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ALUNOS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA NEUROMOTORA:
POSSIBILIDADES DE APRENDER POR MEIO DA TECNOLOGIA
ASSISTIVA DO COMPUTADOR
Autora: MARIA LÚCIA CAVALCANTE MARIOTTO 1 Orientadora: VALÉRIA LÜDERS 2
RESUMO
A Tecnologia Assistiva do Computador, utilizada por alunos com deficiência física neuromotora, pode trazer significativas contribuições para o processo de ensino/aprendizagem, mediatizando a aquisição do conhecimento, a realização de atividades acadêmicas, bem como a interação entre o professor e o aluno. O presente artigo apresenta o resultado do processo de implementação do Projeto na Escola Nabil Tacla, na cidade de Curitiba/PR, utilizando softwares educacionais de Língua Portuguesa, com um grupo de quinze alunos que necessitavam de tecnologia assistiva do computador. Deu-se ênfase também à adequação desses softwares aos conteúdos desenvolvidos em sala de aula. Sendo assim, foi possível observar que a tecnologia assistiva existente na escola é insuficiente, em quantidade e diversidade de recursos, para a independência do aluno, acrescido ao fato de que alguns softwares educacionais disponíveis na sala de informática, exigiam dos alunos habilidades e conhecimentos que estavam além dos conteúdos trabalhados em sala de aula. Nesse caso, é de extrema relevância que o professor conheça os softwares disponíveis na sala de informática, para melhor planejar suas aulas, e tornar assim a aprendizagem do aluno mais expressiva.
PALAVRAS-CHAVE: Ensino\Aprendizagem. Deficiência Física. Tecnologia Assistiva.
1 Professora da SEED, atua como pedagoga na Escola Nabil Tacla na Modalidade de Educação
Especial. O presente artigo é trabalho final, pré-requisito para obtenção da certificação do PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional 2012. 2 Doutora em Educação (UNICAMP), Graduação em Psicologia (PUC-Campinas),Graduação em
Pedagogia(UNICAMP), Professora da Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação, na área de Psicologia de Educação.
INTRODUÇÃO
“Para as pessoas sem deficiência, a tecnologia torna
as coisas mais fáceis.
Para as pessoas com deficiência, a tecnologia torna
as coisas possíveis.”
(RADABAUGH, 1993)
O processo de ensino/aprendizagem de alunos com necessidades
educacionais especiais tem obtido maior atenção nos últimos anos, em razão do
aumento da oferta para o acesso às escolas comuns e também devido aos desafios
pedagógicos que são impostos pelas diferentes características clínicas e pessoais
que acompanham esses alunos.
Falar em ensino é falar em aprendizagem. De acordo com Moura (1998, p.
233), “todas as vezes em que Vygotsky fala de aprendizagem, inclui também o
ensino”. Ou seja, para ele “são duas categorias intrinsecamente relacionadas,
considerando que o aprendizado não acontece no indivíduo isoladamente, fruto das
suas ideias e da sua construção pessoal, só existe aprendizagem nas interações
entre as pessoas, nas relações sócio-histórico-culturais que estabelecem.”
No que se refere especificamente à deficiência física neuromotora, é de
fundamental relevância partir das modificações da estrutura física, como de recursos
adaptados e também de pessoas especializadas que possam oferecer
oportunidades pedagógicas adequadas.
A utilização de tecnologia assistiva no processo de aprendizagem e inclusão
de alunos com deficiência física neuromotora, no ambiente escolar e na sociedade
como um todo, possibilitará a esses educandos maior autonomia.
Por essa razão, conferimos um destaque especial à aprendizagem mediada
por tecnologia assistiva, por saber que a mesma contribui para desenvolver práticas
pedagógicas com alunos que possuem limitações físicas, principalmente fazendo
uso do computador, de adaptações de mouse, de teclado e de softwares
educacionais. Possibilita o aprendizado e sua interação com o mundo, mas é
preciso, primeiramente, que haja interação entre ele e a máquina.
