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ANEURISMA DE AORTA
❖ Introdução
Definições:
o Aneurisma é definido como uma dilatação focal e permanente da artéria com
um aumento de pelo menos 50% do diâmetro normal do vaso. Os aneurismas
de aorta abdominal (AAA) são os mais comuns, resulta em uma degeneração
da túnica média arterial, gerando um aumento lento e contínuo da luz do vaso.
o Aneurisma verdadeiro é aquele que contém todas as camadas da parede
arterial (íntima, média e adventícia).
o Pseudoaneurisma é definido como um hematoma pulsátil não contido por
todas as camadas da parede arterial, que se encontra confinado por uma
cápsula fibrosa.
o Ectasia também é uma dilatação vascular, porém com medidas inferiores às
do aneurisma.
4,5% de todos os homens >60anos sofrem da doença como portadores
assintomáticos. O aneurisma se constitui a 10º causa de morte, responsável por 2%
de todas as mortes.
Na aorta, os segmentos mais afetados incluem o abdominal infrarrenal (80%), o
torácico ascendente (5,5%) e o torácico descendente (12%). Em aproximadamente
2,5% dos casos, os aneurismas são toracoabdominais.
O diâmetro médio da aorta infrarrenal é de 1,4 a 2,4 cm em homens e 1,2 a 2,1 cm
em mulheres. Diagnosticamos AAA, quando o diâmetro da aorta for maior do que 3
cm no homem ou maior do que 2,6 cm na mulher
Causas: A causa mais comum é a degeneração da parede pela doença aterosclerótica
e, entre outras causas, incluem-se infecção, necrose cística da túnica média, artrite,
trauma, doença do tecido conjuntivo e degeneração anastomótica.
❖ Fatores de risco
Fatores de risco: Idade avançada (>75 anos), gênero masculino, tabagismo(78%),
HF+.
Fatores associados: história prévia, altura elevada, DAC, Hipercolesterolemia,
HAS, Variantes no cromossomo 9p21, Homocisteinemia, altos níveis de lipoproteína
A e do inibidor do fator ativador de plasminogênio, DM (controlverso), uso de BB.
Fatores para a ruptura: Diâmetro do aneurisma maior que 6 centímetros no
momento do diagnóstico é um fator de risco significante e independente para
ruptura de AAA, Sexo feminino, tabagismo, HAS, taxa de expansão, pico de estresse
da parede, aumento rápido do trombo intraluminal, diâmetro de base aumentado,
rápido crescimento, aumento da rigidez da parede do AAA e pacientes
transplantados são outros fatores preditores de ruptura, VEF1 reduzido,
configuração sacular.
❖ Classificação
❖ Fisiopatologia
As artérias são formadas por três camadas (íntima, média e adventícia). A camada
média é a mais extensa, estando delimitada por duas lâminas elásticas (interna e
externa) que confere resistência e elasticidade. Existem 3 principais teorinas
• Teoria aterosclerótica
o Lesão de células endoteliais (cisalhamento, HAS, dislipidemia, tabagismo, DM,
mediadores inflamatórios) → reparação por proliferação de células
musculares lisas → aumento da permeabilidade às LDL → ativação de
monócitos, macrófagos, plaquetas e linfócitos T → disfunção endotelial →
aumento da espessura das camadas e global do vaso → perda da elastina e
apoptose de células musculares lisas
o Os aneurismas ocorre
predominantemente na camada
média e em vasos de maior
calibre.
