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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho (61) 3964-8624 / 3233-2527 www.adcruz.org/ebd Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 11 13 de Março de 2011 Antioquia, uma igreja que rompe barreiras Texto Áureo "E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente. Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos". At 11.26 Verdade Aplicada Uma Igreja onde a graça de Deus predomina não existem preconceitos, é envolvente, atraente e impactante, pois o Espírito Santo é seu cartão de visitas. Objetivos da Lição Revelar que Antioquia foi fundada por pessoas desconhecidas durante a dispersão; Ensinar que Antioquia era uma Igreja cheia de graça, sem barreiras e sensível a voz do Espírito Santo; Mostrar a preocupação de Barnabé quanto ao ensino das Escrituras e o êxito obtido em meio a um lugar pecaminoso e hostil. Textos de Referência At 11.19 E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus. At 11.20 E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. At 11.21 E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor.

Antioquia, uma igreja que rompe barreiras - virtualebd.com.br · nos sobre a conversão de Saulo de Tarso (baseado em uma fonte informativa paulina), bem ... por parte de Simão Pedro

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QD 07 - Área Especial 01 Cruzeiro Velho (61) 3964-8624 / 3233-2527

www.adcruz.org/ebd

Presidente: Pastor João Adair Ferreira Dirigente e Consultor Doutrinário: Pastor Argileu Martins da Silva Superintendente: Presbítero Jorge Luiz Rodrigues Barbosa Lição 11 13 de Março de 2011

Antioquia, uma igreja que rompe barreiras Texto Áureo "E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente. Em

Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos". At 11.26 Verdade Aplicada Uma Igreja onde a graça de Deus predomina não existem preconceitos, é envolvente,

atraente e impactante, pois o Espírito Santo é seu cartão de visitas. Objetivos da Lição ► Revelar que Antioquia foi fundada por pessoas desconhecidas durante a dispersão; ► Ensinar que Antioquia era uma Igreja cheia de graça, sem barreiras e sensível a voz do Espírito Santo; ► Mostrar a preocupação de Barnabé quanto ao ensino das Escrituras e o êxito obtido

em meio a um lugar pecaminoso e hostil. Textos de Referência At 11.19 E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão

caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus. At 11.20 E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em

Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. At 11.21 E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao

Senhor.

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At 11.22 E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém;

e enviaram Barnabé até Antioquia.

A Igreja em Antioquia 11:19-30

Atividades de Paulo e Barnabé Esta seção parece dar prosseguimento ao trecho de Atos 8:4, porquanto temos aqui a reiteração da declaração que a igreja foi dispersa, em face das perseguições que começavam a ficar mais severas. O autor sagrado, mui provavelmente, se alicerçou em alguma fonte informativa da igreja cristã de Antioquia e ele teria interrompido para falar-nos sobre a conversão de Saulo de Tarso (baseado em uma fonte informativa paulina), bem como sobre as atividades de Simão Pedro, que deram inicio, oficialmente, à igreja cristã gentílica, narrativas essas quase certamente fundamentadas em uma fonte informativa derivada de Jerusalém-Cesaréia. (Ver At 8:5 - 11:18). O livro de Atos, a partir deste ponto, começa a expandir a narrativa sobre as várias atividades que constituíram a missão da igreja cristã entre os gentios, através das quais o cristianismo se tornou instituição verdadeiramente universal, para jamais retornar ao provincialismo do judaísmo. Da mesma forma que as atividades do apóstolo Pedro foram aprovadas pela igreja-mãe, em Jerusalém, embora houvesse ainda alguma oposição, assim também, na presente seção, a missão da igreja de Antioquia, entre os gentios, foi abençoada por Barnabé. Presumivelmente, pois, também foi afirmada pela igreja de Jerusalém, visto que Barnabé era representante da mesma. O autor sagrado, por conseguinte, esforça-se aqui por mostrar-nos que a igreja cristã dera um passo avante em unidade, e não de modo faccioso, dividido. A história de Cornélio e seus familiares, bem como dos primórdios da igreja cristã em Cesaréia, foi apresentada de maneira dramática; mas, neste ponto, os inícios igualmente importantes do cristianismo, em Antioquia, são expostos como fatos consumados. Paulo já estava agindo, levantando congregações cristãs na Síria e na Cilícia (ver Gl 1:21), tendo sido o verdadeiro originador da missão cristã entre os gentios, embora o livro de Atos não nos dê essa impressão, posto que a história de Cornélio e Pedro representa o início oficial da missão evangelizadora entre os povos gentílicos, provavelmente porque foi através desse incidente que a igreja-mãe, em Jerusalém, deu sanção oficial à mesma. Ou talvez tenha ocorrido simplesmente que Lucas não estava informado sobre os muitos anos de labor de Paulo, na Síria e na Cilícia, antes desse incidente em Cesaréia. O inicio da igreja cristã de Antioquia não se deveu aos esforços de Paulo, mas antes, de algum irmão cujo nome não é dado, que fora forçado a fugir de Jerusalém, o qual, tendo chegado à região de Antioquia mui naturalmente continuou falando a respeito do Senhor Jesus, não tendo seguido a norma de falar exclusivamente aos judeus (ver o vs. 19). O vigésimo versículo não deixa perfeitamente claro se esses discípulos, cujo nome não nos é dado, eram judeus helenistas, de Jerusalém, que haviam sido forçados a fugir por causa das perseguições, ou eram nativos de Chipre e Cirene, provavelmente judeus helenistas que haviam estabelecido ali residência permanente. Esta última possibilidade parece mais provável. A passagem de Atos 13:1 parece indicar, de forma bem definida, que se tratava de judeus cristãos, residentes permanentes em áreas ocupadas por gentios, aqueles que foram os responsáveis pela evangelização de Antioquia e redondezas. Por conseguinte, o apóstolo Paulo não foi o único fundador do cristianismo gentílico; a despeito do que, o grande espaço

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que Lucas dedica a ele, nessa história, demonstra, acima de qualquer dúvida, que Paulo era considerado a força mais poderosa do evangelismo entre os gentios. Não se há de duvidar que importante parte das atividades do apóstolo Paulo, em alguns territórios, se alicerçava em igrejas cristãs já fundadas, não sendo um trabalho inteiramente pioneiro. 11:19 Aqueles, pois, que foram dispersos pela tributação suscitado por causa de Estêvão, passaram até a Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus, Neste ponto tem continuação a narrativa interrompida no trecho de Atos 8:4, a fim de que fossem feitas as inserções do material concernente à conversão de Saulo de Tarso e do material concernente ao início oficial da missão cristã entre os gentios, por parte de Simão Pedro. (Ver a lição 10). Fenícia. O território que ficava nas costas orientais do mar Mediterrâneo, e cobria cerca de duzentos e quarenta quilômetros entre os rios Litani e Arvade (modernamente Líbano Latáquia do Sul). Esse lugar é mencionado exclusivamente no N.T. como lugar de refúgio para os cristãos perseguidos, os quais fugiram de Jerusalém por causa da perseguição que rebentou logo após o assassínio de Estêvão (ver At 11:19). Foi também o território através do qual passaram Paulo e Silas, em sua jornada de Samaria a Antioquia. (Ver At 15:3). Posteriormente, o apóstolo Paulo aportou na costa da Fenícia, perto de Tiro, em sua viagem a Jerusalém. (Ver At 21:2,3). Nos tempos do Senhor Jesus, a Fenícia era reputada como a região costeira em redor de Tiro e Sidom. (Ver Mt 15:21 e Lc 6:17). E os habitantes da região, que incluíam gregos, eram considerados «sírios-fenícios» (ver Mc 7:26). Nos tempos do A.T., esse território era denominado, pelos hebreus, «Canaã» (ver Is 23:11). A palavra «cananeu» significa comerciante, e mui provavelmente esse foi o nome que os habitantes do lugar aplicaram a si mesmos. (Ver Gn 10:15). A origem dessas populações tão dadas às coisas do mar é extremamente obscura; mas sabemos, com base nos escritos de Heródoto (1.1. 11.89), que eles ali chegaram provenientes da área do golfo persa, através do mar Vermelho e primeiramente erigiram a cidade de Sidom. As principais cidades desse território eram Trípolis, Biblis, Sidom, Tiro e Berito. A área é fértil, a começar pelas terras altas no sopé do monte Líbano e descendo lentamente para o mar. Ocupava um lugar muito cobiçado para o comércio, desde os tempos mais remotos que se conhecem. Diz Plínio (L. 5, cap. 12) que a Fenícia se tornara famosa pela invenção das letras, das constelações e das artes navais e da guerra. O território era conhecido por sua religião idolatra, o que foi condenado por Elias (ver I Rs 18-19) e por Isaías (ver Is 65:11). A arqueologia, quando do descobrimento dos textos de Ras Shamra, demonstrou que ali imperava o politeísmo, bem como uma mitologia natural centralizada ao redor de Baal, que também era conhecido pelo nome de Moloque (que significa «rei»), do deus-sol Sapis e de Quesepe, uma divindade pertencente ao submundo. Cultos surgidos posteriormente misturaram diversas ideias pertencentes a outras culturas, mas, de maneira geral, a área era estritamente pagã. Foi em um lugar assim, pois, que agora chegava o cristianismo. Chipre. Trata-se da terceira maior ilha do mar Mediterrâneo, com 238 quilômetros de comprimento e 24 a 64 quilômetros de largura. Ali nasceu Barnabé. A história registrada menciona Chipre desde 1500 A.C. Diversos povos, entre os quais os egípcios, os fenícios, os gregos e os romanos, nela habitaram em estágios vários de sua história. Os missionários cristãos nela penetraram, pela primeira vez, através de uma de suas mais excelentes cidades portuárias, Salamina. Ainda existe um grande aqueduto nesse local, o qual era suficiente para suprir de água uma cidade com cerca de cem mil habitantes. Ali medrava grande população judaica, nos dias de Paulo, o que fica demonstrado pelo fato de haver bom número de sinagogas na cidade. O cristianismo lançou ali raízes firmes. Acredita-se que Barnabé foi martirizado na ilha de Chipre, em Salamina. Quando do concilio de Nicéia

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(325 D.C.), três bispos vieram de Chipre como representantes das igrejas dali, o que nos mostra até que ponto o cristianismo já se desenvolvera na ilha. Chipre parece nunca ter sido densamente povoada, pois Plínio alistou apenas quinze centros populacionais. Antioquia. Essa cidade, localizada às margens do rio Orontes, foi o berço das missões cristãs. Era conhecida como Antioquia da Síria, a fim de ser distinguida de Antioquia da Pisídia. (Ver At 13:14). Antioquia da Síria foi fundada em cerca de 300 a.C. e cresceu a ponto de contar com numerosa população nos tempos de Paulo, incluindo muitos judeus, os quais, desde tempos remotos haviam obtido o direito de cidadania. Durante o período das guerras dos Macabeus, muitas famílias judaicas se estabeleceram em Antioquia. Na época de Paulo, era a terceira maior cidade do império romano, perdendo em importância numérica apenas para Roma e Alexandria. Os romanos fizeram-na capital da província romana da Síria. Paulo começou e terminou ali a sua segunda viagem missionária. Não sabemos exatamente quão grande era a cidade nos dias de Paulo, mas, à base da informação dada por Crisóstomo, deve ter contado com uma população de cerca de oitocentos mil habitantes, em 300 d.C. A atual Antikiyeh assinala o local da cidade antiga, mas é comparativamente pequena, cobrindo apenas pequena parte da área original. As escavações arqueológicas têm descoberto numerosas ruínas do passado, algumas das quais anteriores à era cristã. O circo, um dos maiores dos tempos romanos, a acrópole, numerosos banhos, vilas e cemitérios romanos, têm sido descobertos. Belos pisos de mosaico, que datam do período apostólico até o século VI D.C., também têm sido descobertos. O Caronion (busto de Caron, deus grego mitológico, que transportava as almas para o outro lado do rio Estige), de cerca de 170 A.C, com cinco metros e pouco de altura, entalhado em uma penedia de pedra calcária, a nordeste da cidade, continua visível, embora bastante estragada pelas intempéries. Nos dias de Paulo certamente ainda era um marco notável. Mais de uma vintena de edifícios cristãos tem sido ali descoberta, embora nenhuma dessas construções date dos dias apostólicos. O famoso Cálice de Antioquia foi descoberto ali por alguns trabalhadores que cavavam um poço, em 1910. No início foi declarado pertencente à última parte do século I D.C, e alguns chegaram a imaginar que fosse o cálice original em que Cristo serviu a Ceia. Há nele gravadas efígies que representam Cristo e os apóstolos. A maioria das autoridades concorda que se trata de um produto da primitiva arte cristã, datando entre os séculos II e VI de nossa era. Antioquia sobre o Orontes era sede do legado imperial da província romana da Síria e Cilícia, e aparecia como a capital do oriente. Josefo, o historiador judeu do tempo dos apóstolos, diz-nos que era a terceira maior cidade do império romano, perdendo em importância somente para Roma e Alexandria. A grande maioria da população era síria, embora houvesse numerosa colônia judaica. Sua cultura era tipicamente greco-helenista. Seu porto era Selêucia (At l3:4), a qual era reputada cidade comercial e centro marítimo. Não muito distante dali ficava Dafné, quartel-general do culto de Apolo e Artêmisa, culto esse que se tornou famoso por sua degradação. Isso era tanto verdade que Juvenal, ao queixar-se da degradação moral que invadia Roma, disse que «...o Orontes sírio desaguou no Tibre» (Sátiras III. 62). O centro da igreja cristã passou de Jerusalém, seu berço original, para Antioquia da Síria, seu centro gentílico, pois a igreja cristã, cada vez mais, se foi tornando uma instituição gentílica. A tradição associa o apóstolo Pedro a essa cidade, considerando-o primeiro de seus bispos. Nomes ilustres posteriores, associados a essa cidade, foram Inácio e João Crisóstomo, ambos chamados bispos de Antioquia. Crisóstomo foi grande escritor de comentários bíblicos e exerceu notável influência sobre o desenvolvimento doutrinário da igreja cristã. A cidade de Antioquia foi fundada por Seleuco Nicator, um dos generais de Alexandre, em 300 A.C, que lhe deu nome em honra a seu pai, Antíoco. Antíoco havia devastado e poluído a cidade de Jerusalém, mas os seus sucessores, de conformidade com o que diz Josefo

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(«Guerras dos Judeus» 1.7, cap. 3, seção 3), foram mais liberais, tendo criado uma boa atmosfera para o desenvolvimento do judaísmo naquele lugar; e isso teria atraído a muitos judeus, até que, finalmente, Antioquia se tornou grande centro da erudição judaica, bem como cidade onde havia numerosa colônia judaica. (Ver Talmude Hieros. Kiddishin, foi. 64.4). Com base nessa circunstância, o caminho ficou preparado para a entrada e o crescimento do cristianismo em Antioquia. «...não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus...» «...tão pouco compreendida foi a comissão de Cristo, para que se pregasse o evangelho a todas as nações, embora ela fosse tão clara; ou então assim foi ordenado pela providência divina, que embora devesse primeiramente ser pregado o evangelho a eles, isso perdurasse por pouco tempo apenas...» (John Gill, in loc). Tal tipo de atividade era apenas de esperar-se da parte de quem abandonara Jerusalém, porquanto o incidente de Cesaréia, que envolveu o apóstolo Pedro e a família de Cornélio, que assinalou o início da missão cristã entre os gentios, ainda não se tornara suficientemente conhecido ao redor. 11:20 Havia, porém, entre eles alguns cíprios e cirenenses, os quais, entrando em Antioquia, falaram também aos gregos, anunciando o Senhor Jesus. «...Cirene...» Trata-se de um porto no norte da África, fundado pelos dórios, rico em várias mercadorias, como trigo, lã e tâmaras. Tornou-se parte integrante do império ptolemaico no século III A.C. Em cerca de 96 A.C. foi doado a Roma, tendo-se tornado província romana em 74 A.C. Josefo, tomando por empréstimo uma informação de Estrabão, diz-nos que a colônia judaica era ali encorajada e que a população judaica foi crescendo até constituir um dos quatro principais grupos étnicos da cidade. (Ver Antiq. xiv. 7.2). Simão, que levou a cruz do Senhor Jesus, era nativo desse lugar, segundo lemos em Mc 15:21 e seus paralelos, nos demais evangelhos. Houvesse representantes dessa cidade na multidão no dia de Pentecoste (ver At 2:10), e, evidentemente, em Jerusalém, antigos habitantes de Cirene tinham a sua própria sinagoga (ver At 6:9). «...falavam também aos gregos...» Talvez não tenham sabido acerca da obra de Paulo na Síria e na Cilícia e nem acerca das atividades de Pedro em Cesaréia, mas sentiam o mesmo impulso evangelístico, que os proibia falar exclusivamente aos judeus. O entendimento que possuíam sobre o caráter universal da mensagem de Cristo, sobre o fato de que não havia mais distinções entre judeus e gentios, e sobre a verdade de que as leis cerimoniais haviam sido abolidas na igreja cristã, talvez ainda fosse muito fraco; mas o amor de Cristo os compelia a não limitarem a sua mensagem. Pode-se observar o trecho de At 13:1, onde Lúcio de Cirene é mencionado juntamente com Barnabé, que era de Chipre, como um dos líderes da igreja cristã de Antioquia. Lúcio, pois, mui provavelmente, foi um dos homens que assim pregou, conforme está registrado aqui. Barnabé, conhecendo pessoalmente o lugar, foi posteriormente comissionado para investigar os acontecimentos dali e confirmar os resultados. (Ver os vss. 22 e ss.). 11:21 E a mão do Senhor era com eles, e grande número creu e se converteu ao Senhor. Pregavam ao Senhor Jesus, ou talvez «Jesus como Senhor» (ver o vs. 20), conforme a frase pode ser interpretada; pois o evangelho, que pregavam, na realidade anuncia a todos os homens o senhorio de Cristo, sendo ele o alvo de toda a existência, o ponto central em torno do qual gira o plano do evangelho (ver Ef 1:10), e a imagem em que os remidos estão sendo transformados, sempre crescendo na obediência a ele, ou seja, participando de sua natureza moral, que os transforma em seres que compartilham de sua própria essência. Por causa dessa mensagem, «...a mão do Senhor estava com eles...», o que quer dizer que o poder e a presença de Deus se manifestavam entre eles. Ora, isso é «teísmo», em contraste com o «deísmo». O teísmo ensina que Deus não somente criou todas as coisas, mas

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igualmente se faz presente em sua criação, recompensando e punindo aos homens, tendo ou não comunhão com eles. O deísmo, por sua vez, ensina que apesar de talvez existir uma força superior, esse poder, que pode ser pessoal ou não, abandonou de vez a sua criação, e nada acontece, de positivo ou de negativo, por motivo da ação de sua vontade. Esse «deus» deísta nem pune e nem galardoa aos homens. A expressão «...mão do Senhor...» é uma expressão hebraica comum para dar a ideia da assistência de Deus aos homens, fortalecendo-os em sua vida. (Ver Êx 9:3 e Is 59:1). Podem-se ver outros usos dessa expressão nos trechos de Lc 1:66; At 4:28,30 e 13:11. Deve-se observar que a palavra «...Senhor...» torna-se aqui, uma alusão ao Senhor, pois ele é quem é o «Senhor» dos crentes, para quem todos eles se voltam. Voltar-se para Deus ou para o Senhor, pois, significa expressar arrependimento e propósito de vida, centralizados na mensagem do evangelho, o que, naturalmente, conduz os homens a Deus. Essa expressão também é empregada em outros trechos bíblicos. (Ver At 14:15; 15:3,19; 26:18,20 e I Ts 1:9). «Sem essa influência acompanhadora, nem mesmo um apóstolo poderia fazer grande bem; e poderiam homens inferiores esperar serem capazes de convencer e de converter os pecadores, sem a mesma?» (Adam Clarke, in loc.), «A 'mão', conforme se sabe bem, significa poder e força. Portanto, o que Lucas queria dizer é que Deus testificava com a sua ajuda presente, sobre o fato de que os gentios estavam sendo chamados juntamente com os judeus, através de sua orientação, para que se tornassem participantes da graça de Cristo». (Calvino, in loc). «Através de manifestações visíveis que não podiam ser postas em dúvida, o Senhor mostrou que era com sua aprovação que deveriam prosseguir nessa predica...aos gentios». (Alford, in loc). 11:22 Chegou a noticia destas coisas aos ouvidos da igreja em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia; A igreja-mãe, em Jerusalém, atuava como uma espécie de diretora do movimento cristão inteiro, até esse ponto da narrativa, embora assim não tenha continuado a ser, após a destruição de Jerusalém, em 70 D.C., quando parece que Antioquia da Síria e Éfeso se tornaram os novos centros eclesiásticos principais, apesar de não terem jamais exercido aquela autoridade moral que evidentemente residira em Jerusalém. Lembremo-nos que os apóstolos habitavam em Jerusalém, tendo sido comissionados a coordenar a expansão do ministério cristão. Os apóstolos, pois, sentiam-se responsáveis por todo o avanço e o desenvolvimento da igreja, e ansiavam para que isso fosse feito conforme era mister, de maneira aprovada pelo Senhor. O problema legalista havia causado consternação na igreja-mãe; e essa quiçá tenha sido uma das razões pelas quais os apóstolos viram ser necessário enviar Barnabé a Antioquia, a fim de que inspecionasse o trabalho que ali vinha sendo feito. Essa inspeção e o relatório subsequente seriam então considerados pelos oficiais da igreja de Jerusalém, e o selo resultante de aprovação da obra então a «oficializaria». Lembremo-nos que Pedro esteve em Samaria (oitavo capítulo do livro de Atos) a fim de realizar missão semelhante. Parece que todas as variegadas expressões da igreja cristã estavam sujeitas a uma aprovação apostólica direta ou indireta. Essa foi a natureza da missão de Barnabé, que lhe foi dada pelos apóstolos. Barnabé não figurava entre os doze apóstolos, mas, quanto à atividade e ao poder, parece ter excedido a maioria deles; e, a despeito da falta de designação oficial de um deles, parece ter funcionado na igreja primitiva como apóstolo. Foi a ele, pois, que se confiou essa missão. E foi uma escolha apropriada, de qualquer maneira, posto ter sido um judeu helenista, que compreendia o tipo de ministério levado a efeito fora de Jerusalém e

