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Érico Eleutério da LuzJosé Luís de Castro Neto

Renata Sena Gomes Sérgio

Análise de Risco e Crédito

IESDE BRASIL S/ACuritiba

2013

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© 2009 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autori-zação por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ __________________________________________________________________________________L994a

Luz, Érico Eleutério da Análise de risco e crédito / Érico Eleutério da Luz, José Luís de Castro Neto, Renata Sena Gomes Sérgio - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL S/A, 2013. 204p. il. ; 24 cm.

Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-3693-6

1. Administração de crédito. 2. Avaliação de riscos. 3. Finanças. I. Neto, José Luís de Castro. II. Sérgio, Renata Sena Gomes. III. Inteligência Educacional e Sistemas de Ensino. IV. Título.

13-01942 CDD: 658.88 CDU: 658.15__________________________________________________________________________________10/06/2013 10/06/2013

Capa: IESDE BRASIL S/A

Imagem da capa: Shutterstock

IESDE BRASIL S/AAl. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

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José Luís de Castro Neto

Doutor em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo (USP), com formação complementar na University Of Illinois at Urbana Champaign, UIUC, Estados Unidos. Mestre em Controladoria e Contabilidade pela USP. Graduado em Ciên cias Contábeis pelo Centro Uni�cado de Brasília (CEUB), em Brasília. Atualmente é professor assistente graduado da Faculdade Trevisan Ltda, e professor assistente as-sociado da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Tem experiência na área de Conta-bilidade, com ênfase em Contabilidade Internacional, atuando principalmente nos se-guintes temas: convergência as normas contábeis internacionais, diferenças culturais na prática da contabilidade, governança corporativa, evidenciação contábil e negócios internacionais.

Renata Sena Gomes Sérgio

Mestre em Ciências Contábeis com ênfase em Gestão Empresarial pela Fundação Visconde de Cairu (FVC). Especialista em Contabilidade Gerencial pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Especialista em Controladoria pela FVC. Bacharel em Ciên-cias Contábeis pela FVC. Atualmente é coordenadora pedagógica do curso de Ciências Contábeis na União Metropolitana de Ensino (Unime). Tem experiência na área de Ciên-cias Contábeis, atuando principalmente nos seguintes temas: contabilidade �nanceira, gerencial, tributária, hospitalar, estratégias competitivas e microempresas.

Érico Eleutério da Luz

Mestre em Contabilidade e Controladoria pela Universidade Norte do Paraná (Unopar). Especialista em Auditoria pela Faculdade de Administração e Economia (FAE). Especialista em Finanças pela FAE. Bacharel em Ciências Contábeis pela Funda-ção de Estudos Sociais do Paraná (FESP). Bacharel em Direito pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Leciona disciplinas relacionadas a �nanças e direito em cursos de gra-duação e pós-graduação, nas modalidades presencial e a distância em diversas insti-tuições. Trabalha como consultor na área contábil e jurídica.

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SumárioIntermediação �nanceira ...................................................................................13

Introdução ..................................................................................................................................................13Moeda ..........................................................................................................................................................14Intermediários �nanceiros ....................................................................................................................14Sistema Financeiro Nacional (SFN).....................................................................................................16Conceito e relevância do crédito ........................................................................................................20Introdução ao risco de crédito.............................................................................................................21

Os “4 Cs do crédito” (Caráter; Capacidade; Capital; Condições) ............31

Introdução ..................................................................................................................................................31Caráter ..........................................................................................................................................................32Capacidade .................................................................................................................................................33Capital ..........................................................................................................................................................36Condições ...................................................................................................................................................38Considerações �nais ................................................................................................................................42

Garantias ..................................................................................................................49

Introdução ..................................................................................................................................................49Formalização ..............................................................................................................................................52Garantias pessoais ...................................................................................................................................53Garantias reais ...........................................................................................................................................57Conclusão ....................................................................................................................................................61

Risco e crédito ........................................................................................................69

Introdução ..................................................................................................................................................69Conceito e classi�cação .........................................................................................................................70Diversi�cação de riscos ..........................................................................................................................75Rating ............................................................................................................................................................78Conclusão ....................................................................................................................................................79

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Análise de crédito .................................................................................................89

Introdução e conceitos ...........................................................................................................................89Análise subjetiva .......................................................................................................................................89Análise econômico-�nanceira .............................................................................................................92Conclusão ...................................................................................................................................................97

Análise das Demonstrações Contábeis e Financeiras I .........................103

Introdução ................................................................................................................................................103Relatórios contábeis ..............................................................................................................................104

Análise das Demonstrações Contábeis e Financeiras II ........................119

Demonstração do �uxo de caixa (DFC) .........................................................................................119Demonstração do Valor Adicionado (DVA) ..................................................................................122Auditoria ....................................................................................................................................................123Notas explicativas ..................................................................................................................................125Análise vertical e horizontal ..............................................................................................................126Escolha de indicadores ........................................................................................................................130

Análise do Capital de Giro ...............................................................................147

Estrutura e formação do Capital de Giro ........................................................................................147Prazos médios ..........................................................................................................................................155

Controle e qualidade do crédito ...................................................................165

Introdução ................................................................................................................................................165Monitoramento do crédito .................................................................................................................165Deterioração dos créditos concedidos ...........................................................................................166Causas de créditos problemáticos ...................................................................................................167Meios legais para recuperação de crédito ....................................................................................172Conclusão ..................................................................................................................................................176

Processo de cobrança .......................................................................................185

Introdução ................................................................................................................................................185Alertas de risco ........................................................................................................................................186

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Medidas preventivas .............................................................................................................................187O processo de cobrança ......................................................................................................................187Renegociação ..........................................................................................................................................188Recuperação judicial .............................................................................................................................190Recuperação extrajudicial ...................................................................................................................191Falência ......................................................................................................................................................192Conclusão ..................................................................................................................................................195

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Apresentação

A disciplina “Análise de Risco de Crédito” tem o escopo de fornecer informações básicas e essenciais sobre as atividades de análise do risco de crédito feitas pelas instituições �nanceiras para seus clientes. Para isso, este livro está estruturado em 10 capítulos, organizados de forma sequencial e lógica para que o aluno tenha bom aproveitamento.