A aterosclerose são mais
comuns na intima e mais
prevalentes em artérias de
pequeno calibre
o Mesmo os fatores de risco sendo comuns, não se explica a diferença nas
patologias. No entanto, o achado de placas ateroscleróticas nos tecidos
aneurismáticos levou a hipótese de que a deposição da placa com dilatação
localizada diminui a espessura da média e predispõe a formação do aneurisma,
mas não explica a progressão distinta das duas patologias → possivelmente, a
regressão da placa leva à dilatação ou uma resposta anômala das células
musculares lisas, neutrófilos e uma superprodução de elastase ou ainda uma
ação aumentada de enzimas proteolíticas na placa levaria a uma degeneração
aterosclerítica
• Teoria inflamatória
o Não se sabe os gatilhos que iniciam o processo inflamatório → inflamação
transmural crônica → degradação da elastina, colágeno e fibronectina
(camada média)
o Ação de LT → ↑ IL6 + INF → prolonga a resposta imune. O próprio aneurisma
é fonte de IL6 (auto-imunidade) → ↑citocinas→ ativam receptores de
apoptose nas células musculares lisas e ↓ colágeno.
o Além disso, LT modula a resposta das metaloproteinase (MMP 1,2,3 e9) →
impotantes no remodelamento vascular. Estudos demonstram aumento da
MMp2 nos tecidos aneurismáticos.
o O tabagismo está diretamente relacionado com a degradação da elastina e
colágeno da média arterial pela ativação de MMP 1 e2
o Níveis aumentados de PCR, osteopontina
o Drogas imunossupressoras diminuem a progressão da doença
• Teoria genética
o Existe uma predisposição familiar na patologia aneurismática → 15%. Se
existe dois ou mais membros a incidência aumenta e chega a 70% se a mãe
tem a doença
o Alterações no cromossomo19
❖ Quadro clínico
o Maioria é assintomática
o Com observadores experientes pode-se conseguir auscultar um sopro e a
palpação abdominal, com comprovação dos pulsos, pode detectar uma massa
palpável (pulsátil e expansiva) ou frémitos → 38%
o Dor abdominal atípica/ dor lombar difusa, com predomínio do lado esquerdo
→ compressão de estruturas vizinhas
o Sintomas ureterais
o Aneurismas inflamatórios: dor abdominal espontânea em cerca de 70 a 80%
dos casos, com perda de peso, sintomatologia ureteral, leucocitose e aumento
de VHS.
o Aneurismas infecciosos: secundários a infecção por Salmonella → dor
abdominal e manifestações sépticas
o Aneurismas fissurados: ruptura parcial (retroperitoneal) → dor em FIE ou
bilateral com irradiação para virilha e região glútea + quadro vagal,
hipotensão, lipotimia → choque hipovolêmico e Parada
o Aneurismas fissurados contidos ou com fistulização ao trato
gastrointestinal ou cava superior: erosão da parede intestinal pelo próprio
aneurisma. muitas vezes, uma comunicação fechada por um trombo, mas nos
casos em que a comunicação é funcionante, pode ser auscultado um sopro, com
manifestações clínicas de insuficiência cardíaca congestiva, hipertensão
venosa, cianose e isquemia de extremidades
o Isquemia aguda: embolo com origem aorto-ilíaca → isquemia de membros
inferiores, embolização de microcristais de colesterol com isquemia e cianose
de pododáctilos (síndrome do dedo azul)
❖ Diagnóstico diferencial
• Colecistite aguda
• Peritonite por rotura de víscera oca
• IAM
• Cólica renal/Pielonefrite
❖ Exames complementares
Ultrassonografia (USG), a Tomografia Computadorizada contrastada (iodo) e a
Ressonância Nuclear Magnética (contrastada com gadolíneo)
• TC
o Assim como na RM, reservado para avaliação pré e pós cirúrgica. a TC com
contraste permite diagnóstico anatômico mais preciso e melhor planejamento
pré-cirúrgico, pois define com mais precisão a localização, tamanho,
morfologia, extensão do aneurisma e acometimento dos ramos da aorta.
