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ALIENAÇÃO PARENTAL ESTHER HELENA PEIXOTO RANGEL GILSON LOPES PINHEIRO 1 RESUMO: O trabalho em voga tem por escopo trazer a lume a discussão acerca de um fenômeno que não é novo, mas ainda tem sido encarado de forma tímida pelo universo jurídico.Trata-se da Alienação Parental, expressão cunhada pelo psiquiatra infantil norte- americano Richard Gardner, que, em tempos hodiernos tem dividido opinião entre os divãs e os tribunais. É objeto do presente, abordar esta modalidade de síndrome, seus meios de obtenção e elementos de identificação, bem como as consequencias de sua instalação, enfatizando a repressão judicial, sem prejuízo do enfoque à imprescindível atuação dos operadores do direito. De outra banda, muito embora seja este assunto inerente ao Direito das Famílias, parece ser, de igual modo, matéria de direito criminal, em vista da necessidade de criminalização de sua prática. Não ignora-se ser esta proposta bastante pretensiosa. Designa também nestas linhas denunciar o que está na penumbra, por trás do discurso. É pois, chegada hora que, em se tratando de separação de casais, guarda e direito de visitação, aderir a um velho brocardo da literatura jurídica: revelar o que a demanda vela e desvela. PALAVRAS – CHAVE: ruptura- vínculo conjugal -alienação parental - síndrome - direito de visitas - obtenção - identificação - consequências – violência - repressão judicial - papel dos operadores do direito. 1. INTRODUÇÃO É cediço que a ratio do próprio Direito não é outra senão acompanhar as transformações havidas no seio social, sendo, portanto, imperativo à ciência jurídica a concessão de tutela às demandas advindas da sociedade. Com efeito, graças à abertura principiológica experimentada no âmbito jurídico, mormente após a promulgação da Carta Federal de 1988, o Direito de Família, considerado o ramo mais sensível da gramática do 1 Graduanda do 6º período da Faculdade de Direito Promove Graduando do 6º período da Faculdade de Direito Promove

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ALIENAÇÃO PARENTAL

ESTHER HELENA PEIXOTO RANGEL

GILSON LOPES PINHEIRO1

RESUMO: O trabalho em voga tem por escopo trazer a lume a discussão acerca de um

fenômeno que não é novo, mas ainda tem sido encarado de forma tímida pelo universo

jurídico.Trata-se da Alienação Parental, expressão cunhada pelo psiquiatra infantil norte-

americano Richard Gardner, que, em tempos hodiernos tem dividido opinião entre os divãs e

os tribunais. É objeto do presente, abordar esta modalidade de síndrome, seus meios de

obtenção e elementos de identificação, bem como as consequencias de sua instalação,

enfatizando a repressão judicial, sem prejuízo do enfoque à imprescindível atuação dos

operadores do direito. De outra banda, muito embora seja este assunto inerente ao Direito das

Famílias, parece ser, de igual modo, matéria de direito criminal, em vista da necessidade de

criminalização de sua prática. Não ignora-se ser esta proposta bastante pretensiosa. Designa

também nestas linhas denunciar o que está na penumbra, por trás do discurso. É pois, chegada

hora que, em se tratando de separação de casais, guarda e direito de visitação, aderir a um

velho brocardo da literatura jurídica: revelar o que a demanda vela e desvela.

PALAVRAS – CHAVE: ruptura- vínculo conjugal -alienação parental - síndrome - direito de visitas - obtenção - identificação - consequências – violência - repressão judicial - papel dos operadores do direito.

1. INTRODUÇÃO

É cediço que a ratio do próprio Direito não é outra senão acompanhar as

transformações havidas no seio social, sendo, portanto, imperativo à ciência jurídica a

concessão de tutela às demandas advindas da sociedade. Com efeito, graças à abertura

principiológica experimentada no âmbito jurídico, mormente após a promulgação da Carta

Federal de 1988, o Direito de Família, considerado o ramo mais sensível da gramática do

1 Graduanda do 6º período da Faculdade de Direito Promove Graduando do 6º período da Faculdade de Direito Promove

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direito, não ficou alheio a essa proteção.

Mudou-se o paradigma, oportunizando a reestruração de entidades familiares,

alargando os conceitos de família e favorecendo a promoção da justiça. Eis aí um paradoxo.

