AVALIAO ERGONMICA DO TRABALHO DE UMA PANIFICADORA

Luciano Jos Minette, D.Sc. Departamento de Engenharia Eltrica e de Produo

Campus da UFV 36.570-000 Viosa Minas Gerais

E-mail: minette@ufv.br Patrcia Brando Amorim, M.Sc.

Emlia Pio da Silva, M.Sc. Amaury Paulo de Souza, Ph.D.

Horjana Aparecida Navarro Fernandes, M.Sc. Alcione Tvora Kullok, M.Sc.

Ivana de Cssia Baptista dos Santos, M.Sc.

Palavras-chave: Condies de trabalho, ergonomia, sade.

Os locais de fabricao de pes e bolos muitas vezes podem apresentar condies de trabalho adversas sade e bem-estar do trabalhador. O objetivo deste trabalho foi avaliar as condies de trabalho de uma padaria. A populao estudada foi constituda de trabalhadores envolvidos na fabricao de pes e bolos. Para avaliao das condies de trabalho foram realizadas observaes in locus, filmagens e fotos do dia tpico de trabalho. Os resultados evidenciaram que o trabalhador do setor de padarias est exposto a condies ambientais desfavorveis, sendo o mesmo obrigado a adotar posturas foradas e incorretas, ficando ento susceptvel aparecimento das DORTs.

Key words: Work conditions, ergonomics, health.

The breads and cakes production workplace many times can present adverse conditions to health and well-being of workers. The objective of this paper was to evaluate ergonomic factors affecting a bakery work conditions. The studied population was constituted of workers involved in the production of breads and cakes. Work conditions were evaluated by means of observations, photos and videotapes made during a typical working day. The results evidenced that the bakery workers were exposed to unfavorable environmental conditions, incorrect or forced working postures and carried out repetitive tasks that could cause work-related musculoskeletal disorders.

1. INTRODUO

As condies de trabalho se referem a tudo o que influencia o prprio trabalho, ou seja, alm do posto de trabalho e seu ambiente, englobam tambm as relaes entre produo e salrio, a durao da jornada de trabalho, perodo de frias, aposentadoria, os horrios de trabalho, repouso, alimentao, servio mdico, social, escolar e transporte (WISNER, 1987).

As padarias e confeitarias um setor de servio, que emprega um grande nmero de trabalhadores, e como qualquer ambiente de trabalho apresenta problemas ergonmicos e de segurana ocupacional.

Durante a realizao da atividade do padeiro possvel observar posturas foradas e incorretas, movimentos repetitivos, situaes de exigncia de fora fsica e demais riscos ambientais, como rudo, temperatura elevada e etc. Tais situaes de trabalho podem provocar distenses msculo-ligamentares, compresso de estruturas nervosas, fadiga muscular e lombalgias (COUTO, 1995).

comum observar ainda o transporte e manuseio manual de cargas, que afeta diretamente a coluna do trabalhador, podendo dar origem as hrnias de disco, que uma causa comum de cervicalgias e dorsolombalbias, podendo exigir afastamentos prolongados do trabalho (RIO e PIRES, 1999). Os proprietrios de padarias devem enfatizar o aspecto preventivo de assistncia sade do trabalhador. Buscando alternativas que visem atuar no controle e eliminao dos riscos em suas fontes geradoras, e no aps a ocorrncia de acidentes e doenas (PORTO, 2000).

De acordo com RIO e PIRES (1999), a integridade da sade dos trabalhadores uma condio determinante para o desempenho e produtividade da empresa. Fatores, como motivao, treinamento e comprometimento compem juntamente com a sade o conjunto de condies que permite s pessoas tornarem o trabalho um diferencial competitivo da mais alta importncia estratgica para as empresas.

O trabalho de fabricao de pes e bolos, realizado nas padarias e confeitarias, deve ser regido pelos princpios da Norma Regulamentadora 17, pois a mesma estabelece parmetros que permitem alcanar os objetivos propostos pela ergonomia, ou seja, adaptar as condies de trabalho s caractersticas psicofisilogicos dos trabalhadores, objetivando conforto, bem-estar e desempenho eficiente (SOUZA, 2002).

