Forragicultura 2013

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    Forragicultura

    Podemos conceituar manejo de pastagem como arte e a cincia de utilizao do

    recurso forrageiro na propriedade, com vistas produo animal.

    No deixa de ser uma arte, pois envolve a sensibilidade do tcnico em apreciar aresposta da pastagem, e cada vez mais se torna cincia medida que novos

    conhecimentos vo sendo adicionados no entendimento do complexo solo-planta-

    animal.

    J bastante conhecido o fato de que a velocidade de recuperao ou rebrote de

    uma planta forrageira pastejada ou cortada mecanicamente, em condies

    ambientais favorveis, est associada a alguns atributos ligados planta,

    definidos pelas caractersticas morfolgicas e fisiolgicas das forrageiras como:

    - ndice de rea Foliar (IAF) Relao entre a rea de folhas e a rea de solo em

    1m2 de superfcie;

    - Quantidade de glicdios de reserva presentes na planta aps a desfolhao;

    - Localizao de tecidos meristemticos responsveis pela formao de novas

    folhas e afilhos;

    - Caractersticas morfolgicas das espcies, como hbito de crescimento e

    arquitetura foliar.

    1- CONCEITOS BSICOS DE MANEJO DE PASTAGENS

    1.1 - Massa e Acmulo de Forragem

    Massa de forragem a quantidade de forragem existente por unidade de

    rea, acima de determinada altura de corte do capim, e acmulo de forragem a

    variao da massa de forragem entre duas medies consecutivas de massa de

    forragem. Se o acmulo de forragem for dividido pelo nmero de dias entre duas

    medies, obtm-se a taxa diria de acmulo de forragem.

    A massa de forragem pode ser determinada com o auxlio de um quadrado,

    da seguinte forma:

    -construir um quadrado de 1 x 1 m;

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    -levar o quadrado para a rea em que se deseja determinar a massa de

    forragem;

    -colocar o quadrado em locais que representem a situao do pasto (no

    colocar nas reas em que o capim esteja muito baixo ou muito alto). Se o

    pastejo estiver uniforme, pode-se cortar quatro amostras por piquete, casocontrrio, o nmero de amostras deve ser maior;

    -cortar a forragem delimitada pelo quadrado numa altura predeterminada

    (utilizar a altura do pastejo);

    -pesar a forragem;

    -aps a coleta e a pesagem de todas as amostras, deve-se calcular a

    mdia de todos os valores e multiplicar por 10.000, a fim de obter a massa

    de forragem por hectare.

    Exemplo: Num pasto de 1 ha, foram coletadas quatro amostras com os

    seguintes pesos (kg): 2,0; 1,6; 2,4; e 2,0.

    X = (2,0 + 1,6 + 2,4 + 2,0) 4 = 2,0 kg de matria verde (MV)/m2

    2,0 kg de MV/m2 x 10.000 m2 = 20.000 kg de MV/ha = 20 t/ha

    Esse procedimento permite calcular a massa de forragem em matria

    original. Como a percentagem de gua na forragem muito varivel, o ideal

    determinar tambm o teor de matria seca e calcular a massa de forragem emquilogramas de matria seca por hectare (kg de MS/ha).

    Para determinar o teor de matria seca da forragem, deve-se:

    -misturar bem as amostras aps a pesagem (pode ser necessrio picar

    o capim);

    -retirar uma pequena amostra (sub-amostra) e pes-la;

    -colocar a sub-amostra para secar em estufa ou em forno de microondas, at que

    seu peso fique constante;

    Observao: A secagem em estufa deve ser feita a 65oC e demora, em

    mdia, 72 horas.

    De posse do teor de matria seca da forragem, pode-se calcular a massa

    de forragem em matria seca, por regra de trs.

    Exemplo: Considerando a massa de forragem de 20.000 kg de MV/ha,

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    com 20% de matria seca, temos:

    100 kg de MV ---------------- 20 kg de MS

    20.000 kg de MV ------------ X kg de MS

    ento,

    X = 20.000 x 20 100 = 4.000 kg de MS/ha.

    1.2. Oferta ou Disponibilidade de Forragem

    Oferta de forragem a massa de forragem (kg de MS/ha) por unidade de

    peso vivo animal (kg/ha), expressa em percentagem.

    Ex.: 6% de oferta de forragem significa que existem 6 kg de MS para cada

    100 kg de peso vivo.