o Método de escolha em pacientes com suspeita de ruptura, a TC, mesmo sem
contraste, permite a identificação de hematoma intramural, trombo
heterogêneo ou em remodelação e outros sinais consistentes como o sinal do
contorno posterior da aorta. Diâmetro diagnosticado é >2mm
o Cuidado com o uso de contraste em pacientes com uso de hipoglicemiantes de
excreção renal → acúmulo → IRA. Em pacientes já com doença renal, o iodo
pode provocar acúmulo de metformina e paciente evolui com acidose lática
fatal em 50%
o A angiotomografia computadorizada de aorta (ou angio-TC helicoidal) é o
método de imagem mais preciso para delinear a anatomia do aneurisma
• RM
o É possível conseguir imagens de qualquer plano ortogonal, avaliação precisa da
extensão do comprometimento em casos inflamatórios, não é possível
visualizar calcificações. Tende a subestimar as dimensões aneutismáticas
o Uso do contraste gadolínio em pacientes com taxa de filtração glomerular
inferior a Sistêmica 30 ml/kg/min apresenta elevado risco para fibrose
sistêmica nefrogênica
• Arteriografia
o Cada vez menos utilizada no pré operatório, estuda apenas a luz e não detecta
o verdadeiro aneurisma. Usada em casos de doença obliterante associada.
o É útil para detectar envolvimento de outras artérias, como as renais e as
ilíacas
• USG
o Pacientes assintomáticos e com HF+ → técnica de rastreio.
o A utilização da ecografia abdominal ou do ecoDoppler considera-se o gold
standard na detecção do aneu risma
o Não é recomendada para avaliação pré-operatória, pois as imagens do lúmen
verdadeiro e a as dimensões do aneurisma podem ser subestimadas
o devido à presença de trombo parietal
o Estudo randomizado controlado mostrou que ao longo de 10 anos, o
rastreamento com USG em homens com idade entre 64 e 73 anos que são ou
já foram fumantes (rastreio deve ser anual)Os não fumantes podem ou não
optar pela realização do exame→ leva à redução da mortalidade devido ao
AAA em 73%
o A principal limitação da USG é no diagnóstico da ruptura do aneurisma, que
pode não ser identificada pelo exame em até 50% dos casos.
• RX abdominal
o Calcificações aórticas, desaparecimento da linha do psoas
❖ Tratamento
• Tratamento clínico
o Cessação do tabagismo, TTo da HAS, dislipidemias, DM e outros fatores de
risco para aterosclerose.
o Estatinas 3 meses antes da intervenção cirúrgica → redução da morbidade e
redução do risco cardiovascular global.
o BB para pacientes com alto risco cardiovascular e com doença isquêmica →
redução da expansão, atenuam o impacto da onda sistólica, diminui o stress
circunferencial da parede
o Antibióticos (doxiciclina - um antimicrobiano inibidor de metaloproteinases)
→ atua por efeito catalítico e pela redução da transcrição de MMP
o Inibidores de NF-KB → inibe a ativação das MMP
o TTo da HAS → o esquema deve incluir IECA
o AAS em baixas doses
o Assintomáticos→ acompanhamento com USG em intervalos regulares. O
reparo eletivo é feito se AAA fusiformes >5cm no homem e 4,5cm na mulher,
crescimento rápido do aneurisma (> 1cm/ano) e o aparecimento de sintomas.
o Sintomáticos → pacientes apresentando dor lombar/abdominal devem ser
submetidos a TC imediata para confirmação de ruptura. Há evidencias que
estatinas possam reduzir a expansão do aneurisma
• Tratamento cirúrgico
o Cirurgia eletiva: redução no tempo de cirurgia, menor perda de sangue e
mortalidade em 30 dias e menos complicações cardíacas e respiratórias,
resultando diminuição do período de internação e de permanência em unidade
de cuidados intensivos
▪ Indicações: tem como base o risco de ruptura que o paciente apresenta,
AAA > 5,5 cm de diâmetro, presença de uma taxa de crescimento dos AAA
acompanhada pela USG > 0,5 cm em seis meses ou > 1 cm em doze meses,
presença de sintomas, surgimento de complicações, como embolização
periférica ou infecção dos AAA, e configuração sacular dos AAA
o Cirurgia aberta: incisão abdominal e substituição da aorta lesada por tubo
sintético ou enxerto aórtico
▪ O acesso transperitoneal se faz através de laparotomia mediana ampla. O
cirurgião vascular acessa a aorta por meio da mobilização superior do
omento e cólon transverso, somada à retração do delgado para a direita.
