860
SENADO IMPERAL ANNO DE 18 32 LIVRO 2 ANAIS DO SENADO Secretaria Especial de Editoração e Publicações - Subsecretaria de Anais do Senado Federal TRANSCRIÇÃO

ANAIS - 1832 - LIVRO 2 - senado.leg.br · SENADO IMPERAL ANNO DE 1832 LIVRO 2 ANAIS DO SENADO Secretaria Especial de Editoração e Publicações - Subsecretaria de Anais do Senado

  • Upload
    dohanh

  • View
    220

  • Download
    3

Embed Size (px)

Citation preview

  • SENADO IMPERAL

    ANNO DE 1832LIVRO 2

    ANAIS DO SENADO

    Secretaria Especial de Editorao e Publicaes - Subsecretaria de Anais do Senado Federal

    TRANSCRIO

    yuribeloCaixa de texto ANNAES DO SENADO DO IMPERIO DO BRAZIL

  • co

  • 26 Sesso de 4 de Julho

    do Imperador: querem em uma palavra despotismo local, ficando os Povos das Provincias sem a Proteco do Governo Imperial, sendo elles destituidos do direito de recurso, e a Autoridade Tutelar com as mos ligadas para no desaggravar os opprimidos, e cohibir os oppressores. E vo dizer-se e esperar que os Conselhos no faro abusos, e que no transcursaro os marcos fixos pela Constituio. Isso contra a natureza das cousas: bem diz Montesquieu que todo o Poder tende a at que ache limites. No tendo os Conselhos dependencia da Crte, nem medo da Autoridade Imperial, os Governos Provinciaes viro a ser em breve tempo independentes do Governo Imperial ou com to frouxos vinculos de dependencia como as Regencias Barbarescas, e os Pachalicatos do Imperio Ottomano.

    Sr. Presidente melhor fallar claro: diga-se de uma vez installe-se no Brazil o Governo dos Estados Unidos com explicita declarao de que se adopta o intitulado systema americano, qual se inculca no paragrapho 9, em discusso, que manifesto de guerra com disfarce ao jurado Systema Monarchico Constitucional, em que se coordenaro com equilibrio opportuno dos corpo politicos desde os Collegios Eleitoraes, Camaras, Conselhos, Assembla Geral at chave da Abobada do Novo Edificio, ao menos ver-se-hia o merito da sinceridade; porm o que se v com dissimulaes e pretextos derribar a Architectura da Constituio, dando-se real independencia s Provincias, enthronizando Soberanias Provinciaes, destruindo-se a Soberania Nacional. Tremenda responsabilidade pende sobre os motores e factores de tal reforma to precipitada e inconstitucional.

    No duvido que j a Provincia de grande instruco e populao, que merecem contemplao e confiana para se darem maiores franquezas aos seus conselhos; mas outras e em maior numero, no esto nestas circumstancias, impossivel terem a gente habil, necessaria para as Assemblas

    Crysalidas, como as borboletas no seu casulo. O SR. VERGUEIRO: Quando hontem

    ouvi o nobre Senador que acaba de fallar concluir um discurso dizendo, Constituio e s Constituio, nada mais nem menos: pensei que elle estaria por isso; porm agora vejo que declarando-se elle pela Constituio, contina a votar contra ella. Eu tambem quero s Constituio, e por isso no quero fazer cousa alguma contra ella. A Constituio ordena, que quando apparecer algum artigo que merea reforma, seja reformado e aquelle que no quer que se cumpra este preceito della, no constitucional, no obedece Constituio. Agora resta saber se estes objectos merecem reforma, esta a questo, mas o nobre Senador que (como affirmou) no sabe o que se passa, que est recluso, que no sabe se no de si, como quer decidir das necessidades dos Povos, como entra na discusso. Ha de ser muito mal guiado, e ainda mesmo que se regesse uma vez que no soubesse o que vai pelo Brazil.

    Mas, a respeito da necessidade, quem duvida da existencia della? E' at palpavel; quem duvidar de que as proprias Provincias conhecem melhor as suas necessidades e precises do que um estranho? Ninguem; e porque se lhe no ha de dar o direito de occorrer a ellas? No se ataca com isso a entidade nacional, porque ella differe muito dessa administrao economica. Em que consiste a unidade ou individualidade de uma Nao? E' seguramente na reunio de muitos homens debaixo de um Governo; mas o tratar cada um dos individuos, que formam a reunio, da sua economia particular, no ataca a unidade, nem um mal lhe faz, e mesmo contra o systema dos Governos livres o estarem a espiolhar as aces e intrometterem-se a regular a economia dos particulares.

    Eu j mostrei que no ataca a unidade da Nao o tratar cada Cidado, e por consequencia cada associao delles, dos seus interesses particulares, uma vez que concorra com a sua quota para a segurana interna e

  • Legislativas e com duas Camaras. O insigne Condorcet, na sua obra de Bibliotheca do homem politico", cita um juizo do intitulado "Bello Espirito da Europa", o qual diz que os Brazileiros se acham ainda no estado de

    externa do todo. J mostrei que no atacava a unidade da Nao o estarem as Municipalidades legislando para seus Municipios, e nomeando mesmo as suas autoridades e como

  • Sesso de 4 de Julho 27

    que se contina ainda a fallar nisto e dizer que este poder dado s Provincias ataca a unidade nacional? A Constituio esquecendo-se de dar o mesmo poder s Provincias est em contradico manifesta com o que concedeu s Municipalidades.

    Disse hontem um nobre Senador que era atacar a prerogativa da Cora, o isentar Leis da Sanco; mas considerando bem a natureza dos Governos Constitucionaes, v-se que todas as prerogativas da Cora se devem entender do que nacional, e portanto seria atacar a prerogativa dos Corpos, negar a Sanco a respeito daquellas Leis que sustentam a indivisibilidade da Nao; mas o que particular aos individuos da natureza dos Governos livres que o Chefe da Nao no tenha nisso sanco. Porque que elle no sancciona as posturas das Camaras Municipaes que so Leis legaes. Esto por isso atacadas as prerogativas da Cora? Um Codigo que um particular faz para sua economia domestica, necessita de sanco? De certo que no. A Constituio diz (Leu). De que falla aqui a Constituio ou que deve fallar segundo os principios da boa organisao social? E' daquellas Leis geraes que so necessarias para manter a nacionalidade, e no de Leis peculiares a este ou aquelle ajuntamento de cidados: isto palpavel.

    Eu ouvi aqui ao nobre Senador dizer, que era necessario afrouxar os laos das Provincias para ellas se conservarem unidas: parece-me que este termo muito improprio porque sendo o interesse nos Governos Constitucionaes o lao que liga os povos com o Governo, e no a fora como nos Governos despoticos, claro est que quanto maiores interesses este procura aquelles tanto mais crescer a unio. Ora sendo a reforma de grande interesse para as Provincias, segue-se que os laos que as ligam ao Governo Central mais se apertaram. Mas porventura as Provincias por essa frma ficam em Estados independentes, semelhantes a Associao dos Estados Unidos, como disse o nobre Senador? De certo que no, no ha independencia alguma

    acudam mais facilmente s suas necessidades e olhe para os seus interesses, mas para evitar certas cousas que vo apparecendo. Vemos ahi resolues de Provincias que dizem; "O Conselho de Provincia tal resolve. Sahiram do Thesouro Nacional tantos contos de ris para isso ou aquillo, etc. Ora ainda que se reconhece que o Thesouro Nacional no est disposio das Provincias, tem-se concedido isso mesmo aos Conselhos Provinciaes alm de creaes immensas e dispendiosas. As Provincias reclamam esse beneficio como o Brazil o reclamou de Portugal e com a mesma necessidade de se o recusarmos natural que acontea com as primeiras o mesmo que aconteceu com o segundo. No digo isso para aterrar o nobre Senador, eu tambem me no aterro com isso, mas sim aterro-me com os males que a Nao ha de soffrer. Se isto no passar no se respeita a Constituio que manda que se reforme o artigo que disso tiver necessidade.

    O SR. PRESIDENTE: A discusso fica adiada por se achar na sala proxima o Sr. Ministro da Marinha que vem assistir a discusso da Lei das foras do mar, para que foi convidado.

    Foram nomeados pela sorte os Srs. Marquez de Baependy, Joo Evangelista e Tinoco para receberem o dito Ministro, o qual sendo introduzido na sala tomou assento e teve ento principio a 2 discusso do Projecto de Lei que fixa as foras navaes para o seguinte anno financeiro, principiando-se pelo artigo 1.

    O SR. MARQUEZ DE BARBACENA: Foi especialmente convidado o Illm. Senhor Ministro da Marinha para dar as necessarias informaes; mas no poderemos entrar na discusso sem ouvirmos primeiro que elle julga sufficiente essa fora para desempenhar as muitas obrigaes que esto a seu cargo, quanto a mim no me parece que basta para favorecer o commercio, para evitar o contrabando da escravatura, e prestar auxilio s Provincias em que necessario forem; mas como

  • todas as Provincias ficam sujeitas s Leis geraes, e isto assemelha-se alguma cousa aos Estados Unidos? No, de certo.

    Eu concluo, pois, que necessaria essa reforma, no s para que as Provincias

    j o anno passado se fixou essa mesma fora talvez a experiencia tenha mostrado que ella sufficiente. Aproveitarei

  • cional

  • Sesso de 4 de Julho 29

    seguir as regras da cavallaria, nem ter bambas as redeas do rossim, nem irrital-o a tomar o freio nos dentes. Nunca foi nem ser pesada a autoridade do Governo Paternal, s Provincias, que constituem Nao amiga e Povo de Irmos, ligado com o "cordel triplicado" pela unio da identica Religio Constituio e linguagem. No temo que as Provincias mais illuminadas se separem do centro da unio; ainda as mais rudes, sentindo os males da anarchia e tyrannia, alm dos perigos de conquista, espero que no por longo tempo persistam em seu erro e que verifiquem o proverbio o bom filho casa torna.

    O SR. MARQUEZ DE BARBACENA: Est realizado o que eu suspeitava, isto , que as 1.500 praas no eram sufficientes para o Exm. Ministro desempenhar as obrigaes de seu cargo. A nossa Constituio faz a differena mui positiva de foras ordinarias ou extraordinaria. Ora salta aos olhos que a fora extraordinaria pde ser necessaria de um momento para outro, ainda que estou bem persuadido de que o patriotismo do Exm. Ministro, ainda no tendo essa fora extraordinaria, o faria lanar mo de outros meios para no deixar trazer a necessidade de mandar para alli uma fora, e como ha de o Ministro desempenhar isto, quando se lhe no do os meios? A falta de confiana no Governo, o peor mal que pde haver, e maior erro dos Corpos Legislativos; portanto sou de opinio que se faa a differena da Fora ordinaria e extraordinaria, applicando as 500 praas para Fora extraordinaria.

