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Análise de Fibra Alimentar
Prof. Eduardo Purgatto
Depto. de Alimentos e Nutrição Experimental FCF –
USP
Curso de Graduação
Disciplina de Bromatologia Básica
2004
Análise de Fibra Alimentar
IntroduçãoOcorrênciaComponentes químicosDefiniçõesMétodos de Análise
Introdução
Hipocrates a 500 a.C. dietas com elevado conteúdo de fibra efeito laxativo benéficoFinal do século XIX e início XX processamento de alimentos fibras eram descartadasHoje em dia fibra interfere no funcionamento do sistema digestivo inclusive no IGHipsley (1953) propôs o termo “dietary fibre” (fibra da dieta ou alimentar).Cleave (1956) doenças do homem moderno ingestão de alimentos com baixo conteúdo de fibra Burkitt, Walker e Trowell (anos 70) estudos epidemiológicos e clínicos relação quantidade de fibra na dieta x doenças do homem moderno
Introdução (continuação)
A fibra alimentar da dieta pode:Controlar a motilidade gastrintestinalInterferir no metabolismo da glicose e dos lipídeosModular a atividade metabólica das bactérias intestinaisInfluenciar na concentração de componentes tóxicos no lúmen do cólonContribuir na manutenção do equilíbrio do ecossistema do intestino grossoContribuir para a integridade da mucosa intestinal
Existem porém ainda muitas controvérsias em relação a:definição componentes químicosmétodos de análisenecessidades diárias de ingestão efeitos fisiológicos rotulagem de alimentos processados
Introdução (continuação)
A fibra alimentar (FA) não é
uma única substância,
mas ela é
composta, principalmente, de polissaca-
rídeos
interligados entre si formando uma rede
tridimensional e com a presença de outras substâncias como proteínas de parede celular, lignina, compostos fenólicos, fitatos, oxalatos e outros
Ocorrência
Parede celularLamela médiaSecreções produzidas por injúriasTecidos de reservaTecidos que evitam a perda de água
Parede celular (esquematizada)
Parede celular (esquematizada)
Polissacarídeos da parede celular
Pectinas (verde) e Lignina (vermelho)
Microfibrilas de celulose
Tabela 1a -
Fontes de fibras dos alimentos e seus principais componentes químicos
Tipos de Fibras Fontes Usuais Principais MonossacarídeosCelulose Vários farelos, vegetais e está
presente em todas as plantas comestíveis
Glc
β-glicanos Grãos (aveia, cevada e centeio) GlcHemicelulose Grãos de cereais e em uma boa parte das
plantas comestíveisXil, Man, Glc, Fuc, Ara, Gal,Agal, Aglc
Pectinas Frutas (maçã, limão, laranjas, pomelo), vegetais, legumes e batata
Ara, Gal, AGal, Fuc, Ram
Frutanos* Alcachofra, cevada, centeio, raiz de chicória, cebola, banana, alho, aspargo
Fru, Glc
Amido resistente (AR) Bananas verdes, batata (cozida/ resfriada), produtos de amido processado
Glc
Quitina (quitosanas) Fungos, leveduras, exoesqueleto de camarão, lagosta e caranguejo
Glc-amina, Gal-amina
Rafinose, estaquiose
e verbascose Cereais, legumes e tubérculos Gal, Glc, FruLignina Plantas maduras Alcool
sinapílico, coniferílico, p-cumarílicoAgar Algas marinhas vermelhas Gal, Gal-anidro
, Xil, SO4Carragenanas Algas marinhas vermelhas Gal, Gal-anidro, SO4Ácido algínico Algas marinhas marrons AGlc, AMan-anidroGoma karaya Exsudatos
de plantas Fuc, Gal, AGal, RamGoma tragacante Exsudatos
de plantas Xil, Gal, AGal, Ram, AraGoma arábica Exsudatos
