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Jornal do NEDF/AAC 5ª Edição

Anti-Matéria: 5.ª Edição

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Jornal do NEDF/AAC 5ª Edição

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Abril 2009 :: Anti-Matéria2

EditorialO Homem sempre teve fascínio pelo longínquo mundo das estrelas. Talvez pelo seu ar inalcan-çável remeter para o mundo imaginário, muitos sonhadores ao longo do tempo observaram esses mundos distantes. Deram-lhes nomes. Usaram-nos para contar histórias.

Hoje o céu estrelado está bem mais perto. Passá-mos as últimas décadas a atirar-lhe, literalmente, com coisas, e aprendemos imensamente com isso. Agora, usamos como desculpa os 400 anos das observações de Galileu Galilei para celebrar todo esse conhecimento obtido ao longo dos anos.

Foi com a responsabilidade de participar activa-mente nestes festejos que nos dizem tanto, que este Anti-Matéria se dedica de forma clara à Astrono-mia. O novo Pelouro do NEDF/AAC, criado espe-cialmente para o AIA 2009 apresenta-se e mostra os seus planos para o futuro. Damos também conta das últimas actividades de investigação e ensino da Astrofísica no Departamento de Física e ainda so-bre o novo mestrado em Astrofísica e Instrumen-tação Espacial. Seguem-se também neste nosso formato informativo entre o jornal e a revista os temas já habituais: cinema, música e demais artes. Existe ainda espaço para dissertações teológicas e para os hobbies da nossa comunidade.

Temos inclusivamente o prazer de aceder a arti-gos de excelência que, pela sua dimensão, tiveram de ficar fora da versão impressa. Infelizmente os custos de impressão do nosso folhetim são superi-ores ao que gostariamos. Sugiro então que sigam a vossa descoberta da astronomia em http://nedf.org/anti-materia/darkenergy.pdf.

Ficha Técnica

Redactores: Rafael Jegundo, Margarida Matos, Maria Pires, João Nogueira, Maria Providência, Ricardo Gafeira, Edward Santos, João Fernandes, Nuno Martins, José António Paixão, João Borba, Nuno Lopes, João Campos, João NetoGrafismo e Paginação: Bruno GalhardoProdução: Pelouro da Divulgação do NEDF/AAC - Rafael Jegundo, Ângela Dinis, Pedro Melo, Bruno GalhardoRevisão: João Neto, João Domingos, Margarida Matos, Maria Pires, Ângela DinisPropriedade: NEDF/AACEmail: [email protected]: Rua Larga, Departamento de Física, Sala B13, 3004-516 Coimbra

Rafael Jegundo

Aluno de Eng. Física

Hobbies e actividades nem nos faltam. Precisa-mos sim de mais mãos para manter o ciclo activo. Como todos os anos, mais algumas se despedem, no fim deste ciclo. Estamos por isso interessados em receber de braços abertos novos colaboradores no NEDF/AAC, para ajudarem nos projectos exis-tentes, ou para darem azo aos vossos.

Até à vista velhos amigos. Bem-vindos novos amigos!

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30000 A.C. Gravuras em ossos mantêm reg-istos das fases da Lua

4000 A.C. Ziggurats na Mesopotânea servem

como observatórios

2000 A.C. É construido o templo de Amon-Rá em Karnak, Egipto, para que o seu eixo principal aponte para o por do Sol no solstício de Verão

2500 A.C. Construção de Stonehenge. O alinhamentos das pedras marcam os pontos do nascer e por do Sol nos solstícios

2000 A.C. O mais antigo registo de um eclipse lunar ocorre em Ur. São também construidos os primeiros calendários solares/lunares no Egipto e Mesopotânea

3000 A.C. Os sumérios fazem uma lista de estrelas bril-hantes e dão os primeiros nomes a constelações do zodíaco. Também registam o movimento dos 5 planetas visíveis

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(nedf.org) e desempenha ainda um papel fundamental na divulgação da Física pelas escolas secundárias.

O pelouro do Apoio ao Estudante respon-sabiliza-se pela CENA (Centro de Estudos do Novo Aluno), que disponibiliza aponta-mentos, exames e exercícios resolvidos de todas as disciplinas actualmente lecciona-das no departamento; são também da sua responsabilidade actividades lectivas como é o caso da recepção aos novos alunos e o seu apoio neste novo ‘mundo’ que é o ensino superior.

O pelouro da Cultura promove eventos de índole criativa, tanto científicos como lúdi-cos, de modo a proporcionar aos alunos uma formação adequada na sua vida académica. A este pelouro está actualmente associado o pelouro do Desporto, que desenvolve vários torneios com o fim de proporcionar aos es-tudantes actividade, convívio e animação.Cada pelouro será a partir de agora carac-terizado por uma mascote relacionada com o seu trabalho. Essa mascote deverá ser uma imagem elucidativa daquilo que se faz no pelouro. Com efeito, convidamos to-dos os alunos a sugerir mascotes para que o NEDF/AAC fique melhor representado; mais instruções sobre o concurso estarão disponíveis brevemente em nedf.org.

É neste propósito que o NEDF/AAC tem o prazer de te convidar a ingressar nesta eq-uipa!

RecrutamentoChama-se Núcleo de Estudantes do Depar-tamento de Física, está sediado na B.13 do Departamento de Física, é parte constitu-inte do órgão máximo AAC (Associação Académica de Coimbra) e é constituído por diversos pelouros. Cada pelouro tem uma função única e pretende ajudar todos os alu-nos tanto na sua vida académica como na sua vida sócio-cultural na nobre Academia de Coimbra.

Querendo manter os estudantes informados, animados e integrados, o NEDF/AAC pro-move regularmente actividades, tanto for-malmente - através do jornal Anti-matéria, como em contexto informal (jantares, con-vívios e encontros de fim-de-semana - caso pontual do IV ENEEB, Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Biomédica, cuja organização ficou também a cargo do NEDF/AAC) e através de actividades lúdi-cas como a prática de desporto (torneios de voleibol, futebol). Estas actividades são possíveis graças a um conjunto de alunos que constitui o NEDF/AAC.

É de louvar que nos últimos meses tantos alunos se tenham juntado a esta equipa para colaborar com ideias, trabalho, material, an-imação ou mesmo apenas com uma palavra de apoio ou desagrado em relação ao trab-alho que é regularmente desenvolvido.

A equipa é constituída por quatro pelouros que trabalham ao máximo para que a comu-nidade se mantenha informada, apoiada, de-sportiva e culturalmente activa!

O pelouro da Divulgação mantém uma in-formação actual e rigorosa. É responsável pelo Anti-matéria e pelo NEDF/AAC online

Margarida Matos

Aluna de Eng Biomédica

2000 A.C. É construido o templo de Amon-Rá em Karnak, Egipto, para que o seu eixo principal aponte para o por do Sol no solstício de Verão

2000 A.C. O mais antigo registo de um eclipse lunar ocorre em Ur. São também construidos os primeiros calendários solares/lunares no Egipto e Mesopotânea

1300 A.C. Astrónomos chineses registam 900 eclipses solares e 600 lunares durante 1600 anos

750 A.C. Invenção dos relógios de Sol por parte dos Egipcios

700 A.C. Babilonos apercebem-se de padrões nos seus registos de eclipses e começam a fazer previsões de eclipses lunares

700 A.C. Hesiod descreve várias utili-dades práticas da astronomia tais como navegação e actividades agrículas

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No passado dia 5 de Março de 2009, no mini auditório Salgado Zenha, Sérgio Oliveira, co-ordenador da Secção da Pedagogia da Direcção Geral da Associação Académica de Coimbra, dirigiu uma reunião com o intuito de esclarecer todos os alunos sobre questões que estão rela-cionadas com a pedagogia.

Todas as faculdades estavam representadas pelos respectivos responsáveis dos diversos núcleos de estudantes. Foram tratados aspec-tos fulcrais, como por exemplo a questão dos ECTS, transição para Bolonha ou mesmo a metodologia de ensino de alguns professores.

É impensável, numa universidade conceituada como a UC, existirem tantos casos de alunos a pagarem créditos isolados para realizar dis-ciplinas (cujo custo é de 80 € por unidade de ECTS) porque simplesmente a respectiva fac-uldade não autoriza que se inscrevam em ap-enas uma ou duas cadeiras (em muitos casos) que lhes restam para terminar o curso. Este é apenas um dos exemplos do que se passa na UC, no entanto, e infelizmente, atrás destes vêm outros que, pela gravidade, deixaram es-

pantados os presentes na reunião.

Para evitar estas e outras situações propôs-se a realização de reuniões mensais com os coorde-nadores dos núcleos de estudantes para expor problemas e tentar solucioná-los o mais rápido possível. Para que todas as dúvidas fiquem es-clarecidas e casos como os mencionados não se repitam, todos os estudantes devem repor-tar as suas questões para o e-mail da pedagogia ([email protected]) ou para o e-mail do NEDF/AAC [email protected].

Para acompanhar tanto as mudanças de estatu-tos como os problemas sofridos pelos alunos, e com vista a manter todos informados, será lançada uma publicação (InfoPedagogia) com periodicidade mensal onde poderão ser consul-tadas todas estas informações.

