15):
[...] o termo alfabetização designa tanto o processo de aquisição da língua
escrita quanto o de seu desenvolvimento: etimologicamente, o termo
alfabetização não ultrapassa o significado de “levar à aquisição do alfabeto”,
ou seja, ensinar o código da língua escrita, ensinar as habilidades de ler e
escrever; [...] alfabetização em seu sentido próprio, específico: processo de
aquisição de código escrito, das habilidades de leitura e escrita. [Grifo no
Original]
Assim, para a autora, alfabetizada é a pessoa que aprende a ler e escrever, mesmo que
não faça uso das mesmas, ou seja, não incorporam à sua vida a prática da leitura e da escrita.
Do ponto de vista de Soares, as atividades do cotidiano escolar da educação infantil
como os rabiscos, os desenhos, os jogos, as brincadeiras de faz-de-conta, não são consideradas
atividades de alfabetização, mas na verdade já faz parte desse processo.
A fase inicial da aprendizagem da língua escrita, constituindo, segundo
Vygotsky, a pré-história da linguagem escrita: quando atribui a rabiscos e
desenhos ou a objetos a função de signos, a criança está descobrindo sistemas
de representação, precursores e facilitadores da compreensão do sistema de
representação que é a língua escrita. (Soares, 2009, p.8)
Constatamos, desse modo, que é a partir dos rabiscos ou desenhos realizados pelas
crianças, ou seja, aquilo que elas se apropriam são símbolos que mais adiante são transformados
em letras para representar à escrita. Ainda, segundo Vygotsky, “as vivências de representações
12
semióticas, não propriamente linguísticas, é um primeiro passo em direção à representação da
cadeia sonora da fala pela forma gráfica da escrita” (Soares, 2009, p.8).
A fase citada acima pode ser comparada como a pré-história da escrita onde às crianças
supõem estar escrevendo quando na verdade estão rabiscando ou imitando a escrita dos adultos,
isso significa um avanço no processo de alfabetização, um reconhecimento da natureza
arbitrária da escrita. É o primeiro nível, entre os níveis por que passam as crianças em seu
processo de conceptualização do sistema alfabético, identificados tão claramente por Emília
Ferreiro e Ana Teberosky (2001): níveis icônicos e da garatuja, pré-silábico, silábico, silábico-
alfabético e alfabético.
Conforme Soares (2009), quase todos esses níveis podem ocorrer na educação infantil.
As pesquisadoras Emília Ferreiro e Ana Teberosky (2001), identificaram os níveis investigando
comportamentos de crianças de 4, 5 e 6 anos, e nesses estudos comprovaram que sendo bem
orientadas e incentivadas por meio de atividades adequadas e de natureza lúdica, evoluem
rapidamente em direção ao nível alfabético.
De acordo com Piaget, o processo de desenvolvimento de determinadas habilidades
motoras e intelectuais se dá através de estágios: “um estágio comporta ao mesmo tempo um
nível de preparação, por um lado, e de acabamento, por outro [...] é necessário distinguir, em
toda a sucessão de estágios, de processos de formação ou de gênese e as formas de equilíbrio
finais [...].” (PIAGET, 1973b, p. 52).
Piaget fala sobre a teoria do desenvolvimento da criança, onde descreve quatro estágios,
que ele próprio chama de fases de transição (PIAGET, 1975). São eles: Sensório-motor (0 – 2
anos); Pré-operatório (2 – 7, 8 anos); Operatório-concreto (8 – 11 anos); operatório – formal (8
– 14 anos). De uma forma geral, todos os indivíduos vivenciam essas quatro fases na mesma
ordem, porém, cada pessoa tem seu tempo e sua maturação para iniciar e terminar cada uma
dessas fases. Por isso, a classificação das faixas etárias não pode ser considerada regra.
Assim, cada estágio por qual a criança passa constitui-se em formas particulares de
equilíbrio, caracterizam-se por uma sucessão constante de aquisições, sendo sua ordem
cronológica bastante variável, pois esta depende da experiência anterior do sujeito, do meio
social, que pode acelerar ou retardar o aparecimento de um estágio, e não somente da sua
maturação biológica.
Na concepção de Piaget (1973) além da equilibração, outros fatores são responsáveis
pelo desenvolvimento cognitivo: a maturação, as experiências com o objeto de conhecimento e
a transmissão ou interação social.
13
Em outra perspectiva, a aprendizagem da leitura e da escrita se inicia na educação
infantil. Os professores dessa clientela devem realizar um trabalho acompanhando
gradativamente a idade cronológica das crianças, primeiramente fazer exercícios
mimeografados de coordenação perceptivo-motora, como passar o lápis sobre linhas
pontilhadas, ligar elementos gráficos (levar o passarinho ao ninho, fazer os pingos da chuva
etc.). Essas atividades tornam-se características das instituições de educação infantil. Depois
vem outro trabalho com base na cópia de vogais e consoantes, ensinadas uma de cada vez, essa
atividade tem como objetivo possibilitar à criança relacionar sons e escrita por associação,
repetição e memorização de sílabas.
