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ANÁLISE DE ESTRATÉGIAS DE INOVAÇÕES COM
SUSTENTABILIDADE NA CADEIA COUREIRO-CALÇADISTA
Alessandro Ramos Carloni - UniFacef
Daniel Facciolo Pires - UniFacef
INTRODUÇÃO
O conceito de sustentabilidade é bastante amplo e complexo, e deve fazer
parte do planejamento da maioria das empresas de países democráticos. O Brasil
adentrou neste segmento por volta dos anos 90, bem depois da Europa, Estados
Unidos e Canadá.
As inovações tornaram-se a chave empresarial para os lucros e novos
mercados deste século, cada vez mais a forte competitividade empurra as empresas
em busca de inovações que possam diferenciar a empresa no mercado.
A cadeia coureiro-calçadista é considerada de grande complexidade e
representativa para o Brasil, gerando grande quantidade de empregos e divisas,
além de difundir o produto brasileiro por fronteiras distantes. Franca é a cidade do
país, pólo calçadista a mais de 50 anos, com considerável quantidade de indústrias
e curtumes, que geram uma grande quantidade de resíduos e empregam uma
parcela considerável da população.
Aliar inovação com sustentabilidade na cadeia coureiro-calçadista é um
desafio e tanto, considerando a forte presença de empresas familiares, pouco
profissionais e com visões restritas de um amplo mercado. O uso de estratégias para
a implementação destes conceitos é uma maneira prática que permite as empresas
desfrutarem de dois conceitos que dominam o vocabulário dos Governos, empresas,
imprensa, consumidores, ONG’s e estudiosos, por isso sustentabilidade e inovação
merece uma atenção especial.
MÉTODO
Foram utilizadas técnicas de pesquisa bibliográfica e exploratória consultando
publicações, artigos e sites sobre o tema sustentabilidade, inovação, calçados e
couro.
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Através dos dados pesquisados, procurou-se relacionar idéias diferentes e
conceitos teóricos, além de mostrar fatores e possíveis estratégias para se obter
inovações tecnológicas.
INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE
Existem várias trajetórias tecnológicas possíveis de serem implantadas em
uma empresa, porém as estratégias são particularidades das empresas, que
determinarão o sucesso através da melhor escolha e no momento mais adequado.
Para Mattos (2005), a inovação é um processo fundamentalmente econômico,
que pode surgir através de uma invenção, mas que também pode envolver a
exploração de novos recursos naturais, cópia de uma idéia ou descrição de um
produto de maneira diferente.
Não basta estar convicto da necessidade de inovar – é preciso saber como fazer e por onde começar. Desenvolver, selecionar e implementar técnicas e ferramentas que capacitem as empresas a combinem tecnologia e estratégia de negócios tem sido o objetivos de várias organizações e de inúmeros projetos conduzidos no âmbito nacional e internacional[...] entrou também de forma definitiva na pauta das pequenas e médias empresas, que independente de se arrojarem no mercado internacional, experimentam a concorrência externa abater-lhes à porta do mercado interno, fruto da globalização e da abertura das economias nacionais. (Mattos, 2005, p. 95)
As inovações podem contribuir de maneira bastante eficaz com a
sustentabilidade, apesar de que a mesma é apontada com uma das que mais
contribuem para a degradação do meio, por estar associada ao consumo e ao
crescimento econômico, conforme relata Bessant (2009).
Segundo Mattos (2005), uma das maneiras de descrever inovação é
explicando o que ela não é, pois afinal tudo gira em torna da inovação, e as mesmas
rendem retornos melhores que os empreendimentos comerciais comuns.
Inovação pode estar relacionado, conforme Mattos (2009), à criação de um
produto ou um processo melhor, no entanto, poderia ser a substituição de um
material mais barato em um produto existente, ou uma nova maneira de
comercializar, distribuir ou apoiar um produto ou serviço.
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Na figura abaixo, pode-se observar os fatores que impulsionam o surgimento
de inovações nas empresas, permitindo ganhos de competitividade ao longo de uma
cadeia produtiva.