    O termo presso de pastejo tambm tem sido utilizado para designar esse

    valor, porm, ele na realidade o inverso da oferta de forragem, ou seja, a

    relao entre unidade de peso vivo animal e unidade de massa de forragem.

    A oferta de forragem influencia o desempenho animal no pasto e pode

    auxiliar no clculo do nmero de animais que deve ser colocado numa rea de

    pastagem.

    O consumo de matria seca por bovinos em pastagens varia, normalmente,

    de 1,5 a 4,5% do peso vivo e depende de caractersticas do animal (ex.: peso,

    tamanho, raa, dieta, estdio de desenvolvimento, etc.) e do pasto (ex.: arquiteturadas plantas, qualidade da forragem, oferta de forragem). O consumo observado

    em reas com pequena oferta de forragem baixo e, medida que a oferta

    aumenta, o consumo tambm aumenta, at se estabilizar. Por outro lado, com

    oferta de forragem muito elevada, a perda de pasto aumenta e a eficincia de

    colheita ser muito baixa. O valor recomendado de oferta de forragem para que os

    animais no sofram restrio alimentar varia de acordo com caractersticas da

    pastagem e dos animais.

    1.3. Resduo Ps Pastejo

    O resduo ps pastejo corresponde forragem remanescente aps o

    pastejo, expresso em altura ou massa de forragem. A determinao do resduo

    ps pastejo pode ser feita por meio de medies ou avaliaes visuais. As

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    medies mais utilizadas so: a) determinao da massa de forragem (sendo o

    corte feito ao nvel do solo); b) determinao da altura com rgua ou trena.

    A avaliao visual mais rpida e menos trabalhosa, no entanto, exige o

    treinamento de pessoal. Uma das formas de treinamento pode ser:

    -colocar um quadrado de 1 m2 em reas do pasto com diferentes nveis deresduo e atribuir notas: 1 = baixo; 2 = mdio baixo; 3 = mdio; 4 = mdio alto; 5 =

    alto;

    -cortar a forragem delimitada pelo quadrado e pesar;

    -comparar os pesos obtidos com as notas estabelecidas;

    -repetir a operao, at que a avaliao visual seja confivel.

    Para determinar a altura com rgua ou trena, deve-se caminhar ao longo de

    todo o pasto, medir a altura das plantas em vrios pontos e depois tirar a mdia

    dos valores obtidos.

    A quantidade de resduo ps pastejo est diretamente relacionada ao

    desempenho animal. O aumento do resduo determina, at certo ponto, o aumento

    do desempenho animal. Por outro lado, um resduo muito baixo, alm de

    influenciar negativamente o desempenho animal, pode levar degradao da

    pastagem. Desse modo, informaes sobre resduo ps pastejo so importantes

    para determinar o momento adequado de mudar os animais de pasto.

    1.4. Intensidade de Pastejo

    Intensidade de pastejo refere-se intensidade com que a planta

    desfolhada. Pode ser quantificada por meio do resduo ps pastejo.

    1.5. Taxa de Lotao Animal

    Taxa de lotao animal o nmero de unidades animais (UA) por unidade

    de rea (ha), considerando-se que uma unidade animal corresponde a um animal

    que consome 10 kg MS de forragem /dia. De modo geral, considera-se que uma

    unidade animal corresponde a um animal de 450 kg de peso vivo, porm, para

    animais recebendo suplementao concentrada, prefervel usar o conceito

    original (um animal que consome 10 kg de forragem MS/dia) .

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    Muitas vezes, a taxa de lotao expressa em nmero de animais por

    hectare, o que no muito recomendvel, pois o tamanho dos animais muito

    variado.

    A taxa de lotao no necessariamente determinante do desempenho

    animal. possvel obter desempenho elevado em reas com alta taxa de lotao,desde que a oferta de forragem seja adequada.

    1.6. Eficincia de Pastejo

    Eficincia de pastejo a quantidade de forragem consumida, expressa

    como proporo da forragem disponvel. A eficincia de pastejo diminui com o

    aumento de perdas por pisoteio e por envelhecimento e morte de partes da planta

    forrageira. O aumento da oferta de forragem determina a reduo da eficincia de

    pastejo.

    1.7. Seleo de Pastejo

    Seleo a remoo de algumas partes da planta em detrimento de outras.

    funo da preferncia animal, modificada pela oportunidade de seleo, ou seja,

    quanto maior for a oferta de forragem, tanto maior ser a seletividade pelo animal

    no pasto.

