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Influencia maericana
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VLAD SCHÜLER COSTA
AMERIKA NO MODANISUMU:
INFLUÊNCIA OCIDENTAL NO JAPÃO (1853-1937)
Trabalho apresentado à disciplina História do
Japão – Curso de História da Universidade
Federal do Espírito Santo – como requisito
para avaliação.
Orientadores: Profs. Altino Silveira Silva e
Edelson Geraldo Gonçalves
Vitória
2010
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INTRODUÇÃO
No início de seu clássico “O Crisântemo e a Espada”, Ruth Benedict ressalta
o fato de o Japão ser, como nenhum outro, um país de contradições. Uma dessas
contradições, afirma ela, é entre “um povo que se devota apaixonadamente à cultura
ocidental” e “seu ardoroso conservadorismo” (2009, p. 10). Ao se estudar o Japão,
percebe-se que tal afirmação, embora levemente tendenciosa, está quase
totalmente correta. O Japão é, de fato, um país marcado por fortes assimilacionismo
e nativismo culturais, ou, como diz Abe Yoshiya1, “fechamento e abertura ao mundo”
(1999, p. 134).
Este ensaio tem como foco justamente tal assimilacionismo que, como mostra
Osaki Hitoshi (1999), é parte da cultura japonesa desde seus primórdios,
especialmente a influência ocidental no Japão no intervalo entre 1853 – o evento da
“abertura dos portos” – e 1937 – início da Segunda Guerra Sino-Japonesa (que pode
ser considerada como o início da Segunda Guerra Mundial para o Japão).
É importante deixar claro que, apesar do título do ensaio dar abertura a uma
possível incerteza, trata-se aqui da influência do Ocidente (conhecido no Japão
como “Seiy ō”), e não somente dos Estados Unidos (“Amerika ”). Porém, como bem
disseram Ian Buruma e Avishai Margalit (2006, p. 10), há muito tempo a imponente
figura “Estados Unidos da América” é usada para personificar o elusivo termo
“Ocidente”.
Outro aspecto essencial é que o foco na assimilação de elementos ocidentais
por parte do Japão não é, de forma alguma, um reducionismo que afirmaria que oJapão é “pobre” culturalmente. A importação de elemen tos culturais estrangeiros é
uma parte tão importante de uma cultura quanto o é a produção de elementos
culturais locais.2 Além disso, a cultura japonesa é uma prolífica produtora de
elementos culturais “originais”, de tal forma que hoje ela destaca-se nesse campo.
1 O nome deste autor, e todos os outros nomes japoneses citados neste ensaio, segue a regra japonesa de colocação de nomes, ou seja, sobrenome antes do prenome.2 Cf. LÉVI-STRAUSS (1976).
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PRECEDENTES
O Japão tem uma interessante tradição como importador de cultura. Tal
tradição iniciou-se no século VII, com as delegações enviadas por Shōtoku Taishi à
Dinastia Zui da China, conhecidas como “Kenzui-Shi ”. Tais delegações diplomáticas
levavam, além dos membros do corpo diplomático, estudantes japoneses que
tinham por principal objetivo o estudo da cultura chinesa. Após o declínio da Dinastia
Zui, as missões continuaram a visitar a China (agora sob a Dinastia Tang), com o
nome “Kentō-Shi ”. Nessas missões, os estudantes japoneses muito aprenderam
sobre a China, e levaram tais conhecimentos ao Japão. Podem-se citar entre essesconhecimentos a própria escrita ideográfica (kanji ), conhecimentos arquitetônicos,
de construção civil, o sistema político, o chá e o Budismo (que foi introduzido no
Japão vindo tanto da China quanto da Coreia).
O primeiro contato do Japão com os europeus (então chamados de Nanban ,
“bárbaros do sul”)3 ocorre ,em 1543, com a chegada dos portugueses ao
arquipélago. Os dois maiores contatos dos portugueses com os japoneses foram
pela Companhia de Jesus e pelo comércio. Eles introduziram no Japão,
respectivamente, o cristianismo e as armas de fogo4 que foram cruciais na sua
história. As armas de fogo foram utilizadas por Oda Nobunaga, contra seus
adversários, fazendo com que ele subisse ao poder e iniciasse o processo de
unificação japonesa, que foi finalizado por Tokugawa Ieyasu.
Ieyasu, ao subir ao poder, recebeu o título de Shogun, e instituiu o Shogunato
Tokugawa, que durou cerca de 250 anos. Essa época ficou conhecida como Período
Edo. Com o decorrer do tempo, o número de cristãos (católicos) no Japão foi
aumentando, assim como a desconfiança do governo em relação a esses cristãos.
Além disso, havia boatos (provavelmente espalhados ou, no mínimo, incentivados
pelos protestantes ingleses e holandeses) de que os jesuítas serviriam como
“batedores” para a posterior invasão de portugueses e espanhóis ao Japão.
3 Com exceção dos holandeses, que eram chamados de Kōmō, “cabelo vermelho”.4 Os japoneses, para espanto dos europeus, aprenderam rapidamente a produzir armas de fogo, quereceberam durante muito tempo o nome de Tanegashima , que é o nome da primeira ilha visitadapelos portugueses, e o primeiro local de produção de espingardas japonesas.
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Tais temores não eram de todo infundados, pois, de acordo com Kenneth
Henshall, a perseguição aos cristãos era mais política do que religiosa (2008, p. 84).
O Deus Católico, como era uma existência absoluta, ameaçava a autoridade do
Shogun. Além disso, o Shogunato provavelmente estava a par da construção de
impérios pelos países católicos e também da existência de um Estado sob o domínio
completo da Igreja, o Vaticano. Sentindo-se ameaçado, portanto, o filho de Ieyasu,
Hidetada, expulsou os missionários cristãos5, e seu neto, Iemitsu, decretou que o
Japão não manteria mais nenhuma relação com os países estrangeiros.
A única exceção a essa regra eram os chineses e os coreanos, que eram
países próximos, e os holandeses, que puderam ficar na ilha artificial de Dejima, no
litoral de Nagasaki. Teve início, então, o sakoku jidai (“período do país fechado”).