Figura 1: Fatores que impulsionam o surgimento de inovações. Fonte: Mattos (2009)
Através de um conjunto de conhecimentos consolidados e a junção das forças
socioambientais, fluxo de informações, receptividade a mudanças e disponibilidade
de capital, permite-se obter inovações que trarão uma vantagem competitiva para a
empresa e assim torná-la mais competitiva. Segundo Mattos (2009), o potencial de
inovação de uma comunidade está diretamente ligado ao acesso que as pessoas
dessa comunidade têm às informações às informações disponíveis, permitindo
assim que atinja um fluxo de informações compatível. Quanto à receptividade ás
mudanças, constitui uma das maiores barreiras às inovações, pois o homem possui
uma natureza bastante conservadora a mudanças, pois mudar implica assumir
riscos e se expor. O capital é fator primordial, e as inovações estão relacionadas ao
nível de riqueza existente e o interesse em investir em determinado ambiente social.
Na década de 70, a oferta de produtos e serviços começaram a ultrapassar a
demanda, assim os clientes tornara-se o foco das atenções e as inovações parte das
metas das empresas, conforme Mattos(2009).
O conceito de sustentabilidade abrange três dimensões, devendo atender
desempenhos econômico, social e ambiental, simultaneamente. Segundo a ONU,
sustentabilidade pode ser definida como “satisfazer as necessidades do presente
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sem comprometer a habilidade das futuras gerações para satisfazerem suas
necessidades”.
Segundo a ONU, toda a temática da sustentabilidade está atrelada ao
conceito de “Desenvolvimento sustentável”, que é entendido como condição
decorrente do equilíbrio entre as três dimensões: ecológica, econômica e social,
compondo o tripé da sustentabilidade. (PNUMA, 2002, p.01). Para Gladwin (1995
apud Hart), “é um processo para se alcançar o desenvolvimento humano (...) de uma
maneira inclusiva, interligada, igualitária, prudente e segura”.
Sendo assim, uma empresa sustentável é aquela que contribui para o
desenvolvimento, atendendo ao tripé da sustentabilidade: econômico, social e
ambiental.
Parte das soluções ambientais podem ser proporcionadas através de
inovações visando:
- Produtos mais limpos: com um impacto ambiental menor ao longo do seu ciclo de
vida;
- Processos mais eficientes: para minimizar ou tratar resíduos, reutilizá-los ou
reciclá-los;
- Tecnologias alternativas: para reduzir emissões, fornecer energia renovável;
- Novos serviços: para substituir ou reduzir o consumo de produtos;
- Inovações sistêmicas: para mensurar e monitorar o impacto ambiental, novos
sistemas sociotécnicos.
A figura abaixo nos mostra um quadro de tipologias de inovações sustentáveis, envolvendo duas dimensões, uma do conhecimento e outra da inovação da aplicação deste conhecimento, conforme Bessant (2009).
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Quadro 1: Tipologia de inovações sustentáveis
Fonte: adaptado de Bessant, 2009, p. 375
No primeiro quadrante à esquerda inferior, observa-se um tipo de inovação
incremental e/ou radical, sendo o tipo mais comum de ser encontrado. O quadrante
superior à esquerda mostra um novo conhecimento para problemas existentes. O
quadrante inferior à direita representa a aplicação de um conhecimento existente
para novos nichos de mercado, considerados por Bessant (2009) como muito
importantes para a inovação sustentável, pois podem amadurecer e crescer para
influenciar a demanda e o desenvolvimento do mercado dominante. O último
quadrante, superior à direita, é de fundamental importância para inovação e
sustentabilidade, pois os usuários se interagem e são envolvidos; também
desenvolve-se a partir da combinação de mudança de política e coordenação e
mudança social e de comportamento empresarial.
Conhecimento
Aplicação
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CENÁRIO ATUAL DA CADEIA COUREIRO-CALÇADISTA
Considerando que a cadeia coureiro-calçadista é bastante longa, conforme
pode-se observar na figura abaixo, a mesma desencadeia uma série de atividades
paralelas capazes de interagir em várias outras atividades do mercado, criando uma
relação sistêmica complexa.
