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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ DAIANE ANDREAZZI A ATUAÇÃO EDUCACIONAL DOS JESUÍTAS NA REGIÃO DO GUAIRÁ (AMÉRICA ESPANHOLA) NOS SÉCULOS XVI e XVII MARINGÁ 2012

(América Espanhola) nos séculos XVI e XVII

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Page 1: (América Espanhola) nos séculos XVI e XVII

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

DAIANE ANDREAZZI

A ATUAÇÃO EDUCACIONAL DOS JESUÍTAS NA REGIÃO DO

GUAIRÁ (AMÉRICA ESPANHOLA) NOS SÉCULOS XVI e XVII

MARINGÁ

2012

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DAIANE ANDREAZZI

A ATUAÇÃO EDUCACIONAL DOS JESUÍTAS NA REGIÃO DO

GUAIRÁ (AMÉRICA ESPANHOLA) NOS SÉCULOS XVI e XVII

Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado ao Curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Maringá, como requisito parcial obtenção do grau de pedagogo. Orientação: Prof. Dr. Célio Juvenal Costa. Coordenação: Profa. Dra. Renata Marcelle Lara Pimentel

MARINGÁ

2012

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Monografia apresentada à disciplina Trabalho de Conclusão de Curso

como requisito parcial para a obtenção do título de Pedagogo pela

Universidade Estadual de Maringá, sob orientação do Prof. Dr. Célio Juvenal

Costa e aprovado pela banca Maria Simone Jacomini e Débora Liz.

Trabalho defendido e aprovado em: 14/11/2012

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Dedico este árduo trabalho a todos que

fizeram parte, direta ou indiretamente,

desta importante fase da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado forças para realizar

essa conquista. Dedico esta, bem como todas as demais conquistas aos meus

pais, Odair e Luiza, que amo muito! Obrigado pela compreensão e por fazerem

a minha vida ser a mais feliz possível. Às minhas irmãs, Márcia e Ana, que

sempre me ajudaram em todos os momentos e sempre estão presentes

quando eu preciso, e neste momento em especial agradeço a Ana que me

ajudou a passar por essa fase da minha vida me ajudando a elaborar o TCC,

sem ela eu teria conseguido obrigada Cabeça!! Ao meu namorado, Ederson,

pelo apoio, paciência e compreensão. E agradeço ao meu gato, Love, que

sempre esteve ao meu lado todas as noites que passei estudando e pelos

momentos de alegria!

Agradeço a todos os professores que fizeram parte dessa jornada, em

especial ao professor Célio, por ter aceitado me orientar, pela paciência e

incentivo.

Agradeço as minhas amigas e colegas de sala, que fizeram parte desses

quatro anos, que passaram pelos momentos bons e ruins ao meu lado. Sentirei

muita saudade!!!

Agradeço infinitamente a todos, os que citei e não citei, por terem feito

parte da minha história.

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O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa

daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles

que observam e deixam o mal acontecer. (Albert Einstein)

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Resumo:

Inácio de Loiola foi estudante da Universidade de Paris e, em 1534, juntamente com seis companheiros fez votos de castidade, pobreza e de dedicação à Igreja Católica. Em 1539 puseram- se à disposição do Papa e se dedicaram a obras de caridade. Decidiram criar uma nova Ordem religiosa e, em 1540, o Papa Paulo III denominou a nova Ordem de Companhia de Jesus, que até então contava com apenas 10 integrantes, chamados de Jesuítas. A Companhia tinha como objetivo disseminar a fé cristã, e com essa finalidade, vieram para o Novo Mundo catequizar os índios, pregando o catolicismo e alfabetizando. Este trabalho de conclusão de curso tem por objetivo o estudo da obra Jesuítas e Bandeirantes no Guiará (1549-1640), de Jaime Cortesão e, da história do Paraná e dos Jesuítas desde a fundação da Companhia de Jesus. Será analisada a forma de catequização empregada pelos Jesuítas espanhóis aos Índios que viviam na região do Guairá, atualmente o Paraná.

Palavras- Chave: Catequização; História da Educação; Guairá; Jesuítas

Abstract:

Inacio de Loyola studied at the University of Paris. In the year of 1534, Loyola and six colleagues took vows of chastity, poverty and dedication to Catholic Church. In 1539, they decided to devote their lives to charity and, then the group created a new religious order, which was nominated Society of Jesus by Pope Paulo III in 1540. So far, the Society contained only ten members which were called Jesuits. With the objective of diffusing the Christian faith, the Society of Jesus arrived at New World. The Jesuits aimed to give religious instruction to the Indians by means of principles and system of the Catholic Church and alphabetization. Therefore, the present study analyses the work Jesuítas e Bandeirantes no Guairá (1549-1640) by Jaime Cortesão; and, Jesuits and Parana history since Society of Jesus establishment. Consideration will be given about the manner of Spanish Jesuit catechism to the Indians who lived at Guaira area, nowadays Paraná.

Keywords: History of Education; Catechization, Guairá; Jesuits

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 09

1. A COMPANHIA DE JESUS NA AMÉRICA PORTUGUESA E NA

AMÉRICA ESPANHOLA ..........................................................................

12

1.1. A educação na Companhia de Jesus ................................................. 15

1.2. A chegada dos jesuítas ao Brasil ...................................................... 17

1.3. Contexto de exploração da América Espanhola ................................ 24

1.4. Presença dos jesuítas na América Espanhola ................................... 25

2. ANTIGA REGIÃO DO GUAIRÁ: ATUAL ESTADO DO PARANÁ .. 27

3. A ATUAÇÃO CATEQUÉTICA E EDUCACIONAL DOS JESUÍTAS

NA REGIÃO DO GUAIRÁ .........................................................................

33

3.1. Das reduções ..................................................................................... 33

3.2. Dos costumes dos índios ................................................................... 34

3.3. O processo de catequização dos índios ............................................ 35

3.4. Os batizados dos índios .................................................................... 38

3.5. A participação dos índios nas celebrações cristãs ............................ 40

3.6. Os novos costumes cristãos dos índios ............................................ 41

3.7. Considerações Finais ........................................................................ 42

3.7.1. Da catequização ............................................................................ 42

3.7.2. Da colonização ............................................................................... 43

CONCLUSÃO ........................................................................................... 44

REFERÊNCIAS ........................................................................................ 46

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INTRODUÇÃO

Após o descobrimento da América, os olhos dos Reis voltaram-se para

as maravilhas encontradas nessas terras. No ano de 1494, foi convencionado o

Tratado de Tordesilhas, responsável pela divisão das terras descobertas em

face de leste e oeste. A divisão de direitos sobre o novo mundo estabeleceu

que a Espanha ficasse com o interior e Portugal com o litoral. Dessa forma,

evidenciou-se que a maior parte do território hoje paranaense pertencia à

Espanha, território que era conhecido, à época, como Guairá.

Porém, da mesma forma que a Espanha obteve direitos sobre as novas

terras recém-descobertas, também surgiram obrigações a serem cumpridas,

assim como a evangelização e civilização dos povos aqui encontrados.

Diante do interesse exacerbado nas riquezas que havia na nova terra e

no aumento dos seguidores do catolicismo, os jesuítas, que eram missionários

da Companhia de Jesus, foram enviados para o novo mundo, no intuito de

auxiliar na catequização dos novos povos. Contudo, a população indígena não

sabia ler nem escrever em português, necessitando passar pelo processo de

alfabetização antes da catequização.

O presente trabalho visa aprofundar o estudo deste período, o qual a

Companhia de Jesus encontrava-se na América, tanto de posse da Espanha,

quanto de Portugal. Particularmente, dá-se ênfase ao método do sistema de

educação utilizado por este grupo, que foi o primeiro a adentrar com algum tipo

de pedagogia ao ensinar seus seguidores.

Após a chegada dos jesuítas no Brasil, que se deu em março de 1549,

juntamente com D. Tomé de Souza, salienta-se todo o contexto exploratório

que os indígenas vivenciaram em face dos jesuítas, assim como sua atuação

evangelizadora e civilizadora desta população.

Evidencia-se que as primeiras atividades jesuíticas foram desde a

catequização dos índios, até defendê-los dos colonos e aprenderem a língua

nativa deles. Enquanto trabalham na pregação religiosa, os padres jesuítas

também se preocupavam em estabelecer os valores europeus para toda

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aquela nova população. Porém, no início, o contato com os indígenas foi

bastante conturbado. Isso ocorreu porque eles não falavam a mesma língua,

tinham costumes absolutamente diferentes daqueles, e também havia

portugueses e espanhóis que exigiam escravizá-los.

Através da análise da obra Jesuítas e Bandeirantes no Guairá (1549-

1640) de Jaime Cortesão, composta pelas cartas enviadas pelos padres que

aqui estiveram, busca-se demonstrar toda a metodologia que fora utilizada

pelos jesuítas para que os índios fossem alfabetizados, catequizados e

civilizados.

Contudo, os jesuítas também se valeram de algumas táticas para

conquistar a confiança dos indígenas. Foram criadas as reduções, lugares nos

quais os índios ficavam protegidos dos colonos, aprendiam a ler e escrever,

além de produzir seu sustento e aprender os valores cristãos.

Dessa forma, aprofundar o estudo desde o período do Tratado de

Tordesilhas (1494) até a expulsão da Companhia de Jesus (1759) da região,

juntamente com a análise das cartas dos missionários, são importantes formas

para que se possa entender como era feita a tentativa de aculturação dos

indígenas.

Toda a evolução da Educação Jesuítica na região do Guairá, atualmente

onde se encontra o Paraná, objetiva demonstrar como estudar a história dos

Jesuítas nos séculos XVI e XVII, incidiu no sistema pedagógico que existe hoje

nesta mesma região.