O capítulo 1 fala sobre a intermediação �nanceira mostra o cotidiano das instituições que manipulam e in-termediam o papel-moeda, a moeda metálica e os títulos �nanceiros e de crédito.

O assunto do capítulo 2 é os “4 (quatro) Cs do crédito”. Este capítulo pretende fornecer condições para a identi-�cação de alguns critérios subjetivos e �nanceiros, geral-mente adotados pelas instituições �nanceiras, na análise do eventual tomador de empréstimos. O que se preten-de destacar são os diferentes critérios que são aplicados às propostas de negócio pelos gerentes das instituições �nanceiras.

O capítulo 3 trata das garantias. Esse capítulo mostra que todo estabelecimento que concede crédito ao consu-midor exige uma garantia do seu cliente, como forma de minimizar o risco do não recebimento do valor empres-tado. As instituições �nanceiras que concedem crédito a seus clientes exigem, igualmente, uma garantia para fazer face ao risco da operação. Caso o devedor não pague a obrigação, a instituição tem, na execução da garantia, um ressarcimento de parte ou do total do valor emprestado.

O capítulo 4, sobre risco de crédito, explica que o conceito do risco está relacionado à possibilidade de perigo de não se receber o valor emprestado. No mundo

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empresarial, mais especi�camente em relação ao risco de crédito, o conceito está relacionado às incertezas e às pos-sibilidades de perda em determinadas operações.

O capítulo 5, “Análise de crédito”, compreende a apli-cação de técnicas subjetivas, �nanceiras e se refere às medidas estatísticas comumente utilizadas para avaliar a capacidade de pagamento do tomador de recursos, que é o proponente ao crédito. Neste capítulo são abordados alguns critérios subjetivos, �nanceiros e estatísticos geral-mente adotados pelas instituições �nanceiras na análise de crédito.

O capítulo 6, “Análise das demonstrações contábeis e �nanceiras I”, mostra as demonstrações contábeis que são instrumentos comumente usados pelos analistas de crédito para investigar a saúde �nanceira das empresas. Neste capítulo são apresentados o conceito, �nalidade e estrutura dos Relatórios Contábeis, em destaque o Balan-ço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, Demonstração de Lucros e Prejuízos Acumulados e a De-monstração das Mutações do Patrimônio Líquido.

O capítulo 7, “Análise das demonstrações contábeis e �nanceiras II”, traz os conceitos, �nalidade e estrutura dos demais relatórios contábeis, como a DFC, DVA, Rela-tórios de Auditoria e as Nota Explicativas. Estuda, ainda, a análise econômico-�nanceira, através das análises ver-tical, horizontal e por meio de índices aplicados sobre as demonstrações contábeis. A partir dessas demonstrações é possível obter informações relevantes sobre o negócio e se há algum indício de risco nas operações contratadas pela empresa.

O capítulo 8, “Análise do capital de giro”, estuda seu principal objetivo, que é avaliar a capacidade da empresa em honrar os compromissos de curto prazo. Para tanto, o cálculo dos índices de liquidez não são su�cientes “para ava-liar a capacidade da empresa de pagar seus compromissos

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imediatos”. Portanto, os analistas recorrem a outras técnicas para obter informações e, assim, ter uma visão mais precisa sobre a liquidez da empresa e sua estrutura de capital.

O capítulo 9, “Controle e qualidade do crédito”, mostra que as empresas necessitam de recursos para atenderem às suas necessidades de investimento e suprimento de ca-pital de giro. Cabe às instituições �nanceiras �nanciar esses recursos, desde que as empresas atendam às exigências normativas dos bancos. O crédito aparece para avaliar o risco e apoiar na decisão e formalização da operação.

E por último, o capítulo 10, “Processo de cobran-ça”, mostra como ele deve ser precedido por ações que deixem a cobrança judicial para último caso, devido à len-tidão burocrática excessiva que costuma acompanhar os processos. Devem as instituições responderem aos alertas de risco de inadimplência do devedor com ações �rmes, mas cordatas, rumo à renegociação para reaver o montan-te emprestado.

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Intermediação �nanceira

IntroduçãoNo cotidiano de nossas vidas, necessitamos de instituições que nos ajudem a manipu-

lar e a intermediar o papel-moeda, a moeda metálica e os títulos �nanceiros e de crédito.

Existem tipos de entidades que servem como intermediários �nanceiros, colo-cando-se entre nós e o dinheiro. Essas entidades são úteis na Economia, pois fazem circular a riqueza.

Para Silva (2000, p. 26), a satisfação das necessidades fundamentais como alimen-tação, saúde, habitação e segurança é facilitada pelos serviços �nanceiros, e eles são proporcionados pelos intermediários que são os bancos e outras entidades que fazem parte do Sistema Financeiro Nacional.

Fortuna (1999, p. 12) faz uma conceituação abrangente para o sistema �nanceiro: “con-junto de instituições que se dedica, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção de um �uxo de recursos entre poupadores e investidores”.

A atividade principal das instituições �nanceiras é a intermediação de recursos, pois é ela que viabiliza a captação de recursos de seus clientes, do mercado �nanceiro e de capitais, repassando-os, posteriormente, sob a forma de empréstimos, na expec-tativa de auferirem ganhos.

“Banco” é umas das instituições �nanceiras componentes do Sistema Financeiro Nacional (SFN), organizada para intermediar recursos. Esses são expressos principal-mente sob forma de moeda e títulos, sendo a moeda o facilitador de trocas entre os agentes econômicos.