A prática em geral realiza-se de forma supostamente progressiva: primeiro as vogais,
depois as consoantes; em seguida as sílabas, até chegar às palavras. Outra face desse trabalho
de segmentação e sequenciação é a ideia de partir de um todo, de uma frase, por exemplo,
decompô-la em partes até chegar às sílabas. Acrescenta-se a essa concepção a crença de que a
escrita das letras pode estar associada, também, à vivência corporal e motora que possibilita a
interiorização dos movimentos necessários para reproduzi-las “A instituição de Educação
Infantil é um lugar onde predomina o espontâneo e as brincadeiras prazerosas, ou seja, há uma
atmosfera não diretiva no trabalho pedagógico". (ARCE, 2010, p.21).
Vale ressaltar diante desse contexto, a importância de trabalhar de forma lúdica com os
pequeninos, uma vez que, proporciona uma aprendizagem prazerosa por meio do brinquedo,
das brincadeiras do faz de conta, do desenho e dos jogos, favorecendo o desenvolvimento
integral das crianças pequenas. Portanto, todas essas práticas educativas desenvolvidas pelo
professor de educação infantil devem ser orientadas e direcionadas, tornando assim, um
trabalho voltado para o aprendizado do aluno e que este seja capaz de desenvolver suas
capacidades de imaginação e criação.
Trabalhar frequentemente atividades consideradas de natureza lúdica como a repetição
de parlendas, a brincadeira com frases e versos trava-línguas, as cantigas de roda, a
memorização de poemas, podem influenciar de forma positiva para a compreensão do princípio
alfabético. Para Soares (2009, p.8) “jogos voltados para o desenvolvimento da consciência
fonológica, se realizados sistematicamente na educação infantil, criam condições propícias e,
inclusive, necessárias para a apropriação do sistema alfabético”.
Ensinar as letras para crianças dessa faixa etária deve-se seguir uma sequência gradativa
para que a criança comece a assimilar o processo inicial da escrita. Partindo desses
pressupostos, citamos o que consta no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
- RCNEI (1998, p.120):
14
Nas atividades de ensino de letras, uma das sequências, por exemplo, pode ser
primeiramente uma atividade com o corpo (andar sobre linhas, fazer o
contorno das letras na areia ou na lixa etc.), seguida de uma atividade oral de
identificação de letras, cópia e, posteriormente, a permissão para escrevê-la
sem copiar. Essa concepção considera a aprendizagem da linguagem escrita,
exclusivamente, como a aquisição de um sistema de codificação que
transforma unidades gráficas.
Nas últimas décadas, pesquisas baseadas na análise de produções das crianças e das
práticas correntes, têm apontado novas direções no que se refere ao ensino e a aprendizagem da
linguagem oral e escrita, considerando a perspectiva da criança que aprende. Ao considerar as
crianças ativas na construção de conhecimentos e não receptoras passivas de informações, há
uma transformação substancial na forma de compreender como elas aprendem a falar, a ler e a
escrever.
Diante disso, o letramento deve ser trabalhado de forma mais sistematizada pelos
professores da área, por esses possibilitarem uma gama de conhecimentos para as crianças. Em
virtude disso, fazemos uma exposição pertinente sobre o letramento no próximo tópico.
2.2 LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
O termo letramento é uma palavra nova em nosso país, pois até bem pouco tempo, no
início de 1980, não ouvíamos falar sobre o assunto. Foi mais ou menos em 1986 que Mary
Kato, em seu livro: “No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística”, da Editora Ática,
escreve as primeiras palavras referentes ao tema, tornando-se tema de discussão entre
pesquisadores e profissionais da Educação Infantil.
Nesse sentido, podemos compreender que na Educação Infantil deve-se preocupar com
o desenvolvimento da linguagem enquanto processo de interação, isto é, com o processo
denominado nos últimos tempos de letramento, termo que Soares (2001, p. 24) define como:
[...] letramento é que um indivíduo pode não saber ler e escrever, isto é, ser
analfabeto, mas ser, de certa forma, letrado (atribuindo a este adjetivo sentido
vinculado a letramento). Assim, um adulto pode ser analfabeto, porque
marginalizado social e economicamente, mas, se vive em um meio em que a
leitura e a escrita têm presença forte, se interessa em ouvir a leitura de jornais
feita por um alfabetizado, se recebe cartas que outros leem para ele, se dita
cartas para que um alfabetizado as escreva ( e é significativo que, em geral,
dita usando vocabulário e estruturas próprios da língua escrita), se pede a
alguém que lhe leia avisos ou indicações afixados em algum lugar, esse
analfabeto é, de certa forma, letrado, porque faz uso da escrita, envolve-se em
práticas sociais de leitura e de escrita [...]
15
Em outras palavras, o que a autora pontua é que letrado é o indivíduo que passa a fazer
uso da leitura e da escrita, a envolver-se nas práticas sociais de leitura e escrita, ou seja, é aquela
pessoa que, além de saber ler e escrever faz uso frequente e competente da leitura e da escrita.
Segundo o Referencial Curricular para a educação infantil nas sociedades letradas, as
crianças, desde os primeiros meses, estão em permanente contato com a linguagem escrita. É
por meio desse contato diversificado em seu ambiente social que elas descobrem o aspecto
funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por essa linguagem.
Diante do ambiente de letramento em que vivem, as crianças podem fazer, a partir de dois ou
três anos de idade, uma série de perguntas, como “O que está escrito aqui? ”, ou “O que isto
quer dizer? ”, indicando sua reflexão sobre a função e o significado da escrita, ao perceberem
que ela representa algo.
