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Anais do VII ENFEPro - Encontro Fluminense de Engenharia de Produção, editora SFEPro - Sociedade Fluminense de Engenharia de Produção, 22 e 23 de Novembro de 2017, CEFET/RJ - Campus Nova Iguaçu. ISSN 2178-3272. ESTUDO ERGONÔMICO BASEADO NA ANALISE ERGONÔMICA DO TRABALHO: O CASO DA ODONTOLOGIA Área temática: ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO Autores: Raynne Suzano de Freitas - [email protected] Marcele Sttellet Barbosa da Silva - [email protected] Juliana do Carmo Abreu - [email protected] Isabela Santos Ayres da Silva - [email protected] Beatriz Mota Castro - [email protected] O presente artigo apresentará um estudo ergonômico realizado em um consultório dentário na cidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. O estudo buscou-se identificar e analisar as condições de trabalho que um dentista está exposto durante a execução de suas atividades, inspirada na metodologia da Ergonomia da Atividade, a Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Dessa forma o estudo utilizou uma metodologia baseada nos procedimentos da AET por meio de conversas, fotografias e observações da atividade para a coleta de dados. E como resultados este artigo explicitará o diagnóstico feito a partir da análise da atividade, buscando assim sugerir recomendações ergonômicas para reduzir o estresse físico e cognitivo do trabalhador. Palavras-chave: Ergonomia; Odontologia; Análise Ergonômica do Trabalho;

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Anais do VII ENFEPro - Encontro Fluminense de Engenharia de Produção, editora SFEPro - Sociedade Fluminense de Engenharia de Produção, 22e 23 de Novembro de 2017, CEFET/RJ - Campus Nova Iguaçu. ISSN 2178-3272.

ESTUDO ERGONÔMICO BASEADO NA ANALISE ERGONÔMICA DO TRABALHO: OCASO DA ODONTOLOGIA

Área temática: ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO

Autores:

Raynne Suzano de Freitas - [email protected]

Marcele Sttellet Barbosa da Silva - [email protected]

Juliana do Carmo Abreu - [email protected]

Isabela Santos Ayres da Silva - [email protected]

Beatriz Mota Castro - [email protected]

O presente artigo apresentará um estudo ergonômico realizado em um consultório dentário nacidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. O estudo buscou-se identificar e analisar as condições detrabalho que um dentista está exposto durante a execução de suas atividades, inspirada nametodologia da Ergonomia da Atividade, a Análise Ergonômica do Trabalho (AET). Dessa forma oestudo utilizou uma metodologia baseada nos procedimentos da AET por meio de conversas,fotografias e observações da atividade para a coleta de dados. E como resultados este artigoexplicitará o diagnóstico feito a partir da análise da atividade, buscando assim sugerirrecomendações ergonômicas para reduzir o estresse físico e cognitivo do trabalhador.

Palavras-chave: Ergonomia; Odontologia; Análise Ergonômica do Trabalho;

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1. Introdução

A necessidade de compreender as interações entre os seres humanos e os processos produtivos sempre se fez presente em nossa sociedade (Abraão, 2009). Neste sentido nasceu ao longo do último século a ergonomia, que tem como principal finalidade analisar todas as interações homens-sistemas produtivas, com o intuito de promover um ambiente de trabalho saudável e sustentável.

Segundo Iida (2005), o trabalho deve sempre se adequar ao homem, abrangendo aspectos físicos, organizacionais de como o trabalho é projetado para produzir seus objetivos. De forma complementar Abraão (2009) e Guérin (2001), destacam que os aspectos cognitivos são muito importantes. Deste modo, os aspectos ergonômicos devem ser estendidos a todos os campos e profissões, inclusive aos profissionais da odontologia.

Dentro desse contexto, segundo Castro e Figlioli (1999), a ergonomia aplicada à odontologia tem como finalidade obter meios e sistemas para diminuir o estresse físico e mental. Além de prevenir as doenças relacionadas à prática odontológica, buscando uma produtividade mais expressiva, com melhor qualidade e maior conforto, tanto para o profissional quanto para o paciente.

