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Universidade do Minho Instituto de Ciências Sociais Ana Cláudia Serra Araújo outubro de 2015 Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional Ana Cláudia Serra Araújo Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional UMinho|2015

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Universidade do MinhoInstituto de Ciências Sociais

Ana Cláudia Serra Araújo

outubro de 2015

Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

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Ana Cláudia Serra Araújo

outubro de 2015

Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

Trabalho efetuado sob a orientação da Professora Doutora Teresa Mora

Dissertação de Mestrado Mestrado em Crime, Diferença e Desigualdade

Universidade do MinhoInstituto de Ciências Sociais

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Declaração

Nome: Ana Cláudia Serra Araújo

Endereço eletrónico: [email protected]

Telefone: 915 726 960

Cartão de Cidadão: 13927057

Título da dissertação: Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

Orientadora: Professora Doutora Teresa Mora

Ano de conclusão: 2015

Designação do Mestrado: Mestrado em Crime, Diferença e Desigualdade

É AUTORIZADA A REPRODUÇÃO INTEGRAL DESTA DISSERTAÇÃO APENAS PARA EFEITOS DE

INVESTIGAÇÃO, MEDIANTE DECLARAÇÃO ESCRITA DO INTERESSADO, QUE A TAL SE

COMPROMETE.

Universidade do Minho, ___ de__________ de 2015

Assinatura: _______________________________________

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Agradecimentos

Na minha opinião, faz todo o sentido que as primeiras palavras de um trabalho como

este sejam para agradecer àqueles que proporcionaram a sua realização e a todos os outros que

pelo caminho foram marcando positivamente esta experiência.

Como tal, em primeiro lugar, agradeço aos meus pais, já que sem o apoio e

disponibilidade que demonstraram nada seria possível. Mas não posso deixar de aproveitar para

lhes pedir desculpa por todos os momentos menos simpáticos da minha parte, dos quais

nenhuma culpa tinham, mas que, infelizmente, acabaram por aturar.

Tenho ainda que agradecer às fantásticas pessoas que conheci no Mestrado de Crime,

Diferença e Desigualdade, todas elas sempre divertidas, dispostas a ajudar e muito carinhosas

com todo o grupo de mestrandos.

E para terminar, não podia também deixar de agradecer aos técnicos superiores de

reeducação dos Estabelecimentos Prisionais do Porto e de Coimbra, pela disponibilidade,

simpatia, e ajuda prestada para que a presente investigação existisse.

A todos estes um muito obrigada pelos momentos fantásticos que proporcionaram e por

todas as memórias que foram criadas no decorrer deste último ano.

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Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

Resumo

Esta investigação integra-se no mestrado de Crime, Diferença e Desigualdade, do

Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho e tem como objetivo deslindar as

dificuldades associadas à prática dos Técnicos Superiores de Reeducação, nos Estabelecimentos

prisionais, junto da população reclusa.

O papel dos Técnicos Superiores de Reeducação assenta, primordialmente, no

acolhimento do recluso, na elaboração ou dinamização de programas psicossociais e no

acompanhamento do recluso durante o cumprimento da pena. Devem ainda prestar assessoria

ao tribunal de execução de penas, assim como apoiar a direção do estabelecimento prisional no

plano de tratamento do recluso, seja no que concerne à colocação laboral, frequência de cursos

escolares e/ou de formação profissional, seja na aplicação de sanções disciplinares e alteração

do regime de cumprimento de pena do recluso, sempre que se mostrar necessário.

Embora o papel do técnico superior de reeducação esteja bem definido e previsto

legalmente, este estudo dedicou-se a compreender até que ponto os objetivos esperados são

alcançados, tendo em conta as condições das prisões e a sua sobrelotação, pretendendo-se

assim perceber se o papel é executado com sucesso. Para além disso, também houve interesse

por parte desta investigação em perceber se os técnicos gostariam de aplicar novas técnicas de

intervenção e de reeducação e que técnicas seriam.

Este estudo revelou que, apesar da sobrelotação das prisões e da falta de técnicos

superiores de reeducação para acompanharem mais de perto os reclusos, as atividades

mínimas, exigidas por lei, são todas executadas. No entanto, a maior parte dos técnicos

efetivamente refere que as atividades aplicadas não são as mais adequadas ao grupo de

reclusos, nem são suficientes. Acreditam que se existissem mais técnicos, seria muito mais

simples o acompanhamento e a criação de programas direcionados para as principais

necessidades dos reclusos.

Com os resultados obtidos é possível depreender que o ideal seria toda uma

restruturação do tratamento penitenciário, já que o que se encontra descrito na lei nem sempre

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é possível de se colocar em prática. Para além disso, o papel do técnico deveria ser revisto,

fazendo com que as funções do mesmo fossem ainda mais ao encontro das necessidades do

seu trabalho, sendo que, no entanto, o mesmo, autonomamente não pode realizar tais

mudanças. Estas facilitariam, em muito, a intervenção dos técnicos, efetivando de maneira mais

notória o papel reeducador dos mesmos, preparando os reclusos para a reinserção e a

reentrada na sociedade.

Palavras-chave: Reeducação, Educação, Serviço Social, Técnicos Superiores de Reeducação,

Prisões e Reclusos

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The Probation Officers and the Prison Work

Abstract

This investigation was developed in the scope of the master degree in Crime, Difference

and Inequality on Social Sciences Institute of Minho University and it has de purpose to find the

difficulties of the probation officers applying their work regarding its practical use within the

prison context.

The role of probation officers stand mainly on the integration and support of the prisoner

and the implementation of psychosocial programs of re-education with the prisoner during the

sentence period. Besides that also make assessing to the penal court, as well as helping the

prison administration with management all the prisoners throughout the fulfillment of sentence, it

could be by attending school or finding them some work tearless of what that is availed, at the

same time they have to apply some punishment if the behavior of the prisoner isn’t the best.

Although the probation officer’s duties and responsibilities are very well structured in the

law, this investigation aims to find out if its objectives are complished, regarding less of always

attending with overpopulation. Besides that, this investigation also has interested in discovering if

probation officers would like to introduce new techniques of working and which may those be.

It was unveiled during this investigation that even though there was a problem and a

small number of probation officers, all the mandatory activities are executed. However the most

part of probations officers say that the activities are not as good as they should be, because they

aren’t fit the properly most of prisoners and aren´t enough for all prisoners. That scenario

wouldn’t happen if they had more probation officers and also a proper support would be created

regarding prisoners actual needs.

The final results had to the conclusion that an entire reconstruction would be necessary

in order to achieve positive goals. That would automatically change the way that probation

officers can do their jobs, and also would help improve prisoner’s re-education and behavior

toward society.

Keywords: Reeducation, Education, Social Work, Probation Officers and Prisoners.

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Índice Geral Dedicatória…………………………….....................................................................................II

Agradecimentos …………………………………………………………………………………………………III

Resumo……………………………………………………………………………………………………………V

Abstract……………………………………………………………………………………………………………VII

Introdução………………………………………………………………………………………………………..1

Parte I – Enquadramento…………………………………………………………………………………….3

1. Enquadramento histórico do Serviço Social em Portugal……………………………..3

2. Serviço social na área da justiça……………………………………………………………..6

3. Contexto prisional Português………………………………………………………………….10

3.1.Caracterização da população reclusa portuguesa………………………….11

4. Contexto prisional francês……………………………………………………………………..14

5. A Educação e a Importância da Educação para Adultos………………………………15

6. O Técnico Superior de Reeducação…………………………………………………………21

6.1.O trabalho social…………………………………………………………………….23

Parte II – Metodologia…………………………………………………………………………………………31

1. Metodologia de Investigação Utilizada……………………………………………………..31

2. Amostragem………………………………………………………………………………………33

Parte III – Apresentação de Resultados………………………………………………………………….35

1. Estabelecimento Prisional de Coimbra…………………………………………………….35

2. Estabelecimento Prisional do Porto…………………………………………………………36

3. Entrevistados e Análise dos Dados………………………………………………………….37

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3.1. Adaptação ao contexto prisional………………………………………………..39

3.2. Funções desempenhadas pelos TSR………………………………………….40

3.3. Meios de Ação……………………………………………………………………….42

3.3.1.Reconhecimento de Problemas e Soluções Propostas………42

3.3.2. Objetivos dos Programas de Treino de Competências………45

3.3.3. Programas e Atividades de intervenção…………………………45

3.3.4. Atividades Recreativas e Implementação……………………….47

3.3.5. Plano Individual de Readaptação………………………………….47

3.3.6. Preparação para a Saída em Liberdade…………………………50

4. Contexto organizacional: recursos e relações interpessoais…………………………..51

4.1.Recursos……………………………………………………………………..51

4.2.Relações Interpessoais Externas………………………………………52

5. Articulação com entidades institucionais externas……………………………………….55

6. Perspetivas face ao Futuro Técnico Superior de Reeducação………………………..56

Parte IV – Discussão e Considerações finais…………………………………………………………….59

Bibliografia…………………………………………………………………………………………………………67

Anexos………………………………………………………………………………………………………………69

Índice de Imagens

Gráfico 1 – Relação entre a lotação e distribuição da população reclusa por tipo de

Estabelecimento

Prisional……………………………………………………………………………………………………………..11

Gráfico 2 – População reclusa por género…………………………………………………………………12

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Gráfico 3 – Situação penal da população reclusa……………………………………………………….12

Gráfico 4 – Penas aplicadas aos reclusos condenados………………………………………………..13

Gráfico 5 – Distribuição etária da população reclusa por sexo………………………………………13

Índice de tabelas

Tabela 1 – Género dos Técnicos Superiores de Reeducação………………………………………..37

Tabela 2 – Tempo de serviço dos Técnicos Superiores de Reeducação………………………….38

Tabela 3 – Mobilidade dos Técnicos de Reeducação nos EP’s……………………………………..38

Abreviaturas

DGRSP – Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais

EP – Estabelecimento Prisional

EPC – Estabelecimento Prisional de Coimbra

EPP – Estabelecimento Prisional do Porto

PIR – Plano Individual de Readaptação

RAE – Regime Aberto ao Exterior

RAI – Regime Aberto ao Interior

TSR – Técnico Superior de Reeducação

ULD – Unidade Livre de Drogas

UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

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Introdução

A presente investigação pretende perceber a visão dos técnicos superiores de

reeducação relativa às suas dificuldades ao longo da carreira. Apesar de existirem alguns

estudos sobre o mesmo tema (Fassin, et al., 2013); (Larminat, 2011), foram realizados noutros

países, havendo que ter sempre em conta a diferença entre os estabelecimentos prisionais. Em

Portugal, ainda pouco foi elaborado nesse sentido (Cunha, 2013; Gomes, 2008). Tendo em

conta que a população-alvo destes profissionais é constituída por indivíduos que se encontram

no topo da pirâmide dos considerados excluídos e indesejados da sociedade (delinquentes,

toxicodependentes, ladrões, homicidas, violadores, etc.), considero então importante identificar

os meios de ação, os problemas e as soluções propostas pelos técnicos que intervêm junto

desta população de forma a avaliar a adequação das suas próprias ferramentas de trabalho.

Nesse sentido, nesta investigação, serão entrevistados técnicos superiores de

reeducação de dois estabelecimentos prisionais diferentes, o Estabelecimento Prisional do Porto

e o Estabelecimento Prisional de Coimbra, procurando-se perceber, com base nos meios de

ação existentes e condições da sua aplicação, até que ponto as dificuldades vividas pelos

técnicos são semelhantes ou se variam nos dois contextos prisionais.

As entrevistas aos técnicos superiores de reeducação têm como principais objetivos

perceber, de entre as várias medidas de reinserção estabelecidas legalmente, quais as que

estão a ser postas em prática, através de que meios e em que condições. Tal implica, por um

lado, compreender as várias tarefas associadas à carreira de TSR (vários tipos de trabalho

exigido enquanto profissional num Estabelecimento Prisional - EP), e, por outro, descobrir se as

condições físicas dos estabelecimentos prisionais, assim como as burocráticas, permitem a

aplicação dos instrumentos de ação previstos pelas políticas sociais existentes. Trata-se de

contribuir para conhecer a realidade da reeducação dos reclusos através da experiência e da

visão dos TSR face aos objetivos definidos, à adequação dos meios de ação disponíveis e à sua

eficácia, o que nos leva a procurar identificar as dificuldades sentidas por este grupo de

profissionais.

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Pretende-se, por último, identificar as melhorias que, segundo os TSR, podem vir a ser

inseridas no sistema prisional português, tendo em conta a importância da sua carreira no

contacto e trabalho permanente com os reclusos e na preparação dos mesmos para uma saída

em liberdade com sucesso.

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Parte I – Enquadramento

1. Enquadramento histórico do Serviço Social em Portugal

Tendo em conta que o presente estudo se debruça sobre os técnicos superiores de

reeducação, é importante situar o surgimento da carreira no tempo, remetendo-nos para os anos

50 e, para a sua posterior integração no sistema judicial, que só veio a acontecer apenas nos

anos 80.

Primeiramente é fundamental abordar a emergência do serviço social em Portugal, bem

como o surgimento da profissão de técnico superior de serviço social, a sua entrada no sistema

judicial e a transformação da carreira de Técnico Superior de Serviço Social em Técnico Superior

de Reeducação.

O início do Serviço Social em Portugal dá-se em 1907, quando foi constituída a Liga da

Ação Social Cristã, a qual, segundo os princípios da igreja, nomeadamente o da caridade,

pretendia promover a aproximação de classes, bem como normas de justiça. Na mesma altura,

surgiram elites que hierarquizavam a forma de ajuda conforme a vida política e católica dos

ajudados. (Carvalho, 2010)

Sendo que o princípio da Liga da Ação Social foi evoluindo, em 1935, a Condessa de

Rilvas, em parceria com a Ação Católica Portuguesa, cria em Lisboa o Instituto Superior de

Serviço Social e, dois anos mais tarde, em Coimbra, a Escola Bissaya Barreto.

Mais tarde, em 1939, o Serviço Social e o seu ensino é considerado por diploma oficial,

tendo como objetivo: “[a] elevação do nível de vida da gente portuguesa, quando se apoia em

sãs doutrinas e os anima em verdadeiro espírito social”, nomeadamente através da “criação de

escolas de formação social, onde se habilitem raparigas até da melhor condição para exercerem

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junto de fábricas, organizações profissionais e instituições de assistência, obras de educação

coletiva, uma ação persistente e metódica de múltiplos objetivos – higiénicos, morais e

intelectuais – (…)” (Dec. Lei no.30 135 de 14.12.1939).

O Serviço Social, em Portugal, na década de 30 do século XX, estava, pois,

profundamente ligado a um ideal de “caridade”, de ajuda aos mais “pobrezinhos”, sendo

atribuída à igreja a gestão social das comunidades, gestão essa que assentava na família,

afirmando-a como um lugar estruturado em volta do chefe e de sua mulher e considerando-a a

base dos valores da sociedade da época. (Marques, Mouro, Portugal, Campanini, & Frost, 2004)

Em 1974, no final do Estado Novo, é exigida pelas escolas de Serviço Social, até então

existentes, a entrada nas estruturas de utilidade pública de ensino. Luta que só viria a terminar

10 anos mais tarde, em 1985, quando o Instituto Superior de Serviço Social (ISSSL) de Lisboa

decide alterar a estratégia de qualificação, assumindo-se como Instituição de Ensino Superior

Privado. Em Abril de 1986, a mesma estratégia é seguida pelo Instituto de Serviço Social do

Porto, que se mantém até aos dias de hoje como instituição privada de ensino. (Negreiros, 1995)

Apesar de ambos os Institutos de Serviço Social referidos serem estabelecimentos

privados de ensino, e não obstante o plano curricular de quatro anos de duração, até 1989 os

mesmos não conferiam qualquer grau académico, mas sim um diploma profissional, já que tal

grau só poderia ser certificado por Universidades. Esta posição que o Estado impõe ao Serviço

Social cria-lhe barreiras como o não acesso a alguns locais de trabalho que exigiam técnicos

superiores habilitados com o grau de licenciatura.

Esta situação terá levado, na década de 70, a uma mobilização (iniciada a 7 de

Dezembro de 1979) por parte de vários dirigentes da Associação Portuguesa de Serviço Social,

tendo em vista um único objetivo, a “equiparação do grau de licenciatura para efeitos

profissionais”. Este processo só viria a terminar em 1984 e sem sucesso, já que, segundo o

Ministério da Educação, o grau só seria dado se o curso fosse considerado licenciatura.

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Quando a direção do ISSS de Lisboa mudou, propôs uma nova estratégia que consistia

em obter o grau de licenciatura para o Curso Superior de Serviço Social, implementando um

plano de estudos com duração de cinco anos e qualificando cientificamente os docentes desta

área de estudos1 (Carvalho, 2010). Tais objetivos só foram finalmente conseguidos a 27 de Julho

de 1989, para os Institutos de Lisboa e do Porto, atribuindo assim o grau de licenciatura aos

seus formandos2. (Negreiros A. G., 1995)

Tal como constatado, é no final da década de 80 que o serviço social alcança

legitimidade académica. No entanto, a classe de profissionais do serviço social continua a lutar

contra a imagem generalizada de que é apenas um serviço assistencialista de apoio aos mais

desfavorecidos e beneficiários de RSI (Rendimento Social de Inserção), quando, na realidade,

independentemente da área de intervenção, o Serviço Social constrói-se efetivando direitos,

justiça social, equidade e concretização da cidadania. (Andrade, 2001)

Na década de 90, multiplicaram-se os novos cursos de Serviço Social, reformulando toda

a formação lecionada até à data. A abertura da primeira escola pública, localizada nos Açores e

mais tarde na Universidade Católica, obrigou à reformulação geral e nacional do curso de três

para quatro anos, incluindo estágio curricular obrigatório. A carreira de Técnico Superior de

Serviço Social deu também entrada nos quadros do IEFP (Instituto de Emprego e Formação

Profissional), enquadrando-se no subgrupo dos “Especialistas das Ciências Sociais Humanas”,

passando a integrar equipas de diversas entidades. (Branco, 2009)

A partir de então, tornam-se facilmente identificáveis as várias áreas do trabalho social,

que rapidamente passou a ser parte integrante das funções estatais, mais especificamente, no

âmbito do emprego, da segurança social, da saúde, da justiça, da educação, equipamentos

sociais de apoio à infância, juventude, deficientes e idosos, centros de formação profissional,

1 (cf. Decreto-lei 100B/85). 2 (Portarias nº.793 de 8 de Setembro e n.º 797 de 9 de Setembro de 1989).

