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ERICA CRISTINA FRAU
“O APRIMORAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE NO
ENSINO DE FILOSOFIA POR MEIO DO CURSO
ESPECÍFICO DE FORMAÇÃO DA EFAP/SP”
CAMPINAS
2014
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
ERICA CRISTINA FRAU
“O APRIMORAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO
DE FILOSOFIA POR MEIO DO CURSO ESPECÍFICO DE
FORMAÇÃO DA EFAP/SP”
Orientador(a): Prof.ª Dr.ª Lidia Maria Rodrigo
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas
para obtenção do título de Mestra em Educação, na área de concentração de Filosofia e
História da Educação.
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA ERICA CRISTINA FRAU E ORIENTADA PELA PROF.ª DR.ª LIDIA MARIA RODRIGO
CAMPINAS
2014
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O APRIMORAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE NO ENSINO DE
FILOSOFIA POR MEIO DO CURSO ESPECÍFICO DE FORMAÇÃO DA
EFAP/SP
Autor: ERICA CRISTINA FRAU
Orientador: Prof.ª Dr.ª LIDIA MARIA RODRIGO
Este exemplar corresponde à redação final da Dissertação defendida
por Erica Cristina Frau e aprovada pela Comissão Julgadora
2014
vii
RESUMO
Esta dissertação concentra-se no estudo do aprimoramento da prática docente, do ensino de filosofia, por meio do Curso Específico de Formação da EFAP/SP - Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores Paulo Renato Costa Souza. A temática deste estudo parte do pressuposto de que a SEE/SP - Secretaria da Educação do Estado de São Paulo acredita que a formação inicial dos professores de filosofia não contempla suas necessidades, pois existe, por parte dos docentes, a falta de conhecimentos do Currículo vigente e do preparo didático pedagógico. Para tentar romper com essa falta de formação apropriada, dada a estrutura dos cursos de graduação e do contexto histórico do Ensino de Filosofia no Brasil, a SEE/SP criou a EFAP/SP e o Curso Específico de Formação. A temática da dissertação nos leva ao problema central deste estudo: de que maneira o Curso Específico de Formação para os professores ingressantes de filosofia na rede pode contribuir para os estudos e para o aprimoramento da prática docente e como isso pode refletir no aprendizado dos alunos, no que se refere ao ensino de filosofia? Com a intenção de apresentar o cenário do ensino dessa disciplina no nível médio, o primeiro capítulo apresenta concepções de ensino, entre elas as modalidades de abordagem, os aspectos didáticos e os subsídios para um ensino que leve ao filosofar. O segundo capítulo, apresenta a estrutura do Curso Específico de Formação em Filosofia da EFAP/SP e expõe o contexto de sua criação, apresentando de forma pontual os conteúdos e as metodologias de abordagem dos dez módulos presentes na Formação Específica em Filosofia. Finalmente, o capítulo três apresenta a formação inicial e continuada dos professores, com a intenção de refletir sobre a importância do aprimoramento da prática. Ainda neste capítulo, é exposto o ponto de vista de alguns docentes que passaram pela formação oferecida pela SEE/SP, sendo finalizado com um balanço crítico sobre as práticas de formação continuada e as possibilidades de melhora na aprendizagem dos alunos por meio destas. A conclusão procura deixar claro que existem diversas formas para a promoção e para o desenvolvimento de um ensino que contemple a aprendizagem e que a participação dos docentes em formações continuadas pode auxiliar e contribuir para o aprimoramento da prática, melhorando, assim, a qualidade do ensino de filosofia no nível médio. Palavras-chave: Ensino filosofia. Formação continuada. Prática docente.
ABSTRACT
This dissertation focuses on the study of the enhancement of the practice in teaching Philosophy through the Specific Training Course offered by EFAP/SP. The proposed theme assumes that the SEE/SP believes that the initial formation of the philosophy teachers does not meet their needs, due to the teachers lack of knowledge of the current Curriculum as well as their pedagogical didactic preparation. Attempting to break away with this inappropriate training and considering the structure of the graduation courses and the historical context of the Philosophy Teaching in Brazil, the SEE/SP has created the EFAP/SP and the Specific Training Course. The issue brings us to the central problem of the project: how the Specific Training Course for the beginner philosophy
viii
teachers can contribute to empowering their pedagogical practices, their continued education and how this may reflect on the students learning. Aiming at presenting the scenario of Philosophy teaching at the secondary level, the first chapter introduces the concepts of teaching, including the modalities of approach, the didactic aspects and subsidies to a teaching that leads to philosophizing. The second chapter presents the structure of the Specific Training Course in Philosophy of EFAP / SP and exposes the context of its creation, presenting, in an accurate manner, the content and methodological approaches of the ten modules that comprise the Course. The third chapter presents the initial (graduation) and continuing education of teachers, with the intention of exposing the importance of empowering the teaching. This chapter also reports the testemonials of some teachers who have attended the training courses offered by the Secretariat of Education of São Paulo state. The chapter ends with the critical evaluation of the practices in continuing teachers education and how they might improve the students learning. The conclusion of the work tries to enlighten that there are several ways to promote and develop a teaching practice that reaches learning and might help the teachers who have participated in it, to improve the quality of the Philosophy teaching in the middle level. Key words: Philosophy teaching. Continuing education. Teaching practice.
ix
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1
Capítulo I – Concepções do Ensino de filosofia no nível médio ........................... 5
1 – Modalidades de abordagem de ensino ................................................................. 6
2 – Aspectos didáticos do ensino de filosofia no nível médio .................................... 10
2.1 – Ensino baseado em competências e habilidades ......................................... 13
2.2 – Metodologias de ensino ................................................................................ 18
2.3 – Avaliação ...................................................................................................... 24
3 – Subsídios para um ensino que leve ao filosofar .................................................. 27
3.1 – Livro didático ................................................................................................. 29
3.2 – Textos filosóficos ........................................................................................... 35
3.3 – Outros recursos ............................................................................................. 37
3.4 – Caderno do Professor e Caderno do Aluno da Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo – SEE/SP ............................................................................ 41
Capítulo II – O Curso Específico de Formação em Filosofia da EFAP/SP.......... 45
1 – A estrutura do Curso Específico de Formação no quadro da Proposta Curricular
do Estado de São Paulo ............................................................................................ 45
1.1 – O surgimento do curso no quadro da Proposta Curricular ............................ 46
1.2 – Os objetivos da EFAP/SP ............................................................................. 53
1.3 – A relação do Concurso com o Curso Específico de Formação ..................... 54
1.4 – A estrutura do curso – Formação didático-pedagógica e Formação específica
............................................................................................................................... 55
2 – A Formação específica em Filosofia ................................................................... 58
2.1 – Módulo 9: Filosofia, raciocínio lógico e intelecto ........................................... 60
2.2 – Módulo 10: Preconceito e áreas do saber ..................................................... 62
2.3 – Módulo 11: O indivíduo, a sociedade e o Estado .......................................... 64
2.4 – Módulo 12: Política ........................................................................................ 66
2.5 – Módulo 13: Teoria do conhecimento na modernidade .................................. 67
x
2.6 – Módulo 14: Filosofia e ciência ....................................................................... 70
2.7 – Módulo 15: Liberdade ................................................................................... 71
2.8 – Módulo 16: Ética, valores e concepções ....................................................... 74
2.9 – Módulo 17: Ideologia, alienação e cultura ..................................................... 76
2.10 – Módulo 18: Estética ..................................................................................... 77
3 – Considerações críticas sobre o Curso Específico de Formação em Filosofia ..... 79
Capítulo III – Contribuições do Curso Específico de Formação para o
aprimoramento da prática docente ........................................................................ 83
1 – Formação do professor ....................................................................................... 84
1.1 – Formação inicial ............................................................................................ 86
1.2 – Formação continuada ................................................................................... 94
2 – O ponto de vista dos docentes que passaram pela formação da SEE/SP .......... 98
3 – Balanço crítico sobre as práticas de formação .................................................. 108
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 113
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 115
ANEXOS ................................................................................................................. 123
Anexo 01: Quadro com as referências bibliográficas apresentadas no Currículo de
Filosofia ................................................................................................................... 123
Anexo 02: Apresentação dos conteúdos do Currículo contemplados pelo Curso ... 124
Anexo 03: Parecer consubstanciado do CEP.......................................................... 125
Anexo 04: Modelo do questionário aplicado junto aos professores ingressantes ... 128
Anexo 05: Gráficos com os dados pessoais dos professores ingressantes
entrevistados ........................................................................................................... 130
xi
À educação pública,
viabilizadora de direitos,
que continuamente precisam ser aprimorados.
xiii
AGRADECIMENTOS
Ao meu companheiro Marcelo Carneiro pela paciência e compreensão. Aos meus
pais, Armando Frau Junior e Maria Ernestina Pucharelli Frau, e ao meu irmão, Marcelo
Eduardo Frau.
À professora Lidia Maria Rodrigo, pela orientação e dedicação, mostrando-se
sempre disponível para auxiliar.
Ao Dirigente Regional de Ensino da Diretoria Campinas Oeste, Professor Antônio
Admir Schiavo, que incentivou e apoiou os meus estudos.
Aos colegas de trabalho, Paulo Rogério da Silva, Inês Chiarelli Dias, Henriette
Siqueira Leite de Barros, Airton Clementino, Valéria Leão, Lídia Maria Batista Bomfim,
Sônia Maria dos Santos Guernelli, Daniele Eloise A. S. Kobayashi, Regina Sato Loss,
Marcia Cristina da Fonseca, Maria José Ambiel, Neuza Fassani, Alenice Marques
Mendez, Tatiana Costa Oliveira Margarido e Silvana Lima, que, de forma significativa,
contribuíram para tornar este trabalho possível.
Aos colegas de curso e estudo, Christian Lindberg, Fernando Rogério da Cruz,
Terezinha Duarte Vieira, Marcia Luiza Traskurkemb Funatsu, Danilo Pimenta e Cleber
Fernando de Assis Xavier.
Aos professores de filosofia ingressantes na rede que, gentilmente, responderam
o questionário contribuindo com a pesquisa.
À banca de seleção, Lidia Maria Rodrigo e Cesar Aparecido Nunes, que confiaram
e acreditaram na minha vontade e empenho.
À escola pública paulista, que possibilita e tem possibilitado grandes momentos de
aprendizado, estudo e pesquisa.
1
INTRODUÇÃO
Este trabalho concentra-se no estudo do Curso Específico de Formação da
EFAP/SP - Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores Paulo Renato Costa
Souza, bem como procura observar as contribuições deste enquanto curso de formação
continuada para os professores de Filosofia que, recentemente, ingressaram na rede
pública estadual de ensino, por meio de concurso público. Esta pesquisa tem como
objetivos: 1) Apresentar concepções e questões que podem nortear o ensino de filosofia
no nível médio, investigando as modalidades de abordagem, os aspectos didáticos e os
diferentes recursos bibliográficos utilizados nas aulas de filosofia; 2) Conhecer a estrutura
do Curso Específico de Formação em Filosofia da EFAP/SP, descrevendo seus
conteúdos; 3) Compreender a formação do filósofo / professor de filosofia na sua
constituição inicial, buscando refletir sobre a relação entre a teoria e prática; 4)
Compreender a formação inicial do professor de filosofia e a formação continuada
oferecida pelo Curso Específico de Formação da EFAP/SP; 5) Conhecer as contribuições
deste curso para o aprimoramento da prática docente por meio do ponto de vista dos
professores que passaram pela formação; 6) Apontar um balanço crítico sobre as práticas
de formação continuada oferecidas pelo curso.
Com a intenção de dar continuidade às ações de aperfeiçoamento da prática
docente, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo promoveu o concurso do
ano de 2010 de maneira diferenciada, oferecendo, de forma obrigatória, o Curso
Específico de Formação. Essa medida da SEE/SP trata-se de uma tentativa de
desenvolver o aprimoramento da relação ensino-aprendizagem nas unidades escolares
da rede estadual de ensino, possibilitando aos professores ingressantes uma formação
complementar sobre o Currículo vigente, os materiais e os recursos disponíveis para
subsidiarem o trabalho docente.
A problemática desta dissertação concentra-se em compreender de que modo o
Curso Específico de Formação para os professores ingressantes de Filosofia na rede
pode contribuir para os estudos e para o aprimoramento da prática pedagógica do
2
professor. Este trabalho ainda busca descrever de que modo tal prática pode refletir no
aprendizado dos alunos no que se refere ao ensino de Filosofia.
