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11 vivência REVISTA DE ANTROPOLOGIA 44 n. 44|2014|p. 11-22 Em nome de um campo de pesquisa: antropologia (s) do parto no Brasil contemporâneo In the name of a field of research: anthropology (s) delivery in contemporary Brazil Rosamaria Carneiro [email protected] Professora Adjunta da Universidade de Brasília (UnB). Doutora em Ciências Sociais pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/UNICAMP). Pesquisadora nas seguintes áreas e temáticas: antropologia da saúde, antropologia urbana, saúde coletiva, saúde sexual e produtiva e marcadores sociais da diferença. RESUMO Este artigo se dispõe a recuperar algumas das reflexões antropológicas brasileiras so- bre o parto produzidas nos últimos anos. Ressalto, no entanto, que não se trata de um inventário exaustivo, mas de um exercício de mapeamento de etnografias que parecem, contemporaneamente, configurar um campo particular de pesquisa. Nesse sentido, a ideia central é sinalizar a importância e centralidade da temática, as suas implicações teóricas e possibilidades de dialogo, haja vista ser possível pensar a partir da parturição sobre pessoa, gênero, corpo e saúde no Brasil contemporâneo. Para, por último, aventar a possibilidade de uma relação recentemente tecida entre antropólogas, antropologias, partos e seus partos; algo que me parece interessante para pensarmos os limites, dilemas e singularidade da antropologia brasileira produzida na atualidade, tendo por recorte as etnografias produzidas sobre experiências de parto, modelos de assistência ao parto, movimentos sociais e maternidades. Palavras-chaves: Partos. Antropologias brasileiras. Antropólogas. ABSTRACT This article sets out to regain some of anthropological reflections on Brazilian labor produced in recent years. I emphasize, however, that this is not an exhaustive list, but a mapping exercise on ethnographies that appear to, simultaneously, configure a particu- lar field of research. In this sense, the central idea is to signal the importance and centra- lity of the subject, its theoretical implications and possibilities of dialogue, considering it is possible to think about from parturition on person, gender, body and health in contemporary Brazil. To, finally, consider the possibility of a newly woven relationship between anthropologists, anthropology, births and their births, something that seems in- teresting to me to think the limits, dilemmas and uniqueness of Brazilian anthropology produced today, with the cut ethnographies produced on birthing experiences, models of delivery care, social movements and maternity. Keywords: Births. Brazilian anthropology. Anthropologists artigos | papers

Antropologia Do Parto

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A autora propõe recuperar algumas das reflexões antropológicas brasileiras sobre o parto produzidas nos últimos anos.

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    Em nome de um campo de pesquisa: antropologia (s) do parto no Brasil contemporneoIn the name of a fi eld of research: anthropology (s) delivery in contemporary Brazil

    Rosamaria [email protected] Adjunta da Universidade de Braslia (UnB). Doutora em Cincias Sociais pelo Instituto de Filosofi a e Cincias Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH/UNICAMP). Pesquisadora nas seguintes reas e temticas: antropologia da sade, antropologia urbana, sade coletiva, sade sexual e produtiva e marcadores sociais da diferena.

    RESUMOEste artigo se dispe a recuperar algumas das refl exes antropolgicas brasileiras so-bre o parto produzidas nos ltimos anos. Ressalto, no entanto, que no se trata de um inventrio exaustivo, mas de um exerccio de mapeamento de etnografi as que parecem, contemporaneamente, confi gurar um campo particular de pesquisa. Nesse sentido, a ideia central sinalizar a importncia e centralidade da temtica, as suas implicaes tericas e possibilidades de dialogo, haja vista ser possvel pensar a partir da parturio sobre pessoa, gnero, corpo e sade no Brasil contemporneo. Para, por ltimo, aventar a possibilidade de uma relao recentemente tecida entre antroplogas, antropologias, partos e seus partos; algo que me parece interessante para pensarmos os limites, dilemas e singularidade da antropologia brasileira produzida na atualidade, tendo por recorte as etnografi as produzidas sobre experincias de parto, modelos de assistncia ao parto, movimentos sociais e maternidades.

    Palavras-chaves: Partos. Antropologias brasileiras. Antroplogas.

    ABSTRACTThis article sets out to regain some of anthropological refl ections on Brazilian labor produced in recent years. I emphasize, however, that this is not an exhaustive list, but a mapping exercise on ethnographies that appear to, simultaneously, confi gure a particu-lar fi eld of research. In this sense, the central idea is to signal the importance and centra-lity of the subject, its theoretical implications and possibilities of dialogue, considering it is possible to think about from parturition on person, gender, body and health in contemporary Brazil. To, fi nally, consider the possibility of a newly woven relationship between anthropologists, anthropology, births and their births, something that seems in-teresting to me to think the limits, dilemmas and uniqueness of Brazilian anthropology produced today, with the cut ethnographies produced on birthing experiences, models of delivery care, social movements and maternity.

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    Neste artigo, disponho-me a recuperar refl exes antropolgicas brasi-leiras que se dispuseram a pensar sobre a experincia do parto nos ltimos anos. De sada, saliento que no pretendo esgotar a questo ou inventariar as obras, mas rememorar algumas das pesquisas e escritos, com o intuito de sinalizar a confi gurao e a importncia desse campo de pesquisa que parece ganhar flego.