A história da educação, portanto, traz importantes consequências para o

sistema de ensino que é utilizado atualmente. É considerado como grande

complemento a qualquer pedagogo, pois compreender a história é refletir a

situação atual, sempre visando sua complementação.

O presente trabalho visa a utilização de artigos, teses, livros e outros

documentos que tenham como assunto os jesuítas para que se dê o devido

embasamento teórico acerca do tema. O tema, no entanto, engloba desde

primórdios da fundação da Companhia de Jesus, como também o estudo da

história do Paraná desde o tratado de Tordesilhas. Outra importante ferramenta

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a ser utilizada para dar a compreensão teórica será a análise das cartas

escritas pelos jesuítas que estavam nas missões na região do Guairá, através

da obra Jesuítas e Bandeirantes no Guiará (1549-1640), de Jaime Cortesão.

Estas cartas serão responsáveis por demonstrar a metodologia utilizada

naquela época para a alfabetização dos índios, suas atividades e demais

valores europeus que lhes eram transmitidos.

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1. A COMPANHIA DE JESUS NA AMÉRICA PORTUGUESA E NA AMÉRICA

ESPANHOLA

Para começarmos os estudos sobre a origem dos Jesuítas, acreditamos

ser necessário contextualizar a época e os acontecimentos daquele momento.

Iniciaremos falando de Martinho Lutero, da Reforma Protestante, da Contra

Reforma, do grande fundador da Companhia de Jesus - Inácio de Loyola - e do

Ratio Studiorum.

O alemão Martinho Lutero (1483 – 1546) foi um sacerdote católico

agostiniano, professor de teologia e principalmente um grande crítico da Igreja

Católica do seu tempo, do poder que ela exercia e que, porém, já havia perdido

parte de seu prestígio por conta das denuncias de diversos abusos. Ele lutava

por uma igreja simples, e pela ideia de que as pessoas não precisavam

frequentar a Igreja para serem salvas, nem pagar as indulgências; era preciso,

apenas, ter fé em Cristo para que isso acontecesse. Lutero desafiou a

autoridade papal da Igreja Católica Romana, pois ensinava que a Bíblia era o

único meio do conhecimento e naquela época a Igreja Católica não permitia

que as pessoas lessem as Sagradas Escrituras, apenas as autoridades podiam

estudá-la (LIENHARD, 1998).

Martinho Lutero começou a se posicionar diante dos acontecimentos,

tornando – se uma forte personalidade religiosa e com seguidores, que

passaram a ser denominados luteranos. A partir do século XVI surgiram Igrejas

da Reforma Luterana, porém não se denominavam assim, mas como

evangélicas. Sendo assim Lutero se tornou figura central da Reforma

Protestante, um movimento reformista cristão. Segundo Lienhard (1998), os

luteranos acreditavam que Martinho Lutero era um enviado de Deus para

reformar a Igreja.

Porém, a expansão do Protestantismo não foi maior porque a Igreja

Católica lançou medidas para conter o seu crescimento, como doutrinas que

combatiam os hereges e reformulou algumas práticas que possibilitavam

abertura a críticas contra a sua autoridade eclesiástica. Essas providências

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foram sancionadas no Concílio de Trento (1545-1563), onde a cúpula da Igreja

que era responsável por prover as ações mais urgentes contra os reformadores

criou, dentre outras coisas, o Tribunal da Santa Inquisição. Tal Tribunal tinha o

poder de julgar as ações da sociedade com penas brandas ou, até, morte na

fogueira. Este movimento foi denominado de Contra-Reforma, uma tentativa de

restituir o poderio da Igreja (MOREIRA, et al, s/d).

Foi em meio a tais acontecimentos que Inácio de Loyola fundou a

Companhia de Jesus, que foi de extrema importância, pois a Igreja estava

tentando reaver seus fiéis, e a Companhia iria ajudar catequizando as pessoas

e salvando suas almas, levando- as à Igreja. Contudo, Inácio nem sempre foi

um homem religioso.

Loyola nasceu em 1491, foi o último de treze irmãos, batizado com o

nome de Iñigo López de Loyola (oito anos antes de seu nascimento nascia

Lutero). Seu pai lhe proporcionou boa formação religiosa e gostaria que o filho

seguisse a carreira eclesiástica. Aos 15 anos Inácio foi levado pelo seu primo

Dom Juán para viver no Castelo de Arévalo, onde viveu por onze anos, para

receber uma educação palaciana e, um dia, por - se a serviço do Rei de

Castela. (MORSCH, 1993).

Em 1521 o rei da França, Francisco I, invadiu Pomplona. Inácio e seu

irmão Martin Garcia foram para a guerra, onde foi ferido por uma bala na perna

direita. Alguns dias depois ele piorou muito, e todos acreditavam que morreria.

Entretanto, depois da festa de São Pedro, por quem Loyola tinha grande

devoção, não corria mais riscos. Por ter que ficar muito tempo em repouso

solicitou livros, e recebeu as quatro edições da vida de Cristo e livros sobre os

diversos santos. Lendo aqueles livros, começou a entender a profundidade da

vida dos santos e a querer imitá-los.

Em 1522, Inácio decidiu fazer uma peregrinação para Jerusalém, doou

sua roupa para um homem pobre e vestiu uma túnica de peregrino. A única

coisa que guardava era um caderno de anotações das leituras que havia feito.

Inácio começou a ajudar os enfermos de um hospital em um povoado chamado

Manresa, onde permaneceu por onze meses. Entre jejuns e longas orações

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(Exercícios Espirituais), procurava anotar todas suas experiências em seu

caderno. Após a peregrinação a Jerusalém ele decidiu estudar o que fosse

necessário para poder ajudar as almas e servir melhor a Cristo (SKALINSKI,

2007).

As primeiras escrituras para o livro Exercícios Espirituais de Loyola

foram feitas no ano de 1522, no qual Santo Inácio relata suas experiências

espirituais. Exercícios Espirituais consistem em fazer exames da consciência,

como meditação, contemplação, orações vocais ou mentais, além de outras

atividades espirituais. Foi uma metodologia desenvolvida por Loyola para o

desenvolvimento espiritual. Esses exercícios, segundo o autor, servem para

unir-se profundamente com Deus; desenvolver plenas condições espirituais e

humanas; auxiliar no alcance da liberdade de espírito.

Entre 1526 e 1527, Loyola frequentou a universidade de Salamanca

para estudar Artes. Todavia, devido às pregações e obras sociais não foi visto

com bons olhos; então, decidiu ir para uma universidade mais aberta,

matriculando-se na Sorbona de Paris, onde permaneceu de 1528 a 1535. Em

Paris formou um grupo de “Amigos do Senhor” que aceitava viver a experiência

de seus Exercícios Espirituais. Em 1534 fazem votos de pobreza, castidade e

de peregrinarem a Jerusalém. No mesmo ano, Inácio recebeu o grau de Mestre

em Artes e começou a estudar Teologia (MORSCH, 1993).

Em 1535 a saúde de Inácio fraqueja; ele decide então voltar para sua

terra com o propósito de dar bom exemplo e ajudar espiritualmente ao seu

povo. Melhor de saúde volta a Itália em 1536. Os "Amigos do Senhor" vão

perdendo as esperanças de realizarem a peregrinação à Terra Santa devido a

guerra contra os turcos. Decidem, então, ir a Roma colocar-se à disposição do

Papa; para se apresentarem, o grupo foi nomeado Companhia de Jesus. O

grupo chegou a conclusão de que “iriam pedir que os aceitassem como um

corpo apostólico, não como indivíduos isolados. Fariam, além dos três votos

religiosos, um voto especial de obediência ao Vigário de Cristo, para que os

enviasse aonde julgasse melhor” (BOTERO (s/d), p.13).

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Com a ajuda dos demais integrantes do grupo, Inácio escreveu a

"Fórmula do Instituto", que o Papa Paulo III, depois de examinar, aprovou em

27 de setembro de 1540; assim, a Companhia passou a existir como Ordem

Religiosa. Os chamados Jesuítas tinham o objetivo de ajudar as almas a atingir

o destino para a qual foram criadas, e levar o catolicismo para as regiões

recém-descobertas, principalmente na América. Para isso Loyola sentiu a

necessidade de criar escolas e algumas faculdades, que a princípio, eram

destinadas a futuros padres (jesuítas); posteriormente, para alunos externos. A

partir de então, outros colégios foram formados e Inácio mostrava a

importância de criar casas de ler e escrever e escolas para os jovens e as

crianças a fim de leva - lós ao cristianismo. A Companhia estabeleceu dois

tipos de colégios, o privado para a formação dos futuros jesuítas e outro

público, para a formação dos jovens em geral. A tarefa dos jesuítas era a

salvação de todos, principalmente dos que não conheciam o Deus cristão ou o

conheciam apenas parcialmente. (BOTERO (s/d), p.13)

1.1. A educação na Companhia de Jesus

Os colégios não se restringiam à educação, eles também eram centros

administrativos e financiados pelas casas dos jesuítas, que viviam de doações

e produziam vestidos, azeites e farinha. (COSTA, 2004). Nas terras em missão,

as casas, igrejas, reduções e fazendas eram subordinadas aos colégios. Como

o ensino era o principal objetivo dos colégios, em 1599, a Companhia publicou

o Ratio atque Institutio Studiorum Societatis Iesu, ou simplesmente Ratio

Studiorum, como ficou mais conhecido, como documento a ser aplicado para

que a educação tanto dos futuros jesuítas quanto dos estudantes externos

fosse uniforme. Esse documento prescrevia regras para todos os envolvidos no

processo educativo, desde o Provincial, o Reitor, o prefeito de estudos, os

professores e os estudantes. Antes de ser finalizado, O Ratio Studiorum foi

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testado pelos colégios por mais de meio século e existiram várias versões que

foram se adaptando até a versão final.