Também é muito importante que o professor estabeleça uma relação próxima
e constante com o aluno, que conheça suas potencialidades e limitações, preocupe-
se em lançar um olhar cuidadoso sobre as necessidades intelectuais, afetivas e
motoras desse educando.
Estudar a adequação de softwares educacionais de Língua Portuguesa ao
conteúdo trabalhado em sala de aula, utilizar adaptações que possibilitem a
interação, no computador, de alunos com diferentes graus de comprometimento
motor, sensorial e/ou de comunicação e linguagem, em processos de
ensino/aprendizagem, oportunizar o trabalho conjunto entre professor de informática,
professora regente e a pedagoga da escola, sugerir melhorias no desenvolvimento
do trabalho com tecnologia assistiva, foram objetivos desenvolvidos durante a
Implementação do Projeto na Escola, para que as mudanças ocorram junto a toda a
equipe de profissionais da escola, zelando sempre pelo melhor para os alunos.
A DEFICIÊNCIA FÍSICA NEUROMOTORA
Segundo o anexo I da Semana Pedagógica de fevereiro de 2012, do
Ministério da Educação (2002), entende-se por deficiência física uma variedade
bastante ampla de condições orgânicas que, de alguma forma, alteram o
funcionamento normal do aparelho locomotor, comprometendo a movimentação e a
deambulação. Deve-se considerar que as alterações podem ocorrer em vários
níveis: ósseo, articular, muscular e nervoso. Dentro desta classificação, incluem-se
não só as alterações anatômicas, mas também as alterações fisiológicas do
aparelho locomotor.
A nomenclatura desta área recebeu, a partir do ano de 2004, o acréscimo do
termo neuromotora, que se reporta às deficiências ocasionadas por lesões nos
centros e vias nervosas, que comandam os músculos. Podem ser causadas por
infecções ou por lesões ocorridas em qualquer fase da vida da pessoa ou por uma
degeneração neuromuscular, cujas manifestações exteriores consistem em fraqueza
muscular, paralisia ou falta de coordenação. (BRASIL, 2002)
Neste estudo, faz-se necessário apresentar alguns conceitos e tipos de
deficiências físicas mais comuns encontradas na sociedade e, mais
especificamente, nas escolas.
No Decreto nª 3.298 de 1999 da legislação brasileira, encontramos o conceito
de deficiência e de deficiência física, conforme segue:
Art. 3…: - Para os efeitos deste Decreto, considera-se: I - Deficiência –
toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou
anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do
padrão considerado normal para o ser humano;
Art. 4…: - Deficiência Física – alteração completa ou parcial de um ou
mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função
física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia,
monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia,
amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, membros com deformidade
congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam
dificuldades para o desempenho de funções.
Dentre os diferentes tipos de deficiência física neuromotora destaca-se: a
paralisia cerebral, mielomenincogele e a distrofia muscular progressiva, que são hoje
os diagnósticos mais encontrados nas escolas.
Na literatura especializada existe uma gama enorme de definições que
conceituam a paralisia cerebral.
A Paralisia Cerebral é a causa mais comum de deficiência física e é descrita
por Bobath (1969, p.11) como:
(...) o resultado de uma lesão ou mau desenvolvimento do cérebro de caráter não progressivo e existindo desde a infância. A deficiência motora se expressa em padrões anormais de postura e movimentos, associados com um tônus postural anormal. A lesão que atinge o cérebro quando ainda é imaturo interfere com o desenvolvimento motor normal da criança.
Segundo Rosemberg (1992, p.116), a paralisia cerebral (PC) é uma forma de
ECNE (encefalopatias crônicas não evolutivas) na qual são predominantes os
distúrbios da motricidade.
Uma terceira definição, agora segundo Sobrinho; Sato e Rangel (1998,
p.172), é a de que a paralisia cerebral(PC) é o distúrbio permanente mas não
imutável, predominantemente motor, causado por lesão não-progressiva ou
anomalia congênita( não ligada à condição geneticamente determinada) do sistema
nervoso central, num cérebro imaturo.