Durante a exposição do segmento da aorta abdominal infrarrenal, a
Artéria Mesentérica Inferior (AMI) se origina a meio caminho entre a
emergência das renais e a bifurcação aórtica (a aorta se bifurca em ilíacas
comuns). Após o clampeamento das regiões proximal e distal ao aneurisma,
o saco aneurismático é aberto e o conteúdo do aneurisma (coágulos e
debris ateroscleróticos) é retirado.
▪ Em seguida, uma prótese (enxerto) de Dacron ou PTFE, com diâmetro de
16 ou 18 mm, é interposta.
o Endovascular: menos invasiva, utiliza uma endoprótese para reforçar a parede
da aorta e ajudar a impedir que a área lesionada se rompa. Punção femoral →
acesso ao aneurisma através de um fio guia e liberação da endoprótese no
interior da aorta. Os candidatos devem apresentar anatomia favorável.
❖ Ruptura do Aneurisma
É a complicação mais temida. Dor abdominal aguda, intensa e de início súbito,
frequentemente se irradia para a região lombar/ inguinal. Fácies de dor aguda e
sudorese profusa.
Nas fases iniciais da ruptura para o retroperitôneo o sangramento é contido pelos
tecidos periaorticos → hemodimamicamente estável + massa pulsante dolorosa =
aneurisma em expansão
Ruptura livre → dor e massa pulsátil + choque hemorrágico de instalação rápida.
Intervenção imediata (A mortalidade cirúrgica gira em torno de 45-50%)
o Se estabilidade realizar angio-TC helicoidal de aorta para melhor elucidação
do quadro e para definir se a anatomia é favorável ou não a uma abordagem
Endovascular.
o Se há instabilidade a possibilidade de terapia endovascular ainda pode ser
determinada no intraoperatório → balão de oclusão aórtico inserido através
de um acesso femoral anestesista inicia a reposição volêmica → aortografia
é realizada para se avaliar a anatomia vascular → Em casos de anatomia
favorável, o balão vai sendo desinflado na medida em que o cirurgião vascular
progride a endoprótese. A conversão para a cirurgia aberta deve ser imediata
na presença das seguintes complicações: não controle do sangramento com o
balão de oclusão aórtico, incapacidade de se posicionar a endoprótese e
sangramento continuado mesmo após a colocação da endoprótese.
o Na cirurgia de emergência, a colite isquêmica pode ser observada em até 30%
dos casos → Diarreia sanguinolenta, distensão abdominal e febre aparecem
nas próximas 48 horas.
❖ Outras localizações de aneurisma
• Aneurisma de artéria ilíaca
o Cerca de 20% dos pacientes com aneurisma de aorta abdominal distal possuem
concomitantemente aneurisma ilíaco
o Apresentação clínica: A apresentação mais comum do aneurisma ilíaco refere-
se à compressão ou erosão de estruturas adjacentes, Alguns pacientes
apresentam ruptura da lesão. Obstrução do ureter com subsequente
pielonefrite aguda e sepse pode ser a primeira manifestação de um aneurisma
ilíaco. A ruptura para ureter ou bexiga pode ocasionar desde hematúria
microscópica até maciça. Síndromes neurológicas devido à compressão do
nervo femoral, do nervo obturador ou do nervo ciático, eventualmente são
observadas.
o Ruptura: equimose perianal (dissecção do sangue pelo espaço retroperitoneal),
redução do tônus do esfíncter anal
o Exames: TC e RM. USG não tem boa acurácia. A arteriografia se necessidade
de reparo cirúrgico
• Aneurismas da artéria poplítea
o É o aneurisma periférico mais comum. Aproximadamente 70% dos aneurismas
poplíteos estão associados a aneurismas aortoilíacos e 50% deles são
bilaterais. Os aneurismas poplíteos apresentam uma alta taxa de complicações
tromboembólicas, que podem resultar em perda do membro inferior (trombose
poplítea) ou em achados como a síndrome do “dedo azul”, em embolizações
distais. Outras alterações observadas
o Apresentação clínica: dor/ desconforto local, massa pulsátil em expansão,
sopro/frêmito local (na anatomia do vaso). Alto risco de perda do membro por
complicação tromboembólica
o Exames: O duplex scan arterial é o exame de escolha para confirmação
diagnóstica → antes da intervenção
o Intervenção: independente de seu diâmetro ou da presença ou não de
sintomas – deve ser tratado assim que o diagnóstico é realizado.
