74
ALEX LEDERMAN Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um modelo endovascular Tese apresentada à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo para a obtenção do título de Doutor em Ciências Programa de Clínica Cirúrgica Orientador: Prof. Dr. Erasmo Simão da Silva São Paulo 2015

Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

  • Upload
    others

  • View
    13

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

ALEX LEDERMAN

Indução de aneurisma em aorta abdominal de

porcos: um modelo endovascular

Tese apresentada à Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo para a obtenção

do título de Doutor em Ciências

Programa de Clínica Cirúrgica

Orientador: Prof. Dr. Erasmo Simão da Silva

 

 

 

São Paulo

2015

Page 2: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Preparada pela Biblioteca da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

©reprodução autorizada pelo autor

Lederman, Alex Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos : um modelo endovascular / Alex Lederman. -- São Paulo, 2015.

Tese(doutorado)--Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Programa de Clínica Cirúrgica.

Orientador: Erasmo Simão da Silva. Descritores: 1.Aneurisma aórtico 2.Fenômenos biomecânicos 3.Cloreto de cálcio

4.Elastase 5.Modelos animais 6.Suínos 7.Procedimentos endovasculares

USP/FM/DBD-330/15

Page 3: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Dedicatória

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

À minha esposa Karina e aos meus filhos Daphne,

Raphael e Thomas, pelo carinho, compreensão e apoio.

A meus pais, Henrique e Ruth, pelo exemplo e

constante apoio e estímulo.

A meus irmãos, pela amizade e cumplicidade.

A todos da família, com carinho.

Page 4: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Agradecimentos

Ao Prof. Dr. Erasmo Simão da Silva, orientador deste estudo e um exemplo a ser

seguido.

Ao Prof. Dr. Ricardo Aun, idealizador e co-orientador deste estudo e a quem devo

grande parte da minha formação cirúrgica e endovascular.

Ao Prof. Dr. Luiz Francisco Poli de Figueiredo, in memoriam, que me incentivou e

ofereceu todo o apoio para a realização deste trabalho.

Ao Prof. Dr. José Pinhata Otoch, por todo auxílio nas fases inicias deste trabalho e

ensinamentos.

Ao Prof. Dr. Rimarcs Ferreira, pelos ensinamentos e análises histológicas das

amostras.

Aos Professores Titulares da Disciplina de Cirurgia Vascular e Endovascular, Profs.

Drs. Pedro Puech Leão e Nelson de Luccia, pela contribuição para a minha

formação.

Ao Prof. Dr. Eduardo de Toledo Aguiar, pelos ensinamentos e incentivo na minha

formação desde os tempos de aluno de graduação.

Ao Dr. Fernando Tavares Saliture Neto, amigo e companheiro, pela ajuda em todas

as etapas da elaboração deste trabalho.

Aos Drs. Igor Rafael Sincos e José Augusto Monteiro Tavares, pelo apoio e

ensinamentos na realização dos testes biomecânicos.

Ao Serviço de Anatomia Patológica do Hospital Universitário da USP, representado

pelo Dr. Aloísio Souza Felipe da Silva, pela colaboração na confecção do material

anatomopatológico.

Page 5: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

À Dra. Valéria Chida, veterinária do CETEC, pela anestesia e cuidados com os

animais utilizados durante este estudo.

Aos funcionários do CETEC, Luciana, Eduardo, Leandro e Vanessa, que cuidaram

com carinho dos "meus porquinhos", garantindo sempre um bom funcionamento e

andamento do projeto de pesquisa.

À Sra. Elivane da Silva Victor, pelo apoio na análise dos dados e orientações

estatísticas.

À Sra. Eliane Falconi Monico Gazetto, por todo apoio e ajuda a superar as barreiras

burocráticas de uma pós-graduação.

Aos meus Professores, todos aqueles que algum dia me ensinaram algo, por todas as

informações aprendidas ou não, e terem me aturado durante todos estes anos de

convívio.

Aos amigos da Divisão de Clínica Cirúrgica do Hospital Universitário da

Universidade de São Paulo.

Aos amigos e colegas Milena Dias Calsaverini, Boulanger Mioto Netto, Sérgio

Quilicci Belczak, Anna Paula Sincos, Sérgio Ricardo Abrão, Rodrigo Bono

Fukushima, Natali de Almeida Rodrigues, que "cuidaram da lojinha" nos períodos

em que me ausentei durante a realização desta tese.

À Sra. Fabíola de Cerqueira Ribeiro, pelo apoio incansável na logística do dia a dia.

Page 6: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esta tese está de acordo com as seguintes normas, em vigor no momento desta publicação: Referências: adaptado de International Committee of Medical Journal Editors (Vancouver). Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina. Divisão de Biblioteca e Documentação. Guia de apresentação de dissertações, teses e monografias. Elaborado por Anneliese Carneiro da Cunha, Maria Júlia de A. L. Freddi, Maria Fazanelli Crestana, Marinalva de Souza Aragão, Suely Campos Cardoso, Valéria Vilhena. 3ª edição. São Paulo: Divisão de Biblioteca e Documentação; 2011. Abreviaturas dos títulos dos periódicos de acordo com List of Journals Indexed in Index Medicus. Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto no 6.583 de 29/09/2008).

 

Page 7: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Sumário

Lista de abreviaturas, siglas e símbolos

Lista de figuras

Lista de tabelas

Resumo

Abstract

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1

2 OBJETIVOS ............................................................................................................. 9

3 MATERIAL E METODOLOGIA.......................................................................... 11

3.1 Procedimentos anestésicos e perioperatórios................................................. 15

3.2 Técnica cirúrgica............................................................................................ 17

3.3. Avaliação do procedimento .......................................................................... 20

3.4 Avaliação biomecânica .................................................................................. 21

3.5 Avaliação histopatológica.............................................................................. 28

3.6 Análise estatística .......................................................................................... 29

4 RESULTADOS ...................................................................................................... 30

4.1 Etapa 1 .......................................................................................................... 31

4.2 Etapa 2 .......................................................................................................... 33

4.2.1 Ultrassonografia.................................................................................... 34

4.2.2 Testes biomecânicos destrutivos uniaxiais de fragmentos da aorta...... 35

4.2.3 Anatomia patológica ............................................................................. 37

5 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 42

6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 50

7 ANEXOS ................................................................................................................ 52

8 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 56

Page 8: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Lista de Abreviaturas, Siglas e Símbolos

AAA aneurisma da aorta abdominal

AAALAC Association for Assessment and Accreditation of Laboratory Animal Care International

CaCl2 cloreto de cálcio

CETEC Centro de Experimentação e Treinamento em Cirurgia

cm centímetro(s)

dr. doutor

et al. e outros

EUA Estados Unidos da América

F French (0,33 mm)

FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

g grama

h hora(s)

HIAE Hospital Israelita Albert Einstein

IV intravenoso

kg quilograma(s)

mg miligrama(s)

mL mililitro(s)

mm milímetro(s)

N Newton

ndn nada digno de nota

PC computador pessoal

Prof. professor

PVPI polivinilpirrolidona, iodopovidona

S estresse

U unidade(s)

UI unidade(s) internacional

USP Universidade de São Paulo

ε deformação

g micrograma(s)

Page 9: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

m micrômetro(s)

" polegada(s) oC grau(s) Celsius

= igual

≥ maior ou igual

± mais ou menos

< menor que

% porcentagem

Page 10: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Lista de Figuras

Figura 1 - Ilustração mostrando a relação das fases do diagrama elástico

com a extensão (recrutamento) das fibras elásticas (azul) e

colágenas (vermelho) durante o teste biomecânico. ε -

deformação; S - estresse........................................................................... 8

Figura 2 - Evolução, ajuste do protocolo e adequação da técnica na

primeira etapa......................................................................................... 13

Figura 3 - Animal anestesiado e posicionado para o início do procedimento

cirúrgico ................................................................................................. 15

Figura 4 - Aortografia com catéter "pig tail" graduado.......................................... 18

Figura 5 - Aortografia com catéteres de Fogartys e microcatéter locados ............ 18

Figura 6 - Aorta aberta longitudinalmente, a partir da artéria renal esquerda

(ligadura), com parede calcificada ........................................................ 21

Figura 7 - Sistema de lâminas paralela de corte ..................................................... 22

Figura 8 - Peça cortada com segmentos longitudinais paralelos e simétricos ........ 22

Figura 9 - Sistema de presilhas para o teste biomecânico ..................................... 23

Figura 10 - Aparelho Instron Spec 2200................................................................... 24

Figura 11 - Ambiente dos testes biomecânicos ........................................................ 26

Figura 12 - Animal da fase 1, com prolapso retal, livedo e paraplegia .................... 31

Figura 13 - Animal da fase 1, com bexigoma........................................................... 31

Page 11: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Figura 14 - Curva Estresse x Deformação. O desvio do eixo para baixo e

para a esquerda identifica uma redução na resistência e na

elasticidade das amostras (Azul - cloreto de cálcio, Vermelho -

elastase, Verde - Controle)..................................................................... 36

Figura 15 - Estudo histológico com coloração de Hematoxilina-Eosina.................. 38

Figura 16 - Estudo histológico com coloração de Tricrômio de Masson ................. 39

Figura 17 - Estudo histológico com coloração de Verhoeff ..................................... 40

Figura 18 - Diagrama elástico de espécimes de aneurisma de aorta

abdominal obtidos in vivo e aorta normal obtida de cadáver. As

linhas roxa, verde, amarela e vermelha são de aneurismas,

sintomáticos (ST) ou assintomáticos (AST) operados. A linha

azul é referente ao teste biomecânico de aorta normal, não

aneurismática, obtida de cadáver ........................................................... 47

Page 12: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Lista de Tabelas

Tabela 1 - Peso dos animais no dia inicial e final .................................................. 33

Tabela 2 - Dados dos exames de ultrassonografia Doppler ................................... 35

Tabela 3 - Resultado dos testes de Biomecânica.................................................... 36

Tabela 4 - Dados dos achados histológicos............................................................ 41

Page 13: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Resumo

Lederman A. Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um modelo endovascular [tese]. São Paulo: Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo;

2015.

