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RENATA PROENÇA FERREIRA INVESTIGAÇÃO DE ADESÃO PLAQUETÁRIA NA ANEMIA FALCIFORME E O PAPEL DOS NUCLEOTÍDEOS CÍCLICOS NESTA ADESÃO CAMPINAS 2009

INVESTIGAÇÃO DE ADESÃO PLAQUETÁRIA NA ANEMIA …€¦ · As plaquetas AA, SS e SSHU quando estimuladas com trombina (TB), apresentaram uma adesão significativamente maior em

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  • RENATA PROENÇA FERREIRA

    INVESTIGAÇÃO DE ADESÃO PLAQUETÁRIA NA

    ANEMIA FALCIFORME E O PAPEL DOS

    NUCLEOTÍDEOS CÍCLICOS NESTA ADESÃO

    CAMPINAS

    2009

  • RENATA PROENÇA FERREIRA

    INVESTIGAÇÃO DE ADESÃO PLAQUETÁRIA NA

    ANEMIA FALCIFORME E O PAPEL DOS

    NUCLEOTÍDEOS CÍCLICOS NESTA ADESÃO

    Dissertação de Mestrado apresentada à Pós-

    Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da

    Universidade Estadual de Campinas para obtenção do

    título de Mestre em Clínica Médica, área de

    concentração em Ciências Básicas.

    Orientadora: Dra. Nicola Amanda Conran Zorzetto

    Co-Orientador: Prof. Dr. Fernando Ferreira Costa

    CAMPINAS

    2009

    iii

  • FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS DA UNICAMP

    Bibliotecário: Sandra Lúcia Pereira – CRB-8ª / 6044

    Ferreira, Renata Proença F413i “Investigação de adesão plaquetária na anemia falciforme e o papel

    dos nucleotídeos cíclicos nesta adesão” / Renata Proença Ferreira. Campinas, SP : [s.n.], 2009.

    Orientadores : Nicola Amanda Conran Zorzetto, Fernando Ferreira

    Costa Dissertação ( Mestrado ) Universidade Estadual de Campinas.

    Faculdade de Ciências Médicas. 1. Plaquetas (Sangue). 2. Anemia falciforme. 3. Citometria

    de fluxo. I. Zorzetto, Nicola Amanda Conran. II. Costa, Fernando Ferreira. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Ciências Médicas. IV. Título.

    Título em inglês : “Investigation of platelet adhesion in sickle cell disease and the role of cyclic nucleotides in this adhesion” Keywords: • Platelets (blood) • Sickle cell disease • Flow cytometry Titulação: Mestre em Clínica Médica Área de concentração: Ciências Básicas Banca examinadora: Profª. Drª. Nicola Amanda Conran Zorzetto Profº. Drº. Joyce Maria Annicchino-Bizzacchi Profª. Drª. Maria Stella Figueiredo Data da defesa: 28-08-2009

    iv

  • v

  • AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer à Dra. Nicola por me aceitar como sua aluna, sua experiência

    e profissionalismo contribuíram para a minha formação, tanto profissional como pessoal.

    Ela é uma pessoa muito humana e generosa, que nunca mediu esforços para conseguir

    recursos e apoio nas horas que mais precisei. Tenho muito que agradecê-la. Meus

    agradecimentos ao prof. Dr. Fernando que me recebeu em seu laboratório como estagiária,

    e a toda equipe de alunos que apostaram e acreditaram no meu trabalho. À Flávia Pinho,

    pois ela foi a primeira pessoa que tive contato no laboratório e que se tornou uma grande

    amiga. Obrigada por tudo! À Carol e à Dri que me ensinaram como trabalhar numa sala de

    cultura, pois a cultura de células foi o meu primeiro aprendizado no laboratório, muito

    obrigada! À Dul que sempre me ajudou com os documentos para que eu conseguisse

    transporte e bolsa de estudos, sempre muito prestativa para minha permanência no

    laboratório. Muito obrigada! À minha grande amiga Ana Flávia, pois há muitos anos nossos

    caminhos estão se cruzando. É com grande prazer que declaro o meu amor por essa amiga

    que sempre esteve ao meu lado nas horas mais felizes e mais tristes da minha vida. Muito

    obrigada, Ana! Também gostaria de agradecer às funcionárias Lena e Simone que sempre

    trouxeram alegria e quitutes maravilhosos ao laboratório! Obrigada! Muito obrigada à

    Camila, Lediana, Andréia, Sheley, Venina, Flávia, Flávia Boca, Vanessa, Renatinha,

    Juliana, Regiane, Fernanda, Diana, Emília, Ucha, Tatiana, Carlinha, Marcos André,

    Gabriela, Daniela, Denise e Anderson, que, direta ou indiretamente, me apoiaram.

    Agradeço à minha família pela paciência e apoio, em especial ao meu noivo, pais e irmãos,

    vocês foram imprescindíveis. Amo todos vocês.

    vii

  • RESUMO

    Anemia falciforme (AF) é uma doença causada por uma mutação de ponto, que

    resulta na formação de hemoglobina S (HbS). A polimerização de HbS desoxigenada

    resulta na deformação, enrijecimento e fragilização das células vermelhas, anemia

    hemolítica e eventos vasos-oclusivos, principal causa de morbidade nos pacientes com AF.

    A adesão anormal das células brancas e vermelhas ao endotélio diminui o fluxo de sangue

    na circulação micro-vascular, principal fator envolvido na vaso-oclusão. O objetivo deste

    trabalho foi comparar as propriedades adesivas de plaquetas de indivíduos sadios (AA) com

    as plaquetas de pacientes com AF (SS) e em terapia com hidroxiuréia (HU), e quais

    moléculas de adesão e sinalização estão envolvidas nesta adesão. A adesão basal de

    plaquetas ao fibrinogênio (FB) do grupo de pacientes SS foi significativamente maior em

    relação às plaquetas AA, entretanto, as plaquetas de pacientes SSHU mostraram uma

    adesão similar às plaquetas AA. As plaquetas AA, SS e SSHU quando estimuladas com

    trombina (TB), apresentaram uma adesão significativamente maior em relação às suas

    adesões basais. Por outro lado, não houve diferenças significativas entre as adesões basais

    das plaquetas AA, SS e SSHU ao colágeno como ligante. A citometria de fluxo foi utilizada

    para comparar a expressão e ativação das principais moléculas de adesão nestas plaquetas, e

    identificou-se um aumento de expressão da integrina αIIbß3 na sua conformação de ativação,

    na superfície das plaquetas SS, em relação às plaquetas AA e SSHU. A molécula P-

    selectina (CD62P) foi encontrada com maior expressão também na superfície das plaquetas

    SS. Ensaios de adesão utilizando anticorpos específicos para as moléculas de adesão

    indicaram um possível papel para a integrina αIIbß3 na adesão de plaquetas ao FB. O AMPc

    é um importante inibidor de ativação plaquetária, e os níveis intraplaquetários de adenosina

    manofosfato cíclica (AMPc) das plaquetas SS foram significativamente menores em

    relação às plaquetas AA e SSHU. A co-incubação das plaquetas com TB reduziu

    significativamente os níveis de AMPc nas plaquetas AA, e SSHU, e nas plaquetas SS essa

    redução não foi significativa. Além disso, foi interessante notar que os níveis de

    hemoglobina fetal (HbF) em pacientes SS e SSHU apresentaram uma significativa

    correlação com os níveis de AMPc. Em relação aos níveis intraplaquetários de guanosina

    monofosfato cíclica (GMPc), importante inibidor de agregação plaquetária, das plaquetas

    ix

  • AA, SS e SSHU não houve diferenças estatisticamente significativas, entretanto

    com estímulo de trombina houve um aumento significativo de GMPc nas plaquetas AA. A

    incubação das plaquetas com o cilostazol (inibidor específico da fosfodiesterase 3A,

    PDE3A) levou a uma redução da adesão de plaquetas SS, e sugere-se que as plaquetas SS

    possuem a atividade de fosforilação da PDE3A aumentada, e esteja relacionada com a

    degradação de AMPc nessas plaquetas. Além disso, dados indicam que as vias de

    sinalização dependentes de PKA, PKG e PKC não estão envolvidas na adesão alterada das

    plaquetas SS. A atividade funcional nos ensaios com agregação plaquetária de pacientes

    com AF está alterada, mas será necessário que novos experimentos sejam realizados para

    maiores conclusões. Os resultados sugerem que as plaquetas de pacientes AF circulam num

    estado ativado e que elas possuem maior capacidade de aderirem às proteínas que podem

    ser encontradas na matriz extracelular (MEC) e na superfície da parede vascular. Esta

    adesão aumentada está associada com os níveis diminuídos de AMPc intraplaquetários e

    ativação da integrina αIIbß3. Estas mesmas alterações parecem ser revertidas nos pacientes

    em uso de HU. Resultados sugerem que as plaquetas podem ter um papel importante no

    processo de vaso-oclusão. Quando estão ativadas, estas plaquetas servem como fonte

    importante para mediadores inflamatórios que, por sua vez, podem levar à exacerbação da

    inflamação e ativação celular no local.

    xi

  • ABSTRACT

    Sickle cell disease (SCD) is caused by a point mutation that results in the formation

    of Hemoglobin S (HbS). The polymerization of deoxygenated HbS causes deformation of

    red cells, which then adopt a sickle shape and become rigid and fragile. Hemolytic anemia

    and vaso-occlusive events are the main cause of morbidity in SCD; abnormal adhesion of

    white and red cells to the endothelium decreases the blood flow in the microcirculation and

    appears to be the main factor involved in vaso-occlusion. The objective of this study was to

    compare the adhesive properties of platelets from healthy individuals (AA platelets) with

    those of platelets from SCD patients (SS platelets) and from patients on HU therapy (SSHU

    platelets), as well as the adhesion molecules and signaling pathways that may be involved

    in this adhesion. The basal adhesion of SS platelets to fibrinogen (FB) was significantly

    higher than that of AA platelets; in contrast, SSHU platelets demonstrated a similar

    adhesion to that of AA platelets. Platelets from AA, SS and SSHU individuals, when

    stimulated with thrombin (TB), all presented significantly higher adhesions when compared

    with their basal adhesions. In contrast, there were no significant differences between the

    adhesions of AA, SS and SSHU platelets when collagen was used as a ligand. Flow

    cytometry was utilized to compare the expression and activation of the main adhesion

    molecules on AA, SS and SSHU platelets and identified a significantly higher expression of

    the αIIbβ3 integrin in its activated conformation on the surface of the SS platelets, in relation

    to the AA and SSHU. Expression of the P-selectin adhesion molecule (CD62P) was also

    found to be increased on the surface of SSHU platelets. Adhesion assays utilizing specific

    antibodies for the activated αIIbβ3 and P-selectin indicated a possible role for the αIIbβ3

    integrin in the adhesion of platelets to FB. The cyclic nucleotide, cyclic adenosine

    monophosphate (cAMP) is an important inhibitor of platelet aggregation. Intraplatelet

    levels of cAMP were found to be significantly lower in SS platelets compared to AA and

    SSHU platelets. Co-incubation of platelets with TB significantly reduced levels of cAMP in

    the AA and SSHU platelets, but in SS platelets this decrease was not significant.