O objetivo deste trabalho foi avaliar as condies de trabalho de uma padaria visando melhoria da sade, segurana, conforto e bem-estar dos trabalhadores. 2. METODOLOGIA 2.1 Caracterizao do local de estudo Este estudo foi realizado em uma padaria, localizada no municpio de Lajinha, Minas Gerais. 2.2 Populao e amostragem A populao pesquisada foi constituda de 4 padeiros, totalizando 100% dos trabalhadores envolvidos na produo de pes e bolos. 2.3 Caracterizao das condies de trabalho Para avaliao das condies de trabalho foram realizadas observaes in locus, filmagens e fotos do dia tpico de trabalho, em situaes reais. Foi utilizado ainda um questionrio aplicado individual, em forma de entrevista. 3. RESULTADOS E DISCUSSO

A atividade de fabricao de pes e bolos realizada de maneira ininterrupta durante 8 horas por dia, sendo ainda necessrio que o trabalhador faa hora extra diariamente, sem intervalo determinado para almoo. Esta forma continuada de trabalho pode provocar fadiga muscular que provoca uma reduo reversvel da capacidade do organismo e uma degradao qualitativa do trabalho. A pessoa fatigada comea a fazer simplificao de sua tarefa, elevando assim as chances de erros e acidentes (IIDA, 1990).

Os trabalhadores consideram o trabalho pesado e a atividade extremamente perigosa, relatam que no final do dia esto mentalmente cansados e estressados; no esto satisfeitos com os salrios; e no acham importante a utilizao dos equipamentos de proteo individual. De acordo com Couto, 2002 o organismo humano quando expostos a estas situaes de trabalho, torna-se tenso, fragilizado e propenso fadiga, estresse e adoecimento. Quando o nvel de tenso excessivo, o indivduo comea a sofrer e o sistema msculo-esqueltico o mais prejudicado, ficando susceptvel ao aparecimento das doenas osteomusculares relacionadas ao trabalho (DORTs).

Os trabalhadores acometidos pelas DORTs queixam de sintomas como dor, dormncia, fadiga, fraqueza, queimao etc. Esses sintomas aparecem de maneira insidiosa e inicialmente os trabalhadores tendem a escond-los pensando que vo passar rapidamente e acabam chegando a concluso de que no conseguem mais continuar a trabalhar e so obrigados a procurar o servio mdico (MAENO, 2001).

Os trabalhadores relataram que a empresa no exige e muito menos fornece equipamento de proteo individual (EPIs). De acordo com Ayres e Corra (2001), os EPIs desempenham importante papel na reduo das leses

provocadas pelos acidentes do trabalho e das doenas profissionais e quando os trabalhadores so bem treinados e instrudos no uso dos EPIs os riscos que os mesmos esto expostos so bem menores, alm do mais os empregadores so obrigados a adotar medidas de segurana e higiene do trabalho, a fim de proteger seus empregados contra os riscos de acidentes e doenas ocupacionais.

A temperatura no ambiente de trabalho foi considerada alta pelos trabalhadores e tanto o rudo quanto a claridade excessivos. Segundo IIDA (1990), quando o homem obrigado a suportar altas temperaturas, o seu rendimento cai, as pausas se tornam freqentes e maiores, o grau de concentrao diminui e a freqncia de erros e acidentes tende a aumentar significativamente e a conseqncia mais evidente do rudo surdez que inicialmente pode ser temporria, mas com o tempo pode se tornar irreversvel.

Segundo RIO e PIRES (2001), na vida cotidiana, no trabalho ou fora dele, as pessoas so obrigadas a adotar posturas que podem ser adequadas para a manuteno da sade do sistema msculo-esqueltico, ou podem ser excessivas causando disfunes nesse sistema.

