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ANÁLISE ERGONÔMICO-COGNITIVA
DA UTILIZAÇÃO DE UM SISTEMA
INFORMATIZADO PARA REALIZAÇÃO
DE MATRÍCULAS - UM ESTUDO DE
CASO NA SECRETARIA DO CURSO DE
ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
MECÂNICA (UFPB)
Priscila Elida de Medeiros Vasconcelos (UFPB)
Marli Daiana da Silva Melo (UFPB)
Elaine Victor Goncalves Soares (UFPB)
O estudo objetiva conhecer as possíveis conseqüências ergonômico-
cognitivas sobre os alunos e os funcionários da coordenação do curso
de Engenharia de Produção Mecânica da UFPB (CCGEPM), em
decorrência das falhas do sistema de gerenciamentoo de matricula.
Para tanto, utilizou-se a Análise Ergonômica do Trabalho e foram
aplicados questionários com os alunos do referido curso, bem como
com um dos secretários da coordenação do referente curso, o que
permitiu compreender o problema do posto de trabalho. O estudo
observou que 95% dos estudantes já passaram por problemas durante
a realização da matrícula online, tendo que procurar a coordenação
para a realização de ajustes. Os resultados apontam o impacto das
ferramentas informatizadas na atividade levando a incerteza e
variabilidade nas matrículas dos alunos, bem como na carga mental de
trabalho para os funcionários.
Palavras-chaves: Ergonomia cognitiva, Sistema de informação,
Matrícula online
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
A evolução tecnológica traz novas soluções, conhecimentos, desempenhando papel
importantíssimo não só nos meios de produção, mas diretamente nas vidas das pessoas. Junto
com os benefícios vêm novos problemas, muitas vezes decorrentes do crescimento
desordenado, que impõe ao homem um constante estado de aprendizado para sobrevivência.
Segundo Laudon e Laudon (1998), um Sistema de Informação pode ser definido como um
conjunto de componentes inter-relacionados trabalhando juntos para coletar, recuperar,
processar, armazenar e distribuir informação com a finalidade de facilitar o planejamento, o
controle, a coordenação, a análise e o processo decisório em empresas e outras organizações.
Para Mayhew (1992), o principal propósito da interface é facilitar a realização de uma ativi-
dade. Observa-se, portanto, que a boa comunicação ou a usabilidade de um software está
diretamente relacionada à melhor adaptação dos dispositivos tecnológicos ao homem. Assim,
a elaboração da interface de um software deve favorecer o seu uso, buscando eficiência,
produtividade e conforto, para que o usuário atinja plenamente seus objetivos com menos
esforço e maior satisfação.
No entanto, o uso ineficiente das ferramentas computacionais pode gerar sobrecarga no
sentido de estresse para com o trabalhador envolvido. Segundo Grandjean (1998), em se
tratando de profissionais de ambientes computadorizados, no geral, muitas vezes a falta de
organização das tarefas repetitivas realizadas são a causa geradora de todos os sintomas de
estresse
O crescimento das universidades em geral, em se tratando de número de cursos,
departamentos e alunos, levou à procura de alternativas para melhorar e agilizar os processos
de planejamento, controle e tomada de decisões. Dentre as ferramentas utilizadas em suas
diversas repartições, surgem os sistemas de gerenciamento de matrícula, softwares modernos
que possibilitam uma interação dos alunos e a instituição via internet, objetivando facilitar o
processo de matrícula e proporcionando redução na carga de trabalho sobre os funcionários
encarregados pelas mesmas.
Tendo em vista que o sistema de matrículas utilizado pela Universidade Federal da Paraíba é
fonte constante de reclamações por parte dos alunos, e que sua ineficiência implica na
necessidade da realização das matriculas presenciais, este artigo tem como objetivo estudar as
possíveis conseqüências ergonômico-cognitivas sobre os funcionários da coordenação do
curso de Engenharia de Produção Mecânica da UFPB, bem como os problemas trazidos aos
alunos.