    Interestingly, levels of fetal hemoglobin (HbF) in SCD patients (both SS and SSHU) were

    found to correlate significantly with levels of platelet AMPc. With regard to intraplatelet

    levels of cyclic guanosine monophosphate (cGMP), there were no significant differences

    xiii

  • found between AA, SS and SSHU platelets, however following a TB stimulus AA platelets

    demonstrated a significant increase in intracellular cGMP. Phosphodiesterase 3A (PDE3A)

    is the main cyclic nucleotide hydrolyzing enzyme in platelets. Incubation of SS platelets,

    but not AA or SSHU platelets, with cilostazol (specific inhibitor of PDE3A) resulted in a

    significant reduction in their adhesion to FB, suggesting that PDE3A activity in SS platelets

    may be activated and that augmentation of cAMP is capable of reverting increased SS

    platelet adhesion. Additional experiments indicate that Protein kinase A (PKA), PKG and

    PKC dependent signaling pathways are not involved in the altered adhesion of SS platelets.

    The functional activity of SS platelets was found to be altered in platelet aggregation

    assays, however further experiments are required to draw conclusions from these data.

    Results of this study suggest that platelets from SCD individuals circulate in an activated

    state and that they present a greater ability to adhere to proteins that may be encountered on

    the vessel wall. This augmented adhesion is associated with decreased levels of intraplatelet

    cAMP and activation of the αIIbβ3 integrin. These alterations appear to be reversed in

    patients on HU therapy. Results suggest that platelets may have an important role in the

    vaso-occlusive process.When activated these cells are an important source of inflammatory

    mediators that may, in turn, result in an exacerbation of cellular activation at the vaso-

    occlusive site.

    xv

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    AA – plaquetas de controles

    AC – adenilato ciclase

    ADP – adenosina difosfato

    AF – anemia falciforme

    AKT – serina/treonina quinase

    AMPc – adenosina monofosfato cíclico

    ATP – adenosina trifosfato

    CEP – comitê de ética e pesquisa

    Col – colágeno

    CV – células vermelhas

    FB – fibrinogênio

    GC – guanilato ciclase

    GMPc – guanosina monofosfato cíclico

    GTP – guanosina trifosfato

    HbF – hemoglobina fetal

    HbS – hemoglobina S

    HU – hidroxiuréia

    IL-6 – interleucina 6

    IL-8 – interleucina 8

    MEC – matriz extracelular

    NO – óxido nítrico

    PAR-1 – receptor 1 de ativação de protease

    PDE – fosfodiesterase

    PGE1 – prostaglandina 1

    PGE2 – prostaglandina 2

    PI3K – fosfatidil-inositol-3-quinase

    PKA – proteína quinase A

    PKC - proteína quinase C

    PKG - proteína quinase G

    xvii

  • PSGL-1 – ligante 1 para a glicoproteína p-selectina

    RANTES – quimiocina secretada e expressa por células T normais

    ROS – espécies reativas ao oxigênio

    SS – plaquetas de pacientes

    SSHU – plaquetas de pacientes com HU

    TA – temperatura ambiente

    TB – trombina

    TCLE – termo de consentimento livre e esclarecido

    TNF-α - fator de necrose tumoral α

    vWF – fator de von Willebrant

    xix

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Aspectos clínicos dos controles AA, pacientes SS e pacientes SSHU que

    participaram deste estudo. .................................................................................................... 66 

    Tabela 2: Expressão das moléculas de adesão na superfície das plaquetas dos

    controles (AA), pacientes (SS) e pacientes em terapia com hidroxiuréia (SSHU). ............. 73 

    xxi

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Fisiopatologia da Anemia Falciforme (Adaptado do: Steinberg; Trends

    Pharm Sci, 2006). A síntese de hemoglobina S é resultado de uma mutação de

    ponto, que quando desoxigenada forma polímeros no interior das hemácias,

    deformando-a e tornando-a rígida as (formato de foice). As hemácias, neutrófilos e

    reticulócitos participam do processo de vaso-oclusão, além da hemólise

    intravascular de hemácias, são eventos que caracterizam a anemia falciforme. .................. 39 

    Figura 2: Esquema das moléculas de adesão de plaquetas e seus respectivos

    anticorpos como ligantes. GPIb/IX/V (CD42b/CD42a) presente em plaquetas; a

    integrina α2β1 (GPIa/IIa; CD49b/CD29), ligante para o colágeno; a integrina αIIbß3

    (GPIIb/IIIa; CD41a/CD61), ligante para o fibrinogênio e a molécula de adesão P-

    selectina. ............................................................................................................................... 43 

    Figura 3: Adesão plaqueta/endotélio. Superfície do endotélio ativado expressa a P-

    selectina. Os receptores de superfície de plaqueta GPIbα e PSGL-1 interagem com

    a P-selectina endotelial e mediam o rolamento de plaquetas. Adesão firme é

    mediada pelas integrinas αvβ3 e αIIbβ3 .(Adaptado do: J. Clin. Invest. Meinrad

    Gawaz, et al., 2005). ............................................................................................................. 43 

    Figura 4: Regulação dos níveis intraplaquetários de AMPc via trombina. A

    trombina (TB) regula os níveis de AMPc impedindo a síntese de ATP, e

    consequentemente, acelerando a degradação do AMPc para 5’AMP via PDE3A. A

    TB liga-se ao receptor de ativação plaquetária 1 (PAR-1), e a adenilato ciclase

    (AC) é inibida através do acoplamento direto de PAR-1 à Gi, ou indiretamente pela

    liberação de ADP. O ADP liga-se ao receptor P2Y, o qual se acopla à proteína Gi2, que inibe a AC e diminui o AMPc. Os efeitos da TB em diminuir o AMPc são

    sinérgicos, porque TB bloqueia a formação de AMPc através da inibição da AC

    via PDE3A. A outra via é pela fosforilação/ativação da via AKT/PI3K, onde AKT

    pode diretamente ativar a PDE3A, proporcionando um mecanismo adicional que

    regula o AMPc (adaptado do: HEMOSTASIS, THROMBOSIS, AND

    VASCULAR BIOLOGY. Zhang e Colman, 2007). ............................................................. 46

    xxiii

  •  Figura 5: Esquema do ensaio de ELISA para AMPc, de acordo com o fabricante

    (Amershan Biosciense). ........................................................................................................ 61 

    xxv

  • LISTA DE GRÁFICOS

    Gráfico 1: Adesão basal das plaquetas de indivíduos controles (AA), pacientes AF

    (SS) e pacientes AF em terapia com HU (SSHU), 37ºC, 15 min. (A) adesão basal

    das plaquetas ao FB (50 µg/ml), *p

  •  Gráfico 7: Adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao FB, na presença ou ausência

    do inibidor específico de PDE3A (cilostazol), DMSO e estimulada com TB. (A)

    ensaio de adesão ao FB (50 µg/ml) basal, DMSO(0.001 % v/v) e cilostazol (1.6

    µM); e com TB (50 mU/ml, 15 min, 37°C) com plaquetas AA; (B) plaquetas SS;

    (C) plaquetas SSHU; *p

  • SUMÁRIO

    AGRADECIMENTOS ......................................................................................................... vii

    RESUMO .............................................................................................................................. ix

    ABSTRACT ........................................................................................................................ xiii

    LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................... xvii

    LISTA DE TABELAS ........................................................................................................ xxi

    LISTA DE FIGURAS ....................................................................................................... xxiii

    LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................................... xxvii

    SUMÁRIO ......................................................................................................................... xxxi

    1 – INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 37

    1.1- Processo de vaso-oclusão na anemia falciforme ....................................................... 37

    1.2- Hemoglobina Fetal .................................................................................................... 38

    1.3- Hidroxiuréia .............................................................................................................. 38

    1.4- Anemia falciforme como uma doença inflamatória crônica ..................................... 39

    1.5- Plaquetas ................................................................................................................... 40

    1.6- Adesão das plaquetas ao endotélio ............................................................................ 41

    1.7- Nucleotídeos cíclicos e adesão plaquetária ............................................................... 44

    2 – OBJETIVOS ................................................................................................................... 49

    2.1- Objetivos Gerais ........................................................................................................ 49

    2.2- Objetivos Específicos ................................................................................................ 49

    3- CASUÍSTICA E ASPECTOS ÉTICOS ........................................................................... 53

    3.1- Aspectos éticos da pesquisa ...................................................................................... 53

    4- METODOLOGIA ............................................................................................................ 57

    4.1- Separação de Plaquetas ............................................................................................. 57

    4.2- Ensaio de Adesão Estático ........................................................................................ 57

    4.3- Uso de drogas e/ou anticorpos em ensaios de adesão ............................................... 58

    4.4- Citometria de Fluxo ................................................................................................... 59

    4.5- Extração e mensuração dos Nucleotídeos Cíclicos (AMPc e GMPc) ....................... 60

    4.6- Ensaio de Agregação Plaquetária .............................................................................. 61

    xxxi

  • 4.7- Análise Estatística ..................................................................................................... 62

    5 – RESULTADOS .............................................................................................................. 65

    5.1- Aspectos clínicos dos indivíduos controles e pacientes que participaram do

    estudo ................................................................................................................................ 65

    5.2- Adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao FB in vitro. .............................................. 67

    5.3- Adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao Col in vitro............................................... 67

    5.4- Trombina induz um aumento na adesão de plaquetas ao FB e ao Col. ..................... 67

    5.5- Avaliação da expressão e função de moléculas de adesão na superfície de

    plaquetas AA SS SSHU, utilizando a técnica de citometria de fluxo. ............................. 70

    5.6- Efeitos dos anticorpos anti-moléculas de adesão na adesão de plaquetas ao

    FB ..................................................................................................................................... 71

    5.7- Níveis intraplaquetários de AMPc em plaquetas AA, SS e SSHU ........................... 71

    5.8- Efeito da trombina nos níveis intraplaquetários de AMPc em plaquetas

    AA, SS e SSHU ................................................................................................................ 72

    5.9- Correlação dos níveis de HbF em pacientes SS e SSHU com os níveis

    intraplaquetários de AMPc ............................................................................................... 76

    5.10- Níveis intraplaquetários de GMPc em plaquetas AA, SS e SSHU ......................... 76

    5.11- Efeito do inibidor da PDE3A, cilostazol, na adesão de plaquetas AA, SS e

    SSHU ao FB ..................................................................................................................... 76

    5.12- Efeito dos inibidores das proteínas quinases PKA, PKG e PKC na adesão

    de plaquetas AA, SS e SSHU ........................................................................................... 80

    5.13- Agregação plaquetária e padronizações necessárias ............................................... 82

    5.14- Comparação da agregação das plaquetas AA, SS e SSHU com os

    agonistas plaquetário ADP, Col e TB ............................................................................... 84

    6 – DISCUSSÃO .................................................................................................................. 89

    7 – CONCLUSÃO ................................................................................................................ 97

    8 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 101

    9 – APÊNDICES ................................................................................................................ 111

    9.1- Artigo submetido em 25 de agosto de 2009 – HAEMATOLOGICA ..................... 111

    xxxiii

  • Introdução

  • 1 – INTRODUÇÃO

    A anemia falciforme é conseqüência de uma mutação de ponto envolvendo a troca

    do ácido glutâmico pela valina, na sexta posição da cadeia polipeptídica da β-globina e que

    resulta na síntese de uma hemoglobina anômala, a hemoglobina S (HbS) (STUART e

    NAGEL, 2004). A HbS quando desoxigenada forma polímeros e causa deformação,

    enrijecimento e fragilização das células vermelhas, quando essas atravessam a

    microvasculatura. Além disso, a hemólise intravascular que resulta em anemia, eventos

    vasos-oclusivos, causa um aumento na susceptibilidade à infecção (FIGURA 1), que

    caracterizam a AF. Vários fatores contribuem para a vaso-oclusão, principal causa de

    morbidade em pacientes com AF. A adesão anormal das células brancas e vermelhas ao

    endotélio desencadeia uma diminuição do fluxo de sangue na microcirculação, e é um dos

    principais fatores envolvidos na vaso-oclusão (FADLON et al., 1998; ROSSE et al., 2000).

