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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
ANDRIELI ALMEIDA DE JESUS
ALIENAÇÃO PARENTAL: INSTRUMENTO DE VINGANÇA PARA
OS PAIS E PREJUÍZO PARA OS FILHOS
CURITIBA
2018
ANDRIELI ALMEIDA DE JESUS
ALIENAÇÃO PARENTAL: INSTRUMENTO DE VINGANÇA PARA
OS PAIS E PREJUÍZO PARA OS FILHOS
Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito. Orientador: Professor Dr. Luis Sérgio Langowiski.
CURITIBA
2018
TERMO DE APROVAÇÃO
ANDRIELI ALMEIDA DE JESUS
ALIENAÇÃO PARENTAL: INSTRUMENTO DE VINGANÇA PARA OS
PAIS E PREJUÍZO PARA OS FILHOS
Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção de título de Bacharel no Curso de Direito da
Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba,___ de_________ de 2018.
______________________________________
Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Monografia do Curso de Direito
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador:____________________________________
Prof. Dr. Luis Sérgio Langowiski
Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito
Supervisor:_____________________________________
Prof.
Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito
Supervisor:______________________________________
Prof.
Universidade Tuiuti do Paraná
Curso de Direito
AGRADECIMENTOS
Dedico este trabalho primeiramente à Deus, e a todos os que sempre me
ampararam e contribuíram direta ou indiretamente, em especial a minha Madrinha
Maria José Pereira que sempre me apoiou incondicionalmente, meu esposo Cleiton
Miranda de Castro pelo amor, atenção, paciência e inspiração, que foram
fundamentais para mais esta conquista, meus pais João Pereira de Jesus Neto e
Maria Almeida de Jesus que sempre estiveram ao meu lado me ajudando, a
Madrinha Terezinha que sempre me deu força, enfim aos amigos em especial a
Daniele Cristina da Maia, por todo o companheirismo. Ao professor Dr. Luis Sérgio
Langowiski que tanta ajuda forneceu para que este trabalho fosse concluído com o
êxito esperado.
É sempre bom aplicar um pouco dos conhecimentos adquiridos na construção de
uma sociedade melhor, que estime os reais valores.
RESUMO
A Alienação Parental é um fenômeno que um dos genitores desmoraliza o outro genitor, provocando que seu filho crie, toda magoa e raiva que ele próprio sente, fazendo com que o menor passe a rejeitar o alienado. Deste modo requer atenção do Judiciário e de todos os operadores do direito para que seja identificada, reprimida e que os danos decorrentes desta ação, sejam devidamente reparados, para que se possa diminuir o sofrimento dos envolvidos nesse processo. Em suma, o estudo tem objetivo de analisar e entender o motivo que os genitores praticam Alienação Parental com seus filhos, desta forma poder reconhecer que a alienação está acontecendo. Além de conhecer através da lei 12.318/2010, conceitos, identificando as principais atitudes do alienador, suas consequências e quais suas penalidade e meios de diminuir seus efeitos.
Palavras-chave: Alienação Parental. Guarda Compartilhada. Dignidade da Pessoa Humana. Estatuto da Criança e do Adolescente.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................09
2 ALIENAÇÃO PARENTAL...............................................................................11
2.1 História e Origem na Família ...........................................................................12
2.2 Identificação de Alienação Parental ................................................................14
3. IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMORIAS ....................................................15
4. CONSEQUÊNCIAS PARA OS FILHOS E GENITORES.................................17
4.1 Filhos................................................................................................................17
4.2 Genitores .........................................................................................................18
5. ANÁLISE DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL LEI nº 12.3180, de 2010.....20
6. INTERVENÇÕES ESTATAIS...........................................................................29
6.1 Constituição Federal..........................................................................................29
6.1.1 Princípio da dignidade da pessoa humana.......................................................30
6.1.2 Princípio da proteção integral à criança e ao adolescente................................30
6.1.3 Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente..............................31
6.1.4 Princípio da convivência familiar.......................................................................31
6.1.5 Princípio da solidariedade familiar.....................................................................32
6.2 Estatuto da Criança e do Adolescente..............................................................33
6.3 Conselho Tutelar...............................................................................................35
6.4 Ministério Público..............................................................................................37
6.4.1 Atuação como fiscal da lei................................................................................37
6.4.1 Atuação como autor de ações judiciais.............................................................39
7 MECANISMOS DE COMBATE...........................................................................42
7.1 Guarda Compartilhada........................................................................................42
7.2 Divulgação de Conceito.......................................................................................45
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................48
REFERÊNCIAS..........................................................................................................49
9
1 INTRODUÇÃO
O presente trabalho se propõe a realizar uma análise sobre o que é
Alienação Parental, e qual suas consequências. Além de conscientizar e esclarecer
a todos sobre como é agressiva e prejudicial às vítimas.
É um fato vivenciado em muitas famílias, sendo que a maioria delas não
sabem que existe e nem a dimensão de sua gravidade. É extremamente danoso e
agressivo ao psicológico de suas vítimas, sendo importante obter uma análise
precisa sobre sua ocorrência para não punir quem está sendo a vítima na relação.
A partir da conscientização das famílias sobre este drama, permite que o
genitor alienado faça uma autoanálise dos próprios comportamentos da criança ou
adolescente. O alienador vitima tendo indícios que está diante de Alienação Parental
saiba tomar as medidas adequadas o mais rápido possível, com auxílio de um
procurador, através de uma ação declaratória de Alienação Parental, poderá
judicialmente reivindicar seus direitos.
O magistrado utilizará técnicas para ter um resultado preciso sobre sua
existência, como, por exemplo, por intermédio de perícia psicológica ou
biopsicossocial constatando assim a prática de Alienação Parental, o juiz poderá
através de instrumentos processuais inibir ou atenuar seus efeitos segundo a
gravidade do caso, conforme Lei nº 12.3180, de 26 de agosto de 2010, art. 6º, em
que define as hipóteses cabíveis para combater a prática.
A Alienação Parental surgiu inicialmente como Síndrome de Alienação
Parental, descoberta em 1985 pelo psiquiatra e professor de psiquiatria infantil na
Universidade de Colúmbia, em Nova Iorque (EUA), Dr. Richard Alan Gardner, definiu
que era um distúrbio, principalmente sofrido por crianças ou adolescentes que
possui pais divorciados, em que um dos genitores manipula para vir a romper os
laços efetivos com o outro genitor. Geralmente, isso acontece, quando o casamento
acaba e os filhos são usados por um dos genitores para atingir o outro, usando o
menor até mesmo como para chantagem contra o ex-cônjuge ou ex-companheiro,
neste caso com intuito de retomar a relação ou para conseguir algo em troca do
afeto.
10
A Lei 12.3180, de 26 de agosto de 2010, regulamenta a Alienação Parental,
criada para proteger direitos fundamentais de crianças e adolescentes,
estabelecendo medidas para que os juízes adotem no combate contra essa questão.
A Constituição Federal também determina como dever da família, do estado
e da sociedade as garantias legais para a criança, jovem e adolescente, como direito
a vida, segurança, educação, alimentação, liberdade, etc. Além de impugnar toda
forma de discriminação, exploração, violência, opressão e crueldade contra o menor.
Importante analisar novos métodos para combater essa prática de maneira
eficaz, por exemplo, foi elaborada pela Associação Brasileira Criança Feliz, com a
participação de especialistas, uma cartilha chamada “Vamos Combater a Alienação
Parental?”, em que foi utilizada uma linguagem acessível e orientações didáticas,
informando aos profissionais das áreas de conhecimento humano que trabalham
com crianças e adolescentes, no que se refere ao trato jurídico como psicológico,
informando de forma organizada e clara do que se trata Alienação Parental e qual
suas consequências, nas questões de saúde física e mental.
11
2 ALIENAÇÃO PARENTAL
É denomina Alienação Parenta ou implantação de falsas memórias. Ocorre
quando na ruptura da vida conjugal, ou em crises durante a relação, um dos
cônjuges não aceita a rejeição ou separação no casamento, muitas vezes
ocasionada por desentendimentos na convivência amorosa, problemas financeiros
ou até mesmo devido à traição.
Absorvendo todo sentimento de tristeza e raiva contra o outro genitor,
obcecado pela vontade de vingar-se de toda dor e desilusão sofrida. A partir disso
utiliza sua arma mais valiosa para atingir seu objetivo, que é a criança ou
adolescente como um instrumento de vingança.
O alienador começa a persuadir seus filhos para acreditar em sua própria
opinião e crenças, entretanto, começa a difamar o outro, criando imagem parental
distorcida, fazendo esquecer de momentos bons vividos, até mesmo descrevendo
fatos que não ocorreram, podendo chegar até mesmo com falsas histórias de abuso
sexual. Em alguns casos o alienador possui uma conduta mais agressiva, forçando
choros e situações forjadas que traumatizam e pioram as condições do genitor
alienado, contudo, passa a não permitir que a criança tenha contato com ele, e
também com terceiros como avós e tios, além de omitir informações pessoais do
menor, como endereço de moradia e de escola, informações sobre saúde, de forma
a dificultar o convivo com a criança ou adolescente.
A partir disso conseguem atingir seu objeto, fazendo com que o menor se
sinta amedrontado com a presença do outro genitor, por mais que o genitor alienado
busque reverter a situação já é tarde, o alienador possui forte influência sobre a
criança e com o passar do tempo o sentimento de desprezo fica mais presente, os
filhos sentem-se traídos e rejeitados e não querem mais vê-lo.
Essa manipulação feita por um dos genitores, colocando o menor contra o
outro não detentor da guarda, provoca um distúrbio na relação parental. É um termo
que caracteriza o exercício abusivo de direito da guarda, e o filho é a arma de
vingança que o alienador tem para prejudicar o relacionamento afetivo com o outro
genitor. A prática deste ato mostra grande dano que são, muitas vezes, irreversíveis,
tanto para quem é vítima como para quem é causador da alienação parental.