Figura 2: Fluxo de Produção de Calçados de Couro e suas interações
Fonte: adaptado pelo autor de Milanezze; Batalha (2008) apud Corrêa (2001)
Apesar da forte competitividade existente na cadeia, deve-se considerar
também a versatilidade do segmento frente aos principais concorrentes, assim como
a necessidade de se melhorar continuamente e com foco no mercado consumidor.
Para melhor ilustrar a força da cadeia coureiro-calçadista, deve-se destacar o
seguinte, com relação ao Brasil:
- Produção de calçados: o país se destaca como o 3º maior produtor do mundo
(ABICALCADOS, 2012).
- Produção de peles: 2º lugar (FAO/SCOT Consultoria).
- Componentes: exporta para mais de 141 países (ASSINTECAL, 2012).
Produtos
químicos
Atacado
e Varejo
Indústria Calçados Couro
CurtumeFrigoríficos Pecuária
de corte
Importação
couro
Coureiro Indústria
componentes
Máquinas e
equipamentos
Consumidor
Final
Ambiente
externo
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- Carne: Brasil possui maior rebanho comercial e é o maior exportador mundial de
carne bovina. (Conforme pesquisa no site www.economiaemdia.com.br).
- Consumidores: O Brasil está entre os cinco maiores consumidores de calçados do
mundo. (ABICALCADOS, 2012).
Este trabalho irá focar exclusivamente a produção de calçados e couro, dois
dos principais atores da cadeia e de forte relevância para a economia e mercado
internacional.
Para manter-se competitiva frente aos grandes concorrentes do mundo
globalizado, é preciso que as empresas adotem estratégias de inovação com foco
na sustentabilidade, para prosperar em busca de novos mercados e cada vez mais
exigentes. Tanto a indústria de calçados quanto a de couros, que são grandes
geradoras de resíduos sólidos, necessitando continuamente de inovações
tecnológicas em busca de soluções capazes de amenizar esta situação, conforme a
lei Nº 12.305, de 02 de agosto de 2012, que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos.
CONTAGEM REGRESSIVA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Partindo do princípio de que a cadeia coureiro está intimamente ligada à
cadeia produtiva calçadista, mesmo considerando que atualmente a maior produção
de couros não é destinada à fabricação de calçados, deve-se pesquisar e procurar
soluções viáveis a curto e médio prazo, capazes de atender às rígidas exigências do
mercado europeu, que já relacionou os principais problemas presentes no couro.
Uma série de restrições já foram mapeadas na indústria do couro para
restringir e mesmo eliminar o uso de diversas substâncias, entre as principais pode-
se verificar na tabela abaixo.
Quadro 2: Substâncias perigosas
Substância perigosas em couros Comentários e utilização
Aminas proibidas (aril-aminas) Utilizados em corantes azóicos, é cancerígeno.
Pentaclorofenol (PCP) Usado na preservação de peles, sendo muito tóxico
por inalação.
Formaldeído Seu uso não é permitido em produtos ecológicos, é
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tóxico quando inalado.
Metais pesados
(Cromo, cádmio, zircônio)
O Cr trivalente é utilizado no curtimento de couros e
pode ocorrer migração para Cr hexavalente em
condições de estocagem, é cancerígeno. Estes
metais pesados são utilizados na composição de
pigmentos e corantes
Sulfetos Utilizados no processo de depilação dos pelos. Seu
mau uso pode ocorrer no surgimento de gás
sulfídrico. É corrosivo e sequestrante de oxigênio.
Alcanos clorados C10-C13 Utilizados em engraxantes para couros, tipo parafinas
cloradas.
Compostos orgânicos voláteis
(VOC)
Solventes altamente voláteis, sendo tóxicos quando
inalados.
Fungicidas alérgicos Utilizados na preservação do couro, pode ocasionar
alergias. Uso restrito e controlado.