Pelas definições acima, pode-se perceber que o termo Paralisia Cerebral tem
sido empregado para se referir a um grupo muito heterogêneo de condições, tendo
como etiologia causas múltiplas.
Além da limitação física, a pessoa com paralisia cerebral é capaz de
aprender, mas necessita de um esforço maior para romper limites no processo de
aprendizagem, pois tem dificuldade para andar, falar e usar as mãos. O importante
não é o diagnóstico em si, mas as características deste, para verificar o seu
desempenho social e escolar. É pertinente para a aprendizagem saber como cada
aluno com paralisia cerebral utiliza as mãos e como se comunica.
Outro diagnóstico é a Mielomeningocele, mais conhecida como Espinha
Bífida, que é uma malformação congênita da coluna vertebral da criança,
dificultando a função primordial de proteção da medula espinhal, que é o "tronco" de
ligação entre o cérebro e os nervos periféricos do corpo humano.
A falta de proteção da medula espinhal causada pela espinha bífida resulta
em deficiências neurológicas, com distúrbios sensitivos (falta de sensibilidade e de
movimentos) e ortopédicos (malformações ósseas), geralmente nos membros
inferiores. A falta de mando das funções intestinal e urinária e a hidrocefalia estão
presentes em 80% dos casos (KOTTKE & LEHMANN,1994).
Na aprendizagem aparece a dificuldade de concentração, precisando o aluno
de alguém que esteja a todo instante chamando a atenção para retornar à atividade.
É preciso estar constantemente retomando a mesma atividade já desenvolvida, pois
o que o aluno aprende num dia é passível de esquecimento no dia seguinte. O
professor precisa ensinar partindo das potencialidades do aluno, devendo combiná-
las com seus interesses e motivações, adaptar-se ao seu ritmo de trabalho e felicitá-
lo por seus resultados positivos na aprendizagem.
A distrofia muscular progressiva, outro diagnóstico apresentado, é uma
doença neuromuscular progressiva ainda incurável, que afeta os tecidos musculares
do corpo de forma grave e contínua. Caracteriza-se pela degeneração das fibras
musculares que vão sendo substituídas por tecido fibroso e adiposo(gordura), porém
as capacidades intelectual e mental apresentam-se preservadas (WILSON, 1971).
Muitos fatores impedem a maturação intelectual e emocional dessas pessoas.
A superproteção ou o seu “favorecimento” dentro da família é um comportamento
muito presente que pode dificultar o convívio familiar e social com outras crianças,
desestimular o aprendizado na escola (BACH, 1999).
Neste caso, a aprendizagem, quando a doença ainda está em estágio inicial,
acontece normalmente, no mesmo nível de uma criança que não possui
necessidades especiais, mas quando, em estágio avançado, se dá a perda de força
muscular e o aluno já não consegue escrever, é o computador que passa a ser seu
caderno de atividades.
Percebe-se a especificidade de cada diagnóstico da deficiência física, e
devido a isso, os alunos precisam ser vistos individualmente, pois vão necessitar de
tecnologia assistiva diferenciada ao fazer uso do computador.
O PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM E A TECNOLOGIA ASSISTIVA
A utilização dos recursos de acessibilidade ao computador auxiliam os alunos
com deficiência física neuromotora, na sua grande maioria, que possuem maior grau
de comprometimento motor. São projetados especialmente para tornar o
computador acessível aos indivíduos com dificuldades sensoriais e motoras.
Leite (2004,p.137), e Veer e Valsiner(1991), apoiados na perspectiva
vigotskiana, consideram que o ensino dos alunos com necessidades especiais deve
ser apoiado na elaboração de instrumentos especiais que propiciem o
desenvolvimento das funções psicológicas superiores.