    Isto posto, a ideia maior traar linhas de pesquisa e frices com outros campos no interior da disciplina, sem nunca querer esgotar autores e/ou frestas de debates; pensando, ao fi nal, em como atualmente essa seara desponta atravessada por experincias pessoais e polticas, tecendo, ento, pontos e contrapontos entre antropologia, antroplogas e partos e seus partos. Para isso, me valerei da dinmica de um grupo de trabalho (GT)1 que coordenei sobre o assunto em uma REA/ABANNE, fazendo dessa experincia uma trama inte-ressante para pensarmos articulaes e implicaes.

    Entre teses e dissertaes: antropologias e/do partos no Brasil

    A antropologia da sade brasileira, segundo Langdon, Follr e Maluf (2012) em recente e elucidativa reviso bibliogrfi ca, teria tido contornos nos anos de 1970, com uma agenda de pesquisa orientada s prticas alimentares, classifi cao de alimentos puros/impuros, universo simblico de tabus e das ditas comidas reimosas em nossa sociedade, como sugere, por exemplo, o trabalho de Peirano2 sobre os pescadores do Cear. Era uma agenda de pesquisa comum entre Museu Nacional/UFRJ e UnB3. Par a par com seu desenvol-vimento, surgia tambm, na regio nordeste, a antropologia da sade tecida tambm com recorte de classe, com as pesquisas, por exemplo, de Parry Scott (1986)4 no Recife e Lus Fernando Dias Duarte (1986)5 e, depois, enquanto disciplina, em 1983, na Ps-graduao de Cincias Sociais da UFSC por ini-ciativa de Jean Landgon.

    nos anos 80, que do seguimento do que denominam de formao do campo de pesquisa, que vemos o estudo da sade ganhar outras direes e passar a pensar sobre a relao entre individuo e sociedade, notadamente nos estudos feitos nas camadas cariocas pela escola de Gilberto Velho6 (1981) e teorias sobre a pessoa (DUARTE, 1986). Isso somado ao surgimento das pes-quisas sobre sade mental e manicmios7 e sade sexual e reprodutiva, com o advento do movimento feminista e sua repercusso na academia. Ou seja, de uma antropologia dos outros passamos a pensar a sade entre ns, no contexto urbano, deixando a periferia e passando ao centro, passando a pensar a sade por todos os lados (CARRARA, 1998), numa interface entre religio, cincia, emoes e pessoa.

    No por acaso, me parece ser que nesse contexto despontem os pri-meiros trabalhos sobre parto, pessoa e caractersticas dos brasileiros no espao urbano em nossa antropologia. No que tenha sido o primeiro estudo sobre a parturio no Brasil, no de maneira incidental, entre outras temticas, mas, possivelmente, um que tenha tomado a experincia como experincia propul-sora, de maneira centralizada, a partir da qual outras tantas questes puderam ser pensadas. Fazendo, assim, o caminho inverso, a saber, partindo do parto para outras questes.

    Tania Salem, em O casal igualitrio: disposies e dilemas de uma disposio igualitria, tese de doutorado defendida no Museu Nacional/UFRJ em 1987, sob a orientao de Gilberto Velho, explora a noo de pessoa e de parceria no um que dois, a partir de uma interpretao doumontiana e,

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    portanto, individualista da noo de pessoa, pensada, nesse caso, a partir das experincias de parto natural ou parto sem dor entre as camadas mdias cario-cas dos anos 80. A antroploga debate, para tanto, o projeto de ter um fi lho e o preparo do casal quanto ao parto e criao natural, tendo realizado a etnografi a entre casais de camadas mdias, adeptos da contracultura e de um estilo de vida alternativo. Dessa forma, a ideia de pessoa na cultura brasileira, nesse grupo em especial, que ento ganha destaque a partir de sua tese.

    Na dcada seguinte, em 1993, deparamo-nos com a tese de Dulce Gualda, Eu conheo minha natureza: um estudo etnogrfi co da vivncia do parto, sobre as representaes de parto, de natureza feminina e de corpo, a partir de um estudo etnogrfi co de tais percepes femininas de parto. Este trabalho, ainda que no produzido em um programa de ps-graduao em antro-pologia, aponta para a importncia que a antropologia conquista no interior das cincias da sade. V-se, ento, um olhar centrado nas prticas e representaes femininas e uma pesquisa que de cunho antropolgico realizada, porm, por uma doutoranda em Enfermagem na Universidade de So Paulo. Esse um dos trabalhos que retoma a clssica disjuno natureza/cultura, to cara ao campo da sade e da antropologia.

    Os anos de 1990 podem ser lidos como os anos do boom das pesqui-sas sobre AIDS, sexualidade e gnero nos departamentos, grupos de pesquisa e programas de antropologia no Brasil. De mesmo modo, como anos nos quais, passada a movimentao social em torno da assistncia integral sade da mulher (PAISM, 1984), muito se produziu e pensou sobre a dissociao entre sexualidade/reproduo, direitos sexuais, homossexualidades e direitos humanos.

    Talvez, justamente por isso, a questo do parto tenha contado com menos luz e salincia. Talvez porque pensada com reafi rmao da maternidade e da reproduo, em um perodo em que o que se propugnava era a liberdade sobre o prprio corpo, a AIDS como epidemia, a sexualidade e direitos sexuais. Nesse perodo, Simone Grilo Diniz defende sua dissertao de mestrado, em 1996, Assistncia ao parto e relaes de gnero - elementos para uma releitura mdico-social, trazendo para a Medicina Preventiva o aporte da historiografi a como o que descortina recortes e relaes de saber/poder, orientadas pelo gnero, no uso e manejo das tcnicas mdicas no parto. Sua pesquisa nos pos-sibilita perceber o processo de construo da ideologia do pessimismo sexual reprodutivo orientado s mulheres e o esvaziamento da dimenso sexual da reproduo, no que denominou de necessria erotizao da reproduo. Essa uma obra que, ainda que no proveniente da antropologia, denota a impor-tncia da categoria de gnero no processo de refl exo sobre cincia, cuidado e tcnica mdica na dcada de 1990. Vale dizer que nela se sente a infl uncia dos movimentos feministas, de acadmicas e da questo da sade da mulher.