12
A Alienação Parental é um assunto de grande relevância na esfera
psicológica e jurídica, e vem sendo bastante discutido devido ao elevado número de
separações e divórcios.
Artigo 2º da Lei nº 12.318 de 2010, diz:
Considera-se ato de alienação parental a interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente promovida ou induzida por um dos genitores, pelos avós ou pelos que tenham a criança ou adolescente sob a sua autoridade, guarda ou vigilância para que repudie genitor ou que cause prejuízo ao estabelecimento ou à manutenção de vínculos com este.
Ainda de acordo com a lei, a desqualificação de um dos progenitores através
da alienação parental deve ser punida em proporção com a gravidade do caso, que
pode ser desde uma advertência formal ao alienador até o pagamento de
multas e suspensão da autoridade parental.
2.1 História e Origem na família.
Décadas atrás a possibilidade de existir a ocorrência de Alienação Parental
era praticamente impossível, devido se tratar de uma sociedade conservadora,
sendo o casamento uma unidade indissolúvel, em que a mulher era preparada para
cuidar da casa e dos filhos e o homem era possuidor do pátrio poder. Mesmo
havendo divorcio o pai era responsável em manter financeiramente sua ex-esposa e
seus filhos, e da mesma forma a mulher fica com o cuidado com os menores.
Ao decorrer dos anos, as mulheres se tornaram independentes, passando a
exercer atividades fora do lar, começando a trabalhar fora e a dividir o cuidado com
os filhos com seu cônjuge. A partir disso os pais passaram a estar mais presente na
vida dos filhos, todavia pegando apreço pela função. Independente da forma do
casamento os pais passaram a ter outra postura em relação às crianças, em casos
de divórcio os mesmos disputam entre si a guarda dos filhos, ocasionando brigas
entre os ex-companheiros.
Nas palavras de Dias:
Com a nova formação dos laços familiares, os pais tornaram-se mais participativos e estão muito mais próximos dos filhos. E, quando da
13
separação, desejam manter de forma mais estreita o convivo com eles. Não mais se contentam com visitas esporádicas e fixadas de forma rígida. A busca da mantença do vínculo parental mais estreito provoca
1 reações de
quem se sentiu preterido. (DIAS, 2010. p.15).
O alienador reconhecendo a vontade de convivência e afeto do alienado
com os filhos, de forma vingativa inicia uma lavagem cerebral na criança, passando
a criticar e denegrir a imagem do genitor que está sendo vítima, fazendo com que o
menor passe a o odiar e a rejeita-lo, acreditando que ele faz mal e não a ama mais.
Em alguns casos ocorrem a implantação a falsas memórias, que na cabeça
da criança, esses fatos contados pelo alienador, são lembrados com de fato
aconteceram, mesmo se tratando de estórias inventadas. Com essas atitudes, ao
longo do tempo cada vez mais se afasta o menor do genitor, e desta forma se dá
origem a Alienação Parental.
Neste sentido, bem exemplifica Ivan Aparecido Ruiz e Valéria Silva Galdino
Cardin “tais condutas sempre existiram, mas somente agora, com a valorização do
afeto nas relações familiares e com a conscientização da paternidade responsável, é
que passaram a ter relevância para a sociedade".
Desde o início de uma separação a criança vítima passa por um abalo
emocional imenso, ocasionando sentimento de rejeição, abandono, ódio, depressão
e inconformismos. O alienador aproveitando-se deste recurso (arma) que são os
filhos, em que estão em momento de maior vulnerabilidade que o normal, contudo,
devido já estarem sofrendo pelo fato de não ter seus pais vivendo juntos, e
sobretudo são condicionados a suportar tamanha violência psicológica com toda
essa situação de disputa entre seus genitores. Tal comportamento fere a
Constituição Federal no artigo 227 caput, com o Estatuto da Criança e Adolescente
nos artigos 3º 4º e 13º que tem por finalidade proteger e resguardar a criança ou
adolescente, determina que o menor não pode ser submetido a qualquer forma de
tortura, seja física ou psicológica, por qualquer que seja.
14
2.2 Identificação de Alienação Parental
A identificação de Alienação Parental inicia com o reconhecimento de
atitudes tomadas por um dos genitores, com intuito de afastar o menor do outro
genitor, em que muitas vezes são confundidas com esquecimento ou falta de
atenção.
A Lei nº 12.318/2010 não veio apenas para conceituar a Alienação Parental,
preocupando-se em trazer, ainda, a indicação de situações características de tal
instituto e quais as sanções cabíveis para tais atos. O parágrafo único e seus incisos
do artigo 2º da referida legislação traz de forma clara e exemplificativa alguns dos
atos mais comuns do genitor alienador:
Parágrafo único: são formas exemplificativas de alienação parental, além dos atos assim declarados pelo juiz ou constatados por perícia, praticados diretamente ou com auxílio de terceiros:
I – realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade; II – dificultar o exercício da autoridade parental; III – dificultar contato de criança ou adolescente com genitor; IV – dificultar o exercício do direito regulamentado de convivência familiar; V – omitir deliberadamente a genitor informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, inclusive escolares, médicas e alterações de endereço; VI – apresentar falsa denúncia contra genitor, contra familiares deste ou contra avós, para obstar ou dificultar a convivência deles com a criança ou adolescente; VII – mudar o domicílio para local distante, sem justificativa, visando a dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro genitor, com familiares deste ou com avós.
O genitor alienante ao adotar essas atitudes, como omitir deliberadamente
do alienando informações pessoais relevantes sobre a criança ou adolescente, já
pode configurar uma conduta ilícita, dificultando o relacionamento familiar saudável.
15
3 IMPLANTAÇÃO DE FALSAS MEMÓRIAS
As memórias são fatos realmente vivenciados, e também uma junção de
tudo que se acredita, pensa, olha, aceita e recebe do meio externo. Vale ressaltar
que nem tudo o que é armazenado em nossa memória de fato aconteceu, nossa
mente trabalha com informações verdadeiras e outras que de fato não existiram, no
caso de Alienação Parental o indivíduo alienador impõe interpretações,
interferências, duvidas e falsos acontecimentos, fazendo com que o filho seja
convencido da existência de um fato e levado a repetir o que lhe é afirmado como
tendo realmente acontecido.
De acordo com Salvador Dali (apud Cockburn, 1998, v.21):
“A diferença entre as falsas memórias e as verdadeiras é a mesma das joias: são sempre as falsas que parecem ser as mais reais, as mais brilhantes”. Constatou-se que esta prática é decorrente em pessoas que possuem distúrbios psicológicos, e por isso merecem tratamento médico urgente.”
A implantação das falsas memórias trata-se de um processo que é repetido
constantemente, em que o genitor alienante conta o menor fatos, sugere
acontecimentos, induzindo a vítima a acreditar que algo realmente aconteceu. Desta
forma induz a criança a lembrar sensações e impressões de momentos que jamais
existiram, tendo em vista que essas invenções são feitas por um indivíduo que o
menor possui extrema confiança, e por conta disso a mente dela tem maior
facilidade absorver falsas recordações. Com o tempo, nem o genitor distingue mais
a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho,
que acaba vivenciando falsos personagens de uma falsa existência.
As falsas memórias se diferem das mentiras, quando se mente, existe a
consciência de que está alegando algo que não se trata da verdade, tendo intenção
neste comportamento, já as falsas memórias a criança não tem condições de
perceber se viveu ou não tal situação, contudo, relata fotos inexistentes como se
fosse vivido.
Essa prática utilizada pelo alienador, é considerada uma das mais eficazes,
pois, é muito difícil distinguir as falsas memórias de fatos que são reais. O juiz ao
receber uma denúncia, mesmo não confirmado se o fato ocorreu, não possui outra
16
opção a não ser suspender as visitas do alienado, durante toda a investigação até
que comprove a inocência do acusado, para que a partir dai autorize a retomada das
visitas, porém, até este ponto o afastamento entre o filho e o genitor já aumentou e
assim evoluindo para um caso mais grave de rejeição.
O psicólogo espanhol, Jorge Manuel Aguilar, elaborou um quadro com
características e comportamentos do menor para facilitar o reconhecimento se o fato
acorreu ou houve implantação de falsas memórias, entretanto, se percebe que
houve abuso sexual quando a criança lembrar do fato ocorrido, sem auxílio relata,
descreve com segurança e conhece de atos sexuais inapropriados para sua idade
como ereção, ejaculação e excitação, indicadores de abuso físico como lesões e
infecções, isolamento social, atraso educativo, sente culpa e vergonha ao narrar o
fato. Já quando se trata de falsa memória o menor precisa relembrar o que seu
genitor programou, não consegue detalhar o ocorrido, não passa credibilidade,
muitas vezes se contradiz, não possui atrasos educacionais, sua conduta social se
mantém inabalada, não possuem indicadores físicos e não sentem culpa ou
vergonha. Apesar deste quadro colaborar para a identificação se houve ou não
abuso, existe uma grande dificuldade de constatar o abuso sexual, muitas vezes
mesmo com a perícia que na maioria das vezes muito demorada, o laudo pode
ainda não ser conclusivo.
Diante de tantos elementos de tortura emocional, utilizados com o intuito de
afastar os filhos do genitor, é impossível que as crianças vítimas dos mesmos não
desenvolvam algum transtorno psicológico. Assim, é importante destacar seus
principais aspectos de modo a tratá-la quanto antes, bem como as providências
coercitivas previstas na legislação e o entendimento atual dos julgadores através de
análises de jurisprudências.
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4 CONSEQUÊNCIAS PARA OS FILHOS E GENITORES
4.1 Filhos
Na construção psíquica pessoal, as crianças necessitam de um ambiente
harmonioso, se sentindo protegida de riscos ou ameaças, para desenvolver de
maneira eficaz a sua formação. O amor e o afeto se tornam fatores importantes
nesse desenvolvimento, principalmente na infância e na adolescência.