    1.1- Processo de vaso-oclusão na anemia falciforme

    A vaso-oclusão é um processo que envolve várias etapas. Eventos vasos-oclusivos

    são iniciados pela adesão anormal de células vermelhas e brancas ao endotélio vascular e

    interações heterogêneas. Essas interações podem ser mediadas, principalmente, pela

    ativação das vias de sinalização dessas células e pelo aumento da atividade e expressão das

    moléculas de adesão na superfície das células endoteliais, vermelhas e leucócitos

    (HILLERY et al., 2000; STUART e NAGEL, 2004; ASSIS et al., 2005; GAMBERO et al.,

    2007; CANALLI et al., 2008). Em paralelo à adesão das células vermelhas e leucócitos ao

    endotélio, a hemostase catiônica anormal das hemácias ocasiona desidratação e a formação

    de hemácias irreversivelmente falcizadas. O tônus vasomotor anormal favorece a

    vasoconstrição, devido à diminuição da biodisponibilidade de óxido nítrico (NO) e

    endotelina-1. Estes acontecimentos levam ao prolongamento do tempo de trânsito do

    eritrócito na microvasculatura e, consequentemente, à polimerização da HbS devido à

    desoxigenação das hemácias e o eventual bloqueio do vaso. O aumento da concentração

    intracelular de HbS, a diminuição do pH sanguíneo, a liberação de espécies reativas ao

    oxigênio (ROS), e a ativação da cascata de coagulação com geração secundária de

    trombina, também contribuem para o processo de vaso-oclusão (HEAD et al., 1997)). O

    NO é um gás solúvel com meia vida de alguns segundos, tornou-se uma substância de

    Introdução 37

  • grande interesse devido principalmente aos seus efeitos benéficos na manutenção do tônus

    muscular e prevenção da agregação plaquetária (através do aumento do GMPc e diminuição

    do Ca2+ intraplaquetário) (NATHAN, 1992).

    1.2- Hemoglobina Fetal

    O aumento significativo dos níveis de hemoglobina fetal (HbF) nas células

    vermelhas (CV) normalmente proporciona uma melhora clínica para os pacientes com AF,

    pois existem pacientes que apresentam níveis aumentados de HbF (ROSSE et al., 2000). A

    hemoglobina fetal é uma molécula formada pela combinação de 2 cadeias α-globínicas e 2

    cadeias γ-globínicas, substituindo as cadeias β-globínicas. Esta combinação inibe a

    polimerização da hemoglobina e, conseqüentemente, a falcização das CV, reduzindo os

    sintomas da AF (SERJEANT & SERJEANT, 2001). A cadeia γ-globínica é produzida em

    altos níveis em células eritróides durante a fase embrionária, porém, após o nascimento

    ocorre o “switching” (ou seja, a produção predominante passa a ser de cadeias β-

    globínicas). Sendo assim, são necessários novos estudos com drogas capazes de reverter

    esse efeito “gene switching”, por terapia gênica, para aumentar os níveis de HbF nas CV

    reduzindo os sintomas da doença.

    1.3- Hidroxiuréia

    A hidroxiuréia (HU) promove a produção de HbF indiretamente (ROSSE et al.,

    2000) e é a única droga disponível no momento, clinicamente comprovada, que diminui a

    frequência de crises de vaso-oclusão e a necessidade de transfusões sanguíneas

    (CHARECHE et al., 1995). Postula-se que a HU previne a formação da ribonucleotidase,

    inibindo a síntese de DNA e, consequentemente, aumenta a produção de HbF (ROSSE et

    al., 2000). Porém, alguns estudos têm mostrado que a HU pode exercer seu efeito através

    de outros mecanismos. Um desses mecanismos seria o aumento da produção de NO através

    da L-arginina (MORRIS et al., 2001). Gladwin e colaboradores (2002) demonstraram que a

    terapia com HU promove a formação intracelular e intraeritrocítica de NO e sugerem que é

    esse aumento de NO que eleva os níveis de HbF. Produtos da reação de oxidação do NO

    (nitrato, nitrito e hemoglobina nitrosilada) foram medidos em alguns pacientes e os níveis

    obtidos encontraram-se bastante elevados após a ingestão de HU (COKIC et al., 2003),

    Introdução 38

  • levando a acreditar que alguns dos efeitos e benefícios da HU possam ser mediados pela

    liberação intravascular de NO.

    Vaso-oclusão

    Hemólise intravascular

    Figura 1: Fisiopatologia da Anemia Falciforme (Adaptado do: Steinberg; Trends

    Pharm Sci, 2006). A síntese de hemoglobina S é resultado de uma mutação de ponto, que

    quando desoxigenada forma polímeros no interior das hemácias, deformando-a e tornando-

    a rígida as (formato de foice). As hemácias, neutrófilos e reticulócitos participam do

    processo de vaso-oclusão, além da hemólise intravascular de hemácias, são eventos que

    caracterizam a anemia falciforme.

    1.4- Anemia falciforme como uma doença inflamatória crônica

    Atualmente, pesquisadores possuem uma visão mais holística da anemia falciforme.

    A obstrução e lesão do endotélio e dos tecidos desencadeiam uma resposta inflamatória

    que, por sua vez, leva a um estado inflamatório crônico em pacientes com AF,

    caracterizado por alterações significativas no repertório de citocinas inflamatórias e fatores

    de crescimento. Tais citocinas, como a interleucina 6 (IL-6), interleucina 8 (IL-8), fator-α

    de necrose tumoral (TNF- α) e o fator estimulador de colônia de macrófago-granulócito

    Introdução 39

  • (GM-CSF) são encontrados em níveis elevados nos pacientes com AF (DUITS et al., 1996;

    CROIZAT, et al., 1999; CONRAN et al., 2004; LANARO et al., 2008). Níveis aumentados

    dessas citocinas geram enormes consequências para a fisiopatologia da doença, como por

    exemplo, a ativação dos leucócitos e mudança na produção e migração das células brancas

    da medula óssea (PLATT, 2000).

    Em condições fisiológicas normais, enzimas antioxidantes (NADPH oxidase e

    xantina oxidase) e a formação ROS são resultados de uma atividade basal sem causar lesão

    tecidual. Na AF, devido à resposta inflamatória associada à disfunção/ativação endotelial e,

    consequentemente, ativação de células vermelhas, leucócitos e plaquetas, há um aumento

    do stress oxidativo que contribuiu para a formação de espécies reativas ao oxigênio (ROS),

    (WOOD e GRANGER, 2007).

    1.5- Plaquetas

    As plaquetas são produzidas por um processo de proliferação e diferenciação celular

    dos megacariócitos, que ocorre durante a Megacariocitopoese no interior da medula óssea

    (LOURENÇO et al., 2001). São pequenos fragmentos discóides que têm cerca de 2 µm de

    diâmetro, anucleados, originárias do citoplasma dos megacariócitos que circulam na

    corrente sangüínea (RUGGERI, 2002). Na sua membrana plasmática localizam-se

    receptores como complexos de glicoproteínas, da família das integrinas, com domínios

    extracelulares, transmembrana e citoplasmático que permitem a sua ativação para o meio

    intraplaquetário durante a agregação, com a mudança da sua forma discóide para projeções

    da membrana plasmática e liberação do conteúdo dos grânulos intraplaquetários. Existem 2

    tipos de grânulos no interior das plaquetas: os grânulos alfa que contêm fibrinogênio,

    fibronectina, fatores V e VIII e fatores de crescimento (fator de crescimento derivado de

    plaquetas, PDGF, e o fator β transformador do crescimento, TGF-β); e os corpúsculos

    eletro densos ou grânulos densos, que armazenam adenosina difosfato (ADP), adenosina

    trifosfato (ATP), cálcio ionizado, histamina, serotonina e adrenalina (ROBBINS et al.,

    1996). A ativação plaquetária (receptores de membrana) é um processo fisiológico

    fundamental para a manutenção da função hemostática plaquetária (KULKARNI, 2000).

    Em condições normais, cerca de 1012 plaquetas percorrem um fluxo de 1000 m2 na

    superfície do endotélio sem aderência ou agregação. Quando ocorre uma desestabilização

    Introdução 40

  • da integridade desse fluxo sanguíneo (lesão tecidual), as plaquetas são ativadas através dos

    seus receptores de membrana (moléculas de adesão) que promovem a adesão às células

    endoteliais, através das integrinas e das selectinas, e também pelas proteínas adesivas do

    fator de von Willebrand (vFW) que é secretado pelas células endoteliais, e pelo

    fibrinogênio encontrado no plasma sanguíneo e na matriz extracelular (MEC). As plaquetas

    desempenham um importante papel na patogênese dos eventos vasculares agudos, como no

    infarto do miocárdio e no acidente vascular cerebral (AVC). Quando as plaquetas estão

    ativadas, a adesão ao endotélio pode ocorrer além da agregação, como nas tromboses

    (LEVI, 2005). O aumento da ativação plaquetária em pacientes AF já foi investigado

    (WUN et al., 1998 e 1999; TOMER et al., 2001). Pesquisadores evidenciaram que alguns

    fatores estejam correlacionados com esta ativação, como: o aumento dos níveis de ß-

    tromboglobulina no plasma sanguíneo (MEHTA, 1980; ADAMIDES et al., 1990),

    diminuição na secreção de ADP/ATP (BUERLING-HARBURY et al., 1989) e eliminação

    de tromboxano A2 pela urina (KURANSTIN-MILLS et al., 1992). A circulação e a

    agregação de plaquetas na AF são significativamente anormais, mesmo durante os quadros

    de estabilidade clínica dos pacientes, como a ausência de crises de vaso-oclusão. Existem

    algumas terapias antiplaquetárias usadas na AF, como o efeito da aspirina (com ou sem

    dipiridamol), que diminuem as crises álgidas (CHAPLIN et al., 1980; OSAMO et al.,

    1981).

