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 VLAD SCHÜLER COSTA AMERIKA NO MODANISUMU:  INFLUÊNCIA OCIDENTAL NO JAPÃO (1853-1937) Trabalho apresentado à disciplina História do Japão   Curso de História da Universidade Federal do Espírito Santo   como requisito para avaliação. Orientadores: Profs. Altino Silveira Silva e Edelson Geraldo Gonçalves Vitória 2010

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VLAD SCHÜLER COSTA

AMERIKA NO MODANISUMU:  

INFLUÊNCIA OCIDENTAL NO JAPÃO (1853-1937)

Trabalho apresentado à disciplina História do

Japão  –  Curso de História da Universidade

Federal do Espírito Santo  –  como requisito

para avaliação.

Orientadores: Profs. Altino Silveira Silva e

Edelson Geraldo Gonçalves

Vitória

2010

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INTRODUÇÃO

No início de seu clássico “O Crisântemo e a Espada”, Ruth Benedict ressalta

o fato de o Japão ser, como nenhum outro, um país de contradições. Uma dessas

contradições, afirma ela, é entre “um povo que se devota apaixonadamente à cultura

ocidental” e “seu ardoroso conservadorismo” (2009, p. 10). Ao se estudar o Japão,

percebe-se que tal afirmação, embora levemente tendenciosa, está quase

totalmente correta. O Japão é, de fato, um país marcado por fortes assimilacionismo

e nativismo culturais, ou, como diz Abe Yoshiya1, “fechamento e abertura ao mundo”

(1999, p. 134).

Este ensaio tem como foco justamente tal assimilacionismo que, como mostra

Osaki Hitoshi (1999), é parte da cultura japonesa desde seus primórdios,

especialmente a influência ocidental no Japão no intervalo entre 1853 – o evento da

“abertura dos portos” – e 1937 – início da Segunda Guerra Sino-Japonesa (que pode

ser considerada como o início da Segunda Guerra Mundial para o Japão).

É importante deixar claro que, apesar do título do ensaio dar abertura a uma

possível incerteza, trata-se aqui da influência do Ocidente (conhecido no Japão

como “Seiy ō”), e não somente dos Estados Unidos (“Amerika ”). Porém, como bem

disseram Ian Buruma e Avishai Margalit (2006, p. 10), há muito tempo a imponente

figura “Estados Unidos da América” é usada para personificar o elusivo termo

“Ocidente”. 

Outro aspecto essencial é que o foco na assimilação de elementos ocidentais

por parte do Japão não é, de forma alguma, um reducionismo que afirmaria que oJapão é “pobre” culturalmente. A importação de elemen tos culturais estrangeiros é

uma parte tão importante de uma cultura quanto o é a produção de elementos

culturais locais.2  Além disso, a cultura japonesa é uma prolífica produtora de

elementos culturais “originais”, de tal forma que hoje ela destaca-se nesse campo.

1 O nome deste autor, e todos os outros nomes japoneses citados neste ensaio, segue a regra japonesa de colocação de nomes, ou seja, sobrenome antes do prenome.2 Cf. LÉVI-STRAUSS (1976).

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PRECEDENTES 

O Japão tem uma interessante tradição como importador de cultura. Tal

tradição iniciou-se no século VII, com as delegações enviadas por Shōtoku Taishi à

Dinastia Zui da China, conhecidas como “Kenzui-Shi ”. Tais delegações diplomáticas

levavam, além dos membros do corpo diplomático, estudantes japoneses que

tinham por principal objetivo o estudo da cultura chinesa. Após o declínio da Dinastia

Zui, as missões continuaram a visitar a China (agora sob a Dinastia Tang), com o

nome “Kentō-Shi ”. Nessas missões, os estudantes japoneses muito aprenderam

sobre a China, e levaram tais conhecimentos ao Japão. Podem-se citar entre essesconhecimentos a própria escrita ideográfica (kanji ), conhecimentos arquitetônicos,

de construção civil, o sistema político, o chá e o Budismo (que foi introduzido no

Japão vindo tanto da China quanto da Coreia).

O primeiro contato do Japão com os europeus (então chamados de Nanban ,

“bárbaros do sul”)3  ocorre ,em 1543, com a chegada dos portugueses ao

arquipélago. Os dois maiores contatos dos portugueses com os japoneses foram

pela Companhia de Jesus e pelo comércio. Eles introduziram no Japão,

respectivamente, o cristianismo e as armas de fogo4  que foram cruciais na sua

história. As armas de fogo foram utilizadas por Oda Nobunaga, contra seus

adversários, fazendo com que ele subisse ao poder e iniciasse o processo de

unificação japonesa, que foi finalizado por Tokugawa Ieyasu.

Ieyasu, ao subir ao poder, recebeu o título de Shogun, e instituiu o Shogunato

Tokugawa, que durou cerca de 250 anos. Essa época ficou conhecida como Período

Edo. Com o decorrer do tempo, o número de cristãos (católicos) no Japão foi

aumentando, assim como a desconfiança do governo em relação a esses cristãos.

Além disso, havia boatos (provavelmente espalhados ou, no mínimo, incentivados

pelos protestantes ingleses e holandeses) de que os jesuítas serviriam como

“batedores” para a posterior invasão de portugueses e espanhóis ao Japão.

3 Com exceção dos holandeses, que eram chamados de Kōmō, “cabelo vermelho”.4 Os japoneses, para espanto dos europeus, aprenderam rapidamente a produzir armas de fogo, quereceberam durante muito tempo o nome de Tanegashima , que é o nome da primeira ilha visitadapelos portugueses, e o primeiro local de produção de espingardas japonesas.

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Tais temores não eram de todo infundados, pois, de acordo com Kenneth

Henshall, a perseguição aos cristãos era mais política do que religiosa (2008, p. 84).

O Deus Católico, como era uma existência absoluta, ameaçava a autoridade do

Shogun. Além disso, o Shogunato provavelmente estava a par da construção de

impérios pelos países católicos e também da existência de um Estado sob o domínio

completo da Igreja, o Vaticano. Sentindo-se ameaçado, portanto, o filho de Ieyasu,

Hidetada, expulsou os missionários cristãos5, e seu neto, Iemitsu, decretou que o

Japão não manteria mais nenhuma relação com os países estrangeiros.