    O SR. MINISTRO: Eu disse que julgava sufficientes 2.000 praas, no caso que se no quizesse adoptar a differena entre fora extraordinaria e ordinaria; mas como esta Augusta Camara julga em sua sabedoria conveniente fixar a Fora ordinaria e extraordinaria, parecia-me conveniente que estas 1.500 praas ficassem como foras ordinarias, e outras 1.500 como extraordinarias, visto que 2.000 em caso necessario, muito

    que fosse necessaria para salvar a Patria, ainda que excedesse a Lei: eu devo declarar que sem escrupulo algum o faria, assim como duvida alguma poria em ser o primeiro a sacrificar-se pela salvao dos meus compatriotas. Todavia mais proprio seria desta Augusta Camara, prevenir o caso de o Ministro, para salvar a Patria, se vir na necessidade de violar a Lei. Digo pois que muito conveniente seria ser esta Augusta Camara decretasse mais 1.500, para foras extraordinarias, deixando ao arbitrio do Governo o empregar desde j parte ou todo, quando o julgam necessario.

    O SR. MARQUEZ DE BARBACENA: A Constituio manda fixar as Foras depois de ouvir informao do Governo, e como o Exm. Ministro tinha dito 500 praas, eu as approvei, receiando comtudo que ellas no chegassem, o que me prova agora, o que acaba de dizer o Exm. Ministro. Como a Constituio manda fixar as foras ordinarias e extraordinarias, julgo que se podem dar mais as 1.500 praas, s para casos extraordinarios.

    O SR. BORGES: A Constituio no faz distinco de foras extraordinarias e ordinarias em tempo de paz. No estado de paz suppem foras ordinarias, e no estado de guerra suppem foras extraordinarias. Os acontecimentos quaesquer havidos em uma Provincia do Brazil, no podem ser considerados como estado de guerra, no qual quer a Constituio que haja fora extraordinaria mas supponhamos que a no ha, e que vem um caso de ella ser necessaria: o Governo no imbecil, no precisa acto algum Legislativo, de salvar o Estado, pela Lei, do Salus populi, e depois dar conta futura Legislatura das medidas que tomou, justificando a necessidade dellas, o que o Corpo Legislativo sem duvida approvar. O nobre Senador da Repartio no seu Relatorio no fallou nessa Fora Extraordinaria; ao menos no fixou o numero della, que precisava, antes, se bem me lembro, diz unicamente que 1500 praas era fora ordinaria, com que se contentava. Ora no tendo ns guerra, nem

  • pouco a no querermos fechar os olhos ao que est acontecendo nas Provincias do Norte, e ao que pde acontecer.

    O nobre Senador que acabou de fallar disse que o Ministro teria sem duvida bastante patriotismo para lanar mo da Fora

    estando ella imminente, julgo que bastar esses 1.500 homens

    Apresentou-se um argumento para se dar essa fora extraordinaria, que o ser necessario velar continuamente no contrabando

  • vo

  • 48 Sesso de 5 de Julho

    por intermedio do Poder Executivo, onde so convertidas em Projecto de Lei, para continuar a seguir os tramites at Sanco, e tanto a Constituio reconhece que estas propostas dos Conselhos no so meras representaes, que ellas passam por uma s discusso em ambas as Camaras; e consequentemente tm as Camaras uma parte do Poder Legislativo. A Constituio ainda fez uma distinco, que melhor d a conhecer que os Conselhos no representam simplesmente; porque, quando elles tratam dos objectos incluidos no 4 paragrapho do art. 83, diz que ento dirijam representaes: logo, nos outros casos, os seus actos no so s representaes. Era mesmo escusado que a Constituio estabelecesse particularmente aos Conselhos Provinciaes o direito de representar, porque este direito geralmente concedido a todo o Cidado, e delle no podiam os Conselhos ser excluidos; mas a Constituio lhe d parte do Poder Legislativo, porque os Conselhos propem as Resolues, discutem-as, e enviam-as para se completar o acto legislativo: bem como ns e a outra Camara fazemos porque as proposies que nascem em uma Camara s so leis depois de approvadas na outra, e receberem a Sanco Imperial. Suppe mais o nobre Senador que por esta reforma se concede s Provincias a Soberania Nacional, mas o nobre Senador no reflecte que as Provincias s se podem occupar de objectos relativos a seus interesses peculiares? E um delegado do Poder Executivo; e se ao Presidente se d a autoridade de sanccionar as Resolues, que se fizerem nas suas Provincias, como ficam os Conselhos com a Soberania? Demais, as Provincias ficam sujeitas s leis geraes, e se ellas ho de receber leis de um outro corpo, como se diz que as Provincias ficam com Soberania? Suppe o nobre Senador que as Assemblas Provinciaes saiam fra da orbita que a Constituio lhes ha de prescrever! Eu no admitto essa hypothese; porque, alm de ter o presidente a sanco das Resolues a Assembla Geral continua a velar

    das Provincias. Quanto a mim, se esses males tm de apparecer, est ainda muito longe. Uma vez que haja quem vigie e remedeie os males que as Provincias sentirem tarde apparecer a total e absoluta separao: ao contrario, bem perto se me antolha a separao se negarmos esta reforma tendente a afrouxar um pouco o meio que liga as Provincias a uma grande dependencia do Governo central. As Provincias faro o que em casos identicos tm feito outras Naes, cujos exemplos j aqui se tm produzido. E' este o estado encoberto da Federao, em que tanto se fallava: se as Provincias, escandalizadas por se lhes no concederem as reformas, se insurgirem, eu no vejo no Governo central fora capaz de embaraar que se separem e tornem absolutamente independentes. Se ns, porm, concedermos as reformas que levam s Provincias o recurso s suas necessidades sem dependencia do Governo central, ellas vero que nada mais tero a desejar, e que a separao s lhes pode acarretar uma diminuio de fora, que as torne incapazes de conservar sua independencia politica. Diz o nobre Senador que a existencia destas autoridades em Provincias, nos Estados do Norte, motivou a sua separao da Metropole: permitta-me que eu diga ao nobre Senador que se engana muito nisso: a pertinacia semelhante a que quer que tenhamos, foi a causa dessa separao.

    O Parlamento Inglez, querendo negar aos Estados da America o direito de fazerem as suas imposies, produzio a sua Revoluo. Eu no duvido que a Frana introduzisse na America o carvo ardente para accelerar a Revoluo; mas esse carvo de nada valeria se os Povos no reconhecessem o direito de insurreio. E portanto conforme com a boa politica, que ns emquanto podemos, tratemos de evitar que nossas Provincias cheguem a esse ponto; e o modo de o conseguir conceder a reforma que agora se projecta. Disse-se mais que as Provincias legislam sobre objectos de

  • na execuo da Constituio. Se uma Provincia fizer uma lei que esteja alm do que lhe permittido, a Assembla Geral revoga essa lei, e mostra que se exorbitou na sua organizao. Outros argumentos appareceram mostrando males que podem provir de relaxar a centralizao

    nenhuma utilidade, ou que sejam em prejuizo publico, isso contra a natureza do homem; porque quando no ha autoridade de se fazerem as cousas, e se depende da approvao de outrem que o desejo de as fazer mais forte; pelo contrario quando se no tem embarao, torna-se esse desejo muito menor: portanto, se

  • 64 Sesso de 6 de Julho O SR. BORGES: Quanto s razes que

    apresentou o nobre Senador para se oppor emenda, cuido eu que no prevaleceu. Uma dellas foi que a Constituio determinava que se nomeasse uma Regencia Permanente de tres membros, em caso de menoridade e que esta determinao j tinha tido execuo; mas todavia dahi no se segue que ella deva ser estacionaria; por isso que, aquillo que est feito, se pode fazer melhor. Eu sou tambem dos que approvam o systema estacionario; mas quando vejo que aquillo que est feito me no convm, ou o no julgo bom, eu sou contrario a elle. Convm, pois, que attendamos s circumstancias que nos urgem para melhorar, por isso que esse o espirito do tempo e no ficaremos mal como estavamos.

    Diz-se: ninguem contestou at hoje que a Regencia de tres era m; ninguem o tem dito, verdade; mas esperaremos o tempo de conhecer praticamente que ella m, para se fazer uma reforma, que a theoria e milhares de exemplos mostram ser necessaria para melhoramentos? No a fizemos logo a primeira vez que nomeamos Regencia, porque deviamos ento obedecer Constituio, mas agora, que j se lhe obedeceu, e que se v que a Regencia tem de durar 12 annos, e que temos entre mos a reforma da mesma Constituio, porque se no ha de alterar isto e mudar para melhor? Disse-se mais: estamos acostumados a esta frma de Governo de tres, para que havemos de mudar? Logo, porque estavamos acostumados frma de Monarchia, para que passamos para a Monarchia com Representao Nacional? Se estavamos acostumados era por um onus e no se pode chamar costume quillo que est estabelecido por onus, e por isso, quando chega a manifestar-se o principio da incompatibilidade deste onus, deve-se abolil-o, se a experiencia nos mostrar essa necessidade. Esse Governo Interino de tres produzio as maiores calamidades nas Provincias, pela malvadeza das pessoas que para elle eram nomeadas, salvas as honrosas excepes de um ou dous, o resultado

    para a barra a ver se chegava alguma embarcao e continuamente diziam: Venha uma farda encarnada, venha um homem, seja qual fr, que nos tire da desgraa e desordem em que estamos. E' isto occasionado pelas desavenas e ciumes que havia entre os tres. Est pois demonstrado que o argumento de Trindade de Gente prova a necessidade da reforma do artigo em questo, porque se mostra quanto perigoso o Poder Executivo depositado em um corpo collectivo, o que bem patenteiam muitos exemplos e factos de Regencias, e esses males por ellas causados que ns devemos evitar, assim como o desenvolvimento dos partidos, que no existiro sendo s um Regente.

    Approva o nobre Senador a Regencia de um, quando concedida ao parente mais proximo; pois se a concede nesse caso, porque no ha de conceder em outro, em que no se d parentesco? Quanto ao que houve em Frana no tempo da sua revoluo, e as grandes calamidades que soffreu aquella Nao, foi isto tudo causado pela mesma tyrannia da Regencia, consequencia necessaria da sua fraqueza entre partidos oppostos. Napoleo no dissolveu a Representao Nacional; cada um dos membros estava em sua casa quando ouvio dizer o que se passara em S... E por terem chegado as cousas a um estado deploravel pela lmpericia e falta de unio dessa Regencia chamada Directorio Executivo que aconteceu cahir o poder nas mos de um soldado feliz, que com a espada na mo salvou a Frana, livrando-a da anarchia e das calamidades que ella soffria. Ora o nobre Senador, que to entendido na historia, ha de estar ao facto disto, ha de conhecer esta verdade; ainda que alguns historiadores negam a este soldado os relevantes servios que fez sua Nao, em terminar a anarchia e a revoluo, e que depois de haver posto os negocios publicos em bom estado levou a gloria da Frana ao ultimo auge e isto porque? Porque era um homem s; pode dizer-se que elle abusou, mas muitos Governos tm havido

  • sempre foi mo para os povos; nem outra cousa se devia esperar de um Governo composto de um Ecclesiastico, de um Militar e de um Beca, que difficil era convirem em uma opinio, e no pode haver Governo peor do que o divergente. Era por isso que os povos daquelle tempo no se fartavam de olhar

    compostos de mais elementos, que tem abusado. Devemos lembrar-nos que o Poder Executivo posto, como j disse, em um corpo collectivo, por isso que no tem responsabilidade, fica nulla a sua aco. A' vista, pois, do que se tem expendido, como no se produzio ainda argumento

  • Sesso de 10 de Julho 91 2 Ficam extinctos todos os privilegios

    pessoaes do fro. Vergueiro. O SR. PRESIDENTE: Esta emenda

    parece ser substitutiva da parte do artigo relativa aos Juizes de Orphos.