Quando se pensa em moeda, imagina-se, logo, que o dinheiro seja em moeda- -papel (nota simples) ou em moedas metálicas (frações de papel-moeda), mas quando fazemos depósitos em dinheiro na nossa conta em determinado banco, tais recursos nos habilitam a emitir cheques para pagar compras diversas, nessa situação, tais che-ques desempenham a mesma função do dinheiro. Assim, por uma questão de lógica, devemos incluir no conceito de moeda os depósitos à vista. Segundo a teoria econô-mica existem outros conceitos de moeda, mas não serão abordados neste curso.

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MoedaA moeda é um bem de aceitação geral que tem várias funções, sendo as principais

de servir de intermediário de trocas, medida de valor e reserva de valor.

Como intermediária de trocas, a moeda superou a economia do escambo (simples troca, sem moeda) e passou, então, a ser utilizada para troca entre as pessoas, repre-sentando bens e mercadorias. Na fase do escambo e na ausência de moeda, os povos trocavam bens entre si, avaliando cada um pelo valor relativo que eles apresentavam para as partes.

Como medida de valor, a moeda serve como padrão de medida. Assim, todos os bens e serviços que são avaliados por ela serve de denominador comum de preços.

Como reserva de valor, a moeda constitui-se em reservatório de poder e de compra. Em diversos povos, a quantidade menor ou maior de moeda confere ao seu titular de-terminada posição na sociedade. No entanto, existem outros ativos que também de-sempenham o papel de reserva de valor como: ouro, diamantes, terras etc.

Intermediários �nanceirosO mercado �nanceiro pode ser classi�cado como elemento dinâmico no processo

de crescimento econômico. Ele também é o responsável pelo controle das taxas de poupança e investimento.

O mercado �nanceiro opera através dos intermediários �nanceiros e agentes eco-nômicos. Os intermediários �nanceiros são instituições �nanceiras, como os bancos, que negociam a moeda, emprestando-a ou tomando-a emprestado. São autorizados a emitir títulos contra si mesmos para obterem recursos (moeda) junto aos agentes econômicos (SILVA, 2000, p. 31).

O intermediário �nanceiro aproxima-se dos ofertadores e tomadores de recursos, cobrando spreads e taxas de prestação de serviço. De�nição corrente de mercado in-forma que spread é a

[...] diferença entre a taxa média de juros que os bancos pagam ao captar recursos e aquela que recebem ao aplicá-los - seja emprestando ao governo ou ao setor privado (pessoas físicas e jurídicas). No entanto, o Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) considera nos cálculos do “spread” total também as taxas de serviços cobradas pelas instituições �nanceiras. (BALBI, 2006)

Os ofertadores de recursos são os agentes econômicos que acumularam poupan-ça, apresentando situação orçamentária de excesso de recursos.

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Intermediação �nanceira

Os tomadores de recursos são os agentes econômicos que necessitam de volume determinado de moeda para realizar objetivo de interesse próprio, quer seja saldando dívidas, ou realizando investimentos lucrativos.

Custo da intermediação �nanceiraUm aspecto relevante quando se trata de intermediação �nanceira é o custo

dessa atividade. Ela está diretamente ligada à taxa de juros praticada pela instituição �nanceira e balizada pelo Banco Central.

As instituições �nanceiras e o mercado criaram mecanismo através do qual os recursos �uem entre poupadores e investidores. O nível do �uxo desses fundos pode afetar signi�cativamente o crescimento econômico do país. A taxa de juros atua como um regulador que controla o �uxo de recursos entre poupadores e investidores. Sobre o assunto, Gitman pondera:

“[...] quanto mais baixas as taxas de juros, maior será o �uxo de fundos e, consequentemente, maior será o crescimento econômico; quanto mais altas as taxas de juros, menor será o �uxo de fundos e menor será o crescimento econômico”. (GITMAN, 2004, p. 41)

Segundo o mesmo autor, a taxa de juros é a compensação paga pelo tomador dos fundos ao credor; do ponto de vista do tomador de fundos, é o custo de tomar emprestado os recursos.

A taxa de juros (ou preço do capital emprestado) está baseada na escassez dos bens e destina-se, também, a remunerar o emprestador pelo risco assumido no caso de não receber as parcelas do empréstimo concedido na data acordada.

A taxa de juros ou o retorno requerido representa o custo do dinheiro que é o alu-guel que um tomador de recursos deve pagar a um fornecedor pelo uso dos recursos no prazo acordado. Assim, podemos dizer que:

Quando os fundos são emprestados, o custo de tomar os fundos é a taxa de juros;

Quando os fundos são obtidos através da venda de um direito de propriedade – como na vendas de ações – o custo do emissor é normalmente chamado de retorno requerido, o qual re�ete o nível de retorno esperado pelo fornecedor de fundos.

Outra conceituação atribuída ao juro é dada por Assaf Neto (2008, p. 98) “para quem o juro é a remuneração que o tomador (captador) de um empréstimo paga a um doador (aplicador) de recursos”.

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A taxa de juros está ligada às operações de intermediação �nanceira por repre-sentar o preço de troca dos ativos disponíveis em diferentes momentos ou períodos de tempo. Ela também re�ete o preço pago pelo sacrifício de poupar, ou seja, é a remune-ração de um agente econômico ao decidir postergar o próprio consumo, transferindo seus recursos a outro agente.

Sistema Financeiro Nacional (SFN)O Sistema Financeiro Nacional (SFN) é formado por “um conjunto de instrumen-

tos e instituições que funcionam como meio para realização da intermediação �nan-ceira [...]” (SILVA, 2000, p. 42).

Aproximando os agentes superavitários – ofertadores de recursos – dos agentes de�citários – tomadores de recursos –, o SFN viabiliza a realização dos objetivos de ambos os grupos, fazendo com que contribuam para a circulação da riqueza no país.