A única exceção a essa regra eram os chineses e os coreanos, que eram

países próximos, e os holandeses, que puderam ficar na ilha artificial de Dejima, no

litoral de Nagasaki. Teve início, então, o sakoku jidai   (“período do país fechado”).

Durante tal período, que se iniciou em 1635, qualquer navio estrangeiro (com a

exceção das nacionalidades citadas acima) que se aproximasse do Japão estava

sujeito a ser bombardeado, e era proibido, sob pena de morte, que os japoneses

viajassem ao exterior, ou que os que já estivessem em território estrangeiro

regressassem ao Japão. O sakoku  pode ser considerado uma tentativa de isolar o

país para enfim concretizar a unificação iniciada por Ieyasu. Nesse ponto, pode-se

dizer que foi uma tentativa bem-sucedida.

BARCOS NEGROS

Pouco mais de 200 anos depois, o Japão estava em uma situação

complicada. O país atravessava uma crise devida à escassez de alimentos desde1833, e passava por um período de grandes reformas (embora, no geral, tais

reformas não tenham dado frutos) 6. Além disso, em 1843 chegaram a Edo as

notícias do Tratado de Nanquim 7. Parecia cada vez mais difícil manter uma política

5 A perseguição aos cristãos dentro do Japão levou à Rebelião de Shimabara, em 1638. Cristãoscontinuaram a ser banidos depois disso, mas somente chegaram a ser perseguidos em ocasiõesmais pontuais.6 Cf. BOLITHO (1997)7 O Tratado de Nanquim foi um dos maiores “tratados desiguais” assinados por um país asiático comuma potência europeia. Seus países signatários foram a China e a Grã-Bretanha. Esse tratado foifirmado ao fim da Primeira Guerra do Ópio, e instituía, entre outras coisas, a entrega da ilha de HongKong à Grã-Bretanha e o pagamento de uma pesada indenização.

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isolacionista com os exércitos ingleses a menos de mil quilômetros de distância,

tendo possíveis ambições para o Japão.

Para piorar a situação, o governo sabia que seu próprio exército, de cerca de500 mil samurais, estava, na melhor das hipóteses, despreparado. Não havia uma

grande batalha desde 1638, e os samurais eram mais funcionários treinados para

conduzir assuntos burocráticos do que soldados treinados para a guerra. Parecia

que a política do Regime Tokugawa de reduzir os exércitos para manter a paz

interna prejudicara a paz de espírito da nação.

No dia 8 de julho de 1853, porém, aconteceu o que o Japão mais temia.

Quatro fragatas a vapor pretas (posteriormente chamadas de kurofune , “navios

negros”), de nomes Mississipi ,  Plymouth ,  Saratoga e  Susquehanna , comandadas

pelo Comodoro Matthew Calbraith Perry, invadiram a baía de Edo, com uma

importante missão: entregar ao Imperador japonês uma carta do Presidente

americano. Em linhas gerais, tal carta pedia ao Imperador que anulasse ou

suspendesse a lei que proibia o comércio com nações estrangeiras; permitisse que

navios e marinheiros americanos se refugiassem no Japão em caso de acidentes; e

permitisse que navios americanos se abastecessem em um porto japonês.8

 

Apesar do tom aparentemente cordial da carta, ficou claro para os japoneses

que eles estavam sendo, de fato, ameaçados. Perry entregou a carta para

representantes do Shogunato que se comprometeram a entrega-la ao Imperador. No

dia 17 de julho, portanto, os navios americanos partiram para a China, com o

compromisso de voltar no ano seguinte para saber a resposta japonesa (e, conforme

Perry, com a “esquadra completa”, já que ele fora ao Japão com  os seus “quatro

menores navios”). 

As autoridades japonesas obviamente entraram em desespero. Eles haviam

visto o poderio naval americano, e sabiam, por meio de seus aliados holandeses e

chineses, que a maior parte do que fora dito e mostrado não era blefe. E elas não

estavam certas de que seus samurais pudessem enfrentar os americanos. Quando

Perry voltou, em 11 de fevereiro de 1854, para sua surpresa encontrou oficiais

 japoneses dispostos a concordar com as condições americanas - embora a baía de

Edo estivesse muito melhor preparada para uma batalha. Após um período de

8 O conteúdo completo da carta pode ser lido no Anexo I.

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negociações, em 31 de março, Perry, então Embaixador Especial dos Estados

Unidos, e quatro Comissários do Japão assinaram o Tratado de Kanagawa, que

instituía paz, amizade e ajuda mútua entre Estados Unidos e Japão.9 Perry, então,

deixou o Japão, talvez sem a consciência das consequências de tal tratado.10 

CAI O PANO

Com o Tratado de Kanagawa, considerado desvantajoso pelos japoneses,

vieram mais problemas. Nos anos seguintes, chamados de bakumatsu 11, omomento político no Japão era de grande tensão. A Segunda Guerra do Ópio, junto

de uma série de tratados desiguais com potências europeias e o “Tratado de

 Amizade e Comércio” assinado com os EUA em 1858 fizeram com que o Japão se

visse contra a parede. O Shogunato era cada vez mais visto como incapaz de

combater os “diabos estrangeiros”. 

Houve então um período de guerra civil, com a participação ativa dos

domínios de Chōshū e Satsuma na oposição ao Shogunato. Tais domínios foram

bem-sucedidos em lutar contra o Shogunato Tokugawa, o que só fez aumentar seu

prestígio. Vários outros domínios, com medo de Chōshū e Satsuma chegarem ao

poder, se opuseram a eles. O Japão, então, se dividiu em duas facções: os que

apoiavam o Imperador e queriam tirar o poder do Shogun e os que eram a favor do

Shogunato.

No ano de 1867, aconteceu algo muito auspicioso: tanto o Shogun Tokugawa

Iemochi quanto o Imperador Kōmei foram substituídos. O novo Shogun, Tokugawa

Yoshinobu, até tentou dar um último respiro ao Shogunato, fazendo algumas

reformas (HENSHALL, op cit., p. 98), mas já era tarde. A facção de Chōshū e

Satsuma conseguiu obter uma ordem imperial determinando que o Shogunato fosse

abolido e, a 3 de janeiro de 1868, apoiada por essa ordem, ocupa o palácio imperial

9 O conteúdo completo do Tratado pode ser lido no Anexo II10 Para uma descrição detalhada da expedição de Perry, Cf. WALWORTH (2008)11 Ao pé da letra, significa “fim da tenda”. Porém, para se compreender o termo, deve-se entender oseguinte: o governo Tokugawa era conhecido como bakufu , que significa “governo da tenda”, umareferência ao fato do Shogun ser um comandante militar. Bakumatsu , portanto, significa “o Fim doGoverno Tokugawa”. 