Um desses instrumentos especiais pode-se dizer que, para o aluno com
deficiência física é, sem dúvida, o computador. Vale lembrar que as atividades que
envolvem raciocínio abstrato, pensamento-lógico matemático, memória mediada,
percepção e imaginação entre outras, proporcionam o desenvolvimento de
estruturas mentais complexas.
Em sua teoria, Vygotsky enfatiza a importância dos conceitos no
desenvolvimento humano e os define como “a fonte das formas superiores de
generalização” (VYGOTSKY, 2000, p.278).
O referido autor estabelece dois tipos de conceitos: cotidianos e científicos.
Os dois possuem origens diferentes. Os primeiros são os adquiridos pela criança
nas experiências concretas do dia-a-dia. Como destacam Van Der Veer e Valsiner
(2000, p.295), “esses conceitos são derivados basicamente dos adultos, mas nunca
foram apresentados para a criança de maneira sistemática e não foi feita nenhuma
tentativa de ligá-los a outros conceitos relacionados”, por exemplo, o conceito de pai,
de mãe, de irmão. Já os científicos são os apresentados explicita e
sistematicamente na escola. Como evidenciam Van Der Veer e Valsiner (2000,
p.296), eles “cobririam os aspectos essenciais de uma área de conhecimento e
seriam apresentados como um sistema de ideias inter-relacionadas”. O objetivo da
aprendizagem educacional formal, desenvolvida na escola, é desenvolver os
conceitos científicos entendidos.
Vygotsky (1998) destaca que o trabalho voltado à aprendizagem deve se
concentrar na resolução de problemas localizados na Zona de Desenvolvimento
Proximal (ZDP) do indivíduo, definida como
[...] a distância entre o nível do desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes. (p. 112).
Percebemos com a definição acima que Vygotsky identifica que seja possível
promover situações de aprendizagem inseridas no currículo, que facilitem o
aprendizado de outros conhecimentos, pois a ação educativa estimula o
desenvolvimento de funções psicológicas que estejam sendo ativadas no decorrer
da atividade em questão. O ensino pauta-se em introduzir conhecimentos que
tenham um certo grau de novidade, porém que os alunos já tenham domínio
anterior, motivando a vontade de aprender, portanto deve ser oferecido pelas
atividades coletivas desenvolvidas na escola.
Ao analisar as considerações anteriores, quando falamos que o ensino pauta-
se na introdução de conhecimentos que tenham um grau de novidade é que
pensamos no uso do computador. Nele não como mero instrumento, mas segundo
as autoras do livro Design e Avaliação de Interfaces, Baranauskas e Rocha (2003),
“para que os computadores se tornem amplamente aceitos e efetivamente usados
eles precisam ser bem projetados. Isso de maneira alguma quer dizer que o design
deve ser adequado a todas as pessoas, mas os computadores devem ser projetados
para as necessidades e capacidades de um grupo alvo”(idem, p13).
Ainda segundo a autora acima citada, por outro lado, pesquisadores estavam
preocupados em como o uso de computadores pode efetivamente enriquecer o
trabalho e a vida das pessoas. Em particular, eles estavam analisando as
capacidades e limitações humanas, ou seja, estudando o lado humano da interação
com sistemas computacionais.” (p14).
No caso específico dos alunos com deficiência física, primeiramente, é
preciso que o professor se utilize da experimentação, vá deixando que o aluno
interaja com o computador, sem cobrança, podendo assim definir qual a tecnologia
assistiva adequada, se vai contribuir para o aluno superar limites impostos por sua
condição física. Cada necessidade é única e cada caso deve ser visto e estudado
com muita atenção, para não frustrar o aluno.
