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ESTUDO ERGONÔMICO APLICADO A UM DISPOSITIVO FERRAMENTAL IMPLEMENTADO EM UMA INDÚSTRIA METALÚRGICA Giseli Gonçalves [email protected] Lucas Willian Nogueira Gonçalves [email protected] Renan Correa [email protected] João Vitor Andrade Miranda [email protected] Danielle Rodrigues de Oliveira [email protected] A saúde e o desempenho do trabalhador em uma organização moderna são fatores relevantes e que requerem atenção. A ergonomia tem muito a colaborar neste sentido, já que tem por objetivo adaptar as condições de trabalho ao trabalhador, de modo a garantir a saúde e melhorar a eficiência dos trabalhadores durante a execução do trabalho. Dessa forma, o presente artigo abordará um estudo ergonômico com o objetivo de melhorar o processo de trabalho em uma indústria metalúrgica. O posto de trabalho estudado envolve a tarefa de levantamento manual de carga, com carga de 40 kg, sendo a principal queixa dos trabalhadores do setor a dor na coluna vertebral. Neste cenário, serão aplicadas duas ferramentas pertencentes ao software Ergolância® no intuito de realizar a análise ergonômica do trabalho. Sendo elas, a equação de NIOSH (Instituto Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho) que permite calcular a carga máxima recomendada para o levantamento e transporte manual de cargas e o REBA (Rapid Entire Body Assessment), que é utilizado para estimar o risco de desordens corporais as quais os trabalhadores estão expostos. Sabe-se que ferramentas ergonômicas permitem avaliar de forma sistemática, documentar e armazenar informações sobre as condições do trabalho, além de possibilitar a instrumentação de relatórios demonstrativos aos gestores sobre as condições pré e pós-intervenções ergonômicas. Através da aplicação dessas ferramentas, espera-se otimizar e melhorar as condições ergonômicas para o processo de desbobinamento, gravação e cortes de blanks em uma máquina industrial de uma empresa metalúrgica. Além disso, deseja-se gerar novas sugestões de melhoria no processo de levantamento de cargas e também demonstrar que um ambiente ergonomicamente planejado pode contribuir para aumentar a produtividade de um processo. XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil” Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

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ESTUDO ERGONÔMICO APLICADO A

UM DISPOSITIVO FERRAMENTAL

IMPLEMENTADO EM UMA INDÚSTRIA

METALÚRGICA

Giseli Gonçalves

[email protected]

Lucas Willian Nogueira Gonçalves

[email protected]

Renan Correa

[email protected]

João Vitor Andrade Miranda

[email protected]

Danielle Rodrigues de Oliveira

[email protected]

A saúde e o desempenho do trabalhador em uma organização moderna

são fatores relevantes e que requerem atenção. A ergonomia tem muito

a colaborar neste sentido, já que tem por objetivo adaptar as condições

de trabalho ao trabalhador, de modo a garantir a saúde e melhorar a

eficiência dos trabalhadores durante a execução do trabalho. Dessa

forma, o presente artigo abordará um estudo ergonômico com o

objetivo de melhorar o processo de trabalho em uma indústria

metalúrgica. O posto de trabalho estudado envolve a tarefa de

levantamento manual de carga, com carga de 40 kg, sendo a principal

queixa dos trabalhadores do setor a dor na coluna vertebral. Neste

cenário, serão aplicadas duas ferramentas pertencentes ao software

Ergolância® no intuito de realizar a análise ergonômica do trabalho.

Sendo elas, a equação de NIOSH (Instituto Nacional de Segurança e

Saúde no Trabalho) que permite calcular a carga máxima

recomendada para o levantamento e transporte manual de cargas e o

REBA (Rapid Entire Body Assessment), que é utilizado para estimar o

risco de desordens corporais as quais os trabalhadores estão expostos.

Sabe-se que ferramentas ergonômicas permitem avaliar de forma

sistemática, documentar e armazenar informações sobre as condições

do trabalho, além de possibilitar a instrumentação de relatórios

demonstrativos aos gestores sobre as condições pré e pós-intervenções

ergonômicas. Através da aplicação dessas ferramentas, espera-se

otimizar e melhorar as condições ergonômicas para o processo de

desbobinamento, gravação e cortes de blanks em uma máquina

industrial de uma empresa metalúrgica. Além disso, deseja-se gerar

novas sugestões de melhoria no processo de levantamento de cargas e

também demonstrar que um ambiente ergonomicamente planejado

pode contribuir para aumentar a produtividade de um processo.

XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO “A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018. .

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Palavras-chave: ergonomia, Ergolândia 6.0, ferramentas, Niosh e

Reba, Produtividade

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1. Introdução

Em função da globalização dos mercados e das atuais condições de competitividade, as

organizações têm buscado implantar novas estratégias de produção cada vez mais

modernas. Nesse contexto de crescente performance, o elemento humano e suas

limitações não podem ser desconsiderados, de forma que, para garantir a integridade

física e intelectual do trabalhador, a todos os postos de trabalho é recomendável a

realização de uma análise de riscos juntamente com a ergonomia (FERREIRA, 2015).

Para isso, tem-se que o presente estudo se passa em uma empresa do ramo metalúrgico

situada no interior do estado de São Paulo que possui diversas máquinas, e a máquina

escolhida para a efetivação do estudo realiza o desbobinamento, gravação e cortes de

blanks, onde ocorre o setup de troca de ferramentas de expansão, ou seja, movimentação

a qual os operadores da máquina sofrem total influência da importância da Ergonomia no

processo de produção.

Para esse projeto, delimitou-se a apenas uma dentre diversas outras funções pertinentes a

operadores de uma máquina de desbobinamento, gravação e cortes de blanks. Neste posto

de trabalho citado, os operadores devem verificar o diâmetro interno das bobinas cortadas

em slitter em um beneficiador “zz”, este mesmo beneficiador possui diferentes diâmetros

de mandris de rebobinadeira que variam de 420mm até 780 mm.

Como o mandril da máquina estudada possui algumas delimitações, em alguns casos é

necessário a colocação de uma “castanha de expansão” para que assim o mandril consiga

atingir todo o diâmetro interno das bobinas impedindo que esta mesma caia, se solte ou

gire em falso durante o processamento.

O número de vezes que é necessário ser realizada esta troca (colocar e tirar as castanhas)

não é fixo, pois varia muito de acordo com a programação da linha e a máquina que foi

utilizada no beneficiador. Os operadores relatam que trocam (colocam e retiram) em

média cerca de três vezes por dia estas castanhas, durante um turno de 8 horas.

Vale ressaltar que cada peça desta pesa aproximadamente 40,00 Kg e são levantadas

manualmente a partir de uma bancada com altura aproximada de 1 metro que fica com

uma distância de cerca de 1,50 metros do mandril, esta mesa em sua parte superior possui

uma distância aproximada do solo de cerca de 1,35metros, depois do posicionamento

estas castanhas são parafusadas no mandril.

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Abaixo podem ser observadas na Figura 1 as imagens referentes ao Posto de Trabalho

desses colaboradores:

Figura 1 – Posto de Trabalho para Efetivação de Melhoria

Fonte: Foto tirada pelos Autores

Na ordem da imagem, têm-se:

Mandril sem castanha;

Mandril sem castanha, com bobina;

Mandril com castanha e bobina;

2. Referencial Teórico

Nesta seção serão apresentados conceitos relacionados a Ergonomia, ao uso do Software

Ergolândia 6.0 e das ferramentas Niosh e Reba.

2.1 Ergonomia

Segundo Abergo (2017) em agosto de 2000, a International Ergonomics Association

(IEA) adotou uma definição oficial para o termo “ergonomia”, originário da composição

de dois radicais gregos: ergon (trabalho) e nomos (princípio ou lei) e pode ser definido

como uma disciplina científica que busca compreender as interações entre os seres

humanos e outros elementos do sistema. Desse modo, a ergonomia é definida como a

ciência da configuração do trabalho adaptada as condições humanas (GRANDJEAN,

2005)

Têm-se ainda que a ergonomia é uma relação baseada em um conjunto de ciências e

tecnologias, que visa realizar o ajuste mútuo entre o ser humano e o seu ambiente de

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trabalho, proporcionando o conforto e a produtividade segura, procurando adaptar o

trabalho ao homem (COUTO, 2011, p.7).