Fonte: compilado pelo autor
De acordo com a Comissão Européia, através do livro branco “Strategy for a
future European Chemicals Policy”, as substâncias com propriedades perigosas
usadas em produtos de consumo deverão ser banidas em 2012 e deverão ser
totalmente banidas, indiferente do seu uso e aplicação, até 2020. (GUTTERRES,
2006)
TECNOLOGIAS LIMPAS
Conforme relata Gutterres (2006), a busca por processos ambientalmente
sustentáveis, com melhor aproveitamento de matéria-prima, energia, ar e água,
visando a minimização, a não geração e/ou reciclagem dos resíduos do processo,
tornam as tecnologias limpas o foco dos objetivos ambientais.
Para a implantação e definição de estratégias, as empresas precisam
repensar suas ações e tomar atitudes que melhorem o ambiente e as pessoas que
estão envolvidas no negócio, para isto deve-se analisar estratégias que visam: a
redução do uso, boas-práticas, reuso / reciclo, tratamento, disposição, segregação e
regeneração ou que sabe até a eliminação ou substituição.
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Através do conhecimento da cadeia-produtiva, dos fatores que geram as
inovações, e do uso do quadro de tipologia de inovações com conhecimento e
aplicação, consegue-se aprofundar em temas críticos e buscar por soluções
inovadoras que contemple o desenvolvimento sustentável.
Com o crescimento e força das normas ISO 14001 (Gestão Ambiental) e ISO
26000 (Responsabilidade Social Empresarial), as exigências tornam-se maiores
assim como os compromissos das empresas. Estratégias deverão ser planejadas
para se conseguir eliminar as substâncias restritas, melhorar os processos de
produção e ainda assim permitir o desenvolvimento social responsável e ambiental
perante a sociedade, sem abrir mão do lucro. É um grande desafio, considerando
que poucas são as empresas que realmente se preocupam e se interagem com a
sociedade e seus colaboradores, dificultando o progresso sem intempéries. Porém, é
um caminho a ser trilhado e superado pelos empresários de verdade.
Como alternativa de tecnologias e tendências para a produção de couros, observa-se na tabela abaixo as seguintes relações: Quadro 3: Alternativas de tecnologias limpas em curtumes
Item Alternativas de tecnologias limpas e tendências (curtumes)
Matérias-primas Cuidados e controles rigorosos para melhorar a qualidade da matéria-prima.
Conservação O método de conservação com sal deve retroceder.
Remolho Uso de biotecnologia.
Depilação e Caleiro Substituição parcial ou total de sulfetos.
Desencalagem Substituição ou eliminação dos sais de amônio.
Desengraxe Otimização do desengraxe úmido utilizando agentes umectantes.
Píquel Diminuição ou eliminação do uso de sal.
Curtimento Aumento da eficiência dos processos de curtimento por rígido controle das
variáveis: pH, temperatura, volume banho, tempo e velocidade. Curtimentos
alternativos e/ou combinados.
Acabamento molhado Recurtimento, tingimento e engraxe de alto esgotamento.
Acabamento Sistemas aquosos, aplicação por máquinas de cortina, rotativas e airless.
Águas de processos Segregação das correntes de água usadas nas etapas individuais para
tratamento e reciclo.
Equipamentos e
plantas industriais
Controle e otimização do processo de descarne, divisão, rebaixamento e
outros para diminuir as quantidades de resíduos sólidos. Otimização do
desgaste mecânico antes da secagem, e melhoramento de projeto e
instalação de secadores. Uso racional de energia, utilização de fontes
energéticas alternativas nos curtumes, emprego de co-geração.
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Modernização de lay-out dos curtumes. Uso de ar comprimido a pressão
ótima e aquecimento de água à temperatura demandada.
Desenvolvimento,
simulação e controle
de processos
Sistemas de produção integrados. Acompanhamento online dos processos.
Automação da produção. Simulação de reações e das interações químicas.