    Entretanto, em que pese a importncia e pioneirismo desses estudos no campo da sade sexual e reprodutiva e crtica assistncia mdica vigente, parece-me que a partir dos anos 2000 que a antropologia brasileira passa a se dedicar ao parto enquanto tema central e atual. Nessa fase, teses e dissertaes so produzidas nos cursos de ps-graduao em antropologia e em algumas faculdades de sade, mas com uma leitura infl uenciada pela etnogrfi ca. nesse momento em que aparecem refl exes sobre o iderio do parto humanizado8 e temticas como ativismo social, corpo, sexualidade, gnero, pessoa, relaes sociais de poderes e saberes, todos pensados a partir das prticas e experincias contemporneas de parto. E o interessante que nesses trabalhos, as antropolo-gias da sade, das moralidades, das emoes e da religio se veem imbricadas e muitas vezes elucidando ou problematizando uma a outra.

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    Isto talvez se deva ao fato de, nessa poca, ter crescido a movimen-tao social de mulheres e de profi ssionais de sade brasileiros ao redor da crtica ao nmero de cesreas no Brasil9, das prticas e procedimentos tcnicos invasivos e de rotina nas cenas de parto10 e de organizao de mulheres e profi s-sionais de sade ao redor da ReHuNa (Rede de Humanizao do Nascimento), do advento da CARTA DE FORTALEZA (2000)11. Esse cenrio e suas conse-quncias podem ter contribudo para que antroplogas tenham se interessado pela temtica e em etnografar a rotina da articulao social, prticas de parteiras populares, noo de pessoa e de corpo dos casais e das gestantes adeptas do parto humanizado, natureza/cultura, saberes e a relao paciente/cuidador na atualidade, entre outros temas.

    Essa ltima dcada recheada de trabalhos antropolgicos que temati-zam a questo. Logo em seu comeo, temos a dissertao de mestrado de Sonia Hotimsky (2001), Parto e nascimento no ambulatrio e na Casa de Partos da Associao Comunitria Monte Azul: uma abordagem antropolgica, defendida na Faculdade de Sade Pblica da USP. Nesse caso, ao contrrio de Gualda, uma antroploga que depois d seguimento em sua formao no campo da sade, porm, notadamente, infl uenciada pelo olhar etnogrfi co. Em seu traba-lho, Hotimsky refl ete sobre pblico, classe social e as particularidades de uma proposta institucional de humanizao do parto a partir do cotidiano da CASA DE PARTO12do Morro Azul na cidade de So Paulo, uma das poucas casas de parto no Brasil. Esse um dos primeiros trabalhos a debater a humanizao do parto enquanto ideia e quais poderiam ser as suas consequncias; articulando propostas, profi ssionais e tcnicas diferenciadas, sem deixar de refl etir sobre a busca desse outro modelo de parto e suas possveis explicaes. Nesse sentido, Hotimsky traz tambm cena um estudo centrado nos novos ou outros profi s-sionais de sade orientados pela humanizao do nascimento.

    Depois de seu trabalho, em 2004, Carmen Susana Tornquist defende sua tese de doutorado no PPGAS da UFSC, intitulada Parto e Poder: anlise do movimento pela humanizao do parto no Brasil, sob a orientao de Miriam Grossi. Este trabalho inicia a discusso sobre parto e iderio da humanizao no cenrio da antropologia brasileira. Em sua etnografi a, numa pesquisa de flego notvel, a antroploga explora os agentes, a dinmica e tenses do movimento de humanizao do parto, sua relao com o feminismo e distanciamentos, tendo, para tanto, pesquisado trs instncias ou plats de campo: uma mater-nidade escola que se pretende humanizada; os cursos de formao do governo federal para parteiras populares de Minas Gerais e, por ltimo, os encontros e articulaes da ReHuNa. Por meio desses caminhos, Tornquist desvela relaes entre natureza/cultura, tenses ao redor do mito do amor materno, maternidade hoje e dinmicas de um movimento poltico. um dos primeiros trabalhos a tematizar, na antropologia, a relao entre parto humanizado e feminismos, em seus desencontros e encontros.

    Um ano depois, em 2005, a vez de Heloisa Regina Souza defender sua dissertao de mestrado tambm no PPGAS da UFSC, sob a orientao de Rafael Menezes, com uma etnografi a circunscrita s experincias de parir/nascer em casa a partir da capital catarinense. Nesse esforo investigativo, a autora aborda o parto domiciliar amparado por parteiras urbanas, uma prtica que volta a cena atual, mas com outras fi guraes, pensando-o, entretanto, luz da teoria sobre ritual no interior da antropologia, tanto a clssica quanto contempornea. Interessante que por meio dessas trilhas, Souza chega s raias da ideia de drama social (TURNER, 1981) e de uma conformao esttica da cena de parto em nossos dias atuais. Diante disso, a partir de uma modalidade de parto humanizado, o parto domiciliar ou em casa, Souza pensa a casa, o ritual de

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    passagem e essa cena no comeo do sculo, descentrando a questo do macro e do movimento social, para o micro e sua composio esttico-simblica.