    O SR. DUQUE ESTRADA: A declarao indispensavel, porque este artigo est confuso. Eu entendo que estes Juizes no podem julgar seno em primeira instancia; e no sei a que vem aqui os Ouvidores de Appellaes civeis: por que razo se no falla nos Juizes da Chancellaria e em outros mais, que na Relao julgam em primeira e ultima instancias? Eu creio que aqui deve ainda haver uma emenda de redaco, porque no s os Magistrados apontados no artigo que conhecem em primeira e unica instancia: como j lembrei o Juiz da Chancellaria, o Juiz da Cora, etc. e se ficam abolidos uns no sei como ficam outros. Quanto a estas emendas, no sei como se vai abolir o fro pessoal dos Orphos; ha de um Orgo vir do Par, se eu tiver com elle uma demanda? Esta materia de fro pessoal no pde ser tratada em um artigo additivo desta Lei; materia ponderosa e preciso que se considerem muitas especies que nella entram.

    O SR. RODRIGUES DE CARVALHO: Eu estava pela suppresso do artigo principalmente nesta parte, respeito aos Juizes de Orphos porque via a disposio com demasiada simplicidade a emenda porm veio aclarar o que me fazia duvida e por isso agora votarei pelo artigo.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Eu devo dizer que no achei boa a redaco do artigo, e queria substituido por outro; mas segundo quer um nobre Senador, que pretende que se diga ficam abolidos todos os Juizes, que na Relao julgam em primeira e em ultima instancia, eu vejo que desse modo fica abolida a jurisdico de todos os Desembargadores da Relao, porque so Magistrados que julgam em primeira e em ultima instancia.

    O SR. DUQUE ESTRADA: Eu disse que se devia abolir a jurisdico dos Magistrados

    Membros da Relao julgam sempre em 2 instancias e no em 1; portanto no se confunda 1 e ultima instancia, com ultima instancia smente.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Os Desembargadores no julgam na Relao smente em 2 instancia, tambem julgam em unica, pois no ha causas intentadas na Relao e que alli mesmo so julgadas? Todos os Estravagantes julgam nessas causas, portanto a emenda assim no fica clara, preciso redigil-a de modo que se no possa conhecer que fica abolida a jurisdico dos Desembargadores da Relao.

    O SR. DUQUE ESTRADA: Eu creio que o nobre Senador no me entendeu ou eu me expliquei mal. O Corregedor do Crime o unico que conhece em primeira e unica instancia.

    Tira uma devassa, ou toma uma Querella, leva os Autos Relao; e dalli no se appeIIa como destes de 2 e ultima instancia. No se falla neste, antes no paragrapho se acha contradico a respeito da jurisdico que lhe compete. Em uma palavra, preciso que se exprima de um modo geral a doutrina do artigo; porque se mencionam certos Magistrados, cuja jurisdico fica abolida, deixando-se outros em identicas circumstancias: eu dizia que votava pelo artigo mas que achava a sua redaco confusa.

    O SR. RODRIGUES DE CARVALHO: O que vejo que as emendas se vo multiplicando de modo que se quer abranger o Codigo. Se a doutrina do artigo agrada, deve passar; mas se no agrada supprima-se, e tudo se acaba. Quando o artigo diz, que fica abolida a jurisdico ordinaria de taes e taes Magistrados, quer dizer que ficam abolidas as chamadas varas de Relao. Todos os Juizes da Relao so das segundas instancias, e todas as causas da primeira instancia ho de passar para esta: eis aqui tudo reduzido expresso mais simples. No nego que muito mais ha a dizer nesta materia, mas isso deve reservar-se para quando se acabar a Casa da Supplicao.

  • que na Relao julgam em primeira e em ultima instancia: estes so os que julgam em mezas separadas, como o Juiz da Chancellaria, o Juiz da Cora, etc., mas os

    O SR. VERGUEIRO: Diz o artigo, que fica supprimida a jurisdico ordinaria dos Corregedores do civel e crime da Crte, Ouvidores das appellaes crimes e a dos

  • 92 Sesso de 10 de Julho

    Ouvidores do civel e crime das outras Relaes e contenciosa dos Orphos. A duvida que se offerece consiste em que talvez esta disposio v causar alguma novidade, no modo de conhecer das appellaes actualmente; mas aqui no tratamos seno da primeira instancia, sem tocar no processo da segunda: portanto, para tirar essa duvida, que se apresenta, basta que em lugar de se dizer fica supprimida a jurisdico ordinaria diga-se primeira instancia.

    O SR. DUQUE ESTRADA: Perdoe-me o nobre Senador; mas ainda essa redaco no satisfaz, porque os Corregedores do civel quasi nada julgam na Relao, o Corregedor do crime que conhece muito e julga na primeira e ultima instancia com os seus adjuntos. Os Ouvidores das appellaes no conhecem em primeira instancia, por ser isto reduzido a passar por distribuio (o nobre Senador continuou o seu discurso, mas o Tachygrapho no o pde colher).

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Parece-me que a materia do artigo pde pr-se votao e uma vez que passe na terceira discusso, pde a redaco ser feita na Commisso. Eu no julgo que haja inconveniente algum, em que isto se ponha em pratica; isto , que se acabem com todas essas primeiras instancias, julgadas na Relao por certos Juizes com adjuntos, menos o Juizo da Cora, porque isto privilegio da causa: o meu voto este, passando a materia, a Commisso far a redaco no sentido em que se vencer.

    O SR. VISCONDE DE CONGONHAS: Quanto a mim, no me parece que devamos tratar destas reformas do Processo na parte civel, apenas adopto a emenda relativa aos orphos na primeira instancia.

    No julgo conveniente que se d este golpe em differentes partes do systema, porque nada pde ficar harmonisado. As Relaes devem todas ser organizadas de um modo uniforme e assim fica ainda a Supplicao, que nem Relao, como o so as outras, nem se

    eu voto contra tudo, excepo da parte relativa aos orphos.

    O Sr. Presidente propz votao: 1 A materia do artigo 18, salva a emenda

    e no passou, ficando prejudicada a emenda. 2 O 1 artigo additivo: foi approvado. 3 O 2 artigo additivo: no se approvou. Artigo 375 com a respectiva emenda da

    Commisso. O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS:

    Eu voto pela suppresso dos dous artigos additivos, porque sendo estas emendas feitas para se evitarem duvidas, que soffrem as causas, ellas ainda vo complicar mais o negocio e dar lugar a trabalhar a chicana. Eu tenho de propr em seu lugar outros que me parecem indispensaveis. O primeiro acerca dos recursos que ainda esto em pratica das Relaes da Bahia, Pernambuco e Maranho, para a Casa da Supplicao; estes recursos esto j em opposio com o que a Constituio determina, isto , que s hajam duas instancias; e deste modo tem 3, porque uma causa que na Bahia principiada em um Juizo qualquer, vai pr Appellao para aquella Relao; depois, ainda vem para a Relao do Rio de Janeiro; portanto ficam estas causas com 3 instancias, o que a Constituio no permitte: digo pois que das Sentenas definitivas proferidas nas Relaes, no deve haver outro recurso que no seja o da revista, naquelles casos que a Lei promette. Outro artigo additivo que me parece se deve pr, acerca de certeza dos Juizes que causam grande demora na deciso das causas. Sobre isto, no tempo do antigo Governo haviam na Secretaria de Estado consultas sobre consultas; e com a certeza dos Juizes argumentavam contra o Regedor e Chanceller; e com isto barulhavam enredavam e demoravam as causas tempos infinitos; o dizer-se que o Juiz, que tem principiado uma causa, est mais ao facto della, do que o outro que venha de novo, no argumento; porque o Juiz no tem

  • pde regular pelo seu Regimento proprio, porque fica espedaada sem acabar de todo: ha de haver um grande embarao no seu andamento. Por este motivo

  • Sesso de 10 de Julho 93

    que julgar seno pelo que consta dos Autos; e logo que lhe vo mo, examina tudo o que alli se contm e fica sabendo tanto como o que principiou a causa: o inconveniente de estar impedido um Juiz e esperar-se que esse impedimento cesse, muito grande, pela demora, que isso causa; portanto, creio que se deve acabar com essa certeza de Juizes.

    O SR. PRESIDENTE: Esses artigos, que o nobre Senador pretende offerecer, no tem relao com o que est em discusso; e pde o nobre Senador reserval-o para o fim da Lei.

    O SR. DUQUE ESTRADA: A abolio dos Inquiridores j est vencida, uma vez que os Juizes Supplentes so os que inquirirem; isto est acabado, porque j fica determinado quem deve inquirir as testemunhas. Mas eu no entendo a emenda da Commisso, porque diz, que ficam abolidos os Inquiridores da primeira instancia: no posso conceber como isto ha de ficar: porque, quando se adoptarem os Juizes de segunda instancia, algumas diligencias que forem precisas na segunda instancia, ho de ser remettidos aos Juizes da primeira para as fazerem e eu no sei como isto se far.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Eu julgo que o artigo necessario, porque logo que explicitamente se no diga que ficam abolidos os Inquiridores ainda que elles no tenham que fazer, dizem sempre, eu sou inquiridor e hei de inquirir, porque a Lei no o prohibe disso. Vemos que na primeira instancia dos processos as mesmas partes inquirirem as testemunhas e aqui nada tem que fazer os inquiridores; mas se se no disser explicitamente que ficam abolidos no se daro por taes. E portanto necessario o artigo.

    Foi approvado o artigo 375 e no passou a emenda.

    Artigo 20, additivo, posto na Commisso. O SR. VERGUEIRO: Esta disposio

    muito interessante. Nada ha mais injusto do que onerar as partes com a pena de nullidade, porque escreveu uma Escriptura um Escrivo, a

    o que lhe no pertencia: portanto, bem revogado este Alvar de 1725, na parte que annulla os processos e mais papeis por falta da distribuio. Voto portanto pelo artigo.

    O Sr. Marquez de Caravellas mandou Mesa os artigos additivos:

    1 Das Sentenas definitivas proferidas nas Relaes no haver outro recurso, que no seja da Revista nos lugares permittidos pela Lei.

    2 Ficam abolidas as certezas de Juizes. Marquez de Caravellas.

    Foram apoiados. O SR. MATTA BACELLAR: Acho muito

    justo o 1 artigo additivo, mas o que me parece , que devia ser tratada esta materia quando se organizassem as Relaes. O Tribunal Supremo tem admittido revista com 3 instancias, o que contra a Constituio; mas parece-me que a materia aqui deslocada.

    O SR. VISCONDE DE CONGONHAS: No se pde deixar de approvar este artigo, porque elle muito necessario, afim de evitar o abuso que se tem feito nestes recursos. Uma providencia Legislativa, que a este respeito houve no foi bastante, porque no prohibio seno indirectamente os recursos das outras Relaes para a do Rio de Janeiro. Por uma Resoluo de 1829 j determinou, que ao Supremo Tribunal de Justia fossem levados todos os aggravos ordinarios e todas as revistas que tivessem, quer duas quer tres instancias, o que se entendeu smente para aquellas Sentenas, de que naquelle tempo se tivessem interposto aggravos ordinarios para a casa da Supplicao; e por isso continuaram a ter uso estes aggravos para a Supplicao e alli serem recebidos.