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em territórios gentílicos, melhor do que um apóstolo típico. O poder da influência de Barnabé, e a importância da obra em Antioquia, embora apresentados de forma um tanto casual aqui, eram evidentes pelo fato de que, através de sua liderança e labores em Antioquia é que resultará a transferência do centro da igreja de Jerusalém para Antioquia. Barnabé parece ter exercido considerável influência sobre Paulo, e desde o princípio tiveram várias associações, tendo viajado juntos em jornadas missionárias. Paulo não demorou, entretanto, a ultrapassar a Barnabé em poder e autoridade, pois ele era, verdadeiramente, o apóstolo dos gentios. No entanto, Barnabé participou da formação de Paulo, pois é com frequência que um personagem de menor envergadura se mostra importantíssimo na formação de um homem verdadeiramente grande. Barnabé, tal como Pedro e a maioria dos oficiais da igreja de Jerusalém, tinha seus preconceitos judaicos pois era um «levita» (At 4:36), estando, presumivelmente, intimamente associado à corrente principal do pensamento judaico; mas foi capaz, a exemplo de Paulo e Pedro, de desligar-se desses preconceitos, tendo-se feito poderoso ministro do evangelho entre os gentios. Contudo, à semelhança de Pedro, em ocasião posterior, fez algumas concessões desnecessárias às pressões dos judaizantes, e, temporariamente pelo menos, negou o seu conhecimento recém-adquirido sobre como Deus não faz acepção de pessoas. Por causa desse retrocesso, tanto Barnabé como Pedro foram severamente criticados por Paulo. (Ver Gl 2:13). A igreja-mãe de Jerusalém agia como coordenadora e inspetora da obra inteira do cristianismo. Alguns intérpretes têm considerado a questão da necessidade de inspeção por parte dos apóstolos, direta ou indireta, sobre a obra entre os gentios, pensando que isso teria sido um tema «artificial» de Lucas, isto é, contradito por tudo quanto se sabe acerca da autoridade apostólica, acerca de como se expandiu a igreja, antes da destruição de Jerusalém. O poder da igreja-mãe, entretanto, era perfeitamente real, embora a autoridade dos apóstolos em nada se assemelhasse à autoridade dos «bispos», como se vê hoje em dia. Pois os apóstolos agiam muito mais como uma força orientadora, aconselhadora. O trecho de Gl 2:11-13 e os decretos apostólicos, do décimo quinto capítulo do livro de Atos, deixam claro que a igreja de Jerusalém realmente reivindicava possuir autoridade sobre as igrejas de outras regiões, incluindo a Síria e a Cilícia. «Realmente não há nenhuma dificuldade em supormos que Barnabé, que já era figura proeminente da igreja de Jerusalém, tenha sido enviado para investigar as atividades de seus compatriotas cipriotas». (G.H.C. Macgregor, in loc). A seleção de Barnabé, para levar a efeito essa obra, mostra-nos bem claramente que a igreja de Jerusalém não queria usar de severidade, mas antes, de gentileza e de cautela, para com os labores cristãos entre os gentios. 11:23 o qual, quando chegou e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortava a todos a perseverarem no Senhor com firmeza de coração; «A astuciosa voluntariedade de Satanás é bem conhecida. Por isso, assim que ele percebe alguma porta aberta para o evangelho, esforça-se, por todos os meios, por corromper ali o que é sincero... Barnabé foi enviado a fim de fazer os crentes avançarem nos princípios da fé, para colocar em ordem certas coisas, para dar alguma forma ao edifício que fora iniciado, a fim de que houvesse um estado ordeiro na igreja». «...Barnabé nada queria se não a glória de Cristo. Pois, ao dizer que viu a graça de Deus e que os exortou a avançarem, depreendemos que haviam sido bem ensinados 'aqueles crentes'. O regozijo foi um testemunho de sincera piedade. A ambição sempre se mostrará invejosa e maliciosa; e é por isso que muitos buscam ser louvados ao reprovarem a outros, posto que almejam mais a própria glória do que a glória de Cristo. Porém, os servos fiéis de

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Cristo devem regozijar-se (a exemplo de Barnabé) ao virem o progresso do evangelho, sem importar através de quem Deus queira que o seu nome se torne conhecido». (Calvino, in loc). Importância do ensino cristão. Uma das importantes lições que nos dá este versículo é que, inerente ao tipo de ministério que Barnabé efetuou ali, havia a preocupação de instruir. Não se contentou ele em deixá-los onde os encontrara. A aura do reavivamento sempre diminui, e então chega a importante obra do ensino e do arraigamento, ou seja, da instrução sobre «todas as coisas» que o Senhor Jesus ensinara, para serem praticadas. É deveras estranho que alguns ministros do evangelho pensem ser tão importante e urgente a pregação do evangelho simples, mas, infelizmente, sem jamais mencionarem a questão da transformação do crente segundo a imagem do Senhor, quando isso é o coração mesmo do evangelho, sendo uma verdade de alcance muito maior do que já pudemos imaginar, por mais que refletíssemos, ignorando, dessa maneira, o ministério do ensino. A salvação não consiste meramente em alguém vir a crer e fazer publicamente uma declaração de fé. Mas consiste em tudo quanto acontece a essa pessoa, até que ela chegue ao nível da perfeição que há em Cristo Jesus. Barnabé, entretanto, ensinou que aqueles convertidos precisavam apegar-se à mensagem com «...firmeza de coração...» «O pregador vira a graça de Deus, e se regozijara com ela; mas sabia, conforme o sabem todos os verdadeiros mestres, que é possível à vontade de um indivíduo frustrar essa graça, pelo que a cooperação do crente, manifesta em uma resolução deliberada e firme, é necessária para que a boa obra seja levada a bom termo». (E.H. Plumptre, in loc). 11:24 porque era homem de bem, e cheio do Espirito Santo e de fé. E muita gente se uniu ao Senhor. Deve-se observar, nesta altura do comentário, que as propriedades especiais de bondade, possuídas por Barnabé, bem como o seu excelente caráter cristão, são atribuídos ao ministério do Espírito Santo, tal como fora a eloquência de Estêvão. (Ver At 6:10). Neste ponto aprendemos o que já sabíamos, isto é, que em qualquer coisa em que um homem se pareça com Cristo, é porque o seu «alter ego», o Espírito Santo, está operando em seu íntimo, produzindo os diversos aspectos do fruto do Espírito Santo, de acordo com a lista de suas virtudes, em Gl 5:22,23. Essas são as virtudes positivas da natureza moral de Cristo, a qual todos os crentes finalmente possuirão em sua perfeição, porque a perfeição moral, que as Escrituras nos ordenam possuirmos (ver Mt 5:48), não consiste em mera ausência do pecado. Pelo contrário, é uma participação ativa e positiva em todas as facetas da natureza de Cristo - o seu amor, a sua compaixão, a sua bondade, a sua longanimidade, a sua graça, a sua alegria, a sua paz, etc. Somente o Espírito de Deus pode assim transformar um homem, de modo a vir ele a participar, plena e verdadeiramente, dessas virtudes. O desígnio de Deus é que, eventualmente, todos os crentes venham a participar da completa imagem de Cristo, quando as suas virtudes tornar-se-ão verdadeiramente completas em cada crente. O processo será eterno. «Ele é santo porque o Espírito de Santidade habita nele: não conta apenas com algumas visitas ou retiradas transitórias do Espírito; mas este reside em sua alma e enche o seu coração. O Espírito Santo é a luz do entendimento; é a 'discriminação' do juízo. É o propósito fixo e a 'determinação' da 'vontade' reta. É a 'pureza', seu amor, alegria, paz, gentileza, bondade, mansidão, controle próprio e fidelidade em suas afeições e paixões. Em suma, era o controle soberano sobre o seu coração; governa todas as paixões e é o motivo e o princípio de toda a ação justa. Ele é cheio de fé. Implicitamente dava crédito a seu Senhor: sabia que ele não pode mentir que a sua palavra não falha jamais; esperava não somente o cumprimento de todas as promessas, mas também todo grau de ajuda, de luz, de vida e de consolo, que Deus, em qualquer ocasião, julgasse ser necessário para a sua

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igreja. Orava pela bênção divina e confiava que não estava orando em vão. Sua fé jamais fracassou, porque se apegava no Deus que não pode mudar. Contemplai ainda, pregadores do evangelho! um ministro original de Cristo. Emulai a sua piedade, a sua fé e a sua utilidade». (Adam Clarke, in loc). A menção do importante papel desempenhado por Barnabé, na igreja cristã primitiva, é feita por Clemente, em sua obra Redactor Antijudaicus, pág. 109, onde se percebe como a sua reputação perdurou além de sua vida terrena, tendo sido famoso mesmo em séculos posteriores, inteiramente à parte dos registros do N.T. Barnabé era «...homem bom...», no sentido de possuir «coração amplo», «mente liberal», «generosidade», e não meramente como quem obedecia a certo conjunto de regras. Ele se avantajava acima do estreito sectarismo judaico, de sua santidade meramente legalista. Não era apenas «justo», conforme eram considerados os estritos observadores da lei mosaica, mas era «bom» na manifestação pessoal e fervorosa das graças espirituais. «Sua benevolência impedia-o, eficazmente, de censurar qualquer coisa que fosse nova ou estranha entre aqueles pregadores aos gentios. levando-o a regozijar-se no sucesso deles». (Gloag, in loc). «...muita gente...» Uma grande multidão foi acrescentada à igreja cristã, evidentemente para indicar esse aumento, além da menção do vigésimo primeiro versículo, como resultado direto da presença e do ministério de Barnabé. Esse tipo de ministério florescente e harmonizador, despido de inveja, gradualmente foi fazendo de Antioquia o grande centro do cristianismo. A glória da igreja cristã de Jerusalém foi diminuindo, pois a sua estrela já se apagava. Mas a estrela da graça de Deus subia sobre Antioquia, e ali o Espírito de Deus tomou residência. Que tantas pessoas tenham sido adicionadas à igreja, não é para admirar, posto contarem com ministros como aqueles, ouvindo elas o evangelho de Cristo, pregado e recebido pelo poder do Espírito Santo. 11:25 Partiu, pois, Barnabé para Tarso, em busca de Saulo; Paulo chega a Antioquia; vss. 25 e 26: Desde a sua conversão Paulo estivera atarefado nas regiões da Síria e Cilícia, e não se há de duvidar que se mostrara ativo especialmente ao redor de sua cidade natal de Tarso, pregando o evangelho e estabelecendo igrejas. Por conseguinte, foi ele o verdadeiro pioneiro da igreja cristã entre os gentios, e o seu ministério marcou o início real da missão cristã entre os povos gentílicos, embora, «oficialmente» falando, segundo está registrado por Lucas em seu livro de Atos, essa distinção tenha sido conferida a Pedro, em sua atividade em Cesaréia, junto à família de Cornélio. Desde sua conversão, até sua chegada em Antioquia, cerca de catorze anos se tinham passado na vida de Paulo, pois diz ele que fora «...para as regiões da Síria e da Cilícia» (Gl 1:21). E então, apos catorze anos, ele visitou novamente Jerusalém. A maior parte desse tempo ele passou, mui provavelmente, em Tarso, para o qual lugar, segundo diz Lucas, ele foi imediatamente, depois de sua primeira visita a Jerusalém. (Ver At 9:30). Em Atos 15:41 encontramos a menção à igreja na Síria e na Cilícia, que já estava estabelecida quando Paulo e Silas ali chegaram, embora não nos seja dito como tal igreja fora iniciada. Por conseguinte, parece que a narrativa do livro de Atos deixa em branco um período de catorze anos no ministério do apóstolo Paulo. Esse hiato se reveste de alguma importância, posto que foi então que realmente se estabeleceu a missão de evangelização cristã entre os gentios. Essa omissão, da parte de Lucas, tem deixado os intérpretes perplexos, embora a maioria usualmente resolva que é melhor seguirmos a informação que nos é dada pelas epístolas paulinas, e não os informes do livro de Atos, havendo algumas diferenças nesses relatos. Alguns estudiosos têm conjeturado que os «catorze» anos de Gl 2:1 deveriam ser «quatro»

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anos, e que algum erro primitivo foi feito aqui, ou pelo próprio Paulo ou por algum escriba primitivo. Contudo, nenhum manuscrito contem o número quatro, pelo que também esse tipo de interpretação se alicerça inteiramente em conjeturas. Seja como for, apesar da suposição de que seriam «quatro anos» para fazer á Omissão de Lucas tornar-se cronologicamente menor, materialmente falando, isso não faz diferença alguma, porquanto Lucas continuaria não nos fornecendo qualquer informe sobre o ministério de Paulo durante esse tempo —ou quatro ou catorze anos. E assim, permanece de pé a principal dificuldade. A fim de ser preenchido esse período de catorze anos, alguns estudiosos sugerem que a—a longa lista—sofrimentos, pelos quais Paulo passou, segundo o registro de II Co 11:23-27, deve ser encaixada dentro desse período, pelo menos parcialmente. Mas isso, infelizmente, tem de permanecer dentro das interpretações especulativas. Não sabemos dizer por que Lucas omitiu esse período do ministério de Paulo; mas o mais provável é que ele simplesmente não tenha contado com qualquer informe histórico a respeito. Por qual motivo ele não conversara com Paulo, acerca desse período, ao formular suas anotações, também não sabemos dizê-lo, posto que, como companheiro de viagens daquele apóstolo, teria tido fácil acesso a esse material informativo. Alguns talvez encarem isso como prova que Lucas não foi o autor dessa narrativa histórica, e isso deve ser considerado como um problema sério. Entretanto, os pontos em favor da autoria de Lucas em muito contrabalançam essa objeção. A omissão acerca desse importante período da vida de Paulo, na história do livro de Atos, pode ter uma implicação positiva, ou seja, que Lucas não fabricou suas narrativas, meramente pelo uso de certas epístolas paulinas; antes, se utilizou de outras fontes informativas, ainda que estas fossem incompletas, em certos casos. Por exemplo, a simples leitura do primeiro capítulo da epístola aos Gálatas poderia ter levado Lucas a inventar muitas histórias sobre o ministério «siro-ciliciano» de Paulo. Ao invés disso, no livro de Atos, o primeiro ministério significativo de Paulo é a sua primeira viagem «missionária», e At 13:1-14:28. A verdade é que Lucas, valendo-se dos informes de que dispunha, relatou histórias verídicas, e, embora não completas, pelo menos têm o mérito de cativar a nossa confiança. Weiss, seguindo essa linha de raciocínio, apresenta a seguinte observação: «...um fenômeno da mais elevada importância, em conexão com a origem das narrativas do livro de Atos. Se porventura fossem fictícias, talvez baseadas na epístola de Gálatas, certamente encontraríamos algumas histórias sobre esse período». (Ver History of Primitive Christianity, Macmillan and Co., Nova Iorque, I, pág. 205). Embora não possuamos a mais leve informação sobre como Paulo se manteve ocupado durante esse período, pelo menos sabemos que o seu trabalho foi significativo, e que, ao lançar-se em sua primeira viagem «missionária», já era um missionário veterano. «Não podemos insistir demasiadamente sobre o fato de que o real desenvolvimento de Paulo, tanto como cristão quanto como teólogo, já estava completo nesse período que é tão obscuro para nos, e que, em suas epístolas estamos tratando com um homem plenamente amadurecido». (Ibid., I, pág. 206). Os dois estiveram juntos em Antioquia pelo espaço de um ano (ver o próximo versículo). Sobre esse tempo o próprio Paulo nada diz, provavelmente porque no primeiro e no segundo capítulos de sua epístola aos Gálatas ele se tenha preocupado mais em narrar os seus contatos com os demais apóstolos, o que dizia respeito à sua afirmação que ele não obteve sua doutrina em consulta com eles, mas antes, independentemente, tendo-a recebido diretamente do Senhor Jesus; por isso mesmo, qualquer menção do fato de que estivera trabalhando com Barnabé seria incidental para o seu propósito. Com base em Gl 2:11-13 ficamos sabendo que quatro anos mais tarde Paulo e Barnabé estavam novamente

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trabalhando juntos em Antioquia, cidade à qual retornaram depois de terem completado a primeira viagem missionária (ver At 14:26). Por quanto tempo Paulo e Barnabé labutaram em Antioquia, antes de se lançarem em sua primeira jornada missionária, não sabemos precisar; mas a circunstância de que ambos esses ministros estiveram ali por algum tempo, produziu o fenômeno de grande desenvolvimento daquela igreja cristã do mundo gentílico, em que Antioquia foi elevada à posição de nova capital da igreja de Cristo. «A primeira coisa que Barnabé fez, quando chegou a Antioquia, foi lembrar-se de Paulo. Sabia que precisava de ajuda, se tivesse de aproveitar ao máximo as oportunidades que a cidade de Antioquia oferecia à igreja cristã». (Theodore P. Ferris, in loc). «Barnabé mui provavelmente sabia que Saulo era vaso escolhido por Deus (ver At 9:15) para o trabalho entre os gentios. Naturalmente que sabia do trabalho efetuado por Saulo entre os helenistas de Jerusalém (ver At 9:29), bem como já recebera notícias de sua obra na Cilícia e na Síria. E, assim sendo, foi a Tarso ao perceber que precisava de ajuda. 'Não tinha ele coisa alguma daquela baixeza que não pode tolerar a presença de um possível rival' (Furneaux). Barnabé reconhecia suas próprias limitações e sabia onde se encontrava o homem do destino, para aquela crise, o homem que já recebera o selo aprovador de Deus. O momento e o homem certo se encontraram, quando Barnabé trouxe Saulo para Antioquia. A porta estava aberta, e o homem estava preparado, muito mais do que quando o Senhor Jesus o chamara na estrada de Damasco. Os anos passados na Cilícia e na Síria não haviam sido em vão, pois ele não estivera indolente... Deus sempre tem um homem preparado para qualquer grande emergência em seu reino. O convite feito por Barnabé foi simplesmente a repetição do chamamento de Cristo. Por isso Saulo atendeu ao mesmo». (Robertson, in loc). 11:26 e, tendo-o achado, o levou para Antioquia. E durante um ano inteiro reuniram-se naquela igreja e instruíram muita gente; e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos. CRISTÃOS: grego, «christianós», seguidores de Cristo. A cunhagem desse vocábulo—cristão—segue a ordem de termos como «herodianos» (ver Mt 22:16; no grego, «herodianoi», isto é, seguidores de Herodes) ou «cesarianos» (seguidores de César). Deissman, em sua obra Light from the Ancient East, pág. 377, dá exemplos do genitivo kaisaros, que também significa «pertencente a César», tal como o adjetivo comum «cesariano». A palavra «...chamados...» (no grego, «chrematisai») denota «obter o nome». O termo «cristão» (no grego, «christianous») se compõe da palavra grega que significa «Messias» ou «Cristo» (ungido), mais a terminação latina usual que significa «partidário de». Por conseguinte, em Antioquia, alguém inventou uma nova palavra, que agora é usada entre nós há quase vinte séculos. Não é muito provável que os judeus tenham cunhado o termo, pois jamais teriam elevado a nova seita aplicando-lhe qualquer forma ou derivado da palavra hebraica «messiah» (ungido). Também é perfeitamente evidente que os próprios discípulos de Cristo não inventaram essa designação. O mais provável é que tenha sido criação dos gentios de Antioquia, familiarizados como estavam tanto com o latim como com o grego, sabendo que os discípulos de Jesus chamavam-no pelo título de «Cristo». Usaram tal palavra, pois, e latinizaram-na um tanto, a fim de dar-lhe o sentido de «partidários de», «seguidores de», «aderentes de» Cristo. Os judeus costumavam chamar os cristãos pelo apelido de «nazarenos», o que, para eles, era termo depreciativo, porquanto Nazaré era uma aldeia de ínfima significação. Nada de bom se esperava que procedesse dali (ver Jo 1:46), quanto menos a maior de todas as figuras humanas, o próprio Messias... Assim, pois, os judeus usavam esse apelido por derrisão, sarcasticamente. Os próprios crentes se chamavam de aprendizes (discípulos) ou «seguidores» de Cristo.

