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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Ronildo Aparecido Pavani Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive Actions (OCRA): Uma contribuição para a gestão da saúde no trabalho. São Paulo 2007

Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

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Page 1: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Ronildo Aparecido Pavani

Estudo ergonômico aplicando o método Occupational

Repetitive Actions (OCRA): Uma contribuição para a

gestão da saúde no trabalho.

São Paulo2007

Page 2: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

RONILDO APARECIDO PAVANI

Estudo ergonômico aplicando o método Occupational

Repetitive Actions (OCRA): Uma contribuição para a

gestão da saúde no trabalho.

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Centro Universitário Senac para a obtenção

do título de Mestre em Gestão Integrada em

Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

Orientador Prof. Dr. Dorival Barreiros.

São Paulo2007

Page 3: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

Pavani, Ronildo Aparecido.P288e Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive Actions

(OCRA): Uma contribuição para a gestão da saúde no trabalho / Pavani,Ronildo Aparecido – São Paulo, 2007.

133 f.: il. color. ; 31 cm

Orientador: Prof. Dorival Barreiros Dr.Dissertação (mestrado em Gestão Integrada em Saúde do Trabalho

e Meio Ambiente) – Centro Universitário Senac, Campus Santo Amaro,São Paulo, 2007.

1. Análise ergonômica 2. Ler/dort 3. Método OCRA 4. Gestão dasegurança e saúde no trabalho I. Dorival Barreiros (orient.) II. Título.

CDD363.7

Page 4: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

Ronildo Aparecido Pavani

Estudo ergonômico aplicando o método Occupational

Repetitive Actions (OCRA): Uma contribuição para a gestão

da saúde no trabalho.

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Centro Universitário Senac para a obtenção

do título de Mestre em Gestão Integrada em

Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

Orientador Prof. Dr. Dorival Barreiros.

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão emsessão pública realizada em 12/12/2007, considerou ocandidato: Aprovado.

1) Examinador: Maria de Lourdes Moure, Dra. __________________________

2) Examinador: Emília S. M. Seo, Dra. ________________________________

Page 5: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

Dedico este trabalho à Selma, minha

esposa, e a Leonardo e Giovanni, meus

filhos, que se privaram da minha presença

para que este objetivo fosse alcançado.

Page 6: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

AGRADECIMENTOS

Sobretudo, a Deus, que me deu forças e coragem para vencer obstáculos e

superar dificuldades, mostrando por diversos caminhos o que devo aprender a

valorizar em minha vida.

A Dra Daniela Colombini, pelas suas orientações e atenção nos esclarecimentos

sobre o método OCRA.

Aos professores e alunos do Curso de Mestrado em Gestão Integrada em Saúde

do Trabalho e Meio Ambiente que me mostraram novas formas de interpretar a

realidade e assim contribuíram para a realização deste trabalho.

Em especial ao professor Dorival Barreiros, meu orientador, que muito contribuiu

para que este projeto se concretizasse.

Page 7: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

"Que os esforços superem as impossibilidades,

pois as grandes proezas dos homens surgiram

daquilo que parecia ser impossível”

Charles Chaplin

Page 8: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

RESUMO

O aumento do número de casos de trabalhadores acometidos pelos distúrbios de

ler/dort nas últimas décadas tem sido motivo de estudos de entidades

governamentais, universidades e organizações não-governamentais. Ao mesmo

tempo este fato também tem sido motivo de preocupações das organizações

empresariais que têm na responsabilidade social com esta questão a gestão das

pessoas e dos recursos financeiros em saúde ocupacional. A identificação e

aplicação de um método técnico-científico, de análise de fatores de risco de

ler/dort, específico para membros superiores foram os elementos centrais desta

pesquisa. Contextualizou-se a pesquisa realizando uma investigação bibliográfica

sobre o histórico da origem da administração do trabalho e sua evolução, a

questão da ler/dort, a ergonomia, a gestão da saúde no trabalho e os métodos de

análise dos fatores de risco, identificando um método técnico-científico específico

para avaliação dos fatores de risco em membros superiores. A aplicação do

método técnico-científico OCRA, na análise ergonômica do trabalho, permitiu

identificar e quantificar os fatores de risco de ler/dot nas atividades avaliadas. Os

resultados mostram que a presença de fatores de risco como posturas

inadequadas ou repetitividade durante a realização das tarefas, embora se

apresentem como fatores de risco de lesões para os membros superiores não

são, necessariamente, condicionantes para a determinação da presença de risco.

Este método também possibilitou o mapeamento dos fatores de risco de ler/dort

que, correlacionados com os respectivos níveis de ação, permitem a priorização

dos investimentos em ergonomia e contribuem para uma gestão eficaz dos

recursos em saúde ocupacional.

Palavras-chaves: Análise ergonômica. Ler/Dort. Método OCRA. Gestão da

segurança e saúde no trabalho.

Page 9: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

ABSTRACT

The increase in the number of cases of workers affected by work-related

musculoskeletal disorders in recent decades has been a cause for studies of

government agencies, universities and non-governmental organizations. By the

time this fact has also been a cause for concern of business organizations that

have social responsibility in this matter with the management of people and

financial resources in occupational health. The identification and application of a

technical-scientific method of analysis of work-related musculoskeletal disorders

risk factors, specific to upper limb were the central elements of this search. The

Contextualization that search performing a bibliographic research on the history of

the origin of the administration's work and its evolution, the work-related

musculoskeletal disorders, the ergonomics, the management of health at work and

the methods of analysis of work-related musculoskeletal disorders risk factors,

identifying a technical-scientific method for assessment of risk factors in upper

limb. The application of the OCRA technical-scientific method, in the ergonomics

analysis of the work, helped identify and quantify the work-related musculoskeletal

disorders risk factors in the activities evaluated. The results show that the

presence of risk factors such as inadequate postures or repeatability during the

tasks, but come as risk factors for injuries to the upper limb are not necessarily the

conditions for determining the presence of risk. This method also allowed the

mapping of ergonomic risk factors that correlated with their levels of action, allow

the prioritization of investment in ergonomics and contribute to the effective

management of resources in occupational health.

Keywords: Ergonomics analysis, work-related musculoskeletal disorders

(WRMDs), OCRA method, management of occupational Safety and Health.

Page 10: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Uso da anamnese ocupacional na investigação de ler/dort .................55

Figura 2 – Esquema do processo de gerenciamento de riscos ............................59

Figura 3 – Ciclo do PDCA .....................................................................................60

Figura 4 – Fluxo para análise de risco de ler/dort .................................................62

Figura 5 – Diagrama da construção da análise ergonômica do trabalho ..............71

Figura 6 – Diagrama para cálculo de escore do método RULA ............................77

Figura 7 – Principais tipos de pegada da mão ......................................................90

Figura 8 – Associação entre o índice OCRA e pessoas afetadas.........................98

Figura 9 – Estudo de regressão linear do método OCRA.....................................99

Fotografia 1 – Preparação da resma de papel para corte...................................106

Fotografia 2 – Deposição da resma na cortadeira ..............................................107

Fotografia 3 – Bloco de papel cortado ................................................................ 107

Fotografia 4 – Transferência do material para mesa de acabamento .................108

Fotografia 5 – Preparação de blocos para aplicação de cola .............................111

Fotografia 6 – Aplicação de cola nos formulários................................................111

Fotografia 7 – Aplicação de cola nos formulários................................................111

Fotografia 8 – Destacamento dos blocos com utilização de estilete ...................112

Fotografia 9 – Destacamento dos blocos com utilização de estilete ...................112

Fotografia 10 – Cruzamento dos blocos .............................................................112

Fotografia 11 – Preparação da seqüência de vias para intercalação.................. 116

Fotografia 12 – Preparação da seqüência de vias para intercalação.................. 116

Fotografia 13 – Intercalação de vias ...................................................................116

Gráfico 1 – Distribuição de casos de ler/dort com diagnóstico médico .................20

Quadro 1 – Fatores causais de distúrbios osteomusculares................................. 54

Page 11: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

LISTA DE TABELAS

1 – Casos de doenças do trabalho em membros superiores – 2006.................... 19

2 – Nível de intervenção para os resultados do método RULA............................. 78

3 – Matriz para verificação dos escores do método OWAS..................................80

4 – Categorias de ação do método OWAS ...........................................................81

5 – Verificação dos níveis de risco e ação do método REBA ...............................82

6 – Classificação das variáveis pelo método Strain Index .................................... 83

7 – Fatores multiplicativos das variáveis pelo método Strain Index ......................84

8 – Valores do Strain Index e níveis de risco ........................................................84

9 – Relação do fator multiplicador com a escala de Borg .....................................85

10 – Determinação do multiplicador para a força.................................................. 88

11 – Determinação para as articulações do membro superior..............................89

12 – Determinação do escore para o tipo de pega ............................................... 90

13 – Determinação do multiplicador do empenho postural ...................................91

14 – Determinação do multiplicador para a estereotipia ....................................... 92

15 – Determinação do multiplicador para os fatores complementares.................. 93

16 – Determinação do multiplicador para os períodos de recuperação ................94

17 – Determinação do multiplicador para a duração das tarefas .......................... 95

18 – Classificação dos níveis de risco do índice OCRA........................................95

19 – Previsão de prevalência de pessoas afetadas por ler/dort............................98

20 – Definição de Micro, Pequenas e Médias Empresas no Brasil.....................101

21 – Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATO....................108

22 – Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATR ....................109

23 – Dados do posto de aplicação de cola para cálculo de ATO........................113

24 – Dados do posto de aplicação de cola para cálculo de ATR........................114

25 – Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATO....................117

26 – Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATR ....................117

27 – Resultados do índice OCRA para os três postos de trabalho. ....................120

28 – Mapeamento dos fatores de risco pelo método OCRA. ..............................122

Page 12: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

LISTA DE SIGLAS

ABC Paulista – Sigla de unificação das cidades de Santo André, São Bernardo do

Campo e São Caetano do Sul, localizadas na região metropolitana de São Paulo.

ABERGO – Associação Brasileira de Ergonomia

AET – Análise Ergonômica do Trabalho

ATO – Ações Técnicas Observadas

ATR – Ações Técnicas Recomendadas

BS 8800 – British Standards – Guide to occupational health and safety

management systems

CID – Classificação Internacional de Doenças

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas

COPPE/UFRJ – Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de Engenharia

da Universidade Federal do Rio de Janeiro

CQT – Total Quality Control

dB(A) – Decibéis na escala de compensação A

DCO – Distúrbio Cervicobraquial Ocupacional

DORT – Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

DOU – Diário Oficial da União

DUE – Distal Upper Extremity

FAP – Fator Acidentário Previdenciário

HMA – História da Moléstia Atual

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IE – Índice de Exposição

IEA – International Ergonomics Association

IN – Instrução Normativa

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social

INST – Instituto Nacional de Saúde do Trabalhador

ISDA – Interrogatório sobre diversos aparelhos

LER – Lesões por Esforços Repetitivos

LTC – Lesões por Traumas Cumulativos

MCV – Máxima Contração Voluntária

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

Page 13: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

NIOSH – National Institute for Occupational Safety and Health

NTEP – Nexo Técnico Epidemiológico

OCRA – Occupational Repetitive Actions

OCT – Organização Científica do Trabalho

OHSAS 18001 – Occupational Health and Safety Assessment Series

OMS – Organização Mundial de Saúde

OS – Síndrome do Overuse

OWAS – Ovako Working Posture Analysins System

PCMSO – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional

PDCA – Plan, Do, Check and Act

PEA – População Economicamente Ativa

PPRA – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais

RAIS – Relação Anual das Informações Sociais

REBA – Rapid Entire Body Assessment

RSI – Repetition Strain Injuries

RULA – Rapid Upper limb Assessment

SAT – Seguro de Acidentes do Trabalho

SESMT – Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do

Trabalho.

SI – Strain Index

SST – Saúde e Segurança do Trabalho

TQS – Total Quality Control

UERJ – Universidade Estadual do Rio de Janeiro

UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

USP – Universidade de São Paulo

WRMD – Work Related Musculoskeletal Disorders

Page 14: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..............................................................................................18

1.1 Contextualização do tema e problemática de pesquisa ............................18

1.2 Justificativa ...................................................................................................23

1.3 Objetivos da pesquisa .................................................................................. 23

1.3.1 Objetivo geral...............................................................................................23

1.3.2 Objetivos específicos ...................................................................................24

1.4 Estrutura de desenvolvimento da dissertação...........................................24

2 MATERIAIS E MÉTODOS ......................................................................... 25

2.1 Natureza e característica da pesquisa ........................................................25

2.2 Etapas da revisão da literatura .................................................................... 26

2.3 O processo de escolha da empresa ............................................................26

2.4 A escolha dos postos de trabalho...............................................................27

2.5 Os instrumentos de coleta de dados...........................................................27

2.6 Limitações da pesquisa................................................................................28

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................ 29

3.1 A origem da palavra trabalho....................................................................... 29

3.2 O significado do trabalho .............................................................................30

3.3 Breve histórico da evolução do trabalho .................................................... 33

3.3.1 Fase artesanal – Da antiguidade até ao inicio da revolução industrial (1780)

..............................................................................................................................33

Page 15: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

3.3.2 Fase da Revolução Industrial – Da transição do artesanato à industrialização(1780 – 1860)........................................................................................................34

3.3.3 Fase da 2ª Revolução Industrial – O desenvolvimento industrial (1860 –1914).....................................................................................................................34

3.3.4 Fase do Gigantismo Industrial – Entre as duas Grandes Guerras (1914 –1945) .................................................................................................................... 35

3.3.5 Fase Moderna – Do pós-guerra aos choques petrolíferos (1946 – 1980).... 35

3.3.6 Fase da incerteza – Da década de 80 até os dias de hoje .......................... 36

3.4 A gestão empresarial dos processos produtivos ......................................37

3.4.1 Ênfase nas tarefas ....................................................................................... 38

3.4.2 Ênfase na estrutura organizacional..............................................................39

3.4.2.1 Teoria Clássica .........................................................................................39

3.4.2.2 Teoria da Burocracia .................................................................................40

3.4.2.3 Teoria Estruturalista .................................................................................. 42

3.4.3 Ênfase nas pessoas.....................................................................................42

3.4.3.1 A Escola de Relações Humanas...............................................................43

3.4.3.2 Teoria Comportamental.............................................................................44

3.4.4 Ênfase na tecnologia.................................................................................... 45

3.4.5 Ênfase no ambiente .....................................................................................45

3.4.6 Ênfase no cliente.......................................................................................... 46

3.5 Estado atual das teorias administrativas.................................................... 47

3.5.1 A Reengenharia ...........................................................................................47

3.5.2 A Globalização............................................................................................. 47

3.5.3 A Flexibilização ............................................................................................48

3.6 O adoecimento no processo produtivo....................................................... 49

Page 16: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

3.7 A Questão das ler/dort.................................................................................. 50

3.7.1 Nomenclatura ler/dort...................................................................................51

3.7.2 O fenômeno ler/dort no Brasil ......................................................................52

3.7.3 Diagnóstico de ler/dort .................................................................................53

3.8 A saúde e o trabalho.....................................................................................57

3.9 A gestão da segurança e saúde no trabalho ..............................................58

3.10 A ergonomia ................................................................................................ 63

3.10.1 Conceitos fundamentais.............................................................................63

3.10.2 Breve histórico da ergonomia no Brasil......................................................65

3.10.3 A ergonomia no trabalho............................................................................ 67

4 MÉTODOS DE ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO .............70

4.1 A metodologia AET – Análise Ergonômica do Trabalho ...........................70

4.2 As técnicas de análise postural ...................................................................72

4.3 O método Rapid Upper limb Assessment – RULA.....................................74

4.4 O método Ovako Working Posture Analysins System – OWAS ............... 78

4.5 O método Rapid Entire Body Assessment – REBA ...................................81

4.6 O método Strain Index – SI...........................................................................82

4.7 O método Occupational Repetitive Actions – OCRA ................................. 86

4.7.1 A constante de freqüência de ação técnica.................................................. 87

4.7.2 O multiplicador para força ............................................................................ 87

4.7.3 O multiplicador para a postura .....................................................................88

4.7.4 O multiplicador para a estereotipia (repetitividade) .....................................91

4.7.5 O multiplicador para a presença de fatores complementares ......................92

Page 17: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

4.7.6 O multiplicador para o fator de períodos de recuperação ............................94

4.7.7 O multiplicador para a duração total do trabalho repetitivo no turno............ 94

4.7.8 A classificação de risco pelo método OCRA................................................95

5 A APLICAÇÃO DE UM MÉTODO TÉCNICO-CIENTÍFICO............... 97

5.1 A escolha do método OCRA ........................................................................97

5.2 Caracterização da empresa........................................................................100

5.3 A análise da demanda.................................................................................102

5.4 A análise da tarefa ......................................................................................103

5.4.1 O processo produtivo .................................................................................103

5.4.2 Os postos de trabalho ................................................................................103

5.4.2.1 Corte de formulários................................................................................103

5.4.2.2 Acabamento ............................................................................................104

5.4.2.3 Intercalação de vias de formulário ..........................................................104

5.4.3 Condições ambientais de trabalho .............................................................104

5.4.4 A organização do trabalho .........................................................................105

6 RESULTADOS DAS ANÁLISES DAS ATIVIDADES .......................106

6.1 Avaliação da atividade de corte de formulários – CF .............................106

6.1.1 Descrição das operações de CF................................................................ 106

6.1.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de CF.................................108

6.1.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de CF............................109

6.1.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de CF ..........110

6.2 Avaliação da atividade de aplicação de cola e destacamento de blocos –ACDB .................................................................................................................110

Page 18: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

6.2.1 Descrição das operações de ACDB...........................................................110

6.2.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de ACDB ...........................112

6.2.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de ACDB.......................113

6.2.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de ACDB .....115

6.3 Avaliação da atividade de intercalação de vias de formulários – IVF ...115

6.3.1 Descrição das operações de IVF ...............................................................115

6.3.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de IVF................................ 116

6.3.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de IVF...........................117

6.3.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de IVF..........118

6.4 Cálculo do índice de exposição (IE) Ponderado ......................................119

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS........................................................120

7.1 Classificação dos riscos ............................................................................120

7.2 Mapeamento dos riscos .............................................................................121

7.3 Contribuição para a gestão ergonômica...................................................123

8 CONCLUSÃO..............................................................................................125

8.1 Recomendação para trabalhos futuros.....................................................126

REFERÊNCIAS ..............................................................................................127

Page 19: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

18

1 INTRODUÇÃO

1.1 Contextualização do tema e problemática de pesquisa

A evolução tecnológica e as abordagens gerenciais na

administração dos processos produtivos nas últimas décadas têm forçado as

empresas a buscarem melhorias organizacionais de forma a refletir ganhos de

produtividade, redução de custos, qualidades do produto e de vida dos

colaboradores. Apesar disso, diversas atividades ainda são desenvolvidas com a

exigência de posturas e dispêndio de grandes esforços físicos e mentais com

riscos à saúde dos trabalhadores.

As afecções músculoesqueléticas relacionadas com o trabalho,

que no Brasil tornaram-se conhecidas como Lesões por Esforços Repetitivos –

LER e que o Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS denominou de

Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT representam o

principal grupo de agravos à saúde entre as doenças ocupacionais em nosso país

e trata-se de distúrbios de importância crescente em vários países do mundo com

dimensões epidêmicas (MAENO, 2001).

Segundo Couto et al. (2007, p.38),

Os impactos para as organizações decorrentes das ler/dort atingemdiversas áreas, tanto no que se refere à redução da produtividade, aoaumento de custos, aumento no absenteísmo médico, quanto com ocomprometimento da capacidade produtiva das áreas operacionais,menor qualidade de vida ao trabalhador, aposentadorias precoces eindenizações.

Em um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde do

Trabalhador – INST, dados fornecidos pelo INSS, indicam que no primeiro ano de

afastamento do trabalhador as empresas gastam cerca de 60 a 89 mil reais, entre

encargos sociais, complementação de salários dos afastados e despesas com

horas-extras de reposição de mão de obra (O´NEILL, 2002).

Segundo Pastore (2001) as empresas estão gastando R$ 12,5

bilhões por ano apenas com os acidentes de trabalho e doenças profissionais que

poderiam ser evitados.

Page 20: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

19

O Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS registrou

503.890 acidentes do trabalho em 2006. A análise por setor de atividade

econômica revela que o setor industrial participou com 47,4% dos acidentes,

seguido pelo setor de serviços com 45,7% e do total de acidentes registrados, as

doenças ocupacionais representam 5,3%. Neste mesmo período os códigos da

Classificação Internacional de Doenças – CID mais incidentes foram relacionados

com os membros superiores (mãos, punhos, cotovelos e ombros), sendo CID

(M65) sinovite e tenossinovite responsável por 21% do total e CID (M75) lesões

nos ombros, responsável por 16,2% do total (BRASIL, 2006a).

A soma dos percentuais de incidência dos códigos M65 e M75

representam 37,2% do total de doenças ocupacionais registradas no Brasil no ano

de 2006. A tabela 1 mostra a quantidade de casos de doenças do trabalho em

membros superiores, segregados por localização da lesão segundo os códigos

CID, no ano de 2006.

TABELA 1Casos de doenças do trabalho em membros superiores – 2006

CID Descrição Nº Casos

M65 Sinovite e Tenossinovite 5772

M75 Lesões nos ombros 4325

Total 10097

Fonte: Anuário Estatístico da Previdência Social, 2006

Em uma pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Prevenção

às ler/dort em 2001 sobre a saúde dos trabalhadores moradores na cidade de

São Paulo foi constatado que os casos de ler/dort afetam 6% de todos os

trabalhadores dessa cidade, isto representa 310 mil trabalhadores (INPLD, 2001).

A distribuição dos casos de doenças desta pesquisa se

apresenta de forma resumida no gráfico 1.

Page 21: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

20

5%

3%

5%

6%

14%

9%

12%

16%Doenças

nervosas/pscicológicas

LER/DORT

Problemas na coluna

Doenças cardio-vasculares

Tendinite

Cansaço físico

Dor de cabeça

Problemas musculares

6% dostrabalhadores

da cidade de SP

4% dapopulação dacidade de SP

12%

15%

15%Serviços

Indústria

Comércio

Construçãocivil 0%

5%

3%

5%

6%

14%

9%

12%

16%Doenças

nervosas/pscicológicas

LER/DORT

Problemas na coluna

Doenças cardio-vasculares

Tendinite

Cansaço físico

Dor de cabeça

Problemas musculares

6% dostrabalhadores

da cidade de SP

6% dostrabalhadores

da cidade de SP

4% dapopulação dacidade de SP

4% dapopulação dacidade de SP

12%

15%

15%Serviços

Indústria

Comércio

Construçãocivil 0%

Gráfico 1 – Distribuição de casos de ler/dort com diagnóstico médicoFonte: INPLD, 2001

No gráfico 1 é possível verificar que a saúde do trabalhador é

afetada em primeiro lugar pelas doenças nervosas e psicológicas com 16% da

amostra e em segundo lugar aparecem os casos de ler/dort com 14% dos

trabalhadores entrevistados.

Outro fato relevante levantado pela pesquisa é que, dos casos

de ler/dort investigados, em 76% da amostra estava presente a exigência de

movimentos repetitivos de membros superiores, o que nos remete à importância

da aplicação de métodos técnico-científicos de avaliação dos fatores de risco

ergonômico de membros superiores para uma boa gestão das questões que

influenciam a saúde no trabalho dentro das organizações.

O aumento dos casos de ler/dort tem sido relacionado com

fatores referentes à organização do trabalho tais como a inflexibilidade e alta

intensidade do ritmo de trabalho, execução de grande quantidade de movimentos

repetitivos em grande velocidade, sobrecarga de determinados grupos

musculares, ausência de controle sobre o modo e ritmo de trabalho, ausência de

pausas, exigência de produtividade, uso de mobiliário e equipamentos

desconfortáveis e manutenção de posturas inadequadas.

Para Couto (2002), a organização do trabalho pode ser assim

definida: “É todo o conjunto de ações feitas pelo gestor e pelos facilitadores para

Page 22: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

21

que a prescrição de trabalho (planos, objetivos e metas) ditada pela direção da

organização seja cumprida” e se essas ações não forem planejadas corretamente

podem provocar sobrecarga física e mental aos trabalhadores e

conseqüentemente o adoecimento.

Existem vários fatores de organização do trabalho causadores de

sobrecarga, tais como: aumento da carga de trabalho e dos objetivos e metas

sem preparo adequado para atendimento a esta situação; horas-extras; dobras de

turno; mão-de-obra insuficientemente preparada para as exigências da tarefa;

urgências e emergências; retrabalhos; automações inadequadas, falta de

manutenção dos equipamentos e problemas com a qualidade do material

causando esforço físico extra dos operadores (COUTO, 2002).

Para Guérin et al. (2001), as empresas se organizam para limitar

a variabilidade no trabalho, porém todo processo tem as suas variabilidades, quer

seja programadas ou não programadas, obrigando os operadores a enfrentá-las

e, conseqüentemente estes constrangimentos podem alterar seus

comportamentos, representando uma sobrecarga no trabalho.

Ainda segundo Guérin et al. (2001, p.26)

A atividade de trabalho unifica as dimensões técnica, econômicas esociais do trabalho através das suas determinantes, de um lado, otrabalhador com suas características específicas e de outro, a empresacom suas regras de funcionamento e o contexto de realização dotrabalho.

Assim sendo, os resultados da atividade de trabalho devem

ser relacionados por um lado, com a produção tanto de um ponto de vista

quantitativo quanto qualitativo e por outro lado, com as conseqüências que

acarretam aos trabalhadores que podem ser negativas (alteração da saúde física,

psíquica e social) ou positivas (aquisição de novos conhecimentos,

enriquecimento da experiência e aumento da qualificação).