• Aneurismas de artéria femoral
o frequentemente acometem a artéria femoral comum e, em alguns doentes, se
estendem ou são limitados pela artéria femoral superficial na parte média da
coxa - 90% apresentam aneurisma aortoilíaco associado e em 60% dos casos
os aneurismas são bilaterais.
o Alto risco de perda do membro por complicação tromboembólica
o Conduta é cirúrgica
o pseudoaneurisma da artéria femoral: resultado de iatrogenia provocada pela
punção e/ou canulação da artéria femoral comum; ocorre ruptura da parede
arterial, com o sangue extravasado sendo contido pelos tecidos circunvizinhos,
resultando em um hematoma de tamanho variável, mas geralmente estável →
dor, abaulamento → horas ou dias após a manipulação→ Doppler + compressão
manual guiada por USG para induzir trombose
• Aneurismas da Aorta Torácica e Aorta Toracoabdominal
o Os aneurismas toracoabdominais são incomuns, representando
aproximadamente 5-10%. Na maior parte dos casos, a dilatação da aorta
torácica é assintomática e descoberta ao acaso.
o Apresentação: dor torácica mal definida, dispneia (compressão da árvore
traqueobrônquica), tosse, rouquidão (compressão do nervo laríngeo
recorrente) e disfagia (compressão esofágica).
o Sem tratamento, aproximadamente 75-80% dos aneurismas aórticos rompem
em uma média de dois a três anos após o diagnóstico. Ruptura mais frequente
em mulheres.
o A cirurgia consiste na substituição do segmento acometido por uma prótese
→ as indicações são as mesmas para AAA
o Classificação
DISSECÇÃO DE AORTA
❖ Introdução
A dissecção aguda da aorta possui baixa incidência (2,9 casos/100.000 pessoas/ano),
entretanto, apresenta grande importância devido à alta mortalidade precoce, de
1%/hora, quando não reconhecida e não tratada imediatamente.
A dissecção aguda da aorta (DAA) é uma emergência cardiovascular que cursa com
alta mortalidade, variável de 50% a 68,2% em 48 horas, 70% em uma semana e 85%
em um mês.
O início da dissecção é transversal, localizando se em 70% dos casos na aorta
ascendente (logo acima do plano valvar aórtico), em 20% na aorta descendente, após
o arco da aorta e em 10% na aorta transversa.
• Condições relacionadas:
o Hipertensão arterial é o fator mais comum, presente em 80% dos pacientes.
o Aterosclerose - 31%
o Acomete mais homens 2:1 a 5:1, entre 45-70 anos
o Doenças que afetam a parede do vaso:
▪ Doença arterial;
▪ Síndrome de marfan
(mutação no
cromossomo 15, que
regula a síntese de
fibrilina, essencial para
estabilidade da parede
aórtica);
▪ Síndrome de Ehlers-
Danos;
▪ Síndrome de Turner;
▪ Ectasia anuloaortica
▪ Aneurisma de aorta
prévio;
▪ Arterites;
▪ Trauma;
▪ Cirurgia cardíaca
prévia;
▪ Uso de crack
▪ Exercício físico
extenuante.
▪ Valva aórtica bicúspide
▪ Coarctação da aorta
o Doenças predispõem ao aparecimento da dissecção: HAS (62% a 78% dos
pacientes com dissecção), coarctação de aorta com estenose em valva aórtica
bicúspide e as síndromes de Marfan, de Turner e de Ehler-Danlos
❖ Fisiopatologia
Ocorre geralmente por meio de uma lesão na parede
do vaso, por meio da qual o sangue delamina suas
camadas, preferencialmente no sentido
anterógrado (maior energia cinética).