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centros de saúde e hospitais, centros de profilaxia da droga e apoio a toxicodependentes,

estabelecimentos prisionais, serviços de reinserção social e tribunais, e serviços de apoio social

nas escolas.

Os assistentes sociais podem ainda ser encontrados em Autarquias Locais, como é o

caso das Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Ação Social e Cultural. Assim como em

Associações não lucrativas, IPSS’s (Instituições Particulares de Serviço Social), Misericórdias,

entre outras, que ao serem reconhecidas pela Segurança Social com tendo Estatuto de Utilidade

Pública são parcialmente financiadas através do orçamento de Estado pela Segurança Social. É

importante ainda referir que, além de todas as áreas de intervenção e entidades referidas

anteriormente, os Assistentes Sociais, podem ainda integrar Empresas privadas, colaborando

nas equipas de Recursos Humanos.

Em 1996, foi possível perceber que os dados relativos ao número de Assistentes Sociais

nos organismos públicos mostravam que a maioria deles (25,4%) se encontrava ao serviço do

Ministério da Justiça3, demonstrando a importância dos mesmos na referida área. (Rodrigues,

Nunes, Tapajós, & Paiva, 2003).

2. O Serviço Social na Área da Justiça

Na área da justiça, o trabalhador social inicia as suas funções muito antes dos anos 90

do século XX, na segunda metade do séc. XIX, em 1867, com a Lei de 1 de Julho de 1867. De

acordo com (Pimentel, 2001), podemos distinguir três fases na evolução do Trabalho Social.

3 Assistentes Sociais nos Organismos da Função Pública (1996), Presidência do Conselho de Ministros 0,1%, Ministério da Justiça 25,4%,

Ministério das finanças 0,2%, Ministério da Defesa 1,1%, Ministério da Solidariedade e Segurança Social 24,4%, Ministério da Saúde, 21,7%, Ministério do Ambiente 0,1, Ministério da Educação 5,1%, ministério da Administração Interna o,2%, Ministério do Planeamento e Administração do Território 0,5%, Ministério da Agricultura 4,2%, Ministério da Qualificação e Emprego 1,9%, Câmaras Municipais 13,8% e Juntas de Freguesia 1,2%.

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A primeira fase, com início em 1867, baseou-se apenas na intervenção exclusiva de

instituições privadas de assistência social, junto dos estabelecimentos prisionais com um cariz

religioso e humanitário. O trabalho nesta época tinha subjacente uma recuperação do indivíduo

através da prática religiosa, sendo esse trabalho realizado, na maioria das vezes, por

Misericórdias.

A segunda fase situou-se entre 1902 e 1936, e nela já existia uma intervenção estatal

específica. Nesse sentido, foram criadas4 duas comissões de patronato, uma no Porto e outra

em Lisboa, que evoluíram para uma Associação do Patronato das Prisões, legislada pelo

Ministério da Justiça e dos Cultos. Esta Associação tinha como principal finalidade “colaborar

com o regime prisional na obra de regeneração dos delinquentes, assistir-lhes moral e

materialmente durante a prisão, trabalhar para a sua reintegração na vida social, ampará-los

quando livres, em ordem de evitar a reincidência, e proteger as vítimas imediatas dos delitos

(…)”. (Pimentel, 2001, p. 261)

A terceira fase, compreendida entre 1936 e 1981, correspondeu a uma intervenção

estatal mais ampla, que assegurava a assistência social nos estabelecimentos prisionais. Em

1936, deu-se uma reforma considerável no sistema, delimitando as competências específicas da

Associação do Patronato, tais como as visitas e o auxílio material e moral dos reclusos e suas

famílias, o acompanhamento dos reclusos colocados em liberdade condicional, o auxílio material

das vítimas do delito.

O Estado pretendia iniciar uma intervenção especializada e individualizada, através da

profissionalização de agentes sociais responsáveis pelo acompanhamento de delinquentes,

durante e após o cumprimento da pena de prisão, com o objetivo de promover a readaptação

social do recluso.

4 Decreto nº.21:175 publicado no Diário do Governo de 23 de Abril de 1932.

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No entanto, só em 1956 é que é publicado o Regulamento do Concelho Superior dos

Serviços Criminais e da Direção Geral dos Serviços5, que efetiva uma estruturação e organização

do Serviço Social na Prisão. Tais profissionais do Serviço Social tinham como principais funções

“auxiliar o detido (…) estimular as visitas da família do recluso (…) preparar com a necessária

antecedência o promover o repatriamento e a colocação familiar e profissional dos reclusos

postos em liberdade condicional, vigiada ou definitiva, recorrendo à colaboração das entidades

públicas ou particulares, capazes de coadjuvarem a assistência prisional” (Pimentel, 2001, p.

261). Tinham ainda como ação intervir junto de sujeitos em meio livre, como é o caso dos ex-

reclusos, prostitutas, mendigos, e delinquentes inimputáveis.

Em 1982, houve mais uma alteração através do Decreto-Lei n.º 319/82, de 11 de

Agosto. O Instituto de Reinserção Social (IRS), sob a alçada do Ministério da Justiça, passou a ter

como principal função a prevenção criminal, que ia desde a prevenção primária junto de grupos

de risco, até qualquer sujeito que tivesse contacto com o sistema judicial da justiça, prevendo-se

legalmente que cumprissem funções de: (1) apoio técnico nas fases pré-sentencial e sentencial;

(2) execução de medidas e execuções não detentoras; (3) apoio especializado aos tribunais nos

domínios do direito tutelar de menores e família, compreendendo as fases de preparação da

decisão judiciária e de execução de medidas; (4) intervenção em projetos e ações de reinserção

social e de prevenção de situações de marginalidade, em articulação com outras instituições e

serviços públicos e privados dos sectores do emprego, da saúde, da segurança social, ou outras

que prossigam objetivos complementares (Pimentel, 2001, p. 263).

O tipo de intervenção mantém-se até o surgimento, em 1995, de um novo Decreto-Lei6

que define os técnicos de reinserção social, profissionais não só de serviço social, mas também

de áreas de estudo vindas das ciências sociais e humanas, como é o caso da psicologia,

sociologia, direito, entre outras. Este grupo de profissionais, de acordo com o decreto referido,

deveriam desenvolver as seguintes funções:

5 Decreto-Lei n.º 40877. 6 Decreto-Lei n.º 58/95 de 31 de Março.

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9

A elaboração de relatórios que substanciem o diagnóstico/prognóstico da

situação de menores, seus progenitores ou outras pessoas a quem sejam

confiados, para apoio a decisões judiciárias, nomeadamente para a aplicação da

medida adequada;

A elaboração de relatórios sociais, perícias sobre a personalidade e outras

informações relativas a arguidos e a vítimas, nomeadamente para efeitos de

reexame de pressupostos da prisão preventiva ou outa medida de coação, de

suspensão provisória do processo e da escolha e medida da reação penal;

O acompanhamento do menor, do jovem ou adulto durante o processo

decisório, no âmbito do direito de menores, da família e penal, por solicitação da

competente autoridade judiciária ou em cumprimento de disposição legal;

A elaboração e envio ao tribunal de relatórios de avaliação dos processos de

acompanhamento.

Posteriormente, o Decreto-Lei n.º 126/2007 de 27 de Abril criou a Direção Geral de

Reinserção Social, extinguindo o Instituto de Reinserção Social, constituindo assim a nova Lei

Orgânica dos Serviços de Reinserção Social, que atualmente se faz reger pelo Decreto-Lei

n.º215/2012 de 28 de Setembro. (Gomes, 2008, p. 19)

Este novo Decreto-Lei definiu uma nova Direção Geral, designada por Direção Geral de

Reinserção e Serviços Prisionais, tendo como principal missão o “desenvolvimento das políticas

de prevenção criminal, de execução das penas e medidas e de reinserção social e a gestão

articulada e complementar dos sistemas tutelar educativo e prisional, assegurando condições

compatíveis com a dignidade humana e contribuindo para a defesa da ordem e da paz social.”

(Dec. Lei 215/2012, art.º2). Esta legislação, pretende permitir “uma intervenção centrada no

indivíduo desde a fase pre-sentencial até à libertação, preparando, em colaboração com os

serviços do setor público e privado, oportunidades de mudança e de reinserção social,

diminuindo as consequências negativas da privação da liberdade e reduzindo os riscos de

reincidência criminal.” (Gomes, 2008, p. 19)

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10

3. Contexto Prisional Português

Sendo que o enquadramento legal que rege o funcionamento prisional já foi previamente

apresentado, vamos agora considerar o contexto prisional português a partir do número de

prisões, e de reclusos, entre outros aspetos.

A Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais tem sob sua alçada o total de 49

estabelecimentos prisionais, sendo que 2 são femininos, 8 são mistos e os restantes 39 são

masculinos, todos eles distribuídos por quatro distritos judiciais. O Distrito Judicial do Porto que

é constituído por 14 estabelecimentos prisionais, o Distrito Judicial de Coimbra que é constituído

por 9 estabelecimentos prisionais, o Distrito Judicial de Lisboa que é constituído por 15

estabelecimentos prisionais, englobando também os estabelecimentos prisionais dos Açores e

da Madeira e, por último, o Distrito Judicial de Évora que tem no total 11 estabelecimentos

prisionais.

A organização e separação dos reclusos por estabelecimentos prisionais realiza-se,

conforme descrito no artigo n.º9 do Código de Execução de Penas e Medidas Privativas da

Liberdade, tendo por isso sido criados vários tipos de estabelecimentos prisionais: uns,

destinados ao acolhimento de reclusos preventivos e/ou de reclusos que cumprem penas de

prisão pela primeira vez ou então jovens com idades até aos 25 anos; outros, que acolhem

exclusivamente mulheres; e ainda aqueles estabelecimentos que se destinam a reclusos que

apresentem necessidade de proteção especial. No entanto, os estabelecimentos prisionais

podem ainda variar conforme a situação jurídico-penal em que o recluso se encontre, segundo a

idade, o estado de saúde físico-mental, as exigências de segurança associadas e ainda os

regimes de execução da pena aplicados. (Campos, 2015)

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11

É importante referir também que os estabelecimentos prisionais têm níveis de segurança

diferentes. Tal distinção é feita através da Portaria n.º13/2013, publicada a 11 de Janeiro de

2013, onde são classificados em três tipos diferentes: nível de segurança especial, nível de

segurança alta e nível de segurança média. Estas diferenças têm por motivo a execução da pena

e a medida privativa da liberdade. No estabelecimento prisional de alta segurança a pena é

cumprida sempre em regime de segurança, existindo apenas um estabelecimento prisional

desse tipo em Portugal (EP de Monsanto). Os restantes estabelecimentos prisionais funcionam

com medidas de segurança média com regime aberto (RAE7 e RAI8). (Campos, 2015)

3.1 Caracterização da população reclusa portuguesa

Quanto ao número português de reclusos, atualmente e segundo as estatísticas

prisionais da DGRSP9, referentes ao 2º Trimestre do ano do 2015, é possível perceber que,

embora a lotação total de reclusos seja de 12.591 reclusos, podemos efetivamente encontrar

14.332 reclusos nas prisões portuguesas. Veja-se o gráfico abaixo.

Gráfico 1. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015)(p. 2)

7 Regime Aberto para o Exterior. 8 Regime Aberto para o Interior. 9 Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais – Estatísticas – 2º Trimestre de 2015.

Consultado a 1 de Outubro de 2015. Disponível na internet: :<URL:http://www.dgsp.mj.pt/>.

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Para além da notória lotação dos estabelecimentos prisionais, é de evidenciar que a

maior parte da população reclusa é do género masculino (94%).

Gráfico 2. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 2)

É também importante referir que, na generalidade, trata-se de reclusos condenados a

penas de prisão (83,8%) de 3 a 6 anos de condenação, sendo a faixa etária com mais reclusos a

dos 30 anos de idade.

Gráfico 3. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 6)

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Gráfico 4. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 8)

Gráfico5. Fonte: (Direção Geral dos Serviços Prisionais, 2015) (p. 3)

Após uma breve caracterização do sistema de prisões portuguesas, assim como dos

reclusos que preenchem as cadeias nacionais, considero útil fazer uma breve contextualização

do sistema prisional francês, de modo a facilitar a compreensão dos dados mais à frente

apresentados, relativos a dois estudos realizados em estabelecimentos prisionais franceses

(Fassin, et al., 2013); (Larminat, 2011).

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4. Contexto Prisional Francês

À semelhança do sistema prisional português, em França, as prisões estão também

sobre a alçada do Ministério da Justiça. No entanto, a forma como se organizam é diferente da

do sistema prisional português. Em França, de acordo com dados do ano de 2015 (Campos,

2015) existem 190 estabelecimentos prisionais e 103 serviços de liberdade condicional e

reintegração (services pénitentiaires d’insertion et de probation). A missão das direções inter-

regionais e dos departamentos e territórios ultramarinos é a de controlar e coordenar a atividade

dos estabelecimentos prisionais bem como dos serviços de reinserção e de liberdade condicional

sob sua autoridade.

As execuções das penas, têm em consideração três aspetos diferentes: castigar os

condenados, proteger a sociedade do “perigo” e os interesses da vítima/lesado. A estes

aspetos, acrescenta-se uma preparação para a inserção ou reinserção do detido aquando da

saída em liberdade.

Os 190 estabelecimentos prisionais referidos estão divididos por duas grandes

categorias de ação: Casa de Detenção (maison d’arrêt) e Estabelecimentos para a Pena

(établissements pour peine). (Campos, 2015)

As “casas de detenção” destinam-se a reclusos em prisão preventiva ou a condenados

com penas iguais ou inferiores a 2 anos, sendo que estas prisões incluem dois tipos de áreas ou

dois tipos de cumprimento de penas: as penas curtas, e os cumprimentos de penas por dias

livres10.

10 “A prisão por dias livres consiste numa privação da liberdade por períodos correspondentes a fins-de-semana, não podendo exceder 72 períodos” (Campos, 2015, p. 92)

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Os “estabelecimentos para a pena” destinam-se a reclusos que tenham penas maiores a

cumprir, sendo que, mesmo neste âmbito, se dividem ainda por mais três tipos de prisões com

destinatários diferentes: (1) As “Casas Centrais” (maison centrale) são prisões de segurança

máxima, existem 6 no território francês e destinam-se apenas a reclusos considerados

perigosos; (2) os “Centros de Detenção” (centre de détention) albergam indivíduos que não são

perigosos e que apresentam grandes capacidades de reinserção na sociedade, existindo 25 no

território francês; e, por ultimo, (3) os “Centros de Semiliberdade” (centre de semi-liberté), que

possibilitam ao recluso manter um emprego ou uma formação externa à prisão, tendo de voltar

ao fim do dia e nos fins-de-semana, existindo 11 em França. (Campos, 2015)

Comparativamente ao caso português, a rede de estabelecimentos prisionais em França

é direcionada para os mais variados tipos de penas de prisão, aspeto que vem contextualizar os

resultados dos estudos aos quais mais adiante recorreremos.

5. A Educação e a Importância da Educação para Adultos

Sendo o trabalho do técnico direcionado para a educação, reeducação, readaptação e

dinamização do tempo de cumprimento de pena do recluso, é fundamental percebermos,

também, no que assenta a educação ou, neste caso, a reeducação de um recluso e de que

forma tal objetivo é concretizado.

A educação para adultos desenvolveu-se a partir da primeira metade do séc. XX, quando

várias organizações de foro político e social consideraram importantes a resolução de vários

problemas, como o analfabetismo que afetava os cidadãos adultos, tendo assim emergido várias

políticas públicas, nesse sentido, criaram-se várias associações e movimentos sindicais

populares. No entanto, só mais tarde, após o golpe militar de 25 de Abril 1974, surgiram “novos

tipos de organização social e de exercício de poder, materializados na criação generalizada de

comissões, nos bairros, nas aldeias, nas empresas e nos quartéis” (Canário, 2007 cit. in

(Cunha, 2013, p. 11)

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O movimento popular de 25 de Abril fomentou um processo coletivo e dinâmico de

aprendizagem que favoreceu de forma transversal a população. Foi possível registarem-se

“melhorias na retórica”, articulando-se os conceitos de “educação e de autonomia”, num

contexto político de luta de classes, observando-se o processo de crescimento económico e o

aumento dos desafios impostos à sociedade, em que se deu também o alargamento da oferta

educativa, do próprio sistema educativo, que ao nível da educação para adultos também evoluiu.

(Cunha, 2013, pp. 11-12).

Segundo Canário (2008), referido por (Cunha, 2013), “a educação de adultos é um

movimento nascido de uma ideia de mudança social. A UNESCO viu-a como uma ideia de

humanização da civilização”. Sendo assim é possível perceber que a UNESCO considera a

educação de adultos uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento das sociedades e

inevitavelmente do país que nela aposta. Com o desenvolvimento da educação de adultos nas

sociedades, a mesma ganhou sentidos de orientação que se distinguiam por três diferentes vias:

(1) práticas educativas, (2) formação profissional e (3) profissionalização.