2. Ergonomia e cognição
A simplicidade de um determinado dispositivo informatizado contribui para o uso e ao nível
do conforto dos utilizadores, e a Ergonomia tem estreita relação com essa área do
conhecimento, pois visa à adaptação da tecnologia ao homem, através de sistemas e
dispositivos que estejam adequados à maneira como o usuário pensa e trabalha.
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A aplicação da Ergonomia converge para que as tecnologias sejam adaptadas às caracte-
rísticas e necessidades humanas. O ponto central é o bem-estar por meio da adequação das
soluções de sistemas artificiais às possibilidades e limitações do usuário, isso da melhor
maneira possível. (IIDA, 1998).
Para Hendrick (1991), a Ergonomia como ciência trata de desenvolver conhecimentos sobre
as capacidades, limites e outras características do desempenho humano e que se relacionam
com o projeto de interfaces, entre indivíduos e outros componentes do sistema. Enquanto
como prática, esta, compreende a aplicação da tecnologia da interface homem-sistema a
projeto ou modificações de sistemas para aumentar a segurança, conforto e eficiência do
sistema e da qualidade de vida.
A Ergonomia Cognitiva visa analisar os processos cognitivos implicados na interação: a
memória (operativa e longo prazo), os processos de tomada de decisão, a atenção (carga
mental e consciência), enfim as estruturas e os processos para perceber, armazenar e recuperar
informações (CAÑAS & WAERNS, 2001).
Para Vidal & Carvalho (2008), a ergonomia cognitiva enfoca o ajuste entre habilidades e
limitações humanas às maquinas, a tarefa, ao ambiente, mas também observa o uso de certas
dificuldades mentais, aquelas que permitem operar, ou seja, raciocinar e tomar decisões no
trabalho.
Cada vez mais, solicita-se ao trabalhador atividades de natureza “intelectual”; onde outrora
predominavam os aspectos físicos, agora se demandam principalmente os processos
cognitivos, como a monitoração, a interpretação e o tratamento de informações, e a resolução
de problemas. O produto que antes era visível para o trabalhador, agora é mediado por um
artefato tecnológico. Os antigos “sinais” que regulavam a sua conduta não são mais evidentes.
Nesse sentido, o trabalhador passa a não ter controle sobre todo o processo produtivo,
aumentando a possibilidade de erros e acidentes (SARMET, 2007).
A Ergonomia Cognitiva busca compreender como o indivíduo gerencia a situação de trabalho
e as informações que recebe. É relevante destacar que qualquer tentativa neste sentido deve
levar em conta a limitação fisiológica do sistema cognitivo humano; assim, os processos de
aquisição, processamento e recuperação de informações devem primar pela economia,
eliminando ao máximo informações repetidas ou desnecessárias (STERNBERG, 2000).
O ergonomista busca as informações emitidas pelas pessoas, seja em forma de
comportamento, seja em forma de verbalização, buscando formar um “quadro cognitivo”
claro sobre a pessoa. Este quadro irá subsidiar decisões de como ajustar a interface à pessoa.
A conexão entre a tarefa, os modelos cognitivos e as representações disponíveis e utilizadas
originam um delineamento das preocupações da pessoa e de sua estratégia operatória (LIMA,
2003).
Desse modo, conhecer o ponto de vista do usuário é fundamental para a adequação do
sistema, não só a tarefa, como também ao modelo mental que o usuário possui do sistema e da
tarefa (MORAES, 1999). Neste cenário a Ergonomia ganha uma conotação imprescindível
onde antes era tradicionalmente matéria exclusiva dos profissionais da computação. Dois
ramos da Ergonomia se somam para trabalhar com esta solicitação: a Ergonomia de Software,
com o estudo de técnicas de avaliação da usabilidade; e a Ergonomia Cognitiva, que tem uma
de suas principais fundamentações teóricas na Psicologia Cognitiva, que é o estudo do modo
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como as pessoas percebem, aprendem, recordam e pensam sobre a informação
(STERNBERG, 2000).