Durante tal período, que se iniciou em 1635, qualquer navio estrangeiro (com a
exceção das nacionalidades citadas acima) que se aproximasse do Japão estava
sujeito a ser bombardeado, e era proibido, sob pena de morte, que os japoneses
viajassem ao exterior, ou que os que já estivessem em território estrangeiro
regressassem ao Japão. O sakoku pode ser considerado uma tentativa de isolar o
país para enfim concretizar a unificação iniciada por Ieyasu. Nesse ponto, pode-se
dizer que foi uma tentativa bem-sucedida.
BARCOS NEGROS
Pouco mais de 200 anos depois, o Japão estava em uma situação
complicada. O país atravessava uma crise devida à escassez de alimentos desde1833, e passava por um período de grandes reformas (embora, no geral, tais
reformas não tenham dado frutos) 6. Além disso, em 1843 chegaram a Edo as
notícias do Tratado de Nanquim 7. Parecia cada vez mais difícil manter uma política
5 A perseguição aos cristãos dentro do Japão levou à Rebelião de Shimabara, em 1638. Cristãoscontinuaram a ser banidos depois disso, mas somente chegaram a ser perseguidos em ocasiõesmais pontuais.6 Cf. BOLITHO (1997)7 O Tratado de Nanquim foi um dos maiores “tratados desiguais” assinados por um país asiático comuma potência europeia. Seus países signatários foram a China e a Grã-Bretanha. Esse tratado foifirmado ao fim da Primeira Guerra do Ópio, e instituía, entre outras coisas, a entrega da ilha de HongKong à Grã-Bretanha e o pagamento de uma pesada indenização.
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isolacionista com os exércitos ingleses a menos de mil quilômetros de distância,
tendo possíveis ambições para o Japão.
Para piorar a situação, o governo sabia que seu próprio exército, de cerca de500 mil samurais, estava, na melhor das hipóteses, despreparado. Não havia uma
grande batalha desde 1638, e os samurais eram mais funcionários treinados para
conduzir assuntos burocráticos do que soldados treinados para a guerra. Parecia
que a política do Regime Tokugawa de reduzir os exércitos para manter a paz
interna prejudicara a paz de espírito da nação.
No dia 8 de julho de 1853, porém, aconteceu o que o Japão mais temia.
Quatro fragatas a vapor pretas (posteriormente chamadas de kurofune , “navios
negros”), de nomes Mississipi , Plymouth , Saratoga e Susquehanna , comandadas
pelo Comodoro Matthew Calbraith Perry, invadiram a baía de Edo, com uma
importante missão: entregar ao Imperador japonês uma carta do Presidente
americano. Em linhas gerais, tal carta pedia ao Imperador que anulasse ou
suspendesse a lei que proibia o comércio com nações estrangeiras; permitisse que
navios e marinheiros americanos se refugiassem no Japão em caso de acidentes; e
permitisse que navios americanos se abastecessem em um porto japonês.8
Apesar do tom aparentemente cordial da carta, ficou claro para os japoneses
que eles estavam sendo, de fato, ameaçados. Perry entregou a carta para
representantes do Shogunato que se comprometeram a entrega-la ao Imperador. No
dia 17 de julho, portanto, os navios americanos partiram para a China, com o
compromisso de voltar no ano seguinte para saber a resposta japonesa (e, conforme
Perry, com a “esquadra completa”, já que ele fora ao Japão com os seus “quatro
menores navios”).
As autoridades japonesas obviamente entraram em desespero. Eles haviam
visto o poderio naval americano, e sabiam, por meio de seus aliados holandeses e
chineses, que a maior parte do que fora dito e mostrado não era blefe. E elas não
estavam certas de que seus samurais pudessem enfrentar os americanos. Quando
Perry voltou, em 11 de fevereiro de 1854, para sua surpresa encontrou oficiais
japoneses dispostos a concordar com as condições americanas - embora a baía de
Edo estivesse muito melhor preparada para uma batalha. Após um período de
8 O conteúdo completo da carta pode ser lido no Anexo I.
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negociações, em 31 de março, Perry, então Embaixador Especial dos Estados
Unidos, e quatro Comissários do Japão assinaram o Tratado de Kanagawa, que
instituía paz, amizade e ajuda mútua entre Estados Unidos e Japão.9 Perry, então,
deixou o Japão, talvez sem a consciência das consequências de tal tratado.10
CAI O PANO
Com o Tratado de Kanagawa, considerado desvantajoso pelos japoneses,
vieram mais problemas. Nos anos seguintes, chamados de bakumatsu 11, omomento político no Japão era de grande tensão. A Segunda Guerra do Ópio, junto
de uma série de tratados desiguais com potências europeias e o “Tratado de
Amizade e Comércio” assinado com os EUA em 1858 fizeram com que o Japão se
visse contra a parede. O Shogunato era cada vez mais visto como incapaz de
combater os “diabos estrangeiros”.
Houve então um período de guerra civil, com a participação ativa dos
domínios de Chōshū e Satsuma na oposição ao Shogunato. Tais domínios foram
bem-sucedidos em lutar contra o Shogunato Tokugawa, o que só fez aumentar seu
prestígio. Vários outros domínios, com medo de Chōshū e Satsuma chegarem ao
poder, se opuseram a eles. O Japão, então, se dividiu em duas facções: os que
apoiavam o Imperador e queriam tirar o poder do Shogun e os que eram a favor do
Shogunato.
No ano de 1867, aconteceu algo muito auspicioso: tanto o Shogun Tokugawa
Iemochi quanto o Imperador Kōmei foram substituídos. O novo Shogun, Tokugawa
Yoshinobu, até tentou dar um último respiro ao Shogunato, fazendo algumas
reformas (HENSHALL, op cit., p. 98), mas já era tarde. A facção de Chōshū e
Satsuma conseguiu obter uma ordem imperial determinando que o Shogunato fosse
abolido e, a 3 de janeiro de 1868, apoiada por essa ordem, ocupa o palácio imperial
9 O conteúdo completo do Tratado pode ser lido no Anexo II10 Para uma descrição detalhada da expedição de Perry, Cf. WALWORTH (2008)11 Ao pé da letra, significa “fim da tenda”. Porém, para se compreender o termo, deve-se entender oseguinte: o governo Tokugawa era conhecido como bakufu , que significa “governo da tenda”, umareferência ao fato do Shogun ser um comandante militar. Bakumatsu , portanto, significa “o Fim doGoverno Tokugawa”.
