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AMANDA M. S. SCHUNTZEMBERGER A QUALIDADE DA CARNE BOVINA E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PREÇOS PARA O MERCADO INTERNO Monografia apresentada para conclusão do Curso de Medicina Veterinária, Setor de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. João Batista Padilha Júnior CURITIBA 2007

AMANDA M. S. SCHUNTZEMBERGER - LapBov - Laboratório …segundas-feiras oscilavam entre os projetos de forragicultura e o futebol do fim de semana. Mais do que um professor, tornou-se

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AMANDA M. S. SCHUNTZEMBERGER

A QUALIDADE DA CARNE BOVINA E SUA INFLUÊNCIA NA FORMAÇÃO DE PREÇOS PARA O MERCADO INTERNO

Monografia apresentada para conclusão do Curso de Medicina Veterinária, Setor de Ciências Agrárias, da Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. João Batista Padilha Júnior

CURITIBA

2007

2

Aos meus pais:

Djalma e Iracilda,

A quem devo tudo o que sou

3

AGRADECIMENTOS

Ao Claudinho, meu amor, sem o qual minha vida perde o sentido.

Apoiador incondicional das minhas escolhas me ensinou que, pelo amor, esperamos

o tempo que for necessário.

Ao meu irmão, Diogo, companheiro de todas as horas. Sua admiração

pelo que sou me dá forças para lutar ainda mais.

Ao Professor João Batista Padilha Júnior, cuja orientação foi fundamental

para a realização deste trabalho. Suas aulas fizeram despertar em mim o interesse

pela Economia Rural.

Ao Professor Sérgio De Zen, pela idéia inicial do tema deste trabalho e

pela orientação recebida durante o período de estágio em Piracicaba.

Ao Professor João Ricardo Dittrich, cujas conversas em sua sala nas

segundas-feiras oscilavam entre os projetos de forragicultura e o futebol do fim de

semana. Mais do que um professor, tornou-se um grande amigo.

Ao Professor Antônio Ostrenski, a quem devo grande parte do

aprendizado sobre a vida além da universidade. Um dia me ensinou que somente o

céu é o limite.

Ao pessoal do CEPEA por toda a atenção e apoio recebidos durante o

período que por lá estive. A Ana Paula pelo esforço para que meu estágio fosse

aceito. Agradeço ao Guilherme e ao Matheus pela coordenação dos projetos

desenvolvidos. Ao Lucilio, por me escutar nos momentos em que mais precisei e por

me incentivar a jamais desistir dos meus sonhos. Em especial, a Ana Amélia (Ana

Milho), Flávia (Cabeção), Renata (Capeta) e Matheus (Tetê) por me ensinarem uma

porção de coisas novas e por tornarem meus dias em Piracicaba mais alegres.

Às amigas Viviane (Violeta) e Helen (Girassol), porto seguro durante o

período em que estive longe de casa. Como fazer bons amigos em pouco tempo?

Viva intensamente cada momento ao lado deles...

A todos que, de certa forma, acreditam no meu potencial e àqueles que,

direta ou indiretamente, contribuíram para a conclusão de mais esta etapa em minha

vida.

Minha gratidão à UFPR, de onde recebi a estrutura para minha formação,

e para onde pretendo voltar para compartilhar o que aprendi.

4

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g{ÉÅtá [âåÄxç

5

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS ..................................................

6

RESUMO ............................................................................................................ 7

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................. 8

2 OBJETIVOS .................................................................................................... 10 2.1 Objetivo Geral ............................................................................................... 10 2.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 10

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................ 11 3.1 Panorama atual ............................................................................................ 11 3.2 Qualidade ..................................................................................................... 14 3.2.1 Características organolépticas .................................................................. 17 3.2.2 Características físicas ................................................................................ 18 3.2.3 Características nutritivas ........................................................................... 19 3.3 Manejo pré-abate ......................................................................................... 21 3.4 Rastreabilidade ............................................................................................. 22 3.4.1 Origem da rastreabilidade e exigências da União Européia ...................... 23 3.4.2 Rastreabilidade brasileira .......................................................................... 25 3.5 Boas práticas agrícolas ................................................................................ 26 3.6 Análise de perigos do pontos críticos de controle ........................................ 27 3.7 Boas práticas de fabricação ......................................................................... 29 3.8 Procedimentos-padrão de higiene operacional ............................................ 30 3.9 Fatores determinantes da demanda ............................................................. 31 3.9.1 Efeito população ........................................................................................ 32 3.9.2 Nível e distribuição de renda ..................................................................... 32 3.9.3 Produtos substitutos .................................................................................. 37

4. METODOLOGIA ............................................................................................. 38 4.1 A Instituição .................................................................................................. 38 4.2 Histórico ........................................................................................................ 39

5. DISCUSSÃO .................................................................................................. 40

6. CONCLUSÕES .............................................................................................. 44

7. OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS 45 7.1 Indicadores de preços dos produtos agropecuários 45 7.2 Principais fusões e aquisições entre frigoríficos no Brasil 46 7.3 Capacidade de abate de bovinos no Brasil 48 7.4 Geração de energia elétrica a partir de pellets de bagaço de cana-de-

açúcar

49

8. REFERÊNCIAS .............................................................................................. 50

6

LISTA DE FIGURAS, QUADROS E TABELAS

Figura 1 – Exportações mundiais de carne bovina ............................................. 11

Figura 2 – Evolução das exportações brasileiras de carne bovina – 1990 a

2006 ...................................................................................................

13

Figura 3 – Modificações que podem ocorrer na Demanda de um determinado

produto ...............................................................................................

32

Figura 4 – Curvas de Engel .................................................................................. 34

Figura 5 – Relação entre a demanda de carne bovina e de frango ...................... 37

Quadro 1 – Balanço da pecuária bovina de corte mundial ................................... 12

Quadro 2 – Exportações brasileiras de carne bovina – 1990 a 2006 ................... 12

Quadro 3 – Elasticidade de alguns produtos pecuários frente a diferentes faixas

de renda .............................................................................................

36

Tabela 1 – Estimativas de elasticidade-renda para alguns alimentos no Brasil

e nos EUA ..........................................................................................

35

Tabela 2 – Fusões e aquisições dos principais frigoríficos brasileiros ocorridas

desde 2000 ........................................................................................

48

7

RESUMO

A qualidade da carne bovina e sua influência na formação de preços para o mercado interno

A carne bovina, apesar de não ser a mais consumida no mundo, é a mais valorizada e preferida. Possuindo cerca de 188 milhões de habitantes, o Brasil constitui um grande mercado consumidor deste produto. Este trabalho buscou elaborar um conceito para a “qualidade de carne bovina” e identificar sua influência na formação de preços para o mercado brasileiro, baseando-se nas informações obtidas durante estágio curricular, desenvolvido no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. “Qualidade de carne ou carne de qualidade” envolve boas condições higiênicas e sanitárias de obtenção, processamento e conservação; aspectos organolépticos, físicos e nutritivos adequados; conveniência; bem-estar animal; respeito ao meio ambiente e a responsabilidade social. A carne bovina que é destinada ao mercado interno não possui a mesma qualidade que a produzida para o exterior, pois o consumidor brasileiro, em sua maioria, não prioriza a qualidade como principal atributo na hora da compra, pois seu poder aquisitivo não permite que assim seja feito. Normalmente, o diferencial de preço é estímulo à produção de produtos com qualidade. Entretanto, é o nível de renda do consumidor que lhe dá condições para pagar por preços mais elevados, e como aqui no Brasil esta renda é relativamente baixa, o pagamento por qualidade é praticamente inexistente.

Palavras-chave: qualidade, carne bovina, nível de renda

8

1. INTRODUÇÃO

Dentre as carnes das diversas espécies de mamíferos e aves mais

utilizadas na alimentação humana a bovina não é a mais consumida, mas é,

provavelmente, a mais valorizada e preferida.

Com uma população de aproximadamente 188 milhões de habitantes, o

Brasil constitui um grande mercado consumidor, que será tanto mais forte quanto

mais efetivas forem as políticas governamentais voltadas à criação de empregos e

aumento de renda. A melhoria da renda, e especialmente a redução da assimetria

em sua distribuição poderão ser responsáveis por um aumento significativo na

demanda por alimentos básicos com garantia de qualidade, dentre os quais a carne

bovina é um dos mais importantes.

As transformações que vem ocorrendo no mundo estão modificando os

hábitos de consumo de alimentos das populações mundiais, afetando sobremaneira

o que se denomina de perfil do consumidor e padrão de consumo. Sendo assim, o

consumidor de carnes também está inserido nesse processo de mudança e deve ser

levado em conta pelas organizações que tem o consumidor final como objetivo

principal.

A demanda por alimentos que ofereçam praticidade e rapidez no preparo

e que ofereçam segurança no consumo tem aumentado constantemente. Aspectos

antes pouco valorizados, como sanidade, higiene, qualidade e confiabilidade,

especialmente no setor de alimentos, são cada vez mais importantes na decisão de

compra. Mudanças nos hábitos do consumidor final afetam, em maior ou menor

grau, todos os segmentos de um sistema produtivo. Conhecer o mercado em que

atuam e o perfil do consumidor que o compõe se torna uma estratégia para

sobrevivência em um mercado onde a competição é cada vez mais acirrada, ou seja,

atender às necessidades do consumidor poderá determinar o sucesso ou não da

empresa.

Atualmente, conceitos como qualidade da carne, carne de qualidade e

garantia de qualidade têm ocupado o centro das atenções, tanto nas pesquisas

como nas práticas de produção, transformação e comercialização. Não se trata

apenas de assegurar carne e produtos cárneos para a população em quantidade,

mas de melhorar as perspectivas de comercialização no mercado em longo prazo,

9

visto que a produção de carne bovina é mais do que suficiente para abastecer o

mercado interno. Devido a isto, os aspectos de qualidade ganham importância cada

vez maior, já que somente a “carne de boa qualidade” consegue se destacar nas

vendas (CASTILLO, 2006). Isto posto, pode-se dizer que a principal meta a ser

atingida por todos os elos da cadeia da carne bovina é a obtenção de um produto de

qualidade que venha a satisfazer seus consumidores. Mas o que vem a ser esta

“carne de boa qualidade”? Para o mercado interno, a formação de preços da carne

bovina sofre influência deste atributo?

10

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

O objetivo principal deste trabalho consiste em elaborar um conceito para

qualidade de carne e identificar sua influência na formação de preços da carne

bovina para o mercado brasileiro.