    E portanto precisa esta declarao, para acabar por uma vez com este abuso inconstitucional de tres instancias. A mesma Casa da Supplicao no deveria j ter recebido esses aggravos, porque a Constituio prohibe expressamente mais de duas instancias.

  • quem no foi distribuida: a pena deveria ser imposta ao Escrivo, porque escreveu

  • O SR. DUQUE ESTRADA: Trata-se aqui dos aggravos ordinarios das Relaes para Supplicao; e preciso que haja esta deciso. Quando se creava o Tribunal Supremo de Justia o Ministro que referendou a Lei da creao, a remetteu s Relaes, acompanhada de uma Portaria, pela qual declarava que estavam extinctos os aggravos ordinarios; e o mesmo mandou Casa da Supplicao. A Supplicao no reconheceu autoridade no Ministro da Justia para fazer esta declarao; mas as outras Relaes immediatamente interpuzeram as suas revistas para o Tribunal Supremo de Justia. Foram porm tantos que o Tribunal Supremo, no sabendo o motivo por que elles tinham assim obrado, pz duvidas em aceitar. Ento as partes tiraram certides; e com ellas requereram Assembla, em virtude disso sahio a Resoluo, para que se tomasse conhecimento, quer tivesse quer no tivesse interposta a causa o aggravo ordinario; isto porm referia-se ao passado e ficou ainda a duvida para o futuro; por esse motivo muito acertado o artigo proposto.

    O SR. MATTA BACELLAR: E' tambem muito interessante este artigo dos Juizes certos, donde no vem seno prejuizos, eu voto por isso.

    O SR. VISCONDE DE CONGONHAS: E realmente interessante o acabar com os abusos, que nesta materia de Juizes certos se commettem. Tem-se visto ir ao Tribunal

    para deixar ir tudo no fim e depois que ultimamente vem allegar nullidade pela falta de certeza dos Juizes. No Tribunal Supremo j com muita madureza se deram providencias, para quando um membro est por qualquer causa impedido: e isto deve tambem applicar-se aos outros Tribunaes Judiciaes.

    O SR. DUQUE ESTRADA: Se bem que eu conhea o quanto tenha embaraado os Processos a certeza dos Juizes, no sei se, com esta nova determinao, havero ainda mais embaraos. O exemplo, tirado do Tribunal Supremo de Justia, no pde servir para o caso que nos occupa. O Tribunal julga todas as causas e a Relao julga por distribuio: portanto, vamos fazer uma innovao que talvez baralhe mais os Processos do que esto. Ns temos a este respeito uma mui boa providencia e no sei porque a Casa da Supplicao do Brasil a no tem adoptado: um accento da Relao de Lisboa pelo Chanceller Joo. Na Bahia eu vi este accento em execuo: eu no tenho agora bem presente a disposio deste accento, mas estou presente nos bons effeitos que elle produzio na Relao da Bahia; entretanto eu no voto por essa mudana.

    O SR. BISPO CAPELLO-MR: Tendo-se offerecido alguns artigos additivos com o fim de melhorar no modo possivel as delongas e abusos do Processo Civel, eu lembro duas formalidades, que muito entorpecem a marcha das causas, o que em verdade no tem utilidade alguma real; a primeira o Juramento de calumnia: este juramento to facil de dar, longe de ser util, quando no produza outro mal estraga as consciencias, pelo abuso que se faz deste acto Religioso. A fiana s custas outra formalidade, que no meu ver, deve ser banida do nosso fro; ella no serve se no de dar mais um apoio chicana. O que condemnado nas custas deve pagal-as em continente e nem outro meio de conseguir seno a priso. Eu

  • Supremo de Justia causas em que uma parte diz que tudo est nullo, por se no ter seguido a certeza dos Juizes; um Ministro tem se dado por suspeito ou fica impedido, o Chanceller nomeia outro, a parte no reclama

    mando portanto Mesa neste sentido o preciso

  • Sesso de 10 de Julho 95

    ARTIGO ADDITIVO Artigo additivo para se collocar onde

    convier: Ficam abolidas as formalidades do Juramento de calumnia e de fiana s custas mas esta ultima ser substituida pela obrigao de pagar as custas da Cadeia, quando se no paguem logo que forem julgadas. Bispo Capello-Mr.

    Foi apoiado. O SR. MATTA BACELLAR: Este artigo

    um dos melhores destas emendas: o perjurio muito ordinario no Juramento de calumnia, e preciso evital-o. Quanto fiana, j pela Ordenao estava dito no Livro 3 Titulo 2, paragrapho 6, que aquelle que no der fiana, pague as custas da Cadeia e a admisso de fiana uma philantropia muito mal entendida.

    Foi approvado o artigo additivo. O SR. OLIVEIRA: Eu tambem tenho de

    offerecer um artigo additivo. Tem-se tratado das attribuies dos Juizes de 1 instancia, mas nada se tem dito sobre os ordenados que ho de vencer. Para o regular devemos ter em vista, que ficando-lhe a obrigao de correrem os circulos de sua jurisdico, alguns dos quaes so de 80 a 100 leguas, no possivel que faam as despezas destas amiudadas jornadas com os 200$000 que actualmente se do de ordenado aos Juizes. Aos Officiaes de Fazenda que tinham 100$ de ordenado, foi elevado a 800$000. Em uma palavra em todos os lugares novamente creados se tem regulado os vencimentos em relao ao tempo actual. Se em outro tempo um Juiz de Fra podia viver com 200$000 hoje absolutamente impossivel; principalmente sendo obrigado a fazer o giro pelo circulo de sua jurisdico. Eu creio que se pde, sem que seja demasiado, dar aos Juizes das Capitaes 1:200$000. Creio que no aqui deslocado o contemplar os Desembargadores da Relao, cujos actuaes ordenados so to diminutos, que mal lhes pde chegar para casas, apenas a tera parte do anno: tomando pois por norma o que se deu

    aos Membros do Tribunal Supremo de Justia para onde elles tm accesso immediato, que dando-se-lhe 2:400$000 no se corta muito largo, eu mando pois neste sentido o meu:

    ARTIGO ADDITIVO

    Os Juizes de Direito tero de ordenado

    1:600$000 nos circulos das Capitaes e 1:200$ nos demais circulos. Os Desembargadores das Relaes 2:400$000. Salva a redaco. Oliveira.

    Foi apoiado. O SR. MATTA BACELLAR: Apoio

    ambas as partes do artigo: no Projecto criam-se estes Juizes, mas no se lhe marca ordenado, o que indispensavel porque se ho de estabelecer estes vencimentos por outra Lei? Eu creio que este o lugar proprio: quanto quantia, me parece bem calculada, pelo menos no excessiva: 1:600$000 ordenado que ha pouco se deu aos Juizes do Crime; e os Juizes de Direito no merecem menos, antes tem muito mais trabalho e despezas, pelas viagens que so obrigados a fazer, correndo os circulos. Pelo que respeita aos Desembargadores, tambem me parece bem que se marque o seu vencimento; pois que tendo-se augmentado a outros Magistrados de inferior cathegoria, uma injustia que os de superior graduao tenham menos que os de inferior; em nenhuma carreira publica se acha uma semelhante irregularidade Voto portanto pelo artigo.

    O SR. BORGES: Eu, Sr. Presidente, reconhecendo a justia do artigo, no acho todavia proprio para se tratar neste lugar. O nosso objecto o Codigo do Processo e a melhor administrao da justia; e isto nada tem com os ordenados dos Magistrados. Se o nobre Senador entende razoavel que se estabeleam estes vencimentos, pode fazer um Projecto de Lei, pelo qual se estabeleam estes ordenados. Alm de que no vejo razo para que nos occupemos smente dos ordenados dos Magistrados e deixemos da parte todos os

  • officiaes, que so empregados na administrao da justia, os raciocinios que o nobre Senador empregou para provar a necessidade destes argumentos so litteralmente applicaveis aos

  • Sesso de 11 de Julho 99 O SR. MARQUEZ DE BARBACENA:

    Tenho ida de que o Presidente da Bahia deu uma informao sobre esta Resoluo; por isso desejava saber se os papeis que lhe so relativos, aqui existem e se bem me lembro a opinio do Presidente era contraria a esta Resoluo.

    UM SR. SENADOR: Deve estar na respectiva Commisso.

    O SR. OLIVEIRA: Aqui no est seno o original da Resoluo, que veio da Camara dos Deputados.

    O SR. 1 SECRETARIO: Eu mando examinar se esto na Secretaria.

    Ficou esta materia adiada por emquanto e passou-se entretanto a discutir a Resoluo da mesma Camara, tomada sobre outra do Conselho Geral da Provincia de Pernambuco, dividindo a Freguezia do Sacramento do Bairro de Santo Antonio.

    O SR. ALENCAR: Sr. Presidente, requeiro que se peam Camara dos Deputados alguns documentos que j existem acerca desta partilha.

    O nobre Senador mandou Mesa o seguinte:

    REQUERIMENTO

    Requeiro o adiamento da Resoluo para

    se exigirem muitos documentos que existem na Camara dos Deputados, os quaes melhor podem esclarecer a materia. Alencar.

    Foi apoiado e approvado sem debate. Passou-se a discutir outra Resoluo da

    mencionada Camara, tomada sobre outra do mesmo Conselho Geral da Provincia de Pernambuco, autorizando o Governo a comprar o armazem que servia de Alfandega na Cidade do Recife, comeando-se pelo art. 1.

    O SR. ALBUQUERQUE: No posso comprehender o fim desta Resoluo, diz ella que necessario esse armazem para o servio publico e o art. 3 diz o contrario. (Leu) Compra para arrendar: no entendo o motivo por

    que o Governo ha de fazer isso, nem sei que vantagem tire disso a Fazenda, antes de esperar que soffra prejuizo grave. Eu de certo no posso votar pela Resoluo.

    O SR. MARQUEZ DE BARBACENA: Os poucos conhecimentos que tenho de Pernambuco, porque muito poucos dias tenho estado naquella Cidade, no impedem que eu conhea a vantagem ou desvantagem da Resoluo. E' um facto que no ha alli um trapiche para se guardarem as caixas de assucar, que se encontram no meio da rua; e a fazer-se casa de arrecadao, melhor seria pertencer ao Governo para assim melhor fiscalizar a cobrana de suas rendas. Eu reconheo que o local de que se trata, o melhor para este fim, mas que pertencendo a um vinculo, de certo ha de haver difficuldade em conseguir-se esse terreno. Quando tentei compral-o, fallei com o Procurador e elle me informou que o no podia vender, porque era um vinculo. O Conselho lembrando-se talvez do principio de que o Governo pode lanar mo de uma propriedade qualquer particular, quando o bem geral o exija, pagando as competentes indemnizaes, adoptou esta medida, evitando assim o embarao que qualquer particular podia encontrar. Parece-me, portanto, que a primeira parte da Resoluo boa; quanto, porm, aos outros artigos, tem muita razo o nobre Senador. O que quer dizer o Governo fazer um estabelecimento sua custa e depois vender? No me parece cousa propria; por este lado ha motivo de rejeitar a Resoluo, que quanto ao 1 artigo julgo dever ter lugar. E' sem duvida contra os bons principios economicos e politicos que o Governo se metta a fazer Armazens e outras obras, para depois vender: esta preteno deste Conselho no razoavel, mas logo veremos ainda mais uma proposta do Conselho Geral de Goyaz, na qual quer estabelecer o Governo Negociante. Como presente est um nobre Senador de Pernambuco, eu lhe peo esclarecimentos sobre isto, e depois fallarei.