    1.8. Pastejo Contnuo e Pastejo Rotacionado

    No pastejo contnuo, os animais tm livre acesso ao pasto durante toda a

    estao de crescimento. J no pastejo rotacionado, as reas so divididas em

    piquetes, de forma que o pasto submetido a perodos alternados de pastejo e de

    descanso.

    1.9. Pastejo de Ponta e Repasse

    No mtodo de pastejo em que so utilizados dois grupos de animais, um

    grupo entra primeiro no piquete, a permanecendo durante um perodo curto

    (normalmente, um dia). Depois, um segundo grupo levado rea para realizar o

    "pastejo de repasse". Com isso, procura-se favorecer o primeiro grupo, que faz o

    "pastejo de ponta", proporcionando-lhe dieta de melhor qualidade. Esse mtodo

    de pastejo comum em sistemas de produo de leite, em que, normalmente, as

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    vacas em lactao fazem o "pastejo de ponta" e as vacas secas ou de descarte

    fazem o "pastejo de repasse".

    1.10. Lotao Fixa e Varivel

    Na lotao fixa, o nmero de unidades animais por rea constante. Nalotao varivel, o nmero de unidades animais por rea varia de acordo com a

    disponibilidade de forragem.

    2. A PLANTA FORRAGEIRA

    O conhecimento de algumas caractersticas da planta forrageira, como

    hbito de crescimento e localizao dos pontos de crescimento, so essenciais

    para a determinao do seu manejo. No Brasil, as plantas mais utilizadas como

    forrageiras pertencem famlia das gramneas.

    A unidade bsica de produo das gramneas o perfilho. Depois de

    formado, o perfilho possui um sistema radicular prprio e capaz de gerar novos

    perfilhos, resultando na perenidade do pasto. Um perfilho tpico apresenta: haste

    (composta por ns e entre-ns), folhas (composta por lmina e bainha), gemas,

    meristema apical (tambm chamado de gema terminal) e sistema radicular.

    (Figura 1).

    Figura 1. Corte esquemtico de uma gramnea no estdio vegetativo

    Fonte: Jewiss (1977) e Gillet (1980), adaptados por Nabinger & Medeiros (1995)

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    As hastes das gramneas geralmente se tornam mais evidentes no perodo

    do florescimento, quando ocorre a elevao do meristema apical. Ao longo da fase

    vegetativa, h uma pseudo-haste, formada pelo conjunto das bainhas foliares. As

    folhas so originadas a partir do meristema apical (olho do capim) e soresponsveis pela fotossntese. O meristema apical um tecido que, durante a

    fase vegetativa, d origem s folhas e posteriormente se diferencia para formar a

    inflorescncia (pendo). As gemas so responsveis pela formao de novos

    perfilhos. O sistema radicular d sustentao s plantas e permite a absoro de

    gua e de nutrientes do solo.

    O arranjo e a forma desses diversos componentes das plantas determinam

    o hbito de crescimento da espcie. As gramneas cespitosas formam touceiras e

    crescem eretas (ex.: capim-colonio). As plantas decumbentes so mais baixas,

    seus perfilhos se desenvolvem prximo ao solo, porm possvel distinguir as

    plantas (ex.: capim-braquiria).As plantas que gramam, sendo difcil diferenciar

    uma das outras, so classificadas como estolonferas ou rizomatosas (ex.: grama-

    estrela).

    Os principais pontos de crescimento das gramneas forrageiras so o

    meristema apical e as gemas. A rebrota a partir do meristema apical mais

    rpida. Alm disso, a rebrota, a partir das gemas depende do potencial deperfilhamento da espcie e das condies ambientais. Por esse motivo,

    geralmente o manejo de pastagens se baseia na preservao do meristema

    apical.

    O manejo baseado na preservao dos meristemas apicais bem sucedido

    em sistemas pouco intensivos ou com plantas de hbito de crescimento

    decumbente, estolonfero ou rizomatoso. Nesses casos, o meristema apical se

    mantm prximo ao solo durante a maior parte da estao de crescimento, o que

    impede a sua eliminao durante o pastejo. No entanto, em sistemas mais

    intensivos e, principalmente, quando se utilizam plantas cespitosas, a preservao

    dos meristemas apicais se torna difcil, pois as hastes se alongam, colocando-os

    acima da altura de pastejo. Nesses casos, o manejo deve ser baseado na

    explorao da capacidade de perfilhamento da planta forrageira.