As entidades que formam o SFN podem ser subdivididas em dois subsistemas: a) Normativo; e b) Operativo.

O subsistema normativo é responsável pela normatização e controle das insti-tuições que operam no mercado. É formado pelo Conselho Monetário Nacional, Banco Central do Brasil, Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e pela Comissão de Valores Mobiliários (SILVA, 2000, p. 42). Essas instituições encontram-se descritas abaixo:

Conselho Monetário Nacional (CMN) – órgão responsável pela �xação de diretrizes das políticas monetária, creditícia e cambial do país.

Banco Central do Brasil (BACEN) – órgão encarregado de fazer cumprir as disposições que regulam o funcionamento do SFN e as normas expedidas pelo CMN. Outra função do Banco Central é a de controlar a oferta de dinheiro no mercado.

Se o BACEN deseja estimular a economia, ele aumenta a oferta de dinheiro. Uma forma de fazer isso é reduzindo a taxa de juros. No entanto, a grande oferta de dinheiro pode levar a um aumento da taxa de in�ação, cabendo ao próprio BACEN servir de balizador nesse processo.

Além do CMN e do BACEN existem as autoridades de apoio ao SFN, que são:

Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – o órgão normativo do Sistema Financeiro Nacional, especi�camente voltado para o desenvolvimento, dis-ciplina e �scalização do mercado de valores mobiliários (títulos). Seu poder

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Intermediação �nanceira

de normatizar abrange todas as matérias referentes ao mercado de valores mobiliários.

Banco do Brasil – considerado um conglomerado �nanceiro que atua como banco múltiplo tradicional, embora ainda opere como agente �nanceiro do go-verno federal, sendo o principal executor da política �nanceira do governo.

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – res-ponsável pela política de investimentos de longo prazo do governo federal.

Caixa Econômica Federal (CEF) – responsável pela operacionalização das po-líticas do governo federal para a habitação popular e saneamento básico.

De modo geral, as instituições �nanceiras são responsáveis pela transmissão e manutenção da política monetária nacional, além de manter a economia em plena ca-pacidade produtiva. A �gura a seguir mostra um organograma que evidencia a relação do CMN com os principais órgãos do SFN.

Conselho Monetário NacionalCMN

Banco Central do BrasilBCB

Sociedades Corretoras Bolsa de Valores

Comissão de Valores MobiliáriosCVM

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VESP

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o.)

Figura 1 – Organograma dos principais órgãos vinculados ao Sistema Monetário Nacional (SMN).

O subsistema operativo é formado pelas instituições �nanceiras (bancárias e não bancárias) que operam diretamente na intermediação �nanceira. As instituições que fazem parte desse subsistema são compostas por bancos comerciais, caixas econômi-cas estaduais, bancos de desenvolvimento, bancos de investimentos, sociedades de crédito, �nanciamento e investimento (�nanceiras), sociedades corretoras, sociedades distribuidoras, sociedades de arrendamento mercantil (leasing), sociedades de crédito imobiliário e bancos múltiplos. A descrição dessas instituições encontra-se a seguir:

Bancos Comerciais – têm como objetivo proporcionar o suprimento opor-tuno e adequado dos recursos necessários para �nanciar, a curto e médio prazos, o comércio, a indústria, as empresas prestadoras de serviços e as pes-soas físicas. Para tanto, os bancos comerciais podem descontar títulos, reali-zar operações de abertura de crédito simples ou em conta corrente (contas

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garantidas), realizar operações especiais, inclusive crédito rural, de câmbio e comércio internacional, captar depósitos à vista e a prazo �xo, obter recursos junto às instituições o�ciais para repasse aos clientes, obter recursos externos para repasse, efetuar prestação de serviços, inclusive mediante convênio com outras instituições e outros.

Bancos de Investimento – têm como principal objetivo o aumento do prazo de operações de empréstimos e �nanciamentos, sobretudo para fortalecer o processo de capitalização das empresas, através da compra de máquinas e da subscrição de debêntures e ações. Esses bancos estão impedidos, legalmen-te, de manter contas correntes em outras instituições �nanceiras. Elas captam recursos pela emissão de Certi�cados de Depósitos Bancários (CDB) e Reci-bos de Depósitos Bancários (RDB) através de captação e repasse de valores de origem interna ou externa, ou pela venda de cotas de fundos de investimento por eles administrados.

Fortuna (2008, p. 33) sintetiza as operações ativas que podem ser praticadas pelos bancos de investimento:

empréstimos a prazo mínimo de um ano para �nanciamento de capital �xo;

empréstimos a prazo mínimo de um ano para �nanciamento de capital de giro;

aquisição de ações, obrigações ou quaisquer outros títulos e valores mobiliários para investimento ou revenda no mercado de capitais (operações de underwriting);

repasses de empréstimos obtidos no exterior;

repasses de recursos obtidos no país;

prestação de garantia de empréstimos no país e provenientes do exterior.

Bancos de Desenvolvimento – são instituições responsáveis pela política de investimento de médio e longo prazo do Governo Federal, sendo o BNDES o seu principal representante para �nanciar em médio e longo prazo os setores primário, secundário e terciário.

Caixas Econômicas – sua atividade principal integra o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo e o Sistema Financeiro de Habitação. Podem ser equi-paradas aos bancos comerciais por captar depósitos à vista, realizar operações ativas (empréstimos, �nanciamentos etc.) e efetuar prestação de serviços, na maioria das vezes para pessoas físicas. Também realiza atividades de �nancia-mento de bens de consumo, empréstimo sob garantia de penhor industrial e caução de títulos, e operações de empréstimo sob penhor de bens pessoais e

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Intermediação �nanceira

sob consignação. Atua como centralizadora do recolhimento e aplicação dos recursos depositados no Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS).