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Existem três empregos diferentes dessa palavra, nas páginas do N.T. a fim de indicar os seguidores de Cristo. O primeiro emprego é o que aqui encontramos, utilizado pelos gentios hostis, a fim de designarem os seguidores da nova religião. Em At 26:28 encontramos o segundo emprego, evidentemente como termo depreciativo, usado por Agripa. E a passagem de I Pe 4:16 emprega essa palavra, referindo-se à comunidade cristã. Mui provavelmente, quando essa epístola petrina foi escrita, os crentes já usavam livremente a designação cristãos para indicarem a si mesmos, embora a perseguição de que Pedro fala, contra os cristãos, provavelmente subentende que Roma perseguia os «cristãos» como indivíduos desprezíveis, usando a palavra em sentido pejorativo. Pedro, pois, escreveu que se alguém viesse a sofrer como «...cristão...», não deveria encarar com alarme tal perseguição, pois isso era, na realidade, sinal de que estava sendo elevadamente favorecido pelo Senhor. Pois, por essa altura primitiva de sua história, era motivo de ufania para os crentes o fato de serem chamados «cristãos». Portanto, foi em Antioquia que esse honroso título de «cristão» passou a ser usado para designar os crentes em Jesus. O famoso Inácio foi bispo de Antioquia, e mais tarde sofreu martírio em Roma. E em Antioquia João Crisóstomo pregava seus poderosíssimos sermões, tendo escrito os seus notáveis comentários naquela cidade. Antioquia, pois, se tornou famosa dentro da tradição cristã, tendo servido de capital do movimento cristão quando se apagou a estrela de Jerusalém. Como curiosidade histórica, é possível que muitos pagãos tenham chamado os crentes de «crestãos», e não de «cristãos», não estando bem familiarizados com o conceito hebreu de «Cristo» ou «Messias», mas antes, confundindo essa palavra com termo similar, «chrestus», que é nome próprio até hoje bastante comum na Grécia e significa «bom». Alguns pagãos provavelmente pensavam que os discípulos eram os «bons» («chrestianos») e não «cristãos» ou «seguidores de Cristo». Esse parece ter sido o ponto de vista de Suetônio (historiador romano), quando disse que os judeus haviam feito perturbações em Roma, sob a «instigação de Cresto» (ver Cláudio, 25). Ver também Tertuliano, Apologia, cap. 3, que exibe esse uso do termo). «Cristão, por conseguinte, é a mais elevada designação que um ser humano qualquer pode ter à face da terra; e recebê-la da parte de Deus, como prece que sucedeu, torna-a um título gloriosíssimo!» (Adam Clarke, in loc). Nos escritos dos pais da igreja cristã há diversos usos primitivos desse vocábulo, o que mostra como tal título veio a tornar-se, desde quase o princípio, uma designação honrosa, ainda que originalmente tivesse sido palavra cunhada pelos pagãos de Antioquia. (Ver Inácio, Epístolas, Rm 3:3; Mgn. iv; Ef 11:2; Mart. Plvc. x e xii: 1,2). Nos escritos de Gregório (Naz. Orat. iv (sobre Jul. 1 86, par. 114), ficamos sabendo que os judeus costumavam fazer objeção a esse nome como designação para indicar os seguidores de Jesus, e preferiam chamá-los «galileus». «...Cristo deixou surgir esse nome... como um pendão, mediante o que se viesse a conhecer, por todo o mundo, que havia um povo cujo capitão era Cristo, o qual glorificava ao seu nome». (Calvino, in loc). 11:27 Naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para Antioquia; 11:27 - Vss. 27-30 - A visita a Jerusalém, ao tempo da fome. Esta breve seção tem produzido toda sorte de problemas históricos e de interpretação. Parece-nos que se por essa altura a igreja cristã de Antioquia enviava bens materiais a Jerusalém, a fim de ajudar a aliviar a situação de pobreza a de fome que ali imperava, que já se dera a mudança de poder, de Jerusalém para Antioquia, ou, pelo menos, que estava

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ocorrendo então essa transferência do poder central de Jerusalém para aquela cidade. Alguns eruditos, entretanto, têm duvidado da autenticidade de toda essa seção, com base nos seguintes argumentos: 1. Nenhuma profecia, segundo lemos aqui, teria sido feita, tudo não passando de uma reiteração da narrativa de At 21:10,11, onde encontramos o mesmo profeta, Ágabo, em operação. Essa narrativa, pois, no presente texto, teria sido criação do autor sagrado, que simplesmente duplicou eventos com relação a Ágabo. Observe-se que naquela seção há certa similaridade de conteúdo, o que tem dado origem a esta sugestão. 2. Alguns estudiosos duvidam da autenticidade histórica desta seção, visto que evidentemente ela não é aludida na epístola aos Gálatas, e nem em qualquer das demais epístolas paulinas, como parte das atividades de Paulo. A visita descrita por esse apóstolo, no trecho de Gl 1:18-24, corresponde ao que se lê em At 9:26-29, ao passo que o informe de Gl 2:1-10 corresponde ao que está registrado em At 15:2-29, visita essa que, ordinariamente, e chamada de «visita ao concilio». 3. A visita aqui historiada —At 11:27-30 —aparentemente teria ocorrido entre as duas outras visitas ali mencionadas; mas quanto a isso não contamos com qualquer registro nas epístolas paulinas. Os intérpretes que assim dizem pensam que é fatal, para esta seção que ora comentamos, a observação de que a epístola aos Gálatas certamente teria algum registro sobre essa visita, se realmente ela houvesse ocorrido, posto que o apóstolo Paulo ansiava por registrar todas as suas atividades relacionadas a Jerusalém, porquanto queria demonstrar que recebera o evangelho independentemente dos outros apóstolos, e, sim, diretamente da parte do Senhor Jesus, o que o qualificava a ser um apóstolo, tal como aqueles outros, devido ao fato de que o Senhor tratara diretamente com ele, aparecendo-lhe pessoalmente, do mesmo modo que fizera com os demais apóstolos. Ora, dizem ainda os mesmos intérpretes, que se tivesse havido alguma outra visita a Jerusalém, que não foi mencionada, poder-se-ia imaginar que, nessa oportunidade, Paulo poderia ter-se consultado com os apóstolos, e que o seu evangelho era uma mensagem emprestada de outros. Certo número de soluções tem sido oferecido para dar solução a essas dificuldades, a saber: 1. Alguns estudiosos supõem que o incidente aqui registrado é historicamente autêntico, mas que tenha chegado ao conhecimento de Lucas como vaga reminiscência, tendo sido escrito fora de sua devida posição cronológica, pois sua posição certa seria após a narrativa do décimo quinto capítulo de Atos. Isso faria do registro uma reiteração histórica de sua ultima visita, posta ali por antecipação. Poderia ter sido uma visita posterior ao tempo que parece ser sugerido pela sua posição dentro do livro de Atos, e como resultado da admoestação feita pelos apóstolos, quando do concilio de Jerusalém, para que Paulo e seus colegas de ministério entre os gentios, segundo ele mesmo diz, «...nos lembrássemos dos pobres...» (Gl 2:10). 2. Alguns outros estudiosos pensam que essa anterior viagem e missão realmente teria ocorrido, e que Paulo tivera a intenção de ir também. Mas, por alguma razão, para nós desconhecida, somente Barnabé pôde fazê-lo. Lucas, tendo encontrado em seu material informativo, a ideia de que Paulo também fora escolhido para fazer essa viagem, mui naturalmente teria concluído que Paulo também participara da viagem, e assim escreveu, embora esse apóstolo, realmente, não tenha feito a citada viagem. 3. A narração sobre essa visita da fome e a narração sobre a «visita ao concilio», na realidade, seriam uma reiteração, isto é, descrições sobre o mesmo acontecimento, embora baseadas em fontes informativas diferentes, narradas de diferentes pontos de vista. Uma dessas fontes informativas salientaria a generosidade da igreja de Antioquia (a que está por detrás da «visita da fome», ao passo que a outra frisaria o debate havido, em Jerusalém,

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sobre a legitimidade do cristianismo gentílico, o qual, incidentalmente, incluiu eventos similares àqueles aqui historiados. A primeira fonte informativa estaria na igreja de Antioquia, e a localidade da segunda (ver o décimo quinto capítulo do livro de Atos) seria a igreja de Jerusalém. Um bom número de críticos modernos aceita essa explicação para o problema, mas as explicações seguintes podem ter também alguma dose de verdade, contrárias ao ponto de vista aqui exposto. Essa posição acima faz o trecho de Gl 2:1-10 e o décimo quinto capítulo do livro de Atos exporem a mesma questão, e, portanto, deixa sem explicação as sérias discrepâncias existentes entre esses dois textos. Por isso mesmo tem sido oferecida ainda uma outra solução: A passagem de Gl 2:1-10 deveria ser identificada com a «visita da fome», e não com a visita ao concilio. As duas ocorrências, portanto, seriam distintas, tal como Lucas registrou. Deve-se observar, na epístola aos Gálatas, que Paulo assevera que subiu a Jerusalém por revelação (ver Gl 2:2), e isso poderia ser uma referência à inspirada advertência dada ao profeta Ágabo, em At 11:28, concernente à fome que haveria de prevalecer. As ações de Paulo e Barnabé, por conseguinte, também estariam conforme a injunção que lhes recomendava se lembrarem dos pobres (ver Gl 2:10). A visita da fome, feita por Paulo, pois, teria sido feita em antecipação à posterior e maior «coleta para os santos», o que, pelo menos em parte, resultou das decisões tomadas pelo concilio de Jerusalém. Outrossim, a conduta duvidosa de Pedro em Antioquia, ao recusar-se a comer em companhia de gentios, por causa das pressões que sofria da parte dos judaizantes, torna-se muito mais compreensível, se isso teve lugar antes do concilio formal de Jerusalém, que tratou exatamente da posição dos irmãos gentios. (Ver G 2:11 e s.). Assim, pois, fica uma vez mais comprovado que o trecho de Gl 2:1-10 mais provavelmente descreve a «visita da fome», e não a «visita ao concilio». Essa posição é assumida por Turner, em Chronology of the New Testament, (Dictionary of the Bible), James Hastings, Nova Iorque, 1900; e por Sir William M. Ramsay (evidentemente o primeiro erudito de fama a sugerir essa ideia), como também por C. W. Emmet, em um ensaio intitulado The Beginnings of Christianity, II, págs. 277 e s. Assim sendo, o segundo capítulo da epístola aos Gálatas descreveria, se essa posição está certa, um debate de natureza particular e informal, e não um debate publico, que teria a natureza da ocorrência descrita no décimo quinto capítulo do livro de Atos. Mas ainda existem outros problemas de cronologia, a saber: Josefo (ver Antig. xx.5,2) informa-nos que houve uma fome em cerca de 46 d.C. Isso dataria a «visita da fome», feita por Paulo a Jerusalém. A visita a Jerusalém, conforme aparece mencionada no trecho de Gl 2:1, teria ocorrido «catorze anos» antes, de acordo com o cômputo inclusivo, que era o método antigo de contar uma série qualquer, situaria a data em 33 d.C. E a conversão de Paulo teria sido três anos antes (ver Gl 1:18), ou seja, em 31 d.C., segundo ainda o mesmo método de cômputo inclusivo. A crucificação teria ocorrido em cerca de 29 d.C. Talvez, entretanto, os «catorze anos» aludidos em Gl 2:1 sejam «quatro anos», segundo alguns estudiosos conjecturam, em que um erro primitivo teria sido preservado em todos os manuscritos bem conhecidos da epístola aos Gálatas, em qual caso a cronologia seria a seguinte: 1. A crucificação 29 D.C. 2. A conversão de Saulo 31 ou 39 D.C. 3. Primeira visita, após três anos 33 ou 42 D.C. 4. «Visita da fome», após catorze anos 46(?) D.C. 5. «Visita ao concilio» 49 D.C. A primeira viagem missionária de Paulo (em cerca de 47 ou 48 d.C), que é descrita no décimo terceiro capítulo do livro de Atos, mui provavelmente teria ocorrido entre a segunda

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e a terceira visitas. Foi durante esse mesmo tempo que, mui provavelmente, foi escrita a epístola aos Gálatas. Posto que nem Lucas e nem Paulo resolveram dar uma narrativa cronológica completa, e posto que talvez haja alguma deslocação de material, isto é, que nem sempre tenha sido seguida uma ordem estritamente cronológica na apresentação das narrativas, a nós foi dado conhecer apenas alguns dentre muitos acontecimentos. Questões como sequências exatas permanecem em dúvida, não havendo forma totalmente adequada e Isenta de dúvidas para examinarmos essas questões agora, passados mais de mil e novecentos anos. Levando-se em conta todas as considerações, entretanto, parece melhor identificarmos a «visita da fome» com a narrativa do segundo capítulo da epístola aos Gálatas, ao passo que a visita ao concilio como algo realizado em data posterior. A «visita da fome», pois, é assim corretamente distinguida por Lucas da visita de Paulo ao concilio de Jerusalém, registrado no décimo quinto capítulo do livro de Atos. A «visita da fome», por conseguinte, assinalou uma crise real na carreira de Paulo como apóstolo, visto que foi então que tiveram lugar as acerbas disputas, com os irmãos de tendências legalistas, em Jerusalém. Mas a ação de Paulo foi posteriormente justificada, quando do concilio de Jerusalém, conforme o registro do décimo quinto capítulo do livro de Atos. Nessa oportunidade, contudo, Paulo se tornou realmente bem conhecido, e o seu ministério entre os gentios foi amplamente reconhecido por todos, como merecedor de aprovação. Os «...profetas...», na igreja cristã primitiva, evidentemente eram homens dotados de considerável aptidão psíquica, conhecidos por suas declarações inspiradas, pelo que também eram distinguidos dos pregadores ordinários das igrejas. Eram reputados, quanto à categoria espiritual, imediatamente depois dos apóstolos, no exercício dos dons espirituais, segundo se depreende de trechos como I Co 12:28; Ef 2:20; 3:5; 4:11 e Ap 22:9, No livro de Atos os profetas são aludidos em At 13:1; 15:32; 21:9,10 e nesta seção. Os profetas exerciam os seu ofício mais em virtude de seus dons carismáticos do que por qualquer sanção oficial ou nomeação por parte da igreja, porquanto não há evidências de que a posição deles existia através de qualquer forma de ato consagratório. O trecho de I Co 14:29-39 mostra-nos, todavia, que algumas vezes os profetas se deixavam arrebatar em seu entusiasmo, ao ponto de haver desordem nos cultos das igrejas; e isso Paulo censurou severamente. É óbvio que até mesmo naqueles primeiros dias surgiram dúvidas sobre a autenticidade dos dons de alguns desses «profetas», o que se depreende pelo fato de que alguns deles eram suspeitos de receberem o seu poder da parte maligna, e não de alguma fonte boa. (Ver I Jo 4:1 e I Ts 5:20,21). Os poderes que chegam de fontes sobrenaturais, que manifestamente estão acima do que se poderia esperar da capacidade humana normal, sempre serão difíceis de aquilatar quanto à sua origem; e, nesses casos, podemos tão-somente aplicar o que disse o Senhor Jesus: «Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis» (Mt 7:20). Infelizmente, o moderno critério para julgar tais pessoas tem degenerado ao teste que diz: «Por suas denominações os conhecereis». Mas essa atitude resulta do sectarismo, e certamente não agrada a Deus. Judas e Silas eram profetas, conforme são chamados (ver At 14:4 e 15:32). Tinham uma inspiração superior àquela dos que falavam em línguas (ver I Co 14:3). João Batista também foi chamado de profeta (ver Lc 7:26). Profetas autênticos são extremamente necessários na igreja cristã moderna; mas o quadro geralmente é tão confuso e contraditório que é dificílimo distinguirmos o falso do verdadeiro. É bem provável que certo número desses «profetas» primitivos fizesse parte original dos setenta discípulos, cuja missão é descrita no décimo capítulo do evangelho de Lucas; mas não há razão para limitá-los à esfera dos profetas. O dom da profecia com frequência incluía a predição de acontecimentos; mas era mais especificamente caracterizado por um

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exaltado e sobre-humano ensino. Isso novamente, enfatiza a importância do ensino, posto que essa função era favorecida pela dispensação de um dom espiritual todo especial. 11:28 e levantando-se um deles, de nome Ágabo, dava a entender pelo Espirito, que haveria uma grande fome por todo o mundo, a qual ocorreu no tempo de Cláudio. A derivação do nome «...Âgabo...» é incerta; mas é possível que seja idêntico ao apelativo Hagabe ou Hagabá, que aparece no A.T. Sabemos pouquíssimo sobre esse homem, porquanto há tão-somente duas referências a ele em todo o N.T., isto é, aquela que encontramos aqui, onde ele predisse a fome que realmente ocorreu quando do reinado de Cláudio, e a sua predição sobre a sorte que esperava Paulo em Jerusalém, em profecia feita em Cesaréia. (Ver At 21:10,11). Segundo as tradições posteriores, Ágabo aparece como um dos «setenta» discípulos (descritos no décimo capítulo do evangelho de Lucas), até que, finalmente, foi martirizado por sua fé. Embora, em alguns escritos antigos, seja dito que ele era nativo de Antioquia, parece antes, por este texto, que ele era da Judéia, talvez de Jerusalém. Diz-se que ele morreu em Antioquia, e o martirológio romano o venera a 3 de fevereiro. «...grande fome...» Não há razão para supormos que homens, ajudados ou não pelo Espírito Santo, possam com frequência predizer eventos futuros, pois, afinal de contas, o homem é um ser espiritual, que temporariamente está cativo a um corpo físico. A predição do futuro não é, necessariamente, uma característica «divina» ou demoníaca. Os estudos feitos quanto ao fenômeno dos sonhos mostram que todos os seres humanos, no estágio do sono, combinam acontecimentos passados, presentes e futuros no conteúdo de seus sonhos, na tentativa de encontrar solução para os seus problemas. Todos os homens, simplesmente por serem homens, até certo ponto são «profetas», se limitarmos o sentido desse vocábulo para que indique somente a predição do futuro. Naturalmente um profeta, no sentido bíblico, é muito mais do que um indivíduo que prediz o futuro; é igualmente um homem espiritualmente dotado, que exerce um dom de ensino; e quando prediz o futuro, fá-lo por alguma razão espiritual, e não meramente como curiosidade de informação. Naturalmente aqueles que são dotados de algum dom espiritual são pessoas capazes de predizer o futuro com muito maior significação do que os homens ordinários podem fazê-lo. Cada indivíduo é um instrumento sem-par. É interessante observarmos que Ágabo evidentemente se especializou em conhecer o futuro e em maior extensão até mesmo que alguns dos apóstolos. Pois aqui estava alguém que fez tal predição, enquanto que Paulo, apesar de apóstolo, nada sabia a respeito. Além disso, no vigésimo primeiro capítulo do livro de Atos, quando Ágabo adverte sobre as consequências da visita de Paulo a Jerusalém, porquanto ali seria feito prisioneiro, novamente foi ele quem reconheceu o futuro, e não Paulo ou qualquer outro ministro da igreja. Trata-se de um fenômeno assaz interessante, pois, considerando-se o quadro total, Paulo e os demais apóstolos supostamente eram mais bem-dotados na diversidade dos dons inspirados pelo Espírito Santo do que Ágabo; mas o seu dom era especialmente adaptado para predizer o futuro. Assim, pois, cada indivíduo recebe o seu próprio dom, e, sendo isso dirigido para propósitos específicos, torna cada crente individual uma criatura sem igual. Por conseguinte, apesar de todos os remidos estarem sendo transformados segundo a imagem moral e metafísica de Cristo, compartilhando de sua santidade e de suas perfeições, cada indivíduo é um instrumento especial para a glória de Deus. A «...fome...» predita por Ágabo também ficou registrada na história. Tácito (Anais xii.43) e Suetônio (Claudio, 18) se referem a diversos períodos de fome durante o reinado de Cláudio (41 - 54 D.C.). Josefo menciona uma fome especialmente severa na Judéia, que ocorreu em 46 D.C., a qual, sem a menor sombra de dúvida, é a escassez aqui referida por Lucas. Diom Cássio (lib. lx) menciona severa fome, que ocorreu no primeiro e no segundo anos do reinado de Cláudio, a qual foi sentida pesadamente até mesmo na longínqua Roma. Essa