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    2.1 Metabolismo de fixao do CO2

    O metabolismo de fixao do CO2 varia quando consideramos separadamente

    plantas tropicais e subtropicais.

    Conforme SALISBURY (1992), as plantas, durante sua evoluo,desenvolveram variaes no metabolismo fotossinttico, sendo possvel distingui-

    las em trs grupos principais: C3, C4 e CAM (metabolismo cido das

    crassulceas).

    No primeiro grupo, das plantas C3, encontram-se as plantas que fixam e

    reduzem o CO2 a carboidratos unicamente atravs do ciclo de Calvin, isto ,

    quando a molcula de CO2 fixada no mesfilo foliar atravs da combinao com

    uma molcula de Ribulose-difosfato (RUDP) , atravs da enzima Ribulose-

    difosfato carboxilase, para produzir duas molculas do cido 3-fosfoglicrico

    (PGA). Da, a denominao C3, pois o primeiro produto estvel desse processo

    uma molcula de trs carbonos.

    Quanto s espcies C4, as mesmas apresentam em suas folhas dois tipos

    de clulas clorofiladas: as do mesfilo e as da bainha vascular, sendo que as

    ltimas circundam os tecidos vasculares. Essa anatomia recebe o nome de Kranz

    e est intimamente relacionada ao processo fotossinttico nas espcies C4

    (SALISBURY, 1992).

    Em muitas gramneas tropicais, a primeira reao para fixao do CO2

    catalizada pela enzima fosfoenol-piruvato carboxilase (PEP-carboxilase), que

    apresenta elevada afinidade pelo CO2 (CORSI & NASCIMENTO JR, 1986).

    Nessas plantas, o primeiro produto estvel da fotossntese o cido oxaloactico

    (AOA), composto orgnico formado de quatro carbonos, surgindo, a partir da, a

    denominao C4.

    Mas o metabolismo C4 no alternativo ao ciclo de Calvin, visto que dele noresulta reduo do CO2 a carboidratos, pois esse processo ocorre exclusivamente

    nas clulas da bainha vascular, atravs do ciclo de Calvin.

    Conforme MACHADO (1988), o fluxo do cido de quatro carbonos, com

    liberao de CO2 funciona como mecanismo de concentrao de CO2 nas clulas

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    da bainha vascular. Essa concentrao atinge nveis prximos saturao da

    ribulose-difosfato carboxilase (RubisCO).

    Sabe-se que essa enzima apresenta grande afinidade por O2,

    desenvolvendo, quando em presena de O2, a funo de Ribulose-difosfato

    oxigenase, processo esse relacionado inibio da fotossntese na presena deO2 e ao fenmeno de fotorrespirao em plantas C3 (YEOH et al., 1980).

    Portanto, o aumento j citado na concentrao de CO2, ocorrido nas

    plantas do tipo C4 impede a ocorrncia da fotorrespirao nessas plantas, tendo

    como resultado, maior taxa de fotossntese que nas plantas C3 (MACHADO,

    1988).

    Zelich (1979), citado por MACHADO (1988), considera que as perdas

    decorrentes da fotorrespirao, observadas nas plantas do tipo C3, acarretam

    diminuio entre 20 e 70% da fotossntese.

    De maneira geral, as plantas C4 apresentam-se mais eficientes que

    aquelas do grupo C3 quando submetidas a condies ambientais limitantes como,

    por exemplo, dficit hdrico ou temperaturas elevadas. Isso decorre da alta

    afinidade da enzima PEP-carboxilase pelo CO2, onde as clulas tm capacidade

    de assimilar o CO2 com bastante eficincia , ao mesmo tempo que restringem a

    perda de gua atravs da transpirao , fechando seus estmatos (MAGALHES,

    1985).Como exemplo de espcies de plantas do grupo C3 tem-se as gramneas

    de clima subtropical aveia, azevm e trigo, alm de todas as espcies de

    leguminosas, subtropicais e tropicais.

    No grupo C4, encontram-se espcies como capim elefante, milho e cana-

    de-acar.

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    No Quadro 1 encontram-se enumeradas alguns aspectos diferenciais entre

    espcies dos tipos C3 e C4.