As crianças que sofrem com Alienação Parental, devido à forte pressão
emocional empregada pelo alienante passam por várias dificuldades em sua
formação como distúrbios, dificuldades de aprendizagem, depressão, culpa, medo,
isolamento e baixa estima. Com o tempo esses sintomas podem se agravar e
chegar a apresentar transtornos de personalidade na fase adulta, e irá padecer de
um complexo sentimento de culpa por sua cumplicidade referente à tamanha
injustiça cometida ao genitor alienado.
Os efeitos variam conforme a idade, temperamento, personalidade, nível de
maturidade psicológica da criança, e o grau de influência emocional que o genitor
alienante tem sobre ela. A criança sofre muito mais com as brigas entre o casal e
com afastamento dela com um dos genitores, do que com a separação.
Com base nas estatísticas fornecidas pelo IBDFAM – Instituto Brasileiro de
Direito de Família, Pinto (2012) relata várias consequências em detrimento da
ausência ou distanciamento por parte de um dos genitores do menor:
72% de adolescentes que cometem crimes graves e homicídios vivem em lares de pais separados; - 70% dos delinquentes adolescentes e pré- adolescentes cresceram distantes de um genitor; - Crianças sem a presença do pai têm 2 vezes mais probabilidades de baixo rendimento escolar e desenvolverem quadros de rebeldia a partir da 3ª infância; - A taxa de suicídio (ou tentativa) entre adolescentes de 16 e 19 anos de idade triplicou nos últimos 5 anos, sendo que de um em cada quatro suicídios ou tentativas de autoextermínio, três ocorreram em lares de pais ausentes ou distantes; - Crianças na ausência do pai estão mais propensas a doenças sexualmente transmissíveis; -Crianças na ausência do modelo do pai estão mais propensas ao uso de álcool e tabagismo e outras drogas; -Filhas distantes de pai têm 3 vezes mais chances de engravidarem ou abortarem ao longo da adolescência; -Crianças na ausência do pai são mais vulneráveis a acidentes, asma, dores, dificuldade de concentração, faltar com a verdade e até mesmo desenvolver dificuldades de fala; -Vivendo em uma família sem o pai, a disciplina cai vertiginosamente e as chances da criança se graduar com êxito em nível superior cai em 30%; -Meninas que crescem apenas com a mãe têm o dobro de probabilidade de se divorciarem; -Meninas que crescem distantes da figura do pai têm 5 vezes
18
mais chances de perderem a virgindade antes da adolescência; -Meninas distantes do pai têm 3 vezes mais chances serem vítimas de pedofilia ou mesmo de procurarem em qualquer figura masculina mais velha; (IBDFAM, apud PINTO, 2012, p. 6).
4.2 Genitores
Ambos os genitores sofrem consequências graves, psicológica e
emocionais, afetando diretamente no seu dia a dia.
O genitor alienante é aquele que possui a guarda, e busca fazer uma
lavagem cerebral na cabeça do filho. Possui características próprias como,
dominador, manipulador, com baixa autoestima, se recusa a cumprir as decisões
judiciais e a submeter-se a tratamentos, normalmente, possuem transtornos
psicológicos, que podem ser tratados como doença, e conseguem passar para os
filhos suas mágoas e frustrações amorosas vivenciadas. Com o passar dos anos o
filho pode apresentar também transtornos psicológicos, neste momento é que o
alienante irá se arrepender do ato que cometeu e se dar conta do quanto o
prejudicou.
O alienado é aquele que, após a ruptura da relação conjugal, não detém a
guarda do menor e sofre as consequências dos atos praticados pelo alienador, que
visa, em regra, afastá-lo dos filhos, bem como denegrir sua imagem. Suas piores
consequências psicológicas são ficar desestruturado, inseguro emocionalmente,
com baixo rendimento profissional, devido à falta de concentração por conta da
situação vivida. O alienado passa por uma fase muito delicada, pois, se vê obrigado
a travar uma luta contra os efeitos negativos gerados pelo alienador, ou seja, passa
a enfrentar enormes obstáculos para manter o vínculo afetivo com o menor, muitas
vezes sem sucesso. Além de buscar sempre agradá-lo, desfazer a imagem
distorcida que foi falsamente implantada e sobretudo aceitar a rejeição do menor.
Nos casos de implantação de falsas memórias, por exemplo, de abuso
sexual, o alienado pode ser acusado injustamente por um crime que não cometeu,
conforme reportagem feita pelo site da G1, publicado em 02/03/2018:
19
O vendedor Atercino Ferreira de Lima Filho, de 51 anos, será solto nesta sexta-feira (2) após quase um ano preso injustamente. Ele foi condenado a 27 anos de prisão por abusar sexualmente dos filhos quando eles tinham 8 e 6 anos. Há 15 anos, Atercino tentava provar sua inocência. A condenação foi fundamentada nos depoimentos das crianças, que mais tarde contaram que foram obrigadas a mentir sobre os abusos para prejudicar o pai, que estava separado da mãe. Atercino estava preso na Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Atercino e a mulher se separaram em 2002, e os filhos Andrey e Aline ficaram sob a guarda da mãe, que foi morar na casa de uma amiga. Lá, os irmãos contam que sofriam maus tratos e fugiram de casa. Eles moraram em orfanato e, quando saíram, procuraram pelo pai e começaram uma batalha para provar a inocência dele. Em 2012, Andrey registrou em cartório uma escritura de declaração em que afirmava que nunca havia sofrido abusos por parte do pai."Eu, quando criança, era ameaçado e agredido para mentir sobre abusos sexuais", disse o filho de Atercino.. Em 2015, Aline fez uma declaração semelhante. Foi pedida a revisão do processo e o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu por unanimidade que o vendedor é inocente. Um projeto que começou nos Estados Unidos, Innocence Project, que tem a missão de tirar da cadeia pessoas que foram presas injustamente, ajudou a família. As advogadas pediram a revisão do processo e, nesta quinta-feira (1º), o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) decidiu por unanimidade que o vendedor é inocente. Dora Cavalcati, diretora do Innocence Project, explica que os laudos da época da denúncia foram negativos para violência sexual. "Uma psicóloga forense atestou, depois de conversar longamente tanto com o Andrey quanto com a Aline, que eles não tinham nenhuma sequela de violência paterna por condutas de abuso sexual. Atestou que, ao contrário, eles foram crianças que cresceram em meio aos maus tratos infringidos pela mãe e pela companheira da mãe." "Saber que muita gente apoia a nossa causa e que muita gente também passa por esse tipo de situação é o que nos motivou a continuar", disse Aline. Atercino já foi avisado sobre a absolvição e que sua soltura acontece nesta sexta-feira e os filhos estão ansiosos. "Vai ser uma felicidade inenarrável. A gente está esperando há tanto tempo e finalmente dar um abraço no nosso pai", comemora Andrey. (LEPRI, 2018, WEB)
Esta reportagem, relata uma triste história de um pai que sofreu
consequências fortes pela Alienação Parental, chegando no mais alto nível de
gravidade, que foi ficar preso por quase um ano injustamente, acusado de abuso
sexual, e através de uma ação revisional, foi comprovado sua inocência.
20
5 ANÁLISE DA LEI DE ALIENAÇÃO PARENTAL LEI nº 12.3180, de 2010
A necessidade foi de criar a lei 12.3180/10 de Alienação Parental, para
proteger as crianças, desde o início da formação de sua personalidade. Essa fase
inicial servirá como base para o menor adquirir seu conhecimento pessoal e para
apreender a melhor se relacionar com todos os indivíduos que o cercam no meio
familiar, como pai, tio, avos e com os de meio externo professor, colegas de classe,
amigos, etc. Desta forma é de suma importância assegurar os direitos fundamentais
do menor, e garantir uma sociedade saudável.
Em 1988 com a Constituição Federal, as leis nela estabelecida passaram a
dar maior foco para a criança e ao adolescente, que são definidas como classe
indefesa pela sociedade. O que as crianças absolvem nos seus primeiros anos
servirão como base para o longo de sua vida, e para que seja garantido seus
direitos, a Constituição Federal regulamenta deveres indispensáveis para que os
menores possam viver de forma digna, priorizando o desenvolvimento mental,
psicológico e da dignidade da pessoa humana.
Artigo 227º da Constituição Federal:
"É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão."
Observando a Constituição Federal a criança deve ser protegida até mesmo
dos pais, pois, é com eles que os filhos têm a primeira ligação com o mundo externo,
contudo, os genitores servem de modelo para seu desenvolvimento, devendo
manter a integridade dos direitos fundamentais durante a criação do menor.
Conforme determina Ana Carolina Brochado Teixeira:
A conjugação dos direitos e deveres fundamentais elimina qualquer dúvida no que tange a irrestrita consideração da criança e do adolescente como pessoa em desenvolvimento, que exercem papel ativo no próprio processo educacional, e não como objeto das ações e dos direitos de terceiros, principalmente dos adultos. Tornaram-se co-participes das diretrizes da própria vida, à medida que vão adquirindo discernimento. É através desse processo – principalmente através da relação com seus pais – que se
21
constrói sua dignidade e se edifica a sua personalidade. Fazem-se necessário, portanto, o relacionamento com outros e a percepção da alteridade. (2013, p. 111).
A Lei nº 12.3180/10 é resultado do projeto proposto pelo Deputado Regis
Fernandes de Oliveira em 2008, tendo como auxílio o anteprojeto do juiz Elizio Luiz
Peres, sua aprovação terminativa se deu pela Comissão de Constituição de Justiça
e Cidadania em 07 de julho de 2010, e promulgado em 26 de agosto de 2010 pelo
presidente da República, na época Luiz Inácio Lula da Silva.
É importante lembrar que nenhum momento a Lei trata de Síndrome de
Alienação Parental e sim Alienação Parental, pois, a palavra síndrome significa
doença e está ainda não foi registrada em nenhum código internacional de doenças,
tal cuidado foi tomado, pois, essa expressão é muito criticada.