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fome foi que evidentemente induziu o imperador Cláudio a construir um porto marítimo em Óstia, para que a cidade de Roma pudesse ser mais regularmente suprida de víveres, que geralmente lhe chegavam por via marítima. Um segundo período de fome ocorreu no quarto ano de seu reinado, escassez essa que prosseguiu por diversos anos e afligiu grandemente a Judéia. (Ver Josefo, Antiq. xx.5, seção 2). Mui provavelmente essa é a fome mencionada no vigésimo oitavo capítulo do livro de Atos, quando ela foi predita. Uma terceira fome foi mencionada por Eusébio (An. Abrahami), que teve começo em outubro de 48 D.C. que atingiu severamente grande parte do mundo civilizado de então. Um quarto período de fome teve lugar no décimo primeiro ano do reinado de Cláudio, fome essa mencionada por Tácito (ver Anais, xii., seção 43). Essa fome foi tão severa, nessa ocasião, que se pensou ser um julgamento divino. Tácito revela que em todas as vendas de Roma não havia provisões para mais de quinze dias, e que se o inverno não tivesse vindo extraordinariamente suave, teria havido aflição e miséria espantosas. É muito provável que a fome, mencionada neste livro de Atos, no segundo ano do reinado do imperador Cláudio, tenha perdurado por diversos anos, de conformidade com as fontes históricas de que dispomos, ou seja, de 45 a 47 D.C. Quando a predição da fome foi feita por Ágabo, deveria estar a apenas meses de distância, ou talvez já estivesse em seus estágios iniciais. «...Cláudio...» Cláudio foi imperador romano de 41 a 54 D.C. Suetônio (ver Cláudio, 29), um dos historiadores romanos, diz-nos que esse imperador expulsou os judeus da cidade de Roma, por haverem feito levantes instigados por Cresto (presumivelmente o incidente registrado em At 18:2). Se isso é verdade, então «chrestus» (nome esse que se deriva de um substantivo próprio que, no grego, significa bom) mui provavelmente foi confundido por Suetônio com a palavra «christos» (no grego, ungido). E, assim sendo, a causa da agitação entre os judeus teria sido sua oposição e conflito contra os cristãos. Um decreto, provavelmente baixado por Cláudio, punia um furto feito em um túmulo, e têm sido encontradas evidências arqueológicas em confirmação a isso, na Galiléia. Alguns estudiosos têm suposto que essa ação foi parcialmente provocada pela história da «ressurreição» de Jesus; porém, se esse decreto foi baixado por Cláudio, parece ter sido muito posterior para que tivesse qualquer coisa a ver com a ressurreição do Senhor. A menos, naturalmente, que tenha dito respeito à pregação da igreja cristã primitiva, predica essa que incluía a ressurreição de Cristo (em vinculação à acusação, assacada pelos judeus, de que o corpo de Jesus fora furtado pelos seus discípulos, e não que ele realmente ressuscitara). Ora, a agitação que isso facilmente poderia ter provocado, bem poderia ter sido o motivo do decreto imperial, até mesmo nos tempos posteriores de Cláudio. Essa particularidade, entretanto, até hoje não pôde ser determinada com exatidão, e, no presente, não há como dar solução ao problema. Cláudio morreu envenenado pela sua quarta esposa, Agripina, mãe de Nero (54 D.C), após ter feito um reinado fraco, durante o qual, no dizer de Suetônio, ele «...mostrou-se não um príncipe, mas um servo», pois se deixava guiar pelos outros. Variante Textual_Os versículos vinte e seis e vinte e oito são expandidos no chamado texto «ocidental», para que digam: «...e naqueles dias vieram profetas de Jerusalém a Antioquia, e houve muita alegria. E quando estávamos reunidos, um deles, de nome Ágabo, falou, querendo dizer...» Assim diz o códex D, bem como as versões latinas p e w. O texto ocidental (manuscritos que nos vieram das igrejas cristãs do ocidente, isto é, da Itália e de certas regiões do norte da África) conta com tão numerosas variantes que sugere que o livro de Atos circulou, na igreja cristã primitiva, em duas edições separadas. A maior

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parte dessas variantes consiste em expansões e ornamentações feitas no texto; porém, os trechos que dizem respeito à Ásia Menor encerram interessantes e significativas variantes, do ponto de vista histórico e geográfico. Esse texto mais longo, o «ocidental» não é reputado, todavia, como texto original do livro de Atos. Trechos do livro de Atos chamados de seções nós. A variante particular, que hora consideramos, não teria grande importância, não fora o fato de que se trata da primeira das chamadas «seções nós» deste livro. Supõe-se que, nessas passagens, Lucas ter-se-ia reunido a Paulo e aos outros obreiros cristãos mencionados, nas quais o livro se torna uma espécie de autobiografia, como também uma narrativa histórica. Ordinariamente, as «seções nós» são consideradas como as seguintes: At 16:10-17; 20:5-15; 21:1-18 e 27:1-28:16. Assim sendo, o ponto em que Lucas se juntou ao grupo evangelístico em viagem teria sido na altura do décimo sexto capítulo. Mui provavelmente isso é correto, do ponto de vista histórico, pois o versículo que ora consideramos, fazendo parte apenas do chamado texto «ocidental», não deve ser reputado representante do livro original de Atos. 11:29 E os discípulos resolveram mondar, cada um conforme suas posses, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia; Podemos apreciar aqui a generosidade da igreja cristã de Antioquia. Havia muitos irmãos de tendências legalistas, em Jerusalém, que dificilmente teriam prestado socorro semelhante, se a situação fosse inversa, isto é, se em Antioquia é que os cristãos estivessem sofrendo. Os preconceitos aleijam e tolhem os instintos humanitários naturais, mas aqueles cristãos gentios primitivos não se preocupavam com fronteiras nacionais. Importância da caridade. «Um homem pode ser famoso, bem-sucedido, rico, realizador de grandes feitos, mas, se não cultivou e nem refinou esse instinto natural para ajudar aos outros, que sofrem aflição, até que esse instinto se eleve acima de todos os outros e os domine, qual soberano, então esse homem, como homem, é um fracasso. Essa é a escola onde nós, os crentes, estamos sendo treinados; e embora reconheçamos o fato de que, com frequência, temos falhado no teste, permitindo que outros instintos, inferiores e mais aviltados, dominem sobre aquele sentimento supremo, não obstante existem sinais de que temos feito algum progresso, tendo crescido em nossa capacidade de amar.» (Theodore P. Ferris, in loc). De acordo com a filosofia extremamente pessimista do filósofo alemão Schopenhauer, em que a própria existência é considerada como um mal e em que o maior pecado de um homem consiste no fato de que «nasceu», a simpatia, entretanto, é aceita como uma das virtudes e emoções positivas, que são possíveis e permissíveis. Portanto, até mesmo no ambiente melancólico daquela posição filosófica, a simpatia humana natural se eleva como uma qualidade digna e necessária, porque todos estamos juntos nesse batel da miséria humana, e, de alguma forma ou de outra, precisamos ser guardadores de nossos irmãos. Jesus Cristo foi o supremo exemplo de como alguém deve cuidar de seus irmãos. O livro de Tiago toca no âmago dessa verdade quando declara: «A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo» (Tg 1:27). Essa visita aos órfãos e às viúvas significa procurar aliviar as suas necessidades, contribuindo para o seu bem-estar, e não apenas fazer-lhes visitas ou servir-lhes de companhia, embora isso também seja um aspecto importante. No que concerne à situação específica descrita por este texto, salienta Calvino (in loc): «E essa gratidão não merecia pequeno louvor, pois os crentes de Antioquia pensavam que deveriam ajudar a irmãos necessitados, de quem haviam recebido o evangelho. Porquanto nada existe de mais acertado do que aqueles que têm semeado as realidades espirituais,

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colham também coisas terrenas. Visto que qualquer um de nós se inclina demasiadamente por prover para as suas próprias necessidades, todos aqueles homens poderiam ter objetado: Por que não cuido antes de mim mesmo? Porém, ao relembrarem-se eles de quão grandemente estavam endividados para com os irmãos (da Judéia), omitindo essa preocupação pessoal, voltaram-se para ajudá-los». Há necessidade de dar, para que alguém seja liberal. «Foi prometido, àqueles que consideram as necessidades dos pobres, que Deus os preservaria em vida, e que seriam bem-aventurados na terra (ver Sl 41:1,2). Muitos dão aos pobres pela razão de que têm muito, de sobra; mas as Escrituras nos fornecem uma razão pela qual deveríamos ser liberais, (é bom dar) a sete e a oito, porquanto não sabemos que mal sobrevirá à terra. (Ver Ec 11:2)». (Matthew Henry, in loc). Como deveriam ser feitas as contribuições aos pobres? Assim lemos nas Escrituras: «...cada um conforme as suas posses...» Essa instrução segue-se à injunção de Paulo, em I Co 16:2, que determina que cada um deve contribuir «...conforme qualquer um deles houver prosperado...» O verbo «prosperar» é tradução de uma palavra grega, «euporos», que indica o sentido de «passar facilmente». Assim é transmitida a ideia de prosperidade, mediante a figura simbólica de uma jornada fácil e favorável. Aqueles, pois, que estão passando por uma viagem fácil e favorável, nesta vida, deveriam interessar-se por tornar um pouco mais fácil essa jornada, para outros, especialmente no caso de serem irmãos na fé. Neste ponto encontramos o começo da coleta para os «santos pobres de Jerusalém», o que, posteriormente, ocupou parte tão proeminente nos labores do apóstolo Paulo. (Ver At 24:17; Rm 15:25,26; I Co 16:1; II Co 9:1-15 e Gl 2:10). Essa prática Paulo reputou como um vínculo de união entre a seção judaica e a seção gentílica da igreja cristã. Muitos comentadores bíblicos acreditam que a generosidade demonstrada pela igreja cristã de Jerusalém, ou sua vida de tipo comunal, no princípio de sua história, segundo vemos no registro dos capítulos segundo, quarto e quinto do livro de Atos, deixou aquela igreja com uma estrutura econômica débil. Mui provavelmente isso expressa uma verdade, mas a principal razão para essa crise foi a perseguição movida contra os judeus crentes, porquanto muitos deles perderam suas propriedades e seus recursos pecuniários, quando não perderam a própria vida. Os reiterados períodos de escassez e fome vieram agravar enormemente a situação inteira, piorando a situação de uma igreja que já se achava empobrecida. 11:30 o que eles com efeito fizeram, enviando-o aos anciãos por mão de Barnabé e de Saulo. Não se há de duvidar que Barnabé e Saulo desempenharam papel preponderante no levantamento de fundos para socorro aos irmãos pobres de Jerusalém, e providenciaram para que fosse atingida uma soma suficiente para ser de real ajuda aos crentes daquela cidade. Posteriormente Paulo expandiu grandemente essa obra de beneficência, conforme vemos nas referências bíblicas oferecidas no último parágrafo dos comentários sobre o versículo anterior. Tudo isso, pois, mostra-nos quão importante era, para o cristianismo primitivo, a prática das esmolas. Essa ideia fora importada diretamente do judaísmo. «...presbíteros...» Em todo o N.T., esta é a primeira ocorrência desse vocábulo para indicar os líderes cristãos, como pregadores, pastores e oficiais. Originalmente esses líderes é que tomavam conta das igrejas de Jerusalém que se reuniam em casas particulares, conforme era costumeiro na igreja cristã primitiva, antes que se iniciasse a ereção de templos para o culto cristão. Na passagem de At 15:6,23, os «presbíteros» figuram, juntamente com os apóstolos, numa espécie de concilio eclesiástico. É bem possível que, a princípio, os presbíteros tivessem as mesmas funções que cabiam aos presidentes das sinagogas judaicas, os quais eram os principais elementos daquela estrutura eclesiástica antiga, embora, mui provavelmente, não fossem originalmente consagrados por qualquer

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cerimônia específica para ocuparem suas funções. Entretanto, não tardou muito para que se generalizasse a ordenação ou consagração de tais ministros, porque até mesmo em At 14:23 vemos que já estava estabelecido o costume de consagrar tais ministros. Essa ordenação, outrossim, sem dúvida era efetuada através do rito da imposição de mãos, novamente em imitação à prática judaica, quando da consagração de seus oficiais eclesiásticos. No trecho de At 20:17, os termos «anciãos» e «bispos» são usados alternadamente, o que também se pode verificar na passagem de Tt 1:5,7. Originalmente, sem dúvida alguma não havia qualquer ofício distinto entre os «anciãos» e os «diáconos». Mas gradualmente foi surgindo certa diferença, em que os «diáconos» passaram a ocupar uma posição um tanto ou quanto inferior à dos «anciãos» ou «pastores», e muito provavelmente ficaram encarregados de cuidar mais das necessidades materiais das igrejas locais, ao passo que os anciões se fizeram os principais líderes espirituais das mesmas. (Ver a totalidade do terceiro capítulo da primeira epístola a Timóteo). Os diáconos do sexto capítulo do livro de Atos, apesar de terem sido um grupo distinto de homens e receberem distintas responsabilidades, não equivalentes aos deveres dos «anciãos», ou «bispos» e dos «diáconos» da organização eclesiástica cristã posterior, foram exemplos antecipatórios da existência de oficiais que não fossem apóstolos, dentro do organismo cristão. As qualificações para quaisquer oficiais eclesiásticos subordinados eram mais ou menos idênticas para todos, como também eram idênticas muitas de suas funções. Portanto, apesar do fato de que o ofício dos «diáconos», no sexto capítulo do livro de Atos, não ser tecnicamente igual à função dos «diáconos», na igreja cristã mais bem organizada, suas qualificações e funções eram similares. E o ofício mais antigo, assim sendo, antecipou o estabelecimento do ofício posterior, para todos os efeitos práticos. Bibliografia R. N. Champlin

Antioquia, A Primeira Igreja Missionária "Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos" (At 11.26). Antioquia da Síria foi a cidade mais importante para o Cristianismo, depois de Jerusalém, no início da fé cristã. Barnabé teve um papel preponderante na vida ministerial do apóstolo Paulo. Primeiro, ele o introduziu na comunidade cristã em Jerusalém, quando ninguém acreditava em sua conversão. Depois, foi buscá-lo em sua cidade natal, Tarso, na Cilícia, para, juntos, ensinarem a Palavra de Deus em Antioquia da Síria. Durante um ano Paulo e Barnabé ensinaram a Palavra de Deus em Antioquia da Síria. Após este período, os novos convertidos estavam completamente mudados, ao ponto de chamarem a atenção dos moradores locais, os quais os cognominaram de cristãos. Paulo e Barnabé, após este período de um ano, ensinando a Palavra de Deus em Antioquia da Síria, foram indicados, nominalmente, pelo Espírito Santo, para a obra missionária. Os dois formaram, portanto, a primeira dupla de missionários enviados ao Exterior, os quais, por onde passaram, fundaram diversas igrejas. Outro centro cristão começa a despontar no horizonte. A situação em Jerusalém tornara-se insuportável, por causa das frequentes perseguições. Os discípulos foram dispersos para a Judéia e Samaria, exceto os apóstolos (At 8.1). Por onde passavam, anunciavam o Senhor Jesus (At 8.4). Outros foram para a Fenícia, a ilha de Chipre e as cidades de Antioquia da Síria e Cirene.

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De todas essas localidades, Antioquia da Síria sobressaiu-se, tornando-se o mais importante centro missionário, no primeiro século do Cristianismo. A EXPANSÃO DA IGREJA 1. "Caminharam até a Fenícia" (v.19). Os fenícios destacaram-se na História, pela arte náutica. Eram inigualáveis navegadores e peritos mercadores. Fundaram bases em Cartago, Malta, Silícia e Sardenha, como entrepostos para o desenvolvimento do comércio. Eram idolatras. Sua divindade nacional era Baal e adoravam também a Astarote e a Asera (l Rs 11.5; 16.31; 18.19). Eles descendiam de Sidom, filho de Canaã (Gn 10.15,19; Is 23.11,12), e constituíram uma civilização muito antiga (Is 23.7). Só encontramos o nome deste país no Novo Testamento (At 11.19; 15.3; 21.2). 2. Chipre (v.19). Ilha do Mediterrâneo com cerca de 225 quilômetros de comprimento por 97 de largura, na parte mais larga. Dista 97 quilômetros da costa síria e turca. Seus antigos habitantes descendiam de Caftorim, filho de Mizraim, camita (Gn 10.13,14). Era a terra natal de Barnabé (At 4.36). Paulo e Barnabé fizeram uma turnê pela ilha, de leste a oeste, de Salamina a Pafos, durante a sua primeira viagem missionária (At 13.4-13). 3. Antioquia da Síria (v.19) Também conhecida como Antioquia do Orontes, devido o rio em cujas proximidades ela se situava. Não deve ser confundida com a Antioquia da Pisídia (At 13.14). Era uma das dezesseis cidades fundadas por Seleuco I, por volta de 310 a.C. e cujos nomes foram dados em homenagem a seu pai, Antíoco. Era a terceira cidade do império romano. Só perdia em importância para Roma e Alexandria. Foi conquistada por Pompeu, em 64 a.C, e passou a ser a capital da Síria, que se tornou um província romana. Distava 500 quilômetros de Jerusalém e gozava de posição estratégica favorável para as missões, pois localizava-se na divisa entre os dois mundos culturais da época: o grego e semita. MISSÕES TRANSCULTURAIS 1. Além das fronteiras culturais. No versículos 19 diz que os discípulos, os quais residiam na ilha de Chipre, na Fenícia e na cidade de Antioquia da Síria, não pregavam para os gentios: "não anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus". Isso porque eles ainda não tinham tido conhecimento da visão de Pedro e o resultado da visita à casa de Cornélio, visto que isso só aconteceu após a morte de Estêvão. Entretanto, o versículo 20 afirma que os que procederam de Chipre e Cirene levaram as boas novas aos gregos: "Os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus". Essa "inovação" não desapontou a Igreja em Jerusalém que, pelo contrário, deu seu total apoio. Cirene situava no norte da África, entre o Mediterrâneo e o deserto do Saara. Barnabé era cipriota ou chíprio (At 4.36) e Lúcio, um dos doutores da Igreja em Antioquia da Síria, era cireneu (At 13.1). 2. Surge a Igreja dos gentios. Diz o texto sagrado: "E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor" (v. 21). A peculiaridade da Antioquia da Síria consistia no fato de os discípulos pregarem para os gentios, os quais de bom grado receberam a mensagem. O número deles agora era considerável. A Igreja crescia e se expandia, pois não estava mais limitada somente aos judeus. 3. Barnabé em Antioquia da Síria (v.22). A decisão também foi sábia na escolha de Barnabé para ser enviado a Antioquia, pois era um homem de fé, generoso e cheio do

