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__________________________________________________________________________________________ Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 1 INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI FACULDADES IDEAU ANÁLISE MICROBIOLÓGICA E SENSORIAL EM AMOSTRAS DE DOCE DE LEITE NA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL PICCOLI, Vanusa Rodrigues¹ [email protected] FLORES, Sabrina Pavan¹ [email protected] ARTUSO, Dienifer Teixeira¹ [email protected] FOLETTO, Robison¹ [email protected] KONIG, Fernanda¹ [email protected] OLIVEIRA, Franciele de² [email protected] FACCIN, Ângela² [email protected] ALMEIDA, Mauro Antonio [email protected] GOTTLIEB, Juliana² [email protected] GUIMARÃES, Tarcicio Guerra² [email protected] OLIVEIRA, Daniela dos Santos² [email protected] ARRUDA, Tiago de Zart² [email protected] RITTER, Felipe² [email protected] ¹ Discentes do Curso Medicina Veterinária, Nível VII 2016/1- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso Medicina Veterinária, Nível VII 2016/1 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS. RESUMO: O doce de leite é um alimento muito comum no Brasil e na América Latina. Sua produção artesanal, à base de leite cru e com adoção de medidas sanitárias menos rígidas que as adotadas pela indústria alimentícia durante a produção, propicia a contaminação por microrganismos prejudiciais à saúde humana. O objetivo do trabalho foi analisar a qualidade microbiológica e sensorial do doce de leite produzido por agroindústrias da região Norte do Estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, analisou-se a contagem de Coliformes Termotolerantes a 45°C e de Staphylococcus coagulase positiva, bem como a detecção de Salmonella sp em três amostras de doce de leite colonial produzidas sem controle de inspeção e adquiridas direto do produtor. Além disso, utilizou- se o painel sensorial de produtos lácteos, onde foram avaliados o sabor, a aparência, o aroma e a intenção de compra do consumidor quanto ao produto. As amostras analisadas não apresentaram contaminação acima do limite máximo permitido pela legislação por coliformes termotolerantes e por Sthapylococcus sp. Também não foi verificada contaminação por Salmonella sp nas mesmas, que, dessa forma, mostraram-se aptas ao consumo humano porque não ofereceram riscos à saúde pública. Quanto aos aspectos sensoriais, observou-se maior aceitação, inclusive comercial, à amostra mais pastosa e menos doce dentre as analisadas. Os resultados indicam uma relação direta entre qualidade microbiológica e práticas de higienização, bem como entre qualidade sensorial e concentração de açúcar e tempo de cozimento. Palavras-chave: doce de leite colonial, qualidade microbiológica, análise sensorial.

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA E SENSORIAL EM AMOSTRAS … · É o que pode ocorrer, ... os quais afetam a ... O crescimento bacteriano nos alimentos é determinado por fatores intrínsecos

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Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático – Getúlio Vargas – RS – Brasil 1

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI

FACULDADES IDEAU

ANÁLISE MICROBIOLÓGICA E SENSORIAL EM AMOSTRAS DE

DOCE DE LEITE NA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL

PICCOLI, Vanusa Rodrigues¹

[email protected]

FLORES, Sabrina Pavan¹

[email protected]

ARTUSO, Dienifer Teixeira¹

[email protected]

FOLETTO, Robison¹

[email protected]

KONIG, Fernanda¹

[email protected]

OLIVEIRA, Franciele de²

[email protected]

FACCIN, Ângela²

[email protected]

ALMEIDA, Mauro Antonio

[email protected]

GOTTLIEB, Juliana²

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GUIMARÃES, Tarcicio Guerra²

[email protected]

OLIVEIRA, Daniela dos Santos²

[email protected]

ARRUDA, Tiago de Zart²

[email protected]

RITTER, Felipe²

[email protected]

¹ Discentes do Curso Medicina Veterinária, Nível VII 2016/1- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

² Docentes do Curso Medicina Veterinária, Nível VII 2016/1 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