“O objetivo da ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem. Seu objetivo

central é o estudo do homem, suas habilidades, capacidades e limitações”

(FRANCISCHINI, 2010, p. 131).

O surgimento da Ergonomia não pode ser definido com precisão, entretanto, não é

possível negar que sua evolução conceitual se deu em consequência da concepção e

problemas operacionais apresentados pelos avanços tecnológicos dos últimos séculos

(SILVA; PASCHOARELLI, 2010).

Sabe-se que segundo a Norma Regulamentadora 17 - (NR17), direcionada ao tema

ergonomia, na qual visa proporcionar ao trabalhador condições de trabalho com o máximo

de conforto, segurança e eficiência em seu desempenho, o empregador deve realizar a

análise ergonômica dos locais de trabalho, devendo abordar as condições trabalhistas

estabelecidas na norma regulamentadora.

E de acordo com Iida (2005), para atingir o seu objetivo, a ergonomia estuda diversos

aspectos do comportamento humano no trabalho e outros fatores importantes para o

projeto como:

O homem;

Máquina ;

Ambiente;

Informação;

Organização;

Consequências do trabalho;

Têm-se ainda segundo Xavier (2013, p.42) que as principais causas da fadiga são:

Intensidade e duração do trabalho físico e mental;

Monotonia sentida na execução do trabalho;

Falta da motivação;

Condições ambientais;

Condições sociais no trabalho.

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Ainda sobre a Ergonomia, segundo Costa (2014), as bases teóricas da análise ergonômica

de postos vêm de entre outras da biomecânica ocupacional, da psicologia da informação,

da higiene industrial e de um modelo sócio técnico de organização do trabalho, podendo

resultar de recomendações gerais e de objetivos para a segurança e saúde no trabalho.

É necessário destacar também que a análise do trabalho é o estudo das situações, dos

operadores, da obtenção de informações sobre os deslocamentos, posturas e esforços,

métodos de trabalho e movimentos repetitivos que podem condicionar o nível de

produtividade e de qualidade (SILVA et al, 2011).

2.2 Ergonomia na Engenharia de Produção

Conforme a Previdência Social (2010), as estatísticas de acidentes e doenças nos

ambientes laborais retratam a necessidade da intensificação no conhecimento da

ergonomia como fator de extrema importância para as organizações”.

Na Figura 2 abaixo pode ser observada a Figura que descrevem alguns fatores que

influenciam no desempenho da produção em uma empresa.

Figura 2 - Fatores que influenciam o desempenho do sistema produtivo

Fonte: Vasconcelos (2017)

Mediante evidencias apontadas por Vasconcelos conforme Figura 1 acima, tem-se

também que Henri Savall apud Bispo (2013, p. 01) aponta que são vários são os benefícios

que se manifestam quando uma empresa investe na ergonomia, entre eles, está a redução

do absenteísmo, ou seja, a ausência do funcionário no trabalho e também que a melhoria

na qualidade de vida do trabalho ajuda a reduzir os índices de turnover.

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Para Sznelwar, Uchida e Lancman (2011), o processo de trabalho foi concebido e

controlado de diferentes maneiras ao longo da história. Para os autores, dois focos

essenciais se destacam: o das premissas tayloristas-fordistas, que focavam os aspectos

físicos e fisiológicos do trabalhador para entender as capacidades a partir da gestão dos

gestos e dos movimentos. E o segundo foco, com o advento das empresas flexíveis e

enxutas, considera também aspectos mentais e cognitivos, a questão da inteligência e a

capacidade do trabalhador de dar conta daquilo que as máquinas e os artefatos exigem

dele para garantir o funcionamento do sistema.

Na Figura 3 abaixo verifica-se as premissas que regem a possível realidade do trabalho:

Figura 3 – Realidades do trabalho

Fonte: Guérin et al., 2001.

Para o autor mencionado na Figura 3 acima, a análise do trabalho confronta a

singularidade de uma pessoa que, no ato profissional, põe em jogo toda sua vida pessoal

e social. Ao mesmo tempo, essa singularidade é objeto de uma gestão socioeconômica

por parte da empresa, que tem por objeto os trabalhadores, escolhe as condições e

objetivos de produção e determina o uso social dessa população.