Nesse documento ainda é importante mencionar que, para aprender a escrever a criança
terá de lidar com dois processos de aprendizagem paralelos: o da natureza do sistema de escrita
da língua – o que a escrita representa e como – e o das características da linguagem que se usa
para escrever. A aprendizagem da linguagem escrita está intrinsicamente associada ao contato
com textos diversos, para que as crianças possam construir sua capacidade de ler, e às práticas
de escrita, para que as crianças possam desenvolver a capacidade de escrever autonomamente.
Constata-se, que, desde muito pequenas, as crianças podem usar o lápis e o papel para
fazer garatujas, imprimindo marcas, tentando imitar a escrita dos mais velhos, assim como se
utilizam de livros para emitir sons e gestos como se estivessem lendo. Partindo desse
entendimento, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI 1998, p.128)
“ressalta a importância do manuseio de materiais, de textos (livros, jornais, cartazes, revistas,
etc.) pelas crianças, uma vez que ao observar produções escritas a criança, vai conhecendo de
forma gradativa as características formais da linguagem”.
Dessa forma, dispor livros para as crianças manusearem constituem práticas que devem
estar presentes desde os primeiros anos de vida, no qual as crianças podem imitar uma variedade
de gestos e ações que vão muito além dos limites de suas próprias capacidades. Por meio da
imitação, a criança irá apropriar-se dos comportamentos leitores e significar a prática da leitura,
condição necessária para a aprendizagem.
Desde muito pequenas as crianças elaboram uma série de ideias e hipóteses provisórias
antes de compreender o sistema escrito em toda sua complexidade. Sendo assim o Referencial
Curricular Nacional para Educação Infantil (1998, p. 128) destaca que:
16
As hipóteses elaboradas pelas crianças em seu processo de construção de
conhecimento não são idênticas em uma mesma faixa etária, porque
dependem do grau de letramento de seu ambiente social, ou seja, da
importância que tem a escrita no meio em que vivem e das práticas sociais de
leitura e escrita que podem presenciar e participar.
Diante desse contexto, as crianças que convivem em um ambiente letrado, onde suas
famílias fazem uso dessas práticas sociais de leitura e escrita, com certeza irá aprender com
mais facilidade do que aquelas que vivem em ambientes onde essas práticas não circulam.
O letramento tem um início muito cedo e é algo que não termina nunca, ou seja, vivemos
em um mundo letrado, onde temos acesso a muitas informações, como revistas, livros, bulas de
remédio, placas, etc. É importante ter claro, que letrar é mais do que alfabetizar, porque
conforme Soares (2003) o letramento é a capacidade de entendimento que o sujeito tem sobre
o que vê, escuta e lê.
Soares (2009) ainda aponta que, a leitura frequente de histórias para crianças é, sem
dúvida, a principal e indispensável atividade de letramento na educação infantil. Se
adequadamente desenvolvida, essa atividade conduz a criança, desde muito pequena, a
conhecimentos e habilidades fundamentais para a sua plena inserção no mundo da escrita. Para
soares (2009, p.8), essa atividade
[...] que leva a criança a se familiarizar com a materialidade do texto escrito,
conhecer o objeto livro ou revista, descobrir que as marcas na página,
sequência de letras, escondem significados, que textos é que são “para ler”,
não as ilustrações, que as páginas são folheadas da direita para a esquerda, que
os textos são lidos da esquerda para a direita e de cima para baixo, que os
livros têm autor, ilustrador, editor, tem capa, lombada...
Ao manusear os livros, as crianças podem mobilizar aquilo que aprenderam ao ouvir
histórias lidas pelo professor, imitando seus comportamentos leitores. Na exploração desse
objeto podem reproduzir gestos de folhear, apontar para as palavras e imagens, pronunciar
palavras ao percorrerem o texto com os olhos, significando simultaneamente a prática de leitura
e o objeto livro. O contato com textos e imagens, bem como a possibilidade de manusear o
livro, permite que aprendam, sobretudo, o uso e o significado social do livro, distinguindo-o
dos brinquedos e de outros objetos de seu cotidiano.
Soares (2009) aponta que a leitura de histórias é uma atividade que enriquece o
vocabulário da criança e proporciona o desenvolvimento de habilidades de compreensão de
textos escritos, de inferência, de avaliação e de estabelecimento de relações entre fatos. Tais
17
habilidades serão transferidas posteriormente para a leitura independente, quando a criança se
tornar apta a realizá-la.
De acordo com os pressupostos teóricos da concepção de letramento, a criança, desde o
momento que entra em contato com a linguagem, escrita e oral, e percebe sua função, que é
para a primeira, o registro da fala e, para a segunda, ler o que está registrado, já está participando
do processo de letramento, diz Soares (2004). Assim, podemos afirmar que a criança faz parte
de um mundo letrado, mundo que, na verdade, já faz parte desde o seu nascimento, pois desde
este momento já interage com os signos, figuras, letras, números e tudo que possa ter significado
para a linguagem escrita. A autora considera essa criança letrada, vejamos:
[...] a criança que ainda não se alfabetizou, mas já folheia livros, finge lê-los,
brinca de escrever, ouve histórias que lhe são lidas, está rodeada de material
escrito e percebe seu uso e função, essa criança é ainda “analfabeta”, porque
não aprendeu a ler e escrever. Mas já penetrou no mundo do letramento, já é,
de certa forma, letrada. (SOARES, 2009, p, 24).