Pedagogia

Margarida Matos

Aluna de Eng Biomédica

624 - 546 A.C Tales de Mileto introduziu na Grécia os fundamentos da geometria e da astronomia, trazidos do Egipto.

585 A.C. Tales preve um eclipse solar. O eclipse ocorre durante uma batalha entre os Lídeos e os Persas, que ficaram tão impressionados que terminaram a batalha

560 A.C Anaximandro propõe um mod-elo para descrever o cosmos, que mais tarde leva ao conceito de esfera celestial

550 A.C. Pitágoras e os seus estudantes desenvolvem um modelo para o sistema solar com base em órbitas circulares e corpos celestiais esféricos

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AIA 2009

Maria Daniela S. Pires

Aluna de Eng. Física

Declarado pela Organização das Nações Unidas como o Ano Internacional da As-tronomia, 2009 serve de palco à celebração da influência desta vertente da ciência a nível social e cultural, visando-se, com tal comemoração, estimular o interesse dos jo-

vens (em especial incidência) pela Astrono-mia e ciência em geral.

Salientando a importância das primeiras ob-servações astronómicas com telescópio por Galileu, esta iniciativa pretende concreti-zar a astronomia como uma união pacífica entre astrónomos e, dessa forma contribuir para encontrar respostas para algumas das questões mais fundamentais para a Humani-dade. O AIA 2009 tem um público alvo global, destinando-se a todos os cidadãos do nosso planeta, e pretende fazer uma distri-buição também ela global do interesse pelas descobertas e conhecimento relacionados com o Universo. As actividades agendadas para este ano de destaque da ciência terão lugar a nível local, regional e nacional. Co-mités nacionais para preparação de eventos relacionados com o AIA foram já formados por vários países, constituindo importantes colaborações entre astrónomos amadores e profissionais, cientistas em geral e centros e comunicadores de ciência.

Como coordenadora desta destacada celeb-ração surge a União Astronómica Interna-cional (UAI) que irá organizar um pequeno número de actividades de carácter global ou internacional como as Cerimónias de Aber-tura e Encerramento. As principais activi-dades terão lugar a nível nacional e serão supervisionadas pelos Nodos Internacionais com estreita ligação com a UAI.

500 A.C. Xenophanes conclui que a Terra é muito antiga baseado-se na espessura de cama-das de rocha sedimentadas no piso oceânico

400 A.C Eudoxus explica o movimento retrogado através de um modelo geocêntrico com rotação de esferas em direcções opostas

É também feito o primeiro catálogo estrelar por Gan De

350 A.C. Aristoteles argumenta que os corpos celestes são esferas, baseando-se na

sombra lunar durante eclipses ser circular

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Pelouro da AstronomiaEstamos no ano internacional da astronomia. Neste contexto, o Núcleo de Estudantes do Departamento de Física da Associação Aca-démica de Coimbra juntou um grupo de alunos curiosos, com vontade de trabalhar e interesse pela área, e criou o Pelouro de Astronomia (que entra agora em funções). A principal razão que levou à criação deste pelouro foi a inexistên-cia de qualquer tipo de entidade responsável por actividades ligadas especificamente a esta área.

Assim sendo, e tendo em conta o presente ano, considerámos pertinente a criação deste pelou-ro com a função de se responsabilizar pela or-ganização e dinamização deste tipo de activi-dades que colmatassem algumas das falhas no que toca à divulgação e preservação desta in-teressante área da física no meio universitário.

Como seria de esperar, com a formação deste pelouro, foi traçado um plano de actividades que tem como meta principal promover perto da comunidade estudantil o gosto pela astro-nomia amadora, criando oportunidades para que este prazer seja preservado. Assim, pre-tendemos estimular a formação no que diz re-speito à astronomia e fomentar a investigação neste âmbito, criando um role de actividades a realizar, das quais estão já agendadas algu-mas observações astronómicas. Uma dessas observações será no próximo 1 de Abril pelas 22h no Departamento de Física, onde estarão presentes elementos do NEDF/AAC que darão a formação necessária para que todos possam desfrutar plenamente desta actividade. Es-tarão também disponíveis alguns telescópios e binóculos para serem usados pelos interessados e curiosos que nos queiram acompanhar nes-tas observações. É ainda importante destacar a realização de palestras, workshops, e acções de divulgação que ainda estão por definir, mas que também serão realizadas com o auxílio de alunos e professores do Departamento de Físi-ca, que ajudarão a dinamizar estas actividades em prol da divulgação da astronomia no nosso meio.

João Nogueira

Aluno de Eng. Física

300 A.C. Um modelo he-liocêntrico é sugerido pela primeira vez por Aristarchus

250 A.C. Eratosthenes cal-cula o valor da circunferên-cia da Terra

134 A.C. Hipparchus descobre a precessão (lenta mudança na direcção do eixo terrestre) comparan-do as suas observações com outras mais antigas

134 A.C Hipparchus cria o primei-ro catálogo estelar com a posição e brilho de várias estrelas

46 A.C Julius Caesar, após consultar o astrónomo Sosigenes de Alex-andria, introduz o calendário juliano. Um ano teria 365 dias, divididos em 12 meses e um dia extra era adicionado a Fevereiro de 4 em 4 anos

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Compstar 2009

Na última década o estudo de estrelas muito densas, chamadas estrelas compactas, levou à conclusão que estas poderiam ser um excelente instrumento para testar as propriedades fundamentais da força da gravidade e das propriedades da matéria, sujeita a condições extremas de densidade, de pressão e de temperatura. As estrelas compactas podem ter massas comparáveis à do Sol mas um raio de apenas 10 km (o Sol tem um raio de 700 000 km!).

De 5 a 13 de Fevereiro realizou-se no Departamento de Física da Universidade de Coimbra, o encontro “Compstar 2009” que teve como tema principal a “crosta” das estrelas compactas. Nos primeiros cinco dias o encontro teve o formato de Escola com 64 participantes, dos quais 51 jovens que preparavam o seu doutoramento na área das estrelas compactas, ou jovens doutores recém chegados a este campo da astrofísica. Nos dias subsequentes a Compstar 2009 teve o formato de workshop, com a presença de 80 cientistas vindos de todo o mundo, que apresentaram os resultados das suas mais recentes pesquisas e que discutiram os últimos avanços nesta área do conhecimento. Os participantes eram provenientes de 22 países.

Mas o que leva os cientistas a interessarem-se pela camada mais externa das estrelas muito densas?

Algumas horas depois do nascimento de uma estrela de neutrões a sua temperatura já terá descido abaixo de 100 K, tendo-se formado uma crosta sólida na sua camada externa. A crosta de

uma estrela de neutrões apenas contém uma pequena fracção da massa total da estrela mas tem um papel determinante na evolução e na dinâmica da estrela. É a partir da crosta que será possível conhecer o

interior da estrela!

A conferência foi organizada pelo Centro de Física Computacional e enquadra-se nas actividades da rede de investigação “Compstar − The New Physics of compact stars”, financiada pela European Science Foundation. Trata-se de uma rede interdisciplinar que reúne físicos das áreas de física nuclear, das partículas, da astrofísica e da cosmologia e que pretende formar jovens físicos nesta área e promover o intercâmbio científico entre todos os países participantes. Em particular, é dado um grande apoio aos jovens investigadores. Mais informação pode ser obtida no sítio da rede (http://www.compstar-esf.org/).

Integrado no encontro realizou-se no dia 10 de Fevereiro uma palestra no Museu da Ciência destinada ao público em geral, nomeadamente a alunos do ensino secundário e a alunos universitários. O auditório do Museu ficou cheio para ouvir a palestra “Neutron stars and their various faces - from pulsars to magnetars”, proferida pelo Professor Pawel Haensel, do Centro Astronómico Nicolaus Copernicus, na Polónia, que falou das diferentes facetas destas super-estrelas e das suas extraordinárias propriedades. Mais informações sobre o encontro, nomeadamente todas as aulas e trabalhos apresentados, poderão ser encontradas na página http://nautilus.fis.uc.pt/compstar/.

Maria Constança Providência

Professora do Dep. de Física

140 Ptolomeu aperfeiçoa o modelo geocêntrico do sistema solar

1054 Astronómos chineses regis-tam a supernova que produziu a

Nebulosa do Caranguejo

46 A.C Julius Caesar, após consultar o astrónomo Sosigenes de Alex-andria, introduz o calendário juliano. Um ano teria 365 dias, divididos em 12 meses e um dia extra era adicionado a Fevereiro de 4 em 4 anos

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TelescópiosÉ do senso comum que o telescópio é de grande utilidade para todos os astrónomos. São vári-os os modelos e formas: uns mais destinados a amadores, outros direccionados para profis-sionais, mas todos eles nos permitem uma observação mais profunda e completa do que a que conseguimos quando vemos a esfera ce-leste a olho nu.

A tentativa de associação da boa qualidade de um telescópio com o seu poder de ampliação de imagens em algumas centenas de vezes é frequente, uma vez que esta é classificada por muitos como uma das suas características mais importantes. No entanto não é a mais correcta, visto que não corresponde em total fidelidade à verdade. A sua abertura irá condicionar a quantidade de luz que o telescópio vai receber e é intuitivo que, quanto maior a quantidade de luz de um objecto que chega ao telescópio, mais claro esse objecto nos vai aparecer. Deste modo, quando ampliamos um objecto, devido ao processo óptico em causa, iremos utilizar menos luz uma vez que o campo em observa-ção é mais pequeno, e não nos adiantará a am-pliação de um objecto em 1000 vezes se esta não permitir que o observemos correctamente.