A ruptura do aneurisma da aorta abdominal está entre as principais causas de óbito. A alta morbi-mortalidade associada à ruptura e tratamento dos aneurismas representa um grande desafio aos médicos e um alto risco aos pacientes. Apesar dos modelos experimentais serem úteis para compreendermos, treinarmos, testar novos métodos diagnósticos e terapêuticos para esta doença, os modelos existentes até o momento ainda não são os ideais. Nos modelos existentes, os animais são muito pequenos e não representam a doença nos humanos, ou o procedimento envolve laparotomia, ou o comportamento do aneurisma criado não é semelhante ao de um aneurisma verdadeiro. Desenvolvemos, a partir de uma abordagem minimamente invasiva, um método eficiente de induzirmos a formação de um aneurisma verdadeiro na aorta abdominal infrarrenal de porcos Large White. Os animais foram submetidos a indução química a partir de uma aplicação por via endovascular de cloreto de cálcio a 25% ou elastase pancreática suína. Os animais controles foram submetidos a tratamento com soro fisiológico (NaCl 0,9%). Todos os animais foram submetidos à mesma técnica operatória, sob anestesia geral. Os animais foram acompanhados com exames ultrassonográficos com Doppler semanalmente, e as aortas colhidas para testes biomecânicos e análise histológica após 4 semanas. Apesar das aortas tratadas com elastase apresentarem apenas dilatação, estudos de imagens, histológicos e biomecânicos mostraram que as aortas tratadas com cloreto de cálcio evoluíram para aneurismas verdadeiros, com comportamento biomecânico semelhante ao dos aneurismas de humanos. Estes resultados/achados indicam que a abordagem endovascular para a indução de aneurisma é factível e não ocasiona uma fibrose retroperitoneal.

Descritores: Aneurisma aórtico, Fenômenos biomecânicos, Cloreto de cálcio, Elastase pancreática, Modelos animais, Suínos, Procedimentos endovasculares.

Page 14: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

Abstract

Lederman A. Endovascular model of abdominal aortic aneurysm induction in swine [thesis]. São Paulo: "Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo"; 2015.

Abdominal aortic aneurysms rupture are among the main causes of death. The high morbidity and mortality associated with aneurysm rupture and repair represents a challenge for surgeons and high risk for patients. Although experimental models are useful to understand, train, and develop new treatment and diagnostic methods for this disease, animal models developed to date are far from ideal. Animals are either too small and do not represent the pathology of humans, or the procedures employ laparotomy, or the aortic behavior does not resemble that of a true aneurysm. We developed a novel, less invasive and effective method to induce true aortic aneurysms in Large White pigs. Animals were submitted to an endovascular chemical induction using either calcium chloride (25%) or swine pancreatic elastase. Controls were exposed to saline solution. All animals were operated on using the same surgical technique under general anesthesia. They were followed weekly with ultrasound examinations and at 4 weeks the aorta was harvested. Although elastase induced only arterial dilation, imaging, histological, and biomechanical studies of the aorta revealed the formation of true aneurysms in animals exposed to calcium chloride. Aneurysms in the latter group had biomechanical failure properties similar to those of human aneurysms. These findings indicate that the endovascular approach is viable and does not cause retroperitoneal fibrosis.

Descriptors: Aortic aneurysm, Biomechanical phenomena, Calcium Chloride, Pancreatic elastase, Animal model, Swines, Endovascular procedure.

Page 15: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

1 Introdução

Page 16: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Introdução  

 

2

1 INTRODUÇÃO

Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste

segmento, com calibre acima de 50% do diâmetro normal esperado. Os AAA são

responsáveis por 150.000 óbitos por ano nos EUA, sendo a 13a causa de óbitos,

chegando a 10a causa se analisarmos indivíduos do sexo masculino acima de 50 anos.

Estudos de investigação populacional demonstram um aumento da incidência dos

AAA em decorrência do aumento populacional; aumento da expectativa de vida;

maior disponibilidade e melhoria dos métodos diagnósticos (exames de imagens -

ultrassom e tomografias) na população em geral (1, 2). A alta morbi-mortalidade

associada à rotura dos aneurismas e ao tratamento destes representa um grande

desafio para os cirurgiões e pacientes (2, 3).

Modelos experimentais in vivo capazes de reproduzir um aneurisma de aorta

abdominal são um importante meio para se compreender melhor a história natural,

fisiopatologia e testar novas tecnologias de diagnóstico e terapêutica, além de

propiciar um ambiente controlado para o treinamento de futuros cirurgiões (4, 5).

Diversos modelos experimentais de AAA foram descritos na literatura (6-11).

Estes modelos existentes seguem algumas linhas comuns para seu

desenvolvimento:

1. Indução química a partir da aplicação de alguma droga no interior ou ao redor

do vaso.

2. Interposição de um segmento de material (prótese, peritônio, fáscia,

pericárdio, etc.) originando a dilatação.

Page 17: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Introdução  

 

3

3. Criando-se uma estenose, esperando que o turbilhonamento pós-estenótico

desencadeie uma dilatação pós-estenótica.

4. Lesão da parede aórtica através de hiperdistensão por balonamento.

5. Associação de dois dos métodos descritos acima.

6. Modelos genéticos - exclusivo para ratos e camundongos.

Os agentes químicos mais utilizados nos modelos experimentais são a

elastase e o cloreto de cálcio. A elastase, que degrada as fibras elásticas, geralmente

é associada a outras enzimas (colagenase, na maioria das vezes) para potencializar

seu efeito e aumentar o tamanho dos aneurismas produzidos. O cloreto de cálcio tem

uma afinidade pelas fibras elásticas, causando ruptura e calcificação na camada

média, deflagrando uma resposta inflamatória que desencadeia o aparecimento do

aneurisma (4-7, 9-13).

Contudo, ainda não se obteve um modelo experimental animal ideal. A

maioria dos modelos foram descritos em animais de pequeno porte (ratos e coelhos)

(9, 10) que não representam um modelo humano devido às diferenças de tamanho,

hemodinâmica, trombogenicidade e diferenças imunológicas (7, 14). Em contrapartida,

modelos em animais de médio e grande porte foram obtidos a partir da exposição e

manipulação da aorta (5, 14), o que causa uma fibrose cicatricial retroperitoneal, que

representa um ambiente inadequado para teste de materiais e treinamento, além de

interferir no mecanismo fisiopatológico do desenvolvimento do aneurisma de aorta.

Em muitos dos modelos existentes, a dilatação arterial não representa um aneurisma

verdadeiro, uma vez que não contém todas as camadas da parede arterial,

característica desta doença (4-7, 13). Assim, o desenvolvimento e comportamento desta

dilatação podem não corresponder ao de um aneurisma verdadeiro. Outro aspecto

Page 18: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Introdução  

 

4

não contemplado, em estudos experimentais de desenvolvimento de AAA, é o

comportamento biomecânico da dilatação desenvolvida (parâmetros de resistência e

elasticidade tecidual) comparado ao tecido aórtico normal (controle). Estes

parâmetros, associados à análise histológica do tecido, podem revelar aspectos

compatíveis com o desenvolvimento e evolução dos AAA em humanos, ou seja,

aumento de rigidez, perda ou aumento da resistência, degradação da matriz proteica e

infiltrado inflamatório.

A aorta humana é composta de três camadas: íntima, média e adventícia. A

íntima é composta de uma camada monocelular de células endoteliais. A camada

média, localizada entre as limitantes elásticas interna e externa, é composta de

células musculares lisas e fibras elásticas. A camada adventícia, mais externa, é

composta por tecido conjuntivo, onde se encontra a vasa vasorum e pequenos ramos

nervosos (15, 16). A aorta abdominal infrarrenal porcina é muito semelhante à humana,

com exceção à limitante elástica externa, inexistente nos porcos.

A camada média, com sua variação de fibras elásticas e musculares, é a

responsável pela elasticidade e capacidade da aorta de absorver e distribuir todo o

fluxo sanguíneo a cada ciclo de sístole-diástole cardíaco, mantendo uma perfusão

adequada dos órgãos. Na aorta torácica, a camada média é composta eminentemente

por fibras elásticas, que vão diminuindo de quantidade enquanto as fibras musculares

aumentam conforme a aorta se distancia da valva aórtica. Esta característica é

semelhante em humanos e porcos. As fibras elásticas distendem-se durante a sístole e

retraem-se (recoil) durante a diástole, mantendo o fluxo sanguíneo. A perda desta

capacidade adaptativa da aorta, isto é, o seu enrijecimento, ocorre um aumento do

estresse na parede do vaso que resulta em dilatação e tortuosidade (15, 16).