A primeira das vias assenta nas práticas educativas, estas consistiam na oportunidade

que criavam dos alunos frequentarem novamente a escola, ou de a frequentar pela primeira vez,

caso fosse esse o problema. Neste âmbito, a alfabetização era o principal motor que movia a

ação, já que nos anos 50, 60 e 70 a grande maioria da população portuguesa apresentava

défice escolar.

A segunda via da educação de adultos, assenta na formação profissional, esta tem como

principal função preparar o individuo para o exercício de uma atividade profissional, nunca

esquecendo que durante o percurso laboral acontecem vários períodos de formação. Esta

formação surge associada “à necessidade de conferir aptidões e conhecimentos, de carácter

técnico ou científico, que permitisse aos operários produzir mais e melhor”, pois “quanto mais

apurados forem os conhecimentos dos operários e dos trabalhadores, mais perfeitos e por isso

mais rendosos serão os produtos industriais e agrícolas”. (Reis cit. in (Cunha, 2013, p. 14)

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A terceira via da educação de adultos leva-nos até à profissionalização, orientada para o

desenvolvimento local, que tem como propósito o desenvolvimento e progresso da autonomia

dos cidadãos locais com o objetivo de resolução de problemas locais pertinentes. Neste âmbito e

por via da educação, a animação sociocultural surge como uma outra via na reposta para a

concretização das mudanças sociais, já que é um domínio das práticas educativas alternativas

ao modelo escolar. A animação sociocultural tem várias funções, sendo as principais as

seguintes: (1) adaptação e integração, (2) recreativa, (3) educativa, (4) ortopédica e (5) crítica.

(Besnard, ref. in Cunha, 2013, pp. 15-16)

A função de adaptação e de integração tem como finalidade “promover a socialização

dos indivíduos”. A função recreativa está inteiramente ligada aos tempos livres, mas de forma

organizada e lúdica. A função educativa, na perspetiva da animação sociocultural, é entendida

como “escola paralela”, ou seja, ao mesmo tempo que desenvolve competências anteriores,

permite ainda ao indivíduo dedicar-se a outros interesses mais específicos, tendo em conta a

vontade e o gosto pessoal do mesmo. A função ortopédica pretende contribuir para a regulação

da vida social através do reequilíbrio das situações de desintegração que existam. E, por último,

a função critica visa fomentar o sentido crítico aos indivíduos de forma a manterem o exercício

da democracia, centralizando a ação na procura de alternativas e novos estilos de vida mais

adaptados aos cidadãos.

Nesta fase, é importante retomar, mesmo que de forma breve, a funções do técnico

superior de reeducação. Isto porque o TSR, no exercício das suas funções, tem a obrigação de

propor e desenvolver atividades consideradas necessárias ao acolhimento dos reclusos,

fomentar a inscrição dos reclusos em cursos escolares e formações profissionais, organizar e

dinamizar atividades culturais recreativas, formativas e de educação física e ainda cursos

escolares de diferentes graus de ensino, para além de todas as outras responsabilidades

burocráticas referentes ao tratamento penitenciário.

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Neste sentido, é importante percebermos de que forma funciona a educação de adultos.

Considerando o processo educativo, pode ser de três formas, (1) educação formal, (2) educação

não formal e (3) educação informal. A educação formal, é o tipo de ensino dispensado pela

escola, com exigências de processos avaliativos e de certificação final. A educação não formal,

caracteriza-se pela sua flexibilidade, quer de horários, quer de locais, e apesar de ser voluntária,

pressupõe a construção de situações educativas. E por último, a educação informal refere-se a

todas as situações potencialmente educativas, mas intencionais, já que são pouco organizadas e

estruturadas. (Canário, 2008)

Assim sendo, é possível perceber que o técnico superior de reeducação aplica em muito,

no desenvolver da sua carreira, uma forma de educação informal para adultos. Este tipo de

educação é bastante amplo e heterogéneo, abrangendo um conjunto de processos, meios e

instituições, específicos ou não, que podem não estar diretamente associadas ao sistema

educativo comum. As práticas de educação informal, tal como já percebemos, são muito amplas

pois pretendem alfabetizar alunos, expandi-los culturalmente e criar atividades de ocupação dos

tempos livres. (Cunha, 2013, p. 21)

A educação informal pode ainda ser utilizada como um instrumento de orientação para a

“formação cívica, social e, política, ambiental e ecológica”, já que, segundo Bernet (2003),

referido por Cunha (2013, p. 22), é um “conjunto de processos, meios e instituições específicas

e distintamente concebidos de acordo com objetivos explícitos de formação ou instrução, não

diretamente destinadas a prestação de graus próprios do sistema do ensino formal”. É ainda ao

nível da educação informal que se insere a animação sociocultural, já que corresponde a

práticas educativas e sociais suficientemente capazes de trabalhar a autonomia, que é

transversal às várias dimensões da educação que se pretendem também trabalhar em meio

prisional.

Segundo Abraham Pain (1990), referido por Canário (2008, p. 81), a educação informal

propõe uma forma inversa de definir situações educativas, ou seja, o principal objetivo é atingir

os efeitos educativos, ao invés de partir das intenções dos seus intervenientes (ou seja,

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formadores). Valoriza as aprendizagens do quotidiano, ao contrário das fomentadas pelo ensino,

sendo por isso aprendizagens com foco nos efeitos dos comportamentos e não nas intenções do

comportamento. O mesmo autor refere ainda que as aprendizagens ao nível do quotidiano são

tão elevadas que correspondem de forma maioritária às aprendizagens gerais da vida do

indivíduo, o mesmo aplica-se inclusive aos indivíduos altamente escolarizados.

Nos estabelecimentos prisionais, o tipo educação informal faz mais sentido, quando

comparado com a educação formal e, ainda, considerando o papel dos TSR, na medida em que

não existe ocupação laboral para todos os reclusos da prisão. Segundo a investigação levada a

cabo por Cunha (2013), no Estabelecimento Prisional Regional do Montijo, é ainda referido que,

embora a prisão possa ser uma segunda oportunidade para a educação formal, tendo em conta

que muitos dos indivíduos não tinham hábitos de estudo ou não se identificavam com o sistema

educativo, para muitos deles, ingressar na escola do estabelecimento prisional continua a não

ser uma opção, e como tal, é fundamental encontrar alternativas de atuação para ocupar o

tempo livre dos reclusos. Cunha, 2013, p. 23)

O tipo de atividades educativas informais, e/ou não formais, tem também maior adesão,

já que são mais apelativas. Segundo Bernet, referido por Cunha (2013, p. 23), o facto de se

poder contar com a presença de voluntários, pessoas externas ao estabelecimento prisional, e

do sexo oposto, faz com que as atividades sejam mais variadas, minimizando os efeitos

negativos do cumprimento da pena. Desta forma, os educadores, técnicos, animadores

socioculturais e voluntários têm um papel muito importante na ressocialização dos reclusos,

através de atividades de animação, trabalhando o potencial educativo. Por efeitos educativos

“entenda-se [...]a concretização de mudanças duráveis de comportamentos e atitudes,

decorrentes da aquisição de conhecimentos na ação e da capacidade de experiencias vividas e

coletivas” (Canário, 2006, cit. in Cunha, 2013).

Segundo Lopes (2006, p. 404), a educação não formal ou informal, procura dar enfâse

aos afetos através da convivência entre os grupos, criar relações horizontais, ao invés de

verticais, nas relações humanas, aproximar pessoas sem valorizar os seus graus académicos,

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abrangendo assim toda a população, valorizando as aprendizagens entre gerações e pessoais,

sempre sem recurso à educação formal. Aspetos muitos semelhantes aos da animação

sociocultural, a qual tem em atenção os interesses específicos do grupo ou do indivíduo, o uso

de metodologias ativas e dinâmicas, com o máximo de exclusão de qualquer tipo de intervenção

formal e exigências académicas, permitindo potenciar a educação para situações sociais típicas

do quotidiano, sendo a prisão um local de novas aprendizagens em que as experiências vividas

também são significativamente importantes para a tomada de decisão durante o cumprimento

de pena.

Após esta breve exposição dos significados da educação para adultos, no que consiste e

de que forma pode ser aplicada, conseguimos mais facilmente perceber o trabalho do TSR, já

que o mesmo prevê legalmente a realização e promoção de atividades, sejam elas formativas ou

recreativas, tendo nesse aspeto uma grande influência no exercício da educação não formal ou

informal, independentemente de ser realizada ou organizada pelo próprio.

A par da função de educador não formal/informal, o técnico superior de reeducação tem

também a responsabilidade de encaminhar os reclusos que se mostrem interessados ou com

necessidade de aprendizagem escolar para a educação formal, também promovida pelos

mesmos, possibilitando o acesso do recluso aos mais variados graus de ensino, seja ele básico,

secundário ou até mesmo de grau superior.

Neste sentido, será então importante perceber, por intermédio da investigação

desenvolvida, quais são as principais tarefas que os técnicos superiores de reeducação

realização ao longo do dia, assim como as atividades e planos de intervenção que implementam

junto dos reclusos que acompanham nos estabelecimentos prisionais selecionados (EP Porto e

EP Coimbra), como ainda perceber se tais planos de intervenção, que visam a reeducação de

comportamentos, alcançam os objetivos propostos.

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6. O Técnico Superior de Reeducação

Tal como já foi possível perceber, atualmente, o trabalho de serviço social é da

competência de um grupo de técnicos formados nas áreas das Ciências Sociais e Humanas.

Estes técnicos, apesar das várias alterações realizadas no séc. XXI, continuam a exercer as

mesmas funções descritas no Dec. Lei 346/91 de 18 de Setembro11. Este decreto estabelece a

carreira de Técnico Superior de Reeducação do modo seguinte:

Propor e desenvolver as atividades necessárias ao acolhimento dos reclusos em

colaboração com o Instituto de Reinserção Social e os restantes serviços do

estabelecimento;

Conceber, adoptar e ou aplicar métodos e processos técnico-científicos considerados

mais adequados ao acompanhamento dos reclusos durante a execução das medidas

privativas da liberdade, nomeadamente no que diz respeito à elaboração e atualização

do plano individual de readaptação e à emissão de pareceres legalmente exigidos ou

superiormente solicitados;

Prestar às direções dos estabelecimentos a assessoria técnica necessária à execução do

plano de tratamento dos detidos, nomeadamente no que concerne à colocação laboral, à

frequência de cursos escolares e de formação profissional, à aplicação de sanções

disciplinares e a alterações do regime de cumprimento de pena;

Dar apoio técnico aos tribunais de execução de penas através da elaboração de

relatórios, emitindo pareceres sobre a evolução da personalidade dos reclusos, durante a

execução da pena, de modo a habilitar os respetivos juízes a avaliar a persistência ou

não de perigosidade e a viabilidade de reinserção social;

Elaborar programas e execução de estudos psicossociais e acompanhamento individual

dos delinquentes;

11 Dec. Lei 346/91 de 18 de Setembro.

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Conceber e ou desenvolver projetos de atuação ao nível de grupos específicos em risco

psicoafectivo, designadamente toxicodependentes, portadores de doenças

transmissíveis, jovens adultos e doentes mentais;

Conceber programas de prevenção primária e secundária, nomeadamente de consultas,

tratamento e apoio permanente a reclusos em risco e/ou consumidores de drogas;

Organizar e dinamizar atividades culturais recreativas, formativas e de educação física,

com participação dos reclusos, com vista a ocupação dos tempos livres e à promoção da

vertente psicossocial dos mesmos;

Organizar o contacto dos reclusos com o meio exterior, incentivando a troca de

correspondência e o convívio periódico com familiares e amigos;

Organizar cursos escolares de diferentes graus de ensino, estimular os reclusos à sua

frequência e estabelecer os contactos necessários com o Ministério da Educação;

Fomentar o acesso dos reclusos aos meios de comunicação social por forma a mantê-los

informados dos acontecimentos relevantes da vida social;

Estimular a participação de grupos de voluntários da comunidade na vida prisional em

ordem a viabilizar a ressocialização futura dos reclusos;

Organizar estudos estatísticos e elaborar planos e relatórios de actividades.12

Em suma, e pelos objetivos decretados para a carreira dos TSR, os mesmos têm como

principal função o acompanhamento e melhoria das capacidades pessoais, laborais e

académicas dos reclusos. Pretende-se que na prisão sejam dadas ferramentas de

desenvolvimento pessoal a quem necessitar das mesmas, já que, por vezes, em contexto de

liberdade, nem sempre se proporcionaram. A par destas funções, os Técnicos Superiores de

Reeducação têm ainda um papel administrativo, na elaboração de relatórios, pareceres, entre

outros instrumentos escritos de acompanhamento dos reclusos, associados às suas funções.

12 Dec. Lei 346/91 de 18 de Setembro (in Gomes, 2008, p. 87).

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Como se depreende da leitura do decreto lei citado, nos nossos dias a prisão não é

estritamente concebida como uma instituição de punição pelo crime cometido, mas cada vez

mais, de reeducação e reabilitação.

6.1. O Trabalho Social

Estando as funções dos Técnicos Superiores de Reeducação legalmente definidas, é

importante perceber a efetivação prática do trabalho destes técnicos nas prisões portuguesas.

Embora em Portugal não haja nenhum estudo direcionado apenas para este tema, é possível

encontrar alguns autores que, no âmbito das suas investigações, tiveram em conta o papel dos

técnicos, assim como a opinião dos mesmos sobre as suas tarefas.

Inês Gomes (2008) realizou, no âmbito da sua dissertação de mestrado sobre reinserção

de ex-reclusos, uma breve recolha de opiniões/informações dos técnicos, a título informal, no

Estabelecimento Prisional de Coimbra, onde fez a investigação em 2006, ainda como estagiária

curricular. Na sua investigação, Gomes (2008, p. 42) tentou perceber o tipo de apoio que era

dado pelos técnicos, aquando da saída do recluso em liberdade. Eis dois testemunhos:

(…) seria possível criar e fazer cumprir este tipo de programas. (…) sistema carcerário é pouco

educativo, (…) ele sai sem retaguarda familiar (na maior parte das vezes) e sem dinheiro. A

primeira coisa que fazemos é orientá-los a requerer o RSI (Rendimento Social de Inserção). (…)

mas estes utentes são geralmente indivíduos isolados). (...) Pela minha experiência, o plano

individual (…) passava muito pela aprendizagem de um ofício que se tornou inútil quando

saíram. (Gomes, 2008, p. 42)

Eles saem de lá sem se ter conseguido planear muito bem como vai ser a reinserção, (…) da

falta de protocolos com outras instituições. (…) Penso que essa será uma das principais falhas.

(Gomes, 2008, p. 41).

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É possível, assim, perceber que os principais problemas apresentados assentam

essencialmente num sistema carcerário pouco educativo, que tem em vista a aprendizagem de

um ofício inútil no meio exterior à prisão, para além da falta de treinos que reeduquem os

comportamentos dos indivíduos. Gomes, refere ainda que a falta de técnicos superiores nas

cadeias, e a falta de protocolos com instituições exteriores leva à uma deficiente preparação da

liberdade do recluso, sendo que o mesmo é muitas vezes colocado em liberdade sem qualquer

suporte social e/ou financeiro ao seu dispor, sendo apenas aconselhado dirigir-se à Segurança

Social, entidade esta que se responsabilizara totalmente pelo encaminhamento do recluso.

A par disso, Gomes tentou, também, perceber que tipo de avaliação os técnicos faziam

da efetivação da política escolar e de formação profissional exercidas no contexto prisional. É

referido o “(…) desfasamento existente entre o que é lecionado lá dentro e a realidade exterior.

Além disso, estas atividades são em número restrito, o que não possibilita o acesso a toda a

população prisional (…)”. Percebe-se assim que a formação escolar lecionada não é compatível

com os programas escolares regulares. Do mesmo modo, os ofícios aprendidos nada têm a ver

com as necessidades e aprendizagens no meio externo.

De uma formal geral, a percepção de que as atividades organizadas são inferiores às

necessárias e não servem de igual forma toda a população reclusa parece bem presente. Além

disso, denota-se uma seleção muito precisa dos reclusos para participação dos mesmos, já que

é referido que apenas os bem comportados são aceites para colaborar nas formações e ou outro

tipo de ocupações existentes:

Só alguns é que têm essa possibilidade. (…) são os mais bem comportados que usufruem, (…)

deveriam pensar um bocadinho na ocupação e na formação dos reclusos (Gomes, 2008, p. 41).

(…) apanhei ex-reclusos que quando estiveram presos aprenderam e desenvolveram

competências (…) não lhes serve de nada, (…)

Segundo Gomes, a desadequação das formações às necessidades resolvia-se com um

estudo que fizesse perceber as necessidades do meio exterior, de modo a formar os reclusos

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nesse sentido, preparando-os para um ofício útil, com possibilidade de uma colocação laboral

que lhes permitisse reinserirem-se na sociedade mais facilmente.

Já em França, Yasmine Bouagga (2013) iniciou o desenvolvimento de uma investigação

semelhante à que se pretende desenvolver a partir desta investigação, embora o seu principal

ponto de partida seja as alterações “morais” a que a carreira está associada.

Bouagga explora as reconfigurações dos perfis profissionais e das identidades

profissionais dos técnicos de reinserção social ao longo dos anos 2008 e 2011. Analisa as várias

dinâmicas associadas à esfera penal, os desafios impostos por ela, a sobre-população prisional,

os constrangimentos administrativos das prisões, a transposição do papel do assistente social

para o papel de criminólogo e, para além de tudo isso, analisa ainda o atual papel de técnico

superior de reeducação como mediador do sistema penitenciário e do sistema judiciário.