    3. MANEJO DA PLANTA FORRAGEIRA

    At pouco tempo, o objetivo no manejo de pastagens era apenas permitir

    que a planta tivesse rebrota vigorosa e elevada produo. Contudo, observou-seque isso nem sempre resultava em elevada produo animal. Atualmente,

    considera-se que um pasto bem manejado aquele no qual se consegue colher

    elevada quantidade de forragem de boa qualidade. Para atingir esse objetivo,

    necessrio aliar alta produo a perdas reduzidas, no esquecendo que o pasto

    deve ser colhido enquanto apresentar bom valor nutritivo.

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    Para se explorar ao mximo o potencial de produo das plantas

    forrageiras, preciso considerar suas curvas de crescimento, aps cada corte e

    ao longo das estaes do ano. O crescimento das plantas forrageiras, aps a

    desfolha, caracterizado por uma curva sigmide (Figura 2), em que h uma fase

    inicial de crescimento lento (fase 1), seguida de uma fase de crescimentoacelerado (fase 2) e por uma outra fase de crescimento lento (fase 3).

    Figura 2. Curva de crescimento das plantas forrageiras aps a desfolha.

    Aps a desfolha, o ritmo de crescimento das plantas mais lento, em

    conseqncia da reduo da rea foliar fotossinteticamente ativa e da eliminao

    de pontos de crescimento (meristema apical). Essa fase deve ser a mais curta

    possvel (cerca de uma semana), pois representa oportunidade para o

    estabelecimento de plantas invasoras.

    importante observar que o aparecimento de plantas invasoras ,

    normalmente, evitado pelo sombreamento proporcionado pela parte area daplanta forrageira. Dessa forma, no necessrio que o pasto esteja gramado

    para evitar a infestao por plantas daninhas, ou seja, a rea basal das touceiras

    pode ser pequena, desde que a rea de sombreamento seja grande o suficiente

    para evitar que a luz solar atinja o solo. Quanto mais intensa for a desfolha, maior

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    ser o perodo necessrio para a planta recompor sua rea foliar e atingir a fase

    de crescimento rpido.

    Durante a fase 2 (Figura 1), o acmulo de forragem mximo. Para se

    obter elevada produo de forragem, o pastejo deve ser realizado prximo ao

    ponto de inflexo da curva, ou seja, no final da fase 2. Na fase 3, o acmulo deforragem se estabiliza, pois h equilbrio entre o crescimento e a morte de tecidos.

    Com o sombreamento das folhas basais da touceira, a taxa de fotossntese

    diminui e a taxa de envelhecimento aumenta.

    A estacionalidade de produo de forragem um fato j bem conhecido. De

    modo geral, a produo maior no perodo de vero, quando as condies de

    temperatura, luminosidade e precipitao so favorveis ao desenvolvimento das

    plantas.

    Nos sistemas tradicionais de manejo, o ajuste da taxa de lotao feito

    com base na produo de inverno. Dessa forma, no perodo de vero h sobra

    grande de forragem, o que leva ao pastejo desuniforme. Como h muita forragem

    disponvel, os animais comeam a pastejar nas reas de mais fcil acesso e/ou

    prximas a bebedouros e saleiros. Antes de os animais precisarem ir para as

    reas mais distantes, as primeiras reas utilizadas j rebrotaram e voltam a ser

    pastejadas. Com o tempo, o pasto passa a apresentar reas superpastejadas,

    reas subpastejadas e reas intermedirias. Na parte superpastejada, a fase lentade crescimento do pasto fica cada vez mais longa, favorecendo o estabelecimento

    de plantas invasoras. Em pouco tempo, essa rea se degrada e os animais

    passam a superpastejar em outro local. Dessa forma, a cada ano a percentagem

    de rea degradada aumenta, at que seja necessria a reforma do pasto. Alm

    disso, nas reas subpastejadas h perda em termos de acmulo lquido de

    matria seca. Como o pasto no desfolhado, ele permanece na fase 3 da curva

    de crescimento.

    Obter elevada produo de forragem com gramneas tropicais no

    problema, desde de que as condies de fertilidade do solo e o manejo sejam

    favorveis. No entanto, em pastagens tropicais com manejo tradicional,

    dificilmente se consegue aproveitar mais do que 50% do que produzido,

    enquanto que para pastagens de clima temperadas existem dados que mostram

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    aproveitamento de 80%. Dessa forma, o controle das perdas e da qualidade da

    forragem se torna o principal desafio no manejo de pastagens.