As conseqüências decorrentes do aumento do número de casos

de lesões nos membros superiores relacionadas a ler/dort têm sido origem de

muitas preocupações das organizações empresariais. Os gestores passaram a ter

a missão da gestão eficaz dos investimentos em saúde e segurança, de forma a

atender a demanda por prevenção de acidentes e doenças ocupacionais no

Page 23: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

22

ambiente de trabalho e atender a legislação deste setor, ainda com a

preocupação de administrar os custos totais das empresas (PAVANI 2006).

A legislação Brasileira prevê na norma regulamentadora de nº 17

que os empregadores devem avaliar a adaptação das condições de trabalho às

características psicofisiológicas dos trabalhadores através de análises

ergonômicas do trabalho, porém esta determinação está cercada de controvérsias

em função da falta de indicadores quantitativos e falta de entendimento se a

avaliação citada na norma se refere a uma análise global ou individualizada para

cada posto de trabalho.

Neste cenário tem crescido a prática de mercado da elaboração

de “laudos ergonômicos”, termo que não tem amparo legal na norma

regulamentadora nº 17, realizado por profissionais que muitas vezes não tem

conhecimento técnico sobre ergonomia e sem compreender o trabalho realizado

para emitir opiniões e recomendações às organizações que irão investir recursos

a partir dos resultados desses laudos.

Segundo Oliveira et al. (2007) as análises ergonômicas do

trabalho não são, necessariamente, indicadas para todos os tipos de empresas

nem para todas as atividades desenvolvidas nas empresas e complementa que a

indicação de análise ergonômica do trabalho deve ser precisa para uma situação

específica e comenta como se dá essa demanda em ergonomia:

[...] a demanda faz parte de um processo de construção social da açãoergonômica, e que, mais importante do que simplesmente um laudoergonômico, é implementar ações que terminem em transformaçõesreais nas condições de trabalho, e que, para tanto, é imprescindívelcompreender o trabalho antes de propor qualquer mudança (OLIVEIRAet al. 2007, P.9).

Na literatura a respeito de análises ergonômicas há diversos

métodos delineados para determinar e quantificar o risco de exposição a fatores

de sobrecarga biomecânica dos membros superiores.

Da mesma forma, os métodos buscam uma avaliação generalista

de todos, ou quase todos, segmentos corpóreos, não permitindo que os gestores,

responsáveis por desenvolver ações preventivas ou corretivas de controle dos

riscos tenham clareza da sua priorização.

Page 24: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

23

Logo, existe uma carência no desenvolvimento de estudos e de

aplicação de métodos que sejam simples do ponto de vista do entendimento tanto

dos expertos em ergonomia quanto dos gestores e mostrem um direcionamento

na priorização das ações.

1.2 Justificativa

Esta pesquisa é relevante à medida que traz conhecimento às

organizações acerca dos métodos técnico-científicos de análise ergonômica do

trabalho a serem aplicados para a identificação de fatores de risco de ler/dort.

Do ponto de vista da ergonomia, esta pesquisa permitirá avaliar

cientificamente um modelo de análise dos fatores de risco de ler/dort em

membros superiores.

A importância desta pesquisa em analisar os fatores de risco e

os métodos de análise mais adequados às suas caracterizações é contribuir para

uma gestão mais adequada da ergonomia e da saúde do trabalhador.

Neste sentido o estudo se justifica pela abordagem metodológica

com que se pretende fornecer subsídios para compreender o método específico

para esta problemática e contribuir para o aprimoramento das condições de

trabalho e tomada de decisão gerencial quanto à priorização das ações em

ergonomia.

1.3 Objetivos da pesquisa

1.3.1 Objetivo geral

Realizar um estudo ergonômico, utilizando um método técnico-científico

específico para os fatores de riscos de lesões nos membros superiores, e analisar

a sua contribuição para a gestão da ergonomia e da saúde do trabalhador.

Page 25: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

24

1.3.2 Objetivos específicos

1. Identificar um método técnico-científico de análise de fatores de risco de

ler/dort específico para membros superiores.

2. Aplicar um método técnico-científico de análise de fatores de risco de

ler/dort em um setor produtivo.

3. Analisar a contribuição e também as limitações do método aplicado para a

gestão da ergonomia e da saúde do trabalhador nas organizações.

1.4 Estrutura de desenvolvimento da dissertação

A pesquisa foi estruturada em oito capítulos incluindo esta

introdução com o objetivo geral e os objetivos específicos.

O segundo capítulo apresenta os materiais e métodos utilizados

e o terceiro trata da fundamentação teórica com o histórico da gestão dos

processos produtivos e o seu impacto para os trabalhadores.

No quarto capítulo são apresentados os modelos de análise

ergonômica do trabalho e o quinto capítulo trás a discussão da escolha do método

técnico-científico de análise dos fatores de risco para aplicação prática na

empresa.

O sexto capítulo apresenta os resultados e as avaliações dos

fatores de risco de ler/dort de cada posto de trabalho.

No sétimo capítulo são apresentadas, a discussão dos

resultados e a contribuição deste estudo para a gestão da ergonomia e da saúde

do trabalhador.

O oitavo capítulo apresenta as conclusões, considerações finais,

limitações da pesquisa e as recomendações para trabalhos futuros.

Page 26: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

25

2 MATERIAIS E MÉTODOS

O presente capítulo tem por finalidade apresentar a

caracterização do estudo, metodologia utilizada para a coleta e análise de dados,

procedimentos e instrumentos e percurso metodológico na escolha da empresa e

do método de análise de risco de ler/dort em membros superiores.

2.1 Natureza e características da pesquisa

A pesquisa científica pode se constituir num elemento de

fundamental importância para a análise de problemas do cotidiano, para o

desenvolvimento da ciência e para o desenvolvimento das pessoas no contexto

do trabalho.

Esta pesquisa tem o objetivo de gerar conhecimento na área de

ergonomia e contribuir para a melhoria dos ambientes de trabalho, de

sobremaneira para a saúde do trabalhador.

Segundo Gil (1999, p.42), “a pesquisa tem um caráter

pragmático, é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método

científico. O objetivo da pesquisa é descobrir respostas para problemas mediante

o emprego de procedimentos científicos”.

Com relação à sua natureza esta pesquisa é do tipo “Aplicada”,

pois objetiva gerar conhecimento de aplicação prática nas organizações dirigido à

solução de problemas específicos relacionados à análise dos fatores de risco de

ler/dort.

Quanto à abordagem, esta pesquisa é descritiva, pela

característica da extensa revisão bibliográfica em busca de métodos de análise de

fatores de risco de ler/dort e também exploratória, pela observação, classificação

e descrição das tarefas e atividades dos trabalhadores.

Em relação à análise de dados esta pesquisa é

predominantemente qualitativa, embora a tabulação dos fatores de risco se fez

necessária, inclusive para correlacionar os resultados encontrados a partir de

diferentes análises.

Page 27: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

26

2.2 Etapas da revisão da literatura

A primeira etapa da revisão da literatura iniciou-se com a

pesquisa sobre a questão do trabalho e sua evolução, a gestão dos processos

produtivos, a gestão da saúde e segurança no trabalho, a questão da ler/dort,

com predominância em membros superiores e por último, com a ciência

ergonomia.

A segunda etapa da revisão da literatura foi concentrada em um

estudo aprofundado dos instrumentos de análise dos fatores de risco de ler/dort,

que ora alguns autores os classificam como checklists, ora como métodos de

análise.

Após a revisão da literatura sobre os diversos instrumentos de

análise, procedeu-se à avaliação desses instrumentos e a escolha do método de

análise para aplicação prática em uma empresa onde estivessem presentes os

fatores de risco em membros superiores.

2.3 O processo de escolha da empresa

O processo de escolha da empresa para aplicação do método

escolhido teve início em dezembro de 2006 em contato telefônico com doze

empresas da região do ABC Paulista de diversos ramos de atividade. Esta região

foi escolhida tendo como premissa a facilidade para deslocamentos durante as

visitas de campo e pela aglomeração de parques industriais.

Das doze empresas contatadas apenas três se propuseram a

abrir as portas para a realização deste estudo. Em seguida as empresas foram

visitadas, apresentado o objetivo geral e os objetivos específicos, os

procedimentos metodológicos para a coleta de dados. Durante as visitas

procedeu-se a avaliação do processo produtivo de cada empresa e a presença de

fatores de risco de ler/dort em membros superiores.

A empresa escolhida se destacou das três empresas visitadas

em função da presença de diversas atividades repetitivas com membros

superiores, a população de trabalhadores serem experientes e estáveis, com pelo

menos doze meses na função para evitar variabilidade nos métodos praticados, e

a disponibilidade de poder utilizar-se dos recursos de filmagens e fotografias do

Page 28: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

27

processo produtivo, por ser imprescindível para a análise dos fatores de risco

através do método escolhido.

2.4 A escolha dos postos de trabalho

A escolha da amostra de postos de trabalho a serem avaliados

teve início com a avaliação aprofundada do processo produtivo e com o

estabelecimento de dois critérios:

1) Que os postos de trabalho tivessem tarefas que empregassem

predominantemente os membros superiores na sua operação;

2) Que estivessem presentes os fatores de risco de ler/dort, de modo que

fosse possível a aplicação do método escolhido para análise.

Após a avaliação de todos os postos de trabalho da empresa

foram escolhidos três:

1) Corte de formulários;

2) Aplicação de cola e destacamento de blocos;

3) Intercalação de vias de formulários.

Nestes postos foram evidenciados o uso intenso dos membros

superiores dos operadores e encontrado os fatores de risco, de forma a atender

os critérios estabelecidos.

2.5 Os instrumentos de coleta de dados

Para levantamento dos dados sobre os fatores biomecânicos

relativos às posturas, quantificação de ações técnicas e repetitividade foram

realizadas três filmagens de cada posto de trabalho com operadores diferentes e

calculado a média aritmética simples para determinação do tempo padrão dos

ciclos de operação a serem utilizados nas análises.

Para realização das análises das posturas inadequadas foram

realizadas várias fotografias dos operadores, dos três postos de trabalho, em

Page 29: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

28

ângulos diferentes e utilizada a técnica de goniometria (medição das articulações

com um goniômetro) para tanto, foi utilizado um goniômetro manual da marca

“Trident”.

2.6 Limitações da pesquisa

Este estudo não tem a pretensão de cobrir todos os fatores

implicados dentro da análise ergonômica e considerados na prevenção dos casos

de ler/dort, porém busca-se um método de análise de fatores de risco específico

de membros superiores que considere não só as questões posturais, mas

também os fatores de organização do trabalho que contribuem para o

adoecimento do trabalhador.

A aplicação deste método limita-se ao estudo de três postos de

trabalho denominados de Corte de formulários, Aplicação de cola e destacamento

de blocos e Intercalação de vias de formulários numa empresa de fabricação de

material gráfico.

Os resultados não podem ser generalizados, mas o método pode

ser reaplicado tanto em outras empresas do setor gráfico, quanto em outros

setores da economia.

Page 30: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

29

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 A origem da palavra trabalho

Em quase todas as línguas o vocábulo trabalho provém de uma

raiz que indica algo penoso ao homem, em linguagem cotidiana, tem muitos

significados, algumas vezes lembra dor, sofrimento e outras vezes designa a

operação humana de transformação da matéria (SANTOS e FIALHO, 1997).

Os gregos têm a palavra ergon que designa a criação, ponos que

representa o esforço e kopos que quer dizer esforço corporal extenuante. Na

língua francesa, travail designa, em sua origem, tudo que faz sofrer e diferencia

ouvrer (trabalhar) de tache (tarefa). Os italianos distinguem lavorare (trabalhar) e

operare (operar, no sentido de fazer funcionar máquinas). Na língua espanhola

distingue-se trabajar e obrar. Os ingleses labour e work, os alemães têm arbeit

(que também significa moléstia) e werk, no latim tem-se laborau, a ação de labor,

e operare que corresponde à obra e em português encontramos labor e trabalho.

Na língua portuguesa, a palavra trabalho se origina do latim

tripalium (instrumento de tortura dos escravos e réus de determinados crimes),

embora existam hipóteses de que se associe a trabaculum. Tripalium também era

um instrumento feito de paus afiados, alguns com pontas de ferro, que os

trabalhadores rurais usavam para bater o trigo, milho e linho. No dicionário da

língua portuguesa a palavra trabalho aparece como:

1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar umdeterminado fim. 2. Atividade coordenada, de caráter físico e ouintelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ouempreendimento (Ferreira, 1975, p.1393).

Marilena Chauí faz uma brilhante introdução na obra de Paul

Lafargue “O direito à preguiça”, onde escreve que o sofrimento do trabalho seguiu

após o ócio do Paraíso como pena imposta pela justiça divina e por isso os filhos

de Adão e Eva pecarão novamente se não se submeterem à obrigação de

trabalhar (Chauí, 1999). Nesta introdução, Chauí descreve a transição da idéia de

penosidade do trabalho, na tradição judaico-cristã e figuras mitológicas da origem

Page 31: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

30

da sociedade humana, para a idéia de virtude a partir do clássico da sociologia “A

Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo” de Max Weber.

3.2 O significado do trabalho

A palavra trabalho pode ter muitos significados, dependendo da

área da ciência que o estuda, na física, por exemplo, trabalho é o produto da

multiplicação de uma força pela distância percorrida pelo ponto de aplicação, na

direção da força, para fisiologia, trabalho é o fenômeno orgânico que se opera no

âmago dos tecidos e para a sociologia o trabalho está no contexto da divisão

social do trabalho.

Para diversos autores o trabalho é um fator essencial da

construção da identidade das pessoas e da construção de suas relações sociais

e, por isso, ele tem características e potencialidades ambivalentes. Podendo ser

fonte de satisfação, permitindo a participação da obra produtiva geral, e fonte de

verdadeiro prazer, por possibilitar a realização de objetos ou tarefas úteis para a

sociedade.

O trabalho também pode ser ato de criação que corresponde à

vocação dos indivíduos e às suas tendências mais profundas, isto é, pouco

importa se ela se concretiza pelo esforço físico ou mental (CATTANI, 1996). Para

esse autor o homem busca, através do trabalho, sua afirmação como indivíduo e

o significado social do trabalho depende das atividades que este indivíduo

desenvolve nesta sociedade.

Segundo Foucault (1990, p.271), o trabalho como atividade

econômica "só apareceu na História do mundo no dia em que os homens se

achavam numerosos demais para poderem nutrir-se dos frutos espontâneos da

terra" e afirma que o homem não existia enquanto objeto de conhecimento, isto se

deu na sociedade moderna pelas necessidades materiais e de estruturação do

próprio trabalho como meio de inserção social.

Weber (1967), na Reforma Protestante, retrata que o trabalho

aparece como uma forma de dever, pois tal ação implica em servir a Deus, sendo

o ócio considerado antinatural e pernicioso. Desse modo, o trabalho é tido como

virtude, fazendo parte da obrigação religiosa. Tal ideologia parece justificar a

Page 32: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

31

divisão social do trabalho, onde a providência divina provê as chances de lucro e

enriquecimento dos homens de negócio.

Para este mesmo autor a classe burguesa ocidental tem suas

particularidades relacionadas com a organização capitalista do trabalho. O

desenvolvimento das possibilidades técnicas escondidas no capitalismo burguês

influenciou fortemente as condições de vida das massas que foram encorajadas

por necessidades econômicas e este capitalismo burguês racional não está

estruturado somente nos meios técnicos de produção, mas também num sistema

de administração de regras formais.

Segundo Oliveira (2006) a história do trabalho começou quando o

homem procurou meios de satisfazer suas necessidades, na medida em que a

satisfação é atingida, ampliam-se as necessidades em relação a outros homens e

criam-se as relações sociais (escravismo, feudalismo e capitalismo) que

determinam a condição histórica do trabalho (processo de trabalho). Desta forma,

o trabalho fica subordinado a determinadas fontes sociais historicamente limitadas

e a organizações técnicas, caracterizando o chamado modo de produção.

O trabalho do homem evoluiu como uma forma de interação com a

natureza buscando a satisfação de suas necessidades e o seu conteúdo pode ser

comum para diversas etapas de desenvolvimento da história, de acordo com a

necessidade do desenvolvimento da produção material. Para Savchenko (1987,

p.21)

O trabalho pode passar do feudalismo para o capitalismo, inicialmentesem transcorrer trocas das bases técnicas da produção, entretanto, aopassar de um modo de produção a outro o caráter do trabalhoexperimenta trocas revolucionárias.

Para Santos e Fialho (1997) as condições de trabalho existentes

na sociedade e as atividades exigidas para a sua realização dificultam a

realização do homem no trabalho, pois a concepção do trabalho pode ser

contraditória e seu significado pode ser percebido de várias formas e depende da

cultura, das características individuais e dos meios sociais.

Na visão de Wisner (1987), o trabalho é uma atividade organizada

de maneiras muitas vezes extremas e, ao longo do qual, o contrato de trabalho se

impõe com todo rigor. Horas de chegada e saída, pausas, cadências e

procedimentos de trabalho, atitudes diante da chefia e da clientela, tudo é

Page 33: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

32

regulamentado e prescrito. Na maior parte do tempo, essas atividades do trabalho

são estabelecidas para o trabalhador em geral, e não levam em consideração a

especialidade de cada um e as condições de sua possibilidade.

Verifica-se que o trabalho engloba em si uma série de outros

fatores os quais estabelecem as condições de trabalho, como: a máquina do

posto de trabalho; o ambiente de trabalho, no que concerne às questões de

iluminação, higiene e salubridade; os meios para se realizar o trabalho; a tarefa; a

jornada; a organização do trabalho; a relação entre pessoas, seja no nível

horizontal e vertical e a relação entre a produção e o salário. E percebe-se que

para tal o homem deve estar inserido em um ambiente, seja ele aberto ou

fechado, e que será denominado ambiente de trabalho.

Desta forma o trabalho pode ser visto como um comportamento de

aprendizagem e transformação do homem que em sua evolução sempre esteve

estritamente ligado à natureza e seus meios de produção. Este comportamento

também pode ser manifestado por insatisfações, devido estar relacionado com

penalizações e sofrimentos, e que pode ser prazeroso se desenvolvido em

condições satisfatórias, que não agridam a integridade do homem (MORE, 1997).

Para os ergonomistas o trabalho também está relacionado com a

organização do trabalho e suas influências, mas, sobretudo verifica-se que o

trabalho é um meio de sobrevivência e que independe de estar relacionado com

satisfação ou insatisfação, mas que pode ser modificado quando oferecido ao ser

humano condições satisfatórias e adequadas para que possam realizar suas

competências ao mesmo tempo no plano individual e coletivo e encontrar a

valorização de suas capacidades (GUÉRIN et al., 2001).

Segundo Vidal (2002), a organização do trabalho, em seus

aspectos interdependentes como repartição das tarefas, sistemas de

comunicação, procedimentos de produção, estabelecimento de padrões de

desempenho, sistemas de supervisão e controle sobre os trabalhadores, sistemas

de recrutamento e seleção de pessoas para o trabalho e métodos de formação,

de capacitação e de treinamento tem se mostrado como fator determinante nas

insatisfações dos trabalhadores. Para conceituar esta interdependência, Vidal

trás uma idéia da compreensão da influência da organização do trabalho:

Page 34: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

33

A idéia motriz é a de compreender as formas como se dá cada uma dasunidades funcionais, as disposições necessárias para a consecução dasfunções que lhes são imputadas pela organização geral e o conceitosubsidiário é o estabelecimento de métodos de trabalho (VIDAL, 2002,p.22).

O trabalho dentro do contexto de sua gestão por outro

(organizações) assume outras dimensões na transformação de quem o executa.

Teiger (1992, p.113), propôs outra definição para trabalho:

[...] é uma atividade finalística, realizada de modo individual ou coletivanuma temporalidade dada, por um homem ou uma mulher singular,situada num contexto particular que estabelece as exigências imediatasda situação. Esta atividade não é neutra, ela engaja e transforma, emcontrapartida, aquele ou aquela que a executa.

Dejours e Molinier (1994, p.35) em sua obra Le travail comme

énigme trouxe, à luz da ergonomia, uma outra definição de trabalho inserido nas

organizações formais: “O trabalho é uma atividade coordenada de homens e

mulheres para responder ao que não está posto, desde o início, pela organização

prescrita do trabalho”.

3.3 Breve histórico da evolução do trabalho

3.3.1 Fase artesanal – Da antiguidade até ao inicio da revolução industrial (1780)

O trabalho organizado e dirigido sempre existiu na história da

humanidade, porém as empresas evoluíram com lentidão até aproximadamente

1780 (BOTELHO, 1999). A máquina a vapor, inventada por James Watt em 1776,

ao ser introduzida na esfera da produção, modificou-a completamente e, em

conseqüência, veio afetar as estruturas social, econômica e política da época.

(CHIAVENATO, 2000).

Nesta fase artesanal, o regime de produção basicamente agrícola

é fundamentado no artesanato rudimentar, nas pequenas oficinas, na mão de

obra intensiva e não-qualificada que recorre a ferramentas rudimentares, bem

como ao trabalho escravo ou de relação feudal. O sistema comercial assenta nas

trocas locais majoritariamente diretas (BOTELHO, 1999).

Page 35: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

34

3.3.2 Fase da Revolução Industrial – Da transição do artesanato à industrialização

(1780 – 1860)

Com a utilização de novas fontes de energia como o carvão e o

emprego de novas matérias primas como o ferro, foi possível uma crescente

mecanização das oficinas e da agricultura, provocando alterações substanciais

nos preços dos produtos artesanais, abrindo caminho para o aparecimento das

empresas modernas (CHIAVENATO, 2000). Aos poucos, as oficinas vão sendo

equipadas com grandes máquinas que gradualmente substituem o esforço

muscular humano.

A aplicação do vapor chega aos transportes terrestres e marítimos,

e com ele surgem as primeiras estradas e o desenvolvimento das comunicações

com o aparecimento do telégrafo e do selo postal, cria-se as condições objetivas

de uma mudança acelerada no regime de produção (SEVCENKO, 2001).

3.3.3 Fase da 2ª Revolução Industrial – O desenvolvimento industrial (1860 –

1914)

Nesta fase ocorre o desenvolvimento de um novo material para o

processo de fabricação, o aço em 1856 e a utilização da eletricidade e dos

derivados do petróleo como novas fontes de energia (motor de explosão e motor

elétrico) permitiram um crescente domínio da indústria pela ciência e pelo avanço

tecnológico.

Simultaneamente este domínio requer cada vez mais o recurso a

meios financeiros avultados, impondo assim o surgimento dos grandes bancos e

instituições financeiras (CHIAVENATO, 2000). Esta fase trás uma série de

inovações neste período:

O capitalismo industrial cede lugar ao capitalismo financeiro. Asempresas crescem assustadoramente e passam por um processo deburocratização em face ao seu tamanho. As transformações radicaisdos transportes (aparecimento do automóvel em 1880 e do avião em1906) e nas comunicações (telégrafo em 1837, primeiro cabo submarinotransatlântico 1866, telefone em 1876, cinema com a primeira projeçãocomercial pelos irmãos Lumière em 1895), tornaram o mundo cada vezmenor (BOTELHO, 1999, p.14).

Page 36: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

35

3.3.4 Fase do Gigantismo Industrial – Entre as duas Grandes Guerras (1914 –

1945)

A utilização da tecnologia para fins bélicos permite

aperfeiçoamentos consideráveis em todos os domínios: o primeiro computador

eletrônico, o ENIAC, criado nos EUA 1945 assegurava desde logo o cálculo das

tabelas de tiro da artilharia.

Nos transportes assistimos ao aparecimento dos navios de grande

tonelagem, e a surpreendente revolução do automóvel e do avião e as

comunicações são quase instantâneas com o radio e a televisão (SEVCENKO,

2001).

Neste período, afirmam (WOMACK et al., 1992, p.1) em sua obra

intitulada “A máquina que mudou o mundo”, a indústria automobilística desponta

como a maior atividade industrial desempenhando importante papel na vida dos

cidadãos e cita:

[...] a indústria automobilística é ainda mais importante para nós do queparece. Duas vezes neste século, ela alterou nossas noções maisfundamentais de como produzir bens. E a maneira como os produzimosdetermina, não somente como trabalhamos, mas ainda comopensamos, o que compramos e como vivemos.

Cada vez menor, o mundo é também cada vez mais complexo. É a

fase em que as empresas assumem proporções enormes, atuando em operações

internacionais e multinacionais. É a fase que compreende igualmente a grande

depressão econômica de 1929 e a crise mundial de 1941 (SEVCENKO, 2001).

Esta fase também é marcada pela transição da era da produção artesanal para a

era da produção em massa (WOMACK et al., 1992).

3.3.5 Fase Moderna – Do pós-guerra aos choques petrolíferos (1946 – 1980)

Separação clara entre os países desenvolvidos (ou

industrializados), e os subdesenvolvidos (ou não industrializados) e os países em

vias de desenvolvimento. Mantém-se o predomínio do petróleo e da eletricidade

como fontes energéticas principais, mas desenvolvem-se conhecimentos

referentes a energias alternativas (nuclear, solar etc.). Recurso de novos

Page 37: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

36

materiais básicos (plásticos, alumínio, fibras têxteis sintéticas, etc.) e de novas

tecnologias (circuito integrado, transistor e o silicone) são empregadas nos

processos produtivos de forma acelerada, segundo Sevcenko (2001, p.23):

A partir da segunda metade do século XX, o tempo entre a descobertacientífica e sua aplicação industrial tem sido progressivamente reduzido:foram necessários 56 anos para o telefone e três anos para os circuitosintegrados, por exemplo.

Não aderir às novas tecnologias, quando não se torna condição de

sobrevivência das empresas, provoca distâncias cada vez maiores entre aquelas

que as utilizam e as restantes.

Por outro lado a escassez de recursos, a inflação desmedida e os

juros elevados complicam ainda mais o ambiente. O ritmo da mudança e a

complexidade crescente trazem consigo uma novidade, a incerteza e a

imprevisibilidade do que vai acontecer.

3.3.6 Fase da incerteza – Da década de 80 até os dias de hoje

Para Botelho (1999) a década de 80 é uma fase de incertezas, na

qual a única certeza é ter a mudança assegurada, ou seja, a velocidade das

mudanças causa grande incerteza às organizações que têm que se

reestruturarem em face à nova realidade.