Na investigação de Bouagga (2013), o objetivo centra-se nos “dilemas morais” criados

pelas transformações do trabalho do técnico intramuros. Para isso, a autora conduziu uma

investigação entre 2008 e 2011 em dois estabelecimentos prisionais masculinos franceses.

Uma das prisões foi a de Dugnes, constituída por 2000 reclusos, e a outra foi a de Broussis, que

alberga cerca de 900 reclusos. Ambos os estabelecimentos prisionais estudados estavam

sobrelotados, sofriam várias mudanças ao nível da equipa técnica de reinserção social, assim

como se caracterizavam por uma variação significativa de reclusos, quer pelo tempo de

cumprimento de pena, quer pelas constantes transferências realizadas.

Quando a investigação foi realizada, o estabelecimento prisional de Dugnes (com uma

população de 20000 reclusos) era constituído por 24 “técnicos de reinserção social” (4 deles

tinham mais de 10 anos de serviço prisional) e o estabelecimento prisional de Broussis (com

uma população de cerca de 900 reclusos) era constituído por 9 técnicos de reinserção social (1

deles tinha mais de 10 anos de serviço, e outros 4 ainda se encontravam numa fase de

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adaptação ao sistema), sendo que cada técnico se encontrava responsável por cerca de 80 a

120 reclusos.

Tal como a própria autora refere, tais números denotam claramente o distanciamento

entre os técnicos e os reclusos. Acresce que que os gabinetes dos técnicos se encontram num

edifício diferente do das alas da prisão, e o encontro entre as duas partes só acontece após a

realização de um pedido por escrito dos reclusos. (Bouagga, 2014)

Com base na mesma investigação, Harcout (ref. in Fassin, Bouagga, et al, 2013) refere

que a falta de tempo para um acompanhamento mais próximo e individualizado leva os técnicos

a uma recolha de informação de forma a caracterizar os casos, à partida, como prioritários ou

não prioritários. Segundo o autor, tal forma de atuação responsabiliza em larga percentagem os

técnicos pelos atos dos reclusos, ou seja, é criada a percepção de que através das

entrevistas/atendimentos realizados com os reclusos é possível prever ou perceber o tipo de

comportamento que os mesmos irão adotar no futuro face às várias situações. Mas como refere

a autora: “we do not have a crystal ball” (Bouagga, 2014, p. 84).

Um outro aspeto de importante reflexão, abordado por Wacquant (ref. in Fassin,

Bouagga, et al, 2013) é o tipo de orientação que deve ser realizada pelos TSR. Este autor refere

que a maior parte dos reclusos é proveniente de zonas pobres, jovens delinquentes, emigrantes,

portadores de doenças mentais, sem-abrigo, entre outros.

A falta de respostas sociais e de soluções é muitas vezes apontada pelos técnicos

franceses, “of course it’s not fair, but we feel powerless: when you are confronted with a

homeless guy, there’s nothing you can do for him, there are not enought social shelters outside

(Bouagga, 2014, p. 85).

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Anne Théron, técnica superior no estabelecimento prisional de Dugnes, desde 1975,

(ref. in Bouagga, 2014), explica que os reclusos são caracterizados segundo cinco segmentos de

avaliação específicos, sendo que o que fica colocado no primeiro segmento tem todas as

possibilidades de voltar a ser reinserido na sociedade, no reverso, o recluso que fica no quinto

segmento não terá qualquer tipo de intervenção para a reinserção, e conclui que: “(…) so

nothing will be donne for him: it is scary!”.

No entanto, em 1992, Feeley e Simon, também no contexto prisional francês,

aperceberam-se de que poderia existir toda uma nova forma de acompanhar os reclusos,

caracterizada por ter como principal preocupação a provisão da residência, ao invés da

reinserção socioeconómica e da moralidade de comportamentos, a qual levava os técnicos a

uma forma muito confusa de intervenção: “you have to be at the same time in a caring attitude,

displaying empathy, concern, while you are also evaluating and controlling!” (Bouagga, 2014)

Por estranho que pareça, a verdade é que a burocracia exigida aos técnicos superiores

de reeducação é referida por Feeley e Simon (ref. in Bouagga, 2014) como facilitadora da gestão

das relações, isto porque justifica de alguma forma a distância que tem de ser criada, assim

como as constantes avaliações do comportamento dos reclusos. Fazendo com que em situações

de residência e de regresso ao estabelecimento prisional, os técnicos superiores de reeducação

adotem uma postura que responsabilize o próprio indivíduo, ao invés de se poderem envolver

emocionalmente com a situação.

Um outro investigador, também da mesma área de estudo e também em França, Xavier

De Larminat, entre 2007 e 2008, levou a cabo um estudo tendo também como foco os técnicos

superiores de reeducação. Larminat (2013), pretendia abordar dois tipos de intervenção

distintos, o trabalho dos técnicos de reinserção e o trabalho realizado pelos técnicos superiores

de reeducação, que nos estabelecimentos prisionais escolhidos pelo investigador funcionam

paralelamente. Para tal, realizou a investigação em dois estabelecimentos prisionais diferentes, o

de Beauchcamp que se fazia constituir por 10 profissionais de reinserção, e o de Durbai que

compunha um grupo de 27 técnicos. Durante seis meses, com uma frequência de três vezes por

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semana, o investigador realizou observação direta em cada um dos serviços, tendo ainda

realizado 25 entrevistas a 25 técnicos diferentes. Estas tinham como principal objetivo conhecer

a trajetória da carreira, assim como recolher informação acerca do ponto de vista dos técnicos

sobre o próprio trabalho e práticas aplicadas.

Através da investigação de Larminat, foi possível perceber que embora os técnicos de

reeducação admitam a falta de grau académico para desempenharem determinadas funções

especificas provenientes de áreas de estudo que não são diretamente as dos técnicos, na

realidade acabam por desempenhá-las. Isto acontece porque o trabalho do TSR é multifacetado,

já que enfrenta desafios de várias áreas do conhecimento, como é o caso da sociologia,

psicologia, criminologia e até da ciência política, áreas que adquirem cada vez mais importância,

quando colocadas a par da reinserção social e do trabalho individualizado a realizar com o

recluso (Larminat, 2013).

Os técnicos de reinserção social desta investigação referem que são precisos cerca de

seis meses para que uma relação de confiança seja construída no sentido de uma intervenção

individualizada adequada, o que inclui contactos com a rede de suporte do recluso (relações

familiares, relações interpessoais, relações laborais, relações de amizade).

Mas, tal como os técnicos superiores do estudo de Durnain e Beauchcamp referem, o

tipo de intervenção é definido muitas vezes pelas opções que a própria administração da prisão

permite que sejam utilizadas. Em 2000 foi admitido pelas prisões francesas um projeto

denominado “project sentence-serving”, este projeto dissociou-se do termo “utente”, dando lugar

ao novo termo de “cliente”, já que o mesmo, por si só, reconhece efetivamente direitos aos

reclusos, passando a existir uma revisão periódica do tipo de diagnóstico e intervenção a ser

aplicada.

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Mas nem sempre tal forma de atuação é possível para os técnicos de Beauchcamp, que

referem que “we do diffential follow up simply because there are too many cases” (Larminat,

2013, p. 3). Assim sendo, os diagnósticos acabam por funcionar como avaliadores do risco da

estabilidade/instabilidade do estabelecimento prisional, ao invés de instrumentos para um plano

de intervenção para a reinserção social personalizada.

Através destes três estudos distintos foi possível perceber as principais dificuldades que

os técnicos superiores de reeducação/reinserção social noutros estabelecimentos prisionais fora

do país referem aquando da sua intervenção juntos dos reclusos.

De modo geral, as opiniões dos técnicos nas três investigações anteriormente

apresentadas são transversais. Todas elas de alguma forma referem que o tipo de intervenção

utilizada não vai ao encontro das necessidades específicas da população reclusa, que as

atividades organizadas não os preparam devidamente para a liberdade, nem chegam a atingir os

objetivos de capacitação intelectual da forma pretendida, que as ocupações laborais não vão ao

encontro das necessidades laborais em meio externo, que nas atividades organizadas apenas

participa uma minoria da população reclusa e os que participam são seletivamente convidados a

colaborar nas mesmas, que o trabalho dos técnicos também depende muito dos objetivos da

Direção do Estabelecimento Prisional, assim como da intervenção personalizada do, técnicos. Ou

seja, que apesar dos princípios de intervenção serem os mesmos no acompanhamento do

recluso, as intervenções, na prática, são realizadas conforme a disponibilidade do técnico e a

urgência dos problemas relativos a cada recluso. Por último, é possível ainda perceber que os

reclusos, quando saem em liberdade, muitas vezes saem pouco orientados e sem uma

retaguarda segura para a vida em liberdade.

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Parte II - Metodologia

1. Metodologia de Investigação Utilizada

Tal como já foi referido anteriormente, esta investigação pretende perceber as

dificuldades dos técnicos superiores de reeducação no exercício das suas funções, atendendo à

legislação que os rege, e tendo em conta o grupo-alvo destes profissionais.

Para tal, foram entrevistados técnicos de dois estabelecimentos prisionais. Desta forma,

procurou-se perceber se as dificuldades são transversais aos técnicos, mesmo que trabalhem

em estabelecimentos prisionais distintos.

Assim sendo, foram entrevistados técnicos superiores de reeducação com os objetivos

de :

- Conhecer as várias tarefas associadas à carreira de TSR (vários tipos de

trabalho exigido enquanto profissional num Estabelecimento Prisional - EP).

- Perceber as condições em que as medidas de reeducação são aplicadas;

- Identificar os obstáculos encontrados pelos TSR na aplicação das políticas

sociais previstas legalmente;

- Compreender a visão dos TSR face às respostas e à sua eficácia;

- Identificar as aspirações destes profissionais relativamente à carreira de técnico

superior de reeducação.

Para que tais objetivos fossem alcançados, a metodologia de investigação que suportou

cientificamente a pesquisa foi a investigação qualitativa13, através de uma amostragem do tipo

não probabilístico, já que esta é usada quando se conhece o universo dos entrevistados e estes

são selecionados por critérios previamente definidos pelo investigador. Tendo por base uma

amostra por conveniência, neste tipo de amostras, o investigador seleciona alguns elementos a

que tem acesso e parte do pressuposto que os mesmos podem representar um universo de

sujeitos, existindo no entanto, riscos na imprecisão dos resultados (Kinnear & Taylor, 1979).

13 O objetivo da metodologia qualitativa é compreender o sentido da realidade social fazendo uso da indução como forma de obter uma

compreensão alargada dos fenómenos. O investigador pretende compreender o fenómeno tal como é vivido e relatado pelos indivíduos (Fortin, 2009)

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Numa primeira fase, foi realizado um pedido14 de autorização para a efetivação da

investigação à Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais que, depois de facultado, exigiu

um contacto com o Diretor Adjunto dos Estabelecimentos Prisionais envolvidos. A estes foi

explicado o objetivo da investigação, assim como a necessidade de realizar entrevistas aos

técnicos superiores de reeducação para uma investigação de sucesso. Logo de seguida, o

objetivo da investigação foi também explicado aos Técnicos Superiores de Reeducação via e-mail

e/ou pessoalmente, dependendo da disponibilidade, e combinado um momento específico para

a realização da entrevista, de forma a não alterar significativamente o trabalho diário dos

técnicos superiores de reeducação.

Aquando da realização das entrevistas, foi novamente apresentado o tema de

investigação e entregue uma declaração informativa15 que explicava a investigação, estando

também assinada pela investigadora, assim como foi pedido que o TSR assinasse o

consentimento informado16, de forma a preservar a confidencialidade das informações prestadas

na entrevista.

Toda a entrevista foi orientada por um Guião de Entrevista pelo que a entrevista como

técnica de recolha de informação assumiu, nesta investigação, um carácter semi-estruturado17.

Com o guião de entrevista pretendi explorar seis dimensões do trabalho do técnico superior de

reeducação: (1) adaptação ao contexto institucional, (2) funções desempenhadas, (3) meios de

ação: reconhecimento de problemas e soluções/propostas, (4) contexto organizacional:

recursos, (5) articulações com entidades institucionais externas, (6) perspetivas face ao futuro

técnico superior de reeducação.

14 Ver Anexo I 15 Ver Anexo II 16 Ver Anexo III 17 Ver Anexo IV

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2. Amostragem

Para esta investigação foi selecionado um total de 12 técnicos superiores de

reeducação, dos quais, 7 pertencem ao Estabelecimento Prisional do Porto e 5 ao

Estabelecimento Prisional de Coimbra. Isto porque com este estudo pretende-se perceber se as

dificuldades e opiniões dos técnicos superiores de reeducação são as mesmas, tendo em conta

mais que um ambiente prisional.

A seleção dos técnicos processou-se de forma muito simples. Após a aprovação da

investigação pela DGRSP, os respetivos diretores adjuntos de cada estabelecimento prisional

foram contactados com o intuito de se realizar uma reunião onde fosse possível apresentar o

tema da investigação e os objetivos propostos. Depois de reunir com os respetivos diretores

adjuntos, os mesmos, apresentaram a equipa de técnicos superiores de reeducação aos quais

foi novamente explicado o motivo da investigação e pedida a sua participação.

Foram escolhidos estes dois estabelecimentos prisionais porque, apesar de terem

algumas semelhanças, têm também diferenças nas suas características.

Trata-se de dois estabelecimentos prisionais centrais. No entanto, o EP do Porto, apesar

de inicialmente se destinar apenas a reclusos a cumprir prisão preventiva, atualmente também

acolhe reclusos a cumprir pena de prisão efetiva, sendo o número maioritário no EPP. O EP de

Coimbra destina-se apenas a reclusos a cumprir pena de prisão determinada.

Ambos os estabelecimentos prisionais se destinam apenas a indivíduos do sexo

masculino, tal como todos os outros estabelecimentos prisionais centrais. Estes EP’s têm uma

média de 554 reclusos por E.P., valor que não coincide com os estudados, já que o

Estabelecimento Prisional do Porto alberga 1220 reclusos e o de Coimbra, cerca de 500

reclusos18. O valor acima da média apresentado pelo EP do Porto fará com que se compreenda

quais são as dificuldades associadas a um trabalho com sobrelotação de reclusos, tendo ainda

em conta que a média de TSR por estabelecimento prisional é de 9 técnicos.

18 valores fornecidos de forma informal aquando da realização das entrevistas – Ver Anexo V.

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Além dos fatores anteriormente descritos, Porto e Coimbra são os Distritos Judiciais com

maior e menor número de estabelecimentos prisionais. O Distrito Judicial de Coimbra é o mais

pequeno do país com apenas 9 EP’S associados e o Distrito Judicial do Porto é o segundo com

mais estabelecimentos prisionais, com EP’s, logo seguido de Lisboa, já que 15 estabelecimentos

prisionais.

De seguida serão caracterizados, embora de uma forma muito breve, os dois

estabelecimentos prisionais escolhidos para a realização da investigação.

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Parte III - Apresentação de resultados

1. Estabelecimento Prisional de Coimbra

O Estabelecimento Prisional de Coimbra (EPC), conforme referido anteriormente, recebe

reclusos apenas do sexo masculino, divididos por oito alas diferentes. Com uma lotação máxima

de 421 reclusos, em 2010 albergava 42419, no entanto, e como foi possível apurar de forma

informal aquando da realização das entrevistas, atualmente alberga cerca de 500 reclusos.

Desde grupo de reclusos, 58 já beneficiam de Regime Aberto para o Interior20 (RAI)21. Os reclusos

cumprem penas de prisão superiores a 10 anos de condenação, sendo que a idades médias se

encontram entre os 20 e 30 anos de idade. É ainda de destacar que a população reclusa

apresenta um elevado número de reincidentes e um vasto número de crimes relacionados com o

tráfico de estupefacientes.

O EP de Coimbra está ainda organizado de forma a proporcionar aos reclusos a

possibilidade de aprenderem tarefas nas áreas da marcenaria, carpintaria, serração, estofaria,

encadernação, empalhadores, entalhadores, polidores, sapataria e serralharia. Bem como outros

cursos de formação que demonstrem ser importantes para a população reclusa. Para além das

tarefas laborais, existem também outras atividades socioculturais, tais como, teatro, música,

biblioteca, ginásio de musculação e um campo polidesportivo.

O EP de Coimbra tem 244 funcionários ao seu serviço, sendo que 184 pertencem ao

grupo de Guardas Prisionais e 10 exercem funções de Técnico Superior de Reeducação.

Segundo os dados do Relatório de Atividade de 2010 (p.38), relativamente ao

tratamento da execução de penas, foram realizados 12 conselhos técnicos internos e 79

conselhos técnicos com o Tribunal Execução de Penas de Coimbra.

19 Relatório de Atividades DGSP, 2º Volume – 2010. 20 Destina-se a reclusos com penas de prisão igual ou inferior a um ano. (Lei n.º115/2009 de 12 de Outubro, Artigo n.º 14). 21 (Relatório de Atividades de 2010, 2º Volume, DGSP).

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2. Estabelecimento Prisional do Porto

O Estabelecimento Prisional do Porto (EPP), ao contrário do Estabelecimento Prisional de

Coimbra, possui na sua constituição uma Unidade Livre de Drogas (ULD) que se destina a

reclusos que, numa fase de tratamento de desintoxicação, preferem fazer parte de um serviço

terapêutico, capaz de os retirar do mundo do consumo de estupefacientes. Assim como se

distingue daquele, por manter em reclusão sujeitos em prisão preventiva.