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Espírito Santo. Outro motivo, era por ser ele "progressista" (no bom sentido da palavra), para o padrão judaico da época. A Igreja na Síria era também formada por gentios. Os apóstolos tinham apenas a experiência de administrar grupos evangélicos, essencialmente constituídos de judeus. Barnabé, porém, possuía a maneira peculiar de lidar com os gre-gos. 4. O legalismo destrói a obra de Deus. O legalismo farisaico do judaísmo mais atrapalhava do que ajudava naquelas circunstâncias. O Cristianismo era a religião da liber-dade no Espírito Santo e não uma lista de regras (Gl 5.1), como a que os judeus até então vinham experimentando. Era algo vivo, ou seja, o poder de Deus nas vidas transformadas pela obra sobrenatural da terceira Pessoa da Trindade. CHAMADOS CRISTÃOS 1. Origem do nome cristão. "Em Antioquia, foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos" (11.26). O vocábulo cristão, christianoi em grego ou christianus em latim, aparece apenas três vezes no Novo Testamento (At 11.26; 26.28 e 1 Pe 4.16). A desinência ão (de Cristo+ão=cristão) significa "seguidor de, adepto de", como no caso de "herodianos" (Mc 3.6) que quer dizer "seguidores de Herodes". Os habitantes de Antioquia da Síria entenderam que o vocábulo Cristo fosse um nome próprio (os discípulos se referiam a Jesus como o "Cristo"). Por essa razão, chamaram os discípulos de cristãos. Outros confundiram com Chrestos, nome próprio muito comum entre os gregos, que significa "bom". Por esse motivo, o historiador romano, Suetônio, faz menção de uma disputa entre judeus e chrestianos, nos dias de Cláudio, que parece haver ligação com At 18.2. No entanto, na época de Nero, o vocábulo cristão já era um nome muito conhecido, e usado por Tácito, Suetônio, Plínio e pelos pais da Igreja. 2. O que significa ser cristão, hoje? Hoje, os seguidores de Jesus são conhecidos universalmente como cristãos. Isso é sinônimo de redenção em Cristo. Esse nome ostenta em nossa vida como um estandarte de honra. A CHAMADA MISSIONÁRIA 1. A situação de Jerusalém. Barnabé e Saulo ensinaram aos cristãos de origem gentílica, durante um ano (11.26). Na época, houve uma seca devastadora na Palestina, o que ocasionou uma grande fome, e os irmãos em Jerusalém enfrentavam dificuldades financeiras, ocasião em que a Igreja gentia levantou uma oferta, para socorrer os necessitados da Judéia (11.27-30). Lucas abre um parêntese em sua narrativa, para registrar o que aconteceu nessa época em Jerusalém (Atos 12): O martírio de Tiago, irmão de João, a prisão de Pedro e sua libertação miraculosa, em resposta à oração daqueles irmãos, e a morte de Herodes Agripa I. Em seguida, retorna à história da Igreja em Antioquia da Síria e menciona a primeira viagem missionária de Paulo. 2. A Igreja em Antioquia. Muitos haviam se convertido e o Cristianismo havia conquistado pessoas ilustres da sociedade: "Na igreja que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e Simeão, chamado Niger, e Lúcio, cireneu, e Manaém, que fora criado com Herodes, o tetrarca, e Saulo" (13.1). Dos nomes acima mencionados, dois foram escolhidos para a obra missionária: Barnabé e Saulo. O interessante é que o Espírito Santo escolhe o melhor para as missões. A Igreja em Antioquia da Síria certamente sentiu falta dos serviços que eles lhe prestavam, mas, no

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entanto, os enviou. Certamente, contava com o trabalho deles ainda por muito tempo. Porém, os caminhos de Deus nãos são os nossos e muito menos os seus pensamentos (Is 55.8, 9). 3. O desafio da Igreja. Oramos setenta anos para a abertura no Leste Europeu. Deus ouviu a nossa oração. Onde estão os missionários brasileiros nesses países? Lá estão os mórmons e as testemunhas-de-Jeová disseminando heresias. Já estavam preparados, aguardando a oportunidade. O mundo islâmico é um desafio ainda maior. Nós precisamos nos despertar para as missões. As igrejas, que já são missionárias, precisam ampliar seus horizontes. Devem enviar o que têm de melhor entre os obreiros. Antioquia mandou dois dos seus mais ilustres membros. CONCLUINDO Os trabalhos fundados na obra missionária não são uma extensão, ou seja, uma congregação da igreja mantenedora, pois a missão estrangeira é transcultural. As igrejas que investem em missões não devem esperar retorno financeiro, pois não são empresas que visam lucros, mas as bênçãos de Deus sobre elas, mediante o aumento de suas receitas. O modelo de Atos sugere que todas as igrejas sejam missionárias. Nenhum pastor precisa receber uma visão especial de Deus para iniciar a obra de missões. Essa ordem já está na Bíblia (Mt 28.19,20; Mc 16.16-20; Lc 24.47; At 1.8). Ele precisa buscar a direção do Espírito Santo de como realizar tal tarefa. 1. O nosso Deus é imutável. Portanto, o seu conceito sobre missões é o mesmo dos dias apostólicos. Se esta obra não frutifica como no princípio da Igreja, a culpa é exclusiva-mente nossa. Agora, em plena década da colheita, é o momento de despertarmos para esta grande realidade e recuperar o tempo perdido, mediante nossa oração e contribuição. 2. A obra missionária precisa, em primeiro lugar, da aprovação divina, mediante nossa consagração e dedicação total à pregação do Evangelho. A prova disso, encontramos no crescimento da Igreja em seu nascedouro. Os discípulos não possuíam os recursos que desfrutamos na atualidade e evangelizaram o mundo em apenas 60 anos. 3. Se utilizarmos todos os recursos, dos quais dispomos na atualidade, com certeza, realizaremos uma obra missionaria de maior envergadura do que a estabelecida pelos primeiros discípulos. Basta orarmos e consagrarmos as nossas vidas para este fim, pois a aprovação de Deus já está consignada desde a ordem de Jesus em Mt 28.19,20. Bibliografia E. Soares

A igreja em Antioquia 11:19-30

Enquanto estes desenvolvimentos aconteciam na área da missão da igreja judaica, os cristãos judaicos helenísticos que tinham sido forçados a deixar Jerusalém na ocasião da morte de Estêvão, se espalharam até ao norte, chegando à grande metrópole da Antioquia. Espalhavam o evangelho por onde iam, mas foi somente em Antioquia que começaram a falar a não-judeus e a ganhar muitos convertidos. A igreja começou a crescer rapidamente. As notícias levaram a igreja em Jerusalém a enviar um representante para ver o que estava acontecendo. Barnabé, o visitante assim nomeado, não tinha dúvida alguma acerca do valor da obra que estava sendo realizada, e tomou parte ativa nela, indo para Tarso buscar Paulo, a fim deste também participar. A evangelização da igreja fez um impacto tão grande

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que o povo do local cognominou seus membros de "gente de Cristo". Os membros da igreja tinham consciência dos seus vínculos com Jerusalém, e quando ouviram uma profecia acerca de uma fome que estava para vir, enviaram uma dádiva em dinheiro para ajudar a igreja. Não pode haver dúvida alguma de que a formação da igreja em Antioquia foi um evento de grande importância na expansão da igreja e da sua missão aos gentios. Pode-se supor com confiança que não se exigia da parte dos convertidos gentios que fossem circuncidados ou que guardassem a lei, e provavelmente formavam um grupo de tamanho considerável dentro da igreja, embora não exista evidência sólida de que formassem a maioria. A questão da lei judaica surgiu apenas quando visitantes de Jerusalém procuraram aplicá-la obrigatoriamente (Gl 2:11-14). 19. A introdução de Lucas à seção leva o leitor de volta para 8:24, que descreveu como a morte de Estêvão deu vazão a uma onda de oposição à igreja e à dispersão de muitos cristãos. Com toda a probabilidade, eram judeus que tinham conexão com a Dispersão, e era natural para eles mudarem-se para áreas fora da Judéia, inclusive os três lugares mencionados. A Fenicia (o moderno Líbano), era a área que se estendia ao longo do litoral numa faixa estreita desde o Monte Carmelo por uma distância de aproximadamente 242 km, sendo que suas cidades principais eram Ptolemaida, Tiro, Sarepta e Sidom, e, mais tarde, ficamos sabendo de grupos cristãos em três destes lugares (21:3, 7; 27:3); sem dúvida formados nesta ocasião. Chipre, já mencionada como domicílio de Barnabé (4:36), já possuía um elemento judaico na sua população pelo menos desde o século II a.C. (1 Mac. 15:23); foi o primeiro lugar a ser evangelizado por Barnabé e Paulo quando, mais tarde, saíram juntos como missionários (13:4-12). Entende-se, assim, que havia cristãos em Chipre antes da chegada de Barnabé e Paulo, fato este que não está em tensão com o relato de Lucas em 13:4-12, ainda que não o mencione ali (apesar de Conzelmann, pág. 67). Antioquia, a capital da província romana da Síria, crescera rapidamente para tornar-se a terceira maior cidade do Império (depois de Roma e Alexandria), com uma população estimada em 500.000. Foi fundada por Seleuco I e recebeu o nome de Antioquia em homenagem ao seu pai Antíoco (a mesma homenagem foi ligada aos nomes de cerca de 16 cidades, cf. 13:14). Havia ali uma grande população judaica.

20-21. Os judeus exilados para seu novo lar pregavam, de início, apenas para seus concidadãos judeus. A mudança decisiva foi instigada por alguns judeus de Chipre e de drene que pregavam as boas novas de Jesus também aos gregos em Antioquia (Lucas decerto se refere aos gentios, mas o texto está incerto. Ao invés de "gregos", a maioria dos MSS (inclusive o Códice do Vaticano) tem "helenistas", a palavra que se emprega em 6:1 e 9:29 para designar os judeus de língua grega. Os argumentos textuais em prol da segunda leitura são muito fortes; caso seja adotada, refere-se, sem dúvida,

à população mista da Antioquia, de língua grega (Metzger, págs. 386-389).). Não pode haver dúvida de que se iniciou um período bem-sucedido de evangelização entre os gentios, e de que a observância da lei judaica não era requerida dos convertidos. O que não sabemos é como a igreja foi levada a dar este passo. Fora necessária a intervenção divina para persuadir Pedro a empreender atuação semelhante, mas aqui, parece que ocorreu quase casualmente sem surgirem questões de princípios, nem no começo, nem mais tarde. É provável que se possa explicar bem simplesmente o assunto, ao notar que a probabilidade de haver gentios associados com as sinagogas era muito maior na Dispersão, de tal modo que igreja entraria na questão do lugar deles no evangelismo muito mais frequentemente e diretamente do que na Judéia propriamente dita. Se alguns dos próprios evangelistas tinham sido prosélitos, este passo ficaria tanto mais natural. Devemos supor que o novo grupo cristão rapidamente perdeu contato com as sinagogas, de modo que não era compelido a observar a lei judaica, como acontecia no ambiente predominantemente judaico de Jerusalém. Não sabemos se a conversão de Cornélio ocorrera antes e já ficara conhecida em Antioquia, de modo que pudesse ter servido de precedente.

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22-24. Nada há de surpreendente no fato de que a notícia daquilo que acontecia em Antioquia tivesse chegado à igreja que estava em Jerusalém, visto que, sem dúvida, havia bastante intercâmbio entre as duas cidades. Em ocasiões anteriores (8:14; cf. 9:32) os líderes da igreja em Jerusalém tinham enviado representantes para acompanhar a obra missionária fora da cidade, e esta ocasião específica claramente exigia que demonstrassem interesse. Não é necessário supor que a atuação deles fosse motivada pela suspeita, e muito menos, pela hostilidade. No máximo, talvez tenha sido necessário aplacar um grupo de cristãos judaicos da extrema direita em Jerusalém, que haveriam de causar dificuldades numa etapa posterior e que talvez já estavam se opondo à admissão dos gentios à igreja sem a circuncisão ser exigida da parte deles; nada sugere que este grupo predominava na igreja, mas os líderes fizeram o que puderam para conciliá-los (ver Hanson, pág. 130). A simpatia básica da igreja em Jerusalém com as notícias do que acontecia em Antioquia pode ser deduzida da escolha de Barnabé como delegado dela. Embora, pertencesse a uma família da Dispersão, era encarado com total confiança em Jerusalém, e agia como fiel da balança entre os elementos hebraicos e helenísticos dentro da igreja. Seu caráter era bem adaptado para esta função, pois era marcante a qualidade cristã da sua vida; é o único homem a quem Lucas descreve como sendo bom em Atos, e, quanto aos dons espirituais, estava em pé de igualdade com Estêvão. Não podia deixar de ver a mão de Deus no crescimento da igreja em Antioquia, e regozijava-se diante desta evidência da graça divina. Longe de exortar os novos convertidos a se curvarem diante de exigências legalísticas, instruiu-os a ficarem firmes na sua fé; aqui vemos porque Barnabé merecia o cognome de "filho de exortação" (4:36). Que Barnabé tinha a visão espiritual para reconhecer que o plano de Deus estava sendo cumprido em Antioquia foi de importância decisiva para o crescimento da igreja. 25-26. Barnabé reconheceu as ricas potencialidades da situação para mais avanços, e percebeu a necessidade de ajuda adicional na evangelização e no ensino. Foi procurar, portanto, seu antigo amigo Paulo, que estava trabalhando em Tarso, e persuadiu-o a participar da obra em Antioquia. Será que Paulo sentia que já se cumprira tudo quanto necessitava fazer em Tarso? Realmente não sabemos, e não ficamos sabendo de contatos posteriores que tenha tido com aquela cidade, mas decerto Paulo já passara ali um período considerável de tempo, e, nas suas campanhas missionárias posteriores, sua praxe era ficar suficiente tempo em qualquer determinado lugar para estabelecer a igreja, e depois avançar para outra localidade. A obra que Barnabé e Paulo realizaram em Antioquia é descrita como ensinar a igreja, mas esta palavra pode referir-se tanto à evangelização quanto à edificação espiritual dos convertidos existentes. Um dos resultados importantes de todas estas atividades é que, pela primeira vez, os discípulos vieram a ser conhecidos como cristãos. Lucas especialmente menciona este fato porque "cristão" 'viera a ser um termo familiar em certas áreas na ocasião em que escreveu. Já nos inícios do século II, o nome é atestado em Roma, na Ásia Menor, e em Antioquia. A terminação da palavra (Christianos) indica que é uma palavra latina, tal qual "herodiano", e que se refere aos seguidores de Jesus Cristo. "Cristo", portanto, seria entendido como nome próprio, embora seu emprego original fosse como título, "o Messias", para Jesus. O verbo foram chamados subentende com toda a probabilidade que "cristão" era um cognome dado pelo populacho de Antioquia e, assim, é bem provável que este entendesse que "Cristo" fosse um nome próprio, ainda que, nestas alturas os próprios cristãos ainda o empregassem como título; não passou muito tempo, no entanto, para o título tornar-se, mais e mais, um nome para Jesus. É provável que o nome contivesse um elemento de ridicularização (cf. At 26:28; 1 Pe 4:16, os únicos outros empregos do nome no Novo Testamento). Os cristãos preferiam empregar para si outros nomes, tais como "discípulos", "santos" e "irmãos".

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27-28. Um dos aspectos importantes da igreja primitiva foi a atividade dos profetas, pregadores carismáticos que às vezes estavam ligados a uma igreja local ou ocupados num ministério itinerante (13:1). Suas funções eram várias, e incluíam a exortação bem como a previsão do futuro; é bem possível que tenham dado exposições do Antigo Testamento, empregando sua compreensão espiritual para mostrar como suas profecias estavam sendo cumpridas nos eventos em conexão com a ascensão da igreja. A atividade deles tinha conexão com o novo sentido de inspiração associado com o dom do Espírito à igreja. Nada há de surpreendente na chegada de tais homens, provenientes de Jerusalém, em Antioquia (embora Haenchen, pág. 376, fique muito perplexo com eles). Nada mais ficamos sabendo, no entanto, acerca do propósito ou dos resultados da visita deles senão que um deles, de nome Ágabo (que reaparece em 21:10), previu uma fome que se estenderia por todo o mundo, i.é, o Império Romano. Fomes faziam parte daquilo que os cristãos esperavam para os tempos do fim (Lc 21:11), e esta profecia talvez tenha sido uma advertência de que o fim deveria estar próximo, embora nada se fala neste sentido no texto. É certo que não houve qualquer fome que abrangesse o Império inteiro durante o reinado de Cláudio (nem em qualquer outro tempo); havia, no entanto, "fomes frequentes", conforme o historiador Suetônio, e este era um cumprimento adequado da profecia. Certamente houve uma fome na Judéia em c. de 46 d.C, e Josefo conta como Helena da Adiabene mandou trigo para aliviar a fome dos pobres em Jerusalém. J. Jeremias notou que os judeus seguiam a lei do sétimo ano sem plantio durante este período, e argumentou que, se a quebra da produção coincidiu com os efeitos de um ano sem plantio, a fome seria tanto maior; sugeriu, portanto, que a fome fosse associada com o ano sabático que foi celebrado em 47-48 d.C. A profecia, naturalmente, pode ter sido pronunciada uns poucos anos antes.

29-30. A profecia encorajou os cristãos em Antioquia a enviar uma coleta em dinheiro para capacitar seus irmãos na Judéia a comprarem estoques de gêneros alimentícios para enfrentar a crise vindoura. Trata-se de um ato de fraternidade cristã, da qual os membros da igreja participaram de acordo com as suas possibilidades. O dinheiro era enviado aos presbíteros da igreja. Esta é a primeira vez que presbíteros se mencionam na igreja de Jerusalém, e causou certa surpresa o fato deles, e não os apóstolos, estarem encarregados do socorro aos pobres. Na realidade, porém, os apóstolos já tinham delegado a outros este dever (6:1-6), e é possível que os "Sete" que foram nomeados para cuidarem desta tarefa agora vieram a ser conhecidos como "presbíteros" por analogia com o nome dado a certos líderes nas sinagogas judaicas. Funcionavam lado a lado com os apóstolos (15:4, 6, 22-23; 16:4; 21:18). A coleta foi trazida por Barnabé e Paulo. A objeção tem sido levantada que é improvável que tivessem estado em Jerusalém durante a perseguição da igreja descrita na seção que imediatamente se segue: como poderiam ter passado sem serem molestados? Não se nos informa, porém, que estavam em Jerusalém exatamente naquela altura, a cronologia está em aberto. Mais importante é o relacionamento entre a presente narrativa e aquela em Gálatas caps. 1-2 onde Paulo faz um resumo das suas primeiras conexões com a igreja em Jerusalém. À parte da sua visita a Jerusalém após sua saída pouco cerimoniosa de Damasco, menciona uma outra visita para lá, na qual foi acompanhado por Barnabé e Tito, e durante a qual debateu o problema de pregar o evangelho aos gentios; pediram a ele que "se lembrasse dos pobres", e diz que foi exatamente isto mesmo que estava ansioso para fazer (Gl 2:1-10). Esta visita deve ser considerada a mesma de Atos cap. 11? Podem ser levantadas as seguintes objeções: (1) Atos cap. 15 relata a história de uma visita subsequente a Jerusalém na qual a questão dos gentios foi o objeto explícito da discussão. Embora haja diferenças quanto aos pormenores entre Atos cap. 15 e Gálatas cap. 2, pode-se argumentar que pertencem ao mesmo incidente, e que é improvável que o mesmo terreno foi repisado duas vezes.