Jackson Filho e Lima (2015) consideram que a produção de conhecimentos sobre a

atividade de trabalho, advinda do olhar etnográfico (descrição do mundo pelo olhar do

outro), permite compreender o uso do corpo, do pensamento, das emoções nas situações

de trabalho, os determinantes que pesam sobre as ações dos trabalhadores, e as estratégias

utilizadas por eles para atender às exigências colocadas.

O trabalho, portanto, pode ser uma via para estimular a iniciativa, autonomia e o

desenvolvimento da especialização, de modo a permitir o indivíduo encontre um prazer

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pessoal no trabalho. De outra maneira, se vier acompanhado de pressão, constrangimentos

de tempo e exigências múltiplas, pode gerar sofrimento (FALZON, 2007).

Os determinantes sociais de saúde são fatores que podem estar interligados, promovendo

o adoecimento do indivíduo ou de uma população, podendo ser físicos ou psicossociais,

como: pré-disposição genética, sobrecarga de trabalho, clima organizacional,

relacionamento hierárquico ou com pares, gênero, sedentarismo, esforço físico e/ou

mental exigido, demandas físicas e cognitivas do trabalho, entre outros (MARIANO

BAIÃO; CUNHA, 2013).

2.2.1 A Ferramenta Niosh

O NIOSH (National Institute for Occupational Safety and Health) publicou em 1981, um

informe técnico Intitulado Guia Prático para Trabalhos com Levantamento Manual

revisado, posteriormente, em 1991. Este manual tinha como objetivo prevenir ou reduzir

a ocorrência de dores causadas por levantamento manual 18 de cargas e para isso foi

desenvolvida uma equação (Equação de NIOSH) para calcular o peso limite

recomendável em tarefas repetitivas de levantamento de cargas (IIDA, 2005).

Com a equação de NIOSH, buscou-se estabelecer um levantamento ideal. A equação

estabelece um valor de referência de 23 kg, que corresponde à capacidade de

levantamento no plano sagital (sem giros da coluna ou posturas assimétricas), de uma

altura de 75 cm do solo, para um deslocamento vertical de 25 cm, segurando-se a carga a

25 cm do corpo. Essa seria a carga aceitável para 99% dos homens e 75% das mulheres,

sem provocar nenhum dano físico em trabalhos repetitivos nestas condições (IIDA,

2005).

De acordo com Colombini (2005), no estudo das condições de trabalho, muitas vezes nos

deparamos com situações onde há a necessidade de quantificar uma situação de trabalho

analisada.

E a equação de NIOSH é uma ferramenta que permite este tipo de análise quantitativa e

seus resultados são bem aceitos em vários países. Com a aplicação da NIOSH, os analistas

conseguem calcular a carga ideal para determinada função, prevenindo o trabalhador de

possíveis lesões decorrentes de levantamento de cargas excessivas, porém apresenta uma

limitação que é a aplicação em cargas estáticas (IIDA, 2005).

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2.2.2 A Ferramenta Reba

O método REBA – Avaliação Rápida de Corpo Inteiro (Rapid Entire Body Assessment)

foi desenvolvido por Hignett and McAtamney (2000) para estimar o risco de desordens

corporais a que os trabalhadores estão expostos. As técnicas utilizadas para realizar uma

análise postural têm duas características que são a sensibilidade e a generalidade.

Pavani e Quelhas (2006) destaca que o método REBA possibilita uma avaliação

ergonômica geral, mas possui aplicabilidade mais adequada à área hospitalar, que lida

diretamente com a movimentação manual dos pacientes. Primeiramente divide-se o corpo

em dois grupos, A (tronco, pescoço e pernas) e B (braço, antebraço e pulso).

O Reba avalia a quantidade de posturas forçadas nas tarefas onde são envolvidas pessoas

ou qualquer tipo de carga animada, apresentando grande similaridade com o método Rula.