Local mais frequente: parede lateral direita da aorta ascendente (cisalhamento) e
torácica descendente, distal ao ligamento arterioso
A pressão na falsa luz e parede aórtica enfraquecida podem causar ruptura livre ou
para o pericárdio, sendo esse o principal mecanismo de morte.
A degeneração da túnica média, conhecida como necrose cística da média, é um pré-
requisito, estando presente em todos os casos de dissecção não traumática do vaso.
Sangue penetra no defeito → túnica médica → fenda longitudinal → falso lumem →
enfraquecimento da parede → aneurisma
Com a progressão anterógrada do sangue pelo falso lúmen, ramos arteriais
importantes da aorta (subclávia, carótida etc.) podem ser comprimidos ou ocluídos.
Com a progressão retrógrada da dissecção, as comissuras da valva aórtica podem
perder sustentação, o que gera insuficiência valvar aórtica grave.
Hematoma intramural: ruptura da vasa vasorum com hemorragia na parede da aorta
→ dissecção e ruptura
Úlcera aterosclerótica penetrante: erosão de uma placa em direção à túnica média
da artéria; esta lesão pode erodir em direção à lâmina elástica interna, ocasionando
hematoma da média, fenômeno que pode levar a falso aneurisma ou a ruptura.
❖ Classificação
• Classificação de DeBakey
o Tipo I: aorta ascendente, arco aórtico e aorta descendente (mais comum)
→ o hematoma se estende por uma distância variável além de aorta
ascendente;
o Tipo II: restrita a aorta ascendente → o hematoma dissecante fica
confinado a aorta ascendente.
o Tipo III: restrito à aorta descendente (logo depois da origem da artéria
subclávia esquerda), segunda mais comum;
• Classificação de Stanford
o Tipo A (exige correção cirúrgica): mais comum, envolvimento da aorta
ascendente e o local de reentrada pode estar localizado em qualquer local ao
longo do curso da aorta.
▪ Objetivos da intervenção cirúrgica imediata: evitar ruptura e
morte por tamponamento cardíaco, corrigir regurgitação aórtica,
evitar isquemia miocárdica, excluir o local de laceração da íntima
e redirecionar o fluxo pela luz verdadeira aos ramos supra-
aórticos e à aorta descendente.
o Tipo B (controlada com medicamentos, devido à mortalidade operatória
mais alta nesse grupo): não envolve a ascencente , somente a aorta
descendente e pode ir até a aorta abdominal
▪ O tratamento cirúrgico das dissecções agudas tipo B seja
condicionado à presença de complicações, como sinais de ruptura
aórtica (hemotórax, expansão rápida do diâmetro aórtico,
alargamento de mediastino), formação de pseudoaneurisma,
isquemia grave visceral ou de extremidades, ou progressão da
dissecção durante terapia medicamentosa, caracterizada por dor
persistente ou recorrente. Também casos de aorta previamente
aneurismática que sofrem dissecção aguda devem ser
considerados para cirurgia de urgência.
❖ Apresentação clínica
Mais comum em homens > 50 anos. Nas mulheres em idade > 60 anos.
Dor torácica de forte intensidade, irradia para dorso (interescapular) ou região
abdominal. De início súbito, caracterizada como dilacerante, cortante ou pulsátil.
Associada a sudorese. Pode ser limitada ao tórax ou retroesternal, irradia para o
dorso, abdome, membros. Associa-se à dispneia e ao edema pulmonar. A dor
persistente pode ser sinal de ruptura iminente. Apenas 6% dos paciente não
apresentam dor.
Sintomas neurológicos causados por compressão de vasos de base ou ramos
medulares → AVC, paraplegia (envolvimento da artéria espinhal), síncope (pior
prognóstico), sintomas TGI (obstrução mesentérica e isquemia de MMII).