Nada há de improvável, no entanto, no fato de ser necessário discutir um assunto antes de finalmente se chegar a um acordo final, conforme concordará qualquer pessoa que já trabalhou numa comissão. (2) Gálatas cap. 2 trata da controvérsia teológica, ao passo que Atos cap. 11 diz respeito a uma oferta em dinheiro. Mas podemos compreender que Lucas

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conservou a parte da controvérsia para o cap. 15. Além disto, Gálatas 2:10 pode significar que Paulo já estava ansioso por ajudar os pobres e que, na realidade, já o estava fazendo. Se for assim, não há qualquer conflito real entre as passagens. Consideramos, portanto, que a probabilidade pende em favor de a visita aqui registrada ser a mesma que se refere em Gl 2:1-10. Bibliografia I. H. Marshall

A IGREJA ENTRE OS GENTIOS

Desde o Concílio de Jerusalém, 50 a.D. Até ao Martírio de Paulo, 68 a.D. Por decisão do concílio realizado em Jerusalém, a igreja ficou com liberdade para iniciar uma obra de maior vulto, destinada a levar todas as pessoas, de todas as raças, e de todas as nações para o reino de Jesus Cristo. Supunha-se que os judeus, membros da igreja, continuassem observando a lei judaica, muito embora as regras fossem interpretadas de forma ampla por alguns dirigentes como Paulo. Contudo, os gentios podiam pertencer à igreja cristã, mediante a fé em Cristo e uma vida reta, sem submeterem-se às exigências da lei. Para tomarmos conhecimento do que ocorreu durante os vinte anos seguintes ao concílio de Jerusalém, dependemos do livro dos Atos dos Apóstolos, das epístolas do apóstolo Paulo, e talvez do primeiro versículo da Primeira Epístola de Pedro, que possivelmente se refere a países talvez visitados por ele. A estas fontes de informações pode-se juntar algumas tradições do período imediato à era apostólica, que parecem ser autênticas. O campo de atividades da igreja alcançava todo o Império Romano, que incluía todas as províncias nas margens do Mar Mediterrâneo e alguns países além de suas fronteiras especialmente a leste. Nessa época o número de membros de origem gentia continuava a crescer dentro da comunidade, enquanto o de judeus diminuía. À medida que o evangelho ganhava adeptos no mundo pagão, os judeus se afastavam dele e crescia cada vez mais o seu ódio contra o Cristianismo. Em quase todos os lugares onde se manifestaram persegui-ções contra os cristãos, nesse período, elas eram instigadas pelos judeus. Durante aqueles anos, três dirigentes se destacaram na igreja. O mais conhecido foi Paulo, o viajante incansável, o obreiro indômito, o fundador de igrejas e o eminente teólogo. Depois de Paulo, aparece Pedro cujo nome apenas consta dos registros, porém foi reconhecido por Paulo como uma das "colunas". A tradição diz que Pedro esteve algum tempo em Roma, dirigiu a igreja nessa cidade, e, por fim, morreu como mártir no ano 67. O terceiro dos grandes nomes dessa época foi Tiago, um irmão mais moço do Senhor, e dirigente da igreja de Jerusalém. Tiago era fiel conservador dos costumes judaicos. Era reconhecido como dirigente dos judeus cristãos; todavia não se opunha a que o evangelho fosse pregado aos gentios. A epístola de Tiago foi escrita por ele. Tiago foi morto no Templo, cerca do ano 62. Assim, todos os três líderes desse período, entre muitos outros menos proeminentes perderam suas vidas como mártires da fé que abraçaram. O registro desse período, conforme se encontra nos 13 últimos capítulos de Atos, refere-se somente às atividades do apóstolo Paulo. Entretanto, nesse período outros missionários devem ter estado em atividade, pois logo após o fim dessa época mencionam-se nomes de igrejas que Paulo jamais visitou. A primeira viagem de Paulo através de algumas províncias da Ásia Menor já foi mencionada em capítulo anterior. Depois do concílio de Jerusalém Paulo empreendeu a segunda viagem missionária. Tendo por companheiro Silas ou Silvano, deixou Antioquia da Síria e visitou, pela terceira vez, as igrejas do continente, estabelecidas na primeira viagem. Foi até às costas do Mar Egeu, a Trôade, antiga cidade de Tróia, e embarcou para a Europa, levando, assim, o evangelho a esse continente. Paulo e Silas

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estabeleceram igrejas em Filipos, Tessalônica e Beréia, na província de Macedônia. Fundaram um pequeno núcleo na culta cidade de Atenas e estabeleceram forte congregação em Corinto, a metrópole comercial da Grécia. Da cidade de Corinto, Paulo escreveu duas cartas à igreja de Tessalônica, sendo essas as suas primeiras epístolas. Navegou depois pelo Mar Egeu, para uma breve visita a Éfeso, na Ásia Menor. A seguir atravessou o Mediterrâneo e foi a Cesaréia; subiu a Jerusalém, a fim de saudar a igreja dessa cidade, e voltou ao ponto de partida em Antioquia da Síria. Em suas viagens, du-rante três anos, por terra e por mar, Paulo percorreu mais de três mil quilômetros, fundou igrejas em pelo menos sete cidades e abriu, pode-se dizer, o continente da Europa à pregação do Evangelho. Após um breve período de descanso, Paulo iniciou a terceira viagem missionária, ainda de Antioquia, porém destinada a terminar em Jerusalém, como prisioneiro do governo romano. Inicialmente seu único companheiro fora Timóteo, o qual se havia juntado a ele na segunda viagem e permaneceu até ao fim, como auxiliar fiel e "filho no Evangelho". Contudo, alguns outros companheiros estiveram com o apóstolo, antes de findar esta viagem. A viagem iniciou-se com a visita às igrejas da Síria e Cilicia, incluindo, sem dúvida, a cidade de Tarso, onde nasceu. Continuou a viagem pela antiga rota e visitou, pela quarta vez, as igrejas que estabeleceu na primeira viagem. Entretanto, após haver cruzado a província de Frigia, em lugar de seguir rumo norte, para Trôade, foi para o Sul, rumo a Efeso, a metrópole da Ásia Menor. Na cidade de Éfeso permaneceu por mais de dois anos, o período mais longo que Paulo passou em um só lugar, durante todas as suas viagens. Seu ministério teve êxito não apenas na igreja em Éfeso mas também na propagação do evangelho em toda a província. As sete igrejas da Ásia, foram fundadas quer direta, quer indiretamente por Paulo. De acordo com seu método de voltar a visitar as igrejas que estabelecera, Paulo navegou de Éfeso para a Macedônia, visitou os discípulos em Filipos, Tessalônica, Beréia e bem assim aqueles que estavam na Grécia. Depois disso sentiu que devia voltar pelo mesmo trajeto, para fazer uma visita final àquelas igrejas. Navegou para Trôade e dessa cidade passou pela costa da Ásia Menor. De Mileto, o porto de Éfeso, mandou chamar os anciãos da igreja de Éfeso, e despediu-se deles com emocionante exortação. Recomeçou a viagem para Cesaréia, e subiu a montanha até Jerusalém. Nesta cidade Paulo terminou a terceira viagem missionária, quando foi atacado pela multidão de judeus no templo, aonde fora adorar. Os soldados romanos protegeram o apóstolo da ira do populacho, e o recolheram à fortaleza de Marco António. A terceira viagem missionária de Paulo foi tão longa quanto a segunda, exceto os 480 quilômetros entre Jerusalém e Antioquia. Seus resultados mais evidentes foram a igreja de Éfeso e duas das suas mais importantes epístolas, uma à igreja em Roma, expondo os prin-cípios do evangelho de acordo com a sua própria maneira de pregar, e outra aos Gálatas dirigida às igrejas que estabelecera na primeira viagem, onde os mestres judaizantes haviam pervertido muitos discípulos. Durante mais de cinco anos, após sua prisão, Paulo esteve prisioneiro; algum tempo em Jerusalém, três anos em Cesaréia e pelo menos dois anos em Roma. Podemos considerar a acidentada viagem de Cesaréia a Roma, como a quarta viagem de Paulo, pois, mesmo preso, era ele um intrépido missionário que aproveitava todas as oportunidades para anunciar o evangelho de Cristo. O motivo da viagem de Paulo foi a petição que ele fez. Na qualidade de cidadão romano apelou para ser julgado pelo imperador, em Roma. Seus companheiros nessa viagem foram Lucas e Aristarco, os quais talvez tenham viajado como seus auxiliares. Havia, a bordo do navio em que viajavam, criminosos confessos que eram levados para Roma a fim de serem mortos nas lutas de gladiadores. Havia, também, soldados que guardavam os presos que viajavam no navio. Podemos estar certos de que toda essa gente que participou da longa e perigosa viagem, ouviu o evangelho anunciado pelo apóstolo. Em Sidom, Mirra e Creta, onde o navio aportou, Paulo proclamou a Cristo.

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Em Melita (Malta) onde estiveram durante três meses após o naufrágio, também se converteram muitas pessoas. Finalmente Paulo chegou a Roma, a cidade que durante muitos anos foi o alvo de seu trabalho e esperança. Apesar de se tratar de um preso à espera de julgamento, contudo a Paulo foi permitido viver em casa alugada, acorrentado a um soldado. O esforço principal de Paulo, ao chegar a Roma, foi evangelizar os judeus, tendo para esse fim convocado seus compatriotas para uma reunião que durou o dia inteiro. Verificando que apenas uns poucos dos judeus estavam dispostos a aceitar o Evangelho, voltou-se então para os gentios. Por espaço de dois anos, a casa em que Paulo morava em Roma funcionou como igreja, onde muitos encontraram a Cristo, especialmente os soldados da guarda do Pre-tório. Contudo seu maior trabalho realizado em Roma foi a composição de quatro epístolas, que se contam entre os melhores tesouros da igreja. As epístolas foram as seguintes: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemom. Há motivos para crer que após dois anos de prisão, Paulo foi absolvido e posto em liberdade. Podemos, sem dúvida, considerar os três ou quatro anos de liberdade de Paulo, como a continuação de sua quarta viagem missionária. Notamos alusões ou esperanças de Paulo, de visitar Colossos ou Mileto. Se estava tão próximo de Éfeso, como o estavam os dois mencionados lugares, parece certo que visitou esta última cidade. Visitou, também, a Ilha de Creta, onde deixou Tito responsável pelas igrejas, e esteve em Nicópolis no Mar Adriático, ao norte da Grécia. A tradição declara que neste lugar Paulo foi preso e enviado outra vez para Roma, onde foi martirizado no ano 68. A este último período podem pertencer estas três epístolas: Primeira a Timóteo, Tito e Segunda a Timóteo, sendo que a última foi escrita na prisão, em Roma. No ano 64 uma grande parte da cidade foi destruída por um incêndio. Diz-se que foi Nero, o pior de todos os imperadores romanos, quem ateou fogo à cidade. Contudo essa acusação ainda é discutível. Entretanto a opinião pública responsabilizou Nero por esse crime. A fim de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou os cristãos como culpados do incêndio de Roma, e moveu contra eles tremenda perseguição. Milhares de cristãos foram torturados e mortos, entre os quais se conta o apóstolo Pedro, que foi crucificado no ano 67, e bem assim o apóstolo Paulo, que foi decapitado no ano 68. Essas datas são aproximadas, pois os apóstolos acima citados ja podem ter sido martirizados um ou dois anos antes. E uma das "vinganças" da História , que naqueles jardins onde multidões de cristãos foram queimados como "tochas vivas" enquanto o imperador passeava em sua carruagem, esteja hoje o Vaticano, residência do sumo-pontífice católico-romano, e a basílica de São Pedro, o maior edifício da religião cristã. Na época do concílio de Jerusalém, no ano 50, não havia sido escrito nenhum dos livros do Novo Testamento. A igreja, para conhecimento da vida e dos ensinos do Salvador, dispunha tão-somente das memórias dos primitivos discípulos. Entretanto, antes do final deste período, 68 a. D., grande parte dos livros do Novo Testamento já estavam circulando, inclusive os evangelhos de Mateus, Marcos e Lucas e as epístolas de Paulo, Tiago, 1 Pedro e talvez 2 Pedro, embora questões tenham sido levantadas quanto a autoria dessa última. Deve-se lembrar que é provável que a epístola aos Hebreus tenha sido escrita depois da morte de Paulo, não sendo, portanto, de sua autoria. J. L. Hurlbut

A Igreja em Antioquia At 11:19-30

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Agora Lucas deixa "os atos de Pedro" de lado, por algum tempo. Voltará a eles novamente no capítulo 12, após o que, exceto por uma breve menção no capítulo 15, Pedro desaparece

da narrativa, e Paulo torna-se o foco de atenção. O propósito do autor nestes capítulos (8 a

12) é narrar a história da expansão inicial da igreja (exemplificada em certos acontecimentos

cuidadosamente selecionados), e ao mesmo tempo preparar o caminho para a história da

missão paulina. É por isso que Lucas nos dá um relato da conversão de Paulo e da pregação a Cornélio a fim de demonstrar a legitimidade do trabalho que Paulo haveria de executar. Agora, ele nos conta sobre a fundação da igreja em Antioquia, que se tornou a mola mestra

do grande impulso missionário para dentro do império romano.

De novo precisamos reconhecer que não sabemos de que maneira os incidentes desta parte

do livro relacionam-se entre si no que concerne ao tempo. Lucas dispôs seu material de modo que refletisse a marcha do evangelho para o ocidente, de modo que a história da igreja

de Antioquia havia sido deixada de lado até agora, em preparação para o capítulo 13 e os

seguintes, os quais nos conduzem de Antioquia à Ásia Menor e mais adiante. Na verdade, porém, a pregação do evangelho nessa cidade pode ter sido contemporânea de alguns

acontecimentos narrados nos capítulos 8 a 10, ou talvez houvesse ocorrido antes ainda.

11:19 Lucas volta à morte de Estevão e suas consequências, os crentes espalhados por

toda a parte (8:4), e agora acompanha-os na direção do norte, pela Fenícia. Vinte anos mais tarde haveria comunidades cristãs em Ptolemais, Tiro e Sidom, as quais sem dúvida datavam dessa época (21:3, 7; 27:3). Partindo desses portos, alguns crentes foram para

Chipre. Outros, para a Antioquia da Síria. Esta cidade, situada a cerca de 23 quilômetros da foz do rio Orontes, havia sido fundada mais ou menos em 300 a.C, como cidade capital, por

Seleuco I Nicator (312-281 a.C), sendo uma das dezesseis cidades às quais ele deu esse mesmo nome em homenagem a seu pai Antíoco. Após o colapso da dinastia dos Selêucidas,

e da ocupação romana da Síria, Antioquia tornou-se capital e sede militar da nova

província. Sob Augusto e Tibério, e com a ajuda de Herodes o Grande, a cidade cresceu e

foi embelezada à maneira romana; melhoraram-se as estradas que lhe davam acesso, e desenvolveu-se mais ainda seu porto marítimo de Selêucia Pieria. Assim foi que o sistema de

comunicações de Antioquia com o Leste e, na verdade, com todo o império, tornou-se muito

mais rápido e seguro. Tal fato seria benéfico à igreja.

Desde o início essa cidade havia tido população mista que, por esta época, atingia cerca de

oitocentas mil pessoas. Calcula-se que o número de judeus chegasse a vinte e cinco mil (veja

Josefo, Antiguidades 12.119-124; 2 Macabeus 4). Josefo chamava-a de terceira cidade do império, depois de Roma e Alexandria; outros autores não tinham tanta certeza disso,

achando que ela poderia ser a segunda cidade. Tem sido descrita como "uma fortaleza do helenismo em terras siríacas... o ponto de encontro inevitável de dois mundos" (G. Dix, p.

33). Essa mistura de culturas apresentou alguns resultados bons e outros maus. Por um

lado, deu origem à literatura e à arte que atraíram os elogios de Cícero (veja Pro Archia 4), mas, por outro lado, fez surgir a luxúria e a imoralidade, que fizeram da Antioquia famosa

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uma Antioquia infame. Entretanto, essa cidade tinha um papel a desempenhar na história da

salvação. É que graças àquela fusão de culturas e raças, o povo estava preparado para a

derrubada da "parede de separação, a barreira de inimizade" existente entre judeus e gentios, e novo amálgama de todos num só povo ("de ambos os povos fez um", a saber, "um só

corpo" em Cristo; Efésios 2:14ss.)

11:20-21 De início, os crentes limitavam sua pregação aos judeus (v. 19). Mas em

Antioquia, onde o padrão moral que prevalecia levou muitos a procurar algo melhor, os judeus haviam atraído grande número de gentios a suas sinagogas. Muitos destes

tornaram-se prosélitos, mas muitos outros (é o que supomos) permaneceram "tementes a Deus", e não demorou muito alguns crentes, irmãos de Chipre e de Cirene, estavam pregando

a tais pessoas (é assim que interpretamos o termo gregos do v. 20). Não haviam desistido de

pregar aos judeus, mas estavam pregando a judeus e a gentios em congregações mistas. A

mensagem deles girava em torno do senhorio de Jesus, pois era mais apropriada àquele

povo de origens tão diversificadas, do que a apresentação do Senhor como o Messias (cp. 8:12; 9:20, 22; 18:5), e obtiveram bons resultados. A justaposição de alguns versículos

implica em que a expressão grande número creu e se converteu ao Senhor, no v. 21, refere-se em grande parte aos gentios tementes a Deus, do versículo anterior. Isto aconteceu com tão

grande facilidade, em comparação com as dificuldades experimentadas no caso de Cornélio, que só podemos atribuí-lo ao fato de os judeus de Antioquia estarem mais acostumados à

presença de gentios em suas sinagogas, do que os judeus da Judéia. Seja como for, pela liberdade com que os cristãos conseguiam organizar a vida deles, parece que logo se

separaram das sinagogas, de maneira a não ficar sob a mesma pressão externa pela qual os

judeus cristãos da Judéia obrigavam os gentios convertidos a submeter-se à lei. Assim é que logo o costume da igreja poderia ser descrito como viver "como os gentios" no que dizia

respeito à circuncisão e às leis dietéticas (cp. 15:1; Gl 2:11-14). A exatidão dessa nova

direção foi aparentemente confirmada, também, em que a mão do Senhor era com eles.

11:22-24 Quando os crentes de Jerusalém ouviram a respeito dessas novidades, enviaram

Barnabé a Antioquia para investigar (v. 22). Esta não foi necessariamente uma reação hostil.

É certo que havia aqueles que achavam que os convertidos gentios precisavam aceitar "o jugo da lei", mas nem todos partilhavam tal opinião, ou não a apregoavam com tanta força.

Talvez seja melhor entender o fato de enviarem a Barnabé como sendo uma tentativa de

estabelecer um bom relacionamento com os cristãos de Antioquia, da mesma forma que Pedro

e João haviam sido enviados aos samaritanos (cp. v. 20).

Ao chegar a Antioquia, Barnabé regozijou-se quando viu a graça de Deus (v. 23). O fato de

ele "ter visto" pode significar que havia sinais visíveis da bênção —talvez grande mudança no modo de viver, quem sabe a manifestação mais palpável dos dons do Espírito. Barnabé não

encontrou nada ruim em sua fé, nem deficiente em sua instrução, pois nada acrescentou. Apenas exortou a todos a que permanecessem no Senhor com todo o seu coração (v. 23; cp.

15:32), isto é, que continuassem no caminho que haviam iniciado, não permitindo que nada os

separasse de Jesus. O tempo imperfeito do verbo "exortar" (ou "encorajar") implica em que Barnabé permaneceu em Antioquia e que ele martelou esse tema enquanto ali esteve.

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Barnabé é o grande encorajador (4:36), que também provou ser homem de bem (uma

descrição singular em Atos) e cheio do Espírito Santo e de fé (v. 24). Essas foram as

qualidades que fizeram que Estevão fosse tão eficiente como diácono (6:5), e graças a Deus, Barnabé mostrou a mesma eficiência. Parece que foi por intermédio dele, mais do que de

outra pessoa, que muita gente se uniu ("se acrescentava"; cp. 2:47) ao Senhor (v. 24; observe

o elo implícito entre a primeira e a segunda metades deste versículo). Parece que Barnabé

tornou-se líder da igreja de Antioquia, o que era de esperar-se em consequência de sua

longa ligação com os apóstolos. Sem dúvida alguma, no devido tempo ele apresentou um

relatório à igreja de Jerusalém.

11:25-26a O crescimento da igreja foi tão grande que logo Barnabé sentiu a necessidade de

um assistente, quando então seus pensamentos pousaram em Paulo (cp. 9:27) que, nos

últimos anos, andara de cidade em cidade na Síria e na Cilícia, anunciando "a fé que outrora

procurava destruir" (Gl 1:21ss.). É possível que Barnabé tivesse ouvido algo acerca de Paulo,

o suficiente para convencê-lo de que era o homem certo para Antioquia. Tarso ficava a noroeste da capital siríaca como vimos em ebdareiabranca, podendo ser alcançada por terra

ou por mar. Não foi fácil localizar lhe o paradeiro. Só depois de demorada busca (informa-nos o termo grego) é que Barnabé encontrou a Paulo, de modo que ambos foram juntos para

Antioquia. Nesta cidade ambos trabalharam juntos por todo um ano (v. 26), instruindo a igreja segundo o exemplo dos apóstolos (2:42; cp. Mt 28:20), até determinado tempo em que a

igreja, tendo atingido certo nível de maturidade, enviou-os para a obra mais ampla da "primeira viagem missionária" (13:3ss.). Pode ter acontecido que nesses primeiros meses em

Antioquia, Paulo houvesse recebido a primeira visão do verdadeiro escopo de seu chamado

para ser apóstolo "para com os gentios" (Gl 2:8). O texto grego do versículo 26 não prima pela clareza, embora ECA nos dê uma tradução excelente: se reuniram (Paulo e Barnabé) naquela

igreja. Entretanto, várias alternativas têm sido sugeridas, das quais mencionamos uma que nos parece muito atraente: "eles se tornaram unidos naquela igreja", o que enfatiza que a

associação de Paulo e Barnabé em Antioquia foi de inestimável valor para a missão da igreja.