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e declara a “restauração imperial”, pondo o poder de volta, depois de mais de 250
anos, nas mãos de um jovem Imperador que seria conhecido como Meiji.
TÉCNICA OCIDENTAL, ESPÍRITO ORIENTAL
O lema que permeou a Restauração Meiji foi Sonno Jōi (“reponham o
Imperador, expulsem os bárbaros”). Com o imperador reposto e o Shogunato
abolido, restava expulsar os “diabos estrangeiros”. O fato, porém, é que desde o
bakumatsu havia dois tipos de governantes: aqueles que queriam se isolar do
mundo novamente e aqueles que queriam dominar as técnicas ocidentais para
transformar o Japão em um país competitivo.
Apesar de a Restauração Meiji ter sido um movimento conservador, os
governantes pós-bakumatsu resolveram que seria melhor abrir o país para o mundo.
É claro que tal decisão não foi completamente acatada, e essa estratégia (junto com
várias outras medidas impopulares) fez com que os primeiros dez anos da
Restauração fossem repletos de levantes e revoltas (BENEDICT, op. cit., p. 71).
O Japão, contudo, entrou em um caminho sem volta rumo à modernização
(que, na época, era sinônimo de ocidentalização). Os primeiros passos já haviam
sido dados, e bastava continuar a caminhada. Entre tais passos podemos citar as
rangaku , escolas holandesas existentes em Dejima desde o século XVII. Lá, vários
estudantes japoneses se dedicavam a estudar as novidades que vinham do
Ocidente (via Holanda), em variadas áreas como medicina, química, física e
engenharia.12 Além disso, o último Shogun, Yoshinobu, havia trazido militares
franceses para tentar renovar o exército, o que não deu muitos frutos.
Entre os estudiosos que influenciaram o rumo da Era Meiji estava um ex-
estudante de rangaku chamado Fukuzawa Yukichi. Fukuzawa se dedicava com
afinco aos estudos ocidentais, e era fluente em holandês. Certa feita, ainda durante
o bakumatsu , ele decidiu ir a Yokohama, o primeiro porto aberto ao Ocidente nas
proximidades de Tokyo (novo nome da até então chamada Edo). Ao andar pelas
12 Uma prova disso é que quando sábios japoneses subiram aos navios de Perry, eles rapidamenteentenderam o mecanismo de funcionamento de seus navios, de suas armas e de seus presentes.(WALWORTH, op. cit., p. 105)
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ruas, Fukuzawa percebeu que não conseguia ler nenhuma das línguas europeias
que via nem falar com os estrangeiros que lá se encontravam. Por fim, encontrou um
alemão, com quem conseguiu se comunicar por escrito, que lhe informou que as
línguas predominantes no Ocidente eram o inglês e o francês, e que poucos países
entendiam o holandês!
Fukuzawa, então, decidido a aprender mais sobre o Ocidente, começou a
aprender inglês, e deu início a algo muito interessante: assim como no passado o
Japão enviara delegações à China para aprender sobre a sua cultura, na Era Meiji
foram enviadas delegações a países europeus e aos Estados Unidos para aprender
suas técnicas. Tais delegações, após passar um tempo em tais países, voltavam ao
Japão (às vezes trazendo junto especialistas ocidentais) e lá aplicavam os
conhecimentos aprendidos, e eram o ideal aplicado de Wakon Yōsai (“Técnica
Ocidental, Espírito Japonês”), um dos lemas vigentes na época.
Um bom exemplo disso é a própria Constituição Imperial de 1889, que foi
constituída a partir de cuidadoso estudo das Constituições de outros países e cuja
criação foi influenciada por Herbert Spencer, importante filósofo e sociólogo inglês
da época.13
Merece destaque também a famosa “Missão Iwakura à Europa e aosEstados Unidos”. Iwakura Totomi era o Ministro da Direita, na época o segundo
cargo mais alto do Japão, e viajou à Europa e aos Estados Unidos para renegociar
os tratados desiguais que foram assinados durante o bakumatsu . A delegação era
constituída de metade dos membros de seu gabinete, e durou mais de um ano e
meio.
Embora não conseguisse revisar os tratados, essa missão foi extremamente
bem-sucedida no que era seu objetivo secundário: trazer mão-de-obra especializadapara o Japão. Entre vários exemplos, podemos citar William Smith Clark, fundador
da Escola de Agricultura de Sapporo, um cientista tão importante em sua área que
foi necessário que Iwakura negociasse pessoalmente com o Presidente Grant dos
Estados Unidos a permissão para Clark ir ao Japão.
A Missão Iwakura foi a mais famosa de tais delegações, mas não a única.
Diplomatas japoneses eram enviados para tentar contratar mais profissionais e
13 O Príncipe Ito, estruturador da Constituição, enviou o Marquês Kido à Inglaterra com o propósito deconsultar Spencer (BENEDICT, op. cit., p. 73)
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estudantes eram enviados para estudar em Universidades dos países que mais se
destacassem em suas áreas. Dessa forma o Japão aprendia engenharia, filosofia e
economia na Inglaterra; medicina, direito e conhecimentos militares na Alemanha;
agronomia e ciências nos Estados Unidos; e educação na França, entre outros. Isso
se configurou como um diferencial no rápido período de modernização do Japão,
que passou de um país agrário a uma potência industrializada em menos de 50
anos.
Importante consequência destas missões foi a adoção, pelos japoneses, de
tudo que viam e consideravam útil em outros países. Em virtude disso mudanças
estruturais importantes foram feitas, como a adoção do calendário gregoriano, a
criação de telégrafos, serviços postais e jornais “modernos”, e a expansão dos
transportes através de estradas-de-ferro, serviços de vapor e diligências. Além disso,
houve mudanças significativas na própria cultura dos japoneses da época, como a
adoção de construções, roupas, cortes de cabelo, culinária em modelos ocidentais e,
principalmente, a introdução de livros em vários idiomas ou traduzidos de várias
origens. Com esses livros (muitas vezes traduzidos literalmente, com livros
escolares mostrando heróis ocidentais), vieram pensamentos e ideias estrangeiras,
como igualitarismo e direitos individuais.