A hipertensão arterial sistêmica é comum, especialmente, quando a dissecção
aórtica localiza-se distalmente. O acometimento da artéria subclávia pode provocar
pseudohipotensão, decorrente de sua aferição, a partir de um membro
comprometido em sua perfusão. Pode comprometer as artérias renais, ocasionando
a hipertensão grave renovascular (sopro sistodiastólico abdominal na topografia de
uma artéria renal)
Estes pacientes podem apresentar déficit de pulso, associado com a dissecção tipo
A, e o envolvimento das artérias carótidas, subclávias e femorais. Assimetria de
pulso em 50% do tipo A e em 1% do tipo B;
Sopro carotídeo intenso, devido à dissecção do tronco braquicefálico ou da carótida
ou sopro de Insuficiencia aórtica aguda, devido a dissecção dos folhetos que podem
se prolapsar para o ventrículo na diástole.
A insuficiência aórtica aguda ocorre em mais de um terço dos pacientes com
dissecção proximal, podendo se associar à oclusão coronária e à isquemia miocárdica,
inclusive com o infarto agudo do miocárdio
A dissecção retrógrada pode acometer os óstios coronarianos levando a um real IAM
→ coronária direita → bloqueio atrioventricular total.
A ruptura da aorta pode causar hemoptise, hematêmese ou choque circulatório. A
hipotensão arterial pode ser decorrente de tamponamento cardíaco, ruptura da
aorta ou de insuficiência aórtica aguda.
Além da aorta pode acometer artérias ilíacas, carótidas, mesentéricas, renais,
subclávias e as coronárias com consequente redução do fluxo sanguíneo e isquemia
dos territórios atingidos
Tipo A Tipo B
Início súbito de dor torácica
em região anterior do tórax, de
grande intensidade → rasgante,
cortante, pontada, ou igual a do IAM
→ caráter migratório e pico da dor no
inpicio
Dor súbita dor na região
dorsal torácica ou toracolombar. Pode
ser aguda (<14dias) ou crônica (>14dias)
Náuseas e sudorese
Posteriormente passa para região
dorsal (aorta descendente)
Se continuar até a aorta abdominal →
migra para região lombar e pode
irradiar para o abdome
Complicações: tamponamento cardíaco, compressão do mediastino (choque com
turgência jugular) e choque hemorrágico franco associado à síndrome do derrame
pleural (hemotórax) ou ascite (hemoperitônio).
❖ Diagnóstico
Suspeita clínica + confirmação por exame acurado rápido (localização, extensão, tipo,
presença de trombos, comprometimento de ramos e sinais iminentes de ruptura).
A radiografia de tórax e o eletrocardiograma devem ser realizados, apesar da sua
inespecificidade.
RX: achados não específicos. Podem-se identificar 1) alterações no contorno aórtico
que são quase patognomônicas de dissecção aórtica; 2) alargamento do mediastino
superior. Pode ser utilizado para diagnóstico diferencial também.
RM: mais acurado, contraindicação relativa para pacientes instáveis. A cine-RM e
outras técnicas de gradiente eco permitem a visibilização do sangue fluindo,
facilitando a diferenciação do fluxo lento do sangue e o coágulo e a determinação da
presença de insuficiência aórtica. O duplo lúmen e o flap da íntima são prontamente
identificados. Contraindicada em pacientes com marca-passo, grampo
ferromagnético de aneurisma e implante ocular ou otológico.
Aortografia e angiografia: padrão outro, pouco utilizada pois requer equipe
especializada, é um procedimento invasivo, e faz uso de contraste iodado. A
angiografia é bem tolerada por pacientes em estado crítico e tem a vantagem de
permitir a avaliação da válvula aórtica e o envolvimento dos ramos aórticos.
TC com contraste: acurado, rápido, mais usado como primeira escolha. A
angiografia por tomografia computadorizada (angio-TC) proporciona finos cortes
axiais de alta qualidade que mostram alterações murais, estados patológicos
extralúmen, relações espaciais e situação dos órgãos adjacentes, alta resolução de
contraste, alta sensibilidade para detecção de lesões calcificadas em imagens pré-
contraste e demonstração de causas extrínsecas de comprometimento vascular.