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e declara a “restauração imperial”, pondo o poder de volta, depois de mais de 250

anos, nas mãos de um jovem Imperador que seria conhecido como Meiji.

TÉCNICA OCIDENTAL, ESPÍRITO ORIENTAL

O lema que permeou a Restauração Meiji foi Sonno Jōi   (“reponham o

Imperador, expulsem os bárbaros”). Com o imperador reposto e o Shogunato

abolido, restava expulsar os “diabos estrangeiros”. O fato, porém, é que desde o

bakumatsu   havia dois tipos de governantes: aqueles que queriam se isolar do

mundo novamente e aqueles que queriam dominar as técnicas ocidentais para

transformar o Japão em um país competitivo.

Apesar de a Restauração Meiji ter sido um movimento conservador, os

governantes pós-bakumatsu  resolveram que seria melhor abrir o país para o mundo.

É claro que tal decisão não foi completamente acatada, e essa estratégia (junto com

várias outras medidas impopulares) fez com que os primeiros dez anos da

Restauração fossem repletos de levantes e revoltas (BENEDICT, op. cit., p. 71).

O Japão, contudo, entrou em um caminho sem volta rumo à modernização

(que, na época, era sinônimo de ocidentalização). Os primeiros passos já haviam

sido dados, e bastava continuar a caminhada. Entre tais passos podemos citar as

rangaku , escolas holandesas existentes em Dejima desde o século XVII. Lá, vários

estudantes japoneses se dedicavam a estudar as novidades que vinham do

Ocidente (via Holanda), em variadas áreas como medicina, química, física e

engenharia.12  Além disso, o último Shogun, Yoshinobu, havia trazido militares

franceses para tentar renovar o exército, o que não deu muitos frutos.

Entre os estudiosos que influenciaram o rumo da Era Meiji estava um ex-

estudante de rangaku   chamado Fukuzawa Yukichi. Fukuzawa se dedicava com

afinco aos estudos ocidentais, e era fluente em holandês. Certa feita, ainda durante

o bakumatsu , ele decidiu ir a Yokohama, o primeiro porto aberto ao Ocidente nas

proximidades de Tokyo (novo nome da até então chamada Edo). Ao andar pelas

12 Uma prova disso é que quando sábios japoneses subiram aos navios de Perry, eles rapidamenteentenderam o mecanismo de funcionamento de seus navios, de suas armas e de seus presentes.(WALWORTH, op. cit., p. 105)

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ruas, Fukuzawa percebeu que não conseguia ler nenhuma das línguas europeias

que via nem falar com os estrangeiros que lá se encontravam. Por fim, encontrou um

alemão, com quem conseguiu se comunicar por escrito, que lhe informou que as

línguas predominantes no Ocidente eram o inglês e o francês, e que poucos países

entendiam o holandês!

Fukuzawa, então, decidido a aprender mais sobre o Ocidente, começou a

aprender inglês, e deu início a algo muito interessante: assim como no passado o

Japão enviara delegações à China para aprender sobre a sua cultura, na Era Meiji

foram enviadas delegações a países europeus e aos Estados Unidos para aprender

suas técnicas. Tais delegações, após passar um tempo em tais países, voltavam ao

Japão (às vezes trazendo junto especialistas ocidentais) e lá aplicavam os

conhecimentos aprendidos, e eram o ideal aplicado de Wakon Yōsai   (“Técnica

Ocidental, Espírito Japonês”), um dos lemas vigentes na época. 

Um bom exemplo disso é a própria Constituição Imperial de 1889, que foi

constituída a partir de cuidadoso estudo das Constituições de outros países e cuja

criação foi influenciada por Herbert Spencer, importante filósofo e sociólogo inglês

da época.13

 Merece destaque também a famosa “Missão Iwakura à Europa e aosEstados Unidos”. Iwakura Totomi  era o Ministro da Direita, na época o segundo

cargo mais alto do Japão, e viajou à Europa e aos Estados Unidos para renegociar

os tratados desiguais que foram assinados durante o bakumatsu . A delegação era

constituída de metade dos membros de seu gabinete, e durou mais de um ano e

meio.

Embora não conseguisse revisar os tratados, essa missão foi extremamente

bem-sucedida no que era seu objetivo secundário: trazer mão-de-obra especializadapara o Japão. Entre vários exemplos, podemos citar William Smith Clark, fundador

da Escola de Agricultura de Sapporo, um cientista tão importante em sua área que

foi necessário que Iwakura negociasse pessoalmente com o Presidente Grant dos

Estados Unidos a permissão para Clark ir ao Japão.

A Missão Iwakura foi a mais famosa de tais delegações, mas não a única.

Diplomatas japoneses eram enviados para tentar contratar mais profissionais e

13 O Príncipe Ito, estruturador da Constituição, enviou o Marquês Kido à Inglaterra com o propósito deconsultar Spencer (BENEDICT, op. cit., p. 73)

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estudantes eram enviados para estudar em Universidades dos países que mais se

destacassem em suas áreas. Dessa forma o Japão aprendia engenharia, filosofia e

economia na Inglaterra; medicina, direito e conhecimentos militares na Alemanha;

agronomia e ciências nos Estados Unidos; e educação na França, entre outros. Isso

se configurou como um diferencial no rápido período de modernização do Japão,

que passou de um país agrário a uma potência industrializada em menos de 50

anos.

Importante consequência destas missões foi a adoção, pelos japoneses, de

tudo que viam e consideravam útil em outros países. Em virtude disso mudanças

estruturais importantes foram feitas, como a adoção do calendário gregoriano, a

criação de telégrafos, serviços postais e  jornais “modernos”, e a expansão dos

transportes através de estradas-de-ferro, serviços de vapor e diligências. Além disso,

houve mudanças significativas na própria cultura dos japoneses da época, como a

adoção de construções, roupas, cortes de cabelo, culinária em modelos ocidentais e,

principalmente, a introdução de livros em vários idiomas ou traduzidos de várias

origens. Com esses livros (muitas vezes traduzidos literalmente, com livros

escolares mostrando heróis ocidentais), vieram pensamentos e ideias estrangeiras,

como igualitarismo e direitos individuais.