Isso não agradou muito aos governantes, que consideravam que a introdução
de valores ocidentais prejudicava valores tradicionais japoneses como a devoção
filial. O fato de que a população japonesa era uma das mais alfabetizadas do
mundo14 era mais preocupante ainda, pois facilitava a dispersão de ideias. Porém, o
governo Meiji encontrou uma boa solução para esse problema. O final do século XIX
era uma época em que os sentimentos nacionalistas dos países ocidentais estavamsurgindo (para não dizer “sendo criados”), e o Japão, então, para “combater” certas
ideias ocidentais que não lhe agradavam, adotou uma postura ocidental que lhe
agradava: o nacionalismo!
Tal patriotismo foi sem dúvida um caso de sucesso, pois criou (entre outras
coisas) aquilo que até hoje é considerado “a alma do Japão”: o Bushidō. Embora o
termo tenha sua origem no século XVIII, só mais de 100 anos depois, na Era Meiji,
que se tornou comum. Além da “criação” do Bushidō, o patriotismo adotou vários
14 Cf. KIDA (1999) a respeito da educação japonesa.
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símbolos nacionais, como a própria sakura (flor de cerejeira), e deu forças novas à
“religião primitiva” do Japão, o shintō (também conhecido como xintoísmo).15
O Governo Meiji estava, portanto, seguindo à risca o lema “oitsuke, oikose ” (“alcança, ultrapassa”). O Japão se tornava uma nação cada vez mais importante no
cenário mundial, à frente de muitas nações ocidentais. E isso fez com que seus
anseios imperialistas ficassem fortes. Afinal, todas as potências da época tinham
influência sobre várias colônias, e os japoneses queriam se inserir nesse jogo.
Desde 1873 havia um interesse por uma invasão da Coreia, mas o governo preferiu
focar seus esforços em modernizar o país. Com esse objetivo conquistado, as
atenções se voltaram para o arquipélago vizinho e para a China, que também tinha
interesses na Coreia.
No início de 1894, os exércitos do Japão e da China foram enviados à Coreia
para dominar uma rebelião conduzida por uma seita religiosa. Quando a rebelião foi
dominada, ambos se recusaram a retirar as tropas, e em julho começaram as
hostilidades entre eles. No dia 1 de agosto foi oficialmente declarada a Primeira
Guerra Sino-Japonesa. O Japão, que tinha táticas militares prussianas e táticas
navais britânicas (além de equipamento de ponta, produzido nas indústrias japonesas com tecnologia ocidental), mostrou-se superior à China em todos os
aspectos, ganhando a guerra em fevereiro de 1895.
Com a derrota na guerra, a China foi obrigada a pagar uma enorme
indenização, desistir de seus interesses na Coreia e ceder territórios ao Japão,
incluindo Formosa e a península de Liaodong, no Sul da Manchúria. Porém, com
essa vitória, o Japão começou a despertar as atenções das potências ocidentais, em
particular a Rússia, que tinha ambições quanto à Coreia e a Manchúria.
A Rússia convenceu a Alemanha e a França a se juntarem a ela na
Intervenção Tripartida e convencer o Japão a desistir dessa península, pois, caso
contrário, haveria instabilidade nessa região. O Japão, desejoso de manter a boa
vontade e o respeito das outras potências, concordou. Só que em 1898 essas
mesmas três potências dividiram entre si partes da China, e o Japão indignou-se
principalmente com a Rússia, que obteve a mesma península que fora obrigado a
ceder.
15 Para saber mais sobre o shintō como criação do patriotismo, Cf. OMENA; SILVA (2008).
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As tensões entre a Rússia e o Japão foram gradualmente crescendo,
especialmente com a Revolta dos Boxers na China, para onde vários países,
incluindo Japão e Rússia, enviaram tropas. Ao final da revolta, porém, a Rússia se
recusou a retirar suas tropas (para consternação das outras nações, especialmente
o Japão). O Japão, porém, não se acomodou com a situação. Primeiramente tentou
conseguir um acordo com a Rússia de que os interesses japoneses na Coreia
seriam respeitados, assim como os interesses russos na Manchúria. Os russos,
porém, não concordaram.
Os governantes japoneses seguiram, então, outro caminho: assegurar-se de
que nenhuma outra potência ficaria ao lado da Rússia na futura guerra. Essa
segurança foi conseguida na Aliança Nipo-Britânica de 1902, e o caminho para a
guerra se começava a se concretizar. Em 6 de fevereiro de 1904 o Japão cortou
relações diplomáticas com a Rússia e atacou seus navios em Port Arthur (principal
interesse na península de Liaodong). No dia 10, foi oficialmente declarada guerra. O
Japão tomou a iniciativa e teve uma série de vitórias. Dominou Liaodong e tomou
Mukden, a capital da Manchúria, mas isso não decidiu a guerra, e em março, ambos
os lados haviam perdido cerca de 70000 homens, e tinham dificuldades em
prosseguir.
A Rússia estava em desvantagem porque enfrentava uma revolução interna
(a “Revolução de 1905”), e teve de mandar chamar sua frota no Báltico. A Inglaterra,
que era neutra na batalha, se recusou a dar passagem aos navios russos pelo canal
de Suez, o que só piorou a situação russa, que precisou fazer um longo desvio. No
final de maio, quando a frota estava na etapa final da viagem (ia fazer uma breve
parada em Vladivostok), foi interceptada e destruída pela Frota Japonesa Conjuntanos Estreitos de Tsushima. Com essa vitória decisiva nas mãos, o Japão pediu
secretamente ao Presidente americano Roosevelt para agir como mediador para o
fim da guerra, papel que ele desempenhou com sucesso.
Em setembro de 1905 a Guerra Russo-Japonesa terminava com a Rússia
devolvendo a soberania da Manchúria à China (embora somente nominalmente),
reconhecendo os interesses japoneses na Coreia e dando ao Japão o arrendamento
russo de Liaodong e grande parte da estrada-de-ferro do sul da Manchúria,
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construída pela Rússia. Além disso, recebeu da Rússia parte da ilha de Karafuto,
que fica a norte de Hokkaido e que continuou sob sua possessão até 1945.