A tecnologia está em constante evolução “desde que em 1979 se

inventou o walkman, escreve Steven Brull no International Harold Tribune de

Março de 1992, a Sony já desenvolveu 227 modelos diferentes” (BOTELHO,

1999, p.15).

O recurso à fibra óptica, a digitalização, a Internet, os multimídias,

o celular são apenas alguns exemplos de como o ciclo de vida dos produtos tende

a ser cada vez mais curto, passando num ápice de “ser novidade” a “estar

banalizado” e tornar-se obsoleto.

As empresas redimensionam-se e ocorre uma revolução

tecnológica na esfera produtiva industrial através da automação, com base na

microeletrônica, (MORAES NETO, 2003).

Page 38: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

37

A atual realidade econômica mundial trás incertezas à economia à

política e aos trabalhadores e para Carvalho (1997 apud SALIM e CARVALHO,

2002, p.145) esta “atual realidade econômica mundial é na verdade a crise do

capitalismo atualmente denominada de globalização” e complementa:

A reestruturação produtiva, também estudada como reconversãoeconômica ou nova ordem econômica mundial, ou terceira revoluçãoindustrial, pode ser definida como um processo econômico, político ecultural em curso, de grande dinamismo e alta complexidade, queacontece em escala planetária e em ritmo intenso, exigindo a inserçãode todos. Estruturalmente vinculados à globalização, esses doisprocessos têm sido conduzidos pelas forças hegemônicas em âmbitointernacional, representando a mais recente configuração do capitalismo– a qual converte o sistema mundial em espaço de acumulação –apontando para profundas repercussões sobre a vida social.

A gestão empresarial enfrenta novos desafios, se o início da

terceira revolução industrial era marcada pela revolução do computador e se

temia a substituição do cérebro humano pela eletrônica e conseqüentemente a

eliminação do trabalho, atualmente cada vez mais se apela ao intelecto e à

imaginação do homem e menos aos materiais (BOTELHO, 1999).

3.4 A Gestão empresarial dos processos produtivos

Poder-se-ia recuar na história da humanidade e encontrar um

pensamento administrativo na antiguidade do Egito ou em outras civilizações em

que dirigentes guiaram milhares de trabalhadores na construção de monumentos

que até hoje resistem ao tempo, porém foi ao longo do século XX que as teorias

administrativas se desenvolveram e cada uma teve a sua contribuição para o

desenvolvimento da Teoria Geral de Administração (CHIAVENATO, 2000).

No entanto só com Frederick W. Taylor (1856-1915) se

desenvolveu um pensamento autônomo e sistematizado de modo científico, em

torno do conceito de administrar. “Sua preocupação básica foi eliminar

desperdício e elevar os níveis de produtividade através da aplicação de métodos

e técnicas da engenharia industrial” (CHIAVENATO, 2000, p.32).

De qualquer forma as teorias da Administração têm sofrido várias

evoluções, de acordo com os enfoques que assumem.

Page 39: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

38

3.4.1 Ênfase nas tarefas

Taylor é hoje considerado o fundador da chamada Administração

Científica, que cronologicamente é considerada como a primeira sistematização

cientifica, se bem que, dando ênfase na tarefa, desenvolva uma abordagem

microscópica em torno do trabalhador, perdendo de vista a totalidade da empresa

(CHIAVENATO, 2000, PEREIRA, 2000 e MOTTA, 2001). Nesta ótica, a

administração científica passa ter as seguintes características:

1. A improvisação e o empirismo devem ser substituídos pelo planejamento e pela

cientificidade, recorrendo-se a métodos de observação e mensuração;

2. Para se aumentar a eficiência da empresa deve-se começar pela eficiência de

cada operário. A forma de execução das tarefas do operário não pode resultar da

sua escolha e dos seus critérios, mas sim ser resultado de estudos de tempos e

movimentos;

3. As pessoas vão trabalhar exclusivamente para ganhar o salário. A melhor

forma de as incentivar é oferecer prêmios de produção (concepção do homem

como ser economicus). A respeito destes incentivos Taylor em sua obra

“Princípios de Administração Científica” escreve:

[...] para provocar a iniciativa do trabalhador, o diretor deve fornecer-lheincentivo especial, além do que é dado comumente no ofício. Esseincentivo pode ser concedido de diferentes modos, como, por exemplo,promessa de rápida produção ou melhoria, salários mais elevados, soba forma de remuneração por peça produzida, ou por prêmio, ou porgratificação de qualquer espécie a trabalho perfeito e rápido; menoreshoras de trabalho, melhores condições de ambiente e serviço do quesão dadas habitualmente [...] (TAYLOR, 1960, p.47).

4. Simplificar e racionalizar as tarefas tem como corolário a especialização.

Embora perdendo a visão do conjunto é inegável que a especialização trás maior

eficiência;

5. A estandardização e a padronização das máquinas, equipamentos e materiais

permitem através da simplificação e homogeneização, aumentar a eficiência do

operário, até mesmo porque reduz as margens de desperdício e de erro.

Desta forma, Taylor, separa claramente a concepção do trabalho

da sua execução e estabelece os seguintes princípios da administração científica:

Page 40: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

39

1. Princípio do planejamento: substituir a improvisação pela ciência planejando e

concebendo previamente todos os métodos de execução do trabalho;

2. Princípio da preparação: selecionar cientificamente os trabalhadores (“the right

man in the right place”), prepará-los e treiná-los de acordo com os métodos

planejados;

3. Princípio do controle: controlar o trabalho garantindo que seja executado

conforme o planejado;

4. Princípio da execução: distribuir as atribuições e as responsabilidades de forma

que a execução do trabalho seja feita pelos operários. À administração cabe o

planejamento, a preparação e o controle, ao trabalhador a execução;

5. Princípio da exceção: só as ocorrências que saem da normalidade devem ser

analisadas pela administração, de modo a poder corrigir desvios e repor a

normalidade.

3.4.2 Ênfase na Estrutura Organizacional

Segundo (CHIAVENATO, 2000 e PEREIRA, 2000) basicamente

são três as abordagens cuja preocupação principal consiste em adequar os meios

(órgãos e cargos) aos fins, conferindo um enfoque que incide principalmente no

planejamento e organização da estrutura: a teoria Clássica de Henri Fayol (1841-

1925) e seus seguidores, a teoria da Burocracia de Max Weber (1864-1920) e a

teoria Estruturalista (James D. Thompson, Amitai Etzioni, Jean Viet e Peter Blau).

No seu conjunto estas teorias vieram ampliar de sobremaneira o

objeto de estudo da teoria da administração em torno da organização e sua

estrutura.

3.4.2.1 Teoria Clássica

Assumindo uma perspectiva eminentemente prescritiva e

normativa, para Fayol a empresa possui seis funções básicas:

1. Funções técnicas, relacionadas com a produção;

2. Funções comerciais, relacionadas com a compra / venda;

3. Funções financeiras, relacionadas com a procura e gestão de capitais;

4. Funções de segurança, relacionadas com a preservação dos bens e pessoas;

Page 41: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

40

5. Funções contábeis, relacionadas com inventários, balanços, etc;

6. Funções administrativas, relacionadas com a integração coordenada e

sincronizada e asseguradas proporcionalmente por todos os níveis da hierarquia

das funções restantes.

As funções administrativas englobam cinco elementos que, em

conjunto, se constituem como o processo administrativo: Prever (avaliar o futuro),

Organizar (envolve organização material e social), Comandar (dirige e orienta o

pessoal), Coordenar (harmonizar as atividades) e Controlar (verificar e localizar

erros).

A ciência da administração, como toda ciência, deve basear-se em

leis e princípios, segundo Pereira (2000) Fayol desenvolve os princípios gerais da

administração alertando, no entanto, para a idéia de adaptabilidade e flexibilidade

porquanto nada existe de rígido ou de absoluto em matéria administrativa e a

realidade condiciona em definitivo a aplicação destes princípios.

Fayol define então seus princípios de divisão do trabalho como

autoridade e responsabilidade, disciplina, unidade de comando, unidade de

direção, subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais,

remuneração do pessoal, centralização, cadeia escalar, ordem, equidade,

estabilidade e permanência do pessoal, iniciativa e espírito de equipe.

Contrapondo as funções gerenciais de Fayol aos princípios

científicos de Taylor, Pereira (2000, p.25) escreve:

A administração científica surgiu no chão de fábrica. Conforme o próprionome indica, preconiza a adoção de métodos racionais e padronizados,a máxima divisão de tarefas e o enfoque centrado na produção. Aadministração clássica, que teve origem na alta administração, enfatizaa estrutura formal da organização e a adoção de princípios e funçõesadministrativas necessárias à realização do trabalho.

3.4.2.2 Teoria da Burocracia

A idéia generalizada de burocracia associa-se à multiplicação da

papelada, à morosidade de processos e à sua constante complexidade. No

entanto o significado técnico remete-nos para a identificação das características

da organização no sentido de garantir a máxima racionalidade e eficiência.

Page 42: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

41

Segundo (CHIAVENATO, 2000) a Burocracia teria assim as

seguintes características:

1. O caráter legal das normas e regulamentos: as organizações fundamentam-se

em normas e regulamentos que assumem um caráter legal e uma forma escrita

de modo a conferir às pessoas investidas de autoridade um poder de coação e a

assegurar interpretações sistemáticas e unívocas, respectivamente;

2. O caráter formal das comunicações: reduzir às escritas ações e procedimentos

proporciona a sua comprovação e documentação;

3. O caráter racional da divisão do trabalho: proporciona-se assim ao funcionário

o conhecimento dos limites da sua tarefa, direitos e poderes respectivos;

4. O caráter impessoal das relações: o poder de cada pessoa é impessoal e

deriva do cargo que ocupa;

5. O caráter hierarquizado da autoridade: a autoridade é inerente ao cargo. O

subordinado está “protegido” do seu superior na medida em que a sua relação

com ele integra-se num conjunto de normas mutuamente reconhecidas;

6. O caráter rotineiro e estandardizado do procedimento: procura-se fixar normas

técnicas e regras para cada cargo. Os padrões facilitam uma pronta e objetiva

avaliação de desempenho;

7. A meritocracia: a escolha das pessoas é baseada no mérito e na competência

técnica das pessoas;

8. A separação entre a propriedade e a administração: o funcionário não pode

vender, comprar ou herdar a sua posição ou o seu cargo;

9. O caráter profissional do funcionário: cada funcionário é um especialista

assalariado que ocupa um cargo, é nomeado pelo seu superior hierárquico e tem

uma carreira. No entanto não possui a propriedade dos meios de produção;

10. Completa previsibilidade do comportamento: tudo deve ser estabelecido no

sentido de prever antecipadamente todas as ocorrências e rotineirizar a sua

execução como forma de garantir a máxima eficiência.

Concebida desta forma, a burocracia registraria diversas

vantagens como o aumento da precisão e da rapidez de decisão que seriam

asseguradas por rotinas e unidade de interpretações impostas por uma

constância de procedimentos, o incremento da confiança na organização, as

carreiras seriam pré-definidas e as normas e a meritocracia, impeditivas do

recurso ao favoritismo, reduziriam os atritos.

Page 43: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

42

3.4.2.3 Teoria Estruturalista

A terceira alternativa dentro das correntes da ciência da

administração que privilegiam a estrutura organizacional é a teoria estruturalista,

desenvolvida a partir do sistema rígido e fechado concebido pelo modelo

burocrático. Partindo deste modelo, uma abordagem estruturalista concebe a

organização como um sistema aberto de múltiplas abordagens (CHIAVENATO,

2000 e MOTTA, 2001).

Segundo esses autores a teoria estruturalista está baseada nas

seguintes abordagens:

1. Abordagem múltipla tanto no plano formal como no plano informal: conduz

necessariamente a uma visão da organização com unidade social complexa,

integrada por inúmeros grupos sociais;

2. Abordagem múltipla relativa tanto às recompensas salariais e materiais como

às recompensas sociais e simbólicas: não se ignora, no entanto, que os símbolos

de posição são menos eficazes nos funcionários da base da hierarquia;

3. Abordagem múltipla de todos os níveis hierárquicos: a organização é encarada

como um conjunto de partes interdependentes que forma um “todo” e que

mantêm a sua relação com o ambiente. A organização é um sistema aberto;

4. Abordagem múltipla dos diferentes tipos de organização: a partir do

estruturalismo as teorias da Administração ultrapassaram os limites da fábrica,

alargando o seu objeto de análise a todas organizações;

5. Análise inter organizacional: as várias tipologias de análise organizacional e os

estudos comparativos são surpreendentemente desenvolvidos.

3.4.3 Ênfase nas pessoas

Na evolução da ciência administrativa, o pensamento que

administrar é, sobretudo lidar com pessoas deixando em segundo plano a

estrutura ou tarefas, permitiu o aparecimento das chamadas abordagens

humanísticas dentro da ciência da administração. Num primeiro momento surgiu a

Escola de Relações Humanas e posteriormente a Teoria Comportamental.

Page 44: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

43

3.4.3.1 A Escola de Relações Humanas

Considerados como principais fundadores, Elton Mayo (1880-

1949) e Kurt Lewin (1890-1947), são responsáveis pela abordagem mais

democrática e liberalizante ocorrida nas Teorias da Administração. No campo

científico a Escola de Relações Humanas surgiu como uma teoria de oposição e

combate às teorias da Organização Científica do Trabalho – OCT e Clássica,

alicerçadas por Taylor e Fayol respectivamente e dispôs-se a humanizar a

administração de empresas (CHIAVENATO, 2000).

De acordo com Motta (2001) os alicerces desta teoria resultaram

de experiências que se preocupavam unicamente com o aumento da

produtividade do operário face aos diferentes ambientes criados. Dos resultados

das experiências na Western Electric Company, no bairro de Hawthorne verificou-

se o entendimento que a empresa desenvolve uma dupla função, de produção e

de satisfação dos seus elementos.

A satisfação no trabalho conduz-nos assim a considerar uma

dimensão social da organização que na prática se traduz no incremento de

incentivos indutores de uma maior motivação.

Resumidamente as principais conclusões registradas pela Escola

de Relações Humanas, segundo Chiavenato (2000) e Motta (2001) consistem em:

1. Os níveis de produção são resultantes da integração social dos operários:

quanto maior for a integração social do funcionário mais disposição

manifestará para produzir no grupo;

2. As recompensas e incentivos, bem como as sanções, permitem garantir

aumentos de produtividade: os trabalhadores referenciam-se a padrões sociais

de desempenho e desenvolvem expectativas de recompensas e sanções

relativamente aos aumentos ou diminuições significativas referentes a esses

padrões;

3. Existência de grupos informais: grupos que se estruturam a margem da

organização formal e que nem sempre coincidem com eles. Também estes

grupos informais integram comportamentos, definem padrões e reproduzem

recompensas e sanções sociais;

Page 45: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

44

4. É relevante para o funcionário o conteúdo funcional do seu cargo: trabalhos

simples e repetitivos afetam negativamente a produtividade (oposição clara à

especialização preconizada pela Organização Científica do Trabalho e pela

Teoria Clássica).

Em suma, o pensamento da Escola de Relações Humanas

permitiu o desenvolvimento pioneiro de estudos em torno dos fenômenos sociais

e humanos da organização quais sejam, a comunicação, a motivação, a

liderança, o conflito, as abordagens participativas dos trabalhadores e

principalmente a satisfação no trabalho.

3.4.3.2 Teoria Comportamental

A abordagem comportamental descende diretamente da Escola de

Relações Humanas, abandonando as características prescritivas e normativas, e

evoluindo para uma ciência basicamente explicativa e descritiva.

Ao assinalar essa evolução, o livro publicado por Herbert A. Simon

(prêmio Nobel da economia em 1978) - “O comportamento administrativo”, é

considerado como o primeiro ensaio representativo desta abordagem nas

organizações.

Neste livro o autor desenvolve a teoria das decisões, salientando

que a decisão é substancialmente mais importante que a execução, tanto mais

importante que as pessoas percebem, sentem, decidem e agem decidindo assim

sobre os seus comportamentos, que se manifestam também por uma maior ou

menor aceitação da autoridade (BOTELHO, 1999).

Em geral, os domínios de análise da teoria comportamentalista

centram-se a temas que envolvem estilos de chefia e liderança, sistemas de

administração, processo decisorial, comportamentos, motivação e necessidades

humanas.

Porém alguns estudos têm uma idéia comum que existe um certo

conflito entre os objetivos organizacionais e os objetivos individuais e os

comparativos de estilos de administração permitem potencializar motivações

individuais e reduzir as incongruências destes conflitos (PEREIRA, 2000).

Page 46: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

45

3.4.4 Ênfase na tecnologia

Com o advento da cibernética, da mecanização, da automação da

informática e mais recentemente da robótica, a tecnologia passou a moldar a

estrutura da organização a condicionar o seu funcionamento de modo a permitir

extrair dela o máximo proveito.

O papel da tecnologia na determinação da estrutura e

funcionamento das organizações passou a ser também preocupação de estudos

na Ciência da Administração e originaram novas abordagens do seu objeto de

estudo (PEREIRA, 2000).

Nesta ótica as teorias sistêmicas das organizações adotaram

conceitos e metodologias de análises oriundas de outras ciências

(BERTALANFFY, 1975). Esse autor entende que a empresa é como um sistema

sócio-técnico onde interagem dois subsistemas intimamente interdependentes: o

subsistema social ou humano (pessoas e suas relações) e o subsistema

tecnológico (tarefas e equipamentos). Conceitos como sistema aberto, entradas

(inputs), saídas (outputs), caixa negra (black box), retroação (feed-back) e

equilíbrio homeostático entram decisivamente no vocabulário da ciência da

administração (CHIAVENATO, 2000).

3.4.5 Ênfase no ambiente

As rápidas mutações tecnológicas e sociais encarregaram-se de

proporcionar nova corrente que num ápice absorveu a preocupação dominante da

técnica característica da Teoria de Sistemas, sobrepondo-lhe a preocupação com

a mudança, em particular com o ambiente, de forma mais genérica.

Desta forma, para além das variáveis endógenas, internas à

organização, que a abordagem da Teoria dos Sistemas propaga, a Teoria da

Contingência considera de igual modo as variáveis exógenas, externas à

organização (BOTELHO, 1999).

Para Chiavenato (2000) não existe assim uma única “melhor

maneira” de organizar, ao contrário, as organizações precisam ser

sistematicamente ajustadas às condições ambientais. Tudo depende das

características do ambiente onde nos inserimos, variáveis independentes, de

Page 47: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

46

onde se extraem as entradas (inputs), necessárias ao funcionamento da

organização, e para onde se encaminham as saídas (outputs).

3.4.6 Ênfase no cliente

Se a Teoria da Contingência, embora valorizando o ambiente, já

assumira contribuições das várias correntes que a precederam, as pressões da

concorrência e a acessibilidade à informação e a procura de soluções pela

Ciência da Administração, para responder aos desafios de recuperação dos anos

80, determinam novos conceitos de administrar.

Dentre esses conceitos estão a corrente que se desenvolveu em

torno da idéia de Qualidade Total, através da qual o cliente passou a

desempenhar um papel privilegiado no pensamento administrativo (BOTELHO,

1999).

A Qualidade total é assegurada pelo Controle de Qualidade Total (TQC– Total Quality Control) baseado em um sistema de métodosestatísticos, centralizado no melhoramento do desempenhoadministrativo. Seus resultados são garantia da qualidade, redução decustos, cumprimento dos programas de entrega, desenvolvimento denovos produtos e administração do fornecedor (PEREIRA, 2000, p.153).

O sucesso da TQC desenvolveu-se a partir do momento em que

os japoneses começaram a fabricar produtos que faziam exatamente aquilo que o

vendedor dizia que faziam. Assim, perante a diversidade de ofertas do mercado, o

cliente passou a adquirir o serviço ou produto que lhe garantia qualidade. O poder

do cliente aumenta substancialmente e o controle de qualidade de custo

acrescido passou a ser entendido como rentável.

Apoiando-se no conceito de qualidade total, fortalece-se a idéia de

que a organização deve envolver todos os seus recursos humanos, apelando a

todo o potencial de criatividade, no duplo objetivo de atingir zero erro e garantir a

total satisfação do cliente.

A Gestão da Qualidade Total procura assim implementar um

sistema de qualidade através do empoderamento (empowerment), ou seja,

proporcionar aos funcionários as habilidades e a autoridade para tomar decisões

que tradicionalmente eram dadas aos gerentes (CHIAVENATO, 2000).

Page 48: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

47

3.5 Estado atual das teorias administrativas

O panorama que se pretende transmitir ao se descrever a

evolução da Ciência da Administração impele para a certeza de que todas as

teorias, sem representarem uma resposta em si mesma, concorrem para as

soluções atuais promovendo equilíbrios nas concepções em torno de todas

variáveis, objeto de estudo, sem ignorar qualquer uma delas, tarefas, estruturas,

pessoas, tecnologias, ambientes e clientes.

A turbulência que caracteriza a mudança da sociedade atual tem

proporcionado soluções estratégicas que, embora ainda sem desenvolvimentos

que lhes permitam constituírem-se como escolas, propriamente ditas, não deixam

de se assumirem como correntes de pensamento como a Reengenharia, a

Globalização e a Flexibilização.

3.5.1 A Reengenharia

Segundo Chiavenato (2000) a Reengenharia se caracteriza por

uma reação aos abismos existentes entre as mudanças ambientais e a inabilidade

das organizações em lidar com essas mudanças.

A reengenharia representa um redesenho radical de estruturas,

processos e mentalidades de modo a garantir melhores custos, melhores serviços

e melhores tempos e o funcionário é visto como empreendedor abrindo-se

caminho ao “empowerment”.

A resposta da empresa aos ritmos de mudança remete para uma

organização em torno de processos e não em torno de orçamentos,

departamentos, tarefas ou pessoas. Este conceito busca reduzir a organização ao

essencial como uma mudança radical nas maneiras de fazer o trabalho

(CHIAVENATO, 2000).

3.5.2 A Globalização

Em conseqüência da verdadeira revolução das tecnologias da

informação e das barreiras comerciais, o mundo atual passa por reformulações de

Page 49: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

48

conceitos, a ponto de alguns autores denominarem as sociedades nacionais em

sociedade global (VIEIRA, 1997).

Os processos e as estruturas referentes a todas as funções da

organização são pensados à escala global, permitindo a partilha do

conhecimento, mas conforme a realidade local (BOTELHO, 1999).

A idéia de globalização está igualmente associada à idéia de

descentralização através do “empowerment” – Cessão de autoridade e poder,

garantir a possibilidade do funcionário decidir. Desta forma, proporciona-se o

enriquecimento do trabalho, aumentando o grau de satisfação do funcionário, a

capacidade de resposta e incrementa-se o uso da criatividade.

3.5.3 A Flexibilização

O ritmo da mudança obriga a uma adaptabilidade organizacional

nunca antes exigida, por outro lado as pessoas desenvolvem graus de exigência

do seu nível de vida em resultado da multiplicação da oferta de estilos de vida.

Segundo Botelho (1999) a flexibilização representa antes de tudo

uma possibilidade, mediante um tratamento casuístico, conjugar os interesses

entre a entidade empregadora e o funcionário através de várias soluções

referentes ao horário de trabalho, as funções, o local de trabalho, as

remunerações e mesmo de outras matérias que regulamentam as relações de

trabalho como, por exemplo, a flexibilização da legislação.

A palavra flexibilidade entrou na língua inglesa no século XV. Seusentido derivou originalmente da simples observação de que, embora aárvore se dobrasse ao vento, seus galhos sempre voltavam a posiçãonormal [...] o comportamento humano flexível deve ter a mesma forçatênsil: ser adaptável a circunstâncias variáveis, mas não quebrado porelas (SENNETT, 2003, p.53)

Para os sistemas de gestão a flexibilidade tem como idéia chave a

atitude perante a mudança, o indicador de sucesso da empresa ou organização,

determina a tendência para a falência das organizações de grandes e altamente

hierarquizadas estruturas, e confirma a tendência de considerar a liderança como

vetor fundamental da administração em detrimento da gestão (BOTELHO, 1999).

Page 50: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

49

Para Pereira (2000) a mudança por si só não é o aspecto principal

da questão, da mesma forma que um ambiente flexível não é garantia de sucesso

absoluto na evolução de uma empresa.

3.6 O adoecimento no processo produtivo

Diversos autores concordam entre si quando afirmam que a

relação existente entre saúde e trabalho pode ser tanto positiva quanto negativa,

desde que esta relação esteja focada não no trabalho em si, mas nas condições e

contextos onde ele se dá.

Tratando a saúde dentro do contexto global, Berlinguer (2004) faz

uma forte crítica ao descontrolado processo de globalização econômica

promovida pelos países ricos, que exclui de forma crescente as populações

pobres do mundo das condições mínimas para viver com dignidade e dos

benefícios das novas descobertas da ciência.

Para um bom entendimento da relação entre saúde e trabalho no

mundo moderno é preciso compreender o processo de organização dos sistemas

produtivos dentro das organizações e suas relações com o objeto de estudo, o

trabalho, e suas formas de constrangimentos a que os trabalhadores estão

expostos.

Assim, a saúde no trabalho é transformada e mediada de acordo

com a atividade exercida e das condições ambientais criadas por esta atividade.

Esse fato significa que as condições de saúde também são processos

socialmente produzidos, uma vez que o trabalho está inserido neste contexto

social e que as relações sociais, tornam-se determinantes no processo de saúde

e doença, vida e morte dos indivíduos (FACCHINI, 1995 e VERTHEIN, 2000).

Como o trabalho está inserido no contexto social, o entendimento

do ambiente e do modo como o trabalho está organizado torna-se,

evidentemente, muito importante para compreensão do adoecimento, pois o

homem permanece o equivalente a um terço de sua vida ativa no trabalho, que se

transforma rapidamente em função da aquisição de novas tecnologias (SIVIERI,

1995).