    1.6- Adesão das plaquetas ao endotélio

    A adesão das plaquetas ao endotélio é mediada pela exposição de moléculas

    subendoteliais (colágeno) da MEC, e pelas moléculas de adesão das células endoteliais

    (selectinas), que contribuem para a adesão plaquetária. O mecanismo da adesão das

    plaquetas envolve o sequestro celular no local da lesão endotelial através da interação de

    quatro receptores sinérgicos: a glicoproteína GPIb/IX/V (CD42b/CD42a) presente em

    plaquetas; a integrina α2β1 (GPIa/IIa; CD49b/CD29), ligante para o colágeno; a integrina

    αIIbß3 (GPIIb/IIIa; CD41a/CD61), ligante para o fibrinogênio e a integrina α5β1 (GPIc/IIIa;

    CD51/CD61), ligante para a fibronectina (RUGGERI, 2002). A interação entre a GPIb

    (subunidade do complexo GPIb/IX/V) e o vFW pode levar ao sequestro transitório de

    plaquetas e adesão ao endotélio (FIGURA 2). Essa interação é amplificada pela ativação

    Introdução 41

  • dos receptores da integrina αIIbβ3 das plaquetas e a ligação com o colágeno e estruturas

    subendoteliais, resultando na formação de um agregado plaquetário estável, e ligações

    irreversíveis com o fibrinogênio e vFW (KULKARNI et al., 2000). Os determinantes

    moleculares que promovem a interação entre plaquetas e endotélio não são completamente

    conhecidos (GAWAZ, et al., 2005). O contato inicial das plaquetas com o endotélio

    durante o fluxo sanguíneo é mediado pelas selectinas presentes em plaquetas e células

    endoteliais. As selectinas são moléculas de adesão celular Ca+2-dependentes com domínios

    de reconhecimento para carboidratos (CRD), que pertencem ao grupo das lectinas

    (KIERSZENBAUM, 2004). A P-selectina (CD62P), encontrada em plaquetas e células

    endoteliais, é rapidamente expressa na superfície endotelial como mediadora da circulação

    de plaquetas nas arteríolas e vênulas durante os processos inflamatórios (FRENETTE et al.,

    1995, 1998) e é expressa na superfície da plaqueta após a sua ativação.

    A PSGL-1 (ligante 1 para a glicoproteína P-selectina) ativa plaquetas ou células

    endoteliais (KHARGHAN et al., 2006), foi primeiramente identificada em leucócitos

    (KANSAS, 1996). A interação entre a P-selectina e PSGL-1 ou GPIb/IX/V é reversível e

    insuficiente para estabilizar a adesão (GAWAZ et al., 2005), (FIGURA 3). Deficiências ou

    inibidores de P-selectina diminuem a formação do tampão hemostático (PALABRICA et

    al., 1992; SUBRAMANIAM et al., 1996). A rápida conversão para estabilizar a adesão

    requer um contato adicional entre plaquetas e o endotélio. As integrinas αIIbβ3 (KASIRER-

    FRIEDE et al., 2002; ARY et al., 2003) e α2β1 (NIESWANDT e WATSON, 2003; KAHN,

    2004;) são as principais mediadoras de receptores de superfície que estabilizam a adesão

    em células hematopoéticas (RUGGERI, 2002), (FIGURA 3). Estudos in vitro com a

    integrina αIIbβ3 demonstraram uma adesão das plaquetas ao endotélio muito eficiente

    (GAWAZ et al., 1997; Bombeli et al., 1998), e in vivo esta adesão é inibida com o

    anticorpo anti-αIIbβ3 MAb (MASSBERG, 1999).

    Introdução 42

  • Introdução 43

    Figura 2: Esquema das moléculas de adesão de plaquetas e seus respectivos anticorpos

    como ligantes. GPIb/IX/V (CD42b/CD42a) presente em plaquetas; a integrina α2β1 (GPIa/IIa; CD49b/CD29), ligante para o colágeno; a integrina αIIbß3 (GPIIb/IIIa;

    CD41a/CD61), ligante para o fibrinogênio e a molécula de adesão P-selectina.

    Figura 3: Adesão plaqueta/endotélio. Superfície do endotélio ativado expressa a P-

    selectina. Os receptores de superfície de plaqueta GPIbα e PSGL-1 interagem com a P-

    selectina endotelial e mediam o rolamento de plaquetas. Adesão firme é mediada pelas

    integrinas αvβ3 e αIIbβ3 .(Adaptado do: J. Clin. Invest. Meinrad Gawaz, et al., 2005).

    αα22ββ

    ααIIIIbbββ33

    ααIIIIbbββ33

    ααIIIIbbββ

    PP--sseelleeccttiinnaa

    ααIIIIbbββ33

    GGPPIIbb--IIXX--VV

    MMeemmbbrraannaa PPllaassmmááttiiccaa

  • 1.7- Nucleotídeos cíclicos e adesão plaquetária

    Muitos antagonistas fisiológicos de função das plaquetas atuam pela ativação das

    enzimas adenilato ciclase (AC) e guanilato ciclase (GC) (STEER e SALZMAN, 1980),

    que, por sua vez, produzem aumento dos níveis intraplaquetários de nucleotídeos cíclicos

    (NC), adenosina monofosfato cíclico (AMPc) e guanosina monofosfato cíclico (GMPc),

    respectivamente (SCHWARZ et al., 2001). A elevação dos níveis de NC no interior das

    plaquetas interfere na ativação da via de sinalização, e efetivamente bloqueia o complexo

    intraplaquetário da rede de sinalização, rearranjo de citoesqueleto, ativação do receptor para

    o fibrinogênio, liberação de grânulos plaquetários e a expressão de moléculas pró-

    inflamatórias (BENETT et al., 1999; CALDERWOOD et al., 2000). Níveis de AMPc são

    aumentados pela síntese de adenosina trifosfato (ATP) catalisado pela enzima de membrana

    AC. O GMPc por sua vez é produzido a partir da guanosina trifosfato (GTP), pela enzima

    citoplasmática GC das plaquetas. O NO media seus efeitos pela ativação da GC e,

    consequentemente, eleva os níveis de GMPc. Os níveis dos NC são diminuídos por

    degradação, através da hidrólise dos mesmos por enzimas fosfodiesterases (PDEs)

    (SCHWARZ et al., 2001; ZHANG e COLMAN, 2007). Os principais alvos moleculares

    dos NC em plaquetas são as proteínas quinases dependentes de NC, que mediam seus

    efeitos através da fosforilação de substratos específicos (EIGENTHALER et al., 1992).

    Aumento da concentração de AMPc e/ou GMPc em plaquetas, leva a uma inibição dos

    níveis de Ca2+ intraplaquetário (SCHWARZ et al., 2001). O AMPc controla múltiplas vias

    de sinalização em plaquetas, e atua como um regulador na ativação plaquetária (ZHANG e

    COLMAN, 2007). Além disso, a ativação plaquetária estimulada por trombina (agonista

    plaquetário) diminui os níveis intraplaquetários de AMPc via receptor de proteína Gi

    (SIMONDS et al., 1989). Zhang e Colman (2007) demonstraram em estudos in vitro que a

    Introdução 44

  • trombina pode inibir diretamente a AC através da proteína Gi, que se acopla ao receptor de

    ativação plaquetária (PAR-1), ou inibir indiretamente através da secreção de ADP dos

    grânulos densos das plaquetas. Para tanto, sugere-se que a via de sinalização onde TB

    regula AMPc pela fosforilação/ativação da PI3/Akt (WOULFE, et al., 2004), esteja

    envolvida na fosforilação/ativação da PDE3A induzida por trombina, responsável pela

    hidrólise e degradação de AMPc (FIGURA 4).

    O papel dos NC na adesão plaquetária ainda não está bem definido. O AMPc

    geralmente é descrito como um inibidor de agregação plaquetária. A prostaglandina 2

    (PGE2), por exemplo, estimula a produção de AMPc e inibe a adesão das plaquetas ao

    endotélio em coelhos. Por outro lado, a adesão das plaquetas ao colágeno não é afetada pela

    prostaglandina E1 (PGE1); e o forskolin (ativadores de AC) aumenta a adesão de plaquetas

    ao colágeno. Possivelmente, o AMPc inibe efeitos secundários como o aumento dos níveis

    intraplaquetário de Ca2+ citoplasmáticos induzidos por ADP, tromboxano A2 ou serotonina,

    e não é a resposta principal ao colágeno (SCHWARZ et al., 2001). O GMPc aparenta ter

    um papel inibidor na adesão plaquetária. A estimulação de GC por NO bloqueia a

    agregação plaquetária e, possivelmente, este efeito acontece pela inibição das

    fosfodiesterases de AMPc dependente de GMPc que proporciona o aumento dos níveis de

    AMPc e, conseqüentemente, inibição pela PKA (POLANOWSKA-GRABOWSKA et al.,

    1994).

    Introdução 45

  • Figura 4: Regulação dos níveis intraplaquetários de AMPc via trombina. A trombina

    (TB) regula os níveis de AMPc impedindo a síntese de ATP, e consequentemente,

    acelerando a degradação do AMPc para 5’AMP via PDE3A. A TB liga-se ao receptor de

    ativação plaquetária 1 (PAR-1), e a adenilato ciclase (AC) é inibida através do acoplamento

    direto de PAR-1 à Gi, ou indiretamente pela liberação de ADP. O ADP liga-se ao receptor

    P2Y, o qual se acopla à proteína Gi2, que inibe a AC e diminui o AMPc. Os efeitos da TB

    em diminuir o AMPc são sinérgicos, porque TB bloqueia a formação de AMPc através da

    inibição da AC via PDE3A. A outra via é pela fosforilação/ativação da via AKT/PI3K,

    onde AKT pode diretamente ativar a PDE3A, proporcionando um mecanismo adicional que

    regula o AMPc (adaptado do: HEMOSTASIS, THROMBOSIS, AND VASCULAR

    BIOLOGY. Zhang e Colman, 2007).

    Introdução 46

  • Objetivos

  • 2 – OBJETIVOS

    2.1- Objetivos Gerais

    Investigação das propriedades adesivas e agregantes de plaquetas em pacientes com

    anemia falciforme e em terapia com hidroxiuréia, e elucidação do papel dos nucleotídeos

    cíclicos e outras vias de sinalização, como principais mediadores dos processos de vaso-

    oclusão e adesão plaquetária.

    2.2- Objetivos Específicos

    2.2.1- Comparação das propriedades adesivas basais das plaquetas aos ligantes

    fibrinogênio e colágeno, entre indivíduos saudáveis (AA), pacientes com

    anemia falciforme (SS) e em terapia com hidroxiuréia (SSHU), utilizando-se

    ensaio de adesão estático.

    2.2.2- Avaliação da adesão plaquetária ao fibrinogênio após o estímulo com

    trombina (agonista plaquetário).

    2.2.3- Avaliação da adesão plaquetária ao fibrinogênio com inibidores de proteínas

    quinase (KT5720 e H-89, inibidores de PKA; inibidor de PKG e o Ro-31-

    8220, inibidor de PKC), um inibidor da fosfodiesterase 3A (cilostazol), e

    com anticorpos específicos para P-selectina (CD62P) e integrina αIIbß3

    (PAC-1), com plaquetas de AA, SS e SSHU, utilizando-se ensaio de adesão

    estático.