O Japão havia, com isso, levado a cabo mais um de seus lemas, o fukokukyohei (“país rico, exército forte”), e ao derrotar uma potência ocidental, finalmente
era visto como um igual. Em 1910 o Japão anexa a Coreia, e parecia que seu
projeto colonialista havia enfim se completado. Apesar de alguns problemas
internos, o Japão estava muito mais próximo do seu “devido lugar”.
No dia 30 de julho de 1912, porém, o Imperador morre de diabetes. Há uma
comoção geral no país, pois o “mito patriótico” afirmava que ele era diretamente
responsável por tudo de bom que havia ocorrido na nação. Vários críticos semanifestaram, mas no geral era mais uma crítica à ocidentalização e à “perda da
tradição” do que um ataque à figura do Imperador. Após a sua morte, o Imperador
Mutsuhito recebeu um nome que se adequava às suas realizações e a um lema
(outra coisa em que foi rico o seu reinado) que era comum à época, bunmei kaika ,
(“civilização e iluminismo”). O nome que lhe foi dado e que ficou para a posteridade
foi justamente Meiji, ou “Poder Iluminado”.
O BREVE SÉCULO XX
Após a morte do Imperador Meiji, quem assumiu o trono foi seu filho
Yoshihito, que ficou conhecido como Taishō, “Grande Integridade”. Tal nome,
curiosamente, se adequou perfeitamente a um aspecto de seu curto reinado. O
Japão, após devorar vorazmente a cultura ocidental, estava digerindo-a, mantendo o
que era bom e eliminando o que não era.
Isso incluía certos aspectos das relações exteriores, que começaram a se
deteriorar. O Japão não era mais ignorado pelas outras potências, mas estava longe
de ter o prestígio desejado. Apesar de estar no lado vencedor da I Guerra Mundial
(como aliado dos britânicos), e inclusive ter conseguido para si vários territórios
chineses e germânicos na Ásia, o Japão sentia na boca o amargo gosto dadesconfiança mútua entre ele e as potências ocidentais.
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Um exemplo disso é o fato de, apesar de ter voto equivalente ao das outras
potencias vencedoras no Tratado de Versalhes, o Japão não teve o que considerava
como respeito à sua posição na Conferência de Washington. Lá, o Japão foi
obrigado a concordar com um limite de três navios de primeira linha para cada cinco
da América e da Grã-Bretanha. Era uma posição melhor que a França ou a Itália
(1,75 cada), mas ainda era aquém das expectativas japonesas.
Provavelmente o maior golpe que o Japão sofreu nas relações exteriores foi
na Liga das Nações. À época, o preconceito racial e a ideia de eugenia eram
largamente difundidos pelo mundo, inclusive na Liga das Nações. O Japão, membro-
fundador da Liga, lutou para inserir em sua Carta uma norma de igual tratamento
racial, mas, devido principalmente ao lobby da Austrália (que temia um
fortalecimento japonês mais que qualquer outra nação “ocidental”), tal norma não foi
aprovada, e o Japão teve de se contentar em ser considerado um país de raça
inferior.16 Além disso, os próprios Estados Unidos acabaram, em 1924, por proibir a
imigração japonesa, junto com várias outras leis de exclusão baseadas em raça que
surgiram na época. 17
“O Japão estava a receber a mensagem de que, afinal, não iria ser tratado como umigual. Era respeitado pelas suas realizações e aceite na comunidade mundial como
grande potência, mas nunca seria aceite realmente como igual, porque,
simplesmente, seu povo não era branco. Poderia fazer as coisas ao estilo ocidental
para todo o sempre, mas nunca seria uma verdadeira nação branca. Então, porque
razão haveria de se preocupar mais? Algumas das coisas dos ocidentais ainda eram
úteis para fazer do Japão uma grande nação e mantê-la como tal, num mundo
dominado por eles. Mas saber se essa coisa pouco confortável chamada democracia
pertencia a esse grupo era outra questão.” (HENSHALL, op. cit., p. 155-6)
Em 1926, o Imperador Taishō falecera. Porém, como ele era uma pessoa
muito doente, seu filho Hirohito era regente desde 1921. Portanto, ao assumir o
trono, com apenas 25 anos, ele já não era um rapaz inexperiente (além disso, já
havia feito várias viagens ao exterior). E, para seu infortúnio, seu governo (que
recebeu o nome Shōwa, “Paz Ilustre”) foi marcado desde o princípio por crises.
16 É importante notar, contudo, que o Japão só trazia à tona a ideia de igualdade racial em relação às
nações brancas. Era grande o preconceito que havia contra várias nações asiáticas, consideradas de“raça impura” pelos japoneses.17 Esse é um dos motivos para que o Brasil seja o país com maior comunidade nipo-descendente domundo. Com as portas do Estados Unidos fechadas, vários japoneses vieram para cá.
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Naquele momento o Japão atravessava uma crise política, que às vezes se
abrandava e às vezes se intensificava. O principal problema dessa crise era a
disputa de poder entre vários membros influentes dos mais diversos escalões do
governo. Contudo, vários outros problemas ocorriam, incluindo crises financeiras,
além da Crise de 29, prejudicando principalmente o campo.
Um dos bodes expiatórios desse momento de crise foi justamente a
ocidentalização da sociedade. Os “diabos estrangeiros” haviam introduzido na
sociedade japonesa males como as instituições parlamentares, os grandes
negócios, o individualismo e o estilo de vida urbano relativamente liberal. Nas
cidades, os jovens procuravam se comportar como suas contrapartes ocidentais, e
eram chamados de mobo e moga (versões japonesas dos termos modern boy e
modern girl ) 18. Em compensação, a ascensão do fascismo na Alemanha e na Itália
era, quem sabe, um sinal de que um governo menos democrático e mais autoritário
poderia ser mais eficaz, e de que algumas nações ocidentais finalmente haviam
percebido isso.
