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ALTERAÇÕES NA QUANTIFICAÇÃO PLAQUETÁRIA APÓS A ANESTESIA EM CADELAS SUBMETIDAS A CASTRAÇÃO Grazielle Anahy de Sousa Aleixo 1 , Telga Lucena Alves Craveiro de Almeida 2 , Maína de Souza Almeida 3 , Filipe Feitosa de Oliveira 3 , Emanuela Polimeni de Mesquita 3 , Simone Gutman Vaz 3 , Ana Luiza Neves Guimarães 4 , Flávia Correa Maia 4 , Miriam Nogueira Teixeira 5 e Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho 5 ________________ 1. Primeiro Autor é Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900. E-mail: [email protected] 2. Segundo Autor é Residente em Patologia Clínica no Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900. 3. Terceiro Autor é discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900. 4. Quarto Autor é Médica Veterinária autônoma. 5. Quinto Autor é Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900. Apoio financeiro: CNPq. Introdução As plaquetas (ou trombócitos) são discos citoplasmáticos anucleados de três a cinco μm essenciais para o processo de cicatrização [1]. São produzidas na medula óssea, a partir da célula pluripotencial, que vai dar origem a linha megacariocítica [2]. A função principal das plaquetas é a hemostasia primária, ou seja, logo que ocorre a lesão elas formam um tampão ou plug provisório, com o intuito de evitar o agravamento da hemorragia, enquanto a fibrina se forma [3]. Para ocorrer a formação do tampão primário, as plaquetas se agregam, logo após a sua exposição ao colágeno vascular e liberam serotonina, histaminas e difosfato de adenosina (ADP). A serotonina e as histaminas atuam como vasoconstritores enquanto o ADP induz a agregação e aderência de plaquetas adicionais [4]. Após a estimulação, as plaquetas aparecem entre três e cinco dias, e possuem meia-vida em torno de 8 dias [2]. O valor acima da referência para a espécie, que no caso dos cães varia entre 200.000 e 500.000, confere uma trombocitose e valores abaixo, uma trombocitopenia [2]. A trombocitopenia é sem dúvida a mais comum desordem hemostática adquirida em cães [3,5]. Assim como ocorre nas anemias, as causas das trombocitopenias podem ser diversas [2], entretanto existem quatro razões principais para a redução da quantidade de plaquetas: (a) a medula óssea não produz plaquetas suficientes; (b) as plaquetas são seqüestradas no baço aumentado de volume; (c) um aumento da utilização ou da destruição das plaquetas; (d) e a diluição das plaquetas [6]. O prejuízo na produção, consumo ou destruição de plaquetas também pode ser induzido por alguns fármacos. Ingestão de grande quantidade de álcool, uso de diuréticos tiazídicos, uso de estrogênios e fármacos mielossupressores induzem supressão medular da produção da linhagem plaquetária. Antibióticos como sulfatiazol, novobiocina, p-aminossalicilato, sedativos, hipnóticos, anticonvulsivantes, alfa-metildopa, digitoxina, sais de ouro e heparina podem induzir destruição imunológica das plaquetas através da formação de complexo antígeno-anticorpo e ativação do complemento [1]. O objetivo do presente trabalho foi de quantificar as plaquetas em cadelas submetidas a ovariosalpingehisterectomia (OSH) no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, durante a fase pré-anestésica e logo após a anestesia, para avaliar se os fármacos anestésicos utilizados exerceram alguma ação sobre a contagem total de plaquetas (plaquetometria). Material e métodos Foram coletados amostras de sangue total de 14 cadelas encaminhadas para o setor de cirurgia do Hospital Veterinário da UFRPE que seriam submetidas a OSH. Para obter uma amostra mais homogênea e consequentemente, diminuir a variabilidade, só foram amostradas fêmeas entre dez a 15 kilos e entre dois a cinco anos de idade. Todas eram sem raça definida (SRD) e estavam clinicamente sadias. As amostras de sangue necessárias para realização da contagem plaquetária foram coletadas em dois momentos: durante o período pré-operatório imediato, anteriormente ao início da anestesia, e entre cinco a dez minutos após a anestesia geral. Para realizar tal coleta, os animais eram posicionados de modo a facilitar o acesso à veia cefálica, safena ou

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ALTERAÇÕES NA QUANTIFICAÇÃO PLAQUETÁRIA APÓS A ANESTESIA EMCADELAS SUBMETIDAS A CASTRAÇÃO