Sociedades de Crédito Imobiliário – foram criadas pelo Governo para �nan-ciar o mercado imobiliário, utilizando os recursos da caderneta de poupança.

Associações de Poupança e Empréstimo – são constituídas na forma de so-ciedades civis, restritas a determinadas regiões, sendo de propriedade comum de seus associados. Suas operações são semelhantes às sociedades de crédito imobiliário.

Sociedades Corretoras – são sociedades típicas do mercado acionário e operam na compra, venda e distribuição de títulos e valores mobiliários (in-clusive ouro) por conta de terceiros. Elas operam nas bolsas de valores e de mercadorias, e efetuam lançamentos públicos de ações, administram carteiras e custodiam valores mobiliários, instituem, organizam e administram fundos de investimento, operam no mercado aberto e intermediam operações de câmbio.

Sociedades de Arrendamento Mercantil – a operação de leasing asseme-lha-se a uma locação, tendo o cliente, ao �nal do contrato, as opções de reno-vá-la, adquirir o equipamento pelo valor residual �xado em contrato, ou ainda devolvê-lo à empresa. As empresas de leasing geralmente captam recursos de longo prazo, como por exemplo, através da emissão de debêntures. A debêntu-re é um valor mobiliário emitido por sociedades anônimas, representativo de dívida que assegura o direito de crédito de seus detentores contra a compa-nhia emissora.

Bancos Múltiplos – têm o objetivo de racionalizar a administração das insti-tuições �nanceiras. De acordo com Fortuna (2008, p. 41), permite que institui-ções, empresas de um mesmo grupo, constituam-se em uma única instituição �nanceira com personalidade jurídica própria e, portanto, com um balanço único, um único caixa e, consequentemente, signi�cativa redução de custos. Em tese, mantêm as mesmas funções de cada instituição em separado, com as vantagens de contabilizar as operações como uma só instituição.

Por normas legais, as carteiras de um banco múltiplo envolvem a carteira co-mercial (regulamentação do BACEN), carteira de investimento (regulamentação dos bancos de investimentos), carteira de crédito imobiliário (regulamentação das socie-dades de crédito imobiliário), carteira de aceite (regulamentação das sociedades de crédito, �nanciamento e investimento) e carteira de desenvolvimento (regulamenta-ção dos bancos de desenvolvimento) e a carteira de leasing.

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Conceito e relevância do créditoSchrickel (2000, p. 24) escreve que “crédito é todo ato de vontade ou disposição de

alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu patrimônio a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente após decorrido o tempo estipulado”.

O patrimônio referido deve ser próprio e pode estar na forma de dinheiro (em-préstimo monetário) ou bens (empréstimo para uso, ou venda com pagamento parcelado).

Silva (2000, p. 63) conceitua “crédito, em sentido restrito e especí�co, como con-sistindo na entrega de um valor presente mediante uma promessa de pagamento”. Assim, em uma loja de produtos de informática, uma venda a crédito é caracterizada pela entrega da mercadoria (computador, por exemplo) ao cliente, mediante promes-sa de pagamento do comprador à loja, em uma ou mais parcelas, em um prazo futuro estabelecido de comum acordo entre as partes.

Embora existam empréstimos gratuitos, não onerosos, no caso de operações entre pessoas físicas, entre membros de mesma família, por exemplo, normalmente o vendedor estipula uma taxa a ser paga pelo comprador pelo pagamento dos valores no futuro, e não à vista.

No comércio e na indústria, o crédito geralmente assume o papel de facilitador da venda (SILVA, 2000, p. 64). O crédito possibilita que o cliente veja atendida sua necessi-dade, e que o comerciante aumente suas receitas de venda.

O crédito deve ser visto como um “produto” para as instituições �nanceiras. Assim, negociar “crédito” pressupõe um adequado sistema de cadastro com informações de-talhadas sobre seus clientes, e um sistema de avaliação do risco que, além de avaliá-los pelo risco de não devolverem os recursos emprestados no prazo acordado, calcule o limite de crédito máximo e mínimo para cada um. Enquanto que, em empresas comer-ciais e industriais, é possível vender à vista ou a prazo, em bancos não há como fazer empréstimo ou �nanciamento à vista (SILVA, 2000, p. 65).

Deve-se atentar para o fato de que, quando o banco está captando recursos (aco-lhendo depósitos ou aplicações), quem assume o risco de crédito é o cliente. O banco nessa condição, não costuma exigir cadastro de seus clientes, mas eles poderiam (se quisessem) exigir o “cadastro” do banco na forma de demonstrações contábeis e outras informações que o gerente pudesse fornecer para provar que a instituição é idônea.

O crédito está inserido no contexto da intermediação �nanceira, sendo parte re-levante da geração de receita do banco.

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O crédito cumpre relevante papel econômico e social, pois viabiliza a circulação da riqueza e o atendimento às necessidades dos agentes econômicos. Silva (2000, p. 68) escreve que o crédito a) possibilita que as empresas aumentem o seu nível de ati-vidade; b) estimula o consumo, in�uenciando na demanda; c) ajuda as pessoas a ob-terem moradia, bens e alimentos; d) facilitam a execução de projetos para os quais as empresas não dispõem de recursos próprios su�cientes.

Introdução ao risco de créditoIntuitivamente, “risco” signi�ca “incerteza”, “imprevisibilidade”, um fato que pode

acontecer e contrariar as expectativas iniciais.

“Risco de crédito” pode ser de�nido como a probabilidade de que o recebimento não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento. O risco está presente nas decisões de crédito e está vinculado à “saúde �nanceira” do tomador de empréstimo. Para avaliar o risco do tomador de empréstimo, a instituição �nanceira deverá possuir funcionários capacitados, além de softwares e aplicativos especí�cos para estimar o risco de cada cliente.