Isso não agradou muito aos governantes, que consideravam que a introdução

de valores ocidentais prejudicava valores tradicionais japoneses como a devoção

filial. O fato de que a população japonesa era uma das mais alfabetizadas do

mundo14 era mais preocupante ainda, pois facilitava a dispersão de ideias. Porém, o

governo Meiji encontrou uma boa solução para esse problema. O final do século XIX

era uma época em que os sentimentos nacionalistas dos países ocidentais estavamsurgindo (para não dizer “sendo criados”), e o Japão, então, para “combater” certas

ideias ocidentais que não lhe agradavam, adotou uma postura ocidental que lhe

agradava: o nacionalismo!

Tal patriotismo foi sem dúvida um caso de sucesso, pois criou (entre outras

coisas) aquilo que até hoje é considerado “a alma do Japão”: o Bushidō. Embora o

termo tenha sua origem no século XVIII, só mais de 100 anos depois, na Era Meiji,

que se tornou comum. Além da “criação” do Bushidō, o patriotismo adotou vários

14 Cf. KIDA (1999) a respeito da educação japonesa.

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símbolos nacionais, como a própria sakura  (flor de cerejeira), e deu forças novas à

“religião primitiva” do Japão, o shintō (também conhecido como xintoísmo).15 

O Governo Meiji estava, portanto, seguindo à risca o lema “oitsuke, oikose ” (“alcança, ultrapassa”). O Japão se tornava uma nação cada vez mais importante no

cenário mundial, à frente de muitas nações ocidentais. E isso fez com que seus

anseios imperialistas ficassem fortes. Afinal, todas as potências da época tinham

influência sobre várias colônias, e os japoneses queriam se inserir nesse jogo.

Desde 1873 havia um interesse por uma invasão da Coreia, mas o governo preferiu

focar seus esforços em modernizar o país. Com esse objetivo conquistado, as

atenções se voltaram para o arquipélago vizinho e para a China, que também tinha

interesses na Coreia.

No início de 1894, os exércitos do Japão e da China foram enviados à Coreia

para dominar uma rebelião conduzida por uma seita religiosa. Quando a rebelião foi

dominada, ambos se recusaram a retirar as tropas, e em julho começaram as

hostilidades entre eles. No dia 1 de agosto foi oficialmente declarada a Primeira

Guerra Sino-Japonesa. O Japão, que tinha táticas militares prussianas e táticas

navais britânicas (além de equipamento de ponta, produzido nas indústrias japonesas com tecnologia ocidental), mostrou-se superior à China em todos os

aspectos, ganhando a guerra em fevereiro de 1895.

Com a derrota na guerra, a China foi obrigada a pagar uma enorme

indenização, desistir de seus interesses na Coreia e ceder territórios ao Japão,

incluindo Formosa e a península de Liaodong, no Sul da Manchúria. Porém, com

essa vitória, o Japão começou a despertar as atenções das potências ocidentais, em

particular a Rússia, que tinha ambições quanto à Coreia e a Manchúria.

A Rússia convenceu a Alemanha e a França a se juntarem a ela na

Intervenção Tripartida e convencer o Japão a desistir dessa península, pois, caso

contrário, haveria instabilidade nessa região. O Japão, desejoso de manter a boa

vontade e o respeito das outras potências, concordou. Só que em 1898 essas

mesmas três potências dividiram entre si partes da China, e o Japão indignou-se

principalmente com a Rússia, que obteve a mesma península que fora obrigado a

ceder.

15  Para saber mais sobre o shintō como criação do patriotismo, Cf. OMENA; SILVA (2008).

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  As tensões entre a Rússia e o Japão foram gradualmente crescendo,

especialmente com a Revolta dos Boxers na China, para onde vários países,

incluindo Japão e Rússia, enviaram tropas. Ao final da revolta, porém, a Rússia se

recusou a retirar suas tropas (para consternação das outras nações, especialmente

o Japão). O Japão, porém, não se acomodou com a situação. Primeiramente tentou

conseguir um acordo com a Rússia de que os interesses japoneses na Coreia

seriam respeitados, assim como os interesses russos na Manchúria. Os russos,

porém, não concordaram.

Os governantes japoneses seguiram, então, outro caminho: assegurar-se de

que nenhuma outra potência ficaria ao lado da Rússia na futura guerra. Essa

segurança foi conseguida na Aliança Nipo-Britânica de 1902, e o caminho para a

guerra se começava a se concretizar. Em 6 de fevereiro de 1904 o Japão cortou

relações diplomáticas com a Rússia e atacou seus navios em Port Arthur (principal

interesse na península de Liaodong). No dia 10, foi oficialmente declarada guerra. O

Japão tomou a iniciativa e teve uma série de vitórias. Dominou Liaodong e tomou

Mukden, a capital da Manchúria, mas isso não decidiu a guerra, e em março, ambos

os lados haviam perdido cerca de 70000 homens, e tinham dificuldades em

prosseguir.

A Rússia estava em desvantagem porque enfrentava uma revolução interna

(a “Revolução de 1905”), e teve de mandar chamar sua frota no Báltico. A Inglaterra,

que era neutra na batalha, se recusou a dar passagem aos navios russos pelo canal

de Suez, o que só piorou a situação russa, que precisou fazer um longo desvio. No

final de maio, quando a frota estava na etapa final da viagem (ia fazer uma breve

parada em Vladivostok), foi interceptada e destruída pela Frota Japonesa Conjuntanos Estreitos de Tsushima. Com essa vitória decisiva nas mãos, o Japão pediu

secretamente ao Presidente americano Roosevelt para agir como mediador para o

fim da guerra, papel que ele desempenhou com sucesso.

Em setembro de 1905 a Guerra Russo-Japonesa terminava com a Rússia

devolvendo a soberania da Manchúria à China (embora somente nominalmente),

reconhecendo os interesses japoneses na Coreia e dando ao Japão o arrendamento

russo de Liaodong e grande parte da estrada-de-ferro do sul da Manchúria,

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construída pela Rússia. Além disso, recebeu da Rússia parte da ilha de Karafuto, 

que fica a norte de Hokkaido e que continuou sob sua possessão até 1945.