O Ratio previa uma flexibilidade no ensino para se adequar aos

diferentes lugares onde havia colégios. As regras podiam ser modificas para

melhorar o ensino das letras, mas deveriam chegar o mais próximo possível

das normas estabelecidas. O Ratio Studiorum é caracterizado como um

manual prático que orienta o professor na organização da sala de aula. Ele

contém 467 regras, que são destinadas a todos os agentes envolvidos no

ensino. Além de regras, o Ratio apresenta os níveis de ensino e as disciplinas

que os alunos deveriam cumprir para cada curso, ou seja, Humanidades,

Filosofia e Teologia. Esses duravam entre 3 e 4 anos, mas podiam ser

estendidos por 6 ou 7 anos. Os alunos estudavam 5 horas por dia, de manhã e

à tarde, o tempo era distribuído entre o estudo do grego e do latim, da prosa e

da poesia, e os outros exercícios escolares (TOYSHIMA, 2011).

A metodologia para a transmissão dos conteúdos não era padronizada,

mas foram propostos vários métodos para dar liberdade de escolha aos

professores. Como informa Toyshima (2011, p. 30): “A preleção é o ponto

chave do sistema didático do Ratio. Como o próprio nome indica é uma lição

antecipada, isto é, uma explicação do que o aluno deverá estudar, cujo método

e aplicações variam de acordo com o nível intelectual dos estudantes”.

Para ajudar os professores na sala de aula existiam os decuriões, que

eram alunos escolhidos pelo desempenho escolar. Para este ajudante existiam

regras, como obediência ao professor, verificar se tudo ocorrera corretamente,

se não irão faltar assentos, se a sala estava limpa etc.

Os professores não eram a favor dos castigos corporais, mas não o

suprimiram; eram utilizados apenas quando as palavras não funcionavam.

Quando havia a necessidade de aplicar um castigo, era chamado o corretor

para aplicar a palmatória, mas não passava de seis vezes e nunca na cabeça

ou no rosto e sempre na presença de outras pessoas.

Podemos perceber como eram utilizados no trecho a seguir.

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Não seja precipitado no castigar nem demasiado no inquirir; dissimule de preferência quando o puder sem prejuízo de ninguém; não só não inflija nenhum castigo físico (este é oficio do corretor) mas abstenha-se de qualquer injúria, por palavras ou atos não chame ninguém se não por seu nome ou cognome; por vezes é útil em lugar do castigo acrescentar algum trabalho literário alem do exercício de cada dia. (RATIO, 1952, p. 122-123, J-40, apud TOYSHIMA, 2011, p. 33).

Os jesuítas utilizavam de competições físicas e mentais que eram

específicas para cada turma de estudantes: prova de poesia e prosa grega. No

dia marcado eram lidos publicamente os nomes dos ganhadores que recebiam

prêmios equivalentes a sua posição. Além disso, o teatro era muito utilizado

como forma de ensino complementar, desde diálogos até dramatizações sobre

os mistérios da fé. Como afirma FRANCA (1952, p. 72) “[...] fortalecem a

memória, educam a voz, apuram a dicção, aprimoram os gestos e as atitudes,

inspiram a confiança e o domínio de si, habituam os jovens a enfrentar o olhar

das assembleias”.

A Companhia de Jesus também se preocupava muito com a formação

dos professores, os responsáveis pelo bom exemplo e por moldar o homem.

Para isso era preciso que os futuros professores se dedicassem ao estudo para

terem uma formação digna de um mestre. Eles estudavam dois anos para a

formação moral, que era de grande preocupação para a Companhia; após isso,

eram dedicados mais dois anos para estudo do grego, latim e hebreu. Em

seguida, mais três anos para a formação em filosofia, mais quatro anos para

formação teológica e mais dois anos para especialização na matéria em que

iriam lecionar. Contudo, antes de iniciar a carreira, o jesuíta teria que estagiar

com um professor mais experiente, ajudando-o nos ditados, correção de

trabalhos, etc.

1.2. Chegada dos Jesuítas ao Brasil

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Após o descobrimento da América, os olhos dos Reis se voltaram para

as maravilhas encontradas aqui. Com o Tratado de Tordesilhas (1494), que

dividiu as terras descobertas em leste e oeste, a Espanha ficou com todo o

interior e Portugal ficou com o litoral. A maior parte do território hoje

paranaense pertencia à Espanha, conforme imagem abaixo.

Fonte: portalsaofrancisco.com.br

Com o interesse nas riquezas da nova terra e no aumento dos

seguidores do catolicismo, os Jesuítas foram enviados para catequizar os

indígenas que aqui viviam. Os primeiros padres chegaram ao Brasil em março

de 1549, com D. Tomé de Souza. Suas primeiras atividades foram catequizar

os índios, defende-los dos colonos e aprenderem a língua nativa deles. Porém

perceberam que seria impossível catequiza-los sem antes ensina-los a ler e a

escrever, começou-se assim, a fase de alfabetização dos indígenas.

No Brasil a Companhia de Jesus pode ser enquadrado numa dupla ação: pedagogia e catequese. Por pedagogia compreende-se o papel dos jesuítas como formuladores de modelos culturais, civilizadores e educadores, que posteriormente criam colégios jesuíticos para o alcance de tais objetivos, e por catequese, a tarefa de mensageiros da palavra divina aos nativos. (SIGNES, 2009, p.4)

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Os jesuítas consideravam os índios um povo pagão, pois desconheciam

e, portanto, não acreditavam no Deus cristão, algumas tribos eram nômades,

canibais, andavam nus e eram poligâmicos. Os padres acreditavam que

precisavam salvar as almas deles e aculturá-los, para isso criaram as missões.

Estas eram realizadas em varias regiões, mas não tinham o mesmo método de

atuação, pois eram de reinos diferentes. As missões espanholas eram

financiadas diretamente pela coroa, e as portuguesas eram sustentadas pelos

colégios jesuítas.

Na chegada da Companhia de Jesus ao Brasil, os índios tratavam

aqueles missionários muito bem, pois os dava proteção e fartura. Entretanto, os

padres perceberam que eles não eram um povo sem cultura, causando

conflitos culturais nas missões, o que levou, por vezes, à violência.

Percebendo a dificuldade em transmitir os valores europeus para os

índios adultos, resolveram catequisar as crianças, as levando para lugares

afastados dos demais índios, para que não houvesse influência, e lá

ensinavam os valores cristãos e europeus. Quando as crianças retornassem ao

convívio com os demais índios, os jesuítas acreditavam que elas poderiam

auxiliar na conversão dos adultos. “Os indígenas enviavam as crianças para a

escola de manhã, de tarde e de noite, tornando-se sedentários e

monogâmicos, deslocando-se de sua cultura nativa para adquirir traços da

cultura européia, dos portugueses” (ROSÁRIO e SILVA, 2004, p.7).

Para não causar a revolta entre os indígenas, os padres mesclavam a

brandura e o castigo. Os castigos corporais eram proibidos, entretanto, era

usado com moderação, inclusive no chefe da aldeia, para que servisse de

exemplo para os demais.

Muitos confrontos aconteciam, também, entre os jesuítas e os colonos.

Os colonos queriam os índios para utilizá-los como escravos, e os jesuítas

eram contra e os protegiam. Porém, os colonos invadiam as aldeias e

capturavam os indígenas. Pensando nisso, a Companhia de Jesus precisou

implantar um novo método para proteger os índios, surgindo, assim, as

reduções. Como explica SIGNES (2009), as reduções eram núcleos urbanos

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feitos para a proteção dos índios, onde eles aprendiam um ofício e a doutrina

cristã. Nas reduções espanholas havia uma grande estrutura no centro, uma

praça com uma igreja, já nas reduções portuguesas a arquitetura era simples;

lá, os índios eram preparados para defender o espaço, produziam seu

alimento, praticavam a religião e também tinham lazer; era visível a presença

do cristianismo.

Para catequiza-los os jesuítas utilizavam duas formas de ensino, a

primeira era por meio de leituras dos sermões e pregações na língua nativa do

indígenas, e a segunda era por imagens, músicas, teatros etc.

As peças eram representadas e músicas cantadas na linguagem indígena, ou em português, abordavam questões do cotidiano dos nativos mas também inculcavam-lhes a religiosidade e a moral católica, trabalhando com ideias do bem do mal, pecado e virtude, representando divindades, adoradas pelos nativos e defendendo o monoteísmo cristão. (ROSÁRIO e SILVA, 2004, p. 8-9)

Em 1550 foram fundadas as duas primeiras escolas de ler e escrever na

Bahia e em São Vicente, que eram subsidiadas pela Coroa Portuguesa. Já em

1570 havia oito estabelecimentos, escolas elementares, secundárias e os

seminários; essas escolas formavam futuros sacerdotes, educavam os índios e

os filhos dos colonos. A educação era de indiscutível importância para a

transmissão dos valores cristãos e contra a disseminação das ideias

protestantes. No entanto, para manter a dependência, o rei de Portugal não

permitiu a criação de universidades na colônia.

Os jesuítas adaptaram o Ratio Studiorum para ser utilizado no Brasil,

estruturaram quatro grades de ensino. Como explica Rosario e Silva (s/d), o

curso Elementar, em que ensinavam as primeiras letras e a doutrina católica; o

curso de Humanidades ensinava gramática e retórica; curso de Artes,

ensinavam lógica, física, matemática, ética e metafísica; e o curso de Teologia,

no qual ensinavam teologia moral e os dogmas católicos.

