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SENADO IMPERAL ANNO DE 18 30 LIVRO 1 ANAIS DO SENADO Secretaria Especial de Editoração e Publicações - Subsecretaria de Anais do Senado Federal TRANSCRIÇÃO

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  • SENADO IMPERAL

    ANNO DE 1830LIVRO 1

    ANAIS DO SENADO

    Secretaria Especial de Editorao e Publicaes - Subsecretaria de Anais do Senado Federal

    TRANSCRIO

    yuribeloCaixa de texto ANNAES DO SENADO DO IMPERIO DO BRAZIL

  • 12 Sesso de 5 de Maio

  • 14 Sesso de 6 de Maio

    dos trabalhos da redaco; e fiscalisar que os respectivos empregados cumpram os seus deveres, julgo que para o fazer sufficiente uma s pessoa. Se a questo versasse a respeito de haver ou no haver Diario, talvez ento precisasse de um exame mais meditado; porm ella muito simples, pois ninguem haver que no conhea que trabalhos puramente administrativos so mais bem desempenhados por um do que por trs.

    Sendo proposto este negocio votao, e tendo-se vencido que continuasse a haver uma commisso composta de tres membros, procedeu-se sua nomeao, e sahiram eleitos os Srs. Jos Ignacio Borges, com 20 votos; Nicolo Pereira de Campos Vergueiro, com 8; ficando empatados com 6 votos os Srs. Manoel Caetano de Almeida e Albuquerque, Patricio Jos de Almeida e Silva, Francisco dos Santos Pinto; deu a sorte a preferencia ao Sr. Almeida e Albuquerque.

    Seguio-se a nomeao da Commisso do Regimento Interno, e foram eleitos os Srs. Patricio Jos de Almeida e Silva, com 13 votos; Marquez de Inhambupe, com 10; e Francisco Carneiro de Campos, com 8.

    O Sr. Presidente annunciou que o Conselheiro Jos Paulo Nabuco de Araujo offereceu ao Senado o 1 volume da Colleco da Legislao da Fazenda do Imperio do Brazil.

    Foi recebida a offerta com agrado. O Sr. Presidente designou para Ordem do

    Dia: 1 Continuao da segunda discusso da

    Lei sobre a liberdade de exprimir os pensamentos por palavras ou por escriptos.

    2 Continuao da segunda discusso do projecto de Lei extinguindo a Casa de Supplicao e substituindo- a por uma Relao na cidade do Rio de Janeiro.

    Levantou se a Sesso s 3 horas e um quarto.

    SESSO EM 6 DE MAIO DE 1830.

    PRESIDENCIA DO SR. BISPO CAPELLO-MR.

    Continuao da 2 discusso do Projecto

    de Lei que regula a liberdade de exprimir os pensamentos por palavra ou por escripto.

    Fallaram os Srs. Senadores: Duque Estrada, 2 vezes; Conde de Valena, 2 vezes; Secretario Visconde de Caeth, 1 vez; Evangelista, 4 vezes; Saturnino, 1 vez; Presidente, 4 vezes; Marquez de Caravellas, 11 vezes; Almeida e Albuquerque, 5 vezes, Carneiro de Campos, 10 vezes; Vergueiro, 5 vezes; Borges, 4 vezes.

    Achando-se presentes 35 Srs. Senadores, declarou-se aberta a Sesso; e lida a Acta da antecedente, foi approvada.

    Faltando o Sr. 1 Secretario passou a substituil-o o Sr. 3 Secretario, e ento o Sr. Presidente convidou o Sr. Jacintho Furtado de Mendona, primeiro Supplente, para vir tomar assento na Mesa.

    O Sr. 3 Secretario leu uma Felicitao do Conselho Geral da Provincia de Goyaz, a qual foi recebida com agrado.

    O mesmo Sr. Secretario deu conta de um officio do Secretario do Conselho Geral da Provincia de S. Paulo, transmittindo seis Representaes do mesmo Conselho, e disse:

    Estes papeis que faz cargo o officio devem se ler.

    O SR. DUQUE ESTRADA: Parece-me que devemos ir Commisso de Peties.

    O SR. CONDE DE VALENA: O Sr. 1 Secretario deve ler esses papeis, depois o Senado lhes d o destino que convm; assim se tem praticado at agora.

    O SR. DUQUE ESTRADA: A pratica todos os requerimentos, que vm Mesa, e papeis desta natureza serem remettidos Commisso, e no se lem aqui.

  • Sesso de 6 de Maio 15 O SR. CONDE DE VALENA: Eu tenho

    visto constantemente lerem-se aqui todos os papeis e officios que vem Mesa. Os requerimentos avulsos que se remettem Commisso.

    O SR. 1 SECRETARIO VISCONDE DE

    CAETH: A pratica lerem-se estes papeis, depois dizer-se: A' tal Commisso. Assim se resolveu, e leram-se:

    Primeira: Sobre os inconvenientes que resultam quella Provincia da falta do cunho da moeda de cobre.

    Segunda: Sobre a inexequibilidade do paragrapho 11 do Art. LXVI da Lei de 1 de Outubro de 1828, que prohibe a venda da polvora dentro das povoaes.

    Terceira: Sobre o grande numero de Officiaes do Estado-Maior naquella Provincia e sobre o methodo de reparar as injustias nas promoes militares, por meio de novas promoes.

    Quarta: Sobre a Carta Rgia de 5 de Novembro de 1808, acerca da Escravisao dos Indios.

    Quinta: Sobre a Proviso do Thesouro Publico de 5 de Junho de 1829.

    Sexta: Pedindo certos terrenos no Cubato da Villa de Santos, para pastagens das tropas, que por alli transitam, em beneficio do Commercio e Agricultura.

    Decidio-se que fossem remettidas: a Primeira, Commisso de Fazenda; a Segunda, de Legislao; a Terceira, s Commisses de Guerra e Fazenda; a Quarta, de Colonisao; a Quinta, s de Constituio e Fazenda; e a Sexta, de Fazenda.

    Sobre a Quarta representao pedio a palavra e disse:

    O SR. EVANGELISTA: Este objecto de grande importancia: trata-se da liberdade desses homens, da liberdade, um dos bens mais preciosos que temos! Portanto no justo que tenha a sua deciso um s instante de demora.

    O SR. PRESIDENTE: Vai para a Commisso; l se tratar desse negocio.

    discusso do Projecto de Lei que regula a liberdade; de exprimir os pensamentos por palavra ou por escripto, teve lugar a discusso das emendas feitas pela Commisso de Legislao, comeando-se pelo paragrapho 9 do Art. II, Tit. 1.

    O SR. SATURNINO: Segundo me occorre, quando se tratou desta Lei, aqui se disse que respeito s penas fosse Commisso. Isto o que fez; logo parece-me que se deve principiar a discutir pelo Titulo I, que relativo s penas, e que no foi discutido.

    O SR. PRESIDENTE: Essa tambem a minha opinio. A primeira Emenda, que apresenta a Commisso, sobre o paragrapho 9 do Art. II, as mais Emendas esto approvadas; o que materia nova de discusso a Emenda sobre o paragrapho 9 do Art. lI, e o que se vai ler.

    Leu o Sr. Secretario: 9 Injurias contendo imputaes de

    crimes publicos, em que ha lugar a Aco popular ou Procedimento Official da Justia contra Corporaes, na pena de priso de 6 a 18 mezes, e na pecuniaria de 200$000 a 600$000; contra os empregados publicos na pena de priso de 4 mezes a 1 anno e na pecuniaria de 100$000 a 300$000; contra quaesquer pessoas na de priso de um a tres mezes, e na pecuniaria de 40$000 a 120$000.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: E para esclarecer-me que peo a palavra. Eu estava na ida que, apezar de terem havido Emendas a alguns dos Artigos e paragraphos desta Lei, todavia se determinou que na parte que dizia respeito s penas fosse Commisso. Julgo que isto o que se venceu. Portanto parece que a Commisso devia tratar de penas sobre abusos que esto antes do paragrapho 9. Eu lembro-me, e mesmo creio que foi moo minha que se distinguisse abusos, etc., feitos contra a Pessoa do Imperador e Familia Imperial; isto , que se marcassem penas differentes, porque a Pessoa do Imperador mui distincta das da Familia Imperial. Aqui acha-se isto

  • Entrando-se na primeira parte da Ordem do Dia, a continuao da segunda

    englobado. Eu disse que as penas relativas ao abuso contra a Pessoa do Imperador

  • Sesso de 6 de Maio 17

  • SESSO EM 7 DE MAIO DE 1830.

    PRESIDENCIA DO SR. BISPO CAPELLO-MR.

    Continuao da segunda discusso das

    emendas feitas no Projecto de Lei sobre os abusos da Liberdade da Imprensa.

    Falaram os Srs. Senadores Presidente, 4 vezes; Saturnino, 10 vezes, Oliveira, 1 vez; Almeida e Albuquerque, 11 vezes; Evangelista, 6 vezes; Vergueiro, 8 vezes; Carneiro de Campos, 5 vezes; Borges, 5 vezes; Marquez de Palma, 4 vezes; Visconde de Alcantara, 1 vez.

    Achando-se presentes 37 Srs. Senadores, declarou o Sr. Presidente aberta a Sesso; e, lida pelo Sr. Secretario a Acta da antecedente, foi approvada.

    O Sr. 1 Secretario leu um officio do Sr. Marquez de Barbacena, participando Camara, que Sua Majestade o Imperador houvera por bem nomeal-o Ministro e Secretario de Estado de Negocios da Fazenda.

    Ficou o Senado inteirado. Passou-se primeira parte da Ordem do

    Dia, a continuao da segunda discusso das emendas feitas pela Commisso de Legislao ao Projecto de Lei sobre os abusos da Liberdade de Imprensa.

    O SR. PRESIDENTE: A primeira parte da Ordem do Dia os Arts. IV e V do Tit. I da Lei sobre a Liberdade da Imprensa, porm est um Membro da Commisso achando uma lacuna, que ha nesses Artigos, e para no perder tempo parece-me que ser melhor passarmos adiante; e ento segue-se o; Art. II do Tit. II.

    O segundo Secretario leu o Artigo, e depois a Emenda da Commisso: depois do Art. II accrescente-se: O responsavel incorre na pena de 50$000 e perda dos exemplares.

    O SR. SATURNINO: Esta pena consiste em 50$000 e perda dos exemplares, mas pde acontecer que os exemplares no pertenam ao impressor, e ento vai este pagar o que lhe no pertence, e passa isto a ser prejuizo de terceiro. Portanto parece-me que era necessario accrescentar-se alguma cousa pena, e tirar-se esta dos exemplares, porque podem estes no lhe pertencer. Mandou Mesa a:

    SUB-EMENDA

    Ao Art. II Tit. II, em lugar de: e perda dos

    exemplares, substitua-se o valor dos exemplares. Saturnino.

    Lida pelo 2 Secretario foi apoiada, e entrou em discusso.

    O SR. OLIVEIRA: No me parece necessario esta Emenda, antes julgo que est melhor, como se determina na Emenda da Commisso, porque pde seguir-se um prejuizo sociedade, contendo o escripto doutrina que seja perigosa; entretanto que o impressor, que de proposito deixa de pr o nome da typographia, pde depois de pagar a pena e valor dos exemplares, fazer outros e o resto no se colher.