Page 51: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

50

3.7 A Questão das ler/dort

Na atualidade vivemos em uma grande polêmica em relação ao

nexo entre as doenças relacionadas à questão ler/dort e o trabalho. O assunto

tornou-se evidente desde a publicação da Norma de Avaliação de Incapacidade

do Instituto Nacional de Seguridade Social, que regulamenta o critério de nexo

técnico entre as patologias e as causas. Recentemente o assunto voltou à tona

pela publicação da Nota técnica que introduziu no sistema previdenciário

brasileiro os conceitos de Nexo Técnico Epidemiológico – NTEP e de Fator

Acidentário Previdenciário – FAP (BRASIL, 2006b).

O NTEP pode ser traduzido pelo nexo presumido em função da

incidência de patologias, estatisticamente encontradas, em trabalhadores de um

grupo específico de expostos que não foi observada no grupo de controle e o FAP

pode ser representado por um coeficiente, a partir do NTEP que será aplicado no

momento que a empresa realizar o pagamento da contribuição previdenciária.

Esses conceitos partem do princípio de que as empresas, em

razão do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos

ambientais do trabalho, devem pagar mais ou menos contribuição previdenciária,

mais conhecido como Seguro contra Acidentes do Trabalho – SAT. Segundo esse

critério do INSS a empresa que tiver alta incidência de casos de ler/dort deve

pagar um valor maior de SAT.

Segundo o Ministério do Planejamento (PNAD, 2001 e 2002),

no Brasil, a População Economicamente Ativa – PEA, segundo estimativa do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE era de 82.902.480 pessoas,

das quais 75.471.556 consideradas ocupadas. Destas, 41.755.449 eram

empregados (22.903.311 com carteira assinada; 4.991.101 militares e estatutários

e 13.861.037 sem carteira assinada ou sem declaração); 5.833.448 eram

empregados domésticos (1.556.369 sem carteira assinada; 4.275.881 sem

carteira assinada e 1.198 sem declaração); 17.224.328 eram trabalhadores por

conta-própria; 3.317.084 eram empregadores; 3.006.860 eram trabalhadores na

produção para próprio consumo e construção para próprio uso; e 4.334.387 eram

trabalhadores não remunerados. Portanto, entre os 75.471.556 trabalhadores

ocupados em 2002, apenas 22.903.311 (com carteira assinada) possuíam

cobertura da legislação trabalhista e do SAT (BRASIL, 2002a).

Page 52: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

51

A partir dos dados fornecidos pelo PNAD é possível verificar que

no Brasil, da população economicamente ativa, apenas 30,34% têm carteira

assinada e está coberta pelo SAT, sendo assim uma parcela considerável da

população trabalhadora não está protegida pela seguridade social e não faz parte

das estatísticas dos casos de ler/dort.

3.7.1 Nomenclatura ler/dort

A sigla LER – Lesões por Esforços Repetitivos é a tradução de

RSI (repetition strain injuries), utilizado inicialmente na Austrália e definida como

doenças músculotendinosas dos membros superiores, ombros e pescoço,

causada pela sobrecarga de um grupo muscular particular (BROWNE et al.,

1984).

Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT

é a tradução escolhida pela Previdência Social brasileira da terminologia Work

Related Musculoskeletal Disorders. Vários autores preferem essa nomenclatura

“guarda-chuva” por permitir reconhecimento de maior variedade de entidades

mórbidas, bem definidas ou não, causadas pela interação de fatores laborais os

mais diversos, retirando a falsa idéia de que o quadro clínico se deve a apenas

um fator de risco, ou que haja necessariamente uma lesão orgânica, ou que se

restrinja a uma só localização (KUORINKA e FORCIER, 1995).

Esta terminologia tende a substituir assim, as nomenclaturas

utilizadas até então, como Lesões por Esforços Repetitivos – LER, Lesões por

Traumas Cumulativos – LTC, Distúrbio Cervicobraquial Ocupacional – DCO e

Síndrome do Overuse – OS.

A sigla DORT é a terminologia adotada pelo INSS através da

Norma técnica sobre Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho

(DSS Nº 606, publicada no DOU em 19 de agosto de 1998) e atualizada através

da Instrução Normativa do mesmo órgão (INSS/DC Nº 98, publicada no DOU em

10 de dezembro de 2003), que amplia o conceito para uma síndrome clínica

caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não de alterações objetivas e que

se manifesta, principalmente no pescoço, cintura escapular ou membros

superiores em decorrência do trabalho, podendo afetar tendões, músculos e

nervos periféricos.

Page 53: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

52

A instrução normativa do INSS assim define ler/dort:

Entende-se ler/dort como uma síndrome relacionada ao trabalho,caracterizada pela ocorrência de vários sintomas concomitantes ou não,tais como: dor, parestesia, sensação de peso, fadiga, de aparecimentoinsidioso, geralmente nos membros superiores, mas podendo acometermembros inferiores. Entidades neuro-ortopédicas definidas comotenossinovites, sinovites, compressões de nervos periféricos, síndromesmiofaciais, que podem ser identificadas ou não. Freqüentemente sãocausa de incapacidade laboral temporária ou permanente. Sãoresultado da combinação da sobrecarga das estruturas anatômicas dosistema osteomuscular com a falta de tempo para sua recuperação. Asobrecarga pode ocorrer seja pela utilização excessiva de determinadosgrupos musculares em movimentos repetitivos com ou sem exigência deesforço localizado, seja pela permanência de segmentos do corpo emdeterminadas posições por tempo prolongado, particularmente quandoessas posições exigem esforço ou resistência das estruturasmúsculoesqueléticas contra a gravidade. A necessidade deconcentração e atenção do trabalhador para realizar suas atividades e atensão imposta pela organização do trabalho, são fatores que interferemde forma significativa para a ocorrência das ler/dort (BRASIL, 2003).

3.7.2 O fenômeno ler/dort no Brasil

No Brasil, as ler/dort foram primeiramente descritas como

tenossinovite ocupacional e foram apresentados, no XII Congresso Nacional de

Prevenção de Acidentes do Trabalho - 1973, casos de tenossinovite ocupacional

em lavadeiras, limpadoras e engomadeiras, recomendando-se que fossem

observadas pausas de trabalho para aqueles que operavam intensamente com as

mãos (BRASIL, 2003).

Em novembro de 1986, foi publicada a Circular de Origem nº

501.001.55 nº 10, pela qual a Previdência Social orientava as Superintendências

regionais para que reconhecessem a tenossinovite como doença do trabalho.

Em 6 de agosto de 1987, foi publicada a Portaria nº 4.062,

reconhecendo que “a tenossinovite do digitador” podia ser considerada uma

doença ocupacional. Também essa Portaria enquadrava a “síndrome” no

parágrafo 3º, do artigo 2º da Lei nº 6.379/76 como doença do trabalho e estendia

a peculiaridade do esforço repetitivo a determinadas categorias, além dos

digitadores, tais como datilógrafos, pianistas, entre outros.

Em 23/11/90, é publicada a Portaria nº 3.751, do Ministério do

Trabalho, alterando a NR 17 e atualizando a Portaria nº 3.214/78 estabelecendo,

por exemplo, que “nas atividades que exigissem sobrecarga muscular estática ou

Page 54: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

53

dinâmica do pescoço, ombros, dorso e membros superiores e inferiores, a partir

da análise ergonômica do trabalho”, o sistema de avaliação de desempenho para

efeito de remuneração e vantagens de qualquer espécie devia levar em

consideração as repercussões sobre a saúde do trabalhador (BRASIL, 1990).

Em 1991, o Ministério da Previdência Social, nas suas Normas

Técnicas para Avaliação de Incapacidade, publicou as normas referentes às LER,

que continham critérios de diagnóstico e tratamento, ressaltavam aspectos

epidemiológicos com base na experiência do Núcleo de Saúde do Trabalhador do

INSS de Minas Gerais.

Em 1992, o Sistema Único de Saúde, por meio da Secretaria de

Estado da Saúde de São Paulo e das Secretarias de Estado do Trabalho e Ação

Social e da Saúde de Minas Gerais publicaram resoluções sobre o assunto.

Em 1993, o INSS publicou uma revisão das suas normas sobre

LER, ampliando o seu conceito, reconhecendo na sua etiologia além dos fatores

biomecânicos, os relacionados à organização do trabalho.

Em 1998, em substituição às normas de 1993, o INSS publicou a

OS Nº 606/98, atualizando novamente os conceitos e introduzindo o quadro de

relação entre o trabalho e algumas patologias (BRASIL, 1998).

Em 2003, em substituição à ordem de serviço de 1998, o INSS

publicou a Instrução Normativa IN – Nº 98/03 revogando a ordem de serviço

anterior e atualizando os conceitos de ler/dort (BRASIL, 2003).

3.7.3 Diagnóstico de ler/dort

A complexidade do fenômeno das ler/dort é reconhecida quando

exigida a noção de multifatoriedade que a envolve por não se tratar de um mal de

única etiologia. Esta multifatoriedade supera a noção de que a repetitividade de

movimentos seja a causa única do adoecimento (MAENO, 2001).

Colombini et al. (2005), comentando os fatores causais de

distúrbios ocupacionais relacionados à questão ler/dort cria duas relações de

fatores, uma que podemos relacionar a questão ocupacional e outra que não tem

relação com as atividades ocupacionais, conforme descritas no quadro 1.

Page 55: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

54

QUADRO 1Fatores causais de distúrbios osteomusculares

Ocupacionais Não ocupacionais

Movimentos repetitivos

Alta freqüência e velocidade da linha

Uso de força Sexo

Postura inadequada Idade

Compressões das estruturas anatômicas Traumas e fraturas

Período de recuperação insuficiente Patologias crônicas

Vibrações Condições hormonais

Desergonomia dos instrumentos/ferramentas Atividades em tempo livre

Uso de luvas Estrutura antropométrica

Exposição ao frio Condições psicológicas

Trabalho por empreitada

Divisão do trabalho

Inexperiência com o trabalho

Fonte: Colombini et al., 2005, p.19

No quadro 1 é possível verificar a quantidade de fatores

ocupacionais e não ocupacionais envolvidos na questão ler/dort, sendo assim o

seu diagnóstico requer uma investigação cuidadosa, em função da

multifatoriedade de fatores envolvidos, principalmente os aspectos sociais,

psicológicos, trabalhista e previdenciário.

Segundo Maeno (2001) para um bom diagnóstico de ler/dort é

preciso conceber um fluxo na investigação (figura 1), partindo-se de profissionais

de medicina do trabalho que dominam os programas oficiais como Programa de

Controle Médico de Saúde Ocupacional e direcionando-se as especialidades

como clínicas em geral, ortopedia, reumatologia, fisiatria, neurologia e outros.

Page 56: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

55

Quadro 1. Usos da anamnese ocupacional na investigação diagnóstica

1º atendimento

Medicina do trabalho Clínicas em geral

Caso clínico: alteração desaúde ou doença

História de exposições: identificar ecaracterizar exposição

Pesquisar agravo ou alteração desaúde: HMA, ISDA, EF, EC

História de exposições: identificar ecaracterizar exposição

Não

Sim

Sim Não

Doença dotrabalho típica

Diagnóstico sindrômicoindiferenciado

Alteração atípica, evoluçãoincaracterística etc.

Excluir causas não ocupacionais

Conclusão

Suspeita de alteração de saúde ou doença

Figura 1 – Uso da anamnese ocupacional na investigação de ler/dortFonte: Maeno, 2001, p.7

Segundo Maeno (2001) o diagnóstico de ler/dort ou a sua

refutação deve ser precedida de uma investigação sobre agravos ou alterações

de saúde e começa com a história da moléstia atual – HMA, conforme o fluxo da

figura 1.

As queixas mais comuns entre os trabalhadores com ler/dort são

as dores, localizada, irradiada ou generalizada, desconforto, fadiga e sensação de

peso. Muitos relatam formigamento, dormência, sensação de diminuição de força,

edema e enrijecimento muscular, choque, falta de firmeza nas mãos, sudorese

excessiva, alodínea (sensação de dor como resposta a estímulos não nocivos em

pele normal).

Após este passo é preciso realizar um interrogatório sobre

diversos aparelhos – ISDA, uma avaliação, como em qualquer caso clínico, é

importante que outros sintomas ou doenças sejam investigados. Segundo Maeno

é fundamental entender se os sintomas ou doenças mencionados podem ter

influência na determinação e agravamento do caso, pois existem várias situações

que podem causar ou agravar sintomas osteomusculares ou do sistema nervoso

Page 57: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

56

periférico, como por exemplo, trauma, doenças do colágeno, artrites, diabetes

mellitus, hipotireoidismo, anemia megaloblástica, algumas neoplasias, artrite

reumatóide, espondilite anquilosante, esclerose sistêmica, polimiosite, gravidez e

menopausa.

Para Maeno (2001) é importante ressaltar que para ser

significativo como causa, o fator não ocupacional precisa ter intensidade e

freqüência similar àquela dos fatores ocupacionais conhecidos.

O achado de uma patologia não ocupacional não descarta de formaalguma a existência concomitante de ler/dort. Não esquecer que umpaciente pode ter 2 ou 3 problemas ao mesmo tempo. Não há regramatemática neste caso: é impossível determinar com exatidão aporcentagem de influência de fatores laborais e não laborais efreqüentemente a evolução clínica nos dá maiores indícios a respeito(MAENO, 2001, p.7).

No fluxo estabelecido por Maeno, o terceiro passo da pesquisa

sobre agravos da saúde é a realização de exames físicos – EF do sistema

osteomuscular e por fim os exames complementares – EC se necessário para o

diagnóstico.

Para Couto et al. (1998) a dificuldade do diagnóstico chega ao

ponto que alguns pacientes desenvolvem quadros dolorosos de membros

superiores, mas não apresenta os sinais objetivos da presença de afecções que

possa ser diagnosticada uma doença, apenas com os recursos disponíveis no

consultório médico. Algumas vezes, quando os pacientes apresentam um

conjunto de sintomas e de comportamentos em que o próprio autor denomina de

“fenômeno LER” tem-se que contentar apenas com os achados obtidos nos

interrogatórios feitos com os pacientes.

Para uma boa investigação e avaliação médica do paciente para

estabelecer se há ou não relação com o trabalho (COUTO et al., 1998 p.176)

relembra uma afirmação de Ramazzini de 1700:

O médico que vai atender a um trabalhador não se deve limitar a pôr amão no pulso, com pressa, assim que chegar, sem se informar das suascondições. Não delibere de pé sobre o que convém ou não convémfazer, como se não lidasse com uma vida humana.

Page 58: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

57

3.8 A saúde e o trabalho

O conceito de saúde formulado na Constituição da Organização

Mundial de Saúde – OMS que define “a saúde como um estado de completo bem

estar físico, mental e social, e não somente a ausência de afecções ou

enfermidades” necessita, sem dúvida, de uma revisão, quando pensamos

especialmente em saúde no local de trabalho.

Christophe Dejours faz uma análise crítica ao conceito de saúde

da OMS, desenvolvendo a idéia que a saúde das pessoas é um assunto ligado às

próprias pessoas e afirma ser impossível definir um estado completo de bem estar

e que esse estado é impossível de se atingir (DEJOURS, 1992).

No local de trabalho, a saúde dos trabalhadores sofre influências

das condições ambientais (físicas, químicas e biológicas) e da forma como é

organizado. As condições de trabalho afetam em particular o corpo físico

enquanto as formas de organização do trabalho atuam sobre a saúde mental.

Assim sendo, a saúde no trabalho passa não só pela melhoria

das condições de trabalho, mas principalmente, pelo grau de liberdade que as

pessoas têm de se organizar no trabalho, possibilitando o desenvolvimento pleno

de suas habilidades (LIANZA, 2003).

A partir desses pressupostos, Dejours (1992) propõe uma nova

definição: “A saúde para cada homem, mulher ou criança é ter meios de traçar um

caminho pessoal e original, em direção ao bem-estar físico, psíquico e social”.

Christophe Dejours em sua obra “A loucura do trabalho” dedica

uma parte do primeiro capítulo para discutir os mecanismos de defesa individual

do organismo humano contra a organização do trabalho, instituída por Taylor na

“Administração Científica”, usando como exemplo o trabalho repetitivo.

Segundo Dejours (1992) quando Taylor retira, o por ele chamado

de “tempos mortos”, além de aumentar o ritmo e a repetitividade retira do

trabalhador o tempo para regulagens psíquicas e essenciais para assegurar a

proteção da saúde mental.

Para Doppler (2007), as relações entre trabalho e saúde dizem

respeito a várias disciplinas, entre as quais pode-se citar a ergonomia, a medicina

do trabalho, a toxicologia e a sociologia, dentre outras, e a gestão da segurança e

Page 59: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

58

saúde no trabalho, dentro desse contexto multidisciplinar, torna-se necessária

para o equilíbrio dessas condicionantes.

O ponto de vista mais amplamente admitido é que o trabalho prejudica asaúde; um outro ponto de vista menos difundido é que a saúde énecessária para a realização do trabalho. Mas o trabalho pode sertambém uma fonte de saúde e de realização pessoal (DOPPLER, 2007,p.47).

3.9 A gestão da segurança e saúde no trabalho

A segurança do trabalho estuda, através de metodologias e

técnicas apropriadas, as possíveis causas de acidentes e doenças no trabalho

objetivando a prevenção de suas ocorrências. Para alcançar estes objetivos

propostos a segurança deve realizar o planejamento e controle das condições de

dos ambientes de trabalho, através da identificação, avaliação e eliminação dos

riscos existentes nos locais de trabalho (PACHECO, 2000).

A gestão da segurança e saúde no trabalho, de acordo com

Araujo (2001), vem sendo tratada com mais seriedade pelas organizações a partir

do advento da busca da certificação da qualidade pela série ISO 9000 a partir de

1994. As empresas estão descobrindo que os sistemas de gestão de qualidade

podem servir também de base para o tratamento eficaz de questões relativas à

segurança e saúde no trabalho.

No âmbito mundial foram criadas ainda as normas internacionais

BS 8800 (Guide to occupational health and safety management systems), em

1996 e a OHSAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series) em

1999, especificamente para a Gestão de Saúde e Segurança do Trabalho. No

Brasil já existe uma grade quantidade de empresas que procuraram os órgãos

certificadores para o planejamento e implementação desses sistemas de gestão

(ARAUJO, 2001).

Essas normas têm como objetivo auxiliar as organizações a

estruturarem um sistema eficiente de gestão da saúde e segurança do trabalho

tendo como uma das premissas em seu planejamento a implementação de

identificação de perigos e a gestão de riscos.

A gestão de riscos é um elemento central na gestão estratégica

de qualquer organização. É o processo através do qual as organizações analisam

Page 60: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

59

metodicamente os riscos inerentes às respectivas atividades, com o objetivo de

terem controle dos seus processos.

O ponto central de uma boa gestão de riscos é a identificação e

tratamento destes de forma a deixá-los dentro de limites aceitáveis, conforme

esquema demonstrado na figura 2.

PR

OC

ES

SOD

EA

VAL

IAÇ

ÃO

DE

RIS

CO

S

MO

NIT

OR

AM

EN

TO

EA

LIS

EC

RÍT

ICA

CO

MU

NIC

ÃO

EC

ON

SU

LT

A

ESTABELECIMENTO DOS CONTEXTOS

IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS

ANÁLISE DE RISCOS

AVALIAÇÃO DE RISCOS

TRATAMENTO DE RISCOS

PR

OC

ES

SOD

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ESTABELECIMENTO DOS CONTEXTOS

IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS

ANÁLISE DE RISCOS

AVALIAÇÃO DE RISCOS

TRATAMENTO DE RISCOS

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ESTABELECIMENTO DOS CONTEXTOS

IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS

ANÁLISE DE RISCOS

AVALIAÇÃO DE RISCOS

TRATAMENTO DE RISCOS

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A

ESTABELECIMENTO DOS CONTEXTOS

IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS

ANÁLISE DE RISCOS

AVALIAÇÃO DE RISCOS

TRATAMENTO DE RISCOS

Figura 2 – Esquema do processo de gerenciamento de riscosFonte: AS/NZS 4360, 2004

A figura 2 apresenta, segundo a norma da Standards Australia e

Standards New Zealand AS/NZS 4360 (2004), a seqüência lógica de um processo

de gerenciamento de riscos que deve integrar as seguintes fases:

1. Comunicação e consulta: Comunicar e consultar as partes envolvidas

internas ou externas a organização.

2. Estabelecimento dos contextos: Estabelecer os contextos interno, externo

e os critérios em relação aos quais os riscos serão avaliados.

3. Identificação de riscos: Identificar onde, quando, por que e como os

eventos podem impedir, atrapalhar, atrasar ou melhorar o alcance dos

objetivos.

4. Análise de riscos: Identificar e avaliar os controles existentes, determinar

as conseqüências, a probabilidade e, por conseguinte, o nível de risco.

Page 61: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

60

5. Avaliação de riscos: Comparar os níveis de risco estimados com os

critérios estabelecidos previamente e considerar o balanço entre os

benefícios potenciais e os resultados adversos.

6. Tratamento de riscos: Desenvolver e implementar estratégias e planos de

ação específicos e econômicos para aumentar os benefícios potenciais e

reduzir os custos potenciais.

7. Monitoramento e análise crítica: É necessário monitorar a eficácia de todas

as etapas do processo de gestão de riscos no sentido de promover a

melhoria contínua.

Para monitorar com eficácia as etapas de um processo de

gestão de riscos é preciso aplicar o ciclo de Shewhart, mais conhecido como o

ciclo do PDCA, Plan, Do, Check e Act que pode ser traduzido para o português

como Planejar, Executar, Verificar e Agir, conforme figura 3.

Padronização

Ação

Análise

Observação

ConclusãoEvitar que acausa volte aacontecer

VerificaçãoO problemafoi resolvido?

Garantir aexecução do plano

Refletir sobre oque aprendeu

Por que ocorre?

Plano deação

O que fazer paraeliminar a causa?

Como ocorre?

Identificação doProblema

Escolher o problema emostrar sua importância

PadronizaçãoPadronização

AçãoAção

AnáliseAnálise

ObservaçãoObservação

ConclusãoConclusãoEvitar que acausa volte aacontecer

VerificaçãoO problemafoi resolvido?

Garantir aexecução do plano

Refletir sobre oque aprendeu

Por que ocorre?

Plano deação

O que fazer paraeliminar a causa?

Como ocorre?

Identificação doProblema

Escolher o problema emostrar sua importância

Figura 3 – Ciclo do PDCAFonte: Adaptado de Cardella, 1999

Page 62: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

61

A aplicação do ciclo do PDCA, conforme ilustrado na figura 3, em

um processo de gerenciamento de riscos pode-se iniciar com a fase de

planejamento do processo como um todo, englobando as fases de comunicação e

consulta, estabelecimento dos contextos, definição dos métodos a serem

aplicados nas análises de perigos e riscos e treinamento de pessoal para

execução das análises.

A fase de execução pode ser representada pelo levantamento de

perigos e riscos, análise dos meios de controle existentes sobre esses perigos,

avaliação para se conhecer em que níveis os riscos se encontram, definição das

ações de eliminação dos agentes perigosos, substituição por outro agente menos

perigoso.

A redução dos riscos pode-se dar pelo controle dos perigos na

fonte, instalação de barreiras físicas, implantação de medidas de caráter

administrativo, adoção de equipamentos de proteção individual ou elaboração de

procedimentos e uma vez escolhidos os meios de controle que serão

empregados, finalmente planejar a implementação destas ações.

A fase de verificação pode ser apresentada com a análise dos

resultados obtidos, a partir da implementação das ações, e com a reavaliação dos

riscos para verificação de sua eficácia. Nesta fase é que são analisados os

indicadores escolhidos para medição dos resultados.

Na fase de ação verifica-se se os meios de controle

implementados sobre os perigos são suficientes para mantê-los a níveis de riscos

aceitáveis pela organização, realiza-se a padronização, sua abrangência agrega-

se o conhecimento do processo de gestão de riscos na cultura organizacional

fechando assim o ciclo do PDCA.

Para identificação e gestão dos riscos ambientais de uma

organização é necessário, em primeiro lugar, conhecer quais são os agentes de

riscos apresentados pela empresa em questão, se estes são de ordem física,

química, biológica, ergonômica, mecânica, ou combinados entre si, os quais

sejam capazes de causar acidentes ou doenças ocupacionais, em função de sua

natureza, concentração, intensidade e tempo de exposição, sendo que o objetivo

central da Gestão de Riscos é manter os riscos associados à organização abaixo

dos valores tolerados (CARDELLA, 1999, p. 70).

Page 63: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

62

Para a gestão dos riscos de ler/dort, Colombini et al. (2005),

propõe um fluxo para análise de risco, conforme figura 4.

IDENTIFICAÇÃO(INDICADORES DEPOSSÍVEL RISCO)

NÃO

SIMNÃO INTERVENÇÃO

ESTIMATIVADO RISCO

NÃO SIGNIFICATIVO

RISCOPRESENTE

VIGILÂNCIASANITÁRIA

ANÁLISEDETALHADA

DO RISCO(FACULTATIVO)

INTERVENÇÕESPARA

REDUÇÃO DE RISCO1º NÍVEL: CASOSPROBLEMÁTICOS

2º NÍVEL: DIAGNÓSTICO EJULGAMENTO DE

IDONEIDADESOBRE CASOS

PROBLEMÁTICOS

GESTÃOESTATÍSTICA

PROCEDIMENTOSMÉDICO – LEGAIS

REINTEGRAÇÃONO TRABALHO

REAVALIAÇÃO DERISCO RESIDUAL

IDENTIFICAÇÃO(INDICADORES DEPOSSÍVEL RISCO)

NÃO

SIMNÃO INTERVENÇÃO

ESTIMATIVADO RISCO

NÃO SIGNIFICATIVO

RISCOPRESENTE

VIGILÂNCIASANITÁRIA

ANÁLISEDETALHADA

DO RISCO(FACULTATIVO)

INTERVENÇÕESPARA

REDUÇÃO DE RISCO1º NÍVEL: CASOSPROBLEMÁTICOS

2º NÍVEL: DIAGNÓSTICO EJULGAMENTO DE

IDONEIDADESOBRE CASOS

PROBLEMÁTICOS

GESTÃOESTATÍSTICA

PROCEDIMENTOSMÉDICO – LEGAIS

REINTEGRAÇÃONO TRABALHO

REAVALIAÇÃO DERISCO RESIDUAL

Figura 4 – Fluxo para análise de risco de ler/dortFonte: Colombini et al. (2005, p.27)

O fluxo representado na figura 4 representa, segundo Colombini

et al. (2005), um esquema geral de intervenção para avaliação do risco ligado a

movimentos repetitivos dos membros superiores. Este fluxo demonstra duas

linhas de trabalho com relação aos riscos de ler/dort, uma que atua

Page 64: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

63

preventivamente na redução dos riscos e outra que trata da análise a partir de

estudo de casos de adoecimento através da vigilância sanitária.