Page 19: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Introdução  

 

5

Conceitos básicos de biomecânica: (17-20)

- Elasticidade é a capacidade que um material tem de retornar à sua forma

e dimensões originais quando cessado o esforço que o deformava.

- Plasticidade é a capacidade que um material tem de apresentar

deformação permanente apreciável, sem se romper.

- Resistência mecânica é a capacidade que um material tem de suportar

esforços externos (tração, compressão, flexão etc.) sem se romper.

Para determinar qualquer dessas propriedades, é necessário realizar um

ensaio específico.

- Ensaios destrutivos são aqueles que deixam algum sinal na peça ou

corpo de prova submetido ao ensaio, mesmo que estes não fiquem

inutilizados.

O ensaio de tração consiste em submeter o material a um esforço que tende a

alongá-lo até a ruptura. Os esforços ou cargas são medidos na própria máquina de

ensaio.

No ensaio de tração, o corpo é deformado por alongamento até o momento

em que se rompe. Os ensaios de tração permitem conhecer como os materiais reagem

aos esforços de tração, quais os limites de tração que suportam e a partir de que

momento se rompem.

A aplicação de uma força axial de tração a um corpo preso produz uma

deformação no corpo, isto é, um aumento no seu comprimento, com diminuição da

área da secção transversal. Este aumento de comprimento recebe o nome de

alongamento.

Page 20: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Introdução  

 

6

O alongamento é representado pela letra A e é calculado subtraindo-se o

comprimento inicial do comprimento final e dividindo-se o resultado pelo

comprimento inicial.

Em linguagem matemática, esta afirmação pode ser expressa pela seguinte

igualdade:

A= Lf – L0/L0

onde L0 representa o comprimento inicial antes do ensaio e Lf representa o

comprimento final após o ensaio.

Deformidade = A x 100%

Há dois tipos de deformação que se sucedem quando o material é submetido

a uma força de tração: a elástica e a plástica.

A deformação elástica não é permanente. Uma vez cessados os esforços, o

material volta à sua forma original.

A deformação plástica é permanente. Uma vez cessados os esforços, o

material recupera a deformação elástica, mas fica com uma deformação residual

plástica, não voltando mais à sua forma original.

A força de tração atua sobre a área da secção transversal do material. Tem-se

assim uma relação entre essa força aplicada e a área do material que está sendo

exigida, denominada tensão.

Page 21: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Introdução  

 

7

Tensão (T) é a relação entre uma força (F) e uma unidade de área (S):

T=F/S

Os dados relativos às forças aplicadas e deformações sofridas pelo corpo de

prova até a ruptura permitem traçar o gráfico conhecido como diagrama tensão-

deformação.

O limite elástico recebe este nome porque, se o ensaio for interrompido antes

deste ponto e a força de tração for retirada, o corpo volta à sua forma original, como

faz um elástico.

Terminada a fase elástica, tem início a fase plástica, na qual ocorre uma

deformação permanente no material, mesmo que se retire a força de tração.

No início da fase plástica ocorre um fenômeno chamado escoamento. O

escoamento caracteriza-se por uma deformação permanente do material sem que haja

aumento de carga, mas com aumento da velocidade de deformação. Durante o

escoamento, a carga oscila entre valores muito próximos uns dos outros.

Continuando a tração, chega-se à ruptura do material, que ocorre num ponto

chamado limite de ruptura (C).

Com estes dados podemos analisar como uma amostra se comporta durante

um teste destrutivo.

Considerando-se que a resistência e elasticidade da parede arterial é dada

pelo comportamento, ou o estiramento, principalmente das fibras elásticas e

colágenas, temos:

- Fase elástica: representada por uma reta quase linear, de baixa inclinação, que

representa o recrutamento das fibras elásticas.

Page 22: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Introdução  

 

8

- Fase de escoamento: é a fase de recrutamento das fibras colágenas, representada

no gráfico pela elevação gradual da inclinação, até atingir o ponto máximo que é

o ponto de ruptura (C).

- Fase descendente da curva, já com a amostra rompida (Figura 1)(19-21).

Figura 1 – Ilustração mostrando a relação das fases do diagrama elástico com a extensão (recrutamento) das fibras elásticas (azul) e colágenas (vermelho) durante o teste biomecânico. ε, deformação; S, estresse

Page 23: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

2 Objetivos

Page 24: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Objetivos  

 

10

2 OBJETIVOS

Principal:

Desenvolver um modelo experimental de aneurisma da aorta abdominal, por

indução química, a partir de abordagem endovascular em animal de grande

porte, in vivo.

Secundário:

Correlacionar as características histológicas do espécime obtido a partir da

indução do AAA com parâmetros biomecânicos do tecido aneurismático.

Page 25: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

3 Material e Metodologia

Page 26: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

12

3 MATERIAL E METODOLOGIA

Este estudo foi realizado no Centro de Pesquisa do Hospital Israelita Albert

Einstein – CETEC e na Disciplina de Técnica Cirúrgica do Departamento de

Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, entre novembro

de 2009 e março de 2011. O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética e Pesquisa

na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, número 220/10 (anexo 1) e

do Instituto de Ensino e Pesquisa do HIAE, sob número 747-09 (anexo 2). Foram

rigorosamente adotadas e seguidas as recomendações e normatizações prescritas pelo

Decreto 6.899, datado de 15 de julho de 2009, para uso de animais em experimentos

científicos e para proteção desses animais. O CETEC segue as regras do Guide for

the Care and Use of Laboratory Animals – sendo um centro acreditado pela

AAALAC. Este estudo contou com apoio financeiro da FAPESP – processo número

2010/07307-6.

O modelo animal foi desenvolvido utilizando-se dezoito porcos da raça Large

White, com peso médio de 36,5 kg (variando entre 28 e 47 kg). Esse perfil de animal

apresenta uma aorta abdominal com diâmetro médio de 7 mm.

O trabalho foi realizado em duas etapas, com nove animais em cada.

Na primeira etapa, realizou-se o ajuste fino do protocolo e da técnica de

indução (Figura 2).

Page 27: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

13

Figura 2 - Evolução, ajuste do protocolo e adequação da técnica na primeira etapa 

• teste com 2 balões, 1 ml de cloreto de cálcio 50% e catéter pigtail = paraplegia

• 2 balões, 1 ml de cloreto de cálcio a 50%, catéter vert = paraplegia

• 2 balões, elastase 20.4U e catéter vert = sem alteração na aorta

• 2 balões, microcatéter, elastase = espessamento aórtico

• 2 balões sobre lombares, elastase 40.8U, microcatéter, dose fragmentada = dilatação

• teste com 2 balões sobre as lombares, microcatéter, cloreto de cálcio a 25% e dose fragmentada = sucesso - AAA

• 2 balões, 1ml de cloreto de cálcio 50% e microcatéter = paraplegia

Page 28: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

14

Na segunda etapa, um animal foi excluído por morte súbita no pós-operatório

imediato, e os oito animais restantes foram divididos em três grupos. Um grupo, com

dois animais, foi definido como o grupo controle, o qual foi submetido ao mesmo

procedimento dos outros grupos, porém, com infusão de soro fisiológico, para

comparação anatomopatológica da parede aórtica e para comparação morfológica

que se deve ao crescimento do animal.

Os outros grupos, com três animais em cada, foram submetidos a tratamento

com 0,2 mL de cloreto de cálcio a 25% (Centro Paulista de Desenvolvimento

Farmacotécnico Ltda, São Paulo, SP, Brasil; 10 mL) ou 40,8 U de elastase

pancreática suína (E-1250. 25 mg – 6.25 mL; Lote: 078K7018, Sigma-Aldrich, Saint

Louis, MO, EUA).

O estudo de cada animal teve um tempo de duração de 4 semanas. Neste

período, o crescimento dos animais foi monitorado pelo controle de peso. O

crescimento da aorta foi monitorizado com exames semanais de ultrassom com

Doppler colorido (Phillips, Holanda). Estes exames foram feitos sob anestesia geral

no dia 0 (indução) e no dia da coleta (28o dia), e sob sedação, nos dias 7, 14 e 21.

Após 28 dias, os animais foram submetidos à anestesia geral, exame

ultrassonográfico com Doppler colorido para medidas da aorta, arteriografia de

controle (BV Pulsera, Phillips, Holanda) para avaliar a condição da aorta e a coleta

desta por laparotomia mediana, com verificação macroscópica do seu estado

morfológico, seguido da eutanásia do animal. A aorta foi inicialmente preservada em

solução salina 0,9% (soro fisiológico) em geladeira (7-10oC) até a realização dos

testes biomecânicos em até 24 horas, e posteriormente preservada em solução

tamponada de formol a 10% para estudo histológico.

Page 29: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

15

3.1 PROCEDIMENTOS ANESTÉSICOS E PERIOPERATÓRIOS

O procedimento anestésico foi realizado sob supervisão de uma médica

veterinária, conforme o protocolo anestésico da instituição (CETEC).