Visto que a função de ampliação de um telescópio é de grande relevância, algumas das suas características – que permitirão determi-nar qual a sua capacidade de ampliar objectos – facilitarão o processo. A distância focal terá tal efeito, uma vez que se a dividirmos pela ab-ertura da ocular utilizada obteremos a sua capa-cidade de ampliação. Esta razão é denominada

“relação focal” – um telescópio, por exemplo, com uma distância focal de 1000mm e uma abertura de 100mm tem uma relação focal de f/10. Quanto maior for esta relação maior é o poder de ampliação; em contrapartida, com um telescópio com um f pequeno podemos obter campos maiores. Mas tudo dependerá da sua utilização e do tipo de observação a realizar para que se efectue a melhor escolha possível de um telescópio.

No que concerne ao tipo de modelos dis-poníveis de um telescópio, encontram-se três possibilidades: os reflectores ou newtonianos, os refractores e os catodióptricos. Os reflec-tores são compostos por dois espelhos: um primário - em forma de parábola, que foca a luz num espelho secundário que simplesmente desvia a luz para a ocular. Relativamente ao seu factor qualidade-preço podem ser considerados os melhores mas as suas necessidades de cui-dado e manutenção são superiores e não são muito portáteis.

Os refractores são formados por uma lente primária que foca a luz directamente na ocu-lar; este tipo de telescópio é o que nos permite obter imagens mais definidas mas a sua clas-sificação em termos de qualidade-preço é baixa – o preço destes telescópios para grandes aber-turas atinge valores muito elevados. Tal como

1330 Jean Buridan desenvolve a teoria do impeto, con-tradizendo Aristoteles, e pavimentando caminho para a dinâmica de Galileu e o principio da inércia de Newton

1465 Regiomontanus usa a recente inven-ção da impressão para publicar livros e ta-belas com as posições do Sol, Lua e planetas

1543 Copérnico publica “De Revolutionibus” no qual descreve um modelo heliocêntrico do

sistema solar

1600 Galileu conclui que uma vez que um corpo seja posto em movimento, continuará em movimento até algo o parar, contra-dizendo a ideia que apenas o repouso é um estado natural8

1600 Giordano Bruno é julgado pela inquisição condenado à morte por defender a ideia de existirem muitos planetas tipo Terra, habitados, que orbitavam as muitas estrelas1600 William Gilbert propôe que a Terra tem um campo magnético

1582 O papa Gregório XIII in-troduz o calendário gregoriano,

usado actualmente

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os reflectores também não são muito portáteis, contudo não têm grandes problemas em termos de manutenção.

Por fim, os catodióptricos são formados por um conjunto de lentes e espelhos, são muito com-pactos mesmo para grandes distâncias focais, têm uma relação qualidade-preço aceitável mas requerem alguma manutenção e apresentam “potencialmente” as piores imagens dos três ti-pos de telescópios que foram referidos. São no entanto a escolha mais frequente.

Relativamente à montagem de um telescópio, distinguem-se dois tipos: a altazimutal e a equatorial. A primeira tem dois graus de liber-dade – a altitude e o azimute – e a segunda, equatorial, tem um eixo primário que tem de ser montado de forma a estar alinhado com o pólo terrestre, apontando assim para o pólo celeste; tem um eixo secundário que nos permite variar a declinação entre 0 e 90º. Esta montagem tem uma grande vantagem – basta-nos aplicar um motor no eixo principal para facilmente acom-panharmos um objecto celeste sem necessitar-mos de fazer qualquer ajuste.

Ricardo Gafeira

Aluno de Física

1600 Galileu conclui que uma vez que um corpo seja posto em movimento, continuará em movimento até algo o parar, contra-dizendo a ideia que apenas o repouso é um estado natural

1600 Giordano Bruno é julgado pela inquisição condenado à morte por defender a ideia de existirem muitos planetas tipo Terra, habitados, que orbitavam as muitas estrelas1600 William Gilbert propôe que a Terra tem um campo magnético

1604 Kepler observa uma supernova. O telescópio foi inventado uns anos mais tarde e desde então mais nen-huma supernova foi observada na Via Láctea

1609 Galileu usa o telescópio para observações as-tronómicas, nomeadamente observou que a Lua tem montanhas, vales e planícies, como a Terra

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(como o nome sugere). Um excelente candidato é a LSP (Lightest SUSY Particle).

Existem várias experiências em todo o mundo que procuram detectar uma WIMP que passe pela Terra. Um dos grupos mais bem colocados na procura de WIMP é o ZEPLIN-III, que conta com uma valiosa contribuição do LIP-Coimbra. Este projecto investe na detecção directa de uma WIMP, isto é, pretende assinalar a detecção de uma destas partículas num detector. Um prob-lema fundamental na detecção de um evento tão raro está na eliminação de eventos de fundo. Não é, portanto, de espantar que se tenha escolhido para localização do detector uma mina, no norte de Inglaterra. A 1.1 km de profundidade, a radia-ção proveniente dos raios cósmicos é atenuada num factor de um milhão.

O mundo científico viveu um período de contro-vérsia em 1998, quando a colaboração DAMA sediada num laboratório italiano reclamou ter encontrado pela primeira vez evidências experi-mentais da existência de WIMPS. No contexto desta experiência, a evidência a que me refiro não consiste na detecção de um evento inequivoca-mente produzido por uma WIMP, mas sim numa modulação anual da taxa de contagens de fundo - é um método de detecção indirecto. No entanto, a comunidade científica foi muito céptica em aceit-ar este resultado, tanto na altura como em 2008, quando o mesmo grupo repetiu os resultados da experiência anterior. A medição efectuada não só carece de demonstração de que a modulação encontrada não tem uma origem mundana (por exemplo, diferenças de temperatura sazonais...) como está em contradição com os resultados ob-tidos pelas restantes experiências que procuram WIMP. Grandes descobertas carecem de grandes evidências e até hoje o mistério do universo desa-parecido permanece por resolver.

O Mistério do Universo Desaparecido

Edward Santos

Aluno de Física

Observações cosmológicas sugerem que o Uni-verso tem uma massa muito superior àquela que nos é dada a conhecer pelos objectos visíveis. De facto, uma porção tão signicativa como 96% da massa total do Universo está por encontrar. É neste contexto que surge o conceito de maté-ria negra, assunto sobre o qual experiências es-palhadas pelo mundo tentam lançar alguma luz. Em Coimbra, temos o privilégio de encontrar um grupo de investigadores dedicados ao tema.

O princípio da história remonta ao ano de 1933, quando o físico suiço Fritz Zwicky mediu a ve-locidade de rotação de 8 galáxias no aglomerado de Coma. A velocidade de escape dessas galáxias pôde ser calculada a partir de massa do cluster. Zwicky descobriu que as velocidades médias das galáxias eram 400 vezes mais elevadas do que o esperado a partir da massa dos objectos visíveis. Perante isto, fez uma sugestão inovadora. Nas suas palavras, existe “matéria negra”, isto é, ma-téria que não pode ser observada directamente, mas cuja existência podemos inferir indirecta-mente pela sua inuência gravitacional na matéria visível.

Desde então, são várias as observações cos-mológicas que se alinharam para sugerir o mes-mo: o Universo tem uma massa muito superior aquela que os objectos visíveis nos permitem avaliar.

O mistério fora lançado: que tipo de objectos compõe a estrutura invisível do Universo? Os candidados propostos para resolver o problema da massa desaparecida encaixam-se em duas cat-egorias: matéria bariónica e não-bariónica. Na primeira categoria, enquadram-se os MACHO (Massive Compact Halo Objects). Estes podem ser buracos negros, estrelas de neutrões ou outros corpos cuja emissão electromagnética seja muito baixa. A segunda categoria, seguramente mais exótica é composta pelas WIMP (Weakly Inter-acting Massive Particles). Este grupo é constituí-do por partículas que ainda não foram detectadas e que interajem apenas via força gravítica e fraca

1610 Galileu conclui que as suas observações das fases de Vénus estão incompatíveis com o modelo de Ptolomeu do Sistema Solar. Descobre também 4 luas de Jupiter.1610 Kepler publica as duas leis do movimento planetário.

1620 Francis Bacon sugere que os continen-tes da Terra se movem

1632 Galileu publica “O Diálogo“ onde discute os modelos geocêntrico e heliocêntrico. Por isto foi trazido perante a inquisição e passa os últimos 9 anos da sua vida em prisão domiciliária

1654 O bispo Ussher, usando a Bíblia, conclui que a Terra foi criada em 4004 A.C.

1659 Christiaan Huygens apercebe-se que Saturno tem anéis.

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Maria Constança ProvidênciaProfessora do Dep. de Física

João Manuel FernandesProfessor do Dep. de Matemática

Novo MestradoA Astrofísica e a Cosmologia têm tido grande desenvolvimento na última década, quer com a realização de múltiplas observações de elevada precisão em domínios observacionais muito di-versos, quer a partir da superfície da Terra ou a partir de instrumentos em órbita ou sondas espa-ciais que vagueiam pelo Sistema Solar.