À semelhança do EP de Coimbra, o Estabelecimento Prisional do Porto, também recebe

apenas indivíduos do sexo masculino e, segundo o Relatório de Atividades de 2010, no espaço

de um ano (entre 2009 e 2010) contou com um aumento de reclusos de 868 para 898, sendo

que 614 reclusos são condenados e 284 são preventivos. No entanto, dados fornecidos mais

recentemente pelo Estabelecimento Prisional do Porto, a 20 de Julho de 201522, aquando a

realização das entrevistas, referem que atualmente o EP do Porto alberga um total de 1220

homens, sendo que 347 deles são preventivos e os restantes 873 são condenados.

Relativamente ao tipo de crimes cometidos, a maioria ressalta no crime contra o

património, seguido dos crimes relacionados com o tráfico de estupefacientes.

Embora o número de reclusos do EPP seja consideravelmente maior do que no EP de

Coimbra (no primeiro caso, cerca de 500 reclusos, no outro 1220), o Estabelecimento Prisional

do Porto tem ao seu serviço 286 funcionários, contra 244 do Estabelecimento Prisional de

Coimbra, sendo que 9 deles são Técnicos Superiores de Reeducação e 218 fazem parte do

corpo de Guardas Prisionais.

O Estabelecimento Prisional do Porto, à semelhança do EP de Coimbra, também

promove a aprendizagem de tarefas, nomeadamente nas áreas da padaria, carpintaria,

tipografia, serralharia, obras e pichelaria, mecânica, restauração, faxinas, sapataria, lavandaria,

assim como parcerias de trabalho com empresas do sector privado externas ao estabelecimento

prisional.

22 Ordem de serviço n.º 138 de 20 de Julho de 2015.

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3. Entrevistados e Análise dos Dados

Conforme a disponibilidade dos técnicos, foram agendados momentos específicos para

realização das entrevistas, já que não se pretendia alterar de forma muito significativa as rotinas

de trabalho dos TSR. Infelizmente, o facto das entrevistas se terem realizado durante o mês de

Julho de 2015, levou a um número mais reduzido de entrevistas, já que alguns dos TRS se

encontravam de férias.

Dos doze entrevistados, apenas três são do sexo masculino (3 TSR do sexo masculino e

9 TSR do sexo feminino). A maioria tem mais de 10 anos de carreira (4 TSR têm menos de 10

anos de carreira e 8 TSR têm mais de 10 anos de carreira). Apenas três dos técnicos nunca

trabalharam noutro estabelecimento prisional, para além daquele a que estavam afetos (3 TSR

só trabalharam num EP até ao momento da entrevista, ao contrário dos restantes 9 TSR). É

importante ainda referir que a média de idades dos TSR entrevistados é de 52 anos de idade.

Tabela 1: Sexo dos Técnicos Superiores de Reeducação

Sexo dos Técnicos

Superiores de Reeducação

Número de

TSR

Estabelecimento

Prisional de Coimbra

Estabelecimento

Prisional do Porto

Feminino 9 4 5

Masculino 3 1 2

Total 12 5 7

Tabela 2: Tempo de serviço

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Técnicos Superiores de

Reeducação – Tempo de

Serviço

Número de

TSR

Estabelecimento

Prisional de

Coimbra

Estabelecimento

Prisional do Porto

Menos de 10 anos de

Serviço

4 0 5

Mais de 10 anos de Serviço 8 5 2

Total 12 5 7

Tabela 3: Mobilidade dos TRS nos EP’s.

Presença dos Técnicos

Superiores de Reeducação

em EP’s

Número de

TSR

Estabelecimento

Prisional de

Coimbra

Estabelecimento

Prisional do Porto

Apenas um Estabelecimento

Prisional

3 2 2

Mais que um

Estabelecimento Prisional

9 3 5

Total 12 5 7

Um outro aspeto que foi alvo de questões foi o número de reclusos que cada técnico de

reeducação tem a cargo.

Tal como foi referido acima, o EP de Coimbra alberga cerca de 500 reclusos, o que,

atendendo à sua distribuição pelos 10 técnicos de reeducação, dá uma média de 50 reclusos

por técnico. Todavia, com a sobrelotação, vários técnicos do Estabelecimento Prisional de

Coimbra referiram que acompanhavam cerca de 60/70 reclusos “Mais ou menos 60”, “são

mais ou menos 70” (entrevista 11 e 9, respetivamente). Enquanto o EP do Porto alberga cerca

de 1220 reclusos, distribuídos pelos 9 técnicos superiores de reeducação, o que dá uma média

de 135 reclusos por técnico, que na realidade também se constata já que os técnicos referem

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“À volta de 100! Tenho o Pavilhão X, eles são cerca de 300, nós somos três técnicos, por isso

são à volta de 100.”, “Tenho 130” (entrevista 1 e 4, respetivamente). Denota-se assim uma

diferença considerável entre o número de reclusos que os TSR do EPP e do EPC têm a cargo.

3.1 Adaptação ao Contexto Institucional

Seguindo a lógica do guião da entrevista, no âmbito do contexto institucional, é

perceptível, através das entrevistas, que a adaptação dos técnicos ao ambiente prisional foi fácil,

pois, na generalidade dos casos, a entrada no sistema prisional foi resultado de uma concurso

nacional de acesso ao Ministério da Justiça, do qual gostariam de fazer parte, conforme ressalta

de alguns testemunhos que de seguida se apresentam.

Não, não tinha receio. O receio não, até por... foi opção própria hummm... e pedi

transferência (…) e pronto e cá vim parar. Inicialmente tratava a população alvo assim como se

trata os doentes (…) (EPP, entrevista 2, 1.4.).

(…) senti-me bem aceite, senti-me integrada, bem acolhida em termos de contexto dos

colegas e também toda a estrutura do estabelecimento prisional, um belíssimo acolhimento

poderei mesmo dizê-lo (…) (EPC. entrevista 9, 1.4.).

Não, foi normal, eu concorri voluntariamente, portanto era uma coisa que eu queria

(…). Eu nunca tinha entrado numa cadeia, foi fácil a adaptação..., todas as pessoas foram

ótimas eu não tive dificuldade de adaptação, foi bom e fiquei, tanto que ainda aqui estou e

nunca tive..., nunca mais saí dos prisionais, não procurei alternativa porque nunca senti

necessidade disso (…) (EPC, entrevista 11, 1.3.).

Muito embora, os técnicos, na sua maioria, tenham referido que a adaptação ao serviço

e ao trabalho do TSR foi fácil, sem problemas, e que tinham conseguido alcançar aquilo a que a

carreira se destinava, é também importante referir que para outros TSR, a adaptação, apesar de

não ter sido difícil, também não foi assim tão fácil como outros referiram. Estes mencionaram

que, apesar de outros colegas colaborarem na adaptação ao local, o ambiente prisional, os

procedimentos de segurança diários (por exemplo, passar pelo detetor de metais, apresentar os

bens materiais que transporta, deixar dispositivos eletrónicos na portaria, entre outros) a que são

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sujeitos, aquando da entrada no EP, não foram muito fáceis, embora tenham sido interiorizados

e aceites rapidamente na rotina diária do trabalho enquanto TSR.

(…) foi uma coisa diferente, receei, só que era uma coisa que eu queria muito. (…) Os meus pais

também acharam muito estranho (…)quando aqui cheguei era tudo muito estranho, muitas

portas, isto era completamente diferente (…) depois não há nada como o habito, atualmente eu

sou mobília da casa (…) (EPP, entrevista 1, 1.4)

(…) A única coisa que eu acho que ao chegar cá que me custou assim um bocado mais a

adaptação foi os procedimentos de segurança, a pessoa ter que passar no detetor de metais (…)

a pessoa no inicio fica assim um bocado mais digamos, entre aspas, “duvidosa” “receosa”, mas

uma pessoa tem, com o tempo habitua-se, (…) (EPP, entrevista 3, 1.3.).

3.2 Funções Desempenhadas pelos Técnicos Superiores de Reeducação

Quanto à execução das funções legalmente previstas de Técnico Superior de

Reeducação, na generalidade, os técnicos dos dois estabelecimentos prisionais referem o seu

típico dia-a-dia da mesma maneira. Todos respondem às petições (que são pedidos de

atendimento realizados por escrito pelos reclusos ao seu técnico) no decorrer da manhã,

tentando dessa forma resolver os mais variados problemas que lhes são apresentados, assim

como tendem a realizar atendimentos não pedidos pelos reclusos, de forma a acompanharem

devidamente os mesmos no cumprimento da sua pena. Para além disso, documentam todos os

registos administrativos e técnicos, assim como dão resposta às solicitações provenientes da

direção do Estabelecimento Prisional e do Ministério da Justiça e Tribunais de Execução de

Penas (TEP), sendo que muitas das vezes o dia-a-dia, tal como esperado, não acontece devido à

afluência de reclusos sem petição que, mesmo assim, pretendem ser atendidos.

Olhe, então é assim, eu por norma, (…) chego, portanto, vou ver o despacho que foi

aquilo que eu já fui ver, vejo se tenho entrados, vou para o pavilhão. Portanto, o colega é que

normalmente vai ao pavilhão buscar as petições (…) depois vou para o pavilhão e a prioridade é

atender, chamar os reclusos que fizeram a petição ou algum recado que eu tenho que dar de

acordo com o despacho que tinha ali na minha capa, pronto.” (…) “Depois há uma altura em

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que vamos ter que fazer as precárias, temos de fazer as precárias, ou temos de fazer relatórios

porque entretanto o despacho..., estava o relatório para fazer, portanto, vai dependendo muito

do que nos aparece. Quando a gente tem assim um bocadinho, vai fazendo avaliações e vai

fazendo os PIR’s, da parte da tarde, normalmente nunca vou ao pavilhão (…) (EPP, entrevista 1,

2.1.)

(…) São os atendimentos, eles fazem pedidos para atender, eu atendo, (…)eu hoje, por

exemplo, arquivei, registei as coisas que tinha de registar nos processos, atendi, (..)Fui à cave

falar com um recluso (…)fui lá ver se ele precisava de alguma coisa, ver como é que ele estava,

tudo isso faz parte da estabilidade dos reclusos (…) (EPC, entrevista 11, 2.1).

No entanto, alguns técnicos referem que nem sempre necessitam das petições ou

pedidos escritos dos reclusos para os atender e acompanhá-los. Alguns dos técnicos mencionam

que se deslocam até às alas prisionais onde realizam os atendimentos, e lá aguardam pelos

reclusos que vão chegando e atendendo conforme a ordem de chegada.

(…) supostamente devia ser por pedido, mas não é por pedido, às vezes não é por pedido, são

atendimentos em crise, é na hora! (…) o que eu faço é quem tem petição vai à frente para

trabalhar as competências do exterior (…) quem não tem marcação tem que esperar pelas

vagas, tento fazer no pavilhão o mesmo que num atendimento lá fora (…) (EPP, entrevista 4,

2.1).

Nós agora, para evitar o uso abusivo de petições, os reclusos dão o número ao guarda

de manhã e chegam lá e fazem na mesma petição, se for para alterar uma visita, uma

declaração de detenção, eles usam a petição e nós vemos as petições, vemos os que estão lá,

chamamos os reclusos, mas eu, normalmente atendo mesmo que eles não tenham dado o

número, às vezes chateio-me um bocadinho quando são muitos, (…) (EPP, entrevista 6, 2.3.)

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3.3 Meios de Ação

3.3.1Reconhecimento de Problemas e Soluções/Propostas

Um aspeto que também foi alvo de questões no âmbito desta investigação, foi a opinião

dos técnicos relativamente aos programas de treino de competências que os próprios gostariam

de aplicar aos reclusos, tendo em conta as necessidades que os mesmos apontam como

fulcrais. Neste aspeto, a resposta também não foi unânime: a maior parte deles referiu a falta de

tempo e a pequena dimensão do grupo de TSR como constrangimentos à realização e

implementação de atividades e programas extra (não tendo em conta as obrigatórias pela

DGRSP).

Aqui, nesta cadeia, não há nenhuma, porque não há tempo. Porque é assim, o

problema é que todo e qualquer técnico (…) gostaria obviamente de ter tempo para implementar

projetos, fazer coisas diferentes, que aqui não há tempo, é humanamente impossível, (…) há

muita população reclusa, não é? Como sabe… ah, portanto, [é muito complicado, nós temos

inclusive programas que temos que implementar, são programas estipulados pela Direção Geral

e mesmo esses programas às vezes a gente vê-se com alguma dificuldade para os por em

prática (…)] (EPP, entrevista 1, 2.4)

(…) se diminuísse já conseguíamos estar mais livres, [já conseguíamos passar para

atividades diferentes], mas estamos sempre atentos e estamos sempre a procurar esse tipo de

atividades, nós, não… (…) (EPP, entrevista 7, 2.3.).

Foi também referida a inadequação dos planos, tendo sido considerado que a maior

parte dos planos que são aplicados não se coadunam com as verdadeiras necessidades de

intervenção da população reclusa atual.

(...) eu acho que neste momento as atividades que seriam importantes de implementar careciam

de uma breve análise ou avaliação (se quiser) do perfil dos reclusos porque a população

prisional que eu conheci há 30 anos não tem nada a ver com o perfil dos criminosos hoje em

dia (…). Temos tipologias de crimes também diferentes, (…) têm havido muitas alterações ao

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código penal e, (…) com comportamento aditivo, com álcool e drogas, são ambas substâncias

psicoativas. Temos também indivíduos com outras características e formação académica (…),

temos pessoas também licenciadas que entram já com outros conhecimentos e que, portanto,

quantas vezes ao nível da nossa intervenção, também devia ser de acordo com as necessidades

e com o perfil de cada um (…)(EPC, entrevista 9, 3.1)

Mas, tal como foi referido anteriormente, nem todos os técnicos partilham da mesma

opinião, já que houve também quem achasse que existiam imensos programas realizados pela

DGRSP, não existindo por isso necessidade da realização e estruturação de novas atividades.

(…) já temos tantas, que assim a perguntarem-me de repente não me ocorre (…) não

há nada que tenha…obviamente com tempo até podia vir a descobrir, uma que… mas de

repente, não tem chegado nenhum feedback (…), há um leque tão variado de atividades que se

promovem (…)não estou nada de acordo com isso, acho que de facto já de promove muitas

atividades. (EPC, entrevista 8, 2.4).

3.3.2 Objetivos dos Programas de Treino de Competências

Após os técnicos superiores de reeducação terem sido questionados sobre o trabalho

diário e sobre as atividades e programas de treino de competências que vão aplicando à

população reclusa, foi também importante perceber que tipo de objetivos pretendem atingir

quando intervêm junto do recluso e se efetivamente sentem que atingem esses objetivos, ou

seja, se as expectativas de atuação são conseguidas, ou se, pelo contrário, saem defraudadas.

Apesar de uma parte dos TSR declarar que está satisfeito com o seu trabalho na prisão e junto

dos reclusos, a maior parte refere que gostaria de realizar e de ter liberdade para fazer muito

mais atividades e ter uma intervenção muito mais proeminente do que a que tem no momento

da entrevista.

(…) não fiquei defraudada, portanto, era aquilo que eu achava que iria ser, tenho

perfeita noção que a integração social não é o que nós gostaríamos que fosse. (…) achava que

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havia outras coisas que eu ia fazer que naturalmente não fiz, acabei por fazer outras que achava

que nunca iria fazer e fiz ahh, (…) ) (EPP, entrevista 1, 2.9)

Sim gostava de fazer ainda mais, sim, mas, desde de que entrei até agora, vejo uma

melhoria muito grande, aliada aos programas que existem, os projetos, quando entrei para cá,

não havia, (…), neste momento já há, felizmente, e que é uma mais valia para eles e se cada vez

mais. ( EPP, entrevista 2, 2.9)

(…) isso é um sonho, (…), mas.. tinha perfeito conhecimento do que é que iria... e qual

era a tarefa que me esperava, eu tinha um conhecimento muito muito exato do eu é que era,

porque já trabalhávamos em parceria uns com os outros, foi só mudar-me de um sítio para

outro, em relação..., as expectativas, é assim, há coisas que se calhar consegui superar as

minhas próprias expectativas, onde me vieram as lágrimas ao olhos de bom, (…) a maioria dos

dias vêm as lágrimas ao olhos mas é de amargura, de tristeza, mas também já tive o contrário

onde consegui bons, bons, uma boa relação com eles, um empenho brutal com eles, coisas que

eu hoje recordo e tento repetir com muito orgulho (…) (EPC, entrevista 10, 2.9)

Um outro aspeto importante de ser inquirido foi a opinião dos TSR relativamente aos

programas de treinos de competência23 elaborados e obrigatoriamente aplicados nos

estabelecimentos prisionais pela equipa técnica. Os profissionais responsáveis, afirmam que os

programas são realizados sem uma avaliação da diversidade de necessidades dos reclusos de

cada estabelecimento prisional. Para além disso, são apenas aplicados a grupos pequenos,

quase como se fosse uma escolha propositada dos reclusos, sendo que nunca chegam a estar

verdadeiramente disponíveis para toda a população reclusa.

(…) estar a fazer programas que não têm, enquadramento lá na rua, ou que o

enquadramento é muito delimitado, onde nós estamos a fazer, às vezes, programas que não…

não é visível a aplicação deles, quando um indivíduo for para a rua é complicado. (…) (EPC,

entrevista 10, 2.4)

23 O Plano de Contingência, por exemplo, tem como objetivos gerais: a prevenção geral do crime, a prevenção da reincidência e a prevenção da

recaída. E como objetivos específicos: a elaboração de planos de prevenção e de contingência para a vida futura, reconhecer a importância do que pode correr mal na sua vida futura e a utilização de estratégias de antecipação e correção. (POPH – candidatura nª 032866/2010/33 - Continente).