O Japão havia, com isso, levado a cabo mais um de seus lemas, o fukokukyohei  (“país rico, exército forte”), e ao derrotar uma potência ocidental, finalmente

era visto como um igual. Em 1910 o Japão anexa a Coreia, e parecia que seu

projeto colonialista havia enfim se completado. Apesar de alguns problemas

internos, o Japão estava muito mais próximo do seu “devido lugar”. 

No dia 30 de julho de 1912, porém, o Imperador morre de diabetes. Há uma

comoção geral no país, pois o “mito patriótico” afirmava que  ele era diretamente

responsável por tudo de bom que havia ocorrido na nação. Vários críticos semanifestaram, mas no geral era mais uma crítica à ocidentalização e à “perda da

tradição” do que um ataque à figura do Imperador. Após a sua morte, o Imperador

Mutsuhito recebeu um nome que se adequava às suas realizações e a um lema

(outra coisa em que foi rico o seu reinado) que era comum à época, bunmei kaika ,

(“civilização e iluminismo”). O nome que lhe foi dado e que ficou para a posteridade

foi justamente Meiji, ou “Poder Iluminado”. 

O BREVE SÉCULO XX

Após a morte do Imperador Meiji, quem assumiu o trono foi seu filho

Yoshihito, que ficou conhecido como Taishō, “Grande Integridade”. Tal nome,

curiosamente, se adequou perfeitamente a um aspecto de seu curto reinado. O

Japão, após devorar vorazmente a cultura ocidental, estava digerindo-a, mantendo o

que era bom e eliminando o que não era.

Isso incluía certos aspectos das relações exteriores, que começaram a se

deteriorar. O Japão não era mais ignorado pelas outras potências, mas estava longe

de ter o prestígio desejado. Apesar de estar no lado vencedor da I Guerra Mundial

(como aliado dos britânicos), e inclusive ter conseguido para si vários territórios

chineses e germânicos na Ásia, o Japão sentia na boca o amargo gosto dadesconfiança mútua entre ele e as potências ocidentais.

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  Um exemplo disso é o fato de, apesar de ter voto equivalente ao das outras

potencias vencedoras no Tratado de Versalhes, o Japão não teve o que considerava

como respeito à sua posição na Conferência de Washington. Lá, o Japão foi

obrigado a concordar com um limite de três navios de primeira linha para cada cinco

da América e da Grã-Bretanha. Era uma posição melhor que a França ou a Itália

(1,75 cada), mas ainda era aquém das expectativas japonesas.

Provavelmente o maior golpe que o Japão sofreu nas relações exteriores foi

na Liga das Nações. À época, o preconceito racial e a ideia de eugenia eram

largamente difundidos pelo mundo, inclusive na Liga das Nações. O Japão, membro-

fundador da Liga, lutou para inserir em sua Carta uma norma de igual tratamento

racial, mas, devido principalmente ao lobby da Austrália (que temia um

fortalecimento japonês mais que qualquer outra nação “ocidental”), tal norma não foi

aprovada, e o Japão teve de se contentar em ser considerado um país de raça

inferior.16 Além disso, os próprios Estados Unidos acabaram, em 1924, por proibir a

imigração japonesa, junto com várias outras leis de exclusão baseadas em raça que

surgiram na época. 17 

“O Japão estava a receber a mensagem de que, afinal, não iria ser tratado como umigual. Era respeitado pelas suas realizações e aceite na comunidade mundial como

grande potência, mas nunca seria aceite realmente como igual, porque,

simplesmente, seu povo não era branco. Poderia fazer as coisas ao estilo ocidental

para todo o sempre, mas nunca seria uma verdadeira nação branca. Então, porque

razão haveria de se preocupar mais? Algumas das coisas dos ocidentais ainda eram

úteis para fazer do Japão uma grande nação e mantê-la como tal, num mundo

dominado por eles. Mas saber se essa coisa pouco confortável chamada democracia

pertencia a esse grupo era outra questão.” (HENSHALL, op. cit., p. 155-6)

Em 1926, o Imperador Taishō falecera. Porém, como ele era uma pessoa

muito doente, seu filho Hirohito era regente desde 1921. Portanto, ao assumir o

trono, com apenas 25 anos, ele já não era um rapaz inexperiente (além disso, já

havia feito várias viagens ao exterior). E, para seu infortúnio, seu governo (que

recebeu o nome Shōwa, “Paz Ilustre”) foi marcado desde o princípio por crises.

16 É importante notar, contudo, que o Japão só trazia à tona a ideia de igualdade racial em relação às

nações brancas. Era grande o preconceito que havia contra várias nações asiáticas, consideradas de“raça impura” pelos japoneses.17 Esse é um dos motivos para que o Brasil seja o país com maior comunidade nipo-descendente domundo. Com as portas do Estados Unidos fechadas, vários japoneses vieram para cá.

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  Naquele momento o Japão atravessava uma crise política, que às vezes se

abrandava e às vezes se intensificava. O principal problema dessa crise era a

disputa de poder entre vários membros influentes dos mais diversos escalões do

governo. Contudo, vários outros problemas ocorriam, incluindo crises financeiras,

além da Crise de 29, prejudicando principalmente o campo.

Um dos bodes expiatórios desse momento de crise foi justamente a

ocidentalização da sociedade. Os “diabos estrangeiros” haviam introduzido na

sociedade japonesa males como as instituições parlamentares, os grandes

negócios, o individualismo e o estilo de vida urbano relativamente liberal. Nas

cidades, os jovens procuravam se comportar como suas contrapartes ocidentais, e

eram chamados de mobo e moga   (versões japonesas dos termos modern boy e

modern girl ) 18. Em compensação, a ascensão do fascismo na Alemanha e na Itália

era, quem sabe, um sinal de que um governo menos democrático e mais autoritário

poderia ser mais eficaz, e de que algumas nações ocidentais finalmente haviam

percebido isso.

A insatisfação do exército com a situação foi aumentando, e o governo tinha

dificuldades em conter seus impulsos expansionistas até que, em setembro de 1931,ocorreu o Incidente da Manchúria. Membros do Exército explodiram parte de uma

estrada-de-ferro perto de Mukden, e acusaram os Chineses. O Exército japonês,

tendo uma “justificativa legítima”, portanto, invadiu completamente a região da

Manchúria e instalou em seu lugar a República de Manchukuo, um estado-fantoche

sob o domínio japonês.