Com isso, torna-se viável um estudo ergonômico aplicado à odontologia que busque reduzir as situações de desconforto vivenciadas por estes profissionais, definindo meios pelos quais haja maior segurança, melhor conforto, qualidade no atendimento e possivelmente aumento de produtividade. Como também, por existir um baixo número de trabalhos ergonômicos realizados nesta área, que embora seja bem restrita, apresenta um conjunto de fatores que se faz importante para se aplicar esta ferramenta de análise do trabalho.

Frente a importância do estudo, este artigo pretende apresentar um estudo de caso realizado em um consultório odontológico na cidade de Nova Iguaçu/RJ, que se propôs avaliar as condições ergonômicas do posto de trabalho do odontólogo, por meio dos princípios da Análise Ergonômica do Trabalho (AET). E como resultados este artigo explicitará o diagnóstico feito a partir da análise da atividade, buscando assim sugerir recomendações ergonômicas para reduzir o estresse físico e cognitivo do trabalhador.

2. Revisão da literatura 2.1 Análise Ergonômica do Trabalho

A AET é uma metodologia desenvolvida por estudiosos franceses da ergonomia da atividade (IIDA, 2005), a fim de compreender-transformar o trabalho, ou seja, “transformar o trabalho, em suas diferentes dimensões, adaptando-o às características e aos limites do ser humano” (ABRAÃO, 2009, p.19). Segundo Abraão (1996) a AET é um conjunto de etapas e ações, nas quais mantém uma coerência interna, pois são validadas durante o processo de forma à aproxima-la à realidade. Com isso as ferramentas de coleta de dados podem variar, visto que a mesma é feita em função dos problemas observados no momento da demanda. Logo a AET, que é um método

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considerado aberto, se diferencia dos métodos científicos tradicionais. O autor Iida (2005), também cita tal diferença da AET frente a outros métodos de análise, e revela que a AET tem por objetivo aplicar os conhecimentos da ergonomia para analisar, diagnosticar e corrigir uma situação real de trabalho. Com isso “compreender o trabalho é sempre um desafio, ele é fruto de um emaranhado de variáveis que precisam ser apreendidas em um determinado contexto” (ABRAÃO, 1996, p. 179).

2.1.1 Conceitos da ergonomia

Para melhor compreensão das etapas que compõem a AET, é necessário explicitar quatro conceitos que baseiam a ergonomia da atividade e são fundamentais para compreensão da AET, as quais estão descritas a seguir de forma sucinta.

Tarefa: é o que se deve fazer, o que é prescrito pela organização, corresponde a um planejamento do trabalho e pode estar contida em documentos formais, como a descrição de cargos (IIDA, 2005).

Atividade: é o que é feito, o que o sujeito mobiliza para efetuar a tarefa, ou seja, a partir da prescrição da tarefa a atividade consistirá na maneira como o profissional procede para atingir as metas estabelecidas (IIDA, 2005).

Variabilidade dos contextos e dos indivíduos: para a ergonomia não há um trabalhador padrão, há sim grande variabilidade existente em cada indivíduo. Ou seja, o trabalhador não deve ser comparado a uma máquina, pois diferentemente desta, ele vê o mundo que o rodeia e o interpreta. Integrando-o e interpretando-o, cada um com suas habilidades, experiências, crenças, etc.

Regulação na atividade: é a capacidade que o trabalhador tem de se moldar aos objetivos da produção, atendendo as expectativas lançadas sobre seu trabalho e gerindo as variabilidades (ASSUNÇÃO; LIMA, 2003). 2.1.2 Análise da demanda

De acordo com Fialho e Santos (1997), podemos reconhecer três grupos de demanda na intervenção ergonômica:

− As demandas relacionadas com a implantação de um novo sistema de produção, cujo objetivo é a integração na concepção do projeto inicial do homem à atividade;

− As demandas relacionadas a resolver inconvenientes ao sistema de produção já implantado, tendo como objetivo o diagnóstico dos problemas e propor melhorias das condições de trabalho;

− As demandas relacionadas à identificação das novas condicionantes de produção onde se considera fatores que modificaram o sistema; seja por uma nova tecnologia implantada ou devido a alterações no processo produtivo/administrativo.