Ecocardiograma Transesofágico (ETE): escolha em casos de insuficiência aórtica
ou em pacientes instáveis, rápido, baixo custo, não invasivo; também é útil para a
detecção do envolvimento da artéria coronária com a dissecção. Limitações: falta de
visibilização da aorta abdominal e a forte dependência da experiência do
investigador.
O ideal é a associação dos resultados de diversos exames.
O principal diagnóstico diferencial da dissecção da aorta é o infarto agudo do
miocárdio.
• Infarto agudo do miocárdio
A dissecção aguda da aorta, secundária à hipertensão arterial, constitui-se em
emergência hipertensiva, caracterizada por súbita separação da camada média do
vaso, levando à infiltração de uma coluna de sangue em um espaço virtual formado
entre a íntima e a adventícia, determinando uma falsa luz e a formação de hematoma.
Diferencial com o IAM: As alterações anômalas do ST é sugestiva de IAM. No
entanto tem alterações inespecíficas em várias derivações, modificação do padrão
após o uso de nitrato sublingual, duração prolongada da dor, alterações enzimáticas
pouco expressivas
No entanto, dissecção e infarto do miocárdio podem ocorrer concomitantemente,
com taxas de 1,5% a 7,5%, e o envolvimento da artéria coronária direita é mais
comum do que o da coronária esquerda.
O quadro isquêmico miocárdico também pode ser explicado por perfusão coronariana
reduzida, que leva 10% a 15% dos pacientes com dissecção de aorta a apresentarem
anormalidades cinéticas e eletrocardiográficas da parede ventricular esquerda, sem
necessariamente cursar com IAM
As alterações miocárdicas isquêmicas encontradas poderiam ser decorrentes da
compressão da artéria coronária pela expansão do falso lúmen, da extensão do
processo de dissecção para o interior da coronária e da hipotensão ou a combinação
dessas condições.
❖ Conduta
85% dos pacientes não recebem tratamento médico adequado pela falha diagnóstica
Monitorização contínua em UTI.
Tratamento da dor → redução do tônus adrenérgico (morfina)
Controle rígido da PA e FC → diminuir a chance de progressão da dissecção e a
ocorrência de complicações → manutenção da PAS em 100-120mmHg e FC 55-65
→ usar BB (propranolol intravenoso (1 a 10 mg de ataque seguido da dose de 3 mg/h)
/ nitroprussiato → monitorar PAM
Antagonistas dos canais de cálcio (verapamil ou diltiazem) podem ser prescritos por
via intravenosa em doentes onde o nitroprussiato e os betabloqueadores não possam
ser utilizados Hidralazina está contraindicada (vasodilatadores)
Em casos de hipotensão → investigar tamponamento cardíaco + resposição volêmica
com cristaloides e derivados de sangue + vasopressor (noradrenalina) → cirurgia de
urgência.
Pacientes estáveis são controlados inicialmente com terapia medicamentosa. Os
instáveis hemodinamicamente ou com insuficiência respiratória devem ser
prontamente entubados e acoplados à ventilação mecânica, e elevados ao tratamento
intervencionista.
A terapia definitiva deve ser iniciada após essa abordagem inicial. A intervenção
cirúrgica imediata está indicada sempre que a dissecção aórtica envolver a aorta
ascendente.
A cirurgia é realizada com circulação extracorpórea associada à hipotermia
profunda a 26º C com parada circulatória total, dispondo-se de um período
satisfatório para a inspeção da crossa da aorta e sutura distal das camadas da aorta
ao tubo de Dacron ou de pericárdio bovino → reestabelece a circulação. A valva
aórtica pode ser preservada ou substituída conforme a necessidade
As complicações pós-operatórias precoces mais comuns são constituídas pela
infecção, sangramento, insuficiência pulmonar e renal. As complicações tardias
incluem a regurgitação aórtica progressiva, quando a valva aórtica não tiver sido
substituída; a formação de aneurismas localizados e a dissecção recorrente. A
sobrevida cirúrgica observada em 30 dias após a cirurgia das dissecções proximais
e distais é de 74% e de 69%, respectivamente
REFERÊNCIAS
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