O Direito, ciência eminentemente objetiva vê-se, portanto, na obrigatoriedade de tutelar as

relações interpessoais vivenciadas no âmbito familiar, muito embora sejam elas marcadas por

consideráveis cargas de subjetividade.

Neste sentir, a instigante temática a qual se propôs aqui apresentar, qual seja, a

alienação parental, não se trata de um fato novo. Comumente vivenciado por aqueles que

lidam com os dramas familiares, tal fenômeno tem sido identificado por mais de um nome.

Para alguns denomina-se "implantação de falsas memórias" outros preferem nominá-la

"síndrome de órfãos de pais vivos". Em meio a esta celeuma, é certo que a diversidade na

nomenclatura não retira seu caráter controverso bem como o profundo dissenso doutrinário e

jurisprudencial permeadores do tema. Alía-se a este fato a dificuldade da constatação de tal

fenômeno, além dos nocivos reflexos já diagnosticados. Denotam, portanto, um verdadeiro

desafio para o Judiciário.

A assertiva de que compete exclusivamente ao Judiciário a composição de conflitos e

a quem é dada a última palavra nos dissensos apresentados, é de alguma forma mitigada

quando o fato a ser apreciado por ele traz particularidades estranhas ao regramento jurídico.

Nesta seara, diante da natureza fática da lide, este poder estatal socorre-se de ciências

afins que o auxiliarão no alcance de um resultado mais equânime, visto que, quase sempre a

normativa legal destoa do ideário de justiça. Destarte, em matéria de Direito de Família, a

Psicologia e a Psiquiatria Forense, num procedimento multidisciplinar, ganham relevo ao

subsidiar a aplicabilidade de um direito material às relações interpessoais, não olvidando ser a

afetividade o valor-mor dos elos familiares.

Em tom de arremedo, é cristalina a limitação das explanações aduzidas neste modesto

trabalho vez que, ainda hoje , são escassos os instrumentos jurídicos suficientes para debater

o assunto com a propriedade que lhe é digna. Todavia não se pode olvidar a ousadia em tecer

algumas considerações acerca da matéria em tela. Destarte, tem-se por escopo, através destas

linhas denunciar que, não obstante a relevância do tema ora proposto, este tem sido

timidamente debatido na doutrina ou quiçá suscitado convenientemente nos Tribunais. O que

sustenta toda a expectativa no que tange a esse tema e aos seus correlatos é a certeza de que o

mister daqueles que aspiram "operacionalizar" o Direito é levantar assuntos poucos

discutidos, polêmicos e recorrentes. Reitera-se, para tanto, ser a função das Ciências Jurídicas

disciplinar a realidade social, porquanto toda situação fática deverá ser por ela contemplada .

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Essa afirmação é que impulsiona o mister advocatício, e é justamente ela que fornece o

encorajamento necessário para que se ouse neste campo jurídico.

2. DO DIREITO DE VISITAS

Tão logo consumada a separação e, conseqüentemente, determinados os parâmetros da

guarda dos filhos, surge para o ex-consorte não-guardião o sagrado direito de visitas. Importa

salientar que este direito não abarca tão-só o contato físico e direto sobre os filhos, mas

garante a participação no crescimento e no desenvolvimento em sentido lato destes. É o pleno

exercício deste direito que possibilita a continuidade dos laços de convivência entre pais e

filhos, atenuando as inerentes conseqüências experimentadas pela prole e pelo genitor não-

guardião por ocasião da dissolução do vínculo conjugal e, para tanto, é correto afirmar então,

ser o direito de visitas meio eficaz para satisfazer os interesses e necessidades de seus

titulares.

Por esta razão, salvo casos extremados, tal direito não pode ser embaraçado, tampouco

suprimido. Infelizmente, contrariando o objetivo maior da concessão do direito de visitas, em

não raros casos, observa-se que o guardião oferece resistência à realização dessas visitas,

frustrando-as através dos mais esvaziados álibis. Pior ainda, é constatar que estes óbices são

frutos de atos egoísticos que denunciam resquícios e ressentimentos oriundos da ruptura da

relação conjugal. O que corrobora que em todo litígio, cujo cenário é a família, não se discute

razão, mas emoções contidas em relacionamentos malsucedidos. Nesta senda, os filhos são

reduzidos a objetos de barganha, ou seja, meros instrumentos de vingança.

