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Análise do gênero Textual Quadrinhos. O estudo das características genéricas das HQ pode, em primeira instância, parecer simples devido à facilidade em sua identificação e pela criação de sentidos que as histórias propiciam, mas como alerta Mendonça (2003, p. 195), "as HQ revelam-se um gênero tão complexo quanto os outros no que tange ao seu funcionamento discursivo". Numa perspectiva semiótica, Cirne (2000 apud MENDONÇA, 2003, p.195) afirma que "quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual, impulsionada por sucessivos cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou pintadas". Pode-se pensar os quadrinhos como uma narração dividida em cenas e que conta com o auxílio visual para que os leitores reconstruam a história. Essa característica leva Mendonça (2003) a classificar o gênero como icônico- verbal. Importante, neste ponto de reconhecimento, é fazer a desambiguação entre

Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

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Page 1: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

Análise do gênero Textual Quadrinhos.

O estudo das características genéricas das HQ pode, em primeira instância, parecer

simples devido à facilidade em sua identificação e pela criação de sentidos que as

histórias propiciam, mas como alerta Mendonça (2003, p. 195), "as HQ revelam-se

um gênero tão complexo quanto os outros no que tange ao seu funcionamento

discursivo".

Numa perspectiva semiótica, Cirne (2000 apud MENDONÇA, 2003, p.195) afirma

que "quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual, impulsionada por sucessivos

cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou pintadas".

Pode-se pensar os quadrinhos como uma narração dividida em cenas e que conta

com o auxílio visual para que os leitores reconstruam a história. Essa característica

leva Mendonça (2003) a classificar o gênero como icônico-verbal.

Importante, neste ponto de reconhecimento, é fazer a desambiguação entre

gêneros semelhantes aos quadrinhos que, de acordo com o cartunista Fernando

Moretti (2001 apud MENDONÇA, 2003, p. 197), seriam:

Caricatura: Deformação de características marcantes de uma pessoa, animal,

coisa ou fato. A caricatura pode ser usada como ilustração ou complemento de uma

matéria, e pode estar contida numa charge.

Charge: tem as mesmas características da caricatura, embora nela o desenho sirva

de enunciado único, resumindo em si a mensagem. A charge exige do leitor um

conhecimento de mundo maior do que a caricatura, pois exige inferência

contextual. As charges "envelhecem" com o contexto situacional.

Cartum: É uma forma de expressar idéias e opiniões políticas, esportivas,

religiosas, sociais, que se originou depois da charge. Enquanto a charge é

Page 2: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

situacional, o cartum é atemporal. Podem apresentar balões, legendas e sequências

de imagens enquadradas, embora essas últimas sejam em número limitado e

inferior à quantidade de quadros existentes nas HQ. No cartum não há exigência de

continuidade nem de personagens fixos, como no caso dos quadrinhos.

Tira: É um subtipo de HQ, porém mais curta, contando com até quatro quadrinhos.

Podem ser sequenciais (em capítulos) ou fechadas (episódios diários). Segundo

Mendonça (2001 apud MENDONÇA 2003), as tiras também podem versar sobre

aspectos políticos, econômicos ou religiosos, mas não são tão imediatistas quanto

as charges. Dividem-se as tiras fechadas em tiras-piada e tiras-episódio.Em relação aos

aspectos visuais, as HQ contam, além dos desenhos, com

elementos que facilitam a reconstrução da narrativa ou auxiliam os recursos

linguísticos. Nota-se o uso dos seguintes recursos visuais: balões de fala,

pensamento, cochicho, berro, medo, xingamento, expressão, balões uníssonos,

externos, subordinados, representações imagéticas, planos (close, primeiro plano,

panorama), calhas, setas diretivas e retângulos narrativos. As onomatopéias

apresentam-se mais visuais que verbais. Aqui, não se trata apenas de representar

sons, e sim de criar um "efeito sonoro", com suas devidas características e

proporções, como se estivéssemos "visualizando o som", tornando mais fluida a

leitura. A maioria das onomatopéias tem sua origem em verbos da língua inglesa

(ex: crash, smack, splash).