Este desenvolvimento é fruto do avanço tecnológico que permitiu a construção de telescópios e demais instrumentação com uma qualidade antes inimaginável. Trata-se de um desenvolvimento fortemente interdisciplinar,para o qual concorrem equipas da mais diversa proveniência, envolvendo astronómos, físicos, engenheiros, matemáticos mas também quími-cos e geólogos. Desta crescente capacidade de observação resultam gigantescas quantidades de dados observacionais que é necessário anal-isar. Na Europa o esforço centra-se sobretudo na Agência Espacial Europeia (ESA) e no Obser-vatório Europeu do Sul (ESO), instituições das quais Portugal é membro efectivo desde 2000.

É, pois, muito elevada a necessidade, a actual e que se perspectiva, de jovens altamente qualifi-cados, com diferentes padrões de formação base, capazes de integrar e levar por diante todo o es-forço que tal quantidade de dados pressupõe:

- Concepção, e desenvolvimento de instrumenta-ção astronómica e espacial de elevada precisão.- Análise de dados astronómicos, tratamento de imagem, reconhecimento de padrões e proces-samento distribuído de bases de dados observa-cionais.-Simulação e modelização envolvendo os pro-cessos astrofísicos.

É reflexo desta necessidade (e deste mercado) o facto de terem vindo a surgir ultimamente em-presas tecnológicas portuguesas com projectos no domínio do Espaco, que trabalham nomeada-mente com/para a ESA e a NASA, p.ex. a Active

Space, a Critical Software, Omnidea, Deimos, LusoSpace, etc.

A Universidade de Coimbra tem uma longa tradição nos estudos astronómicos. A criação, em 1772, do Observatório Astronómico da Uni-versidade de Coimbra (hoje instalado no Alto de Santa Clara) e o desenvolvimento do estudo sistemático da Física Solar na segunda década do séc. XX, por Francisco Costa Lobo (emi-nente Professor desta Universidade), são disto exemplo.

Esta tradição encontra ecos na modernidade pelo trabalho em Astronomia e Astrofísica que efec-tua hoje em dia nos Departamentos de Física e de Matemática da Universidade de Coimbra.

Assim, estes departamentos juntaram recente-mente esforços para a criação de um mestrado em Astrofísica e Instrumentação para o Espaço que pretende formar profissionais capazes de in-tegrar equipas que operarem nas áreas de acção acima referidas. A formação sólida que este mes-trado confere, quer ao nível dos conhecimentos base, quer ao nível da instrumentação, é uma mais valia importante para todos os que preten-dam exercer actividades no domínio espacial.

O mestrado tem a duração de quatro semestres lectivos. Os dois primeiros semestres são consti-tuídos por um total de dez unidades curriculares, das quais apenas cinco são obrigatórias. O estu-dante pode escolher as unidades curriculares que mais se ajustem ao seu perfil e que melhor com-plementem a sua formação anterior em face das áreas de oportunidade que mais lhe interessem.

1659 Christiaan Huygens apercebe-se que Saturno tem anéis.

1666 Robert Hooke mostra que uma força central con-duz ao movimento orbital

1665-7 Newton descobre a lei da atracção Universal

1678 Huygens propõe que a luz consiste de ondas, ideia disputada por Newton que defen-dia que era feita de um feixe de partículas

1682 Edmund Halley nota que cometas com orbitas similares tin-ham aparecido em 1456, 1531, 1607 e 1682 e propõe que são todos o mesmo cometa que retornaria em 1758-9, o que de facto aconteceu

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Abril 2009 :: Anti-Matéria12

ENEF 2009

1686 Newton publica “Principia“ no qual descreve as suas descobertas sobre a gravi-dade, movimento e órbitas de planetas

1718 Edmund Halley descobre que as estrelas

se movem pelo espaço

1729 James Bradley descobre a aberração da luz, fenómeno do mov-imento aparente das estrelas em torno da sua posição real, que atribui à velocidade finita da luz e ao movimento da Terra em torno do Sol

1781 William Hershel descobre Urano, primeiro planeta que não

era conhecido na antiguidade

Com momentos interessantes...

...e momentos de “reflexão”

Depois do jantar visitamos o planetário do Porto

Foi a 27 de Fevereiro de 2009 que este encontro se iniciou. Para quem não conhece, o ENEF (Encontro Nacional de Estudantes de Física) é um evento da Physis - Associação Portuguesa de Estudantes de Física - que pretende reunir estudantes de física de todo o país para apresentação de trabalhos, palestras, visitas e convívio, sendo que este último item foi o determinante na nossa decisão de comparecer. Este ano, foi a cidade do Porto que acolheu este distinto evento. A nossa história começa dia 28 de Fevereiro, após uma noite com um pequeno jantar entre amigos, nada agressivo e, com muito descanso, partimos para o Porto bem cedo e nada cansados. Viagem sem atribulações (muita música e piadas - the usual). Tinhamos como objectivo chegar a tempo da prova de vinhos que iria decorrer nas caves do vinho do Porto e foi isso que fizemos... Entrámos mal tinham acabado a visita às ditas caves, e já estavam prontos para a prova... Tinha começado para nós o ENEF :)

Após almoço seguiram-se as típicas palestras a concurso

O planetário foi um momento alto no dia já que os assentos eram bastante confortáveis e, com as luzes apagadas, proporcionavam o ambiente ideal para estar a olhar para a apresentação com os olhos totalmente abertos e bem atentos ao que se ia dizendo. Após muitas estrelas e constelações visionadas, tanto no planetário como em telescópios, o nosso dia termina na pousada... Não, estou a brincar!! Como curiosos que somos decidimos ir conhecer as atracções que a cidade tinha para nos oferecer à noite, mesmo estando já todos os nossos colegas do Encontro a dormir na pousada. De táxi partimos para um bar catita de uma pessoa conhecida e lá estivemos até a noite nos empurrar de volta para a pousada e para um descanso merecido...

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Abril 2009 :: Anti-Matéria 131783 William Herschel descobre a intensidade e direção da velocidade do Sol, concluindo que parte do movimento de 7 estrelas por ele analisadas era devido ao movimento do Sol

1790 Pierre Laplace propõe que estrelas podem produzir buracos negros se forem compactas o suficiente para que a sua velocidade de escape ultrapasse a velocidade da luz

1801 Giuseppe Piazzi descobre Ceres: primei-ro asteróide conhecido

1835 Gaspar de Coriolis descobre o efeito de coriolis, a aparente defleção do movi-mento de corpos devido à rotação terrestre

1842 Christian Doppler descreve o efeito de Dop-pler, alteração da frequência de uma onda para um observador que se move relativamente à fonte

FIM

2nd day:Kart morning

Coimbra @ podio xDFoi o momento alto de todo o encontro

A tarde foi cheia de actividades produtivas

Jantar com a típica francesinha

Noite muito fixe de convivio com os nossos colegas pelo país fora. Para o ano há mais :D

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Abstracts das apresentações vencedoras

Synthesis and characterization of hydroxyapatite nanotubes using CTAB as template

J. Coelho1, J. Agostinho Moreira1, F. Monteiro2

1 Physics Department. Faculty of Science. University of Porto. Rua do Campo Alegre, 687. 4169-007, Porto. Portugal. ([email protected])

2 Biomedical Engineering Institute (INEB - Biomaterials Division), Rua do Campo Alegre 823, 4150-180 Porto

For the last few years, there has been an increasing demand for synthetic replacement components of bone and teeth. Such materials should be biocompatible, non-toxic and biodegradable.Although, these characteristics are not always found in arti_cially synthesized materials. Calcium hydroxyapatite (HA), also called hydroxylapatite (Ca10(PO4)6(OH)2), is the major inorganic component of bone, dental enamel and dentin. Due to this calcium phosphate-based bioceramic being so abundant in human body, HA is an excellent material for clinical applications.[3] It is already being used as bone cavity filler, bone substitutes, etc. Porous HA enhances the possibility of using this ceramic as drug or protein carrier.