A formação inicial do professor de Filosofia não o prepara para a prática
pedagógica em sala de aula, visto que está se apresenta fragmentada no que diz respeito
ao ‘o que ensinar’ e ‘como ensinar’. Parte dos professores tentará suprir essa
fragmentação de diferentes formas, dentre elas, buscando alternativas diferenciadas de
ensino, livros que auxiliam na sua formação didático pedagógica, cursos de
aperfeiçoamento e especializações. Porém, outros profissionais se considerarão prontos
para o exercício do magistério, sem se preocupar com a real deficiência de sua formação;
Os professores, ao se graduarem, consideram-se prontos e acabados. Este fato tem sido o maior entrave na capacitação docente. Na realidade, muitos professores nunca mais voltam a discutir a teoria e a prática de sua ação docente. Quando muito, discutem o conteúdo a ser trabalhado, mas dificilmente explicitam sua prática e a discutem com os outros professores (BEHRENS, 1996. p. 125).
O interesse deste trabalho não consiste em discorrer detalhadamente sobre
todas as concepções de ensino de filosofia no nível médio, nem em esgotar os conteúdos
apresentados pelo curso oferecido aos professores ingressantes. Também não pretende-
se explorar de forma aprofundada a estrutura da formação inicial, enfim, a ideia é
apresentar subsídios para fomentar a reflexão apresentada como problema central.
A primeira parte deste trabalho pretende oferecer elementos importantes para a
compreensão e para o estudo do ensino de filosofia no nível médio, buscando descrever
concepções e questões necessárias para o desenvolvimento da prática. Este primeiro
momento do trabalho contempla as modalidades de abordagem, também serão
abordados aspectos didáticos relacionados a competências e habilidades, metodologias
de ensino e avaliação, assim como materiais bibliográficos e outros recursos que
subsidiam a prática do professor.
A segunda parte versa acerca da contextualização do surgimento do Curso
Específico de Formação em Filosofia no quadro da proposta curricular do Estado de São
Paulo, seus objetivos, sua relação com o concurso público, assim como sua estrutura
(Formação didático pedagógica e Formação específica). No que se refere à Formação
Específica em Filosofia, serão investigados de forma mais detalhada os temas e
conteúdos apresentados em cada módulo, entre eles: Filosofia, raciocínio lógico e
3
intelecto; Preconceito e áreas do saber; O indivíduo, a sociedade e o Estado; Política;
Teoria do conhecimento na modernidade; Filosofia e ciência; Liberdade; Ética, valores e
concepções; Ideologia, alienação e cultura e Estética. Ao término dessa exposição, serão
apresentadas algumas considerações críticas sobre a apresentação de temas e
conteúdos presentes no Curso Específico de Formação em Filosofia.
A terceira parte contempla a contribuição do Curso Específico de Formação para
o aprimoramento da prática docente, para tanto será apresentada, de forma breve, a
formação - inicial e continuada - do curso referido, buscando contextualizar as carências
existentes na atuação dos professores. Em continuidade, será apresentado o ponto de
vista dos docentes que realizaram o curso da SEE/SP e o balanço crítico sobre essas
práticas de formação.
A justificativa para uma investigação dessa natureza consiste na importância de
analisar as contribuições do Curso Específico de Formação para a prática pedagógica
dos professores de Filosofia ingressantes na Rede Pública Estadual de Ensino, tendo
como centro delimitador de análise o aprimoramento da formação e a melhora no ensino
da Filosofia, função que deve se constituir como formação continuada e aprimoramento
da prática docente.
Repensar a graduação de Filosofia e os seus reais objetivos seria uma ação
futura que poderia, já na formação inicial, preparar o docente para a sua prática no Ensino
Médio.
O problema interno está relacionado à própria definição do que consiste um curso de licenciatura em filosofia e, consequentemente, a sua solução passa pela participação e engajamento dos professores num debate sobre a natureza e o papel pedagógico destes cursos e sobre em que consiste a formação dos futuros professores de filosofia. Como se pode observar, a discussão sobre a questão da formação de professores é fundamental para os cursos de licenciatura em filosofia, pois, além da especificidade temática inerente a estes cursos, há uma questão nomeadamente pedagógica e que pode ser decisiva para a inserção e presença da filosofia como disciplina curricular do ensino médio (GALLINA. 2002. p. 457).
Assim, partindo do fato de que a dissertação terá como problemas centrais de
análise a Formação Continuada dos professores ingressantes de Filosofia pelo Curso
Específico de Formação e o aprimoramento da prática docente e seus reflexos no ensino
da disciplina, a dissertação se enquadra nos tópicos de Filosofia da Educação, visto que
a análise da Filosofia proposta por este trabalho se concentra na mesma como disciplina
4
de ensino e na sua função pedagógica como consequência direta de sua prática no
processo educacional.
5
Capítulo I – Concepções do Ensino de filosofia no nível médio
O ensino de filosofia no nível médio tem sido concebido por diferentes autores e
pelos mais diversos pontos de vista. Investigar essa multiplicidade de conteúdos e
metodologias contribui para o entendimento do sentido do filosofar em sala de aula. A
diversidade de possibilidades de trabalho tanto pode facilitar como dificultar a atuação do
docente, pois, frente à liberdade da escolha, este corre o risco de perder-se numa
miscelânea de ideias por não saber qual caminho seguir em sua prática.
No decorrer deste capítulo, serão apresentadas algumas possibilidades, tendo
como referência os autores: Antoni Zabala, Antônio Joaquim Severino, Celso Favaretto,
Cesar Coll, Franklin Leopoldo e Silva, Geraldo B. Horn, Guillermo Obiols, Humberto
Guido, Laia Arnau, Lidia Rodrigo, Milton Nascimento, Renata Aspis, Renê Silveira, Silvio
Gallo, Sônia Souza e Walter Kohan; que apresentam múltiplas possibilidades de
interpretação e prática do ensino de filosofia. Diante dessas possibilidades, o professor
do ensino médio pode ver claramente os possíveis caminhos a serem percorridos em sua
atuação profissional.
Assim, para promover o diálogo com os discentes, o professor necessita de
estratégias que contemplem competências e habilidades1, com o desenvolvimento de
sequências didáticas2, assim como o uso de diferentes recursos metodológicos, que, por
sua vez, podem permitir aos alunos aprender a questionar, a refletir criticamente e, por
que não dizer, a filosofar. Além da necessidade de desenvolver um ensino baseado em
diferentes táticas, é preciso, também, que o professor promova a avaliação de forma
integrada à sua prática, para tanto o processo avaliativo deve ser baseado no diálogo e
articulado ao processo de ensino-aprendizagem.
1 Competência é a intervenção eficaz nos diferentes âmbitos da vida por meio de ações nas quais se mobilizam, ao mesmo tempo e de maneira inter-relacionada, componentes atitudinais, procedimentais e conceituais. Habilidades são componentes das competências que constituem um conjunto de ações que servem para a obtenção de um objeto: procedimentos, técnicas, estratégias, métodos... (ZABALA e ARNAU, 2010). 2 O trabalho com sequências didáticas permite a elaboração de contextos de produção de forma precisa, por meio de atividades e exercícios múltiplos e variados, com a finalidade de oferecer aos alunos noções, técnicas e instrumentos que desenvolvam suas capacidades de expressão oral e escrita em diversas situações de comunicação (DOLZ, 2004).
6
Para promover um ensino que leve o aluno do nível médio ao filosofar, o docente
conta com diferentes subsídios, entre eles, os livros didáticos e os textos filosóficos. Além
disso, há outros recursos, tais como: tevê, internet, músicas, poesias, filmes, imagens,
etc. No caso específico do professor de filosofia da rede pública estadual de ensino de
São Paulo, existem também os Cadernos do Professor e do Aluno que apoiam e
subsidiam a sua prática.
Antes de explorar as especificidades de cada aspecto citado, é preciso refletir
sobre alguns requisitos do trabalho docente. A relação ensino-aprendizagem é o ponto
essencial desse processo, pois o aluno do ensino médio só vai aprender filosofia se o
professor estiver preparado para promover um ensino que possibilite tal aprendizado. Em
primeiro lugar, nunca é demais lembrar que “cultivar nos estudantes uma atitude crítica
supõe um professor que seja ele mesmo crítico” (OBIOLS, 2002, p. 115). Levando esse
pensamento em consideração, se tivermos uma postura crítica, teremos alunos críticos.
No Prólogo do livro Uma introdução ao ensino de filosofia, Eduardo Rabossi faz uma
observação pertinente:
[...] as práticas pedagógicas são “herdadas”. Alguém aprendeu filosofia de determinada maneira, ensinada por professores que por sua vez também a aprenderam dessa maneira e, como é natural, segue-se como o costume de ensinar da mesma forma, sem sentir a necessidade de algum tipo de questionamento. É que quando uma prática se torna padrão, quando é canonizada, o exame crítico não apenas é considerado desnecessário, mas também pode ser tachado de mal (sic) gosto (OBIOLS, 2002, pp. 15-16).
A citação remete às práticas de ensino que são repetidas pelos professores tal
como foram apresentadas em contextos educacionais diversos, como no ensino médio,
na graduação e em outras experiências de formação continuada. Tal reprodução pode
comprometer o desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, pois essas
heranças nem sempre são as melhores referências para o ensino de filosofia no nível
médio.
1 – Modalidades de abordagem de ensino
As modalidades de abordagem de ensino contemplam inúmeras possibilidades
de trabalho com o ensino de filosofia, no entanto, nesta dissertação, não há o intuito de
esgotar tal assunto. Essas inúmeras possibilidades e estratégias que contribuem para o
7
processo de ensino-aprendizagem da filosofia ajudam na qualidade do ensino desta
disciplina; por isso, quanto maior clareza o docente tiver de todo o processo e das
alternativas de trabalho, mais rica e interessante poderá ser a sua prática.
Numa análise ainda preliminar é possível dizer que qualidade do ensino de filosofia não depende apenas da articulação dos conteúdos com a realidade vivenciada pelo aluno, ou da definição da linha epistemológica seguida pelo professor, ou da organização curricular e do programa voltados para a história da filosofia ou eixos temáticos, mas também de procedimentos metodológicos adequados e instrumentos avaliativos compatíveis com o nível de aprendizagem dos alunos (HORN, 2000, p. 30).
Ensinar filosofia é estar submerso em um todo complexo. As modalidades de
abordagem consistem apenas numa parte deste complicado sistema. Ao percorrer as
diversas abordagens, o docente pode se apropriar de várias delas para compor o seu
percurso de ensino.
Como se sabe, pode-se distinguir em princípio duas grandes modalidades para os estudos filosóficos: de um lado, estão os defensores de um enfoque de tipo histórico; de outro, os que sustentam um enfoque problematizante (A. Carpio, 1974; G. Obiols, 1989). Para os primeiros, a filosofia se encontra em sua história, e estudar história da filosofia não é meramente estudar história. A compreensão da filosofia só é alcançada se for estudada historicamente. Para a modalidade problematizante, a filosofia é uma disciplina que tem, antes de qualquer coisa, um objeto de estudo constituído por determinados temas, problemas ou questões que são consideradas filosóficas, e o estudo deve estar centrado neles. Não faltam aqueles que preconizam um enfoque histórico-problematizante, que busca localizar o estudo de determinados problemas através de seu desenvolvimento histórico ou mesmo estudar uma certa questão em seu momento histórico. Uma terceira modalidade, que pode ser considerada independentemente das duas primeiras, afirma que a filosofia se encontra fundamentalmente nos escritos dos filósofos, em uma série de obras que constituem um cânon acerca de cujos limites pode-se discutir mas, em qualquer caso, deve constituir o centro da leitura e do comentário no ensino de filosofia. Uma quarta modalidade, a “doutrinária”, afirma que a filosofia é incompreensível se não for estudada desde uma perspectiva filosófica definida, o que significa dizer que é necessário assumir um compromisso com um determinado sistema filosófico. Apenas a partir de uma ótica definida é que poderíamos nos “abrir” para considerar a história da filosofia, os problemas e os textos filosóficos (OBIOLS, 2002, pp. 55-56).