Em decorrência da promulgação da lei surgiram muitas críticas, segundo a
psicóloga Cynthia Rejanne Ciarallo, tal medida pode inibir a família da capacidade
de resolver seus conflitos, argumenta ainda que surge a possibilidade de a criança
ter de depor contra um de seus genitores, aumentando o grau de dificuldade na
convivência familiar e fazendo a se sentir objeto de disputa. Quando um dos
genitores começa a envenenar a criança contra o outro familiar há uma série de
consequências futuras e de difícil descoberta por ocorrer dentro dos lares.
A Lei de Alienação parental possui caráter predominantemente educativo,
visa vigorar com maior efetividade o direito fundamental dos indivíduos envolvidos,
busca limitar autoridades parentais inadequadas, tanto dos genitores como de
terceiros responsáveis pelo menor.
A outra finalidade da criação da lei é dar mais autoridade e segurança aos
operadores do direito, na hora de tomar decisões cabíveis na proteção da criança e
do adolescente como aduz Carlos Gonçalves:
“A lei ora comentada tem mais um caráter educativo, no sentido de conscientizar os pais, uma vez que o Judiciário já vinha tomando providências para proteger o menor quando detectado um caso da aludida síndrome.” (2014, p. 308.)
A partir da criação da Lei 12.3180/10 foi reconhecido a prática da Alienação
Parental, de modo a conferir proteção jurídica aos alienados, tanto o genitor
22
prejudicado, como o menor manipulado. De acordo com as previsões da referida lei,
a apuração do ato de alienação poderá ocorrer em ação autônoma ou incidental e
terá prioridade na tramitação. Constatado o indício da prática de alienação parental,
as primeiras providências que devem ser tomadas pelo magistrado são a oitiva do
Ministério Público e a adoção das medidas provisórias que assegurem a integridade
psicológica do menor. Nesse sentido, o legislador consignou que o juiz deve buscar
assegurar a convivência da criança ou adolescente com o genitor, ou incentivar a
sua reaproximação. Para isso, o magistrado pode utilizar-se do recurso da visitação
assistida, com o acompanhamento de terceiros, ou no recinto do fórum. Não é uma
tarefa fácil para o magistrado, porém, tomar providências como essas é essencial
para a solução do conflito. A detecção da ocorrência de alienação parental é
bastante complexa e depende da análise do conjunto de reações e manifestações
psicológicas dos indivíduos envolvidos. Assim, poderá se empreender com acuidade
a entrevistas pessoais com as partes, investigando-se o histórico do relacionamento
do casal, a forma como se deu a separação e a personalidade dos envolvidos,
inclusive do filho.
Com análise do parágrafo único e seus incisos do artigo 2º da referida
legislação, trazem uma novidade ao ordenamento jurídico brasileiro, dando melhor
conceito do ato para juízes peritos e promotores. Por possuir caráter educativo em
suas normas, demonstra a sociedade os limites éticos, que não podem ser ocorridos
no litígio conjugal, relatar todos os exemplos de alienação parental é impossível,
tendo em vista tudo que vive em um ambiente familiar.
Segundo Eduardo de Oliveira Leite:
Quanto às formas exemplificativas, a Lei agiu com cautela ao se jungir a meros exemplos, logo, o rol apresentado não é numerus clausus, mas, ao contrário, numerus apertus, como tem demonstrado, de forma irrefutável, a dinâmica familiar. Nem tampouco, seria possível engessar em modelo pré-determinado, todas as possibilidades da multifária conduta humana. Aqui o legislador contentou-se com a apresentação de condutas típicas desviantes que podem desaguar em dezenas de outras condutas ilícitas, com maior ou menor grau de interferência na formação psicológica da criança ou do adolescente. (2015, p. 267)
No artigo 3º analisamos as consequências que podem advir do ato de
Alienação Parental, pois, tudo que fere o direito fundamental da criança e do
adolescente, interferindo de forma negativa na convivência familiar saudável, fica
23
sujeito a sofrer sanções judiciais. Esses sansões podem ser impostos tanto para o
alienador que tem o comportamento manipulador, podendo responder por danos
morais, como também para o menor que necessita muito de um apoio psicológico
nesta fase. Explica Hironaka,
Essencialmente justo, de buscar-se indenização compensatória, em face de danos que os pais possam causar a seus filhos por força de uma conduta imprópria, especialmente quando a eles são negados a convivência, o amparo afetivo, moral e psíquico, bem como a referência materna ou paterna concretas, o que acarretaria a violação de direitos próprios da
personalidade humana. (2009, p. 12).
Se o pedido do dano moral é por abandono afetivo, que ocorre em pleno
desenvolvimento psicológico e físico, justamente na fase que mais se necessita de
afeto, fere o direito de convivência. Assim fazem-se titulares desse direito, tanto a
criança quando o genitor alienado.
Art. 3o A prática de ato de alienação parental fere direito fundamental da
criança ou do adolescente de convivência familiar saudável, prejudica a realização de afeto nas relações com genitor e com o grupo familiar, constitui abuso moral contra a criança ou o adolescente e descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrentes de tutela ou guarda.
Artigo 4º se refere aos procedimentos judiciais nos casos de indícios de
Alienação Parental, podendo ser declarada em ação própria, mediante a
requerimento ou de ofício pelo juiz, em qualquer momento do processo, ou mesmo
de forma incidental. Desta forma o dever do judiciário é intervir do mais rápido
possível quando constatado a propagação, evitando maiores consequências. A lei
garante que esta ação tenha tramitação prioritária, entretanto, quanto mais tempo
passar o aumento das agressões se torna significativa tanto para criança quanto
para o alienado.
O juiz para manter o bem-estar do menor, poderá ordenar a alternativa de
visitas assistidas na sede do fórum, conselho tutelar ou até mesmo com a presença
de uma pessoa que o genitor guardião confie. Nos casos extremos que possa
prejudicar a integridade física da criança, por exemplo, em casos de abusos sexuais,
poderá o juiz tomar uma medida mais drástica, proibindo temporariamente as visitas.
Ao relatar a lei prioridade máxima para julgamento, buscar obter um resultado
24
preciso e rápido, para não prejudicar a criança que pode estar sofrendo abuso, ou o
genitor da vítima que pode ser inocente e perder o contato com o filho de forma
injusta.
Art. 4o Declarado indício de ato de alienação parental, a requerimento ou de
ofício, em qualquer momento processual, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público, as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com genitor ou
viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos, se for o caso.
Artigo 5º determina que nos casos de indícios de Alienação Parental, poderá
se valer o magistrado de perícias psicológicas ou biopsicossocial no grupo familiar,
quando julgar necessário. Esta perícia deverá ser feita por profissionais altamente
qualificados ou por equipe multidisciplinar, por se tratar de situações complexas e de
difícil diagnóstico, necessitando de uma análise detalhada do perito por 90 dias que
pode ser prorrogado para manter o bom andamento do processo. Os peritos não
podem deixar-se influenciar, agindo de forma imparcial e assim mantendo a
integridade.
Em caso de convencimento absoluto da materialidade de Alienação Parental
o juiz, poderá dispensar a necessidade de perícia psicológica e biopsicossocial e dar
andamento ao caso, na dúvida o juiz pode verificar a necessidade de uma análise
detalhada por peritos, médicos, pedagogos, entre outros para o melhor
convencimento no momento de dar sua sentença, desta forma completando um
valioso conjunto de informações.
Art. 5o Havendo indício da prática de ato de alienação parental, em ação
autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará perícia psicológica ou biopsicossocial. § 1
o O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica ou
biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo, inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou adolescente se manifesta acerca de eventual acusação contra genitor. § 2
o A perícia será realizada
por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental. § 3
o O perito ou equipe multidisciplinar designada para verificar a ocorrência
de alienação parental terá prazo de 90 (noventa) dias para apresentação do laudo, prorrogável exclusivamente por autorização judicial baseada em justificativa circunstanciada.
25
O artigo 6º define que após declarada a existência de Alienação Parental, o
juiz poderá aplicar sansões no genitor alienador. E tem como fundamento reverter os
efeitos da alienação sobre o menor e alertar o alienante de suas ações.
6o Caracterizados atos típicos de alienação parental ou qualquer conduta
que dificulte a convivência de criança ou adolescente com genitor, em ação autônoma ou incidental, o juiz poderá, cumulativamente ou não, sem prejuízo da decorrente responsabilidade civil ou criminal e da ampla utilização de instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar seus efeitos, segundo a gravidade do caso: I - declarar a ocorrência de alienação parental e advertir o alienador; II - ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado; III - estipular multa ao alienador; IV - determinar acompanhamento psicológico e/ou biopsicossocial; V - determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua inversão; VI - determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente; VII - declarar a suspensão da autoridade parental. Parágrafo único. Caracterizado mudança abusiva de endereço, inviabilização ou obstrução à convivência familiar, o juiz também poderá inverter a obrigação de levar para ou retirar a criança ou adolescente da residência do genitor, por ocasião das alternâncias dos períodos de convivência familiar.
As sanções ocorrem de forma progressiva, ou seja, de acordo com o grau de
agressividade sofrido pelas partes envolvidas, será a punição do alienante, podendo
ser penalizado com mais de uma sanção definida neste artigo. Desta forma com
intuito de restabelecer os laços afetados.
No inciso I, a advertência se dá de maneira mais leve, devido à ocorrência
de alienação ser pequena. Em audiência o juiz irá esclarecer para os envolvidos os
prejuízos de tal conduta e aumentar tais sansões se esta ação continuar.
No inciso II, o juiz busca aumentar o convivo do alienado com o menor,
tendo em vista que o mesmo já sofreu malefícios pela pouca convivência, esta é a
melhor forma de buscar restabelecer o afeto entre o filho e o genitor da vítima.
No inciso III, a multa a ser aplicada não possui valor específico, contudo, não
pode ser quantia elevada, para não haver enriquecimento ou empobrecimentos de
uma das partes. Existem parâmetros que podem ser utilizados para calcular o valor
a ser pago, como o valor do salário mínimo, ou seja, quanto maior for seu ganho,
maior valor será pago.