    No mesmo ano, Simone Diniz defende sua tese de doutorado no Pro-grama de Ps-Graduao da Medicina Preventiva da USP, discutindo a humani-zao do parto a partir da lgica dos Direitos Humanos e da igualdade de gnero, Entre a tcnica e os direitos humanos: possibilidades e limites da humanizao da assistncia ao parto (2005). Essa tese discute os limites do discurso da humanizao, pensando-o a partir dos textos e diplomas legais, direitos sexuais e direitos reprodutivos, mas principalmente sobre a sua pragmtica. E assim, amplia ainda mais o espectro de analises, haja vista recuperar a dimenso da sexualidade e da violncia no parto, tomando a sexualidade enquanto um direito. Dessa maneira, ainda que no seja obra etnogrfi ca ou de cunho etnogrfi co, ao tecer suas linhas ao redor das relaes de gnero dialoga com a antropologia feminista e antropologia que l as relaes de gnero enquanto construto social que organiza mentalidades.

    Logo depois, Sonia Hotimsky defende sua tese de doutorado nova-mente na Faculdade de Sade Pblica da USP. Dessa vez, em A formao em obstetrcia: competncia e cuidado na ateno ao parto (2007), a antroploga sanitarista concentra suas atenes na formao em obstetrcia e nos jogos e dinmicas de poder que ela envolve, valendo-se da etnografi a e da analise de livros-textos, para pensar sobre os limites da ideia de humanizao do parto e do nascimento, porm, a partir da formao daqueles que prestaro assistncia s parturientes e gestantes.

    No ano de 2008, Soraya Resende Fleischer defende sua tese de douto-ramento, Parteiras, Buchudas e Aperreios. Uma etnografi a da prtica obsttrica no ofi cial no Melgao/Par, no Programa de Ps-Graduao em Antropologia Social da UFRGS, sob a orientao de Claudia Fonseca, que j havia escrito um texto somente recentemente publicado sobre a ideia de belo parto nas materni-dades francesas onde vige a ideia de parto sem dor13. Em sua etnografi a sobre a prtica das parteiras paraenses, Fleischer estabelece relaes entre o iderio da humanizao do parto operante nos ltimos anos, as OnGs feministas que trabalham com a temtica da vida sexual e reprodutiva, as prticas de cuidado de parteiras paraenses e os cursos de formao para parteiras do governo federal. No decorrer de suas pginas, revela-nos o cotidiano da ateno obsttrica no ofi cial de Melgao, quem so as parteiras, seus cuidados e as mudanas que os cursos ofi ciais podem ou no gerar em sua rotina. Para, alm disso, adensa a discusso sobre tradicional/moderno, na medida em que desconstri e questiona a primeira ideia e nos demonstra os manejos ou usos polticos que as prprias parteiras fazem de tal expresso.

    Depois disso, em 2011, concluo minha etnografi a, Cenas de parto e polticas do corpo: uma etnografi a de experincias femininas de parto humani-zado, no Programa de Doutorado em Cincias Sociais no Instituto de Filosofi a e Cincias Humanas na UNICAMP. Nesse trabalho, tomo como ponto de partida dois grupos de preparo para o parto humanizado, ou seja, de sua dinmica e de suas atrizes/atores, para pensar sobre as prticas femininas de parto na atuali-dade, noo de pessoa, de corpo e de sexualidade feminina na sociedade brasi-leira. Dessa forma, me conecto menos ao iderio do parto humanizado enquanto movimento e concentro-me mais nas dinmicas moleculares dessas trajetrias gestacionais e de parto, pensando o feminismo como o que gera, mas como o que tambm criticado por tais prticas, tendo por inspirao a leitura wagne-riana de cultura enquanto inveno, prticas e extenso constante de signifi cados e universo simblico. Posso dizer que meu objetivo maior foi compreender e mapear quem seriam essas mulheres adeptas do parto mais natural; como se organizavam; o que buscavam; quais seriam as suas razes para essa escolha da

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    no cesrea e no que podem acrescentar e acrescentam quanto s experincias e vivncias de maternidade e de perspectivas de parto no sculo 21. Desse modo, procurei pensar a vida sexual e reprodutiva como um todo e em suas conexes rizomticas, no que o parto poderia nos render para compreenso da sociedade contempornea, relaes de gnero, modelo mdico, mercado, consumo, mulhe-res, relaes de gnero e ativismo. Para tanto, articulei noes foucaultianas como cuidado de si, processos de subjetivao e biopoltica, sem deixar de, no entanto, fazer o campo sempre falar em primeiro plano.

    Desde que terminei minha pesquisa, sigo em contato com o campo de pesquisas sobre o parto nos dias atuais, por meio de notcias e de indicadores, em congressos, publicaes recentes e em contato com uma rede de pesquisa-doras sobre prticas naturais de parto. Nos ltimos anos, o assunto no para de se expandir ocupando a mdia e as redes sociais. Com isso, crescem as adep-tas, os grupos, as experincias e os estudos sobre a temtica. Por isso, e no poderia mesmo ser diferente, mltiplas tm sido as entradas de refl exo sobre o parto na contemporaneidade, a saber, a ideia de parto orgstico (RIBEIRO, 2008 e CARNEIRO, 2012); os saberes no campo da humanizao e outra epistemologia (PORTELLA, 2013); inventrios sobre os modos e as narrativas de nascer na atualidade (MULLER, 2013); o movimento da humanizao e as redes de mulheres (PIMENTEL, 2013); a confi gurao de sofrimento e de vtima (PULHEZ, 2013); o uso da internet e a circulao de imagens de parto (CARNEIRO, no prelo), entre tantas outras entradas.