O presente estudo é caracterizado pelo segundo grupo citado, pois a demanda neste caso está associada ao acúmulo de tarefas, pois a dentista trabalha sozinha, ou seja, sem auxiliar.

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2.1.3 Etapas da AET

Os autores Iida (2005) e Abraão (1996) falam que a AET possui três principais fases: avaliação ou análise do posto de trabalho, diagnóstico e implantação ou recomendação. A fase de análise do posto de trabalho, segundo Iida (2005), visa diminuir a exigências cognitivas e proporcionar o equilíbrio biomecânico, onde as ferramentas, mobiliários, equipamentos, máquinas devem ser projetos de maneira que se adapte às características do trabalho e capacidades do trabalhador. Tendo como finalidade garantir a segurança e bem-estar do trabalhador e a produtividade do sistema. A fase do diagnóstico refere-se a tudo que foi identificado na análise do posto de trabalho, com intuito de apresentar os problemas identificados. E a fase da implantação ou recomendação diz respeito às possíveis ações ergonômicas que podem ser feitas para melhorar o ambiente de trabalho (IIDA, 2005).

As fases apresentadas anteriormente formam a ação ergonômica de maneira interligada, de forma que, cada uma delas são constituídas por etapas. Diversos autores nomeiam e dividem as etapas da AET com algumas diferenças (GUÉRIN et al., 2001; VIDAL,2003; ABRAHÃO et al., 2009, DANIELLOU, 2004; DANIELLOU e BEGUIN, 2007; WISNER, 1994), entretanto, o estudo ergonômico apresentado neste artigo se baseará nas etapas definidas pelo autor Iida (2005). Essas etapas são cinco: análise da demanda, análise da tarefa, análise da atividade, diagnóstico e recomendações, tendo a autora Abraão (1996) as mesmas etapas, mas apresentadas de forma mais detalhada.

a) Análise da demanda visa: formalizar as diferentes informações; obter características da população; entender a natureza e a dimensão dos problemas apresentados; identificar as diferentes lógicas sobre o mesmo problema; estabelecer o ponto de partida para as etapas futuras da ação. b) Análise da tarefa tem por objetivo: assegurar domínio sobre os dados técnicos referentes à situação de trabalho; identificar as diferenças entre aquilo que é prescrito (tarefa) e o que é executado (atividade); servir de base para a construção de hipóteses e elaboração do pré-diagnóstico; constituir ferramentas úteis para a descrição e a interpretação dos dados produzidos pela análise da demanda. c) Análise da atividade: ajuda na definição de problemas de pesquisa; contribui na formação de hipóteses; facilita a obtenção de dados; (re)orienta o planejamento da observação sistemática; ajuda na definição de instrumentos. A atividade tem influência de fatores internos, que se caracterizam pela formação, idade, sexo, experiência e outros do trabalhador, e externos, que se classificam em três tipos, o conteúdo do trabalho, organização do trabalho e meios técnicos. d) Formulação do diagnóstico visa: identificar as causas que provocaram os problemas descritos; formular hipóteses de base; orientar as investigações necessárias à produção destes conhecimentos; contribuir para desvendar as estratégias usadas pelos operadores para realizar a tarefa.

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e) Recomendações ergonômicas são providencias propostas para resolução dos problemas identificados. Elas devem ser claras, específicas, descrevendo todas as etapas a serem seguidas, tendo assim, cautela em sua implementação. 2.2 Ergonomia na odontologia

O conceito de trabalho apresentado neste artigo tem uma acepção bastante ampla, abrangendo não apenas aqueles executados com máquinas e equipamentos, utilizados para transformar os materiais, mas também toda a situação em que ocorre o relacionamento entre o homem e uma atividade produtiva. Isso envolve não somente o ambiente físico, mas também os aspectos organizacionais. A ergonomia tem uma visão ampla, abrangendo atividades de planejamento e projeto, que ocorrem antes do trabalho ser realizado, e aqueles de controle e avaliação, que ocorrem durante e após ele. Tudo isso é necessário para que o trabalho possa atingir os resultados desejados (IIDA, 2005).