Em assim procedendo o guardião acaba por rasgar o dispositivo constitucional contido

no art. 227 da Carta Política vigente que preconiza "in verbis",

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente,

com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao

lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à

convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de

negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Vale reiterar que findo o relacionamento do casal, tal episódio é o ambiente propício

para que se instale a síndrome ora ventilada.

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3. DA SÍNDROME DA ALIENAÇÃO PARENTAL

À priori, convém conceituar o termo clínico denominado síndrome, que consiste em

um conjunto de sintomas associados a uma mesma patologia e que definem o diagnóstico de

uma condição médica. No caso em espécie, a Síndrome da Alienação Parental, expressão

cunhada pelo psiquiatra infantil norte americano Richard Gardner, é o modo pelo qual o

guardião do filho menor, na maioria dos casos a mãe, com o intento de afastar o filho do pai,

consegue destruir a imagem paterna, ou seja, desmoralizá-la, gerando um descrédito por parte

do filho.

É de se observar que esta atitude, comumente, ocorre no plano (in)consciente, vez que

o ente alienador aparentemente se revela disposto a favorecer o bom convívio, a aproximação

e a conservação dos laços entre pai e filho. Todavia e, lamentavelmente, casos há em que tal

afastamento se dá de maneira proposital por parte do detentor da guarda. Em qualquer caso

em que se dê a alienação, fato é que ao fim, verifica-se um excessivo apego da criança em

relação a um dos genitores e proporcionalmente, o afastamento do outro, ou seja, o filho se vê

obstado do convívio daquele que ama e, de igual forma, resta privado do amor do pai.

Rompidos os laços de afetividade entre o casal e a conseqüente separação, o genitor,

via de regra a mãe, sente-se abandonada e rejeitada e, diante da impossibilidade de lidar da

forma mais adequada e conveniente, passa a adotar atitudes que, a bem da verdade, tentam

manter sobre seu jugo o sentimento do menor, incutindo nele suas próprias opiniões e

frustrações a respeito do ex-consorte. Ao manter o controle sobre o filho, o titular da custódia

acaba por corromper a relação do filho com o genitor alienado, operando naquele, verdadeira

programação para que desenvolva um sentimento de ódio em relação ao pai , sem que haja

qualquer justificativa idônea.

O filho é convencido, então, da existência de um ou mais fatos e levado a repetir o que

lhe é incutido como tendo realmente acontecido. Na maioria das vezes, o infante não

consegue distinguir que está sendo "programado", não restando outra saída senão acreditar no

que lhe afirma de maneira insistente e repetida. Inevitável é a confusão existente entre os

fatos, pois até mesmo para o ente alienador torna-se dificultoso diferir a verdade dos fatos e a

"sua" própria verdade. Esta "sua" verdade passa a ser a verdade também para o filho que

convive com os falsos imaginários de uma falsa existência. É aí que se implantam as falsas

memórias. Diante do exposto, contata-se ser todo esse arranjo, seara fértil para que se

instaure, no filho, uma crise de identidade e contradição que o torna algoz de seus próprios

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sentimentos, sendo superada, quando muito, somente após alcançar certa independência do

genitor patológico, ou seja, o guardião. Tal fato acaba por permitir mensurar o quão descabido

fora o afastamento a que foi submetido.

Cumpre trazer a lume que a Alienação Parental afeta mais as crianças do sexo

masculino, talvez por serem eles, segundo estudos, os que mais sofram com a ausência

paterna, cuja incidência é mais significativa entre a faixa etária compreendida entre os 8 e 11

anos de idade. Bom que se lembre que, não obstante o processo de alienação ter causas, graus

e extensões próprias e ainda ser obtida por diversos meios, a sua mais abominável forma se

reveste da denúncia de incesto. As acusações de abuso sexual são, indubitavelmente, os meios

mais cruéis e que merecem maior atenção por parte do Judiciário. Em tempo, uma vez

identificada a conduta alienante, período este que antecede a instauração da síndrome, é ela

passível de reversão e permite, com emprego de sessões terapêuticas e o auxílio da Justiça,

restabelecer os laços paterno-filiais.