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Além dos missionários serem os únicos responsáveis pela transmissão

da educação formal, da catequização dos índios e da formação da elite

colonial, eles também comercializavam produtos, construíam igrejas, rezavam

missas todas as manhãs, trabalhavam e cantavam. Esse processo fez com que

eles acumulassem riquezas e se tornassem proprietários de fazendas, de

gado, de colégios e controlavam um império econômico; até 1750 eles eram

responsáveis por praticamente todas as instituições de ensino em Portugal

(CATÃO, 2007).

A Coroa portuguesa mandou, na década de 1730, pelo menos mais dois

jesuítas numa missão política, que se conectava com o Tratado de Madri, que

delimitou novamente a América, prestes a ser pactuado no ano de 1750 entre

Portugal e Espanha. Para isso, a Coroa tinha necessidade em mapear suas

colônias na América, enfatizando das terras férteis que haviam sido

descobertas recentemente. Foi de competência dos jesuítas especializados em

Matemática desempenharem todo o trabalho cartográfico, confeccionando

diversos mapas, que demonstrava a quão rica era a região.

Além disso, também era necessário o mapeamento dos limites

existentes entre as capitanias e os bispados na América de Portugal, que

acabaria com conturbações entre as órbitas civil e eclesiástica (CATÃO, 2007).

Em Portugal, Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de

Pombal, ganhava prestígio. Depois da morte do rei dom João V em 1750, o

novo rei dom José I nomeou Pombal como o ministro do Estado.

Naquele momento histórico as luzes do Iluminismo estavam clareando

as ideias da elite intelectual da Europa, que buscavam acabar com os abusos

da Igreja e do Estado. Porém, Portugal estava “atrasado” em relação aos

outros países europeus.

Pombal, então, buscou métodos de ajudar o seu país a se reorganizar

economicamente. Como explica Catão (2005), ele empenhou- se em fortalecer

o poder do Estado, modernizou alguns aspectos econômicos, promoveu uma

reforma na área educacional, entre outras coisas digna de nota. Entretanto,

todas essas reformas atingiam a Companhia de Jesus, que Pombal elegeu

Page 22: (América Espanhola) nos séculos XVI e XVII

22

como representantes da tradição a ser cobatida e responsáveis pelo “atraso”

de Portugal, afinal controlavam todo o sistema educacional e econômico.

Todavia, Pombal não tinha apenas os jesuítas como inimigos, pois com

suas ideias estava quebrando o elo entre a monarquia e a Igreja, a tradição até

então vigente. As mudanças políticas que nasceram do reformismo de Marquês

de Pombal fizeram faiscar problemas entre a Coroa e o bispo de Mariana, no

ano de 1754. Seu plano era fazer com que a Igreja e a população fossem

controladas pelo Estado.

José Sebastião de Carvalho e Mello acusava os jesuítas de utilizar a

mão de obra indígena a favor de interesses comerciais próprios, não pagando

impostos à Coroa e, além disso, tinham grande prestígio no Brasil. Nesse

contexto, em 1759, Pombal expulsou os missionários das novas terras, mas

não pretendia expulsá-los apenas da colônia de Portugal, e sim de todos os

países cristãos. Os missionários não foram vistos com maus olhos apenas por

Portugal, eles já haviam sido expulsos de outras Cortes européias, sob

acusações de terem o caráter “dissimulado” e “conspiratório”, como podemos

analisar com Catão (2005, p. 122):

Até 1759, ano da expulsão dos jesuítas do mundo português, os mesmos já haviam se envolvido em sérios problemas em vários Estados europeus, sendo inclusive expulsos da Inglaterra (1605) e Holanda (1705). Além disso, já haviam sido expulsos na França (1594-1603), onde foram novamente aceitos, e Veneza (1606-1656).

Mas, o grande prestígio dos missionários fez com que houvesse

resistência à expulsão deles; para conter esse movimento Pombal começou

uma campanha antijesuítica, com o intuito de mostrar à população que os

padres poderiam acabar com todos os recursos do Brasil e essa atitude estava

sendo prejudicial aos interesses do Estado.

Mesmo com todos os recursos utilizados por Pombal para acabar com

os jesuítas, os admiradores dos padres os protegiam e eles permaneceram

aqui escondidos e disfarçados. Os padres da Companhia de Jesus acreditavam

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23

que a atitude tomada pelo Marquês era uma agressão ao bem comum e

pensavam ser um absurdo a expulsão. Pombal, então, tomou uma atitude mais

drástica, ordenando que se prendessem todos os jesuítas que permaneciam no

Brasil.

Porém, a expulsão dos missionários teve uma grande implicação, a

desestruturação do sistema educacional. Os padres eram os únicos

responsáveis pela educação, assim, com a saída deles, o estado precisou

tomar conta do legado deixado pelos jesuítas.

Entretanto, com a expulsão dos missionários do Brasil, Pombal precisou

formar uma nova cultura para apagar toda a influência da Companhia.

Conforme Catão (2005, p. 143) Pombal pretendia:

[...] “trazer as “luzes”; reformar todas as estruturas de ensino; reformar as velhas formas administrativas; dilapidar os velhos e perniciosos preceitos, fortes, arraigados, tradicionais em Portugal, pois permeando todo o “mal” estava a doutrina jesuítica; era imperativo enfraquecer os laços entre jesuítas e seus antigos admiradores; e extirpar o fanatismo e a ignorância.

Além de tais providências, Pombal formou um arsenal de obras, livros e

impressos, que continham textos que desmoralizavam a Companhia de Jesus,

pois, para ele, era indiscutível a importância de “acabar com o mal pela raiz”.

Pode-se observar que houve muitas transformações no período

Pombalino. A principal delas acarreta-se da característica antijesuítica de

Pombal, que nunca abandonou os ideais de que os problemas de Portugal

foram todos ocasionados pela presença dos jesuítas naquelas terras.

No Século XIX, uma campanha iniciada por P. Carlos Rademaker e seu

superior, P. Provincial, um católico português, teve êxito, conseguindo a

restauração da presença dos jesuítas, e da Companhia de Jesus novamente

em Portugal. Rademaker utilizava em seus sermões discursos sobre fé,

esperança e caridade, trilogia que ia de encontro à trilogia revolucionária de

liberdade, igualdade e fraternidade (OLAIO, 2000).

Page 24: (América Espanhola) nos séculos XVI e XVII

24

Já no ano de 1870, Rademaker redobra seu empenho em seu trabalho

missionário, na companhia dos Padres Meli e João Rebelo Cardoso Meneses.

Concomitante às missões, funda diversos núcleos de Associações jesuítas. E

foi no ano de 1871 que a Missão Portuguesa se vê expulsa de Macau. A partir

desse período seguiu diversas batalhas entre a Igreja e os demais setores

anticlericais. Após todo este caminho conturbado, a Ordem de Jesus foi

reestabelecida no século XX.

1.3. Contexto de Exploração da América Espanhola

A colonização da América Espanhola foi feita através da existência de

colônias de exploração e também de colônias de povoamento. Foi iniciada com

a conquista das ilhas do Caribe, no final do século XV.

As atividades das colônias espanholas caracterizavam-se pela

exploração de minas buscando metais preciosos, como ouro e prata. A

população pré-colombiana era especialista em técnicas de fundição de metais,

que facilitava muito para os espanhóis na América. Porém, essa população

pré-colombiana, e de todo o restante do continente, foi exterminada pelos

espanhóis, por motivos de guerra, doenças e rígida exploração de mão de

obra. (OLAIO, 2000)

Nesse período houve um lucro muito alto, que permitiu a sustentação

da hegemonia espanhola ao longo do século XVI, acarretando muito poder.

Além disso, existia necessidade de cristianizar os nativos, fazendo uma

aproximação com Deus, para que seguissem o caminho da civilização, e foi

esta a principal ferramenta idológica da conquista espanhola.

No ano de 1503, foi criada a Casa da Contratação, em Sevilha, que

visava detenção do monopólio das mercadorias que eram comercializadas

entre a Espanha e a América. Tinha função de organizar o comércio e fiscalizar

a cobrança do quinto da produção, que era o imposto de 20% do que era

comercializado nos territórios espanhóis.

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Por volta de 1560, os estoques de metais preciosos foram diminuindo,

necessitando-se organizar a produção, o que marcou o início da colonização.

Houve um acordo no qual a Coroa Espanhola entregava direitos vitalícios de

fundar cidades, construir fortalezas e evangelizar a população indígena, além

da responsabilidade pelo poder militar e jurídico, mas, em troca, obrigava a

cessão de um quinto de toda a produção. Esse acordo assegurava à metrópole

a ocupação e exploração de todo o território, sem ônus.

1.4. Presença dos Jesuítas na América Espanhola

A colonização espanhola deu-se com presença marcante da Igreja

Católica, que introduziu a religião que era predominante na região Ibérica, no

período colonial. Neste período houve aproximação entre o Estado e a Igreja,

que partilhavam dos interesses políticos e econômicos.

Era atribuição da Coroa nomear indivíduos para ocupar os cargos

eclesiásticos, pagar seus salários, e fazer obras em favor da própria Igreja,

fazendo com que ela fosse mais notada. Era uma troca de interesses entre a

Igreja e a Coroa, pois aquela necessitava o apoio desta em suas missões ao

Novo Mundo, no intuito da propagação de fé. (OLAIO, 2000)

Como um dos importantes acontecimentos na Europa, houve o

Concílio de Trento, que tratou, dentre outras coisas, da efetivação da

evangelização da população colonizada na América. Nesse momento, a fim de

dar mais valor à administração da Igreja, esta organizou-se em bispados no

Novo Mundo, utilizando o bispo como sua autoridade e, portanto, nomeado de

forma bastante rigorosa. Os bispos geralmente faziam parte do Clero Secular,

que detinha autoridade sob o Clero Regular, este que era composto por padres

e eclesiásticos que contatavam diretamente com a população nativa.