Diante das palavras da autora, a criança que não é alfabetizada, mas está imersa de
diversos materiais no seu dia a dia, na família ou na escola, compreende as histórias contadas,
finge que está escrevendo, de certa forma essa criança não é alfabetizada, mas, é letrada.
Além dos textos literários, a autora destaca que é de suma importância trabalhar outros
tipos de textos, como os textos informativos, textos injuntivos, textos publicitários, textos
jornalísticos, histórias em quadrinhos, etc. Introduzir desde cedo esses diversos gêneros textuais
na instituição de educação infantil, dar suporte para a criança identificar o objetivo de cada
gênero, o leitor a que se destina o modo específico de ler cada gênero.
Na Educação Infantil, é um dever trabalhar com a concepção de letramento com as
crianças, desde o momento que esta chega à instituição infantil, estimulando-a a participar
ativamente do processo de construção da leitura e da escrita do seu mundo e não do mundo do
educador ou dos autores de cartilhas e livros didáticos. Fazer com que as crianças tenham
liberdade de expressão e que possam experimentar as múltiplas linguagens, como a música,
dança, artes, leituras de literatura infantil clássica e brasileira, histórias em quadrinhos, jogos,
brinquedos e brincadeiras, entre outras.
Atividades de letramento com a escrita podem e devem ter presença frequente na
Educação Infantil, diante disso Soares (2009, p. 9) destaca:
A todo o momento, surgem oportunidades de registrar algo como apoio à
memória, de ditar para o adulto uma carta que se quer enviar a alguém, de
construir um cartaz sobre um trabalho desenvolvido. Enfim, são inúmeras as
18
situações que podem ser aproveitadas para que as crianças percebam a função
de escrita para fins diversos e a utilizem em práticas de interação social.
É de suma importância trabalhar as práticas da leitura e escrita, pois são à base de
qualquer processo de ensino aprendizagem da linguagem escrita. Não é possível pensar sobre
a escrita sem praticá-la. Não trabalhar essas práticas significa ocultar esse assunto das crianças,
já que é impossível obter informações sobre a escrita fora dos atos sociais em que ela se
manifesta.
Para dar início ao processo de leitura e escrita, a criança precisa entender que letras
representam os sons das palavras faladas e que tenham conhecimento de duas habilidades que
são: o conhecimento alfabético e a consciência fonológica. Essas duas habilidades são
conhecidas como preditores do sucesso na alfabetização, pois como está no Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p.122):
Para aprender a ler e a escrever, a criança precisa construir um conhecimento
de natureza conceitual, precisa compreender não só o que a escrita representa,
mas também de que forma ela representa graficamente a linguagem. Isso
significa que a alfabetização não é o desenvolvimento de capacidades
relacionadas à percepção, memorização e treino de um conjunto de
habilidades sensório-motoras. É, antes, um processo no qual as crianças
precisam resolver problemas de natureza lógica até chegarem a compreender
de que forma a escrita alfabética em português representa a linguagem, e assim
poderem escrever e ler por si mesmas.
Assim, para que as crianças se apropriem da linguagem escrita precisa compreender o
sistema de representação de códigos de ordem conceitual e construírem conhecimento por meio
de práticas que têm como ponto de partida e de chegada o uso da linguagem e a participação
nas diversas práticas sociais de escrita.
Em virtude do exposto, trabalhar junto a alfabetização e o letramento é de fundamental
importância para um bom processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Assim, ressaltamos
alguns pontos de vista no tópico abaixo, bem como a análise dos dados coletados no campo de
pesquisa, já mencionado anteriormente, referente ao processo de alfabetização e letramento.
2.3 INTEGRANDO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO
A alfabetização e o letramento são componentes da introdução da criança no mundo da
escrita que devem ser trabalhadas de forma integrada. Dessa forma, “Alfabetizar e letrar são
duas ações distintas, mas não inseparáveis, ao contrário, o ideal seria alfabetizar letrando, ou
19
seja, ensinar a ler e a escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita” (SOARES,
1998, p. 47).
Dessa forma, é necessário compreender a diferença entre os dois conceitos e que cada
um possui suas peculiaridades, não devendo confundir a função e o significado de cada um, no
entanto, é de fundamental importância que se realize uma alfabetização articulada com o letrar,
pois é impossível na sociedade atual em que vivemos permitir que nossos alunos sejamos
privados de conhecer o que é o letramento, e não existe maneira melhor de apresentá-lo do que
associado ao alfabetizar.
Assim, percebemos que existe uma diferença entre o alfabetizar e o letrar, porém,
embora sejam conceitos distintos, os dois precisam caminhar juntos, para que haja um sucesso
no trabalho de apropriação das habilidades linguísticas na Educação Infantil (BRASIL, 1998).
A base será sempre o letramento, já que leitura e escrita são, fundamentalmente, meios
de comunicação e interação, enquanto a alfabetização deve ser vista pela criança como
instrumento para que possa envolver-se nas práticas e usos da língua escrita. Assim, a história
lida pode gerar várias atividades de escrita, como pode provocar uma curiosidade que leve à
busca de informações em outras fontes; frases ou palavras da história podem vir a ser objeto de
atividades de alfabetização, poemas podem levar à consciência de rimas e aliterações.
O essencial é que as crianças estejam imersas em um contexto letrado, pois sabemos
que o processo de alfabetização se desenvolve mais facilmente quando as crianças chegam à
escola tendo uma maior familiaridade com a escrita, obtida em contextos nos quais ela circula
com usos e funções sociais. Tal como na vida cotidiana, a escola pode apresentar situações,
contextos e materiais capazes de estimular o interesse e a atenção dos alunos.