Ainda na baia, os animais foram pré-anestesiados com injeção intramuscular,

na coxa do membro inferior, de acepromazina 1% (1,0 mg/kg) e midazolam (0,2

mg/kg) misturados na mesma seringa. Iniciado o efeito pré-anestésico, os animais

foram lavados (água e sabão para retirar a sujeira grossa), repesados e levados para a

sala de cirurgia.

Uma vez posicionada (Figura 3), a veia marginal da orelha foi cateterizada

com catéter de calibre 20 ou 22 (BD Insystem, Becton Therapy Systems Inc., EUA),

para servir de acesso venoso para a indução anestésica, que foi realizada com

propofol (2 mg/kg). A reposição hídrica de jejum foi realizada com soro fisiológico,

sendo a dose inicial de 2 mL/kg em infusão rápida, e a dose de manutenção de 10

mL/kg/h durante a operação.

Figura 3 – Animal posicionado e anestesiado, monitorizado. Presença do aparelho de ultrassom à direita do animal, e do arco cirúrgico à esquerda

Page 30: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

16

Foram utilizados tubos endotraqueais tamanho 6,5 a 7,5 (Portex®) para a

intubação dos animais. A anestesia foi mantida inalatória com isoflurano de 0,5% a

1%, com volume corrente de 10 mL/kg/h, com frequência respiratória de 16

inspirações por minuto, ajustado conforme os parâmetros fisiológicos monitorizados.

A analgesia foi mantida com fentanila, com dose inicial de 2,5 µg/kg, e para

o relaxamento muscular foi utilizado o Nimbium® (0,24 mg/kg).

A profilaxia antibacteriana foi realizada com degermação de pele, seguida de

assepsia rigorosa. Utilizou-se cefazolina 1,0 g IV na indução anestésica.

As funções vitais e os parâmetros fisiológicos de respiração foram mantidos

durante ventilação mecânica. A frequência cardíaca, a oximetria de pulso (com

sensor locado na orelha) e a pressão arterial não invasiva (com uso de manguito

infantil na pata dianteira) foram avaliadas continuamente durante o procedimento.

Após a operação, o analgésico aplicado foi Lisador® (dipirona sódica,

cloridrato de adifenina e cloridrato de prometazina), via oral, 2,0 mL, pelo menos

duas vezes ao dia durante 5 dias, conforme necessidade de cada animal.

A partir da véspera da operação, foi iniciado o uso, via oral, de 100 mg de

ácido acetilsalicílico, uma vez ao dia, mantido diariamente até a coleta da aorta.

Após o término da segunda operação e da coleta da aorta abdominal, ainda

sob anestesia geral, os animais foram submetidos à eutanásia com cloreto de potássio

IV (dose de 15-30 mg/kg).

Page 31: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

17

3.2 TÉCNICA CIRÚRGICA

Após a indução anestésica, com o animal posicionado em decúbito dorsal

horizontal, foi feito o exame ultrassonográfico inicial para obter as medidas da aorta.

Após o exame, foi realizada degermação da pele com PVPI, seguida de

paramentação da equipe, preparo do campo operatório com PVPI alcoólico e

colocação de campos estéreis. Todo o procedimento cirúrgico foi realizado sob

técnica estritamente estéril.

A partir de uma inguinotomia direita, a artéria femoral foi dissecada e

isolada. Após essa dissecção e controle da artéria femoral, o animal foi anticoagulado

pleno com dose em bolus de 10.000 UI de heparina IV (22). A artéria foi puncionada

sob visão direta com agulha de Seldinger e com auxílio do fio guia próprio do

introdutor locado sob visualização por radioscopia, um introdutor femoral curto 6 F

(Cook Medical, Bloomington, IN, EUA) foi posicionado.

A aorta abdominal foi acessada a partir do avanço do fio guia hidrofílico

0,035” x 260 cm (Cook Medical, Bloomington, IN, EUA) e de um catéter

angiográfico graduado em centímetros – pigtail, (Cook Medical, Bloomington, IN,

EUA) até a transição toracoabdominal (rebordo costal).

Através deste catéter realizou-se uma arteriografia com subtração digital, por

injeção de 4 mL de contraste iodado diluídos em 6 mL de soro fisiológico e, a seguir,

foi aferido o diâmetro interno da aorta abdominal infrarrenal, bem como a medida de

sua extensão, entre as artérias renais e a trifurcação aórtica (artérias ilíacas e caudal).

Foram avaliadas as artérias lombares e escolhido o segmento entre dois pares de

artérias lombares onde se aplicaria a droga indutora ou soro fisiológico no grupo

controle (Figura 4).

Page 32: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

18

Figura 4 – Aortografia com catéter centimetrado

Figura 5 - Balões sobre os óstios das artérias lombares

Page 33: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

19

O introdutor era então retirado, e os balões oclusores (Fogarty 4) (Edward

Life Science, EUA) locados sobre os óstios das artérias lombares, sob uso de road

mapping, função de imagem que permite a adequada navegação sobre o mapa

arterial. Entre os dois balões, um catéter Microferret 3F (Cook Medical,

Bloomington, IN, EUA) foi locado e o catéter angiográfico retraído (Figura 5). Com

os balões insuflados, a droga indutora era aplicada. Após o priming (enchimento do

lúmen do microcatéter, que possui um volume de 0,4 mL), metade da dose (0,1 mL)

era aplicada e, após 7 minutos, a segunda metade da dose (0,1 mL) era aplicada. Nos

animais controle, aplicou-se solução salina a 0,9%. Decorridos quinze minutos de

aplicação, 3 mL de sangue eram aspirados e desprezados, a fim de evitar recirculação

da droga, os balões desinsuflados e retirados e uma nova angiografia de controle

realizada. Ao final do procedimento, os balões, catéteres e guias foram removidos,

seguindo-se a arteriorrafia da artéria femoral direita com sutura contínua com fio de

prolene 6-0 e fechamento da inguinotomia por planos (muscular, subcutâneo e pele)

com pontos de fio de mononylon 3-0. Foi aplicado spray de nitrato de prata para

melhor cicatrização no local do acesso.

Após o retorno da anestesia, os animais foram mantidos no biotério, com

água e ração ad libitum.

Page 34: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

20

3.3 AVALIAÇÃO DO PROCEDIMENTO

Os animais foram avaliados semanalmente com exames de ultrassom Doppler

colorido e submetidos à eutanásia após quatro semanas, tempo suficiente para

ocorrer algum grau de dilatação aneurismática, sem que o animal ganhasse muito

peso e a aorta abdominal aumentasse em diâmetro (23, 24). No momento do

procedimento final, uma arteriografia de controle foi realizada para mensuração dos

diâmetros (repetindo-se os mesmos níveis da medida) e comparação com as imagens

da primeira operação. A avaliação cirúrgica foi realizada por laparotomia mediana,

com especial atenção para detecção macroscópica de inflamação aórtica e dos

tecidos próximos, como retroperitônio e veia cava. Após a dissecção e remoção da

aorta infrarrenal, os animais foram submetidos à eutanásia e a aorta enviada para

análise biomecânica e histopatológica.

Page 35: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

21

3.4 AVALIAÇÃO BIOMECÂNICA

A aorta removida foi submetida a cuidadosa dissecção cirúrgica em bancada,

com a retirada de todos os tecidos periaórticos, e aberta longitudinalmente, a partir

da artéria renal esquerda (demarcada por ligadura na retirada) (Figura 6). Foi imersa

em solução salina fisiológica a 0,9% e mantida em refrigerador a 40C até momentos

antes do teste destrutivo de resistência uniaxial (o qual não passou de 24 horas do

horário da eutanásia). Após retirada do refrigerador foi mantida em temperatura

ambiente até atingir um equilíbrio térmico para o início do experimento.

Figura 6 - Aorta aberta na bancada. Seta azul: ligadura na artéria renal esquerda. Setas vermelhas: óstios de artérias lombares que determinaram local dos balões dos catéteres de Fogarty. Setas pretas: placas calcificadas

Foram retirados da aorta três segmentos paralelos e longitudinais para a

análise biomecânica e histopatológica. Para garantir similaridade entre os fragmentos

aórticos estudados foi idealizado e construído um dispositivo com lâminas em

Page 36: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

22

paralelo que produz fragmentos paralelos de tecido (Figura 7). Um dos fragmentos

foi utilizado para o teste biomecânico e o outro, para análise histológica, foi

preservado em formalina. O terceiro segmento foi um segmento de “segurança”,

utilizado para repetir o teste biomecânico quando necessário. Foi escolhido o

segmento mais uniforme e sem ramos lombares para o teste biomecânico. Os

fragmentos mediam entre 2 e 3 mm de largura, com o comprimento mais longo

possível (Figura 8).

Figura 7 - Sistema de corte com capacidade para quatro lâminas iguais e paralelas

Figura 8 – Aorta aberta longitudinalmente, cortada longitudinalmente, produzindo três segmentos paralelos simétricos e um quarto segmento irregular, desprezado. Os dois segmentos do meio foram submetidos a teste biomecânico. O segmento superior com maior numero de óstios de artérias lombares foi separado para estudo histológico

Page 37: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

23

Na análise biomecânica foram testadas as propriedades biomecânicas da

aorta.