Os postos de trabalho avaliados no esto adaptados a caractersticas antropomtricas dos trabalhadores. Desta maneira os trabalhadores so obrigados a adotar posturas foradas e incorretas durante toda jornada de trabalho. Esta situao pode ser considerada inadequada e antiergonmica, resultando em desarranjos biomecnicos, distenses msculo-ligamentares, compresso de estruturas nervosas e dores musculares (COUTO, 2002).

A organizao de um posto de trabalho pode influenciar diretamente na condio de sade de um trabalhador, entre um posto de trabalho mais baixo e outro um pouco mais alto, prefervel e no correto que o mesmo esteja um pouco mais elevado, pois mais prejudicial para o trabalhador ficar com o tronco flexionado do que com os braos um pouco mais elevados. O ideal e recomendado o posto de trabalho adaptado s caractersticas antropomtricas do trabalhador.

A profisso de padeiro exige ainda do homem fora excessiva e movimentos repetitivos para realizao da tarefa. Quanto mais fora se exige do trabalhador e quanto maior for o nmero de movimentos repetitivos; mais propenso ele estar a desenvolver leses por traumas cumulativos. Neste caso as pausas programadas poderiam funcionar como mecanismos naturais de recuperao, ajudando a prevenir a ocorrncia de leses msculo-esqueltico. As atividades que requerem alta repetitividade dos movimentos podem se beneficiar com as pausas, pois haver um tempo para que os tendes voltem sua estrutura natural, uma vez que eles so viscoelsticos e demoram certo tempo a readquirirem a conformao natural. A ergonomia tem dedicado seus esforos para evitar tarefas e atividades repetitivas. J que o equilbrio das atividades, visando tornar seus ciclos adequados s caractersticas fsicas e psquicas das pessoas, fundamental para a sade e a produtividade humana (RIO e PIRES, 2001).

4. CONCLUSO

A partir deste estudo foi possvel concluir que para fabricao de pes e bolos, o trabalhador est exposto a condies ambientais desfavorveis, sendo o mesmo obrigado a adotar posturas foradas e incorretas. A atividade ainda pode causar um stress mental e irritabilidade dos funcionrios e exigir foras excessivas do trabalhador, ficando o mesmo susceptveis ao aparecimento das DORTs.

5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS AYRES, D. O.; CORRA, J. A. P. Manual de preveno de acidentes do trabalho: Aspectos tcnicos e legais. 1. ed. So

Paulo: Atlas, 2001. 243 p. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho em 18 lies. 1. ed. Belo Horizonte: Ergo, 2002. 202 p.

COUTO, H. A.; NICOLETTI, S. J.; LECH, O. et al. Como gerenciar a questo LER/DORT: Leses por esforos repetitivos, distrbios osteomusculares relacionados ao trabalho. 1. ed. Belo Horizonte: Ergo, 1998. 438p.

COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho: O manual tcnico da mquina humana. 1. ed. Belo Horizonte: Ergo, 1995.

353 p. IIDA, I. Ergonomia: Projeto e produo. So Paulo: Edgar Blcher, 1990. 465 p. MAENO, M. Leses por esforos repetitivos: Ler. Cadernos de Sade do Trabalhador, 2001. PORTO, M. F.S. Anlise de riscos nos locais de trabalho: conhecer para transformar. Caderno de Sade do Trabalhador,

2000. RIO, R. P.; PIRES, L. Ergonomia: Fundamentos da prtica ergonmica. 1. ed. Belo Horizonte: Editora Helth, 1999. 200 p. RIO, R. P.; PIRES, L. Ergonomia: Fundamentos da prtica ergonmica. 3. ed. Belo Horizonte: Editora Helth, 2001. 225 p. SOUZA, A. M. P. A. A influncia das condies de trabalho na atividade de crie dental de trabalhadores em padaria e

confeitaria: estudo de caso. Florianpolis, Santa Catarina: UFSC, 2002. 123 f. Dissertao (Mestrado em Engenharia de Produo) Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis.

WISNER, A. A inteligncia no trabalho: Textos selecionados de ergonomia. So Paulo: Fundacentro, UNESP, 1994. 190 p.