Os processos cognitivos se articulam e se manifestam na competência do sujeito ao utilizar
seus conhecimentos e representações, gerando estratégias operatórias que resultam na ação
mais adequada, visando a realização da ação. Os processos atencionais e de categorização
auxiliam o indivíduo a determinar o que analisar na situação de trabalho e quais
representações e conhecimentos buscar na memória de longo prazo, gerando os melhores
procedimentos para solucionar a questão proposta (ABRAHÃO et al., 2005).
Portanto, a intuitividade, a eficiência e a facilidade de uso de um dispositivo informatizado
contribuem para sua usabilidade, e a Ergonomia tem muito a ver com tudo isso, podendo criar
ambientes saudáveis, onde prevaleça o diálogo entre todos os seres e as variáveis envolvidas
em um determinado sistema.
3. Metodologia
O sistema de gerenciamento de matricula tem como finalidade possibilitar ao aluno a
realização da sua opção de matrícula em disciplinas a cada período letivo. Entretanto, os erros
decorrentes pela falha do sistema acarretam na transferência da atividade, que atualmente é
realizada pelos próprios alunos, para os funcionários da Coordenação do Curso de Graduação
em Engenharia de Produção Mecânica (CCGEPM).
Com isso, este estudo tem como objetivo estudar as consequências ergonômico-cognitivas das
atividades adicionais realizadas pelos funcionários da CCGEPM, em decorrência de falhas
proporcionadas pelo sistema. Ainda, estudam-se os problemas encontrados pelos alunos
durante a realização de suas matrículas.
Para a realização do estudo em questão, adotou-se a metodologia AET (Análise Ergonômica
do Trabalho), que segundo Vidal (2008), consiste em um conjunto estruturado de análises
globais, sistemáticas e intercomplementares dos determinantes da atividade das pessoas numa
organização.
Realizaram-se entrevistas não estruturadas com alunos do curso de graduação em Engenharia
de Produção Mecânica da Universidade Federal da Paraíba e com um dos secretários da
respectiva coordenação de curso, a fim de compreender o problema o posto de trabalho em si.
Além disso, aplicou-se um questionário a 37 alunos, com o intuito de levantar os principais
problemas encontrados pelos mesmos quando do uso do sistema de matrículas, assim como
levantar sugestões para melhorias. Os questionários continham questões como: sexo, idade,
quantidade de semestres letivos cursados, quantidade de semestres onde se teve problemas
com a matrícula, principais problemas ocorridos, entre outras.
Para melhor avaliar as interações do secretário com o sistema de matrículas e com os alunos,
utilizou-se de fotos e vídeos e entrevistas. Optou-se por observar o primeiro dia do período de
Ajuste de Matrícula, por ser tratar do momento em que ocorre a incidência de alunos
solicitando a atividade de realização de matrícula.
4. Resultados e discussão
4.1 Matrícula on line – AutoServiço
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A matrícula on line da UFPB, denominada AutoServiço é o conjunto inicial de serviços que
são oferecidos via internet com a finalidade de possibilitar ao aluno a realização da sua opção
de matrícula em disciplinas a cada período letivo. A mesma é realizada através do endereço
eletrônico “http://www.ufpb.br/AutoServico” desde meados de 2006 e nunca foi reformulado
para adequar-se às necessidades emergentes. Entretanto, desde 2008 tem-se a intenção de
adotar um novo sistema, advindo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Porém,
maiores esforços não foram adotados neste sentido.
4.2 Passo a passo da matrícula – aluno
Para matricular-se através do site, o aluno tem de acessá-lo através de um browser de internet.
Inicialmente, é pedido que se insira matrícula e senha (Figura 1). Em seguida, serão exibidas
as opções iniciais de trabalho, que são: Matrícula, Horário Individual, Minhas turmas,
Histórico Escolar, Alterar Senha, Ajuda e Sair do Sistema (Figura 2).
Figura 1-Acesso ao AutoServiço
Figura 2- Opções iniciais de trabalho
Atendo-se à opção de matrícula, ao escolher este menu, o aluno é direcionado a uma página
onde serão visualizadas todas as disciplinas aptas ao mesmo. Para efetuar a matrícula,
escolhe-se dentre as turmas disponíveis aquelas cujos dias e horários atendem à sua
conveniência (Figura 3).