    O SR. SATURNINO: Ainda insisto na minha Emenda, porque esta pena imposta simplesmente por no se achar o nome da typographia, nem do autor no escripto, ficando salva a materia. Trata-se unicamente de evitar que haja aquelle abuso, e a minha Emenda evita-o bem.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Sr. Presidente. Eu entendo da mesma maneira que o nobre Senador que acaba de fallar; isto , que o impressor no deve pagar os escriptos, no sendo elle o seu Autor, porque pde succeder que o exemplar seja um livro grande, que valha 4$000, ou um pequeno papel, que custe apenas 30 ris, e isto uma desproporo e uma pena muito grande, tendo ainda de mais a pagar 50$000.

    O SR. EVANGELISTA: Sr. Presidente.

  • No me agrada o que disse o nobre Senador, porque aquelle que recebe um escripto injurioso para o publicar, incorre no abuso: Liberdade de Imprensa; logo que tomou sobre

  • si o dolo do outro, e por consequencia deve ser punido. At por este principio deve subsistir o que est na primeira Emenda: aquelle que tomou a seu cargo fazer effectivo um facto illicito de outro, tomou sobre si o dolo e malicia de outro; servio ao dolo do outro; e portanto aquelle que servio ao dolo do autor do escripto tenha a mesma pena que este teria.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: O Sr. Senador Saturnino j explicou que no se trata da doutrina do escripto; aqui trata-se unicamente do facto material de declarar na impresso o lugar desta e o nome do autor. Quem vender o livro que contenha doutrina perniciosa responsavel pela doutrina; mas o que se trata aqui do facto da estampa e da pena dos 50$000 que iulgo ser muito grande para o caso, a que applicada.

    O SR. VERGUEIRO: E uma verdade que este Artigo no se dirige a reprimir os abusos da Liberdade da Imprensa: no mais do que uma disposio policial, que se exige para se poder averiguar quem o autor do escripto, do mesmo que se exigem os passaportes em viagem; por isso que contendo um escripto algum abuso, muito conveniente saber-se de onde nasceu esse abuso, e para esse fim que exige esta declarao. Agora o impressor, uma vez que se julga necessario no escripto esta declarao do lugar da imprensa, dever rejeitar no escripto que no estiver legal. Portanto parece-me que est boa a Emenda da Commisso, e que se no deve admittir esta outra. Eu tambem tenho a fazer uma Emenda ao Artigo. Proponho que se supprimam estas palavras: Em dous differentes lugares e de maneira que no possa cortar. Porquanto se se cortar tanto faz que seja impressa em uma, como em duas partes; pois estando cortado no pde correr. Portanto no precisa esta clareza, at por ser muito difficultosa a execuo, pois todo o papel soffre tesoura, declarando-se porm que no possa correr o escripto sem o lugar da impresso, fica livre deste embarao.

    O SR. PRESIDENTE: O objecto da

    O SR. VERGUEIRO: Pois bem, offereo a minha Emenda considerao do Senado.

    Sendo lida a Emenda, foi apoiada, e entrou em discusso.

    O SR. SATURNINO: Eu ainda contino a insistir na necessidade da minha Emenda, porque os fundamentos em que me estribo no foram destruidos. Pois ha de o impressor ter a pena, sem que lhe pertenam os exemplares? O exemplo, que trouxe o nobre Senador, o Sr. Albuquerque, da pena ser muito, concludente, estou por isso, mas o que no quero, que sejam apprehendidos exemplares, no sendo o impressor o dono delles.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Diz o Artigo em discusso: o responsavel incorre na pena de 50$000, etc.; isto o mesmo que dizer que o impressor incorre na pena de 50$000. Ora, no sendo o impressor o autor do escripto, como ha de ser responsavel por aquillo que no seu? Demais, a pena de 50$000 desproporcionadamente grande. Disse um illustre Senador que o livro que tiver folhas cortadas no deve correr: isso est visto, porque ninguem ha de comprar uma cousa imperfeita. Mas ento o impressor, ou o que vende, ou o que espalha, tambem ho de incorrer nesta pena, no sendo nenhum delles o autor? Parece-me que no devem.

    O SR. VERGUEIRO: A primeira vista parece que ha prejuizo de terceiro, por vir um a pagar pelo outro; mas no tanto assim. Se os exemplares no so do impressor, elle os ha de ter havido de autor, e ento se os no acha legaes, no os receba, no os imprima. Supponhamos agora que o autor no tem culpa disto, porque deu o seu escripto legal para ser impresso, nesse caso o autor tem direito a fazer que pague o impressor a sua propria culpa; portanto, julgo que deste modo no paga um pelo outro, mas cada um a sua culpa. Quanto desproporo da pena certo que pde ser grande; porm segundo fr maior ou menor a obra, assim ser maior ou menor essa pena. Portanto, parece-me que a Emenda da

  • discusso sobre as penas que esto na Emenda da Commisso, e no sobre o Artigo.

    Commisso est bem concebida, e deve conservar-se

  • a pena ahi estabelecida para no correrem os impressos sem que sejam legaes.

    Julgando-se afinal discutida a materia, propz o Sr. Presidente votao:

    1 A Emenda da Commisso, salva a sub- emenda. Foi approvada.

    2 A sub-emenda do Sr. Saturnino. Foi rejeitada.

    O SR. VERGUEIRO: Aqui esto j os Arts. IV e V, para supprir a lacuna que tinham: portanto julgo que agora occasio do Senado decidir sobre esta materia, que est manca.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Eu acho mais conveniente discutir-se agora esta materia. Para que perdermos tempo sujeitando-a outra discusso? Quando agora se conservam mais frescas as idas, e melhor se pde discutir? Eu vi as Emendas na Commisso, e achei-as boas; por isso a minha opinio que se discutam agora, porque se podem decidir j.

    O SR. BORGES: Reservava-me para na terceira discusso me oppr s Emendas por isso que esto em contraposio com o Codigo Penal, que vai em breve discutir-se, tendo j na Camara dos Deputados sido approvado o Parecer da Commisso Mixta sobre a maneira de o discutir. Ora, eu lendo o Codigo, que foi j distribuido, vejo que elle contm Artigos que trazem expressa esta materia; e ento se se approvar agora cousa diversa nesta Lei do que no Codigo Geral, se ha de seguir o Codigo ou esta Lei? A contradico, que ha entre um e outra manifesta; eu leio no Artigo do Codigo (leu): se temos isto alli expresso, e se desde o principio da discusso sobre esta Lei se disse, que era alheio de uma Lei, que trata de abusos de Liberdade de imprensa, metter-se a tratar dos abusos de palavras, gravuras e pinturas; e se a razo, que se allegou para se tratar esta materia, foi (como o disse um dos nobres Senadores, que se acha presente) por ser melhor no a deixar ao arbitrio dos Juizes, que estavam julgando estes delictos sem ter uma Lei fixa, visto que a Lei existente no podia ser applicada nem nos abusos do seculo, nem o estado

    actual; e por esta unica razo passou o introduzir-se na Lei esta materia; cessando agora essa necessidade, e no se dando j a mesma razo, vista do Artigo do Codigo, para que nos havemos occupar de semelhante materia, que ninguem pde negar que alli que deve ser regulada, e no nesta Lei de Liberdade de imprensa? Muito mais tendo eu bem fundadas esperanas de que esta Lei no passar. Consequentemente fundados nestes principios que me tinha reservado para na terceira discusso contrarial-as; mas como vejo que o nobre Senador pede para serem discutidas j, lembrou-me dever fazer esta reflexo.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: No procede a objeco do nobre Senador, porque o Codigo no est ainda approvados; ou se procede, ento necessario caia a Lei toda, ou fique adiada a approvao do Codigo. Mas porque no Codigo se contm Artigos sobre esta materia, no se ha de legislar sobre a Liberdade de Imprensa? Sabemos ns porventura que resultado ha de ter o Codigo, se ser approvado ou no? A respeito de impressos ou gravuras, a Lei de Liberdade de Imprensa no podia deixar de conter estes Artigos, que, a Constituio manda, sendo esta Lei baseada no Artigo Constitucional, uma das Regulamentares, ordenadas pela Constituio, que l lhe marcou as bases que devero ser desenvolvidas.

    O SR. BORGES: O nobre Senador um daquelles que sempre tm sustentado na Camara a opinio de que ns devemos estar em harmonia com as reformas que se devem fazer; agora que foge disto, agora que foge do argumento principal. V o Codigo passado j com o cunho da approvao da Commisso Mixta, o qual vai ser discutido, sem a discusso minuciosa de Artigo por Artigo, pela necessidade urgente que ha delle; de onde resulta um fundamento rasoavel para suppr que elle venha a ser approvado; v, por outro lado, que no est no mesmo caso a Lei, que presentemente se discute, a qual eu aposto cem

  • contra um, em como no passa, e at sei de boa fonte que todas as Emendas, aqui postas, vo cahir na Camara dos Deputados; como, pois, insiste em introduzir deslocadamente nesta Lei o que em seu lugar competente vem no Codigo regulado?

  • Onde devemos pr esperanas mais bem fundadas? Nesta Lei ou no Codigo, que a necessidade, urgencia social mostra a todos os olhos que deve ser approvado? Isto quanto objeco do nobre Senador de que o Codigo no est ainda approvado. Agora diz mais o nobre Senador, que se a minha duvida procede, e o Codigo trata desta materia, ento deve cahir toda a Lei, ou ficar adiada at a approvao daquelle. Mas o Codigo no Lei de Liberdade de Imprensa; o Codigo no Artigo que eu citei, falla s daquelles impressos que contm injurias, e no comprehende os outros crimes, que vm designados nesta Lei; s se trata a especie, quando se fazem injurias a alguma pessoa ou corporao, seja por manuscriptos, seja por gravuras, o que o objecto dos Arts. III e IV desta Lei, e estabelece as penas a este respeito, mas no se occupa do resto della. Logo a Lei precisa; havemos tel-a. (Outra certamente mais bem combinada, porventura melhor combinada, no esta que sei vai cahir pelo informe que est, tendo sido concebida debaixo de um plano, e emendada debaixo de outro). Tendo, pois, todos estes fundamentos, para que havemos sustentar aqui esta doutrina, a qual at pelo senso commum se v que vai fazer parte do Codigo? Disse o nobre Senador que estas especies dos Arts. III e IV so de um Artigo Constitucional. Mas o Artigo Constitucional occupou-se unicamente de impressos e manuscriptos. (Ainda foi uma questo muito grande aqui, se debaixo do nome Escriptos se entendia o de impressos). Mas a Constituio, como eu dizia, no traz uma palavra sobre gravuras e pinturas. Nem eu sei como esta materia se introduzio nesta Lei; introduzio-se em respeito ao Projecto, que de l veio, e a no ser isso no se introduziria. Portanto, deve prevalecer a minha duvida, se nos devemos occupar agora desta materia ou reservarmo-nos para a terceira discusso, e nesse tempo, quando j teremos noticia do estado do Codigo, refutal-a inteiramente, se alli apparecer estabelecido o contrario do que vem

    contm os regulamentos que se exigem para todas as especies, ento no este Artigo smente que deve cahir, devem ser tambem os Arts. I, III, IV e V da Lei; mas j passaram os Artigos relativos s injurias. (Leu). E' por isso que eu digo que o argumento no concludente a respeito destes Artigos; o mais foi questo, que se suscitou, se a Lei devia ou no comprehender estas especies. Emfim querendo-se esperar pelo Codigo, pde ficar a Lei.