de plantas Gal, Ara, Ram, AGlcGoma locuste Sementes de plantas Gal, ManGoma guar Sementes de plantas Gal, ManGoma
psyllium Sementes de plantas Ara, Gal, AGal, Ram, XilGomas xantanas Microrganismos Glc, AGlc, Man
AGal=ácido galacturônico, AGlc=ácido glicurônico, AMan=ácido manurônico, Ara=arabinose, Fuc=fucose, Gal=galactose, Glc=glicose,
Man=manose, Ram=ramnose, Xil=xilose
*
Inulina
e frutooligossacarídeos
(FOS)
Tabela 1b-
Fontes de Fibra Alimentar Produzidas Industrialmente
Tipos de Fibras Obenção dos Produtos Principais MonossacarídeosFOS (Frutooligosssacarídeos Síntese enzimática a partir da Sacarose
Hidrólise enzimática da inulina
da raiz do almeirão
Fru, Glc
Trans-Galactooligossacarídeos Síntese enzimática a partir da lactose Gal, GlcGoma de Guar
Modificada (PHGG)
Hidrólise enzimática dos galactomananos
da goma de guar Gal, Man
Polidextrose
(PDX) Polimerização da glicose a quente na presença de vácuo, sorbitol
e ácido cítrico Glc
Maltodextrina
Resistente (MDR)
Hidrólise ácida do amido de milho seguida de hidrólise enzimática
Glc
Fru=frutose, Gal=galactose, Glc=glicose, Gal=galactose, Man=manose
Características Estruturais de Cadeias de Celulose
β-glicanos
Hemiceluloses: Xiloglicanos
Hemiceluloses: Arabinoxilanos
Pectinas (1)
A
AA
B
Pectinas (2)
A
B
Ligninas
Conceito Fisiológico
Compostos não digeridos pelas enzimasdigestivas de humanos
Polissacarídeos
CeluloseHemiceluloseβ-GlicanosSubstâncias Pécticas
Lignina
Outros compostos
Outros Compostos
ProteínasCompostos inorgânicosOxalatosFitatosSubstâncias fenólicasCarboidratosEx: lactulose, lactose e rafinoseProdutos formados durante processamentoEx: compostos de Maillard e amido retrogradadoAditivos alimentaresEx: amido modificado e metilceluloseInulina e oligofrutoseQuitosanas
Molécula de Inulina
Molécula de Quitina
Conceito Químico
Polissacarídeos
Lignina
CeluloseHemiceluloseβ-GlicanosSubstâncias Pécticas
Em alguns casos
Classificação
Solubilidade na água / Função na célula
Insolúvel / Estruturalcelulosehemicelulosepectinaslignina
Solúvel / Não estruturalpectinasβ-glicanosgomasmucilagensexsudatoshemiceluloses solúveis
Definições
American Association of Cereal Chemists (AACC) – 2000 “a fibra alimentar é a parte comestível das plantas ou carboidratos análogos que são resistentes àdigestão e absorção no intestino delgado de humanos com fermentação completa ou parcial no intestino grosso. A fibra alimentar inclui polissacarídeos, oligossacarídeos, lignina, e substâncias associadas àplanta. A fibra alimentar promove efeitos fisiológicos benéficos, incluindo laxação, e/ou atenuação do colesterol do sangue e/ou atenuação da glicose do sangue”
Definições (continuação)
FA Alimentos Funcionais interfere em uma ou mais funções do corpo “um alimento pode ser considerado funcional se for demonstrado de maneira satisfatória que possa agir de forma benéfica em um ou mais funções do corpo, além de se adequar ànutrição, de certo modo melhorando a saúde e o bem-estar, ou reduzindo o risco de doenças” (Roberfroid, 2000)
Definições (continuação)
Alguns componentes da FA estimulam o crescimento de bactérias benéficas Prebióticos (bifidobactériase lactobacilos) “são ingredientes alimentares que não são digeridos e que afetam de maneira benéfica o hospedeiro por estimular seletivamente o crescimento e/ou a atividade de uma ou de um número limitado de bactérias do colón”