    Os perfilhos das plantas forrageiras conseguem manter nmero

    relativamente constante de folhas e, aps ser atingido esse nmero, sempre que

    aparecer uma folha nova a mais velha morre. Isso significa que, quando a folhano colhida em determinado espao de tempo, ela inevitavelmente morre. Desse

    modo, para reduzir as perdas por morte de tecidos, necessrio conhecer o

    tempo de vida das folhas, e os intervalos de pastejo devem ser determinados de

    tal forma que a maior parte das folhas tenha chance de ser colhida.

    A ao do trnsito dos animais sobre a planta forrageira, fazendo com que

    os perfilhos tombem e fiquem sujeitos ao pisoteio, tambm responsvel por

    perdas de forragem. Esse efeito se torna mais significativo medida que o pasto

    fica mais alto, podendo, em casos extremos, chegar a prejudicar a rebrota. Um

    dos pontos mais importantes no manejo de pastagens o controle do

    desenvolvimento das hastes, pois, se por um lado elas so responsveis por boa

    parte da produo de matria seca, por outro elas interferem na capacidade de

    colheita do animal e na qualidade da forragem.

    A profundidade do horizonte de pastejo, ou seja, a altura at a qual o animal

    consegue rebaixar o pasto, vai depender da altura das hastes. A forragem que no

    for colhida pelo animal envelhecer e, aps algum tempo, no ser maisconsumida pelos animais; em alguns casos, o resduo ps-pastejo ser to alto

    que poder prejudicar a rebrota da planta. Alm disso, as hastes perdem valor

    nutritivo mais rapidamente do que as folhas, ou seja, o aumento da sua

    participao na dieta provoca a reduo do desempenho animal.

    Para controlar esses tipos de perda, preciso estabelecer os intervalos

    de pastejo adequados para cada espcie forrageira.

    4. PASTEJO ROTACIONADO

    4.1. Ciclo de Pastejo

    O pastejo rotacionado permite o controle mais rigoroso da colheita da

    forragem e o melhor aproveitamento do pasto, evitando a desuniformidade de

    pastejo. Com esse sistema possvel, tambm, controlar a freqncia de desfolha

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    das plantas, possibilitando sua recuperao de forma adequada, evitando a

    degradao da pastagem.

    Quando se faz a opo por sistemas rotacionados de pastejo, torna-se

    necessrio estabelecer o ciclo de pastejo, ou seja, os perodos de ocupao e de

    descanso a serem adotados.O perodo de ocupao depende do ritmo de crescimento das plantas e da

    infra-estrutura disponvel na propriedade. Quanto menor for o tempo de

    permanncia dos animais em cada piquete, tanto maior deve ser o controle do

    homem sobre o pasto e tanto maior ser a necessidade de infra-estrutura

    (bebedouros, cercas e corredores). Dessa forma, em reas mais intensificadas,

    onde o ritmo de crescimento das plantas for elevado, o perodo de ocupao deve

    ser de um dia. J nas reas mais extensivas, com solos menos frteis, esse

    perodo pode ser estendido, no devendo, no entanto, ultrapassar uma semana.

    Para determinar o perodo de descanso, deve-se levar em considerao

    informaes sobre a produo, as perdas, a curva de crescimento e o valor

    nutritivo da planta forrageira. Quanto maior for a idade da planta, tanto maiores

    sero as perdas e a participao das hastes na produo e tanto menor ser a

    qualidade da forragem. Por outro lado, intervalos de pastejo muito freqentes so

    indesejveis, pois no permitem que o potencial produtivo da planta seja

    explorado (a planta cortada antes de atingir a fase 2 da curva de crescimento Figura 2) e podem levar degradao do pasto. Na Tabela 3, observa-se o

    intervalo de pastejo recomendado para algumas espcies forrageiras.

    Tabela 3. Perodo de descanso recomendado para algumas espcies forrageiras

    durante a estao de crescimento (vero).