A descrição realizada por Obiols (2002) reforça a complexidade das
possibilidades de uso das modalidades de abordagem, salientando que é importante
assumir um determinado sistema filosófico a fim de se buscar a qualidade da prática
docente, ou seja, a postura do professor, sua relação com os educandos, o ensino que
deseja promover, as estratégias, as atividades, as avaliações.
8
Com a intenção de apresentar algumas possibilidades de modalidades de
abordagem, serão descritas, de forma breve, a abordagem temática, a abordagem
histórica, a abordagem temático-histórica e a abordagem problemática.
A abordagem temática, como o próprio nome revela, desenvolve o ensino de
filosofia por meio de temas e problemas. Estes, preferencialmente, devem ser
apresentados de forma contextualizada e devem tratar de assuntos relevantes para
conseguirem despertar o entusiasmo e o interesse dos educandos. Assim, haveria
motivação suficiente capaz de conduzi-los à reflexão filosófica possível de ser
desenvolvida com o estudo e a análise de determinado tema ou problema. Este tipo de
abordagem pode ser considerada perigosa se não for bem estruturada e fundamentada.
Na abordagem temática, é imprescindível abordar filosoficamente os temas. Caso estes
não se enquadrem, necessariamente, na categoria de temas filosóficos, as abordagens,
no entanto, sempre precisam sê-las, pois, desenvolver um trabalho por meio de temas, é
tarefa a ser executada por qualquer disciplina que compõe a grade curricular de uma
unidade escolar. Os Parâmetros Curriculares Nacionais – Temas transversais de 1998
apontam essa possibilidade. Esses temas devem possibilitar a reflexão, devem ser
encarados de forma problemática e devem ser investigados a fundo, buscando
compreensão e sentido.
Promover o ensino de filosofia única e, exclusivamente, por meio da abordagem
temática, pode trazer riscos para o ensino de filosofia, embora os PCN+ Orientações
Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais priorizem a
abordagem temática da filosofia. Transformar os temas em problemas filosóficos é o
maior desafio para o docente que escolher esse tipo de abordagem; disso depende a
conversão de determinado tema em conhecimento relevante e significativo do ponto de
vista da reflexão filosófica.
A abordagem histórica também tem os seus riscos, uma vez que a história da
filosofia pode ser ensinada sem promover um ensino que leve ao filosofar. As Orientações
Curriculares para o Ensino Médio, produzidas pelo MEC em 2006, sugerem uma
organização histórica dos conteúdos de filosofia, indicando uma extensa lista de temas e
autores organizados historicamente. O perigo está presente no desenvolvimento de uma
leitura mal orientada da história da filosofia. É oportuno lembrar que, no atual contexto
9
educacional, professores de outras disciplinas ministram aulas e promovem o ensino de
filosofia devido à falta de profissionais com formação adequada. O problema da leitura
mal orientada foi levantado porque “é bastante comum que os procedimentos de
simplificação didática de conteúdos recorram ao expediente de reter apenas o genérico,
eliminando o específico” (RODRIGO, 2009a, pp. 45-46). Esse procedimento pode dar
ênfase àquilo que não teria tanta importância e que poderia ser descartado.
A abordagem temático-histórica sintetiza a abordagem temática e a abordagem
histórica tentando contemplar de forma mais completa as demandas do ensino médio.
Esse tipo de abordagem propõe o emprego da história da filosofia na contextualização
do tema desenvolvido.
Em lugar de apresentar a filosofia como um catálogo de soluções típicas, é preciso começar compreendendo o ato que instaura a necessidade de buscar respostas, ou seja, assumir uma postura indagadora sobre o sentido do real. A partir do levantamento dessas questões, é que se pode e deve recorrer à história da filosofia, que, então, deixa de ser um fim em si mesma, como na perspectiva tradicional, inserindo-se na dinâmica da reflexão filosófica sobre os problemas que se colocam para o homem atual (RODRIGO, 2009a, p. 51).
Na abordagem temático-histórica, o professor de filosofia articula a história da
filosofia e os pensadores, que, de alguma forma, têm relação direta com o tema
desenvolvido em sala de aula. Esse tipo de abordagem revela-se pertinente, pois trabalha
de forma articulada e possibilita uma formação multifacetada, em que o educando pode
vir a conhecer diferentes temas e problemas relacionados com diversos filósofos que
pensaram e refletiram sobre o tema trabalhado em diferentes períodos e contextos
históricos. Um exemplo: o tema ética poderia ser apresentado e, na sequência, articulado
às ideias de Aristóteles, Santo Tomas de Aquino, Kant, Hegel, Marx ou Habermas, não,
necessariamente, seguindo a ordem cronológica.
Existe também uma abordagem de natureza mais problemática, em que o
questionamento e a problematização estão presentes. Essa modalidade de abordagem
“aponta mais no problema do que na solução” (GALLO, 2012, p. 70). Neste tipo de
abordagem, o professor trabalha com problemas que precisam ser investigados
filosoficamente, não apresentando explicações prontas e acabadas, mas fomentando o
desenvolvimento de um problema, pois “não se produz filosofia sem um problema, o que
nos leva a afirmar que o problema é o motor da experiência filosófica de pensamento”
10
(GALLO, 2012, p. 70). Nesta abordagem, o envolvimento dos alunos nas aulas é
essencial, pois o diálogo do estudante com o professor possibilita reflexões que buscam
conceitos para compreender os problemas.
Estas são apenas algumas possibilidades de modalidades de abordagem,
existem outras, porém, como já exposto, não é objeto deste trabalho esgotar a
apresentação de tais possibilidades. Compreendendo as modalidades de abordagem de
ensino, o docente fica apto a escolher a qual delas ele melhor se adapta no
desenvolvimento de sua prática. No entanto, estas são apenas concepções sobre o
ensino de filosofia. No próximo item, serão explorados os aspectos didáticos e suas
possíveis contribuições para o ensino de filosofia no nível médio.
2 – Aspectos didáticos do ensino de filosofia no nível médio
Os aspectos didáticos compreendem características que envolvem competências
e habilidades, metodologia de ensino e avaliação. Nessa perspectiva, a técnica de
ensinar pode ser considerada um aspecto importante para a promoção de uma prática
eficiente, para tanto é necessário o preparo do professor para o desenvolvimento de
ações que atendam às demandas de formação dos educandos, visando o
aproveitamento do processo ensino-aprendizagem.
Hoje, a didática é concebida mais do que como a disciplina que ensina a ensinar tudo a todos e em qualquer circunstância, como a que ajuda a ensinar propondo-se a apontar elementos para que o docente em formação ou o professor em exercício realizem uma reflexão sobre a prática do ensino, prática que, se admite, diferencia-se segundo as distintas disciplinas, as idades dos estudantes e os contextos socioculturais e institucionais em que se desenvolve (OBIOLS, 2002, pp. 117-118).
A didática é imprescindível em todas as escolas e disciplinas, sobretudo no ensino
de filosofia da escola pública massificada3, isto porque, o professor de filosofia depara-
se com alunos que possuem, a princípio, apenas o conhecimento de senso comum. Com
3 Até meados dos anos de 1970, a filosofia era ministrada em uma escola secundária elitizada. Nessas três décadas em que esteve em total ou parcialmente ausente, o ensino médio passou por um processo de massificação crescente, incorporando estratos sociais menos privilegiados, que antes não tinham acesso a ele, uma clientela muito diversa da anterior: em sua maior parte encontra-se em escolas públicas com precária qualidade de ensino, sendo portadora de graves deficiências educacionais, tanto do ponto de vista linguístico como em relação a referências culturais de caráter mais amplo (RODRIGO, 2009a).
11
a intenção de promover a construção da relação ensino-aprendizagem, o docente deve
recorrer ao uso da didática, na tentativa de aproximar o saber filosófico dos educandos.
Nesse caso, a didática pode auxiliar na implementação de um ensino que promova a
reflexão filosófica.
[...] as mediações didáticas, as quais o professor recorre visando simplificar o saber filosófico para torná-lo acessível a alunos imersos no senso comum, não corre o risco de promover a banalização da filosofia na medida em que, situando-se num patamar introdutório, não afeta os níveis mais especializados da sua prática. Ainda assim, tem sido grande a resistência dos especialistas em consentir ou simplesmente admitir uma aproximação entre a filosofia e o homem comum, o que conduz à questão da democratização do acesso à filosofia (RODRIGO, 2009a, p. 17).
Estas mediações possibilitam a introdução ao saber filosófico, tornando a filosofia
acessível aos alunos do nível médio. A promoção de um ensino didático tem como
principal intenção o desenvolvimento de um ensino que leve ao filosofar, possibilitando
aos educandos um outro tipo de conhecimento, o filosófico. Sendo assim, visando essa
intenção no processo de formação, os professores devem se apropriar do uso da didática
para promoverem no ensino médio um conhecimento racional, sistemático e crítico.
Trata-se, então, de levar esses adolescentes a experimentarem essa atividade reflexiva de compartilhamento desse processo de construção de conceitos e valores, experiência eminentemente pessoal e subjetiva, mas que precisa ser suscitada, alimentada, sustentada, provocada, investigada. Eis aí o desafio didático com que nos deparamos (SEVERINO, 2004, p. 108).
O desafio está dado, a massificação da escola de nível médio é um fato e a
necessidade didática fundamental. Para ensinar nos dias de hoje, o professor deve estar
preparado para atrair a atenção do aluno neste contexto. A didática precisa fazer parte
de sua prática, caso contrário, dificilmente o docente conseguirá desempenhar o seu
papel.
Nessa conjuntura, a questão didática tornou-se crucial, não apenas do ponto de vista dos conteúdos, mas principalmente quanto às estratégias didático-pedagógicas de ensino. O novo perfil do aluno de nível médio, geralmente portador de deficiências educacionais e carências culturais graves, demandava que se encontrassem estratégias de ensino eficazes no sentido de tornar o saber escolar acessível a essa clientela. Como a escola e, em particular, os professores de Filosofia, responderam a essa nova demanda? (RODRIGO, 2011, p. 11).
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A prática docente da atualidade requer uma série de ações para que o processo
de ensino-aprendizagem se dê da melhor forma possível. Sabemos que a didática é
importante do ponto de vista estratégico, pois, por meio dela, se dá a relação do ensinar
e do aprender. Sobre esta questão, Walter Kohan (2002), em seu artigo Sobre o ensinar
e aprender ... filosofia, aborda a relevância deste processo.
Desta forma, aprender não é trazer para si algo de quem ensina. Ensinar não é levar para outro algo de si. Ensinar é oferecer signos, colocar um exemplo de aprender. Aprender é seguir esses signos por si mesmo. Podemos inspirar-nos em outras travessias para essa busca, mas ninguém pode substituir-nos na experiência da aprendizagem. Ninguém pode buscar por nós (KOHAN, 2002, p. 189).
O papel do docente consiste em fazer com que o aluno queira buscar o
significado daquilo que se ensina. Trata-se de um grande desafio, cuja didática é o
elemento em que se busca o auxílio para o desenvolvimento dessa procura minuciosa.
Sendo assim, torna-se a disciplina filosofia, que, a princípio, parecia ser algo distante da
vida prática dos jovens, algo atraente e interessante. Sônia Maria Ribeiro de Souza
(2004), em seu artigo A filosofia no ensino médio: uma (re)leitura a partir dos PCNs,
destaca a importância do contato docente com alguns pressupostos que podem nortear
a prática didática:
- a capacidade de despertar entusiasmo pelos problemas e ideias, ou seja, pela investigação filosófica, uma vez que a confiança do aluno se funda na honestidade intelectual e na autenticidade racional do professor; - a familiaridade com os procedimentos de análise filosófica empregados no processo de ensino e aprendizagem; - o domínio da linguagem, bem como o domínio da argumentação, nas suas mais variadas formas, que vão desde a demonstração estrita até os procedimentos puramente persuasivos, sempre atento aos riscos e limitações que seu uso lhe impõe; - a capacidade de iluminação dos fatos dados, indispensável para dar penetração e amplitude ao pensamento; - a sensibilidade afinada com a situação vital do aluno, que permite ao professor utilizar reflexivamente a experiência deste jovem e motivá-lo adequadamente, tomando sua experiência como ponto de partida para o ensino da matéria Filosofia (SOUZA, 2004, p. 175).
Cada um desses pressupostos auxiliam e estreitam a ação docente no processo
de ensino-aprendizagem. De todos os métodos, estratégias e caminhos propostos por
diferentes autores e professores, o que mais importa na ação docente é o preparo do
professor para que este consiga desenvolver a relação ensino-aprendizagem com os
educandos, transformando a filosofia em ato de filosofar.