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Figura 3 - Simulação de matrícula
A partir deste ponto, é necessário que o aluno certifique-se que as escolhas feitas atendem às
suas reais intenções de matrícula, pois o AutoServiço não permitirá correção de
disciplinas/turmas matriculadas após a sua confirmação. Caso seja necessário algum tipo de
retificação, o procedimento a ser adotado será realizado no período de Ajuste de Matrículas,
junto à Coordenação de Curso, contendo as justificativas adequadas. Ao selecionar todas as
disciplinas/turmas que o aluno deseja cursar, o mesmo finaliza a operação, clicando na opção
“Matricular”. A figura 4 mostra um esquema do processo de realização de matrícula pelos
alunos.
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Figura 4 - Processo para realização da matrícula pelos alunos
4.3 Período de Ajuste de Matrículas
O período de ajuste de matrícula é aquele direcionado para adicionamento de disciplinas com
vagas remanescentes e matrícula daqueles alunos que não conseguiram efetuá-la no período
normal ou tiveram algum tipo de problema com o sistema on line. Além disso, é possível
realizar trancamentos totais e parciais e cancelamento ou permuta de matrícula em
turmas/disciplinas.
O ajuste da matrícula é realizado nas Coordenações de Curso e de responsabilidade dos
secretários (um por turno). Esses profissionais são responsáveis pela realização das matrículas
dos alunos, cancelamento, trancamento e ajustes, além de emitir históricos acadêmicos,
declarações e certificados.
Todos os procedimentos são realizados nos computadores da Coordenação, através do sistema
SCA – Sistema de Controle Acadêmico (versão coordenação), ao qual tem acesso restrito aos
secretários e o coordenador do curso em questão.
4.4 Problemas do AutoServiço
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Os principais problemas detectados com relação ao sistema de AutoServiço, do ponto de vista
dos alunos, são mostrados no Quadro 01:
Problema Descrição
Sobrecarga do sistema Site chega a ficar diversas horas fora do ar, devido à
grande quantidade de acessos por parte dos alunos. Pode
impossibilitar a matrícula em certas disciplinas que tem
número de vagas pré-estabelecidos, que neste caso serão
preenchidas somente pelos alunos que conseguiram ter
acesso.
Incoerência das
disciplinas/turmas aptas
Por diversas vezes nem todas as disciplinas aptas aos
alunos estão disponíveis no sistema. Para que os mesmos
consigam a matrícula, é necessário esperar até o período
de Ajuste de Matrículas. Neste período, também pode
acontecer de a disciplina atingir o número máximo de
alunos inscritos, prejudicando aqueles que não puderam
ter acesso à mesma
Quadro 01 – Problemas encontrados no Autoserviço
Para contornar estas situações, a única solução oferecida para os alunos do curso em questão é
o comparecimento junto à Coordenação de Curso de Engenharia de Produção Mecânica
(CCGEPM), no período de Ajuste de Matrículas. Entretanto, isto pode gerar diversos outros
problemas para os alunos e funcionários da Coordenação de Curso, conforme discutidos a
seguir.
Notou-se, através das entrevistas realizadas, que esse sistema de matrículas on line não tem
funcionado adequadamente, forçando-os a recorrer ao período de ajuste de matrículas. As
Figuras 5 e 6 mostram o volume de discentes em busca de atendimento durante o período de
reajuste, em conseqüência da ineficiência do sistema.
Figura 5 –Centro de Tecnologia
Figura 6 - CCGEPM
Percebe-se que o sistema AutoServiço não atende adequadamente às necessidades dos alunos,
colocando-os em situação de estresse, seja pelo fato do acesso ser de difícil consecução, seja
por não disponibilizar todas as disciplinas/turmas necessitadas.
4.5 Problemas do SCA – versão coordenação
Tomando o insucesso do aluno em realizar sua matrícula online, a mesma passa a ser
executada pelo secretário na CCGEPM. Neste caso, o procedimento exige que as informações
a serem inseridas no processo sejam levantadas manualmente, tanto pelo profissional quanto
pelos alunos.