RESUMO: O doce de leite é um alimento muito comum no Brasil e na América Latina. Sua produção artesanal,

à base de leite cru e com adoção de medidas sanitárias menos rígidas que as adotadas pela indústria alimentícia

durante a produção, propicia a contaminação por microrganismos prejudiciais à saúde humana. O objetivo do

trabalho foi analisar a qualidade microbiológica e sensorial do doce de leite produzido por agroindústrias da

região Norte do Estado do Rio Grande do Sul. Para tanto, analisou-se a contagem de Coliformes Termotolerantes

a 45°C e de Staphylococcus coagulase positiva, bem como a detecção de Salmonella sp em três amostras de doce

de leite colonial produzidas sem controle de inspeção e adquiridas direto do produtor. Além disso, utilizou- se o

painel sensorial de produtos lácteos, onde foram avaliados o sabor, a aparência, o aroma e a intenção de compra

do consumidor quanto ao produto. As amostras analisadas não apresentaram contaminação acima do limite

máximo permitido pela legislação por coliformes termotolerantes e por Sthapylococcus sp. Também não foi

verificada contaminação por Salmonella sp nas mesmas, que, dessa forma, mostraram-se aptas ao consumo

humano porque não ofereceram riscos à saúde pública. Quanto aos aspectos sensoriais, observou-se maior

aceitação, inclusive comercial, à amostra mais pastosa e menos doce dentre as analisadas. Os resultados indicam

uma relação direta entre qualidade microbiológica e práticas de higienização, bem como entre qualidade

sensorial e concentração de açúcar e tempo de cozimento.

Palavras-chave: doce de leite colonial, qualidade microbiológica, análise sensorial.

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ABSTRACT: The dulce de leche is a very common food in Brazil and Latin America. Its craft production, raw

milk and adoption of less stringent sanitary measures than those adopted by the food industry for the production,

provides contamination by micro-organisms harmful to human health. The objective is to analyze the

microbiological and sensory quality dulce de leche produced by agribusinesses from the North region of the

State of Rio Grande do Sul. Therefore, we analyzed the coliform thermotolerant count at 45 ° C and

Staphylococcus coagulase positive and and detection of Salmonella in three samples of fresh milk produced

without colonial inspection acquired and direct control of the producer. In addition, we used the sensory panel of

dairy products were evaluated in taste, appearance, aroma and consumer purchase intent as to the product. The

samples analyzed were not contaminated above the maximum allowed by law for coliforms and Sthapylococcus

sp. It was also not checked contamination by Salmonella in the same, which thus proved to be suitable for human

consumption because it offered no public health risks. As for the sensory aspects, there was greater acceptance,

including commercial, to sample more doughy and less sweet among the analyzed. The results indicate a direct

relationship between microbiological quality and hygiene practices, and between sensory quality and

concentration of sugar and cooking time.

Keywords: dulce de leche, microbiological quality, sensory analysis.

1 INTRODUÇÃO

Na indústria de alimentos, é central a preocupação com a higienização, pois ela tem

uma dupla face. Do ponto de vista econômico, a produção de alimentos contaminados por

agentes químicos, físicos ou biológicos acarreta perdas pós-processamento que reduzem o

tempo de prateleira do alimento porque altera suas características nutritivas e sensoriais. Já do

ponto de vista da saúde pública, a negligência às medidas de segurança alimentar traz o risco

de doenças – sobretudo bacterianas – veiculadas por alimentos, como a salmonelose e a

intoxicação alimentar por coliformes fecais e estafilococus (ANDRADE., 2008).