In the literature, several methods have been reported for synthesizing HA, namely sol-gel, reverse microemulsion, hy-drothermal, microwave-hydrothermal, solid-state reaction, and precipitation. The latter is the most used process, as precipitation is a very simple, low cost, and suitable method for industrial production.[2]

In this work, HA nanotubes have been synthesized using a simple surfactant templating method, where the template has been provided by cetyltrimethylammonium bromide (CTAB). The presence of HA in the resulting powder has been car-ried out by comparing the Raman spectra of a commercially available HA sample with the ones from the powder referred to above. Morphological characterization and the search for nanotubes formation has been performed using several facilities: TEM (transmission electron microscopy), SEM (scanning electron microscopy) and zeta-potential. It has been also studied the temperature dependence of both pore size and structural stability. The CTAB:PO4

3- ratio used (1:1), is the one referred in literature, which apparently provides better results.[1]References:

[1] Li, Yanbao; Tjandra, Wiliana and Tam,Kam C. (2008), Synthesis of nanoporous hydroxyapatite using cationic surfactants as templates, Materials Research Bulletin 43 (2008) 2318-2326[2] Cengiz,Burcu; Gokce,Yavuz, Yildiz,Nuray; Aktas, Zeki and Calimi, Ayla (2008), Synthesis and characterization of hydroxyapatit nanoparticles, Colloids and Surfaces A:Physichochem. Eng. Aspects 322 (2008) 29-33[3] Djosic, M.S., Miskovic-Stankovic, V.B,; Milonjic, M., Kakarevic-Popovic, Z.M.,Bibic, N. and Stojanovic, J. (2008), Electrochemical synthesis and

characterization of hydroxyapatite powders, Materials Chemistry and Physics 111 (2008) 137-142

O efeito de Kondo no grafeno Lídia Pacheco Cañamero Barbieri del Rio

Vou falar do trabalho que desenvolvi na minha tese de licenciatura: o estudo teórico do efeito de Kondo no grafeno.O efeito de Kondo, descoberto nos anos trinta, caracteriza-se por um aumento abrupto da resistividade de materiais dopados com impurezas magnéticas a baixas temperaturas. Recentemente descobriu-se que o efeito inverso, o aumento da condutância a baixas temperaturas, se verifica em transístores de electrão único fabricados com quantum dots, com-ponentes importantes em nanoelectrónica. Por outro lado, o grafeno, uma camada única de grafite, tem propriedades mecânicas e electrónicas únicas, que despertaram a atenção da comunidade científica desde a sua descoberta experimen-tal, no início deste século, sendo mesmo uma das grandes promessas para os circuitos do futuro. No meu trabalho, estudo a condutância de um transístor de electrão único de grafeno e, em particular, o efeito de Kondo neste material.

1846 Calculos de Adams e Leverrier para explicar descrepâncias na órbita de Urano levam a descoberta de Neptuno

1851 Jean Foucault usa um pêndulo para demon-strar a rotação da Terra

1859 James Maxwell descobre a função distri-buição de velocidades para um gás, a qual de-pende da temperatura e massa das moléculas

1862 William Huggins identifica os componentes químicos das estrelas

1871 Asaph Hall descobre Deimos e Phobos: luas de Marte

1875 Lord Kelvin e Herman von Helmholtz estimam a idade do Sol em 20 milhões de anos

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PhysisNovos corpos sociais da Physis

Informamos os leitores da revista Anti-ma-téria que os órgãos sociais da Physis - Asso-ciação Portuguesa de Estudantes de Física - mudaram. A nova sede é no Porto e os novos dirigentes são:

Direcção:

Flávio de Sousa Coelho (Presidente)Ricardo José Zambujal Ferreira (Tesoureiro)Rodrigo Silva Maciel (Secretário)

Conselho Fiscal :

Diana Cristina Pinto Leitão (Presidente)Jorge Cardoso Leitão (Vogal)Mariana de Jesus Paiva Proença (Vogal)Mesa da Assembleia Geral:Marta Raquel de Almeida Matos (Presidente)João Carlos Mesquita Coelho (Secretário)Manuel Jorge Monteiro Marques (Secretário)

Pretendemos que a Physis continue a ter um papel activo na divulgação da Física em geral. Existem várias actividades em pre-paração, destacando-se, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Física, o projecto nacional de medição do raio da Terra por estudantes do Ensino Básico e Secundário. Este consiste na medição do raio terrestre seguindo o método original de Eratóstenes. A divulgação nas escolas já começou, e as medições decorrerão em Maio ou Junho. Para mais informações: [email protected]. Pretendemos também reestruturar o

website da Physis organizando um guia de conferências, compreendendo uma se-lecção de eventos, conferências e encon-tros nacionais e internacionais que sejam de potencial interesse para os estudantes e jovens Físicos. A Physis pretende assumir um papel mediador e dinamizador da par-ticipação dos seus associados nestas activi-dades. Tencionamos organizar a primeira Conferência Ibérica de Estudantes de Físi-ca (I CIEF), a qual alargará o Encontro Na-cional de Estudantes de Física à Península Ibérica. Este tem como principal objectivo proporcionar aos estudantes de Física a oportunidade de apresentar e discutir com os seus colegas do resto da Península Ibéri-ca os trabalhos ou projectos em que estejam envolvidos.

XI ENEF. O XI Encontro Nacional de Estu-dantes de Física realizou-se de 27 de Fever-eiro a 1 de Março, no Porto, na FCUP, onde participaram um total de 69 estudantes de todo o país. A par de actividades lúdicas tais como uma corrida de Karts e visita às caves de Vinho do Porto, decorreram palestras so-bre Física em geral. Destaca-se a palestra dada pelo Professor Pedro Gil Ferreira, da Universidade de Oxford, que falou do seu trabalho sobre heterogeneidades do espaço-tempo do Universo.

Foram também atribuídos dois prémios às melhores palestras do concurso para alunos de licenciatura e mestrado: João Carlos Coel-ho, da FCUP (Mestrado em Física Médica) e a Lídia Pacheco Cañamero Barbieri del Rio, da Universidade de Aveiro (Mestrado em Física).

Abstracts das apresentações vencedoras

1875 Lord Kelvin e Herman von Helmholtz estimam a idade do Sol em 20 milhões de anos

1879 Josef Stefan calcula a taxa a que um corpo negro emite energia j = kT4

1894 Wilhelm Wien descobre como a temperatura afecta a cor de um corpo negro

1900 Max Planck descobre que a maneira pela qual um corpo negro emite energia depende do com-primento de onda e da temperatura do corpo negro

1905 Albert Einstein explica o efeito fotoeléctrico, dizendo que luz consiste em pacotes de energia chamados fotões

1915 Alfred Wegener propõe a a teoria da de-riva continental

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Secção de Escrita e Leitura da AACDepois de um período de inactividade de três anos, a Secção de Escrita e Leitura da Associa-ção Académica de Coimbra regressa estimulada e dotada de todas as capacidades para que a sua função seja desempenhada com sucesso. O seu despertar fez-se com a publicação no jornal “A Cabra” de um apelo aos estudantes do ensino su-perior para que, se interessados, fizessem as suas propostas ou prestassem o seu apoio no regresso desta secção. Juntamente com esta publicação, as tertúlias cafetanas dos estudantes também fiz-eram passar a palavra e surtir efeito, salvando a Secção de Escrita e Leitura da extinção.

Criada pela Direcção Geral da Associação Aca-démica de Coimbra, esta secção tem já uns bons anos de história que em muito contribuíram (e será certamente do desejo de todos que assim seja de novo a partir do seu regresso) como es-tímulo à escrita pelos alunos do ensino superior de Coimbra.

Perante a oportunidade de ressuscitar uma secção como a que está em causa, os alunos do Departamento de Física não permaneceram em letargia e José Mendes, João Martins e Tiago, alunos de Engenharia Biomédica, lançaram as suas propostas por meio do site e e-mail da ini-ciativa disponíveis, particularmente um projecto com via a dar conhecimento da secção aos estu-dantes. Com efeito, José Mendes é o Presidente da Secção, João Martins é Tesoureiro e Tiago o Presidente de Plenário e demonstram-se com entusiasmo para desempenhar as suas funções com eficiência. Os restantes elementos da secção distribuem-se pelas Faculdades de Letras, Di-reito e Farmácia, respectivamente nos cursos de História, Direito e Ciências Farmacêuticas, o que sugere que estejamos perante uma secção que surge com grandes capacidades de versatili-dade e satisfação de um vasto leque de gostos do público a que se destinam os textos publicados.

Maria Daniela S. Pires

Aluna de Eng. Física

No que concerne ao funcionamento da secção de Escrita e Leitura, que ainda se encontra a “meio gás” no exercício das suas funções, mesmo que se considere activa desde 21 de Janeiro do cor-rente ano, a iniciativa do projecto conta com um Concurso Literário de Crónicas e Poemas com o tema “Queima das Fitas”, proposta lançada jun-tamente com a Secção de Jornalismo da A.A.C.. Os poemas e crónicas são enviados para o e-mail da secção ([email protected]) ou para o seu site (www.sesla.tk), ainda em construção mas que virá a conter um separador para o efeito, e irão a concurso, sofrendo selecção e classifica-ção para o primeiro, segundo e terceiro lugares, a que corresponderão os respectivos prémios – publicação dos textos no jornal “A Cabra” e site da sesla além da recepção de bilhetes gerais e pontuais para a Queima das Fitas de 2009. O júri responsável pela avaliação dos textos está ainda em criação e será constituído por quatro ou cinco elementos que incluirão, se tudo se concretizar como o esperado, professores das áreas de Letras e Direito. Por falta de verbas a data de início da selecção ainda não é certa – o concurso, por tal razão, ainda não se iniciou.

João Martins, que se mostrou disponível para fornecer informações sobre a participação dos alunos do Departamento de Física na iniciativa, destaca o apoio da DG/AAC e outras secções - de que é exemplo a de Fado e com a qual, a 19 de Março, se realizou um convívio de estudantes nos Jardins da Associação com o fim de também reunir verbas para apoio da secção – e que a sesla está receptiva à contribuição de qualquer aluno para que se efectue o melhor trabalho possível.