A linguagem das HQ é determinada pelas características do público-alvo a que os

gibis se destinam. Tem fortes marcas de oralidade e registro informal, com gírias,

reduções vocabulares, expressões idiomáticas, contrações, interjeições, além das já

citadas onomatopéias. Os verbos apresentam-se em diversos tempos, sendo difícil

determinar sua predominância. As frases são carregadas de pontos de exclamação

Page 3: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

e de interrogação no intuito de reproduzir graficamente a entonação do diálogo

informal. Percebe-se, em alguns quadrinhos, o uso de metalinguagem.

No intuito de que o ensino/aprendizagem deve se basear no processo

sociointeracionista na ação pedagógica, - que possibilita que o conteúdo escolar possa

ser concretizado e contextualizado em situações práticas do uso da língua. Nesse

sentido, o objetivo fundamental do trabalho será abordar o gênero história em

quadrinhos, referente à leitura, à análise lingüística e a produção/refacção de textos,

tendo em vista as características do gênero (tema, construção composicional e estilo,

vinculadas às condições de produção, no processo de construção de possíveis efeitos de

sentido.) E, então, de desenvolver e aplicar atividades didáticas em turma de quinta série

do Ensino Fundamental, a fim de contribuir de maneira teórico-prática com estudos

relacionados ao processo ensino-aprendizagem.

O processo ensino/aprendizagem deve se basear no processo sociointeracionista da

ação pedagógica, envolvendo professor e aluno e aluno sociedade, o que possibilita que

o conteúdo escolar possa ser concretizado e contextualizado em situações práticas do

uso da língua.

Consideramos que, no ensino de língua portuguesa (LP), o aluno ao entrar em

contato com diferentes gêneros discursivos em organização curricular progressiva, no

processo de leitura, análise lingüística, produção e refacção textual, tem a oportunidade

de vivenciar a pluralidade de textos que circulam em distintas esferas da sociedade e de

atividade humana, tendo assim, experiência com a diversidade dos gêneros. Não se tem

ainda uma definição pré-estabelecida sobre o gênero HQs, no entanto, podemos

observar que este está totalmente inserido o nosso cotidiano. Estando assim tão

inseridos em nossas vidas, é quase natural não refletirmos sobre as histórias em

quadrinhos enquanto “produto de nossa cultura, sua complexidade e suas implicações e

ideologias” (HIGUCHI, 1997). A HQ é uma narrativa essencialmente recreativa com

um aspecto informativo secundário e mais ou menos involuntário, com base nessa

finalidade lúdica, orientada para o humor, os americanos batizaram o gênero inteiro de

comics e funnies. (ANSELMO, 1975, p. 34).

Page 4: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

Além disso, pretendemos atingir outros objetivos que envolverão a participaçãoefetiva

dos professores e alunos. Entre eles estão:

• Propiciar ao aluno o contato com os conceitos de gênero discursivo;

• Discutir sobre definição de histórias em quadrinhos e todos os seus elementos;

• Apresentar o autor-chave do projeto (Maurício de Sousa) suas histórias em

quadrinhos e suas características enquanto escritor;

• Oportunizar aos alunos o contato com a teoria básica e estrutura da história em

quadrinhos;

• Perceber marcas lingüístico-enunciativas (marcas do gênero e do autor);

• Viabilizar aos alunos o processo de produção e refacção textual do gênero em

pauta. Cronograma: O projeto terá um total de 20 horas divididas em, no mínimo, duas

horas/aulas por dia, ao menos uma vez por semana, durante no máximo dez semanas.

A distribuição do conteúdo se dará da seguinte maneira:

•Unidades Didáticas

•Objetivos específicos Conteúdos

Será entregue aos alunos dois textos em prosa, no qual será selecionado por eles apenas

um, para que seja realizada a produção gráfica. Observar as dificuldades apresentadas

nas

produções e solucioná-las. Refacção das atividades de avaliação. Durante o processo de

refacção, na qual foram observadas as dificuldades dos alunos, os professores-

estagiários auxiliarão nos problemas apresentados para concluírem as atividades de

avaliação.

Apresentar os resultados atingidos durante projeto. Entrega do material de avaliação.

Fazer um breve resumo do gênero história em quadrinhos e dos objetivos do mini-curso

e mostrar o resultado das atividades de avaliação.