2.2 Objetivos Específicos

a) Verificar se a qualidade da carne bovina consegue afetar os preços

internos;

b) Averiguar se o mercado interno remunera de forma diferenciada este

atributo;

11

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Panorama atual

Segundo o ANUALPEC (2006), o Brasil possui o segundo maior rebanho

bovino mundial, sendo superado apenas pela Índia, que não utiliza seu rebanho para

fins comerciais por considerar o bovino um animal sagrado. Com o maior rebanho

comercial do mundo o Brasil é o maior exportador de carne em toneladas (Figura 1),

entretanto, ainda possui taxas produtivas (abate, produção de bezerros) abaixo dos

seus maiores concorrentes (Quadro 1).

FIGURA 1. EXPORTAÇÕES MUNDIAIS DE CARNE BOVINA.

Fonte: ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes), 2007. * Projeções.

12

QUADRO 1. BALANÇO DA PECUÁRIA BOVINA DE CORTE MUNDIAL.

Brasil Índia China EUA Austrália UE

Anos 2005 2006 2005 2006 2005 2006 2005 2006 2005 2006 2005 2006

Rebanho Bovino – milhões de

cabeça 165 166 332 337 141 143 97 99 28 29 86 86

Abate – milhões de cabeça 43 40 22 23 54 57 33 35 9 9 28 28

Produção de carne – milhões ton. Eq. Carcaça

7,8 7,5 2,2 2,3 7,1 7,6 11,3 11,9 2,1 2,1 7,8 7,8

Taxa de abate % 26 24 7 7 38 40 34 35 31 30 33 33

Produção de bezerros –

milhares cabeça 44,4 44,6 48,5 49,5 57 60 37,8 38,3 10 10 30 30

Fonte: Anualpec, 2006.

Segundo BARBOSA e MOLINA (2007), o Brasil vem se consolidando

como fornecedor de produtos cárneos para o mundo. É o maior exportador de carne

de aves (40% do total) e de bovinos (26% do total), e o 4º maior de carne suína

(14% do total). Segundo a ABIEC (2007), em 2006, as exportações brasileiras de

carne bovina somaram 1,7 milhões de toneladas equivalentes carcaça, o que

correspondeu a US$ 3,1 bilhões (Quadro 2 e Figura 2).

QUADRO 2. EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE BOVINA* - 1990 A 2006.

1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

1000

To

n.

Eq

. C

arca

ça

249 326 444 392 358 269 261 274 343 462 455 632 733 1.054 1.386 1.610 1.730

Milh

ões

U

S$

234 398 634 516 522 445 392 420 556 670 623 819 864 1.300 2.024 2.463 3.125

Fonte: Modificado de ABIEC, 2007. *Associados da ABIEC

13

FIGURA 2. EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS DE CARNE BOVINA - 1990 a

2006.

Fonte: ABIEC, 2007.

O fato de as exportações brasileiras de carne bovina serem as maiores do

mundo fez com que a produção se voltasse não apenas para a quantidade, mas,

acima de tudo, para a qualidade, pois é ela que torna o produto mais competitivo no

mercado.

Conforme dados do Instituto FNP, de 2004 a 2006, o consumo de carne

bovina (kg/habitante/ano) vem apresentando queda no Brasil, sendo de 33,6; 32,6 e

29,6 respectivamente para os anos de 2004, 2005 e 2006 (estimativa). Apesar de

queda per capita, deve se levar em consideração o aumento populacional e

conseqüentemente o aumento da demanda total por carne bovina no mercado

mundial (ANUALPEC, 2006).

A queda gradual do consumo interno se sustenta no fato de que o poder

aquisitivo dos consumidores depende da expansão do PIB e, como este foi menor

do que o dos demais países emergentes, não foi preciso esforço para reduzir o

consumo. Considerando-se que o Brasil tem o maior rebanho comercial bovino do

mundo, cada brasileiro poderia estar consumindo mais desse tipo de carne, e isso

não ocorre, em grande parte, por causa do baixo nível de renda de sua população,

principalmente porque a carne é o produto que tem a maior participação nas

despesas com alimentação no país (MENDES e PADILHA JR, 2007).

14

3.2 Qualidade

Para CASTILLO (2006) o termo qualidade da carne é um conceito

bastante amplo, complexo e ambíguo, que envolve diversos aspectos inter-

relacionados, englobando todas as etapas da cadeia agroindustrial desde o

nascimento do animal até o preparo para o consumo final da carne in natura e de

produtos cárneos processados. O conceito em si varia conforme as regiões

geográficas, as classes sócio-econômicas, as diferentes visões técnico-científicas,

industriais e comerciais, questões culturais entre outros aspectos. Oscila também de

acordo com as características próprias de cada consumidor e com suas preferências

individuais, possuindo dessa forma muitas variáveis.

De acordo com CAMPOS (1999) produto ou serviço de qualidade é

aquele que atende perfeitamente (projeto perfeito), de forma confiável (sem

defeitos), de forma acessível (baixo custo), de forma segura (segurança do cliente)

e no tempo certo (entrega no prazo certo, no local certo e na quantidade certa) às

necessidades do cliente.

A Organização Internacional de Produção (ISO) define qualidade como “a

totalidade de atributos e características de um produto ou serviço que deveria em

sua habilidade satisfazer necessidades estabelecidas e implícitas” (CASTILLO,

2006).

A Qualidade, de acordo com Crosby, citado por BECKER (1999), apud

CASTILLO (2006) é a conformidade com o que é requerido, ou seja, é a satisfação

de um propósito, conceito similar à Associação Alemã de Qualidade em que define

qualidade como sendo o conjunto de características de um produto que satisfaz

todas as necessidades requeridas.

Principalmente quando se trata de carnes, a amplitude do termo

“qualidade” pode levar a diferentes interpretações. WARRISS (2000) citado por

LUCHIARI FILHO (2006), em seu livro “Meat Science An Introductory Text”, define

qualidade como uma série de componentes:

- Rendimento e composição – quantidade de produto comercializável,

proporção de carne magra e gordura, e o tamanho e a forma dos músculos.

15

- Aparência e características tecnológicas – cor e textura da gordura,

quantidade de marmorização no tecido magro, cor e capacidade de retenção de

água e composição química do músculo.

- Palatabilidade – textura, maciez, suculência, sabor e aroma.

- Integridade do produto – qualidade nutricional, segurança química e

biológica.

- Qualidade ética – questões relacionadas ao bem estar animal.

Alguns estudos têm demonstrado que a “definição” de qualidade varia

com a classe social. Por exemplo, para as classes de maior poder aquisitivo, um

produto de qualidade é aquele que atende às expectativas do consumidor. Por outro

lado, para as camadas mais populares, a qualidade está associada à sua condição

financeira. As classes mais baixas também buscam a qualidade, mas devido à sua

condição financeira, têm pouco acesso a ela.

Para os consumidores das classes A/B (alta renda), os critérios mais

votados para julgar a qualidade de um produto, por ordem de importância, são:

rotulagem, durabilidade, desempenho, garantia e preço justo. Para os consumidores

de baixa renda (classes D/E), o preço do produto assume maior importância, uma

vez que os critérios para julgar a qualidade de um produto são os seguintes: preço

justo, rótulo, durabilidade, garantia e marca. Esses mesmos estudos indicam que os

consumidores brasileiros, a exemplo do que há tempos vem ocorrendo com os

consumidores de países desenvolvidos, estão cada vez mais incorporando a

qualidade como um direito (MENDES e PADILHA JR, 2007).

Após o surgimento da Encefalopatia Espongiforme Bovina, também

conhecida “vaca louca”, na Europa, aspectos intrínsecos de qualidade que eram

importantes passaram a dar lugar para outros até então pouco valorizados. O bem

estar animal, os alimentos consumidos, os medicamentos utilizados, dentre outros,

passaram a exercer uma maior importância nas exigências dos consumidores

principalmente desses países desenvolvidos. Ainda mais recentemente até mesmo o

respeito ao meio ambiente e o cumprimento dos direitos trabalhistas (salários,

moradia, acesso dos filhos à educação, etc.) nas fazendas brasileiras está sendo

questionado pelos consumidores.

O consumidor é o ponto final da cadeia alimentar, é ele que deve ser

convencido de que o corte bovino apresentam os atributos de qualidade por ele

16

desejado. E para que seja convencido disso é preciso que as empresas invistam em

rotulagem, marketing, diferenciação, agregação de valor.

Ao adquirir uma carne, o consumidor bem informado pressupõe que ela:

a) seja proveniente de animais saudáveis, abatidos e processados higienicamente, e

que esta condição tenha sido objeto de verificação rigorosa (inspeção); b) seja rica

em nutrientes necessários à higidez; c) tenha uma aparência típica da espécie a que

pertence, e d) seja bem palatável à mesa. Tais premissas são sinônimas de

qualidade óbvia ou exigida. Isto é, as empresas seguem um conjunto de regras e

respeitam os consumidores, fazendo por eles aquilo que deve ser feito. Procedendo

assim, terão a sua credibilidade aumentada e, praticando preços justos, aumentarão

suas vendas (FELÍCIO, 1999).

A qualidade exigida depende das pessoas, do produto e da situação,

evoluindo com as mudanças pessoais (experiência com o produto, idade, educação)

e sociais (novos valores disseminados pela mídia) com o passar do tempo

(ISSANCHOU, 1996, citado por FELÍCIO, 1998).

Um outro tipo de qualidade é denominado de qualidade atrativa. Por

definição, a qualidade atrativa inclui os atributos que podem surpreender o

consumidor oferecendo um “algo mais” que os concorrentes ainda não tenham

condições de oferecer (FELÍCIO, 1998). Em geral, o que é qualidade atrativa hoje,

dentro de algum tempo será qualidade óbvia ou exigida, e quem quiser ficar à frente

da concorrência precisa estar sempre inovando. No Brasil de hoje, uma carne, que,

além da qualidade óbvia tivesse cor, maciez, suculência e sabor assegurados, e que

fosse apresentada nos displays pré-cortada, corretamente embalada, com certificado

de origem e indicações de preparo culinário, teria ao mesmo tempo qualidade óbvia

e qualidade atrativa. Por algum tempo isto seria um importante fator de

competitividade em relação aos concorrentes que disputam o mesmo mercado.

Em um relatório sobre o setor de carne suína dos Estados Unidos, foi

estabelecido que é necessário identificar dois tipos de qualidade: a funcional e a de

conformidade. A qualidade funcional diz respeito aos atributos que o cliente ou

consumidor espera encontrar no produto, isto é, seu grau de excelência. Envolve os

aspectos visuais (cor da carne e da gordura, quantidade e distribuição da gordura),

os atrativos de palatabilidade da carne preparada (maciez, sabor e suculência), os

nutrientes – proteína, densidade calórica, vitaminas e minerais – e a inocuidade, ou

17

seja, os aspectos higiênico-sanitários. Comumente, quando as pessoas falam em

qualidade de algum produto ou serviço, é da qualidade funcional que estão falando

(MEEKER e SONKA, 1994). A conformidade, por sua vez, deve ser o foco do

gerenciamento pela qualidade total, que cuida dos processos que compõem o

sistema todo. No caso da carne, a conformidade implica padronização dos

processos (produção pecuária a pasto ou com ração; identificação individual e

manejo pré-abate; abate, com especial atenção para o procedimento de toalete;

velocidade de resfriamento; classificação das carcaças; embalagem e maturação),

das matérias primas (uniformidade do gado em termos de peso e composição

genética; rendimento de carcaça, rendimento de desossa), e produtos (padronização

e codificação de cortes cárneos, pesos e determinações físico-químicas da carne).