Métodos Analíticos para Determinar a Fibra Alimentar
GravimétricosEnzímico-gravimétricosEnzímico-químicos
Enzímico-químicos por espectrofotometriaEnzímico-químicos pro cromatografia a gás (CG)Enzímico-químicos por cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)
Gravimétricos
Fibra bruta (FB)Fibra detergente neutro (NDF) e ácido (ADF)Fibra detergente neutro modificado (NDF-M)
Fibra Bruta
Extração a quente com:H2SO4 (1,25%)NaOH (1,25%)
FiltraçãoDeterminação
Pesagem dos resíduos insolúveis
Limitações: Perda de 20 a 50% de celuloses
50 a 90% de lignina100 % de pectinas±
75% de hemicelulose
Detergente Ácido (ADF) e Detergente Neutro (NDF e NDF-M)
(Van Soest modificado)
Extração a quente com soluções detergentesTratamento com α-amilase / TermamylFiltraçãoDeterminação
Pesagem dos resíduos insolúveis
Analisa:Celulose, hemicelulose insolúvel e lignina → NDFCelulose e lignina → ADF
Limitações:Não determina → Fibras solúveisPerde uma parte da hemicelulose insolúvelNão solubiliza a proteína totalmente (Ex: isolado de soja)Amido não é totalmente removido mesmo na presença de enzimas (Ex: Leguminosas)
Enzímico-gravimétrico (Hellendoorn, Asp, Prosky, Schweizer
e Lee)
Hidrólise do amido e da proteína com enzimas (puras)Precipitação fibra solúvelSeparação das fibras por filtração ou diáliseDeterminação
Pesagem dos resíduos insolúveis (estufa a 105 oC)Determinação das cinzas (525 oC) e proteína (Nx6,25)
Analisa:Fibra totalFibra solúvelFibra insolúvel
Utilizados:Tabelas de composição de alimentosRotulagem de alimentos
Determinação da fibra alimentar pelos métodos enzímico-
gravimétricos (AOAC* e AACC)
50 mL Tampão Fosfato0,08 M / pH 6,0
α-amilase termoestável95-100 oC / 15 min
40 mLTampão MES−TRIS
0,05 M / pH 8,2
Amostra (1g)(Lípides < 10%)
10 mLNaOH 0,275 N
ProteasepH 7,5 / 60 oC
30 min
10 mL H2O(sem ajustar o pH)
10 mLHCl 0,325 N
AmiloglicosidasepH 4,5 /60 oC
30 min
5 mLHCl 0,561 N
AOAC 985.29 ou AACC 32-05Prosky, L. et al., 1988
AOAC 991.43 ou AACC 32-07Lee et al., 1992
A
*Association
of Official
Analytical
Chemists
Determinação da fibra alimentar pelos métodos enzímico-
gravimétricos (AOAC e AACC) (continuação)
Filtrar
Filtrado
Etanol 78%
Resíduo
Etanol 78%
Filtrar
Cinzas e Proteína(Descontar)
FAI
Resíduo
Cinzas e Proteína(Descontar)
FAS
Resíduo
Cinzas e Proteína(Descontar)
FAT
Pesar PesarPesar
Filtrar
A
Método enzímico-gravimétrico (Fonte de Erros)
Preparo da amostraAmido resistenteProteína residualPrecipitação com etanolCorreção de mineraisFiltração e auxiliar de filtraçãoEnzimas
Preparo da amostra
Tamanho de partículas0,3 a 0,5 mm< 1,0 mmTempo de incubação
LípidesExtração com solventes (5 a 10%)HomogeneizaçãoAção das enzimasExtração final com etanol e acetona
Amido Resistente
Tipo 1: Fisicamente ligado à matriz dos alimentosTipo 2: Nativo presente nos alimentos crusTipo 3: Formado nos alimentos processados – Amido RetrogradadoTipo 4: Quimicamente modificado
Amido Resistente
Não há solubilização total e hidrólise do ARA gelatinização do amido a quente na presença de enzima evita a formação de AR
Proteína Residual
Não há remoção completa da proteínaO fator de conversão (Nx6,25) é arbitrário.Ex: Concentrados e isolados de soja e a quitina(aminopolissacarídeos) de camarões