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Compreendendo a relevância da didática, o docente precisa levar em
consideração, também, a importância do desenvolvimento do ensino baseado em
competências e habilidades, assim como deve-se estar atento à questão das
metodologias, das estratégias desenvolvidas por meio da construção das sequências
didáticas e das concepções do avaliar, pois, todas essas ações facilitam o
desenvolvimento do ensino de filosofia no nível médio.
2.1 – Ensino baseado em competências e habilidades
Falar de competências e habilidades na educação e no ensino de filosofia não é
tarefa fácil, uma vez que os termos remetem a ideias relacionadas com o surgimento dos
termos no meio empresarial4. A transposição destes conceitos para a educação sofreu e
sofre ainda críticas significativas, no entanto, refletir sobre os seus aspectos didáticos no
ensino de filosofia no nível médio faz todo sentido.
...um ensino baseado em competências pode ser uma nova oportunidade para que o sistema educacional enfrente uma educação a partir de uma visão racional, comprometida, responsável e global para a formação de cidadão. Uma oportunidade para que a educação redescubra sua potencialidade como meio essencial, junto a outros, para a melhoria da pessoa e da sociedade. Evidentemente, qualquer ideia pode ser pervertida, e no caso das competências também corre-se esse risco. Sua difusão inicial no mundo empresarial pode ser interpretada como um instrumento a serviço de enfoques mercantilistas em vez de uma forma mais precisa na expressão das intenções educacionais (ZABALA e ARNAU, 2010, p. 185).
Antoni Zabala e Laia Arnau (2010), no livro Como aprender e ensinar
competências, apresentam argumentos que refletem sobre o problema do ensino
baseado em competências e habilidades de forma crítica. Nesse sentido, é importante
compreender que esse aspecto didático encontra-se diretamente relacionado ao ensino
de conteúdos e à aprendizagem destes, ou seja o ensino, com a presença das
4 No início da década de 1970, e no âmbito empresarial, surge o termo “competência” para designar o que caracteriza uma pessoa capaz de realizar determinada tarefa real de forma eficiente. A partir de então, esse termo se estendeu de forma generalizada, de modo que, atualmente, dificilmente iremos encontrar uma proposta de desenvolvimento e formação profissional que não esteja estruturada em torno de competências. É dessa forma que o mundo empresarial fala sobre gestão por competências: formação de competências, desenvolvimento profissional por competências, análise de competências, etc. (ZABALA e ARNAU, 2010).
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competências e habilidades, encontra-se relacionado de forma direta aos conteúdos
presentes em cada disciplina.
Atualmente, sabemos que a aprendizagem da maioria dos conteúdos é tarefa árdua, na qual a simples memorização de enunciados é insuficiente para sua compreensão, e que a transferência e a aplicação do conhecimento adquirido a outras situações diferentes somente é possível se, ao mesmo tempo, tenham sido realizadas as estratégias de aprendizagem necessárias para que a transferência se produza (ZABALA e ARNAU, 2010, p. 20).
Acredito, que o grande desafio para os professores esteja em compreender como
promover uma educação que contemple, ao mesmo tempo, os conteúdos previstos em
sua disciplina e as competências e habilidades adequadas para cada nível escolar.
Sendo assim, superado este desafio, a relação ensino-aprendizagem se dará da melhor
forma possível.
A pressão do saber teórico acadêmico e das ideias errôneas sobre a aprendizagem e a transferência dos saberes determinaram a preponderância dos conhecimentos factuais e conceituais, tanto é assim que para a maioria dos professores a expressão “conteúdos de ensino” se limita apenas aos conhecimentos, ou seja, ao saber, dando por certo que os procedimentos, as habilidades, as estratégias, as atitudes e aos valores são outra coisa, quer dizer, não são objetos da educação e, portanto, não são conteúdos de ensino (ZABALA e ARNAU, 2010, pp. 20-21).
Assim como os pensamentos de Antoni Zabala e Laia Arnau, o de Cesar Coll
(2000), no livro Os conteúdos na Reforma: Ensino e aprendizagem de conceitos,
procedimentos e atitudes, reflete sobre o ensino de conteúdos relacionados de forma
direta às competências e habilidades. Neste livro, Coll sustenta a ideia construtivista do
ensino e da aprendizagem. Nesse aspecto, o seu olhar vem ao encontro do ensino de
filosofia baseado em competências e habilidades, que permite ao estudante tomar
contato com a disciplina filosofia e com ato de filosofar.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio - Ciências Humanas
e suas tecnologias, de 1998, apresentam o desenvolvimento do trabalho pedagógico
relacionado ao ensino com base em competências e habilidades. A citação abaixo
destaca as competências e habilidades a serem desenvolvidas por meio do ensino de
filosofia no nível médio.
Representação e comunicação: Ler textos filosóficos de modo significativo. Ler, de modo filosófico, textos de diferentes estruturas e registros. Elaborar por escrito o que foi apropriado de modo reflexivo. Debater, tomando uma posição,
15
defendendo-a argumentativamente e mudando de posição face a argumentos mais consistentes. Investigação e compreensão: Articular conhecimentos filosóficos e diferentes conteúdos e modos discursivos nas Ciências Naturais e Humanas, nas Artes e em outras produções culturais. Contextualização sociocultural: Contextualizar conhecimentos filosóficos, tanto no plano de sua origem específica, quanto em outros planos: o pessoal-biográfico; o entorno sócio-político, histórico e cultural; o horizonte da sociedade científico-tecnológica (BRASIL, 1998a, p.64).
A ação docente, por meio do desenvolvimento de competências e habilidades e
por meio de realização de atividades escolares significativas e contextualizadas, pode
possibilitar maior compreensão dos conteúdos filosóficos aos educandos, tornando
possível a relação ensino-aprendizagem. Sendo assim, o PCN+ Orientações
Educacionais Complementares aos parâmetros Curriculares Nacionais - Ciências
Humanas e suas tecnologias, de 2002, diz que o docente deve assumir “uma postura
centrada na mediação dos processos de construção/reconstrução dos conhecimentos
escolares” não assumindo a “condição de mero retransmissor desses conhecimentos”
diante dos alunos (BRASIL, 2002, p. 23).
No documento Orientações Curriculares para o Ensino Médio, de 2006, é
abordada, também, a importância do desenvolvimento do trabalho docente atrelado ao
desenvolvimento do ensino baseado em competências e habilidades. O documento
citado aponta a necessidade do “... desenvolvimento geral de competências
comunicativas, o que implica um tipo de leitura, envolvendo capacidade de análise, de
interpretação, de reconstrução racional e de crítica” (BRASIL, 2006, pp. 30-31).
Analisando o atual contexto educacional do Estado de São Paulo, também é
possível perceber as referências às competências no Currículo oficial. A partir, de tal
observação, é possível dizer que se busca a interação dos conteúdos presentes nas
disciplinas que o compõe. A partir de tal movimento, tem-se a expectativa de possibilitar
a aprendizagem dos alunos ao longo dos anos que estes permanecem na escola, bem
como visa-se a formação de cidadãos aptos para atuarem na sociedade.
Com efeito, um currículo referenciado em competências supõe que se aceite o desafio de promover os conhecimentos próprios de cada disciplina articuladamente às competências e habilidades do aluno. É com essas competências e habilidades que o aluno contará para fazer a leitura crítica do mundo, questionando-o para melhor compreendê-lo, inferindo questões e compartilhando ideias, sem, pois, ignorar a complexidade do nosso tempo (SÃO PAULO, 2010, p. 12).
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A Matriz de Referência para a Avaliação Saresp também destaca a importância
da obtenção de competências cognitivas. Do ponto de vista desses documentos, a
filosofia está diretamente relacionada a essa concepção de ensino. “São vários os
aspectos cognitivos em jogo: saber inferir, atribuir sentido, articular partes e todo, excluir,
comparar, observar, identificar, tomar decisões, reconhecer, fazer correspondências”
(SÃO PAULO, 2009e, p.15). A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo - SEE/SP
baseia-se na pedagogia das competências e desenvolve o seu trabalho educativo
articulando os conteúdos previstos em cada disciplina que compõe o Currículo às
competências e habilidades. Essa prática vem ao encontro das exigências da avaliação
externa do Estado, pois, na Matriz de Referência para a Avaliação Saresp, documento
básico de 2009, se faz presente a descrição de um ensino pautado em competências e
habilidades. Desenvolver o ensino baseado nessas propostas possibilita inferir dados
referentes ao nível de domínio de competências. “Os conteúdos e as competências
(formas de raciocinar e tomar decisões) correspondem, assim, às diferentes habilidades
a serem consideradas nas respostas às diferentes questões ou tarefas das provas” (SÃO
PAULO, 2009e, p.13).
O ensino baseado em competências e habilidades vai além do aprendizado de
conteúdos, indo ao encontro do ensino de conteúdos conceituais, procedimentais e
atitudinais filosóficos, desenvolvendo, assim, a formação de um amplo repertório em prol
do aprendizado significativo.
Aprender filosofia pode ser entendido como aprender conteúdos conceituais filosóficos (compreender criticamente conceitos filosóficos, métodos filosóficos, teorias filosóficas, desenvolvimentos históricos da filosofia etc.). Aprender a filosofar poderia ser aprender conteúdos procedimentais e atitudinais filosóficos, ou desenvolver procedimentos e atitudes filosóficos (aprender a filosofar é aprender a praticar métodos filosóficos, exercícios filosóficos, técnicas filosóficas, hábitos, disposições e valores filosóficos; é um aprender a ler filosofia criticamente, a detectar pressupostos, a reconstruir argumentos, a confrontar teses filosóficas, a emitir um juízo próprio e fundamentado sobre questões filosóficas, desenvolver atitudes de tolerância e de discussão racional de ideias filosóficas etc.) Por último, do mesmo modo que não se pode aprender separadamente a filosofia e o filosofar, Coll sustenta que é possível e necessário planejar e desenvolver atividades que permitam trabalhar de forma inter-relacionada os três tipos de conteúdo (OBIOLS, 2002, pp. 106-107).
Não se aprende separadamente a filosofia e o filosofar. Essa tese tem sido
defendida e, por isso, o docente deve apropriar-se do fato de que este ensino visa o
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desenvolvimento de conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais que contemplam
a demanda de um ensino filosófico. O desafio de tal prática está em promover o
desenvolvimento dos conteúdos filosóficos de forma articulada às competências e às
habilidades previstas. Para promover a aprendizagem do aluno contemplando a
articulação dos conteúdos com as competências, o professor precisa recorrer ao
desenvolvimento de uma prática eficiente, utilizando recursos didáticos diferenciados.
A preocupação com os aspectos formais da aprendizagem filosófica deriva de concepções didática recentes, que enfocam a aprendizagem de um ponto de vista mais amplo do que a mera fixação de conteúdos a serem trabalhados. Nos últimos anos, a atenção voltou-se para as competências e habilidades de estudo, considerando-se relevante também a aquisição da capacidade de aprender, em lugar do mero “nocionismo enciclopédico” que caracterizou negativamente a cultura escolar (Paris, 1994). Permanece importante não separar forma de conteúdo, uma vez que a especificidade dos aspectos formais se configura com base na sua conexão com determinado conteúdo (RODRIGO, 2009a, p. 55).
Nesse sentido, um ensino baseado em competências e habilidades deve ir além
de uma aprendizagem que desenvolve apenas conteúdos. Para compreender essa
relação, é necessário ter claro que não se ensina competências e habilidades
desvinculadas de conteúdos. O foco principal dessa prática está na obtenção de um
conhecimento que vai além destes, ou seja, o desenvolvimento do pensamento crítico do
educando se dá quando este toma contato com uma série de conteúdos e, a partir destes,
desenvolve habilidades. Assim, o pensamento crítico passa a ser uma competência
adquirida pelo educando.
Desse modo, a atuação do professor deve promover um suporte ao aprendizado
emancipador e transformador. Os alunos, muitas vezes, são possuidores de carências
culturais, o que compromete o bom desenvolvimento do seu aprendizado. Cabe à escola
preparar esse aluno para se apropriar de certos conteúdos e procedimentos.