3.2.1 Características organolépticas

Ao comprar a carne o consumidor realiza uma espécie de avaliação, ele

procura alimentos que após o preparo apresentem certas características como

palatabilidade, odor característico e suculência no preparo do bife, por exemplo. Os

atributos da carne considerados para se obter este atrativo incluem: maturidade da

carne, marmoreio, textura, firmeza e cor.

As características mais importantes na carne sob o ponto de vista do

consumidor são: a aparência e a palatabilidade. O consumidor reluta em comprar

uma carne que não apresente maciez e cor vermelha.

De acordo com FELÍCIO (1999), as características organolépticas da

carne são os atributos que impressionam os órgãos do sentido, de maneira mais ou

menos apetecível, e que dificilmente podem ser medidos por instrumentos. É o caso

dos atributos frescor, firmeza e palatabilidade.

3.2.1.1 Frescor

O frescor é a impressão que se tem de que o produto é fresco, saudável.

Trata-se de uma percepção visual e olfativa.

18

3.2.1.2 Firmeza

A firmeza é uma característica percebida pelo consumidor, através da

visão e do tato, ou avaliada tecnicamente, em termos de consistência do material,

que, no caso da carne desossada, é a estrutura formada de fibras musculares e

tecido conjuntivo (fibras de colágeno) e gorduras subcutânea, inter e intramuscular.

Esta propriedade da carne de ser mais ou menos firme é determinada em parte pela

quantidade e distribuição das fibras de colágeno e da gordura.

3.2.1.3 Palatabilidade

A palatabilidade é a percepção que se tem do alimento preparado por um

dos processos usuais de cozimento, escolhendo-se o mais adequado para cada

corte comercial. O consumidor percebe a palatabilidade através de uma combinação

de impressões visuais, olfativas e gustativas.

3.2.2 Características físicas

As características físicas são aquelas propriedades mensuráveis, como

cor e capacidade de retenção de água da carne fresca e maciez da carne cozida.

Estas podem ser avaliadas subjetivamente ou medidas com aparelhos específicos.

3.2.2.1 Cor

Em condições normais de conservação, a cor é o principal atrativo dos

alimentos. A cor da carne reflete a quantidade e o estado químico do seu principal

pigmento, a mioglobina (Mb). A mioglobina é formada por uma porção protéica

denominada globina e uma porção não protéica denominada grupo heme. A

quantidade de mioglobina varia com a espécie, sexo, idade, localização anatômica

do músculo e atividade física, o que explica a grande variação de cor na carne. A

cor típica da carne de um bovino adulto é vermelho cereja brilhante (ROÇA, s/d).

19

3.2.2.2 Capacidade de retenção de água (CRA)

Segundo ROÇA, s/d, pode ser definida como a capacidade da carne de

reter sua umidade ou água durante a aplicação de forças externas, como corte,

aquecimento, trituração e prensagem. Sofre influência direta do pH. A CRA

influencia diretamente a firmeza da carne bovina, carnes com baixa CRA são pouco

firmes e as de alta CRA tendem a ser muito firmes.

3.2.2.3 Maciez

Alguns cientistas utilizam os termos “tenderness” (maciez), quando tratam

de medidas físicas da resistência da carne cozida à compressão ou cisalhamento, e

“sensory tenderness” (maciez sensorial) para designar a resistência à mastigação

detectada por provadores. Muitos fatores podem influenciar a maciez da carne

bovina, como genética, sexo, maturidade, acabamento, promotores de crescimento,

velocidade de resfriamento, taxa de queda de pH, pH final e tempo de maturação.

3.2.3 Características nutritivas

A carne bovina é uma excelente fonte de proteínas de alta qualidade,

minerais como ferro e zinco, ácidos graxos essenciais e vitaminas do complexo B. A

carne bovina magra deve fazer parte de uma alimentação saudável e variada, pois é

um alimento denso e de alto valor biológico (SERVIÇO DE INFORMAÇÃO DA

CARNE - SIC, 2007). LUCHIARI FILHO (2000) afirma que quando o alimento

contribui com grande quantidade de nutrientes, em função da baixa quantidade de

calorias, este é chamado de nutriente denso.

3.2.3.1 Proteínas

Estão presentes em todas as células e são compostas de aminoácidos.

As proteínas que contêm todos os aminoácidos essenciais em quantidades e

proporções adequadas são consideradas de alto valor biológico, característica das

20

proteínas presentes nos alimentos de origem animal, principalmente na carne bovina

(LUCHIARI FILHO, 2000).

Segundo o SIC (2007), cada 100g de carne magra, depois do cozimento,

contém entre 20 e 30g de proteína, o que corresponde a aproximadamente 50% das

necessidades diárias do ser humano adulto.

3.2.3.2 Minerais

A carne é fonte rica de ferro, zinco e fósforo. O Ferro é essencial na

manutenção das funções vitais do organismo, devendo estar sempre presente numa

dieta saudável e balanceada. É importante na formação da hemoglobina, molécula

em que se encontra a maior parte do ferro presente no organismo, sendo essencial

no transporte de oxigênio para as células e como constituinte de enzimas

associadas aos sistemas oxidativos no interior do tecido muscular.

O Zinco participa da síntese de DNA e age como cofator nos processos

metabólicos. Como componente das peptidases, tem grande importância nos

processo de digestão das proteínas do trato gastrointestinal. O Fósforo tem um

papel no metabolismo dos carboidratos, proteínas e gorduras. Em conjunto com o

cálcio e a vitamina D, o fósforo tem função relevante na formação óssea e dentária

(LUCHIARI FILHO, 2000).

3.2.3.3 Vitaminas

A carne é uma fonte rica de vitaminas do complexo B, as chamadas

hidrossolúveis, que compreendem: vitamina B1 ou tiamina, vitamina B2 ou

riboflavina, niacina ou ácido nicotínico, vitamina B6 ou piridoxina, colina, ácido fólico,

vitamina B12 ou fator anti-anemia perniciosa, ácido pantotênico e Biotina, sendo que

a vitamina B12 é encontrada somente em produtos de origem animal. As vitaminas

são essenciais na síntese de DNA, componente do núcleo celular, indispensável nos

processos de crescimento e desenvolvimento (LUCHIARI FILHO, 2000).

21

3.2.3.4 Gorduras

As gorduras são fontes concentradas de energia. Os principais

constituintes das gorduras são os triglicerídeos, que contêm grande quantidade de

ácidos graxos saturados, monoinsaturados e polinsaturados. A gordura animal é

uma fonte importante do ácido graxo essencial: ácido linoléico e é transportadora de

vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K), além de fonte de energia e isolamento para o

corpo humano. A gordura tem também um papel fundamental no desenvolvimento

do sabor e aroma da carne.

3.3 Manejo pré-abate

A bovinocultura de corte tem se desenvolvido rapidamente nos últimos

anos, todavia as pesquisas têm sido direcionadas quase que estritamente às áreas

de nutrição, melhoramento genético e reprodução. Apesar de essas abordagens

contribuírem muito, trazendo inúmeros benefícios para o setor da carne, o animal

acaba sendo comparado com uma “máquina”, dependendo essencialmente da

nutrição para responder aos anseios da produção.

É importante buscar o pleno conhecimento da biologia da espécie bovina,

definindo quais recursos são importantes para esses animais e quais as

necessidades dos mesmos em relação a eles. Já existe alguma informação

disponível na literatura, mas ainda há muito que aprender sobre o comportamento

dos bovinos. A partir da aquisição desse conhecimento haverá maior preparação

para definir técnicas de criação e de manejo dos bovinos, atendendo aos interesses

econômicos, sem prejudicar o meio ambiente e o bem-estar dos animais, pondo em

prática o chamado manejo pré-abate humanitário (LUCHIARI FILHO et al, 2003).

A aplicação desses conhecimentos na rotina das fazendas é um desafio

ainda maior, e apesar de já existir alguns bons exemplos, indicando que esta

estratégia pode trazer ganhos diretos e indiretos para todos os segmentos

envolvidos com a produção de carne, há ainda muitas barreiras a serem vencidas,

tanto técnicas como culturais. Muitos reconhecem a importância de reduzir o

estresse dos animais durante a rotina de manejo, e sabem, por exemplo, que

animais agitados durante o manejo correm maior risco de acidentes, levando ao

22

aumento de contusões nas carcaças (PARANHOS DA COSTA et al, 1998), além de

a carne ficar mais dura e escura (VOISINET et al, 1997). Contudo, poucos

reconhecem que esses riscos diminuem quando os animais são manejados com

calma e tranqüilidade.

O manejo pré-abate envolve uma série de situações não familiares para

os bovinos, que causam estresse aos mesmos, dentre elas: agrupamento dos

animais, confinamento nos currais das fazendas, embarque, confinamento nos

caminhões (com e sem movimento), deslocamento, desembarque, confinamento e

manejo nos currais dos frigoríficos. Tais atividades devem ser bem planejadas e

conduzidas para minimizar o estresse, que pode causar danos à carcaça e prejuízos

na qualidade da carne.

Obviamente, algumas ações e comportamentos humanos são claramente

aversivos para os bovinos: elevação da voz, pancadas e utilização de ferrão são

ações muito comuns no manejo de bovinos de corte, resultando em animais com

medo do homem. Práticas de rotina, como vacinação, marcação e castração,

também são aversivas. Em geral, ações aversivas conduzem a respostas negativas,

com o aumento do nível de medo dos animais pelos humanos causando uma maior

distância de fuga, dificultando o manejo de alimentação, dos cuidados sanitários e

das práticas zootécnicas resultando em estresse agudo ou crônico.

No frigorífico valem os mesmos princípios de bem estar animal citados na

produção. Ou seja, no desembarque dos animais para os currais de chegada, deve-

se tomar cuidado para que as porteiras não machuquem os animais. E ao conduzir o

gado de um curral para outro ou na rampa de acesso à sala de abate os animais

devem ser conduzidos de forma calma, sem gritos, choques ou uso de ferrões e/ou

choque elétrico para evitar o estresse. Além das perdas decorrentes de contusões e

hematomas, o estresse vivenciado por estes animais durante o manejo em

abatedouros mal planejados leva ao aumento do pH da carne diminuindo a sua

qualidade.