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(…) eu penso que, por vezes, quem integra programas (…) deviam ser feitas avaliações

anteriores, uma vez que muitos têm perturbações da personalidade não é? Muitos têm mesmo

doenças mentais e muitas vezes, a gente mete-os num programa e não (…) como é que vai ser a

reação? E os psicólogos não conseguem atender os reclusos todos, (…) nem nós temos acesso a

isso, é confidencial da parte clínica, os técnicos não têm acesso ao relatório clínico, (…) nós não

temos qualquer conhecimento disso, e depois eles vão para os programas, a gente não sabe (…)

se estão a canalizar as competências que aprendem para o crime, ou se estão a canalizar as

competências para uma vida normativa, nós não sabemos, (…) (EPP, entrevista 4, 3.1]

(…) eu acho que, neste momento, as atividades que seriam importantes implementar

careciam de uma breve análise ou avaliação (se quiser) do perfil dos reclusos porque a

população prisional que eu conheci há 30 anos não tem nada a ver com o perfil dos criminosos

hoje em dia, (…) Pronto, nós temos uma população com problemas diferenciados,

nomeadamente, com comportamento aditivo, com álcool e drogas, são ambas substâncias

psicoativas, temos também indivíduos com outras características e formação académica que não

havia, temos pessoas também licenciadas (…) e que, portanto, quantas vezes (…) nós estamos

aqui numa amálgama de indivíduos que está se calhar numa ala onde se misturam crimes,

diferentes situações de pessoas com perfil diferente e, portanto, é uma intervenção.. aquela que

é possível (…) (EPC, entrevista 9, 3.1)

3.3.3 Programas e Atividades de Intervenção

Após termos questionado os técnicos sobre os programas que são implementados nos

estabelecimentos prisionais sob orientação e elaboração da Direção Geral de Reinserção e

Serviços Prisionais, interrogámo-los acerca de quais os programas e/ou atividades que acham

ser importantes e que gostariam de criar e implementar junto da população reclusa. Foi-nos

possível constatar que alguns técnicos apresentam como fundamental o desporto enquanto meio

de trabalhar competências pessoais e de fazer trabalho em equipa. Para além disso, também

referiram como sendo importante os programas de intervenção junto de indivíduos que tenham

cometido crimes relacionados com abusos sexuais e, ainda, a possibilidade de capacitar os

indivíduos de habilitação legal para a condução, quando a causa do cumprimento de pena tenha

sido condução sem habilitação legal da mesma, sendo que nenhum dos técnicos desconsidera a

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necessidade de programas adaptados, e que a principal razão da implementação dos mesmos,

é puramente estatística.

(…) eu acho que o desporto é um treino de competências, por muito que não seja

formalizado em termos de grupo, que estejam ali, vamos treinar competências, (…) e há uma

coisa que é importante que nos programas não se faz, que é corrigi-los na hora, eles ali estão a

jogar futebol, têm uma atitude incorreta para com quem está noutra equipa e há uma falta de

respeito pelo colega, não podemos corrigi-los na hora, não é? (…) (EPP, entrevista 4, 2.7).

(…) temos aqui um conjunto muito grande de indivíduos que estão presos porque não

têm carta, (…) agora já há os estradais, mas os estradais, não é isso, o que eles precisam

efetivamente é tirar a carta, (…); para agressores sexuais, esses indivíduos tinham, era

obrigatório, fazer-se uma abordagem, um programa… (…) mas um dos problemas que prevalece

é que são indivíduos com elevada taxa de suicídio, são indivíduos que quando começam a fazer

o tratamento têm de ser muito acompanhados, porque (…), quando efetivamente lhes baixa o

crime, podem efetivamente suicidar-se, mas acho que devia ser feito, que era importantíssimo,

(…) o crime com maior grau de reincidirem, e não é feito nada, portanto, eu acho que era muito

importante que fizessem, com os depressivos a mesma coisa, e para pessoas com tendências

suicidas também, acho que era muito importante (…) ( EPP, entrevista 5, 3.1).

(…) Plano de Contingência, inicialmente, era para Centros Educativos, depois, Centros

de Reeducação, e nós estamos a aplicá-lo em estabelecimentos prisionais, a adultos, está a ver

onde eu quero chegar? Não faz sentido! (…) [entrevista 9, 3.1]

(…) os planos não se ajustam às realidades que nós temos, e são muito pouco

recebidos pela população, isso de ser recebidos eu até nem ... é normal, que até os planos que

são bons eles não aderem muito, então estes planos que não têm, não tem um interesse, pronto

ok, modéstia à parte, eu também acho que eles não tem muito interesse, para fazer sala, só, é

mais para fazer do que para ter resultado. para a estatística. (EPC, entrevista 10, 2.3)

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3.3.4 Atividades Recreativas a Implementar

Um outro aspeto que também foi alvo de entrevista, foi a importância de outras

atividades recreativas, além das já existentes, e previamente descritas aquando da apresentação

dos dois estabelecimentos prisionais (como foi o caso da música, teatro, ginásio e futebol).

Neste aspeto, a maior parte dos técnicos referiu a pintura, o canto, a dança, novamente o

desporto e a participação em sessões e meditação (yoga, reiky, pilates, entre outras práticas).

O canto a dança, acho que era interessante, porque são atividades que parecendo

muito lúdicas e muito superficiais são muito acessíveis para este perfil de gente, e que permite

trabalhar muito em termos pessoais e interiores de cada um, a auto estima, a libertação de

stress ah..., a capacidade, a gestão da frustração e muitas coisas (…), são muito positivas, que

era muito libertador e que era construtivo para eles próprios como pessoas (…) (EPC, entrevista

11, 3.1).

(…) o próprio artesanato também… eu já (…) dei cursos também de cerâmica e de

pintura (…) (EPP, entrevista 6, 3.1).

(…) se eles estiverem numa atividade de lazer criam uma afinidade connosco, que nós

estamos a liderar a atividade onde eles estão incluídos, vão aceitar mais a nossa opinião e é

possível fazer um trabalho bem melhor, em grupo, que depois consegue-se chegar aos pontos

específicos e com confiança (EPP, entrevista 4, 2.2).

(…) tínhamos o jornal mas acabou que era escrito por reclusos mas acabou terminou

porque a colega que estava com o jornal foi para vale dos judeus e entretanto terminou (…)

(EPP, entrevista 2, 3.1)

3.3.5 Plano Individual de Readaptação

Para além das atividades diárias dos técnicos e das atividades disponíveis para os

reclusos, sejam elas de foro lúdico ou de participação em programas de treino de competências,

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existe ainda um instrumento de acompanhamento dos reclusos, designado PIR 24(Plano

Individual de Readaptação). Este plano “visa a preparação para a liberdade, estabelecendo as

medidas e actividades adequadas ao tratamento prisional do recluso, bem como a sua duração

e faseamento, nomeadamente nas áreas de ensino, formação, trabalho, saúde, actividades

socioculturais e contactos com o exterior.” (lei n.º 115/2009, art. 21).

Tal plano é realizado com o consentimento do recluso, procurando-se a sua adesão,

tendo de ser aprovado pelo Diretor do Estabelecimento Prisional e homologado pelo Tribunal de

Execução de Penas.

Os técnicos superiores de reeducação foram também questionados sobre a pertinência

do PIR, já que o mesmo é construído pelos próprios em colaboração com os reclusos. Nesse

sentido, as opiniões recolhidas referem duas atitudes um pouco diferenciadas face a este

instrumento. Embora a maioria refira a importância do mesmo, como linha orientadora de

intervenção e responsabilização do recluso pelo seu percurso no cumprimento da pena,

admitem, todavia, que se trata afinal de uma perda de tempo, pois que, na realidade, os

objetivos que são traçados para o recluso atingir, na prática não acontecem, já que o próprio

Estabelecimento Prisional não tem capacidade de resposta, ficando assim um plano realizado

apenas no papel e sem qualquer benefício para o recluso. Também foi possível perceber que

outros técnicos não efetivam valor nenhum ao PIR, considerando-o redutor já que não é realizada

uma avaliação geral e um estudo de caso exaustivo sobre o indivíduo quando é realizado o PIR.

(…) é na minha opinião o instrumento mais importante que tenho para fazer (…) faz sentido

porque de acordo com o que nós sabemos e o nome indica, Plano Individual de Readaptação,

ahh cabem aqui várias áreas, cabem aqui o conhecimento do sujeito, depois falha porque eu

não consigo ter o conhecimento integral, (…), mas sim, o trabalho está a ser feito e zela também

porque aquele indivíduo se tiver como área de intervenção privilegiada um enquadramento

laboral, eu vou tentar que isso seja, que seja uma realidade, se for no sentido de privilegiar uma

formação escolar ou profissional, eu também vou fazer isso, (…) e aí falha quantas vezes, (…)(

EPC, entrevista 9, 3.3)

24 Lei n.º 115/2009, art. 21

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O PIR é, supostamente o PIR é um plano individual de readaptação, que é uma

intervenção, se num diagnóstico não é feito uma avaliação estruturada como é que pode haver

um plano de intervenção, a avaliação é feita com um relato de um recluso, muitas vezes a gente

não tem acesso aos relatórios sociais, é contextualizado pelo reclusos (…) o próprio sistema não

dá prioridade ao que está no PIR, se calhar nem vêem o PIR, vão para onde houver vaga

naquela altura, eu não dou pareceres para as pessoas trabalharem, (…), o que deveria fazer era

ir ver ao PIR e ver o que é que o técnico achou como prioridade, devido à sobrelotação das

cadeias, à falta de oportunidade de trabalho, em termos escolares normalmente é cumprido

porque é possível mas em termos de trabalho não, (…) Se é difícil um recém licenciado arranjar

emprego, não é um indivíduo que saiu da cadeia com o 12º ano que vai arranjar emprego, se for

um curso profissional, se calhar vai ter mais aptidões para começar, (…), mas já vai com planos

de estudo (…) (EPP, entrevista 4, 3.3).

Eu acho que não, eu tenho tantos reclusos que saíram em liberdade e que não tiveram

PIR algum, (…), assim é mais um papel que chega a Lisboa para transferir o recluso, mas isto é

a minha opinião não quer dizer que os outros pensem a mesma coisa, acho que isso não serve

para nada… (EPP, entrevista 6, 3.3).

(...) é assim, na altura quando eu comecei a realizar o PIR, depositei muito expectativa e aí sai

defraudada e aí sim, senti-me muito frustrada (…) acho que o PIR obriga de facto a mais, (…) há

um compromisso e a solicitarmos o indivíduo a assinar o seu plano também obriga o indivíduo

ao compromisso, (…) ora, neste EP de facto há imensas limitações em termos de aplicação do

PIR, (…), o indivíduo assina e depois fica na gaveta, e, portanto, isso confesso que também foi

uma das causas porque eu comecei a diminuir os meus PIRs, embora sejam exigidos por lei,

mas foi um desentusiasmo atroz!” (EPP, entrevista 7, 3.3).

(...) ahhh refiro que às vezes o PIR não passa de um projeto com boas intenções (…) (EPC,

entrevista 8, 3.1).

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3.3.6 Preparação para a Saída em Liberdade do Recluso

Sendo o PIR um instrumento que visa a preparação para a saída em liberdade, tornou-se

importante também perceber como é realizada esta saída em liberdade dos reclusos. Neste

sentido, pretendeu-se perceber como é que é feita a articulação com o exterior da cadeia, se é

que é feita, e em que moldes se processa. Segundo os técnicos entrevistados, é realizada uma

articulação com instituições do exterior que depois se responsabilizam pelo apoio aos indivíduos.

Em alguns casos, chegam mesmo a ser acolhidos em Centros de Acolhimento Temporário, e

noutros, ainda em situação de reclusão, começam a ser acompanhados pelo Sistema de

Reinserção Social que se responsabiliza pelo apoio ao recluso em meio em liberdade. Os

técnicos queixam-se ainda de um estabelecimento prisional muito rudimentar, sem ligação à

internet, nem ao espaço exterior por telefone, fazendo com que o contacto direto de TSR e

Segurança Social, ou com outra instituição, seja impossível de se fazer, tendo sempre por isso

de recorrerem aos membros da Direção do Estabelecimento Prisional para o tratamento dessa

informação.

nós trabalhamos basicamente para o interior, as colegas que trabalham na reinserção é

que trabalham junto da família (…) articulamos e arranjamos instituições que acolham e que

recebam o indivíduo, prestando os cuidados básicos de alimentação e de alojamento e essa

instituição depois faz o encaminhamento para a SS (…) (EPC, entrevista 8, 5.1).

(…) É feito, uma sinalização, (…) que é feito um modelo que existe de sinalização em

que depois coloco lá as informações, onde é que o indivíduo morava antes, se já lá estava, se já

tinha tido apoios anteriores seja da Remar, da Ami, da Abraço ou seja qual for (…) São situações

que quando são sinalizadas pelos reclusos com antecedência são possíveis de se resolver (EPP

entrevista 1, 5.1)

(…) o recluso com tempo vem pedir apoio porque não tem familiares, não têm visitas,

ou não têm casa para onde ir, nós fazemos uma ficha de sinalização à Comissão dos Sem

Abrigo que é enviada pela Adjunta do Tratamento Penitenciário (…) é um lapso desta cadeia, não

temos mail, vai para o mail institucional, embora na intranet já possamos ter mail, mas ainda

não está definido, nem atribuído, e isso facilitava, (…) seria importante (…) (EPP, entrevista 3,

3.4).

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Depende muito das situações… acontece com a ligação com a reinserção social e

através de um protocolo que nós temos que é com uma rede de trabalho que já esta

implementada, (…) fazemos a ligação com a reinserção social e quantas vezes conjuntamente

nós com a colega da reinserção social que também acompanha esse individuo, ahh, colocamos,

portanto, em funcionamento, a rede institucional de suporte (…) tentamos que os indivíduos

tenham esse apoio efetivo, que o aproveitem e que depois sigam o seu caminho (…) (EPC,

entrevista 9, 3.3)

4. Contexto Organizacional: Recursos e Relações Interpessoais

4.1 Recursos

Um outro aspeto importante a ter em conta na entrevista é a qualidade das condições de

trabalho dos técnicos superiores de reeducação, assim como a relação interpessoal com as

várias equipas25 de profissionais (recursos humanos) que constituem e asseguram o

funcionamento do E.P. Inicialmente foram questionados acerca das condições físicas em que

trabalhavam, das condições dos gabinetes e dos materiais de trabalho disponíveis (recursos

materiais).

(…) isto é uma casa que já é muito antiga, a logística já esta implementada de há

muitos anos mas naturalmente e como em qualquer ser humano depois a mudança é

complicada e há muitas resistências pronto, (…) tinha a parte informática que é ao invés daqui,

o recluso faz petições, lá (noutro EP) não, lá o recluso vai ao chefe de ala, o chefe de ala manda-

nos e-mail, funciona tudo por e-mail e nós quando chegamos de manhã vemos o nosso Outlook

temos lá os mails todos, esses e-mails a gente retira os números, vai atender os reclusos, por

exemplo (…) (EPP, entrevista 1, 4).

(…) o que me preocupa mais é o constrangimento do dia-a-dia é hmmm a dificuldade

de termos de chamar o recluso, ou porque ele nos solicita ou porque nós precisamos de falar

com ele, que o indivíduo apareça nos gabinetes, portanto, o constrangimento do espaço físico,

nós estamos fora do EP, estamos longe da seção de reclusos (…) (EPC, entrevista 9, 4.).

25 As equipas de funcionários distribuem-se pelas áreas da, enfermagem, técnicos superiores, médicos, assistentes técnicos, assistentes

operacionais e diretores.

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(…) eu por exemplo tenho de trazer as minhas canetas porque aqui não me dão, porque

se eu peço canetas, meu deus do céu ahhh primeiro que mas dêem é um Deus nos acuda. Não

há cola, não há clipes, não há agrafos, não há nada! Não há material, não há nada, muito

complicado, muito complicado mesmo. (…) é gostarmos mesmo daquilo que andamos a fazer e

estarmos com a população alvo, a nível de material é tudo muito escasso. (EPP, entrevista 2,

4.).

4.2.Relações Interpessoais

Logo de seguida, foram também questionados sobre a relação com os pares do mesmo

grupo profissional. Neste aspeto, todos referem que, por vezes, a pressão e o stress ao qual são

sujeitos diariamente pode efetivamente distorcer a qualidade das relações. No entanto também

compreendem os momentos menos bons e, por isso, acabam todos por trabalhar para a mesma

causa.

(…) Com alguns colegas sim, com outros não tanto, mas todos nós somos seres

humanos, todos nós somos diferentes, não é, portanto não há um igual ao outro e nós temos

que nos ir adaptando a cada um e ao fim de 10 anos sabemos como lidar com cada um, não é?

(…) E temos de nos adaptar. (…)(EPP, entrevista 2, 4.).

Técnicos e técnicos, as relações normais, da dinâmica do trabalho, como isto é uma

casa muito stressante, é muito trabalho, hmm de muito atendimento em crise, de muito

desgaste é muito normal que as pessoas às vezes não estejam todas numa boa fase (…) se a

gente está a trabalhar lá dentro com os reclusos, negociação de conflitos, quem somos nós para

não olharmos para nós e reconhecermos que às vezes também estamos errados, até na altura

podemos ter um comportamento se calhar um bocadinho desadequado mas depois temos que

saber reconhecer (…) (EPP, entrevista 4, 4.)

(…) acontece situações em que eu tenho dificuldade em desviar-me, é raro, do meu

ponto de vista, então passo por cima que é para não ter trabalho, senão é chato mas é muito

chato e eu detesto isso, é porque cria-se resistência nas pessoas (…) (EPC, entrevista 10, 4.)