Neste contexto, a aplicação de um método técnico-científico para

a identificação, avaliação, análise e tratamento dos riscos de ler/dort das

organizações torna-se necessária para uma gestão eficaz da saúde dos

trabalhadores.

3.10 A ergonomia

Atualmente a ergonomia é solicitada para intervir em situações

cujas problemáticas variam desde a concepção de postos de trabalho

extremamente automatizados, passando por atividades de trabalho estritamente

manual ou, ainda, por queixas relacionadas à saúde dos trabalhadores, em

particular, as decorrentes dos distúrbios osteomusculares relacionados ao

trabalho.

3.10.1 Conceitos fundamentais

A origem do termo ergonomia relaciona-se ao ano de 1857,

quando Jastrezebowisky publicou um artigo intitulado "ensaios de ergonomia ou

ciência do trabalho". O tema é retomado quase cem anos depois, quando em

1949, um grupo de cientistas e pesquisadores se reúne, interessado em

formalizar a existência desse novo ramo de aplicação interdisciplinar da ciência.

Em 1950, durante a segunda reunião deste grupo, foi proposto o

neologismo "ERGONOMIA", formado pelos termos gregos ergon (trabalho) e

nomos (regras) (COUTO et al., 1998).

Funda-se assim no início da década de 50, na Inglaterra, a

Ergonomics Research Society. Em 1955, é publicada a obra "Análise do

Trabalho" de Obredane & Faverge que, torna-se decisiva para a evolução da

metodologia ergonômica. Nesta publicação é apresentada de forma clara a

importância da observação das situações reais de trabalho para a melhoria dos

meios, métodos e ambiente do trabalho (DELIBERATO, 2002).

Nos Estados Unidos, a ergonomia é denominada como Human

Factors (fatores humanos). W. T. Singleton, em 1972, definia a Ergonomia como

Page 65: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

64

"uma tecnologia da concepção do trabalho baseada nas ciências da biologia

humana". (COUTO et al., 2007).

A Ergonomia é definida por Laville (1977) como "o conjunto de

conhecimentos a respeito do desempenho do homem em atividade, a fim de

aplicá-los à concepção de tarefas, dos instrumentos, das máquinas e dos

sistemas de produção". Segundo este autor, distinguem-se habitualmente dois

tipos de ergonomia, uma de correção e outra de concepção. A primeira procura

melhorar as condições de trabalho existentes e é freqüentemente parcial e de

eficácia limitada, a segunda, de concepção, ao contrário, tende a introduzir

conhecimentos sobre o homem, desde o projeto do posto, do instrumento, da

máquina ou dos sistemas de produção até sua própria aplicação.

Para Wisner (1987, p.12) a ergonomia tinha a seguinte definição:

O conjunto de conhecimentos científicos relativos ao homem enecessários para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivosque possam ser utilizados com o máximo de conforto, segurança eeficácia.

A Ergonomics Research Society, da Inglaterra, define ergonomia

como sendo o estudo do relacionamento entre o homem e seu trabalho,

equipamento e ambiente e, particularmente, a aplicação dos conhecimentos de

anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas surgidos destes

relacionamentos (ERGONOMICS RESEARCH SOCIETY, 2000).

A definição de Ergonomia mais atual é o da International

Ergonomics Association – IEA, aprovado em agosto de 2000 no Congresso

Trienal de Ergonomia, realizado em San Diego, Califórnia:

A disciplina científica que trata da compreensão das interações entre osseres humanos e outros elementos de um sistema, e a profissão queaplica teorias, princípios, dados e métodos, a projetos que visamotimizar o bem estar humano e a performance global dos sistemas (IEA,2007).

A reunião do conselho científico dessa associação também

aprovou que, através das características de especializações a ergonomia pode se

dar em três domínios diferentes:

Page 66: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

65

Ergonomia física - refere-se aos aspectos relacionados à anatomia

humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua relação com a

atividade física;

Ergonomia cognitiva - refere-se aos processos mentais como percepção,

memória, raciocínio e resposta motora, conforme afetam interações entre

seres humanos e outros elementos do sistema;

Ergonomia organizacional - relacionada à otimização dos sistemas sócio-

técnicos, incluindo suas estruturas organizacionais, políticas e processos.

Segundo Santos e Fialho (1997, p.53) a ergonomia visa também

outros benefícios para a sociedade assim definindo-a:

Ergonomia tem como finalidade conceber e/ou transformar o trabalho demaneira a manter a integridade da saúde dos operadores e atingirobjetivos econômicos e os ergonomistas são profissionais que têmconhecimento sobre o funcionamento humano e estão prontos a atuarnos processos projetuais de situações de trabalho, interagindo nadefinição da organização do trabalho, nas modalidades de seleção etreinamento, na definição do mobiliário e ambiente físico de trabalho.

A Ergonomia reúne conhecimentos relativos ao homem e

necessários à concepção de instrumentos, máquinas e dispositivos que possam

ser utilizados com o máximo de conforto, segurança e eficiência ao trabalhador. A

ergonomia procura estudar as características materiais do trabalho, como o peso

dos instrumentos, a resistência dos comandos e dimensão do posto de trabalho, o

meio ambiente físico (o ruído, iluminação, vibrações e ambiente térmico), a

duração da tarefa, os horários, as pausas no trabalho, os modelos de treinamento

e aprendizagem, as formas de liderança e os modos operatórios das atividades

(VIDAL, 2002).

Além disso, a ergonomia procura realizar diversos tipos de

análises do ponto de vista físico, sensorial e mental. Assim, destina-se à

realização de análises do trabalho propriamente dita.

3.10.2 Breve histórico da ergonomia no Brasil

No Brasil, segundo Moraes (1989), a ergonomia surgiu

aproximadamente em 1960, quando Sergio Penna Kehl faz uma abordagem

sobre o tema no curso de Engenharia de Produção da USP.

Page 67: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

66

Em 1966, o professor Karl Heinz Bergmiller inicia o ensino da

ergonomia para o desenvolvimento de projetos e produtos na Escola Superior de

Desenho Industrial, e em 1967, os professores e psicólogos Rozestraten e

Stephaneck implantaram uma linha de Psicologia Ergonômica na USP de

Ribeirão Preto, com ênfase na percepção visual com aplicação no trânsito.

Nesta época, o professor Alberto Mibielli de Carvalho

apresentava a ergonomia aos estudantes de Medicina da Universidade Federal

do Rio de Janeiro – UFRJ e depois na Universidade Estadual do Rio de Janeiro –

UERJ.

Em 1968, Itiro Iida passa a lecionar na pós-graduação da

Engenharia de Produção na UFRJ, fazendo do curso um centro de conhecimento

de ergonomia.

Gonçalves (1998) relata que, em 1969, é introduzida a disciplina

de Engenharia Humana baseada na obra de Chapanis de 1965, no Mestrado em

Engenharia Industrial na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC, atual

Engenharia de Produção.

Em 1970, o professor e psicólogo Franco Lo Presti Seminério

propicia a vinda do professor Alain Wisner ao Brasil, que possibilitou um grande

incentivo para a ergonomia brasileira quando orientou muitos trabalhos da

Fundação Getúlio Vargas, sendo implantado o primeiro curso de especialização

em 1975, nesta Instituição.

Na década de 70 a ergonomia deu um grande impulso com o

professor Itiro Iida na Coordenação dos Programas de Pós-Graduação de

Engenharia – COPPE/UFRJ, que além dos cursos de graduação e pós-

graduação, organizou com Colin Palmer um curso que deu origem ao primeiro

livro editado em português.

Em 1979, através de aprovação do currículo mínimo, a

ergonomia transforma-se em disciplina obrigatória para o curso de Especialização

em Projeto de Produto e em Programação Visual, na Escola Superior de Desenho

Industrial do Rio de Janeiro, e em 1987, o Conselho Federal de Educação aprova

o novo currículo.

Em agosto de 1983 é fundada a Associação Brasileira de

Ergonomia – ABERGO (ABERGO, 2007) e, em 1987, foram realizados o Terceiro

Seminário Brasileiro de Ergonomia e o Primeiro Congresso Latino Americano de

Page 68: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

67

Ergonomia, em São Paulo e finalmente, em 1993, é criado na UFSC o primeiro

Mestrado em ergonomia do Brasil, através da Engenharia de Produção.

No Brasil, os primeiros aspectos relativos à ergonomia estão

inseridos na legislação através da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, nos

artigos 198 e 199 da seção XIV, com o título “Da prevenção da fadiga” do capítulo

V que trás o título “Da segurança e da medicina do trabalho”, que tratam do peso

máximo que um empregado pode remover individualmente e a obrigatoriedade de

colocação de assentos para posturas corretas dos trabalhadores no trabalho

sentado, respectivamente.

Em 1978 foram aprovadas as Normas Regulamentadoras – NR

relativas à segurança do trabalho, através da Portaria 3214/78, porém, somente

em 1990, considerando a evolução das relações de trabalho, se fez uma revisão

completa da redação da NR 17 – Ergonomia, através da Portaria 3751/90

(BRASIL, 1990).

Como fundamentação técnica a NR 17 “visa estabelecer

parâmetros que permitem a adaptação das condições do trabalho às

características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um

máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente” (ARAUJO, 2003).

Ressalta-se a importância da aplicação da Ergonomia no

planejamento e organização das diversas áreas não apenas pelo aspecto

normativo, mas considerando que além de conter princípios de utilização coletiva,

consiste em uma metodologia que analisa e visa adequar o trabalho aos

trabalhadores e, conseqüentemente, aos objetivos pretendidos pela empresa.

Como observou Villar (2002), a contribuição de estudiosos

internacionais foi de grande importância para o desenvolvimento da ergonomia no

Brasil e nas transformações no mundo do trabalho. O conceito de trabalho

comporta uma série de nuances e as dificuldades conceituais enfrentadas pela

ergonomia são análogas às encontradas por outras disciplinas que lidam com

este objeto de estudo.

3.10.3 A ergonomia no trabalho

Fatores como recessão, concorrência, incertezas do cenário

econômico, busca constante da redução de custos e aumento da produtividade,

Page 69: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

68

levam as empresas a novos desafios e a rearranjos organizacionais que podem

desencadear um processo de adoecimento onde estejam presentes fatores

desfavoráveis de biomecânica ocupacional e de organização do trabalho.

É necessário conhecer estes fatores biomecânicos, como

posturas inadequadas, excesso de força, compressões de tecidos moles e

repetitividade presente no ambiente laboral, bem como os fatores de organização

do trabalho como métodos, objetivos e metas, procedimentos e estratégias

utilizadas pela empresa que estão presentes nas atividades de trabalho.

A falta de dados sobre a correlação entre estes fatores e os

casos de adoecimento pode, inclusive, comprometer a realização de uma

intervenção ergonômica que teria potencial para adequar o trabalho às

capacidades psicofisiológicas dos trabalhadores.

Dados biomecânicos, principalmente para avaliar posturas,

podem ser levantados com protocolos, como o método OWAS de Karhu, Kansi &

Kuorinka (1977) para análise de corpo inteiro em situação de trabalho dinâmico,

desenvolvido inicialmente para a indústria e bastante utilizado em outras

atividades ou o método RULA de McAtamney e Corlett (1993) para análise de

posturas de membros superiores, principalmente em situações de trabalho de

caracterização mais estática.

A ergonomia tem como objeto de estudo, o homem no seu

contexto de trabalho realizando suas atividades do cotidiano, independentemente

da sua linha de atuação ou das estratégias e métodos que utiliza.

Esse trabalho real e concreto compreende o trabalhador,

operador ou usuário no seu local de trabalho, enquanto executa sua tarefa, com

suas máquinas, ferramentas, equipamentos e meios de trabalho, num

determinado ambiente físico e arquitetural, com seus chefes e supervisores,

colegas de trabalho e companheiros de equipe, interações e comunicações

formais e informais, num determinado quadro econômico-social, ideológico e

político (MORAES, 2007).

Segundo Vidal (2002) a primeira etapa de uma intervenção

ergonômica é definida como “apreciação ergonômica”, e a descreve como sendo

uma fase exploratória que compreende o mapeamento dos problemas

ergonômicos da empresa. A apreciação ergonômica consiste na sistematização

homem-tarefa-máquina e na delimitação dos problemas ergonômico-posturais,

Page 70: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

69

informacionais, acionais, cognitivos, comunicacionais, interacionais,

deslocacionais, movimentacionais, operacionais, espaciais e físico-ambientais. A

conclusão desta etapa é a hierarquização dos problemas, priorização dos postos

a serem diagnosticados e modificados e sugestões preliminares de melhoria.

De acordo com o manual de aplicação de ergonomia do

Ministério do Trabalho:

A análise ergonômica do trabalho é um processo construtivo eparticipativo para a resolução de um problema complexo que exige oconhecimento das tarefas, da atividade desenvolvida para realizá-las edas dificuldades enfrentadas para se atingir o desempenho e aprodutividade exigidos (BRASIL, 2002b).

Segundo Kee, Karwowski e Luba (2001) a análise de riscos com

relação aos problemas ergonômicos requer a identificação de perigos (fatores de

risco) e a quantificação destes fatores para a análise e tomada de decisão. Para

tanto é necessário aplicar metodologias e técnicas apropriadas às possíveis

causas de doenças e acidentes de trabalho, visando solucionar exigências de

melhorias nas condições de trabalho.

Hendrick (2003), proferindo uma palestra na Human Factors and

Ergonomics Society coloca muito bem em seu discurso que não podemos esperar

que os tomadores de decisões nas organizações ajam pró ativamente em favor

da ergonomia simplesmente por que seria a coisa certa a fazer, mas na verdade

por que os gerentes devem ser capazes de justificar qualquer investimento em

termos dos benefícios concretos que ele trará para a organização, para a

capacidade da organização em ser competitiva e sobreviver.

Nesse sentido a gestão da saúde do trabalhador, em uma

organização moderna, depende dentre outras exigências, do seu desempenho na

área de ergonomia. Por outro lado os gestores precisam de critérios confiáveis de

análises de riscos de ler/dort para direcionar os investimentos de forma eficaz

(PAVANI, 2006).

Page 71: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

70

4 MÉTODOS DE ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

Nos estudos de riscos no trabalho encontramos uma série de

classificações, porém a mais utilizada no Brasil está dividida em riscos físicos,

químicos, biológicos, de acidentes ou mecânicos e ergonômicos.

Os riscos no âmbito da ergonomia são aqueles relacionados com

fatores fisiológicos e psicológicos inerentes às atividades de trabalho e podem

produzir alterações no organismo e no estado emocional dos trabalhadores,

comprometendo sua segurança e saúde.

Na literatura sobre ergonomia existe um “certo” consenso sobre

os fatores de risco incidentes sobre o organismo humano como trabalho físico

pesado, levantamento de peso, ritmo excessivo de trabalho, monotonia, trabalho

em turnos, jornadas prolongadas, ansiedade, excesso de responsabilidades,

desconforto térmico e posturas incorretas.

Existem muitas metodologias de análise ergonômica e muitos

métodos para se realizar análises dos fatores de riscos . Na literatura disponível

encontram-se alguns que são delineados para determinar a exposição a fatores

de risco devido à sobrecarga biomecânica de todo o corpo ou somente dos

membros superiores e a correlação com as patologias ligadas a ler/dort, porém

não existem métodos de avaliação do risco que podem atender completamente

todos os critérios (COLOMBINI et al., 2005).

Alguns métodos se apresentam mais completos em sua

formulação, tanto pelo número e o tipo de deterninantes do risco em questão

quanto pela abordagem metodológica que se segue, outros se destacam por

evidenciar apenas de forma qualitativa a presença de fatores ocupacionais que

podem levar o “avaliador” em direção à possível presença de um risco.

4.1 A metodologia AET – Análise Ergonômica do Trabalho

A análise ergonômica do trabalho, pelo fato de ser realizada no

local de trabalho e em contraposição àquelas realizadas em laboratório, permite a

compreensão dos fatores que caracterizam o trabalho real, envolvendo os fatores

Page 72: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

71

físicos, psicológicos e sociais, permitindo também modificar o trabalho ao

modificar a tarefa (MONTMOLLIN, 1990, p. 119).

Segundo (WISNER, 1987 e GUÉRIN et al., 2001), a AET é

composta de três fases distintas, análise da demanda, análise da tarefa e análise

da atividade.

Na análise da demanda deve-se analisar a representatividade do

autor da demanda, a origem dos problemas, as perspectivas de ação ergonômica

e os meios disponíveis para realizá-la.

Na análise da tarefa devem-se analisar as prescrições sob as

quais os operadores realizam seu trabalho como: modos operatórios, normas de

segurança do trabalho, objetivos, metas e a tecnologia empregada como

maquinário, ferramentas, forma de organização do trabalho e condições

ambientais.

Na análise da atividade deve-se analisar o que o trabalhador

efetivamente realiza para cumprir com a tarefa, ou seja, são avaliadas as

condições de realização do trabalho, como que os operadores se comportam para

atingir os objetivos e metas definidas pela organização de acordo com as

prescrições e tecnologia empregada.

Análise da demanda:definição do problema

HipótesesDados

Análise da tarefa:análise das condiçõesde trabalho

HipótesesDados

Análise das atividades:análise doscomportamentosdo homem no trabalho

HipótesesDados

Diagnóstico:modelo operativo dasituação de trabalho

Caderno de encargosde recomendaçõesergonômicas

SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

SITUAÇÃO DE TRABALHO

Análise da demanda:definição do problema

HipótesesDados

Análise da tarefa:análise das condiçõesde trabalho

HipótesesDados

Análise das atividades:análise doscomportamentosdo homem no trabalho

HipótesesDados

Diagnóstico:modelo operativo dasituação de trabalho

Caderno de encargosde recomendaçõesergonômicas

SÍNTESE ERGONÔMICA DO TRABALHO

ANÁLISE ERGONÔMICA DO TRABALHO

SITUAÇÃO DE TRABALHO

Figura 5 – Diagrama da construção da análise ergonômica do trabalhoFonte: Adaptado de Santos e Fialho, 1997

Page 73: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

72

A figura 5 mostra uma síntese do processo de construção da

análise ergonômica do trabalho (AET) que avalia uma situação de trabalho

visando adaptá-la ao homem a partir da análise das condições técnicas,

ambientais e organizacionais (GUÉRIN, 2001).

Nas condições técnicas procura-se identificar os principais

fatores tecnológicos que influenciam a análise do trabalho: estrutura geral do

sistema de produção, fluxo de produção, sistemas de controle, sistemas de

comando e problemas críticos evidentes.

Nas condições ambientais estuda-se o espaço, o leiaute, o

mobiliário, o ambiente térmico, o acústico, o luminoso entre outros.

Como condições organizacionais de trabalho analisa-se a

definição e repartição das funções e tarefas de trabalho, a decisão e a

implantação dos meios materiais e humanos.

Segundo Santos e Fialho (1997) a análise ergonômica do

trabalho é um conjunto de técnicas comparativas que permitem uma amostragem

bastante aproximada da atividade do trabalho. Os autores comentam que a

análise ergonômica do trabalho comporta duas fases: a análise e síntese

ergonômica, conforme demonstrado na figura 5.

4.2 As técnicas de análise postural

Para a realização de suas tarefas, o trabalhador assume

diversas posturas diferentes de cada segmento corpóreo no decorrer da sua

jornada de trabalho.

Para Iida (1990), posturas são configurações que um corpo

assume ao realizar dada atividade e Grandjean (2004) destaca a importância do

esforço muscular quanto à exigência física decorrente do trabalho, em especial o

trabalho em posturas estáticas que, além de favorecer a instalação da fadiga

muscular, pode conduzir ao aparecimento de lesões.

As técnicas que se utilizam para realizar uma análise postural

têm duas características que são a sensibilidade e a generalidade. Uma alta

generalidade quer dizer que é aplicável em muitos casos, mas provavelmente

tenha uma baixa sensibilidade, quer dizer que os resultados que se obtenham

podem ser pobres em detalhes. Porém as técnicas com alta sensibilidade, onde é

Page 74: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

73

necessária uma informação muito precisa sobre os parâmetros específicos que se

medem, parecem ter uma aplicação bastante limitada (COLOMBINI et al., 2005).

Existem vários instrumentos para análise dos riscos posturais

que podem ser classificados como checklists, métodos semiquantitativos ou

métodos quantitativos.

Os checklists compreendem em respostas a um conjunto de

perguntas e os dados são interpretados como riscos em uma escala. O checlist

de Lifshitz e Armstrong (1986) leva em consideração as variáveis de estresse

físico ou mecânico, força, postura, posto de trabalho, repetitividade e as

ferramentas utilizadas para os membros superiores. O checlist de Keyserling et

al., (1993) acrescentou ao anterior cinco perguntas referentes às atividades

manuais e avaliação dos hemicorpos (direito e esquerdo) em separado. O checlist

de Couto et al. (1998), adicionou ao anterior alguns critérios relacionados à

organização do trabalho e sua relação com a quantidade de movimentos dos

membros superiores. Segundo Guimarães e Diniz (2001) estas análises são

superficiais, pois não determinam a intensidade dos fatores, apenas identificam a

presença ou não desses fatores.

Os métodos semiquantitativos se baseiam em observações

direta ou indireta, os dados são selecionados com base em perguntas e

convertidos em escalas numéricas ou diagramas. Para os critérios

semiquantitativos, o protocolo elaborado por Karhu, Kansi & Kuorinka (1977),

conhecido como OWAS, destina-se a uma avaliação da postura da coluna, dos

membros superiores e inferiores e da força muscular envolvida. O método

ARBAN, desenvolvido por Holzmann em 1982 (GUIMARÃES e DINIZ, 2001) para

análises ergonômicas do trabalho, incluindo situações de trabalho que, envolvam

posturas e movimentação manual de materiais. O instrumento de Rodgers (1992)

prioriza os segmentos corporais através do nível de esforço. O método RULA,

elaborado por Mcatamney e Corlett (1993), permite a avaliação postural de

membros superiores. O método HAMA, elaborado por Chistmansson em 1994 foi

desenvolvido para avaliar o custo postural das mãos e braços em tarefas e

atividades que requerem o uso de membros superiores e o método de Malchaire

elaborado em 1998 determina a zona corporal de maior risco, no entanto, há uma

tendência dos resultados indicarem os punhos e mãos como os segmentos

corporais de maior risco (GUIMARÃES e DINIZ, 2001). O método REBA,

Page 75: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

74

elaborado por Higgnett e Mcartamney (2000), é uma ferramenta de análise de

posturas de corpo inteiro desenvolvida para avaliar posturas de trabalhos

imprevisíveis.

Os critérios quantitativos propõem fórmulas para levantamento

de cargas como é o caso do National Institute for Occupational Safety and Health

– NIOSH (WATERS et al., 1993), para avaliação dos riscos para a coluna no

levantamento manual de carga.

O método de Moore e Garg (1995), sugere a avaliação dividindo

a carga em hemicorpo direito e esquerdo, a análise se propõe a avaliar todos os

segmentos dos membros superiores, no entanto, apenas observa critérios para

avaliação das posturas das mãos.

E por fim, o método OCRA (COLOMBINI et al., 2005), que foi

desenvolvido pela Clíinica Del Lavoro de Milão, a pedido da IEA, que calcula o

limite de ações técnicas recomendadas e o índice de exposição de membros

superiores.

Procurou-se nesta pesquisa descrever e discutir um número

limitado de métodos de avaliação dos fatores de risco que, reconhecidamente,

são validados pela comunidade científica internacional e que pelas suas

características intrínsecas e suas propagações parecem ser mais úteis ao leitor,

permitindo confrontar os resultados que os próprios autores dos vários métodos

identificaram e que serão ressaltados.

4.3 O método Rapid Upper limb Assessment – RULA

O método RULA é um instrumento ágil e veloz que permite obter

uma avaliação da sobrecarga biomecânica dos membros superiores e do pescoço

em uma tarefa ocupacional.

Como os próprios autores Mc Atamney e Corlett (1993)

enfatizam, este método deve ser utilizado em um contexto de avaliação

ergonômica geral. Essa afirmação parece evidente pelo fato que o output principal

do método é aquele de identificar a necessidade de uma análise mais profunda

dos fatores de risco específicos com outros métodos de maior sensibilidade,

portanto é um instrumento de investigação genérica como o de outros checklists.

Page 76: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

75

Este método possui três fases distintas:

1. Identificação das posturas de trabalho;

2. Aplicação de um sistema de pontuação;

3. Aplicação de uma escala de níveis de ação.

O determinante de risco nesse método é representado pelas

posturas assumidas pelos trabalhadores na jornada de trabalho. As posturas

avaliadas são as adotadas pelos membros superiores, o pescoço, o tronco e os

membros inferiores.

A metodologia é aplicada através do registro das diferentes

posturas de trabalho observadas que são classificadas através de um sistema de

escores.

O método usa diagramas de posturas do corpo e tabelas que

avaliam o risco de exposição a fatores de carga externos. A finalidade é oferecer

um método rápido para mostrar aos trabalhadores o real risco de adquirir ler/dort

e identificar o esforço muscular que está associado à postura de trabalho, força

exercida, atividade estática ou repetitiva. Para tanto, grava-se a postura de

trabalho nos planos sagital, frontal e, se possível, no transversal. A partir da

gravação, faz-se a análise da postura dividindo o corpo em dois grupos “A” e “B”.