    2.2.4- Avaliação da expressão das moléculas de adesão na membrana plasmática

    das plaquetas de indivíduos AA, SS e SSHU, utilizando-se a técnica de

    citometria de fluxo.

    2.2.5- Quantificação dos níveis intraplaquetários de GMPc e AMPc por ELISA, de

    plaquetas de AA, SS e SSHU (com e sem estímulo de trombina).

    2.2.6- Avaliação e comparação da função plaquetária com agonistas (ADP,

    colágeno e trombina) de plaquetas AA, SS e SSHU, utilizando-se ensaio de

    agregação plaquetária.

    Objetivos 49

  • Casuística e Aspectos Éticos

  • 3- CASUÍSTICA E ASPECTOS ÉTICOS

    Médicos responsáveis pelos pacientes: prof. Dr. Fernando Ferreira Costa,

    profaDra. Sara T.O. Saad e Dra. Fabíola Traina.

    Foram selecionados pacientes com AF homozigotos para a HbS diagnosticados pelo

    Hemocentro da UNICAMP, utilizando os métodos de eletroforese de hemoglobina e

    cromatografia líquida de alta pressão (HPLC) (VARIANTTM; Bio-Rad Laboratoryes,

    Hercules, CA, EUA). Foram coletados aproximadamente 12 ml de sangue periférico, para a

    separação das plaquetas, de um grupo de voluntários sadios (masculinos e femininos) e

    pacientes com AF (masculinos e femininos). O grupo de pacientes foi composto por 2

    grupos de pacientes com e sem terapia com HU, com idades entre 18-65 anos. O grupo de

    voluntários sadios foi composto por alunos/funcionários da UNICAMP, que estiveram sem

    uso de aspirina (ácido acetilsalisílico) por pelo menos 10 dias e não receberam nenhuma

    compensação financeira. Os dois grupos de pacientes também estiveram sem uso de

    aspirina por pelo menos 10 dias. Os grupos de pacientes apresentavam-se em fase estável,

    ausência de crises de dores, infecção e transfusões prévias por pelo menos 3 meses

    anteriores à data da coleta das amostras. O início do tratamento do grupo de pacientes em

    terapia com HU (20-30 mg/Kg/dia) foi decidido pelo médico responsável de acordo com os

    seguintes critérios de inclusão: crises de vaso-oclusão com frequência superior à 3 vezes

    pelo período de um ano, e/ou repetidos episódios de síndrome torácica aguda. Foram

    coletadas apenas amostras de pacientes que estavam em uso de HU há pelo menos 3 meses.

    Os indivíduos (voluntários sadios e pacientes) assinaram o Termo de Consentimento Livre

    e Esclarecido (TCLE) e seus dados clínicos estão na TABELA I (pág. 38).

    3.1- Aspectos éticos da pesquisa

    Este estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

    Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da UNICAMP – CEP em 25/03/2007 e homologado

    na Reunião ordinária do CEP/FCM, (registro inicial no CEP 5/12/2006 e aprovado em

    4/4/2007). O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) assinado por todos os

    participantes desse estudo, também foi aprovado pelo conselho citado.

    Casuística e Aspectos Éticos 53

  • Metodologia

  • 4- METODOLOGIA

    4.1- Separação de Plaquetas

    A separação de plaquetas foi realizada coletando-se sangue periférico (12 ml) em

    tubo contendo K2 EDTA (7.2 mg), de indivíduos normais e pacientes com AF.

    Centrifugou-se por 15 minutos à 200g (21ºC), para separação do plasma rico em plaquetas

    (PRP). Ao PRP foi adicionado um tampão de lavagem (140 mM NaCl / 0.5 mM KCl / 12

    mM citrato de sódio / 10 mM glicose / 12.5 mM sacarose, pH 6) na proporção 5/7, com

    delicada homogeneização. Centrifugou-se novamente por 12 minutos à 800 g (21ºC). O

    sobrenadante foi descartado e o pellet de plaquetas ressuspendido, gentilmente, com 500 µl

    de solução de Krebs (118 mM NaCl / 25 mM NaHCO3 / 1.2 mM KH2PO4 /1.7 mM MgSO4 /

    5.6 mM glicose, pH 7.4). A concentração de plaquetas foi ajustada para 1,2 x 108

    plaquetas/ml (Cell-Dyn® 1600, Mountain View, CA, USA). A reposição do cálcio foi

    realizada com uma solução de 1 mM CaCl2 antes da realização dos experimento

    4.2- Ensaio de Adesão Estático

    O ensaio de adesão estático foi realizado de acordo com Bellavite, et al. (1994),

    com algumas adaptações. A concentração padronizada de fibrinogênio (FB) como ligante

    foi de 50 µg/ml, e a de colágeno (Col) como ligante, foi de 10 µg/ml (50 µl/poço). Placas

    com 96 poços foram preparadas por coating individual com 50 μg/ml de fibrinogênio

    (Calbiochem, La Jolla, CA, USA) ou 10 μg/ml de colágeno tipo I humano (SIGMA, St.

    Louis, MO, USA), e foram incubadas over night (aproximadamente 18 h) à 4oC. Os poços

    foram lavados duas vezes com 200 µl/poço de solução de Krebs e os sítios inespecíficos

    foram bloqueados com 100µl/poço de uma solução de Krebs com 1% de BSA (LGCBio,

    nacional) por 60 minutos à 37oC. As placas foram lavadas novamente como descritas

    anteriormente, e os ensaios de adesão foram realizados em triplicata; adicionando-se 50

    μl/poço da suspensão de plaquetas (1,2 x 108 plaquetas/ml) incubadas por 15 minutos à

    37oC. Para cada amostra foi preparada uma curva padrão em placas não tratadas com FB

    e/ou Col, em duplicata com diluições a partir da concentração original (1,2 x 108

    plaquetas/ml); 5%, 10%, 20% 50% e 100%. Para todos os experimentos foi realizada uma

    adesão basal (ausência de drogas) para cada amostra de controles e paciente. Após a

    incubação, as plaquetas não aderentes foram desprezadas lavando-se a placa mais duas

    Metodologia 57

  • vezes como descrito anteriormente. Foram adicionados 50 μl/poço de tampão de Krebs na

    placa do ensaio, e 150 μl/poço do substrato da fosfatase ácida (0.1 M tampão citrato; pH

    5.4; 5 mM p-fosfato de nitrofenila e 0.1% de Triton X-100, Sigma), nas placas do ensaio e

    da curva padrão, e incubou-se por 1 h a temperatura ambiente (TA). Ao final da incubação,

    a reação foi interrompida adicionando-se 100 μl/poço de NaOH (2N). O resultado foi

    obtido no leitor de ELISA com comprimento de onda de 405 nm (Multisscan MS,

    Labsystems, EUA), e a adesão foi calculada em porcentagem de plaquetas aderidas a partir

    da comparação das absorbâncias dos poços com uma curva padrão, formada por diluições

    da suspensão original de plaquetas.

    4.3- Uso de drogas e/ou anticorpos em ensaios de adesão

    Foram realizados diversos experimentos de ensaio de adesão com diferentes drogas.

    A trombina foi utilizada na concentração de 50 mU/ml (Sigma, St. Louis, MO, USA),

    inibidores de proteínas quinases e anticorpos específicos também foram utilizados.

    Os inibidores da proteína quinase A (PKA), o KT5720 (Calbiochem, La Jolla, CA,

    USA) e o H-89, Dihydrochloride, (Calbiochem, La Jolla, CA, USA) foram solubilizados

    em DMSO (dimetilsulfóxido, Merk, KGaA, Darmstadt, Germany) e mantidos numa

    concentração estoque 2 mM (KT5720) e 10 mM (H-89) e armazenados à -20°C. Na

    padronização dos ensaios de adesão foram utilizados a seguintes concentrações: 0.5 µM, 1

    µM e 3 µM. A concentração escolhida de KT5720 foi de 3 µM; e a concentração escolhida

    de H-89 foi de 1 µM (ISHIKURA, et al., 2005).

    O inibidor da proteína quinase G, o PKG (Calbiochem, La Jolla, CA, USA) foi

    solubilizado com água de injeção (estéril) e mantido numa concentração estoque de 1 mM e

    armazenados à -20°C. Na padronização dos ensaios de adesão foram utilizadas as seguintes

    concentrações: 1 µM (concentração escolhida como padrão) e 10 µM de PKG.

    O inibidor da proteína quinase C, o Ro-31-8220 (Calbiochem, La Jolla, CA, USA)

    foi solubilizado com água de injeção (estéril) e mantido numa concentração estoque de 5

    mM e armazenado à -20°C. Na padronização dos ensaios de adesão foram utilizadas as

    seguintes concentrações: 1 µM e 5 µM (concentração escolhida como padrão) de Ro-31-

    8220 (AMOR, et al., 2005).

    Metodologia 58

  • O Cilostazol [6-(4-[1-cyclohexyl-1H-tetrazol-5-y]butoxy)-3,4-dihydro-2(1H)-

    quinolinone, OPC-13013], (Sigma, St. Louis, MO, USA) é um inibidor específico da

    fosfodiesterase 3A (PDE3A), é um vasodilatador, inibe a ativação e agregação plaquetária,

    e trombose (DALAINAS, 2007). Foi solubilizado em DMSO e mantido na concentração

    estoque de 10 mM e armazenado à -20°C. Na padronização dos ensaios de adesão foram

    utilizadas as seguintes concentrações: 0.16 µM, 1.6 µM (concentrações escolhidas como

    padrões)e 16.6 µM.

    A Vinpocetina é um inibidor específico da PDE1 que foi solubilizado em etanol

    absoluto (95%), e a concentração utilizada nos ensaios de adesão foi de 50 µM

    (ALMEIDA, et al., 2008).

    Todos os ensaios de adesão de plaquetas, as quais foram incubadas com drogas

    solubilizadas com DMSO (KT5720, H-89 e cilostazol), foram comparados com uma adesão

    basal de plaquetas incubadas apenas com DMSO na proporção de 0.001 % v/v.

    Realizou-se o ensaio de adesão ao FB com anticorpos específicos para as seguintes

    moléculas: o CD62P (clone AK6, Becton Dickinson, San Jose, CA, USA) que reconhece a

    molécula P-selectina das plaquetas ligando-se a ela, e o PAC-1 (Becton Dickinson, San

    Jose, CA, USA) que reconhece a integrina αIIbß3 na sua conformação de alta afinidade,

    ligando-se a ela e impedindo-a de ligar-se ao FB. As concentrações padronizadas dos

    anticorpos foram: 2 µg/ml do PAC-1 (concentração estoque 25 µg/ml) e de 2 µg/ml do

    CD62P (concentração estoque 50 µg/ml) do CD62P.