Os professores de filosofia frequentemente se queixam de que o estudante do nível médio não possui as qualificações requeridas para a apropriação dessa forma de saber. De fato, as deficiências culturais dos alunos socialmente menos privilegiados são de tal ordem que, muitas vezes, eles sequer conseguem ler e compreender textos simples e corriqueiros, que dirá textos filosóficos. Obviamente essas constatações trazem implícita uma crítica à própria escola, pois a ela competiria desenvolver as qualificações requeridas para o estudo da filosofia. Mas, enfim, seja qual for a razão, se o aluno não possui esses requisitos, é preciso, juntamente com os conteúdos filosóficos, investir na sua aquisição, ou seja, na capacidade de ler, interpretar, abstrair, argumentar, redigir etc. Além do mais, o ensino de filosofia apresenta condições muito propícias para esse tipo de
18
trabalho. Como lembra Stefano Martini, a filosofia é um saber dotado de valor educativo porque permite não só adquirir conhecimentos, mas também, por meio de tais conteúdos, aprender habilidades, métodos, atitudes de pesquisa e modelos de racionalidade (Martini, s/d) (RODRIGO, 2009a, pp. 22-23).
Os alunos necessitam desenvolver a capacidade de ler e interpretar, capacidade
esta que envolve todos os docentes que ministram as aulas do ensino médio. O abstrair,
o argumentar e o redigir são exigências mínimas para a promoção do verdadeiro
aprendizado, em qualquer área do conhecimento. Todas essas são habilidades
necessárias para que o discente participe, de fato, da relação ensino-aprendizagem, pois,
sem as habilidades mínimas, os alunos ficam aquém de um aprendizado significativo.
Como explicitado anteriormente, não é no vazio que se promove tais habilidades,
os conteúdos são essenciais para a promoção do ensino que trabalha competências e
habilidades. Cabe ao professor de filosofia se apropriar das habilidades necessárias para
construir de forma didática a sua aula, baseado no conteúdo previsto em seu programa.
Novas concepções didático-pedagógicas mostram que conteúdo não é tudo, como se pensava anteriormente; aliás, na atual escola de nível médio, certos temas só podem ser abordados desde que o sejam de maneira didaticamente adequada. Significa que é preciso, juntamente com os conteúdos, trabalhar métodos e procedimentos de aquisição desses conteúdos, isto é, desenvolver aquelas competências cognitivas que a reflexão filosófica requer, mas que a maior parte dos alunos de nível médio não possui: capacidade de leitura e interpretação, compreensão de conceitos, articulação lógica do raciocínio, capacidade de argumentação, etc. (RODRIGO, 2011, p. 12).
Com a intenção de demonstrar as possibilidades da prática docente a partir de
um ensino baseado em competências e habilidades, é necessário pensar em
metodologias de ensino e avaliação. Embora a avaliação seja parte do processo, é
importante dar um destaque para a esta, uma vez que, a partir do momento que o docente
promove um ensino baseado em competências e habilidades, este deve promover uma
avaliação que seja condizente com a sua prática.
2.2 – Metodologias de ensino
Existem diferentes concepções de metodologias de ensino, as quais são
compostas de vários procedimentos didáticos. Estes podem ser apresentados seguindo
uma ordem planejada, cuja intenção é a de promover a relação ensino-aprendizagem.
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Tal ordem é, também, conhecida como sequência didática. Trata-se de usar diferentes
estratégias, seguindo variados procedimentos, para a promoção do ensino. Alguns
materiais pedagógicos utilizam-se dessa estrutura para apresentar os conteúdos, as
competências e as habilidades, separando a aprendizagem em etapas. Cada uma das
etapas representa parte do todo. No final do processo, espera-se que o aluno tenha
apreendido e compreendido o que lhe foi ensinado.
Na verdade, o ensino de filosofia se constrói por meio desse processo
diversificado. Buscando elucidar tal tema, neste item serão expostas duas maneiras
distintas de se trabalhar as metodologias de ensino: primeiramente, será apresentada a
construção desenvolvida pela professora Lidia Rodrigo, seguida pela estrutura defendida
pelo professor Silvio Gallo.
A construção metodológica desenvolvida pela professora Lidia Rodrigo é
baseada na concepção de professores europeus - italianos e franceses - que visam o
problematizar, o conceituar e o argumentar.
Rodrigo (2009a) aponta que, para desenvolver o método de ensino, é necessário
o desenvolvimento e a aplicação de uma sequência didática que auxilia a aprendizagem
do aluno do nível médio. É dessa maneira que ele abandona o senso comum e dá início
à prática do filosofar. O primeiro passo dessa sequência está no problematizar. É este
que possibilita ao aluno assumir uma postura filosófica, já que o conteúdo apresentado
de forma problemática gera um desconforto que promove o questionamento.
Posteriormente, é desenvolvido o conceituar, o que torna visível o conceito do que se
fala, é a exposição do conceito tratado. Muitas vezes, por tratar de conceitos abstratos,
essa etapa torna-se difícil, porém, não impossível de ser assimilada. O conceito deve ser
relacionado a três elementos (real, pensamento e linguagem) para que se torne acessível
sua compreensão pelo aluno. É nessa fase que o professor explora o conteúdo previsto
para aquele momento de aprendizagem. O docente pode partir de uma aula expositiva,
da leitura de um texto, da solicitação de pesquisa, enfim, diversas são as possibilidades
para se realizar essa etapa. Por último, na sequência proposta, está o argumentar, etapa
essencial, pois é por meio dela que o aluno compreende se o que diz é verdadeiro, pois
é a argumentação que fundamenta a veracidade do conceito.
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Um ensino de filosofia que privilegie esses três aspectos pode garantir uma didática especificamente filosófica, além de criar a possibilidade de trabalhar, juntamente com os conteúdos filosóficos, aquelas competências que o aluno do ensino médio ainda não possui. É claro que a operacionalização desse tipo de proposta didática enfrenta grandes obstáculos e está sujeita a muitos limites. Talvez não seja possível um grande salto em termos do desenvolvimento das capacidades de problematizar, conceituar e argumentar, mas se for possível dar pequenos passos já se terá caminhado para frente (RODRIGO, 2009a, p. 56).
Por intermédio dessa metodologia, o docente tenta promover uma educação que
desenvolva a autonomia do educando. O educador deve desenvolver a sua prática
visando a participação ativa dos alunos, buscando a interação com os estudantes. Em
suas estratégias, devem estar presentes situações que possibilitem a participação dos
discentes no processo de construção da aprendizagem.
É mais fácil impor um conteúdo por meio de uma aula expositiva puramente
conteudista, já que nela os requisitos mínimos necessários para o seu desenvolvimento
são silêncio e atenção, mas, nesse caso, não há mais espaço para uma relação de
ensino-aprendizagem, trata-se apenas de ensino. Romper com esse hábito e promover
o uso de sequências didáticas, as quais associem os conteúdos e as competências
cognitivas que lhe são pertinentes, é de fundamental importância para a promoção de um
ensino que leve ao filosofar, caso contrário, o que se tem são apenas alunos passivos. É
evidente que, ao longo desse processo de construção do aluno participativo, há o
momento da apresentação do conteúdo por meio de aula expositiva, mas essa é uma
das estratégias de ensino que compõe a sequência didática do professor.
Em que pesem todas as ilusões e equívocos do passado sobre o modo de emprego da aula expositiva, isso não deve levar à sua pura e simples exclusão, como pregam alguns. Essa técnica de ensino permanece importante, pelas razões apontadas anteriormente. Mas é preciso renovar o formato da preleção e mesclá-la com outros procedimentos didáticos, adotando formas mais interativas, que solicitem o envolvimento intelectual do estudante e não apenas a sua presença física. Uma aula expositiva pode iniciar-se, por exemplo, com o levantamento e comentário sobre as noções que os alunos possuem sobre o tema, prosseguir colocando questões que os desafiem a pensar previamente sobre determinada significação, antes de apresentar o conceito ou a formulação filosófica sobre o assunto, além de criar oportunidades para que eles próprios façam perguntas (RODRIGO, 2009a, p. 74).
Fazendo uso do formato descrito no excerto acima, a aula expositiva fomenta a
possibilidade de questionamentos, de perguntas, de investigação sobre o assunto
apresentado. É interessante analisar as possibilidades de ensino por meio do uso de
21
diferentes procedimentos, pois as etapas propostas por essa metodologia possibilitam a
ampliação da relação ensino-aprendizagem. É interessante observar que cada uma das
etapas pode ser desenvolvida de diferentes formas, do mesmo modo que o conceituar
pode ser apresentado por meio de aula expositiva, de pesquisa, de leitura de texto, etc.
O problematizar pode ser desenvolvido por meio do uso de uma imagem, de uma poesia,
de uma música, de uma propaganda, de uma pergunta, etc., assim como o argumentar,
o qual pode se dar com a participação dos alunos em uma roda de conversa, em um
debate, na construção de um texto argumentativo, etc.
Articulada à metodologia de ensino, a presença do exercício é importante na
composição das aulas estruturadas em sequências didáticas. Estes devem fazer parte
do processo e serem articulados a todas as etapas da aprendizagem.
Os exercícios devem acompanhar todo o percurso didático, e não aparecer apenas no final, na medida em que viabilizam o envolvimento subjetivo do estudante por meio da produção de trabalhos pessoais, tornando a aprendizagem significativa para ele. Acompanhando todo o trajeto da aprendizagem, permitem também uma constante verificação do crescimento pessoal e eventuais reformulações, tanto da produção discente como dos procedimentos de ensino. Ao atribuir ao aluno um papel mais ativo, a escola tem a oportunidade de colocar-se em sintonia com as novas concepções sobre a ação educativa, passando de uma ética da obediência para uma ética da responsabilidade (Martini, s/d) (RODRIGO, 2009a, p. 82).
Existem diferentes possibilidades para a produção dos exercícios, que podem ser
desenvolvidos de forma oral ou escrita. Na forma oral, as possibilidades são amplas,
podendo partir de um simples diálogo entre o professor e os alunos e/ou entre alunos, à
discussão, à disputa e ao debate. Este é uma ferramenta interessante para o
desenvolvimento da argumentação oral, pois, além do intuito de convencer o outro, o
aluno tem a necessidade de fundamentar as próprias opiniões (RODRIGO, 2009a, p. 83).
Na forma escrita, o mesmo ocorre, pois o professor goza de uma série de exercícios que
podem ser propostos ao discente, como as anotações sobre as aulas expositivas, a carta
argumentativa, o resumo de texto. No processo do exercício escrito, é importante iniciar
do mais simples para o mais complexo, possibilitando que o estudante aprenda a
escrever e compreenda todo o processo de construção da escrita antes de elaborar um
texto dissertativo mais amplo e complexo. A atividade é, geralmente, solicitada no final
22
de cada sequência didática. Esse exercício final, muitas vezes, é utilizado como meio de
avaliação do entendimento.
A partir do momento que o aluno passa a produzir o registro do seu aprendizado,
ele passa a participar de forma direta da relação ensino-aprendizagem, ele deixa de ser
um corpo presente, interagindo e deixando de ser passivo, construindo seu aprendizado.
Na medida em que os exercícios vão acontecendo em sala de aula, o aluno consegue
perceber a sua evolução tanto no aprendizado quanto na escrita, assim como a sua
capacidade de compreender e argumentar sobre as coisas que lhe são ensinadas.
Espera-se, assim, que, quando este aluno concluir o ensino médio, esteja pronto para
investigar o mundo com o pensamento crítico, tendo se apropriado do ato de filosofar.
Já a proposta metodológica apresentada pelo professor Silvio Gallo (2012) vai
além de um ensino de filosofia que leve ao filosofar, ele tem como finalidade última a
elaboração de conceitos filosóficos. Essa construção parte da concepção de Deleuze e
Guatarri de que a filosofia é entendida como criação de conceito. A trajetória dessa
metodologia visa a sensibilização, a problematização, a investigação e a conceituação,
ou, como Gallo expõe em seu livro Metodologia do ensino de filosofia, visa a reelaboração
de conceitos filosóficos. O autor defende que, a partir do momento em que o aluno faz a
leitura daquele conceito, ele o reelabora no mesmo momento e no mesmo contexto.
Voltando a Deleuze e Guattari, eles afirmam que é preciso investir numa “pedagogia do conceito”, à qual os filósofos se dedicaram pouco, ao longo da história. Ora, se os conceitos não estão dados, mas são criados, é possível se desvendarem as regras, os processos, os caminhos de criação dos conceitos; é possível - e é necessária – uma pedagogia do conceito, isto é, um aprendizado em torno do ato criativo de um conceito (GALLO, 2012, p. 95).