3.4 Rastreabilidade

Um sistema de rastreabilidade é uma ferramenta que permite identificar

dados e fatos referentes a um produto durante o ciclo de sua cadeia produtiva,

23

baseando-se no registro histórico dos acontecimentos que a envolvem. As

condições de rastreabilidade para um produto são criadas se este for identificado de

forma única e forem mantidos registros dos locais onde esteve (localização) e de

que forma foi utilizado, manejado, tratado, processado... (utilização). A manutenção

de registros imprecisos ou incompletos poderá comprometer a validade e

credibilidade de um sistema de rastreabilidade.

A rastreabilidade é mais um desafio a ser enfrentado pelo setor no

processo de melhoria da qualidade do produto. Tal sistema foi desenvolvido na

Europa após a crise desencadeada com o surgimento, em escala difundida, da

Encefalopatia Espongiforme Bovina. Esse mecanismo, a ser adotado ao longo da

cadeia produtiva, requer um controle rígido das condições de produção e uma

sistematização de informações sobre o produto de origem animal. A introdução da

rastreabilidade como estratégia de comercialização, todavia, pode esbarrar em

dificuldades inerentes ao comportamento do consumidor e às condições gerais de

distribuição de renda (IPARDES, 2002).

Um sistema de rastreabilidade permite garantir a qualidade, mas não evita

ou resolve problemas ocorridos com o produto. Ele apenas recupera, de forma

precisa, eficiente e rápida, seu histórico e utilização, facilitando a tarefa dos

investigadores que pesquisam as causas da ocorrência em pauta. Uma

característica importante da rastreabilidade é o seu grau de abrangência. A

rastreabilidade pode ser parcial, quando cobre apenas parte da cadeia produtiva ou

total, quando toda a cadeia produtiva é coberta. Se, por exemplo, apenas durante o

período em que os animais estiveram sob a custódia dos produtores os seus dados

foram registrados, então esta será uma rastreabilidade parcial.

Quando se faz uma verdadeira rastreabilidade, para fins de certificação de

origem, como no caso de segurança alimentar, é fundamental chegar à origem do

produto, que em se tratando de animais é o local de nascimento, caso contrário não

será possível certificar sua origem.

3.4.1 Origem da rastreabilidade e exigências da União Européia

Em 1997, A União Européia publicou o regulamento EC 820/97, que veio

servir de base para suas sucessoras EC 1760/2000 e EC 1825/2000, e hoje

24

prevalecem, ditando as regras e exigências para serem cumpridas, internamente e,

também, pelos países exportadores não pertencentes à Comunidade, como é o caso

do Brasil (FELÍCIO, 2005).

O regulamento EC 1760/2000 estabelece, em seu art. 3º, as seguintes

exigências para os produtores: identificação individual do animal, com brinco na

orelha; banco de dados informatizado; passaporte animal; registro individual dos

animais, a serem mantidos nas propriedades (COMUNIDADE EUROPÉIA, 2000).

Essas exigências que constituem a base sobre a qual se constrói a

rastreabilidade individual nos moldes da UE são auto-explicativas, exceto a que se

refere ao "Passaporte Animal", que é uma caderneta ou documento onde são

registrados os dados e movimentações do animal e que deve acompanhá-lo durante

a sua vida até o abate ou morte, sendo passado de proprietário a proprietário. Já o

sistema de rotulagem obrigatória da UE para carne objetiva assegurar uma ligação

entre a identificação da carcaça, quartos ou cortes e o animal individual ou lote de

animais a que pertence (FELÍCIO, 2005).

O processo de rastreabilidade envolve o acompanhamento e o

rastreamento e requer a rotulagem da carne com um número de referência, que liga

uma unidade de produto individual do ponto de venda ao animal, ou lote, do qual ela

se originou e, obrigatoriamente, ao histórico de alimentação e saúde individual desse

animal. Para que isto seja possível, a carcaça e os cortes devem ser rotulados com

números de identificação ao longo de toda a cadeia, ou seja, do matadouro à

desossa/embalagem, e dessa ao ponto final de venda (FELÍCIO, 2001a). Os

números de identificação devem ser precisamente aplicados e registrados de modo

a assegurar uma ligação entre as diversas etapas, sendo responsabilidade de cada

empresa gerenciar as ligações entre o que ela está recebendo dos fornecedores e o

que está entregando aos clientes. Alguns dados de rastreabilidade devem ser

sistematicamente transmitidos entre os elos da cadeia, enquanto outros devem

apenas ficar registrados.

Em janeiro de 2005 entrou em vigência o Regulamento (EC) n. 178/2002,

que cria a Autoridade Européia para Alimentos, a qual torna obrigatória a

rastreabilidade até a origem, de alimentos, animais que produzam alimentos e de

alimentos para animais que produzam alimentos (LIRANI, 2005).

25

3.4.2 Rastreabilidade brasileira

O Brasil tem um sistema de rastreabilidade que vem sendo implantado

pelo MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a partir da

Instrução Normativa (IN) nº. 1/2002, de 09/01/2002, que instituiu o SISBOV –

Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina.

O SISBOV é o conjunto de ações, medidas e procedimentos adotados

para caracterizar a origem, o estado sanitário, a produção e a produtividade da

pecuária nacional e a segurança dos alimentos provenientes dessa exploração

econômica. Tem por objetivos identificar, registrar e monitorar, individualmente,

todos os bovinos e bubalinos nascidos no Brasil ou importados, aplicando-se, em

todo o território nacional, às propriedades rurais de criação de bovinos e bubalinos,

às indústrias frigoríficas que processam esses animais, gerando produtos e

subprodutos de origem animal e resíduos de valor econômico, e às entidades

credenciadas pelo MAPA como certificadoras (BRASIL, 2002).

O Brasil ainda não possui um sistema eficiente de identificação individual

de bovinos. Sabe-se que, em 1997/98, as indústrias exportadoras negociaram com a

Comissão Européia um acordo que permite ao país continuar exportando seus

produtos com uma identificação de lote de animais (LOMBARDI, 1998). Atualmente,

identifica-se como um lote, o total de bovinos abatidos na produção de um dia, ou de

um turno de trabalho (FELÍCIO, 2001b).

A certificação e a rastreabilidade dos processos e produtos, apesar de

agregarem valores, não são executadas por iniciativa do produtor ou da cadeia, são

implantadas, em geral, por exigência dos mercados compradores. Quando se diz

que estão sendo rastreados animais para a exportação da carne, geralmente se

conclui que a carne rastreada é para um mercado nobre, e que o mercado local está

em segundo plano. A realidade é que existem mercados exigentes e outros não

exigentes, e quando o mercado local passar a exigir a certificação e a

rastreabilidade, a cadeia produtiva implantará essas exigências também para essa

parcela de consumidores.

A rastreabilidade tem um papel importante, pois garante informações

confiáveis de produto e processo aos consumidores finais. Embora existam

problemas em relação à sua implantação e restrições por parte de membros da

26

cadeia da carne bovina no Brasil, esse sistema é fundamental para garantir o acesso

aos mercados internacionais e, certamente, é o primeiro elemento na busca da

competitividade.

3.5 Boas Práticas Agrícolas (Agropecuárias)

Para MARIUZZO (2005) citado por FELÍCIO (2005) um bom e atual

exemplo de exigências de adequadas práticas agrícolas que serão impostas aos

produtores de alimentos é o do Protocolo EUREPGAP IFA.

EUREP (Euro-Retailer Produce Working Group) é a sigla do nome de um

grupo formado, em 1997, por atacadistas e varejistas europeus, que desenvolveu,

em 2002, o Protocolo EUREPGAP IFA com o objetivo de estimular a implantação de

sistemas agrícolas e de produção de animais levando em consideração as boas

práticas de produção, a segurança alimentar, bem como a minimização dos

impactos adversos ao meio-ambiente e a proteção social do trabalhador (FELÍCIO,

2005).

O Protocolo EUREPGAP IFA estabelece uma estrutura de Boas Práticas

Agrícolas (em inglês GAP – Good Agricultural Practices, mas por estar se tratando

da pecuária, a melhor tradução é Boas Práticas Agropecuárias), e de Garantia

Integrada da Fazenda (IFA – Integrated Farm Assurance) em propriedades rurais, e

define elementos essenciais para sua aplicação global na produção de alimentos,

tendo por base padrões mínimos aceitáveis (EURAPGAP, 2004).

É de fundamental importância que as organizações envolvidas na

produção se responsabilizem pela implantação completa do Protocolo EUREPGAP

IFA, com o objetivo de manter a confiança do consumidor nos alimentos adquiridos.

Os produtores recebem aprovação quanto à adoção dos padrões de boas

práticas e de eliminação de quaisquer práticas inadequadas da cadeia produtiva de

alimentos, através de verificação independente realizada por um Organismo

Certificador (OC) aprovado pelo EUREP.

Em linhas gerais, os princípios do esquema EUREPGAP baseiam-se nos

Termos de Referência EUREPGAP, apresentados a seguir:

- Segurança Alimentar: estabelece critérios de segurança alimentar

derivados da aplicação dos princípios gerais de APPCC;

27

- Proteção do Ambiente: estabelece boas práticas agrícolas de proteção

ambiental, concebidas de forma a minimizar os impactos negativos da produção

agropecuária no ambiente;

- Condições de Trabalho, Saúde e Segurança dos Trabalhadores:

estabelece um nível global de critérios de higiene e segurança no trabalho nas

unidades de produção, bem como a conscientização e responsabilidade quanto a

assuntos sociais;

- Bem-estar animal: estabelece um nível global de critérios de bem-estar

animal nas unidades de produção.

3.6 Análise de Perigos dos Pontos Críticos de Controle – APPCC

Modernamente observa-se em todo o mundo um rápido desenvolvimento

e aperfeiçoamento de novos meios e métodos de detecção de agentes de natureza

biológica, química e física causadores de moléstias nos seres humanos e nos

animais, passíveis de veiculação pelo consumo de alimentos, motivo de

preocupação de entidades governamentais e internacionais voltadas à saúde

pública.

Ao mesmo tempo, avolumam-se as perdas de alimentos e matérias-

primas em decorrência de processos de deterioração de origem microbiológica,

infestação por pragas e processamento industrial ineficaz, com severos prejuízos

financeiros às indústrias de alimentos, à rede de distribuição e aos consumidores.

Frente a este contexto, às novas exigências sanitárias e aos requisitos de qualidade,

ditados tanto pelo mercado interno quanto pelos principais mercados internacionais,

o governo brasileiro, juntamente com a iniciativa privada implantou o Sistema de

Prevenção e Controle, com base na Análise de Perigos e Pontos Críticos de

Controle - APPCC (BRASIL, 1998).