Cada parte do corpo é dividida em seções e recebe escore

numérico a partir de 1 (um) como mínimo, que é o escore da postura com o

menor risco de lesão possível e 9 (nove) como máximo, que é o escore da

postura com o maior risco de lesão possível, o escore aumenta conforme

aumenta o risco.

GRUPO A: Braços, Antebraços e Punhos:

Escores para o braço:

1 para 15° de extensão até 15° de flexão.

2 para extensão maior que 15° ou entre 15º e 45° de flexão.

3 entre 45° a 90° de flexão.

Ombro elevado - adicionar 1 ao escore da postura.

Antebraço em abdução - adicionar 1.

Reduzir 1 do escore da postura se o operador ou seus braços estão apoiados.

Page 77: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

76

Escores para os antebraços:

1 para 0 a 90° de flexão.

2 para mais de 90° de flexão.

+1 para rotação externa.

+1 se os antebraços trabalham cruzando a linha sagital do corpo.

Escores para o punho:

1 para postura neutra.

+2 para 0° a 15° de flexão dorsal ou palmar.

+3 para mais de 15° de flexão dorsal ou palmar.

+1 se o punho está em desvio radial ou ulnar.

+2 se o punho está em pronação ou em supinação ou +1 se está na linha

neutra.

GRUPO B: Pescoço, tronco e pernas:

Escores para o pescoço:

1 para 0° a 10° de flexão.

2 para 10° a 20° de flexão.

3 para mais de 20° de flexão.

4 para extensão.

+1 se o pescoço estiver em rotação lateral.

+1 se o pescoço estiver inclinado lateralmente.

Escores para o tronco:

1 em pé ereto ou sentado bem apoiado.

+2 se o operador estiver sentado e mal apoiado.

+2 se o tronco está fletido até 20°.

+3 se o tronco estiver fletido de 20 a 60°.

+4 se o tronco estiver com mais de 60° de flexão.

+1 se o tronco estiver em rotação e +1 se estiver inclinado para o lado.

Page 78: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

77

Escores para as pernas:

+1 se as pernas e pés estão bem apoiados e o peso está bem distribuído.

+2 se as pernas e pés não estão apoiadas ou se o peso está mal distribuído.

Ao resultado dos escores de posturas dos grupos A e B são

acrescentados escores relativos ao tipo de trabalho muscular e a repetitividade e

em relação ao nível de esforço, formando o escore final, conforme demonstrado

na figura 6.

+ +

+ +

=

=

Postura Grupo A

Músculo

Força

Força

Postura Grupo B

Escore A

Escore B

Escore Final

Braço

Antebraço

Pescoço

Giro do punho

Tronco

Pernas

Punho

Músculo+ +

+ +

=

=

Postura Grupo A

Músculo

Força

Força

Postura Grupo B

Escore A

Escore B

Escore Final

Braço

Antebraço

Pescoço

Giro do punho

Tronco

Pernas

Punho

Músculo

Figura 6 – Diagrama para cálculo de escore do método RULAFonte: Adaptado de Mc Atamney e Corlett, 1993

O escore final é comparado com a classificação de níveis de

intervenção (ver tabela 2). Este escore final vai determinar as condições de

prioridades de ação através de uma gradação que vai do escore 1 (um) que

significa que este risco é aceitável ao escore 7 (sete) ou mais, que significa que

as posturas se encontram próximas dos extremos, onde medidas corretivas

imediatas e urgentes devem ser tomadas.

Page 79: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

78

TABELA 2Nível de intervenção para os resultados do método RULA

Nível de ação Pontuação Intervenção

1 1 – 2 A postura é aceitável se não for mantida ou repetida porlongos períodos

2 3 – 4 São necessárias investigações posteriores; algumasintervenções podem se tornar necessárias

3 5 – 6 É necessário investigar e mudar em breve

4 ≥7 É necessário investigar e mudar imediatamente

Fonte: Mc Atamney e Corlett, 1993

Segundo Colombini et al. (2005) para a formulação deste método

não foi conduzida uma análise dose-resposta entre a pontuação final RULA e os

distúrbios dos membros superiores e pescoço. Esta análise foi conduzida

somente nas pontuações das posturas partindo do conceito que uma pontuação

igual a 1 fosse aceitável, não considerando alguns determinantes do risco como

os elementos relativos à organização do trabalho, as pausas ou o vínculo imposto

pelo ritmo não controlado de uma linha de produção.

Entre os chamados “fatores complementares” são levados em

consideração os movimentos rápidos ou as pancadas (golpes), mas não

consideradas, por exemplo, as compressões localizadas, as vibrações e as

temperaturas extremas.

Enfim, este método propõe-se a determinar, no que diz respeito

às posturas assumidas durante o trabalho, as propriedades de intervenção ou a

necessidade de posteriores investigações realizadas por peritos ou ergonomistas

(COLOMBINI et al., 2005).

4.4 O método Ovako Working Posture Analysins System – OWAS

Esse método foi proposto por três pesquisadores Finlandeses,

Karhu, Kansi e Kuorinka, em 1977, e consiste em análises fotográficas das

principais posturas encontradas.

Este modelo é bastante utilizado para análise de corpo inteiro e

trabalho pesado envolvendo manuseio de carga e para solucionar problemas de

queda de produtividade e aumento de acidentes do trabalho pelas más posturas.

Page 80: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

79

Nesse trabalho os pesquisadores encontraram 72 posturas

típicas após efetuarem mais 36 mil observações em 52 atividades para testar o

método, que resultaram de diferentes combinações de quatro grupos de

segmento corpóreo, divididos em 4 posições de tronco, 3 posições de membros

superiores, 7 posições de membros inferiores e 3 posições para a movimentação

de carga. Para cada posição do segmento corpóreo é dado um escore, como

segue:

Grupo 1: Tronco

1 Para ereto (neutro)

2 Para fletido anteriormente (além de 20 graus)

3 Para rodado ou lateralizado

4 Para fletido e rodado ou lateralizado

Grupo 2: Membros superiores

1 Para ambos os braços abaixo do nível dos ombros

2 Para um único braço acima ou no nível dos ombros

3 Para ambos os braços acima ou no nível dos ombros

Grupo 3: Membros inferiores

1 Para sentado

2 Para de pé, apoio bilateral, joelhos estendidos

3 Para de pé, apoio unilateral, joelhos estendidos

4 Para de pé ou agachado, apoio bilateral, joelhos fletidos (além de 20 graus)

5 Para de pé ou agachado, apoio unilateral, joelhos fletidos (além de 20 graus)

6 Para ajoelhado em um ou ambos joelhos

7 Para andando ou movendo-se

Grupo 4: Movimentação de carga

1 Para menor ou igual a 10 Kg

2 Para maior que 10, menor ou igual a 20 Kg

3 Para maior que 20 Kg

Durante o desenvolvimento do método, analistas treinados

observaram o mesmo trabalho e fizeram registros das posturas assumidas

durante as atividades com 93% de concordância em média. Já o mesmo

trabalhador, quando observado pela manhã e pela tarde, conservava a mesma

Page 81: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

80

postura em 86% das observações e diferentes trabalhadores executando a

mesma tarefa usavam em média 69% de posturas semelhantes (KARHU, KANSI,

e KUORINKA, 1977).

Como todo método de análise de posturas, precisa de uma

observação detalhada da tarefa que se está realizando e que se quer avaliar,

devendo observar vários ciclos de trabalho para selecionar as posturas a serem

analisadas. Este método se baseia na amostragem das atividades em intervalos

constantes ou variáveis, verificando-se a freqüência e o tempo gasto em cada

postura. Os autores do método sugerem que sejam realizadas no mínimo 100

observações para que se possa inferir corretamente sobre a tarefa analisada.

Conclui-se, portanto, que esse método de registro apresenta

uma consistência razoável. Nesse trabalho foram feitas avaliações das diversas

posturas relativas ao desconforto, usando uma escala de quatro categorias de

ação. A partir da identificação das posturas de risco nos grupos de segmentos

corpóreos localiza-se, na matriz de classificação das articulações e carga, os

respectivos escores, conforme demonstrado na tabela 3.

TABELA 3Matriz para verificação dos escores do método OWAS

1 2 3 4 5 6 7 MICT

MS

1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3

1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1

2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 11

3 1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 3 2 2 3 1 1 1 1 1 2

1 2 2 3 2 2 3 2 2 3 3 3 3 3 3 3 2 2 2 2 3 3

2 2 2 3 2 2 3 2 3 3 3 4 4 3 4 4 3 3 4 2 3 42

3 3 3 4 2 2 3 3 3 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4

1 1 1 1 1 1 1 1 1 2 3 3 3 4 4 1 1 1 1 1 1 1

2 2 2 3 1 1 1 1 1 2 4 4 4 4 4 4 3 3 3 1 1 13

3 2 2 3 1 1 1 2 3 2 4 4 4 4 4 4 4 4 4 1 1 1

1 2 3 3 2 2 3 2 2 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4

2 3 3 4 2 3 4 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 44

3 4 4 4 2 3 4 3 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2 3 4

C

Legenda: CT - Costas, MS - Membros superiores, MI - Membros inferiores e C - Carga

Fonte: (KARHU, KANSI, e KUORINKA, 1977)

Page 82: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

81

Com base nestas avaliações, as posturas de risco podem, a

partir dos escores encontrados, serem classificadas em uma das seguintes

categorias relacionadas na tabela 4:

TABELA 4Categorias de ação do método OWAS

Categoria de ação Intervenção

1 1. Desnecessárias medidas corretivas

2 2. Medidas corretivas em futuro próximo

3 3. Medidas corretivas assim que possível

4 4. Medidas corretivas imediatamente

Fonte: (KARHU, KANSI, e KUORINKA, 1977)

4.5 O método Rapid Entire Body Assessment – REBA

O método REBA foi desenvolvido por Hignett e McAtamney para

estimar o risco de desordens corporais a que os trabalhadores estão expostos.

Este método é uma ferramenta para avaliar a quantidade de

posturas forçadas nas tarefas onde é manipulado pessoas ou qualquer tipo de

carga animada, apresenta uma grande similaridade com o método RULA e como

este é dirigido às análises dos membros superiores e a trabalhos onde se

realizam movimentos repetitivos (HIGNETT e Mc ATAMNEY, 2000).

Nesta análise inclui fatores de carga postural dinâmicos e

estáticos na interação pessoa-carga e um conceito denominado de “a gravidade

assistida” para a manutenção da postura dos membros superiores, isso quer dizer

que é obtido a ajuda da gravidade para manter a postura do braço onde é mais

custoso mantê-lo levantado do que tê-lo pendurado para baixo.

Este método foi concebido inicialmente para ser aplicado nas

análises de posturas forçadas adotadas pelo pessoal da área médica e hospitalar

como auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas e etc. A avaliação de risco

também é feita a partir de uma observação sistemática dos ciclos de trabalho

Page 83: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

82

pontuando as posturas do tronco, pescoço, pernas, carga, braços, antebraços e

punhos em tabelas específicas para cada grupo.

Após a pontuação de cada grupo é obtida a pontuação final onde

se compara com uma tabela de níveis de risco e ação em escala que varia de

escore 0 (zero), correspondente ao intervalo de movimento ou postura de trabalho

aceitável e não necessita de melhorias na atividade até ao escore 4 (quatro) onde

o fator de risco é considerado muito alto sendo necessário atuação imediata

(tabela 5).

TABELA 5Verificação dos níveis de risco e ação do método REBA

Nível de ação Pontuação Nível de risco Intervenção e posterior análise

0 1 Inapreciável Não necessário1 2 – 3 Baixo Pode ser necessário2 4 – 7 Médio Necessário3 8 – 10 Alto Prontamente necessário4 11 – 15 Muito Alto Atuação imediata

Fonte: Adaptada de Hignett e McAtamney, 2000

4.6 O método Strain Index – SI

O Strain Index – SI (MOORE e GARG, 1995) é um método

semiquantitativo, que nasceu para determinar se os trabalhadores estão expostos

a um risco aumentado de contrair afecções músculoesqueléticas nos membros

superiores. Estas afecções, denominadas Distal Upper Extremity – DUE

compreendem patologias dos cotovelos, pulsos, mãos além da síndrome do Túnel

Carpal.

Este método nasceu para se fazer avaliação de uma só tarefa

operacional e só recentemente foi desenvolvida a possibilidade de se analisar o

trabalho como um todo, envolvendo várias tarefas.

O SI baseia-se em variáveis relativas à tarefa ocupacional como

a intensidade da força exigida, a duração do esforço e a recuperação relativa dos

membros afetados. Para o cálculo do SI são considerados 6 determinantes de

risco:

Page 84: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

83

a) Intensidade da força (em % da máxima contração voluntária – MCV)

b) Duração do esforço

c) Nº dos esforços executados a cada minuto

d) Postura do pulso e da mão

e) Velocidade de trabalho

f) Duração da tarefa por dia

A posição do membro afetado, o tipo de pegada e a velocidade

de trabalho são considerações através de seus efeitos sobre a força máxima

exprimível.

Cada uma das seis variáveis é caracterizada por uma

classificação em uma escala de 1 a 5, onde o escore 1 representa a melhor

situação e o escore 5 a pior, conforme tabela 6.

TABELA 6Classificação das variáveis pelo método Strain Index

Intensidade

Duração

do esforço

% ciclo

Esforço

por

minuto

Postura da

mão e

pulso

Velocidade

do trabalho

Duração

diária

(hora)Pontuação

(A) (B) (C) (D) (E) (F)

1 Leve < 10 < 4 Ótima Muito lenta < 1

2 Médio 10 – 29 4 – 8 Boa Lenta 1 – 2

3 Pesado 30 – 49 9 – 14 Correta Média 2 – 4

4Muito

pesado50 – 79 15 – 19 Ruim Rápida 4 – 8

5Quase

máximo≥80 ≥20 Péssima

Muito

rápida> 8

Fonte: Moore e Garg, 1995

Para cada uma das variáveis avaliadas, na análise de uma

determinada tarefa, na tabela 6 se atribui um fator multiplicativo correspondente

que deve ser localizado na tabela 7.

Page 85: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

84

TABELA 7Fatores multiplicativos das variáveis pelo método Strain Index

Intensidade

Duração

do esforço

% ciclo

Esforço por

minuto

Postura da

mão e

pulso

Velocidade

do trabalho

Duração

diária

(hora)Pontuação

(A) (B) (C) (D) (E) (F)

1 1 0,5 0,5 1,0 1,0 0,25

2 3 1,0 1,0 1,0 1,0 0,50

3 6 1,5 1,5 1,5 1,0 0,75

4 9 2,0 2,0 2,0 1,5 1,00

5 13 3,0 3,0 3,0 2,0 1,50

Fonte: Moore e Garg, 1995

O cálculo da pontuação final do SI resultará do produto dos

seis multiplicadores da tabela 7, através da fórmula (SI = A x B x C x D x E x F) e

comparado com os indicadores de nível de risco da tabela 8.

TABELA 8Valores do Strain Index e níveis de risco

Valores do Strain Index Nível de risco

< 3 Seguro

Entre 3 e 5 Incerto

Entre 5 e 7 Algum risco

> 7 Risco presente

Fonte: Moore e Garg, 1995

A tabela 8 mostra as faixas de escores finais que podem ser

obtidas pelo método Strain Index e os respectivos de níveis de risco.

A variável “força” tem papel fundamental para a análise de risco

pelo método SI e sua avaliação deriva da consideração do esforço subjetivo

percebido pelo avaliador através da escala de Borg, O autor define como

“avaliador” aquele que atribui a pontuação correspondente à força, considerando

que os próprios trabalhadores possam determinar a escolha (BORG, 1998). A

tabela 9 mostra a relação da pontuação com o esforço percebido pelo operador.

Page 86: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

85

TABELA 9Relação do fator multiplicador com a escala de Borg

Pontuação

Fator

multiplicador

correspondente

Intensidade

do esforço

Escala de

BorgEsforço percebido

1 1 Leve < 2Dificilmente perceptível

Estado de relaxamento

2 3 Médio 3 Esforço definido

3 6 Pesado 4 – 5Esforço sem mudança

da expressão facial

4 9Muito

pesado6 – 7

Esforço com mudança

da expressão facial

5 13Quase

máximo> 7

Uso do tronco e

ombros para gerar

maior força

Fonte: Moore e Garg, 1995

Segundo Moore e Garg (1995), os autores do método, existe

uma hierarquia e significado das variáveis consideradas no método Strain Index,

conforme segue:

a) A intensidade da força aplicada é a variável mais crítica, a modificação

desse valor influência de forma importante o índice de risco por inteiro;

b) A “duração do esforço” refere-se ao percentual de tempo no qual o esforço

é mantido com relação à duração média do ciclo de trabalho. No caso de

várias observações do mesmo ciclo ocupacional, efetua-se uma média

aritmética dos valores cronometrados;

c) O número dos “esforços por minuto” representa a contagem simples das

ações exercidas pela mão por unidade de tempo, representa, portanto,

uma freqüência de ações;

d) A “postura” refere-se à posição anatômica da mão e do pulso com relação

à posição neutra. A pontuação é atribuída pelo “avaliador” e representa a

média das posições assumidas pela mão ou pulso durante o ciclo de

trabalho, baseia-se, portanto, em considerações mais qualitativas do que

quantitativas, mesmo que faixas numéricas que indicam o valor

correspondente da pontuação tenham sido estabelecidas a priori;

Page 87: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

86

e) A “velocidade de trabalho” avalia o ritmo percebido do trabalho ou da tarefa

ocupacional, essa variável é levada em consideração porque com o

aumento da velocidade de movimento diminui a máxima contração

voluntária – MCV, aumentando assim, a força constante exigida;

f) A “duração diária” da tarefa procura levar em conta o benéfico efeito da

rotação das tarefas ocupacionais e do efeito negativo que deriva do esforço

contínuo dos mesmos grupos musculares, de fato, o multiplicador é menor

que 1 se a tarefa for realizada por menos de 4 horas por dia e começa a

ser penalizado a partir de 5 horas por dia.

Os autores recomendam o uso de uma câmera para a análise da

tarefa ocupacional e acham que seja necessário um dia de formação para poder

efetuar uma avaliação do risco. Os autores também identificaram alguns pontos

críticos no método que podem ser resumidos como segue:

a) Aplica-se somente na zona distal dos membros superiores (mão, pulso e

antebraço);

b) Pode-se prever um amplo espectro de desordens dos membros superiores,

entre os quais estão incluídos distúrbios não específicos;

c) Permite calcular o risco relativo de um posto de trabalho e não o risco de

exposição ao qual é submetido um trabalhador;

d) A relação entre a exposição e os valores dos vários multiplicadores não

está baseada em uma relação matemática explícita definida em base às

respostas fisiológicas, biomecânicas ou clínicas.

4.7 O método Occupational Repetitive Actions – OCRA

O método OCRA foi desenvolvido pelos Doutores Daniela

Colombini, Enrico Occhipinti e Michele Fanti a pedido da IEA a partir de 1996.

Estes pesquisadores desenvolveram esse trabalho na Unidade de Pesquisa de

Ergonomia da Postura e do Movimento (EPM) da Clinica del Lavoro em Milão na

Itália.

Este método avalia e quantifica os fatores de riscos presentes na

atividade de trabalho e estabelece, através de um modelo de cálculo, um índice

de exposição a partir do confronto entre as variáveis encontradas na realidade de

Page 88: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

87

trabalho e aquilo que o método preconiza como recomendável naquele mesmo

ambiente de trabalho (COLOMBINI et al., 2005).

Neste método os fatores de risco quantificados são: o tempo de

duração do trabalho, a freqüência de ações técnicas executadas, a força

empregada pelo operador, as posturas inadequadas dos membros superiores, a

repetitividade, a carência de períodos de recuperação fisiológica e os fatores

complementares como temperaturas extremas, vibração, uso de luvas,

compressões mecânicas, emprego de movimentos bruscos, precisão no

posicionamento dos objetos e a natureza da pega dos objetos a serem

manuseados (COLOMBINI et al., 2005).

Para se obter o índice de exposição – IE do método OCRA,

dividi-se a quantidade de ações técnicas observadas (ATO) pela quantidade de

ações técnicas recomendadas (ATR). O resultado é comparado com a referência

de classificação de risco para determinação do nível de ação a ser tomada.

Para quantificar as ações técnicas observadas e ações técnicas

recomendadas é preciso aplicar os critérios e procedimentos para a determinação

das variáveis para o cálculo, conforme discriminado nos itens 4.7.1 a 4.7.8.

4.7.1 A constante de freqüência de ação técnica

A freqüência de ações técnicas é a principal variável que

caracteriza a exposição ao risco neste método. Uma vez definido a quantidade de

ações técnicas envolvendo os membros superiores em uma determinada tarefa, a

questão principal passa a ser o estabelecimento da freqüência de ações técnicas

para todo o turno de trabalho.

As pesquisas de Colombini, Occhipint e Fanti confirmaram a

referência para a freqüência de ações técnicas em 30 ações por minuto. Essa

referência passa a ser constante no modelo de cálculo do índice OCRA.

4.7.2 O multiplicador para força

A relação entre a freqüência de ações técnicas e a força média

necessária para realizá-la tem sua importância no fato que, quanto maior a força

Page 89: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

88

empregada para realizar uma ação, menor deve ser a sua freqüência para evitar

uma lesão.

Estudos de biomecânica indicam que alguns músculos tornam-se

isquêmicos quando as forças de contração alcançam 50% da MCV (CHAFFIN et

al., 2001).

O método OCRA emprega a Escala Psicofísica de Borg que é

um método reconhecido cientificamente de quantificação subjetiva de força

(esforço percebido pelo operador) relacionado com a máxima contração

voluntária, o que possibilita aplicar um fator multiplicador de acordo com a média

ponderada de força declarada pelos operadores, representada na tabela 10.

TABELA 10Determinação do multiplicador para a força

Nível de força

em % MCV5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% ≥50%

Escala Borg 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 ≥5

Multiplicador 1 0,85 0,75 0,65 0,55 0,45 0,35 0,2 0,1 0,01

Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.139)

O escore para força é obtido perguntando aos operadores para

classificar, dentro da escala de Borg, qual a pontuação que cada um daria para a

própria força aplicada nas atividades desenvolvidas, variando de 0,5 a 10. Após a

compilação dos valores coletados calcula-se a média ponderada e chega-se ao

resultado final, que comparando com os valores correspondentes na tabela 2

encontra-se o fator multiplicador para força.

4.7.3 O multiplicador para a postura

Segundo Colombini et al. (2005) os modelos já propostos por

outros pesquisadores para a descrição de posturas e de movimentos confirmam a

presença de risco em graus de articulações que se encontram acima de 50% da

amplitude total de articulação, conforme demonstrado na tabela 11.

Page 90: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

89

TABELA 11Determinação para as articulações do membro superior

Abdução 45º a 80º Pontuação 4

Flexão / Abdução+ 80º e

(10% a 20% do tempo)Pontuação 4

Articulação Escapulo-

umeral (ombro)

Extensão +20º Pontuação 4

Supinação +60º Pontuação 4

Pronação +60º Pontuação 2Articulação Cotovelo

Flexo-extensão +60º Pontuação 2

Flexão +45º Pontuação 3

Desvio radial +15º Pontuação 2

Desvio ulnar +20º Pontuação 2Articulação Pulso

Extensão +45º Pontuação 4

Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.108).

A tabela 11 apresenta a síntese para as principais articulações

dos membros superiores, as faixas de risco e as respectivas pontuações. As

amplitudes de articulações que se encontram abaixo dos valores da tabela não

são consideradas por se tratar de limites normais e aceitáveis.

Atenção especial deve ser dada às posturas de ombro, por ser

mais sensível ao risco, sendo que a postura de abdução entre 45º e 80º já é

caracterizada como risco e a flexão desta mesma articulação acima de 80º,

mesmo que por um tempo curto, entre 10% e 20% do tempo total de ciclo já

recebe pontuação máxima.

Outro fator agregado à pontuação de posturas é relacionado com

o tipo de “pega” do objeto ou ferramenta, pois algumas delas são consideradas

mais desfavoráveis em relação às outras, conforme figura 7.

Page 91: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

90

PEGADA EM GANCHOPEGADA EM GANCHO

Figura 7 – Principais tipos de pegada da mãoFonte: Adaptado de (COLOMBINI et al., 2005, p.109)

Os valores para pontuação de pega estão resumidos na tabela

12, onde se relaciona o tipo de pega da mão com a respectiva pontuação.

TABELA 12Determinação do escore para o tipo de pega

Tipo de pega Pontuação

Preensão ampla (4 a 5 cm) 1

Preensão estreita (1,5 cm) 2

Movimentos dos dedos 3

Pinça pulpar 3

Pinça palmar 4

Pegada em gancho 4

Fonte: Adaptado de (COLOMBINI et al., 2005, p.108)

Page 92: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

91

Este método desenvolveu um esquema de multiplicadores para

as posturas inadequadas baseado no tempo de exposição e do empenho

postural, apresentado na tabela 13.

TABELA 13Determinação do multiplicador do empenho postural

Valor da

pontuação do

empenho

postural

0 – 3 4 – 7 8 – 11 12 – 15 16 – 19 20 – 23 24 – 27 ≥28

Multiplicador 1 0,70 0,60 0,50 0,33 0,1 0,07 0,03

Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.140)

O escore para o multiplicador de postura é obtido observando a

atividade e calculando o tempo que os segmentos corpóreos permanecem em

cada postura inadequada. Após esta fase localiza-se, na tabela 11, as pontuações

correspondentes para ombro, cotovelo e pulso, somando os valores encontrados

e formando a pontuação para o empenho postural. Ao empenho postural soma-se

o valor encontrado para o tipo de “pega”, conforme tabela 12. O escore final (fator

multiplicador) é encontrado consultando a tabela 13 e localizando o valor

correspondente para cada valor do empenho postural.