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Nem todos são favoráveis à aplicação deste inciso, como afirma Gagliano e
Pamplona Filho:
Não somos favoráveis à imposição de medida pecuniária com o fito de impor uma obrigação de fazer, quando se trata de situação em que o “querer estar junto” seja o pressuposto do próprio comportamento que se espera seja realizado. Vale dizer, estabelecer uma multa para que um pai visite o seu filho, passeie com o seu filho, vá ao parque ou ao shopping com ele, em nosso pensar, não surte o efeito social que se espera. (2014, p. 618.)
Esta medida se da não com intuito de lucro, porém, quando se trata de
multa paga em dinheiro, tende-se a ser mais facilmente cumprida, que neste caso,
somente ocorre aplicação de multa no caso de inadimplemento da obrigação.
No inciso IV, entende-se que já está em um nível mais avançado de
Alienação Parental, o juiz pode sugerir acompanhamento psicológico ou
biopsicossocial, com intuito de verificar se os fatos alegados são verdadeiros,
reverter os efeitos da Alienação Parental sobre o menor, e alertar o alienante sobre
as consequências de suas ações.
No inciso V, para atender o melhor interesse do menor, a guarda poderá ser
convertida para compartilhada, ou seja, ambos os genitores possuem
responsabilidade de tomar as decisões a respeito da vida da criança ou adolescente.
Desta forma buscando o aumento do convivo com ambos os genitores, sem afetar
seu vínculo afetivo e o aumento dos traumas sofridos pelo menor. Em casos de
guarda unilateral, poderá o juiz, alterar a guarda exclusiva em favor do genitor que
está sendo vítima, ou em favor dos avós.
Inciso VI, a criança ou adolescente passa a residir em um endereço
determinado, pois, o ato de se mudar constantemente sem justificativa, fere ainda
mais os direitos da criança, com isso dificulta os vínculos, familiares, escolares e
com amigos, etc. Sendo este deve ser aplicado com o artigo 8º deste dispositivo,
juntamente com o inciso III e IV do próprio artigo 7º.
No inciso VII, ocorre a suspensão da autoridade parental, neste caso para a
criança é melhor perder o contato com o genitor alienante, do que continuar a sofrer
com suas intensas manipulações e jogos psíquicos, deverá ser decretada somente
se no caso concreto, não for passível da aplicação de outras medidas. Normalmente
27
se aplica, após os sansões possíveis já forem esgotadas, porém, sem sucesso de
melhora por parte do alienante.
Essas medidas têm o intuito de proteger o menor e, dessa forma, assegurar
seus direitos, principalmente controlar a intensidade dos atos de Alienação Parental,
assim readequar o genitor e este volte a viver normalmente com seu filho e com
convívio saudável.
A guarda compartilhada é a que melhor atende o interesse da criança e do
adolescente, nesta modalidade ambos os pais separados podem participar e se
responsabilizar pelos interesses da vida do menor, permite o vínculo de afeto com
ambos os genitores, proporcionando maior equilibro para no acompanhamento e
crescimento, já a guarda unilateral somente um deles possui esta responsabilidade.
No artigo 7º, define o juiz a guarda de forma unilateral somente para um dos
genitores, entretanto, viabilizando a convivência a favor dele, e contra a alienação
parental, evitando assim danos psicológicos.
Art. 7o A atribuição ou alteração da guarda dar-se-á por preferência ao
genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada.
Segundo a Súmula 383 do Superior Tribunal de Justiça, determina que a
competência para processar e julgar ações conexas de interesse do menor é, em
princípio, do foro do domicílio do detentor de sua guarda. Quando o genitor muda de
endereço para dificultar a relação do filho com o outro genitor, o artigo 8º da lei de
alienação parental define que a alteração de domicílio da criança ou do
adolescente em ações fundadas em direito de convivência familiar é
irrelevante, com exceção de decisão judicial que determine ou de consenso a
ambos os genitores.
Art. 8o A alteração de domicílio da criança ou adolescente é irrelevante para
a determinação da competência relacionada às ações fundadas em direito de convivência familiar, salvo se decorrente de consenso entre os genitores ou de decisão judicial.
Sendo assim o foro competente para o ajuizamento da ação é o do último
domicílio do menor (do seu genitor ou representante legal).
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Estava previsto no artigo 9º da Lei, a utilização do procedimento da
mediação, porém, devido o direito da criança e do adolescente à convivência familiar
ser indisponível, conforme o artigo 227 da Constituição Federal, não podendo ser
examinado mediante procedimentos extrajudiciais, sendo assim este artigo foi
vetado, juntamente com o artigo 10 da Lei que previa pena de detenção de seis
meses a dois anos ao alienante, também foi vetado pelo presidente, devido que com
a aplicação desta pena haveria detrimento à própria criança ou adolescente e que a
inversão da guarda ou suspensão da autoridade parental seria suficiente, até
mesmo porque o ato de Alienação Parental não foi caracterizado como crime por
essa mesma lei.
29
6 INTERVENÇÕES ESTATAIS
O crescimento elevado de Alienação Parental em casos de divórcio e
dissolução de união estável, entretanto, resultou que o estado não tem outra opção
a não ser intervir neste direito dos cidadãos, perante as inúmeras alegações falsas
de inadimplemento de pensão alimentícia, agressão física e abuso sexual, todas
visando suspender ou impedir visitas, destituir o poder familiar, etc. Não há dúvida
quanto à necessidade de intervenção do Estado na Alienação Parental, seu papel se
mostra decisivo para o alcance do melhor interesse do menor, contudo com a
criação da Lei nº 12.318, assegura que qualquer criança ou adolescente que sofra
por Alienação Parental, tenham seus direitos fundamentais preservados, todavia,
tendo em vista que os menores, geralmente estão em fase de desenvolvimento
social e psicológico, e não conseguem ide ntificar sozinhos que estão sendo vítimas
dessas ações.
No mesmo sentido assevera Pereira:
O Estado abandonou sua figura de protetor-repressor, para assumir postura de Estado protetor-provedor-assistencialista, cuja tônica não é de uma total ingerência, mas, em algumas vezes, até mesmo de substituição a eventual lacuna deixada pela própria família como, por exemplo, no que concerne à educação e saúde dos filhos [...] A intervenção do Estado deve apenas e tão somente ter o condão de tutelar a família e dar-lhe garantias, inclusive de 34 ampla manifestação de vontade e de que seus membros vivam em condições propícias à manutenção do núcleo afetivo. (2004, p. 112).
A atuação estatal deve ser no sentido de que a família mantenha seus
vínculos afetivos, atuando apenas em casos de extrema necessidade, em que
direitos fundamentais estão em jogo, buscando sempre atender o melhor interesse
de ambos.
6.1 Constituição Federal
A Constituição Federal traz consigo direitos fundamentais ligados ao menor,
que tem por finalidade garantir e proteger os direitos da criança ou adolescente,
tanto perante a sociedade como em relação à convivência familiar.
30
6.1.1 Princípio da dignidade da pessoa humana
A Constituição de 1988, em seu Artigo 1º, inciso III, instituiu que o Estado
Democrático de Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana,
sendo este o princípio base da comunidade familiar, a dignidade do ser humano
encontra no ceio familiar a base para sua existência. Daí a necessidade de proteção
constitucional, garantindo todos os membros familiares, principalmente a criança e
ao adolescente e destacando a vida humana, atribuindo todo respeito à integridade
física e psíquica das pessoas. Assim, todo e qualquer princípio deve ter como fonte
a dignidade humana, visto que o ser humano é sempre o bem maior a ser protegido.
6.1.2 Princípio da proteção integral à criança e ao adolescente
Antigamente na época da família patriarcal, o filho era tido como mera
propriedade do pai, e não possuía direito algum, devia obediência ao seu pai em
qualquer tipo de situação. No entanto, com as alterações nos contextos sociais,
políticos, econômicos sofridos ao logo do tempo, houve uma transformação na
família e, consequentemente, ocorreram inovações na maneira de lidar com os
menores, uma atenção maior foi-se dada à infância e juventude. Com a evolução na
convivência familiar nasceu a necessidade de um instituto jurídico que assegurasse
as gerações futuras da nação brasileira, portanto, em 1988, a nova Carta Magna
inseriu em seu conteúdo os direitos da criança e do adolescente. No novo texto
constitucional a criança e o adolescente passaram a ser vistos como cidadãos,
merecedores da proteção de seus direitos com a garantia de seu cumprimento,
sendo devidamente observados pelo Estado.
O Princípio da Proteção à criança e ao adolescente foi finalmente
consolidado no Artigo 227 da Constituição Federal vigente:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
31
O princípio da proteção integral afirma que não só o Estado, mas a
sociedade e a família devem zelar pela infância e juventude. Inclusive, o apoio à
família é essencial para que se efetive a proteção, já que a convivência familiar é um
dos direitos fundamentais atribuídos à infanto-adolescência. Destina-se a resguardar
o indivíduo que não consegue ou que ainda não pode defender seus direitos.
Juridicamente, a palavra “integral”, deve ser interpretada literalmente, tornando as
crianças e os adolescentes detentores de um só direito: viver bem. Para tanto o
Estado, a família e a sociedade devem fazer o possível para lhes garantir o melhor
interesse, em todos os aspectos que lhes forem cabíveis.
6.1.3 Princípio do melhor interesse da criança e do adolescente
O princípio do melhor interesse da criança ou do adolescente não estão
explicito na legislação, porém, está incluso no artigo 277 da Constituição Federal,
tratando-se de princípio orientador tanto para o legislador como para o aplicador,
entretanto, apesar de não estar explicito na legislação, este princípio determina a
primazia das necessidades das crianças e do adolescente como critérios de
interpretação da lei, deslinde de conflitos, ou mesmo para a elaboração de futuras
regras. Assim, na análise do caso concreto, acima de todas as circunstâncias fáticas
e jurídicas de pairar o princípio do melhor interesse, como garantidor do respeito aos
direitos fundamentais titularizados por crianças e jovens.