O secretário dispõe de um “pijama”, que consiste em um documento impresso que lista todas
as disciplinas oferecidas, horários e vagas disponíveis, para o curso de Engenharia de
Produção Mecânica. Neste caso, o aluno deve consultar o pijama e anotar o código das
disciplinas em que se deseja matricular.
O funcionário solicita a matrícula do aluno (8 dígitos) e os códigos das disciplinas e turmas (7
e 2 dígitos respectivamente), inserindo tais dados no sistema, junto ao ano e período letivo
(Figura 7) e realizando, por fim, a matrícula.
Figura 7 - Matrícula através do SCA (versão Coordenação)
A Figura 8 apresenta uma situação em que o sistema indicou turma indisponível. Nestes
casos, o funcionário deve utilizar de outro procedimento operatório, fechando a janela em
ação, e entrando com novos dados (matrícula institucional), a fim de visualizar a listagem de
turmas disponíveis e verificar o motivo da matrícula não ter sido realizada.
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Figura 8 - Indisponibilidade de turma
Neste caso, foi constatado o motivo da não realização da matrícula como a falta de vagas
disponíveis para a disciplina (Figura 9). Isso se deve ao fato de os “pijamas” serem impressos
no início do horário de trabalho, não sendo atualizado no decorrer das matrículas, o que
acarreta no desperdício do tempo de trabalho do funcionário.
Figura 9 - Falta de vagas nas turmas
Com base nas observações e na entrevista realizada com o secretário da CCGEPM, pode-se
levantar alguns pontos críticos do sistema, que são mostrados no Quadro 02:
Pontos críticos Descrição
Falta de treinamento O secretário alega que nunca houve treinamento
adequado para operar o SCA. Os conhecimentos foram
adquiridos através de conversas informais com outros
secretários. Devido a este fato, existem funções
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exercíveis que ele alega desconhecer o objetivo ou como
operar.
Ações irreparáveis Existem diversas ações realizáveis que são impossíveis
de ser reparadas pelo próprio secretário. Para tanto, é
necessário um burocrático trâmite de documentos para a
correção.
Dados dissociados Dados dos alunos como notas, quantidade de
trancamentos, evolução discente, entre outros, aparecem
separados no SCA. Para que o secretário tenha uma visão
geral sobre a situação do discente é necessário coletar as
informações individualmente, o que gera desperdício de
tempo e, com a maior quantidade de operações, mais
susceptibilidade ao erro. Além disso, os dados não podem
ser importados ou exportados.
Quadro 02 – Pontos críticos do sistema SCA
Considerando-se a quantidade elevada de informações para a realização dessas atividades,
bem como todo o estresse e ruído causado pelos alunos que esperam pelo atendimento na
Coordenação de Curso, dentro da sala e fora dela, entende-se que esta situação pode gerar
diversos problemas, que vão desde o estresse para o funcionário, até mesmo erros na
operação.
Além disso, nota-se uma interface rígida e inadequada, onde todas as entradas de dados são
feitas repetidamente e de forma manual (digitando), o que o faz passível de erros desta
natureza, bem como a impossibilidade de interação entre os mesmos.
Desse modo, o funcionário desenvolveu estratégias próprias para facilitar o desenvolvimento
das atividades, que são mostradas no Quadro 03:
Estratégias Descrição
Disponibilização dos
“pijamas” em painel
externo à sala
Facilita a consulta dos alunos antes de adentrarem ao
recinto.
Lista de atendimento Restringe a entrada de uma quantidade determinada de
alunos por período, de acordo com a ordem de chegada.
Elaboração de ficha
para preenchimento de
informações
Para uso dos alunos durante o período de espera para
atendimento, proporcionando diminuição do tempo de
atendimento no interior da coordenação, facilitando a
inserção dos dados, assim como evitando situações de
possíveis choques de horários.