O sistema APPCC da sigla original em inglês HACCP (Hazard Analisys

and Critical Control Points) teve sua origem na década de 50 em indústrias químicas

na Grã-bretanha e, nos anos 60 e 70, foi extensivamente usado nas plantas de

energia nuclear e adaptado para a área de alimentos pela Pillsbury Company, a

pedido da NASA, para que não houvesse nenhum problema com os astronautas

28

relativo a enfermidades transmitidas por alimentos (ETA) e equipamentos (migalhas

de alimentos) em pleno vôo (RIBEIRO-FURTINI e ABREU, 2006).

O APPCC foi desenvolvido para garantir a produção de alimentos

seguros à saúde do consumidor, tendo enfoque na prevenção do problema e não

na inspeção final do produto, permitindo comprovar através de documentação

técnica apropriada, que determinado processo produtivo/manipulação é seguro. É

uma poderosa ferramenta para gerenciar a prevenção da contaminação de seus

produtos por agentes físicos (pedras, parafusos), químicos (resíduos de pesticidas,

sanitizantes) e biológicos (bactérias, fungos), sendo um procedimento lógico e

racional para levantar os perigos e avaliar os seus riscos associados com a

produção, elaboração, distribuição e consumo de alimentos. Esta análise considera

as matérias-primas, os ingredientes, as etapas do processamento, o pessoal

envolvido e possíveis abusos no ambiente do distribuidor e do consumidor

(ANVISA, 2007). É importante deixar claro que o APPCC não é um Sistema de

Inspeção.

Atualmente é adotado pelos principais mercados mundiais e basicamente

assegura que os produtos industrializados: a) sejam elaborados sem riscos à saúde

pública; b) apresentem padrões uniformes de identidade e qualidade; c) atendam às

legislações nacionais e internacionais, no que tange aos aspectos sanitários de

qualidade e de integridade econômica.

Desse modo, além de tratar-se de um mecanismo de prevenção e

controle que atinge o segmento de industrialização dos produtos de origem animal,

sua implantação passa a ser imprescindível na reorientação dos programas

nacionais da garantia da qualidade destes produtos para atendimento às exigências

internacionais. Garantia da qualidade são todas as ações planejadas e sistemáticas

necessárias para prover a confiabilidade adequada de que um produto atenda aos

padrões de identidade e qualidade específicos e aos requisitos estabelecidos no

sistema de APPCC (BRASIL, 1998).

O APPCC constitui-se de sete princípios básicos: identificação do perigo;

identificação do ponto crítico; estabelecimento do limite crítico; monitorização; ações

corretivas; procedimentos de verificação e registros de resultados.

Dentre as vantagens da utilização do Sistema APPCC, destacam-se:

garantia da qualidade e segurança dos alimentos visando à saúde do consumidor

29

final; atendimento da legislação em vigor, tanto do Ministério da Saúde como do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e das Legislações

Internacionais; redução dos custos operacionais; otimização de fluxos de produção;

redução de perdas de matérias - primas e produtos; marketing para a empresa

dando maior credibilidade junto ao cliente; maior competitividade do produto;

identificar e controlar as causas de perda da qualidade e da ocorrência de perigos

nos alimentos; diminuir custos de processos (retrabalho, desperdício) e ampliação

de mercado e de confiança e credibilidade do produto.

Antes da implantação do sistema APPCC, dois pré-requisitos se fazem

necessários, as BPF e os PPHO ou POP.

3.7 Boas Práticas de Fabricação – BPF

As Boas Práticas de Fabricação abrangem um conjunto de medidas que

devem ser adotadas pelas indústrias de alimentos a fim de garantir a qualidade

sanitária e a conformidade dos produtos alimentícios com os regulamentos técnicos

(ANVISA, 2007).

A Portaria 1428 do Ministério da Saúde (MS), BRASIL (1993), define Boas

Práticas de Fabricação como “normas e procedimentos que visam atender a um

determinado padrão de identidade e qualidade de um produto ou serviço e que

consiste na apresentação de informações referentes aos seguintes aspectos

básicos: a) Padrão de Identidade e Qualidade, PIQ; b) Condições Ambientais; c)

Instalações e Saneamento; d) Equipamentos e Utensílios; e) Recursos Humanos; f)

Tecnologia Empregada; g) Controle de Qualidade; h) Garantia de Qualidade; i)

Armazenagem; j) Transporte; k) Informações ao Consumidor; l) Exposição /

Comercialização; m) Desinfecção / Desinfestação” (RIBEIRO-FURTINI e ABREU,

2006). A Portaria 368, do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento

(MAPA), BRASIL (1997), aborda especificamente as BPF aprovando o Regulamento

Técnico sobre as condições higiênico-sanitárias e de Boas Práticas para

estabelecimentos industrializadores de alimentos, onde são estabelecidos os

requisitos essenciais de higiene para alimentos destinados ao consumo humano.

30

3.8 Procedimentos-Padrão de Higiene Operacional – PPHO

Os procedimentos-padrão de higiene operacional representam um

programa escrito, a ser desenvolvido, implantado e monitorado pelos

estabelecimentos e envolvem os procedimentos pré-operacionais e operacionais

executados diariamente.

Os PPHO, do inglês SSOP (Standard Sanitizing Operating Procedures),

são representados por requisitos de BPF considerados críticos na cadeia produtiva

de alimentos. Para estes procedimentos, recomenda-se a adoção de programas de

monitorização, registros, ações corretivas e aplicação constante de check-lists.

Os procedimentos pré-operacionais devem fazer referência: aos

procedimentos de limpeza e sanificação das instalações, equipamentos e

instrumentos industriais; freqüência com que estes procedimentos serão executados

(no mínimo diariamente); as substâncias detergentes e sanificantes utilizadas, com

as respectivas concentrações; as formas de monitoramento e as respectivas

freqüências; os modelos dos formulários de registros desta última atividade

(monitoramento); as medidas corretivas a serem aplicadas no caso da constatação

de desvios dos procedimentos.

Já os procedimentos operacionais devem incluir a descrição de todas as

etapas dos processos de obtenção, transformação e estocagem dos produtos de

origem animal executados pelas indústrias; a identificação de eventuais perigos

biológicos, químicos ou físicos, decorrentes destas operações; os limites aceitáveis

para cada perigo identificado; as medidas de controle que previam a materialização

destes perigos; as medidas corretivas no caso de identificação de desvios; o

estabelecimento da forma e a freqüência do monitoramento; os formulários de

registro das atividades de monitoramento.

Os PPHO preconizados pelo FDA (Food and Drug Administration)

constituíam, até outubro de 2002, a referência para o controle de procedimentos de

higiene, até que em 21/10/02 a resolução 275 da Anvisa (Agência Nacional de

Vigilância Sanitária), ligada ao MS, criou e instituiu no Brasil os POP (Procedimentos

Operacionais Padronizados) que vão além do controle da higiene, porém, não

descaracterizam os PPHO, que continuam sendo recomendados pelo MAPA

(RIBEIRO-FURTINI e ABREU, 2006).

31

Às vezes, o que tem sido feito é o acréscimo dos itens que faltam nos

PPHO em comparação aos POP, mas ambos (PPHO e POP que são instrumentais)

vão dar suporte à confecção do mesmo manual de boas práticas que é documental.

A Portaria 326 de 1997 da Anvisa exige para estabelecimentos

produtores/industrializadores de alimentos, o manual de BPF e sugere os PPHO

para que estes facilitem e padronizem a montagem do manual de BPF, a mesma

exigência é feita na Portaria 368 do MAPA.

3.9 Fatores determinantes da Demanda

O dinheiro é o fator que permite acesso ao mercado. Entretanto, o poder

de compra de uma região depende do contingente populacional e da renda de seus

consumidores. Na realidade, o mercado é feito de pessoas com dinheiro, ou seja,

não há mercado quando não há renda.

A demanda de determinado produto pode ser alterada, para mais ou para

menos (Figura 3), em função de alguns fatores. Entre eles destacam-se:

a) Efeito população;

b) Nível e distribuição de renda;

c) Produtos substitutos;

32

FIGURA 3. MODIFICAÇÕES QUE PODEM OCORRER NA DEMANDA DE UM DETERMINADO PRODUTO, BASEADO EM ROSSETI, 2002.

3.9.1 Efeito População

Mudanças significativas no número de consumidores potenciais é fator

relevante para o posicionamento da procura de um grande número de produtos. O

número de consumidores potenciais, em praticamente todos os mercados, determina

a magnitude da demanda, embora esse fator deva ser complementado por outros

como os níveis e estrutura de distribuição da renda social.

Segundo o IPEA (2007b), o Brasil cresceu, em 2006, 1,4% ao ano, não

sendo igual em todas as regiões. Possui atualmente cerca de 188 milhões de

habitantes. Por ano, são aproximadamente 3 milhões de pessoas a mais na

economia. É um número bastante grande, não havendo estrutura para tanta gente.

3.9.2 Nível e Distribuição de Renda

O poder aquisitivo da sociedade, determinado pelo nível de renda per

capita e pela estrutura de sua distribuição às diferentes classes sociais, é um dos

mais importantes fatores determinantes da demanda.

33

Com relação à renda pessoal (a qual mede o poder aquisitivo do

consumidor) pode-se dizer que, no caso brasileiro, há dois sérios problemas: baixo

nível de rendimentos, em torno de US$ 5.720 por habitante em 2006 (IPEA, 2007a)

e péssima distribuição desses ganhos (por causa de forte concentração). Pode-se

dizer que “o rico cada vez fica mais rico, e o pobre cada vez fica mais pobre”.

De fato, com base no rendimento da população economicamente ativa do

Brasil (PEA), aos 10% mais ricos dessa população cabiam, em 1960, 39,7% do total

da renda agregada e, atualmente, essa participação se aproxima de 50%. Por outro

lado, os 10% mais pobres, que detinham 1,9% da renda agregada em 1960, viram a

sua participação cair para 0,9% em 1985 e para 0,7% em 1993. Com a estabilização

econômica gerada pelo Plano Real houve uma melhora dessa participação, que já

está em torno de 1%. Destaque-se que a parcela da renda agregada (17%) pelo 1%

mais rico da população economicamente ativa é superior à parcela apropriada pelos

50% mais pobres (13%). Isto significa que o 1% dos mais bem remunerados fica

com uma parte da renda social superior à que é canalizada aos 50% mais mal

remunerados (MENDES e PADILHA JR, 2007).