4. MEIOS DE OBTENÇÃO DA ALIENAÇÃO PARENTAL E SEUS ELEMENTOS DE

IDENTIFICAÇÃO

A obtenção dessa síndrome se dá através da prática incessante e reiterada do genitor

alienante que, como já mencionado, objetiva afastar o filho do outro genitor, não sendo,

necessariamente, de forma expressa. Aliás, o que mais se observa é uma forma implícita e

sutil de atingir o intento.

O genitor alienante obstaculiza as visitas utilizando as mais variadas escusas. Desde a

alegação de estar a criança com febre ou com dor de garganta até outros argumentos pífios de

cunho emocional. Não raro, vislumbram-se situações que configuram a alienação parental e

para tal, necessária elencar algumas delas a fim de que se percebam os meios pelo quais essa

tortura psicológica é exteriorizada.

Aquele que pretende inviabilizar a convivência do filho com o não guardião tende a

cortar as fotografias em que os filhos estão em companhia do pai, impedindo que as mesmas

sejam expostas; não permite ou proíbe ,tanto quanto possível, àquele pai que “ficou de fora”

o acesso acerca das informações escolares tais como o boletim escolar e os relatórios de

acompanhamento e desenvolvimento do filho; não fornece materiais fotográficos que contém

imagens paternas; não autoriza o acesso do pai nas dependências da escola, no claro objetivo

de macular a imagem dele perante o corpo docente da instituição; dificulta qualquer acordo

quando diante de atividades de conciliação e mediação que tentam promover uma resolução

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do conflito; estende o processo de alienação aos familiares e aos amigos do ex-cônjuge;

comumente desenvolvem quadros de depressão e agressividade, o que reflete no uso de

violência física ou psicológica sobre seus filhos.; não raras vezes criam óbices ao pai não

guardião ao direito de visitar seus filhos nos horários previamente estipulados e o fazem

obrigando seus filhos a afirmarem que não querem tal convívio; impede quaisquer contatos do

filho com o pai, inclusive o telefônico. Ademais, malgrado todas estas atitudes neste jogo que

só restam perdedores, estes que promovem a alienação parental tornam-se vítimas do seu

próprio agir visto que, no futuro, serão firmemente cobrados por seus filhos.

Outra forma muito característica de identificação dessa síndrome são as falas imaturas

e irreais direcionadas ao infante, tais como “seu pai não se importa com você”, “se você sair

com seu pai, mamãe vai ficar aqui sozinha e triste”, “se seu pai gostasse de você não teria nos

deixado”, “seu pai me persegue”, “ele vai levar você pra longe e nunca mais você verá a

mamãe”, “sei pai é um bêbado e um desonesto”, “seu pai nos roubou tudo o que tínhamos”,

“sei pai é um vagabundo”, “seu pai é digno de vergonha”, “seu pai é desequilibrado e muito

violento, tenho pavor dele querer bater em você”.

5 CONSEQUÊNCIAS

Percebe-se, por conseguinte, que uma vez consumada a síndrome, seus reflexos são

irreversíveis, ganhando maior projeção na fase adulta, vez que o filho suporta um grave

complexo de culpa por ter sido conivente com o genitor alienante, injustiçando de forma

impiedosa o alienado. Todavia, crianças vítimas desta patologia são mais propensas a

apresentar distúrbios psicológicos comumente chamados de síndromes parentais, como

depressão crônica; ansiedade; nervosismo; quadro nítido de pânico; tendência à utilização de

drogas e álcool como “saída” objetivando aliviar a dor da alienação; pensamentos suicidas;

apresentam baixa auto-estima; dificuldade em estabelecer uma relação de estabilidade na fase

adulta; demonstram desprezo ou medo do genitor alienado; apresentam perda de apetite ou o

inverso; sono perturbado; choro inconsistente; desinteresse pelos estudos; busca incessante de

satisfação como, por exemplo, a necessidade de acariciar áreas do corpo; dislexia; distúrbios

da fala; visível irritabilidade; déficit de concentração, dentre outros. Como visto, as seqüelas

desse processo de alienação são inevitáveis e se revestem de variadas formas. Seus rastros

nocivos quase nunca são desfeitos, resvalando seus efeitos na fase adulta.

Aqueles que se debruçam sobre o tema consideram a Alienação Parental como sendo

comportamento abusivo. Não difere muito das agressões de natureza sexual ou física, vez que

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tal modalidade de violência não se restringe a pessoa do ente alienado, mas alcança também

os demais membros da estrutura familiar, tais como avós, tios, primos e até mesmo amigos,

privando-a, covardemente, de exercer seu direito a esse hígido convívio.