    4.4- Citometria de Fluxo

    A expressão superficial das moléculas CD41a (subunidade α da integrina αIIbβ3, receptor ao FB), CD49b (subunidade α da integrina α2β1, receptor ao Col), CD42b

    (subunidade GPIb do complexo GPIb/IX/V, receptor ao vFW) e CD62P (P-selectina), nas

    plaquetas foram determinadas por citometria de fluxo. As plaquetas de indivíduos

    saudáveis e pacientes com AF (com e sem HU) foram incubadas com anticorpos anti-

    CD41a conjugado FITC (clone PM6/248), anti-CD49b – FITC (clone AK7), anti-CD42b

    ficoeritrina (PE) (clone AK2), anti-CD62P – FITC (clone AK6) e PAC-1 – FITC que

    reconhece a integrina αIIbβ3 na sua conformação de alta afinidade, todos da Becton

    Dickinson, San Jose, CA, USA. Cerca de 4 ml sangue periférico foram coletadas (9NC

    Metodologia 59

  • citrato de sódio 3,2%; 1:10). O PRP foi obtido por centrifugação por 10 minutos à 800 rpm

    (21°C). O PRP (5 µl, 1 x 108 PLTs/ml) foi fixado com 200 μl de solução de PBS

    (phosphate-buffered saline, pH 7.4) com 1% de paraformaldeído por 10 minutos à TA. Em

    seguida, as plaquetas foram lavadas com 2 ml de PBS e centrifugadas por 15 minutos à

    1800 rpm (21°C). Desprezou-se o sobrenadante; e as plaquetas foram ressuspendidas em 45

    μl de PBS e adicionou-se 5 μl do anticorpo correspondente, e incubado por 20 minutos

    protegida da luz em TA. Em seguida, as plaquetas foram novamente lavadas como descrito

    anteriormente. Ao final, o sobrenadante foi desprezado e as plaquetas foram ressuspendidas

    em 500 μl de PBS, e as amostras foram analisadas à 488nm no FACScalibur (Becton-

    Dickinson, San Jose, CA, USA). Foram obtidos 10000 eventos para cada amostra. No

    SSC/FSC (side scatter/forward scatter), foram utilizados histogramas para a identificação

    das populações de plaquetas. A intensidade da fluorescência de cada plaqueta foi

    comparada com plaquetas incubadas com um controle negativo de isotipo IgG1/IgG1 (AbD

    SEROTEC, MorphoSys UK Ltd, Endeavour House, Langford Business Park, Langford

    Lane, Kidlington, Oxford, OX5 1GE, UK) conjugado com FITC e PE.

    4.5- Extração e mensuração dos Nucleotídeos Cíclicos (AMPc e GMPc)

    Os nucleotídeos cíclicos foram extraídos das plaquetas, de acordo com o protocolo de

    separação de sangue periférico, como foi descrito anteriormente. Antes da extração, uma

    solução de 1 mM CaCl2 foi adicionada as plaquetas (1,2 x 108 plaquetas em 250 µl de Krebs)

    para repor o cálcio que foi quelado pelo K2 EDTA do tubo de coleta.

    As plaquetas foram pré-incubadas com um inibidor inespecífico de fosfodiesterase,

    2 mM do 3-isobutil-1-metil-xantina (IBMX, Calbiochem, San Diego, CA, USA) por 15

    minutos em TA, a fim de se evitar a degradação dos nucleotídeos cíclicos. Após a

    incubação, foram adicionados 11,5 µl de ácido perclórico (78%) para a extração dos NC, e

    em seguida as amostras foram centrifugadas à 6000g por 20 minutos em TA. O

    sobrenadante, contendo as nucleotidades cíclicas, foi retirado o pH foi neutralizado com

    8M de hidróxido de potássio (KOH). As amostras foram armazenadas à -80ºC até o dia do

    ensaio.

    Metodologia 60

  • Metodologia 61

    A quantificação dos níveis de AMPc e GMPc foi mensurada utilizando-se os kits de

    ELISA específicos para AMPc ou GMPc (Amersham Biosciences, Bucks, UK, FIGURA

    5), de acordo com o manual do fabricante.

    Esquema do ensaio de ELISA para AMPc

    Figura 5: Esquema do ensaio de ELISA para AMPc, de acordo com o fabricante

    (Amershan Biosciense).

    4.6- Ensaio de Agregação Plaquetária

    A agregação plaquetária é um ensaio funcional com PRP ou sangue total, pelo

    equipamento CHRONO-LOG CORPORATION, Modelo 700 (West Park Road,

    Havertown, PA, EUA). Para o ensaio foram coletados cerca de 14 ml de sangue periférico

    com o anticoagulante 3,2% citrato de sódio (VACUPLAST, Huangyn, China). As amostras

    de sangue periférico foram centrifugadas a 800 rpm por 10 min a 21ºC. O PRP foi obtido e

    transferido para um tubo falcon de 15 ml. Em seguida, uma segunda centrifugação foi

    realizada de 3000 rpm por 15 min a 21°C, do que sobrou da amostra da qual foi extraído o

    PRP, a fim de se obter o PPP (plasma pobre em plaqueta). O PPP também foi transferido

    11MM HH22SSOO44 ((OODD 445500 nnmm))

    ++ TTMMBB

    ppooççoo

    AAMMPPcc--ppeerrooxxiiddaassee

    AAMMPPcc ddaa aammoossttrraa

    FFaassee ssóólliiddaa SSuubbssttrraattoo

    IInnccuubbaaççããoo

    AAmmeerrsshhaamm BBiioosscciieennssee

    AAnnttii--IIggGG

    AAnnttii--AAMMPPcc

    RReeaaggeennttee ddoo KKiitt

  • Metodologia 62

    para outro tubo falcon de 15 ml. A contagem das plaquetas foi realizada no equipamento

    Cell Dyn, e as concentrações foram ajustadas para 250.000 plaquetas/ml com o próprio PPP

    das amostras correspondentes. Para o ensaio foram utilizadas 250 µl de plaquetas (250.000

    plaquetas/ml) por cubeta de vidro, e no interior de cada cubeta foi adicionada uma barra

    magnética (ímã) para promover a agitação e propiciar a agregação a partir desta agitação

    mecânica. Os agonistas plaquetários utilizados foram: 5 µM de ADP; 1 e 2 µg/ml de

    colégeno e 500 mU/ml de trombina. Todo o ensaio foi realizado na temperatura de 37°C,

    que corresponde à temperatura corporal humana fisiológica. O resultado foi dado por uma

    curva de amplitude de agregação, expresso em porcentagem, dentro de um gráfico

    representado pelas coordenadas X e Y.

    4.7- Análise Estatística

    Os resultados foram expressos pelas médias ± erro da média (SEM) de n de

    indivíduos. Os grupos foram comparados através do teste não-paramétrico Mann-Whitney

    (pareado), comparação entre 2 grupos, ou pelo teste não-paramétrico ANOVA (pareado e

    não-pareado), comparação entre mais de 2 grupos, seguido pelo teste de Dunn’s Multiple

    Comparisons. Os testes utilizados não foram relatados nos gráficos e tabelas, a não ser que

    tenham sido utilizados outro teste. As análises de correlação através do teste de

    Spearman’s. Os cálculos foram efetuados no programa GRAPHPAD INSTAT (GraphPad

    Software Inc., San Diego, CA, USA), e valor de p menor ou igual a 0,05 foi considerado

    estatisticamente significante.

  • Resultados

  • 5 – RESULTADOS

    5.1- Aspectos clínicos dos indivíduos controles e pacientes que participaram do

    estudo

    Todos os pacientes que participaram deste estudo foram submetidos a exames

    clínicos, e os dados hematológicos como o hemograma e quantificação de HbF, estão

    representados na TABELA I.

    O grupo de pacientes em terapia com HU apresentou valores significativamente

    maiores de hematócrito, hemoglobina, volume corpuscular médio (VCM) e hemoglobina

    corpuscular média (HCM), em relação ao grupo de pacientes sem HU (SS). Porém, a

    contagem de leucócitos (WBC) foi maior no grupo de pacientes SS em relação aos

    pacientes SSHU.

    Além disso, os pacientes SSHU apresentaram níveis aumentados de HbF, quando

    comparados ao grupo de pacientes SS. Esse resultado mostra que a HU atua de maneira

    diretamente ou indiretamente na produção de HbF, e existem vários estudos publicados na

    literatura que também já comprovaram esse efeito da HU em pacientes com AF.

    Resultados 65

  • Tabela 1: Aspectos clínicos dos controles AA, pacientes SS e pacientes SSHU que participaram deste estudo.

    AA

    SS

    SSHU

    P SS comp. SSHU

    Masculino/feminino 20/29 11/25 16/15 Idade (anos) 33 (32.5; 19, 52) 39.8 (39, 20, 65) 36.4 (34, 22, 66) >0.05 Contagem total de células vermelhas (106/µl)

    N/D 2.71 (2.66, 1.75, 4.48) 2.67 (2.67, 1.59, 3.53) >0.05

    Hematócrito (%) 44 (45, 38, 50) 24.0 (24.4, 17.5, 33.6) 27.1 (27.3, 16.3, 37.4) 0.005 Hemoglobina (g/L) N/D 79.5 (80, 56, 106) 91.5 (90, 55, 141) 0.003 Volume Corpuscular Médio (fl) N/D 89.5 (91.3, 73.9, 105.1) 102.9 (105.0, 78.9, 120.8)

  • 5.2- Adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao FB in vitro.

    Observou-se que as plaquetas de pacientes SS (plaquetas SS) apresentaram uma

    maior capacidade de aderirem ao FB, proteína plasmática, em relação às plaquetas de

    indivíduos controles (plaquetas AA) e de pacientes SSHU (plaquetas SSHU), e este

    resultado foi estatisticamente significativo, como representado no GRÁFICO 1A. Por sua

    vez, as plaquetas de pacientes SSHU apresentaram uma adesão semelhante às plaquetas

    AA, e uma diminuição significativa em relação às plaquetas SS.

    5.3- Adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao Col in vitro.

    Em contraste ao FB, a adesão basal das plaquetas ao Col, proteína da matriz

    extracelular (MEC), não apresentou nenhuma diferença estatisticamente significativa entre

    as plaquetas AA, SS e SSHU (GRÁFICO 1B).

    5.4- Trombina induz um aumento na adesão de plaquetas ao FB e ao Col.

    Foi utilizado um agonista plaquetário, a trombina (50 mU/ml), e realizada uma co-

    incubação com as plaquetas. A trombina foi capaz de aumentar significativamente a adesão

    das plaquetas AA, SS e SSHU ao FB, quando comparada com suas respectivas adesões

    basais (GRÁFICO 2A). Esse efeito da trombina também foi observado para o ensaio de

    adesão das plaquetas AA, SS e SSHU ao Col, quando comparada com as respectivas

    adesões basais (GRÁFICO 2B).

    Esses resultados podem indicar que as plaquetas SS possuem uma capacidade maior

    de aderirem ao FB do que ao Col, assim como também podem indicar que, possivelmente, a

    função de uma(s) molécula(s) de adesão receptora para fibrinogênio possa estar alterada, e

    não do receptor ao colágeno.

    Resultados 67

  • AA SS SSHU0

    10

    20

    30

    40

    *

    ##

    A

    n=21 n=13 n=13

    % a

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    FB (5

    g/m

    l)

    AA SS SSHU0

    10

    20

    30

    40

    n=15 n=11 n=12

    B

    % a

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    Col

    (10μ

    g/m

    l)

    Gráfico 1: Adesão basal das plaquetas de indivíduos controles (AA), pacientes AF (SS)

    e pacientes AF em terapia com HU (SSHU), 37ºC, 15 min. (A) adesão basal das

    plaquetas ao FB (50 µg/ml), *p

  • 0

    15

    30

    45

    AA SS SSHU

    Trombina(50 mU/ml)

    A

    P

  • 5.5- Avaliação da expressão e função de moléculas de adesão na superfície de

    plaquetas AA SS SSHU, utilizando a técnica de citometria de fluxo.