1916 Einstein explica na sua teoria da relatividade ger-al, que a matéria curva o espaço, causando os corpos a moverem-se da maneira que atribuimos à gravidade

1916 Karl Schwarzschild calcula a geometria de um buraco negro

1917 É completado o observatório 100’’ Mt. Wilson o qual foi o maior telescópio óptico durante 31 anos.V. M. Slipher descobre que 21 de 25 galáxias se estão a afastar de nós

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Cinescópioixou profundamente irritado (que não considero sur-presa), o vencedor do prémio técnico para melhores efeitos especiais ser o “Benjamin Button”. Quando o filme “Iron Man” e “The Dark Knight” perdem esta categoria algo está errado na filosofia técnica da Aca-demia, mas isto é apenas uma opinião pessoal.

De resto, não houve surpresas e tudo correu sobre ro-das, a meu ver. Parabéns ao Seann Penn por se consa-grar como o melhor actor da sua geração, parabéns ao Danny Trainspotting Boyle pela sua consagração, para-béns aos estreantes do SlumDog, parabéns aos produ-tores da banda sonora do SlumDog, e os meus sinceros parabéns a esse grande SlumDog, que veio a revelar-se um justo Milionário!

PS: Curioso é o facto de que a Academia continuar a atribuir os Oscars de “obrigação”, tal como aconteceu com Scorcese, também Kate Winslet recebeu uma estat-ueta pela qual o seu desempenho não é o mais brilhante. O que interessa é que viu reconhecido o seu trabalho.

Para Rever: Talvez o momento mais bonito de toda a cerimónia, ao som de Queen Latifah despedimos-nos de muitos dos ícones do cinema. Quando digo muitos, foram mesmo muitos. Aqui fica com um link para esse fantástico e sublime momento: http://www.youtube.com/watch?v=JW5XT9cNgZkAté à proxima.

Nuno Martins

Mestre em Eng. Física

Por muito que se goste, ou não, a noite dos óscars é sem dúvida a noite do cinema! Para além de todo o glamour presente na passadeira vermelha, é a noite para qual, todos os outros prémios de cinema, Guild Awards, BAFTA, Golden Globes, tentam prever os vencedores. Neste ano Hollywood transformou-se por algum tempo em Bollywood. Todos nós sabemos que o grande vencedor da noite foi o sublime SlumDog.

Dando um passo atrás, antes de voltar a falar no grande vencedor da noite, falemos da cerimónia propriamente dita. Este ano assistimos a um novo formato de cerimó-nia. Para começar, o apresentador deste ano deixou de ser um comediante; Hugh Jackman aka Wolverine demonstrou ser um one man show, superando com dis-tinção a prova que lhe foi proposta. O seu estilo permi-tiu, devido à sua formação de actor, revelar-se a escolha acertada para trazer à cerimónia o showbiz de outrora, um verdadeiro espectáculo à maneira da Broadway. Falando de apresentações, o que Hugh Jackman teve a mais, tiveram os outros apresentadores a menos, em geral. Vejamos o desastre que foi Daniel Craig, Ben Stiller, Jennifer Aniston, e por aí adiante. Salvo raras excepções , as es colhas para as apresentações das estat-uetas foram um completo flop. Mas voltando à maneira de como todo o espectáculo foi montado, gostei bas-tante da maneira como o palco estava montado. Acho ainda importante salientar o modo como a cerimónia foi restruturada, em particular a maneira como foram apresentados os nomeados para melhores actores e ac-trizes, que apesar de não ter corrido da melhor forma, torna o conceito bastante interessante.

Mas falando de prémios propriamente ditos. Pessoal-mente, houve apenas duas surpresas na atribuição das estatuetas. O galardão para melhor filme estrangeiro e para melhor actriz secundária. Fiquei muito surpreso, pela eleição da Penelope Cruz como melhor actriz secundária, que apesar de ter ficado bastante contente pela a atribuição do prémio, acho que terá sido injusto. O lobby Espanhol falou mais alto. O outro caso prende-se com a derrota da “Valsa com o Bashir” para melhor filme estrangeiro.

À parte destes dois casos, houve ainda um que me de-

1920 Eddington propõe que a fusão de hidrogénio, o elemento mais comum do Sol, em hélio dá origem à enorme quantidade de energia emitida pelo Sol

1923 Edwin Hubble mostra que nébulas espirais são de facto galáxias, grandes con-

juntos de estrelas longe da Via Láctea

1928 Arthur Holmes propõe que con-véção no manto terrestre é responsável

pela deriva dos continentes

1929 Edwin Hubble desco-bre que o Universo está a

expandir

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O saxofone tenor trabalha então os ritmos de Ali, de forma extremamente livre, oscilando entre pequenas estruturas modais e longas frases de cortar a respiração. O resultado dos duetos é extremamente hipnótico e eté-reo e soa, ainda hoje, muito arrojado.

O título e a capa do disco do pianista e compositor Sun Ra, em que a sua foto se encontra numa galeria de astrónomos ao lado do retrato de Galileu Galilei, não poderiam ser mais sugestivos. Quase toda a obra deste inusitado artista, que cultivava a excentricidade vestin-do-se de faraó e afirmando ser originário de Saturno, remete directamente para temas “cósmicos”. Excentri-cidade à parte, a sua obra foi seminal – Sun Ra foi pio-neiro, por exemplo, no uso de sintetizadores e outros instrumentos electrónicos no jazz.

Double sunrise over neptune, de William Parker, foi considerado uma das melhores obras de música impro-visada de 2008. Parker, um músico prolífico e versátil que tem trabalhado em diferentes formações, ‘dirige’ aqui um grupo de dezasseis músicos e um vocalista de scat indiano, Sangeeta Bandyopadhyay. O resultado da mistura de influências africanas e indianas é surpreen-dente. O tema “Nepune’s Mirror”, uma das quatro faix-as do disco, é particularmente encantador, remetendo para um estilo “trance”.

Sem dúvida, três discos de alto astral!

Jazz

Os astros sempre foram fonte de inspiração para os ar-tistas – e os músicos de jazz não são excepção. Já na obra dos “veteranos” Duke Ellington e Charlie Parker encontramos temas que remetem directamente para o “cosmos” (“Blues in Orbit”, “Cosmic Rays”, etc). Com o advento do free jazz e do jazz de fusão, nas década de 60 e 70 muitos são os artistas que gravaram com-posições inspiradas no cosmos e na aventura espacial. Herbie Hancock, por exemplo, aparece vestido de as-tronauta nas capas de alguns dos seus discos de fusão que se seguiram à fase em que trabalhou com Miles Da-vis e títulos como “Thrust” (propulsão de um foguetão) ajustavam-se na perfeição ao ritmo funky da época.

Sendo grande a lista que poderia ilustrar como os astros têm inspirado os músicos de jazz, seleccionamos três obras emblemáticas que podemos catalogar na corrente free jazz, ou seja, da música com maior liberdade de improvisação: Interstellar Space, de John Coltrane, The Heliocentric Worlds of Sun Ra, de Sun Ra, e Double Sunrise over Neptune, de William Parker.

Interstellar space, foi um dos últimos álbuns gravados por John Coltrane poucos meses antes da sua morte, em 1967, e mostra de forma inequívoca a evolução de Coltrane para a “New Thing”, ou free jazz, no final da sua carreira. O disco que apenas veio a lume postuma-mente, em 1972, contempla quatro temas na forma de dueto entre o saxofonista e o baterista Rashied Ali. Cada tema é dedicado a um planeta do sistema solar: Marte, Vénus, Júpiter e Saturno. A estrutura dos temas é semelhante. Coltrane começa de forma ritual por to-car um hipnótico som de campainhas, a que Rashied Ali responde com um improviso rítmico na bateria.

José António Paixão

Professor do Dep. Física

1930 Clyde Tombaugh descobre Plutão

1931 Karl Jansky faz as primeiras observa-ções astronómicas rádio e descobre que a Via Láctea é uma fonte de emissão de rádio

1937 Grote Reber contrói o primeiro rádio telescópio e faz o primeiro mapa de emissões de rádio cósmicas

1939 Robert Oppenheimer e George Volkoff calculam as propriedades das estrelas de neutrões

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Oasis @ Pavilhão Atlântico

João BorbaAluno de Eng. Biomédica

Nuno LopesAluno de Eng. Biomédica

Foi no último dia 15 de Fevereiro que os Oasis se apresentaram de novo perante o público por-tuguês. As expectativas não muito elevadas, ali-adas ao facto de os Oasis já não se apresentarem no seu auge (vulgo “Definitely Maybe”, “What’s The Story (Morning Glory)?”), levou a um Pavil-hão Atlântico algo despido. Eram poucos os que lá estavam para assistir à banda na sua totalidade, à sua discografia completa, por isso era possível constatar um clima ameno e pouco entusiástico (onde a banda que abriu simplesmente não cum-priu), que só aqueceu quando um fantástico es-pectáculo de luzes, aliada à “Fuckin’ In The Bushes”, lançou o mote para uma boa exibição dos reis do britpop, modéstias à parte.