Estratégias: A postura adotada pelos professores estará pautada na interação professor-

aluno. Acreditamos que assim, o processo ensino/aprendizagem se torna eficaz para a

Page 5: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

realização das atividades. Nossa proposta é aliar o gênero discursivo contextualizado ao

autor Maurício de Sousa, juntamente às histórias de seu personagem Chico Bento,

atentando ao fato de o personagem ser um típico caipira brasileiro. Para tanto,

utilizaremos algumas histórias, já pré-selecionadas e adequadas à sala de aula em

questão, do Chico Bento.

Por entendermos a avaliação como um processo, é imprescindível que a avaliação seja

contínua e dê prioridade à qualidade e ao progresso de aprendizagem, ao desempenho

do aluno ao longo do ano letivo, nesse caso, ao longo do projeto. Será observado e

relatado, sem parâmetros quantitativos, a oralidade, leitura e escrita, ou seja, a

participação em sala, pesquisas, debates, atividades orais e escritas dos alunos

envolvidos ao longo do desenvolvimento do projeto.

Além disso, todas estas atividades subsidiarão nossa auto-avaliação enquanto

educadores, a avaliação do nosso desempenho em sala pelo professor colaborador e pelo

professor orientador do presente projeto.

Considerações Finais:

A partir do trabalho em tela apresentamos uma espécie de diálogo entre a perspectiva

enunciativa de estudos da linguagem e o trabalho que pode ser desenvolvido em sala de

aula. A partir dessa concepção buscamos esclarecer que os recursos lingüístico-

enunciativos podem e devem estar aliados às práticas de leitura e produção textual.

Após conceber uma idéia para criar uma história em quadrinhos, seu criador procura

desenvolvê-la como um objeto uno, formado por palavras e imagens. Como o produto

final deve ser lido como um todo visual, percebe-se que a imagem predomina sobre o

texto. No entanto, o conceito de história narrada é ampliado e desenvolvido pelas

palavras que, tanto pelo seu significado como por seu aspecto gráfico e visual,

complementam a arquitetura da composição de cada quadro. A combinação do signo

lingüístico com uma imagem visual revela-se, ao contrário, muito rica e, sobretudo

atrativa para os leitores, principalmente porque se serve de recursos próprios da

oralidade. Os recursos de paralinguagem enriquecem e complementam a comunicação.

Todos esses elementos tornam as histórias em quadrinhos de tal forma atrativas que se

vendem aos milhares ou mesmo milhões de exemplares em todo o mundo. Leitores e

autores se comunicam de maneira fácil, e cremos poder dizer que as características de

Page 6: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

oralidade, implícitas nos quadrinhos, são um dos fatores que contribuem fortemente

para esse sucesso, tranformando-os em meio de comunicação de massa. Desse modo,

podemos concluir que a perspectiva que aborda os gêneros discursivos como eixo de

progressão e articulação textual possibilitam a instrumentalização do aluno no sentido

de que ele tornar-se-à um sujeito crítico que conseguirá manifestar-se adequadamente

em diferentes esferas da atividade humana.

Referências Bibliográficas:

ANSELMO, Zilda Augusta. Histórias em quadrinhos. Petrópolis: Vozes, 1975, p. 34.

BARBOSA, Alexandre (org.). Como usar as histórias em quadrinhos na sala de

aula. 3ª edição. São Paulo: Contexto, 2006.

MENDONÇA, Márcia Rodrigues de Souza. Um gênero quadro a quadro: a história em

quadrinhos. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; e BEZERRA,

Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e Ensino. 4ª edição. Rio de Janeiro:

Lucerna, 2005.

TRABALHANDO COM O GÊNERO TEXTUAL HISTÓRIA EM

QUADRINHOS NO ENSINO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

Eixo temático: Educação e Ensino de Ciências Humanas e Sociais

2 Os gêneros textuais

2.1 Conceito Os gêneros textuais são enunciados escritos ou orais, utilizados no dia a

dia de cada

indivíduo, sendo que cada um possui suas características específicas, como afirma

Bakhtin:

A utilização da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos)

(...). O enunciado reflete as condições específicas e as finalidades de cada

uma dessas esferas [ esferas da atividade humana ], não só por seu conteúdo

(temático) e por seu estilo verbal, ou seja, pela seleção operada nos recursos

Page 7: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

da língua- recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais-, mas também, e ,

sobretudo, por sua construção composicional [...]. Qualquer enunciado

considerado isoladamente é, claro, individual, mas casa esfera de utilização

da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, sendo isso

que denominamos gêneros do discurso. (BAKHTIN, 2003, p. 279)1

.