Bernal, em seu artigo na Polêmica Revista Eletrônica, destaca que,
principalmente com alunos com algum tipo de deficiência física, para ampliar os
níveis de conhecimento e processamento psíquico dos mesmos,
“a mediação exercida pelos outros membros do grupo (professores, colegas, funcionários da escola e do entorno) e pelos elementos da cultura que estão presentes no cotidiano escolar (ambiência, linguagem, materiais, conhecimento), contribui sobremaneira para a aprendizagem e, consequentemente, para o desenvolvimento de processos psicológicos cada vez mais elaborados.” (BERNAL, 2006, p.86)
Vale ressaltar também a relevância da interação do aluno nas situações de
aprendizagem no computador. Moran (2000, p.148) apresenta contribuições
importantes que ajudam na compreensão do processo de construção do
conhecimento mediatizado pelo uso das ferramentas computacionais ao defender
que:
A construção do conhecimento, a partir das ferramentas computacionais, é mais ‘livre’, menos rígida, com conexões mais abertas que passam pelo sensorial, pelo emocional e pela organização do racional: uma organização provisória: que se modifica com facilidade, que cria convergências e divergências instantâneas e de resposta imediata.
Percebe-se a relevância que tem o computador na aprendizagem, pois a
resposta é imediata, dando condições ao aluno de perceber seus erros e acertos.
Para tanto, ao utilizar o computador, os alunos com deficiência física
necessitam da presença do professor, auxiliando-os para o uso de tecnologia
assistiva, bem como o estudo do software educacional a ser utilizado durante a
execução de suas tarefas no setor de informática. Deve o professor de sala de aula
interagir com o professor do laboratório de informática para a adequação do
software educacional a ser utilizado pelo aluno.
A relevância que assumem essas tecnologias no âmbito da Educação
Especial já vem sendo destacada como a parte da educação que mais está e estará
sendo afetada pelos avanços e aplicações que vem ocorrendo nessa área para
atender necessidades específicas, face às limitações de pessoas no âmbito mental,
físico-sensorial e motoras com repercussão nas dimensões sócio-afetivas.
(Santarosa, 1997, p.115).
Para o uso na aprendizagem de alunos com incapacidade motora surgem os
recursos da tecnologia assistiva.
A expressão “tecnologia assistiva” (TA) tem sido utilizada desde 1988, a partir
da publicação oficial na legislação norte-americana. No Brasil, existem terminologias
diferentes para tecnologia assistiva como: ajudas técnicas, tecnologias de apoio e
adaptações. O Ministério da Ciência e Tecnologia no Brasil, lançou em 2005, um
edital para o apoio financeiro a projetos de pesquisas e desenvolvimento de
tecnologias e apresenta a seguinte definição sobre tecnologia assistiva:
[...] tecnologias que reduzem ou eliminem as limitações decorrentes das deficiências físicas, mental, visual e/ou auditiva, a fim de colaborar para a inclusão social dos indivíduos portadores de deficiências e idosos. (BRASIL, 2005b)
A expressão “ajudas técnicas” aparece no Decreto N° 5.296 de 2 de
dezembro de 2004 - DOU de 03/12/2004, que regulamenta as leis n° 10.048, de 8 de
novembro de 2000 e 10.098 de 19 de dezembro de 2000. Encontramos no capítulo
VII, art. 61 a seguinte definição para ajudas técnicas:
Art. 61. Para fins deste Decreto, consideram-se ajudas técnicas os produtos, instrumentos, equipamentos ou tecnologia, adaptados ou especialmente projetados para melhorar a funcionalidade da pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida, favorecendo a autonomia pessoal, total ou assistida (BRASIL, 2004c).
Com base nestas iniciativas governamentais, vem ocorrendo um acréscimo
de pesquisas para o desenvolvimento de produtos, assim como especializações de
profissionais nas mais diversas áreas, como saúde e reabilitação, educação,
arquitetura, engenharia e outras áreas afins. Essas ações de especialistas tem por
objetivo minimizar as dificuldades de acesso de pessoas com deficiências ao ensino,
mediante o uso dos recursos da tecnologia.
Ampliando a explicação, Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento,
de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias,
estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade,
relacionada à atividade e participação, de pessoas com deficiência, incapacidades
ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e
inclusão social. (Comitê de Ajudas Técnicas, Corde/SEDH/PR, 2007).