“Rock’n’Roll Star” e “Lyla”, hits autênticos, com sabor a Guiness e recheados de influências Beatli-anas, abriram a cumprir, ao bom estilo da banda de Manchester. “The Shock Of The Lightning” (primeiro single de “Dig Out Your Soul”) prome-tia manter aceso o entusiasmo, mas revelou-se uma música que não resulta ao vivo, um estranho contraste com a versão estúdio. A vibrante “Cigar-retes & Alcohol” não deixou a chama apagar-se e mostrou um Noel Gallagher (o génio da banda) muito prometedor para o resto da noite. Durante o concerto mostrou-se extremamente concentra-do e eficaz, a comprovar a sua excelente forma, já distante dos maus tempos, como se confirmou numa “The Masterplan” bastante emocional. En-tre amenas “Waiting For The Rapture” e “Ain’t Got Nothin’” (ambas do novo álbum) e uma sa-borosa “Songbird”, surgiram momentos de pura classe como “Morning Glory” e “Slide Away”, com improvisações marcantes de Noel. Um dos pontos altos da noite foi “The Importance Of Be-ing Idle” que mostrou um baterista novo (mais um!) cheio de qualidade. Aproveitando os seus excelentes dotes artísticos, impôs um ritmo es-tonteante à música, acompanhadas por palmas acertadas do público. Por esta altura, Noel pegou na semi - acústica, e foi instintivo o estrondo do público, a pedir a “Wonderwall”. Entre um ape-

lo de Noel a pedir para o José Mourinho voltar para Inglaterra, e aproveitando o tema, fintou o público e surgiu “I’m Outta Time”, segundo sin-gle do novo álbum, uma balada que não perde a qualidade de outrora. Mas estava destinado. Foi a altura de todos pegarem nos multimédia para mais tarde recordar a intemporal “Wonderwall” num momento simplesmente inesquecível. “Su-personic” fechou na perfeição uma boa primeira parte.

A primeira música do encore mostrou uma surpre-sa. “Don’t Look Back In Anger” ficou a cargo de Noel, numa versão acústica de uma emotividade transcendente, capaz de soltar algumas lágrimas. O público cantou e encantou o próprio Noel, que por sua vez deixou diversas vezes de cantar e meteu o registo vocal a cargo da assistência. Um momento para perdurar na memória. O brilharete acústico manteve-se para a “Falling Down” e foi seguido da psicadélica mas suave “Champagne Supernova”. Como é hábito da banda, o con-certo terminou com um tributo aos míticos The Beatles, com um robusto “I Am The Walrus”, que acabou por encerrar demasiado cedo um clímax, um encore quase perfeito, num concerto não es-pectacular, mas extremamente eficaz, ao ponto de serem poucos os que saíram de lá com a sen-sação de dinheiro mal empregue. Porque, apesar de tudo, e citando Liam Gallagher: “It’s fu**** Oasis, man!”.

Testemunho - Frog: Actuação dos irmãos Galla-gher com a sua postura habitual mas com uma simpatia “agradavelmente”anómala. Não desilu-diram nem se superaram. Ó Liam mais um “thank youzinho” só te ficava bem!

1948 200’’ telescópio Palomar é concluido e foi o maior telescópio óptico durante 40 anos

1950 Jan Oort prevê a existência da nuvem de Oort dos cometas

1958 James Van Allen descobre o cinturão de van allen. O primeiro satélite americano, Explorer 1, confirma a existência de particulas energéticas carregadas ao levar um contador de Geiger

1957 O primeiro satélite é posto em

órbita - Sputnik

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The Prodigy – Invaders Must Die *****

Ainda se lembram deles? Reconhecidamente os grandes pioneiros do techno industrial/big beat às massas e responsáveis por enormes êxitos na década de 90 como “Voodoo People”, “Breathe” e “Smack My Bi*** Up”. Apesar de ainda hoje gozarem de uma enorme reputação a nível mundial, neste novo século, a banda passou por uma complicada fase de remodelação e reinvenção de uma fórmula já gasta. O último trabalho da banda, Always Outnumbered, Never Outgunned (2003), era o espelho de enormes dificuldades no seio da banda, já que tirando Liam Howlett, nenhum dos outros membros residentes da banda (Keith e Maxim) entrou nesse trabalho, vi-vendo Liam das colaborações vocais de outros artis-tas ou samples bastante minimalistas. Intercalando entre o muito bom e o muito mau, Always Outnum-bered, Never Outgunned era bastante difícil de di-gerir. Resolvidos os problemas internos, sem perder a força que possuem ao vivo, com uma nova agência discográfica e com uma colaboração de peso para a bateria (Dave Grohl, vocalista/guitarrista dos Foo Fighters, ex-baterista dos Nirvana), surge Invaders Must Die e desde já se assume como um sério can-didato aos melhores discos de 2009.

Sem perder tempo, “Invaders Must Die” abre com uma guitarra aliciante seguida de um ritmo, equiva-lente ao arremesso de uma bomba para a pista de dança. “Omen” (single actual) apela ao mainstream, e revela uma faceta assustadora e psicadélica, quase trance, a lembrar os The Prodigy no início da sua carreira. Um início fantástico, quem sabe nunca es-quece. O álbum é mesmo isso, é uma retrospectiva bastante abrangente dos melhores momentos da banda. Esperem até ouvir as linhas de baixo destru-idoras que “Thunder” ou “Warrior’s Dance” ofer-ecem ou as guitarras potentes de “Piranha” e “Run With The Wolves”. Há também momentos psicadé-licos e quase macabros (“Take Me To The Hospi-tal”) e zonas viscerais contra a lei a lembrar Music For The Jilted Generation, como “World’s On Fire”. Mas surpresa melhor que “Stand Up” não podia ex-istir. Provavelmente ninguém esperaria que Liam acabasse o álbum de uma maneira estranha aos The Prodigy, uma faixa alegre e relaxante, para desanu-viar. Com influências house e soul (assobios!) a vi-rem ao de cima, é sem dúvida um momento a não perder. No entanto, nem tudo são rosas. É possível notar batidas reutilizadas, como em “Colours”, com um ritmo bastante semelhante a Memphis Bells do álbum anterior, mas sem deixar de ser uma faixa de bom nível. Já “Omen Reprise”, uma pequena con-tinuação de “Omen”, parece estar a mais.

Mesmo assim, Invaders Must Die é um álbum que poucos esperariam que os The Prodigy fossem ai-nda capazes de fazer. É um álbum extremamente consistente e sólido, ao nível do Fat Of The Land, mas sem ainda chegar perto do perfeito Music For The Jilted Generation. Mas depois de ouvir Invad-ers Must Die, é possível acreditar que esse momento pode ser igualado, ou quem sabe, ultrapassado. Eles estão (finalmente!) de volta!

Música

João Borba

Aluno de Eng. Biomédica

1963 Raymond Davis controi o primei-ro telescópio de neutrinos solares, 1.6 km no subsolo numa mina de chumbo

1963 Maarten Schmidt mostra que os quasares têm um grande redshift mostrando que se movem rapi-damente para longe de nós e estão muito distantes

1964 Arno Penzias e Robert Wilson desco-brem a radiação cósmica de fundo, usando um radio telescópio.

1965 Mariner 4 passa por Marte e envia imagens da sua superfície a

qual se assemelha à da Lua

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A vingança do CristianismoA mensagem do Catolicismo parece não ser clara nem sequer importante ao comum dos mortais, o que parece ser compreensível visto que só os lunáticos esperam ir para o Céu depois de mortos e o Inferno já não assusta ninguém. Isto, claro, para não falar desse precioso livro que muitos têm em casa mas que ninguém tem grande interesse em ler: a Bíblia.

De qualquer forma, há uma ou outra parte desse livro que não se deveria considerar levianamente. Por exem-plo: “Felizes os que têm fome e sede de Justiça porque serão saciados” (Ref), talvez por detrás de algo deste calibre não esteja subjacente a noção de que os que querem a Justiça e lutam por ela serão bem vistos no futuro Reino de Deus (que parece tardar a chegar) mas antes a noção mais profunda de que por detrás do so-frimento haverá uma justificação, uma espécie de con-solo ou reparação por aquilo que se poderá ter sofrido neste mundo. O que tem piada é que essa “justificação” poderá ser mera fantasia, afinal o nosso Pai pode nem estar nos Céus, pode estar na cozinha, a passear ou nem sequer existir.

Outra questão interessante nesse livro prende-se com o perdão. Mais concretamente, qualquer um pode perce-ber o que é que se pretende com “olho por olho, dente por dente” (Ref), mas o Novo Testamento pretende le-var a Antiga Lei à perfeição (Ref), bom, para tal uma das mudanças seria entrar em linha de conta com o perdão. Ou seja, a justificação da injustiça sofrida não passaria mais pela vingança, mas pelo perdão do ofen-sor, ficando o ofendido mais próximo de Deus. Isto pa-rece fazer um certo sentido, não é difícil imaginar uma espiral de destruição e violência baseadas numa pura lógica de vingança.

A partir de agora, vou deixar a Bíblia em paz, não pre-tendo fazer proselitismo e, mesmo que o quisesse, não me sentiria nesse direito, visto não ser propriamente um “bom cristão”. Servi-me da Bíblia para introduzir, de certa forma, o que se segue.