Por essa razão, um elemento importante do trabalho de alfabetização se refere à
qualidade e à diversidade do material que é disponibilizado no contexto escolar, ou seja, na
criação e manutenção, pelo professor, de um ambiente alfabetizador. Metodologicamente, a
criação desse ambiente se concretiza na busca de levar as crianças em fase de alfabetização a
usar a língua escrita, mesmo antes de dominar as primeiras letras, organizando a sala de aula
com base nela.
Conceitualmente, a defesa da criação do ambiente alfabetizador estaria baseada na
constatação de que saber para que a escrita sirva e saber como é usada em práticas sociais,
auxiliariam a criança em sua alfabetização, por dar significado e função ao processo de ensino-
aprendizagem da língua escrita e por criar a necessidade de se alfabetizar, favorecendo, assim,
a exploração, pela criança, do funcionamento da língua escrita.
20
Para Ana Teberosky (2003), um ambiente alfabetizador “é aquele em que há uma cultura
letrada, com livros, textos - digitais ou em papel – um mundo de escritos que circulam
socialmente. A comunidade que usa a todo o momento esses escritos, que faz circular ideias
que eles contêm, é chamada alfabetizadora”. Permitindo desta maneira, a inserção da língua
escrita no cotidiano do alfabetizando, sejam por meio de revistas, jornais, gibis, cartazes, das
palavras na lousa, ou de situações cotidianas, como outdoors, letreiro de ônibus ou metrô, caixas
eletrônicos etc.
Constata-se a partir desse contexto que as crianças constroem conhecimentos sobre a
escrita muito antes do que se supunha e de que elaboram hipóteses originais na tentativa de
compreendê-la amplia as possibilidades de a instituição de educação infantil enriquecer e dar
continuidade a esse processo. Essa concepção supera a ideia de que é necessário, em
determinada idade, instituir classes de alfabetização para ensinar a ler e escrever. Aprender a
ler e a escrever fazem parte de um processo ligado à participação em práticas sociais de leitura
e escrita.
Diante dessa realidade, segue no próximo tópico a análise de uma pesquisa realizada
com alunos e professores do Centro Educacional Professora Agá Fernandes, instituição
localizada na cidade de Martins/RN.
2.4 A IMPORTÂNCIA DA ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: A CRIANÇA E SEU PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO
Segundo o Referencial Curricular para Educação Infantil, as crianças que são
provenientes de famílias em que a leitura e a escrita são marcantes, apresentam maior facilidade
para lidar com as questões da escrita, do que aquelas que não têm este modelo de práticas de
leitura em seu lar. É essencial na prática pedagógica com as crianças da Educação Infantil ter
um ambiente letrado, pois quanto mais cedo forem estimuladas mais estarão contextualizadas
no mundo atual.
Com a finalidade de investigar e coletar dados sobre o processo de Alfabetização e
Letramento na Educação Infantil foi realizada uma visita na turminha do Jardim IV, no qual
pude observar como acontece esse trabalho em sala de aula, perceber os avanços dos alunos e
ver de perto a importância de introduzir desde cedo essas práticas no cotidiano escolar das
crianças.
Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil “As crianças têm
ritmos próprio e a conquista de suas capacidades linguísticas se dá em tempos diferenciados,
21
sendo que a condição de falar com fluência, de produzir frases completas e inteiras provém da
participação em atos de linguagem”.
Diante do exposto, apresentamos e a análise dos dados coletados.
As pesquisas sobre o processo de alfabetização vêm mostrando que, para poder se
apropriar do nosso sistema de representação da escrita, a criança precisa construir respostas
para duas questões:
1- O que é a escrita?
2- Qual a estrutura do modo de representação da escrita?
Vejamos abaixo alguns registros de alunos sobre o processo de desenvolvimento da
escrita.
FIGURA 01 FIGURA 02
22
FIGURA 03
Na figura 01, o garoto acredita que uma letra representa uma palavra, a menor unidade
de emissão sonora. Para ele, é preciso um número mínimo de letras para que esteja escrito
alguma coisa, porém, já tem noção do valor sonoro das letras. Ele acredita que uma letra pode
ser considerada uma palavra.
Na figura 02, a menina ainda não estabelece diferença clara entre o sistema de
representação da escrita e do desenho, em três palavras que ditamos, ela fez desenhos para
representar à escrita e as demais palavras ditadas escreveu apenas uma letra, mas, percebeu que
as palavras diferentes correspondiam a escritas diferentes, portanto, essa criança encontra-se no
nível pré-silábico.
Na figura 03, a hipótese com a qual essa menina trabalhava é a de que cada letra
representa uma emissão sonora, isto é, uma sílaba oral. A aluna demonstra um razoável
conhecimento do valor sonoro convencional das letras, adaptando-as as necessidades de sua
hipótese conceitual. A criança se encontra na hipótese silábica, em que descobre que a
quantidade de partes de uma palavra escrita tem correspondência com a quantidade de partes
da mesma palavra falada (emissão oral).
Por meio das observações e registros dos alunos sobre o desenvolvimento da escrita,
percebemos que houve um grande avanço para essas crianças de apenas cinco anos de idade,
pois analisando as produções realizadas por elas percebemos que tomam consciência,
gradativamente, das características formais da linguagem.