Dentro disso, faz-se necessário o entendimento de posto de trabalho que segundo Iida (2005, p. 189) se define como a “configuração física do sistema homem-máquina-ambiente. É uma unidade produtiva envolvendo um homem e o equipamento que ele utiliza para realizar o trabalho, bem como o ambiente que o circunda”. O posto de trabalho do profissional de odontologia é segmentado em três aspectos: equipamentos, recinto e mobília, em que o dentista busca constantemente posições instáveis para contemplar tanto o fácil acesso aos diversos equipamentos quanto a visão ampla diante do paciente.

Os profissionais da área de saúde ocupam um ambiente de trabalho bastante vulnerável a inúmeras doenças. Além disso, os métodos utilizados para a realização das tarefas em odontologia, bem como a relação homem-tarefa, dependendo do sistema organizacional, podem acarretar inúmeras queixas demandando uma análise para diagnosticar que condicionantes da tarefa precisam de ajustes. Fialho e Santos (1997) definem homem-tarefa como contexto que engloba não apenas as máquinas e suas condições técnicas de trabalho, mas também as condições organizacionais e ambientais de trabalho.

A profissão do dentista tem como tarefa uma rotina diária de trabalho que exige dos membros superiores e estruturas contíguas uma frequência de movimentos repetitivos padrão devido suas atividades clínica (PIETROBON e REGIS FILHO, 2006). De acordo com Rasia (2004), notam-se movimentos desgastantes que são realizados com frequência, como rotação do tronco, flexão da cabeça forçando a musculatura cervical, escapular e tórax-lombar; manutenção dos membros superiores suspensos; entre outros movimentos corporais nocivos, o que, gera frequentes dores e fadiga nessas regiões, podendo gerar lesões agudas ou crônicas nas mesmas. Ainda segundo a autora, as primeiras contribuições da Ergonomia no campo da Odontologia destinaram-se a melhorar as condições de trabalho dos cirurgiões dentistas, criando e aperfeiçoando as ferramentas, instrumentos e mobiliário utilizado por esses profissionais, tendo como objetivo a diminuição do estresse físico e mental,

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prevenindo assim as doenças relacionadas à prática odontológica, e consequentemente buscando uma produtividade mais expressiva.

3. Metodologia

A pesquisa parte de uma revisão da literatura, onde foram fundamentados os princípios importantes para a realização do estudo de caso, que segue de observação e entrevistas abertas.

Assim, utilizando como base os princípios da AET, a metodologia adotada no presente trabalho se caracteriza, conforme Gil (1991), como um estudo exploratório descritivo com uma abordagem qualitativa dos dados. Segundo Moraes e Mont’Alvão (1998), no estudo descritivo o pesquisador busca conhecer e interpretar a realidade, observar fenômenos para então descrevê-los, classificá-los e interpretá-los. Tal estudo foi realizado através da análise sistemática dos postos de trabalho por meio de fotografias, assim como entrevistas com a profissional.

No que tange a entrevista, a mesma foi parametrizada com os critérios vistos na Análise Ergonômica do Trabalho. Vale salientar que como se trata de um estudo de caso os resultados obtidos não podem ser estendidos a toda a população (LAKATOS & MARCONI, 1993).

4. Estudo de Caso

4.1 Análise da demanda e aspectos gerais do posto de trabalho Neste tópico pretende-se apresentar a demanda, ou seja, o posto de trabalho escolhido, suas características e análises macro desta situação de trabalho. Inicialmente a demanda foi escolhida por reconhecer problemas de saúde, como dores musculares, em um profissional de odontologia. Segundo Fialho e Santos (1997), pode-se reconhecer três grupos de demanda na intervenção ergonômica: (I) as demandas relacionadas com a implantação de um novo sistema de produção, cujo objetivo é a integração na concepção do projeto inicial do homem à atividade; (II) as demandas relacionadas à identificação das novas condicionantes de produção onde se considera fatores que modificaram o sistema, seja por uma nova tecnologia implantada ou devido a alterações no processo produtivo/administrativo; (III) as demandas relacionadas a resolver inconvenientes ao sistema de produção já implantado, tendo como objetivo o diagnóstico dos problemas e propor melhorias das condições de trabalho. A demanda analisada é caracterizada pelo terceiro grupo citado, pois está associada ao acúmulo de tarefas, e apresenta um diagnóstico de problema de saúde que se entende, a princípio, que há relação com a atividade laboral.