Penso que ninguém negará que existem “valores” que orientam uma dada conduta, ou uma certa forma de

pensamento. Que um sujeito não se comporte de acor-do com os “valores” que professa já é algo muito visto. Quanto a saber se o sujeito em causa se apercebe da discrepância que existe entre o seu comportamento e os valores que professa, isso é talvez uma questão mais difícil, mas algo que se pode perguntar é quanto vale um valor pelo qual ninguém está disposto a sofrer ou a perder algo? Por exemplo, a justiça. Que a injustiça se paga com revolta, isso é algo sobejamente conhecido, mas será por isso que a justiça é barata?

Uma ideia que parece bastante generalizada é a de que um mundo melhor corresponderá a uma sociedade livre e sem preconceitos e que a História mais não tem sido do que um caminhar para esse mundo desde que nos libertámos do obscurantismo religioso. Muito bem, mas será possível falar em liberdade desligando total-mente da noção de sofrimento? Será que um determi-nado sujeito está verdadeiramente interessado em liber-tar-se dos seus próprios preconceitos? Até que ponto?

Que importa o sofrimento, a sua justificação, o que quer que isso seja afinal, ou a sua relação com va-lores professados? Bem, é possível um sujeito mentir a si mesmo sobre as suas próprias acções, sobre aquilo que o motiva, mas se estiver a sofrer, não pode ignorar isso, terá de o encarar de frente. Assim, se não houver qualquer conexão entre sofrimento e moral, esta última arrisca-se a tornar numa mera questão de gosto, e é isso que acho piada. Não pretendo defender com aquilo que escrevi o regresso à Inquisição, estou simplesmente a dizer que a tentativa de encontrar bases racionais para um qualquer conjunto de valores morais é algo deso-nesto se não houver por outro lado um esforço, que não envolve apenas a razão, de tentar harmonizar o com-portamento com aquilo que se defende, mesmo que o preço a pagar por essa harmonização seja o sofrimento – algo que muitos estiveram dispostos a aceitar em nome de Deus.

João Campos

Aluno de Física

1967 Jocelyn Bell e Antony Hewish descobrem um pulsar, mais tarde atribuido a feixes de radiação emitidos por uma estrela de neutrões em rotação

1969 Edwin Aldrin e Neil Armstrong pisam pela

primeira vez solo lunar

1972 Apollo 17 é a última missão Apollo

1974 Mariner 10 encontra Mer-cúrio 4 vezes enviando imagens da sua superficie

1976 As sondas Viking aterram em

Marte

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Abril 2009 :: Anti-Matéria

Astronomia Amadora

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Corria o ano de 2005 quando aceitei ingressar num curso de Astronomia promovido pela Secção de As-tronomia, Astrofísica e Astronáutica da Associação Académica de Coimbra (SAC). Embora já fosse um curioso dos astros, foi este curso que me mostrou o que é a astronomia amadora e que me ajudou a dar os primeiros passos nesse mundo. Ser “amador” é, por definição, amar. É então amador aquele que ama o que faz, com os recursos que tem ao alcance – e o mesmo se aplica ao astrónomo amador. Qualquer pes-soa pode ser astrónoma amadora (desde que mantenha pelo menos um dos olhos operacionais) cada vez que sai de casa e olha para o céu estrelado. Se astrónomo amador é conhecer o nome das estrelas, das constela-ções, compreender o significado da rotação celeste, é aprender um pouco mais de física - acessível a todos -, é conhecer muitas pessoas novas e visitar locais remo-tos e pitorescos. Os primeiros passos de um astrónomo amador são, normalmente, dados no quintal de casa e com um livro à frente, enquanto tenta destacar men-talmente algumas constelações daquele quadro ne-gro pintalgado de estrelas. Depois há quem adquira binóculos (sim, são um instrumento de observação excelente!) ou mesmo um telescópio. O telescópio é normalmente um enorme passo para um mundo total-mente diferente; não conheci, até hoje, ninguém que não ficasse fascinado ao observar pela primeira vez os anéis de Saturno, ou que não ficasse espantado com o brilho insuportavelmente intenso da Lua, quando ob-servada através de um telescópio. O mesmo se pode dizer de todas as nebulosas, estrelas duplas e outros planetas observáveis; todos estes “pequenos” objectos são o combustível que alimenta a curiosidade do as-trónomo amador. Aliado a isto está a curiosidade que inevitavelmente surge em relação à física que governa os mecanismos celestes, da constituição dos astros e mesmo da sua história. De facto, os astrónomos ama-dores partilham pequenas curiosidades que são muitas vezes a faísca que desperta o interesse de outros por esta área.

O astrónomo amador é, apesar de tudo, um bicho social. Rapidamente chega à conclusão que a forma

mais rápida de progredir é contactar com quem sabe um pouco mais, o que não só torna a experiência mais agradável socialmente como também promove o en-tusiasmo do iniciante, reduzindo os casos de insucesso nas observações. As observações são habitat natural do astrónomo amador e - embora muitos apreciem a solidão - é nesse campo que é mais notória a compo-nente social desta actividade; de facto são numerosos os grupos de astronomia amadora em Portugal, sejam eles de amigos ou associações registadas legalmente. Não é difícil encontrar um destes grupos para se ini-ciar na astronomia amadora e é mesmo aconselhável a integração num deles, pois as necessidades de um céu escuro para a observação levam muitas vezes estes en-tusiastas a percorrer largos quilómetros numa só noite em busca dos locais mais remotos; isto normalmente só é compatível com grupos, pois estes locais são pref-erencialmente afastados de povoações (longe de fon-tes de luz que “poluem” o céu que se quer escuro) e como tal é importante estar-se sempre acompanhado.

As melhores oportunidades para alguém se iniciar na astronomia amadora são as festas. Sim, aqui tam-bém há festas e seguramente estas exigem bastante da resistência do astrónomo amador! Tratam-se de encontros de astrónomos amadores em larga escala, realizando-se normalmente num local remoto do nosso país (e, frequentemente, de uma grande beleza natural) e duram na maioria das vezes duas noites. Durante o dia observa-se o sol, assiste-se a palestras relacionadas com a astronomia e participa-se em ac-tividades normalmente relacionadas com a localidade. Estas festas ocorrem anualmente e em Portugal é de destacar a Astrofesta, embora sejam regulares mais uma mão cheia delas.

Fica assim o desafio para todas as mentes inquietas e curiosas que não resistem a olhar para o céu nocturno e pensar “hum…”.

João Neto

Aluno de Eng. Física

1977 Voyager I e II são lançadas

1978 James Christy descobre Caronte, lua de Plutão

1979 Voyager I e II passam por Júpiter

1986 Voyager II passa Urano e descobre 6 luas

1987 É detectada a Supernova SN1978A a qual era a primeira em 400 anos a ser visível a olho nu

1989 Voyager II passa Neptuno e descobre 8 luas e 3 anéis

1990 O telescópio espacial Hubble é lançado

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Abril 2009 :: Anti-Matéria 231992 O satélite COBE detecta irregularidades na radiação cósmica de fundo

1993 É terminado o primeiro telescópio do Keck, dos maiores telescópios ópticos do mundo

1995 A sonda Galileu penetra a atmosfera de Júpiter.É lançado o ISO (Infrared Space Observatory).São encontrados planetas a orbitar estrelas tipo Sol.

1997 Pathfinder aterra em Marte

1998 Astrónomos descobrem que a expan-são do universo é acelarada.VLT começa a observar

1999 Lunar prospector despenha-se propositadamente na Lua a fim de encon-trar água. Não foi encontrada

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Abril 2009 :: Anti-Matéria2424

Passatempos6 Março 2009

É lançada a sonda Ke-pler cujo objectivo é descobrir planetas tipo Terra a orbitar outras estrelas. Observando a

luminosidade de 100.000 estrelas du-rante 3.5 anos ele vai detectar trânsitos períodicos destas por planetas

30 Julho 2008

O satélite swift da NASA apanha pela primeira vez o momen-to da explosão duma su-pernova

2003

Novas medidas dizem-nos que o universo tem 13.7 biliões de anos, analisando a radiação mais antiga do universo

24 Agosto 2006

Plutão deixa de ser considerado um planeta passando a ser designado por planeta anão

4 Janeiro 2004

O rover Spirit aterra em Marte, 3 semanas antes do seu gémeo op-portunity continuando ainda hoje a comunicar com estação terrestre

14 Janeiro 2005

A sonda Huy-gens, aterra na lua de Saturno, Titan, enviando dados durante 90 minutos

26 Outubro 2006

São lançadas as son-das STEREO que darão aos cientistas imagens 3D do Sol

8 Janeiro 2008

Astronomos descobrem ante-passados de galáxias como a Via Láctea. Estas gálaxias for-maram-se quando o universo teria apenas 2 biliões de anos

25 Maio 2008

A sonda Phoenix aterra no polo norte de Marte, com o objectivo de pro-curar água. Deixou de comunicar a 2 de No-vembro de 2008

11 Maio 2007

Investigadores identificam uma es-trela na Via Láctea com 13.2 biliões de anos de idade, muito próxima da idade do universo

21 Agosto 2007

É identificada a estrela de neutrões mais próx-ima da Terra na con-stelação Ursa Menor

Soluções

Imagem: Carina Nebula tirada pele Telescópio es-pacial Hubble