No Brasil, os alimentos, particularmente, exercem uma grande influência

no orçamento das famílias, uma vez que os gastos com alimentação representam

entre um décimo à quase um quarto da renda familiar. Entre as famílias de baixa

renda, esse percentual chega a mais de 30%. Segundo o IBGE, em sua pesquisa de

orçamentos familiares 2002-2003, o Brasil possui 48,5 milhões de famílias, com

tamanho médio de 3,6 pessoas, que, no período analisado, despenderam, em

média, R$ 1.778,03 por mês no total de suas despesas. O gasto com alimentação,

neste caso, representou um desembolso médio de 17,1%. No caso de famílias que

ganhavam até R$ 400 por mês (baixa renda), as despesas com alimentação

representavam 32,7% de seus rendimentos e, para famílias com renda superior à R$

6.000 por mês (alta renda), tal desembolso representava apenas 9% de seus

rendimentos totais (IBGE, 2007).

Segundo os economistas, para os bens normais (básicos), a quantidade

demandada a um determinado preço aumenta em função do rendimento, sendo a

elasticidade-renda positiva. No caso de bens inferiores, a quantidade demandada a

um dado preço reduz em função do rendimento. Neste caso, a elasticidade-renda é

34

negativa. Os consumidores deixam de lado estes bens, em favor de substitutos de

melhor qualidade à medida que seu poder aquisitivo aumenta.

Outra maneira de relacionar a renda com o consumo é através das

Curvas de Engel1 (Funções de renda-consumo, Figura 4), as quais mostram as

quantidades de um produto que o consumidor adquirirá por unidade de tempo, aos

vários níveis de renda, com as demais variáveis que afetam o processo

permanecendo constantes. Conforme a renda sofre um incremento, não há um efeito

linear sobre o consumo. Assim, para bens normais e superiores (supérfluos),

aumento de renda (R) incrementa o consumo (C), e para os bens inferiores, reduz o

consumo (ROSSETTI, 2002).

FIGURA 4. CURVAS DE ENGEL (FUNÇÕES DE RENDA-CONSUMO), BASEADO EM

ROSSETTI, 2002.

Para cada produto, e para cada indivíduo, existe uma diferente curva de

Engel. No caso dos alimentos, há basicamente duas importantes relações entre o

consumo e o nível de renda.

No primeiro tipo de relação pode-se dizer que, para a maioria dos

produtos agro-alimentares (“in natura” ou processados), bens normais, o aumento de

renda resulta em expansão do consumo, porém geralmente este crescimento do

consumo é menos que proporcional à elevação da renda, pelo menos para níveis

maiores de renda. Em outras palavras, o consumo do produto aumenta com a

elevação da renda, mas cresce a taxas decrescentes. Portanto, a proporção da

renda gasta com esse produto decresce com o aumento da renda.

1 A principal afirmação de Engel, estatístico alemão, foi que “quanto mais pobre for uma família, maior

a parcela de renda gasta com alimentos”.

35

O consumo de produtos de origem animal (carnes, leite, queijo, ovos)

tende a aumentar proporcionalmente mais do que os produtos essencialmente

agrícolas, como: arroz, feijão, pão, batata, mandioca, à medida que a renda se eleva

(e vice-versa), porque os primeiros são mais nobres, mais nutritivos e de qualidade

superior. Isto significa dizer que a ERD para produtos pecuários é, via de regra,

maior do que para produtos agrícolas (Tabela 1). A ERD para ambos os grupos de

produtos é positiva, mas, de um modo geral, inferior a um (ou seja, 0<ERD<1). Há

alguns produtos como: filé mignon, peito de frango, lombo de porco, leite A e Longa

Vida, peito de peru, entre outros, ou seja, produtos nobres, cujas elasticidades-renda

são superiores a um (isto é, ERD>1).

TABELA 1. ESTIMATIVAS DE ELASTICIDADE-RENDA PARA ALGUNS ALIMENTOS NO BRASIL E NOS EUA.

Efeito da variação de 1% na renda dos consumidores brasileiros sobre o consumo (variação em %)

PRODUTO BRASIL ESTADOS UNIDOS Açúcar 0,13 0,01 Arroz 0,10 0,15

Banana 0,10 0,10 Batata-inglesa 0,61 0,10

Café 0,25 0,30 Carne de boi 0,94 0,47

Carne de frango 1,10 0,50 Carne de porco 0,80 0,18

Farinha de mandioca - 0,03 N.D Farinha de milho - 0, 14 N.D Farinha de trigo 0,32 0,35

Feijão - 0,11 - 0,49 Laranja 0,56 0,26

Leite 0,60 0,16 Manteiga 0,65 0,53 Margarina 0,15 - 0,25

Óleos vegetais 0,42 0,49 Ovos 0,62 0,16 Peixe 0,40 0,30 Queijo 0,85 0,45

ALIMENTOS EM GERAL 0,50 0,15

Fonte: Modificado de MENDES e PADILHA JR, 2007.

O consumo de produtos mais processados (ou seja, mais elaborados ou

de maior valor adicionado) cresce proporcionalmente mais do que os produtos “in

natura”, à medida que a renda dos consumidores se eleva, e vice-versa. Por

36

exemplo, o consumo de produtos como: carnes nobres e carnes processadas,

derivados do leite (iogurte, queijo, requeijão, manteiga) e mesmo leites mais nobres

(tipo A), tende a crescer mais relativamente a produtos menos elaborados e de

menor valor nutricional.

No segundo tipo de relação entre consumo de alimentos e nível de renda

dos consumidores, constata-se que há um grupo de produtos (bens inferiores) que

os consumidores compram menos, à medida que a renda deles aumenta, e vice-

versa. Na realidade, são produtos que o consumidor gostaria de não adquirir, caso

seu poder aquisitivo lhe permitisse comprar produtos substitutos melhores. Um bom

exemplo é a carne de segunda (um produto de qualidade inferior), muito comprada

entre os consumidores de baixa renda, mas à medida que as rendas deles se

elevam, eles compram menos desse tipo de carne, e passam a adquirir um pouco

(mais) de carne de primeira, que é de qualidade superior.

O Quadro 3 apresenta a elasticidade de alguns produtos pecuários, mais

consumidos, frente a diferentes faixas de renda da população.

QUADRO 3. ELASTICIDADE DE ALGUNS PRODUTOS PECUÁRIOS FRENTE A DIFERENTES FAIXAS DE RENDA.

FAIXAS DE RENDA Até 5 s.m De 5 a 10 s.m De 10 a 15 s.m

ALTA ELASTICIDADE

Carne Bovina de

Primeira Carne Industrializada

ELASTICIDADE

MÉDIA

Frango Ovos

Carne Bovina de

Primeira Carne Industrializada

BAIXA

ELASTICIDADE

Suínos

Carne Bovina de segunda

Ovos

Frango Suínos

Carne Bovina de segunda

Carne Bovina de

Primeira Carne Industrializada

Frango

Fonte: Modificado da Revista Nacional da Carne – Maio/1994

37

3.9.3 Produtos Substitutos

A demanda de um produto também pode ser afetada por variações nos

preços dos substitutos (elasticidade cruzada), quando se estabelecem entre eles

elasticidades cruzadas positivas ou negativas. Quando positivas, a procura de um

produto aumenta em resposta a aumento nos preços de um substituto, como é o

caso da carne de frango, cuja demanda aumenta quando há elevações nos preços

da carne bovina (Figura 8).

FIGURA 5. RELAÇÃO ENTRA A DEMANDA DE CARNE BOVINA E DE FRANGO, BASEADO EM ROSSETI, 2002.

38

4. METODOLOGIA

Durante o período de 16 de julho a 10 de setembro de 2007 desenvolvi o

estágio curricular na área de Economia e Extensão Rural (AE047). O estágio foi

desenvolvido no CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada),

situado à Avenida Pádua Dias, nº. 11, na cidade de Piracicaba, São Paulo.

As atividades desenvolvidas foram: acompanhamento da rotina de

pesquisas desenvolvidas no CEPEA; acompanhamento das atividades envolvidas

com a formação dos indicadores de preços dos produtos agropecuários; participação

em projeto sobre as principais fusões e aquisições entre frigoríficos no Brasil nos

últimos anos; participação em projeto sobre a capacidade de abate de bovinos no

Brasil; participação em projeto sobre geração de energia a partir de pellets de

bagaço de cana de açúcar e desenvolvimento de artigo sobre qualidade de carne e

sua influência na formação de preços da carne bovina. Este último é o tema principal

do presente trabalho.

4.1 A Instituição

Fundado em 1982, pertence ao Departamento de Economia,

Administração e Sociologia (DEAS) da Escola Superior de Agricultura “Luiz de

Queiroz” /Universidade de São Paulo (Esalq/USP). Professores, juntamente com

pesquisadores contratados e colaboradores, interagindo com estagiários de

graduação e pós-graduação, dedicam-se prioritariamente à busca de soluções

criativas e de vanguarda para questões econômicas e sociais relevantes. Por sua

vinculação à Esalq, o CEPEA despende natural ênfase aos temas ligados ao meio

rural, mas sem excluir outros setores econômicos com ligações diretas ou indiretas

com o agronegócio.

Suas atividades abrangem estudos, pesquisas e difusão de informações

através de variados meios de comunicação. Os estudos e pesquisas relacionados ao

agronegócio são estruturados segundo cadeias produtivas, considerando-se

também suas interligações econômicas que, em geral, são baseados em portfólios

de composição diversificada (multinegócios).

39

Através de pesquisas diárias sobre as principais cadeias de matérias-

primas agropecuárias e seus derivados, o CEPEA elabora indicadores de preços de

produtos, insumos e de serviços (como frete) que buscam refletir com precisão o

movimento do mercado físico. Essas pesquisas proporcionam também a

identificação de pontos de ineficiências e, ao mesmo tempo, a compilação de dados

que permitem a elaboração de novas oportunidades de negócios para produtores,

cooperativas, agroindústrias, traders, corretores e atacadistas, supermercados e

varejistas em geral.

A vinculação do agronegócio às questões macroeconômicas do País é

acompanhada pela equipe que elabora mensalmente o PIB do Agronegócio e outras

estatísticas setoriais agregadas. Temas atuais, e de inquestionável relevância, como

a economia ambiental e os desenvolvimentos na área energética também recebem a

atenção dos pesquisadores.

Ainda, estudos sobre temas sociais com o objetivo de investigar a

evolução dos padrões de qualidade de vida no meio rural e na sociedade em geral,

como saúde, nutrição, educação e segurança que são alguns determinantes do grau

de desenvolvimento social, recebem destaque na pauta de pesquisadores.

4.2 Histórico

Os primeiros a solicitar oficialmente projetos ao CEPEA foram instituições

e entidades públicas estaduais e federais como a Secretaria de Indústria e Comércio

de São Paulo, CNPq, Capes, Finep, Fapesp e o Banco Mundial. Nos primeiros anos

da década de 90, a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F) iniciou contatos para a

elaboração de indicadores de preços de commodities agrícolas, que viriam a orientar

os contratos em mercado futuro desses produtos. Em dezembro de 1993, é assinado

o primeiro contrato, surgindo o indicador do Boi Esalq/BM&F. Com este acerto, em

março do ano seguinte, inicia-se a divulgação do indicador do Boi que até hoje é

usado para liquidação financeira de todos os contratos de boi negociados na BM&F.