A partir das conquistas de cunho militar, foram criadas Dioceses na

América Espanhola, que formavam centros administrativos com autonomia,

responsabilizando-se pelas missões, instrução dos padres nos seminários,

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além da cuidar da legislação da Igreja. Os seminários eram órgãos funcionais

da Diocese, que possibilitavam o estudo universitário para formação do clero.

Existiam ordens que se responsabilizavam pela evangelização na

América Latina, das quais uma era a Companhia de Jesus, que era uma

espécie de reserva estratégica da Igreja. Os jesuítas participavam de toda a

obra missionária, em qualquer território de colonização.

Os índios, a princípio, eram excluídos das ordens religiosas, pois se

acreditava que não possuíam aptidão para tanto. Mais adiante, no século XVIII,

os índios passaram a ter participação ativa nas dioceses, porém, ocupando os

postos clericais de segunda classe.

Diante desse contexto de constantes mudanças na colônia espanhola,

a Igreja acabou se estendendo, administrativamente, da Península Ibérica para

a América. Neste momento houve grande enriquecimento da Igreja, que

adquiriu muitas propriedades e engrandeceu sua fortuna. Este acúmulo de

bens tornou a Igreja uma instituição que tinha muito poder, o que fez com que o

bispado se tornasse uma forma de instituição de crédito, emprestando dinheiro

e juros a seus devedores.

Como naquele tempo existiam dificuldades na comunicação,

principalmente com a população indígena, que falava diversos idiomas, havia

evangelização através da imagem cristã, que se transformou em uma forma de

diálogo. Dessa forma foi introduzida a crença católica na América, que através

do culto de um Deus Universal, também serviu como forma de ensinamento

pedagógico.

Diante da presença dos jesuítas na América Espanhola é que se pôde

verificar o contexto de evangelização e civilização da população que ali

permanecia. Sendo assim, é importante dar ênfase ao contexto histórico que

vivenciou o atual território do Paraná, conforme o próximo capítulo.

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2. A ANTIGA REGIÃO DO GUAIRÁ: ATUAL ESTADO DO PARANÁ

Para que a história do Paraná seja melhor compreendida, acreditamos

ser necessária algumas considerações sobre contextualização da história do

Brasil, para posteriormente dar enfoque para a região do Paraná.

Depois que o Tratado de Tordesilhas foi firmado, no ano de 1494, houve

a divisão das terras descobertas em leste e oeste. Todo o território do interior

do continente ficou sob a responsabilidade da Espanha, e Portugal ficou com a

parte litorânea. A maior parte do território no qual hoje se encontra o Paraná

pertencia, naquela época, à Espanha.

Dessa forma, ao mesmo tempo em que a Espanha obteve seus direitos

quanto ao Novo Mundo descoberto, também lhe foram estabelecidas algumas

obrigações, tais como a evangelização e civilização do povo indígena

encontrado nestas terras.

Com a expansão comercial da Europa surgiu a necessidade de busca de

outros produtos a serem comercializados. Os europeus já exportavam seus

produtos aos outros países, mas com escassez, e isso trazia à tona a

necessidade de buscar maiores benefícios por meio dessa atividade. Na

tentativa da expansão da exportação, a Coroa Portuguesa financiou uma

viagem em busca de especiarias (noz-moscada, gengibre, canela, cravo e a

pimenta) e ouro. (FAUSTO, 1996)

Em 1500 partiu de Lisboa uma frota com treze navios sob o comando de

Pedro Álvares Cabral, os quais, em 21 de abril, avistaram as terras do novo

mundo, porém só no dia seguinte ancoraram os navios no litoral da Bahia. Ao

chegarem encontraram uma população muito grande de índios, com culturas e

línguas diferentes. Esses indígenas eram diferenciados pelos europeus como

tendo uns com qualidades positivas e outros com qualidades negativas, de

acordo com o grau de resistência de cada um. Sob a ótica dos indígenas, os

brancos eram vistos ao mesmo tempo de diversas formas: com respeito, mas

também eram temidos, odiados e dotados com poderes especiais.

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28

O Brasil por muito tempo foi visto como uma grande ilha, os colonos não

conheciam os contornos geográficos do país. A exportação de animais exóticos

(papagaios, araras etc.) fez com que os italianos dessem o nome as novas

terras de ‘terra dos papagaios’. Mas o rei de Portugal, Dom Manuel, preferiu

chamar de Santa Cruz, e apenas em 1503 começou a aparecer o nome Brasil,

pois relacionou a terra com a maior riqueza aqui encontrada, o pau-brasil.

Quando o pau-brasil ficou escasso, os portugueses precisaram dos

índios para que mostrassem onde mais encontrariam a madeira, e em troca

dessa busca, davam para os indígenas tecidos, facas, canivetes e outros

objetos que não tinham valor.

O Brasil, inicialmente, foi muito confundido com a Índia, pois era ponto

de descanso e servia como possível novo caminho, muito procurado pelos

espanhóis. Quando Colombo descobriu a América, em 1492, Portugal

contestou a posse, depois de inúmeras negociações, como explica Fausto

(1996). Isso resultou no Tratado de Tordesilhas, no qual “o mundo foi dividido

em dois hemisférios, que foram separados por uma linha que imaginariamente

passava a 370 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde. As terras descobertas

a oeste da linha pertenceriam à Espanha; as que se situassem a leste

caberiam a Portugal.” (FAUSTO, 1996, p. 23)

Os espanhóis perceberam que o caminho para chegar às índias pelo

ocidente era muito longo e difícil, o que tornava a viagem pouco lucrativa. Com

isso voltaram os olhos para a prata e ouro encontrados nas terras recém-

descobertas, que estavam sob seus domínios.

Para a exploração das terras brasileiras era necessário que os colonos

se fixassem por aqui, formando assim as capitanias hereditárias. Isso resultou

na divisão do Brasil, e cada parte foi entregue aos capitães-donatários, que

eram possuidores das terras e não seus proprietários. As capitanias eram

formadas por um grupo de pessoas da pequena nobreza, burocratas e

comerciantes, todos ligados diretamente à Coroa.

Os donatários, mesmo não sendo os donos, tinham grandes direitos,

tanto econômicos quanto administrativos, como afirma Fausto (1996). Eles

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29

podiam instalar engenhos de açúcar, moinho de água, e ganhavam parte dos

tributos vendidos à Coroa pela exploração de pau-brasil, metais preciosos e,

também, da pesca.

Em 1608 o rei da Espanha criou a Província Del Guairá, assim

denominada devido ao nome de um poderoso cacique guarani, e que hoje é

onde se encontra parte do território paranaense que teve o primeiro contato

com os europeus a partir do século XVI, enfatizando que Aleixo Garcia foi o

primeiro bandeirante, homens que capturavam os escravos fugitivos e

aprisionavam os índios, a percorrer toda a extensão do território.

O território compreendido entre o rio Paranapanema até o rio Iguaçu, e do rio Paraná ao Tibagi, com pretensão de prolongar-se até o litoral atlântico, que pertencia, até 1617, à Província do rio da Prata, era conhecido como Guairá. Hoje, é o Estado do Paraná. (MOTA; CHAGAS, 2007, p.13)

Com a divisão o Paraná pertencia no litoral norte à Capitania de São

Vicente e, no litoral sul, à Capitania de Sant’ Ana. Com exceção de algumas

capitanias como a de Pernambuco e de São Vicente, as outras não tiveram

sucesso, seja por desentendimentos internos ou por falta de recurso, fazendo

com que algum tempo depois a Coroa retomasse as terras, e assim, passou

para o domínio do Estado.

Nesse contexto já não se respeitavam mais os limites de terra marcada

pelo Tratado de Tordesilhas, os portugueses estavam invadindo a região do

Prata para se apossarem do ouro lá encontrado. Para tentar conter as

expedições portuguesas, com a ajuda de Pedro de Mendonza, a Coroa

espanhola fundou a primeira base na região, como forma de garantir o seu

território, denominada Nuestra Señora del Buen Aires.

Em 1540 uma nova expedição em direção do Prata foi chefiada pelo

soldado Alvar Nuñes Cabeza de Vaca. Traçaram um percurso que ligava a ilha

de Santa Catarina a Assunção, passaram pelo Rio Iguaçu e o Rio Piquiri,

reconhecendo toda a área. A interiorização da colonização chega, assim, a

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30

região do Guairá, que era habitada por duas grandes tribos indígenas, os que

viviam na floresta tropical, os Tupi-Guarani e os da marginal, os Jê. Os

Guaranis já tinham contato com os espanhóis e passaram a ser utilizados

como mão de obra nos povoamentos.

Ruy Dias Melgarejo foi militar e fundador de várias cidades espanholas,

ele fez o mesmo caminho que Cabeza de Vaca, passando duas vezes por

Guairá, tendo sido um personagem muito importante para a Coroa espanhola,

pois fundou e organizou a Ciudad Real Del Guairá em 1554, na foz do rio

Piquiri e passou a ser a capital da Província do Guairá,

Os caminhos que eram utilizados para a penetração do território pelos

exploradores e viajantes na região do Guairá tiveram muita importância para

sua ocupação, alguns deles eram chamados de “Caminho do Peabiru, de

Cubatão, do Itupava e do Arraial, de Sorocaba e Viamão” (MOTA; CHAGAS,

2007, p. 16).