Os registros de escrita das crianças são excelentes fontes para a avaliação e o estudo do
professor. Por isso, além das escritas infantis, é importante que o professor as complemente
com informações recolhidas em suas observações e conversas com as crianças.
23
Continuando a investigação sobre o tema abordado, foi realizada uma entrevista com
cinco professoras que atuam na escola Centro Educacional Professora Agá Fernandes do
município de Martins para buscar respostas e dados sobre as práticas de Alfabetização e
Letramento na Educação Infantil.
A entrevista foi desenvolvida através de um questionário respondido pelas docentes da
devida escola. Sobre o uso de questionário como instrumento de pesquisa, Gray (2012) ressalta
que é um instrumento que deve ser utilizado em situações adequadas aos objetivos da pesquisa,
pois uma atividade favorável para a realização de pesquisas em educação.
Desse modo, o questionário ficou organizado com as seguintes questões:
1) Como se dá o processo de Alfabetização e Letramento na Educação Infantil?
2) Que estratégias você utiliza?
3) Na sua concepção, os alunos já trazem um conhecimento de leitura e escrita?
4) Quais as principais dificuldades encontradas ao desenvolver um trabalho de
alfabetização?
5) Alfabetização e Letramento caminham juntos? Por quê?
QUESTÕES RESPOSTAS DAS EDUCADORAS
1) Como se dá o processo de Alfabetização e
Letramento na Educação Infantil?
Professor 1: De forma lúdica e através de
técnicas necessárias para juntos exercer a arte e a
ciência da escrita e da leitura, e certamente
contribuirá para o desenvolvimento do processo
escolar.
Professor 2: O processo de alfabetização e
letramento na Educação Infantil, oferece um
espaço em que a criança tem acesso a leitura e a
escrita antes do ensino fundamental, traçando
laços ao conhecimento do aluno. A partir daí, a
criança cria um espaço lúdico em que, o aluno
descobre a sua visão do mundo apreendendo,
fazendo parte do processo de aprendizagem.
Professor 3: Se dá através de boas práticas de
ensino, isto é, dando oportunidades para as
crianças falarem o que pensam, sobre
determinada coisa ou assunto.
Professor 4: O processo de alfabetização e
letramento na Educação Infantil, se dá através do
processo ensino aprendizagem, juntamente com a
interação, aluno-professor, aluno-aluno durante o
decorrer do cotidiano escolar, embasando-se na
zona de aproximação da clientela.
Professor 5: É necessário mais do que apresentar
para os alunos as letras e sua relação com os sons,
é preciso trabalhar com textos reais estimulando
a leitura e escrita dos diversos gêneros textuais.
24
2) Que estratégias você utiliza?
Professor 1: Utilizamos murais nas paredes da
sala com letras, números, figuras, nomes dos
mesmos, jogos, brincadeiras, historinhas,
músicas, vídeos e materiais concreto que ajudam
no desenvolvimento das crianças.
Professor 2: Uma forma que trabalho com os
alunos do ensino infantil é explorando do lúdico
da criança, uma vez que esse já tem um
conhecimento de vivência, fazendo parte de um
mundo letrado por ter conhecimento e estarem
imersos no ambiente a sua volta.
Professor 3: Os meios de comunicação, livros
infantis, brincadeiras, jogos, brinquedos
educativos e os materiais didáticos, e sempre
pesquisando coisas novas para aprimorar o
conhecimento dos mesmos, tudo isso ajuda-nos a
desenvolver melhor nosso trabalho.
Professor 4: As estratégias utilizadas são as
ferramentas didáticas e as mídias da educação.
Professor 5: Uma sala colorida com diversos
materiais como cartazes, alfabeto fixado na
parede, livros, exposição dos trabalhos, listagem
com o primeiro nome deles, utilizo muito as
cantigas, o lúdico, o faz de conta etc.
3) Na sua concepção, os alunos já trazem um
conhecimento de leitura e escrita?
Professor 1: Sim, ao chegar à escola, as crianças
já trazem conhecimento de mundo, cabe aos
professores usarem mecanismos formais para
explorar esses conhecimentos de leitura e escrita.
Professor 2: Sim, sem dúvida os alunos já trazem
uma boa bagagem quando chega na escola. A
leitura, a escrita e a fala são atividades sociais no
qual o aluno está envolvido e por isso eles como
sujeitos que ensinam e aprendem e que já trazem
consigo conhecimentos diferentes, quando
chegam à escola.
Professor 3: Sim, quando os mesmos chegam a
escola, eles já trazem algum conhecimento, cabe
aos professores aprimorarem esses
conhecimentos.
Professor 4: Sim. Na minha concepção é claro
que os alunos já trazem algum conhecimento
sobre a leitura e a escrita. Pois no mundo de hoje
as crianças vivem na “era digital”, que
consideramos uma grande ferramenta para o
avanço do conhecimento. Isto é conhecimento do
mundo moderno. É com noção da leitura que
temos uma escrita mais correta e vice-versa.
Professor 5: As crianças já vão para a escola com
o conhecimento obtido de maneira informal, os
espaços que frequentam, os objetos, livros que
tem acesso, enfim, eles trazem esse conhecimento
que é absorvido no seu cotidiano.
4) Quais as principais dificuldades encontradas
ao desenvolver um trabalho de alfabetização?