  • O SR. MARQUEZ DE INHAMBUPE: E principio certo que o Estado no se deve metter em especulaes commerciaes, e no isso o que se faz indo o Estado comprar um edificio para o demolir, reedificar e depois arrendar ou vender? Alguma noticia tenho deste negocio. Este edificio j outrora servio de Alfandega e tem uma casa propria para armazenagem;

  • 100 Sesso de 11 de Julho

    j os negociantes pretenderam compral-o a Pedro de Mello, mas como para isso era necessaria uma licena no a pde eIle conseguir porque nesse meio tempo foi preso, depois do que escreveu-me, mandando-me dizer que tinha a promessa de que se lhe concederia a licena, porque os bens do Brasil no podiam utilizar aos proprios de Portugal. Eis no que param as cousas relativas a este vinculo.

    A conceder-se uma tal medida, ser consequencia della o ir empenhar o Estado um muito grande Capital; tanto na compra como nas obras que tem a fazer, para depois arrendar, no tirando talvez o juro de dous por cento. Estes negocios deixam-se aos particulares. No posso portanto convir com as disposies deste Projecto, apezar de ter em muito respeito as Resolues dos Conselhos Geraes; neste comtudo no acho utilidade.

    O SR. BORGES: O segundo nobre Senador tocou os pontos principaes da materia; mas perguntarei qual aqui o negocio particular? E um negocio de Provincia e convm que o Senado seja mais bem informado.

    Pernambuco, pelas suas produces agricolas uma Provincia assucareira; o que o nobre Senador vio, era talvez no tempo em que a sua safra montava unicamente a doze mil caixas. Note-se isto, e peo Camara que attenda exposio do facto que apresento. No tempo em que essa safra era mui diminuta, as ruas e praas existiam cheias de caixas de assucar e hoje que a sua safra, como a do anno passado, excede a quarenta mil caixas, continuam a haver os mesmos incommodos e continuaro se no se conceder esta medida. Saiba pois a Camara que os commodos para a arrecadao das caixas de assucar so as praas publicas e as ruas, em que ellas esto encanteiradas sobre pos, umas sobre outras, cobertas com encerados. Ninguem que tenha j pizado em Pernambuco deixa de observar isto e daqui vem um prejuizo enorme, j ao Corpo dos Lavradores, que soffre grandes perdas, desde que o assucar chega Cidade, at que se pese e

    ellas se fazerem? No tem muitas praas, grandes praias e muitas alamedas? E' isto que no ha. Estas circumstancias s se do em Pernambuco e no em outras Provincias, e por isso no devemos regular-nos pelo que se d em outras partes. Attenda-se pois a isto e se se quer que continue, rejeite-se esta Resoluo e desattenda-se o clamor das duas classes mais importantes da Nao, como so o Commercio e a Agricultura.

    Attenda-se mais ainda a outra circumstancia. Pelas Posturas das Camaras so os fiscaes obrigados a terem as ruas desembaraadas; mas no podem conseguir isso dentro de Recife, porque no ha parte onde as caixas se ponham ou arrumem, seno nas ruas. Demais, at se anda pelas ruas em muito risco de quebrar as pernas, o que no pequena cousa. O nobre Senador, quando esteve em Pernambuco, foi no tempo em que o peso do assucar occupava duas balanas; hoje occupa quatro e no do vaso. Para se evitarem pois todos os inconvenientes que levo dito, no ha outro remedio seno procurar um espao, e muito grande, em que se possa fazer um deposito deste genero, at que se exporte: mas qual este espao? No o vejo; e o unico est occupado com um edificio velho, que a casa que se pretende, onde foi a Alfandega. Sobre elle ha 22 moradas de casas pequenas e por isso que a Alfandega sahio dalli, e foi para a Madre de Deus; mas este armazem recebe mui pequena poro de caixas e por isso necessario aproveitar o espao que ha, por ser na melhor localidade possivel e que talvez se compre barato, por isso que a casa que occupa no admitte reparo nem concerto algum, e precisa ser arrazada. J attendendo ao seu estado de ruina, a queriam vender por 40 contos, o que muito barato, olhando-se para a localidade, na qual se pode fazer um armazem com dous pavimentos, onde se possa talvez recolher a tera parte da sofra, evitando-se assim os inconvenientes que apontei.

    Disse-se, deixemos isso a uma empreza

  • embarque, j ao Corpo do Commercio, quando corre por sua conta, depois de pesado e comprado, at que seja exportado, o que occasiona um clamor geral de ambas as partes. Mas como remediar isto? Poder dizer-se porque no fazem arrecadaes para guardar-se os seus generos? No ha lugar para

    particular, no mettamos o Estado em especulaes: porventura o principio de que o Governo se no deve metter nisto geral? Eu creio que no; mas vamos agora ver se acaso o caracter brasileiro e as foras peculiares de uma Provincia so proprios para estas emprezas. Ns no temos esse espirito de em

  • Sesso de 13 de Julho 137

    Relaes, que podem ainda soffrer modificaes! Um nobre Senador diz que os Lentes de Medicina devem ter maior ordenado que os dos Cursos Juridicos: se assim como se pde isto fazer com referencias? Quer-se a igualdade nos ordenados, mas o Curso Medico no Rio de Janeiro ha de ter o ordenado dos Lentes do Curso Juridico de S. Paulo, ou de Pernambuco? Se estes esto cada um regulado por sua Relao, ter sempre a Relao de Pernambuco o mesmo ordenado que a Relao do Rio de Janeiro ou de S. Paulo, se tem de estabelecer? E o Curso Medico da Bahia por quem se ha de regular? No se v a irregularidade desta disposio de referencia? Quanto a dizer-se que o Lente do Curso Juridico tem as mesmas vantagens no exercicio particular do seu officio que o Medico, porque se este pde usar de sua clinica, tambem o outro pde usar da Advocacia; eu devo dizer que o theatro em que o Medico exercita a sua Arte, tamanho como os lugares por onde elle pde andar, porque todos os homens esto sujeitos enfermidade e todos consequentemente precisam de Medico; mas qual a esphera que pertence ao advogado? Unicamente os dos homens que tm demandas; como se pde comparar o lucro que tira o Medico da sua clinica com o que ganha o Advogado? No se diga; que ao Lente de Medicina no resta tempo para usar da clinica; Mr. Brusse, em Pariz, sahe a toda a parte, a que o chamam; mas seja mais, ou seja menos o ordenado que se d aos Lentes de Medicina, a respeito dos Cursos Juridicos; eu no insto por isto, o que quero que se marque um quantitativo certo, se o que offereo na minha emenda parece pouco, embora se augmente, mas diga-se de quanto.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Eu tinha pedido a palavra para responder a um nobre Senador que empregou a doutrina do artigo 4. As jubilaes de que este artigo se occupa so as que o Governo pde conceder aos actuaes; onde se v que se prescinde do tempo

    tem jubilao os Lentes dos Cursos Juridicos; so duas cousas muito differentes e por isso necessario era que se dessem regras para cada uma destas hypotheses.

    Outro nobre Senador impugnou o que eu avancei sobre os lucros que provm da Advocacia, comparados aos da Medicina dizendo que o Theatro em que este trabalha muito mais amplo que o do lettrado. Isto no assim; em qualquer parte e com muita facilidade um homem se arvora em lettrado e acha modo de ganhar muito dinheiro pela rabolice: no assim o Medico, que para o ser, carece de muito maiores estudos. Demais, a maior parte dos homens no chamam Medico para qualquer molestia; principiam pelos remedios caseiros, chamam depois o Cirurgio e s quando a molestia se torna muito grave que o Medico convidado e muitas vezes vem para mandar sacramentar o doente: no logo o theatro da Medicina to amplo como se figura ao nobre Senador: mas eu j disse que prescindia desta maioria de ordenado aos Lentes de Medicina, o que por ora me parece que o artigo pde passar assim, no obstante a referencia porque isto no tem inconveniente algum notavel.

    O SR. OLIVEIRA: Eu ainda acho excusa a expresso que vem no artigo 4, fallando das jubilaes com o ordenado actual preciso que se diga ao que se refere este actual eu creio mais exacto o dizer-se o ordenado que ora percebe. No mesmo artigo, creio que tambem se deve fixar algum tempo para se poder conseguir a jubilao, porque se no ha de dar a mesma vantagem a um Professor que tenha servido 3 ou 4 annos que se concede ao que tem 20 annos, portanto eu declararia que tivessem os Lentes que houverem de jubilar os 20 annos que estabeleceram para os dos Cursos Juridicos. Ora vejo agora no artigo 6 a condio de ser cidado brazileiro, o que pretender entrar em concurso para ser Lente, pois que razo pde haver para se no aproveitar um homem de merecimento que se apresenta sendo estrangeiro? E o Magisterio o

  • de servio; e que o Governo pde conceder quando estes Lentes, pela sua idade e enfermidades no possam continuar a tomar parte activa nas funces do Magisterio; mas pelo artigo 9 se estabelece a regra para as jubilaes futuras, referindo-se ao direito que

    exercicio de algum poder politico: se apparecesse um homem como esse Brusse, de que agora fallou um nobre Senador, ha de dizer-se que se no admitte porque estrangeiro? No acho razo alguma para esta

  • 138 Sesso de 13 de Julho

    Tambem no artigo 18 vejo que as nomeaes do Director e Secretario sejam feitas pela faculdade. Estes empregados so como outros quaesquer empregados publicos no vejo razo para que no sejam nomeados pelo Governo como so todos os outros. Mandarei sobre este objecto uma:

    EMENDA

    Ao artigo 4. Em vez de actual diga-se

    o que ora percebem. No artigo depois da palavra Magistrado diga-se tendo os 20 annos que se estabeleceu para os Lentes do Curso Juridico.

    Artigo 6 Omittam-se as palavras ser cidado brazileiro.

    Ao artigo 3 O Director e Secretario sero nomeados pelo Governo. Salva a redaco e collocao. Oliveira.