    O SR. BORGES: Era preciso que eu dissesse que o Codigo tratava de todos os casos desta Lei, para se concluir que ella deve cahir. O Codigo falla smente das gravuras, pinturas, objectos dos Arts. III e IV do Tit. I; isto que eu mostro que est no Codigo.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: (Interrompendo o orador): Eu peo que se leia o Codigo.

    O SR. BORGES: (Continuando o seu discurso): Eu leio. (Leu). So estas especies, de que o Codigo trata, no se occupa, porm, dos impressos, dos manuscriptos ou sejam estes contra o systema Representativo ou sejam contra a Pessoa do Imperador, ou finalmente contra o Governo, as Leis e outros muitos objectos; no se occupa da frma do processo que se deve ter, nem de outras muitas disposies, em que a Lei se occupa. Ora, digo eu, esta materia, que est aqui tratada no Codigo, e que faz o objecto principal do Artigo III e IV da Lei, no obstante ter passado esta, no precisando ns de a termos na Lei, reservamol-a para a terceira discusso, para ver se ento cahe, porque os Artigos so contrarios ao disposto no Codigo; e eu tenho mais bem fundadas esperanas que este passe, do que a Lei.

    O SR. PRESIDENTE: A questo vai sahindo do seu verdadeiro objecto. E' necessario que o Senado resolva se esta materia deve ser tratada na Commisso outra vez, ou se pde ser discutida agora.

    Resolveu-se que fosse discutida; e pondo-se votao por se julgar j debatida a materia,

  • nestes Artigos. O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Se

    procede o que diz o nobre Senador, torno a repetir, deve ento cahir toda a Lei, e esperar-se que passe o Codigo; e se o Codigo

    foram approvados os Artigos IV e V do Tit. I, taes como estavam no Projecto.

    Passou-se discusso da Emenda aos Arts. III e IV do Tit. II.

  • 1 Em cada uma das Cidades e Villas haver um Conselho de Jurados eleito pela maneira seguinte:

    2 Na occasio em que se elegerem os Deputados Assembla Geral Legislativa, se elegero tambem e pela mesma maneira, sessenta homens bons para Jurados nas Capitaes das Provincias, e trinta e seis nos outros lugares. Na mesma frma se eleger um Promotor para cada um dos ditos Conselhos.

    O SR. SATURNINO: No me parece bem clara esta materia. Cada eleitor tomar tantas vezes trinta e seis homens, quantos forem os Conselhos de Jurados, sendo cada Conselho de trinta e seis Jurados. Mas de onde ho de ir buscar cada um dos eleitores estes homens? Talvez mesmo nas Capitaes os no possam tirar. Eu no acho isto praticavel. Com effeito, se os eleitores elegerem tantas vezes o numero de Jurados, de que se devem compr os Conselhos, quantos estes forem, e os Jurados deverem ser do Districto da Villa, cujo Conselho ho de compr, como poder isso ser? Agora se os eleitores os pde tirar de toda a Provincia; nesse caso estando elles na Capital, e devendo-se ahi fazer a eleio no mesmo tempo em que se faz a dos Deputados, e no conhecendo cada um seno as pessoas de seu Districto; como os ho de eleger de toda Provincia, se os no conhecem? Este Artigo, pois est muito escuro, e eu no o entendo.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: E' o mesmo que acontece com a nomeao dos Deputados e Senadores; se nomeiam s vezes pessoas que os eleitores nunca viram. Mas nessas eleies apparecem eleitores de todas as partes; e ento elles que informem: em tal lugar ha tantas pessoas capazes, no ha outro modo de se fazerem estas eleies: de ordinario assim que se elege. Portanto uma das cousas que tem difficuldades, mas que so necessarias.

    O SR. EVANGELISTA: A observao do nobre Senador justa. Como que se ho de nomear trinta e seis Jurados numa pequena Villa? Isto cousa impossivel. Ha lugares onde

    so incapazes de julgar; no sei como se ha de poder fazer essa eleio. O que acontece em taes casos que nessas eleies ha homens que at do o nome de pessoas que no existem.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Eu entendo que em cada cidade ou villa do ColIegio Eleitoral, votar para Deputados, vota tambem para Juizes de Facto, com a differena, porm, que a dos Deputados vai para a cabea de Comarca para se fazer a apurao; e a eleio dos Juizes de Facto fica alli apurada definitivamente. O que a Commisso fez foi emendar o que estava no Projecto; alli punham-se os Juizes de Facto smente na Cabea da Comarca, o que se disse no ser, e de facto no era applicavel ao Brasil; e por isso estabelecendo-se os Juizes de Facto em todas as cidades e villas, era preciso, como se diz nesta Emenda, fazer-se a eleio na mesma occasio, em que se elegessem os Deputados, afim de no incommodar os povos, afim de os no estar a chamar em tantas occasies. Assim que eu entendo, e julgo se deve entender a Emenda.

    O SR. SATURNINO: Agora entendo eu a Emenda; mas julgo que ainda assim no est clara, e para esse effeito parece-me que se deve dizer assim: "Na occasio em que se nomearem os eleitores em cada Collegio Eleitoral se far tambem esta eleio.

    O SR. VERGUEIRO: Eu no sou deste arbitrio, porque os Circulos Eleitoraes so diversos dos Termos da eleio dos Jurados que no devem ser eleitos peIos Membros de uma outra Municipalidade, no se podendo por isso dizer que se faa a eleio dos, Jurados na occasio da dos Deputados. Com effeito, necessario que cada Municipalidade faa a eleio dos seus Jurados em uma poca conveniente; agora querer-se que se faa na occasio da dos Deputados essa eleio, que directa, e feita nas Assemblas parochiaes, (eu no apontarei os inconvenientes que tm essas eleies directas, os quaes so manifestos) e que para se fazerem taes apuraes por

  • no se pde achar nem dez. Eu entendo que para Jurados se necessitam homens bons e de senso; e os habitantes dos lugares, a maior parte delles, nada absolutamente

    exemplo: de sessenta Jurados se recebam os votos todos os cidados activos um trabalho immenso e provavelmente ha de acontecer que cada individuo nomeie os sessenta Jurados, no que ho de

  • haver grandes difficuldades; e a apurao ha de ser muito difficultosa. Para ser feita pelos eleitores ento devia-se estabelecer que os eleitores de cada Municipalidade votasse nos Collegios dos Deputados, e isso no pde ser. At devemos tirar daqui as palavras: na occasio em que se elegerem os Deputados Assembla Geral Legislativa; e quando isto passe deve fazer-se uma explicao, porque esta expresso, que est na Lei, que agora est em vigor, tem feito suscitar grandes questes entre os Jurados, querendo uns que os Jurados, ainda que estejam eleitos de mais tempo, no possam todavia entrar em exercicio seno quando principia a Legislatura e sustentando outros o contrario. Por consequencia, para evitar estas questes, e ao mesmo tempo os inconvenientes que ha em se elegerem os Jurados para servirem dahi a anno e meio, muito principalmente no Brasil, onde, pelo estado da nossa povoao, muito facil mudar de domicilio, e no fim de anno e meio ha j uma differena muito grande no numero dos nomeados: parece mais natural que logo se faa a nomeao, cessem os velhos e entrem os novos. Portanto proporei que a eleio seja feita pelos eleitores de cada Municipalidade.

    Fez a Emenda, que mandada para a Mesa, foi lida pelo Sr. 2 Secretario.

    EMENDA A nomeao dos Jurados ser feita pelos

    Eleitores de cada Municipalidade, que para esse fim se reuniro em Collegio, que observar as mesmas formalidades, que os Collegios para a eleio dos Deputados. Vergueiro.

    Sendo apoiada entrou em discusso. O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE:

    Sr. Presidente. Este negocio muito difficultoso: a Lei existente manda que em cada legislatura sejam eleitos os Juizes de Facto (leu) ; esta a Lei actual, mas esta Lei s a respeito das Capitaes, pelo contrario na que discutimos at se queria que os hou

  • veniente

  • para um padre. A Camara julgar o que melhor entender. Eu fao a minha Emenda, para della se adoptar o que convier.

    Fez a seguinte Emenda, como additiva do Sr. Saturnino:

    EMENDA

    Accrescente-se depois das palavras

    Juizes ecclesiasticos Vigarios e seus Coadjutores, at mesmo padres. Evangelista.

    Foi apoiada. O SR. MARQUEZ DE S. JOO DA

    PALMA: Eu opponho-me Emenda que fez o illustre Senador que acaba, de fallar. Trata-se de achar gente capaz para estes Conselhos de Jurados. Ora, ns conhecemos que ha lugares onde a gente muito pouco illustrada, e onde excluidos os padres ficaro mui poucos que possam servir, pois j se excluem outras pessoas. Por outra parte vemos tambem que os ecclesiasticos tm a seu favor a opinio de saberem mais alguma cousa que o ordinario; mas diz o illustre Senador que os padres se no devem metter com o temporal, porque o seu reino no deste mundo. Isto bello para dizer-se, mas no prova nada para o nosso caso. Os padres so tambem cidados, e os servios feitos sociedade de que so membros, no os afastam do seu sagrado ministerio. Ns temos aqui mesmo no nosso recinto ecclesiasticos muito capazes, que podero muitas vezes ainda ser Juizes, a que aqui mesmo ho de ainda julgar; muito bons servios tenho eu visto por padres a sua patria, em Goyaz a Memoria mais bem acabada sobre aquella Provincia foi devida aos trabalhos de um ecclesiastico benemerito; o autor da Corographia Brasilica foi um ecclesiastico. Portanto no os afastemos dos negocios em que elles podem ser uteis; e vendo por toda a parte ecclesiasticos benemeritos, no lhes faamos a injuria de os afastar, antes os aproveitemos em beneficio publico.

    O SR. EVANGELISTA: Estou muito

    a jurisdico espiritual com a temporal, que so entre si incompativeis. No os mettamos nestes negocios temporaes. Reconheo que a sua litteratura faz uma presumpo de facto e de direito a seu favor; mas julgo que se no devem intrometter em julgamento de crimes, porque, occupados nisto, ho de faltar aos seus deveres espirituaes. Emquanto a dizer-se que preciso aproveitar o padre, a isso respondo que se a Municipalidade notavel, no faz falta o padre; se o no , ento um padre que entre, no faz nada; para que se ha de dar atteno ao padre desviando-o para este Lado? Ninguem diz que no fossem os padres chamados para negocios temporaes, mas sim que no julguem; alguns occupam, verdade, o lugar de legisladores, mas como legisladores exercem uma tarefa analoga sua, porque a legislao a moraI applicada ao Governo; differente cousa julgar e legislar; e o que se julga no Senado, quando elle julgar, no tem comparao com o que julga em uma aldeia, porque differente cousa julgar conjunctamente com tanta gente, e to autorisada por sua sabedoria, um padre eleito por toda a Nao, do que aquelle padre no escolhido assim, e com poucos ainda de menos luzes; e eu accrescento mais, que nos move a este parecer o respeito s Leis Canonicas; e em ponto to delicado, que ellas tanto prohibem, no quizera que se fizesse essa alterao; pois que no vale a pena, s afim de ter mais um individuo para Juiz de Facto. Mas a Camara na sua sabedoria escolher o melhor.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: J nada me resta a dizer, porque foi cabalmente respondido; agora o illustre Senador apresenta as tentaes que desviariam os padres de sua vocao, a isto no se tem que responder.