Para o teste, o fragmento foi acondicionado em um sistema de presilhas

delicadas para firme fixação das extremidades do corpo de prova sem causar dano

excessivo ao material (o sistema com pequenas ranhuras foi desenhado

especialmente para este fim – Figura 9). Este sistema é regulável e permite maior ou

menor pressão de acordo com as características do material.

Figura 9 - Sistema de presilhas com espaçamento padrão entre elas

Page 38: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

24

A seguir, o sistema de presilhas com fragmento era acoplado ao aparelho

INSTRON SPEC 2200 para teste de distensão uniaxial (Figura 10).

Figura 10 - Aparelho Instron Spec 2200

Uma vez acoplado, procedia-se ao ensaio de tração comandado pelo

programa SERIES IX instalado no computador (PC) e pelo programa INSPEC no

computador de mão (Palm). Este último era alimentado com informações

relacionadas ao comprimento útil do fragmento a ser testado, a partir do qual se

estimava a velocidade de deslocamento da cabeça de tração.

O programa de gerenciamento de dados SERIES IX armazenava as

informações fornecidas pela célula eletrônica de carga do Instron, isto é, a força

aplicada ao fragmento e a deformação a que este foi submetido. Criou-se assim um

Page 39: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

25

conjunto de pontos que relacionava a força aplicada ao fragmento com o respectivo

alongamento produzido, até a ruptura do fragmento.

Para que todos os testes tivessem um início em comum, com a mesma força

aplicada a todos os fragmentos, o primeiro passo foi provocar uma deformação

inicial do espécime até que o mesmo acusasse uma força aplicada de 0,01 N. Neste

momento, a amostra estava esticada e sob força padrão. A partir deste ponto, foram

realizadas as medidas manuais com paquímetro (medidas em milímetros com duas

casa decimais) da largura (três medidas), da espessura (três medidas) e do

comprimento útil (três medidas), sendo adotada a média aritmética das três medidas.

A velocidade do deslocamento do braço mecânico do dispositivo de distensão

uniaxial foi estipulada em 20% do comprimento útil do espécime (19, 20, 24, 25). Estes

dados foram inseridos no computador de mão que executou o teste com a velocidade

adequada para o espécime.

Com as características do fragmento obtidas, o teste foi realizado sob ótimas

condições de umidade. Para tanto, o sistema foi construído permitindo-se o

fechamento de um compartimento e a execução do teste com as presilhas e o

fragmento mergulhados em solução fisiológica à temperatura ambiente (Figura 11).

Page 40: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

26

Figura 11 - Ambiente de teste, preenchido com soro fisiológico em temperatura ambiente, amostra presa pelas presilhas e tracionada pelo braço mecânico

Antes do início do teste destrutivo uniaxial, a amostra foi submetida a um

pré-teste. Este visava homogeneizar e estabilizar o comportamento mecânico do

material e somente iniciar o teste destrutivo em condições semelhantes para todos os

espécimes. O pré-condicionamento foi feito por meio de 10 ciclos de distensão e

relaxamento correspondentes à distensão de 5% do comprimento útil do espécime,

conforme protocolo predefinido (19, 20, 24, 25).

Ao final do pré-teste teve início o teste biomecânico que se estendia até a

ruptura da amostra. Os dados de força necessária para romper o fragmento e a sua

deformação segundo a força aplicada foram registrados no PC.

Page 41: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

27

Os dados da força aplicada e deformação obtidos foram armazenados no PC e

transferidos para uma planilha eletrônica (MICROSOFT EXCEL) onde através de

fórmulas foram obtidos a tensão máxima (força normalizada pela largura do

espécime), distensão máxima (mm), estresse máximo (força normalizada pela área da

secção transversa do espécime) e deformação (strain = L1 – L0/L0, onde L1 é o

comprimento final antes da rotura e L0 é o comprimento inicial do espécime). A

deformação (strain) e a distensão foram analisadas em gráficos que refletem as

propriedades elásticas da aorta, enquanto a força máxima, a tensão máxima e o

estresse máximo estão relacionados com a resistência da aorta à ruptura.

Os dados obtidos a partir dos testes biomecânicos, armazenados em planilha

Excel, foram transportados para um programa de análise de dados e modelo

matemático, desenvolvido pelo Dr Thimoty Chen, da Universidade de Iowa,

específico para a análise de amostras de aorta.

Os parâmetros medidos foram:

distensão máxima apresentada pelo espécime até a ruptura;

deformação (L1 – L0/L0)

força máxima aplicada até a rotura do espécime (resistência máxima em

Newton, N);

força indexada por unidade de área de secção transversa do espécime

(estresse máximo suportado pelo fragmento, N/mm2);

força indexada pela largura do espécime (tensão máxima, N/mm).

Page 42: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

28

3.5 AVALIAÇÃO HISTOPATOLÓGICA

Após o teste biomecânico, os fragmentos aórticos paralelos correspondentes

foram enviados para histologia. Todos os fragmentos coletados para histologia foram

fixados em solução de formol tamponado a 10%. A extremidade proximal foi

marcada com nanquim e, posteriormente, processada e incluída em parafina.

As amostras tratadas com cloreto de cálcio foram submetidas a tratamento

com ácido fórmico a 20% (O Artífice, São Paulo, SP, Brasil) durante 60 minutos

para serem descalcificadas antes de serem incluídas nos blocos de parafina.

Foram realizadas secções histológicas (5 μm) e colorações de hematoxilina e

eosina (HE), Verhoeff e tricrômico de Masson, visando à análise das fibras elásticas

e musculares, colágeno e fibrose, infiltrado inflamatório e neovascularização à

microscopia óptica de luz.

Page 43: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Material e Metodologia  

 

29

3.6 ANÁLISE ESTATÍSTICA

A análise estatística não é justificada devido ao tamanho da amostra reduzido

e ao grau de dilatação encontrado.

Optou-se por realizar apenas um trabalho descritivo com interpretação direta

dos dados obtidos.

Justifica-se não aumentar a amostra uma vez que os resultados observados

são semelhantes dentro de cada grupo.

Ainda, o alto custo, direto e indireto, de cada animal dificulta o aumento do

tamanho da amostra.

Page 44: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

4 Resultados

Page 45: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

31

4 RESULTADOS

4.1 ETAPA 1

Os primeiros nove animais foram operados utilizando-se toda a técnica

anestésica e os métodos de imagem já descritos. Entretanto, houve uma fase de

tentativa e erro nos detalhes cirúrgicos, com pequenas variações, até o acerto do

protocolo definitivo (Etapa 2). Estes animais foram importantes no ajuste de dose

dos medicamentos, pois os primeiros casos em que foi utilizada elastase, com dose

inicial de 27,2 U, não apresentaram dilatação. Ainda, os animais iniciais tratados

com cloreto de cálcio a 50% desenvolveram quadro de livedo, paraplegia, bexigoma

(bexiga neurogênica?) e prolapso retal, sendo sacrificados no primeiro pós-operatório

para evitar sofrimento (Figuras 12 e 13).

Figura 12 – Animal com prolapso retal e membros posteriores paralisados

Figura 13 – Laparotomia exploradora no 1o PO, identificando bexigoma e alças intestinais de aspecto normal. Introdutor femoral à esquerda, por onde realizou-se arteriografia que não identificou alteração ou trombose da aorta

Page 46: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

32

Apesar de clinicamente suspeitarmos de trombose aguda da aorta, estes

animais apresentavam aorta, artérias ilíacas e femorais pérvias (Doppler,

arteriografia e laparotomia exploradora). Admitiu-se então que este quadro fosse

decorrente do extavasamento (wash out) do cloreto de cálcio, bem como da

toxicidade desta concentração (50%). Com base nestes achados, a dose foi reduzida

pela metade (25%) e deixou-se de aplicar as drogas pelo catéter angiográfico 5F para

aplicá-la por um microcatéter 3F. Ainda, para reduzir a possibilidade de wash out,

dividiu-se a aplicação em duas metades, aplicadas nos minutos 0 (inicial) e 7. Com

estes ajustes do protocolo, deu-se início à Etapa 2, onde todos os animais foram

submetidos a procedimentos operatórios com a mesma metodologia.

Page 47: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

33

4.2 ETAPA 2

Um animal, que havia sido tratado com cloreto de cálcio e recuperado bem da

anestesia, apresentou morte súbita na noite do pós-operatório imediato, tendo sido

encontrado morto no dia seguinte. A necrópsia deste animal evidenciou apenas um

pequeno hematoma na inguinotomia direita, sem outros comemorativos. Este animal

foi excluído da casuística final.

A variação do peso dos animais ao longo das quatro semanas foi pequena

(Tabela 1).

Tabela 1 – Peso (kg) dos animais a cada semana. A diferença de peso é calculada pelo Peso Final – Peso Inicial

Animal Agente Peso

Inicial Semana 1 Sem 2 Sem 3

Sem 4 (final)

Diferença de Peso

ALC1 SF 47 50 52 52 53 6

ALC2 SF 36 37 43 41 44 8

ALC5 elastase 36 39 40 43 43 7

ALC6 elastase 38 39.8 41 42 43 5

ALC7 elastase 31 33 35.1 42.8 35 4

ALC4 cloreto 45 47 44.5 46.7 48 3

ALC8 cloreto 37 40 40 40 40 5

ALC10 cloreto 28 31 32 32 32 4

 

As medidas realizadas pelas arteriografias no pré-operatório e pós-operatório

imediato da aorta foram semelhantes.