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Um outro grupo de profissionais com os quais os técnicos superiores de reeducação se

cruzam muito no exercício das suas funções é o corpo de guardas e de vigilância, pelo que

mostra-se importante perceber a relação que mantêm no exercício da atividade profissional. A

maior parte dos entrevistados referiu que, embora as funções dessa equipa de profissionais

sejam bastante distintas, e apesar de, por vezes, os interesses serem diferentes, na maioria das

situações, as duas carreiras trabalham em equipa sem problemas.

No entanto, outros técnicos referem já ter tido mais problemas com guardas prisionais

do que com qualquer outro grupo no estabelecimento prisional, incluindo reclusos. Para muitos

técnicos, o funcionamento da prisão tinha muito a ganhar se não existissem guardas.

(…) ah seria mais fácil se não houvesse guardas, eu já tive mais problemas com

guardas do que com reclusos, portanto… com colegas não tenho problemas (…) Já tive alguns

desagrados, bate bocas com algumas pessoas, mas não há ninguém com que eu não falo neste

momento, há um guarda! De todo o mundo profissional e reclusos, aqui no EP, que eu saiba, há

um guarda que não me fala, (…), e também não me arrependo da situação que aconteceu (…)

(EPP, entrevista 5, 4.).

(…) na larga maioria são pessoas que sabem estar, que sabem funcionar, podem…

todos nós temos as seus dias melhores, os seus dias piores, a sua forma de se relacionar

também pode ser mais acessível, menos acessível, depois há outros que andam por andar,

depois há outros que ainda são os piores que não querem andar nem deixam andar, que

empatam tudo o que podem, mas isso é um grupo restrito, (…) (EPC, entrevista 10, 4).

(…) há um bom entendimento, com a parte dos elementos de vigilância, (…) mas não

sendo conflituoso, há sempre ali alguma dificuldade, que tem de ser torneada, que tem de ser

trabalhada, nem sempre linear. (…) (EPP, entrevista 7, 4).

Um outro grupo de profissionais que tem grande importância na coordenação de todas

as equipas de profissionais no estabelecimento prisional é a Direção do próprio Estabelecimento

Prisional. Assim sendo, os TSR foram também questionados acerca da relação que mantêm com

a Direção do E.P.. Os resultados mostram que todos os técnicos, sem exceção, afirmam ter uma

boa relação com a direção do estabelecimento prisional em que trabalham, embora, por vezes,

não concordem integralmente com as decisões tomadas, nem considerem uma relação tão

próxima quanto a que mantém com os colegas do mesmo escalão.

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eu tenho bastante relação com a X até com o diretor, não é uma pessoa que eu fale

todos os dias, mas sim, (…) (EPP, entrevista 1, 4).

com a direção, sempre foi boa, por norma sempre foi boa, (…) …uma vez ou outra pode

ter discordado comigo, uma vez ou outra, mas muito pontual, (…), neste caso a direção que é

quem verifica o que nós temos por objetivo e esforçamo-nos para melhorar e cooperar com a

organização, com a forma que o estabelecimento está, muitas vezes estou em desacordo e digo,

digo à direção! Mas é muito pontual, há desacordos mas às vezes são desacordos impostos por

outros, mas a direção em si sempre ouviu, às vezes até me ouve se calhar de mais. (EPC,

entrevista 10, 4)

Já trabalhei com diretores que estavam muito vocacionados, ou pela própria formação,

à nossa intervenção, e ao tratamento prisional, davam muita ..., de trabalhar uma determinada

vertente, depois, temos outros diretores que, enfim, não estão tão direcionados para esse tipo de

intervenção e não há conflito, mas há assim a situação, do pronto ‘ok’ façam lá o vosso trabalho,

mas também não estimulam muito (…) Atualmente penso que estamos um pouco a trabalhar,

não direi em auto gestão mas direi no sentido de sabermos o que temos a fazer e então temos

de fazer, não sinto conflito, conflito não há, mas há ‘ok já sabem o que têm a fazer então

façam o que têm a fazer’, já sabem qual é o conteúdo funcional, (…) Estamos na expectativa que

as coisas mudem, (…) (EPP, entrevista 7, 4).

(…) A direção, sinto que sou ouvida, sinto que sou respeitada, eu falo também com a

Diretora Adjunta, ahh e portanto sinto que sou respeitada, nas sugestões que dou no trabalho

que desenvolvo, nesta minha ânsia de me pôr em causa (…) (EPC, entrevista 9, 4.2).

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5.Articulação com entidades institucionais externas

Abordemos agora a intervenção dos técnicos superiores de reeducação para as

situações extra muros, ou seja, para além da ativação de outros serviços institucionais fora do

estabelecimento prisional, que já referimos anteriormente, pretende-se perceber agora o

contacto que os TSR mantêm, ou não, com a rede social26 do recluso, enquanto o mesmo

cumpre a pena de prisão, bem como as informações que vai recebendo, ou não, depois da saída

do mesmo em liberdade.

Neste aspeto, a maioria dos TSR refere que o apoio ao recluso, aquando da saída do

mesmo, é muito reduzido e pouco eficaz, que nem sempre é adequado, que não há uma

conhecimento do ambiente externo à prisão, onde o recluso se vai reinserir, e que esse

conhecimento é difícil de ser descoberto, já que os técnicos se sentem, também, muito fechados

no trabalho intramuros da prisão. Os técnicos superiores de reeducação, acreditam que na

realidade conseguiriam ter muito mais sucesso no exercício das suas funções se o

Estabelecimento Prisional fosse mais aberto ao exterior, sem que houvesse um corte completo

entre o trabalho que é realizado entre muros e o trabalho realizado pela equipa Técnica de

Reinserção Social.

(…) quando estão prestes a sair em liberdade, tipo vá à SS inscrever-se para um curso

de formação, pede RSI, (…) mas tento os orientá-los nesse sentido (…) Porque muitos deles não

sabem que têm de ir ao Centro de Saúde, não sabem que têm de ir ao … muitas coisas” (…)

Muito raramente tenho contacto, tenho um recluso que a mãe me liga muitas vezes, (…) um

outro recluso que a mulher (…) regularmente contacta-me, quer aqui quer lá fora, quer, (…) não

estou a ver mais (…), isso fica mais com as colegas o IRS (…) (EPP, entrevista 2, 5.1).

eu sinto uma intervenção quase inexistente, em termos de reinserção, nesta altura eu

não tenho qualquer ação, (…) não tenho trabalho em termos de reinserção nesta altura… (…)as

indicações que se dá são aquelas básicas, dirija-se às instituições, ahhh leva daqui as

declarações, dirija-se à SS, faça isto ou aquilo (…) Mas a … falta a articulação, prever a saída,

(…), trabalhar para além de… não ficar cingida aqui intramuros, como é trabalhar e ter uma

prestativa mais além, trabalhar até com a família, com o contexto familiar, e depois com o

26 As redes sociais definem-se por se considerarem um conjunto de relações que unem vários atores sociais (indivíduos), tais laços podem

assumir diferentes formas de interação assumindo vários grupos de intervenientes como, pessoas, instituições, empresas, entre outros. (Guadalupe, 2010)

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contexto socioprofissional com as estruturas que permitissem um pouco mais…(…) (EPP,

entrevista 7, 5.1).

(…) a articulação com a SS, quando acontece é tardia e desadequada, põem-nos em

pensões de curta permanência, põem-nos em sítios onde..., e depois mandam-nos comer ao não

sei onde (…) E há outro dilema que é uma coisa minha, eu acho que todos os indivíduos que

saem daqui deviam sair desmamados da metadona (…), para mim, um indivíduo que saia daqui

sem ser desmamado é engano (…) metadona é um erro, lá está, um programa que devia ser

feito, (…) mas podia-se organizar uma forma de todas as pessoas que aqui estão (…) aproximar-

se no fim da pena e já está a fazer há um tempo X. Deviam ser desmamadas, não faz sentido…

(EPP, entrevista 5, 5.1).

(…) eu sou uma pessoa insatisfeita por natureza (…) porque acho que estão a falhar

todas essas possibilidades de se fazer um trabalho em prol da reinserção social do indivíduo (…)

(EPC, entrevista 9, 2.9)

6. Perspetivas Face ao Futuro Técnico Superior de Reeducação

Para finalizar, os técnicos foram ainda questionados sobre as expectativas que têm em

relação ao futuro do trabalho do técnico superior de reeducação, assim como sobre o que

esperam de uma nova equipa de técnicos superiores de reeducação. Sobre este tema, metade

dos técnicos posicionou-se de uma forma e outra metade de outra forma. Assim sendo, parte

deles referiu não acreditar que haja grande mudança na intervenção dos técnicos, nem das

funções, enquanto outros acreditam que os serviços prisionais irão melhorar, embora tenham de

lidar com todas as pressões e resistências de contexto prisional português.

Quanto à possível entrada de novos técnicos superiores de reeducação, as opiniões

também se dividem, uns acreditam que tão cedo não vai acontecer e que mesmo que

acontecesse as formas de trabalho não se iriam alterar, já que o ambiente é bastante resistente

à mudança, tal como já foi referido acima. Os outros técnicos acreditam que a vinda de novos

técnicos iria também melhorar inevitavelmente o sistema e abri-lo, pois acreditam que um novo

grupo de profissionais iria favorecer a expansão de conhecimentos com novas técnicas de

intervenção, assim como impulsionar o tipo de tratamento penitenciário.

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(…) se calhar, nos serviços prisionais a mudança ainda é mais difícil do que noutro sítio

qualquer (…), das resistências de todas as pessoas, estou convencido que nos próximos anos a

mudança vai ser ainda mais complicada (…) (EPC, entrevista 10, 6)

(…) aqui é esperado que as pessoas cumpram o que está no regulamento e o que está

definido para as funções do TSR não é uma coisa que se invente, espero que eles sejam sérios e

honestos e trabalhadores, (…)não é por vir uma nova fase de técnicos, não esperava que eles

viessem salvar o mundo mas também não viessem afundar (…) (EPC, entrevista 8, 6)

Eu sou otimista e quero ser positivo mesmo que ás vezes não seja (…) e eu acredito

que sim, acredito que vai haver uma equipa única (…)penso que daria uma boa gestão de

recursos humanos era canalizar cada formação para uma área específica, o trabalho fica muito

mais objetivo, e claro que os resultados poderão ser melhores (…) (EPP, entrevista 5, 6.1.3).

(…) era muito importante que viessem pessoas novas recém formadas com novas

competências, novas capacidades e uma renovada vontade de fazer, (… )é preciso é que as

pessoas não estejam acomodadas e tenham vontade de mudar, (…) as regras são para cumprir

mas (…) não é mudar o sistema, é não deixar que o sistema os mude, adequarem-se ao sistema

e fazer o sistema mudar-se a ele próprio. (…) (EPP, entrevista 5, 6)

Através das entrevistas realizadas, procurámos expor as dificuldades dos Técnicos de

Reeducação, no exercício das suas funções. Na seção seguinte, tentar-se-á perceber até que

ponto os problemas são semelhantes aos que foram apresentados noutros estudos, os

inicialmente descritos, neste trabalho.

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Parte IV – Discussão e Considerações finais

Discussão

Como primeiro objetivo, esta investigação pretendia conhecer as várias tarefas

associadas à carreira de TSR. Após a recolha das várias informações através das entrevistas,

constatamos que apesar de existirem formas de trabalho distintas entre os técnicos, de um

modo geral os técnicos acompanham o recluso da mesma forma. Todos eles apresentam ter

uma rotina de trabalho idêntica, não obstante algumas variações. Enquanto uns aguardam pelos

pedidos de atendimento dos reclusos, outros apenas se deslocam à secção de reclusos

aguardando que os mesmo venham ao seu encontro com os mais variados problemas e

preocupações para resolver. No entanto, todos os técnicos têm por hábito realizar atendimentos

durante a manhã, enquanto tratam das burocracias relacionadas com tratamento penitencial

durante a tarde. As atividades e a realização de projetos vão-se encaixando conforme a

disponibilidade dos técnicos nos habituais horários de trabalho. Para além das tarefas acabadas

de mencionar, alguns técnicos são ainda responsáveis por algumas atividades realizadas na

prisão, como é o caso do desporto, do ensino superior, do voluntariado, entre outras.

Como segundo objetivo, esta investigação pretendia perceber em que condições as

medidas de reeducação são aplicadas. Foi possível constatar que ao nível da reinserção, dentro

do estabelecimento prisional, muito pouco é realizado, já que no âmbito das funções do técnico

superior de reeducação tal intervenção não está prevista. Para além disso, segundo os técnicos,

os estabelecimentos prisionais não reúnem as condições para que este trabalho seja realizado

em parceria com as equipas de trabalho da reinserção social, já que apresentam inúmeras

dificuldades na realização de contactos com os serviços extramuros. No entanto, trabalham as

competências dos reclusos e de reeducação através da aplicação de programas dirigidos aos

mesmos, vindos da DGRSP, assim como no contacto diário que estabelecem com os reclusos.

O terceiro objetivo era o de identificar os obstáculos que os técnicos superiores de

reeducação encontram na aplicação das políticas sociais previstas legalmente. Em relação a este

aspeto, foram destacados diversos obstáculos: a falta de tempo, a falta de internet, inexistência

de e-mail, falta de um telefone ligado ao exterior, a falta de projetos específicos que supram as

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necessidades dos reclusos, falta de recursos humanos que trabalhem como técnicos superiores

de reeducação para melhor intervenção, e a realização de planos de vida durante o cumprimento

da pena que na prática nunca se chegam a efetivar, por mais que sejam elaborados, devido à

falta de capacidade de resposta do estabelecimento prisional.

Quanto ao quarto objetivo que pretendia perceber a eficácia da intervenção dos Técnicos

Superiores de Reeducação e a visão que os mesmos tinham sobre o seu trabalho, embora

muitos acreditem que têm muito mais para dar a nível profissional e ambicionem chegar mais

longe na sua intervenção, a maioria acha impossível avaliar tal intervenção, já que isso só pode

ser avaliado depois do cumprimento da pena e já em liberdade e nesse âmbito o técnico já não

possui qualquer contacto com o reclusos para conseguir perceber se a intervenção foi eficaz ou

não, a não ser que o recluso entre novamente no sistema prisional. Dessa forma as metas

estabelecidas pelos técnicos têm sempre de ser a curto e a médio prazo, quando, idealmente, o

objetivo da intervenção surge ainda dentro do Estabelecimento Prisional, caso contrário a

sensação de ineficácia será uma constante na prática profissional deste grupo.

Os TSR, não são os únicos funcionários nos estabelecimentos prisionais, existindo por

isso alguns desencontros de interesses que são apresentadas pelos técnicos. Neste âmbito,

pode-se claramente concluir que os desencontros surgem, mas sem grande destaque, sejam

eles com o grupo de guardas prisionais, ou até mesmo com a Direção do Estabelecimento

Prisional. Os técnicos, na sua maioria, referiram que por vezes as formas diferentes de trabalhar

e de perspetivar as funções que exercem fazem com que entrem em desacordo (tendo ainda em

conta que nem sempre as formações de base são as mesmas), muito embora consigam

facilmente respeitar tais diferenças. Apesar de referirem que com o grupo de guardas as

incompatibilidades laborais destacam-se pelo facto das funções de um grupo e de outro nada

terem a ver, na maior parte das vezes, os técnicos relacionam-se bem com os guardas

prisionais, apesar destes nem sempre colaborarem com a intervenção.

Por último, pretendia-se também com esta investigação perceber quais seriam as

aspirações dos TSR relativamente ao futuro das suas carreiras. Neste aspeto, as respostas foram

de forma geral muito divergentes. Uns gostariam que todo o funcionalismo penal e presidiário

evoluísse e conquistasse uma abertura para o exterior que facilitasse os contactos com vários

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serviços, por várias vias (telefone, internet, entre outros), assim como adquirisse novos técnicos

superiores de reeducação que pretendessem fazer mais e melhor pela carreira, tornando-a mais

transdisciplinar e com intervenções mais completas para a população reclusa portuguesa.

Outros referem que não esperam evolução alguma, esperando apenas que o trabalho do técnico

superior de reeducação continue a ser executado da mesma forma, e acreditando que os

processos de execução se devem manter, sob pena de se correr o risco de os piorar com novas

ideias de novos técnicos.

Depois dos resultados, que apresentei em função dos objetivos propostos, considero

também importante perceber se estes são convergentes com os de outras investigações que são

anteriores a este estudo, isto, apesar das diferenças entre o contexto prisional português e

francês. Assim sendo, torna-se importante apresentar os aspetos que se mostraram transversais.

Primeiramente podemos começar por referir a sobrelotação dos estabelecimentos

prisionais, referida por todos os estudos. Tanto na investigação de Gomes (2008), como na de

Bouagga (2014), os estabelecimentos prisionais estudados albergavam mais reclusos do que a

lotação máxima permitia. Para além disso, no estudo da última, os TSR acompanhavam também

uma média de 80 a 120 reclusos por técnico, fazendo com que as condições de trabalho, de

alguma forma se assemelhem.

A par da sobrelotação, e do trabalho administrativo que depende do técnico, é também

transversal a opinião de que os atendimentos realizados não são suficientes para um

acompanhamento eficaz do tratamento penitenciário e do recluso enquanto pessoa, isto afasta

inevitavelmente o técnico do recluso, sendo o apoio e acompanhamento apenas realizados em

contexto de atendimento ou em situações de urgência.

Para além da falta de um acompanhamento assertivo dos reclusos, um outro aspeto que

foi também apontado como falha foi a realização de projetos de intervenção pouco adequados à

população reclusa, assim como a oferta formativa dos reclusos na aprendizagem de um ofício

porque, embora exista, o mesmo irá tornar-se inútil aquando da saída em liberdade.

