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“Antropologia do colonialismo” Texto de David Scott, apresentado por Zelinda Barros E-mail: [email protected] Década de 70: Colonialismo como problema para o conhecimento e a prática antropológicos Livros que abordaram a questão no início da década de 70: Reinventing Anthropology (1972), editado por Hyme Anthropology and the colonial encounter (1973), editado por Talal Asad

Antropologia do colonialismo

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Apresentação do texto "Antropologia do colonialismo", de David Scott

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“Antropologia do colonialismo”Texto de David Scott, apresentado por Zelinda Barros

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Década de 70: Colonialismo como problema para o conhecimento e a prática antropológicos

Livros que abordaram a questão no início da década de 70:

Reinventing Anthropology (1972), editado por Hyme

Anthropology and the colonial encounter (1973), editadopor Talal Asad

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Reinventing Anthropology (1972)

Contexto• Alteração das condições sociais e políticas nas

quais a Antropologia se inseria. • Com a descolonização política, houve uma

mudança fundamental nas condições nas quais o trabalho de campo poderia ser concebido e realizado.

• Surgimento de questões morais e políticas a respeito do empreendimento antropológico pondo em questão o relacionamento entre objetividade dos dados etnográficos e interesse político.

• Com a publicação dos diários de Malinowski, em 1967, a relação entre etnógrafo e informante passou a chamar a atenção.

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Reinventing Anthropology (1972)

• Questão central: a Antropologia conseguiria reinventar-se de modo a refletir as demandas por responsabilidade política, preocupações éticas e compromisso crítico social?

• Duas correntes inspiraram o livro: 1) De tradição boasiana, que via o

pensamento antropológico como uma crítica reflexiva da civilização (Edward Said, Ruth Benedict e Paul Radin);

2) Inspirado no Marxismo, preocupado em destacar a situação das sociedades camponesas no capitalismo imperialista.

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Anthropology and the colonial encounter (1973)

As preocupações do livro Anthropology and the colonial encounter foram distintas do Reinventing Anthropology, apesar de compartilharem, americanos e britânicos, a preocupação com as mudanças ocorridas na Antropologia.

A emergência de novas nações na África (Sudão, 1956; Ghana, 1957; Nigéria, 1960) fez com que se tornasse inevitável a abordagem histórica do sistema colonial e cada vez mais difícil não criticar o funcionalismo a-histórico e o empirismo característicos da Antropologia britânica.

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Década de 80: passou-se da preocupação com o papel da disciplina no projeto colonial e as políticas de seus praticantes para a preocupação com as formas de conhecimento sobre mundos não-europeus. Preocupação mais epistemológica que política (colonialismo como problema de representação). Interesse na textualidade da descrição etnográfica, no sentido de que esta é um artefato de linguagem.

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Fontes da mudança:

1 – Declínio do anti-imperialismo e anti-colonialismo como ponto de partida de preocupações político-ideológicas (o fim da guerra do Vietnam e o período Reagan marcaram o declínio do interesse dos intelectuais do Primeiro Mundo pelas mudanças no Terceiro Mundo; declínio dos experimentos com transformação social radical em muitos países independentes da África, sul da Ásia, Caribe e América Latina).

2 – Transformações intelectuais no entendimento e na prática das ciências humanas: do determinismo (Leslie White, Julian Steward) e funcionalismo (Radcliffe-Brown) para o construtivismo social e cultural, principalmente a “volta ao significado”.

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A preocupação com os modos de representação nas análises sociais e culturais criou o contexto para o surgimento dos Estudos Coloniais, que contribuíram para a institucionalização da renovação do olhar dos intelectuais sobre o colonialismo.

Orientalism (1978), de Edward Said: tematizou a idéia de colonialismo como formação discursiva. Demonstrou as formas através das quais o discurso colonial inventou o Oriente. Esta obra abriu novo campo de pesquisa e demanda crítica pela interrogação dos discursos de autoridade ocidentais sobre não-ocidentais e o desmascaramento das formas através das quais eles produzem e reproduzem seus conhecimentos hegemônicos.

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Time and the Other (1983), de Fabian

Aborda a “construtividade” do discurso antropológico, especialmente o uso do tempo na constituição dos objetos antropológicos (o selvagem, o primitivo, o nativo, o Outro). A co-presença existencial do Outro na interação dialógica do trabalho de campo se transformou num distanciamento temporal na construção do conhecimento antropológico.

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Outro conjunto de preocupações antropológicas com o colonialismo nos anos 80 foi mais intimamente conectado às antinomias do marxismo.

Com a derrota do projeto comunista após 1920, passou-se a enfatizar temas que até então eram desprezados como temas superestruturais.