6. A REPRESSÃO JUDICIAL E O PAPEL DOS OPERADORES DO DIREITO

Ressalte-se o fato de que, embora não seja a regra, o genitor não guardião, diante dos

obstáculos oferecidos pelo titular da guarda, acaba por se desvincular de sua função paterna,

aceitando ser verdade a idéia de que as mulheres são privilegiadas quando o assunto é a

custódia dos filhos.

É de bom alvitre que não há dispositivo legal algum que legitime ser a titularidade de

guarda um atributo exclusivo da mulher. Antes, compete aos pais a criação, em sentido largo,

dos filhos. Tal fato não se modifica com a separação dos cônjuges.

Identificado o processo de Alienação Parental, cabe ao Judiciário impedir que essa

síndrome se instale. Sabe-se que talvez por falta de preparo mais adequado, os magistrados

das Varas de Família ignoram situações que, se melhor analisadas, não se converteriam em

patologias deste quilate.

Lado outro há de se considerar que o magistrado se depara com uma situação delicada.

Há, incontinenti, o dever de tomar uma atitude, entretanto, surge a dúvida quanto a veracidade

do que se suspeita. Surge o dilema: E se a suspeita for vazia, inócua? Como conjugar a

urgência de medidas necessárias sem comprometer a ordem natural de apuração dos fatos?

Ora, se não restarem verdadeiras as denúncias apresentadas em face do não guardião, será

traumática a situação em que a criança, forçosamente, se submeterá, pois ficará privada do

convívio com o genitor que não lhe causou mal algum. Mais uma vez o infante é duramente

penalizado nesse campo hostil. É ele esquecido como ser humano e reduzido a objeto.

Todavia, uma vez reconhecida e comprovada a ocorrência da síndrome e, contando

subsidiariamente com o pálio das ciências afins, deverá o julgador adotar medidas enérgicas,

estando elas condicionadas ao grau e estágio em que se encontra o processo de alienação.

Consoante aduz em seu artigo científico de título Síndrome da Alienação Parental a

professora Priscila Maria Pereira Corrêa da Fonseca, dentre elas destaca-se :

a) ordenar a realização de terapia familiar, nos casos em que o menor já apresente sinais de repulsa ao genitor alienado; b) determinar o cumprimento do regime de visitas estabelecido em favor do genitor alienado, valendo-se, se necessário, da medida de busca e apreensão; c) condenar o genitor alienante ao pagamento de multa diária, enquanto perdurar a resistência às visitas ou à prática que enseja a

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alienação; d) alterar a guarda do menor, principalmente quando o genitor alienante apresentar conduta que se possa reputar como patológica, determinando, ainda, a suspensão das visitas em favor do genitor alienante, ou que elas sejam realizadas de forma supervisionada; e) dependendo da gravidade do padrão de comportamento do genitor alienante ou diante da resistência dele perante o cumprimento das visitas, ordenar sua respectiva prisão.

É sabido que, aqui entre nós, a objeção ao direito de visitas não configura crime,

conforme o que ocorre no direito alienígena, todavia, aquele genitor que obstaculiza a

realização desse direito sofrerá sanções típicas, sem prejuízo, portanto, de responsabilizar-se

pelo descumprimento de ordem judicial, qual seja crime de desobediência, contemplado no

art. 330 do diploma penal pátrio.

No que toca à questão do advogado que milita na área de direito de família, se

convidado a sustentar uma causa cujo cliente seja o genitor alienante, não lhe empresta tarefa

menos árdua, visto que não pode se valer da alegação que tudo fará para que logre êxito no

intento, pois prepondera em todos os litígios que envolvam menores, o ditame constitucional

do melhor interesse da criança. Sacrificada está a máxima de que o mandado do advogado

contempla a conjugação de todos os esforços para a satisfação de interesses daquele que lhe

outorga. In casu, impera o dever da sociedade e por conseqüência de todo e qualquer cidadão,

assegurar à criança e ao adolescente, o direito à convivência familiar.

7. CONCLUSÃO

A Alienação Parental, tratada pela maioria dos estudiosos como sendo verdadeira

síndrome, é um distúrbio comumente presente nas questões que envolvem a guarda do menor.