    Foi apoiada. O SR. BORGES: Principiarei pela

    primeira parte da emenda. Eu no acho que fica mais claro no artigo 4 dizendo-se que ora percebem em lugar de actual parece-me que uma expresso synonima da outra. Diz mais a emenda que se declarem os 20 annos para que os Lentes obtenham a jubilao; a Lei o que quer que estes Lentes, que deixam de servir, tenham a vantagem da jubilao e dar-lhes o ordenado, no da nova creao, mas o que at agora tm tido. Quer o nobre Senador que, no artigo 6 omittam-se as palavras Cidado Brazileiro. Este preceito do artigo funda-se no principio que temos adoptado nacionalisar todas as nossas instituies e o mesmo nobre Senador tem reconhecido a justia e conveniencia de um tal principio; todavia, em parte, no duvido subscrever doutrina da emenda, afim de no deixar de aproveitar os talentos de algum estrangeiro habil que se offerea ensinar medicina nas nossas Escolas; pde portanto dizer-se que se admittam os estrangeiros, quando houveres nacionaes; e eu mandarei para isso a sub-emenda. Quanto

    entre a nomeao destes empregados pela congregao dos Lentes e o Governo: isto , diria que se propuzessem 6 candidatos escolhidos pela Faculdade ao Governo e que destes o Governo nomeasse um para Secretario e outro para Director. Agora a minha emenda, por onde desejo, que se marque explicitamente o ordenado aos Lentes de Medicina, no tem referencia aos dos Cursos Juridicos. Um nobre Senador que a impugnou diz que a orbita em que o Medico exerce a sua arte menor que a do advogado porque todos os homens principiam-se a curar com remedios caseiros; passam ao depois a chamar o Cirurgio e que o Medico s se chama na hora da morte: o nobre Senador bem v que isto um pouco exagerado; um grande numero de pessoas chama logo o Medico e isto at entra em principio de vaidade; eu conheo um homem que dizia que se no queria curar com Medico que no tivesse carta de Conselho: se o principio que o nobre Senador suppe fosse verdadeiro, os curandeiros ganhariam mais que os Cirurgies e estes que os Medicos; mas o nobre Senador no pde negar que o facto mostra o contrario, quem chama o curandeiro porque pobre, no pde pagar ao cirurgio ou ao medico. Ora, pelo que respeita aos Advogados, no se pde dizer que seja tanto o lucro que um Lente possa achar nos arrasoados que lhe encommendarem: o mesmo nobre Senador confessou, que muitos homens que nunca se formaram se do rabolice e ganham bom dinheiro pela vida; eu conheo alguns nestas circumstancias, que tm feito muito mais fortuna do que os formados: se pois facil encontrar-se muita gente que exercite o officio de Lettrado, como se pde dizer que o Lente ha de achar em que adquirir muito pela advocacia? Onde ha muito de um genero eIIe barateia necessariamente. Porm eu quero fazer abstraco do que podem os Professores ganhar pelo seu trabalho particular, o que digo que se fixe o seu ordenado; se os nobres Senadores acham pouco 1:200$000 ponha-se 1:600$000,

  • emenda ao artigo 8, onde o nobre Senador pretende que o Director e Secretario sejam da nomeao do Governo. Na minha opinio, seguiria uma diagonal

    eu puz 1:200$000 regulando-me pelos Lentes do Curso Juridico de Pernambuco; mas accrescente-se se isso se julga preciso.

    A respeito dos estrangeiros eu mando no sentido em que fallei a minha:

  • 140 Sesso de 13 de Julho

    olhos a observao ou havemos confessar que nenhum homem se anima a uma empreza trabalhosa, sem que tenha esperana de que depois ha de forrar a despeza e trabalho que teve com os lucros que dahi lhe provenham. E preciso que elle veja, que do capital elIe empregou lhe provenha um lucro que lhe seja correspondente. Se se cortar portanto a esperana a este lucro na devida Proporo do capital que empregou, nenhum homem haver que se queira habilitar a servir lugares. Isto para mim de evidencia palpavel; e por isso admirei o ver que se emittiam proposies contrarias.

    Ouvi mais, que se no podia decidir, se as sciencias moraes tinham mais difficuldades que as sciencias naturaes. Para mim isto no materia de duvida; basta approvar a considerao que nas sciencias moraes os principios de justia so eternos, e nada mais se pde avanar, a respeito delles: pde sem discorrer-se muito sobre estas bases, mas ellas so constantemente as mesmas. Nas sciencias naturaes porm no assim, a natureza, que o theatro em que essas sciencias figuram, vastissima e de dia a dia se apresentam cousas novas, novas descobertas, novas propriedades, etc. O homem considerado s pela parte moral, sendo o unico objecto das sciencias moraes, muito mais limitado incomparavelmente, que o todo da natureza, de que o homem uma pequena parte, ainda considerado s pelo lado moral, porque physicamente encarado offerece ainda innumeraveis especulaes. Escriptores antiquissimos trataram da sciencia moral, mas veja-se que variaes tem havido!

    Fallarei agora sobre a emenda que fixa o ordenado aos Lentes a 1:200$000. Eu J disse que a referencia Lei dos Cursos Juridicos tinha relao ainda com outra referencia; e este ordenado de 1:200$000 vai pr os Lentes de Medicina de inferior condio aos dos Cursos Juridicos, portanto pde ir o artigo como est nesta parte. Tambem no estou em que se elimine a Parte que diz respeito s honras. Um

    aos cargos: e a este respeito est em p a legislao existente, em quanto no fr derogada; portanto no s a beca o que fica aos Lentes, fica tudo mais que ainda tm os Desembargadores e at o ordenado, como quer o artigo. Alm de que, no poder a Lei trocar por esses privilegios que o nobre Senador chama odiosos com outras vantagens aos Desembargadores, que no tragam comsigo odiosidade alguma? E tirando-se esta parte do artigo no privamos os Lentes de entrar na partilha? Portanto ainda que isso pouco viesse a trazer por ora desvantagens aos Lentes, mal nenhum lhes faz que se diga na Lei que lhe so concedidas estas honras.

    O SR. GOMIDE: Eu creio que os Redactores deste Projecto no fallaro em estrangeiros por ser cousa sabida, que quando no ha nacionaes se engajam estrangeiros para occupar estes lugares. Quanto ao trabalho que tem o estudante medico, comparado ao jurista at se habilitar a ser Lente, eu julgo que no comparavel um com o outro: o estudante, emquanto estuda chimica, tem no laboratorio um trabalho insano, anda sempre encarvoado e com as mos queimadas de acidos. Estudando anatomia, trabalha sobre cadaveres muitas vezes putridos, ao que emquanto se no habituam, sentem uma extrema repugnancia. A botanica exige arborisaes. No estudo de pharmacia supportam-se cheiros activos e desagradaveis de que muitas vezes se adquirem molestias graves: nada disto tem o estudante de Leis, cujos trabalhos se limitam aos de Gabinete, que o medico tambem tem. Quanto aos lucros que podem vir da clinica, no se podem de modo algum contar: o Lente que est occupado em uma leitura sria, no intervallo do tempo que lhe resta das aulas, no pde sahir a qualquer hora que o chamem, essas distraces interrompem muito o estudo que obrigado a fazer; e por outra parte ninguem chama um medico que no esteja prompto a qualquer hora, em que seja necessario: perde logo a freguezia, por muito

  • nobre Senador diz que no sabe quaes so as honras concedidas aos Desembargadores, porque a Constituio abolio todos os privilegios. Os privilegios que a Constituio abolio foram pessoaes, e no aquelles que esto ligados

    bom que seja. O SR. BORGES: Levanto-me

    unicamente para offerecer a emenda acerca da maneira de prover os lugares de Director e Secretario que, como j disse, me parecia no dever ser nem pela Faculdade smente nem pelo

  • 150 Sesso de 16 de Julho

    terreno, que um campo aberto, que de nada serve; apenas ha um armazem que servia de Lazareto para os negros e que hoje no tem j serventia, depois da abolio do trafico. Eu o que posso suppor no Conselho Geral que quiz evitar o descuido que a Camara Municipal teve de tratar neste objecto, e portanto se se no trata mais do que do terreno, basta um s artigo.

    O SR. VERGUEIRO: Eu votaria contra o artigo, at porque est mal concebido: o que quer dizer comprar uma sepultura por tres annos? Porque no ser por seis ou sete? No vale a Resoluo para cousa alguma, depois de estar esta materia providenciada na lei das Camaras Municipaes: eu sei de algumas Camaras, que j tm estabelecido cemiterios e onde havia grande repugnancia em sepultar cadaveres fra da Igreja: em um lugar, depois do cemiterio prompto, para l foi o Vigario, que morreu logo depois, e nenhuma familia repugnou mais em mandar os seus mortos para o cemiterio: a Resoluo no serve de nada, uma vez que j temos legislao.

    O SR. SATURNINO: Eu creio que, posto esteja esta materia commettida s Camaras Municipaes, nem por isto o Conselho est inhibido de poder tratar della tambem, pois que pode fazer Resolues sobre tudo que julgar a bem de sua Provincia; no mesmo paragrapho que um nobre Senador citou na Lei das Camaras Municipaes, esto apontados muitos outros objectos, sobre que temos aqui approvado Resolues de Conselhos. Nem todas as Camaras tm sua disposio sommas sufficientes para emprehender as obras que a lei lhes incumbe, e os Conselhos propem ao Corpo Legislativo a applicao das sobras da Provincia. Quanto irregularidade que achou um nobre Senador neste artigo, de se comprar uma sepultura por seis ou sete annos, eu entendo que comprar por tres annos quer dizer pelo tempo que se calcula necessario para a terra consumir o cadaver e poderem-se tirar os ossos para um outro deposito, sem que se

    declarao da pessoa que alli foi enterrada, o que se no pode fazer sem a propriedade do terreno. Eu no supponho que ninguem queira mandar os seus parentes e amigos para o cemiterio, uma vez que elle seja construido com decencia, tenha uma capella onde ao menos em certos dias do anno se celebre missa, separado de tudo quanto parea que o pode profanar, ha de pouco a pouco habituar-se o povo a vir sepultar alli os mortos que lhe meream mais respeito. Eu vejo que nesta Cidade as Catacumbas de S. Francisco de Paula no esto dentro da Igreja, antes esto separadas por um pateo espaoso, e apezar disso ninguem tem a mesma repugnancia, antes querem, custa de mais algum dinheiro, mandar para aquellas sepulturas os seus parentes de preferencia s Igrejas. Eu acho a Resoluo toda mui digna de ser approvada, a excepo do art. 3, que j foi supprimido; por tudo o mais eu voto.

    Posto votao, o art. 4 foi approvado. O art. 5 sem debate foi rejeitado. Art. 6. O SR. OLIVEIRA: Eu no voto por este

    artigo. Estabelece-se aqui um Inspector do Cemiterio, um Thesoureiro, um Escrivo, um Porteiro e demais os Ajudantes que forem necessarios para o servio do cemiterio, e isto sem limite algum; eis aqui como os mortos vo sustentar os vivos: e no se v que todo este apparato para accommodar afilhados? No posso votar por semelhante artigo.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Eu no acho que estes homens sejam desnecessarios. O inspector preciso para que vigie na conservao da decencia, em que este lugar deve estar e mesmo evitar algum desacato: necessario quem cuide em que as sepulturas tenham a profundidade precisa para que as exhalaes no infectem o ar e outros muitos objectos de policia, que a alguem devem estar encarregados. O Thesoureiro preciso, uma vez que ha receita de emolumentos e despeza com concertos e paga do coveiro, servio da Capella, cera e outros objectos e

  • confundam com os outros que alli se sepultarem depois: este uso muito geralmente observado, principalmente entre pessoas de alguma considerao. Quanto compra perpetua, de que falla o artigo, eu estou em que haver quem a queira: uso antiquissimo em todo o mundo civilizado e no civilizado, perpetuar algum signal sobre os sepulchros com

    havendo esta receita e despeza preciso haver quem a escripture: portanto, necessario o Escrivo. O porteiro tambem preciso, porque alguem ha de ter as chaves do cemiterio e ir abrir

  • 156 Sesso de 16 de Julho

    no menos vantajosa; 3 ou 4 contos de ris empregados em objectos mineiros ou de agricultura nas margens do rio Doce, no podem deixar de ser mui uteis Provincia, oxal que houvesse muitos estrangeiros nas circumstancias marcadas no artigo, porque a utilidade, que delles tiramos, no pode entrar em duvida. Diz-se que no temos uma lei de sismarias; mas por isso ha de a Provincia de Minas continuar a ficar inculta em to grande parte? Repartam-se agora estas terras, que de nada nos servem, seno de nutrir selvagens e feras, e quando se tratar dessa lei se accommodar s circumstancias, imitaremos os Americanos do Norte, se se vir que a sua pratica applicavel ao nosso solo. Eu voto portanto pelo artigo.