É o que pode ocorrer, por exemplo, na produção de doce de leite, muito comum no

Brasil e em toda a América Latina por seu sabor característico, resultante de reações de

escurecimento não enzimático do leite cozido e adicionado de sacarose. Bastante popular, o

doce de leite é comumente consumido em pasta ou tablete, na forma de sobremesa,

acompanhamento para pães e queijos, e no preparo de produtos de confeitaria, como bolos e

tortas (DEMIATE et al., 2001). Em termos nutricionais, é rico em proteínas e minerais e

apresenta alto valor energético (TORRES et al., 2000)

A higiene também está intimamente ligada à qualidade de produção, a qual, além do

cumprimento de normas legais, estabelece um padrão que pode ser um diferencial competitivo

no mercado. Para tanto, uma das ferramentas é a avaliação de qualidade, que afere aspectos

físico-químicos, microbiológicos e sensoriais dos produtos (JAY., 2005).

A análise microbiológica é útil, principalmente, à eliminação e redução de

microrganismos prejudiciais à saúde humana, como as bactérias, responsáveis por 70% dos

surtos e 95% dos casos de intoxicação alimentar (CDC apud JAY., 2005). Aplicada ao doce

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de leite, ela pode atestar a presença de Salmonella sp, Staphylococcus sp coagulase positiva,

coliformes termotolerantes (como a Escherichia coli) e bolores e leveduras, os quais afetam a

qualidade do produto e podem trazer riscos à saúde, sobretudo por causarem doenças do trato

gastrointestinal.

A análise sensorial, por sua vez, avalia as reações humanas a características como a

cor, o sabor, o aroma e a textura dos alimentos (CASTANHEIRA., 2012). Diante da

importância de se produzir alimentos de qualidade, o objetivo deste trabalho foi realizar

análises microbiológicas e sensoriais do doce de leite produzido por agroindústrias da região

Norte do Estado do Rio Grande do Sul.

2 MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no Hospital Veterinário São Francisco, no Campus III da

Faculdade Ideau, de Getúlio Vargas, no período compreendido entre abril e maio de 2016.

Inicialmente, foram coletadas três amostras de doce de leite colonial, sem inspeção,

identificadas e denominadas de amostra 1, 2 e 3, as mesmas foram encaminhadas para análise

A Figura 1 mostra como foi feita a identificação das amostras.

Figura 1: Identificação das amostras de doce de leite.

Fonte: Autores, 2016.

Em seguida, as amostras de doce de leite foram transportadas em recipientes

isotérmicos até o Laboratório de Análises Microbiológicas da Universidade Regional

Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) – Campus Erechim, onde foram submetidas

aos ensaios microbiológicos de: Contagem de Coliformes Termotolerantes a 45ºC, Contagem

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de Staphylococcus sp coagulase positiva, e Salmonella sp. Os três ensaios foram realizados

segundo a Resolução RDC nº 12 de 02/01/2001 - ANVISA (BRASIL, 2001).

Para as análises sensoriais contou-se com o auxílio de oito provadores não treinados,

que avaliaram a aparência global, o aroma e o sabor das três amostras de doce de leite,

identificadas. Para tanto, utilizou-se a escala hedônica de 1 (gostei extremamente) a 9

(desgostei extremamente). Também se avaliou a intenção de compra do produto, mas a partir

de escala hedônica com valores de 1 (certamente compraria) a 5 (certamente não compraria).

O processo é ilustrado pela Figura 2.

Figura 2: Avaliadores não treinados degustando amostras de doce de leite colonial durante análise sensorial.

Fonte: Autores, 2016.

Os resultados obtidos com as análises microbiológicas e sensoriais foram dispostos em

planilha no Office 2010, onde foram analisados para, posteriormente, serem apresentados por

meio de tabela e discutidos à luz da literatura consagrada que dá suporte teórico a presente

pesquisa.

3 RESULTADOS E ANÁLISE

As três amostras (100%) de doce de leite colonial analisadas apresentaram contagens

de Coliformes Termotolerantes e de Staphylococcus sp coagulase positiva em conformidade

com o que preconiza a Resolução RDC nº 12 de 02/01/2001 - ANVISA (BRASIL, 2001).

Resultados semelhantes foram observados quanto à contaminação do doce de leite por

Salmonella sp. Os dados revelam que as três amostras (100%) analisadas apresentaram

contagens dentro dos limites permitidos pela legislação vigente, conforme se observa na

Tabela 1.