Essa pedagogia do conceito, para ser desenvolvida, conta com quatro momentos
didáticos. Compreender cada um destes é fundamental para entender a trajetória que
precisa ser percorrida pelo educando para que este consiga elaborar conceitos. Para
tanto, segue a descrição detalhada das quatro etapas:
Sensibilização: Trata-se, nessa primeira etapa, de chamar a atenção para o tema de trabalho, criar uma empatia com ele, isto é, fazer com que o tema “afete” os estudantes. Sabemos que os conceitos só são criados para enfrentar problemas, e que só enfrentamos os problemas que efetivamente vivemos. Ora, de nada adiantaria que o professor indicasse um problema aos alunos. Para que eles possam fazer o movimento do conceito, é preciso que o problema seja vivido como um problema para eles (GALLO, 2012, p. 96).
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Problematização: Trata-se de transformar o tema em problema, isto é, fazer com que ele suscite em cada um o desejo de buscar soluções. Na etapa anterior, o objetivo era apenas afetar, chamar a atenção, motivar (se quisermos usar uma expressão pedagógica um tanto quanto em desuso). Nesse segundo momento, tendo a atenção mobilizada pela questão, o objetivo é problematizar vários de seus aspectos, de diferentes perspectivas (GALLO, 2012, p. 96). Investigação: Trata-se de buscar elementos que permitam a solução do problema. Uma investigação filosófica busca os conceitos na história da filosofia que possam servir como ferramentas para pensar o problema em questão. Terá Platão se deparado com esse problema? Em caso afirmativo, como ele o pensou? Produziu algum conceito que tenha dado conta dele? O conceito platônico ainda é válido em nosso tempo? Ele dá conta do problema, tal como o vivemos hoje? E na modernidade, Descartes ou Espinosa lidaram com o mesmo problema? Criaram seus conceitos? São esses conceitos mais adequados ou menos adequados que aquele criado por Platão? (GALLO, 2012, p. 97). Conceituação: Trata-se de recriar os conceitos encontrados de modo que equacionem nosso problema, ou mesmo de criar novos conceitos. Aprendemos com Nietzsche e com Deleuze e Guattari que há parentescos entre os conceitos, e que o mero deslocamento de um conceito do contexto em que ele foi criado para um outro contexto – o nosso próprio – é uma recriação do conceito, pois ele já não é mais o mesmo (GALLO, 2012, pp. 96-97).
Desenvolver de forma prática essas quatro etapas requer do professor o preparo
metodológico e o domínio do que se pretende ensinar. No entanto, como será
apresentado nos próximos capítulos deste trabalho, nem sempre a formação inicial e a
formação continuada proporcionam subsídios para tal ação. Nesse processo de
construção do conhecimento, os alunos devem participar de forma ativa, o tempo todo,
dialogando com o professor. Caso este não esteja totalmente em condições, a sua
tentativa de ensino será frustrada, pois, nesse caso, o preparo faz toda a diferença.
As duas primeira etapas, sensibilização e problematização, são essenciais para
promoverem a participação e o pertencimento ao tema tratado. Tais etapas requerem do
professor estratégias diversas para envolver a atenção e problematizar, de fato, o tema
escolhido. Já a etapa de investigação é crucial para que se possa desenvolver a
elaboração do seu próprio conceito filosófico.
É, no momento investigação, que o aluno irá conhecer os conceitos na história
da filosofia, os quais poderão servir de base para a construção dos seus próprios
conceitos, processo este que se dá na quarta etapa deste método, a conceituação.
Depois do momento de investigação, os alunos já possuem conhecimentos suficientes
para compreenderem os conceitos apresentados pelos filósofos investigados e já podem
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elaborar o seu próprio conceito. Pode parecer estranha a hipótese da criação de conceito
em se tratando de alunos do ensino médio, mas esta é uma prática totalmente possível,
principalmente, porque, parte do pressuposto de que não se cria no vazio, não se constrói
um conceito com base em nada. Nesse momento, mais uma vez, fica reforçada a ideia
de que não é possível filosofar sem aprender filosofia.
Diante das duas metodologias de ensino apresentadas, cabe salientar que os
caminhos percorridos visam um único objetivo, tornar o ensino de filosofia acessível e
significativo para os alunos de nível médio. As metodologias podem possibilitar a
ampliação do entendimento, tornando a relação ensino-aprendizagem mais dinâmica.
Cada etapa presente nas metodologias de ensino tem como objetivo promover o
distanciamento do conhecimento de senso comum, aproximando o educando do saber
filosófico. A reflexão filosófica precisa se fazer presente e envolver o aluno no universo
reflexivo, crítico e argumentativo da filosofia.
2.3 – Avaliação
Dentre os aspectos didáticos do ensino de filosofia no nível médio, está presente
a avaliação. Esta deve ser compreendida como parte do processo, sendo desenvolvida
desde o início da aprendizagem, momento em que se avalia os conhecimentos prévios,
durante e ao final do processo, atuando como uma avaliação continua, formativa e em
processo.
Como, atualmente, a concepção de ensino é baseada em competências e
habilidades, tendo o seu objetivo voltado para uma relação de ensino-aprendizagem, a
avaliação precisa acompanhar este modelo e avaliar o que foi apreendido, da maneira
como foi ensinado. Não se deve avaliar apenas no final do processo, buscando sinalizar
os conteúdos que foram apreendidos. A avaliação deve contemplar e apontar as
competências e habilidades que foram desenvolvidas por meio de conteúdos, o que leva
a uma avaliação de todo o conjunto.
Não se trata mais, como no passado, de restringir a avaliação apenas à verificação dos conteúdos assimilados pelos alunos. Devem ser examinadas também as competências e habilidades relacionadas à articulação dos conteúdos, como, por exemplo, no caso da filosofia, a capacidade de
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compreender, problematizar e interpretar os textos, estruturar logicamente o raciocínio, expressar o pensamento numa redação coerente etc. (RODRIGO, 2009a, p. 94).
Neste contexto, a avaliação passa a ser uma ferramenta que visa a promoção da
emancipação que perde a sua característica de punição. A avaliação não deve ser
utilizada como ameaça, como muitos professores ainda fazem, mas, certamente, como
instrumento que auxilia a relação de ensino-aprendizagem. A avaliação deve possuir um
caráter pedagógico tanto para o professor quanto para o aluno, servindo como um
instrumento que estreita o relacionamento entre ambos e promove melhoras na
aprendizagem. A avaliação passa a ser parte do processo e das táticas de ensino. Sendo
executada dessa forma, ela insere o aluno no processo de ensino do professor (ASPIS e
GALLO, 2009, p.117), o qual deixa de ser excludente, e passa a promover a autonomia
e a emancipação do educando. É importante pensar a avaliação como parte de um
processo, particularmente em sua dimensão formativa.
O que se costumou chamar de avaliação formativa, em contraposição àquela, é esta que, por meio de seus instrumentos baseados na interlocução dialógica, se torna emancipatória e não mais punitiva. A avaliação passa de julgamento sobre a aprendizagem para revelações de possibilidades, necessidades e avanços de cada aluno (ASPIS e GALLO, 2009, p. 115).
Para ser emancipatória, a avaliação deve promover a autonomia. Para tanto, a
participação e o envolvimento do educando com os assuntos tratados devem ser levados
em conta, assim como a construção de argumentos e a busca de soluções para os
problemas apresentados. Fica explícito que não se trata de um tipo de avaliação
qualquer, mas, sim, de uma avaliação que contemple a filosofia e suas especificidades.
Promover uma avaliação justa não é tarefa fácil, no entanto, para ser justa, a
avaliação em filosofia não deve ser desenvolvida com o objetivo de classificar e
selecionar.
Nesta perspectiva, a prática da avaliação, que poderia ser uma prática geradora de construção de relações dialógicas, muitas vezes, passa a ser colaboradora do estabelecimento de relações hierarquizadas e pautadas em antagonismos, uma prática de controle, submissa à ordem geral. Por meio de processos avaliativos classificatórios e seletivos, inventam-se dois polos contrários: o do saber e o do não-saber, e assim se determina o lugar que cada um deve ocupar no processo de ensino. A avaliação aplicada assim é prática de exclusão, é recusa à diversidade do possível humano. Disciplinadora e autoritária, essa avaliação parece nada ter haver com nossa ideia de ensino de filosofia (ASPIS e GALLO, 2009, p. 114).
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Compreendendo os objetivos de uma avaliação justa e emancipatória para o
ensino de filosofia, torna-se fácil para o docente promover avaliações que sejam
significativas no processo de ensino-aprendizagem. No entanto, apenas esse tipo de
avaliação não garante a emancipação do aluno, é preciso aplicá-la, em diferentes
momentos, com o objetivo de identificar e corrigir as dificuldades. Elas são instrumentos
que devem elevar a aprendizagem, pois, por meio delas, é possível medir as dificuldades
e os progressos sobre um determinado assunto. Sendo assim, revelam-se mais
necessárias no decorrer do processo do que no final do percurso.
Esse tipo de avaliação permite, então, retroalimentar o próprio processo de ensino-aprendizagem, reajustando-o aos objetivos visados e às mediações necessárias para que eles sejam alcançados. Na impossibilidade de formular uma proposta didática ideal e definitiva, deve-se admitir que os reajustamentos com vistas ao seu aprimoramento constituem um processo permanente e contínuo; uma avaliação global permite apontar a direção em que as reformulações precisam ser feitas. Tocamos aqui um aspecto central da avaliação: sua finalidade primordial reside na reformulação do trabalho realizado, com base na revisão do caminho percorrido e na constatação de suas possíveis falhas. Por essa ótica, não faz sentido que a verificação só ocorra no final do percurso; ela deve acompanhar todo o processo e inserir-se nele como um dos momentos da aprendizagem (RODRIGO, 2009a, p. 95).
Fica evidente a necessidade de se romper com a prática tradicional da avaliação,
pois esta se dá apenas no final do processo, avaliando conteúdos, sendo muitas vezes
punitiva. Porém, o fato da avaliação deixar de ser punitiva não significa que a mesma
não terá rigor. O rigor é essencial para o desenvolvimento de um trabalho sério e de
qualidade.
O rigor na avaliação, portanto, é necessário para que o objetivo da disciplina seja, de fato, atingido. Além disso, considerando que ainda é grande a preocupação de professores e alunos com as notas e que, nas outras disciplinas, em relação às quais não costuma haver dúvidas quanto a terem algo a ensinar e a avaliar, a avaliação costuma ser sempre rigorosa, se isso não ocorrer com a filosofia é bem possível que ela acabe sendo vista pelos alunos como uma disciplina menos importante, matéria de “perfumaria”, que até pode ser interessante e agradável, mas que não tem o mesmo peso em sua formação que aquelas nas quais se faz questão de avaliar e até mensurar o seu desempenho (SILVEIRA, 2000, p. 144).
Renê Trentin Silveira (2000) toca em um ponto fundamental quando se refere ao
fato da filosofia poder ser vista como disciplina menos importante por escolher diferentes
metodologias para a avaliação. Durante muitos anos, a avaliação serviu para instaurar o
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medo nos educandos, muitas vezes, foi utilizada como ameaça, servindo como ação
reguladora da disciplina da turma. Quem não passou pela experiência de uma prova
surpresa, ou seria um castigo surpresa? No decorrer de anos, a avaliação foi utilizada
como punição, como algo que classifica e seleciona os que sabem e os distingue dos que
não sabem. Com o seu rigor, punindo aquele que não conseguiu atingir o que estava
determinado. Todo conjunto apresentado provoca no educando o medo de ser avaliado.
Ao docente, cabe o desenvolvimento de uma avaliação que contemple a
apreciação do aprendizado, afastando-se de punições, classificações e seleções,
desenvolvendo o avaliar com rigor e seriedade. Para que a ação avaliativa seja clara, o
professor de filosofia deve combinar com os seus alunos, desde o início, como se dará
este processo no decorrer do programa, é indispensável que este seja transparente, e
que as estratégias de desenvolvimento das atividades, dos valores de cada ação, e da
correção das etapas seja explicado para os alunos. Isto deve ser feito, se possível, no
primeiro dia de aula, pois, assim, o aluno saberá em que momentos será avaliado.