A insatisfação do exército com a situação foi aumentando, e o governo tinha
dificuldades em conter seus impulsos expansionistas até que, em setembro de 1931,ocorreu o Incidente da Manchúria. Membros do Exército explodiram parte de uma
estrada-de-ferro perto de Mukden, e acusaram os Chineses. O Exército japonês,
tendo uma “justificativa legítima”, portanto, invadiu completamente a região da
Manchúria e instalou em seu lugar a República de Manchukuo, um estado-fantoche
sob o domínio japonês.
A Liga das Nações, porém, não fez vista grossa em relação ao Incidente na
Manchúria. Uma comissão foi enviada à Manchúria no início de 1932 para investigar,e, com base em seu relatório, a Liga condenou as ações japonesas. Em fevereiro de
1933, o Japão, insatisfeito com a situação, abandonou a Liga.
O Japão havia sido um dos primeiros países a se recuperar da Crise de 29, e
via sua economia crescer rapidamente. Porém, via também o cerco que as
potências ocidentais faziam sobre as suas intenções expansionistas. Qualquer
movimento que fizessem no tabuleiro político na Ásia era imediatamente criticado
pelas outras potências. E ficou muito popular na época o argumento (extremamente
18 Para uma análise do papel social da moga , Cf. SILVERBERG (2009)
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tendencioso) de que existiam somente três vias para a pressão do aumento
populacional: a emigração, a penetração nos mercados mundiais e a expansão
territorial. Como os países ocidentais dificultavam a emigração japonesa e
praticavam o protecionismo alfandegário, a única saída seria a busca por “espaço
vital”.
O Japão, portanto, desistiu de agradar às potências ocidentais. Inspirado no
modelo germânico, expulsou (por meio de leis criadas com essa intenção) várias
empresas de seu país e decidiu se expandir militarmente de qualquer modo. Para
tanto, depois de analisar que a União Soviética era o seu inimigo mais perigoso no
momento (principalmente por medo das intenções soviéticas na Ásia), assinou com
a Alemanha o Pacto Anti-comintern (ao qual posteriormente se juntou a Itália),
contra o inimigo em comum, os soviéticos.
Esse pacto foi considerado pelo Japão como uma carta branca para atacar a
China, pois assim ficava protegido da retaliação soviética. Em 7 de julho de 1937,
tropas japonesas legalmente estacionadas perto de Pequim alegaram ter sido alvo
de disparos por parte dos chineses, dando início a um conflito local. Dentro de um
mês, embora nunca tenha havido uma declaração formal de guerra, foi deflagrada aguerra total, conhecida como Segunda Guerra Sino-Japonesa. Com o tempo, já
durante a II Guerra Mundial, a guerra se alastrou para outros locais no Leste
Asiático, iniciando o que ficou conhecido como “A Guerra do Pacífico”.
CONCLUSÃO
Ao longo deste ensaio vimos que a história do Japão não pode ser explicada
somente por fatores internos ao Japão. A cultura japonesa é extremamente
sincrética, o que fez com que fossem absorvidos todos os elementos considerados
interessantes para o país, amalgamados com características da cultura japonesa e
posteriormente transformados em características próprias do Japão. Isso pode ser
observado até os dias de hoje, com os eletrônicos japoneses, suas histórias em
quadrinhos e muito da sua cultura sendo trazida para o Ocidente como produtos
exclusivamente “made in Japan”.
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Além do fato da cultura japonesa ser sincrética, ela é “maleável”. Ou seja, em
certos aspectos, os japoneses não são muito arraigados. Eles fazem o que
consideram melhor para si, mesmo que tenham que contradizer o que defendiam
pouco tempo atrás. Prova disso são as “expedições ao ocidente” apenas alguns
anos depois de haverem sido ameaçados pelo Comodoro Perry. Ou o fato de, como
nos diz Ruth Benedict, não haver retaliação aos soldados americanos quando
desembarcaram no Japão. Esse desapego pode ser uma influência do Zen-
Budismo. Ou não. Mais interessante que isso, porém, é o fato de que, com
proximidade o suficiente, consegue-se perceber que não há tantas diferenças entre
as diferentes sociedades. Tudo pelo que os japoneses passaram, e tudo o que eles
fizeram, poderia ter acontecido com qualquer outro povo. E quem sabe se tal povonão teria exatamente o mesmo destino?
Afinal, não custa imaginar se, caso os japoneses pressionassem a Costa
Oeste e os alemães pressionassem a Costa Leste, os soldados americanos não
fariam “atos de fanatismo patriótico” tão “absurdos” e “desumanos” quanto ataques
kamikaze.
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REFERÊNCIAS
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nikkeis). Tokyo: JICA, 1999, p. 134-146 (edição bilíngue, em português e japonês).
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BOLITHO, Harold. The Tempō Crisis. In: JANSEN, Marius B. The Emergence of
Meiji Japan. Nova York: Cambridge University Press, 1997, p. 1-52.
BURUMA, Ian; MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo: O Ocidente aos olhos de seus
inimigos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 7-17, 53-75.
CHESNEAUX, Jean. A Ásia Oriental nos Séculos XIX e XX. São Paulo: Pioneira,
1976, p. 19-53.
HENSHALL, Kenneth. História do Japão. Lisboa: Edições 70, 2008 p. 77-280
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Japonesa (proferidas em cursos para os bolsistas nikkeis). Tokyo: JICA, 1999, p. 8-
22 (edição bilíngue, em português e japonês).
LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: Os Pensadores. n. L. São Paulo: Abril
Cultural, 1976, p. 51-93.
OSAKI Hitoshi. Revelando Originalidade após Assimilação Completa da Cultura
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OMENA, Luciane Munhoz de; SILVA, Altino Silveira. O Estado Meiji e a religião
shintô. In: Revista Nures. n 9. maio/set 2008. Disponível em:
<http://www.pucsp.br/revistanures/revista9/nures9_omena.pdf>. Acesso em: 24 nov.2010.
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sobre a Cultura Japonesa (proferidas em cursos para os bolsistas nikkeis). Tokyo:
JICA, 1999, p. 24-33 (edição bilíngue, em português e japonês).