Com a abertura do caminho do Viamão, em 1731, a criação de gado deu

início à principal atividade econômica do século XVIII, o tropeirismo, um grupo

de homens que levava gado e mercadorias de uma região para outra.

Entretanto essa atividade se extingue na década de 1870 com a criação das

estradas de ferro, ocupando a função dos animais.

Os espanhóis desenvolveram um sistema exploratório de um grupo de

indígenas, que eram administrados por um colono. Este sistema denominava-

se encomienda, que passou a ser a base economia da região platina. Os

espanhóis tornaram-se encomienderos, o que significa que eles recebiam um

número de índios que precisavam ser catequizados pelos jesuítas e depois

utilizados como mão – de - obra; essa atividade fez com que os colonizadores

tivessem maior controle dos índios.

As reduções jesuíticas do Guairá foram iniciadas mais sistematicamente

em 1610, estavam estabelecidas entre os rios Tibagi, Paranapanema, Iguaçu e

Paraná. Como informam Mota e Chagas, (2007, p. 14), as primeiras reduções

jesuíticas fundadas foram: Nossa Senhora do Loreto e Santo Inácio, nas

margens do rio Paranapanema. As atividades econômicas eram muito bem

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administradas pelos padres, todo produto colhido era dividido entre todos os

membros, o gado que era criado, quando abatido também era distribuído, e

sempre estiveram ligadas a coleta e produção da erva-mate.

Entretanto, nem sempre os jesuítas e os colonizadores tiveram uma

parceria amigável, os jesuítas eram contra a utilização da mão de obra dos

indígenas. Eles acreditavam que o trabalho era importante para que os

mesmos mantivessem a disciplina, mas apenas para sustentarem as reduções

e para que elas progredissem, já os colonos queriam que os índios

trabalhassem para a produção de riquezas. Esse choque de objetivos fez com

que os missionários protegessem os índios dos colonos, que além da

exploração também estavam fazendo comércio com o índio, eles capturavam e

vendiam, assim como foi feito pelos portugueses (COSTA, 2002).

As reduções eram o grande alvo para os ataques de captura dos índios,

pois estes já estariam ‘domesticados’. Em 1629 tiveram grandes ataques,

resultando na destruição de quase todas as reduções e aprisionando mais de

20.000 nativos. Esses ataques ganharam amplitude, pois as Capitanias de São

Paulo estavam sem escravos negros, por que eles estavam caros e a remessa

não era suficiente para a demanda, então, comercializar os indígenas era a

única opção.

Os índios que conseguiram fugir foram levados pelos missionários para

o interior ou chegaram ao território paraguaio, onde formaram outra

comunidade chamada de Vila Rica. Entretanto, em 1632, a nova comunidade

também teve que ser abandonada, pois os militares paulistas a invadiram.

Essa rotina de destruição só acaba por volta de 1641, quando jesuítas e

índios se juntam para derrotarem os paulistas, que saíram derrotados pela

primeira vez.

O Tratado de Madri, que foi assinado em 1750 delimitou novamente as

terras espanholas e portuguesas. O oeste do Paraná foi ratificado como

português e o rio Paraná se fez de fronteira com as terras espanholas. A

margem esquerda do rio ficou abandonada por mais de cem anos, afinal, com

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a destruição das reduções e sem mão - de - obra e atrativo econômico, os

portugueses não tiveram interesse.

Já no século XIX a economia paranaense não era mais voltada às

pedras preciosas, e sim direcionada para o cultivo de erva mate e a madeira.

Os espanhóis retornaram para as terras e fizeram um verdadeiro império

agrário com a nova riqueza vegetal.

Com as terras do Paraná férteis houve grande interesse das famílias de

imigrantes em investirem na região, na exploração das florestas e na plantação

de café. Dessa forma, em meados dos anos 20 as terras começaram a ser

vendidas. Sendo assim o início do desenvolvimento da região foi dado devido à

venda de lotes rurais para famílias de diversas nacionalidades.

Além disso, houve planejamento por parte do Estado para

desenvolvimento da infraestrutura, fundação de cidades, abrir novas estradas e

a venda do café produzido (FOGARI; MOTA, 2007). Entretanto, esse

desenvolvimento resultou na destruição de quase toda a cobertura vegetal na

região.

Ao Estado da Federação foi dado o nome de Paraná a partir do ano de

1853, no período no qual a Comarca de Curitiba foi então elevada. Do guarani,

para mar + anã significa parecido, semelhante ao mar. No início, a pronúncia

correta era Paranã, porém, com o tempo foi alterado o acento da última vogal.

Para que haja entendimento mais aprofundado acerca da população que

ocupou esta região naquela época, cabe demonstrar que os jesuítas foram os

responsáveis pela difusão da escola em todo o continente. Dessa forma,

evidencia-se a necessidade de estudar sobre a atuação catequética e

educacional dos jesuítas na atual região do Paraná, visando demonstrar que ali

se deu início ao trabalho pedagógico no Brasil.

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3. A ATUAÇÃO CATEQUÉTICA E EDUCACIONAL DOS JESUÍTAS NA

REGIÃO DO GUAIRÁ

Neste capítulo, serão utilizadas as cartas dos padres da Companhia de

Jesus, na obra Jesuítas e Bandeirantes no Guairá (1549- 1640), para

comprovar todo o conteúdo exposto no primeiro capítulo deste trabalho. Dessa

forma, por meio deste novo material pode-se confirmar todo o histórico que já

fora explicado anteriormente.

As cartas analisadas são escritas pelos padres da Companhia de Jesus,

sendo assim, são visões, leituras e conclusões que os missionários fizeram

acerca do momento vivido por eles.

Quando os jesuítas chegaram à América Espanhola, depararam-se com

pessoas bastante diferentes, que andavam despidos de roupa, não possuíam

moradia fixa, alguns sendo nômades e ainda canibais. “Hombres y mujeres

andan communmente desnudos aunque siembran algodon y haçen sus

vestidos.” (p. 167)

Os padres visavam promover aos índios a catequização e a conversão à

fé cristã, para que eles se tornassem cristãos civilizados e pudessem dar

continuidade ao trabalho de pregação do Evangelho. É claro que houve

resistência dessa população indígena, como em toda e qualquer situação de

mudanças abruptas.

Além disso, também havia objetivo de colonização dos índios, para que,

em longo prazo, também pudessem ser instrumento de arrecadação de

impostos à Coroa. Então, a colonização e o processo de catequização dos

índios relacionavam-se com agregação de riquezas para a Europa.

3.1. As reduções

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Diante deste contexto, as missões jesuíticas na América, também

denominadas reduções, foram criadas pelos próprios jesuítas, objetivando o

exercício de controlar, defender e catequizar os índios.

Eram, também, realizadas no intuito de que fosse garantida a posse dos

territórios já conquistados e também da defesa das fronteiras que já existiam. O

controle de cobrança de impostos podia ser visualizado, visando obtenção de

mais lucro à Coroa.

As Reduções, no entanto, acabaram por ser responsáveis por deixarem

os índios mais vulneráveis tanto os exploradores do território, quanto aos

escravagistas que iam surgindo. Contudo, mesmo diante da resistência que era

exteriorizada, foram adaptando-se aos costumes religiosos impostos pelos

padres.

3.2. Dos costumes dos índios

Os índios faziam parte de um povo com costumes diferenciados. Eles

pintavam-se com tintas coloridas, moravam todos juntos em grandes galpões;

eram indivíduos fortes e as mulheres andavam parcialmente cobertas.

Andan desnudos los hombres. Arrancanse las çejas y pestañas. Pintase de varios colores, parecen demonios. es gente alta. Fuerte, y membruda. Las mugeres andam cubiertas de la cintura a la rodilla. Sus casas son de esteras y juntando unas con otras haçen unos galpones grandes adonde viven todos juntos y nunca los varren, quando estan suçios mudanse a otra parte y assi se mudan a menudo. (p. 170)

Outrora, era crença dos padres de que os índios eram pagãos e

necessitavam de salvação. Contudo, percebeu-se que os índios conseguiam

assimilar todos os conteúdos que os jesuítas os ensinavam, pois possuíam

uma capacidade aguçada. Os índios

son capaçes de qualquiera enseñança y policia como se a visto por experiençias en las reduciones que con cuydado se ha

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attendido a su cultivo porque entran bien en leer, escribir, cantar, dançar, tocar un discante, flautas, chirimias y en los officios mecanicos. (p. 168)

Os índios tinham alguns costumes canibais. Segundo as cartas, “conto

entonçes como estavan los camperos a punto para dar sobre aquel pueblo y comerse

al Padre por las ansias que tenian de provar el sabor de la carne de padre...” (p. 243)

As reduções tinham por objetivo trabalhar o espírito dos índios, nas

casas deles e também na própria Igreja.

Redução de Los Angeles: “Estan en esta rreduccion los Padres Pero de espinosa y el Padre nicolas ygnacio muy obreros de la viña del Señor los quales con su gran zelo y solicitud han puesto aqella rreduccion muy buena haciendo nuestra casa y yglesia muy capaz que con aver en esta rreduccion tanta gente toda cabe en Ella trabajando en lo espiritual sin cançarse y en lo temporal de manera que puede competir con las antiguas, tienen ya baças, cabras y ovejas y se da todo muy bien...” (p. 342)

3.3. O processo de catequização dos índios

Os jesuítas, que desenvolveram todo o projeto de evangelização e

civilização dos índios, também ficaram responsáveis pela sua catequização.