    Dessa maneira, o parto humanizado, ou essa outra proposta de parto que no a cesrea, nos permite e tem permitido pensar sobre saberes; movimentos sociais; ativismo; estigma, marcas e violncia; narrativas de si; emoes; gnero, maternidades e cincia. Dinamicidade essa que pe em questo o campo, suas conexes e estranhamentos em relao a outras searas de investigao.

    Em minha leitura, do que tenho visto no somente em congressos, mas tambm nas redes sociais e sites orientados a difuso do iderio da huma-nizao do parto, portanto, a antropologia tem ainda muito para pensar sobre e acerca tendo por premissa o ato de parir. No limite, temos a abertura de novos/outros espaos de pesquisa e rendendo frutos para pesquisadoras/es que tanto tm interesse pela antropologia da sade, quanto tambm pela antropologia das relaes de gnero, da religio, da cincia, da poltica e das emoes.

    O pessoal acadmico/cientfi co? antropologias, antroplogas e seus partos

    Em agosto de 2013, tive a oportunidade de participar de um grupo de trabalho (GT) em um congresso de renome para a antropologia brasileira, cuja chamada era Partos, maternidades e polticas do corpo. Era a primeira vez que um GT especfi co sobre partos acontecia em uma reunio como essa e que, dessa forma, circunscrevia um espao de interlocuo situado, j que, outrora, tais trabalhos foram apresentados em grupos de trabalho sobre antropologia da sade, pessoa e corpo, ou no de antropologia das emoes moralidades e sofrimento.

    Logo no primeiro dia do congresso, ao chegarmos ao corredor da sala numerada conforme o programa do evento, nos surpreendemos14 com crianas e bebs vista. Um congresso de antropologia geralmente, e vale dizer por pura conveno, raramente tem crianas circulando. Tanto que, dentre os mais famosos, somente a RBA (Reunio Brasileira de Antropologia) e o FG (Fazendo Gnero/UFSC) costumam ter espao para crianas e mes com bebs15, como

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    se, estranhamente, a academia partisse do pressuposto, a priori, que mulheres professoras e pesquisadoras no tm fi lhos, no exercem e no mesmo desejam a maternidade. Algo que, no limite, anuncia a intolerncia ou ento invisibilidade da questo no/para o campo acadmico. Ou ainda, refora as to conhecidas relaes e hierarquias de gnero, segundo as quais aos homens cabe o espao pblico e as mulheres os espaos privados. Se isso ou aquilo, antes de aqui querer concluir algo, esse congresso em questo no contava com espao para crianas. Mas, de maneira espontnea e automtica, da parte das participantes e, em seguida, das coordenadoras, o nosso grupo de trabalho em especial (GT) sim.

    Dei-me conta disso, ao junto com uma de minhas companheiras de GT16, abrir a porta da sala em questo e deparar-me com crianas no cho, brin-quedos, mes amamentando, mulheres mais jovens e outras que ali chegavam porque haviam se interessado pela temtica. ramos poucas, mas estvamos presentes. Eu nunca havia visto uma cena daquelas em um congresso. Era como se o domstico e o pblico ali tivessem ultrapassado fronteiras e se borrado mutuamente. Algo que, vale notar, certamente acontece de maneira corriqueira na vida de mulheres e mes. Uma das mulheres presentes, que inclusive no par-ticipava do congresso e se disse no antroploga, comentou, ao apresentar-se: O meu marido que o antroplogo. Eu geralmente no vou aos congressos, mas nesse, quando vi esse GT no programa, lhe disse: Ns tambm vamos com voc!. O ns era ela e a fi lha de menos de 1 ano de idade.

    Outras mulheres, no decorrer dos 3 dias do evento, somaram-se ao GT para tomar conhecimento dos artigos/trabalhos, por curiosidade ou para saber do que se tratava. Entre as curiosas, porm, estavam tambm as antroplogas acadmicas e ativistas a um s tempo.

    sobre essas que pretendo aqui pensar, anunciando que o campo da antropologia do parto e do nascimento no Brasil parece, hoje, sofrer uma infl e-xo que pode render muitos frutos futuramente: o encontro entre vida pessoal e vida de pesquisa, fazendo do pessoal no mais somente o poltico, mas tambm o acadmico e o investigativo. Nessa nova fi gurao, barreiras como objetividade/subjetividade se veem desalojadas na produo do conhecimento antropolgico. E isso contribui para a refl exo epistemolgica do prprio corpo, adensando algo que j constitui a antropologia per si e desde os seus primrdios.

    Naquele GT, que inaugurava uma agenda de pesquisa e buscava con-solidar um campo de investigao17, somente mulheres apresentaram trabalhos. Eram de todas as regies do Brasil e vinham com teses, dissertaes e monogra-fi as de concluso de curso sobre parto, experincias de parto, prticas de cui-dado, sistemas de sade e cotidiano de propostas de humanizao na atualidade, entre outras temticas. Nessas pesquisas vigorava a perspectiva etnogrfi ca.

    Nesses dias, estivemos entre trabalhos sobre mulheres urbanas, ndias do Centro-Oeste e do Nordeste, mulheres quilombolas, mulheres de outra nacionalidade (bolivianas em So Paulo) e de distintas classes sociais, tendo o parto, no entanto, como mola propulsora da refl exo. Nesse sentido, percebi que o parto foi pensado epistemolgica e politicamente por meio da teoria e prtica antropolgica. Entre uma apresentao e outra, uma criana chorava, uma me amamentava e outras a ajudavam apresentar o paper enquanto cuidavam de seus fi lhos. Todas essas passagens pareciam, por elas, serem encaradas com naturali-dade; sobretudo, entre as mes, acadmicas e militantes do parto humanizado. E talvez menos naturalmente entre as antroplogas participantes do GT, mas no mes, jovens pesquisadoras ou mes que, at ento, nunca haviam levado seus fi lhos aos congressos, separando, assim, a maternidade da academia.