Professor 1: As dificuldades encontradas são
conhecer as habilidades de cada criança, porém,
introduzir as mesmas nas práticas sociais de
25
leitura e escrita é um desafio e ao mesmo tempo
um processo que ocorre nas interações sociais
vivenciadas por elas.
Professor 2: Os alunos do Ensino Infantil, hoje
são vistos como pessoas em formação, cujo
potencial deve ser desenvolvido levando em
consideração os conhecimentos prévios deles e
suas dificuldades encontrada no processo de
alfabetização, estimulando a criança a pensar
criticamente utilizando os diversos recursos
oferecidos pelo professor.
Professor 3: Temos dificuldades, mais
procuramos melhorar estudando, pesquisando e
buscando novos conhecimentos a cada dia para
desenvolver um bom trabalho na educação.
Professor 4: As dificuldades encontradas são
diversas: A falta de interesse dos alunos com o
seu ensino aprendizagem, a não colaboração e
não acompanhamento dos pais na aprendizagem
escolar dos seus filhos etc.
Professor 5: Muitas vezes é a falta de
acompanhamento dos pais, a indisciplina dos
alunos, a falta de interesse deles durante as
atividades diárias, algumas vezes o professor se
acomoda e não busca novos conhecimentos,
novas ferramentas para aperfeiçoar seu trabalho.
5) Em sua opinião, Alfabetização e Letramento
caminham juntos? Por quê?
Professor 1: Sim, porque não existe
alfabetização sem que tenha um letramento,
enquanto um se preocupa com as habilidades de
ler e escrever, o outro se preocupa com a função
social de ler e escrever.
Professor 2: Com certeza, para formar cidadãos
pensantes é preciso que tome conhecimento de
tudo que está presente no seu cotidiano e que este
também aprenda a distinguir o novo, do que já
tem conhecimento. Ou seja, todo sujeito letrado
necessariamente nem precisa alfabetizado.
Professor 3: Sim, porque para se ter um bom
letramento é preciso também está alfabetizado e
vice-versa. Pois isso é importante diante da nossa
sociedade.
Professor 4: Sim. Sempre. Uma complementa a
outra. Ambas andam de mãos dadas em busca de
um aprendizado e um conhecimento mais eficaz,
desde que haja interesse do alunado.
Professor 5: Sim, a alfabetização tem sentido
quando desenvolvida em um contexto de
letramento, por meios de atividades de
letramento, este por sua vez, só pode
desenvolver-se na dependência da aprendizagem
do sistema de escrita.
Fonte: dados coletados pela autora
26
Ao analisar a primeira questão sobre como se dá o processo de alfabetização e
letramento, as professoras citaram o lúdico como estratégia principal, por meio de boas práticas
de ensino e da interação aluno-professor, aluno-aluno. Vemos, então, que o processo
construtivo exige da interação entre os sujeitos envolvidos nas ações realizadas nessas
instituições, possibilitando que as crianças se apropriem e produzam conhecimentos no
processo ensino aprendizagem.
Sobre as estratégias que utilizam em sala de aula, de uma forma geral, a maioria utiliza
os materiais fixados nas paredes como letras, números, figuras, nomes dos alunos etc. Foi
possível identificar que as professoras mantêm um trabalho voltado para leitura através de
contação de história, foi citado também jogos, cartazes, materiais didáticos, músicas, vídeos
entre outros. Percebemos de modo geral que é através do lúdico que as professoras desenvolvem
seu trabalho em sala de aula. Como afirma Piaget (1998, p. 160), “a atividade lúdica é o berço
obrigatório das atividades intelectuais da criança, ou seja, indispensável à prática educativa”.
Sobre os conhecimentos de leitura e escrita se os alunos já trazem de casa, todas
relataram que sim, pois eles, como seres pensantes, convivem em ambientes onde esses
conhecimentos circulam e por eles são adquiridos.
Sobre as dificuldades encontradas em desenvolver o trabalho de alfabetização citaram a
falta de interesse por parte dos alunos, a falta de acompanhamento dos pais, como também
descobrir as habilidades de cada um para desenvolver um bom trabalho.
As educadoras responderam que o processo de alfabetização e letramento caminham
juntos, e que uma complementa a outra, pois cada uma tem sua função específica de ser
trabalhada dentro do contexto escolar.
Com base nas questões respondidas, foi possível perceber que as professoras trabalham
com um objetivo comum; a possibilidade de as crianças da educação infantil terem algum
conhecimento sobre o sistema alfabético de escrita, no qual elas vão se apropriando dos
aspectos gráficos dessa linguagem, isto é, das letras, do uso de maiúsculas e minúsculas, da
pontuação, da segmentação e da orientação da escrita.
Desse modo, os resultados da pesquisa foram significativos, pois as professoras
reconhecem que a educação infantil é a base da Educação e deve ser concebida e entendida
como um momento fundamental no desenvolvimento infantil, uma vez que as crianças se
utilizam de diferentes linguagens e exercem a capacidade que possuem de terem ideias e
hipóteses originais sobre aquilo que buscam desvendar.
27
3 CONSIDERAÇÕES
Diante da pesquisa realizada, obtivemos resultados relevantes sobre o processo de
alfabetização e letramento na educação infantil. Através das observações pudemos perceber
como esse processo acontece no âmbito educacional, à importância de inserir as crianças dessa
faixa etária nas práticas sociais de leitura e escrita e a possibilidade de uma construção de
conhecimentos antes de entrar no ensino fundamental.