Quando os jesuítas viram que a base de conhecimento dos índios era

praticamente inexistente, pois a grande parte deles não sabia ler e tampouco

escrever, descobriram uma grande oportunidade.

Perceberam, então, que para que houvesse a efetiva catequização dos

índios, necessitava acontecer antes o processo de alfabetização, e isso se

dava por meio das Reduções. Então, começaram a catequizar os índios dentro

das próprias escolas, com professores padres.

As Reduções eram responsáveis por um efetivo trabalho a serviço da

religião cristã, ensinando a fé católica, doutrina e diversos costumes:

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36

As províncias “hacen grandissimo fruto, com su doctrina vida, y costumbres, y buen exemplo que tienen, y enseñan a los naturales de aquellas províncias y em ellas haçen gran serviço a dios nuestro Senhor y a su magestad y a las almas, y bien y provecho de los dichos naturales dotrinandoles y enseñandoles las cosas de nuestra Santa fee catholica y policia natural, y predicandoles la palabra del santo evangelho com mucha solicitud, y cuydado, y curandoles sus enfermidades com mucho amor e charidad...” (p.150)

No mesmo contexto, as cartas também relatam que existiam quatro

padres residentes na província que faziam os ensinamentos da doutrina,

catequizavando os índios na própria língua deles:

Em la província de guayra de los quatro que estan y rresiden em ellas e ser uno dellos el suso dicho em las quales dichas rreduçciones tienen muchos Indios reduçidos donde hacen officios de curas enseñandoles doctrinas y catequisandolos em la fee de dios, que son habils en la dicha lengua de los dichos naturales. Y les predican y declaran el Santo evangelho em ella, y el dicho catesismo... que en ellos haçen en lo qual haçen los suso dichos gran serviço a dios nustro Senhor y exaltaçion de su Santa fee catholica y de su magestad...” (p. 151)

Essa catequização efetiva dos índios aconteceu de uma maneira

diferente pois os padres de Guairá dominavam a língua dos índios, e, portanto,

faziam a leitura do evangelho nela. “Quatro sacerdotes Lenguas y predicamos,

cathequizamos en la lengua, y administramos el oficio de curas en dos

doctrinas o rreduciones[...].” (p. 149).

Segundo os ensinamentos jesuíticos presentes nas cartas, a palavra de

Deus seria um caminho de salvação para os índios. Eles deveriam deixar seus

maus costumes no passado, e aprender a amar uns aos outros: “...dixeles como

avia venido atraerles la palabra de Dios para que fuessem sus hijos y se salvassen y

se amassen unos a otros dexando la mala vida passada y que yo no temia la muerte,

antes la deseaja por amor de Dios...” (p.303)

Em algumas reduções era necessário utilizar um índio para que fosse

intérprete nesse processo de catequização, como na redução de la Concepcion

de Nuestra Señora de Guañanos:

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“Lo primero en pasando en estos campos fue buscar um lengua Guarani que supiesse bien la gualacha y deparome Nuestro Señor um Indio tullido el qual era natural del Parana Pane y antes que nosotros entrassemos en aquel rio vino el a estas partes con animo de volverse luego. pero el Señor que le queria para maestro nuestro le tullo y asi le fue fuerça quedarse aqui entre esta jente, en donde aprendio la lengua mui bien. con ayuda deste hice Cathecismo brebe acomodado al tiempo de peste, confessionario, y despues de pasada la fuga hice um antebrebe, baptize muchos infantes de los quales en brebes dias fueron cinco a goçar de los trabajos de su redemptor, baptize tambien muchos adultos, confesse algunos, catequisandoles primeiro por el interprete...” (p. 293)

Da mesma forma, para facilitar o processo de cristianização dos índios,

os padres providenciavam a tradução das orações na língua deles, para que o

aprendizado fosse mais rentável:

Redução de la concepçion de los gualachos “.. es esta Rudicçion de diversa lengua de la guarani, aunque no muy dificultosa a los que saben la guarani. hiço el Padre arte y vocabulario de Ella y traduçieronse las oraciones y cathecismo y reçan en ella todos los dias y cantan y saben ya las oraciones los niños y niñas con grande admiraçion de los españoles que los han visto reçar...” (p. 345)

Os padres acreditavam que os índios encontravam-se submissos aos

ensinamentos e iam aprendendo diversas coisas que lhes eram ensinadas. Por

exemplo, neste trecho abaixo retirado das cartas, pode-se observar o

aprendizado de que o costume de canibalismo consiste em pecado que podem

ser castigado por Deus, segundo:

“...entre los Indios quien se nos opongas con su mal exemplo nos quiera estorvar y empedir el bien que se haçe y no es pequeña providencia de Nuestro Señor para que con esto se conosca y arraigue la virtud en los buenos. esta en esta reduccion un Casique mui estimado de los Indios por ser valiente [...] convoco gente para matarnos asegurandoles el que le hallarion tan a punto que el seria el que primero pusiesse las manos em nosotros [...] el Padre estaria disgustado dizendole que sin Duda Dios no disimularia con tan ruin yndio sin castigarle mui severamente y fue asi porque yendo tras una anta el monte cayo um palo de un arbol y le dio

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em la cabeça tendiendolo en el suelo traxenrolo a su casa entendiendo que sin duda moriria porque quedo muy maltratado. Anadio Nuestro Señor a este açote otro que fue el que el mas sentio y con que los demas quedaron confirmados en que la mano de Dios le castigaba por que este mismo dia cayeron enfermas cuatro Indias suyas Las dos mancebas suyas muy estimadas y las otras dos parientas destas quales el tenia y estimaba. Las tres murieron aquel mismo dia, y la terçera el seguinte y tan apriesa que apenas tubieron lugar para baptiçarse, que este suele ser el açote ordinario con que Nuestro Señor castiga a los rebeldes como la experiencia de muchos años a mostrado [...] este suceso hiço buenos efectos en este povo, porque toda la noche se le fue en pensar que dios le castigaba y asi en amaneciendo hiço llamar al Padre rogando que pidiesse a Nuestro Señor le perdonase...” (p. 264)

Alguns índios foram tão afetados com o que lhes fora ensinado, que

queriam ir para as terras do padre, para que vivessem como homens, segundo

a seguinte fala deles: “Padre, nuestro cazique Pindoviiú nos embia a que vos

llevemos a sus tierras para que nos hagais vivir como hombres...” (p. 237)

3.4. Os batizados dos índios

Os índios celebravam seus batizados com muita reza. Também

existiam outros tipos de celebração que foram ocorrendo com adoração:

“levantamos una muy hermosa cruz de siete brazas de alto en médio de la

plaza. bendixela y rezamos en alta boz el Padre nuestro y la Ave Maria y puesto

de rodillas la adoramos.” (p. 239)

Os jesuítas, então, acabaram utilizando-se dessas cerimônias de

batismo, e também das cerimônias de enterros, para providenciar o batizado e

a confissão de todo o povo, conforme:

“Aqui me detuvieron casi por fuerza 15 dias y no me falto que haçer todos ellos porque fuera de los Bautismos que los mas dias abia entierros y otras ocupaciones casi todo el dia estaba confessado e assi confesse cassi todo el Pueblo.” (p. 146)

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Os indígenas foram adaptando-se a estes costumes religiosos. Queriam

ser batizados, pois sabiam que um dia iriam morrer, e queriam morrer como

filhos de Deus, conforme: “venieron a mi el Taiaova, su hijo Maendiy, y otro

cazique de mucho brio despues de media noche, y me pidieron que les

bautizase luego porque podia se morir en la batalla, y deseavan que fuese por

hijos de Dios y por defender su santa fe”. (p 247)

Os índios estavam se adaptando a irem sempre à Igreja para que

aprendessem a se confessar, para que fossem batizados, segundo: “Los

gentiles moços y viejos an acudido a la yglesia a aprender lo necessario para

batiçarse, confesando sus errores pasados doliendose muchos dellos...”. (p.

264)

Ademais, os índios também se acostumaram tanto ao batismo que

tomavam a iniciativa de pedir ao padre que fosse até eles e batizasse as

crianças:

“... se mudaron los gualachos del lugar donde solian estar haciendo sus casas y pueblo junto a los yerbales del tayaoba y pidieron que vinise um Padre a verles y baptiçar los niños, y asi avisandome el Padre Pero de espinosa le dixe fuese a verlos, y asi fue y viendo la instancia que le haçian para que les baptiçase los niños...”. (p. 343)

Já em Vila Rica do Espírito Santo, o padre conseguia atingir a

toda a população, com bastante fervor. Além disso, também catequizava,

confessava, visitava os enfermos e fornecia a cerimônia de sepultamento aos

mortos. Conseguiram atingir um grande número de pessoas, conforme

confirma o trecho abaixo:

“[...] um mes travajo el Padre en estos pueblos con muy grande fervor, catequiçando, confesando, visitando enfermos, i dando sepultura alos muertos. Todo con mucho provecho i consuelo de las almas de aquella pobre gente [...] desde la mañana hasta la noche gastavan en catequizar et disponer muchos

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infieles que hallaron, y em solo um pueblo em uma semana bautizaron 150. Entre ellos mucho viejos que con grandes ansias les pedian el bautismo. llegaron por todos los que lo recibieron adultos a 300 y niños a 200 revalidaron 200 casamientos.” (p. 257)

3.5. A participação dos índios nas celebrações cristãs

Ficou claro, pela leitura das cartas, que alguns índios

conseguiram abandonar seus costumes e sua cultura primitiva. Segundo relato

ocorrido na Redução Nossa S. de Loreto: “tiene al pie de mil y trecientos

comulgantes que comulgan quatro veces al año con mucha edificacion y

aprovechamiento de sus almas. es gente mui rendida y que totalmente na

dexado sus usos o abusos antiguos.” (p. 260).