    Espcie Perodo de DescansoCapim-elefante (P. purpureum) 30 a 40 dias

    Capim-colonio (P. maximum) 30 diasCapim-tanznia (P. maximum) 30 diasCapim-tobiat, capim-mombaa (P. maximum) 25 a 30 diasCapim-braquiria (B. decumbens) 25 diasCapim-braquiaro (B. brizantha) 25 a 30 diasCapim-humidcola (B. humidicola 15 a 20 diasGrama-estrela, grama-tifton (Cynodon spp.) 15 a 20 diasDemais capins 25 a 30 dias

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    4.2. Escolha e Diviso da rea

    A montagem de um sistema de pastejo rotacionado pode ser feita

    aproveitando-se apenas as divises j existentes ou redividindo-se os pastos.No caso de se redividir as reas, o primeiro passo deve ser definir os locais

    onde sero implantados os sistemas de pastejo rotacionados e as reas de

    descanso, dando preferncia, inicialmente, s reas com boa populao de

    plantas e de melhor fertilidade de solo. Em seguida, deve-se determinar o nmero

    de piquetes necessrio e fazer as divises. O nmero de piquetes depende do

    perodo de descanso e do perodo de ocupao indicados para a forrageira com

    que se est trabalhando e deve ser calculado de acordo com a seguinte equao:

    n de piquetes = Perodo de Descanso (dias) + 1Perodo de Ocupao (dias

    Nesse caso, quanto menor for o perodo de ocupao para o mesmo perodo de

    descanso, tanto maior ser a necessidade de nmero de piquetes (Tabela 4).

    Tabela 4. Necessidade de piquetes para cada perodo de descanso e para cada

    perodo de ocupao.

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    4.3. Taxa de Lotao

    A intensidade de pastejo pode ser quantificada por meio da avaliao do

    resduo ps-pastejo. O resduo ps-pastejo corresponde forragem remanescente

    aps o pastejo, expresso em altura ou massa de forragem. A determinao doresduo ps-pastejo pode ser feita por meio de medies diretas ou avaliaes

    visuais.

    4.4. reas de Descanso e de Circulao dos Animais

    Em sistemas de pastejo rotacionados necessria a instalao de

    corredores e de reas de descanso. Isso facilita o manejo dos animais e

    proporciona melhor aproveitamento do espao disponvel.

    A rea de descanso deve ser localizada, preferencialmente, no centro do

    sistema de pastejo. Em algumas situaes, no entanto, interessante que ela seja

    colocada ao lado do sistema (p. ex.: pasto irrigado). A energia gasta pelos animais

    para ir da rea de descanso ao piquete depende da distncia e da declividade do

    percurso percorrido pelos animais. O comprimento e as caractersticas desse

    percurso interferem na produo animal.

    De modo geral, a distncia entre o pasto mais afastado e a rea de descanso

    deve ser por volta de 500 m para gado de leite. Em reas com relevo plano, essadistncia pode ser maior, pois o animal gastar menos energia para percorrer o

    percurso

    Uma das principais dvidas com relao montagem de reas de

    descanso quanto ao seu dimensionamento. A rea de descanso adequada deve

    ter tamanho tal que permita a sobrevivncia da vegetao que recobre o solo.

    Dentre outras vantagens, isso evita o acmulo de lama e melhora o estado

    sanitrio dos animais. No caso de reas de descanso localizadas no centro do

    sistema de pastejo e mais prximas aos piquetes, pode-se utilizar 30 m2/animal

    ou menos; j quando a rea de descanso est localizada nas extremidades ou ao

    lado do sistema de pastejo, ficando mais distante dos piquetes, a relao deve ser

    de 50 m2/animal ou mais. Essa diferena se justifica pelo fato de, quando a rea

    de descanso fica mais distante, os animais tenderem a freqent-la em lotes

    maiores.

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    Em uma fazenda, os animais transitam por reas de circulao internas e

    externas aos sistemas de pastejo. As reas de circulao externas so aquelas

    que do acesso aos sistemas de pastejo e as internas, aquelas que permitem a

    circulao dos animais entre os piquetes e a rea de descanso. As cercas nas

    reas de circulao interna podem ser eltricas, o que reduz o custo deimplantao do sistema. J nas reas externas, a preferncia por cercas

    convencionais. O dimensionamento adequado das porteiras e dos corredores

    das reas de circulao ajuda na preveno de acidentes com os animais.

    Para o dimensionamento de corredores e de porteiras, preciso considerar

    a mdia do tamanho dos lotes de animais e se haver ou no trnsito de

    mquinas e de equipamentos na rea. De modo geral, os corredores e as

    porteiras devem ter de 4 a 10m.