A abrangência do conceito garante que Tecnologia Assistiva vá além dos
recursos de sala de aula, estenda-se a todos os ambientes da escola, propiciando o
acesso e a participação efetiva de todos os alunos e durante todo o tempo.
A Tecnologia Assistiva, segundo Bersch (2006, p.2), “deve ser entendida
como um auxílio que proverá a ampliação de uma habilidade funcional deficitária ou
possibilitará a realização da função desejada e que se encontra impedida por
circunstância de deficiência.”
Por essa razão, neste Projeto de Implementação Pedagógica conferimos um
destaque especial à aprendizagem mediada por tecnologia assistiva, por
entendermos que a mesma contribui para desenvolver práticas pedagógicas com
alunos que possuem limitações físicas, principalmente fazendo uso do computador,
de adaptações de mouse, de teclado e de softwares educacionais. E, para inibir
movimentos involuntários, é necessário uma pulseira de chumbo ou de pesos. Outra
órtese que pode ser utilizada para ajudar na digitação é o estabilizador de punho e
abdutor de polegar com ponteira.
Um desses instrumentos especiais pode-se dizer que, para o aluno com
deficiência física é, sem dúvida, o computador. Vale lembrar que as atividades que
envolvem raciocínio abstrato, pensamento-lógico matemático, memória mediada,
percepção e imaginação entre outras, proporcionam o desenvolvimento de
estruturas mentais complexas.
DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES
A primeira atividade teve seu início em fevereiro, com a apresentação do
Projeto de Intervenção Pedagógica para toda a equipe de funcionários da escola, na
Semana Pedagógica 2013, com a duração de uma hora. Foram destacados os
objetivos da Implementação deste Projeto para a Escola, entre eles:
Estudar a adequação de softwares educacionais de Língua
Portuguesa ao conteúdo trabalhado em sala de aula.
Utilizar adaptações que possibilitem a interação, no
computador, de alunos com diferentes graus de comprometimento motor, sensorial
e/ou de comunicação e linguagem, em processos de ensino/aprendizagem.
Oportunizar o trabalho conjunto entre professor de informática,
a professora regente e a pedagoga da escola.
Sugerir melhorias no desenvolvimento do trabalho com
tecnologia assistiva.
Houve a apresentação dos nomes dos quinze alunos escolhidos e da ficha de
observação, que foi preenchida a cada atendimento.
As atividades dos softwares educacionais de Língua Portuguesa, já
selecionadas para esta implementação, e a tecnologia assistiva do computador
específica para cada aluno fizeram parte do conjunto das ações. Cada aluno
escolhido foi atendido quinzenalmente, durante uma hora, na sala de informática
pelo Professor PDE, acompanhado da professora regente e do professor da sala de
informática, que preencheu a ficha de observação a cada atendimento.
MODELO DA FICHA DE OBSERVAÇÃO
Data:_____/______/______
Nome do(a) aluno(a):
Professora regente:
Professor da informática:
Atividade desenvolvida: ______________________________________________________________________
__________________________________________________________________
Fez uso de tecnologia assistiva? Qual?_________________________________
Aspectos: positivos________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________negativos________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Como foi a interação entre as pessoas? _________________________________________________________________
Assinatura:_________________________
RESULTADOS DA IMPLEMENTAÇÃO
No decorrer das atividades com os alunos, os mesmos demonstraram
interesse ao utilizar os softwares educacionais livres de Língua Portuguesa, porém
nem todos conseguiram executar as atividades. Na Produção Didático-Pedagógica
foram descritos: SEBRAN, SÓCRATES, PICOLÉ DIGITAL1 e PICOLÉ DIGITAL
(Diretas, Figuras Diretas, Caça-palavras, Enigma), ALFABETO COM DESENHO,
APRENDENDO A LER, BRINCANDO COM AS PALAVRAS, APRENDENDO A
ESCREVER, NOME DOS ANIMAIS, JOGO DAS FRASES, FORMANDO
PALAVRAS, ATIVIDADES ELABORADAS COM PROGRAMA JCLIC.