    O Sr. Marquez de Palma sustentou sua opinio, mostrando que os padres nomeados para o Corpo Legislativo, se o so pela Nao, no o so cada um delles por toda, mas por Parte della, como o seriam tambem se fossem eleitos para Jurados; que portanto no havia tamanha

  • longe de dizer que sejam os ecclesiasticos excluidos dos cargos, que no tenham por objecto o julgar o que a respeito delles unir

  • 32 Sesso de 7 de Maio

    disparidade como se queria inculcar: (porm o tachygrapho no entendeu o orador de modo que se pudesse dar a integra de seu discurso.)

    O SR. EVANGELISTA: Para o Corpo Legislativo so nomeados por aquelles que representam a Nao; logo pela Nao. Os outros para Jurados so eleitos por outros que so smente uma fraco della.

    Passou-se votao. O Sr. Presidente propz:

    1 A primeira, parte do Artigo lII, salvas as Emendas. Foi approvado.

    2 A Emenda do Sr. Saturnino. Tambem passou.

    3 Se os parochos deviam ser isentos. Venceu-se que sim.

    4 Se os Coadjutores tambem o deviam ser. Venceu-se que no.

    A segunda parte do Artigo. Foi approvado.O Sr. Secretario deu conta de tres officios

    que havia recebido do Sr. Ministro do Imperio: 1, participando, em resposta ao officio que lhe fra dirigido por Sua Majestade o Imperador. Ficou inteirado das nomeaes de Presidente e Secretario que haviam servir na presente Sesso.

    2 Communicando haver expedido as ordens necessarias para o pagamento da importancia das despezas feitas com a redaco de nove numeros do Diario do Senado, pertencentes Sesso do anno passado.

    3 Remettendo um Officio que lhe dirigira o Secretario do Conselho Geral da Provincia de S. Pedro do Sul.

    A respeito do 1 e 2 ficou o Senado inteirado; o 3 foi mandado remetter Commisso de Constituio.

    Continuou-se a discusso do Titulo III, e leu-se o Art. IV.

    Leu-se o Art.V.

    ARTIGO V

    O SR. MARQUEZ DE S. JOO DA

    PALMA: Apoio a Emenda do nobre Senador; porque quando se legisla, para toda a parte,

  • Ora.

  • Sesso de 7 de Maio 33

    pde muito bem haver terra onde se apresentem grandes embaraos por causa do Jornal e que alli intentem fazel-o sem meios alguns de conseguil-o, s para este fim, portanto tiremos uma duvida que pde trazer consequencias prejudiciaes; basta que se diga unicamente publique-se.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Assento que indispensavel dizer-se por via dos jornaes. Diz o nobre Senador que pde succeder que criem um s para isso. Oxal que assim seja, e se resultar esse bem, muito boa a lembrana; por isso at se devia obrigar, alm de que, o Jornal no precisa ser da mesma terra; e no basta que seja por editaes; porque preciso que conste fra, e que cada cidado saiba quem ha de ser o seu juiz.

    Fallou o Sr. Marquez de Palma, mas no se ouvio o que disse.

    Posto pelo Sr. Presidente o Artigo em votao, foi approvado, salva a Emenda, e esta tambem o foi.

    Entrou em discusso o Art.VI.

    Artigo VI

    Os eleitos serviro durante o tempo da

    Legislatura, e s podero excusar-se sendo maiores de 70 annos, ou tendo impedimento physico ou apresentado e decidido pelo mesmo Conselho de Jurados.

    O SR. VERGUEIRO: Este Artigo necessario pl-o em harmonia com o que se venceu no II, no qual est vencido que as eleies fossem feitas pelas Camaras Municipaes, logo que entrassem em exercicios. Portanto parece-me que devem entrar a servir logo, durante o periodo das Camaras, e no durante o da Legislatura. Como so eleitos no principio das Camaras, parece que devem tambem acabar com ellas.

    Leu-se a Emenda que mandou para a Mesa.

    EMENDA

    Foi apoiada. Havendo-se por discutida a materia, e

    proposto o Artigo, e a Emenda do Sr. Vergueiro votao, um e outra foram approvados.

    Passou-se ao Tit. 4 das Emendas da Commisso, e leu-se o Art. 1:

    Artigo I

    No dia designado para formao do Jury

    de Accusao, achando-se presentes no lugar, que fr determinado, o Juiz de Direito com o Escrivo, os Jurados, o Promotor e a Parte accusadora, havendo-a, far o Juiz de Direito abrir a urna e verificar publicamente que nella se acham todas as cedulas; e fazendo-as recolher segunda vez, mandar extrahir por um menino doze cedulas, se o Jury fr nas Capitaes as Provincias, e dez nos outros lugares.

    As pessoas nellas designadas formaro o Jury, que ser presidido pelo primeiro que tiver sahido sorte.

    O SR. BORGES: No vejo aqui designado o numero necessario: cuido que j passou aqui uma Resoluo sobre este objecto, determinando o numero 40; agora aqui o Jury tem 36, e preciso que marquemos o numero certo, que deve ter. Algum nobre Senador que esteja mais ao facto do que se passou, podia illustrar-nos. E preciso declarar o numero necessario para poder haver sesso.

    O SR. SATURNINO: Creio que diz aqui (leu) doze cedulas: o mesmo que doze Juizes. Agora vejo que abaixo marca dous teros.

    Posto o Artigo votao foi approvado. Leram-se um depois do outro os Arts. II.

    Artigo II

    O Juiz de Direito lhe deferir juramento

    pela frma que abaixo se transcreve, e ouvindo o Promotor e Parte accusadora, havendo-a com as testemunhas e provas, que apresentarem, entregar os Autos da denuncia

  • ao Presidente do Jury, e retirando-se immediatamente os Juizes de Facto outra sala, ss, e a portas fechadas, conferenciaro sobre o objecto em questo, e o que pela maioria absoluta fr accordado ser escripto por um delles e assignado por todos.

    Voltando os ditos Juizes de Facto primeira sala, dir o seu Presidente, em voz alta: O Jury achou, ou no achou materia para accusao. Fuo.

    3 Quando a deciso fr negativa o Juiz de Direito por sua sentena, lanar nos Autos, julgar de nenhum efeito a denuncia.

    4 Se a deciso fr affirmativa a sentena declarar que ha lugar a formar-se a accusao, e ordenar nos casos do Tit. I, Art.II paragraphos 1 e 2 que o responsavel seja posto em custodia e que se sequestrem (qualquer que seja o objecto da denuncia) os impressos, escriptos ou gravuras denunciadas.

    E postos votao, sem discusso alguma. foram approvados successivamente.

    Leu-se depois a formula do juramento, que a do Projecto, e qual no fez Emenda a Commisso; e sobre ella disse:

    O SR. BORGES: Tem muita cousa ociosa! Pois no bastava a primeira e ultima parte? Para que estes intermedios de malicia, etc.? Ter o juramento mais fora com estes palanfrorios?

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: O nobre Senador diz muito bem. Bastava dizer-se: Juro cumprir com o meu dever. Porm como esta formula foi approvada na Camara dos Deputados, assentou-se que no precisava estar emendando tudo. Estas palavras da formula so tabelas, como se costuma dizer.

    O SR. EVANGELISTA: No acho que as palavras sejam ociosas; porque lembram idias e apuram o escrupulo do Juiz; e indo em generico, pde elle jurar cumprir com o seu dever e no dar a isso muito cuidado.

    Posta votao, foi approvada. Passou ao Tit.V, e leu-se o Art. I.

    Artigo I

    Apresentando o processo accusatorio ao

    Juiz de Direito, este mandar notificar o Accusado para que por si ou por seu Procurador, ou conjunctamente, comparea no lugar determinado para o segundo Jury.

    O SR. VISCONDE DE ALCANTARA: Acho que se deve marcar o tempo, em que o accusador deve apresentar o processo. O ro pde estar muito tempo preso, no havendo prazo fixo para trazer o processo, isto no deve ser.

    Por ter dado a hora ficou esta discusso adiada.

    O Sr. Presidente deu para a Ordem do Dia: A continuao da discusso da presente

    Lei, e de ento por diante. 1 O Projecto de Lei dispensado de fazer

    exames preparatorios os estudantes dos Cursos Juridicos de So Paulo e Olinda, que apresentarem certides authenticas de os terem feito das mesmas materias na Universidade de Coimbra, ou Cartas de Bachareis em Lettras, passadas na Academia de Frana.

    2 O Projecto de Lei extinguindo a Casa de Supplicao e substituindo-a por uma Relao na cidade do Rio de Janeiro.

    3 A Resoluo designando o numero de Vogaes effectivos das Juntas de Justia, e os casos em que deve ter voto o Presidente das mesmas.

    4 A Resoluo sobre a frma de se verificar o pagamento da taxa do sello no caso de usofructo de heranas.

  • 36 Sesso de 8 de Maio Em seguimento leu-se a Emenda do Sr.

    Visconde de Alcantara, offerecida a este Artigo na Sesso antecedente.

    EMENDA

    Dentro de dez dias da deciso, de que

    tem lugar a accusao, ser esta levada, perante o Juiz de Direito, etc. Salva a redaco Visconde de Atcantara.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Sr. Presidente. Nesta Lei est regulado o tempo das sesses do Jury; estas so periodicas, a saber: de dous em dous na Crte, e de quatro em quatro, ou de seis em seis nas outras partes; nestas Sesses devem ser tratadas todas as causas que houver de abusos de Liberdade de Imprensa, e como tudo aquillo que se houver de apresentar ao Jury deve ser tratado e decidido dentro desse periodo, est claro que quem tiver principiado o seu processo ha de apresental-o naquele tempo. Mas tratando agora da Emenda, eu queria que se me dissesse como possivel quando se apresentar uma causa, julgada conter criminalidade no fim dos dous mezes de Sesso e sendo os outros dous interrompidos, que o Accusador seja forado a levar a Accusao dentro dos dez dias perante o Juiz de Direito. Estou portanto que a Emenda no deve passar.

    O SR. VERGUEIRO: Parece-me com effeito que a Emenda necessaria; porquanto no caso de estar o Ro preso ou em custodia, no deve o Accusador demorar a sua accusao, o que pde acontecer, no se lhe limitando o tempo de a apresentar. E ainda que a reunio dos Jurados seja periodica, parece que o Juiz de Direito faz alguma cousa no intervallo; pois ha o preparo do processo como aqui diz (leu). Portanto, quando o Accusado estiver preso necessario marcar um tempo ao Accusado para levar perante o Juiz de Direito a sua. Accusao, afim de que aquelle no seja inutilmente retido na priso. Em consequencia admitto a Emenda com declarao: Quando o

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Convirei nesta Emenda, porquanto, ainda que pela Lei no ha casa em que o Ro esteja em custodia por cousas particulares, e isto smente succede quando periga a segurana publica; todavia pde neste caso o Promotor, por maldade, demorar-se muito tempo. Mas nas disposies geraes, parece que cabia melhor essa Emenda.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: A custodia ou priso estou persuadido que se combinar com o systema das Cadeias, nas quaes ha de haver differena entre o que simplesmente pronunciado, e o que j est julgado. Este tempo, que se quer marcar, acho muito justo, e que o ro, que est preso, prefira aos outros, que no esto nesse caso.. Alm do que no deve tambem ficar ao arbitrio do Juiz, havendo outros presos; qual deve ser primeiro julgado. Portanto parece-me que neste caso devia guardar a ordem da antiguidade. E muito perigoso que se no acautelem inconvenientes, que possam ao depois fazer com que a Lei se no execute. Eu farei, pois, uma Emenda; e, quanto ao lugar de collocal-a, submetto-me ao que se decidir.