No entanto, a região aórtica tratada apresentou aumento do diâmetro,

espessamento da parede e início de calcificação já visíveis ao controle

ultrassonográfico a partir da primeira semana.

Page 48: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

34

À laparotomia, a aorta apresentava-se dilatada. Os tecidos periaórticos

estavam preservados, sem aderências. Nesse modelo, não identificamos qualquer tipo

de alteração nos tecidos retroperitoniais e periaórticos.

4.2.1 ULTRASSONOGRAFIA (TABELA 2)

Os exames de seguimento com ultrassom colorido Doppler demonstraram

que todas as aortas encontravam-se pérvias e com bom fluxo (velocidade de pico

sistólico normais).

Nos animais controle, as medidas não variaram de acordo com as semanas,

permanecendo praticamente do mesmo tamanho que a medida pré-operatória.

Os animais tratados com elastase apresentaram discreto espessamento da

parede arterial visível ao método, porém com pequena dilatação progressiva,

principalmente ao longo da 2a e 3a semanas.

Os animais tratados com cloreto de cálcio apresentaram as maiores alterações

ultrassonográficas. Já a partir do exame do 7o dia, observou-se calcificação da parede

e início de dilatação. A dilatação evoluiu progressivamente, principalmente na 3a e 4a

semanas.

A Tabela 2 mostra a evolução dos diâmetros aórticos ao longo das semanas.

Page 49: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

35

Tabela 2 – Dados dos exames de ultrassonografia Doppler

Animal

Grupo

USG inicial

(cm)

7 dias

Variação

14 dias

Variação

21 dias

Variação

28 dias

Variação

ALC1 controle

0,86 0,80

-7,0%

0,80

-7,0%

1,04

20,9%

0,80

-7,0%

ALC2

Controle

0,90 1,00

11,1%

1,03

14,4%

1,03

14,4%

0,90

0

ALC5

Elastase

0,77 0,88

14,3%

0,88

14,3%

0,99

28,6%

0,99

28,6%

ALC6

Elastase

0,91 1,02

12,1%

1,10

20,9%

1,11

22%

1,14

25,3%

ALC7

Elastase

0,86 0,83

-3,5%

0,97

12,8%

1,03

19,8%

1,03

19,8%

ALC4

Cloreto

0,72 1,14

58,3%

1,12

55,6%

1,25

73,6%

1,25

73,6%

ALC8

Cloreto

0,73 1,02

39,7%

1,02

39,7%

1,03

41,1%

1,00

37%

ALC10

Cloreto

0,59 * 0,80

35,6%

0,87

47,5

1,20

103,4%

* Medida não obtida por quebra do transdutor do aparelho de ultrassom

4.2.2 TESTES BIOMECÂNICOS DESTRUTIVOS UNIAXIAIS DE

FRAGMENTOS DA AORTA

A Tabela 3, com dados de falência das amostras, identifica a fraqueza e

diminuição da resistência e elasticidade das amostras tratadas em relação aos

controles. Ainda, quando comparamos as amostras tratadas com cloreto de cálcio às

amostras tratadas com elastase, podemos observar que as amostras do grupo de

cloreto de cálcio são as mais fracas (estresse de falência, tensão de falência, Fmáx

menores), e mais rígidas (deformação máxima). Quando colocados estes dados no

diagrama elástico (Figura 14), podemos observar o desvio do eixo para baixo e para

a esquerda.

Page 50: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

36

Tabela 3 - Resultados dos testes biomecânicos

Animal Grupo Espessura

(mm)

Estresse de

Falência

(N/cm2)

Tensão de Falência (N/cm)

Deformação Fmax

(N)

ALC1 Controle 1,49 433,35 43,07 1,24 13

ALC2 Controle 1,35 343,74 32,53 1,04 12,85

ALC2t2 Controle 1,33 358,87 33,47 1,03 13,8

ALC4 Cloreto 3,69 69,78 19,58 0,73 7,48

ALC8 Cloreto 1,15 137,18 11,71 0,84 5,05

ALC10 Cloreto 1,89 45,12 7,58 0,27 4,97

ALC5 Elastase 1,43 77,12 7,19 1,35 2,57

ALC6 Elastase 1,41 299,66 26,9 1,47 10,2

ALC6t2 Elastase 1,23 494,16 42,23 1,08 15,6

ALC7 Elastase 1,31 309,62 25,3 1,57 7,79

Figura 14 - Curva Estresse x Deformação. O desvio do eixo para baixo e para a esquerda identifica uma redução na resistência e na elasticidade das amostras (Azul - cloreto de cálcio, Vermelho - elastase, Verde - Controle)

Page 51: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

37

4.2.3 ANATOMIA PATOLÓGICA (TABELA 4)

A análise das lâminas histológicas, nas colorações de hematoxilina-eosina,

para avaliar a estrutura da parede arterial e infiltrado inflamatório; tricrômio de

Masson, que avalia as fibras colágenas em azul; e Verhoeff, que cora as fibras

elásticas em preto, identificou um padrão de lesão nas camadas íntima e média das

amostras tratadas.

Os animais controles (Figura 15A, 16A e 17A), apesar de manipulados

cirurgicamente, não apresentavam espessamento fibrointimal nem alteração

estrutural das fibras na camada média. As fibras musculares, colágenas e elásticas

encontravam-se alinhadas, íntegras e organizadas, com um aspecto normal. Na

adventícia, observava-se tecido conectivo frouxo, associado a vasa vasorum, não

sendo observado infiltrado inflamatório.

O grupo tratado com elastase (Fig 15B, 16B e B1, 17B) apresentava

espessamento fibrointimal, desorganização da camada média, com irregularidade das

fibras musculares e lesão da limitante elástica (aspecto delaminado, fibras

fragmentadas).

O grupo tratado com cloreto de cálcio (Figuras 15C, 16C e C1, 17C), além de

apresentar um espessamento fibrointimal, apresentava grande quantidade de matriz

amorfa e áreas de vacúolos (compatíveis com áreas descalcificadas). Ainda, as fibras

elásticas estavam fragmentadas e irregulares, com aspecto de delaminação da

limitante elástica.

Os dois grupos tratados apresentavam a camada adventícia de aspecto

normal, semelhante ao grupo controle. Não foram observados infiltrados

inflamatórios, alteração na vasa vasorum ou sinais de fibrose peri-aórtica.

Page 52: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

38

Figura 15A - Animal controle. HE (40x)

Figura 15B - Animal do grupo Elastase. Hiperplasia fibrointimal. HE (40x)

Figura 15C - Animal do grupo Cloreto de Cálcio. Hiperplasia intimal, camada média desorganizada, substituição da camada muscular por matriz amorfa e áreas de calcificação (setas). HE (40x)

Figura 15 - Estudo histológico com coloração de Hematoxilina-Eosina

Page 53: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

39

Figura 16A - Animal controle. Estrutura normal da parede arterial (fibras musculares, elásticas e colágenas organizadas) Masson (40x)

Figura 16B - Animal do Grupo Elastase. Hiperplasia intimal. Fibras colágenas desorganizadas na camada média (azul). Masson (100x)

Figura 16B1 - Mesma lâmina da imagem anterior, com foco na adventícia, onde não se observa infiltrado inflamatório. Masson (100x).

Figura 16C - Animal do grupo Cloreto de Cálcio, coloração de Masson. Hiperplasia intimal. Limitante elástica e fibras musculares desorganizadas, com deposição matriz amorfa. Masson (100x)

Figura 16C1 - Mesma lâmina da imagem anterior, com foco na adventícia, onde não se observa infiltrado inflamatório. Masson (100x).

Figura 16 - Estudo histológico com coloração de Tricrômio de Masson

Page 54: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

40

Figura 17A: Animal controle. Verhoeff (40x)

Figura 17B - Animal do grupo Elastase. Hiperplasia intimal (seta); fibras elásticas irregulares e delaminadas (setas duplas). Verhoeff (40x)

Figura 17C - Animal do grupo Cloreto de Cálcio. Fibras elásticas e musculares desorganizadas, com deposição da matriz amorfa. Verhoeff (20x)

Figura 17 - Estudo histológico com coloração de Verhoeff

Page 55: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Resultados  

 

41

Tabela 4 – Achados histológicos

Animal Método HE Masson Verhoeff

1 SF endotélio monocelular, camada íntima organizada, limitante elástica íntegra e homogênea, camada média muscular, adventícia com vasa vasorum (padrão normal)

Fibras organizadas e íntegras – aspecto normal

fibras íntegras

2 SF normal normal normal

4 CaCl desarranjo da camada média com aumento de colágeno

RFM RE

5 Elast EI SMC RE

6 Elast ndn SMC RE

7 Elast EI SMC RE

8 CaCl EI,MA RFM RE

10 CaCl EI, MA RFM RE

EI:espessamento intinal RE: limitante elástica delaminada e com pontos de ruptura MA: substituição do tecido conjuntivo da camada média por matriz amorfa RFM: desarranjo da camada muscular média, ruptura das fibrilas intermusculares SMC: substituição parcial de fibras musculares por colágeno em feixes mal delimitados

Page 56: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

5 Discussão

Page 57: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Discussão  

 

43

5 DISCUSSÃO

Até onde sabemos, este é o primeiro trabalho que demonstra que é possível

desenvolver um modelo experimental de indução de aneurisma a partir de uma

abordagem endovascular, associado ao estudo biomecânico da parede da aorta. Este

aneurisma apresenta todas as camadas de um aneurisma verdadeiro, com

propriedades biomecânicas semelhantes ao aneurisma do ser humano.