Segundo Marscuschi, os gêneros textuais são textos materializados encontrados na

vida cotidiana e que apresentam características sócio comunicativas definidas por

conteúdos,

propriedades funcionais, estilo e composição característica. (MARCUSCHI, 2005, pág.

22-

23)2

2.2 Importância dos gêneros textuais

No ensino de línguas, é importante que o educando tenha contato com os mais

variados tipos de textos e gêneros, e que saibam que estes podem ser organizados de

diferentes formas na língua, a depender do que se pretende emitir com o uso dos

mesmos,

como trata o PCN:

Os textos organizam-se sempre dentro de certas restrições de natureza

temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes

a este ou àquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, cosntitutiva do

texto, precisa ser tomada como objeto de ensino. Nessa perspectiva, é

necessário contemplar, nas atividades de ensino, a diversidade de textos e

gêneros, e não apenas em função de sua relevância social, mas também pelo

fato de que textos pertencentes a diferentes gêneros são organizados de

Page 8: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

diferentes formas. (PCN, 1998, p.23)3

Os gêneros textuais sendo tomados como objeto de ensino de línguas estrangeiras

poderá possibilitar o desenvolvimento das habilidades necessárias para que o educando

possa

adquirir a proficiência na língua estrangeira estudada. Essa possibilidade se deve a

grande

variedade de gêneros textuais existentes na língua, podendo atender às necessidades de

cada

habilidade. 2.3 O trabalho com os gêneros textuais

Para que o trabalho com gêneros textuais possa ser realizado de maneira eficaz, é

essencial analizar no momento da escolha do gênero ao qual se quer trabalhar: quem

estará

falando, para quem se destinará o enunciado, qual o principal objetivo e qual o tema do

texto. Também, é importante discutir com os educandos alguns aspectos pertinentes ao

gênero

trabalhado, como:

Funcionalidade;

Intencionalidade;

Domínio ao qual está inserido;

Suporte ao qual está fixado;

Como se estrutura;

Elementos linguísticos presentes.

Estes pontos poderão ajudar o educando a entender e compreender melhor o gênero

que será trabalhado, por isso, a importância de discutí-los para cada gênero a ser

trabalhado

Page 9: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

em classe. Depois de discutidos estes pontos, a partir do gênero trabalhado, será mais

fácil

desenvolver o Comportamento Leitor e o Comportamento Escritor4

dos educandos. Estes,

considerados os verdadeiros conteúdos nas aulas de línguas.

3 O gênero história em quadrinhos

3.1 Conceito

De acordo com Guimarães, a HQ2

é uma forma de expressão artística em que há o

predomínio estímulo visual, ou seja, engloba formas de expressão em que o espectador

para

apreciá-las utiliza principalmente o sentido da visão. (GUIMARÃES, p.6)5

2

A sigla HQ foi adotada nos anos 1960, pelo grupo do professor e pesquisador Álvaro

de Moya. Nos países de

Língua Portuguesa, é adotado o termo "História aos Quadradinhos", enquanto no Brasil,

Moya adotou o termo

"História em Quadrinhos", ambos passíveis do uso da sigla HQ, que se refere ao

formato gráfico da organização

da narrativa.Segundo Mendonça, a HQ é caracterizada como um gênero icônico ou

icônico verbal

narrativo3

cuja progressão temporal se organiza quadro a quadro, apresentando como

elementos típicos: desenhos, quadros e balões e/ou legendas, onde é inserido o texto

verbal.

Page 10: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

(MENDONÇA, 2005, p.199-200)6

3.2 Contribuições para o ensino de línguas estrangeiras

As HQs podem trazer várias contribuições para o ensino de línguas, começando pela

formação de leitores, a partir da leitura prazer, conforme Bari:

Pelo trânsito natural de informações essenciais para a convivência social nas

histórias em quadrinhos, seja com intencionalidade educativa ou voltadas

para mero entretenimento, esta linguagem atrativa e amigável realmente tem

o poder especial de formar suas próprias comunidades de leitores e

aprimorar-lhes as habilidades e competências inerentes à leitura. Assim, se a

significação do ato de ler está contida nas vivências cotidianas, a leitura das

histórias em quadrinhos eleva os níveis de significação e convivência social

inseridos nas leituras, ampliando os conceitos fundamentais de seu ato

manifesto. (BARI, 2008, p.118)7

Além da questão da leitura, as HQs também podem contribuir com outras questões que

ajudam no processo ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, como o

desenvolvimento:

Competência leitor compreensiva;

Competência oral;

Competência escrita;

Comportamento leitor;

Comportamento escritor;

Competência argumentativa;

Senso crítico;

Imaginário e criatividade;

Capacidade para a decodificação e a apropriação de diferentes linguagens;

Page 11: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

Entre outros.