Consiste, pois, numa ação covarde daquele que detém a guarda da criança em destruir,

paulatinamente, a imagem do genitor não guardião, obstando a reciprocidade de afeto que há

no seio da relação paterno-filial em razão do exercício de uma guarda monopolizadora e de

cunho eminentemente ditatorial.

Importa salientar que, não obstante o fenômeno em pauta incida na maioria das vezes

na mulher, visto que é uma tendência das Varas de Família favorecer as mulheres com a

guarda de seus filhos, foi constatada a ocorrência, ainda que pequena, nas pessoas de sexo

masculino. Por este motivo, partindo do pressuposto generalista, ao discorrer sobre o tema,

optou-se por dar ênfase ao que ocorre com mais freqüência, ou seja, a alienação parental

oportunizada por atos da mãe.

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As agudas mudanças de paradigmas ocorridas em nossa sociedade, especificamente no

que tange às relações familiares, promoveram profundas alterações no campo jurídico-

constitucional, observadas não somente nas novas formas de estruturação e dissolução do

arranjo familiar mas, sobretudo na abertura principiológica que elevou relevantes valores

sociais e morais a postulados basilares do ordenamento jurídico e, dentre eles, destaca-se o

princípio da afetividade.

É cediço que as relações pautadas no afeto, mais que outros pilares, ensejam laços

mais sólidos e harmônicos no âmbito familiar, operando real inclusão da figura paterna na

vida dos filhos, oportunizando uma convivência paterno-filial sadia. A figura do pai

exclusivamente provedor, herança do modelo familiar patriarcal, resta superada. O que se

observa em dias hodiernos é que, via de regra, o pai não só participa ativamente da vida dos

filhos como também sente necessidade de estreitar cada vez mais este elo.

Ocorre que, por razões das mais variadas, há uma ruptura dos laços conjugais e a mãe,

julgando-se erroneamente em posição superior ao pai não guardião, nutrida por sentimentos

de rancor, abandono e traição, vendo o interesse do pai na conservação da relação com seu

filho, inicia um processo cruel de degeneração da figura paterna objetivando, arrimada neste

profundo sentimento de vingança, empecer este convívio de forma tão contundente, que acaba

por afastá-los.

Cria, portanto, um sem fim de obstáculos à visitação o que, ao final, levará o próprio

filho a rejeitar seu pai. Opera-se sobre a criança a chamada “programação de falsas

memórias”, consistindo essa em implantar fatos irreais e até mesmo ilógicos na consciência

do filho, fazendo com que aquilo que sente a mãe se confunda com os próprios sentimentos

do infante. Noutro dizer, a “verdade” da mãe passa a ser a “verdade” do filho.

Por todos os reflexos advindos desta alienação, resta claro que trata-se de um

verdadeiro portfólio nefasto, que tem a criança como sua principal vítima. Destarte, a

Alienação Parental é uma das terríveis formas de abuso e violência à criança, sendo, portanto,

merecedora de urgente atenção.

Sendo assim, ainda que seja de difícil constatação, devido à sutileza com que é

introduzida a Alienação Parental, o Direito não pode ficar à margem das primeiras linhas de

indícios e, com mais razão ainda, das terríveis conseqüências desencadeadas pela síndrome.

Antes, deve amoldar-se às situações que demandam sua tutela e, sobretudo, num esforço

conjunto com as demais ciências afins, compreender o processo da alienação e editar

dispositivos legais capazes e eficazes na contenção de tão terrível mal

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O que se observa é que, ainda hoje, o aparato jurisdicional não está adequadamente

preparado para lidar com estas complexas questões do ambiente familiar. Mister que haja,

além de profundo conhecimento técnico-jurídico, doses importantes de sensatez e aptidão.

Reconhecendo esta deficiência normativa no trato deste assunto, há entre nós, além de

um Projeto de Lei que aguarda para ser votado, dedicados estudos doutrinários e ainda

rebuscados e inovadores julgados que, cumprindo o papel de fontes de integração do direito,

denotam a importância do assunto e quão é necessária uma legislação mais apropriada e

específica para tutelá-lo.

8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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não ver. Ed. 1ª. Porto Alegre. Revista dos Tribunais. 2008.

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SOUZA, de Euclydes. Alienação Parental, Perigo Iminente. Disponível em:

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