    Levada Mesa, foi lida a:

    EMENDA Ao Artigo I do Titulo V (podendo, porm,

    collocar-se onde melhor convier). Na reunio para a discusso do julgamento dos ros preferiro os Processos dos ros que estiverem em custodia, e entre estes aquelles cuja pronuncia ou decreto de accusao fr anterior. Salva a redaco. Carneiro de Campos.

    Foi apoiada e entrou em discusso. O SR. EVANGELISTA: Os nobres

    Senadores que me precederam sustentaram a parte da Emenda relativa aos ros que esto presos ou em custodia; e eu sustento que a respeito de todos contemplados, neste mesmo Artigo que tem lugar a Emenda, proposta pelo Sr. Visconde de Alcantara, porque no

  • ro estiver preso ou em custodia. Esta Emenda sendo mandada para a

    Mesa, foi lida e apoiada.

    deve haver chamamento a Juizo sem se declarar o lugar e o tempo, at para se poder fundamentar a revelia das partes. O que acaba de dizer o nobre Senador me d um

  • Sesso de 8 de Maio 37

    novo fundamento para sustentar a necessidade da declarao dos presos, ainda mesmo a respeito daquelles que no esto em custodia, os quaes tambem devem saber o tempo que tm para lhes ser formada a accusao, e organisando o processo; e disto se no segue prejuizo algum. Segundo este principio que a ordenao marca o tempo, em que se chama o ro para vir responder aco. Demais o ro deve saber de certo quanto tem de comparecer; para poder caber o julgamento da sua revelia, quando no comparece, e supponhamos que elle se quer livrar logo; deve saber quando ha de ser chamado e o tempo que tem para se defender. Julgo que nisto no ha inconveniente algum.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Sr. Presidente. Esta Emenda ultima, que me parece muito boa, no tem nada de commum com a outra. L dizia-se que dentro de um certo prazo se deveria de apresentar o Libello, mas preciso saber se sempre este se pde apresentar dentro desse prazo. Pde muito bem acontecer que no fim da Sesso apparea um escripto julgado conter criminalidade cujo autor seja logo posto em custodia; ora, se fr fra da Crte, ha de estar este homem preso seis mezes at se abrir outra vez a Sesso? E cousa muito m fazer uma disposio, que no tenha bom resultado. Assim assento que se deve guardar esta materia para quando se tratar das disposies geraes.

    O SR. EVANGELISTA: Satisfaz-se a duvida do nobre Senador, que acaba de fallar, deixando-se ao arbitrio do Juiz o marcar prazo, porm, que o ro deva ter um prazo marcado para apresentar a sua defesa, no ha duvida, para o bom andamento das cousas. Estranho que se no ache necessaria a Emenda, porque nestes Processos antes da pronuncia de criminalidade do papel, diz o nobre Senador, no ha priso. Mas para essa pronuncia acaso no ser necessario o chamamento daquele que assignando o papel, ou como assignante, foi apanhado em flagrante delicto, e at para se

    o no entendi. O Processo estabelecido na Lei de Liberdade de Imprensa tem uma marcha muito, distincta do que instaurado por virtude das outras; o que se chama ao primeiro Jury o escripto, ou livro, que contm doutrina perniciosa, depois que se frma o Processo ao criminoso, cuja marcha diversa, que nos outros crimes. Portanto, nada tem de commum com o que disse o nobre Senador este procedimento.

    O SR. EVANGELISTA: Menos posso eu entender o nobre Senador, quando desconhece a necessidade do chamamento, sendo a primeira citao, base do Processo, como o exige a defesa natural a qual to sagrada que no est nas mos do Legislador tolhel-a.

    O SR. VERGUEIRO: A materia das Emendas reconhecida por interessante; porm lembra-me que seria melhor ficar para as disposies geraes, porque em materias de Processo no deve haver indifferena; e assim proponho que fique adiada esta discusso para quando se tratar das disposies, geraes, porque ento se poder pensar melhor sobre isto.

    Fez um requerimento neste sentido, que foi apoiado.

    O SR. DUQUE ESTRADA: Eu apoio tambem este requerimento, ainda por outra razo, a qual que quando se diz no primeiro Jury que procede accusao, ha o termo de remessa para o Escrivo, que aqui deve ser em dez dias, e no paragrapho seguinte se diz que a notificao para o ro comparecer deve ser feita tres dias, pelo menos, antes da reunio do segundo Jury.

    Pz-se votao; e foi approvado. O SR. VERGUEIRO: Parece-me que o

    adiamento s das Emendas, e no do Artigo, e assim julgo que se deve votar sobre eIIe.

    Julgando-se a materia discutida, pz-se votao o Artigo, e foi approvado.

    O Sr. 2 Secretario leu o Art. II.

  • verificar ser elle quem o assignou, e mesmo para usar de Direito de recusar os Juizes.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Eu no me fao cargo de responder ao nobre Senador, que acaba de fallar, porque realmente

  • 38 Sesso de 8 de Maio

  • Artigo Ii

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: E preciso que o ro saiba tambem quaes so os Juizes de Facto para elle poder accusar e do mesmo modo o accusador.

    O SR. OLIVEIRA: O que o nobre Senador diz objecto do Art. III, por ser at uma das garantias que tem este julgamento; no saberem as partes quem so os seus Juizes, seno na occasio do mesmo julgamento; e ento que ha o direito de recusar. Porm no para isso que me levantei, e sim para impugnar este pelo menos, e porque deixa muito arbitrio; e talvez que neste lugar que tenha cabimento a Emenda do Sr. Visconde de Alcantara, porque este pelo menos pde ser o que o Juiz quizer, pde ser um anno ou dous, etc., , pois, aqui que me parece cabia marcarem-se os dez dias.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Parece-me que se acha providenciado no Artigo V do Tit. III o que quer o nobre Senador; porque diz este Artigo: (Ieu). Agora o que disse o nobre Senador do ro no o dever saber quaes so os Juizes de Facto que tm direito de o julgar seno na occasio do julgamento no me parece justo: porque elle deve saber de antemo quaes so os Juizes de Facto em geral para elle fazer a sua recusao. Isto at, se faz na Inglaterra. O que se no quer que elle saiba quaes so os Juizes que o ho de effectivamente julgar naquella occasio; porm quaes sejam os Juizes de Facto em geral deve-o saber.

    Julgada a materia sufficientemente discutida, pz-se o Artigo votao, e foi approvado.

    O Sr. Secretario leu o Art. III.

    Artigo III

    No dia aprazado o Juiz de Direito,

    achando-se reunido o Conselho e presentes o Promotor e a parte accusadora, havendo-a,

    o accusado e os Advogados, que por qualquer das partes se apresentarem, mandar proceder sorteao na frma do Artigo I do Tit. IV, e os que sahirem sorte, no tendo impedimento legal, formaro o Jury de julgao, que ser presidido como o de accusao.

    Artigo IV

    O Juiz de Direito, depois de referir aos

    Juizes de Facto o juramento abaixo transcripto, far ao accusado as perguntas que julgar convenientes.

    Artigo V

    Findo o interrogatorio, mandar ler pelo

    Escrivo a accusao, a defesa e todas as peas comprobatorias, podendo essa leitura ser feita por qualquer das partes, se a quizer fazer.

    E postos successivamente votao, sem discusso alguma foram approvadas.

    Leu ento o Art. VI.

    Artigo Vi

    Consecutivamente o Juiz de Direito

    inquirir as testemunhas, que alli forem apresentadas, tendo-Ihes primeiro deferido o juramento do costume.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Diz o Artigo que o Juiz inquirir as testemunhas; e eu assento que era melhor que esta inquirio fosse feita pelos Advogados das partes, como e costuma a fazer na Inglaterra, onde no o Juiz que faz as perguntas, e sim o Advogado por cada uma das partes. O Juiz deve estar attento ao que dizem as testemunhas de uma e outra parte e tomar as notas que julgar necessarias, at mesmo porque estando o Juiz a inquirir as testemunhas, pde-lhe escapar alguma cousa, e, pelo contrario, estando a ouvil-as e tomando notas, nada lhe escapa. Demais o Juiz deve conservar o mais que fr possivel o seu caracter de imparcialidade at o acto de pronunciar a sentena. Neste sentido offereceu a seguinte:

  • Sesso de 8 de Maio 39

    EMENDA Ao Art. IV; depois das palavras o Juiz de

    Direito, diga-se: ou as partes por via de seus Advogados, no caso de requerer inquirio; etc.

    Sendo lida e apoiada, entrou em discusso.

    O SR. EVANGELISTA: Parece-me que a Emenda desnecessaria, porque o Art. VII satisfaz o que quer o nobre Senador. (Leu). Quanto, porm, ao exemplo, que traz da Inglaterra, c para mim o Codigo inglez no mais louvavel do que o nosso. Eu acho que o Artigo, como est, fica melhor; porque o Juiz um homem imparcial, que vai indagar as testemunhas, as quaes se forem perguntadas a geito de uma das partes, depondo ao principio conforme a esse geito, ho de ao depois sustentar o que primeiro disseram, para no ser conhecida a sua affectao. Ora, isto o que acontecer ainda mais depressa, se fr o Advogado que interrogue. Eis o motivo por que no acho necessaria a Emenda.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Na Emenda no se obriga os Advogados a inquirir e a fazer perguntas s testemunhas; d-se essa faculdade; e quanto ao exemplo que citei da Inglaterra, porque essa Lei tem prosperado, e merecido muitos elogios. sendo essa a razo por que julgo prudente seguir esta pratica.

    Diz o nobre Senador que o Advogado no, imparcial e sim o o Juiz; porm marcando a Lei que tambm o Juiz possa inquirir, consentindo-o as partes, e que alm disso possa fazer perguntas destacadas, e possa tomar as notas, que lhe parecerem convenientes, fica providenciado da maneira a mais segura, para o Juiz poder conservar a confiana, que deve inspirar s partes, e habilital-o, e para depois julgar, fica portanto assim solta a difficuldade, e no pde ahi haver duvida. Eu dou muito pela pratica de uma Nao, que j est muito versada neste modo de proceder; e tendo-se feito algumas reformas no Jury inglez, na

    ingleza, no se fizeram nesta parte. Portanto assento que fica melhor inquirindo os Advogados as testemunhas, a requerimento das partes e tomando o Juiz s as notas que forem necessarias.

    O SR. EVANGELISTA: Sr. Presidente. O nobre Senador diz que muito bom o Codigo inglez. Eu tambem tenho lido grandes obras de homens sabios e praticos, que gabam muito o nosso processo. O que digo, pois, e sustento que uma testemunha perguntada de certo modo, se ella no sincera, vence-se vontade de quem a pergunta, e no acontece assim quando ella perguntada imparcialmente; e ento se o ro no estiver ainda satisfeito, tem o direito de pedir mais que se pergunte esta ou aquella cousa. Para que , pois, dizer-se que assim se faz na Inglaterra? O nosso modo de processar tambem elogiado na Europa, e por grandes praticos; e eu tenho ouvido muito mal da Justia ingleza. O que sustenta, e faz o esplendor da sua Justia, o escrupulo de no faltarem as testemunhas no seu juramento, o que (com vergonha e magua o digo) no acontece assim muitas vezes entre ns.

    Julgando-se a materia discutida, pz-se votao o Artigo, que foi approvado, salva a Emenda; e posta esta tambem votao, foi do mesmo modo approvada.