    4.5. Sombra

    A implantao de reas de sobra extremamente importante,

    principalmente, para vacas de leite de elevada produo. Dados experimentais

    mostram que as vacas submetidas a estresse trmico no pr-parto podem ter sua

    produo de leite comprometida em at 13,6% e que a taxa de concepo das

    vacas inseminadas pode ser reduzida devido morte precoce do embrio.

    A sombra pode ser natural (rvores) ou artificial (sombrites). Para osombreamento natural deve-se escolher rvores adaptadas s condies

    ambientais da regio, de rpido crescimento, que no apresentem taxa de

    desfolha acentuada, que no possuam frutos grande e txicos ou espinhos e que

    sejam resistentes s pragas e s doenas e ao acmulo de esterco. rvores de

    folhas largas, com copas densas e baixas, no so recomendadas, pois dificultam

    a circulao do ar e a penetrao de luz.

    No caso de sombreamento artificial, deve-se dar preferncia s telas

    plstica que retenham, pelo menos, 80% da radiao incidente. A sombra artificial

    deve ser montada em, no mnimo, dois locais, permitindo o rodzio de sua

    utilizao e o p direito da estrutura de sustentao deve ter 4 metros. O maior

    comprimento da rea de sombra deve ser no sentido NORTE/SUL e a sua

    projeo deve ser dentro da rea de descanso. Recomenda-se utilizar 3 a 6 m2 de

    sombra por animal.

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    TABELA 3Principais espcies forrageiras cultivadas no subtrpico brasileiro.

    Espcies Nome comum PR SC RS

    Gramneas de vero Grau de importncia relativa atual*

    Panicum maximum Colonio ++ + +

    B. brizantha Brizanta,braquiria +++ + +

    B. decumbens Braquiria, decumbens + + +

    B. humidicola Espetudinha, humidcula + + +

    D. eriantha Pangola + + ++

    Cynodon spp Estrela, Coast Cross +++ + ++

    Axonopus compressus Missioneira, Jesuta ++ +++ +++

    Pennisetum clandestinum Quicuio + + +

    Pennisetum purpureum Capim elefante + + +

    Paspalum saurae Pensacola ++ ++ +++

    Hemarthria altissima Hemartria ++ ++ +

    Hyparrbenia rufa Jaragu + - -

    Setaria sphacelata Setaria + + +

    Chloris gayana Rhodes + + +

    Gramneas Anuais de Vero

    Pennisetum americanum

    Milheto +++ +++ +++

    Sorghum spp

    Sorgo + + ++

    Euchlaena mexicana

    Teosinto + + +

    Brachiaria plantaginea

    Tapu ++ + ++

    *+ = pouco cultivada; ++ = medianamente cultivas;

    +++ = muito cultivada.

    Fonte: MORAES et al. (1995).

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    TABELA 4Principais espcies forrageiras de inverno cultivadas no subtrpico

    brasileiro.

    Espcies Nome comum PR SC RS

    Gramneas Anuais Grau de importncia relativa atual*

    Lolium multiflorum Azevm +++ +++ +++

    Avena strigosa Aveia preta +++ +++ +++

    Avena sativa Aveia branca +++ +++ +++

    Secale cereale Centeio ++ ++ +

    X Triticosecale Triticale ++ ++ ++

    Hordeum vulgare Cevada + + +

    Gramneas perenes de inverno

    Festuca arundinaceae Festuca + + +

    Bromus catharticus Cevadilha + + +

    Dactylis glomerata Capim dos pomares + + +

    Falaris tuberosa Falaris + + +

    Leguminosas anuais de inverno

    Vicia sativa Ervilhaca, Vica ++ ++ ++

    Vicia villosa Ervilhaca peluda + + +

    Trifolium vesiculosum Trevo vesiculoso ++ ++ +++

    Trifolium subterraneum Trevo subterrneo + + +

    Ornithopus sativus Serradela + + +

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    Lathyrus sativus Chcharo + + +

    Leguminosas perenes de inverno

    Trifolium repens Trevo branco ++ + ++

    Trifolium pratense Trevo vermelho ++ ++ ++

    Lotus corniculatus Cornicho ++ ++ ++

    Medicago sativa Alfafa + + +

    *+ = pouco cultivada; ++ = medianamente cultivas;

    +++ = muito cultivada.

    Fonte: MORAES et al. (1995).