SILVERBERG, Miriam. The Modern Girl as Militant (Movement on the Streets). In:
______. Erotic Grotesque Nonsense: The Mass Culture of Japanese Modern
Times. Berkeley: UC Press, 2009, p. 51-72.
WALWORTH, Arthur. Black Ships Off Japan – The Story of Commodore Perry’s
Expedition. Dublin: Read Books, 2008, p. 70-167. Disponível em:
<http://books.google.com.br/books?id=bFyV2BZMCRwC&printsec=frontcover&sourc
e=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 24 nov. 2010.
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ANEXOS
Anexo I – Carta do Presidente Millard Fillmore ao Imperador do Japão
Disponível em: <http://web.jjay.cuny.edu/~jobrien/reference/ob54.html> (em inglês).
Acesso em 24 nov. 2010. Tradução nossa.
“GRANDE E BOM AMIGO: Eu lhe envio essa carta pública pelo ComodoroMatthew C. Perry, um oficial do mais alto posto na marinha dos Estados
Unidos, e comandante da esquadra que agora visita os domínios de Sua
Majestade Imperial.
Eu direcionei o Comodoro Perry a assegurar a Sua Majestade Imperial que eu
possuo os mais gentis sentimentos pela pessoa de sua majestade e seu
governo, e que não tenho outro objetivo em manda-lo para o Japão senão
para propor a Sua Majestade Imperial que os Estados Unidos e o Japão
deveriam viver em amizade e ter relações comerciais um com o outro.
A Constituição e as leis dos Estados Unidos proíbem qualquer interferência
em assuntos religiosos ou políticos de outras nações. Eu encarreguei o
Comodoro Perry de particularmente se abster de qualquer ato que
possivelmente pudesse perturbar a tranquilidade dos domínios de Sua
Majestade Imperial.
Os Estados Unidos da América alcançam de oceano a oceano, e nosso
Território de Oregon e Estado da Califórnia ficam diretamente em frente aos
domínios de Sua Majestade Imperial. Nossos navios a vapor podem ir da
Califórnia ao Japão em dezoito dias.
Nosso grande Estado da Califórnia produz cerca de sessenta milhões de
dólares de ouro todo ano, além de prata, mercúrio, pedras preciosas, e muitosoutros artigos valiosos. O Japão é também um país rico e fértil, e produz
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muitos artigos valiosos. Os súditos de Sua Majestade Imperial são hábeis em
muitas artes. Eu sou desejoso de que nossos dois países deveriam negociar
um com o outro, para benefício mútuo do Japão e dos Estados Unidos.
Nós sabemos que antigas leis do governo de Sua Majestade Imperial não
permitem comércio com estrangeiros, à exceção dos Chineses e Holandeses;
mas como o estado do mundo muda e novos governos são formados, parece
sábio, de tempos em tempos, fazer novas leis. Houve um tempo em que as
antigas leis do governo de Sua Majestade Imperial foram criadas.
Naquela mesma época a América, que é às vezes chamada de Novo Mundo,
foi descoberta e habitada pelos europeus. Por muito tempo eram poucas
pessoas, e eram pobres. Eles agora são bastante numerosos; seu comércio é
muito extenso; e eles pensam que se Sua Majestade Imperial fosse tão longe
a ponto de mudar as antigas leis para permitir livre comércio entre os dois
países seria extremamente benéfico para ambos.
Se Sua Majestade Imperial não está satisfeito de que seria de todo seguro
revogar as antigas leis que proíbem comércio estrangeiro, elas podem sersuspensas por cinco ou dez anos, de modo a tentar a experiência. Se não se
provar tão benéfico quanto esperado, as antigas leis podem ser restauradas.
Os Estados Unidos frequentemente limitam seus tratados com Estados
estrangeiros para alguns anos, e então os renovam ou não, como lhes
convém.
Eu instruí o Comodoro Perry a mencionar outra coisa a Sua Majestade
Imperial. Muitos de nossos navios passam todo ano da Califórnia à China; e
um grande número de nosso povo pratica a pesca baleeira perto da costa
japonesa. Às vezes acontece, com o mau tempo, que um de nossos barcos
naufraga no litoral de Sua Majestade Imperial. Em tais casos nós pedimos, e
esperamos, que nossos desafortunados cidadãos sejam tratados com
benevolência, e que suas propriedades sejam protegidas, até que nós
possamos enviar uma embarcação e trazê-los de volta. Levamos esse
assunto muito a sério.
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O Comodoro Perry também foi direcionado por mim a informar a Sua
Majestade Imperial que nós sabemos que há uma grande abundância de
carvão e provisões no Império de Japão. Nossos navios a vapor, ao cruzar o
grande oceano, queimam uma grande quantia de carvão, e não conveniente
trazê-lo todo da América. Nós desejamos que nossos navios a vapor e outras
embarcações sejam permitidos a parar no Japão e se suprir de carvão,
provisões, e água. Eles pagarão por isso em dinheiro, ou qualquer outra coisa
que os súditos de Sua Majestade Imperial possam preferir; e nós pedimos
que Sua Majestade Imperial aponte um porto conveniente, no Sul do Império,
aonde nossas embarcações possam parar com esse propósito. Nós estamos
muito desejosos disso.
Esses são os únicos objetivos pelos quais eu envio o Comodoro Perry, com
uma poderosa esquadra, para fazer uma visita à renomada cidade de Sua
Majestade Imperial de Edo: amizade, comércio, um suprimento de carvão e
provisões, e proteção para nossos náufragos.
Nós instruímos o Comodoro Perry a implorar que Sua Majestade Imperial
aceite alguns presentes. Eles não têm grande valor por si só; mas alguns
deles podem servir como exemplares dos artigos manufaturados nos Estados
Unidos, e consideramo-los como sinais da nossa sincera e respeitosa
amizade.
Que o Todo-Poderoso tenha Sua Majestade Imperial em Seu grande e
sagrado cuidado!
Como testemunha disso, eu fiz com que o grande selo dos Estados Unidos
fosse abaixo afixado, e assinei o meu próprio nome, na cidade de
Washington, na América, a sede do meu governo, no décimo terceiro dia do
mês de Novembro, no ano de um mil oitocentos e cinquenta e dois.”