A importância da análise de risco nas decisões de crédito pode ser avaliada pela seguinte citação de Schrickel (2000, p. 36) “a imprevisibilidade quanto ao futuro e ao risco, deve ser adequada e su�cientemente ponderada, a �m de minimizar os riscos expostos do banco”.

A gestão do risco de crédito é motivo de preocupação do sistema �nanceiro inter-nacional, que criou o Comitê da Basileia para reestruturar a “indústria” bancária, geren-ciando e emitindo normas reguladoras do Sistema.

O Comitê de Supervisão Bancária da Basileia congrega autoridades de supervisão bancária e foi estabelecido pelos presidentes dos Bancos Centrais dos países do então, “Grupo dos 10 (G-10)”, em 1975. É constituído por representantes de autoridades de supervisão bancária e pelo Banco Central, reunindo-se no Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basileia, Suíça, onde se localiza a sua secretaria permanente. Em 1997, o Comitê da Basileia declarou que os mais sérios problemas bancários conti-nuam se originando diretamente de problemas de administração de crédito. (CATTANI; STADUTO, 2003).

O Banco Central do Brasil vem implementando relevantes medidas com o intuito de estimular as instituições �nanceiras a melhorar seus procedimentos de avaliação e acompanhamento do risco de clientes, garantindo o funcionamento sem sobressaltos do SFN.

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As instituições �nanceiras tiveram de se adequar às novas normas que lhes foram dirigidas pelo Banco Central, em um cenário de baixa in�ação e aumento das disponi-bilidades para empréstimos.

A Resolução 2.682, de 21 de dezembro de 1999, do Banco Central do Brasil, com-plementadas por resoluções posteriores, estabelece os critérios que devem ser obser-vados pelas instituições �nanceiras na avaliação do risco de seus clientes e operações, para �ns do cálculo e constituição de provisão para risco de crédito.

Silva (2000, p. 75) escreve que os riscos de crédito de um banco podem ser classi-�cados em quatro grupos: a) risco do cliente ou risco intrínseco; b) risco da operação; c) risco de concentração; e d) risco da administração do crédito.

a) Risco do cliente ou risco intrínseco

Esse tipo de risco independe da vontade do cliente-tomador de empréstimos/�-nanciamentos do banco. Ele existe devido à possibilidade do não pagamento do valor ao banco devido a conjunto de fatores associados ao devedor.

O crédito consiste em colocar à disposição do tomador determinado valor sob a forma de empréstimo ou �nanciamento mediante promessa de pagamento. Essa pro-messa de pagamento, em forma de documento, obriga o devedor a devolver os recur-sos tomados. Silva (2000, p. 78-79) informa que os chamados “Cs do crédito” (Caráter, Capacidade, Condições, Capital e Conglomerado) contêm as variáveis relacionadas ao risco do cliente (intrínseco), as quais poderão fornecer a base para a classi�cação do risco (rating).

b) Risco da operação

Silva (2000, p. 80) escreve que os principais elementos integrantes de uma ope-ração são: (I) produto; (II) montante; (III) prazo; (IV) forma de pagamento; (V) garan-tias; e (VI) preço. Segundo Silva, acima, cada um desses elementos apresenta um po-tencial de risco. Assim, a inadequação da especi�cação do produto, ou em seu valor, pode levar o cliente-tomador a descumprir a promessa de pagamento, ocasionando a inadimplência.

Se o montante emprestado for acima da capacidade de pagamento do cliente- -tomador, existe aí, também, risco de inadimplência. O mesmo raciocínio vale para o prazo no caso de ele ser muito longo, num contexto de crescente alta de juros, aumen-ta-se o risco do não pagamento do empréstimo/�nanciamento concedido.

A forma de pagamento, associado ao prazo, pode constituir-se em fonte de risco adicional, na medida em que di�culta o acesso do cliente-tomador aos recursos para fazer o pagamento.

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A garantia exigida do banco ao cliente-tomador tem in�uência signi�cativa no risco da operação. Assim, quanto maior for a garantia exigida, menor é o risco, pois pressupõe-se que a garantia é executável (seu valor recuperável por venda ou utiliza-ção) em valor su�ciente para ressarcir o banco pelos recursos não devolvidos.

c) Risco de concentração

Silva (2000, p. 80) escreve que o risco de concentração decorre da composição da carteira de recebíveis do banco quanto ao maior ou menor volume de recursos aplica-dos em um só produto ou em uma mesma área geográ�ca.

Uma carteira de recebíveis é o volume de títulos a receber que o banco possui derivados de operações �rmadas com clientes-tomadores e outras contas.

A operação de endividamento de uma instituição dando como garantia títulos a receber de clientes que ela têm em sua carteira leva o nome de securitização de recebí-veis. As operações com recebíveis têm sua origem nos Estados Unidos e Europa. Essa operação visa captar recursos no mercado, via emissão de títulos próprios, dando-se como garantia as contas a receber que a instituição possui.

Tais operações oferecem grandes vantagens tanto para o investidor quanto para o tomador de recursos �nanceiros. A estruturação destas operações faz com que haja uma venda dos recebíveis a uma entidade neutra (Trust) que os usa como lastro para a emissão de endividamento de tal modo que o comprador destes títulos não �que exposto ao risco do gerador do seu lastro. O Trust, além de isolado do grupo comercial gerador dos recebíveis, tem seu �uxo de caixa monitorado pelo Trustee (supervisor do “Trust”) o que assegura uma boa liquidação dos títulos independentemente da necessidade do acionamento jurídico das garantias constituídas. (PAVARINI, 2008)

A concentração de operações em um só cliente aumenta o risco da empresa. Assim, quanto maior for a concentração de empréstimos para capital de giro a poucos clientes, maior será o risco do não recebimento de valores dessa carteira.