3

O gênero icônico é representado pelo visual, enquanto que o gênero icônico verbal

narrativo é representado

pelo visual verbal. Nas HQs, tanto pode predominar o visual quanto o visual verbal, por

isso, a classificação em

gênero icônico ou icônico verbal narrativo. 4 Estrutura da HQ

O sistema narrativo das HQs é composto por dois códigos que atuam em constante

interação: o visual e o verbal. Também, utiliza elementos comunicacionais específicos

que

identificam a linguagem8

, são eles:

4.1 Requadro

É o elemento determinativo das margens de uma vinheta. Pode ser composto por uma

moldura, uma linha demarcatória ou uma borda. Tem como principal função distinguir

os

diferentes momentos da ação representados na história em quadrinhos, logo, também

agrega a

representação do tempo.

4.2 Desenho ou Vinheta

Pode representar o ambiente, ações e personagens. De modo que estas representações

gerem imagens eficazes para o entendimento da mensagem. Cada vinheta é constituída

da

relação dos elementos visuais com os elementos verbais.

Page 12: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

4.3 Linhas cinéticas Constitui o elemento comunicativo que ajuda no reconhecimento

visual dos objetos

representados. As linhas podem representar elas mesmas um objeto ou o contorno do

objeto,

podem criar um relevo ou superfície, dar idéia de luminosidade, além de representar

ações

concretas e movimentos.

4.4 Balão

O balão vai indicar a verbalização dos personagens. Ele possui variadas formas, cada

uma com significações distintas:

• O rabicho aponta para o personagem que está falando;

• Quando o rabicho é representado por bolinhas, indica que o personagem está

pensando;

• O balão pontilhado indica que o personagem está cochichando;

• O balão trêmulo indica o temor do personagem durante sua fala;

• O balão splash indica a raiva e alteração de voz do personagem.

4.5 Recordatório É a caixa de texto inserido na vinheta que tem como principal função

recordar ao leitor

os fatos narrados na HQ anterior. Também, funciona para indicar a simultaneidade dos

acontecimentos da narrativa, a passagem de tempo ou o deslocamento do espaço.

4.6 Onomatopeias

São palavras que indicam sons ambientais, ruídos, urros e interjeições humanas. Nas

HQs, adquirem o status de símbolos gráficos, complemetando e reiterando as ações

descritas

na narrativa.

4.7 Metáforas visuais

Page 13: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

Ocorrem quando uma imagem se associa a um conceito diferente de seu significado

original. 4.8 Cor

A colorização da HQ não se restringe somente aos aspectos estéticos. Ela pode refinar

a representação ambiental, dos personagens e movimentos, das emoções dos

personagens.

Também, sua significação poderá variar de acordo com cada cultura.

5 Trabalhando com as HQs

A utilização das HQs para o ensino de línguas estrangeiras pode ser realizada de

diversas maneiras. Neste trabalho, serão apresentadas algumas propostas visando o

desenvolvimento das competências leitor compreensiva, oral e escrita. São elas:

• Texto a partir da imagem

→ Essa técnica resulta na elaboração do texto verbal a partir das imagens;

→ Desenvolve a capacidade de decodificação a partir das imagens;

→ Estimula o Comportamento escritor do educando;

→ Desenvolve a competência escrita.

• Imagem a partir do texto

→ Essa técnica resulta na elaboração do texto visual a partir do texto verbal;

→ Desenvolve a competência leitor compreensiva do texto;

→ Estimula o Comportamento leitor do educando;

→ Desenvolve a capacidade criativa. • Leitura, compreensão e discussão da HQ

→ Desenvolve a competência leitor compreensiva do texto;

→ Estimula o Comportamento leitor;

→ Desenvolve a competência oral;

→ Desenvolve o senso crítico;

→ Possibilita o desenvolvimento da competência argumentativa.