É possível promover uma avaliação séria, de modo não classificatório e punitivo,
promovendo a emancipação do educando. Uma sugestão para afugentar o medo deste
é possibilitar a ele a oportunidade de refazer a atividade. Essa ação, quando bem
orientada, permite ao estudante a melhora de seu aprendizado (SILVEIRA, 2000). Avaliar
é fazer com que o aluno conheça o que ele aprendeu, é promover a reflexão sobre a
relação ensino-aprendizagem.
3 – Subsídios para um ensino que leve ao filosofar
A aprendizagem é inseparável de um conteúdo e de uma forma. Para que o
ensino ocorra da melhor maneira, o docente precisa desenvolvê-lo contemplando
competências e habilidades e utilizando subsídios para a sua promoção.
Em qualquer circunstância que nos encontremos, se há um processo de ensino de filosofia, este deve apontar para facilitar que se produza uma aprendizagem filosófica, e os clássicos estabeleceram firmemente que esta aprendizagem é uma aprendizagem inseparável de um conteúdo e de uma forma, que se trata de aprender filosofia e de aprender a filosofar e que apenas se aprende a filosofar estudando filosoficamente a filosofia efetivamente existente (OBIOLS, 2002, p. 104).
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Quanto mais subsídios o professor tiver como opção, mais amplas serão as
possibilidades da sua prática docente. Renata Aspis e Silvio Gallo (2009) defendem a
ideia de que não existe um método pronto e acabado para se ensinar a filosofia, mas
acreditam no ensino baseado na experiência filosófica.
Acreditamos que talvez não seja possível pensar em um método para ensinar filosofia se a entendermos como algo que não está acabado, que é uma coisa prática, que está viva. Além disso, a defesa da elaboração de um método pressupõe a crença na possibilidade de planejar o que vai acontecer no processo de aprendizagem, crença que não compartilhamos. Para nós, um ensino de filosofia para jovens tem como objetivo proporcionar aos alunos ocasiões de experiência filosófica, e encontra possibilidade de ser quando experimentamos o ensino da criação de conceitos filosóficos por meio do ensino do filosofar, que é filosofia (ASPIS e GALLO, 2009, p. 18).
Pensar que não é qualquer estratégia de ensino que pode possibilitar o filosofar
é relevante, visto que o ensino da filosofia é complexo. Devido a esse fato, ensinar a
pensar filosoficamente é diferente de ensinar um conteúdo filosófico. Se o propósito do
ensino de filosofia no nível médio é promover o desenvolvimento do senso crítico, é
evidente que seu ensino não deve estar pautado apenas em conteúdos, deve-se recorrer
a diferentes subsídios para a sua promoção. Renata Aspis e Silvio Gallo também
defendem essa ideia.
Mas, evidentemente, não é qualquer filosofia a ser ensinada que cumprirá este tipo de papel. É preciso que não fiquemos presos à filosofia como mais um conjunto de conteúdos a serem assimilados pelos estudantes. Se ela reduzir-se a uma visão panorâmica da história da filosofia ou mesmo a um resumo das principais características do pensamento de alguns filósofos, será um ensino inócuo e mesmo, arriscamos dizer, prejudicial (ASPIS e GALLO, 2009, pp. 43-44).
A presença da filosofia na grade curricular não é garantia de um aprendizado
filosófico. Para que isso ocorra, é preciso o desenvolvimento de uma série de estratégias,
entre elas: a promoção do ensino baseado em competências e habilidades, a utilização
dos procedimentos metodológicos, e a avaliação promovida com objetivo emancipatório,
todos estes são recursos importantes.
Existem subsídios que podem auxiliar e contribuir com o ensino de filosofia no
nível médio, alguns destes serão descritos a seguir.
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3.1 – Livro didático
O livro didático é um importante subsídio para a prática docente. No entanto,
ressalta-se que o mau uso deste pode resultar em uma prática que não prioriza a reflexão
filosófica. Para melhor explorar este subsídio, serão apresentados os aspectos negativos
e os riscos na utilização mecânica deste material.
O primeiro cuidado a ser tomado para que não se incorra no mau uso do livro
didático é não aceitá-lo como um dogma. Os professores e os alunos precisam saber que
os livros didáticos também podem conter erros. O livro não pode ser encarado como
verdade absoluta nem, tampouco, ser apresentado como certeza incontestável. O diálogo
aberto deve ser mantido sempre e o aluno precisa ter a consciência de que o livro é um
manual que contém recortes e fragmentos da história, da vida e dos pensamentos de
alguns filósofos destacados. Devido ao fato de se tratar de fragmentos, o diálogo e a
contestação são aspectos necessários para a compreensão, ainda que mínima, do
conteúdo apresentado.
É preciso ressaltar que o uso do livro não pode soar como doutrinação. O
professor Silvio Gallo, em seu livro Metodologias do ensino de filosofia, menciona uma
reflexão do professor Regis de Morais que retrata muito bem o que não deve ser feito
quando se faz uso de manuais: “doutrinar não é ensinar uma doutrina, mas ensiná-la
como se fosse a única” (GALLO, 2012, p. 39). Essa afirmação expõe o perigo do uso
inadequado dos manuais, alertando a importância da construção do ensino de filosofia
com a intenção de promover reflexões que ampliam o conhecimento e buscam a
autonomia do discente. O livro didático deve ser compreendido como mais um material
que torna oportuno o ensino de filosofia.
Desde que Anaximandro contradisse a Tales ou Aristóteles a Platão, a filosofia tem se caracterizado por constituir um território de disputas no qual escolas, correntes, grupos e indivíduos defendem mais ou menos argumentativamente suas ideias e atacam, no melhor dos casos do mesmo modo, as ideias dos demais. Basta abrir qualquer livro de filosofia do presente ou do passado para encontrar exemplo do que estamos querendo dizer. O coração da filosofia passa, em larga medida, por tais disputas, e ainda que as mesmas possam ser analisadas sociologicamente mostrando que às vezes por detrás delas há interesses pessoais, ideológicos, políticos etc., não somente são disputas iniludíveis, senão que resultam essenciais para o desenvolvimento da disciplina (OBIOLS, 2002, p. 49).
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Há perigo dos contextos históricos da época serem manipulados para a
construção dos manuais de acordo com os interesses ideológicos de quem escreve,
publica e compra o livro didático. As mudanças sofridas pela filosofia no decorrer dos
tempos devem ser apresentadas de forma transparente, apontando os recortes e as
escolhas feitas pelo autor, com a intenção de tornar claro que aquela exposição
representa a parte de um todo. Caso contrário, a maneira como se apresentam esses
conteúdos nos manuais pode ser considerada perigosa.
O manual traz consigo a síntese de ideias e possui a responsabilidade de
apresentar a filosofia para os educandos. Ele apresenta resumos de conteúdos, recortes
da história e tem como objetivo facilitar o aprendizado. Essa é uma ação de risco, pois,
muitas vezes, apresenta os conteúdos de forma tão superficial que pode promover uma
falsa ideia ou, então, nem sequer atingir o objetivo do docente. Embora os manuais
apresentem todos esses problemas, eles, muitas vezes, são seguidos à risca e acabam
compondo parte importante do que é ensinado no decorrer do ensino médio. Essa é uma
prática grave, pois, quando ocorre, o docente tem a oportunidade de se esconder atrás
do livro.
É bem verdade que a capacidade de intervenção do professor na formulação do saber escolar, lamentavelmente, tem se mostrado muito limitada. A defesa desse princípio ainda permanece no nível de um dever-ser que nem sempre corresponde à realidade efetiva daquilo que se passa com o ensino de Filosofia no nível médio, em que o professor frequentemente exime-se da autoria desse tipo de saber, para acomodar-se à função de correia-de-transmissão de um discurso didático produzido por outros, consolidado e objetivado nos textos didáticos disponíveis no mercado editorial. Na prática dos docentes que assumem essa postura passiva, o manual costuma ocupar o lugar do próprio programa da disciplina, o que equivale a abrir mão de uma intervenção pessoal tanto na seleção de conteúdos como em relação à sua ordem de transmissão. O professor acaba por endossar, mimetizar e aderir acriticamente ao itinerário proposto pelo manual, adequando-se a ele, em lugar de formular um percurso próprio. Ao eximir-se da responsabilidade de ser o autor de seu discurso didático, ele próprio contribui significativamente para o rebaixamento e o menosprezo da função docente (RODRIGO, 2009b, p. 83).
Se o livro está no comando, o professor terá que se adequar ao livro. É evidente
que este, enquanto subsídio, deve servir ao docente, e não ele ao livro, pois cabe ao
professor definir qual é o assunto e a ordem necessária da consulta ao manual para
aquela aula. Ou seja, cabe ao docente articular o assunto pensando nas competências e
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habilidades que precisam ser desenvolvidas. Partindo desse princípio, a aula de filosofia
jamais pode ser encarada como uma leitura sequencial de um manual.
As facilidades do livro didático podem promover o seu uso inadequado, pois nele
está presente a sedução da fácil aplicabilidade. Soma-se a isso o fato de existirem
docentes não especialistas ministrando aulas de filosofia, desprovidos de formação
filosófica. Estes ministram as aulas utilizando o livro didático, no entanto, o uso deste
acaba promovendo leituras e interpretações de textos sem muita articulação com o
desenvolvimento do senso crítico. Esse resultado pode promover o ensino de alguma
coisa, mas não o do filosofar.
A maior parte do material didático utilizado nas escolas acaba apontando na direção da antropologia filosófica; na maioria das escolas são utilizados os livros Filosofando – Introdução à filosofia (de Maria Lúcia Aranha e Maria H. P. Martins), Fundamentos da Filosofia (de Gilberto Cotrim) e O mundo de Sofia (de J. Gaarder). Nas escolas particulares, frequentemente o material é apostilado, e muitas vezes não há menção das fontes de consulta. O fato de a maior parte dos professores ter a sua formação em outras áreas do conhecimento acarreta o uso inadequado do material didático – independente da sua qualidade -, interpretando-o conforme sua formação de origem; o historiador, o pedagogo, o geógrafo, o psicólogo... cada um faz a sua leitura particular do conteúdo disponível, e com isso a antropologia filosófica fica descaracterizada e muito distante do tratamento conferido pela filosofia a temas como o trabalho, a liberdade, a moral, entre outros (GUIDO, 2000, pp. 90-91).
Depois de apresentar os riscos possíveis do uso dos manuais, é preciso destacar
os aspectos positivos destes, até mesmo porque os livros didáticos foram concebidos
para auxiliar o trabalho do professor. Existem muitos livros, manuais e apostilas que
apresentam conteúdos filosóficos. Conhecer este amplo repertório na integra é quase
impossível. Esses materiais podem ser de boa qualidade e podem contribuir para o
ensino de filosofia ou podem estes ser de má qualidade e pouco contribuírem para o
desenvolvimento das aulas.
Com relação às possibilidades de trabalho, os livros didáticos de boa qualidade
podem auxiliar na prática docente. Nestes, estão presentes, de forma resumida, saberes
filosóficos, fragmentos de textos filosóficos, cronologia dos filósofos e seus pensamentos,
imagens, sugestões de trabalho, enfim, uma série de conteúdos que contribuem e
facilitam a prática do docente. Além de trazer esses aspectos facilitadores, o livro está na
mão dos alunos, o que viabiliza o desenvolvimento do trabalho pedagógico.
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Em que pesem os problemas apontados, o texto didático constitui um dispositivo valioso para tornar mais acessível ao aluno a complexidade conceptual e teórica da filosofia. Quando bem empregado, revela-se útil à tarefa didática do professor e apoio importante para a aprendizagem do aluno. É preciso, porém, jamais perder de vista seu caráter de recurso auxiliar, de modo que o professor não o converta no único instrumento de contato do aluno com a filosofia ou uma espécie de substituto do texto filosófico (RODRIGO, 2009a, p.93).
Hoje, existem muitos livros didáticos de filosofia no mercado à disposição do
professor, conhecê-los é ação importante, pois, a partir dos diversos conteúdos, expostos
de diferentes formas, o docente pode realizar recortes e construir situações de
aprendizagem de acordo com as demandas de aprendizagem de suas turmas. Este
mercado vem crescendo a cada ano, e, depois da implementação da lei 11.684, em
20085, tem crescido ainda mais, pois, a partir da aprovação da lei referida, o ensino
passou a ser obrigatório em todo país e o livro didático de filosofia passou a participar da
escolha do PNLD (Plano Nacional do Livro Didático) para o Ensino Médio.