Este princípio garante máxima segurança para aqueles que se encontram
em situação de fragilidade. A criança e o adolescente encontram-se nesta posição
por estarem em processo de amadurecimento e formação da personalidade. O
menor tem, assim, o direito fundamental de chegar à condição adulta sob as
melhores garantias morais e materiais, assegurando-lhe o pleno desenvolvimento e
sua formação cidadã, impedindo os abusos de poder pelas partes mais fortes da
relação jurídica que envolve a criança, já que o menor a partir do entendimento de
tal princípio ganha status de parte hipossuficiente, que por esse motivo, deve ter sua
proteção jurídica maximizada.
6.1.4 Princípio da convivência familiar
32
No caput do artigo 227 da Constituição Federal, estabelece ser dever da
sociedade, do Estado e da família, proporcionar à convivência familiar à criança e ao
adolescente. Tal direito deve ser assegurado a todos da esfera familiar, mas, em
especial, à criança e ao adolescente em razão da importância que o ambiente
familiar representa em seu processo de formação.
Os filhos têm direito a convivência com seus pais, mesmo que divorciados. A
guarda compartilhada, serve-se para garantir o direito das crianças. Nessa óptica, a
convivência é estendida também a outros parentes, fora do núcleo familiar.
Como esclarece Paulo Lobo:
O direito à convivência familiar, tutelado pelo princípio e por regras jurídicas específicas, particularmente no que respeita à criança e ao adolescente, é dirigido à família e a cada membro dela, além de ao Estado e à sociedade como um todo. […] A convivência familiar também perpassa o exercício do poder familiar. Ainda quando os pais estejam separados, o filho menor tem direito à convivência familiar com cada um, não podendo o guardião impedir o acesso ao outro, com restrições indevidas. (2009, p. 30).
6.1.5 Princípio da solidariedade familiar
O princípio da solidariedade familiar tem como objetivo primordial resguardar
as relações de afeto, respeito e consideração entre os membros da entidade
familiar. Quando ocorre a presença da alienação parental o impedimento do convívio
entre genitor alienado e filho, viola o direito não só deste como daquele. A
dissolução de um casamento não deve jamais extinguir a solidariedade familiar, já
que o vínculo entre pais e filhos é indissolúvel.
A solidariedade deve-se dar no auxílio mútuo, material e moral, dando a
devida assistência, amparando e protegendo.
Define Paulo Lobo:
“O princípio da solidariedade incide permanentemente sobre a família, impondo deveres a ela enquanto ente coletivo e a cada um de seus membros, individualmente. Ao mesmo tempo, estabelece diretriz ao legislador, para que o densifique nas normas infraconstitucionais e para que estas não o violem; ao julgador, para que interprete as normas jurídicas e solucione os conflitos familiares contemplando as interferências profundamente humanas e sentimentais que encerram.” (2009, p. 24).
33
6.2 Estatuto da Criança e do Adolescente
O Estatuto da Criança e do Adolescente, com a Lei 8.069/90, veio de
encontro a Constituição Federal, sendo um complemento do outro, conferindo todos
os direitos inerentes à condição de pessoa humana. Desta forma busca garantir
proteção absoluta ao menor em virtude da sua condição peculiar. Diante da maior
vulnerabilidade da criança e/ou adolescente, considera-se que os mesmos devem
gozar de maior proteção e ter uma convivência familiar saudável. Em seu art. 4º, o
Estatuto preceitua que a família e a sociedade, é quem deve assegurar a efetivação
dos direitos dos menores. Tais como: direito à liberdade a convivência familiar e
comunitária, à dignidade e ao respeito.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990.
O Estatuto veio para revolucionar o Direito Infanto Juvenil ao adotar o
Princípio da Proteção Integral, tendo como referência a proteção de todos os direitos
destes.
Segundo Liberati:
A citada doutrina, baseada na total proteção dos direitos infanto-juvenis, tem seu alicerce jurídico e social na Convenção Internacional Sobre os Direitos da Criança, adotada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, no dia 20/11/1989. O Brasil adotou o texto, em sua totalidade, pelo Decreto nº 99.710, de 02/11/1990, após ser ratificado pelo Congresso Nacional (Decreto Legislativo nº 28, de 14/09/1990). (2010, p. 45)
O Estatuto da criança e do adolescente tem como fundamento os Direitos
Fundamentais do Menor o Princípio da Proteção Integral, rompendo com o
pensamento do antigo Código de Menores, e dando prevalência ao Melhor Interesse
do Menor. Segundo esse princípio, a criança e o adolescente, como pessoas em
34
desenvolvimento, devem gozar de condições prioritárias, não cabendo apenas ao
Estado garantir seus direitos e destinar-lhes proteção, mas também à sociedade e à
família. Sendo decorrência lógica desse princípio, e em respeito à pessoa em
desenvolvimento, os casos envolvendo alienação parental devem ser tratados com
cautela, sobretudo na verificação se afirmações são verdadeiras, posto que o
egoísmo que toma os genitores em tais situações não lhes permite enxergar os
danos causados ao menor.
Este foi estabelecido pela Convenção Internacional dos Direitos da Criança,
ratificada pelo Brasil, e em seu art. 3º, inciso I, dispõe, verbis:
Todas as ações relativas às crianças, levadas a efeito por instituições públicas ou privadas de bem-estar social, tribunais, autoridades administrativas ou órgãos legislativos, devem considerar, primordialmente, o melhor interesse da criança. (1989)
O princípio do melhor interesse da criança vem para garantir os direitos
inerentes aos infantes, assegurando-lhes uma formação saudável e cidadã, coibindo
abusos pelas partes mais fortes das relações que os envolvem. Crianças e
adolescentes são considerados hipossuficientes, e devem ter proteção jurídica
maximizada, já que estão passivos de serem facilmente alienados se mantidos em
ambientes não saudáveis à sua formação. Antes do Estatuto da criança e do
adolescente e da Constituição Federal, o menor não era sujeito de quase nenhum
direito, não tendo nenhuma garantia de ter uma infância saudável.
A criança e ao adolescente gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana, com suas garantias, todas as oportunidades e
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e
social, em condições de liberdade e de dignidade.
É dever da família, da comunidade, da sociedade, em geral e do poder
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização,
à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária. Desta forma não podendo os interesses dos pais ou de quaisquer
outras pessoas terem mais peso. É neste sentido que devem agir os magistrados
35
em casos de alienação parental, podendo chegar até a suspender a autoridade
parental se esta for necessária para que seja garantida a plena formação psicológica
da criança ou adolescente.
6.3 Conselho Tutelar
O Conselho Tutelar é um órgão criado pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente, que tem como base garantir os direitos da criança e adolescente, sua
atuação é dar mais agilidade no atendimento do menor. Em casos de Alienação
Parental, tem sua atuação diante das ameaças e violação de direitos da criança e
adolescente, podendo interferir na relação do menor com a família, Estado ou
sociedade. Suas funções principais são receber denúncias de qualquer forma de
maus tratos, violência, negligência contra estes, devendo reconhecer, fiscalizar e
encaminhar os envolvidos aos serviços da rede de proteção existente, além de
promover representações junto aos Ministérios Públicos quando for o caso para
aplicação de medidas judiciais, seja aos pais ou a quem violar seus direitos.
Conforme o artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente:
O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Lei nº 8.069 de 13 de Julho de 1990
Quando ocorre a violação de direitos, o Conselho Tutelar é notificado e
atende as partes envolvidas, identificando a veracidade dos fatos, sendo que se
necessário poderá inclusive pedir, junto ao Poder Judiciário, afastamento do
agressor do convívio com a criança e do adolescente, e ainda em última hipótese,
pedir afastamento dela própria da convivência familiar, e sua colocação em família
substituta. Neste caso o Conselho Tutelar se encarrega de representar os casos de
violação aos órgãos públicos competentes, especialmente Ministério Público, e se
necessário, levá-las ao Poder Judiciário, para que sejam aplicadas as medidas
necessárias. Além preservar a atenção para com a família, por meio das redes
36
socioassistenciais, incentivando e fortalecendo os vínculos familiares por meio de
programas de apoio à família.
A Alienação Parental promove o enfraquecimento dos vínculos familiares e
viola os direitos do menor, contudo, o Conselho Tutelar protege os direitos da
criança e do adolescente e assegura a convivência familiar com ambos os genitores.
O artigo 136 do Estatuto da Criança e do Adolescente, prevê os casos de atuação
do Conselho Tutelar:
Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no art. 101, I a VII; II – atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, I a VII; III – promover a execução de suas decisões, podendo para tanto: a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde, educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança; b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de descumprimento injustificado de suas deliberações. IV – encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que constitua infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V – encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua competência; VI – providenciar a medida estabelecida pela autoridade judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o adolescente autor de ato infracional; VII – expedir notificações; VIII – requisitar certidões de nascimento e de óbito de criança ou adolescente quando necessário; IX – assessorar o Poder Executivo local na elaboração da proposta orçamentária para planos e programas de atendimento dos direitos da criança e do adolescente; X – representar, em nome da pessoa e da família, contra a violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da Constituição Federal; XI – representar ao Ministério Público para efeito das ações de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente junto à família natural. (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009). Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal entendimento e as providências tomadas para a orientação, o apoio e a promoção social da família. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009).
Neste caso o Conselho Tutelar é o órgão que poderá auxiliar ou ser a porta
de entrada de casos de Alienação Parental, para articulação com os demais serviços
socioassistenciais e de saúde como o Centro de Atendimento Psicossocial Infantil
(CAPS) e Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). O
atendimento multidisciplinar neste caso é fundamental e muitas vezes se fará
necessário o tratamento psicológico para a criança e acompanhamento à família.
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6.4 Ministério Público
O Ministério Público pode atuar como órgão interveniente (fiscal da ordem
jurídica) nos termos do artigo 178 do Novo Código de Processo Civil, e órgão agente
(autor de ações judiciais). Nos casos de Alienação Parental às duas situações são
plenamente possíveis de ocorrer, entretanto, nas causas que se constata violação
tão grave dos direitos de crianças e adolescentes, como de Alienação Parental a
legitimidade e interesse do órgão ministerial pode ir além da atuação, podendo
também atuar na resolução das diversas demandas sociais.