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    Fora da sala, pelos corredores e congresso afora, ouvia-se falar, com surpresa, sobre o GT. Era o GT que tem crianas. No raro, no entanto, se ouviram manifestaes de incomodo perante a presena das crianas naquele espao, como se, numa leitura j bastante retrgrada, lugar de mulher e de crianas fosse bem distante dali, qual seja espao acadmico e masculino por excelncia, ainda que possamos perceber uma maioria feminina nos ltimos congressos.

    De outro lado, entretanto, naquela sala, assistimos e ouvimos a essas mulheres, me, acadmicas e antroplogas, algumas feministas, versando sobre o parto no Brasil atual a partir da teoria antropolgica e de suas experincias pessoais de parturio. No mnimo, suas experincias de parto humanizado18, em casa ou em instituies afeitas a essa ideologia, com ou sem parteiras urbanas, mdicas e enfermeiras, haviam despertado o seu interesse para pensar o campo da assistncia do parto, das prticas de humanizao, sobre noes de pessoa, movimentos sociais, saberes, noo de corpo, pessoa e sexualidade. E assim, me pareciam ali fazer do pessoal o acadmico e o investigativo, nas raias de algo semelhante ao que se viu na produo feminista da dcada de 1980 e, de maneira geral, como um todo, haja vista o pessoal sempre ter sido poltico nesses ambientes. Porm, nesse momento, com uma clara marca distintiva: fazia-se/faz-se antropologia(s) mobilizada pela experincia pessoal e intima de parir, conectando pblico e privado, vida e academia, em nome de, talvez, outra e, mais difcil, epistemologia.

    Esse grupo de pesquisadoras deu contornos a uma proposta que pre-tende se estender para outros congressos brasileiros, o que se verifi car RBA de Natal (2014), com o GT de mesmo nome Partos, maternidades e polticas do corpo e que ocorrera no Congresso de Cincias Sociais e Humanas em Sade da ABRASCO, que aconteceu na UERJ nos dias 15 a 17 de novembro de 201319. Em minha leitura, tais esforos e propostas de interlocuo parecem refl etir os desejos, as necessidades e as dinmicas da sociedade atual, quando se dispem a pensar o parto de modo a abrir espao para dilogos sobre corpo, pessoa, sade/doena, sexualidade e, mais especifi camente, interpretaes das recentes Marchas do Parto em Casa e difuso do documentrio O renasci-mento do parto, de Erica de Paula e Eduardo Chavegnet. Nessa esteira, poltica, gnero e assistncia mdica so tematizados, tendo como sombra ou pano de fundo a antropologia e, aqui, a antropologia que passa a ser tecida tambm a partir da vivncia pessoal.

    Se, como vi em minha tese (CARNEIRO, 2011), a vida profi ssional das mulheres que vivem um parto humanizado se v depois mobilizada, pois muitas se tornam doulas20, outros tipos de mdicas e ativistas; com antroplo-gas acadmicas, professoras e pesquisadoras, o caminho no poderia ser outro. Passam a fazer antropologia infl uenciada pela vivncia pessoal, pondo em cena a rdua tarefa de descrever e aproximar-se, mas tambm estranhar. Por um lado, pode render frutos para o que seria pensar de perto e de longe, numa inspirao levis-straussiana ou de dentro e de fora como pontua Sarti (2010), mas, por outro, pede ateno redobrada para a cientifi cidade e para a capacidade de rea-lizar a metacrtica ao prprio campo e mundo em que se v inserido.

    De uma coisa, ao menos estou certa. Desses outros modos de nascer e de parir, tm nascido outras antroplogas, outras antropologias do parto e outras relaes entre o feminismo, a sexualidade, a academia e a parturio na sociedade atual. E a riqueza de todo esse processo me parece ser a construo de uma antropologia brasileira do/sobre parto l as caractersticas da prpria antropologia brasileira, plural e casadoura de mltiplas infl uncias tericas; algo que somente lhe confere ainda mais originalidade e densidade.