11:26b-30 Lucas observa duas outras questões interessantes nesta seção: Primeira, em

Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos (v. 26). No Novo Testamento, os cristãos nunca se chamam a si mesmos por este nome; tampouco é provável

que o nome cristão lhes tenha sido atribuído pelos judeus. Portanto, deve ter partido de

outros da cidade, e é testemunho de a igreja haver forçado sua presença, como grupo de pessoas com identidade própria que lhes chamava a atenção. Talvez não seja mero acidente

de linguagem que ambas as declarações do v. 26, a que se refere ao número dos cristãos, e a

que menciona seu nome, estejam tão intimamente relacionadas no grego. O substantivo

"cristão" deriva do latim, cujos nomes no plural que terminam em iani denotam os partidários da pessoa sob referência; p.e., os herodianos eram os partidários de Herodes

Antipas. H. B. Mattingley sugere que o termo christiani foi criado como expressão jocosa

pelos cidadãos de Antioquia a fim de ridicularizar os Augustiani, uma brigada de devotos cultuadores que publicamente adulavam a Nero. Assim, tanto o entusiasmo dos crentes

como a ridícula homenagem prestada pelos bajuladores imperiais eram satirizados nessa comparação ("The Origin of the Name Christian" [Origem do Nome Cristão], JTS 9, 1958, pp.

26ss.). Entretanto, o nome "cristão" pode ser bem mais velho do que a instituição dos

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Augustiani, o que certamente é plausível, se pensarmos que com essa observação Lucas

tinha em mente informar que aquele nome originou-se nessa época. Todavia, persiste a possibilidade de o nome "cristão" ter sido cunhado como zombaria, e teria sido nesse sentido

que Agripa II usou-o em 26:28 (cp. 1 Pe 4:16).

A segunda questão é a provisão feita pela igreja de Antioquia, quando a fome se alastrava,

enviando socorro aos irmãos que moravam na Judéia (v. 29). A linguagem de Lucas

intenciona mostrar a unidade existente entre os dois grupos de crentes. O profeta Ágabo, que viera de Jerusalém com um grupo de crentes, advertiu os irmãos de Antioquia de que haveria

uma grande fome em todo o mundo (v. 28; cp. 24:5; Lc 2:1). Foi isso mesmo que aconteceu em termos gerais. O reinado de Cláudio (41-54 A.D.) tornou-se notável pela fome que afligiu

várias partes do império romano. O primeiro, segundo, quarto, nono e décimo primeiro ano

de seu reinado ficaram registrados como anos de fome num ou noutro distrito (veja Suetônio,

Cláudio 18; Tácito, Anais 12.43; Dio Cassio, História Romana 60.11; Eusébio, História Eclesiástica 2.8). De acordo com Josefo, a Judéia foi atingida entre 44 e 48 d.C. (Antiguidades 20.49-53). Mas, para a igreja de Antioquia a previsão serviu de aviso. Decidiram os crentes

mandar, cada um conforme o que pudesse, uma oferta para a Judéia (v. 29; cp. 1 Co 16:2). O desejo deles era prover socorro aos irmãos; o grego poderia implicar que aqueles cristãos

enviariam tanto quanto pudessem "para o ministério", lembrando uma expressão similar usada em 6:1, enfatizando que esta oferenda era uma versão em escala maior de uma prática

primitiva da igreja (cp. 2:44; 4:32-35). O caso dos cristãos da Judéia talvez fosse muito desesperador naqueles anos de fome, visto que é bem provável que entre os que fugiram

daquela região, durante a perseguição, estariam os mais bem qualificados para prover seu

próprio sustento noutras regiões. A igreja, pois, teria sido despojada de seus membros mais ricos na época em que a ajuda deles seria mais necessária. Como deveria ter sido bem-vinda

aquela ajuda de Antioquia! O dinheiro levantado pela igreja de Antioquia foi entregue por Paulo e Barnabé nas mãos dos anciãos, que aparentemente se tornaram líderes em

Jerusalém, tendo Tiago como presidente do conselho (v. 30). Esta visita de Paulo a Jerusalém é identificada às vezes com aquela mencionada em Gálatas 2:1-10, mas no todo isto nos

parece improvável. Quando Paulo e Barnabé terminaram essa tarefa, voltaram para o norte,

levando consigo João Marcos (12:25).

11:26 Em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos: O infinitivo

chrematisai pode ser traduzido por "chamaram-se a si mesmos", assim esta passagem pode ser entendida como se o nome "cristão" houvesse sido criado pela igreja a fim de dar

expressão à nova consciência de si mesmos. Com este discernimento do termo, B. J.

Bickerman chegou à conclusão de que "cristão" significa "escravo de Cristo" ("The Name of Christians" [O Nome dos Cristãos], HTR 42 [1949], pp. 109-24). Mas a evidência do Novo

Testamento é que este não era o nome pelo qual os cristãos chamavam-se a si mesmos nesta

época, apesar de que na época de Lucas provavelmente já fosse utilizado, dado seu

interesse histórico neste lugar onde se originou a palavra "cristão".

11:27 profetas: Se 1 Coríntios serve como guia, era comum encontrar certo número de homens e mulheres em uma congregação local exercendo o dom de profecia (veja 1 Co

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11:4s.; 14:29; cp. At 13:1). Mas, além destes, existiam outros que exercitavam este dom de

forma mais extensiva. Este é o tipo de "profetas" a que se refere este versículo (1 Co 12:28s.;

Ef 4:11; cp. Ef 2:20; 3:5), e a este grupo pertencia Ágabo e os outros. O papel do profeta era tanto proclamar (cp. 2:18; 19:6; 21:9) como predizer. Ágabo chamou a atenção por suas

predições (cp. 21:1 Os.). Capacitados como pregadores, o trabalho dos profetas incluía

exortação (15:32), edificação, e consolação (1 Co 14:3). A reação dos não crentes a este

ministério mostra que eram pregadores da mensagem completa de Deus (1 Co 14:24s.). No

contexto dos cultos da igreja, seu ministério é descrito como "revelação" (1 Co 14:26 ss.), de onde podemos concluir que esse fenômeno era uma manifestação espontânea em resposta aos diferentes movimentos do Espírito. Ágabo é usado duas vezes para fazer suas predições

"pelo Espírito" (11:28; 21:11). Diferentemente do dom de línguas, profecia comunicava uma

mensagem de maneira inteligível à igreja. Dois testes eram aplicados ao que o profeta dizia:

primeiro, a opinião de outros profetas (1 Co 14:29) e, segundo, o kerygma apostólico (estar de acordo com as doutrinas dos apóstolos, veja 1 Co 14:37s.). Profetas, portanto, não eram fontes

de novas verdades, pois eram basicamente pregadores e expositores da verdade revelada.

Acerca dos ministérios na nova igreja.

11:28 O texto do ocidente adiciona a este ponto: "E existia muita alegria. E quando

estávamos juntos em comunhão..." incluindo o autor naquele acontecimento que estava descrevendo (cp. passagens onde existem o "nós": 16:10-17; 20:5-15; 27:1-28). Esta

passagem reflete a tradição de que Lucas nasceu em Antioquia da Síria; no entanto, esta

afirmação pode ser vista como duvidosa.

11:30 anciãos (cf. l4:23; 15:2,4,6,22,23; 16:4; 20:17; 21:18): Para entender a emergência

desta ordem, devemos lembrar que a igreja havia sofrido duas grandes perseguições

(assumindo que Antioquia foi formada posteriormente a 44 d.C; 8:1ss.; 9:1ss.; 12:1ss.). Estas dispersaram um número significativo de cristãos, incluindo, supomos, outros além

dos primeiros Sete líderes que incluíam Filipe, talvez também os que restaram dos Doze (cp. 12:1,2,17). De toda maneira, os Doze não queriam envolver-se no dia-a-dia da administração

da igreja. Desta maneira a primitiva liderança da igreja em Jerusalém foi dispersa (apesar

que de tempos em tempos os apóstolos retornavam à cidade quando importantes decisões deveriam ser tomadas; cp. 15:2ss., talvez também 11:1 e 22), e isto, juntamente com a

inclinação natural da igreja de aceitar o costume da sinagoga, talvez apontassem como líderes os anciãos. Este fato abriu precedente para que outras igrejas os imitassem (14:23;

20:17). Os anciãos eram às vezes chamados "supervisores" (gr. episkopoi; cp. Fp 1:1; 1 Tm 3:1

s., Tt 1:7) ou simplesmente "os que presidem sobre vós" (1 Ts 5:12). Diferentemente dos

judeus, eles costumavam ter um papel espiritual como pastores e professores, assim como administradores (cp. 20:17; 1 Tm 5:17; Tg 5:14; 1 Pe 5:1-4). E de 1 Tm 4:14; 5:22 e 2 Tm

1:6 podemos deduzir que estas indicações foram feitas por imposição de mãos.

D. J. Williams

O Evangelho Propaga-se Entre os Gentios

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Deus seja louvado pela sua iniciativa em prover, quer da perspectiva passada, presente ou futura, graciosamente a salvação. Deus tem de ser louvado, porque nEle surge uma nova comunidade que essencialmente derruba a antiga barreira racial existente entre judeus e gentios. Esse acontecimento ocorre no contexto cuja vontade soberana de Deus é exercida. Busquemos em Deus, no exemplo de seu Filho Jesus Cristo e na força do Espírito Santo, uma vida autenticamente cristã onde não haja barreira para os relacionamentos com os irmãos em Cristo, que são "a Igreja de Deus". Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34). Criador de tudo quanto existe, a todos preserva pela sua bondade e justiça (At 17.25-28). Ele ama a todos indistintamente e deseja a salvação de toda a humanidade (Jo 3.16) através de Jesus Cristo (Mt 1.21; At 4.12). Esta é a mensagem que os apóstolos de Nosso Senhor proclamaram aos gentios. No Filho, todos somos amados pelo Pai, sem quaisquer distinções. Está você também disposto a anunciar o evangelho até aos confins da terra? Há muita terra ainda a ser conquistada. OS GENTIOS NO ANTIGO TESTAMENTO Toda a humanidade descende de um único casal a quem Deus formara segundo a sua imagem e semelhança (Gn 1.27; 5.2). Embora criado santo, justo e bom para a glória do Senhor (Gn 5.1; Sl 115.1), o homem desobedeceu-lhe as ordens e veio a conhecer experimentalmente o pecado. Com a sua apostasia, fez com que a maldade tomasse conta do mundo (Gn 4.8,23). A Deus, então, não restou outra alternativa senão destruir a primeira civilização através de um dilúvio universal (Gn 6 - 9). 1. Um novo começo com Noé. Apenas Noé e a sua família salvaram-se daquele cataclismo. Por intermédio dos filhos do piedoso e santo patriarca: Jafé (Gn 10.2-5), Cam (Gn 10.6-20) e Sem (Gn 10.21-31), vieram a formarem-se as nações com as suas respectivas geografias (Gn 10-11). Infelizmente, a humanidade porfiou em desobedecer a Deus (Gn 11.1-9). Em meio a essa desolação espiritual e moral, Deus santifica um descendente de Sem, Abraão, para que dele uma nova nação fosse formada (Gn 12.1-3). Em Abraão, fomos todos abençoados. 2. A exclusividade dos descendentes de Abraão (Gn 15.5,6). Ao chamar Abraão, o Se-nhor dá início à história de Israel (Gn 12.1-3). Seu propósito à nação judaica (Gn 18.18; 22.18) era torná-la uma propriedade peculiar, um reino sacerdotal e um povo santo (Êx 19.5,6). Ele a constituiu para que esta lhe fosse uma possessão distinta e particular (Is 44.1-2), a fim de que, por seu intermédio, alcançasse os gentios. A partir de então, todas as demais etnias passaram a ser conhecidas como gôyim- gentios (Gn 15.18-21). Isso não significa, porém, que Deus não ame as demais nações. Ele as ama, sim! E de tal maneira amou-as, que deu o seu Único Filho, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Além do mais, em Abraão foram benditas todas as nações da terra (Gn 1 2.3). OS GENTIOS EM O NOVO TESTAMENTO O Novo Testamento faz questão de realçar o amor de Deus não somente por Israel, mas por todos os povos. João 3.16 deixa isso bem claro. Não resta dúvida: a salvação vem dos judeus, mas não se restringe aos judeus, mas através dos judeus deve alcançar a todos os não-judeus. 1. Nos Evangelhos. Nos evangelhos há várias referências aos gentios (Mt 6.7,32; Mc 10.33; Lc 12.30; 1 8.32). Descritos às vezes com certa reserva (Mt 20.19; Mc 10.33), são eles vistos como a grande seara a ser alcançada pelos apóstolos que, no cumprimento da Grande Comissão, deixariam Jerusalém e a Judeia para evangelizar e ensinar todas as

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nações (Mt 28.18-20). Aliás, Isaías já destacava a missão do Cristo entre os gentios (Is 42.1-4). Durante o seu ministério terreno, o Senhor Jesus agraciou alguns destes como a mulher cananeia (Mt 15.21-28) e o centurião (Lc 7.1-10). 2. Nos Atos dos Apóstolos. Embora Atos 1.8 estabeleça a obrigatoriedade da missão entre os gentios, somente no capítulo 9 e versículo 15, após a conversão de Paulo, é que se declara aberta e enfaticamente a evangelização das nações (ver At 13.44-47). A resistência inicial dos apóstolos em discipulados (At 10.9-16) é vencida quando Cornélio, sua família e demais assistentes, recebem o batismo com o Espírito Santo (At 10.44-48). O fato trouxe perplexidade no colégio apostólico (At 11.1-3,18), mas após a apologia de Pedro (At 11.4-17 ver 15.7-11), a Igreja glorificou a Deus pelo fato de os gentios serem também objeto do amor de Deus (At 10.45). 3. Missão e Salvação entre os Gentios. Se Pedro, com o evangelho da circuncisão, é proeminente nos capítulos de 1 a 12 de Atos, nos capítulos de 13 a 28, destaca-se Paulo com o evangelho da incircuncisão (Gl 1.7). O primeiro diz respeito aos judeus, o segundo aos gentios (At 13.44-47). Trata-se, porém, de um só evangelho - o evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Paulo estava consciente de que fora chamado por Deus para anunciar o evangelho aos gentios (At 9.15), sem os entraves da lei (At 15.19,28,29; Rm 4.9-16). Em suas viagens missionárias, não foram poucos os gentios que se converteram ao Senhor (At 11.1,18) e de bom grado ouviram a exposição da graça divina (At 13.42). Você se preocupa com a evangelização transcultural? Se você não foi chamado ao campo, coopere financeiramente com a Obra Missionária e ore pelos que se acham além-fronteiras falando do amor de Deus. A responsabilidade pelo "Ide" também é sua. JUDEUS E GENTIOS UNIDOS POR DEUS MEDIANTE A CRUZ 1. A Igreja de Deus. Ao defender a difusão do Evangelho entre as nações, afirmou Pedro: "[...] Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome" (At 15.14). Esse povo é a Igreja formada por judeus e gentios em Cristo (Rm 9.24-33). De ambos, fez Ele um só povo, derribando a parede de separação que estava no meio, e, pela cruz, reconciliou ambos com Deus em um corpo (Ef 2.14-16). Dessa maneira, o Espírito Santo revela a Paulo (Ef 3.4,5) que os gentios não são mais estrangeiros (gôyim) e nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos, da família de Deus (Ef 2.11-22; 1 Pe 2.5), co-herdeiros e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho (Ef 3.6). 2. Expansão da igreja entre os gentios. Através de suas viagens missionárias, Paulo propagou o evangelho entre os povos e culturas conhecidos naqueles dias (Rm 15.19,20). Em várias regiões, estabeleceu ele igrejas constituídas notadamente por gentios (Rm 16.4). CONCLUSÃO A evangelização dos povos é o maior desafio da igreja moderna. A responsabilidade é nossa. O Senhor confiou-nos a Grande Comissão para que, sem remissões, alcancemos os confins da terra. Ele deseja que todos os gentios sejam salvos. Você sabia que muitos povos ainda não ouviram falar de Jesus? Como responderá você a esse grande desafio? Se o Senhor o chama à Obra Missionária, responda prontamente: "Eis-me aqui, Senhor. Envia-me a mim". Bibliografia Claudionor de Andrade

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Subsídio Bibliográfico

"Israel e a Igreja Nos capítulos iniciais de Atos dos Apóstolos, a recepção judaica à mensagem do evangelho foi pode-rosa e inquietou os líderes judaicos. Mas, depois, iniciou-se a reação e a perseguição judaicas para que a Igreja se dispersasse. Em alguns locais, a mensagem foi tirada da sinagoga e oferecida diretamente aos gentios que responderam de forma favorável (At 13.46; 18.6; 28.28). Esse padrão híbrido de recepção judaica, perseguição e busca dos gentios foi comum, em especial, no ministério de Paulo. Os apóstolos iniciaram na sinagoga, pois criam que a mensagem de Cristo era também para os de Israel. As igrejas locais desenvolveram-se por necessidade de sobreviver em face da rejeição. Essas realidades fizeram com que Lucas, em Atos dos Apóstolos, falasse de forma reiterada sobre os mensageiros da Igreja 'se voltarem para os gentios' e 'advertirem Israel'. Esses temas, com frequência, aparecem lado a lado e dominam o último terço do livro de Atos dos Apóstolos. Eles mostram que a Igreja não era Israel e que essa distinção tornou-se uma realidade do ponto de vista histórico" (ZUCK, Roy B. et al. Teologia do Novo Testamento. 1 .ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008, pp.l60-61). Subsídio Teológico "A inclusão dos Gentios na Única e Nova Humanidade em Cristo (Ef 2.13 18) Paulo continua a descrever como a obra da redenção torna as pessoas um só povo em Cristo. O verso 13 começa com duas frases importantes: 'Mas, agora' que aparece em contraste com 'antes' (v. 11) e 'naquele tempo' (v.12); e 'em Cristo Jesus', que aparece em contraste com 'sem Cristo' (v. l2). Essas duas expressões enfatizam como a situação dos gentios seria drasticamente modificada, de estarem 'longe' para chegarem 'perto'. Essa nova aproximação de Deus é tanto 'em Cristo Jesus' como 'pelo sangue de Cristo'. Essa última se refere ao evento histórico da morte de Jesus na cruz; e a primeira está relacionada à conversão dos infiéis e sua presente união com Cristo. Os cinco versos seguintes explicam o que foi alcançado pela morte redentora de Cristo na cruz. Os versos 14-18 revelam o âmago da mensagem de reconciliação de Paulo, e como Deus deu início ao seu eterno plano de reconciliação cósmica (embora não universal) (1.10). A palavra principal nessa passagem é paz, e ela aparece quatro vezes (vv.14,15, e duas vezes no verso 17). O verso 14 começa com uma declaração enfática: 'Porque ele [Cristo] é a nossa paz'. Cristo, e somente Cristo, nos deu a solução para esse problema que infesta a raça humana, isto é, a separação de Deus e de outras pessoas. Ele é a Reconciliação do povo com Deus e a Reconciliação das pessoas, umas com as outras. Assim, o evangelho torna-se uma mensagem de reconciliação (2 Co 5.17-21). Por causa de seu sangue redentor (2.14), nesse ponto de Efésios Paulo anuncia, em dois sentidos, o próprio Cristo Jesus como sendo a 'nossa paz': 1) Como pecadores, Ele nos reconcilia com Deus pela cruz (v. 16) e 2) Reconcilia grupos mutuamente hostis entre si (tais como judeus e gentios) e 'de ambos os povos faz um' (v. 14b; também vv. 15,16,17 e 18). A reconciliação é o tema central desta passagem. Nada, a não ser o evangelho, poderá nos oferecer, genuinamente, a paz com Deus (Rm 5.1), 'e nada, a não ser o evangelho, poderá remover as barreiras que dividem a humanidade em grupos hostis em sua própria época' (Bruce, 1961, 54). A paz entre judeus e gentios exigia a destruição da 'parede de separação que estava no meio' (v. 14c). Nenhuma distinção por cor, conflito étnico, separação por classes ou divisão política era mais absoluta que a barreira entre judeus e gentios no primeiro século d.C. Bruce acrescenta: 'O maior triunfo do evangelho na era apostólica foi que ele venceu essa antiga e longa desavença e permitiu que judeus e gentios se tornassem verdadeiramente um único povo em Cristo'" (Comentário Bíblico Pentecostal Novo Testamento. 2.ed. Rio de janeiro: CPAD, 2004, pp.1219-20).