Grazielle Anahy de Sousa Aleixo1, Telga Lucena Alves Craveiro de Almeida2, Maína de Souza Almeida3, Filipe Feitosa de Oliveira3, Emanuela Polimeni de Mesquita3, Simone Gutman Vaz3, Ana Luiza Neves

Guimarães4, Flávia Correa Maia4, Miriam Nogueira Teixeira5 e Maria Cristina de Oliveira Cardoso Coelho5

________________1. Primeiro Autor é Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900. E-mail: [email protected]. Segundo Autor é Residente em Patologia Clínica no Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900.3. Terceiro Autor é discente do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900.4. Quarto Autor é Médica Veterinária autônoma.5. Quinto Autor é Professora Adjunta do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE, CEP: 52.171-900.Apoio financeiro: CNPq.

Introdução

As plaquetas (ou trombócitos) são discos citoplasmáticos anucleados de três a cinco µm essenciaispara o processo de cicatrização [1]. São produzidas na medula óssea, a partir da célula pluripotencial, que vai dar origem a linha megacariocítica [2].

A função principal das plaquetas é a hemostasia primária, ou seja, logo que ocorre a lesão elas formam um tampão ou plug provisório, com o intuito de evitar o agravamento da hemorragia, enquanto a fibrina se forma [3]. Para ocorrer a formação do tampão primário, as plaquetas se agregam, logo após a sua exposição ao colágeno vascular e liberam serotonina, histaminas e difosfato de adenosina (ADP). A serotonina e as histaminas atuam como vasoconstritores enquanto o ADP induz a agregação e aderência de plaquetas adicionais [4]. Após a estimulação, as plaquetas aparecem entre trêse cinco dias, e possuem meia-vida em torno de 8 dias [2].

O valor acima da referência para a espécie, que no caso dos cães varia entre 200.000 e 500.000, confere uma trombocitose e valores abaixo, uma trombocitopenia [2]. A trombocitopenia é sem dúvida a mais comum desordem hemostática adquirida em cães [3,5].

Assim como ocorre nas anemias, as causas das trombocitopenias podem ser diversas [2], entretanto existem quatro razões principais para a redução da quantidade de plaquetas: (a) a medula óssea não produz plaquetas suficientes; (b) as plaquetas são seqüestradas no baço aumentado de volume; (c) um aumento da utilização ou da destruição das plaquetas; (d) e a diluição das plaquetas [6].

O prejuízo na produção, consumo ou destruição de plaquetas também pode ser induzido por alguns fármacos. Ingestão de grande quantidade de álcool, uso

de diuréticos tiazídicos, uso de estrogênios e fármacos mielossupressores induzem supressão medular da produção da linhagem plaquetária. Antibióticos como sulfatiazol, novobiocina, p-aminossalicilato, sedativos, hipnóticos, anticonvulsivantes, alfa-metildopa, digitoxina, sais de ouro e heparina podem induzir destruição imunológica das plaquetas através da formação de complexo antígeno-anticorpo e ativação do complemento [1].

O objetivo do presente trabalho foi de quantificar as plaquetas em cadelas submetidas a ovariosalpingehisterectomia (OSH) no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco UFRPE, durante a fase pré-anestésica e logo após a anestesia, para avaliar se os fármacos anestésicos utilizados exerceram alguma ação sobre a contagem total de plaquetas (plaquetometria).

Material e métodos

Foram coletados amostras de sangue total de 14cadelas encaminhadas para o setor de cirurgia do Hospital Veterinário da UFRPE que seriam submetidas a OSH. Para obter uma amostra mais homogênea e consequentemente, diminuir a variabilidade, só foram amostradas fêmeas entre dez a 15 kilos e entre dois a cinco anos de idade. Todas eram sem raça definida (SRD) e estavam clinicamente sadias.

As amostras de sangue necessárias para realização da contagem plaquetária foram coletadas em dois momentos: durante o período pré-operatório imediato, anteriormente ao início da anestesia, e entre cinco a dez minutos após a anestesia geral.

Para realizar tal coleta, os animais eram posicionados de modo a facilitar o acesso à veia cefálica, safena ou

jugular e foram utilizados agulha para sistema de coleta a vácuo (vacuteiner) calibre 25 x 7 mm (agulha preta) e frasco vacuteiner de plástico para hemograma (tampa roxa) contendo ácido etileno diamino tetra acético (EDTA) como anticoagulante.