Quadro 03 – Estratégias desenvolvidas pelo secretário
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4.6 Análise dos questionários
Foi aplicado um questionário com 37 estudantes do curso de Engenharia de Produção
Mecânica dos quais 65% eram homens e 35% mulheres e apresentavam em sua maioria entre
20 e 22 anos (51%) (figuras 10 e 11). Levando em consideração que todos os estudantes são
obrigados a utilizar o sistema online de matrículas durante o curso, 95% apresentaram
problemas durante a realização da matrícula online em algum período cursado.
Figura 5 - Sexo dos participantes
Figura 6- Idade dos participantes
A maioria se encontra desblocado (81%), ou seja, por alguma razão não cursou alguma
disciplina prevista pelo fluxograma do curso no período adequado, entretanto 43% declararam
ter tido algum problema mesmo estando na blocagem do curso.
Os principais problemas enfrentados, durante o período de matrículas, mencionados pelos
alunos foram: sistema fora do ar, indisponibilidade de disciplinas fora da blocagem e
indisponibilidade de disciplinas obrigatórias (Figura 12).
Figura 7 - Principais problemas enfrentados pelos alunos
Em decorrência desses problemas a maior parte dos alunos já teve que se dirigir à
coordenação do curso durante o período de ajuste de matrículas (97%), chegando ao ponto de
se dirigir a outros departamentos para solicitação de disciplinas ou vagas (84%). Durante esse
período, uma série de outros problemas foi mencionada pelos estudantes como sendo
frequentes na semana de ajustes de matrículas, como número elevado de alunos esperando por
atendimento, indisponibilidade de vagas, conflito de informações, etc.
Além da melhoria da capacidade e velocidade do servidor para o atendimento adequado da
demanda de alunos, outras sugestões foram feitas pelos mesmos para melhoria do sistema,
como: que seja oferecida a opção para cancelamento de disciplinas, a disponibilidade para
matrícula de todas as disciplinas com pré-requisitos já cursados, a possibilidade de simulação
de horários, a antecipação do período de ajustes para um período antes do início das aulas, a
possibilidade de identificar o nome do professor escolhido para ministrar cada disciplina,
entre outros.
5. Considerações finais
Verificou-se através desse estudo que o trabalho estudado é constituído de tarefas complexas,
devido à variabilidade das demandas dos alunos, à quantidade e qualidade das ferramentas
utilizadas, à imprevisibilidade com relação à estabilidade do sistema, exigindo dos
funcionários a elaboração de estratégias e modos operatórios que assegurem a realização do
trabalho.
Na análise realizada com o sistema AutoServiço verificou-se que os alunos apresentam
dificuldades quanto ao uso do mesmo, trazendo problemas de ordem cognitiva, devido a
sobrecarga do sistema e a incoerência das disciplinas/turmas aptas. Os questionários aplicados
aos alunos trouxeram como resultado o fato de que os discentes enfrentam diversos problemas
quando da realização da matrícula através do sistema de AutoServiço, como indisponibilidade
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de disciplinas que deveriam ser cursadas e o fato de o sistema estar fora do ar. Devido aos
problemas supracitados os alunos são obrigados a utilizar o período de ajuste de matriculas, o
que ocasiona uma demanda elevada de alunos.
De acordo com a análise realizada no Sistema de Controle Acadêmico - SCA (versão
coordenação) verificou-se que os funcionários apresentam dificuldades em trabalhar com o tal
sistema devido o mesmo apresentar ações irreparáveis e dados dissociados, isso se agrava
ainda mais por não haver um treinamento adequado para o uso do sistema em comento, o que
requer grande concentração pelos funcionários. Tais problemas levam erros na operação
ocasionando retrabalho e, portanto mais tempo para atender os alunos.
Desse modo, através da análise realizada, considera-se do ponto de vista da Ergonomia
Cognitiva, que o posto de trabalho analisado é inadequado, necessitando de intervenções que
visem uma melhoria do sistema de informações utilizado para a matrícula (tanto online quanto
pessoalmente), evitando o tumulto e o estresse causado no período de ajuste de matrícula.
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