Motivados pelos bons resultados da parceria, o CEPEA e a BM&F lançam

posteriormente outros indicadores, como o do Açúcar e Álcool em 1995, do Café e

do Algodão em 1996. Em 1997, o trabalho se estende para a Soja e no início de

2001, surge o indicador de Bezerro (CEPEA, 2007).

40

5. DISCUSSÃO

Diante de todas estas informações pode-se definir “qualidade de carne ou

carne de qualidade” como um produto que, em primeira instância, não causará

nenhum mal ou dano à saúde do consumidor, por apresentar boas condições

higiênicas e sanitárias de obtenção, processamento e conservação. Este produto

também deve possuir um valor nutritivo, ou seja, deve contribuir com nutrientes para

a manutenção da saúde humana e ter um bom aspecto visual, sabor, consistência e

suculência adequadas. A carne de qualidade deve ainda ter sido produzida levando

em consideração o bem-estar animal, o respeito ao meio ambiente e a

responsabilidade social. Acrescenta-se à lista a conveniência, pois diante das

marcantes e aceleradas mudanças que estão ocorrendo no estilo de vida das

pessoas e suas famílias, influenciando os hábitos de consumo e preferências dos

consumidores, os gêneros que demandam habilidades culinárias, tempo e trabalho

de preparação serão substituídos por outros mais convenientes. Desta forma, seriam

atendidas todas as necessidades requeridas por um consumidor de carne bovina.

Porém, não se deve esquecer que o conceito de qualidade, como CASTILLO (2006)

e MENDES e PADILHA JR (2007) já identificaram, varia conforme as diferentes

classes sociais. Este conceito, no todo, se aplica às classes de maior poder

aquisitivo. Para as classes mais baixas, nem todas estas características são levadas

em consideração.

Com relação aos nutrientes citados anteriormente, o único que o

consumidor consegue perceber visualmente é a gordura. Seria interessante que os

cortes cárneos possuíssem rótulo na embalagem, identificando a composição

nutricional dos mesmos, permitindo ao consumidor conhecer o produto que

consome. Este seria um produto diferenciado dentre os outros já existentes.

Atualmente, com o mundo mais preocupado com o que é ambientalmente

correto, um manejo pré-abate humanitário vem ganhando importância na produção

animal, além de que, um manejo adequado reduz danos nas carcaças e na

qualidade da carne.

A rastreabilidade, por permitir acompanhar o produto durante toda a sua

cadeia produtiva, é fator fundamental para os mercados importadores da carne

bovina. Infelizmente, essa mesma importância não é dada pelo mercado brasileiro.

41

No Brasil, a rastreabilidade é exigida apenas para o bovino que será

destinado ao mercado externo, mas isto deveria ser feito para qualquer animal,

independente do destino, já que garante informações confiáveis do produto e

processo aos consumidores finais.

Segundo Gustavo Fanaya, chefe do departamento econômico do

Sindicarnes-PR, “a carne que é destinada para o mercado brasileiro não possui

rastreabilidade, pois esta aumenta em R$ 2 (dois reais) a arroba do boi e nenhum

elo da cadeia está disposto a arcar com este custo, visto que o consumidor final não

irá adquiri-la, por falta de renda e também de informações sobre a carne bovina”.

Para o mercado interno, ações de boas práticas agropecuárias também

deveriam ser implantadas, visto que, segurança alimentar, boas condições de

trabalho, saúde e segurança dos trabalhadores, bem-estar animal e proteção ao

meio ambiente, devem ser uma preocupação do mundo todo e não apenas da

Europa.

A carne bovina que é destinada ao mercado interno não possui a mesma

qualidade que a produzida para o exterior, pois o consumidor brasileiro, em sua

maioria, não prioriza a qualidade como principal atributo na hora da compra, pois seu

poder aquisitivo não permite que assim seja feito. O quesito qualidade sanitária,

talvez seja o único que de fato é praticado para o mercado interno. Os sistemas

como APPCC, BPF e PPHO já estão consagrados no mundo todo, inclusive no

Brasil. Não se fala em abate e processamento de carne bovina, sem incluir pelo

menos um destes sistemas.

Para determinados nichos de mercado, cuja renda é mais elevada,

destinam-se alguns produtos diferenciados, com maior valor agregado e

consequentemente com mais qualidade. De acordo com Carlos Costa, presidente da

Cooper Q.I Carnes Nobres, em geral, não existe, para o mercado interno, uma

produção visando qualidade. O que ocorre é que determinadas empresas

classificam as melhores carcaças dentro de lotes de animais e as destinam para as

marcas mais nobres, que venderão seus produtos a preços mais elevados.

Como o consumidor interno não tem poder aquisitivo para comprar

produtos mais elaborados, o varejo acaba pressionando o frigorífico para vender

seus produtos mais baratos a fim de que o consumidor possa ser atraído. O

42

frigorífico, por sua vez, para não ter prejuízos, pressiona o produtor, que não se

sente estimulado a produzir com qualidade, pois esta gera custos.

As grandes redes de varejo (supermercados, hipermercados) são, hoje, o

principal local de compra de produtos cárneos e isso tende a ampliar, fazendo com

que os pequenos açougues de bairro tenham uma participação reduzida neste

mercado. No momento em que isso ocorrer, a competitividade entre estas redes irá

aumentar e elas, ou serão obrigadas a vender os produtos a preços baixos ou a

proporcionar produtos diferenciados para atrair o consumidor.

Quando lançado, um produto com maior qualidade e valor agregado, é

vendido a um preço muito parecido aos produtos convencionais, para que se

estimule sua compra pelo consumidor. Após um período, acredita-se que o

consumidor já esteja fidelizado (demanda mais inelástica a preço) a este novo

produto e seu preço torna-se mais alto.

No momento em que há um incremento na renda, o consumidor está

disposto a pagar mais por um produto mais nobre, pois ele acredita que se está mais

caro, é porque tem mais qualidade. Chegando em casa, ele prepara esta carne

como está acostumado, e na hora de consumí-la, chega a conclusão de que não

adiantou pagar mais caro, pois a carne está igual àquela que costuma comprar. Da

próxima vez, voltará a comprar a carne de costume. Para Gustavo Fanaya, “a

maioria dos consumidores brasileiros não sabem preparar a carne que compram,

seja ela de menor ou maior qualidade”. Muitas vezes, todo o trabalho despendido

para produzir uma carne de qualidade acaba sendo perdido na casa do consumidor.

A carne bovina vem perdendo espaço para produtos que são seus

substitutos, como a carne suína e de frango. Um aumento nos preços da carne

bovina, acaba por aumentar a demanda por estes substitutos, principalmente pela

carne de frango que é mais “barata”. É preciso que a cadeia da carne bovina esteja

atenta a este fato e tome atitudes que possam reduzir esta substituição. Por isso as

ações de marketing, rotulagem e diferenciação são importantes. Outro aspecto que

possui relação direta com a qualidade seria o ambiente institucional no qual a cadeia

da carne bovina está inserida. Assim, duas palavras podem ser utilizadas para

caracterizar tal segmento: diversidade e descoordenação. A diversidade está

relacionada com as diferentes raças, rotas tecnológicas, sistemas de produção,

condições sanitárias e formas de comercialização, que, no final, proporcionam

43

produtos heterogêneos e quase sempre sem uma qualidade visível para o mercado.

A cadeia produtiva do frango de corte e da suinocultura de corte resolveram tal

problema pelo estabelecimento das integrações verticais criando, desta forma, uma

homogeneidade no sistema de produção. Para a pecuária de corte do Brasil não se

percebe, em curto prazo, tal ajustamento.

A descoordenação, ou seja, a baixa relação existente entre os diversos

intermediários atuantes no sistema (produtor – frigorífico – atacado – varejo –

consumidor) é outro fator que de certa forma impede uma melhor organização do

setor e a geração de um produto padronizado e com melhor qualidade.

44

6. CONCLUSÕES

Quem avalia se uma carne bovina possui ou não qualidade é a indústria,

mas quem deveria fazer essa avaliação é o consumidor, que é o elo final desta

cadeia produtiva. A qualidade da carne pode ser avaliada pela sua composição

nutricional, pelas suas características físicas e organolépticas, pela utilização ou não

de um manejo pré-abate adequado, da rastreabilidade e de sistemas como BPF e

HACCP ou outros. Porém, o consumidor ainda não é capaz de perceber grandes

diferenças entre carnes de maior ou menor qualidade, pois não possui informações

suficientes para fazer tal distinção, pois dificilmente a carne possui rótulo, e quando

possui não há dados sobre composição nutricional, rastreabilidade, tipo de manejo

utilizado... E talvez esta falta de informações seja responsável pelo mercado interno

ser pouco exigente, com exceção de nichos específicos. Levando isso em

consideração, pode-se dizer que, em geral, a carne produzida para o mercado

interno não possui a mesma qualidade que a que é destinada para o exterior.

Com relação aos fatores econômicos, o nível e a distribuição de renda

dos consumidores é o mais importante, e influencia tanto a composição dietética

como a quantidade de alimentos consumidos. O consumo de carne bovina é

influenciado principalmente pela renda per capita da população, pelo preço da

própria carne e pelos preços de seus substitutos, especialmente as carnes de frango

e de suínos.

O nível de renda do consumidor (uma vez que todos os consumidores

desejariam sempre consumir produtos da melhor qualidade) é que lhe dá condições

para pagar por preços mais elevados, e como aqui no Brasil esta renda é

relativamente baixa, o pagamento por qualidade é praticamente inexistente.

Conclui-se que a qualidade da carne bovina não influencia os preços internos.

45

7. OUTRAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

7.1 Indicadores de preços dos produtos agropecuários

Durante o estágio acompanhei as atividades relacionadas com a

formação dos indicadores de preços dos produtos agropecuários, principalmente do

Indicador do Boi Gordo ESALQ/BM&F.

7.1.1 Metodologia do Indicador do Boi Gordo ESALQ/BM&F

Desde março de 1994, o Indicador do Boi Gordo ESALQ/BM&F é

divulgado diariamente pelo CEPEA. O produto levado em consideração para cálculo

do indicador é o boi gordo, castrado, comum e rastreado, cuja carcaça seja convexa

com peso acima de 450 kg.

A unidade de medida usada no indicador é a arroba de boi gordo, sendo

seu valor divulgado em R$/arroba. Originalmente é calculado em Reais, mas

também é divulgado em Dólar americano, tratando-se de simples conversão do valor

em Real. O câmbio considerado é o comercial, preço de venda, das 16h30.