    Foi approvado o art. 2. Art. 3. O SR. SANTOS PINTO: Eu no me

    opponho materia deste artigo, mas tenho de a uma Provincia com prejuizo de outras, porque concedendo-se sismarias em Minas e estando suspensa a concesso nas outras, sahir muita gente dellas para ir povoar Minas, por isso melhor seria generalizar esta medida a todas as Provincias. Acho tambem neste artigo que, tratando-se do rio Doce, dar-se ao Presidente de Minas ingerencia em uma Provincia que est separada da sua jurisdico, porque os sertes do rio Doce no s pertencem a Minas, como ao Espirito Santo. Mui util me parece aproveitar estes terrenos, porque elles so fertilissimos: eu sei de um homem que, de um alqueire de arroz, que ahi semeou, colheu cento e tantos: mas estou que para isto mesmo necessaria uma lei geral.

    O SR. MARQUEZ DE INHAMBUPE: Depois que passou o artigo antecedente, parece que nada mais havia a oppor a esta lei; agora que positivamente se ataca a esta lei geral, porque se d ao Governo Provincial de Minas aquillo que por uma lei geral foi denegado a todo o Brasil, como que, no sendo permittido a nenhuma Provincia a diviso das terras em

    Minas como um para vinte, sendo a extenso territorial ainda maior? Ainda se no destruio o argumento, tirado do preceito constitucional, que expressamente prohibe aos Conselhos o fazer Resolues acerca de leis geraes: nem ao menos se fez isto por meio de uma Representao! E ha de approvar-se uma Resoluo que vem em opposio ao que a Constituio determina? Eu no posso votar por isto.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Eu j no votei pelo artigo pelo principio que acaba de emittir o nobre Senador: este objecto no pode deixar de ser considerado em uma lei geral: a necessidade de povoar os sertes, no particular Provincia de Minas; todas tm a mesma necessidade, e se olharmos para a actual populao, a de Minas a mais povoada, que, dando 20 Deputados para a AssembIa Geral, muitas, e muito extensas em territorio, ha que do um ou dous. Uma medida geral a este respeito o que nos convinha e por isso eu seria de voto que a materia fosse a uma Commisso, afim de apresentar um Projecto geral applicavel a todas as Provincias, porque sem duvida urge bastante que se no conserve por mais tempo terras incultas, sem que haja uma lei que marque a maneira de as repartir por quem as possa aproveitar, seja na lavoura, seja na minerao. A lei que suspendeu a concesso de Sismarias, foi ainda da AssembIa Constituinte; considerou-se ento quanto era irregular a maneira com que at ento se concediam as Sismarias, mas aquella suspenso, que s teve por fim embaraar a continuao do mal, emquanto se no fazia a lei de Sismarias, tornou-se um mal ella mesma, porque se no fez esta lei ha dez annos; portanto preciso cuidar disto, e tendo sido encetada a questo, pode-se continuar a tratar della geralmente; e com isto no fica prejuizo Provincia de Minas, que junta com as outras, participa do beneficio geral e obtm o que agora deseja.

    O SR. MARQUEZ DE BARBACENA: Se o Conselho Geral de Minas no conseguir a

  • Sismarias, se pe uma excepo de Minas, no tendo esta singularidade alguma que torne justificavel esta excepo? Diz-se que ha muitos sertes incultos em Minas; e que comparao tm estes sertes com os de outra Provincia, onde a populao est para a de

    approvao da sua proposta, sempre lhe cabe a honra de ter concorrido para apparecer a lei geral das sismarias, que tanta falta faz ao Brasil: eu partilho a ida do nobre Senador, em que a materia seja remettida Commisso de Legislao, para apresentar um Projecto de Lei sobre a diviso de terras devolutas; mas

  • Sesso de 17 de Julho 159

    a quantia designada para obras publicas, mas sim por este motivo da complicao; em consequencia do que, cuido eu, que um nobre Senador propoz este Projecto de Resoluo como filho da Casa.

    Esta obra muito necessario acabar-se; preciso levar at baixa-mar esta ponte, que a unica que ha para embarcar generos que se exportam, e desembarcar os que se importam naquella Provincia, a qual ainda est distante do lugar a que deve chegar 50 ou 60 braas de terreno lodoso e quasi intransitavel. A quantia determinada na Lei do Oramento, no chega nem para dez braas e a Provincia tem sufficientes meios para as obras de primeira necessidade, de que carece. Necessario , pois, que, alm da quantia para as obras publicas, se vote uma particular para se acabar esta obra.

    O Projecto no fixa quantia determinada, nem isso era possivel; mas deixou ao arbitrio do Governo esse ponto; por isso que a obra pode absorver em mezes o que votar para um anno, por ser necessario trabalhar dobrado, quando a baixa-mar maior. Entendo, por consequencia que, sendo a obra necessaria pela localidade muito mais para evitar o extravio das rendas nacionaes, deve esta Augusta Camara ter em vista que esta Provincia, tendo bastantes rendas para suas despezas particulares, paga com exorbitancia em proporo de outras, para a satisfao da divida publica.

    O SR. ALBUQUERQUE: Parece-me esta discusso muito incoherente, porque o Projecto j passou em primeira discusso, em que se tratou da sua necessidade; j passou tambem em segunda, e como que agora se duvida na terceira discusso de ser o Projecto util, se isso j est decidido? O Senado j reconheceu que isto em necessario; e como se diz agora que a no ? Supponhamos que agora que occorrem essa lembrana da desnecessidade do Projecto; mas necessario seria apontar as razes que motivaram tal mudana, porque as produzidas so frivolas e de nenhum peso. Eu tambem sou de opinio de

    Alm disso, a razo por que se rejeitou o Projecto que veio do Conselho Provincial, como disse um nobre Senador, foi porque tendo vindo para a Camara dos Deputados e para a do Senado, e tendo cahido nesta, fosse porque fosse, no podia passar aqui, a que viesse da outra Camara. Voto pelo Projecto de Resoluo.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Seja como fr a causa o que se trata neste Projecto de dar-se dinheiro para se acabar essa ponte; embora tivesse elle principio por ter cahido aqui no Senado outro igual do Conselho Provincial, ou por outro qualquer motivo, no tocarei nisso, levanto-me smente para dizer que no sei qual a razo, porque tendo passado em 1 e 2 discusso um Projecto, na 3 pense o Senado que elle no conveniente. Ora, como isso est nos termos do seu regimento, pode-o fazer, porque alis se isso assim fosse teriamos um systema parlamentar terrivel, pois que, vencida a 1 discusso, necessariamente havia de passar o Projecto, por isso que se tinha julgado necessario. Os nossos votos nunca devem ser presos e emquanto ns pudermos deliberar, segundo o nosso regimento, havemos de dizer e desdizer. Portanto, este argumento creio que no deve ser um motivo para que ns forosamente admittamos o Projecto. Vamos a outros argumentos.

    Um nobre Senador mostrou a necessidade da obra; convenho nella; mas se ns temos Lei do Oramento, a qual j principiou a discutir-se na Camara dos Deputados, e vir em breve para aqui, nella que se deve fazer meno dessa despeza que se pede extraordinaria e caso no venha lembrada de l, ns aqui a lembraremos e devemos suppor que a outra Camara no deixar de approvar. Em todos os Budjets vm despezas extraordinarias e ordinarias, e se nos nossos vem sempre dinheiro para obras publicas, pergunto eu: esta obra publica ou no ? E'; ento appIique-se para ella a quantia determinada e se pequena, augmente-se. Portanto voto contra a Resoluo, porque no

  • que no venham aqui propostas para se concertarem buracos de ruas, etc., e de que se d dinheiro para as obras publicas que os Conselhos julgarem mais urgentes; mas este caso um caso differente. Portanto, tendo-se decidido que o Projecto era necessario, eu no vejo agora razo alguma para se revogar o que o Senado j decidio.

    acho razo alguma para tratarmos agora desta materia, quando podemos em outra occasio estabelecer o que preciso para esta obra, visto que todas as despezas devem vir na Lei do Oramento; ou ento seja a Resoluo adiada at vir essa lei.

    O SR. ALBUQUERQUE: O nobre Senador creio que no ouvio mais que a metade do que

  • 160 Sesso de 17 de Julho

    eu disse, e no quiz ouvir o resto. Eu disse que, tendo passado na 1 e 2 discusso, no parecia que na 3, sem novas razes, devesse ser rejeitada a mesma materia, porque no sei como sem razes se mude de parecer. Quanto ao que se disse, de que na Lei do Oramento que devem vir todas as despezas, verdade e por isso que inconveniente ha em que passe esta Resoluo, que deve ir outra Camara; e que ella pode incluir na Lei do Oramento, por isso que eIla est agora tratando deIla? Eu, como no vejo razo alguma para mudar de parecer, voto pela Resoluo.

    O SR. VERGUEIRO: Embora passe esta Resoluo, se a despeza que ella autoriza no entrar na Lei do Oramento, ella desnecessaria, e entrando na Lei do Oramento, ha de se fazer a obra sem esta Resoluo, uma vez que por aquella Lei se d o preciso dinheiro, sem o que o Presidente no far essa obra. Portanto, acho que a Resoluo inteiramente desnecessaria.

    O SR. PATRICIO: Devo dizer ao nobre Senador que necessario que haja esta Resoluo para se acabar aquella obra. Aqui tambem se votou que se fizesse o canal daquella mesma Provincia no se votou pela despeza, porque tem sido pratica formar-se a Lei para a organizao de qualquer cousa e depois fixar-se a despeza necessaria para ella.

    O SR. VERGUEIRO: O argumento do canal differente; uma empreza nova e uma despeza extraordinaria, portanto necessario era determinar-se esta despeza. Alm disso, j o povo tinha concorrido com alguma cousa para essa obra e por isso era necessario fazer-se; mas aqui trata-se de melhorar um estabelecimento, e ser necessario fazer uma Resoluo para melhorar um estabelecimento? De certo que no; porque ento teriamos de fazer um sem numero de Resolues. Eu julgo que a obra necessaria, mas vejo que no necessaria uma Resoluo anterior para que na lei do Oramento se fixe uma quantia para isso. No digo que a obra no util, mas sim que no

    REQUERIMENTO Requeiro que fique adiada at a Lei do

    Oramento. M. de Caravellas. Foi apoiada e entrou em discusso. O SR. VISCONDE DE ALCANTARA:

    Vote contra o adiamento, porque para esta despeza entrar na Lei do Oramento que preciso approvar-se quanto antes esta Resoluo. Como que a Camara dos Deputados ha de determinar na Lei do Oramento uma quantia para esta despeza, sem passar a Resoluo? Este adiamento parece uma aberta, o mesmo que dizer reprovo a Resoluo: daquelles adiamentos systematicos parlamentares que no tem agora lugar. Ns devemos apressar esta Resoluo para a Camara dos Deputados admittir esta despeza na Lei do Oramento, assim como se fez com o canal da mesma Provincia. Passou isso aqui e como na Lei do Oramento no vinha essa despeza, fizemos aqui uma emenda, dando 12 contos de ris cada anno para esse canal.