Na Festa do Santo Inácio é que se evidenciaram as

características cristãs dos índios. Estes rezaram dia e noite, demonstrando

toda sua fé:

“recibieronnos com muestras de mucha alegria com cruz y procesion con muchos arcos triumphales, etc. dentro de 5 o 6 dia despues que llegamos vino la fiesta de N. S. Padre Ignacio la qual celebramos com mucha solemnidad porque uvo renovacion de votos[...] este dia finalmente baptizamos 50 niños y 3 adultos habiendo muy poços dias que los padres estuvieron en el y bautizaron [...] todos los dias no ha bien anochecido quando se oyen por todas partes alabanzas de Dios porque unos cantan la doctrina otros los cantares, otros otras cosas debotas q lês enseñamos. a la mañana no se comienza a tocar la campana de los ave-maria quando por todas partes se oyen oraciones e alabanzas de Dios”. (p. 147)

Para recepcionar o padre, os índios, já adeptos de costumes do

cristianismo elaboraram e participaram de uma procissão:

“llegue al Pueblo de Maracayu[...] Al Padre Melgarejo El qual me salio a reçebir al purto que estará cerca de uma legua del

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pueblo. Juntamente com todos los yndios del lugar. A la entrada del me salieron a recebir todos lós muchachos muchachas e yndios em forma de procession con Cruz catando la doctrina que fue para mi una vista de harto consuelo...”. (p. 145)

Os índios foram adaptando-se tanto aos costumes religiosos, que

agregaram em seus novos costumes o de confessar na quaresma, conforme

podemos ver no relato que segue:

“la cuaresma en la qual se volvieron todos a confessar todas las tardes. Se conto la letania de Nuestra Señora teniendo todos velas de cera en las manos. Todos los acudieron a la diciplina confesandose mui a menudo y note en todos uma mui particular luz que dios les daba en cosas mui menudas de sus conciençias, senal de la devocion que tienen a nuestra Señora...” (p. 294)

3.6. Os novos costumes cristãos dos índios

Diante de tudo o que fora ensinado aos índios, evidencia-se que alguns

deles realmente deixaram seus “maus costumes” para trás e deixaram as

práticas de canibalismo. É o que podemos ver na passagem que segue:

“... ha tomado esta gente las cosas de nuestra fee de manera que nos admiramos porque siendo gente tan cruel y guerrera comedora de carne humana y que tan en el coraçon tenian la vengança, agora son tan humildes y criativos y amadores de sus enemigos, que se hechan de ver bien en ellos los effectos de la graçia. hechose esto de ver en el trato y acogida que haçen estos yndios a los gualachos. eran estas dos naciones enamigos mortales matandose y captivandose perpetuamente de una parte y outra sin remedio alguno que para esto se pusiese. Pero agora despues que han recebido el Santo evangelio assi estos como aquellos ya no como enemigos capitales, pero como unos muy grandes amigos se tratan todos ellos...”. (p. 342)

Os índios adaptaram-se tão bem, que deixaram de andar nus, e

passaram a utilizar roupas: “los yndios andan vestidos en el pueblo, pero yendo

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a caçar van desnudos. Las yndias aun desde niñas andan vestidas, y ninguna

se vera sin vestido aun en sus casas, traen dos vestidos um faldelin..” (p. 346).

Os jesuítas, então, estavam conseguindo conquistar seus objetivos de

catequização dos índios, pois, como relata um daqueles padres, “...quando fui

a visitarles hice juntar en la ygleçia toda la gente y me console grandemente

ver lo que Nuestro Señor va obrando en estos pobres por medio de la

compañia...” (p. 346).

3.7. Considerações finais 3.7.1. Da catequização

Como os índios não sabiam ler nem escrever, como exposto no

primeiro capítulo, o letramento era de indiscutível importância para a

transmissão dos valores católicos e contra a disseminação das ideias

luteranas.

Quanto ao processo de catequização em si, algumas experiências

verificadas demonstraram a dificuldade em transmitir os valores europeus para

os índios adultos. Conforme relatado no primeiro capítulo, os jesuítas, então,

resolveram catequizar as crianças, as levando para lugares afastados dos

demais índios, para que não houvesse influência. Lá ensinavam os valores

cristãos e europeus. Quando as crianças retornassem ao convívio com os

demais índios, os jesuítas acreditavam que elas poderiam auxiliar na

conversão dos adultos.

Os missionários eram os únicos responsáveis pela transmissão da

educação formal, da catequização dos índios e da formação da elite colonial.

Além disso, eles também comercializavam produtos, construíam igrejas,

rezavam missas todas as manhãs, trabalhavam e cantavam, de acordo com as

cartas dos padres da Companhia de Jesus na obra Jesuítas e Bandeirantes no

Guairá (1549- 1640).

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Os jesuítas consideravam os índios um povo gentio, pois

desconheciam e, portanto, não acreditavam no Deus cristão, eram nômades,

canibais, andavam nus e eram poligâmicos. Os padres acreditavam que

precisavam salvar as almas deles e tentar aculturá-los, para isso criaram as

missões.

3.7.2. Da colonização

A colonização espanhola aconteceu com presença marcante da Igreja

Católica, que introduziu a religião que era predominante na região Ibérica, no

período colonial. Segundo consta no primeiro capítulo deste trabalho

evidenciou-se que neste período houve aproximação entre o Estado e a Igreja,

que possuíam os semelhantes interesses políticos e econômicos.

Segundo consta na primeira etapa deste trabalho, na chegada da

Companhia de Jesus ao Brasil, os índios tratavam aqueles missionários muito

bem, pois os davam proteção e fartura. Entretanto, os padres perceberam que

eles não eram um povo sem cultura, causando conflitos culturais nas missões,

o que levou, por vezes, à resistência indígena. A resistência que era vivenciada

foi superada quando índios moldaram-se aos costumes europeus, inclusive ao

processo de evangelização ao qual foram submetidos.

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CONCLUSÃO

Os relatos da atuação dos padres jesuítas na região do Guairá,

que nos séculos XVI e XVII pertencia à Coroa espanhola, mostram,

especialmente, o trabalho realizado junto aos índios.

Diante das informações expostas, pode-se observar que os

jesuítas eram os responsáveis pela instrução dos índios no cumprimento de

todo seu trabalho. Davam assistência acerca da educação cristã, que era

ensinada nas próprias escolas. A grande missão jesuítica era que o

cristianismo fosse instalado, divulgado e propagado.

No início das missões jesuíticas no Brasil, os índios eram

educados juntos aos colonos portugueses e, como eles se tornaram

vulneráveis ao domínio, tanto espiritual quando material, o contato com os

colonos gerava mais problemas do que soluções na visão daqueles padres.

O comportamento dos portugueses era reprovado pelos jesuítas à

medida que muitos índios eram aprisionados e muitas índias se tornavam suas

concubinas. As Reduções, no entanto, foram a maneira que aqueles padres

encontraram de trabalhar na catequização dos índios, separando-os dos

portugueses.

Nas cartas dos jesuítas espanhóis da região do Guairá

encontramos uma realidade diferente daquela descrita pelos jesuítas

portugueses, pois o contexto da evangelização era pautado na existência de

várias reduções indígenas ao longo dos rios do Paraná.

Em se tratando da conversão indígena por parte dos espanhóis,

evidencia-se que esta aconteceu de forma mais branda. Isso aconteceu devido

ao fato de que os jesuítas portugueses, quando estavam colonizando os índios,

enviavam cartas para Portugal descrevendo tudo o que acontecia. Como estas

cartas circulavam por toda a Europa, os espanhóis já podiam aprender através

da experiência portuguesa relatadas nessas cartas. Acredita-se, então, que os

espanhóis foram beneficiados e a conversão dos indígenas foi realizada de

maneira mais rápida e eficaz.

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Pudemos perceber, durante as pesquisas para desenvolver o presente

trabalho, que existem poucas pesquisas relativas à educação jesuítica na área

da Educação. O território de Guairá fazia parte dos domínios da Espanha, hoje

é o Estado do Paraná, deve-se aprofundar este estudo para que a história da

nossa região também seja propagada.

Os Jesuítas foram os primeiros a implantar uma escola elementar no

Novo Mundo e difundi-la por todo o continente. Ou seja, foram os primeiros a

desenvolver um trabalho pedagógico no Brasil, ocupando um lugar importante

na história da Pedagogia.

Mesmo que as metodologias encontradas não tenham a especificidade

almejada no início deste estudo, puderam providenciar importantes conclusões

acerca da educação dos jesuítas. Os europeus educavam-nos da forma cristã.

Como profissionais da educação, é de extrema importância conhecer

como era feito o processo de alfabetização, quais técnicas eram usadas, que

tipo de exercícios e atividades era utilizado para que os índios assimilassem o

conhecimento da língua e dos costumes europeus, como os jesuítas se

comportavam como professores e, também, suas demais atitudes pedagógicas

que foram identificadas nas cartas escritas por eles próprios.

Os desafios encontrados nesta era do conhecimento acarretam grandes

mudanças nos sistemas educacionais, e, portanto, deve-se transferir ao

educando os valores de ser parte integrante de um mundo muito melhor.

Este estudo é primordial para a formação em pedagogia, pois cabe a

todo pedagogo obter conhecimento aprofundado acerca de todo o processo

histórico, principalmente com enfoque direcionado à educação brasileira, para

que haja devida compreensão em face dos sistemas educacionais que são

hoje utilizados, e, dar seguimento à construção social.

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