O local selecionado para a punção venosa era previamente tricotomizado e higienizado com álcool a 70% e a veia selecionada melhor visualizada após garrotear o local com um torniquete de elástico. Depois de coletada a amostra de três mL de sangue, o material era encaminhado para o Laboratório de Patologia Clínica da mesma instituição, para quantificação das plaquetas pelo método de contagem indireta conforme citado por Lima et al. [7].

O protocolo anestésico empregado para realização da cirurgia de OSH constava de maleato de acepromazina(0,1 mg/kg) e cloridrato de tramadol (1 mg/kg) pela via intramuscular (I.M.), indução com propofol (4 mg/kg) via intravenosa (I.V.) e manutenção da anestesia com isofluorano com fluxo de 30 ml/kg em circuito anestésico semi-fechado.

Resultados e Discussão

Sabendo que a principal função das plaquetas é a hemostasia primária [3], e sendo bastante comuns desordens hemostáticas adquiridas em cães ocasionadaspela alteração no número de plaquetas funcionais [3,5], torna-se necessário quantificar o numero de trombócitos antes de qualquer procedimento cirúrgico. Outro agravante é que o sangramento excessivo durante uma cirurgia pode propiciar complicações como choque hemorrágico e infecção [8].

A literatura cita que alguns fármacos [1], inclusive os anestésicos podem induzir a uma redução na contagem total de plaquetas, fato esse que foi observado nas amostras de sangue obtidas das cadelas utilizadas neste experimento. Os resultados obtidos constam na tabela 1.De acordo com os valores observados, todos os animais apresentaram uma redução nos valores das plaquetas após a anestesia. Esta redução em alguns casos foram pouco significativas, porém na grande maioria dos animais as alterações foram bastante consideráveis.

Com relação à obtenção das amostras, o procedimento foi realizado empregando um sistema de coleta à vácuo e em recinto calmo e com o mínimo de trânsito de pessoas, para propiciar um ambiente agradável para o paciente, pois de acordo com Santos [2], a coleta traumática causaa ativação plaquetária com formação de agregados que podem falsamente diminuir o número de plaquetas.

Baseado nos resultados alcançados, conclui-se que o momento ideal para a coleta de sangue visando a realização da contagem de plaquetas seria antes de anestesiar o paciente, pois a contagem plaquetária após administrar fármacos anestésicos geralmente é inferior em relação ao exame realizado antes de qualquer intervenção anestésica.

Referências

[1] GOPEGGI, R. R; FELDMAN, B. F. 2004. Plaquetas e Doença de Von Willebrand. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. Ed. 5. São Paulo: Editora Guanabara Koogan. p. 1915-1927

[2] SANTOS, A. P. 2005. Avaliação da hemostasia e distúrbios da coagulação. Anais do 2º Simpósio de Patologia Clínica Veterinária da Região Sul do Brasil - Porto Alegre: UFRGS.

[3] GARCIA-NAVARRO, C. E. K. 2005. Manual de Hematologia Veterinária. Ed 2: São Paulo. Editora Varela. 206p.

[4] MEYER, D. J; COLES, E. H.; RICH, L. J. 2005. Medicina de Laboratório Veterinária. São Paulo. Editora Roca. 308p.

[5] BRITES, M. G. 2007 [Online]. Trombocitopenia Imunomediada em Cães – Revisão Bibliográfica e Relato de Casos.Homepage:http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/13361/000640535.pdf?sequence=1

[6] MANUAL MERK. 2009 [Online]. Distúrbios Hemorrágicos.Homepage:http://www.msdbrazil.com/msdbrazil/patients/manual_Merck/mm_sec14_155.html#section_8

[7] LIMA, A. O. et al. 1992. Métodos de laboratório aplicado a clínica. 7 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p. 10.

[8] LAZZERI, L. 1977. Hemostasia. In: _____. Fases fundamentais da técnica cirúrgica. São Paulo: Editora Varela, p.49-80.

Tabela 1: Contagem plaquetária em 14 cadelas antes e após a realização da anestesia.

Animal Antes da anestesia Após a anestesia

01 237,600 134,40002 287,820 145,80003 194,680 122,92004 247,260 235,60005 241,600 147,72006 319,390 166,05007 181,450 145,58008 154,570 140,12009 222,240 98,84010 304,720 86,80011 379,260 180,36012 221,400 211,12013 239,680 160,64014 217,000 132,000

Quantidade de plaquetas em mm3