A região de referência é o estado de São Paulo, dividido em quatro

praças: Presidente Prudente, Araçatuba, Bauru/Marília e São José do Rio Preto,

sendo os agentes consultados na pesquisa: pecuaristas, escritórios de compra e

venda de gado e leiloeiras. O peso de cada região na composição do Indicador é

definido com base nos dados de volume de abate dos frigoríficos amostrados -

atualizado mensalmente. A participação de cada região é definida pela soma dos

volumes de abate das unidades que possuem cadastro no Serviço de Inspeção

Federal - SIF, consideradas no levantamento do dia. Tem-se, desta forma, um painel

mensal de ponderação que leva em conta os padrões sazonais de abate de cada

região. Quando uma unidade sai da amostra, devido à falta de relato do preço ou

exclusão pelo critério estatístico, o peso relativo dessa unidade é redistribuído entre

as demais. Desta forma, o sistema de ponderação pode modificar-se diariamente, de

acordo com a participação dos frigoríficos na amostra.

Os preços que compõem a amostra devem estar dentro do intervalo de

dois desvios padrões. No caso dos preços dos animais rastreados, os preços que

46

estiverem fora desse intervalo são retirados dos cálculos do Indicador. Os preços

que estão dentro desse intervalo são considerados, independentemente do relato de

rastreabilidade, pois não existe documentação do valor preciso pago pela

rastreabilidade. Por conseguinte, é impossível descartar ou acrescer uma

informação por outro critério que não seja o estatístico, definido na metodologia.

Para os valores a prazo utiliza-se a taxa de Certificado de Depósito

Interbancário (CDI). O Indicador, oficialmente, é à vista, mas são divulgadas também

médias a prazo e à vista pela taxa de desconto NPR (Nota Promissória Rural).

Os impostos considerados são 2,3% de Contribuição Especial da

Seguridade Social Rural (ex-Funrural), sendo que este percentual é descontado do

produtor.

É importante salientar que os valores coletados se referem aos negócios

realizados no mercado físico, referindo-se aos preços pagos ao produtor.

As principais aplicações do indicador são: liquidação de contratos futuros

de boi gordo da BM&F, usado pelo Banco do Brasil para lastrear a Cédula do

Produto Rural financeira (CPR), referência para o fechamento de negócios do

Carrefour e de outras empresas com pecuaristas.

Além do indicador de Boi Gordo, o Cepea realiza diariamente outros

levantamentos para o mercado pecuário bovino: preço da arroba de boi e vaca

magra, bem como de bezerro e de boi magro (quando houver amostra suficiente

para cálculo estatístico) nos estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Paraná,

Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, Pará, Rondônia e Tocantins, essas

médias são aritméticas simples, diferentemente do Indicador que é ponderada; preço

da carne (traseiro, dianteiro, ponta de agulha e carcaça casada de boi; para vaca

apenas preço da carcaça casada) no atacado da Grande SP; Indicador do Bezerro

Esalq/BM&F, que tem como base o estado do Mato Grosso do Sul e ainda custos de

produção de boi, mensais, em dez estados brasileiros (CEPEA, 2007).

7.2 Principais fusões e aquisições entre frigoríficos no Brasil

No estágio curricular, acompanhei um projeto sobre as principais fusões e

aquisições entre frigoríficos brasileiros, nos últimos anos. Este estudo teve como

objetivo principal verificar o nível de concentração das empresas de abate e

47

processamento de bovinos. Como se pode observar na Tabela 2, os quatro

principais frigoríficos que atualmente estão com uma forte onda de fusões e

aquisições são: JBS Friboi, Marfrig, Bertin e Independência. Nota-se que as

empresas tendem a estabelecer uma unidade de abate e processamento no maior

número de estados possíveis, ficando mais próximas dos centros consumidores e

dos locais de produção, e também para escapar de possíveis embargos comerciais

dos países importadores, como ocorre em casos de febre aftosa.

O conceito de aquisição de uma empresa consiste na operação pela qual

uma ou mais sociedades são absolvidas por outra, que lhes sucede em todos os

direitos e obrigações. As incorporações são feitas para aumentar os monopólios

empresariais e diminuir a concorrência (MORBIDELLI, 2002).

Fusão é a união de duas ou mais companhias que se extinguem

formando uma nova e única grande empresa, que as sucede em direitos e

obrigações. Na fusão de empresas o controle administrativo fica ao encargo da

empresa que se apresentar maior ou da mais próspera delas.

Numa entrevista a Revista Isto é Dinheiro, de 25 de julho de 2007, Rui

Coutinho, que foi o primeiro presidente do Conselho Administrativo de Defesa

Econômica (CADE), afirma que "as fusões e aquisições fazem parte de um

comportamento estratégico das empresas que buscam uma escala eficiente, um

aumento de produtividade e redução de custos". Segundo Coutinho, a

internacionalização é crescente e o processo de concentração, muito forte. Os 18

maiores frigoríficos respondem por 98% das exportações. Os dois maiores, Friboi e

Marfrig, têm 40%. Os quatro maiores têm 16,2% do abate nacional (ISTO É

DINHEIRO, 2007).

As empresas JBS Friboi, Marfrig e Bertin, além do Brasil, têm voltado

suas aquisições e incorporações para outros países como Uruguai, Paraguai e

Argentina, como forma de fugir de embargos comerciais de países importadores. Ao

adquirir unidades em outros países da América do Sul, os frigoríficos brasileiros

também racionalizam e reduzem os custos de suas operações. Passam ainda a ter

acesso mais diversificado aos mercados, já que o Uruguai, por exemplo, vende para

países que o Brasil ainda não tem habilitação para exportar, como é o caso dos

EUA.

48

TABELA 2. FUSÕES E AQUISIÇÕES DOS PRINCIPAIS FRIGORÍFICOS

BRASILEIROS OCORRIDAS DESDE 2000.

Empresa Contratante Empresa Negociada Local Ano Cab/dia

Bertin Frigorífico Marabá Marabá/PA 2005 Bertin Margen Paranavaí/PR 900 Bertin Redenção Redenção/PA Bertin Canelones Canelones/Uruguai 2005 1000 Bertin Indústria Paraguaya Frigorífica SA Assunção/Paraguai Independência Goiás Carne Senador Canedo/GO 2007 1200

JBS Friboi Arrendamento da Planta de Várzea Grande da Sadia Várzea Grande/MT 2000

JBS Friboi Swift Armour Argentina (3 unidades) Rosário, San José, B. Aires 2005

JBS Friboi Planta de abate de gado em Berazategui Berazategui/ Argentina 2007 1000

JBS Friboi Joint Venture com Jay Earl Link Santo Antônio da Posse/SP 2007 JBS Friboi SB Holding Connecticut/EUA 2007 JBS Friboi Tupman Thurlow Connecticut/EUA 2007 JBS Friboi Astro Sales International Connecticut/EUA 2007 JBS Friboi Austral Foods Connecticut/EUA 2007 JBS Friboi Frigorífico Garantia Maringá/PR 2007 1000

JBS Friboi 2 Unidades da Cia Elaboradora de Prod. Alimentícios

Pontevedra e Venado Tuerto 2005

JBS Friboi Construção de Planta de Abate em São Borja São Borja/RS 2007 1200

Marfrig Frigorífico Pampeano Hulha Negra/RS 2007

Marfrig La Caballada Uruguai 2007 800 Marfrig Frigorífico Tacuarambó Tacuarambó/Uruguai 2006 700 Marfrig Elbio Perez Rodriguez Uruguai 2006 700 Marfrig ABP (Argentine Breeders & Packers) Argentina 2006

Marfrig Joint Venture com a Trading Chilena Quinto Cuarto Chile 2006

Marfrig Frigoclass Promissão/SP Marfrig Frigoestrela Mineiros/GO 2006 1200

Marfrig Planta da Coop. Industrial de Carnes Rio Vacaraí São Gabriel/RS 2006 500

Marfrig Abatedouro do Rondônia Carnes Chupinguaia/RO 2006 420 Marfrig Parceria com o Frigorífico 3C Rio Pardo/RS 2006

Marfrig Construção de nova Unidade em Porto Murtinho Porto Murtinho/MS 2006

Fonte: o autor

7.3 Capacidade de abate de bovinos no Brasil

Em meados de julho e agosto de 2007 realizei uma pesquisa sobre a

capacidade de abate de bovinos no Brasil, com a finalidade de identificar a

capacidade de abate total e atual do país. Para tanto entrei em contato com

49

frigoríficos que possuem SIF (Serviço de Inspeção Federal), localizados na maioria

dos estados, com exceção do Amapá, Ceará, Pernambuco e Piauí.

Após a coleta de dados, observou-se redução de abate no período da

pesquisa, sendo a capacidade total maior que a atual. Os meses da pesquisa são

considerados como período de entressafra da pecuária bovina, sendo a oferta de

animais mais baixa que em outras épocas do ano, pois a disponibilidade de

pastagens é bastante reduzida, devido a intempéries climáticas. Esta oferta baixa fez

com que a arroba do boi atingisse preços elevados, chegando a R$ 64,93 em 15 de

agosto de 2007. Até esta data, este foi o maior valor cotado pelo Cepea, desde que

iniciou uma série histórica de preços da arroba do boi em 1997.

7.4 Geração de energia elétrica a partir de pellets de bagaço de cana-de-

açúcar

O bagaço de cana-de-açúcar é o maior resíduo da agroindústria brasileira.

Segundo BURGUI (1995), uma tonelada de cana moída rende 700 litros

de caldo e 300 kg bagaço com 50% de matéria seca. Por ano, 250 milhões de

toneladas de cana são moídas nas usinas e destilarias do Brasil, gerando cerca de

75 milhões de toneladas de bagaço. A maior parte deste bagaço é utilizada pelas

próprias usinas para a geração de energia elétrica, mas ainda assim um excedente

de 15 milhões de toneladas gera problemas de estocagem e poluição ambiental.

Um possível destino para este excedente é a alimentação animal, porém

é um produto de baixo valor nutritivo, pois sua porção fibrosa contém em torno de

15% de lignina que dificulta sua digestibilidade no organismo do animal. É

necessário que este resíduo passe por tratamento químico ou físico para que a

lignina seja quebrada, facilitando a digestibilidade após sua ingestão pelo animal.

50

8. REFERÊNCIAS

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BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria n. 326, de 30 de julho de 1997. Aprova o regulamento técnico de Condições Higiênico-Sanitárias e de Boas Práticas de Fabricação para Estabelecimentos Produtores/Industrializadores de Alimentos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, p. 16560- 3, 1 ago. 1997. Seção I.

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51

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