Paulo discorda de Pedro em Antioquia Gl 2.11-16 Este é sem dúvida um dos episódios mais tensos e dramáticos do Novo Testamento. Temos aqui dois líderes apostólicos de Jesus Cristo, face a face em um conflito total e franco.

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O cenário passou de Jerusalém, a capital do Judaísmo, onde se encaixam todos os v.s precedentes deste longo capítulo, para Antioquia, a principal cidade da Síria, até mesmo da Ásia, onde a missão gentia começou e onde os discípulos foram pela primeira vez chama-dos "cristãos". Quando Paulo visitou Jerusalém, Pedro (junto com Tiago e João) estendeu-lhe a destra da comunhão (v.s 1-10). Quando Pedro visitou Antioquia, Paulo se lhe opôs face a face (v.s 11-16). Tanto Paulo como Pedro eram cristãos, homens de Deus, que sabiam o que era ser perdoado através de Cristo e que haviam recebido o Espírito Santo. Além disso, ambos eram apóstolos de Jesus Cristo, especialmente chamados, comissionados e investidos com a sua autoridade. Ambos eram respeitados nas igrejas por sua liderança. Ambos haviam sido poderosamente usados por Deus. Na verdade, o livro de Atos está virtualmente dividido no meio pelos dois, a primeira parte contando a história de Pedro e a segunda parte, a história de Paulo. Mas aqui encontramos o apóstolo Paulo resistindo face a face ao apóstolo Pedro, contradizendo-o, repreendendo-o, condenando-o, porque este havia se afastado e se separado dos crentes cristãos gentios e não comia mais com eles. Não que Pedro negasse o evangelho em sua doutrina, pois Paulo se esmera em demonstrar que ele e os apóstolos de Jerusalém estavam unidos quanto ao evangelho (v.s 1-10), e ele repete este fato aqui (v.s 15-16). A ofensa de Pedro contra o evangelho foi na sua conduta. Nas palavras de J. B. Phillips, "a sua conduta estava em contradição com a verdade do evangelho". Convém investigarmos esta situação, na qual estes dois líderes apostólicos aparecem em total desarmonia. É particularmente importante notar o que cada apóstolo fez, por que o fez e com que resultado. Vamos começar com Pedro. 1. A Conduta de Pedro (vs. 11-13) a. O que ele fez Quando Pedro chegou a Antioquia, ele comia com os cristãos gentios. Na verdade, o tempo imperfeito de verbo indica que este era o seu comportamento regular, como diz J. B. Phillips: "Pedro tinha o hábito de se sentar à mesa com os gentios". Seus antigos escrúpulos judaicos haviam sido vencidos. Ele não se considerava de forma alguma desonrado ou contaminado pelo contato com os cristãos gentios incircuncisos, como antigamente. Em vez disso, ele os convidava para comer com ele, e comia com eles. Pedro, que era um cristão judeu, desfrutava a fraternidade dos crentes de Antioquia, que eram cristãos gentios. Isto provavelmente significa que faziam refeições comuns juntos, embora, sem dúvida alguma, participassem também da Ceia do Senhor. Então, um dia, chegou a Antioquia um grupo de Jerusalém. Eram todos crentes cristãos professos, mas eram de origem judaica, escrupulosos fariseus na verdade (At 15:5) e vinham "da parte de Tiago" (Gl 2:12), o líder da igreja de Jerusalém. Isto não significa que tivessem a sua autoridade, pois ele mais tarde negou isso (At 15:24), mas, antes, que eles declararam que a tinham. Eles se apresentaram como delegados apostólicos. Ao chegarem à Antioquia começaram a pregar: "Se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos" (At 15:1). Evidentemente foram até mais longe do que isso, ensinando que era impróprio que crentes judeus circuncidados participassem da mesma mesa com os crentes gentios incircuncisos, ainda que estes últimos cressem em Jesus e fossem batizados. Na sua política perniciosa, esses mestres judaizantes ganharam um notável convertido na pessoa do apóstolo Pedro. Pois este, que anteriormente comia com estes cristãos gentios,

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agora se afastou e se separou deles. Parece que ele o fez por vergonha. Diz o Bispo Lightfoot: "As palavras descrevem convincentemente o afastamento cauteloso de uma pessoa tímida que se esquiva dos observadores." b. Por que ele o fez Por que Pedro criou esta brecha desastrosa na comunhão da igreja de Antioquia? Já vimos a causa imediata, isto é, chegaram "alguns da parte de Tiago" (v. 12). Mas por que ele se deixou influenciar? Devemos supor que eles o convenceram de que estivera agindo de maneira errada ao comer com os cristãos gentios? Não pode ser. Lembremos que havia pouco tempo, conforme registrado em At 10 e 11, Pedro recebera uma revelação direta e especial de Deus exatamente sobre este assunto. Ele estava no terraço de uma casa em Jope, uma tarde, quando entrou em êxtase e teve a visão de um lençol que descia do céu segurado pelos quatro cantos, contendo uma variedade de criaturas impuras (aves, animais e répteis). Então ele ouviu uma voz dizendo: "Levanta-te, Pedro; mata e come". Quando ele objetou, a voz continuou dizendo: "Ao que Deus purificou não consideres comum". A visão se repetiu três vezes, com ênfase. Pedro concluiu que devia acompanhar os mensageiros gentios que lhe foram enviados da parte do centurião Cornélio e foi à casa deste, atitude que lhe era imprópria, por ser um judeu. No sermão que pregou na casa de Cornélio, ele disse: "Reconheço por verdade que Deus não faz acepção de pessoas". Quando o Espírito Santo veio sobre os gentios que creram, Pedro concordou que deviam receber o batismo cristão e que deviam ser recebidos na igreja cristã. Devemos agora supor que Pedro tenha se esquecido da visão que teve em Jope e da conversão da casa de Cornélio? Ou que tenha traído a revelação que Deus lhe dera? Certamente não. Não há em Gl 2 indicação alguma de que Pedro houvesse mudado de opinião. Por que então ele se afastou da comunhão com os crentes gentios em Antioquia? Paulo nos conta. Ele "veio a apartar-se, temendo os da circuncisão" (v. 12). "E também os demais judeus dissimularam com ele, ao ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles" (v. 13). A palavra grega para "dissimulação" é "hipocrisia", que significa "fazer fita". Era o que estavam fazendo. Eles "fingiram" (cf. v. 13, BJ). A acusação de Paulo é séria, mas evidente. É que Pedro e os outros agiram com falta de sinceridade, não por convicção pessoal. Seu afastamento da mesa dos crentes gentios não foi incitado por algum princípio teológico, mas por medo covarde de um pequeno grupo. Na verdade, Pedro fez em Antioquia exatamente o que Paulo se recusou a fazer em Jerusalém, isto é, ceder diante da pressão. O mesmo Pedro que negou o seu Senhor com medo de uma criada, negou-o agora com medo do partido da circuncisão. Ele continuava crendo no evangelho, mas falhou na sua prática. Sua conduta "não se ajustou" com o evangelho. Ele virtualmente contradisse o evangelho com sua atitude, porque lhe faltou coragem nas convicções. c. As consequências Já observamos que "os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles" (v.s 13). "A dissimulação deles", comenta Lightfoot, "foi uma enchente que levou tudo de roldão" Até Barnabé, o amigo de confiança de Paulo e seu colega missionário, que permanecera firme ao seu lado em Jerusalém (v.s 1, 9), agora, em Antioquia, cedeu. Isto é importante. Se Paulo não tivesse se colocado contra Pedro naquele dia, toda a igreja cristã teria derivado para uma água parada, estagnando, ou então haveria uma permanente rixa entre o Cristianismo gentio e o judeu, "um Senhor, mas duas mesas do Senhor". A notável coragem de Paulo naquela ocasião, resistindo a Pedro, preservou a verdade do evangelho e a fraternidade internacional da igreja.

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Agora vamos deixar Pedro de lado e vamos nos voltar para Paulo. 2. A Conduta de Paulo (vs. 14-16) a. O que ele fez O v. 11 diz que Paulo "resistiu" ou "enfrentou" (JB) a Pedro "face a face". A razão da atitude drástica de Paulo foi que Pedro "se tornara repreensível". Isto é, "ele estava inteiramente errado" (BLH). Além disso, Paulo repreendeu Pedro "na presença de todos" (v. 14), franca e publicamente. Paulo não hesitou, nem mesmo por deferência ao que Pedro era. Ele reconhecia que este era um apóstolo de Jesus Cristo, que realmente fora designado como apóstolo antes dele (1:17). Sabia que Pedro era umas das "colunas" da igreja (v. 9), a quem Deus confiara o evangelho para os circuncidados (v. 7). Paulo não negou nem se esqueceu destes fatos. Não obstante, isto não o impediu de contradizer e se opor a Pedro. Nem o intimidou de fazê-lo publicamente. Ele não deu ouvidos àqueles que talvez o aconselhassem a ser cauteloso, evitando lavar roupa suja teológica em público. Ele não tentou ocultar a desavença ou marcar (como nós faríamos) uma entrevista particular da qual o público ou a imprensa ficasse excluído. A entrevista em Jerusalém foi particular (v. 2), mas a revelação dos fatos em Antioquia teve de ser pública. O afastamento de Pedro dos crentes gentios havia provocado um escândalo público; da mesma forma, ele deveria sofrer oposição publicamente. Portanto, Paulo se opôs a Pedro "face a face" (v. 11) e "na presença de todos" (v. 14). Foi exatamente o tipo de colisão frontal que a igreja tentaria evitar a qualquer preço nos dias de hoje. b. Por que ele o fez Por que Paulo se atreveu a contradizer um companheiro seu, apóstolo de Jesus Cristo, e isto publicamente? Seria porque tinha um temperamento irascível e não podia controlar o gênio ou a língua? Seria ele um exibicionista, que gostava de discutir? Será que considerava Pedro como um perigoso rival, de modo que agarrou aquela oportunidade para rebaixá-lo? Não. Nenhum desses sentimentos desprezíveis motivaram a Paulo. Por que então ele agiu desse modo? A resposta é simples. Paulo agiu assim porque estava profundamente preocupado exatamente com o princípio que Pedro parecia ignorar. Ele sabia que o princípio teológico que estava em jogo não era um assunto sem importância. Martinho Lutero capta isso de maneira admirável: "Ele não estava lidando com um assunto superficial, mas com o artigo principal de toda a doutrina cristã... Pois quem é Pedro? Quem é Paulo? Quem é um anjo do céu? O que são todas as outras criaturas para com o artigo da justificação? O que somos nós, se é que o sabemos, estamos à luz clara do dia; mas se somos ignorantes nesse ponto, então estamos na mais miserável escuridão." Que princípio teológico era esse que estava em jogo? Duas vezes neste capítulo o apóstolo chama-o de "a verdade do evangelho". Fora a questão discutida em Jerusalém (v. 5), e foi novamente o assunto discutido em Antioquia (v. 14). Paulo "viu". Observe a percepção espiritual nessa questão fundamental que ele reivindica: que Pedro e os outros não estavam procedendo "corretamente segundo a verdade do evangelho" (literalmente, "não andavam corretamente", v. 14). "A verdade do evangelho" parece estar sendo comparada a um caminho reto e estreito. Em vez de se manter nele, Pedro estava se desviando. Qual é, então, essa verdade do evangelho? Qualquer leitor da Epístola aos Gálatas deveria perceber a resposta a esta pergunta. São as boas novas de que nós, os pecadores, culpados e sob o julgamento de Deus, podemos ser perdoados e aceitos pela sua plena graça, pelo seu favor livre e imerecido, com base na morte do seu Filho e não através de quaisquer

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obras ou méritos nossos. Mais resumidamente, a verdade do evangelho é a doutrina da justificação (que significa aceitação diante de Deus) tão somente pela graça, através da fé, o que Paulo prossegue expondo nos v.s 15-17. Qualquer desvio deste evangelho o apóstolo simplesmente não consegue tolerar. No começo da epístola ele pronunciou um terrível anátema contra aqueles que o distorciam (1:8,9). Em Jerusalém ele se recusou a submeter-se aos judaizantes por um momento que fosse, "para que a verdade do evangelho permanecesse" (2:5). E agora em Antioquia, movido por essa mesma veemente lealdade para com o evangelho, ele enfrenta Pedro face a face porque o comportamento deste contradizia tal verdade. Paulo estava determinado a defender e man-ter o evangelho a qualquer custo, ainda que fosse às custas da humilhação pública de um irmão apóstolo. Mas talvez alguém fique imaginando por que o afastamento de Pedro contradizia a verdade do evangelho. Considere com atenção o raciocínio de Paulo. Os v.s 15 e 16 dizem: Nós (isto é, Pedro e Paulo)... sabendo, contudo, que o homem (qualquer homem, judeu ou gentio) não é justificado por obras da lei, e, sim, mediante a fé em Cristo Jesus... Estas palavras fazem parte do que Paulo disse a Pedro em Antioquia, fazendo-o lembrar do evangelho que eles dois conheciam e que ambos defendiam. Neste assunto não havia diferença de opinião entre eles. Eles haviam concordado que Deus aceita o pecador através da fé em Cristo e por causa da obra que ele consumou na cruz. Este é o caminho da salvação para todos os pecadores, tanto judeus como gentios. Não há distinção entre eles quanto ao pecado; e, portanto, não há distinção entre eles quanto ao meio de sua salvação. Agora, se Deus justifica os judeus e os gentios nos mesmos termos, simplesmente pela fé no Cristo crucificado, não vendo diferença entre eles, quem somos nós para negar comunhão aos crentes gentios apenas porque não são circuncidados? Se, para aceitá-los, Deus não exige a tal obra da lei chamada circuncisão, como nos atrevemos a lhes impor uma condição, a qual o próprio Deus não impõe? Se Deus os aceitou, como podemos rejeitá-los? Se ele os aceita na sua comunhão, vamos nós negar-lhes a nossa! Ele os reconciliou consigo mesmo; como podemos nos afastar daqueles a quem Deus reconciliou? O princípio está bem explicado em Rm 15:7: "Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo vos acolheu." Além disso, o próprio Pedro fora justificado pela fé em Jesus. Além de "conhecer" a doutrina da justificação pela fé, ele próprio agira com base nela, "crendo" em Jesus a fim de ser justificado (v. 16). E Pedro já não observava mais os regulamentos dietéticos judaicos. Se, sendo tu judeu, diz-lhe Paulo, vives como gentio, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus? (v. 14). c. As consequências Nesta passagem não somos informados explicitamente do que resultou da atitude de Paulo, mas a perspectiva da história mais adiante nos diz. Este incidente em Antioquia precipitou o futuro Concilio de Jerusalém, descrito em Atos 15. É possível que Paulo estivesse já a ca-minho de Jerusalém para assistir ao Concilio quando escreveu esta epístola (Gálatas). Sabemos de At 15:1,2 que as dissensões provocadas pelos judaizantes em Antioquia foram a causa imediata do Concilio. Paulo, Barnabé e alguns outros foram designados pela igreja para irem a Jerusalém, falar com os apóstolos e os anciãos acerca desta questão. Também sabemos qual foi a decisão que o Concilio de Jerusalém tomou, isto é, que a circuncisão não devia ser exigida dos crentes gentios. E, assim, parcialmente como resultado da posição de Paulo contra Pedro em Antioquia naquele dia, o evangelho obteve uma grande vitória. Conclusão

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O que podemos aprender hoje desta desavença entre Paulo e Pedro em Antioquia? Será que não passou de uma indigna e indecorosa colisão de personalidades, sem qualquer significado duradouro? Pelo contrário, a controvérsia entre Paulo e Pedro tem se repetido em debates eclesiásticos contemporâneos, especialmente no que se refere à comunhão internacional. O cenário é diferente. Não é mais a Síria nem a Palestina, mas outras partes do mundo, sem excluir o Brasil. Os participantes também são diferentes. Eles não são apóstolos do primeiro século, mas gente da igreja do século XXI. O campo de batalha também é diferente, pois já não é mais a questão da circuncisão mosaica, mas assuntos secundários tais como a confirmação, a forma de batismo ou o ministério da igreja. Mas a questão fundamental em jogo é exatamente a mesma, isto é: em que base os crentes cristãos podem desfrutar a comunhão uns com os outros ou afastar-se uns dos outros? A resposta a estas perguntas encontra-se no evangelho. O evangelho é a boa nova da justificação dos pecadores pela graça de Deus. Ele nos diz que a aceitação do pecador diante de Deus é somente pela fé, totalmente à parte das obras. Esta é a verdade do evangelho. Uma vez que a assimilemos claramente, ficamos em posição de entender nosso duplo dever para com ela. a. Devemos andar corretamente, de acordo com o evangelho Não basta que creiamos no evangelho (Pedro cria, v. 16), nem mesmo que lutemos por preservá-lo, como Paulo e os apóstolos de Jerusalém fizeram, e os judaizantes não. Temos que ir ainda mais adiante. Temos de aplicá-lo; foi o que Pedro deixou de fazer. Ele sabia perfeitamente bem que a fé em Jesus é a condição única para que Deus tenha comunhão com os pecadores; mas ele acrescentou a circuncisão como condição extra para que ele tivesse comunhão com eles, contrariando assim o evangelho. Hoje em dia diversos grupos cristãos e pessoas repetem o mesmo erro de Pedro. Recusam-se a ter comunhão com outros crentes cristãos professos a não ser que estes sejam totalmente imersos na água (nenhuma outra forma de batismo os satisfaz), ou que tenham sido episcopalmente confirmados (insistem que apenas as mãos de um bispo na sucessão histórica são adequadas), ou que sua pele tenha determinada cor, ou que venham de uma determinada classe social (geralmente a de cima) e assim por diante. Tudo isto é uma séria afronta ao evangelho. A justificação é só pela fé; não temos o direito de acrescentar uma forma particular de batismo, de confirmação ou alguma condição denominacional, racial ou social. Deus não insiste nessas coisas para nos aceitar em sua comunhão; por isso não devemos insistir nelas também. Que exclusividade eclesiástica é esta que nós praticamos e Deus não? Será que somos mais reservados do que ele? A única barreira para termos comunhão com Deus, e consequentemente uns com os outros, é a incredulidade, a falta da fé salvadora em Jesus Cristo. Não somos anarquistas, é claro. É necessário haver uma sadia disciplina eclesiástica. Cada igreja tem o direito de estabelecer regras próprias para os seus membros. O propósito de tal disciplina doméstica é garantir, na medida do possível em termos humanos, que aqueles que desejam ser membros da igreja tenham sido justificados pela fé. Mas negar a um companheiro cristão (crente, batizado, membro ativo de outra igreja) o acesso à mesa do Senhor simplesmente porque ele não foi batizado da mesma forma que nós ou porque não foi confirmado, ou por qualquer outro motivo, é uma ofensa ao Deus que o justificou, um insulto ao irmão pelo qual Cristo morreu e uma contradição à verdade do evangelho. Quem sou eu para considerar impuro um companheiro crente justificado, para não comer com ele? Temos de ouvir novamente a voz que veio do céu: "Ao que Deus purificou não conside-res comum" (At 10:15). b. Devemos nos opor àqueles que negam o evangelho Quando o problema existente entre nós for trivial, devemos ser o mais flexível possível. Mas quando a verdade do evangelho

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estiver em jogo, devemos permanecer firmes. Graças a Deus por Paulo que enfrentou Pedro face a face, por Atanásio que enfrentou o mundo inteiro quando o Cristianismo abraçou a heresia ariana, e por Lutero que se atreveu a desafiar até mesmo o papado. Onde estão os homens desse calibre nos dias de hoje? Muitos são os grupos de pressão vocal na igreja contemporânea. Não devemos ser levados à submissão por causa do medo. Se eles se opõem à verdade do evangelho, devemos nos opor a eles sem hesitação. Bibliografia J. R. W. Stott

Fonte: http://www.ebdareiabranca.com/2011/1trimestre/sumario.htm