6.4.1 Atuação como Fiscal da Lei
Atuando como fiscal lei, o Ministério Público busca sempre o melhor
interesse do menor, acompanhando se seus direitos não estão sendo violados,
nessa hipótese, o órgão atua desvinculado de qualquer uma das partes, cabendo-
lhe somente zelar pela aplicação da lei.
Desta forma conceitua Antônio Cláudio Machado da Costa:
Nenhuma função que exerça o Ministério Público no processo civil o dignifica mais como instituição vocacionada para a defesa dos direitos indisponíveis do que a que realize quando atua como custos legis. Em nenhum outro momento o Ministério Público é tão Ministério Público como quando intervém na condição de fiscal da lei. Realmente, é longe da incômoda posição de parte parcial que melhor pode o Ministério público cumprir o desiderato de responsável, perante o Judiciário, pela „defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis‟, assim como previsto pelo caput do artigo 127 da Constituição
Federal de 1988. (1998. p. 283 /284).
Para obter maior efetividade de sua fiscalização necessita da cooperação
técnica dos demais órgãos públicos responsáveis pela proteção à infância e
adolescência, tais como Conselhos Tutelares, Comissões de Direitos da Criança,
Centros de Referência Especializados de Assistência Social e Centros de
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Referência da Assistência Social, com vistas a investigar e estudar todos os
aspectos relacionados a alienação parental, em tese, praticada.
Como a Alienação Parental é muito difícil de ser reconhecida, muitas vezes
o genitor não tem conhecimento de sua existência, para chegar ao conhecimento do
Ministério Publico se torna mais complicado ainda, se constata que quando um dos
responsáveis pela criança procura o auxílio e orientação da promotoria para
solucionar problemas envolvendo a guarda da criança ou adolescente, o exercício
do direito de visita, a pensão alimentícia, dentre outros temas relacionados ao direito
de família. Desta forma com atendimento ao público e conhecimento das
autoridades sobre o caso, constitui umas das fontes mais importantes para
possibilitar o conhecimento e atuação do Ministério Público em casos de Alienação
Parental.
Constatados indícios de alienação parental, descortina-se ao Promotor de
Justiça uma série de providências a serem adotadas no âmbito extrajudicial, de
forma a salvaguardar de imediato os direitos dos envolvidos, tais como o direito à
convivência familiar e o respeito a sua condição de pessoa em peculiar estado de
desenvolvimento. A partir disso cabe a instauração do procedimento administrativo
idôneo ao caso concreto sendo por Procedimento Administrativo, Procedimento
Preparatório, Inquérito Civil, etc. Requisitando-se a realização de perícias, estudos
sociais, visitas e relatórios de acompanhamento, a depender do caso concreto,
realizando audiências com genitores ou responsáveis. Após a colheita de provas, as
providências a adotar vão desde a conscientização do agente alienador por meio de
um contato direto em audiências extrajudiciais, até a requisição de tratamentos e
acompanhamentos sociais e psicológicos de todos os envolvidos.
Sendo assim nos termos do artigo 4º, da Lei 12.318\2010, diz que no
decorrer de um processo judicial, for verificado indício de alienação parental, a
requerimento ou de ofício, em ação autônoma ou incidentalmente, o processo terá
tramitação prioritária, e o juiz determinará, com urgência, ouvido o Ministério Público,
as medidas provisórias necessárias para preservação da integridade psicológica da
criança ou do adolescente, inclusive para assegurar sua convivência com o genitor
ou viabilizar a efetiva reaproximação entre ambos.
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Desde o início do processo, deve o membro do Ministério Público se portar
irredutível quanto ao cumprimento dos mandamentos da Lei da Alienação Parental e
do Estatuto da Criança e do Adolescente, sendo tratada de forma expressa a
prioridade do processo que tenha por objeto a alienação parental.
As atribuições do órgão ministerial, mesmo que não atue como parte na
demanda, correspondem a uma série de providências indispensáveis não só ao bom
andamento do processo, mas também para garantir os interesses da criança que
está sendo vítima e do genitor ou responsável alienado.
6.4.2 Atuação como autor de ações Judiciais
A atuação do Ministério Público como parte propriamente dita, ou seja, como
autor da ação judicial de investigação da alienação parental, não possui previsão
expressa da Lei 12.318/10. O artigo 18 do Novo Código de Processo Civil, diz que
ninguém poderá pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado
pelo ordenamento jurídico, porém, sendo o Ministério Público dotado de amplos
poderes instrutórios e até mesmo recursais em ambas as modalidades, e a atuação
da promotoria como autora de uma ação de caráter individual, pleiteando direito
indisponível, caracteriza-se como uma exceção a regra geral, sendo assim o
Ministério Público possui legitimidade extraordinária, conforme determina o artigo
177 do Novo Código de Processo Civil, ira exercer suas funções de acordo com
suas atribuições constitucionais.
O artigo 129 da Constituição Federal define quais as funções do Ministério
Público:
São funções institucionais do Ministério Público:
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II - zelar pelo efetivo respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III - promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; IV - promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta
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Constituição; V - defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva; VII - exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior; VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. § 1º A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei. § 2º As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição. § 3º O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação. § 4º Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no art. 93. § 5º A distribuição de processos no Ministério Público será imediata.
A legitimidade ativa do órgão ministerial para promover tal demanda,
encontra-se devidamente autorizada pelo ordenamento jurídico material,
devidamente estipulado pelo Código Civil, o Estatuto da Criança e do Adolescente e
a própria Lei da Alienação Parental, que assegura ainda a ampla utilização de
instrumentos processuais aptos a inibir ou atenuar os efeitos da alienação parental,
e dar providências e sanções expressamente previstas na Lei. Desta forma atuará o
Ministério Público como substituto processual, pleiteando em nome próprio direito
alheio.
O Ministério Público poderá intentar a ação judicial de suspensão do poder
familiar sempre que o pai ou a mãe abusar de sua autoridade, faltando aos deveres
a eles inerentes. A prática de atos de alienação parental constitui um abuso da
autoridade parental, justificando plenamente, em caso de maior gravidade, a
suspensão do poder familiar a ser imposta ao agente alienador, quando as demais
medidas previstas pela legislação não se mostrem suficientes para garantir os
direitos fundamentais de crianças e adolescentes envolvidos.
Conforme determina o artigo 1.637 do Código Civil:
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Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles
inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até suspendendo o poder familiar, quando convenha. Parágrafo único. Suspende-se igualmente o exercício do poder familiar ao pai ou à mãe condenados por sentença irrecorrível, em virtude de crime cuja pena exceda a dois anos de prisão.
O Ministério Público tem sua participação ativa no enfrentamento à
Alienação Parental, manejando ação judicial adequada e bem instruída, veiculando
os requerimentos e providências necessárias a completa salvaguarda dos interesses
dos jovens e do genitor vítimas.
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7 MECANISMO DE COMBATE
A Lei de Alienação Parental traz e seu artigo 6º os mecanismos de proteção
direta a criança e ao adolescente, segundo este artigo já mencionado anteriormente,
são medidas para eliminar ou diminuir a alienação, de acordo com a gravidade do
caso. Deste modo, segundo o princípio da instrumentalidade o juiz poderá se valer
de duas ou mais medidas, de acordo com seu entendimento para reduzir os danos
causados e aumentar o convívio saudável entre a criança e o genitor da vítima.
Desta maneira afirma Wandalsen:
Na hipótese da perícia concluir que o genitor alienante efetivamente estava imbuído do propósito de banir da vida dos filhos o outro genitor, o juiz deve determinar medidas que propiciem a reversão desse processo, tais como a aproximação da criança com o genitor alienado, o cumprimento do regime de visitas, a condenação do genitor alienante ao pagamento de multa diária enquanto perdurar a resistência às visitas ou enquanto perdurar a prática que conduz à alienação parental, a alteração da guarda dos filhos e ainda prisão do genitor alienante. (2009, p.82).
As providências a serem tomadas pelo judiciário em caso de Alienação
Parental, não são punitivas, mas sim de preservação ao equilíbrio e qualidade
psicológica da criança, portanto, a possibilidade de prisão é adotada em último caso,
tendo em vista que este ato pune diretamente a criança, que poderá sentir culpa por
ver o genitor preso e também por ser cortado seu convivo com o mesmo.
As medidas punitivas impostas ao genitor alienador na lei possibilitam que a
criança e o adolescente que foram vítimas de tal realidade possa se desprender da
situação de empoderamento do alienador sobre si, tendo condições de vivenciar
momentos reais com o genitor alienado, para que possam assim tirar suas próprias
conclusões e sentir-se afetivamente queridos por aquele que luta pela sua
convivência.
7.1 Guarda compartilhada
A guarda compartilhada é uma modalidade de guarda do filho após a
separação conjugal, onde todas as deliberações sobre a rotina da criança passam a
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ser tomadas em conjunto pelos pais, tem em como objetivo principalmente atender
os interesses da criança, que é quem mais perde com a separação, ficando privada
do convívio de um deles, quando existe guarda compartilhada significa participação
no processo de desenvolvimento integral, levando a pluralização das
responsabilidades, estabelecendo assim democratização de sentimentos, pelo qual
é de suma importância nos laços de afetividade e assim diminuir os efeitos da
separação que acarreta nos filhos. Nesta modalidade os pais dividem
responsabilidades e despesas quanto à criação e educação dos filhos, isso significa
que ambos têm os mesmos deveres e as mesmas obrigações e também
oportunidade igual de convivência com eles. Sua finalidade é consagrar o direito da
criança e dos dois genitores, colocando uma redução das irresponsabilidades da
guarda unilateral.