4.7.4 O multiplicador para a estereotipia (repetitividade)

Segundo Couto et al. (2007) o critério mais antigo e aceito sobre

repetitividade e também o mais seguido pelas empresas norte-americanas foi

proposto por Silverstein em 1985, ao sugerir que qualquer ciclo de trabalho de

duração menor que 30 segundos seria altamente repetitivo, porém seguindo os

mesmos critérios metodológicos, mesmo em situações de ciclos maiores de 30

segundos poderiam ser caracterizados como altamente repetitivos, no caso de um

mesmo elemento de trabalho ocupar mais que 50% do ciclo. Elemento, neste

caso, se refere ao conceito originado dos estudos de tempos e movimento que

descreve as atividades humanas no trabalho como um conjunto de tarefas ou

elementos padrão (CHAFFIN et al., 2001, p.7).

Page 93: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

92

No método OCRA a repetitividade é denominada como

estereotipia ou “carência de variações na tarefa” e o fator multiplicador está

relacionado com este conceito, conforme tabela 14.

TABELA 14Determinação do multiplicador para a estereotipia

Característica da

estereotipiaAusente

Presente com gestos

mecânicos iguais entre 51% e

80% do tempo. Ou duração de

ciclo entre 8 e 15 segundos

Presente com gestos

mecânicos iguais > 80% do

tempo. Ou duração de ciclo

entre 1 e 7 segundos

Multiplicador 1 0,85 0,7

Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.141)

A tabela 14 correlaciona um fator multiplicador para cada cenário

de repetitividade encontrado no posto de trabalho. Para a escolha deste escore é

necessário medir o tempo de ciclo em segundos e observar em que faixas de

percentuais os gestos de membros superiores são repetidos no tempo total de

ciclo.

A partir destas duas variáveis é possível comparar com a tabela

5 e escolher o escore que melhor representa a realidade da atividade, sendo que

é considerado risco ausente para movimentos com gestos do mesmo tipo até

50% do ciclo independentemente do tempo de ciclo.

4.7.5 O multiplicador para a presença de fatores complementares

Na literatura sobre análise ergonômica, os fatores de risco

ocupacional como temperaturas extremas, ruído e outros são considerados nas

avaliações, porém não como fatores principais e sim como complementares aos

fatores biomecânicos.

No Brasil, a legislação que trata do assunto ergonomia, a norma

regulamentadora de número 17, define parâmetros para a questão do conforto

térmico, conforto acústico e iluminação somente para locais onde exijam

solicitação intelectual, porém o método OCRA contempla estas variáveis no

cálculo de índice de risco para todos os tipos de trabalho.

Os fatores complementares aplicados no método OCRA são:

Page 94: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

93

a) Uso de instrumentos vibrantes;

b) Exigência de extrema precisão no posicionamento de objetos;

c) Compressões localizadas sobre estrutura anatômica da mão ou do

antebraço por parte de instrumentos, objetos ou áreas de trabalho;

d) Exposição a temperaturas ambientais ou de contato muito frias;

e) Uso de luvas que interferem na habilidade manual;

f) Natureza escorregadia das superfícies dos objetos manipulados;

g) Execução de movimentos bruscos ou “puxões”;

h) Execução de gestos com contragolpes ou impactos repetidos (uso de

martelo ou picareta sobre superfícies duras) ou usar a própria mão como

martelo.

O método OCRA contempla essas exposições, quantificando-as

e aplicando um fator multiplicador, conforme tabela 6.

A cada fator complementar identificado na tarefa é atribuída uma

pontuação “4” para exposição de um terço do tempo do ciclo, valor “8” para

exposição de dois terços do tempo do ciclo e valor “12” para exposição por todo o

tempo do ciclo. Especificamente para o fator de vibração é atribuído valor “8” para

exposição de um terço do ciclo, valor “12” para exposição de dois terços do ciclo e

valor “16” para exposição por todo o ciclo.

Para a escolha do escore final são somadas todas as

pontuações atribuídas para todos os fatores complementares identificados na

atividade e o valor total correlacionado com o multiplicador correspondente na

tabela 15.

TABELA 15Determinação do multiplicador para os fatores complementares

Valor da

“pontuação” fatores

complementares

0 – 3 4 – 7 8 – 11 12 – 15 ≥16

Multiplicador 1 0,95 0,90 0,85 0,80

Fonte: (COLOMBINI et al. , 2005, p.141)

Page 95: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

94

4.7.6 O multiplicador para o fator de períodos de recuperação

O fator de recuperação difere dos demais em função da sua

consideração sobre todo o turno de trabalho, enquanto os demais fatores são

quantificados em cada uma das tarefas repetitivas que compõem o turno.

Baseando-se na literatura científica, os autores deste método

afirmam que, em um turno de trabalho o ideal é ter um período de recuperação

fisiológica a cada 60 minutos de trabalho repetitivo e quanto mais horas de

trabalho repetitivo sem períodos de recuperação, menor deve ser o número de

ações técnicas na atividade, conforme apresentado na tabela 16.

TABELA 16

Determinação do multiplicador para os períodos de recuperação

Número de horas sem

recuperação adequada0 1 2 3 4 5 6 7 8

Multiplicador 1 0,90 0,80 0,70 0,60 0,45 0,25 0,10 0

Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.142)

A quantidade de horas sem recuperação adequada é encontrada

a partir da análise do posto de trabalho e entrevistas com os operadores para o

entendimento de como transcorre a jornada de trabalho e como são inseridas as

pausas para refeições e outras necessidades pessoais e as pausas no trabalho

repetitivo, mesmo que realizando outra tarefa, como por exemplo, para

abastecimento de uma máquina ou bancada, para controle do processo e etc.

O fator multiplicador de recuperação, sintetizado na tabela 16,

aplica-se sobre o número absoluto de ações técnicas recomendadas para

ponderar a exposição em função da presença, distribuição e adequação dos

períodos de recuperação ao longo do turno de trabalho.

4.7.7 O multiplicador para a duração total do trabalho repetitivo no turno

A duração total das tarefas que envolvem movimentos repetitivos

e ou forçados dos membros superiores no turno de trabalho representa um

Page 96: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

95

elemento muito relevante para caracterizar a exposição total do trabalhador ao

risco de ler/dort.

O método OCRA determina a utilização de um fator multiplicador

de acordo com a duração total de tempo, em minutos, gasto no turno na execução

de todas as tarefas repetitivas, conforme demonstrado na tabela 17.

TABELA 17Determinação do multiplicador para a duração das tarefas

Minutos gastos no

turno com todas as

tarefas repetitivas

≤120

121

a

180

181

a

240

241

a

300

301

a

360

361

a

420

421

a

480

> 481

Multiplicador 2 1,7 1,5 1,3 1,2 1,1 1 0,5

Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.142).

4.7.8 A classificação de risco pelo método OCRA.

A partir da análise das variáveis descritas nos itens 4.7.1 a 4.7.7

o método OCRA classifica o risco, de acordo com os valores encontrados, em três

níveis fazendo uma analogia à lógica do semáforo (verde, amarelo e vermelho),

conforme demonstrado na tabela 18.

TABELA 18Classificação dos níveis de risco do índice OCRA

Área Valores OCRA Nível de Risco Ações

Verde Até 2,2 Aceitável Nenhuma

Amarela Entre 2.3 e 3.5 Risco muito baixoVerificar a situação e

implementar melhorias

Vermelha Maior 3,5 Risco PresenteRedesenhar o posto e

avaliar a saúde do pessoal.

Fonte: (COLOMBINI et al., 2005, p.138)

A tabela 18 apresenta os valores do índice OCRA,

correlacionando com os níveis de risco, aceitável, risco muito baixo e risco

Page 97: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

96

presente com as áreas verde, amarela ou vermelha e com o nível de ação

requerido:

Quando o índice apresenta valores até 2,2 representa uma área verde

(aceitável), e que não há previsão significativa de aparecer casos de

distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho no grupo de

trabalhadores expostos em relação ao grupo de controle, portanto não

requer intervenção no ambiente de trabalho;

Quando o índice apresenta valores entre 2,3 e 3,5 representa uma área

amarela (apresenta nível de risco não relevante), porém podem aparecer

patologias nos grupos de expostos. Neste caso, especialmente para os

valores mais altos desta faixa, é recomendada uma avaliação mais

detalhada da saúde e melhorias das condições de trabalho;

Quando o índice apresenta valores superiores a 3,5 representa uma área

vermelha (Indica uma exposição significativa) e a intervenção rápida se faz

necessária para reduzir o risco. Neste caso os resultados das análises são

úteis para definir as prioridades de intervenção no ambiente de trabalho.

Page 98: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

97

5 A APLICAÇÃO DE UM MÉTODO TÉCNICO-CIENTÍFICO

5.1 A escolha do método OCRA

Conforme demonstrado na tabela 1 da página 19, 37,2% do total

de doenças ocupacionais registradas no Brasil no ano de 2006 referem-se às

doenças relacionadas à questão de ler/dort nos membros superiores.

Esse drama afeta tanto os trabalhadores, que são acometidos

pelas patologias relacionadas a ler/dort e sofrem as conseqüências psicológicas e

sociais dessas enfermidades, quanto os gestores de empresas que têm por

responsabilidade realizar a gestão da saúde ocupacional.

Esses gestores sentem as dificuldades em encontrar métodos de

análise dos fatores de risco ergonômico que forneçam resultados, com grau de

confiabilidade estatisticamente aceitável, para a tomada de decisão e

direcionamento dos investimentos em saúde ocupacional.

Na revisão bibliográfica dos métodos de análise de fatores de

risco, o método OCRA se destacou dentre os demais por quatro fatores que

concatenaram com o problema de pesquisa pela especificidade, grau de

confiabilidade (estatística), ponderação com outras atividades não repetitivas ou

de recuperação fisiológicas e referência como norma padrão internacional.

Quanto à especificidade, o método OCRA foi escolhido por ser

específico para a avaliação dos fatores de risco de ler/dort para membros

superiores, pois não contempla análises de posturas e forças para outros

segmentos corpóreos como pescoço, coluna e membros inferiores como

evidenciado em outros modelos.

A escolha também se deu pelo grau de confiabilidade que,

segundo os autores, a partir dos estudos estatísticos com a aplicação deste

método, chegou-se a um modelo previsional de incidência de patologias

músculoesqueléticas, que na língua inglesa é denominada work-related

musculoskeletal disorders (WRMDs), nos membros superiores com grau de

confiabilidade de 90%, conforme apresentado na figura 8.

Page 99: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

98

%WMSDs (Y)

ÍNDICE OCRA (X)

Y=2,392,39 Xove

X= ÍNDICE OCRA

nº afetadosnº expostosY=

PA = 2,39 (± 0,14) x OCRA

Essa função apresenta um grau de associação entre as duas variáveis muitoelevado (R2 ajustado = 0,92) e estatisticamente muito significativo (p < 0,00001).

%WMSDs (Y)

ÍNDICE OCRA (X)

Y=2,392,39 Xove

X= ÍNDICE OCRA

nº afetadosnº expostosY=

PA = 2,39 (± 0,14) x OCRA

Essa função apresenta um grau de associação entre as duas variáveis muitoelevado (R2 ajustado = 0,92) e estatisticamente muito significativo (p < 0,00001).

Figura 8 – Associação entre o índice OCRA e pessoas afetadasFonte: Colombini et al., 2005

Os estudos de 10 anos da equipe de pesquisa da Dra Colombini

com o grupo de expostos permitiram a criação de um modelo previsional de

incidência de ler/dort, conforme demonstrado na figura 8. A partir dos resultados

da correlação entre os índices de risco pelo método OCRA e os distúrbios

músculoesqueléticos (WRMDs) de membros superiores desenvolvidos pelo

mesmo grupo de estudo, encontraram um fator de incidência de patologias de

2,39, ou seja, para cada unidade encontrada do índice OCRA nas análises das

atividades do grupo de expostos, chegou-se ao número de pessoas afetadas (PA)

de 2,39.

TABELA 19Previsão de prevalência de pessoas afetadas por ler/dort

Valores OCRA Previsão de prevalência

2,2 5,26%

3,5 8,36%

4,5 10,75%

9,0 21,51%Fonte: Colombini et al., 2005

Page 100: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

99

A tabela 19 mostra os resultados de previsão de prevalência de

pessoas afetadas (PA) para um grupo de expostos (controle de 10 anos) para os

valores OCRA de 2,2 a 9,0.

Os autores do método OCRA realizaram os estudos de

regressão linear de prevalência de doenças relacionadas a ler/dort pelo método

OCRA e o desvio padrão para um coeficiente de correlação linear de Pearson de

p < 0,00001, conforme demonstrado na figura 9.

Dependent variable.. PREVMALA Method.. LINEAR

Multiple R ,96383R Square ,92898Adjusted R Square ,92575Standard Error 5,86689

Analysis of Variance:DF Sum of Squares Mean Square

Regression 1 9904,5472 9904,5472Residuals 22 757,2497 34,4204F = 287,75192 Signif F = ,0000

-------------------- Variables in the Equation --------------------Variable B SE B Beta T Sig TOCRA 2,389686 ,140874 ,963834 16,963 ,0000

Dependent variable.. PREVMALA Method.. LINEAR

Multiple R ,96383R Square ,92898Adjusted R Square ,92575Standard Error 5,86689

Analysis of Variance:DF Sum of Squares Mean Square

Regression 1 9904,5472 9904,5472Residuals 22 757,2497 34,4204F = 287,75192 Signif F = ,0000

-------------------- Variables in the Equation --------------------Variable B SE B Beta T Sig TOCRA 2,389686 ,140874 ,963834 16,963 ,0000

Figura 9 – Estudo de regressão linear do método OCRAFonte: Colombini et al., 2005.

O terceiro fator preponderante para a escolha deste método foi o

de ponderação, que está diretamente relacionado com as questões de

organização do trabalho, tanto na divisão de tarefas e no tempo de permanência

dos operadores nestas tarefas, quanto nas condições ambientais e na distribuição

de pausas durante a jornada proporcionando a recuperação fisiológica.

O método OCRA permite a determinação de um índice composto

ou ponderado de exposição dos membros superiores considerando todas as

atividades repetitivas e as não repetitivas durante o turno de trabalho.

A fórmula para determinação da exposição ponderada às

atividades repetitivas é expressa da seguinte forma:

(% tempo na atividade A x pontuação A) + (% tempo na atividade B x pontuação

B) + (% tempo na atividade C x pontuação C) + (% tempo na atividade “n” x

pontuação n), onde:

Page 101: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

100

a) Pontuação A, B, C ou “n” é o índice OCRA obtido em cada uma das

atividades avaliadas individualmente.

b) Percentagem de tempo na atividade A, B, C ou “n” é o percentual de tempo

de exposição a cada uma das atividades avaliadas individualmente em

relação ao tempo total em minutos de duração da jornada de trabalho.

A ponderação entre as atividades repetitivas e as atividades não

repetitivas é feita através do fator multiplicador para a duração total do trabalho

repetitivo, que considera os trabalhos não repetitivos, embutidos no turno, como

compensadores da exposição e permite um cálculo de risco ponderado em

função do tempo de exposição.

O quarto e último fator, motivo para escolha deste método, foi a

sua inclusão no conjunto de normas técnico-científicas da International

Organization for Standardization – ISO, que em 30/03/2007 a publicou sob o

número ISO/DIS 11228-3, com o título “Ergonomics – Manual handling – Part 3:

Handling of Low Loads at high frequency” (ISO, 2007), que poderia ser traduzido,

considerando o risco de erro nessa empreitada, em “manuseio de pequenas

cargas em alta freqüência” e também a sua inclusão no conjunto de normas da

European Committee Standardization – CEN, que em 28/02/2007 a publicou sob

o número prEN 1005-5, com o título “Safety of machinery – Human physical

performance – Part 5: Risk assessment for repetitive handling at higt frequency”

(CEN, 2007), que também poderia ser traduzido em “Segurança de maquinário –

Desempenho físico humano – Parte 5: Avaliação de risco para manuseio

repetitivo em alta freqüência”. Atualmente a European Committee Standardization

possui oitenta e cinco normas técnicas para normalização das diversas questões

que envolvem a ergonomia.

5.2 Caracterização da empresa

A empresa, onde foi aplicado o método OCRA está situada na

região industrial do ABC Paulista, Estado de São Paulo e produz material gráfico

para uso escolar, comercial e industrial e com código de atividade 22.22-5 na

Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE. Tanto o nome da

empresa e sua localização, quanto os materiais e tecnologias utilizadas no

Page 102: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

101

processo tiveram os nomes reais preservados a fim de evitar embaraços,

exposições ou mau uso das informações contidas neste estudo.

A empresa se enquadra na categoria de empresa de pequeno

porte tanto nos critérios do Ministério do Trabalho e Emprego – MTE (RAIS) e

SEBRAE, que definem o porte das empresas pelo número de empregados,

quanto nas leis 11.196 de 2005 (SIMPLES) e 9.841 de 1999 (Estatuto da

Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte) (SEBRAE, 2005; BRASIL, 2007).

A tabela 20 apresenta a classificação das empresas de acordo com estes

critérios.

TABELA 20Definição de Micro, Pequenas e Médias Empresas no Brasil

Porte dasempresas

OrdenamentosJurídicos

Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa

Estatuto da MPEReceita bruta anual R$ 433.000,00 R$ 2.133.000,00. -----------

SIMPLESReceita bruta anual R$ 240.000,00 R$ 2.400.000,00 -------------

MTE/RAISNº de empregados 0 – 19 20 – 99 100 – 499

SEBRAEIndústria

Nº de empregados0 – 19 20 – 99 100 – 499

SEBRAEComércio e Serviços

Nº de empregados 0 – 9 10 – 49 50 – 99

Fonte: Sebrae, 2005

De acordo com a CNAE esta empresa também se enquadra no

grau de risco “3” e não possui Serviço Especializado em Engenharia de

Segurança e em Medicina do Trabalho – SESMT, porém contrata empresa

especializada para elaboração e revisão do Programa de Controle Médico de

Saúde Ocupacional – PCMSO e do Programa de Prevenção de Riscos

Ambientais – PPRA.

Page 103: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

102

5.3 A análise da demanda

A origem da demanda se deu pelo processo de escolha da

empresa citado no item 2.3. Após a exposição do objetivo geral e dos objetivos

específicos desta pesquisa aos gerentes administrativo e operacional iniciou-se a

conversação para realização do contrato de pesquisa.

O pessoal operacional dos postos escolhidos para o estudo é

caracterizado por uma amostra mista de seis pessoas com a presença de quatro

operadores do sexo masculino e dois do sexo feminino, com idade entre 20 e 54

anos.

O estado civil casado é predominante com cinco operadores,

sendo um solteiro, escolaridade predominante 1º grau completo e tempo de

experiência na função entre 12 meses e 10 anos.

A qualificação é realizada na própria empresa através de

treinamento com operadores antigos na função abrangendo a operação da

máquina, qualidade, modo operatório e regulagens da máquina.

Na verbalização tanto dos gerentes, quanto dos operadores foi

verificado certo grau de consciência dos fatores de risco de ler/dort bem como os

seus pontos de vista, através de suas percepções, com relação aos pontos

críticos de máquinas, equipamentos, materiais, métodos e sistema de

organização do trabalho que podem contribuir para o aparecimento de casos de

ler/dort, embora não tinham conhecimento desta terminologia utilizada.

Segundo o gerente administrativo não há registro de

afastamentos do trabalho em função de patologias relacionadas a ler/dort e

embora não foi apresentada documentação comprobatória foi afirmado que o

nível de absenteísmo é muito baixo, o que pode ser comprovado pelo tempo de

empresa dos operadores dos postos de trabalho em estudo.

Na análise da documentação da empresa foi verificada a

elaboração de forma sistemática de avaliações de saúde ocupacional e

desenvolvimento de ações de melhorias no processo produtivo propostos pela

empresa especializada em saúde e segurança do trabalho – SST, através do

PCMSO e do PPRA.

Page 104: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

103

5.4 A análise da tarefa

5.4.1 O processo produtivo

A fabricação de material gráfico inicia-se com o recebimento de

matéria prima denominado de resmas (pacote de papel próprio para impressão de

off-set) que são acondicionadas no estoque. De acordo com as ordens de

produção para o dia as resmas são transferidas para a cortadeira onde, de acordo

com a especificação de produção, são cortadas no tamanho e formato

necessário.

Após o corte o material é transferido para a máquina off-set,

onde são impressos os documentos, formulários, livros e etc. e dependendo do

tipo de material, retorna para a cortadeira para ajuste fino do tamanho. Alguns

impressos são empilhados em uma mesa de acabamento onde recebem cola,

para agrupamentos das folhas dos blocos, são posteriormente destacados e

agrupados para embalagem, outros materiais impressos passam por uma

seqüência do processo que engloba as fases de intercalação de vias (nota fiscal,

por exemplo), dobradeiras, furação, grampeadeiras, serrilhamento, meio corte e

aplicação de ilhós.

5.4.2 Os postos de trabalho

5.4.2.1 Corte de formulários

Os cortes de formulários são feitos em uma máquina

denominada de cortadeira, que é uma máquina que funciona como um sistema de

guilhotina, que corta as resmas nas medidas previamente ajustadas pelo

operador. O operador regula a mesa da máquina no tamanho desejado para o

formulário através de uma escala fixada na própria máquina, após ajustar na

posição correta aciona um comando bimanual (dispositivo de segurança para

evitar cortes nas mãos) para descida da guilhotina e corte do material.

Page 105: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

104

5.4.2.2 Acabamento

A atividade de acabamento é realizada em uma bancada onde

são empilhados os formulários em quantidade que otimize a aplicação de cola,

normalmente pilhas com 8 blocos de altura. A cola é aplicada nos blocos com um

pincel que após a secagem, são destacados com o uso de um estilete industrial e

empilhados em camadas de forma invertida para uniformizar o pacote final.

5.4.2.3 Intercalação de vias de formulário

Esta atividade é realizada em uma bancada onde são dispostas

as pilhas de formulários impressos divididas pelas quantidades de vias e

carbonos de acordo com o pedido de produção. Após preparação do material na

bancada o operador inicia a intercalação pegando as vias de formulário na

seqüência correta, intercalando com as vias de carbono e sobrepondo uma sobre

a outra formando um conjunto de vias do formulário. Após a intercalação os

blocos são enviados para a mesa de acabamento para aplicação de cola,

destacamento e acabamento final.

5.4.3 Condições ambientais de trabalho

Os postos de trabalho onde foi desenvolvido este estudo se

encontram em um prédio de alvenaria com área total de 219 m2

e com pé direito

de 2,8 metros de altura. Existe boa iluminação natural que é proveniente de

janelas e a artificial através de luminárias fluorescentes, a ventilação desta área é

natural, através das janelas citadas, não existindo ventilação forçada.

Não foi observada a exposição dos operadores a agentes

químicos agressivos e a temperaturas extremas e o nível de ruído dos postos em

análise varia entre 77 decibéis dB(A) e 88 decibéis dB(A), conforme declaração

no PPRA da empresa. A norma regulamentadora do Ministério do Trabalho NR-15

regulamenta a exposição máxima permitida de 85 dB(A) para jornada de 8 horas

sem proteção auditiva, porém a amostra em estudo utiliza o equipamento de

proteção individual.

Page 106: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

105

5.4.4 A organização do trabalho

A jornada de trabalho está organizada em cinco dias por

semana, de segunda a sexta feira, com horário em turno fixo das 07:15 às 17:15

horas, com horário de almoço das 12:00 às 13:00 horas e intervalo para lanche

das 09:00 às 09:15 horas. Na segunda metade do dia não existe pausa oficial

para lanche, porém foi verificado que os funcionários fazem pausas para

cafezinho, fumar ou para necessidades pessoais com o consentimento da

supervisão.

Não existe procedimentos escritos de modo operatório,

qualidade ou normas de segurança, porém tanto o conhecimento explícito e

necessário para realização do trabalho quanto o “saber-fazer” está presente na

experiência dos operadores mais antigos que é retransmitido aos mais novos.

O ritmo de trabalho é determinado pelos operadores, por não se

tratar de uma linha de produção com velocidade pré-determinada pela

organização e existe um rodízio formal entre os três postos de trabalho analisados

com objetivo de neutralizar a monotonia das tarefas.

Page 107: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

106

6 RESULTADOS DAS ANÁLISES DAS ATIVIDADES

O método OCRA foi aplicado nos postos de trabalho de “Corte

de formulários”, “Aplicação de cola e destacamento de blocos” e “Intercalação de

vias de formulários”, escolhidos de acordo com o critério apresentado no item 2.4.

Foi realizada avaliação dos fatores de risco em membros superiores, através de

uma análise quantitativa, para identificar as fases, operações ou posturas críticas

que poderiam provocar patologias relacionadas à questão de ler/dort.

6.1 Avaliação da atividade de corte de formulários – CF

6.1.1 Descrição das operações de CF:

1ª Operação: Operador pega a resma (pacote de papel para impressão) do

estoque, coloca sobre a mesa de preparação de corte e retira o papel de proteção

(fotografia 1).

Fotografia 1: Preparação da resma de papel para corte

Nesta operação foram verificadas a postura de preensão palmar

e aplicação de força dos membros superiores, classificada como leve pelos

operadores, no manuseio das resmas.

2ª Operação: Operador prepara a máquina realizando ajustes de medidas,

conforme pedido de produção, pega a resma da mesa de preparação, apóia sobre

Page 108: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

107

a mesa da cortadeira, direciona sob a guilhotina e aciona comando bimanual para

realização do corte (fotografia 2).

Fotografia 2: Deposição da resma na cortadeira

Na operação demonstrada na fotografia 2 observa-se a posição

dos antebraços próximo de 90º, posição dos cotovelos em supinação, extensão

de punhos e pega em forma de pinça dos dedos para segurar o material.

3ª Operação: Após corte do material nas medidas programada, operador retira os

blocos da cortadeira e transfere para a mesa de acabamento (fotografias 3 e 4).