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    NOTAS1 Tive o prazer e a honra de coordenar o GT - Partos, Maternidades e Polticas do Corpo lado a lado com Elaine Muller (UFPE) e Fernanda Ribeiro (PUC/RS), na IV REA/XIII ABANNE, em Fortaleza, na UFC, entre os dias 04 e 07 de agosto. Para mais: www.reaabanne2013.com.br. 2 CANESQUI, Ana Maria. 2008. As Cincias Sociais e Humanas em Sade na As-sociao Brasileira de Ps-graduao em Sade Coletiva. Physis, Revista de Sade Coletiva, 18 (2):215-250.3 WOORTMANN, Klaas. 1977. Hbitos e Ideologias Alimentares em Grupos Sociais de Baixa Renda. Relatrio Final. Srie Antropologia 20. Braslia: Departamento de Antropologia, Universidade de Braslia.IBEZ-NOVIN, Martin Alberto; IBEZ-NOVIN, Olga C. Lopez de & SER-RA, Ordep Jos Trindade. l978. O Anatomista Popular: Um Estudo de Caso. Anurio Antropolgico, 77:87-107. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro.______. 1983. Prefcio: Antropologia e Medicina: Algumas Consideraes. In:Mar-tin Alberto Ibez-Novin & Ari M. Teixeira Ott (orgs.). Adaptao Enfermidade e suaDistribuio entre Grupos Indgenas da Bacia Amaznica. Caderno CEPAM n. l. Belm: Museu Goeldi/CNPq. pp. 9-36.4 SCOTT, Parry. Sistemas de Cura: As Alternativas do Povo. Mestrado em Antropolo-gia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife: 1986. 5 DUARTE, Luis Fernando Dias. 1986. Da Vida Nervosa nas Classes Trabalhadoras Urbanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor/CNPq.6 VELHO, Gilberto & FIGUEIRA, Srvulo (orgs.). 1981. Famlia, Psicologia e Socie-dade. Rio de Janeiro: Campus.7 CARRARA, Sergio. 1994. Entre Cientistas e Bruxos: Dilemas e Perspectivas da Anlise Antropolgica da Doena. In: Paulo Cesar Alves & Maria Ceclia de Souza Minayo (orgs.). Sade e Doena: Um Olhar Antropolgico. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz. pp. 33-45.8 No Brasil dos anos 2000 v-se crescer a mobilizao e o anseio por um parto huma-nizado, sendo esse considerado o parto mais natural possvel (Carneiro, 2011), o no realizado mediante cesrea e no qual as intervenes tcnicas e farmacolgicas sejam mnimas. Segundo Diniz (2005), muitos so os sentidos da humanizao do parto e do nascimento, o termo humanizao polissmico. No entanto, para os nossos inte-resses basta fi carmos com a ideia de que parto humanizado aquele onde o desejo das parturientes e dos casais se veem respeitados e no qual, muitas vezes, o que no se quer o excesso de interveno e tecnologia. A cesrea nesses espaos, muito ao contrrio, vista como uma violncia e uma violao de direitos sobre o prprio corpo e da crian-a. Enquanto iderio e articulao social conjugam mulheres, casais e profi ssionais de sade provenientes de camadas mdias, que se organizam, difundem informaes e se comunicam mediante blogs, listas ou redes sociais na internet, ainda que tambm se movimentem politicamente em espaos de reinvindicao como passeatas, marchas e audincias pblicas. 9 O Brasil o recordista mundial no nmero de cesreas, com uma taxa de 90% na rede privada e de quase 40% na rede pblica (SUS), quando a Organizao Mundial de Sade prev como ideal somente 15% ao ano. (Jornal Folha de So Paulo, Edio de 20.11.2011, Caderno Equilibrio). 10 As mulheres e os profi ssionais que preferem e defendem o parto humanizado opem-se veemente ao conjunto de prticas mdicas realizadas de rotina nas cenas de parto, a saber: lavagem intestinal, raspagem dos pelos pubianos, hormnio para acelerar as contraes, anestesia epidural, corte da musculatura perineal, rompimento da bolsa e, por ltimo, corte abdominal. Esse o chamado efeito cascata (Carneiro, 2011), uma sequencia de eventos na qual um leva ao outro. 11 ReHuNA uma organizao formal daqueles que militam pela transformao da as-sistncia ao parto no Brasil. a formalizao desse movimento e funciona como uma rede de mobilizao para congressos, pesquisas e representao junto s instncias go-vernamentais. composta de profi ssionais e de militantes e surge nos anos 2000 em um encontro no qual se buscava criticar e propor alternativas para a assistncia obsttrica prestada em nosso pas (Fortaleza, 2003). Para mais, captulo 1 de Carneiro (2011).

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    12 As Casas de Parto geralmente contam com enfermeiras obsttricas e tcnicas de en-fermagem, atendem partos de baixo risco e tm protocolos especfi cos. No Brasil, so raras as iniciativas como essas e, quando existem, so duramente criticadas pela classe mdica. Nelas prioriza-se o parto vaginal, mas no tm o mesmo carter de um CPN (Centro de Parto Natural) existentes nos hospitais, posto que neles prevalece a fi gura do mdico. Para mais, Osvaldo (2013). 13 FONSECA, Claudia. Anatomia de uma maternidade. Porto Alegre: UFRGS, 1997. Mimeografado. 14 Eu e Fernanda Bittencourt Ribeiro (PPGAS/PUCRS) que, juntamente com Elaine Muller (PPGAS/UFPE), coordenvamos essa iniciativa pioneira e afeita s nossas pes-quisas e projetos mais recentes. 15 No caso da RBA a ABA oferece a Abinha, espao destinado aos fi lhos e fi lhas de antroplogas e antroplogos que estejam participando do congresso. As crianas nele permanecem sob os cuidados de profi ssionais para que os pais possam frequentar as atividades do evento. 16 Fernanda Bittencourt Ribeiro, antroploga, professora do Departamento de Cincias Sociais da PUC-Rio Grande do Sul. 17 Fernanda Bittencourt Ribeiro, antroploga, professora do Departamento de Cincias Sociais da PUC-Rio Grande do Sul. 18 Vale dizer que a maioria havia experimentado um parto natural ou mais natural possvel, evitando a cesrea e os procedimentos de rotina realizados pelos mdicos acima mencionados. 19 Este GT aconteceu sob minha coordenao em parceria com o Prof. Dr. Edemilson Antunes Campos, antroplogo e professor da EACH/USP. 20 Doulas so as mulheres que auxiliam fsica e emocionalmente as mulheres que procu-ram um parto natural. Elas no so enfermeiras, mas profi ssionais que atendem e sabem sobre partos. No realizam intervenes ou procedimentos, salvo os no invasivos. Para mais, ver www.ando.org.br.