Silva (2000, p. 80) acrescenta que o risco de uma carteira de crédito é diferente dos riscos de suas operações individuais, em razão das correlações que possa haver entre os diversos segmentos. Correlação é uma medida estatística padronizada da rela-ção entre duas variáveis. Seu valor varia de –1 a +1. A correlação nunca pode ser maior do que 1 ou menor do que –1.

Uma correlação próxima a zero indica que as duas variáveis não estão relaciona-das. Sendo cada variável um segmento de negócio do banco (industrial, comercial, leasing etc.), uma correlação positiva indica que as duas variáveis (segmentos) movem juntas, e a relação �ca forte quanto mais a correlação se aproxima de um. Uma corre-lação negativa indica que as duas variáveis movem-se em direções opostas, e que a relação também �ca mais forte quanto mais próxima de menos 1. Duas variáveis que estão perfeitamente correlacionadas positivamente (r=1) movem-se essencialmente

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em perfeita proporção na mesma direção, enquanto dois conjuntos que estão per-feitamente correlacionados negativamente movem-se em perfeita proporção em di-reções opostas. Exempli�cando: suponha que o Banco Y conceda empréstimos para clientes do segmento industrial e de leasing em determinado período. Alguns desses clientes são os mesmos para as duas modalidades de operação e, por isso, as variáveis (empréstimos) deverão apresentar correlação positiva, próximo de 1 (um), estando po-sitivamente correlacionadas. O valor do índice de correlação é apurado através de uma planilha estatística (Excel, SPSS, SAS e outras).

Silva (2000, p. 80) acrescenta: “[...] se um banco distribuir suas aplicações em seg-mentos econômicos que tenham alta correlação positiva, isto, do ponto de vista de risco, não representará diversi�cação”, portanto apresentará maior risco.

d) Risco de administração de crédito

É o risco derivado da gestão indevida dos créditos concedidos. Os recursos huma-nos e materiais têm papel relevante nos índices de inadimplência apresentados pelo banco. Schrickel escreve sobre o assunto:

“Se de um lado a incerteza quanto ao futuro torna a análise de crédito extremamente desa�adora e exige capacitação técnica especí�ca, de outro, tal atividade depende primordialmente do elemento humano, do pro�ssional da instituição �nanceira, que, mais que certamente, não poderá ser su�cientemente substituído por qualquer instrumento cibernético, por mais avançado que seja [...]”. (SCHRICKEL, 2000, p. 36)

A instituição �nanceira deve munir-se dos melhores recursos humanos disponíveis, assim como estrutura material e logística para reduzir o nível de risco de suas operações.

Texto complementar

Banco �ca com parcela maior do “spread” (BALBI, 2006)

Os cinco maiores bancos do país que já divulgaram os balanços de 2005, exibin-do lucros recordes, aumentando seu spread nos últimos cinco anos, segundo estudo realizado pelo Inepad (Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração) com exclu-sividade para a Folha.

Bradesco, Itaú, Unibanco, Banespa e o estatal Banco do Brasil obtiveram spread total de 12,2% no ano passado, enquanto em 2001 essa taxa era de 11%. Ao mesmo

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tempo cresceu a parcela do lucro na composição do spread nesse período. Em 2001, 15,6% do spread total eram destinados aos resultados (lucros); no ano passado, essa mesma parcela chegou a 21,9%.

Em 2005, o Itaú foi o banco com o maior spread total, segundo o Inepad, segui-do pelo Banespa, o Unibanco e o Bradesco. O menor spread veri�cado foi o do Banco do Brasil, que opera com crédito agrícola a taxas de juro mais baixas.

Spread, na de�nição corrente no mercado, é a diferença entre a taxa média de juros que os bancos pagam ao captar recursos e aquela que recebem ao aplicá-los – seja emprestando ao governo ou ao setor privado (pessoas físicas e jurídicas). No entanto, o Inepad considera nos cálculos do spread total também as taxas de servi-ços cobradas pelas instituições �nanceiras.

“No caso do Brasil, como há mais demanda por crédito do que oferta, os bancos condicionam a concessão de empréstimos à aquisição de outros produtos como seguros, títulos de capitalização ou planos de previdência. Assim, na taxa de juro paga pelo cliente está embutida também a prestação desses produtos. Portanto o spread deve incluir também as receitas de serviços dos bancos, a�rma Alberto Borges Matias, presidente do Inepad e professor da Faculdade de Economia da USP de Ribeirão Preto.

O instituto reconhece que adota um conceito polêmico de spread. Por isso, também calculou o chamado spread �nanceiro dessas instituições nos últimos cinco anos. Essa taxa é a diferença entre o juro pago na captação e o recebido na aplicação.

Em 2001, a taxa média do spread �nanceiro dos cinco maiores bancos era de 7,5% e, no ano passado, foi de 8,4%. Todos os cálculos foram feitos com base nos balanços das instituições �nanceiras.

Formação do spread

Entram na formação do spread bancário, a taxa de inadimplência, as despesas estruturais – pessoal e administrativas –, os gastos com impostos e os resultados do banco, segundo informa o Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração.

Ao analisar esses quatro componentes, o Inepad concluiu que o crescimento do spread total dos bancos ocorreu para sustentar os resultados das instituições �-nanceiras e o aumento dos gastos com impostos, segundo informa Edson Carminat-ti, analista �nanceiro do instituto e responsável pelo levantamento.

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“Os bancos conseguiram aumentar o spread reduzindo os custos de captação, pois estão conseguindo levantar recursos a taxas mais baixas no mercado externo e aplicando aqui a taxas altas”, a�rma o analista.

Em 2001, as instituições �nanceiras captavam a uma taxa média de juros de 9% ao ano e, no ano passado, a 6,7%. Nesses cálculos estão incluídos desde a captação mais barata – que é a da caderneta de poupança e a parcela do saldo das contas correntes que �ca no banco sem remuneração – até as taxas dos CDBs (Certi�cados de Depósitos Bancários).