Fotografia 3: Bloco de papel cortado

Page 109: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

108

Fotografia 4: Transferência do material para mesa de acabamento

Para cada bloco pré-preparado na cortadeira (fotografia 3), o

operador o transfere para a mesa de acabamento (fotografia 4), preparando-os

em pilhas para aplicação de cola. Nessas atividades foram verificadas posturas

de abdução de ombros, flexão de punhos, pega em forma de pinça de dedos e

desvio ulnar durante a transferência do material.

6.1.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de CF:

A tabela 21 trás o resumo do cálculo do ATO para os membros

superiores na atividade de corte de formulários.

TABELA 21Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATO

Parte do corpoAções /

ciclo

Duração ciclo

(Minutos)

Freqüência

(Ações / Minuto)

Duração da

tarefa

(Minutos)

Total de ações

observadas (ATO)

Braço direito 117 3,52 33 144 4752

Braço esquerdo 117 3,52 33 144 4752

Na tabela 21, para o ciclo de 3,52 minutos de duração da

atividade de corte de uma resma em formulários, foram observadas 117 ações

técnicas para ambos os braços, representando uma freqüência de 33 ações

técnicas por minuto. Como o tempo de duração nesta tarefa repetitiva é de 144

minutos na jornada de trabalho, a multiplicação das ações técnicas por minutos

Page 110: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

109

(33) pelos minutos de duração da atividade (144) chegou-se a 4752 ações

técnicas nesta atividade.

6.1.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de CF:

Partindo da constante de 30 ações técnicas por minuto

(constante preconizada pelo método) e aplicando os fatores de multiplicação para

força, postura, fatores complementares, recuperação fisiológica e duração da

tarefa, chegou-se ao resultado de 5140 ações técnicas recomendadas tanto para

o membro direito quanto para o esquerdo. A tabela 22 mostra o resumo do cálculo

das ATR para os membros superiores para a atividade de corte de formulários.

TABELA 22Dados do posto de corte de formulários para cálculo de ATR

Freqüência

(constante)

Fm*

Força

Fm*

Postura

Fm*

Esteriotipia

Fm*

Comple-

mentares

Fm*

Recuperação

Fm*

Minutos

Duração

tarefa

(Minutos)

Total de

(ATR)

Braço

direito

30

1 0,70 1 1 1 1,7 144 5140

Braço

esquerdo

30

1 0,70 1 1 1 1,7 144 5140

Legenda: *Fm = Fator Multiplicador.

A análise dos fatores de risco deste posto de trabalho resultou

nos seguintes valores:

a) Escore multiplicador de força = 1 (ver tabela 10, p.88), em função da

percepção dos operadores sobre a própria força aplicada;

b) Escore multiplicador de postura = 0,70 (ver tabela 13, p.91) em função da

somatória das variáveis: supinação de cotovelos (2) e desvio ulnar (2)

com pontuação 4 (ver tabela 11, p.89) somado a pontuação 2 para pega,

totalizando um escore (6) (ver tabela 12, p.90);

c) Escore multiplicador de estereotipia = 1 em função de sua ausência (ver

tabela 14, p.92);

Page 111: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

110

d) Escore multiplicador de fatores complementares = 1 (ver tabela 15, p.93)

em função da ausência de: vibração, precisão, uso de luvas, movimentos

bruscos e superfícies escorregadias;

e) Escore multiplicador recuperação = 1 (ver tabela 16, p.94) em função das

pausas para refeições e lanches estarem adequadamente distribuídas

durante a jornada de trabalho, somadas às pausas de trabalho repetitivo

embutidas nos ciclos para deslocamentos, preparação de máquina e

preparação das resmas a serem trabalhadas na cortadeira;

f) Escore multiplicador de duração da atividade repetitiva = 1,7 (ver tabela

17, p.95) em função do tempo de atividade repetitiva gasto nesta

atividade ser de 144 minutos na jornada.

6.1.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para atividade de CF:

O índice OCRA (membros direito e esquerdo) é calculado através da

fórmula:

IE = (ATO / ATR)

IE = 4752 / 5140

IE = 0,92

Comparando o resultado do índice de exposição desta atividade

com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95) observa-se que este valor

se encontra dentro da faixa verde, portanto dentro do nível de risco “aceitável”.

6.2 Avaliação da atividade de aplicação de cola e destacamento de blocos –

ACDB

6.2.1 Descrição das operações de ACDB

Descrição da operação (1ª fase): O Operador separa e prepara os blocos de

impressos (fotografia 5), passa cola para montagem dos formulários com auxílio

de um pincel (fotografias 6 e 7).

Page 112: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

111

Fotografia 5: Preparação de blocos para aplicação de cola

Nesta operação foram verificadas as posturas de flexão de

ombro, pronação de cotovelos e pinça palmar no manuseio dos blocos de

impressos para preparação do acabamento (fotografia 5) e preensão estreita da

mão direita na pega do pincel e desvio ulnar na aplicação de cola (fotografias 6 e

7).

Fotografia 6 Fotografia 7Fotografias 6 e 7: Aplicação de cola nos formulários

Descrição da operação (2ª fase): Após a aplicação de cola na última pilha de

blocos, a cola aplicada no primeiro bloco já se encontra seca e pronta para a

segunda fase. O operador destaca os formulários com auxílio de uma ferramenta

de corte (estilete industrial), conforme fotografias 8 e 9 e faz o cruzamento dos

blocos para uniformidade do pacote antes da embalagem final (fotografia 10).

Page 113: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

112

Fotografia 8 Fotografia 9Fotografias 8 e 9: Destacamento dos blocos com utilização de estilete

Fotografia 10: Cruzamento dos blocos

Nestas atividades foram verificadas posturas de flexão de ombro

e de punho esquerdo para apoiar blocos a serem destacados (fotografia 8), flexão

e extensão, associado a desvio ulnar de punho direito na operação de corte

(destacamento) dos blocos de formulários e postura de preensão na pega da

ferramenta (fotografias 8 e 9). Na operação de cruzamento de blocos foi

observada a postura de preensão pulpar das mãos direita e esquerda ao pegar os

blocos e inverter os lados e desvio radial de punho direito (fotografia 10).

6.2.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de ACDB:

A tabela 23 trás o resumo do cálculo de ATO para a atividade de

aplicação de cola e destacamento de blocos.

Page 114: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

113

TABELA 23Dados do posto aplicação de cola para cálculo de ATO

Parte do corpo Ações / cicloDuração ciclo

(Minutos)

Freqüência

(Ações / Minuto)

Duração da

tarefa

(Minutos)

Total de ações

observadas (ATO)

Braço direito 108 3 minutos 36 ações / minuto 185 6660

Braço esquerdo 102 3 minutos 34 ações / minuto 185 6290

Na tabela 23, para o ciclo de 3 minutos de duração foram

observadas 108 ações técnicas para braço direito e 102 para o esquerdo,

representando uma freqüência de 36 ações técnicas por minuto para o braço

direito e 34 para o esquerdo. Como a duração da tarefa repetitiva nesta tarefa é

de 185 minutos na jornada de trabalho temos o seguinte resultado:

1) Braço direito: A multiplicação das ações técnicas por minutos para membro

direito (36) pelos minutos de duração da atividade (185) resultou em 6660 ações

técnicas na tarefa;

2) Braço esquerdo: A multiplicação das ações técnicas por minutos para membro

esquerdo (34) pelos minutos de duração da atividade (185) resultou em 6290

ações técnicas na tarefa.

6.2.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de ACDB:

Partindo da constante de 30 ações técnicas por minuto

(constante preconizada pelo método) e aplicando os fatores de multiplicação para

força, postura, fatores complementares, recuperação fisiológica e duração da

tarefa, chegou-se ao resultado de 5827 ações técnicas recomendadas para

membro direito e 4995 ações técnicas para o membro esquerdo. A tabela 24 trás

o resumo do cálculo de ATR para os membros superiores para a atividade de

aplicação de cola e destacamento de blocos.

Page 115: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

114

TABELA 24Dados do posto de aplicação de cola para cálculo de ATR

Freqüência

(constante)

Fm*

Força

Fm*

Postura

Fm*

Esteriotipia

Fm*

Comple-

mentares

Fm*

Recuperação

Fm*

Minutos

Duração

tarefa

(Minutos)

Total de

(ATR)

Braço

direito

30

1 0,70 1 1 1 1,5 185 5827

Braço

esquerdo

30

1 0,60 1 1 1 1,5 185 4995

Legenda: *Fm = Fator Multiplicador.

A análise dos fatores de risco deste posto de trabalho resultou

nos seguintes valores:

a) Escore multiplicador de força = 1 (ver tabela 10, p.88), em função da

percepção dos operadores sobre a própria força aplicada, tanto para

membro direito quanto esquerdo;

b) Escore multiplicador de postura para membro direito = 0,70 (ver tabela

13, p.91) em função da somatória das variáveis: flexão de ombro (2) e

flexão de punho (3) com pontuação 5 (ver tabela 11, p.89) somado a

pontuação 2 para pega, totalizando um escore (7) (ver tabela 12, p.90);

c) Escore multiplicador de postura para membro esquerdo = 0,60 (ver tabela

13, p.91) em função da somatória das variáveis: flexão de ombro (4) e de

punho (3) com pontuação 7 (ver tabela 11, p.89) somado a pontuação 2

para pega (ver tabela 12, p.90);

d) Escore multiplicador de estereotipia = 1 em função de sua ausência (ver

tabela 14, p.92);

e) Escore multiplicador de fatores complementares = 1 (ver tabela 15, p.93)

em função da ausência de: vibração, precisão, uso de luvas, movimentos

bruscos e superfícies escorregadias;

f) Escore multiplicador recuperação = 1 (ver tabela 16, p.94) em função das

pausas para refeições e lanches estarem adequadamente distribuídas

durante a jornada de trabalho, somadas às pausas de trabalho repetitivo

embutidas nos ciclos para deslocamentos e preparação dos blocos para

aplicação de cola;

Page 116: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

115

g) Escore multiplicador de duração da atividade repetitiva = 1,5 (ver tabela

17, p.95) em função do tempo de atividade repetitiva gasto nesta

atividade ser de 185 minutos na jornada.

6.2.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de ACDB:

O índice OCRA é calculado através da fórmula:

IE Direito = (ATO / ATR)

IE Direito = 6660 / 5827

IE Direito = 1,14

IE Esquerdo = (ATO / ATR)

IE Esquerdo = 6290 / 4995

IE Esquerdo = 1,26

Comparando os resultados dos índices de exposição desta

atividade com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95) observa-se que

estes valores se encontram na faixa verde, portanto dentro do nível de risco

“aceitável”.

6.3 Avaliação da atividade de intercalação de vias de formulários - IVF

6.3.1 Descrição das operações de IVF:

O operador prepara sobre a mesa de trabalho os pacotes de vias

de nota fiscal já impressas na máquina off-set e os pacotes de vias de carbono na

seqüência de montagem dos blocos de notas a serem intercalados (fotografias 11

e 12).

Page 117: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

116

Fotografia 11 Fotografia 12Fotografias 11 e 12: Preparação da seqüência de vias para intercalação

Após preparação do material inicia-se a intercalação pegando as

vias na seqüência correta e sobrepondo uma sobre a outra com a intercalação de

uma via de carbono, formando um conjunto de vias do bloco de notas (fotografia

13).

Fotografia 13: Intercalação de vias

Nesta operação foram verificadas as posturas de flexão de

punhos, pronação de cotovelos, pinça pulpar e alta repetitividade no manuseio

das vias dos formulários impressos e de carbono (fotografia 13).

6.3.2 Cálculo de ações técnicas observadas (ATO) de IVF:

A tabela 25 mostra os valores encontrados no cálculo de ações

técnicas observadas para os membros superiores nesta atividade.

Page 118: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

117

TABELA 25Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATO

Parte do corpoAções /

ciclo

Duração

ciclo

(Minutos)

Freqüência

(Ações / Minuto)

Duração da

tarefa

(Minutos)

Total de ações

observadas (ATO)

Braço direito 12 0,17 72 72 5184

Braço esquerdo 12 0,17 72 72 5184

Na tabela 25, para o ciclo de 0,17 minuto de duração foram

observadas 12 ações técnicas para ambos os braços, representando uma

freqüência de 72 ações técnicas por minuto. Como a duração da tarefa repetitiva

é de 72 minutos na jornada de trabalho, a multiplicação das ações técnicas por

minutos (72) pelos minutos de duração da atividade (72) resultou em 5184 ações

técnicas observadas na tarefa.

6.3.3 Cálculo de ações técnicas recomendadas (ATR) de IVF:

Partindo da constante de 30 ações técnicas por minuto

(constante preconizada pelo método) e aplicando os fatores de multiplicação para

força, postura, fatores complementares, recuperação fisiológica e duração da

tarefa, chegou-se ao resultado de 2203 ações técnicas recomendadas tanto para

o membro direito quanto para o esquerdo. A tabela 26 trás o resumo do cálculo de

ATR para os membros superiores para a atividade de intercalação de vias de

formulários.

TABELA 26Dados do posto de intercalação de vias para cálculo de ATR

FreqüênciaFm*

Força

Fm*

Postura

Fm*

Esteriotipia

Fm*

Comple-

mentares

Fm*

Recuperação

Fm*

Minutos

Duração

tarefa

(Minutos)

Total de

(ATR)

Braço

direito

30

1 0,60 0,85 1 1 2 72 2203

Braço

esquerdo

30

1 0,60 0,85 1 1 2 72 2203

Legenda: *Fm = Fator Multiplicador.

Page 119: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

118

A análise dos fatores de risco deste posto de trabalho resultou

nos seguintes valores:

a) Escore multiplicador de força = 1 (ver tabela 10, p.88), em função da

percepção dos operadores sobre a própria força aplicada, tanto para

membro direito quanto esquerdo;

b) Escore multiplicador de postura = 0,60 (ver tabela 13, p.91) em função da

somatória das variáveis: flexão de punho (3) e pronação de cotovelos (2),

totalizando pontuação 5 (ver tabela 11, p.89) somado a pontuação 3 para

pega, resultando no valor final (8) (ver tabela 12, p.90);

c) Escore multiplicador de estereotipia = 0,85 (ver tabela 14, p.92) em

função do ciclo de operação de 10 segundos e gestos mecânicos iguais

por 80% do tempo de ciclo;

d) Escore multiplicador de fatores complementares = 1 (ver tabela 15, p.93)

em função da ausência de: vibração, precisão, uso de luvas, movimentos

bruscos e superfícies escorregadias;

e) Escore multiplicador de recuperação = 1 (ver tabela 16, p.94) em função

das pausas para refeições e lanches estarem adequadamente

distribuídas durante a jornada de trabalho, somadas às pausas de

trabalho repetitivo embutidas nos ciclos para deslocamentos e

preparação dos pacotes de vias de nota fiscal e de carbono na bancada;

f) Escore multiplicador de duração da atividade repetitiva = 2 (ver tabela 17,

p.95) em função do tempo de atividade repetitiva gasto nesta atividade

ser de 72 minutos na jornada.

6.3.4 Cálculo do índice de exposição (IE) OCRA para a atividade de IVF:

O índice OCRA (membros direito e esquerdo) é calculado através da

fórmula:

IE = (ATO / ATR)

IE = 5184 / 2203

IE = 2,35

Page 120: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

119

Comparando o resultado do índice de exposição desta atividade

com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95) observa-se que este valor

se encontra na faixa amarela, portanto dentro do nível de risco classificado como

“muito baixo”.

6.4 Cálculo do índice de exposição (IE) Ponderado

A fórmula para determinação da exposição ponderada às

atividades repetitivas é expressa da seguinte forma:

(percentual de tempo na atividade A x pontuação A) + (percentual de tempo na

atividade B x pontuação B) + (percentual de tempo na atividade C x pontuação C).

Assim sendo, temos os seguintes percentuais de tempo de

exposição em relação ao tempo total da jornada de trabalho e os respectivos

índices de exposição para as atividades analisadas:

CF – IE = 0,92 e tempo de exposição de 27,43%;

ACDB – IE = 1,26 e tempo de exposição de 35,24%;

IVF – IE = 2,35 e tempo de exposição de 13,71%

IE Ponderado = (0,2743 x 0,92) + (0,3524 x 1,26) + (0,1371 x 2,35)

IE Ponderado = 1,02

Comparando o resultado do índice de exposição ponderado,

considerando o revezamento e tempo de permanência dos operadores nas três

atividades analisadas, com a classificação de nível de risco (tabela 18, p.95)

observa-se que este valor se encontra na faixa verde, portanto dentro do nível de

risco classificado como “aceitável”.

Page 121: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

120

7 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

7.1 Classificação dos riscos

A partir dos índices obtidos nas análises dos três postos de

trabalho, observa-se que a avaliação de risco de ler/dort para membros

superiores através do método OCRA permitiu comparar os resultados e verificar

níveis de risco diferentes para as três atividades, conforme demonstrado na

tabela 27.

TABELA 27Resultados do índice OCRA para os três postos de trabalho

Atividades

Membros Corte deformulários

Aplicação de colae destacamento

de blocos

Intercalação devias de

formuláriosBraço direito 0,92 1,14 2,35

Braço esquerdo 0,92 1,26 2,35

Verifica-se que a atividade de corte de formulários obteve índice

OCRA de 0,92 (menor que uma unidade) para membro direito e esquerdo, isto

indica que para esta atividade está sendo realizado um número menor de ações

técnicas do que o recomendado para estas condições de trabalho. O número de

5140 ações técnicas recomendadas que foram projetadas pelo método é maior

que o número de 4752 ações técnicas efetivamente observadas.

Na atividade de aplicação de cola e destacamento de blocos o

número de 5827 ações técnicas recomendadas que foram projetadas para o

membro direito é menor que o número de 6660 ações técnicas efetivamente

observadas e número de 4995 ações técnicas recomendadas que foram

projetadas para o membro esquerdo também é menor que o número de 6290

ações técnicas efetivamente observadas.

Nesta atividade obteve-se índice OCRA de 1,14 para membro

direito e 1,26 para membro esquerdo (maiores que uma unidade), sendo assim,

Page 122: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

121

indica que está sendo realizado um número maior de ações técnicas do que o

recomendado para estas condições de trabalho em torno de 14% e 26%

respectivamente para membros direito e esquerdo.

As atividades de Corte de formulários e Aplicação de cola e

destacamento de blocos, de acordo com os critérios de classificação de risco da

tabela 18 da página 95, se encontram na faixa “verde”, o que indica nível de risco

classificado como “Aceitável”.

A atividade de intercalação de vias de formulários obteve índice

OCRA de 2.35 (maior que uma unidade), tanto para o membro superior direito

quanto para o esquerdo. O número de 2203 ações técnicas recomendadas que

foram projetadas pelo método é maior que o número de 5184 ações técnicas

efetivamente observadas. Este resultado indica que para esta atividade está

sendo realizado um número maior de ações técnicas do que o recomendado para

estas condições de trabalho.

De acordo com a tabela 18 da página 95 este nível de risco se

encontra na faixa “amarela”, que representa nível de risco classificado como

“Muito baixo”, porém recomenda-se a vigilância sanitária da saúde dos

trabalhadores e alterações das condições de exposição ao risco.

Considerando o revezamento dos operadores nos três postos de

trabalho e o tempo de exposição aos fatores de risco em cada um deles o índice

de exposição ponderado resultou no valor 1,02. Isto significa que a forma como o

trabalho está organização, através do revezamento formal, reduz o risco na

atividade com maior demanda biomecânica, como a repetitividade na atividade de

intercalação de vias de formulários, sem aumentar o risco das outras atividades

de forma a torná-los acima dos níveis aceitáveis.

7.2 Mapeamento dos riscos

O estudo ergonômico permitiu realizar o mapeamento da

localização dos fatores de risco de ler/dort e seus respectivos pesos

particularizados por segmento corpóreo e por atividade analisada, apresentado na

tabela 28.

Page 123: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

122

TABELA 28Mapeamento dos fatores de risco pelo método OCRA

ATIVIDADES

Aplicação de cola e

destacamento de blocosMembros Superiores

Corte de

formulários Membro

direito

Membro

esquerdo

Intercalação

de vias de

formulários

Aplicação de força 0 0 0 0

Ombro 0 2 4 0

Cotovelo 2 0 0 2

Pulso 0 3 3 3Po

stu

ra

Mão 2 0 0 1

Natureza da pega 2 2 2 3

Repetitividade Ausente Ausente Ausente Presente

Recuperação fisiológica 0 0 0 0

Trabalhador não controla

ritmo trabalho0 0 0 0

Horas extras 0 0 0 0

Dobras de turno 0 0 0 0

Org

ani

zaçã

od

oT

raba

lho

Modo operatório rígido 0 0 0 0

Temperaturas extremas 0 0 0 0

Ruído 0 0 0 0

Iluminação 0 0 0 0

Vibração 0 0 0 0

Uso de luvas 0 0 0 0

Compressões mecânicas 0 0 0 0

Movimentos bruscos 0 0 0 0Fa

tore

sco

mpl

em

ent

are

s

Precisão de

posicionamento0 0 0 0

O mapeamento da localização dos fatores de risco permite a

visualização dos pontos críticos representados pelos maiores escores, conforme

Page 124: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

123

tabela 28, sendo possível verificar que a atividade que apresenta o maior índice

de exposição, Intercalação de vias de formulários, apresenta uma potencialização

dos fatores em função da presença de repetitividade somada às posturas de

punho e demanda biomecânica de dedos pela natureza da pega.

Na atividade de Aplicação de cola e destacamento de blocos

verifica-se que os principais escores estão apresentados nas posturas de flexão

de ombro e punho esquerdo para segurar a pilha de blocos durante o corte,

seguido da intensa flexão de punho direito no destacamento dos formulários com

a ferramenta de corte.

Na atividade de corte de formulários os escores encontrados se

enquadram dentro da margem que o método classifica como normal, sem a

necessidade de aplicação de fatores multiplicadores de correção.

No mapeamento dos riscos verifica-se que tanto os fatores de

organização do trabalho, quanto os fatores complementares do ambiente de

trabalho não se apresentam como determinantes pelo método aplicado, assim

como na análise dos fatores biomecânicos, o fator de risco “aplicação de força”

não aparece em nenhuma das atividades analisadas.

7.3 Contribuição para a gestão ergonômica

A partir da quantificação de ações técnicas recomendadas em

função da exposição dos operadores aos fatores organizacionais e posturais foi

possível determinar índices de risco para cada atividade avaliada.

A classificação dos níveis de risco auxilia no direcionamento dos

esforços a serem empregados pela organização para redução dos riscos pelo

critério de prioridades construído a partir dos índices encontrados, onde as

atividades de maiores índices devem ter prioridades sobre as de índices menores.

As atividades que se enquadram dentro da faixa de risco

classificado como aceitável não requer investimentos em ações técnicas,

administrativas ou organizacionais para aumento de controle dos riscos, o que

também auxilia no direcionamento eficaz dos recursos financeiros das

organizações.

O mapeamento dos riscos de forma particularizado, a obtenção

de um índice quantitativo e a correlação com um nível de intervenção a ser

Page 125: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

124

tomada, mostra-se como um critério que auxilia na priorização dos investimentos

em ergonomia e conseqüentemente contribui para uma gestão eficaz dos

recursos em saúde ocupacional.

A partir da aplicação deste método é possível promover a

discussão dos resultados com os operadores envolvidos e, com sua participação,

privilegiar a elaboração de um caderno de encargos de recomendações

ergonômicas específicas para cada atividade e contribuir para a efetiva melhoria

do ambiente de trabalho.

Page 126: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

125

8 CONCLUSÃO

A proposta desta pesquisa foi identificar e aplicar um método

técnico-científico específico para a identificação e avaliação de fatores de riscos

de ler/dort em membros superiores e analisar a sua contribuição e limitações para

a gestão da saúde do trabalhador.

A revisão da literatura permitiu conhecer o processo histórico de

organização do trabalho, sua interferência na saúde do trabalhador com o

surgimento dos casos de ler/dort, os métodos de análise dos fatores de risco de

ler/dort e a contribuição da ergonomia para a gestão da saúde e segurança do

trabalho nas empresas.

A aplicação prática do método OCRA neste estudo permitiu,

através da análise dos fatores de risco, verificar que a presença de posturas

inadequadas ou repetitividade durante a realização das tarefas, embora se

apresentem como “fatores de risco” de lesões para os membros superiores, não

se mostraram como determinantes na análise global destes postos de trabalho.

Por outro lado, a ausência de condicionantes de organização do

trabalho como controle rígido de ritmo, de modo operante e de produtividade,

evidenciado principalmente pelo grau de liberdade que os operadores destes

postos têm para se organizar no trabalho, contribui para uma situação de baixo

risco de ler/dort.

A identificação de um método técnico-científico de análise de

fatores de risco específico para membros superiores permitiu uma adequação do

método a ser utilizado com os fatores de risco existente nas atividades de

trabalho com emprego destes segmentos corpóreos.

A aplicação do método OCRA permitiu identificar um número

máximo de ações técnicas recomendadas para os membros superiores, a partir

das variáveis encontradas tanto nas questões ambientais e organizacionais do

trabalho, quanto nos fatores biomecânicos e quantificar as ações técnicas

efetivamente realizadas dentro do mesmo cenário.

A quantificação dos fatores de risco e a construção de um

mapeamento dos pontos críticos permitiram a construção de um critério de

priorização nas ações técnicas, administrativas ou organizacionais contribuindo

Page 127: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

126

para a prevenção de lesões nos membros superiores e conseqüentemente para a

gestão da ergonomia e da saúde do trabalhador.

8.1 Recomendação para trabalhos futuros

As observações sistemáticas desses postos de trabalho, a

revisão da literatura e os achados nas análises dos fatores de risco de ler/dort

sugerem o desenvolvimento de pesquisas, como continuação deste estudo e de

apresentação de novas propostas a partir da aplicação do método OCRA, em

situações de trabalho com outros sistemas de gerenciamento da produção, por

exemplo, o sistema de “produção empurrada” ou “células de produção”.

Page 128: Estudo ergonômico aplicando o método Occupational Repetitive

127

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