Três alunos precisaram do auxílio da professora, pois o comprometimento
motor deles é acentuado, muitos movimentos involuntários, o que os impediram de
utilizar o mouse e o teclado. Mesmo com adaptações de mouse e teclado foi
impossível, pois a tecnologia assistiva existente é insuficiente para a independência
do aluno. Infelizmente pela falta de recursos para aquisição de novas tecnologias
assistivas, a aprendizagem do aluno fica apenas na condição de ouvinte, o que pode
ocasionar frustração.
Como o atendimento na sala da informática é por turma, foi constatado
que o aluno com maior comprometimento necessitou da constante interação
professor\aluno, mesmo que estivesse utilizando tecnologia assistiva, por exemplo, o
teclado adaptado. O ideal é que o atendimento passe a ser individual, num horário a
ser combinado com a pedagoga da escola, pois a aquisição do conhecimento seria
mais produtiva.
Outro fator observado foi que alguns softwares educacionais estavam
além do conteúdo trabalhado em sala de aula, precisando melhorar então a
comunicação entre professora regente e professor de informática. Surgiu então a
ideia de uma ficha mensal a ser entregue à professora para, previamente, preparar
os conteúdos do mês seguinte e entregá-la ao professor de informática para que
possa fazer a adequação do software.
Foi assim elaborada:
SALA DE INFORMÁTICA – MÊS : ABRIL
TURMA_______________ SALA___ PERÍODO__________
PROFESSORA_________________________
PERÍODO ATIVIDADE
SEMANA DE 01 a 05/04
SEMANA DE 08 a 12/04
SEMANA DE 15 a 19/04
SEMANA DE 22 a 26/04
SEMANA DE ATIVIDADES LÚDICAS(JOGOS)
Dois alunos começaram a utilizar, além do mouse adaptado trackball, a
pulseira de chumbo nos dois braços para inibir movimentos involuntários e isso foi
muito gratificante para eles.
Percebemos que alguns professores de sala de aula não se envolveram com
atividade, pela falta de conhecimento dos softwares educacionais, deixando a
responsabilidade para o professor de informática. Há necessidade de um minicurso
para todo o corpo docente durante a Semana Pedagógica, que acontece no início de
cada ano letivo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Segundo Valente (1993, p. 5), “O uso da tecnologia não como “máquina de
ensinar”, mas, como uma nova mídia educacional: o computador passa a ser uma
ferramenta educacional, uma ferramenta de complementação, de aperfeiçoamento e
de possível mudança na qualidade de ensino.” Ainda de acordo com o mesmo autor,
“O computador pode ser também utilizado para enriquecer ambientes de
aprendizagem e auxiliar o aprendiz no processo de construção do seu
conhecimento”. Por isso, tão importante quanto selecionar atividades para o aluno
com deficiência física neuromotora, é necessário também verificar se existe
adequação entre o que foi ensinado em sala de aula com o que está sendo
trabalhado na sala de informática, pois uma aprendizagem deve complementar a
outra.
Desta maneira, superando limites impostos pela própria deficiência, o aluno
está constantemente aprendendo por meio do computador e/ou com o uso de outra
tecnologia assistiva. Hoje existem muitos softwares educacionais que ajudam o
aluno a aprender.
Por outro lado, durante o processo de ensino surgem algumas dificuldades
por parte dos alunos e professores, que necessitam de ajustes constantes para que
a aprendizagem ocorra. Aqui percebemos que há necessidade de mais e novos
recursos de tecnologia assistiva, aprofundamento dos estudos por parte dos
professores e, acima de tudo, muita paciência e amor para que, por meio da
tecnologia, ¨as coisas se tornem possíveis para as pessoas com deficiência¨, como
apontou Radabaugh (1993).
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