Neste estudo, descrevemos uma abordagem endovascular para induzir

quimicamente a formação de aneurismas verdadeiros da aorta abdominal infrarrenal

em animais de médio e grande porte.

Com base em modelos prévios (5, 7), comparamos dois agentes químicos

(cloreto de cálcio e elastase) para induzir esta dilatação.

Como já bem documentado na literatura, modelos que utilizam a elastase

pancreática para induzir aneurismas são difíceis de serem reproduzidos, uma vez que

a atividade da elastase pode variar significativamente de acordo com lote do mesmo

fabricante e com a dose utilizada (10, 11, 13, 14, 26-28).

A elastase necessita de armazenamento adequado, com controle de

temperatura (geladeira), é de difícil aquisição (necessita ser encomendada junto ao

fabricante e aguardar a importação (Sigma-Aldrich, Saint Louis, MO, EUA), tem um

custo elevado (aproximadamente 10 vezes mais cara que o cloreto de cálcio) e,

ainda, para ter seu efeito máximo, geralmente é necessária sua associação com outras

enzimas (colagenase) (10, 11, 13, 14, 26-28).

Page 58: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Discussão  

 

44

Em contrapartida, o cloreto de cálcio é facilmente obtido em farmácias de

manipulação local (Centro Paulista de Desenvolvimento Farmacotécnico Ltda, São

Paulo, SP, Brasil), pode ser armazenado em temperatura ambiente, tem custo baixo e

resultado homogêneo na literatura quando utilizado para a indução de aneurismas.

Especificamente, aneurismas induzidos com cloreto de cálcio têm a parede bastante

calcificada e geralmente de grandes proporções, conforme descrito em estudos de

imagens e anatomopatológicos (9, 12, 29-31).

Obtivemos resultados insatisfatórios, com efeitos colaterais graves

(paraplegia, livedo, prolapso retal e bexigoma), com doses de 1 mL de cloreto de

cálcio 50%. Estes animais foram sacrificados em até 24 horas após a cirurgia de

indução, uma vez confirmados estes resultados inadequados. Ao estudo com

ultrassonografia Doppler colorido da aorta, à aortografia e à laparotomia

exploradora, observou-se que tanto a aorta como os vasos ilíacos estavam pérvios e

com bom fluxo. Assim sendo, atribui-se esses sinais e sintomas ao extravasamento

(wash out) do cloreto de cálcio por artérias lombares ou pelo balão distal. Quando

reduzimos a concentração para 25% e volume fragmentado em duas metades (0 e 7

minutos), obtivemos dilatação e calcificação da parede sem efeitos colaterais.

Os achados histológicos indicam que tanto o cloreto de cálcio como a elastase

causam alterações na camada média da aorta. Esta camada é responsável pelas

propriedades elásticas (fibras de elastina) e de resistência (fibras colágenas) da

parede arterial (19, 20, 25, 31). Este achado de redução das fibras elásticas confere um

maior enrijecimento à parede da aorta estudada, o que é compatível com as teorias de

desenvolvimento do aneurisma do ser humano. A substituição das fibras musculares

Page 59: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Discussão  

 

45

por tecido colágeno é a resposta cicatricial encontrada nas amostras e nos aneurismas

humanos.

Nos animais controle, o padrão "NORMAL" observado foi uma camada

endotelial monocelular sobre uma íntima fina e organizada. Esta camada está

separada da camada média por uma camada elástica fina, organizada e única

(limitante elástica interna). A camada média é composta por fibras musculares lisas,

com pouco colágeno. Na camada adventícia, observa-se vasa vasorum (Figuras 15A,

16A, 17A).

Nas amostras tratadas com elastase, as células endoteliais estão preservadas,

porém seguidas de um espessamento da camada intimal decorrente de um aumento

de fibras colágenas. A lâmina elástica está irregular, delaminada e fragmentada. Na

camada média, as fibras musculares foram parcialmente substituídas por fibras de

colágeno desorganizado. A camada adventícia está íntegra, sem sinais de processo

inflamatório (Figuras 15B, 16B e B1, 17B). Estas alterações observadas são

compatíveis com um processo cicatricial de uma lesão da aorta, como mencionado

anteriormente.

As amostras tratadas com cloreto de cálcio tiveram de ser submetidas a

descalcificação antes do estudo histológico. Este processo foi realizado deixando-se

as amostras imersas em uma solução de ácido fórmico a 20% durante 60 minutos.

Após este período, as amostras já descalcificadas puderam ser emblocadas em

parafina para serem submetidas ao corte. A análise histológica mostra uma camada

endotelial monocelular associada a uma hiperplasia fibrointimal que é coincidente

com a delaminação e ruptura da limitante elástica. As fibras musculares estão

escassas, há deposição de matriz amorfa e observam-se vacúolos na camada média

Page 60: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Discussão  

 

46

(resultado do processo de descalcificação). A camada adventícia está preservada

Figuras (15C, 16C e C1, 17C). A presença dos vacúolos (áreas de calcificação) e a

extensa substituição de fibras elásticas e musculares por matriz amorfa caracterizam

a extensa destruição da camada média e o processo cicatricial da parede da aorta,

processo semelhante ao observado nos aneurismas humanos.

Apesar da maioria dos modelos experimentais já descritos necessitarem de

uma resposta inflamatória exuberante para induzir a dilatação, não observamos esta

resposta no nosso modelo – ausência de infiltrado inflamatório na adventícia (12, 13).

Este fato pode estar relacionado à abordagem por via endovascular, pois evita a

manipulação da aorta com dissecção, punção, cateterismo e isolamento do vaso do

retroperitônio.

Para acompanhar a dilatação e alterações da parede (calcificação,

espessamento), realizamos exames de ultrassonografia com Doppler colorido

semanalmente. Este método provou ser eficiente para o seguimento. Apesar de ser

necessário sedar o animal, através deste exame pudemos acompanhar, em tempo real,

o desenvolvimento de calcificações, espessamento da parede e dilatação, bem como

avaliar o fluxo arterial. Pudemos ainda observar que, nos animais tratados com

cloreto de cálcio, as primeiras alterações ocorreram já na primeira semana pós-

indução. Após duas semanas de acompanhamento, esta dilatação já pode ser

considerada um aneurisma verdadeiro (diâmetro > 50%). Apesar do crescimento

progressivo, infelizmente, não podemos concluir se esta dilatação continuará a

progredir e possivelmente romper após quatro semanas, quando coletamos as

amostras e sacrificamos os animais.

Page 61: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Discussão  

 

47

Os resultados dos testes biomecânicos (Tabela 3) provaram que estas

alterações sofridas pelas aortas ocasionaram o enfraquecimento, enrijecimento e

redução da elasticidade, tornando-as semelhantes às fases iniciais do aparecimento

de aneurismas em seres humanos. Suspeitamos que um maior tempo de estudo possa

permitir aneurismas de maior diâmetro com possível ruptura aórtica, principalmente

em amostras tratadas com cloreto de cálcio. Este padrão de deslocamento da curva

do gráfico de estresse x deformação para baixo e para esquerda é semelhante ao

padrão descrito quando aortas aneurismáticas humanas são comparadas a aortas

normais (Figura 18) (19, 20, 25). Esta semelhança sugere que o modelo obtido é

representativo, biomecanicamente, a aneurismas verdadeiros.

Figura 18 – Diagrama elástico de espécimes de aneurisma de aorta abdominal obtidos in vivo e aorta normal obtida de cadáver. As linhas roxa, verde, amarela e vermelha são de aneurismas sintomáticos (ST) ou assintomáticos (AST) operados. A linha azul é referente ao teste biomecânico de aorta normal, não aneurismática, obtida de cadáver (25)

Page 62: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Discussão  

 

48

A literatura prévia demonstra que é factível obter-se uma indução de

aneurisma por meio de acesso direto e manipulação da aorta. Este processo envolve

trauma físico e químico da parede da aorta, ocasionando afilamento e dilatação da

parede arterial, e desencadeando um processo natural de cicatrização, com processo

inflamatório local, seguido de espessamento e fibrose cicatricial do retroperitônio, ao

redor da aorta manipulada. Este padrão de resposta não é desejado em modelos que

possam servir de base de treinamento para futuros cirurgiões, uma vez que esta

resposta não é encontrada nos cenários diários. Ainda, nos modelos "abertos", a

exposição da aorta obriga o cirurgião a proceder com a ligadura dos ramos lombares

durante sua dissecção. Este processo reduz as similaridades fisiológicas deste

aneurisma, especialmente quando se estudam os vazamentos associados a novas

endopróteses de aorta para tratamento de AAA. Neste estudo, demonstrou-se que

uma abordagem por via endovascular permite produzir uma lesão da parede aórtica

sem a necessidade da sua dissecção e exposição. Como esperado, as artérias

lombares permanecem pérvias e não observamos fibrose cicatricial ao redor da aorta

durante sua coleta.