    A expressão das principais moléculas de adesão das plaquetas foi determinada por

    citometria de fluxo na superfície de plaquetas de indivíduos controles (AA), pacientes AF

    (SS) e pacientes AF em terapia com HU (SSHU). O resultado foi expresso pela

    porcentagem média de plaquetas que expressam as moléculas (% positiva ± SEM) e pela

    média da intensidade de fluorescência (MIF) para cada amostra de plaquetas adquirida

    (TABELA II). Para cada amostra de controle e paciente foi utilizado um controle isotipo

    negativo IgG1/IgG1 conjugado FITC/PE.

    Como demostrado na TABELA II, as plaquetas SS apresentaram maior marcação

    positiva para a molécula P-selectina em comparação às plaquetas AA, e esse aumento foi

    estatisticamente significativo (p=0.04). Além disso, a MIF também foi maior em plaquetas

    SS em comparação às plaquetas AA. Entretanto, as plaquetas SSHU também apresentaram

    um aumento na marcação positiva e da MIF em comparação às plaquetas AA, mas esse

    resultado não foi estatisticamente significativo.

    A expressão da integrina αIIbß3 através do anticorpo CD41a, que reconhece a

    subunidade αIIb, não apresentou diferenças estatisticamente significativas nas plaquetas AA,

    SS e SSHU, tanto para a marcação positiva (acima de 96%) e MIF (acima de 400).

    O anticorpo PAC-1 que reconhece a integrina αIIbß3 (receptor ao FB) na sua

    conformação de alta afinidade, nas plaquetas SS apresentou maior marcação positiva em

    comparação às plaquetas AA, e esse aumento foi estatisticamente significativo (p=0.03). O

    resultado da ligação desse anticorpo as plaquetas SSHU foi semelhantes às plaquetas AA,

    mas não foi estatisticamente significativo quando comparado às plaquetas SS.

    A expressão da subunidade GPIb do complexo GPIb/IX/V (receptora para o fator de

    vWF) foi avaliada através do anticorpo CD42b, e não apresentou diferenças

    estatisticamente significativas nas plaquetas AA, SS e SSHU, tanto para a marcação

    positiva e MIF.

    A expressão da subunidade α2 da integrina α2ß1 (colágeno como ligante), avaliado

    através do anticorpo CD49b também não apresentou nenhuma diferença estatisticamente

    significativa nas plaquetas AA, SS e SSHU, tanto para a marcação positiva MIF.

    Resultados 70

  • 5.6- Efeitos dos anticorpos anti-moléculas de adesão na adesão de plaquetas ao

    FB

    Foram realizados ensaios de adesão ao FB na presença de anticorpos específicos

    para as seguintes moléculas de adesão: P-selectina (2 µg/ml - CD62-P), e para a integrina

    αIIbβ3 na sua conformação de alta afinidade (2 µg/ml - PAC-1). Para cada amostra de

    controle e pacientes com e sem HU foi realizado um ensaio basal e com estímulo de

    trombina (50 mU/ml). No grupo de controles foi observada uma redução significativa da

    adesão das plaquetas na presença do anticorpo PAC-1 incubado com trombina em relação à

    sua basal. A adesão estimulada com trombina foi significativamente maior em relação à sua

    adesão basal. Também foi observada uma diminuição da adesão com o anticorpo PAC-1

    sem trombina em relação à sua basal, mas esse resultado não foi estatisticamente

    significativo (GRÁFICO 3A).

    No grupo de pacientes SS a adesão com o anticorpo PAC-1 foi significativamente

    menor em relação à sua basal. A adesão na presença do PAC-1 e da trombina também foi

    significativamente menor em relação à sua basal. A adesão estimulada com trombina

    aumentou significativamente quando comparada com sua basal. O anticorpo CD62-P não

    interferiu nos resultados de adesão quando comparada com a sua basal e basal estimulada

    com trombina (GRÁFICO 3B).

    No grupo de pacientes com HU o anticorpo PAC-1 incubado com trombina foi

    capaz de diminuir significativamente a adesão em relação à sua basal estimulada com

    trombina. A adesão com trombina foi aumentada significativamente em relação à sua basal.

    O anticorpo CD62P não foi capaz de interferir na adesão em relação às suas basais com e

    sem trombina (GRÁFICO 3C).

    5.7- Níveis intraplaquetários de AMPc em plaquetas AA, SS e SSHU

    Os níveis de AMPc das plaquetas SS foram significativamente diminuídos em

    relação às plaquetas AA, e em relação ao grupo de pacientes SSHU. Plaquetas de pacientes

    SSHU apresentaram níveis reduzidos de AMPc em relação ao grupo controle, mas essa

    diferença não foi estatisticamente significativa (GRÁFICO 4A).

    Resultados 71

  • Resultados 72

    5.8- Efeito da trombina nos níveis intraplaquetários de AMPc em plaquetas

    AA, SS e SSHU

    Após o estímulo com trombina, observou-se uma redução significativa dos níveis

    intracelulares de AMPc em plaquetas AA, e em plaquetas SSHU em relação aos seus níveis

    basais (GRÁFICO 4B). No entanto, nas plaquetas SS a trombina não foi capaz de alterar os

    já reduzidos níveis de AMPc. Este resultado pode sugerir que a ativação das plaquetas na

    circulação de pacientes AF possa ser mediada, em parte, por uma redução dos níveis de

    AMPc intraplaquetários.

  • Tabela 2: Expressão das moléculas de adesão na superfície das plaquetas dos controles (AA), pacientes (SS) e pacientes

    em terapia com hidroxiuréia (SSHU).

    AA (n≥18) SS (n≥17) SSHU (n≥13)

    Anticorpo % Positivo MIF % Positivo MIF % Positivo MIF P

    CD42b-FITC 97.2 ± 0.6 758.5 ± 85.6 98.1 ± 0.4 737.8 ± 47.3 95.5 ± 1.6 815.6 ± 81.7

    CD62P-FITC 20.2 ± 2.3** 13.9 ± 1.4 * 29.4 ± 3.6** 20.7 ± 2.4 * 29.2 ± 4.6 24.2 ± 6.3 0.04** - 0.03*CD49b-FITC 70.5 ± 4.2 27.4 ± 2.0 70.1 ± 4.6 29.4 ± 2.9 68.5 ± 5.2 26.9 ± 2.0

    CD41a-FITC 97.5 ± 0.5 412.9 ± 37.1 98.2 ± 0.4 406.7 ± 37.2 96.6 ± 1.1 447.0 ± 43.9

    PAC-1-FITC 11.1 ± 3.7 # 8.6 ± 1.5 27.0 ± 6.3 # 14.4 ± 2.6 11.6 ± 2.6 8.6 ± 1.7 0.03#

    TABELA II: CD42b (GPIb), CD62P (P-selectina), CD49b (subunidade α2 da integrina α2β1) e CD41a (subunidade αIIb

    da integrina αIIbβ3), PAC-1 liga-se a integrina αIIbβ3 na sua conformação de alta afinidade. A expressão na superfície das

    plaquetas foi determinada por citometria de fluxo. Os resultados da expressão das moléculas de adesão estão

    representados na média ± desvio padrão (SEM) de porcentagem de plaquetas ligadas ao anticorpo (% positivo) e na

    Intensidade Média de Fluorescência (MIF) de anticorpo ligado para cada plaqueta.

    Resultados 73

  • Basal PAC-1 CD62P Basal PAC-1 CD62P0

    10

    20

    30

    40

    *••

    A

    AA (n=9)

    Trombina (50 mU/ml)

    % a

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    FB (5

    g/m

    l)

    Basal PAC-1 CD62P Basal PAC-1 CD62P0

    10

    20

    30

    40

    Trombina (50 mU/ml)

    *

    B

    ••

    SS (n=7)

    % a

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    FB (5

    g/m

    l)

    Basal PAC-1 CD62P Basal PAC-1 CD62P0

    10

    20

    30

    40

    Trombina (50 mU/ml)

    *••

    C

    SSHU (n=8)

    % A

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    FB (5

    g/m

    l)

    Gráfico 3: Ensaio de adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao FB na presença de

    anticorpos funcionais para P-selectina e para integrina αIIbβ3. ativada. (A) adesão basal

    ao FB (50 µg/ml) de plaquetas AA, CD62P (2 µg/ml), PAC-1 (2 µg/ml) com e sem

    trombina (50 mU/ml), 15 min, 37°C; * p

  • AA SS SSHU0

    5

    10

    15A

    **

    n=13 n=14 n=15

    #A

    MPc

    (fm

    ol/ 1

    08 p

    laqu

    etas

    )

    0

    5

    10

    15B

    p 0.05 p

  • 5.9- Correlação dos níveis de HbF em pacientes SS e SSHU com os níveis

    intraplaquetários de AMPc

    Houve uma correlação positiva, com valor significativo de p

  • estímulo de TB. Além disso, a trombina foi capaz de aumentar significativamente a adesão

    em relação à basal sem estímulo (GRÁFICO 7A).

    No grupo de pacientes SS, o cilostazol (1.6 µM) foi capaz de diminuir

    significativamente a adesão em relação à basal e ao DMSO. Com o estímulo com trombina

    (50 mU/ml), o cilostazol foi capaz de diminuir significativamente a adesão em relação à sua

    basal e ao DMSO (GRÁFICO 7B).

    No grupo de pacientes SSHU, o cilostazol (1.6 µM) foi capaz de diminuir

    significativamente a adesão em relação à basal, mas não em relação ao DMSO. Além disso,

    o DMSO diminuiu significativamente a adesão em relação à basal. Com o estímulo com

    trombina (50 mU/ml), o cilostazol foi capaz de diminuir significativamente a adesão em

    relação à sua basal e ao DMSO (GRÁFICO 7C).

    2.5 5.0 7.5 10.0 12.50

    10

    20

    30 n =  29r=0.461p <  0.02

    AMPc (fmol/108 PLT)

    % H

    bF

    Gráfico 5: Correlação dos níveis de HbF (g/dl) e níveis intraplaquetários de AMPc

    (fmol/108 PLTs). Amostras de pacientes com AF (SS) e pacientes com AF em terapia com

    HU (SSHU) p

  • AA SS SSHU0

    25

    50

    75

    100

    n=15 n=20 n=24

    AG

    MPc

    (fm

    ol/ 1

    08 p

    laqu

    etas

    )

    0

    25

    50

    75

    100trombina (50 mU/ml)

    p0.05

    AA (n≥6) SS (n≥11) SSHU (n≥9)

    B

    GM

    Pc (f

    mol

    /108

    plaq

    ueta

    s/m

    l)

    Gráfico 6: Níveis intraplaquetários de GMPc (fmol/108 plaquetas) de plaquetas AA,

    SS e SSHU. A, níveis basais de GMPc em plaquetas AA, SS e SSHU, e em (B) níveis de

    GMPc de plaquetas AA, SSe SSHU após estímulo com trombina (50 mU/ml por 15 min,

    37°C).