Outro aspeto que é também transversal às várias investigações, e referido pela maior

parte dos técnicos superiores de reeducação, é a falta de respostas às necessidades dos

reclusos dentro da prisão. Tal falta de respostas é ainda mais visível aquando da aplicação do

Plano Individual de Readaptação, já que se trata de um contrato de intervenção, em que o

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recluso se compromete a aprender um ofício ou a ingressar no percurso escolar, mas sem

garantias de colocação em nenhuma das partes. Na investigação de Larminat (2013) tal

também é referido, no entanto, nesse caso a intervenção também falha por ter demasiados

reclusos. Para além disso, os apoios sociais ou o acompanhamento extramuros não podem ser

fornecidos pelos TSR, até esses são escassos, na medida em que o estabelecimento prisional

não tem condições de apoio para a preparação da saída em liberdade do recluso, já que esse

trabalho de acompanhamento não é previsto nas funções do TSR e os mesmos referem não ter

tempo disponível para a realização de tal tarefa, mesmo que de livre e espontânea vontade. No

entanto, foi também possível perceber que parte dos técnicos considera o acompanhamento

extra muros feito por eles uma mais-valia. Bouagga refere o mesmo na análise dos seus dados.

Tal como foi referido aquando da descrição dos estabelecimentos prisionais estudados,

ambos os EPs são constituídos por equipas de técnicos com mais de 10 anos de carreira, sendo

que muitos deles têm também esses 10 anos de carreira no mesmo E.P.. Para além disso, a

média de idades dos TSR entrevistados encontra-se nos 52 anos de idade, sendo notável a

necessidade de técnicos mais novos com novas competências e saberes mais recentes, que

detenham os conhecimentos necessários para um melhor trabalho nos estabelecimentos

prisionais e principalmente na aplicação de programas mais adequados à população reclusa. É

no entanto de ter em conta que a conjuntura socioeconómica do Estado, seja ele português ou

não, não facilita a entrada de novos técnicos superiores de reeducação no sistema, a não ser

que tal só aconteça aquando da entrada de vários técnicos na aposentação, ou que sejam

abertos pelo Ministério da Justiça novos locais de trabalho.

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Considerações Finais

Chegado o fim da investigação, considero fundamental referir que a mesma foi apenas

uma ponta do iceberg da realidade prisional, apesar de todo o trabalho realizado, é um

contributo para aquilo que pode ainda vir a ser estudado nos estabelecimentos prisionais, quer

seja no âmbito da carreira do técnico superior de reeducação em Portugal, ou investigando os

níveis de reincidência criminal em Portugal.

As dinâmicas de construção da investigação tiveram em atenção a preservação da

identidade dos entrevistados, assim como a clareza com que a informação lhes foi transmitida

sobre a pertinência da investigação e a importância do contributo dos mesmos.

A realização da mesma nem sempre demonstrou ser fácil, pois os estabelecimentos

prisionais são instituições muito fechadas, e o tempo de espera até obter uma resposta positiva

da DGRSP e a confirmação do início das entrevistas nos estabelecimentos prisionais foi de cerca

de três a quatro meses. O agendamento das entrevistas junto dos técnicos superiores de

reeducação aconteceu no mês de Julho de 2015, tendo por isso encontrado muitos técnicos fora

das prisões a beneficiarem do seu período de férias e o facto da participação dos mesmos ser

voluntária, fez com que o número, já reduzido, se tornasse ainda mais reduzido, já que alguns

dos técnicos por motivos pessoais, ou outros não identificados, preferiram não participar.

Esta investigação apresenta um conjunto de aspetos que decorrem da amostra

recolhida, apresentados na parte III do trabalho, tendo sempre em vista a análise do próprio

técnico superior de reeducação sobre o seu trabalho. Os técnicos, tal como foi referido, são

agentes provenientes das mais variadas formações das ciências sociais, no entanto

desempenham todos da mesma forma o mesmo papel. A maior parte dos técnicos

entrevistados, também apresentam já alguma experiência na área de intervenção, sendo que

têm mais de 10 anos de carreira em estabelecimentos prisionais.

Os resultados permitiram perceber que na sua maioria os técnicos superiores de

reeducação referem de forma positiva o trabalho que realizam, referem que, apesar das

dificuldades, conseguem implementar os vários programas exigidos pela DGRSP, assim como

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fazer os reclusos ingressar, quer na escola, quer nas ocupações, sejam laborais ou recreativas,

do estabelecimento prisional. Embora nem todos tenham possibilidade de ingressar em qualquer

tipo de atividade devido à sobrelotação, o trabalho do técnico é feito nesse sentido, já que

referem também conseguir atingir os objetivos a que se propõem, pelo menos os de curto e

médio prazo da intervenção.

Apesar dos aspetos positivos, os técnicos superiores de reeducação, apontam também

alguns aspetos negativos que se fossem alterados, melhorariam em muito a qualidade da

intervenção dos mesmos e, quem sabe, uma reeducação mais efetiva dos reclusos que evitasse

a reincidência. Um dos principais aspetos negativos referido foi a lotação que excede o número

máximo de capacidades da prisão, sem aumento da equipa de técnicos superiores de

reeducação, dificultando o acompanhamento dos reclusos e o desempenho do papel do técnico.

Apontam ainda a falta de tempo, consequência do grande número de reclusos que cada

técnico tem a cargo, e que é ainda reforçada pela falta de capacidade de comunicação com o

exterior da prisão, pois, os técnicos de reeducação não têm acesso à internet, possuem apenas

acesso a um e-mail intranet do estabelecimento prisional. Também não possuem qualquer tipo

de telefone com acesso direto ao exterior do estabelecimento prisional, tendo todo o contacto

externo de ser realizado pela Diretor(a) Adjunto(a), o que dificulta qualquer tipo de intervenção

que o técnico necessite ou ache relevante realizar para trabalhar a reeducação do recluso. A par

disto, referem ainda a necessidade de projetos mais direcionados para a população reclusa que

acolhem, já que muitos dos planos de intervenção são os mesmo que eram utilizados há vários

anos atrás, sem ter havido uma adaptação dos mesmos ao novo grupo de reclusos que

cumprem agora penas de prisão nos estabelecimentos prisionais.

A ideia de que o papel do técnico superior de reeducação não é cumprido e realizado da

forma que os serviços administrativos ordenam é de algum modo corroborada. Através desta

investigação foi possível constatar que os técnicos superiores de reeducação realizam todos os

objetivos burocráticos pedidos pelos tribunais e ainda aplicam inúmeras atividades junto dos

reclusos, Todavia, se confrontarmos as atividades e os seus objetivos com os objetivos da

educação não formal de adultos, podemos concluir que nada está garantido quando o assunto é

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a reeducação dos reclusos, já que os próprios TSR reclamam a falta de planos de intervenção

adaptados à população prisional e também uma não avaliação da aplicação dos mesmos.

Concluímos assim que, apesar das dificuldades prisionais e das condições de trabalho

nem sempre serem as mais adequadas, o que se mostra mais necessária é a substituição de

programas de intervenção mais antigos (os quais, mesmo apesar das diferenças da população

reclusa, continuam a ser aplicados) por programas mais adequados, que trabalhem

efetivamente para a reeducação do recluso, evitando o seu regresso ao meio prisional, como é o

caso de algo tão simples como dar ao recluso a possibilidade de adquirir carta de condução, já

que tal não acontece. Será então importante que no futuro se rentabilize a formação e

disponibilidade dos técnicos para atividades mais direcionadas para a educação dos reclusos de

forma a reinseri-los eficazmente na sociedade.

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Dec. Lei 30/135 de 14.12.1939

Dec. Lei 319/82, 11 de Agosto

Portaria nº793, 8 de Setembro de 1989

Portaria nº nº787, 9 de Setembro de 1989

Portaria n.ª13/2013, 11 de Janeiro de 2013

Código de Execução de Penas e Medidas Privativas da Liberdade de 2015

Direção Geral Serviços Prisionais, Relatório de Atividade, 2010

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Plano de Contingência, Centro de Estudos e Formação Penitenciaria – Ministério da Justiça.

Anexos

Anexo I –Pedido de Autorização à DGRSP

Anexo II – Declaração de Investigadora

Anexo III – Consentimento Informado

Anexo IV – Guião da Entrevista

Anexo V – Ordem de serviço n.º138 do Estabelecimento Prisional do Porto

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Anexo I

Instituto de Ciências Sociais

Ex.mº Sr. Director

Direcção Geral dos Serviços Prisionais

Sou mestranda de Sociologia no Instituto de Ciências Sociais da Universidade

do Minho, sob orientação da Professora Doutora Teresa Mora. Venho por este meio

solicitar a Vossa Excelência a autorização para realização de um estudo no âmbito de

um projeto de investigação intitulado Os Técnicos Superiores de Reeducação e o

Trabalho Prisional que se destina à obtenção do grau de mestre.

Já desenvolvi no ano 2012 um estágio curricular, no Estabelecimento Prisional de

Coimbra, que se destinava à obtenção do grau de licenciatura.

O presente estudo almeja analisar de que modo é que o trabalho prisional afeta

os Técnicos Superiores de Reeducação, quer seja ao nível profissional, quer seja ao

nível pessoal. O objetivo é avaliar a existência de pressões laborais e a forma como são

geridas. Os resultados alcançados permitirão avaliar as principais dificuldades

enfrentadas pelos Técnicos Superiores de Reeducação na execução das suas funções.

Gostaria assim de ter acesso a dois estabelecimentos prisionais –

Estabelecimento Prisional de Coimbra (masculino) e E.P. Porto (masculino) – sendo-

me possibilitado:

- Um acesso flexível às instalações prisionais, nomeadamente espaços de lazer, de

forma participante, no próprio contexto das relações técnico-recluso;

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- Ter acesso aos processos dos reclusos para efeitos de caracterização do grupo

com que os técnicos trabalham;

- Realização de entrevistas aos Técnicos Superiores de Reeducação dos dois

estabelecimentos prisionais com a intenção de, i) perceber as condições em que as

medidas de reinserção social são aplicadas; ii) descobrir quais as barreiras encontradas

pelos técnicos na aplicação das medidas de reinserção previstas legalmente; iii)

compreender se a vida profissional afeta significativamente a pessoal; iv) desvendar as

pressões laborais a que o grupo de profissionais é sujeito e v) compreender as tarefas

associadas ao grupo de profissionais.

Todos os aspetos do trabalho de campo irão ser monitorizados de forma a não

interferir com a segurança ou rotinas dos Estabelecimentos Prisionais.

O período de recolha de dados decorreria durante o período de Janeiro de 2015

no Estabelecimento Prisional de Coimbra e Fevereiro de 2015 no Estabelecimento

Prisional do Porto.

De modo a maximizar a recolha de informação, solicito ainda autorização para

utilização de gravador áudio, estando a gravação sempre dependente da autorização

prévia dos participantes no estudo. A realização das entrevistas irá ter em consideração

a proteção de dados, privacidade dos técnicos, consentimento informado e reservando

aos participantes o direito de, a qualquer momento, poderem interromper a cooperação.

Em anexo a esta carta segue a seguinte documentação, para apreciação de Vossa

Excelência: projeto de investigação com respetivo cronograma e objetivos, declaração

de consentimento e declaração das orientadoras científicas do trabalho.

Com os melhores cumprimentos

_________________________________________________________

(Ana Cláudia Serra Araújo)

Porto, 19 de Novembro de 2014

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Anexo II

Instituto de Ciências Sociais

Estudo sobre

Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

A reclusão e o trabalho direto com os reclusos pode colocar em causa os

princípios e os valores identitários dos Técnicos Superiores de Reeducação.

No âmbito deste estudo pretendemos perceber como são as relações entre

técnicos-reclusos, assim como as a visão dos técnicos sobre o apoio que podem

fornecer. Os resultados alcançados permitirão avaliar as pressões laborais e

profissionais a que os Técnicos Superiores de Reeducação estão sujeitos.

Neste sentido pedimos que participe neste estudo. Toda a informação que nos

fornecer é anónima e a participação é voluntária. Tem o direito de desistir a qualquer

momento, sem que isso possa resultar em qualquer prejuízo para si.

Com os melhores cumprimentos e sempre disponível para esclarecimentos adicionais,

Investigadora responsável

(Ana Cláudia Araújo)

Porto, ____ / ____ / _____

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Anexo III

CONSENTIMENTO INFORMADO

Estudo sobre

Os Técnicos Superiores de Reeducação e o Trabalho Prisional

Declaro que consinto participar no estudo sobre Os Técnicos Superiores de Reeducação

e o Trabalho Prisional, para o qual foi solicitada a minha colaboração para a realização

de uma entrevista.

Declaro que autorizo a gravação do meu depoimento e utilização posterior dessa

informação.

Declaro ainda que fui informado acerca do carácter confidencial e anónimo das

respostas que der no âmbito do referido estudo, tendo-me sido concedidas garantias de

que a minha identidade não será revelada.

Declaro por fim que me foi dada oportunidade de colocar as questões que julguei

necessárias e que fui informado acerca do direito de recusar a qualquer momento a

participação no estudo.

Estabelecimento prisional de ……………………………, ____ / ____ / _____

Nome:____________________________________________________________

Assinatura:_________________________________________________________

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Anexo IV

Guião de Entrevista

Parte I – Dados sociodemográficos

Sexo: F M

Idade: ___________

Estabelecimento Prisional onde exerce funções:______________________________

Área de formação académica:____________________________________________

Data de início da Carreira de Técnico Superior de Reeducação:__________________

Anos de experiência noutras áreas:________________________________________

Quais:_______________________________________________________________

Parte II – Dados Referentes ao trabalho do TSR

Tópicos

Questões

1. Adaptação ao contexto

prisional

1.1 Há quantos anos está neste EP

1.2 Anteriormente, trabalhou nalgum outro EP?

Qual?

1.3 Como descreveria o início da sua carreira?

1.4 Alguma vez receou o ambiente?

2. Funções desempenhadas pelo

Técnico Superior de Reeducação

2.1 Como descreve as suas funções como TSR?

Se tem funções além das legalmente

prevista?

2.2 Com quantos reclusos trabalha?

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3. Meios de ação:

reconhecimento de problemas e

soluções/propostas (atividades

recreativas; programas de treino

de competências; plano

individual de readaptação)

2.3 Qual o tipo de atendimento que faz com os

reclusos?

2.4 Que atividades recreativas organiza?

2.5 No que consistem?

2.6 Se são atividades livres a toda a comunidade

ou não?

2.5 Com que frequência são realizadas?

2.6 Que adesão que têm?

2.7 São realizados programas de treinos de

competências?

2.7.1 Que programas são esses? No que

consistem

2.7.2 Estão previstos no funcionamento da

carreira, ou não?

2.8 Quando intervém junto dos reclusos, que

objetivos pretende alcançar?

2.9 Que expectativas tinha no início da sua

carreira, e como diria que se encontra hoje,

relativamente ao que esperava poder fazer num

E.P., enquanto técnico de reeducação?

3.1 Considera que as atividades recreativas são

suficientes e adequadas? Ou acha que deveriam

existir mais? Que deveriam existir outras?

Se sim, quais?

3.2 Considera que os programas de treino de

competências são adaptados às necessidades

dos reclusos? Estes têm em conta as dificuldades

de cada um?

O que mudaria nos programas de treino de

competências?

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3.3 Quanto ao PIR (Plano Individual de

Readaptação), acha-o adequado?

3.3.1 Que aspetos considera mais positivos e

menos positivos no PIR?

3.3.2 Que tipo de plano acha que seria mais

adequado realizar?

3.3.3 De que forma o PIR facilita a saída em

liberdade ou as saídas Jurisdicionais?

3.3.4 O que faz o TSR na mediação do contacto

do recluso com o exterior?

Que tipo de contactos promove?

São apenas feitos quando o recluso os

pede, ou não?

3.3.5 O TSR conhece a rede de suporte do

recluso?

Promove a criação/fomentação da

mesma?

3.4 Como orienta a saída do recluso em

liberdade?

4. Contexto organizacional:

recursos.

- No exercício das suas funções de TSR,

considera que existem alguns problemas/

dificuldades que decorrem do próprio contexto

organizacional do estabelecimento prisional onde

trabalha?

- Ao nível das infraestruturas (espaços)?

- Ao nível relacional entre pares?

- Ao nível relacional com as chefias?

- Os outros níveis?

- Recursos humanos disponíveis?

- Recursos financeiros?

- Recursos materiais? (acesso a livros,

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5. Articulações com

intervenientes institucionais

externos.

computadores, internet, telefones, entre outros

materiais didáticos)

Se pudesse, o que mudaria no EP onde trabalha?

5.1 Como descreve as articulações e

encaminhamento que realiza com o exterior

aquando da saída em liberdade?

5.2 Quais as maiores dificuldades que encontra?

5.3 Conta com o apoio da Segurança social? Para

que finalidade?

5.4 Que tipo de apoio é mais necessário?

O apoio é facilmente conseguido pelos

TSR?

5.5 Os reclusos tendem a ser aconselhados a

requerer RSI (Rendimento Social de

Inserção)?

Esse pedido é realizado ainda dentro do E.P.

ou só em liberdade?

(porque é que esse pedido não é feito

pelos próprios TSR?)

5.6 Quais as maiores dificuldades no acesso aos

apoios?

5.7 Tendem a acionar a linha de emergência

social muito frequentemente?

6. Perspetivas face ao futuro

técnico superior de reeducação

6.1 Na sua opinião, o que deve mudar na ação do

TSR de em relação ao acompanhamento e apoio

dos reclusos?

6.1.1 Que alterações devem ser feitas na relação

TSR-Recluso e vice-versa?

6.1.2 Como devem ser feitas as alterações?

6.1.3 Acredita que a nova geração de TSR fará

essa mudança?

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Anexo V

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