    O SR. ALBUQUERQUE: Como no ouvi dar uma razo sufficiente, por isso que no julgo que o seja a proposio do adiamento continua na mesma. O que sufficiente, que passe a Resoluo; porque o Projecto de Lei do Oramento principia na Camara dos Deputados e para nelle se determinar uma despeza preciso preceder a razo della, cuja razo pode ter principio aqui e no v todo o mundo que se no passar esta Resoluo, nenhuma razo tem a Camara dos Deputados para admittir na Lei do Oramento esta despeza? E para que que se quer que ella no passe? Para ter o gostinho de emendar a lei do Oramento, incluindo nella esta despeza; de maneira que, se vier uma Lei do Oramento que no precise de emenda alguma, sempre se ha de achar algum pretexto para satisfazer o gostinho de emendar.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Se acaso a Lei do Oramento j estivesse feita e tivesse sido sanccionada em ambas as Camaras, ento valeriam os argumentos apresentados;

  • necessaria a Resoluo. O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: O

    nobre Senador conhecer se houve razo sufficiente ou no, pelo que vou propor. (Leu) Escuso de tornar a dizer o que se tem dito.

    O nobre Senador mandou Mesa o seguinte:

    porque, sendo necessaria a obra e no tendo sido contemplada na Lei do Oramento a despeza para ella, era muito preciso que se fizesse esta Resoluo; mas se a Lei do Ora

  • Sesso de 19 de Julho 187

    dos geraes da Nao. Devemos por este lado considerar que temos uma Constituio differente para a Provincia do Rio de Janeiro em relao s outras Provincias, e isso porque lhe falta uma garantia, que sendo concedida s outras a ella foi negada.

    A ser o Poder Executivo que exera estas funces, estamos no mesmo caso que apontei da Assembla Geral; porque os seus Membros so nomeados pelo Chefe da Nao, por consequencia no sei que autoridade, ou direito tenham para representar a Provincia e serem Directores dos interesses peculiares della. Portanto, de qualquer das maneiras que se decida o no haver o Conselho Geral da Provincia onde estiver a Crte, segue-se que se tira a essa Provincia os direitos de intervir nos seus negocios, e por consequencia que est em Tutella, sendo seus Tutores os Deputados e Senadores das outras Provincias, que sem misso e conhecimentos proprios dos interesses Provinciaes decidiro e resolvero como julgarem mais conveniente, regulando-se pelos conhecimentos que tm de outras Provincias.

    Resumindo as minhas idas, direi que no pde deixar de ser admittida a reforma da Constituio na parte em que nega Conselho Geral Provincia em que estiver a Crte. Neste sentido mando emenda Mesa para se restaurar a que cahio na segunda discusso.

    O nobre Senador mandou Mesa a seguinte:

    EMENDA

    Ao paragrapho 9. O artigo 72 merece

    reforma na parte em que no concede Conselho Geral Provincia onde estiver a Crte. Salva a redaco. Barroso.

    Foi apoiada. O SR. BORGES: No pedi a palavra pela

    ordem porque o que disse o nobre Senador estivesse fra della, est muito na ordem; foi s para fazer uma observao Camara que para beneficio dos nossos trabalhos. Vem ella a ser,

    segunda discusso se discutam separadamente; porque a ser assim a discusso confundir-se-ha a materia, e teriamos uma mui longa discusso e equivoca a votao. Portanto, no me opponho emenda do nobre Senador e sendo mesmo da opinio, em que ella est de que se instaurem algumas, que cahiram na segunda discusso, digo unicamente que por ora trato da Ordem e Ordem de conveniencia para os nossos trabalhos. Occupemo-nos pois das emendas vencidas e depois trataremos das outras.

    O SR. VERGUEIRO: Eu concordo com a opinio do nobre Senador; porque ainda que nesta discusso se altere o Regimento, ser isso desculpavel, por ser um negocio da maior importancia, a que se deve dar a maior latitude e conformando-me com a sua opinio, quereria que se ajuntassem as emendas positivas que esto contempladas na emenda impressa da nova redaco, que foi apoiada.

    O SR. ALBUQUERQUE: Parece primeira vista cousa indifferente o tratar-se da materia pelo modo requerido; mas no o , porque pde haver inconveniente e podemos nos achar embaraados por no se saber quaes so as emendas que ho de ser instauradas e approvadas e talvez acontecesse depois reprovar algumas das j approvadas, o que no acontecer se prosseguirmos como na segunda discusso, porque ento podemos calcular quaes so os artigos que devem ficar ou no.

    O SR. MARQUEZ DE BARBACENA: Quando eu pedi a palavra era para justificar a emenda impressa, e propr na concluso do meu discurso o mesmo que acabam de dizer os dous nobres Senadores, que ha pouco fallaram. Esta materia da maior importancia, trata-se de nada menos que de formar em parte o nosso Codigo Fundamental; portanto preciso na sua discusso haver maior cuidado do que em nenhuma outra. J mostraram os nobres Senadores quaes seriam os inconvenientes que encontrariamos se entrassemos a discutir pelo modo ou maneira das materias em segunda discusso. Ha artigos actualmente em

  • que em lugar de nos occuparmos das emendas instauradas conjuntamente com as que j passaram na

    discusso, que j foram approvados, e vo entrar outros que foram instaurados. Quanto ao inconveniente que o nobre Senador apresenta, desvanece-se;

  • Sesso de 26 de Julho 259

  • ponder

  • Sesso de 26 de Julho 281

    deste Philosopho Stoico, que longe sempre do facto pe a sua grandeza s no merecimento pessoal; que no procura as honras e titulos, antes os despreza e constantemente os recusa, ainda com instancia offerecidos; que no sabe adular os Principes, antes lhe estranha com aspereza os seus defeitos; que abrazado no bem da sua Patria o Patriarcha da Independencia della, no querendo por premio disso nem cargos, nem conveniencias pecuniarias, contente no meio de sua honrada pobreza; que no sabe vingar-se, nem mostra resentimento da injustia, com que foi desterrado: merecendo a admirao, confiana e amizade de quem o desterrou, at o ponto de confiar s delle na sua desgraa a boa educao dos caros penhores do seu corao, de que quando delles com lagrimas se despedia, deixando-os no Paiz, que o expellio de si, educao que acceitou desinteressadamente, recusando salario algum. No fallo nas outras qualidades, das luzes e probidade do Tutor, aqui to elogiado mesmo pelos que votam a sua remoo. Ora comparemos todas estas qualidades com as vistas e com os desejos do Brazil a respeito dos caros penhores das nossas maiores esperanas.

    E dizei-me, Senhores, no verdade que o que mais ambicionamos que o nosso Imperador seja criado ao nosso modo, mais popular comnosco, e que ponha a sua grandeza no nos prestigios do Throno, mas na beneficencia e amor dos subditos, acostumando-se a desprezar os factos da realeza? Quem melhor lhe ensinar, at com o exemplo pessoal, estas virtudes? Mostrae-m'o. No queremos ns, que o nosso Augusto Imperador e sua Augusta Familia tomem por timbre de sua gloria no vingar-se dos adversarios e perseguidores do seu Pai? Qual ser o homem, que at com o seu exemplo pessoal lhes poder inculcar estas virtudes e nellas habitual-os? Mostrae-m'o? Qual ser o homem, que com seu exemplo pessoal melhor do que elle os acostumem prezar mais que tudo

    politicas na eleio e conservao de um Tutor como este, cuja nomeao tantos elogios ter merecido a toda a Europa, evidente a concluso, que ainda quando no paragrapho 3 da citada Lei fosse puramente politica a razo do removimento, nenhuma se possa considerar capaz de destruir esta.

    E qual ser esta mysteriosa conveniencia politica, que se no descobre? A inimizade, odio ou ainda mesmo o capricho do Governo, o qual diz: que ou de vel-o demittido ou demittir-se elle Governo a si proprio. Pde caber em razo, que esta politica de satisfazer inimizades e caprichos, prevalea nesta Augusta Camara, a despeito das outras razes politicas, que ficam apontadas e que esta Augusta Camara aos olhos do Imperio inteiro e aos de toda a Europa se cubra do vergonhoso labo de demittir sem prova de crime, ou de alcance o homem, que melhor pde desempenhar as maiores esperanas do Brazil, com a maior ingratido remover da Tutela o homem a quem a sua Patria deve os maiores beneficios, agora retribuidos com infamia inseparavel da remoo? E haver razo mais despotica e mais inconstitucional que esta; ainda que no houvessem as citadas razes politicas para se prezar um tal Tutor, longe de removel-o? Ninguem me negar. Considere-se a Constituio mais despotica: em Argel, em Constantinopla, onde mais escravido opprime os Cidados, seria odiosissimo, quanto mais em um Paiz Constitucional. Voto portanto pela desapprovao de to iniquo, impolitico, inconstitucional e monstruoso removimento.

    O SR. MARQUEZ DE CARAVELLAS: Sr. Presidente, com grande dr do meu corao tenho visto a discusso sahir da linha, que se lhe havia traado, para no nos occupar-mos em conjecturas que nos no podem conduzir a uma acertada deliberao. Desenvolvem-se as inculpaes feitas ao illustre Tutor de Sua Majestade Imperial pelo Ministro da Justia, quando deviamos dirigir as nossas vistas unicamente para o interesse publico; este o resultado de serem rejeitados o Parecer da

  • a liberdade e Independencia geral de sua Patria, do que aquelle, que foi o Patriarcha desta Independencia sempre constante nestes heroicos sentimentos? Mostrae-m'o. Se pois estas so as vistas e os maiores desejos do Brazil e por conseguinte a maior das razes

    Commisso do Senado que propunha ser ouvido o Tutor e o voto separado do meu nobre collega na Commisso; desprezados estes forosamente vem

  • 282 Sesso de 26 de Julho

    substituir-lhes o Parecer das duas Commisses reunidas da Camara dos Srs. Deputados e ento difficil no se apresentarem as arguies do Ministro da Justia, visto que a ellas se referio este Parecer: se o nobre Tutor respondesse estou certo que elle destruiria todas essas mal fundadas suspeitas, pois todas ellas no passam de meros indicios, que absolutamente se desvanecem com argumentos ainda mesmo deduzidos da possibilidade em contrario. Muito respeito aos nobres Membros das Commisses de que tratamos, mas no posso deixar de exprimir a maior extranheza de que elles se servissem de uma accusao, que nenhum peso merecia para fundamentar o seu parecer e de que sobre ella versasse toda a discusso naquella Augusta Camara. Se o Tutor suspeito, porque a Imperial Quinta, como se assevera, servio de Quartel-General dos conspiradores, e porque entre estes se contaram muitos criados do Pao, que o Tutor governava: num