    Resultados 78

  • Basa

    l

    DMSO

    Cilos

    tBa

    sal

    DMSO

    Cilos

    t0

    15

    30

    45

    #***

    A

    Trombina (50 mU/ml)

    ⊗⊗

    ⊗⊗⊗

    AA (n≥12)

    ⊗⊗⊗

    % a

    desã

    o pl

    aque

    tzár

    ia a

    o FB

    (50μ

    g/m

    l)

    Basa

    l

    DMSO

    Cilos

    tBa

    sal

    DMSO

    Cilos

    t0

    15

    30

    45

    #

    ##

    B

    Trombina (50 mU/ml)

    **

    ⊗⊗⊗

    SS (n≥6)

    ⊗⊗⊗

    % A

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    FB (5

    0 m

    U/m

    l)

    Basa

    l

    DMSO

    Cilos

    tBa

    sal

    DMSO

    Cilos

    t0

    15

    30

    45

    Trombina (50 mU/ml)

    C*

    ⊗⊗⊗

    #

    SSHU (n≥6)

    ⊗⊗

    ⊗⊗

    % A

    desã

    o pl

    aque

    tária

    aoF

    B (5

    g/m

    l)

    Gráfico 7: Adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao FB, na presença ou ausência do

    inibidor específico de PDE3A (cilostazol), DMSO e estimulada com TB. (A) ensaio de

    adesão ao FB (50 µg/ml) basal, DMSO(0.001 % v/v) e cilostazol (1.6 µM); e com TB (50

    mU/ml, 15 min, 37°C) com plaquetas AA; (B) plaquetas SS; (C) plaquetas SSHU;

    *p

  • 5.12- Efeito dos inibidores das proteínas quinases PKA, PKG e PKC na adesão

    de plaquetas AA, SS e SSHU

    Foram utilizados inibidores das proteínas quinases (PK) A, G e C nos ensaios de

    adesão ao FB, com plaquetas de indivíduos controles (AA), pacientes com AF (SS) e

    pacientes com AF em terapia com HU (SSHU). Foram utilizados 2 diferentes inibidores de

    PKA, o KT5720 (1 µM) e o H-89 (1 µM) para investigar se a via de sinalização via PKA

    está envolvida na adesão de plaquetas de pacientes com AF. Para cada amostra foi realizada

    uma adesão com DMSO (0.001 % v/v), solvente dos inibidores, como controle. No grupo

    de controles AA e de pacientes SS não houve diferença significativa na adesão das

    plaquetas com os inibidores KT5720 e H-89, em relação à adesão com o DMSO

    (GRÁFICO 8A).

    Os inibidores de PKG (1 µM) e PKC (Ro-31-8220, 5 µM) foram solubilizados com

    água estéril, e para cada amostra foi realizada uma adesão basal. No grupo controle AA, o

    inibidor de PKG foi capaz de diminuir significativamente a adesão em relação à sua basal, e

    o inibidor de PKC. Porém no grupo de pacientes SS, esses inibidores diminuíram a adesão

    em relação à sua basal, PKG e PKC, mas essa diminuição não foi estatisticamente

    significativa (GRÁFICO 8B).

    Resultados 80

  • DMSO

    KT57

    20H-

    89

    DMSO

    KT5

    720

    H-89

    0

    10

    20

    30A

    AA (n=6) SS (n=8)

    % a

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    FB (5

    g/m

    l)

    Basa

    lPK

    G

    RO-31

    -8220

    Basa

    lPK

    G

    RO-31

    -8220

    0

    5

    10

    15

    20

    25

    30

    35 B

    * *

    AA (n=10) SS (n=9)

    *

    % a

    desã

    o pl

    aque

    tária

    ao

    FB (5

    g/m

    l)

    Gráfico 8: Ensaio de adesão de plaquetas AA, SS e SSHU ao FB na presença de

    inibidores de PKA, PKG e PKC. Em (A) ensaio de adesão ao FB (50 µg/ml) com

    inibidores de PKA: KT5720 (3 µM) e H-89 (1 µM), 15 min, 37°C, com plaquetas AA e

    SS; BASAL=DMSO (B) ensaio de adesão ao FB (50 µg/ml) com inibidores de PKG (1

    µM) e PKC (Ro-31-8220, 5 µM), 15 min, 37°C, com plaquetas AA e SS; * p

  • 5.13- Agregação plaquetária e padronizações necessárias

    Para a utilização do equipamento CHRONO-LOG Modelo 700 foi necessário

    padronizá-lo previamente, porque havia sido comprado recentemente pelo Laboratório de

    Hemostasia do Hemocentro II, UNICAMP, SP. Foram utilizados diversos doadores

    voluntários (grupo de indivíduos saudáveis) para ajustar os parâmetros do aparelho,

    utilizando agonistas plaquetários. A adenosina difosfato (ADP) é um importante agonista

    plaquetário que atua em diversas vias de sinalização (AMPc), e foi utilizada nas seguintes

    concentrações: 2.5 µM, 5 µM e 10 µM (GRÁFICO 9A), e a concentração de 5 µM foi a

    escolhida para os experimentos. O colágeno, importante proteína da matriz extracelular,

    intermedia o processo de agregação plaquetária na formação do trombo (coágulo), e foram

    utilizadas as seguintes concentrações: 1 µg/ml, 2 µg/ml e 5 µg/ml, e as concentrações de 1

    µg/ml e 2 µg/ml foram as escolhidas para os experimentos (GRÁFICO 9B). A trombina,

    importante agonista plaquetário que atua na cascata da coagulação convertendo o

    fibrinogênio plasmático em fibrina, foi utilizada nas seguintes concentrações: 50 mU/ml,

    100 mU/ml, 250 mU/ml, 500 mU/ml e 1 U/ml (GRÁFICO 9C), e a concentração de

    500 mU/ml foi a escolhida para os experimentos.

    Resultados 82

  • 2.5 uM 5 uM 10 uM 0

    20

    40

    60

    80

    100

    n=16 n=17 n=18

    A

    % A

    mpl

    itude

    de

    Agr

    egaç

    ão P

    laqu

    etár

    ia c

    om A

    DP

    1 μg/ml 2 μg/ml 5 μg/ml0

    20

    40

    60

    80

    100

    n=15 n=20 n=13

    B

    % A

    mpl

    itude

    de

    agre

    gaçã

    o pl

    aque

    tária

    Col

    50 m

    U/ml

    100 m

    U/ml

    250 m

    U/ml

    500 m

    U/ml

    1 U/m

    l0

    20

    40

    60

    80

    100

    n=6 n=6 n=13 n=15 n=16

    C

    % A

    mpl

    itude

    de

    agre

    gaçã

    o pl

    aque

    tária

    TB

    Gráfico 9: Ensaio de agregação plaquetária com indivíduos saudáveis (AA). (A) após

    o estímulo com ADP (2.5 µM; 5 µM e 10 µM; (B) após o estímulo com Col (1 µg/ml, 2

    µg/ml e 5 µg/ml; (C) após o estímulo TB (50, 100, 250, 500 e 1 U/ml). Todas as amostras

    de doadores foram incubadas por 5 min, 37°C.

    Resultados 83

  • 5.14- Comparação da agregação das plaquetas AA, SS e SSHU com os

    agonistas plaquetário ADP, Col e TB

    Foram coletadas amostras de sangue periférico com anticoagulante citrato de sódio

    para preservar o cálcio, importante sinalizador intraplaquetário. O grupo de pacientes

    SSHU apresentou uma diminuição da função plaquetária com ADP (5 µM) quando

    comparado ao grupo controle (AA), mas esse resultado não foi estatisticamente

    significativo. O grupo de pacientes SS também apresentou uma diminuição da agregação

    plaquetária em relação ao grupo controle, mas esse resultado não foi estatisticamente

    significativo (GRÁFICO 10).

    A função plaquetária dos pacientes SSHU com TB (500 mU/ml) apresentou uma

    redução significativa em relação ao grupo controle AA. O grupo de pacientes SS também

    apresentou uma diminuição da sua função plaquetária com TB, em relação ao grupo

    controle AA, mas esse resultado não foi estatisticamente significativo (GRÁFICO 11).

    O grupo de pacientes SS apresentou um aumento significativo da sua agregação

    plaquetária sob o estímulo do agonista plaquetário Col (1 µg/ml), em relação ao grupo

    controle AA (GRÁFICO 12A). Esse mesmo grupo, também apresentou um aumento

    significativo da sua função plaquetária ao Col (2 µg/ml), tanto em relação ao grupo

    controle AA, quanto ao grupo de pacientes SSHU. A função plaquetária do grupo de

    pacientes SSHU foi muito similar ao grupo controle (GRÁFICO 12B).

    Resultados 84

  • AA SS SSHU0

    20

    40

    60

    80

    100

    5 μM

    n=14 n=5 n=7

    *

    % A

    mpl

    itude

    de

    agre

    gaçã

    o pl

    aque

    tária

    AD

    P

    Gráfico 10: Agregação plaquetária de plaquetas AA, SS e SSHU com ADP (5µM).

    Porcentagem de amplitude da agregação plaquetária com o agonista plaquetário ADP (5

    µM), * p

  • AA SS SSHU0

    25

    50

    75

    100

    125

    n=15 n=5 n=2

    1 μg/ml

    p=0.0037A

    % A

    mpl

    itude

    de

    agre

    gaçã

    o pl

    aque

    tária

    Col

    AA SS SSHU0

    25

    50

    75

    100

    125

    n=20 n=3 n=6

    2 μg/ml

    p=0.0011p=0.0238B

    % A

    mpl

    itude

    de

    agre

    gaçã

    o pl

    aque

    tária

    Col

    Gráfico 12: Agregação plaquetária de plaquetas AA, SS e SSHU com Col. Porcentagem

    de amplitude de agregação plaquetária com o agonista plaquetário (A) Col (1 µg/ml), (B)

    col (2 µg/ml); p

  • Discussão

  • 6 – DISCUSSÃO

    A principal função das plaquetas é impedir o sangramento, quando há lesão tecidual

    com perda de sangue através da formação de um “tampão hemostático” ou coágulo que

    ativa toda a cascata de coagulação. As plaquetas também contribuem para manter a

    integridade do endotélio e atuam nos processos inflamatórios (VAN GIL’s et al., 2009). O

    aumento da ativação plaquetária já foi descrito em pacientes com AF (TOMER, et al, 2001

    e WUN, et al, 1999, 1998), e este aumento contribui para o desequilíbrio hemostático

    destes pacientes (VILLAGRA, et al, 2007). O mecanismo e a via de sinalização

    responsável por este aumento ainda não estão bem esclarecidos, mas alguns trabalhos

    propuseram que esta ativação é resultado de processos pró-inflamatórios e pró-trombóticos,

    característicos da micro-circulação da doença (SETTY, et al, 2001; BROWN, et al, 2001),

    e também pelo estresse hematopoético da anemia e/ou hemólise intravascular (WUN et al,

    1997). As plaquetas, quando ativadas, possuem alta capacidade inflamatória, pois podem