Pensadores: Antonio Gramsci (hegemonia), Louis Althusser (ideologia como representação) e Raymond Williams (análise da literatura e produção cultural). Surgiu o interesse em repensar o problema de articulação dos modos de produção e de formações pré-capitalistas e pré-coloniais.

Gramsci

Louis Althusser

Raymond Williams

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Este marxismo cultural ofereceu o prospecto de uma consideração anti-universalista dos idiomas de resistência ao poder dominante e formas desconhecidas de agência no fazer história cotidiano.

Exemplos de obras de antropologia da resistência anticolonial:Body of power, spirit of resistence (1985), de Jean ComaroffWeapons of the weak (1985), James Scott

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História e Antropologia

A teorização foi iniciada nos anos 60, mas nos anos 80 se intensificou o interesse pelo estudo da interseção dos modos de representação cultural e histórica. Trabalhos de história feminista são representativos deste período, mas Scott aponta como principal contribuição para o pensamento da relação entre antropologia e história o trabalho de Bernard S. Cohn, An anthropologist among historians and other essays (1987).

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An anthropologist among historians and other essays (1987)

A obraA analise histórica do governo colonial foi indispensável

para o entendimento antropológico. Nos ensaios sobre a Índia Britânica, Cohn tematizou

desde a preocupação com a formação dos modos históricos, legais e estatísticos do conhecimento colonial até a representações ritualizadas de autoridade.

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Coletivo de Estudos Subalternos

Na Índia surgiu o Coletivo de Estudos Subalternos, onde foram novamente interrogadas as considerações liberais e nacionalistas do governo colonial na Índia e a luta anti-colonial. Com um trabalho transdisciplinar, o trabalho do Coletivo convergia com o descontentamento antropológico com o universalismo e o eurocentrismo e seus interesses na agência dos idiomas, conhecimento e práticas dos não-dominantes.

•Edward Said

•Touraj Atabaki

•Shahid Amin

•David Arnold

•Gautam Bhadra

•Dipesh Chakrabarty

•Partha Chatterjee

•Ranajit Guha

•David Hardiman

•Sudipta Kaviraj

•Lata Mani

•Shail Mayaram

•Gyan Pandey

•M.S.S Pandian

•Gyan Prakash

•Ajay Skaria

•Gayatri Chakravorty Spivak

•Susie Tharu

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Entre as preocupações antropológicas com o colonialismo e modernidade, está a preocupação com o problema da nação e do nacionalismo, despertada nos anos 60 pelos novos projetos de nação. Estes estudos se preocupavam em investigar os desafios da modernização e democratização diante das nações recentemente tornadas independentes.

Livros que se destacaram neste contexto: Nations and nationalism, de Ernest Gellner, 1983 Imagined communities, de Benedict Anderson,

1983

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Anos 90: colonialismo e modernidade

As novas questões se voltam à problematização do relacionamento entre colonialismo e modernidade e as implicações deste relacionamento para o entendimento do presente pós-colonial.

O sentimento de crise da modernidade provocou o surgimento de uma preocupação crescente com o reexame da formação do mundo moderno e sua moral, episteme e modos políticos de legitimação. Muitos destes trabalhos buscaram criticar a história progressivista da modernização.

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Gellner e Andersen mostraram que nações não são entidades naturais, nem os nacionalismos são sentimentos ou ideologias primordiais.

Apesar de criticados por enfatizarem a modernidade das nações e dos nacionalismos, foi esta conexão que os interessados no colonialismo se interessaram em explorar. Nacionalismos anti-coloniais e a construção da soberania pós-colonial têm uma explícita e complexa relação com o projeto de modernização do colonialismo tardio.

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Outro livro que se destacou foi Nationalist thought and the colonial world, de Parta Chatterjee, publicado em 1986. Nele, destaca o papel da antropologia como o discurso autorizado sobre os Outros da Europa.

Relacionado a este repensar as relações entre modernidade e nação, tem sido renovada a atenção dada ao problema do poder colonial em geral e ao estado colonial em particular. Destaca-se o trabalho de Foucault sobre governabilidade (1991), em que destaca a questão do lugar do Estado num amplo e transformado entendimento do poder.

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Críticas

Há críticas sobre a tematização da governabilidade na antropologia do colonialismo porque nem a velha grande narrativa do progresso e modernização nem o novo revisionismo foucaultianos são adequados por não apreciarem a duplicidade inerente ao governo colonial.

O paradoxo do governo colonial é dado por dois imperativos: governar e construir cidadania. Esta duplicidade está ancorada sobre a linguagem colonial da lei e da legalidade.

O problema antropológico do passado colonial tem sido conectado com o surgimento de questões críticas sobre o presente pós-colonial.