Assim, o posto de trabalho analisado é um consultório localizado no bairro Palhada, na cidade de Nova Iguaçu – Rio de Janeiro. Neste posto trabalha uma dentista, do sexo feminino, destro, que exerce clínica geral e que atua na profissão a mais de cinco anos.

No consultório, preocupa-se mais com o bem-estar do paciente e com o êxito dos tratamentos odontológicos e pouco com as práticas ergonômicas. Com isso, a dentista se queixa de várias dores musculares. A profissional presta serviços como: limpeza

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dentária, tratamento de canal, extração, clareamento, implantes e próteses dentárias, como também atividades de limpeza dos instrumentos e do ambiente.

O posto de trabalho do dentista é constituído por uma diversidade de equipamentos, mobiliários, procedimentos e o meio. Diante disso, pode-se dizer que a conjugação adequada torna-se um desafio, pois além de não ter um posicionamento postural definido, as atividades exigem concentração e precisão de movimentos.

A carga horária diária não segue um padrão, ela é determinada de acordo com os agendamentos das consultas. Em entrevista, a dentista declara que há variação quanto à demanda diária exercida, e por esse motivo, a carga horária costuma variar entre seis e sete horas por dia. É necessário ressaltar que a dentista atua sem ajudante, o que a torna responsável pela limpeza geral do consultório, agendamentos, esterilização, compra de materiais e sua atividade fim que são os procedimentos odontológicos.

4.2 Análise da tarefa e atividade

Na análise da tarefa, o que é prescrito, e da atividade, o que é real, observou-se que a profissional para otimizar o tempo de cada atendimento, organiza todos os instrumentos, equipamentos e materiais posicionando-os no raio de ação (Figura 1). Pode-se entende que pelo motivo da dentista trabalhar sozinha, ela realiza movimentos constantes até a mesa de escritório para atendimento telefônico, marcação de consultas e manuseio das fichas dos pacientes.

Figura 1 - Organização do trabalho sem auxiliar odontológico

Fonte: Autoria própria (2017)

Além disso, o tempo de atuação na área e a idade podem ser considerados fatores de grande influência nas movimentações e posturas adotadas ao longo dos anos de prática nessa área de odontologia. Com relação aos aspectos ambientais, como iluminação, ruído, qualidade e disposição dos equipamentos, dentre outros, podem comprometer e prejudicar os movimentos necessários na execução de suas atividades.

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A partir da análise do prescrito, da tarefa, será apresentada a sequência de atividades que são realizadas em um atendimento odontológico e os equipamentos e mobiliários utilizados. Inicialmente a profissional realiza a anamnese, ou seja, interrogatório ao paciente procurando detalhes que possam auxiliar no diagnóstico. Feito isto, a dentista examina e constata o real problema do paciente. Para auxiliar suas tarefas a dentista utiliza alguns EPI’s (Equipamentos de proteção individual) como luvas descartáveis para cada procedimento, avental impermeável, gorro, máscara e óculos de proteção e alguns equipamentos como cadeira odontológica, mocho (banco), equipo, mesa clínica auxiliar, canetas de alta e baixa rotação, unidade auxiliar, equipamento de raio X, ultrassom e fotopolimerizador (Figura 2).

Figura 2 - Execução da atividade

Fonte: Autoria própria (2017)

A dentista afirmou que os equipamentos estavam em boas condições de uso e ajustados de forma mais confortável e produtiva possível. Entretanto, afirmou que em alguns casos abandona os procedimentos que prevê os preceitos ergonômicos e opta pela praticidade do momento.

Pensando-se no ambiente de trabalho, para Barros (1993), as dimensões do ambiente físico devem proporcionar conforto tanto para os profissionais como para os pacientes, sendo a área mínima ideal de 9 metros quadrados, do tipo 3 metros por 3 metros. No consultório odontológico em estudo tem-se uma área de 12 m² (3 m x 4 m), ou seja, tamanho adequado para a realização das tarefas.