    Leu o Sr. 2 Secretario o Art. VII. Artigo VII. Tanto o Autor como o Ro e

    seus Advogados podem fazer s testemunhas as perguntas que julgarem necessarias, e se terminar este acto com a sustentao de Direito por uma e outra parte.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Como passou a emenda parece que se deviam mudar aqui as palavras (leu) e redigir o artigo de modo que v de accordo. Eu farei para isso a emenda.

    O SR. VERGUEIRO: No preciso emenda; pois sendo de mera redaco, pde ficar para quando se redigir.

    Julgando-se discutida a materia, foi approvado o artigo VII, salva a redaco.

  • 40 Sesso de 8 de Maio Leu ento o: Artigo VIIl. No periodo das discusses

    tomaro os Juizes de facto as notas que lhes parecer, rompendo-as logo que lhes no forem precisas.

    E no havendo discusso, foi approvado tal como se acha redigido.

    Leu o Sr. 2 Secretario o: Artigo IX. Achando-se a causa em estado

    de ser discutida, o Juiz de Direito, resumindo com a maior clareza possivel toda a materia da accusao e da defesa, as razes expendidas pr e contra; propor, por escripto ao Jury as seguintes questes: 1, se no impresso (ou naquiIlo que fizer objecto da denuncia) houve abuso? 2, se o accusado criminoso? 3, se est comprehendido no artigo da Lei em que foi denunciado, ou em outro, e em qual? 4, em que grau de pena tem incorrido? 5, se houve reincidencia (se disso se tratar)? 6, se ha lugar indemnizao?

    O SR. SATURNINO: Este 6 quesito parece desnecessario (leu). Porque diz aqui no fim do artigo X (leu); se isto a respeito do autor, logo que no haja criminalidade, no ha reparao; e se a favor do accusado, por causa da pena que ha de ter, tambem accusado, pois eu vejo marcado na Lei. Desejava que os illustres Senadores me illustrassem como se entende aqui a indemnizao de perdas e damnos? Se a respeito do accusado, quando no procede a accusao ou do autor? Mas na Lei no se falla deste.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: O artigo est claro (leu). Nos outros quesitos no tem a indemnizao, e bastar a pena da Lei; mas haver casos de se julgar que estando comprehendido em algum artigo da Lei, poder ter lugar a pena ordinaria aqui estabelecida, e alm disso ser o ro obrigado a indemnizar perdas e damnos. Suppomos que foi uma injuria feita a uma donzella, que tem o seu casamento justo, o qual por isso no se effectua; este homem ha de soffrer smente a pena que Ihe impe a Lei, sem reparar os damnos causados?

  • A pena da Lei tantos dias de cadeia e tanto em dinheiro; e que vem a ser tanto dias de cadeia e sessenta mil ris em dinheiro, que o maximo, em

  • 42 Sesso de 8 de Maio tratasse de regular o modo de se verificar e julgar esta liquidao, o que eu entendo que num Codigo de Processo bem ordenado se deve fazer, estava bem; mas aqui neste processo, no se trata dos meios de obter essa reparao, e to smente se deixa parte a liberdade de intentar a sua aco, quando fr julgada lesada. Vamos pois prejudicar esse direito que a parte lesada j tem (visto ser da natureza do facto que damno produza o direito no damnificado de haver a indemnizao), se no Jury no apparecer provado esse dammo. Vamos fazer mal parte prejudicada, que no tirando beneficio algum deste artigo, quando lhe declara um direito que j eIla tinha, pde resultar-lhe deIle o ficar inhabilitada para haver a reparao do damno.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Aqui trata-se da reparao do damno, onde o ha, e no de indemnizao onde a no ha. Supponhamos que um escriptor tenha apresentado numa folha publica que o negociante Fuo fallido; chamado por isso ao Juizo dos Jurados; sabe-se, ento, que o negociante realmente fallido, portanto decide o Jury que no criminoso. Como ha de o negociante neste caso intentar uma aco de reparao de damno? Agora, no caso contrario, se um escriptor maliciosamente escrever que certo negociante fallira, e daqui lhe venha a sua ruina, por lhe cahirem em cima os credores com aquelle falso annuncio, e ficar de facto fallido; neste caso tem lugar a reparao. O que acaba de dizer o illustre Senador relativo aos direitos, que so provenientes, de transaces; e ninguem se lembrou jamais de dizer que um homem que declarado innocente, seja obrigado a pagar indemnizaao; e isto o que no est na Lei.

    O SR. VERGUEIRO: Ainda se julga que no ha direito indemnizao, quando esta no fr declarada e, por consequencia, que se no ento responsavel pelos damnos; mas no se lembrou ainda que havia sequestro de exemplares, uma vez que o escripto era accusado. Todo mundo sabe que em todo o julgado onde ha indemnizao sempre de damnos; mas essa

    isto o que eu digo que se no deve tratar aqui, para no se limitar este direito, e privar delle a muitos com esta declarao.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Eu no devo fallar, porque, fallando eu to claro, no se me entende; desejava ter outra linguagem para me explicar bem. Eu disse mui claramente que havia esse direito, mas que esse direito nas transaces que o nobre Senador acabou de trazer para aqui era proveniente de contractos, de que aqui se no tratava, sendo a questo mui differente.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Creio que a questo , se ha lugar ou no, que seja reparado o damno. No sei como se possa duvidar disto. Pois se ns fazemos a Lei dos Jurados para que se conservem nossas garantias, e estas pertencem ao direito do ro, para que havemos deixar essa questo, sem a determinar aqui? O Jury, como disse o nobre Senador, que um Juizo de consciencia, que julgar se ha ou no reparao. Se julga que houve dolo e malicia ou teno de fazer mal parte interessada naquella denuncia, ou accusao, e que della resultou consideravel damno, declara que tem lugar a reparao. Portanto, parece que no ha razo nenhuma para tirar este julgamento do Juizo do Jury. Se ns temos teno que este processo sirva, no s no julgamento dos abusos de liberdade de imprensa, mas tambem nos outros delictos, parece que esta parte se deve annexar ao processo. Pois no melhor deixar isto ao Jury, o julgar se houve dolo, malicia ou damno, para depois a parte seguir os meios ordinarios, s quanto liquidao da quantia? De certo que sim: porque j a parte com esta sentena vai em melhor posio, tendo s a tratar da liquidao do quantitativo dessa reparao, que j lhe est julgada. Isto o que ns queremos; e tanto para o autor como para o ro; se se fizer sequestro nos exemplares deste; se se perdem; emfim, se soffrer a traa, o copim ou outro qualquer damno, o autor que chamou far a reparao necessaria. Se um homem chamado ao Juizo teve perdas no seu commercio,

  • questo para o paragrapho seguinte. (Aqui o tachygrapho no entendeu.) Ha facto licito e illicito, e deste nasce a obrigao de todo aquelle que, tendo causado algum damno, o deva reparar. Ora,

    etc.. deve ter reparao desses damnos que soffreu.

    Eu acho que isto e muito conveniente; deve-se aproveitar para essa declarao o Juizo consciencioso do Jury e nunca uma deciso

  • de perdas e damnos, feita instantaneamente na occasio de liquidar. No reservemos, pois, esta declarao para um juizo to posterior, com disposies talvez muito distinctas. Eu, na Relao onde sirvo, vejo o que se pratica nestes casos: reservam-se sempre essas declaraes para outro Juizo: isso lites ex litibus screre. Mas ns, que estamos inteirados disto, no devemos seguir a mesma marcha; pelo contrario, devemos fazer quanto estiver da nossa parte para remover estes inconvenientes. Por essa razo que eu creio ser muito conveniente que passe esta declarao.

    O SR. VERGUEIRO: Creio que no tenho sido muito bem entendido. Eu entendo que ninguem contestar que deva indemnizar-se o mal que se faz. Agora pergunto eu: ha delicto sem que haja damno? Todo o delicto um mal feito a terceiro; uma vez que haja mal feito a alguem, o que o fez tem obrigao de indemnizar o que o soffre; logo em todos os delictos ha, ou pde haver indemnizao. Ora, deixar-se este quesito aos Jurados, o mesmo que dizer: ha males que se devem indemnizar-se, ha outros em que no ha necessidade de reparao: o que o mesmo que admittir que ha males feitos que no devem indemnizar-se, e outros que devem. E qual ser melhor? Dizer que nalguns casos tem lugar a reparao, ou reconhecer o principio, que de todo o delicto resulta a obrigao de indemnizar? Se ha mal feito, tanto importa a deciso do Jury, para a reparao delle como o reconhecimento deste principio. Digo mais: deixar este ao Jury at me parece iniquo, porque suppe que ha de haver delicto em que no possa ter lugar a indemnizao. Eu se fosse do Jury havia sempre decidir que ella tinha lugar. E' por isso que repito a suppresso.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Ninguem contestar (disse o nobre Senador que me precedeu a fallar), que todo o mal tem indemnizao. Eu contesto: um homem foi assassinado por outro: como ha de ser indemnizado se se provar que no houve

    declarado innocente, no pde ser responsavel pelo damno; no pde ser!

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Eu concordo com o nobre Senador a respeito do exemplo, e que em todos os casos no ha reparao do damno. Concordo tambem com os principios do Sr. Vergueiro, quando diz que todo o delicto suppe damno; mas contesto que em todos deva haver esta reparao: porque delictos ha que se podem julgar reparados s com a pena. Supponhamos o exemplo que trouxe o nobre Senador, o Sr. Albuquerque: um homem avanou na praa ou num periodico que outro estava fallido; foi chamado a Jurados, e julgou-se que o estava; deve indemnizar? Todo o delicto traz uma damno, verdade, mas entretanto, s vezes, com a pena que l est na Lei, na consciencia dos Jurados ficar sufficientemente punido. Isto que eu digo que se deve deixar deciso do Jury, e no deciso de outros tribunaes mais mal organizados, e que tenham menos reputao de imparcialidade e justia.

    Julgada, a materia discutida, propoz o Sr. Presidente votao o artigo, salva a emenda, e foi approvado; propoz depois a emenda, e foi rejeitada.

    Leu-se o: Artigo X. Retirando-se os Juizes de facto

    outra sala, conferenciaro ss, e a portas fechadas, sobre cada uma das questes propostas; e o que fr julgado pela maioria absoluta ser escripto, assignado e publicado, como no Jury de accusao. Decidida a primeira questo negativamente, no se tratar, mais das outras.

    O SR. SATURNINO: Como no passou a emenda do Sr. Vergueiro, proponho uma emenda pelo que pertence ao accusado. O 6 quesito a respeito do autor (leu). Aqui, se o accusado foi livre, deve usar do mesmo direito.

    Leu-se a emenda do artigo X.

    EMENDA

  • imputao? Isto pde verificar-se: um homem mata outro vai a Juizo, o Juiz declara que o facto delicto; como ha de pagar o damno? Mas o que eu digo que o individuo que

    Accrescente-se no fim: Tendo todavia lugar a sexta em relao ao accusado. Saturnino.

    Foi apoiada, e entrou em discusso.

  • O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE:

    A emenda equivale ao effeito sem causa, que haver reparao sem haver damno. Com effeito, se um escripto julgado no conter abuso; que reparao tem aqui a fazer a parte accusadora? Mas page sempre. E verdade que muita gente pensa assim; e por isso que neste projecto vem que a parte accusadora, sendo o ro absolvido, pague custas; embora, porm, pague as custas, visto que consequente haver quem as pague; mas nunca se diga que pague reparao do damno que no houve, e pois no ha effeito sem causa.