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Tabela 1: Contagem de Coliforme termotolerantes a 45º, Salmonela sp e Staphylococcus sp

coagulase positiva em amostras de doce de leite colonial sem inspeção sanitária

comercializadas na região Norte do RS.

Resultados do Ensaio

Ensaio Amostra Padrão Resultado

Coliformes Termotolerantes a 45o C NMP/g 1 5,0 x 10 < 3

Coliformes Termotolerantes a 45o C NMP/g 2 5,0 x 10 < 3

Coliformes Termotolerantes a 45o C NMP/g

3 5,0 x 10 < 3

Salmonella sp. 25g 1 Ausência Ausente

Salmonella sp. 25g 2 Ausência Ausente

Salmonella sp. 25g

3

Ausência Ausente

Staphylococcus sp coagulase positiva UFC/ g 1 1,0 x 102 Ausente

Staphylococcus sp coagulase positiva UFC/ g 2 1,0 x 102 Ausente

Staphylococcus sp coagulase positiva UFC/ g 3 1,0 x 102 Ausente

À primeira vista, a ausência de microrganismos nas amostras analisadas chama a

atenção, visto que se trata de doce de leite colonial não inspecionado. No entanto, os

resultados encontram respaldo na literatura. Em estudos semelhantes, Brito et al.(2004) e

Destri et al.(2007) também encontraram resultados negativos para patogênicos Salmonella sp,

Coliformes a 45ºC, e Staphylococcus sp coagulase positiva em amostras de doce de leite

comercializadas em feiras livres. A explicação é apresentada por Jay (2005), segundo o qual é

incomum a deterioração bacteriana em alimentos doces produzidos e armazenados

adequadamente.

Nesse sentido, a manipulação, cocção e armazenamento adequados do produto, aliadas

ao incremento de medidas sanitárias, mostra-se um fator fundamental à qualidade

microbiológica do doce de leite (DESTRI et al., 2009; ZANDONADI et al., 2007). Afinal, as

condições de produção artesanal não raro apresentam falhas que têm início na obtenção de

matéria-prima não segura e terminam no armazenamento impróprio dos produtos. Todos esses

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fatores contribuem para o aumento do risco de contaminação por microrganismos prejudiciais

à saúde humana (SOARES et al., 2010).

O crescimento bacteriano nos alimentos é determinado por fatores intrínsecos e

extrínsecos. Dentre os primeiros, Franco (1996 apud SOARES et al., 2010, p. 10) destaca a

atividade da água, a acidez, o potencial de oxirredução, a composição química, a presença de

fatores antimicrobianos naturais e as interações entre os microrganismos presentes nesses

alimentos. Já dentre os extrínsecos, elenca como mais importantes a umidade relativa, a

temperatura ambiente e a composição química da atmosfera que os envolve.

A atividade da água corresponde ao índice de disponibilidade desse mineral para a

ocorrência de reações químicas e crescimento microbiano durante a produção de determinado

alimento. Quanto maior a adição de substâncias como sais e açúcares, menor esse índice.

Correlatamente, quanto mais baixa a atividade da água, mais se reduz a capacidade de

multiplicação por parte dos microrganismos (VALSECHI, 2006; FRANCO et al., 2008).

Segundo Massaguer (2005), não há crescimento microbiano quando a atividade da água é

inferior a 0,50. Simão (1985 apud SOARES et al., 2010) ressalta que nenhum microrganismo

patogênico cresce a atividade da água abaixo de 0,85, mas os não patogênicos se desenvolvem

a partir de mais ou menos 0,6 e são responsáveis pela deterioração de alimentos.