A Liga das Nações, porém, não fez vista grossa em relação ao Incidente na

Manchúria. Uma comissão foi enviada à Manchúria no início de 1932 para investigar,e, com base em seu relatório, a Liga condenou as ações japonesas. Em fevereiro de

1933, o Japão, insatisfeito com a situação, abandonou a Liga.

O Japão havia sido um dos primeiros países a se recuperar da Crise de 29, e

via sua economia crescer rapidamente. Porém, via também o cerco que as

potências ocidentais faziam sobre as suas intenções expansionistas. Qualquer

movimento que fizessem no tabuleiro político na Ásia era imediatamente criticado

pelas outras potências. E ficou muito popular na época o argumento (extremamente

18 Para uma análise do papel social da moga , Cf. SILVERBERG (2009)

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tendencioso) de que existiam somente três vias para a pressão do aumento

populacional: a emigração, a penetração nos mercados mundiais e a expansão

territorial. Como os países ocidentais dificultavam a emigração japonesa e

praticavam o protecionismo alfandegário, a única saída seria a busca por “espaço

vital”. 

O Japão, portanto, desistiu de agradar às potências ocidentais. Inspirado no

modelo germânico, expulsou (por meio de leis criadas com essa intenção) várias

empresas de seu país e decidiu se expandir militarmente de qualquer modo. Para

tanto, depois de analisar que a União Soviética era o seu inimigo mais perigoso no

momento (principalmente por medo das intenções soviéticas na Ásia), assinou com

a Alemanha o Pacto Anti-comintern (ao qual posteriormente se juntou a Itália),

contra o inimigo em comum, os soviéticos.

Esse pacto foi considerado pelo Japão como uma carta branca para atacar a

China, pois assim ficava protegido da retaliação soviética. Em 7 de julho de 1937,

tropas japonesas legalmente estacionadas perto de Pequim alegaram ter sido alvo

de disparos por parte dos chineses, dando início a um conflito local. Dentro de um

mês, embora nunca tenha havido uma declaração formal de guerra, foi deflagrada aguerra total, conhecida como Segunda Guerra Sino-Japonesa. Com o tempo, já

durante a II Guerra Mundial, a guerra se alastrou para outros locais no Leste

 Asiático, iniciando o que ficou conhecido como “A Guerra do Pacífico”. 

CONCLUSÃO

Ao longo deste ensaio vimos que a história do Japão não pode ser explicada

somente por fatores internos ao Japão. A cultura japonesa é extremamente

sincrética, o que fez com que fossem absorvidos todos os elementos considerados

interessantes para o país, amalgamados com características da cultura japonesa e

posteriormente transformados em características próprias do Japão. Isso pode ser

observado até os dias de hoje, com os eletrônicos japoneses, suas histórias em

quadrinhos e muito da sua cultura sendo trazida para o Ocidente como produtos

exclusivamente “made in Japan”. 

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   Além do fato da cultura japonesa ser sincrética, ela é “maleável”. Ou seja, em

certos aspectos, os japoneses não são muito arraigados. Eles fazem o que

consideram melhor para si, mesmo que tenham que contradizer o que defendiam

pouco tempo atrás. Prova disso são as “expedições ao ocidente” apenas alguns

anos depois de haverem sido ameaçados pelo Comodoro Perry. Ou o fato de, como

nos diz Ruth Benedict, não haver retaliação aos soldados americanos quando

desembarcaram no Japão. Esse desapego pode ser uma influência do Zen-

Budismo. Ou não. Mais interessante que isso, porém, é o fato de que, com

proximidade o suficiente, consegue-se perceber que não há tantas diferenças entre

as diferentes sociedades. Tudo pelo que os japoneses passaram, e tudo o que eles

fizeram, poderia ter acontecido com qualquer outro povo. E quem sabe se tal povonão teria exatamente o mesmo destino?

Afinal, não custa imaginar se, caso os japoneses pressionassem a Costa

Oeste e os alemães pressionassem a Costa Leste, os soldados americanos não

fariam “atos de fanatismo patriótico” tão “absurdos” e “desumanos” quanto ataques

kamikaze.

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REFERÊNCIAS

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Significado Histórico-Cultural dos Mitos, Fechamento e Abertura dos Portos. In:  

Palestras sobre a Cultura Japonesa  (proferidas em cursos para os bolsistas

nikkeis). Tokyo: JICA, 1999, p. 134-146 (edição bilíngue, em português e japonês).

BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada. São Paulo: Perspectiva, 2009, 264 p.

BOLITHO, Harold. The Tempō Crisis. In: JANSEN, Marius B. The Emergence of

Meiji Japan. Nova York: Cambridge University Press, 1997, p. 1-52.

BURUMA, Ian; MARGALIT, Avishai. Ocidentalismo: O Ocidente aos olhos de seus

inimigos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 7-17, 53-75.

CHESNEAUX, Jean. A Ásia Oriental nos Séculos XIX e XX. São Paulo: Pioneira,

1976, p. 19-53.

HENSHALL, Kenneth. História do Japão. Lisboa: Edições 70, 2008 p. 77-280

KIDA Hiroshi. Características da Educação Japonesa. In: Palestras sobre a Cultura

Japonesa (proferidas em cursos para os bolsistas nikkeis). Tokyo: JICA, 1999, p. 8-

22 (edição bilíngue, em português e japonês).

LÉVI-STRAUSS, Claude. Raça e História. In: Os Pensadores. n. L. São Paulo: Abril

Cultural, 1976, p. 51-93.

OSAKI Hitoshi. Revelando Originalidade após Assimilação Completa da Cultura

Estrangeira. In: Palestras sobre a Cultura Japonesa (proferidas em cursos para os

bolsistas nikkeis). Tokyo: JICA, 1999, p. 102-118 (edição bilíngue, em português e

 japonês).

OMENA, Luciane Munhoz de; SILVA, Altino Silveira. O Estado Meiji e a religião

shintô. In: Revista Nures. n 9. maio/set 2008. Disponível em:

<http://www.pucsp.br/revistanures/revista9/nures9_omena.pdf>. Acesso em: 24 nov.2010.