Page 14: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

• Produção da HQ a partir de um tema discutido em sala de aula

→ Desenvolve a competência escrita;

→ Desenvolve a capacidade criativa;

→ Desenvolve a capacidade de produção do gênero textual HQ.

As HQs nacionais podem ser utilizadas nesta proposta desde que as falas dos balões

sejam suprimidas ou substituídas por falas da língua estrangeira estudada.

6 Considerações Finais

Diante dos conceitos e contribuições apresentados em relação à utilização de gêneros

textuais no processo ensino/aprendizagem de línguas, fica latente que o gênero textual

história

em quadrinhos pode ser uma boa ferramenta eficaz para esse processo. Podendo

desenvolver

nos educandos: competência leitor compreensiva, competência oral, competência

escrita,

comportamento leitor, comportamento escritor, competência argumentativa, senso

crítico,

imaginário e criatividade, além da capacidade para a decodificação e a apropriação de

diferentes linguagens.

Para o ensino/aprendizagem de línguas estrangeiras, tendo como foco a Educação

Básica, o gênero HQ se constitui uma ferramenta adequada para a realização das

propostas

deste presente trabalho. Pois, ele estimula a leitura prazer, já que possui um formato,

O presente estudo teve o propósito de investigar as histórias em quadrinhos sob a

óptica da teoria dos gêneros discursivos proposta por Bakhtin (1992) com a

finalidade de se produzir um material didático coerente com essa teoria. Por meio

do estudo realizado constatou-se que é possível produzir um material didático

Page 15: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

condizente com a teoria do ISD. A análise do gênero HQ que se propôs aqui foi de

fundamental importância para compreender os mecanismos envolvidos na produção

desse gênero.

Ao se produzir a SD com o gênero História em Quadrinhos o objetivo foi o de

apresentar uma proposta pedagógica que instrumentalizasse (SCHNEUWLY E DOLZ,

2004) os professores de LI para o ensino por meio dos gêneros discursivos. Ao

adotar as propostas de Schneuwly e Dolz (2004), Lopes-Rossi (2005) e Ramos

(2004) para a produção de uma sequência personalizada, adequada a um

determinado público-alvo, se descobriu que é possível confeccionar um material

didático que seja reflexo das crenças, dos estudos e da vontade de tornar a

aprendizagem de Língua Inglesa uma experiência divertida, eficaz e duradoura.

Apesar desses tímidos avanços, só em 1837 com a "Les Amours de Monsieur

VieuxBois",

de Rodolph Topffer, as histórias em quadrinhos começam a apresentar o

formato característico que hoje conhecemos. Mais tarde, em 1892, o jornal San

Francisco Examiner publica a história "Little Bears and Tykes", desenhada por

James Swinneston, considerada a primeira história em quadrinhos americana

(FERRO, 1987, MOYA, 1993 apud ALVES, 2000).

No final do século XIX, o "Yellow Kid", desenhado por Richard Outcault e publicado

semanalmente no New York World, tornou-se o primeiro herói dos quadrinhos

(IANONNE e IANONNE, 1994 apud MENDONÇA, 2003). No Brasil, o marco inicial

das HQ foi a publicação de "As aventuras de Nhô Quim", de Ângelo Agostini,

veiculada na revista carioca Vida Fluminense, em janeiro de 1869. Embora italiano,

Agostini refletia em suas histórias o contexto brasileiro da época, retratando os

ideais abolicionistas e republicanos (CIRNE, 1990 apud ALVES, 2000).

Page 16: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

Apesar desses tímidos avanços, só em 1837 com a "Les Amours de Monsieur

VieuxBois",

de Rodolph Topffer, as histórias em quadrinhos começam a apresentar o

formato característico que hoje conhecemos. Mais tarde, em 1892, o jornal San

Francisco Examiner publica a história "Little Bears and Tykes", desenhada por

James Swinneston, considerada a primeira história em quadrinhos americana

(FERRO, 1987, MOYA, 1993 apud ALVES, 2000).