Estratégias de produção e eliminação de estoques de materiais. Integração
de processos contínuos. Integração energética do sistema de produção.
Fonte: Adaptado pelo autor de Gutterres (2004)
Com relação às alternativas de produção na indústria calçadista pode-se verificar resumidamente no quadro abaixo: Quadro 4: Alternativas de tecnologias limpas em calçados
Item Alternativas de tecnologias limpas e tendências (calçados)
Matérias-primas Cuidados e controles rigorosos para melhorar a qualidade das matérias-
primas.
Corte Utilização de máquinas e equipamentos automatizados.
Pesponto Utilização de máquinas e equipamentos (semi) automatizados.
Montagem Utilização de máquinas e equipamentos (semi) automatizas.
Acabamento Utilização de sistemas aquosos ou naturais tipo cerosos.
Logística Integrada e automatizada onde for possível.
Equipamentos e
plantas industriais
Controle e otimização dos processos de corte, pesponto e montagem para
diminuir as quantidades de resíduos sólidos. Uso racional de energia,
utilização de fontes energéticas alternativas. Modernização de lay-out das
fábricas. Uso de ar comprimido a pressão ótima e aquecimento de
temperatura demandada.
Desenvolvimento,
simulação e controle
de processos
Sistemas de produção integrados. Acompanhamento online dos processos.
Automação da produção. Simulação dos processos e desenvolvimento.
Estratégias de produção e eliminação de estoques de materiais. Integração
de processos. Integração energética do sistema de produção. Eliminação de
solventes do processo.
Fonte: elaborado pelo autor Segundo Romm (1996) e considerando a visão de Kiuchi, presidente da
Mitsubishi Eletctric America, a produção enxuta e a produção limpa são totalmente
compatíveis e ainda enfatiza que “as empresas que se tornarem enxutas e limpas
com a integração do ciclo rápido rápido e a prevenção da poluição irão superar as
demais” (ROMM, 1996, p.127).
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DIFUSÃO E ADOÇÃO DE INOVAÇÕES
Segundo Bessant (2009, p.379), existe distinção entre adoção e a utilização,
sendo que a primeira é considerada como a decisão de adquirir algo, enquanto que
a implementação e a utilização implicam em ação e adaptação.
Conforme Bessant (2009), existem barreiras para a adoção de inovações,
como econômicas (custos pessoais versus benefícios sociais, acesso à informação,
incentivos insuficientes), comportamental (prioridades, motivações, racionalidade,
inércia, propensão para mudança ou risco), organizacional (metas, rotinas, poder e
influência, cultura e investidores) e estrutural (infraestrutura, custos perdidos,
governança). É mais comum ocorrer mudanças de maneira incremental.
Algumas variáveis afetam a difusão e adoção de inovações, entre elas pode-
se destacar: características da inovação, características dos adotantes individuais ou
organizacionais e características do ambiente.
Quanto à difusão, está relacionada a fatores de demanda e oferta. A falta de
informação é apontada como uma barreira à difusão.
Bessant (2009) enfatiza que as características que afetam a difusão e adoção
de inovações são: vantagem competitiva (quanto maior a vantagem mais rápida a
adoção), compatibilidade (consistente com valores, experiência e necessidades),
complexidade (mais simples, mais fácil de ser adotada), capacidade de
experimentação (as que podem ser experimentadas, são adotadas mais
rapidamente), e visibilidade (quanto mais fácil para os outros enxergarem os
benefícios, mais provável sua adoção).