Ao término deste trabalho, acreditamos que os objetivos desejados foram alcançados,
pois durante as visitas realizadas na turma do Jardim IV, constatamos que são grandes os
avanços das crianças no processo de aprendizagem quando inseridas desde cedo as práticas de
alfabetizar e letrar no contexto escolar. Nos registros feitos pelos alunos percebemos que o
processo de aprendizagem nessa etapa da Educação Básica se amplia, na medida em que são
trabalhados, de modo intencional, os processos de produção e leitura de textos. Ao mesmo
tempo em que constroem o sistema alfabético de escrita, as crianças vão se apropriando dos
aspectos gráficos dessa linguagem, isto é, das letras, do uso de maiúsculas e minúsculas, da
pontuação, da segmentação e da orientação da escrita.
De acordo com os dados coletados das professoras entrevistadas, evidenciamos que elas
trabalham de forma intencional e planeja as práticas em sala de aula, utilizam a ludicidade como
estratégias para um bom desenvolvimento na aprendizagem dos alunos, já que o ato de educar
é uma prática transformadora, carregada de intencionalidade, onde todos os sujeitos envolvidos
neste processo, alunos e educadores, são sujeitos históricos, isto é, são responsáveis pela
construção histórica da sociedade da qual fazem parte.
Podemos afirmar que a criança é um ser social, sujeito atuante nas diversas práticas
sociais, e que é preciso conhecer seus modos de produção e expressão, para planejar situações
capazes de desafiá-las, ajudando-as a avançar nas suas aprendizagens e no seu desenvolvimento
de suas capacidades.
Nesse processo, o professor tem um papel fundamental, ele deve se responsabilizar por
propiciar bons contextos de mediação e ter competência de criar condições para que as
aprendizagens ocorram, considerando e respeitando o ritmo de aprendizagem de cada criança,
pois é ele quem planeja as melhores atividades, aproveita as diversas situações do cotidiano e
potencializa as interações.
Refletir sobre a possibilidade de uma iniciação à língua escrita adequada às
características da Educação Infantil implica em garantir às crianças o acesso à herança cultural
da escrita, responsável por mudanças fundamentais na história dos homens e no próprio modo
28
de pensar. Implica ainda incluir todas as crianças no contexto da cultura escrita, acolher suas
diferentes práticas sociais e o sentido que elas podem construir.
É, portanto, desafio da Educação Infantil democratizar o acesso às práticas sociais da
leitura e da escrita presentes na cultura letrada, disponibilizando as crianças os conhecimentos
e as experiências necessárias para pensar sobre sua própria língua. No Brasil, em especial, essa
defesa é ainda mais necessária, dado que, para a grande maioria das crianças, é na escola que
se encontra a única oportunidade de obter informações que desde sempre circulam entre as
famílias mais escolarizadas.
O contato com a leitura e a escrita, entretanto, não garante que todas as crianças leiam
e escrevam autonomamente aos cinco anos. Tampouco isso é objetivo desse segmento, o que
não impede que isso ocorra muitas vezes. O que importa é garantir à criança a oportunidade de
pensar sobre o assunto, de ter ideias próprias sobre como se lê e como se escreve e testar suas
hipóteses.
Pode-se dizer que há duas esferas de conhecimento em jogo na aprendizagem da escrita.
O primeiro deles e o mais importante é o funcionamento da linguagem escrita. Saber como se
expressa por escrito, transitando com propriedade nos diferentes contextos de comunicação, do
oral e informal para o formal e escrito, é um conhecimento fundamental que pode ser construído
desde a educação Infantil. Além disso, as crianças também podem pensar sobre como se
escreve, quais são as regras que regem o funcionamento desse sistema e que permite a elas
desvendar o mistério, a magia da escrita, a razão pela qual qualquer pessoa pode pronunciar as
mesmas palavras por meio do mesmo conjunto de letras, como enfatizou Emília Ferreiro
(2006).
Ao ler e escrever por conta própria em contextos socialmente reais de escrita, as crianças
podem aprender as diferentes funções que a escrita assume no mundo: informar, educar, divertir
etc. Reconhecer o papel simbólico da escrita na cultura, suas funções e os valores que os adultos
atribuem a ela são algumas das aprendizagens possíveis. Dessa forma, o processo de
aprendizagem dessa linguagem pelas crianças nessa etapa da Educação Básica se amplia, na
medida em que são trabalhados, de modo intencional, os processos de produção e de leitura de
textos.
Portanto, os dados da pesquisa nos revelam que os professores possuem um
conhecimento sobre os conceitos de alfabetização e letramento e ressaltaram a importância de
trabalhar esses conceitos de forma integrada, pois ambos devem estar presentes nas instituições
de educação infantil como práticas sociais reais, de forma significativa e criativa, mediando às
múltiplas relações que são estabelecidas com e entre as crianças.
29
4 REFERÊNCIAS
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0 a 2 anos. Disponível
em<http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/IIICILLIJ/Trabalhos/Trabalhos/S4/evelinalbert.pdf>
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colocando o ensino como eixo norteador do trabalho pedagógico com crianças de 4 a 6 anos”.
In: ARCE, A.; MARTINS, L. M. (Orgs.). Quem tem medo de ensinar na educação infantil?
:em defesa do ato de ensinar. 2ªedição. Campinas, SP: Editora Alínea, 2010.
BERGER, M. V. B; MORO, N. de O; LAROCCA, P. Psicologia da educação 2. Ponta Grossa:
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