Este método inclui fatores de carga posturais dinâmicos e estáticos na interação pessoa-

carga e um conceito denominado de “a gravidade assistida” para a manutenção da postura

dos membros superiores, isso quer dizer que é obtida a ajuda da gravidade para manter a

postura do braço, onde é mais custoso manter o braço levantado do que tê-lo pendurado

para baixo.

3. Metodologia

Segundo Silva e Menezes (2005), o presente trabalho pode ser classificado como pesquisa

aplicada, visto que tem por objetivo gerar conhecimentos para a aplicação prática e

soluções de problemas específicos. Quanto a abordagem da pesquisa, esta é de caráter

quantitativa pois considera que a realidade só pode ser compreendida com base na análise

de dados brutos, recolhidos com o auxílio de instrumentos (FONSECA, 2002).

Do ponto de vista do objetivo, esta pesquisa é considerada de caráter exploratório, pois

dá ao observador uma visão ampla em relação ao tema, através de visitas a local e

entrevistas permitindo uma visualização mais clara do problema, facilitando a construção

de hipóteses (TURRIONI, 2012).

E ainda Segundo Miguel (2007) a utilização do método de estudo de caso é de

fundamental importância pois permite trazer um problema cotidiano e analisá-lo em um

contexto científico, podendo o mesmo ser de grande valor para futuros estudos.

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4. Estudo de Caso

Nesta seção serão expostas as avaliações realizadas através das Ferramentas Niosh e

Reba, contidas no Software Ergolândia 6.0 aplicadas no setor de manutenção da Industria

estudada.

4.1 Exigências Físicas

Abaixo serão descritas as exigências encontradas no processo estudado:

Musculares: Os operadores exercem um trabalho a maior parte do tempo em pé, sentando

apenas para o preenchimento de relatórios, o operador que realizará a colocação das

castanhas necessita levantar pesos de 40,00 Kg por quatro vezes consecutivas, esses pesos

são levantados com relação à altura da base de apoio para o local adequado cerca de 35cm

e a uma distância longitudinal cerca de 1,50 metros, parando apenas para parafusar cada

uma delas.

Energéticas: Por ser um posto de processamento muito rápido (cerca de 300 peças p/hr)

e com muitos acionamentos, os operadores movimentam-se muito nas dependências da

máquina executando suas outras funções, devido a isto este posto pode ser considerado

um posto de trabalho com um alto gasto energético.

Perceptuais: Para este posto de trabalho os operadores precisam realizar diversas

medições e anotações destas mesmas, além de trocas é necessário realizar alguns

acionamentos no IHM (Interface Homem Máquina), dentre outros diversos botões de

comando, os operadores necessitam ser ágeis e precisos.

Para efeito de dados informacionais para o Software, o Gráfico 1 abaixo apresenta as

alturas dos colaboradores que operam as máquinas por turno.

Gráfico 1 – Alturas dos Operadores por Turno

(Fonte: Elaborado pelos autores – Excel 2013)

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4.2 Ergolândia

Segundo Barbosa (2016) A partir do software Ergolândia é possível fazer analise

ergonômica dos postos de trabalho. O Software possui 20 ferramentas avaliativas, e de

acordo com a ferramenta escolhida o software sugere soluções de melhorias para o

problema ergonômico encontrado.

Para a realização da análise das posturas adotadas por colaboradores do setor de

manutenção de máquinas, na etapa de diagnóstico, foi utilizado o software Ergolândia

6.0, o qual é destinado a ergonomistas, fisioterapeutas, e a empresas que buscam avaliar

a ergonomia dos funcionários, e também a todos os profissionais da área de saúde

ocupacional professores e estudantes que desejam aplicar as ferramentas ergonômicas.

4.2.1 Avaliações com Niosh

A aplicação do Niosh está condicionada aos movimentos de pegar a castanha do suporte

e coloca-la no mandril, e isso será dividido em dois momentos para fins de poder

quantificar a melhoria Para isso, verifica-se na Figura 4 apresentada abaixo o primeiro

processo de levantamento da castanha onde o operador retira a mesma da bancada de

apoio. (antes da implementação da melhoria).