No final do século XIX, o "Yellow Kid", desenhado por Richard Outcault e publicado

semanalmente no New York World, tornou-se o primeiro herói dos quadrinhos

(IANONNE e IANONNE, 1994 apud MENDONÇA, 2003). No Brasil, o marco inicial

das HQ foi a publicação de "As aventuras de Nhô Quim", de Ângelo Agostini,

veiculada na revista carioca Vida Fluminense, em janeiro de 1869. Embora italiano,

Agostini refletia em suas histórias o contexto brasileiro da época, retratando os

ideais abolicionistas e republicanos (CIRNE, 1990 apud ALVES, 2000).

2. O GÊNERO HQ - QUE QUADRO É ESSE?

O estudo das características genéricas das HQ pode, em primeira instância, parecer

simples devido à facilidade em sua identificação e pela criação de sentidos que as

histórias propiciam, mas como alerta Mendonça (2003, p. 195), "as HQ revelam-se

um gênero tão complexo quanto os outros no que tange ao seu funcionamento

discursivo".

Numa perspectiva semiótica, Cirne (2000 apud MENDONÇA, 2003, p.195) afirma

que "quadrinhos são uma narrativa gráfico-visual, impulsionada por sucessivos

cortes, cortes estes que agenciam imagens rabiscadas, desenhadas e/ou pintadas".

Pode-se pensar os quadrinhos como uma narração dividida em cenas e que conta

com o auxílio visual para que os leitores reconstruam a história. Essa característica

Page 17: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

leva Mendonça (2003) a classificar o gênero como icônico-verbal.

Importante, neste ponto de reconhecimento, é fazer a desambiguação entre

gêneros semelhantes aos quadrinhos que, de acordo com o cartunista Fernando

Moretti (2001 apud MENDONÇA, 2003, p. 197), seriam:

Caricatura: Deformação de características marcantes de uma pessoa, animal,

coisa ou fato. A caricatura pode ser usada como ilustração ou complemento de uma

matéria, e pode estar contida numa charge.

Charge: tem as mesmas características da caricatura, embora nela o desenho sirva

de enunciado único, resumindo em si a mensagem. A charge exige do leitor um

conhecimento de mundo maior do que a caricatura, pois exige inferência

contextual. As charges "envelhecem" com o contexto situacional.

Cartum: É uma forma de expressar idéias e opiniões políticas, esportivas,

religiosas, sociais, que se originou depois da charge. Enquanto a charge é

situacional, o cartum é atemporal. Podem apresentar balões, legendas e sequências

de imagens enquadradas, embora essas últimas sejam em número limitado e

inferior à quantidade de quadros existentes nas HQ. No cartum não há exigência de

continuidade nem de personagens fixos, como no caso dos quadrinhos.

Tira: É um subtipo de HQ, porém mais curta, contando com até quatro quadrinhos.

Podem ser sequenciais (em capítulos) ou fechadas (episódios diários). Segundo

Mendonça (2001 apud MENDONÇA 2003), as tiras também podem versar sobre

aspectos políticos, econômicos ou religiosos, mas não são tão imediatistas quanto

as charges. Dividem-se as tiras fechadas em tiras-piada e tiras-episódio.Em relação aos

aspectos visuais, as HQ contam, além dos desenhos, com

elementos que facilitam a reconstrução da narrativa ou auxiliam os recursos

linguísticos. Nota-se o uso dos seguintes recursos visuais: balões de fala,

Page 18: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

pensamento, cochicho, berro, medo, xingamento, expressão, balões uníssonos,

externos, subordinados, representações imagéticas, planos (close, primeiro plano,

panorama), calhas, setas diretivas e retângulos narrativos. As onomatopéias

apresentam-se mais visuais que verbais. Aqui, não se trata apenas de representar

sons, e sim de criar um "efeito sonoro", com suas devidas características e

proporções, como se estivéssemos "visualizando o som", tornando mais fluida a

leitura. A maioria das onomatopéias tem sua origem em verbos da língua inglesa

(ex: crash, smack, splash).

A linguagem das HQ é determinada pelas características do público-alvo a que os

gibis se destinam. Tem fortes marcas de oralidade e registro informal, com gírias,

reduções vocabulares, expressões idiomáticas, contrações, interjeições, além das já

citadas onomatopéias. Os verbos apresentam-se em diversos tempos, sendo difícil

determinar sua predominância. As frases são carregadas de pontos de exclamação

e de interrogação no intuito de reproduzir graficamente a entonação do diálogo

informal. Percebe-se, em alguns quadrinhos, o uso de metalinguagem.