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SARUYA Kaname. Contato entre a Cultura Japonesa e a Estrangeira. In: Palestras

sobre a Cultura Japonesa (proferidas em cursos para os bolsistas nikkeis). Tokyo:

JICA, 1999, p. 24-33 (edição bilíngue, em português e japonês).

SILVERBERG, Miriam. The Modern Girl as Militant (Movement on the Streets). In:

 ______. Erotic Grotesque Nonsense: The Mass Culture of Japanese Modern

Times. Berkeley: UC Press, 2009, p. 51-72.

WALWORTH, Arthur. Black Ships Off Japan  –  The Story of Commodore Perry’s

Expedition. Dublin: Read Books, 2008, p. 70-167. Disponível em:

<http://books.google.com.br/books?id=bFyV2BZMCRwC&printsec=frontcover&sourc

e=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 24 nov. 2010.

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ANEXOS

Anexo I  – Carta do Presidente Millard Fillmore ao Imperador do Japão

Disponível em: <http://web.jjay.cuny.edu/~jobrien/reference/ob54.html> (em inglês).

Acesso em 24 nov. 2010. Tradução nossa.

“GRANDE E BOM AMIGO: Eu lhe envio essa carta pública pelo ComodoroMatthew C. Perry, um oficial do mais alto posto na marinha dos Estados

Unidos, e comandante da esquadra que agora visita os domínios de Sua

Majestade Imperial.

Eu direcionei o Comodoro Perry a assegurar a Sua Majestade Imperial que eu

possuo os mais gentis sentimentos pela pessoa de sua majestade e seu

governo, e que não tenho outro objetivo em manda-lo para o Japão senão

para propor a Sua Majestade Imperial que os Estados Unidos e o Japão

deveriam viver em amizade e ter relações comerciais um com o outro.

A Constituição e as leis dos Estados Unidos proíbem qualquer interferência

em assuntos religiosos ou políticos de outras nações. Eu encarreguei o

Comodoro Perry de particularmente se abster de qualquer ato que

possivelmente pudesse perturbar a tranquilidade dos domínios de Sua

Majestade Imperial.

Os Estados Unidos da América alcançam de oceano a oceano, e nosso

Território de Oregon e Estado da Califórnia ficam diretamente em frente aos

domínios de Sua Majestade Imperial. Nossos navios a vapor podem ir da

Califórnia ao Japão em dezoito dias.

Nosso grande Estado da Califórnia produz cerca de sessenta milhões de

dólares de ouro todo ano, além de prata, mercúrio, pedras preciosas, e muitosoutros artigos valiosos. O Japão é também um país rico e fértil, e produz

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muitos artigos valiosos. Os súditos de Sua Majestade Imperial são hábeis em

muitas artes. Eu sou desejoso de que nossos dois países deveriam negociar

um com o outro, para benefício mútuo do Japão e dos Estados Unidos.

Nós sabemos que antigas leis do governo de Sua Majestade Imperial não

permitem comércio com estrangeiros, à exceção dos Chineses e Holandeses;

mas como o estado do mundo muda e novos governos são formados, parece

sábio, de tempos em tempos, fazer novas leis. Houve um tempo em que as

antigas leis do governo de Sua Majestade Imperial foram criadas.

Naquela mesma época a América, que é às vezes chamada de Novo Mundo,

foi descoberta e habitada pelos europeus. Por muito tempo eram poucas

pessoas, e eram pobres. Eles agora são bastante numerosos; seu comércio é

muito extenso; e eles pensam que se Sua Majestade Imperial fosse tão longe

a ponto de mudar as antigas leis para permitir livre comércio entre os dois

países seria extremamente benéfico para ambos.

Se Sua Majestade Imperial não está satisfeito de que seria de todo seguro

revogar as antigas leis que proíbem comércio estrangeiro, elas podem sersuspensas por cinco ou dez anos, de modo a tentar a experiência. Se não se

provar tão benéfico quanto esperado, as antigas leis podem ser restauradas.

Os Estados Unidos frequentemente limitam seus tratados com Estados

estrangeiros para alguns anos, e então os renovam ou não, como lhes

convém.

Eu instruí o Comodoro Perry a mencionar outra coisa a Sua Majestade

Imperial. Muitos de nossos navios passam todo ano da Califórnia à China; e

um grande número de nosso povo pratica a pesca baleeira perto da costa

 japonesa. Às vezes acontece, com o mau tempo, que um de nossos barcos

naufraga no litoral de Sua Majestade Imperial. Em tais casos nós pedimos, e

esperamos, que nossos desafortunados cidadãos sejam tratados com

benevolência, e que suas propriedades sejam protegidas, até que nós

possamos enviar uma embarcação e trazê-los de volta. Levamos esse

assunto muito a sério.

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O Comodoro Perry também foi direcionado por mim a informar a Sua

Majestade Imperial que nós sabemos que há uma grande abundância de

carvão e provisões no Império de Japão. Nossos navios a vapor, ao cruzar o

grande oceano, queimam uma grande quantia de carvão, e não conveniente

trazê-lo todo da América. Nós desejamos que nossos navios a vapor e outras

embarcações sejam permitidos a parar no Japão e se suprir de carvão,

provisões, e água. Eles pagarão por isso em dinheiro, ou qualquer outra coisa

que os súditos de Sua Majestade Imperial possam preferir; e nós pedimos

que Sua Majestade Imperial aponte um porto conveniente, no Sul do Império,

aonde nossas embarcações possam parar com esse propósito. Nós estamos

muito desejosos disso.

Esses são os únicos objetivos pelos quais eu envio o Comodoro Perry, com

uma poderosa esquadra, para fazer uma visita à renomada cidade de Sua

Majestade Imperial de Edo: amizade, comércio, um suprimento de carvão e

provisões, e proteção para nossos náufragos.

Nós instruímos o Comodoro Perry a implorar que Sua Majestade Imperial

aceite alguns presentes. Eles não têm grande valor por si só; mas alguns

deles podem servir como exemplares dos artigos manufaturados nos Estados

Unidos, e consideramo-los como sinais da nossa sincera e respeitosa

amizade.

Que o Todo-Poderoso tenha Sua Majestade Imperial em Seu grande e

sagrado cuidado!

Como testemunha disso, eu fiz com que o grande selo dos Estados Unidos

fosse abaixo afixado, e assinei o meu próprio nome, na cidade de

Washington, na América, a sede do meu governo, no décimo terceiro dia do

mês de Novembro, no ano de um mil oitocentos e cinquenta e dois.” 