Figura 4 - Avaliação por Niosh (1º Processo)

Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0

Page 12: ESTUDO ERGONÔMICO APLICADO A UM DISPOSITIVO …

Já na Figura 5 abaixo será apresentado o segundo momento do processo de colocação da

castanha, onde partimos do momento logo após a retirada da bancada de apoio até a

colocação da mesma no mandril.

Figura 5 – Avaliação por Niosh (2º Processo)

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Para este caso de levantamento de peso tivemos a necessidade de dividir a ação em dois

momentos, o primeiro onde o operador retira a peça da bancada de apoio, (Figura 4) e o

segundo é a partir da altura que esta mesma se encontra depois de retirada da bancada até

o mandril da máquina (Figura 5).

Como uma prévia este software nos apresenta algumas sugestões de melhoria para o

ambiente estudado em questão, conforme Figura 6 e 7, respectivamente, abaixo:

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Figura 6 – Sugestão de melhoria proveniente do próprio software (1º Processo)

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Figura 7 – Sugestão de melhoria proveniente do próprio software (2º Processo)

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

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4.2.2 Avaliações com Reba

Para as avaliações com Reba foram detalhadas todas as atividades exercidas pelos

colaboradores, sendo elas, referentes as próximas Figuras 8, 9, 10, 11, 12 abaixo.

Figura 8 – Descrição dos movimentos realizados pelos operadores no Reba

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Figura 9 – Descrição do peso da carga (castanha) levantada no Reba

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Page 15: ESTUDO ERGONÔMICO APLICADO A UM DISPOSITIVO …

Figura 10 – Descrição dos movimentos dos braços, antebraços e punhos

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Figura 11 - Descrição da qualidade da pega

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

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Figura 12 – Descrição da frequência de mudanças de posturas/atividades dos operadores

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Depois de todo o detalhamento das atividades exercidas pelos colaboradores o Reba nos

fornece uma pontuação, onde está indica o seu significado quanto ao risco ergonômico e

o quão logo é necessário realizar a intervenção (caso ela de fato necessite ser realizada),

conforme Figura 13 abaixo.

Figura 13 – Avaliação Final Reba

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

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5. Resultados e Discussões

Após avaliados todos os resultados, verificou-se que através da aplicação das ferramentas

Niosh e Reba seria possível melhorar o processo, visto isso, observam-se os novos

resultados após implantação conforme abaixo, nas Figuras 14, 15 e 16.

Figura 14 – Avaliação com Niosh Final

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Figura 15 – Intervenção Apontada por Niosh

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

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Figura 16 – Avaliação destacada por Reba

(Fonte: Elaborado pelos autores – Ergolândia 6.0)

Conforme as mudanças realizadas e as operações realizadas, foi possível observar os

efeitos positivos que foram confirmados segundo relatos dos operadores e relatórios do

software Ergolândia.

Tal melhoria implementada, pode ser observada na Figura 17 apresentada abaixo, onde

mostra-se o anel de suporte para a colocação de castanhas, sendo as castanhas parafusadas

no suporte (anel), que é içado por uma ponte rolante para o levantamento destas,

posteriormente são encaixadas no mandril e depois parafusadas (com uma parafusadeira

pneumática), e por último, os parafusos que prendem as castanhas no suporte serão soltos

para fins de retirada do anel.

Figura 17 – Dispositivo Implementado

Fonte: Foto retirada pelo Autores

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6. Considerações Finais

Este estudo de avaliação ergonômica foi de fundamental importância para o

conhecimento mais aprofundado das ferramentas de análise ergonômica (Niosh e Reba),

além disso, através do uso do Software Ergolândia ® 6.0 pode-se integrar teoria e prática,

unidas num propósito de destacar e evidenciar as possíveis melhorias a serem feitas na

postura dos colaboradores que prestam serviço no processo estudado.

As ferramentas de ergonomia auxiliaram no estudo das condições de trabalho,

justificando a proposta de mudança no mesmo, propiciando conhecimento e sugestão de

melhoria no levantamento de cargas.

Para um projeto futuro, valerá se apena aplicar as ferramentas apresentadas nesse artigo

em outras máquinas que apresentam diferentes condições de trabalho com levantamentos

de cargas e movimentações restritas, tanto na empresa estudada, quanto em outras

empresas do ramo metal mecânico.

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