O mesmo se aplica à acidez do leite. Segundo Castro (1985), esta deve ser igual a

13ºD e, para tanto, pode-se aplicar a correção com bicarbonato de sódio (NaHCO3)

(MARTINS, 1980; LOPES, 1980). Essa condição deve ser observada, pois, conforme Franco

(1997), o pH em torno da neutralidade (entre 6, 5 e 7,5) favorece o crescimento de

microrganismos. O autor ressalta, contudo, que alguns microrganismos são favorecidos pelo

meio ácido, como ocorre com bactérias láticas, fungos e leveduras, certamente porque há

inibição da microbiota de competição (FRANCO et al., 2008 apud SOARES et al., 2010).

Dessa forma, infere-se que a ausência dos microrganismos Salmonella sp, Coliformes

a 45ºC, e Staphylococcus sp coagulase positiva nas amostras pesquisadas pode ter sido

ocasionada, além de fatores sanitários e de preparo adequados, pela adição de sacarose e

bicarbonato de sódio ao doce de leite colonial analisado.

Porém, a capacidade de multiplicação e sobrevivência da maioria das bactérias

causadoras de deterioração dos alimentos depende também de potencial de oxirredução

positivo e da presença ou ausência de fatores antimicrobianos naturais. No primeiro caso,

esses microrganismos, que são aeróbicos, agem sobre o potencial de oxirredução do meio

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assim como agem sobre o pH (FRANCO et al., 2008 apud SOARES et al., 2010), No

segundo, estruturas biológicas que funcionam como barreiras para a penetração de

microrganismos e compostos químicos que atuam como conservantes são adicionados de

forma proposital aos alimentos. Em ambos os casos, isso pode alterar sua qualidade

microbiológica.

Além disso, tal qualidade pode ser afetada pela produção de metabólitos: antibióticos,

bacteriocinas, peróxido de hidrogênio e ácidos orgânicos (JAY, 2005), bem como adição de

microrganismos inofensivos. Estes últimos têm a função de estimular a competição entre os

componentes da microbiota presente no intuito de eliminar ou reduzir os microrganismos

patogênicos (FRANCO et al., 2008). Diante disso, é possível inferir também que a ocorrência

de um ou mais desses fatores pode ter contribuído para a condição de qualidade

microbiológica que se constatou.

No que concerne aos fatores extrínsecos, a umidade relativa do meio de

armazenamento tende a diminuir conforme aumenta a temperatura. Alimentos que sofrem

deterioração por certas bactérias em sua superfície, por exemplo, devem ser armazenados em

condições de baixa umidade relativa (JAY, 2005).

Em relação à temperatura do ambiente, os microrganismos podem se multiplicar em

uma faixa bastante ampla, que varia entre -35°C e 90°C. Germano & Germano (2008)

destacam que “todos os microrganismos que constituem risco para a segurança dos alimentos

multiplicam-se idealmente na faixa de temperatura entre 30 e 45° C”. Para Jay (2005), a

determinação da temperatura ideal de armazenamento depende da umidade relativa e da

presença de CO2 e O3 no ambiente. A propósito da composição gasosa desse ambiente, na

presença de oxigênio, ocorre a multiplicação de microrganismos aeróbios. Contrariamente,

em sua ausência, predominarão os anaeróbios.

Não se pode afirmar em que medida esses fatores extrínsecos podem ter contribuído

para inibir o crescimento bacteriano, uma vez que estes pesquisadores não tiveram acesso aos

locais de produção e armazenamento do doce de leite colonial analisado nesta pesquisa. No

entanto, é necessário considerar a possibilidade dessa relação causal, conforme indica a

literatura.

Por fim, há que se considerar também que, no caso específico do doce de leite, a

utilização de conservantes químicos, como o sorbato de potássio, o enchimento a quente, a

conservação em condições de anaerobiose e a baixa atividade de água – em consequência da

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alta concentração de sólidos comum nos processos de fabricação baseados em tecnologia –

reduzem o potencial de desenvolvimento bacteriano e contribuem para a sua segurança

microbiológica (SOARES et al., 2010).

Novamente, não se pode fazer afirmações a respeito de condições físico-químicas ou

de manipulação e de conservação do alimento analisado. Mas se pode inferir sobre a possível

interferência representada pela baixa atividade da água, comum a esse alimento conforme

Soares et al, (2010).