    O SR. SATURNINO: Creio que o nobre Senador no me entendeu bem. Eu no trato do autor. Sobre este no diz claramente aqui a lei, que se lhe julgue indemnizao (leu). Portanto, parece-me que este direito se deve tambem dar ao ro, porque elle pde ser prejudicado, mesmo com a perda dos seus exemplares, o que realmente um prejuizo. Assento, pois, que os Juizes devem tambem declarar, se tem a indemnizaco a respeito do ro. Se o autor gosa desse direito, porque no ha de elle competir tambem ao ro? Quanto s custas, isso outra cousa. Mas parece de razo natural que um homem que foi prejudicado por outro, que foi preso, perdida a sua fazenda. etc., etc., tenha lugar a ser indemnizado. O contrario uma injustia, que se faz ao ro. Portanto, parece de necessidade a minha emenda.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Ha cousas que so muito boas, mas que, a fallar a verdade, no servem para nada. Eu no digo que no seja boa a emenda, mas digo que no para aqui. Se o nobre Senador quer fazer um artigo addicional, para entrar no Projecto, bem est; mas aqui no tem parentesco algum essa materia com a de que se trata. Aqui, decidida a primeira questo, a favor do ro, nada mais tem relao com elle. Passe muito embora, estabelea-se uma doutrina muito particular a respeito da indemnizao do ro, mas aqui no cabe.

    por quem quer que seja deve ter reparao. Os melhores criminalistas assim o tm julgado; e o Legislador deve occupar-se mais das penas, assim como o Codigo do Processo se deve occupar de repor a parte offendida no estado em que se achava. Fundado neste principios, reconheo que todas as vezes que se denunciar um accusado injustamente, deve ter reparao; ainda que no fosse seno por tel-o roubado aos negocios de sua casa para vir assistir em Juizo um dia, se se achar damno naquelle incommodo que soffreu. No estamos no caso do segundo Jury; ora, quando o accusado foi chamado a Juizo, foi forado a defender-se, e por isso soffreu damnos, e o damno nasceu dessa causa; se se julga prejudicado (torno a dizer, a Lei deve franquear-lhe uma reparao; pois que, dizendo elle que por esta accusaco soffrera no s incommodo, mas tambem damno, o no ter ento essa reparao seria injustia; mas reconhecendo este principio de justia natural, sustento que se no deve perguntar ao Jury, se tem lugar. Eu j disse que, se esta frma de processo declarasse os meios de julgar esta reparao, seria bom; e mesmo creio que um processo criminal bem organizado deve ter esta parte, e estes meios bem expressos, isto seria muito para desejar; mas no tratemos disso agora. De que serve dizer o Jury: tem lugar a indemnizao? De que serve isto? No era melhor reconhecer j o principio de que todo aquelle que accusado injustamente, tem direito reparao, pois que assim a sua aco no fica inutilizada com essa deciso do Jury? Pelo contrario ficando ao Jury o declarar se tem lugar a indemnizao, podem os jurados no saber do damno causado e decidir que no tem lugar. Portanto, eu acho mesmo iniquidade fazer-se no Jury esta declarao. Deixemos l ao accusado innocente, se julgar que soffreu damno, obter a indemnizao deste, por minimo que seja, pois nunca desse direito deve ser privado.

    O SR. SATURNINO: J se decidio que ha lugar reparao a respeito do autor; agora,

  • O SR. SATURNINO: Se ellas so em relao ao ro, tambem o accusado: logo est conforme a emenda.

    O SR. VERGUEIRO: Segundo os principios que ha pouco emitti, rejeito a emenda; porque eu entendo que todo o damno feito

    por identidade de razo, que eu queria se desse tambem ao accusado.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Eu assento que se deve fazer a declarao, tanto a favor do autor como a favor do ro; porque

  • se no costuma deixar este direito salvo. Este costume muito fundado no odio das demandas, que se fariam lembrar com esse direito salvo. A' natureza humana seria mesmo prejudicial essa perfeita, esses apices de Justia, do que ella, no susceptivel. Isto que eu digo, e que se observa, no se deixando salvo, se no ha dolo evidente, conforme a este systema, em que tanto se recommenda a reconciliao das partes pelo Juiz de Paz, o qual com tanta utilidade procura sacrificar um pequeno interesse ou capricho a repouso das partes, tolhendo demandas. Esta a razo, porque em muitos processos no se diz que fica o direito salvo; o que se faz no pela grandeza do damno, sim quando se v que a innocencia foi dolosamente calumniada; ento sim, apparece um motivo de deixar o direito salvo para pedir indemnizao, que estando j prejudicada, vai depois auxiliar a liquidao desse damno. No , pois, exacto dizer-se que tanto faz que elle proteste, como no proteste; sempre lhe fica a aco; porquanto, este prejulgamento j deixa ao que prope a nova aco provada a calumnia, e o que lhe resta ento a liquidao dos damnos. Eu concluo que sempre que apparecer dolo do autor, se deve declarar esse direito salvo; mas se acaso no houver essa evidencia, tal se no deve declarar, porque com isso se lhe no tira a sua aco, se elle a quizer propor.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Tem-se questionado sobre o que j se venceu, e por isso eu torno a dizer que primeiramente, no artigo XXXVII se diz (leu). Ora, todo o que decahio da aco condemnado nas custas, e aqui esta a indemnizao que se pde dar. Todo o mundo, verdade, tem direito de mandar citar a outrem, mas quando decahe, diz no fim da sentena, pague as custas, e s no caso de estar provada a malicia que paga mais alguma cousa; por exemplo, as custas em dobro, etc.; mas na questo do Juizo do Jurado no se d isto; nem sei como isso possa ser, porque um homem v que um papel impresso

    havia injuria, e em razo desta declarao que o que escreveu, tem de ser chamado; e neste caso o Jury que deveria ser condemnado indemnizao, porque o homem no chamou ninguem a Juizo, accusou, sim, o papel, e s depois, em virtude da declarao do Jury, que apparece o autor da offensa e diz os motivos que teve para escrever, motivos que muitas vezes a parte no sabe... Logo, como se quer dizer que seja condemnado em perdas e damnos? Isto ser o mesmo que dizer que todos se deixem injuriar bocca calada; e isto muito mais quando estes Juizes, a exemplo da Inglaterra, tm de julgar at a pena de morte. Ora quanto ao caso de sequestro, tambem no vejo que dahi resulte a necessidade de fazer esta declarao; porque, pde, por exemplo, haver algum damno na perda da venda ou traarem-se alguns impressos, mas esses males so daquelles que se quer evitar fazendo-se uma cousa ainda peior, muito mais no se fazendo sequestro seno, por exemplo, no caso de perigar a segurana publica.

    O SR. EVANGELISTA: O nobre Senador pareceu confundir a pena do litigante, que decahe, com a indemnizao, que se deve dar pela perda e damno que foi causado e malicia com que veio Iitigar. No confundamos isto. Muitas vezes, quem tenta a aco vai sem o menor dolo, e por ser convencido perde a aco e paga as custas. No assim o que por sua malicia litiga, que perdendo a aco tem a pena. Logo no se deve confundir o litigante de boa f e o litigante doloso, seja elle autor ou seja ro, porque se ro deve logo ceder, e no dar lugar ao processo. Todo o discurso do nobre Senador se funda em que no se deve pagar seno as custas,e eu j disse que as outras so a pena daquelle que litiga temerariamente; o dolo outra cousa; quem me ataca dolosamente em qualquer escripto, ha de estar em parallelo com aquelle que, com inteno do bem publico, apresenta as suas idas por zelo do bem da nao? No tm elles a mesma parede. Mas a Camara, na sua

  • o offende, segundo o que elle para si entende, o que faz? Chama o autor a juizo? No. Denuncia esse papel; o que faz o Juiz? Examina o papel, e diz: contm cousa injuriosa, e que offende o homem. Onde est aqui pois a malicia deste autor contra o ro? Elle no d disso mostra; o Jury foi que disse que

    sabedoria faa o que entender e o que quizer. O Sr. Presidente propoz se estava

    discutida a materia, e decidindo-se que sim, propoz votao o artigo, salva a emenda, que tambem se approvou.

    Entrou em discusso o:

  • Artigo XI. Se a deciso foi negativa, o Juiz de Direito, por sua sentena nos autos, absolver o accusado, ordenando a sua soltura immediata (no caso em que elle tenha sido posto em custodia), e levantamento do sequestro.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Eu no fao emenda; mas acho que necessaria uma regra para que a emenda, posta ao artigo antecedente, possa ter lugar. Aqui no se falla seno no accusado; e por isso depois deste artigo XI que essa doutrina da emenda deveria ser posta; porque, tendo-se dito (leu), podia esta accrescentar-lhe; mas acol est muito fra de proposito.

    Fallou o Sr. Saturnino, mas o tachygrapho no tomou notas do discurso de modo que se pudesse dar a integra, mas somente se pde colligir que o orador sustentava estar bem collocada a emenda, e que o artigo XI deveria ficar como esta.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Por isso mesmo que depende da deciso do Juiz a reparao do damno, que deve estar antes ordenada. No Jury pergunta-se se o ro criminoso, etc (leu). Todos estes quesitos so relativos ao ro, como se quer applicar isto ao autor? No entendo, salvo se uma regra, que est na cabea de alguem.

    O Sr. Presidente, depois de julgada a materia discutida, propz o artigo votao, e foi approvado.

    Artigo XII. Se a deciso fr affirmativa, a sentena condemnar o ro na pena correspondente, ordenando a suppresso das peas denunciadas.

    Foi apoiado sem discusso. Passou-se ao artigo XIII. Artigo XIII. Se fr affirmativa s quanto ao

    abuso, mas negativa quanto a ser criminoso o accusado, o Juiz de Direito o absolver, e o mandar immediatamente soltar (se tiver sido posto em custodia); mas ordenar a suppresso das peas denunciadas.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Eu

    maneira, que me parece pouco conforme razo, pela m interpretao que se deu Lei. Ora dizendo-se aqui que no caso desse decidir que o escripto contm abuso, e o accusado no criminoso, etc.; eu creio que isto s se entende no caso de se provar que o acusado no foi quem commetteu o delicto ou escreveu aquelle escripto. Como disse, j me achei numa occasio, em que os jurados reconhecendo que havia criminalidade, e que uma pessoa certa e reconhecida que tinha feito esse escripto, todavia absolveram o homem, sem elle allegar caso que o excusasse. No entendo eu assim; e julgo que, conhecido o autor do escripto criminoso, no podia aquelle eximir-se pena; salvo se elle provasse que fora violentado, ou que estava embriagado, ou com temor de alguma ameaa, que cahia ou faa impresso em varo forte; mas nada disto foi assim: elle estava em seu juizo, e no constou que fosse forado; pois, se elle o provasse, ento seria livre dessa imputao; sendo porm reconhecido autor do escripto criminoso, foi abolida. Logo parece que isto deve ser claro porque continuar este abuso, que eu observei na minha Patria, quando agora l estive, e julgando-se o escripto contm criminalidade absolver-se o autor, como se pudesse abstrahir uma cousa da outra; deve declarar-se quando que pde ser o autor do escripto, que contm criminalidade, julgando no criminoso.