    REFERNCIAS CANESQUI, Ana M. Notas sobre a produo acadmica de antropologia e sade na dcada de 80. In: Alves, P.C. e Minayo, M.C. de S. (orgs.). Sade e Doena: um olhar antropolgico. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 1994.CARNEIRO, Rosamaria. Cenas de parto e polticas do corpo: uma etnografi a de experincias femininas de parto humanizado. Tese (doutorado). Instituto de Filosofi a e Cincias Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Doutorado em Cincias Sociais. 2011. CARRARA, Srgio. Entre cientistas e Bruxos: Ensaio sobre os dilemas e perspectivas da anlise antropolgica da doena. In: ALVES, Paulo Cesar; MINAYO, Maria Ceclia de Souza (Ogs.). Sade e doena: Um olhar Antro-polgico. Rio de janeiro: FIOCRUZ, 1994. pp. 33-45.DINIZ, Carmen Simone Grilo. Assistncia ao parto e relaes de gnero: elementos para uma releitura mdico-social. Dissertao (mestrado). Facul-dade de Medicina da Universidade de So Paulo. Departamento de Medicina Preventiva. 1996.______. Entre a tcnica e os direitos humanos: possibilidades e limites da humanizao da assistncia ao parto. Tese (doutorado). Faculdade de Medi-cina da Universidade de So Paulo. Departamento de Medicina Preventiva. 2001.______. Humanizao da assistncia ao parto no Brasil: os muitos sentidos de um movimento In: Cincia & Sade Coletiva, 10 (3). So Paulo, 2005. pp. 627-637.DUARTE, Luis Fernando. O nervoso e a construo diferencial de pessoa. In: Da vida nervosa nas classes trabalhadoras urbanas. Jorge Zahar, 1986.

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    FOUCAULT, Michel. Histria da Sexualidade III. Cuidado de si. So Paulo: Graal, 2004.GUALDA, Maria Dulce. Eu conheo minha natureza: a expresso natural do parto. SP: Editora Maio, 2002. HOTMSKI, Sonia. Parto e Nascimento no Ambulatrio e na Casa de Partos da Associao Comunitria Monte Azul: Uma Abordagem Antropolgica. Dissertao (mestrado). Faculdade de Sade Pblica. USP. Mestrado em Sade Pblica. 2011. ______. A formao em obstetrcia: competncia e cuidado na ateno ao parto. Tese (doutorado). Programa de Ps-Graduao em Cincias. Faculdade de Sade Pblica. USP. 2007. LANGDON, Esther et. al. Um balano da antropologia da sade no Brasil e seus dilogos com as antropologias mundiais. In: Anurio Antropolgi-co/2011-I, 2012: 51-89. Braslia: UnB. MORIN, Jlia. Duas vidas: noes de risco entre parteiras tradicionais de Pernambuco. In: Anais da IV REA/XIII ABANNE. Fortaleza. UFC, 2013. ISSN: 2318-0617.MULLER, Elaine. A diversifi cao das narrativas sobre parto e nascimento como possibilidade de politizao e incremento das experincias. In: Anais da IV REA/XIII ABANNE. Fortaleza. UFC, 2013. ISSN: 2318-0617.OSVALD, Ticiana. Casas de parto autnomas no contexto brasileiro: confl i-tualidades e sentidos em torno da humanizao de partos e nascimentos. Tese (doutorado). Programa de Ps-Graduao em Sociologia da UnB. 2014. PEIRANO, Mariza. Proibies alimentares numa comunidade de pescadores (Icara/CE). Dissertao (mestrado). Programa de Ps-Graduao em Antro-pologia Social da UnB. 1975. PIMENTEL, Camilla. (Des)hierarquizando os saberes: o protagonismo da mulher no parto. In: Anais da IV REA/XIII ABANNE. Fortaleza. UFC, 2013. ISSN: 2318-0617.PORTELLA, Mariana. A dor do parto no contexto da assistncia obsttrica brasileira. In: Anais da IV REA/XIII ABANNE. Fortaleza. UFC, 2013. ISSN: 2318-0617.PULHEZ, Mariana Marques. Parem a violncia obsttrica: a construo das noes de violncia e vtima nas experincias de parto. RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoo, v. 12, n. 35, pp. 544-564, Agosto de 2013. ISSN 1676-8965. RODRIGUES, Las. A efi ccia simblica na cesrea: uma refl exo sobre poderes e agncia. In: Anais da IV REA/XIII ABANNE. Fortaleza. UFC, 2013. ISSN: 2318-0617.SALEM, Tania. O casal grvido. Disposies e Dilemas da parceria igualit-ria. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.SARTI, C. A. 2010. Corpo e doena no trnsito de saberes. Revista Brasileira de Cincias Sociais, v. 25, p. 77-91.SOUZA, Heloisa Regina. A arte de nascer em casa: Um olhar antropolgico sobre a tica, a esttica e a sociabilidade no parto domiciliar contemporneo. Dissertao (Mestrado). PPGAS-UFSC, Florianpolis, 2005.TORNQUIST, Carmen Susana. Parto e Poder. O movimento de humanizao do parto no Brasil. Tese (Doutorado). PPGAS-UFSC, Florianpolis, 2004.______. Humanizao do Parto: entrevista com Robbie Davis-Floyd. In: Revista de Estudos Feministas. Florianpolis, v. 10, 2002.TURNER, Victor. O processo ritual. Estrutura e Antiestrutura. Petrpolis: Editora Vozes, 1974.

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