3. FRUIÇÃO E COGNIÇÃO - DOIS COELHOS

Ler é melhor do que estudar[3]. O motivo a que se pode atribuir esse fato ‒ aliás,

observável - é que normalmente selecionamos nossa leitura, procurando assuntos

de nosso interesse de forma a transformar a leitura em fruição. Se nos lembrarmos

de quantas vezes, na escola, fomos repreendidos por "ler gibis" ao invés de

"estudar", perceberemos que o conceito de fruição/cognição era impraticável até

pouco tempo atrás. De fato, como afirma Mendonça (2003) em relação às HQ, a

escola se exime de explorar textos desse tipo como ferramenta pedagógica e

aumenta o abismo entre o que o aluno quer e o que a escola oferece.

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Mendonça (2003, p. 194) comenta ainda que "É fato incontestável que jovens

leitores (e nem tão jovens assim) deleitam-se com as tramas narrativas de

personagens diversos, heróis ou anti-heróis, montadas através do recurso da

quadrinização". Embora se preste também a abordar assuntos como a ocupação da

Palestina, passagens bíblicas, a Guerra de Canudos etc., a autora acredita que

atualmente as HQ têm assumido um caráter humorístico, fato que se comprova

pelo local em que as tirinhas são inseridas nos jornais: normalmente os cadernos

de lazer.

O humor a que Mendonça (2003) se refere pode ser facilmente associado ao lúdico

quando um educador une diversão à educação. Gonçalves (2006) define lúdico

como característica daquilo que diverte enquanto educa. A autora comenta que o

gosto pelo lúdico é inerente ao homem, independente de sua idade. Quando

propomos uma atividade lúdica há maiores chances de atrair o interesse dos

alunos, proporcionando uma aprendizagem mais significativa e diminuindo a

incidência da indisciplina, visto que enquanto os estudantes estão entretidos em

algo que lhes dá prazer, dificilmente há lugar para conversas, discussões ou

qualquer atitude inadequada. Além disso, o lúdico ajuda a superar a timidez e o

medo da exposição que as aulas de língua estrangeira possam suscitar

(GONÇALVES, 2006).

Em relação à cognição, as HQ apresentam várias possibilidades de aplicação, como

a leitura, explorando-se suas características processuais, contextuais e genéricas.

Nos aspectos léxico-gramaticais, podem ser explorados vocabulário, morfologia,

sintaxe, pontuação, ortografia etc., ou seja, todos os aspectos que outros textos

possibilitam. Há também a possibilidade de ensino da língua oral, já que o gênero

apresenta características tanto da escrita quanto da oralidade. Nas aulas de língua

Page 20: Análise Do Gênero Textual Quadrinhos

inglesa essa oportunidade pode ser muito importante, principalmente quando há

falta de material adequado para o ensino da oralidade. A aproximação com a língua

oral cotidiana permite apreender estruturas e usos típicos dessa modalidade e, em

um trabalho um pouco mais aprofundado, é possível até mesmo um estudo fonético

proveitoso, que envolva pronúncia, entonação etc.

As histórias em quadrinhos estão presentes na vida dos indivíduos mesmo antes de

aprenderem a ler: a imagem possibilita inferência e interpretação quase imediata.

Sua leitura é atraente e divertida e pode ser utilizada para fins pedagógicos,

interdisciplinares, inclusive para a abordagem dos temas transversais propostos

pelos PCN (BRASIL, 1998).

Nas aulas de língua inglesa os recursos icônicos podem ser de grande valia,

auxiliando os alunos na reconstrução de histórias e sentidos e possibilitando

inferência do sentido do texto, mesmo que esse esteja em outra língua.

Interesse, motivação, diversão, as HQ trazem para o contexto escolar aspectos que

os alunos buscam fora dele. É exatamente aí que se define o papel do educador:

tornar o ensino uma experiência prazerosa e sintonizada com a vida dos alunos.

Verificou-se que o humor presente nas HQ tem a possibilidade de tornar a

aprendizagem por meio desse gênero lúdica, e, que para que a ludicidade ocorra, o

trabalho do professor é fundamental na medida em que transforma em educativa

uma experiência prazerosa.