Alimentos de origem animalProteína no resíduo
Precipitação com Etanol a 80%
Não há precipitação de:Polímeros de GP abaixo de 10 unidadesEx: Inulina e oligofrutosePolímeros altamente ramificados. Ex: beterraba
Cooprecipitação de reagentesEx: Tampão fosfatoCooprecipitação de ácidos orgânicosEx: Ácidos oxálico, cítrico e fítico
Correção de minerais
Minerais presentes nos alimentos associados a fração fibraMinerais presentes no ácido fítico, oxálico e cítrico Minerais provenientes dos reagentes
Filtração e auxiliar de filtração
Amostras viscosas (1,0 a 0,25 g)Celite 545 AW*
Filtração mais rápidaPerdas na filtração
Celite CAFA * *
Perdas mínimasFiltração mais lenta
Lã de vidroMelhora a filtraçãoPerdas mínimasDiferenças conforme a marca
*
AW= lavado com ácido**
CAFA = Celite
analytical
filter
aid
Enzimas
Taninos reagem com enzimasEx: Taninos x proteínasTermamyl não degrada a FA
Atua na temperatura de ebulição
Amiloglicosidases comerciaisPresença de β-glicanases e xilanases
Métodos enzímico-químicos (Southgate, Uppsala
e Englyst)
Separação dos componentes da fibraHidrólise dos polímerosDeterminação
EspectrofotometriaCromatografia (GC ou HPLC)
NSP (non-starch
polysaccharides) = polissacarídeosdiferentes de amido (Englyst
et al., 1987)
Método de Southgate (Método Espectrofométrico)
Amostra
⇐ éter
Metano ou acetona Açucares simples
Amiloglicolidase Amido glicose
H2 O quente Pectinas e hemicelulose solúveis em H2 O (hexoses, pentoses e ác. úrônicos)
H2 SO4 1 N Hemicelulose insolúveis em H2 O
H2 SO4 72% Celulose Glicose com traços de outros açucares
Resíduo Lignina
Método Uppsala (Theander e col., 1990)
250 a 500 mg(lipídeos < 5%)
Remoção do amidoTermamyl
1 h/ BM ebuliçãoTampão acetato 0,05 M/pH 5,0
Amiloglicolidase16h/ 60 oC
Precipitação da fibra solúvelEtanol 80%
1h/ 4 oC
⊗
⊗
H2 SO4 12,0 M (1 h/ 30 oC)H2 SO4 0,4 M (1h/ 125 oC)
Açucares neutrosAcetato de alditol*
CG
Ácidos urônicosDimetilfenol
Espectrofotometria
Lignina de KlasonGravimetria
* Redução: Boridreto
de sódio. Acetilação: 1 metilimidazol
/ anidrido acético
Método de Englyst (Englyst e Cumming 1990)
50 a 300 mg
Remoção do amidoDMSO
30min/ BM ebuliçãoTermamyl
10 min / BM ebuliçãoPancreatina e Pullulanase
Tampão acetato 0,08 M/pH 5,230min / 50 oC + 10min / BM ebulição
Precipitação fibra solúvel*Etanol 80%
30min / banho de gelo
⊗
⊗
H2 SO4 12 M (1h/ 35 oC)H2 SO4 2 M (1h/ 100 oC)
Açucares neutrosAcetato de alditol
CG
Ácidos urônicos3,5-dimetilfenol
Espectrofotometria
Lignina(não é
determinada)
* Para analisar só
fibra insolúvel substituir essa etapa por 100 oC/ 30min/ pH 7,0
FAS=FAT-FAI
AOAC x Uppsala
x Englyst
AOAC e UppsalaPolissacarídeos diferentes de amido (NSP)Amido resistente (parte)Lignina
EnglystPolissacarídeos diferentes de amido (NSP)
Fibra dos alimentos em diferentes sistemas analíticos (% base seca)
AlimentoMétodos analíticos
Fibra bruta NDF Fibra AlimentarTrigo integral 2,9 8,5 11,8
Farinha de centeio integral 2,2 23,0Batata inglesa 1,9 10,8 11,0
Farinha de mandioca 2,0 6,3Feijão carioca 4,9 19,3
Alface 13,7 14,1 33,1Couve 6,9 16,0 32,6
Couve-flor 9,4 14,0 27,0Repolho 11,6 12,1 27,2Tomate 9,7 17,6 22,1Pepino 8,7 16,0 28,5
Beterraba 8,2 8,8 15,9Cebola 6,7 4,9 15,5
Cenoura 8,5 10,1 23,9Maçã 4,4 16,5 13,8
Método enzímico-gravimétricoMétodo de Englyst
(NSP)