Devido ao posicionamento dos instrumentos e equipamentos, a dentista precisa realizar diversos movimentos ou deslocamentos, como a ida até o armário e gaveteiros para selecionar materiais, deslocamento com o mocho para ativar e desativar o sugador e mudanças na posição do refletor conforme o procedimento (Figura 3).

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Figura 3 - Posto de Trabalho Consultório Odontológico

Fonte: Autoria própria (2017)

4.3 Diagnóstico Segundo Guerin (2001), o diagnóstico mostra os fatores a serem considerados para permitir uma transformação da situação de trabalho. A dentista é submetida a uma carga excessiva de demandas, pelo fato de trabalhar sem a ajuda de um auxiliar odontológico. Esta sobrecarga afeta diretamente sua organização do tempo, desempenho e produtividade.

Todos os equipamentos e instrumentos observados estão em boas condições de uso, facilitando o trabalho nos tratamentos triviais e de pacientes especiais com limitações do conjunto pescoço-cabeça. Os movimentos dos membros superiores e sistema cervical são frequentes durante toda a atividade profissional. Pela complexidade de alguns tratamentos, o profissional foca no elemento dentário e é flagrado em posições e posturas estáticas com tensão muscular, que podem causar fadigas e dores. São conhecidas às práticas ergonômicas, porém não são aplicadas em todo o tempo.

As condições ambientais no consultório odontológico são aceitáveis para o desenvolvimento das atividades, pois se percebe agradável temperatura (entre 20°C e 23°C) devido ao sistema de condicionamento do ar. A iluminação é condizente com a altura do plano de trabalho (aproximadamente 500 lux), e quando necessário utiliza-se o refletor odontológico.

4.4 Recomendações Para melhorar o ambiente de trabalho, evitar problemas de saúde ocupacional e melhorar a produtividade do odontólogo no consultório dentário sugerem-se algumas recomendações: Manutenção periódica dos instrumentos e equipamentos; Deixar sempre os equipamentos posicionados adequadamente para evitar

deslocamentos fora do raio de alcance;

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Utilizar sempre o giro do mocho e regulagem de apoio para evitar rotacionar a coluna;

Utilizar EPI’s e roupas adequadas; Fazer pausas sempre que possíveis, realizando alongamentos; Para evitar problemas de circulação, regular a altura do mocho de forma que as

pernas formem um ângulo de 90°. 5 Conclusões

O presente estudo, por meio de uma Análise Ergonômica do Trabalho aplicado a estudo de caso, investigou as condições de trabalho de uma dentista e identificou que o posto de trabalho em questão possui riqueza de detalhes e aspectos ergonômicos que vão além do que este estudo se propôs analisar. Entretanto, foi possível a obtenção de dados para análises relevantes.

Objetivou-se formar um panorama desta atividade profissional, propondo recomendações ergonômicas, desenvolvimento de diagnósticos e, por conseguinte ajustes ergonômicos.

A profissional confirma a boa condição dos equipamentos e faz a utilização correta do EPI, contribuindo para, de acordo com Jorge (2006), coibir a contaminação do profissional de saúde por microrganismos contidos no sangue, fluidos orgânicos, secreções e excreções dos pacientes.

Pode-se perceber que o consultório odontológico possui infraestrutura adequada, e não há relatos da profissional quanto à aspectos negativos, relacionados à iluminação, ruídos, disposição dos equipamentos, entre outros que comprometam ou prejudiquem seus movimentos na execução da atividade.

O excesso de atividades executada pela dentista influencia fortemente na organização, pois possibilita uma maior fadiga, o que não aconteceria caso essas atividades fossem desempenhadas por um auxiliar. Apesar disso, a profissional demostra prazer em seu trabalho e contentamento em ver seu trabalho realizado com êxito em cada paciente. Neste contexto, existe a possibilidade de futuros estudos com uma análise mais aprofundada que envolva uma amostra maior nessa área de trabalho.

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