Foram utilizados dois catéteres de Fogarty e um microcatéter para induzir

nossos aneurismas. Atualmente, já existe um catéter padrão (TAPAS(R),TermopeutiX

Inc., São Diego, CA, EUA) pronto, com dois balões oclusores e uma via de trabalho,

que pode ser empregado para utilizar a mesma técnica descrita de maneira mais

prática.

Nossa amostragem é pequena e sabemos que uma amostragem maior poderia

ser mais convincente para os resultados obtidos. Porém, o uso de animais de

experimentação requer um senso crítico quanto ao uso excessivo de animais. Ainda,

Page 63: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Discussão  

 

49

o alto custo direto e operacional envolvido com procedimentos invasivos e que

necessitam manter o animal vivo por um período prolongado sob monitorização pós-

operatória deve ser considerado. Assim sendo, gostaríamos de ter operado um

número maior de animais; porém, com uma resposta já identificada que nos permite

concluir que o método empregado é eficiente em induzir aneurismas que se

comportam histológica e biomecanicamente como aneurismas verdadeiros, julgamos

ser desnecessário aumentar o número de animais tratados. Acreditamos que aumentar

o número de animais não mudará a resposta obtida.

Page 64: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

6 Conclusões

Page 65: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Conclusões  

 

51

6 CONCLUSÕES

1. É possível induzir quimicamente um aneurisma da aorta abdominal

infrarrenal por via endovascular em animais de grande porte in vivo.

2. As alterações histológicas produzidas acarretaram mudança nos

parâmetros biomecânicos estudados.

Page 66: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

7 Anexos

Page 67: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Anexos  

 

53

Anexo A

Page 68: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Anexos  

 

54

Anexo B

Page 69: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Anexos  

 

55

Page 70: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

 

5 Referências

Page 71: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Referências  

 

57

7 REFERÊNCIAS

1. Rughani G, Robertson L, Clarke M. Medical treatment for small abdominal

aortic aneurysms. Cochrane Database Syst Rev. 2012;9:CD009536.

2. Duffy JM, Rolph R, Clough RE, Modarai B, Taylor P, Waltham M. Stent

graft types for endovascular repair of abdominal aortic aneurysms. Cochrane

Database Syst Rev. 2013;3:CD008447.

3. Badger S, Bedenis R, Blair PH, Ellis P, Kee F, Harkin DW. Endovascular

treatment for ruptured abdominal aortic aneurysm. Cochrane Database Syst Rev.

2014;7:CD005261.

4. Molácek J, Treska V, Kobr J, Certík B, Skalický T, Kuntscher V, Krisková

V. Optimization of the model of abdominal aortic aneurysm--experiment in an

animal model. J Vasc Res. 2009;46(1):1-5.

5. Conn PM. Sourcebook of models for biomedical research. New Jersey:

Humana Press; 2008.

6. Trollope A, Moxon JV, Moran CS, Golledge J. Animal models of abdominal

aortic aneurysm and their role in furthering management of human disease.

Cardiovasc Pathol. 2011;20(2):114-23.

7. Argenta R, Pereira AH. Modelos animais de aneurisma de aorta. J Vasc Br.

2009;8(2):148-53.

8. Anidjar S, Michel JB. [Acquired aneurysms of the infrarenal abdominal

aorta]. Rev Prat. 1991;41(19):1769-75.

Page 72: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Referências  

 

58

9. Lederman A, Schreen G, Ribeiro MFM, Silva LMMF, Cerri GG, Aguiar ET.

Indução de aneurisma em aorta abdominal de ratos. Radiol Bras. 1996;29(4):189-93.

10. Anidjar S, Salzmann JL, Gentric D, Lagneau P, Camilleri JP, Michel JB.

Elastase-induced experimental aneurysms in rats. Circulation. 1990;82(3):973-81.

11. Azuma J, Asagami T, Dalman R, Tsao PS. Creation of murine experimental

abdominal aortic aneurysms with elastase. J Vis Exp. 2009;(29).pii.1280.

12. Anidjar S, Dobrin PB, Eichorst M, Graham GP, Chejfec G. Correlation of

inflammatory infiltrate with the enlargement of experimental aortic aneurysms. J

Vasc Surg. 1992;16(2):139-47.

13. Czerski A, Bujok J, Gnus J, Hauzer W, Ratajczak K, Nowak M, Janeczek M,

Zawadzki W, Witkiewicz W, Rusiecka A. Experimental methods of abdominal aortic

aneurysm creation in swine as a large animal model. J Physiol Pharmacol.

2013;64(2):185-92.

14. Hynecek RL, DeRubertis BG, Trocciola SM, Zhang H, Prince MR, Ennis TL,

Kent KC, Faries PL. The creation of an infrarenal aneurysm within the native

abdominal aorta of swine. Surgery. 2007;142(2):143-9.

15. Kumar V, Abbas AK, Fausto N. Robbins and Cotran pathologic basis of

disease, 7 Ed. 7 ed. Robbins, Cotran, editors. Philadelphia, PA: Elsevier Saunders;

2005. 1525 p.

16. Brasileiro Filho G. Bogliolo Patologia. 7 ed. Bogliolo L, editor. Rio de

Janeiro, RJ: Guanabara Koogan; 2006. 1472 p.

17. Humphrey JD, Delange SL. An Introduction to Biomechanics. Springer-

Verlag; 2003.

Page 73: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Referências  

 

59

18. Collins MJ, Eberth JF, Wilson E, Humphrey JD. Acute mechanical effects of

elastase on the infrarenal mouse aorta: implications for models of aneurysms. J

Biomech. 2012;45(4):660-5.

19. Raghavan ML, Webster MW, Vorp DA. Ex vivo biomechanical behaviour of

abdominal aortic aneurysm: Assessment using a new mathematical model. Ann

Biomed Eng. 1996;24(5):573-82.

20. Raghavan ML, Hanaoka MM, Kratzberg JA, de Lourdes Higuchi M, da Silva

ES. Biomechanical failure properties and microstructural content of ruptured and

unruptured abdominal aortic aneurysms. J Biomech. 2011;44(13):2501-7.

21. Raghavan ML, Kratzberg J, Castro de Tolosa EM, Hanaoka MM, Walker P,

da Silva ES. Regional distribution of wall thickness and failure properties of human

abdominal aortic aneurysm. J Biomech. 2006;39(16):3010-6.

22. Belczak S, Silva ES, Aun R, Sincos IR, Belon AR, Casella IB, Gornati V,

Figueiredo LL. Endovascular treatment of peripheral arterial injury with covered

stents: an experimental study in pigs. Clinics (Sao Paulo). 2011;66(8):1425-30.

23. van der Bas JM, Quax PH, van den Berg AC, Visser MJ, van der Linden E,

van Bockel JH. Ingrowth of aorta wall into stent grafts impregnated with basic

fibroblast growth factor: a porcine in vivo study of blood vessel prosthesis healing. J

Vasc Surg. 2004;39(4):850-8.

24. Sincos IR, Aun R, da Silva ES, Belczak S, de Lourdes Higuchi M, Gornati

VC, Gigglio PN, Baptista AP, de Figueiredo LF. Impact of stent-graft oversizing on

the thoracic aorta: experimental study in a porcine model. J Endovasc Ther.

2011;18(4):576-84.

Page 74: Indução de aneurisma em aorta abdominal de porcos: um ...€¦ · Aneurisma da Aorta Abdominal (AAA) é uma dilatação focal, anormal neste segmento, com calibre acima de 50% do

Referências  

 

60

25. Tavares Monteiro JA, da Silva ES, Raghavan ML, Puech-Leão P, de Lourdes

Higuchi M, Otoch JP. Histologic, histochemical, and biomechanical properties of

fragments isolated from the anterior wall of abdominal aortic aneurysms. J Vasc

Surg. 2014;59(5):1393-401.e1-2.

26. Kratzberg JA, Walker PJ, Rikkers E, Raghavan ML. The effect of proteolytic

treatment on plastic deformation of porcine aortic tissue. J Mech Behav Biomed

Mater. 2009;2(1):65-72.

27. Sadek M, Hynecek RL, Goldenberg S, Kent KC, Marin ML, Faries PL. Gene

expression analysis of a porcine native abdominal aortic aneurysm model. Surgery.

2008;144(2):252-8.

28. Carsten CG, Calton WC, Johanning JM, Armstrong PJ, Franklin DP, Carey

DJ, Elmore JR. Elastase is not sufficient to induce experimental abdominal aortic

aneurysms. J Vasc Surg. 2001;33(6):1255-62.

29. Gertz SD, Kurgan A, Eisenberg D. Aneurysm of the rabbit common carotid

artery induced by periarterial application of calcium chloride in vivo. J Clin Invest.

1988;81(3):649-56.

30. Chiou AC, Chiu B, Pearce WH. Murine aortic aneurysm produced by

periarterial application of calcium chloride. J Surg Res. 2001;99(2):371-6.

31. Maier A, Gee MW, Reeps C, Eckstein HH, Wall WA. Impact of

calcifications on patient-specific wall stress analysis of abdominal aortic aneurysms.

Biomech Model Mechanobiol. 2010;9(5):511-21.