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Anexo II  – Tratado entre os Estados Unidos da América e o Império do Japão

Disponível em: <http://web.jjay.cuny.edu/~jobrien/reference/ob25.html> e<http://www.archives.gov/exhibits/featured_documents/treaty_of_kanagawa/ > (em

inglês). Acesso em 24 nov. 2010. Tradução nossa.

OS ESTADOS UNIDOS da América e o Império do Japão, desejando

estabelecer uma firme, duradoura e sincera amizade entre as duas nações,

resolveram fixar, de maneira clara e positiva, por meio de um tratado ouconvenção geral de paz e amizade, as regras que futuramente deverão ser

mutuamente observadas na relação de seus respectivos países; para esse

desejável objetivo o Presidente dos Estados Unidos conferiu plenos poderes a

seu Comissário, Matthew Calbraith Perry, Embaixador Especial dos Estados

Unidos no Japão, e o Augusto Soberano do Japão deu poderes similares a

seus Comissários, Hayashi, Dai-gaku-no-kami ; Ido, Príncipe de Tsus-sima;

Izawa, Príncipe de Mimasaki; e Udono, Membro do Conselho de

Rendimentos. E tais Comissários, após terem trocado os seus ditos poderes

plenos, e devidamente consideradas as premissas, concordaram com os

seguintes artigos:

ARTIGO I.

Deverá haver uma perfeita, permanente e universal paz, e uma sincera e

cordial amizade entre os Estados Unidos da América de um lado, e o Império

do Japão do outro lado, e entre seus respectivos povos, sem exceção de

pessoas ou lugares.

ARTIGO II.

O porto de Simoda [na baía de Edo], no principado de Idzu, e o porto de

Hakodade, no principado de Matsmai [Hokkaido], são garantidos pelos

Japoneses como portos para a recepção de navios Americanos, aonde eles

podem ser supridos com madeira, água, provisões, e carvão, e outros artigos

que suas necessidades possam requerer, contanto que os Japoneses os

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tenham. O tempo para a abertura do primeiro é imediatamente após a

assinatura deste tratado; o último deverá ser aberto imediatamente após o

mesmo dia no subsequente ano Japonês.

NOTA. Uma tarifa de preços deve ser dada pelos oficiais Japoneses das

coisas que eles podem fornecer, cujo pagamento deverá ser feito em moedas

de ouro e prata.

ARTIGO III.

Sempre que navios dos Estados Unidos naufragarem ou forem jogados contra

a costa do Japão, as embarcações Japonesas os ajudarão, e carregarão suas

tripulações para Simoda, ou Hakodade, e os entregarão a seus conterrâneos,

designados para recebê-los; quaisquer artigos que os náufragos possam ter

devem ser restaurados, e as despesas que possam incorrer do resgate e

apoio a Americanos e Japoneses que possam ser jogados na costa de ambas

as nações não serão reembolsadas.

ARTIGO IV.

Os referidos náufragos e outros cidadãos dos Estados Unidos deverão ser

livres como em outros países, e não são sujeitos a confinamento, mas são

passíveis a leis justas.

ARTIGO V.

Náufragos e outros cidadãos dos Estados Unidos, temporariamente vivendo

em Simoda e Hakodade, não deverão ser sujeitos a restrições e

confinamentos como os Holandeses e os Chineses são em Nagasaki, masdeverão ser livres em Simoda de ir aonde desejarem dentro do limite de sete

milhas Japonesas (Ri) [aproximadamente 27,5 Km] de uma pequena ilha na

baía de Simoda marcada no gráfico que acompanha a presente decisão; e

deverão ser igualmente livres de ir aonde desejarem em Hakodade, dentro de

limites a ser definidos após a visita da esquadra Americana a tal lugar.

ARTIGO VI.

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Se existir qualquer tipo de bens desejados, ou negócios que precisam ser

arranjados, deverá haver cuidadosa deliberação entre as partes em ordem de

resolver tais assuntos.

ARTIGO VII.

Está acordado que aos navios dos Estados Unidos que recorram aos portos

abertos deve ser permitido trocar moedas de ouro e de prata e mercadorias

por outras mercadorias, dentro de regulamentos que deverão ser

temporariamente estabelecidos pelo Governo Japonês para tal propósito. É

estipulado, entretanto, que aos navios dos Estados Unidos deve ser permitido

levar quaisquer artigos que eles não estejam dispostos a trocar.

ARTIGO VIII.

Madeira, água, provisões, carvão, e bens necessários, deverão ser adquiridos

através da atividade de oficiais Japoneses apontados para tal propósito, e em

nenhuma outra maneira.

ARTIGO IX.

Está acordado que se em qualquer dia futuro o Governo Japonês garantir a

qualquer outra nação ou nações privilégios e vantagens que não estão aqui

garantidas para os Estados Unidos e seus cidadãos, tais privilégios e

vantagens deverão ser igualmente garantidos aos Estados Unidos e seus

cidadãos, sem qualquer consulta ou atraso.

ARTIGO X.

Navios dos Estados Unidos não poderão recorrer a outros portos no Japão

que não Simoda e Hakodade, exceto em caso de problemas ou se forçados

pelo mau tempo.

ARTIGO XI.

Deverão ser apontados, pelo Governo dos Estados Unidos, Cônsules ou

Agentes para residir em Simoda, a qualquer momento após a expiração de

dezoito meses da data da assinatura deste tratado, desde que qualquer um

dos dois Governos julgue necessário.

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ARTIGO XII.

A presente convenção sendo concluída e devidamente assinada, será

obrigatória e fielmente observada pelos Estados Unidos da América e Japão,e pelos cidadãos e súditos de respectivos Poderes; e deverá ser ratificada e

aprovada pelo Presidente dos Estados Unidos, por e com conselhos e

consentimento de seu respectivo Senado, e pelo Augusto Soberano do

Japão, e a ratificação deverá ser trocada dentro de dezoito meses a partir da

data desta assinatura, ou antes se possível.

É com fé que nós, os respectivos e referidos Plenipotenciários dos Estados

Unidos da América e do Império do Japão, assinamos e selamos estas.

Feito em Kanagawa, neste trigésimo primeiro dia de Março, no ano de Nosso

Senhor Jesus Cristo um mil oitocentos e cinquenta e quatro.