A realização de análise sensorial neste trabalho deveu-se à importância da mesma na

indústria de alimentos, onde contribui direta ou indiretamente, por exemplo, na reformulação

e redução de custos de produtos, relações entre condições de processo, ingredientes, aspectos

analíticos e sensoriais.

Entretanto, é no desenvolvimento de novos produtos e no controle de qualidade dos

alimentos que a compreensão, determinação e avaliação das características sensoriais dos

produtos mostram-se fundamentais (TEIXEIRA., 2009). Os resultados da análise sensorial

das amostras de doce de leite analisadas são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2: Resultados da análise de doce de leite colonial, sem inspeção, comercializadas na

região Norte do RS.

Amostra Sabor Aroma Aparência global

1 2,5 2,4 1,8

2 2 2,3 1,7

3 3,1 2,4 2,6

Os dados demonstram considerável variação na avaliação do sabor, pois o preferido

pelos entrevistados foi o da amostra 2; e os menos aceitos, que foram os da amostras 1 e 3.

Essa variação pode estar relacionada à complexidade desse atributo, o qual mistura sensações

gustativas, olfativas e táteis (ABNT., 1993). Além disso, o sabor dos alimentos é influenciado

por efeitos táteis, térmicos, dolorosos ou sinestésicos. Assim, sua análise deve levar e conta

características como o tempo para ele ser percebido pelo paladar e o sabor residual, que

permanece na boca depois da deglutição desse alimento (TEIXEIRA., 2009).

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Quanto ao aroma, a avaliação mostrou-se bastante equilibrada: neste critério, a

amostra que obteve a melhor avaliação foi novamente a 2. As amostra 1 e 3 receberam,

empatadas, menor avaliação, porém com uma média minimamente maior que a da anterior.

Infere-se que tal equilíbrio pode estar relacionado ao fato de esse atributo mostrar-se menos

complexo que o sabor.

De acordo com Anzáldua- Morales (apud TEIXEIRA, 2009), o aroma consiste na

propriedade de perceber, pela via retronasal, as substâncias aromáticas contidas em um

alimento que é colocado na boca. Como as três amostras analisadas foram feitas com

ingredientes semelhantes ou idênticos, a percepção, logo, mostrou-se também semelhante.

A aparência global perfez uma avaliação também pouco heterogênea. De acordo com

ela, a amostra melhor avaliada foi, mais uma vez, a 2. A pior avaliação para o mesmo item foi

recebida pela amostra 3. Observa-se que a média apresentada por está é quase um ponto maior

que as médias obtidas pelas amostras 1 e 2.

Para a avaliação desse atributo, conforme Anzáldua- Morales (apud TEIXEIRA,

2009), consideram-se a cor e a textura. A cor corresponde ao primeiro contato do consumidor

com o produto e apresenta três características: tom (relacionado ao comprimento da onda de

luz refletida pelo objeto), intensidade (variável conforme a quantidade de corante apresentada

pelo alimento) e brilho (quantidade de luz refletida em comparação à quantidade de luz que

incide sobre o produto).

Já a textura diz respeito ao conjunto de propriedades reológicas e estruturais

(geométricas e de superfície) do alimento, percebidas quando ele é mordido ou cortado, por

exemplo. Dentre suas principais formas de manifestação estão crocância, resistência e

aspereza. As características desse atributo podem ser divididas em mecânicas, geométricas e

de composição (TEIXEIRA, 2009).

Ante essa variada gama de elementos a considerar, entende-se que a homogeneidade

dos resultados da avaliação da aparência global está na convergência das singularidades

perceptivas dos julgadores.

A avaliação de compra também se revelou díspar, conforme demonstra a tabela 3.

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Tabela 3: Resultados intenção de compra das amostras de doce de leite colonial, sem

inspeção, comercializadas na região Norte do RS.