    O SR. ALMEIDA E ALBUQUERQUE: Ns no podemos calcular com os desmanchos de alguns Jurys. Aqui mesmo vimos que perguntado o Jury se tinha criminalidade o escripto, e respondendo que sim; ao depois segunda pergunta, se era criminoso o autor do escripto, respondera: no por isso que elle poderia dizer em sua defesa que fra allucinado, que estava bebedo, ou sonhando. Tudo pde dizer-se, e entender-se, quando ha vontade de malversar. Mesmo pde acontecer, por exemplo, a respeito de livros prohibidos, que um homem os tenha, sem saber que so prohibidos, e talvez sem s

  • creio que era melhor que a redaco desse artigo fosse mais explicita, pois j observei um caso desta natureza, em que se obrou de uma

  • Sesso de 10 de Maio 51

    de alguma sorte se mostrasse sentido pela extinco desse commercio, talvez mereceria acre censura mas qual o seu comportamento? Acaso so equivocas as expresses do Projecto de Resposta, que mui clara e terminantemente taxa de abominavel a esse commercio? Senhores, a introduco de braos livres objecto que o Senado tem visto na resposta, que d a este topico da Falla do Throno; mostremos assim ao Brazil, que nos no descuidamos do que ligado com a sua prosperidade. A Resposta, Senhores, est mui bem redigida, e creio que o nobre Senador, que a ella se oppe nesta parte, nimiamente escrupuloso.

    O SR. BORGES: O nobre Senador que faz opposio ao Projecto de Resposta Falla do Throno, na parte em que diz o vasio, etc., desenvolveu principios luminosos, verdade , mas inteiramente alheios questo. Quem sustentou a necessidade da continuao do trafico da escravatura, desse commercio de carne humana? Quem se mostrou, ao menos, desejoso de que elle continuasse? Ha um topico na Falla do Throno, mister responder-lhe, como o faz a Commisso? E' a sua resposta contraria aos sentimentos da Nao? No; o mesmo nobre Senador, que suscitou a questo, se reflectir, se examinar o discurso que fez, despindo-o dos atavios oratorios, com que o ornou, reconhecer que se acha concorde com a Commisso. A' vista pois do exposto, voto pela resposta, como se acha redigida.

    No havendo mais quem tivesse a palavra, pz-se a materia votos, e foi approvada a resposta Falla do Throno, tal qual se achava redigida.

    O Sr. Presidente annunciou que se ia officiar ao Sr. Ministro do Imperio, pedindo a designao do dia, hora e lugar em que Sua Majestade o Imperador, Se Dignaria Receber a Deputao que tem de dirigir ao Mesmo Augusto Senhor o Voto de Graa, em Resposta Falla do Throno; e consultou o Senado, se approvava se nomeasse j a Deputao, e que sendo approvado, ponderou o mesmo Sr.

    Commisso ad hoc entrasse nessa Deputao, s havia a nomear-se quatro membros mais. Procedeu-se ao sorteio, e sahiram eleitos os Srs. Marquez de S. Joo da Palma, Marquez de Baependy, Affonso de Albuquerque Maranho e Loureno Rodrigues de Andrada.

    Segunda parte da Ordem do Dia

    Continuando a segunda discusso das

    emendas da Commisso de Legislao ao Projecto de Lei sobre abusos da expresso do pensamento, teve lugar o artigo I, paragrapho 6, que ficara adiado na sesso antecedente, com uma emenda do Sr. Saturnino.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Diz a emenda, o mais graduado. Ser bom accrescentar-se que, havendo iguaes graduaes, prefere o mais antigo.

    O SR. SATURNINO: Isso o que se deduz do espirito da emenda. Todavia ponha-se salva a redao por que a Commisso redigir o artigo como melhor parecer.

    Julgando-se a materia sufficientemente discutida, pz-se a votos o artigo, o qual foi approvado, bem como a emenda.

    Seguio-se a discusso do artigo II do mesmo Tit. VI.

    O Sr. Saturnino offereceu a seguinte:

    EMENDA Ao artigo II, Tit. 6. Supprima-se o que se

    acha no parenthesis. Saturnino. Foi apoiada. O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS:

    Quizera ouvir ler a emenda. (Foi satisfeito). Bem; eu no voto pela suppresso total do que se acha no parenthesis, mas sim por alguma modificao no artigo, no a respeito dos Jurados, mas a respeito do Promotor. Para que a presente Lei? E' para reprimir os abusos que se possam commetter no exercicio de communicar os pensamentos por escripto. Destes abusos uns so contra particulares,

  • Presidente que havendo-se deliberado o anno passado que a

  • 52 Sesso de 10 de Maio

    outros contra a frma do Governo, sua segurana, numa palavra, contra a Nao; aquelles so denunciados pela parte offendida, e estes pelo Promotor. Supponhamos que ha um Promotor omisso, a quem no movem os ataques feitos moral, ou ao Governo legal; que se dever fazer em tal caso? Quem est encarregado de velar sobre a segurana publica? O Governo, Senhores. Mas supponhamos que o Promotor do Jury, como j disse, no chama perante o respectivo Tribunal, o Escriptor que ataca o Governo, e a mesma Pessoa do Monarcha, que sagrada e inviolavel, dever o Governo ficar com as mos atadas? Se advertido o Promotor, este no fizer caso da advertencia ficar impune o Escriptor, que abusar da liberdade de escrever? Dizem que o Promotor nesta Crte assevera que no ha de chamar escriptor algum perante o Jury, o que o mesmo que dizer eu no desempenho as minhas obrigaes, nomeai outro que melhor entenda dos seus deveres; eu nunca com elle conversarei sobre este assumpto, mas por ahi correm essas vozes a seu respeito. E dever o Governo, a quem compete manter a ordem e a tranquillidade publica, ver o mal progredir, e por causa da negligencia de um Promotor? Em tal caso sou de voto que o Governo mande fazer a accusao pelo Procurador da Cora, Fazenda e Soberania Nacional alis o crime ficar impune. E quem pde prever as suas funestas consequencias?

    EMENDA ADDITIVA AO ARTIGO II

    Quando o Promotor se conduzir com

    omisso no exercicio do seu Officio, e renunciar a advertencia do Governo, poder este substituil-o pelo Procurador da Cora, Fazenda e Soberania Nacional. Salva a redaco. Marquez de Caravellas.

    Foi apoiada. O SR. SATURNINO: As razes, que

    acaba de expender o nobre Senador so de todo o peso, e devem merecer a considerao do

    destes abusos. E' mister dar adequadas providencias, entre as quaes considero a que ora prope o nobre Senador. Parece porm que no artigo XIV (leu) cabe melhor a emenda proposta.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Conformo-me com a opinio do nobre Senador. O que eu quero que se trate desta materia, seja neste, ou naquelle artigo.

    O SR. CARNEIRO DE CAMPOS: Approvo a emenda do nobre Senador. Tem ficado impunes muitos abusos de liberdade de imprensa, e em minha opinio tudo procede do Promotor. Por voto meu seria Promotor um Magistrado, e isto no novo. Na Inglaterra, Paiz classico da liberdade, as accusaes por certa ordem de crimes so feitas por uma especie de Procurador da Cora, e at o processo no segue a marcha ordinaria, contra o que muito clamam os Philantropos Inglezes. A nossa Constituio no manda que o Promotor seja de eleio popular, e por isso fra de voto que tal emprego fosse exercido por um Magistrado de grande dignidade, e bom ordenado para o fazer exacto em seu emprego. A garantia da liberdade da imprensa no depende seno dos Juizes de Facto, que devem julgar os abusos; seja ou no o Accusador de eleio popular. A licena, que muitas vezes resulta dos timbres do Promotor popular, em vez de sustentar esta bella instituio, s servir para a desacreditar.

    O SR. CONDE DE LAGES: A emenda est muito bem concebida, e eu voto por ella. Mas no concordo que se addicione ao artigo XIV, porque ento entender-se-ha que a sua disposio s milita nos casos de offensa Pessoa do Imperador. No artigo XIV, em que se falla das autoridades em geral, ter ella melhor cabimento. E esta mesma disposio deve militar quando a denuncia fr apresentada por um particular ao Promotor no deve ficar o arbitrio de lhe dar, ou no andamento.

    Julgando-se a materia sufficientemente discutida, propz o Sr. Presidente se o Senado

  • Senado. E' notorio que se tem commettido muitos abusos no exercicio da liberdade de exprimir os pensamentos, e tudo tem ficado impune. De mais o Throno, que est ao facto dos negocios publicos, recommenda a represso

    approvava o artigo, salvas as emendas. Foi approvado.

    Propz depois a emenda do Sr. Saturnino, e no passou.

  • Sesso de 10 de Maio 53 Propz finalmente a emenda do Sr.

    Marquez de Caravellas. Foi approvada, para se inserir a sua doutrina, onde melhor conviesse.

    Como dsse a hora destinada para outra discusso, ficou a materia adiada.

    Terceira parte da Ordem do Dia

    Comeando a primeira e segunda

    discusso do Projecto de Lei dispensando, Proposta do Governo, de fazer exames preparatorios os estudantes dos Cursos Juridicos de S. Paulo e Olinda, que apresentarem certides authenticas de os terem feito das mesmas materias na Universidade de Coimbra, ou cartas de Bachareis em Lettras, passadas na Academia de Frana; teve lugar o 1 artigo conforme as emendas da Camara dos Srs. Deputados.

    O SR. SATURNINO: Sou inteiramente de opinio, que os estudantes que estudaram em Coimbra se levemente conta os seus estudos; mas quanto aos Bachareis em Lettras no posso dar o meu voto. Ouvi dizer que em Frana se no exigia, para dar-se esse gro, o estudo de Grammatica Latina, que entre ns se no dispensa. Nenhuma emenda offerecerei ao artigo em discusso, porque em verdade no sei, se com effeito em Frana dispensa-se a Grammatica Latina; pedi a palavra para expr esta duvida, que o senado tomar na devida considerao. O que porm quizera que a illustre Commisso de Instruco Publica fosse encarregada de examinar, e informar-se dos estudos, que se exigem em Frana para dar-se esse gro. Se se estuda a Grammatica Latina, bem; mas se ella no l necessaria, tenham paciencia os Bachareis em Lettras, que ho de passar por exame. Quanto ao II artigo (leu) nenhuma duvida acho na sua doutrina.

    O SR. PRESIDENTE: A discusso versa sobre as emendas, que vieram da Camara dos Srs. Deputados.

    Ento (continuou o nobre Senador) opponho-me emenda, e ao artigo I, e requeiro

    O SR. BORGES: Acho parcial tanto o 1 artigo, como a emenda da Camara dos Deputados, que estabelecem um privilegio para a Universidade de Coimbra, e para as de Frana. Porventura s nestes dous Paizes que se estuda em termos? A Inglaterra, a Allemanha, a Italia, no tm Universidades, em que estudam muitos Brazileiros? E por que motivos ho de os que frequentam essas Universidades ficar isentos do que se permitte aos alumnos de Coimbra e Frana? Attenderemos smente frequencia nos estudos, e no ao aproveitamento, que delles se tira? Pais de familia ha que optimamente ensinam a seus filhos mas como se attende frequencia em aulas publicas, diga-se: "aquelles que tiverem feito esses exames em quaesquer Universidades", e assim desapparecer a especie de parcialidade, ou privilegio, que se nota nessa emenda. Quanto ao mais nada direi, pois V. Ex. acaba de ponderar que a discusso versa sobre as emendas da Camara dos Deputados, bem que me persuada de que nos permittido regeital-as, e adoptar os artigos da Proposta.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Sr. Presidente. Esta Lei , como devem ser todas as Leis, filha de necessidade reconhecida, e talvez que por motivo das pessoas, que occasionaram a sua apresentao As