No caso de guarda unilateral é também conhecida por "exclusiva" e, como o
próprio nome sugere é exercida por apenas um dos lados, ou seja, um dos genitores
toma todas as decisões inerentes à criação, enquanto o outro genitor passa a ter o
direito de visitas regulamentadas pelo juiz, sendo utilizada somente quando o outro
genitor informa em juízo que não tem interesse em ter a guarda do filho.
Em casos de Alienação Parental a guarda pode ser convertida de unilateral
para guarda compartilhada, essa inversão de guarda foi intendida pelo legislador
como o melhor método para resolver esse mal, entende-se que permite uma melhor
aproximação do menor com ambos os genitores, sem que nenhum deles tenha seu
vínculo afetivo prejudicado.
A guarda compartilhada pode ser fixada por consenso, ou por determinação
judicial, quando ambos os genitores forem aptos a exercer o poder familiar, podendo
ser estipulada na separação, no divórcio, ação de dissolução de união estável, e
também por ação autônoma, no caso de Alienação Parental pode ser pleitear a
alteração de guarda.
Não há necessidade de ser definido o lar de um dos genitores como
referência, mas para que um não fique à mercê da vontade do outro, principalmente
quando inexistir acordo, cabe ao juiz estabelecer as atribuições de cada um e assim
obter uma convivência de forma equilibrada.
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A opção clara da legislação acerca dessa modalidade de guarda para
prevenção da Alienação Parental se dá, na medida em que com este novo conceito
é a retirada a conotação de posse sobre a criança, de ser dono dela e de seus
pensamentos, priorizando a ideia de compartilhar e estar com ela, assim garantindo
o não rompimento dos vínculos já existentes.
A guarda compartilhada deve ser escolhida sempre que for viável, em casos
de Alienação Parental, os próprios atos do alienador por si só já poderiam afastar a
criança do genitor-alvo, entretanto, seu intuito é que e seus genitores e cessem os
atos prejudiciais e que atenda o melhor interesse do menor, a dignidade humana, a
guarda dos filhos, justamente por se tratar de questão relativa à criança, que é
emocionalmente a vulnerável da relação. Deste modo o Juiz, autoridade máxima do
processo, tem seguido o entendimento pacificado em setembro de 2016 pelo
Superior Tribunal de Justiça, que decidiu que a guarda compartilhada da criança, em
caso de separação, deve prevalecer mesmo quando há algum conflito entre pai e
mãe. Essa decisão serve como referência para todos os casos e deve ser aplicada
daqui a frente.
Define a advogada especialista em Direito de Família e Guarda
Compartilhada e Alienação Parental, Doutora Alexandra Ullmann:
Com o entendimento de que a guarda compartilhada é a forma de guarda que melhor reflete direitos e deveres dos menores e seus genitores, vale esclarecer como sua aplicação minimiza a alienação parental e, por consequência, dificulta, ou até mesmo impede a implementação de falsas acusações no curso dos processos judiciais.Com a participação efetiva de ambos os genitores na vida dos filhos menores, os vínculos entre a criança, os genitores e a família extensa de cada um se fortalecem dificultando a criação de falsas memórias e a modificação do entendimento da criança sobre fatos ocorridos na companhia de cada um dos pais. A aplicação do compartilhamento das decisões dos menores é um fator impeditivo ou dificultador nas atitudes alienadores do guardião que age de má fé. O segundo ponto importante é que, determina a lei, que sempre que possível, haverá uma divisão equânime do tempo de convívio entre o filho menor e ambos os genitores. Importante salientar que a guarda compartilhada pode ser aplicada em casos de litígio entre os pais, nos casos em que não residam próximo um do outro, ou até mesmo que residam em cidades diferentes, pois não há óbice à que os pais tomem conjuntamente as decisões quanto a educação, saúde e moradia da criança por meios outros que não pessoalmente.
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A criança que convive com a Guarda do tipo compartilhada, tem tendência a
um desenvolvimento psicológico mais ampliado, com maior capacidade de
estruturação de vínculos, e essa criança se sente mais segura, pois tem como base
um desenvolvimento psicológico progressor. Essa modalidade de guarda tem como
um de seus intuitos respeitar a individualidade e diferenças do ex-casal, sendo
considerados como seres distintos, com pensamentos e histórias próprios.
A participação de todos, em conjunto, como os profissionais da saúde, o
poder público, o poder privado, o poder judiciário, com iniciativas voltadas a criança/
adolescente, ajudando aos familiares a se conscientizarem saber lidar com as
adversidades nesses momentos de alienação, garantindo assim as crianças uma
vida mais sadia, amadurecimento futuro não comprometido, a serem pessoas
compreensíveis, tolerantes, enfim com vínculos afetivos mais fortes e sustentados
pelo núcleo familiar.
7.2 Divulgação de conceito
No Estado de Minas Gerais, foi criada uma campanha para divulgar e
conscientizar a sociedade sobre informações da Alienação Parental, todavia, criada
para o Estado, a Lei nº 20.584/2012, institui a Semana de Conscientização sobre a
Alienação Parental. A lei é originária do Projeto de Lei 1.554/11, de autoria do
deputado Anselmo José Domingos. Durante a Semana a população de Minas Gerais
tem acesso a programas educativos, palestras e quadros informativos sobre o tema.
Conforme o texto original da Lei, em Minas Gerais a Semana de
Conscientização sobre a Alienação Parental será realizada anualmente, na semana
que inclui o dia 25 do mês de abril, data em que se comemora o Dia Internacional de
Conscientização sobre a Alienação Parental.
Com base na Lei Roberto Lins Marques explica:
A Lei nº 20.584/ 2012 é importante ao promover o esclarecimento do tema para a população. Segundo o advogado, o cônjuge alienador, na maioria das vezes, não conhece os malefícios que poderá causar na criança. “Faz por vingança, pois deseja punir o outro cônjuge sem saber dos males que poderá causar no filho. A Semana da Conscientização sobre a Alienação
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Parental é, portanto, muito importante para o esclarecimento da matéria à população, abordando o tema por meio da conscientização. (IBDFAM, 2012, WEB)
Inicialmente a Lei é somente para o Estado de Minas Gerais, porém, é
importante o estudo para uma futura aplicação como lei Federal, para assim, ser
válida em todos os Estados brasileiros, com intuito de conscientização da população
sobre os malefícios da Alienação Parental.
Já no Estado do Rio Grande do Sul, foi concebida pela Associação Brasileira
Criança Feliz com apoio da Assembleia Legislativa do Estado, uma cartilha de
Alienação Parental, sendo criada com intuito de informar aos profissionais das áreas
do conhecimento humano que lidam com crianças e adolescentes, tanto no trato
jurídico, como psicológico, bem como nas questões de saúde física e mental,
colocando de forma organizada e bem clara o que significa Alienação Parental, suas
causas e consequências.
Essa cartilha pode e deve ser reproduzida livremente e qualquer pessoa da
região, empresa ou organismo poderá produzir, desde que mantenha o conteúdo
original e o formato. Permite que todo o interessado em confeccionar as cartilhas
possam participar da obra, escrevendo sua visão sobre a Alienação Parental.
A cartilha utiliza uma linguagem simples de fácil entendimento, informando o
que é Alienação Parental, como ocorre, os efeitos nas crianças e adolescentes, os
erros que devem ser evitados, como identificar e o mais importante define os 20
pedidos feitos pelos filhos de genitores separados para que esse problema seja
evitado.
O propósito da criação da cartilha foi de conscientização sobre os malefícios
da Alienação Parental, protegendo assim os menores vitimas desta ação. E
representa o desejo que os filhos recebam o amor de ambos os genitores. Além de
apoiar as vítimas, mostrando que não estão sozinhos e existem meios de inibir os
danos causados pela Alienação Parental, buscando um mundo melhor para as
famílias.
O maior interesse é a divulgação do conceito de Alienação seja feita de
forma clara e conscientizadora, para toda a população brasileira, e que não somente
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nos Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, e sim todos os demais utilizem
métodos para divulgar a Alienação Parental de forma eficaz.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Alienação Parental é vivenciada em muitas famílias, tendo em vista que os
pais são os personagens principais desta relação e, via de regra, os menores são
utilizados como instrumento de ataque para se compensar o sofrimento do fim de
uma relação conjugal. A maioria das famílias não sabe que este mal existe, e nem a
dimensão de sua gravidade, é um ato extremamente danoso e agressivo ao
psicológico de suas vítimas, é muito importante obter uma análise correta para não
punir quem está sendo a vítima na relação.
A implantação das falsas memórias ocorre quando o alienante consegue seu
intuito de afastar o genitor alienado do filho, e começa a contar-lhe fatos que não
ocorreram de verdade, desta maneira a criança acredita que estas mentiras são
verdadeiras. Deve ter muita cautela nesse tipo de caso, pois, é necessário saber a
diferença entre a falsa e a verdadeira acusação.
Com a criação da Lei nº 12.3180 de 2010, podemos reconhecer a prática e
os danos causados pela Alienação Parental, e como este ato deve ser combatido e
remediado de maneira correta, e principalmente definindo sansões a serem
aplicadas no alienante, contudo, resguardando o direito da criança ou adolescente
ao convívio familiar, mesmo após o término do relacionamento de seus genitores,
tendo em vista a igualdade de direitos e deveres dos pais para com os filhos em
virtude da responsabilidade parental.
O Estatuto da Criança e do Adolescente veio de encontro com a
Constituição Federal, sendo um complemento do outro, entretanto, juss reforçam de
forma efetiva as garantias fundamentais ao menor, com finalidade de proteger a
criança e o adolescente, tanto perante a sociedade como em relação à convivência
familiar.
Os Conselhos Tutelares são como uma porta de entrada nos casos de
Alienação Parental, atuando no recebimento de denúncias, verificando a veracidade
dos fatos, fiscalizando e promovendo representações junto ao Ministério Público.
A guarda compartilhada, mostra-se como um valioso mecanismo para
diminuição dos danos causados pela Alienação Parental, todavia, busca estabelecer
um maior contato entre o genitor vitima e menor, e para que assim apreendam
novamente a amar um ao outros.
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REFERÊNCIAS
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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988.
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