Resultados da Análise

Amostra Intenção de compra

1 2,2

2 1,8

3 2,6

Segundo os resultados, a melhor avaliação para esse item foi recebida pela amostra 2;

e a pior, pela amostra 3, sendo que a média harmônica apresentada por esta é quase um ponto

maior que a obtida pela amostra 2.

Os dados permitem observar que a amostra 2 recebeu a melhor avaliação geral em

todos os aspectos analisados. Diferentemente, o pior desempenho foi o da amostra 3, que teve

a pior avaliação também em todos os aspectos. A amostra 1 apresentou desempenho

intermediário em três dos quatro aspectos em análise, sendo a pior avaliada, empatada com a

amostra 3, quanto ao aroma.

Analisando-se cada amostra em separado quanto a seus aspectos sensoriais, e

desconsiderando a intenção de compra, a 1 apresentou melhor desempenho na análise da

aparência global e pior resultado quanto ao sabor. A amostra 2 apresentou melhor

desempenho quanto à aparência global, e seu pior índice foi o referente ao aroma. Já a

amostra 3 teve mais bem avaliado o aroma e apresentou seu pior resultado quanto ao sabor.

Durante a realização desta pesquisa, não foi possível ter acesso às informações

referentes à composição físico-química das amostras de doce de leite analisadas nem às

condições de preparo e cozimento das mesmas. Essa limitação dificultou possíveis

explicações sobre a preferência dos avaliadores pela amostra 2.

No entanto, os julgadores realizaram degustações, manipulações e um exame visual

das referidas amostras durante a atividade de preparação da análise sensorial. Com base nesse

exercício, observou-se que a amostra 1 apresentava consistência bastante pastosa e o sabor

mais leve dentre todas. A amostra 2 revelou-se também bastante pastosa, mas a de sabor

menos doce. Já a amostra 3 apresentava consistência mais líquida e sabor mais doce que o

das primeiras.

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Diante disso, infere-se que a amostra 1 foi submetida, provavelmente, a um longo

tempo de cozimento, assim como a amostra 2, a qual, no entanto, pareceu conter menos

adição de açúcar que a anterior. A amostra 3 denotou menos tempo de cozimento e mais

adição de açúcar que as demais.

Portanto, entende-se que a razão da preferência pela amostra 2 pode estar na

consistência pastosa e no sabor menos enjoativo, porque menos doce, os quais se mostram

condizentes com os resultados obtidos pela amostra tanto na análise do sabor quanto da

aparência global sua aparência era mais clara que as demais. Contrariamente, a maior rejeição

à amostra 3 pode dever-se à consistência líquida e ao sabor consideravelmente doce,

consonantes com o mau desempenho da mesma na avaliação do sabor e da aparência global,

sua aprencia era mais escura.

Os dados explicariam também a pouca variação revelada pela análise do aroma e

permitiriam, ainda, entender os resultados da avaliação da intenção de compra como o reflexo

natural das qualidades sensoriais apresentadas por cada uma das três amostras analisadas.

4 CONCLUSÃO

Os resultados obtidos pela presente pesquisa revelam que as amostras de doce de leite

colonial sem inspeção apresentaram Contagem de Coliformes Termotolerantes, Salmonela sp

e Staphylococcus sp coagulase positiva dentro do limite máximo permitido pela legislação.

Portanto, não apresentam riscos à saúde pública, sendo considerados próprios para o consumo

humano. Além de boa qualidade microbiológica e alta segurança alimentar, os resultados

também indicam a qualidade sensorial e a aceitabilidade comercial do produto analisado,

sobretudo por características como consistência pastosa e sabor doce pouco intenso.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Nélio José de. Higiene na indústria de alimentos: avaliação e controle da

adesão e formação de biofilmes bacterianos. São Paulo: Varela, 2008.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. Análise sensorial dos

alimentos e bebidas: terminologia, 1993. 8 p.

BRASIL, ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Resolução RDC nº 12 de

02/01/2001.

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CASTANHEIRA, Ana Carolina Guimarães. Controle de qualidade de leite e derivados. 2.

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