“Os resultados dos bancos é um dos formadores do spread que mais cresceu. Só perde para o crescimento dos impostos”, observa Carminatti.

Em 2001, eles representavam 15,6% dos spread total e pularam para 21,9% no ano passado.

Já a parcela do spread total que ia para impostos subiu de 8,1% para 16,5% no mesmo período. “Isso é preocupante, pois o peso dos impostos cresceu muito”, a�rma Carminatti.

Despesas

A maior parte da formação do spread bancário, entretanto, ainda é decorrente das despesas estruturais – como a de pessoal e as administrativas. As despesas res-ponderam por 45,8% do spread total em 2005 – um forte recuo ante os 61,8% que representavam em 2001.

Segundo Carminatti, os bancos ganharam e�ciência conseguindo operar melhor com a mesma estrutura. Para Borges Matias, a redução das despesas é con-sequência do aumento da escala na operação bancária.

“Os bancos aumentaram suas carteiras de crédito e sua base de clientes, enxu-garam a estrutura e hoje conseguem ter lucros maiores e despesas menores”, a�rma o presidente do Inepad.

Já a inadimplência – à qual sempre os bancos atribuem a responsabilidade pelos juros e spreads elevados – cresceu pouco no período analisado. Em 2001, ela representava 14,5% do spread e, no ano passado, chegou a 15,8%.

“Como as operações de crédito cresceram muito, era de se esperar um aumen-to da inadimplência. Mas não foi ela que fez o spread crescer”, diz Carminatti.

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Atividades

O que é risco de crédito?1.

Para o autor Silva (2000) qual é a de�nição de crédito em sentido estrito e es-2. pecí�co?

“São instituições responsáveis pela política de investimento de médio e longo 3. prazo do governo federal”. Esse conceito refere-se a qual alternativa abaixo?

a) Bancos comerciais.

b) Bancos de investimento.

c) Caixas econômicas.

d) Bancos de desenvolvimento.

Qual dessas instituições permite que empresas de um mesmo grupo consti-4. tuam-se em uma única instituição com personalidade jurídica própria e balanço único?

a) Sociedades corretoras.

b) Sociedades de arrendamento mercantil.

c) Bancos múltiplos.

d) Associações de poupança e empréstimo.

Ampliando conhecimentos

SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

O autor aborda todas as fases da gestão e análise de crédito, sendo leitura útil no acompanhamento dos capítulos. Sugere-se sua consulta quando tiver dúvidas sobre pontos abordados no capítulo.

SCHRICKEL, Kurt W. Análise de Crédito – concessão e gerência de emprésti-mos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

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Obra clássica em Análise de Crédito. Sugere-se que sua leitura complementar-mente à obra de Silva, acima.

FORTUNA. Eduardo, Mercado Financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

O autor aborda o funcionamento do mercado �nanceiro como um todo e apre-senta um resumo dos principais órgãos responsáveis pela manutenção da política mo-netária nacional.

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado �nanceiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

O autor apresenta o funcionamento e as funções do mercado �nanceiro e trata de como a compreensão da economia permite que se estabeleçam relações entre os resultados agregados e o desempenho dos agentes econômicos (indivíduos, empresa e governo).

Wall Street – Poder e Cobiça

O �lme ambienta o espectador numa trama em que estão presente o dinheiro, a negociação, o poder conferido pelo dinheiro e a procura por prestígio. É um �lme útil para ambientar o leitor.

Referências

ASSAF NETO, Alexandre. Mercado Financeiro. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

BALBI, Sandra. Banco Fica com Parcela Maior do “Spread”. Publicado em: 27 fev. 2006. Disponível em: <www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u105585.shtml>. Acesso em: ago. 2008.

BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO. A Bovespa: quem somos. Disponível em: <www.bovespa.com.br>. Acesso em: set. 2008.

BOLSA DE VALORES DE SÃO PAULO. Dicionário de Finanças. São Paulo: Bovespa, 2008. Disponível em: <www.bovespa.com.br/Investidor/DicionarioFinan/dicionario.htm>. Acesso em: 15 fev. 2009.

CATTANI, Inácio; STADUTO, Je�erson Andronio R. A Nova Sistemática de Risco de Cré-dito: uma avaliação da cooperativa de crédito – Sicredi Costa Oeste. Revista Teoria e Evidência Econômica, Passo Fundo, v. 11, n. 21, artigo 6, nov. 2003. CEPEAC. Disponí-vel em: <www.upf.br/cepeac/index.php?option=com_content&task=view&id=21&Itemid=27>. Acesso em: 2 dez. 2008.

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Intermediação �nanceira

FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro: produtos e serviços. Rio de Janeiro: Quali-tymark, 1999.

______. Mercado Financeiro: produtos e serviços. 17. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2008.

GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Financeira. 7. ed. São Paulo: Pear-son Education do Brasil, 2002.

______. Princípios de Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2004.

LOPES, João do Carmo; ROSSETTI, José Paschoal. Economia Monetária. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1997.

PAVARINI. Notas Técnicas: securitização de recebíveis. Disponível em: <www.pavarini.com.br/securit.htm>. Acesso em: 31 ago. 2008.

SCHRICKEL, Kurt W. Análise de Crédito: concessão e gerência de empréstimos. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

SILVA, Filinto. Chega de Inadimplência. Cobrança e recuperação de valores. São Paulo: Hedge, 2007.

SILVA, José P. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2000.

______. Gestão e Análise de Risco de Crédito. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

Gabarito

Risco de crédito é a probabilidade de que o recebimento dos recursos empres-1. tados não ocorra, ou seja, é igual a 1 menos a probabilidade de recebimento. Por isso, é importante a análise do risco nas decisões de crédito.

Para Silva a de�nição de crédito é a entrega de um valor presente mediante 2. uma promessa de pagamento.

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