Prahalad (2009) sustenta que a sustentabilidade precisa ser um ônus para a
empresa, e ainda afirma que uma empresa ecologicamente correta pode reduzir
custos e aumentar a receita; por isso que a sustentabilidade deve ser a base da
inovação. O mesmo afirma que quem fizer da sustentabilidade uma meta terá
vantagem competitiva, e para isto precisa repensar o modelo de negócio,
considerando os produtos, as tecnologias e os processos. Prahalad (2009) cita que
a busca pela sustentabilidade passa por cinco estágios, sendo eles:
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1º estágio – encarar respeito a normas como oportunidade; ou seja, capacidade de
prever e influenciar regulamentação, capacidade de trabalhar com outras empresas
para implementar soluções criativas, inclusive rivais;
2º estágio – tornar a cadeia de valor sustentável; isto é, aumentar a eficiência de
toda a cadeia de valor;
3º estágio – criar produtos e serviços sustentáveis; ou seja, criar ou reformular a
linha existente para não agredir o meio ambiente;
4º estágio – criar novos modelos de negócio; isto é, achar novas maneiras de gerar
e obter valor, mudando com isso a base da competição, entender o consumidor e se
aliar a parceiros;
5º estágio – criar plataformas de “próximas práticas”; ou seja, questionar pela lente
da sustentabilidade, se a lógica reinante atual é a mais adequada, melhor e mais
inteligente, além de sustentável.
Prahalad (2009) sustenta que as empresas terão de buscar soluções
inovadoras, e que lideranças e talentos serão cruciais para a criação de uma
economia mais sustentável, sendo que quando estas lideranças entenderem uma
simples verdade: sustentabilidade = inovação.
CONSIDERAÇÕES E DISCUSSÕES
As inovações podem focar nas tecnologias limpas para gerar alternativas
sustentáveis e viáveis de serem implantadas nas empresas. Através de estratégias
bem definidas e objetivas, consegue-se entender a causa do problema e obter
informações relevantes capazes de gerar soluções criativas, inovadoras e
sustentáveis. Thomas Kuhn, através de seu livro The structure of scientific
revolutions (A estrutura das revoluções científicas) argumenta que “quando tiver
alcançado o status de paradigma, uma teoria científica será declarada inválida
somente se uma teoria alternativa estiver disponível para ocupar seu lugar”,
THOMAS (1996, p.29, apud ROMM).
Apresentou-se várias propostas de tecnologias limpas tecnicamente viáveis,
porém economicamente duvidosas, e necessitando de adequações tecnológicas e
operacionais para se tornarem realidade algumas das vezes.
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É interessante destacar “que não existe um produto totalmente ecológico e
que qualquer sistema de certificação ambiental deverá considerar quais são as
tecnologias e produtos menos poluentes presentes no mercado”, conforme enfatiza
Gutterres (2009, p.260), e as estratégias adotadas devem levar em consideração
isto para definir as ações.
O ser humano é peça fundamental para o uso, implantação e sucesso de
qualquer tipo de tecnologia. O respeito pela natureza (meio ambiente) em busca de
processos sustentáveis também é outro fator primordial para o sucesso e futuro da
industrialização responsável; é questão de sobrevivência humana, pois a simples
busca por produtividade a qualquer custo deverá ser condenada sempre. (CARLONI,
2012)
Talvez o maior impacto que as tecnologias possam nos oferecer é relativo ao
conhecimento, que deve ser multiplicado às novas gerações, para o bom
crescimento e desenvolvimento regional de forma sustentável.
Sendo assim, verifica-se que existe a possibilidade de se utilizar estratégias
modernas, visando uma mudança nos valores e, na cultura empresarial. Também
verifica-se que estabelecer estratégias focadas em inovações (buscando o novo e o
diferente) e sustentabilidade (contemplando ganhos sociais, econômicos e
ambientais), não pode ser visto apenas como um diferencial competitivo para a
empresa , e sim como uma estratégia de sobrevivência a médio e longo prazo.
O bom uso das novas tecnologias estão relacionadas a expansão e
sobrevivências das empresas.
Salum salienta que “o tema inovação tecnológica nas empresas e suas
respectivas práticas, em particular neste momento de pós crise financeira mundial,
são e devem ser levadas a sério de maneira diferenciada pela gestão estratégica
das empresas para poder oferecer em melhor serviço ou produto...”.
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REFERÊNCIAS
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ADMASSYL. Disponível em: <http://www.admassyl.com.br/capa.asp?IDMateria=2771&IDMn=132 > Acesso em: 15 maio 2013.
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