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Anexo II – Tratado entre os Estados Unidos da América e o Império do Japão
Disponível em: <http://web.jjay.cuny.edu/~jobrien/reference/ob25.html> e<http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/treaty_of_kanagawa/ > (em
inglês). Acesso em 24 nov. 2010. Tradução nossa.
OS ESTADOS UNIDOS da América e o Império do Japão, desejando
estabelecer uma firme, duradoura e sincera amizade entre as duas nações,
resolveram fixar, de maneira clara e positiva, por meio de um tratado ouconvenção geral de paz e amizade, as regras que futuramente deverão ser
mutuamente observadas na relação de seus respectivos países; para esse
desejável objetivo o Presidente dos Estados Unidos conferiu plenos poderes a
seu Comissário, Matthew Calbraith Perry, Embaixador Especial dos Estados
Unidos no Japão, e o Augusto Soberano do Japão deu poderes similares a
seus Comissários, Hayashi, Dai-gaku-no-kami ; Ido, Príncipe de Tsus-sima;
Izawa, Príncipe de Mimasaki; e Udono, Membro do Conselho de
Rendimentos. E tais Comissários, após terem trocado os seus ditos poderes
plenos, e devidamente consideradas as premissas, concordaram com os
seguintes artigos:
ARTIGO I.
Deverá haver uma perfeita, permanente e universal paz, e uma sincera e
cordial amizade entre os Estados Unidos da América de um lado, e o Império
do Japão do outro lado, e entre seus respectivos povos, sem exceção de
pessoas ou lugares.
ARTIGO II.
O porto de Simoda [na baía de Edo], no principado de Idzu, e o porto de
Hakodade, no principado de Matsmai [Hokkaido], são garantidos pelos
Japoneses como portos para a recepção de navios Americanos, aonde eles
podem ser supridos com madeira, água, provisões, e carvão, e outros artigos
que suas necessidades possam requerer, contanto que os Japoneses os
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tenham. O tempo para a abertura do primeiro é imediatamente após a
assinatura deste tratado; o último deverá ser aberto imediatamente após o
mesmo dia no subsequente ano Japonês.
NOTA. Uma tarifa de preços deve ser dada pelos oficiais Japoneses das
coisas que eles podem fornecer, cujo pagamento deverá ser feito em moedas
de ouro e prata.
ARTIGO III.
Sempre que navios dos Estados Unidos naufragarem ou forem jogados contra
a costa do Japão, as embarcações Japonesas os ajudarão, e carregarão suas
tripulações para Simoda, ou Hakodade, e os entregarão a seus conterrâneos,
designados para recebê-los; quaisquer artigos que os náufragos possam ter
devem ser restaurados, e as despesas que possam incorrer do resgate e
apoio a Americanos e Japoneses que possam ser jogados na costa de ambas
as nações não serão reembolsadas.
ARTIGO IV.
Os referidos náufragos e outros cidadãos dos Estados Unidos deverão ser
livres como em outros países, e não são sujeitos a confinamento, mas são
passíveis a leis justas.
ARTIGO V.
Náufragos e outros cidadãos dos Estados Unidos, temporariamente vivendo
em Simoda e Hakodade, não deverão ser sujeitos a restrições e
confinamentos como os Holandeses e os Chineses são em Nagasaki, masdeverão ser livres em Simoda de ir aonde desejarem dentro do limite de sete
milhas Japonesas (Ri) [aproximadamente 27,5 Km] de uma pequena ilha na
baía de Simoda marcada no gráfico que acompanha a presente decisão; e
deverão ser igualmente livres de ir aonde desejarem em Hakodade, dentro de
limites a ser definidos após a visita da esquadra Americana a tal lugar.
ARTIGO VI.
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Se existir qualquer tipo de bens desejados, ou negócios que precisam ser
arranjados, deverá haver cuidadosa deliberação entre as partes em ordem de
resolver tais assuntos.
ARTIGO VII.
Está acordado que aos navios dos Estados Unidos que recorram aos portos
abertos deve ser permitido trocar moedas de ouro e de prata e mercadorias
por outras mercadorias, dentro de regulamentos que deverão ser
temporariamente estabelecidos pelo Governo Japonês para tal propósito. É
estipulado, entretanto, que aos navios dos Estados Unidos deve ser permitido
levar quaisquer artigos que eles não estejam dispostos a trocar.
ARTIGO VIII.
Madeira, água, provisões, carvão, e bens necessários, deverão ser adquiridos
através da atividade de oficiais Japoneses apontados para tal propósito, e em
nenhuma outra maneira.
ARTIGO IX.
Está acordado que se em qualquer dia futuro o Governo Japonês garantir a
qualquer outra nação ou nações privilégios e vantagens que não estão aqui
garantidas para os Estados Unidos e seus cidadãos, tais privilégios e
vantagens deverão ser igualmente garantidos aos Estados Unidos e seus
cidadãos, sem qualquer consulta ou atraso.
ARTIGO X.
Navios dos Estados Unidos não poderão recorrer a outros portos no Japão
que não Simoda e Hakodade, exceto em caso de problemas ou se forçados
pelo mau tempo.
ARTIGO XI.
Deverão ser apontados, pelo Governo dos Estados Unidos, Cônsules ou
Agentes para residir em Simoda, a qualquer momento após a expiração de
dezoito meses da data da assinatura deste tratado, desde que qualquer um
dos dois Governos julgue necessário.
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ARTIGO XII.
A presente convenção sendo concluída e devidamente assinada, será
obrigatória e fielmente observada pelos Estados Unidos da América e Japão,e pelos cidadãos e súditos de respectivos Poderes; e deverá ser ratificada e
aprovada pelo Presidente dos Estados Unidos, por e com conselhos e
consentimento de seu respectivo Senado, e pelo Augusto Soberano do
Japão, e a ratificação deverá ser trocada dentro de dezoito meses a partir da
data desta assinatura, ou antes se possível.
É com fé que nós, os respectivos e referidos Plenipotenciários dos Estados
Unidos da América e do Império do Japão, assinamos e selamos estas.
Feito em Kanagawa, neste trigésimo primeiro dia de Março, no ano de Nosso
Senhor Jesus Cristo um mil oitocentos e cinquenta e quatro.