Com a intenção de revelar os livros didáticos de filosofia existentes no mercado,
foi realizado, por um professor de filosofia e doutorando da Faculdade de Educação da
Unicamp, um levantamento de dados sobre a temática, o qual fora apresentado pelo
professor Silvio Gallo (GALLO, 2012), em seu livro Metodologia do ensino de filosofia. O
pesquisador utilizou como parâmetro duas categorias apresentadas como modalidades
de ensino de filosofia, são elas: a perspectiva histórica da filosofia e a perspectiva
temática. Ambas têm relação com a reflexão presente no texto de Franklin Leopoldo e
Silva, intitulado História da Filosofia: Centro ou referencial?
a) Livros organizados segundo uma perspectiva histórica da filosofia: - Vivendo a filosofia, Gabriel Chalita, Editora Atual. - Aprendendo filosofia, de César Aparecido Nunes, Papirus Editora. - Introdução ao estudo da filosofia, de Antônio Xavier Teles, Editora Ática. - Filosofia, de Antônio Joaquim Severino, Editora Cortez. - Pensando para viver: Alguns caminhos da filosofia, de Mauri Luiz Heerdt, Editora Sophos. - História da filosofia, de Bryan Magee, Ed. Loyola (tradução). - Livro completo da filosofia: Entenda os conceitos básicos dos grandes pensadores: de Sócrates a Sartre, de James Mannion, Editora Madras (tradução) (GALLO, 2012, p. 144). b) Livros organizados segundo uma perspectiva temática da filosofia: - Filosofando: Introdução à filosofia, de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria
5 LEI Nº 11.684, DE 2 DE JUNHO DE 2008 – Altera o art. 36 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir a Filosofia e a Sociologia como disciplinas obrigatórias nos currículos do ensino médio.
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Helena Pires Martins, Editora Moderna. - Temas de filosofia, também de Maria Lúcia de Arruda Aranha e Maria Helena Pires Martins, Editora Moderna. - Convite à filosofia, de Marilena Chauí, Editora Ática. - Filosofia: Ensino médio, de Marilena Chauí, Editora Ática. - Filosofia. Série Novo Ensino Médio, Marilena Chauí, Editora Ática. - Fundamentos da Filosofia: História e grandes temas, de Gilberto Cotrim, Editora Saraiva. - Introdução à filosofia: Aprendendo a pensar, de Cipriano C. Luckesi e Elizete S. Passos, editora Cortez. - Um outro olhar, de Sonia Maria Ribeiro de Souza, Editora FTD. - Iniciação ao filosofar: Pensando melhor, de Angélica Sátiro e Ana Miriam Wuensch, Editora Saraiva. - Para filosofar, de Cassiano Cordi, Antonio Raimundo dos Santos, Elizabeth Maria Bório et al., Editora Scipione. - Filosofia: Iniciação à investigação filosófica, de José Auri Cunha, Editora Atual. - Explicando a filosofia com arte, de Charles Feitosa, Editora Ediouro. - Ética e cidadania: Caminhos da filosofia, produzido pelo grupo de estudos sobre Ensino de Filosofia – Unimep (tendo como autores Sílvio Gallo, que coordenou a edição, mais Mauricio Mariguela, Paulo Roberto Brancatti, Márcio Danelon, Luís Carlos Gonçalves e Carlos Henrique Cypriano), Papirus Editora. - Construindo ética e cidadania todos os dias: reflexões sobre temas filosóficos, sociais, políticos, econômicos e históricos de Mauri Luiz Heerdt, editora Sophos. - Começos de filosofia, de Roberto Goto, Editora Alínea. - Filosofia para jovens: uma iniciação à filosofia, de Maria Luiza Silveira Teles, Editora Vozes (GALLO, 2012, pp. 145-146).
A partir do levantamento realizado pelo pesquisador, fica evidente que a
quantidade de livros com abordagem temática é predominante. A partir da exposição da
vasta relação de livros didáticos disponíveis no mercado, é pertinente voltar ao PNLD e
compreender quais são os critérios de escolha do MEC - Ministério da Educação - para
a aprovação dos livros, pois somente os aprovados podem ser escolhidos para
distribuição gratuita nas escolas públicas do Brasil. O Guia de Livros Didáticos PNLD
2012 - Filosofia aponta que o eixo norteador que auxilia os especialistas na escolha é a
História da Filosofia.
Por não ser um saber que tem por marca a evolução, como ocorre, por exemplo, com a área das biológicas, a filosofia se constitui e se alimenta a partir de sua própria história. Esse lastro histórico estabelece uma íntima relação entre a filosofia e sua história, de modo que, estudar filosofia é fazer, ao mesmo tempo, História da filosofia. Como os temas e problemas (o bem, o mal, a verdade, a justiça, o poder etc.) pensados no presente têm por de trás deles uma longa história, é com o retorno à tradição e a partir dela que novas respostas podem ser encontradas, que novos conceitos serão criados, que mais uma página na história desse saber é acrescentada. É essa especificidade da filosofia que exigiu critérios que permitissem preservar aquilo que é intrínseco ao fazer filosófico (BRASIL, 2011, p. 10).
Os critérios de avaliação para a escolha são pertinentes, pois mantêm o foco do
que é pretendido no desenvolvimento do ensino com o uso do material didático. No ano
de 2011, quinze livros didáticos foram inscritos no programa e, somente, três foram
34
aprovados6. No ano de 2014, dos treze livros didáticos inscritos, cinco foram aprovados7.
Os livros aprovados obedecem aos critérios estabelecidos previamente, sendo ideal que
apresentem a multiplicidade do debate filosófico sem dogmatismos e proselitismos.
Mesmo tomando todo cuidado na seleção, ainda torna-se recomendável a atenção do
docente, que não deve fazer do livro didático o seu único recurso ou sua única fonte de
consulta.
Os guias de livros didáticos PNLD 2012 e PNLD 2015 apresentam resenhas dos
livros aprovados, apresentando-os a partir da seguinte estrutura: 1) cabeçalho,
identificação da obra; 2) visão geral, apresentação de uma avaliação sintética da obra
em que são brevemente mencionados aspectos que se destacaram positiva ou
negativamente. 3) descrição, apresentação da estrutura do livro que indica de maneira
resumida seu conteúdo e sua organização interna, assim como indica os recursos que
este oferece. 4) análise, realização de uma avaliação mais detida da obra e 5) em sala
de aula, que realiza recomendações para auxiliar no planejamento e uso dos materiais
didáticos, assim como conteúdos que precisam ser complementados ou que apresentam
dificuldades a serem enfrentadas. (BRASIL, 2014, p.7).
O desafio da primeira seleção de livros didáticos de Filosofia (PNLD 2012) foi pautado, sobretudo, pela ausência de uma tradição consolidada de livros didáticos em nossa área. Longe de significar a vacuidade de propostas didático-pedagógicas, o longo período em que vigorou a não obrigatoriedade da Filosofia nos currículos escolares conduziu à situação peculiar em termos da oferta de livros didáticos com que nos deparamos, marcada, entre muitos aspectos, por efeitos insólitos (BRASIL, 2014, p. 9).
Sem dúvida, o fato do ensino de Filosofia estar na condição de obrigatório nos
currículos escolares do ensino médio assegura a existência da seleção de livros didáticos
de filosofia no PNLD. Com a implementação da lei 11.684 e a consolidação do Currículo
6 Livros didáticos aprovados no PNLD 2012 - Filosofando – Introdução à Filosofia da Editora Moderna (Maria Helena Pires Martins e Maria Lúcia de Arruda Aranha); Fundamentos de Filosofia da Editora Saraiva (Gilberto Cotrin e Mirna Fernandes) e Iniciação à Filosofia da Editora Ática (Marilena Chauí). 7 Livros didáticos aprovados no PNLD 2015 - Filosofando – Introdução à Filosofia da Editora Moderna (Maria Helena Pires Martins e Maria Lúcia de Arruda Aranha); Filosofia: Experiência do Pensamento Editora Scipione (Silvio Gallo); Filosofia: por uma inteligência da complexidade da Pax Editora (Celito Meier); Fundamentos de Filosofia da Editora Saraiva (Gilberto Cotrin e Mirna Fernandes) e Iniciação à Filosofia da Editora Ática (Marilena Chauí).
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de Ciências Humanas e suas Tecnologias na SEE/SP, o ensino de filosofia pode contar
com este importante subsídio - o livro didático - para o desenvolvimento da aprendizagem
filosófica.
De forma geral, é possível afirmar que o livro didático viabiliza reflexões
filosóficas, desde que seja utilizado de forma adequada, subsidiando a prática do
professor e auxiliando o ensino da filosofia.
3.2 – Textos filosóficos
A utilização de textos filosóficos com os alunos do nível médio, no Brasil, é uma
proposta repleta de desafios, mas não deixa de ser uma prática interessante.
Desenvolver a leitura de trechos escritos por filósofos possibilita ao aluno o contato direto
com o pensamento destes sem mediações e interpretações prévias. Nesse aspecto, o
texto filosófico torna-se insubstituível e indispensável. No entanto, é imprescindível que
o professor de filosofia saiba escolher textos curtos e que atendam à realidade de cada
turma, pois, como é sabido, por vezes, o texto filosófico exige um leitor já formado. Nesse
sentido, é papel do professor prover subsídios e amparar o aluno no processo de ensino-
aprendizagem, afim de tornar a experiência significante. De outro modo, tal uso poderia
desestimular os alunos perante um texto de difícil leitura e interpretação.
Sabemos todos que o texto filosófico apresenta grande dificuldade para ser trabalhado no nível médio. Para começar, as deficiências culturais e linguísticas dos estudantes, especialmente dos menos privilegiados socialmente, são de tal ordem que muitas vezes eles sequer sabem ler, ou melhor, não compreendem aquilo que leem. Nesse caso, como esperar que sejam capazes de enfrentar os obstáculos inerentes ao texto filosófico? Não sendo possível alimentar essa expectativa, é preciso criar condições para que isso se torne viável, ou seja, desenvolver, no interior do próprio ato de leitura, as habilidade e competências requeridas para tanto (RODRIGO, 2009a, p. 74).
Os trechos selecionados pelo professor devem contemplar as necessidades de
ensino e precisam vir ao encontro das demandas de aprendizagem. Antes de apresentar
o texto filosófico, é desejável que o docente prepare o aluno para realizar a leitura,
contextualizando, problematizando e sensibilizando o tema que será desenvolvido. Com
o desenvolvimento contínuo da leitura desses trechos, amplia-se a possibilidade de
36
ruptura das dificuldades de compreensão e interpretação, o que, gradativamente,
fomenta a superação do desafio da leitura filosófica de textos filosóficos.
[...] Antes de mais nada, o manual é sempre uma visão de sobrevoo, pode servir de referência, mas não para um estado aprofundado de questões. E um curso de filosofia, mesmo que seja introdutório, deveria pautar-se pelo estatuto dos textos dos próprios filósofos, textos que o professor teria que ser capaz de selecionar em função do tema escolhido para ser trabalhado no semestre ou durante o ano (NASCIMENTO, 1986, p. 115).
Portanto, independentemente de estar presente ou não no manual, a presença
do texto filosófico é necessária para elucidar melhor o pensamento filosófico estudado.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio – Área de Ciências Humanas
e suas Tecnologias, de 1998, apontam a necessidade do aprendizado da leitura de textos
filosóficos e da leitura filosófica de textos não filosóficos. Para que isso ocorra, o docente
precisa estar preparado para realizar as escolhas certas, apresentando trechos de textos
que possibilitem essas leituras. Este preparo requer conhecimentos e formação
especializada.
Pensando em condições ideais de ensino, a utilização de um texto filosófico deve
complementar a abordagem de temas trabalhados em sala de aula. A proposta
apresentada pelos professores Renata Aspis e Silvio Gallo (2009) revela-se interessante
para o desenvolvimento desse tipo de leitura.
Partimos do princípio de deixar os alunos terem uma experiência direta com os textos filosóficos. Acreditamos que em muito pouco estaremos aproximando os alunos da filosofia se nos restringirmos aos textos de livro-manual ou a nossas exposições sobre o pensamento desse ou daquele filósofo. A nós não parece bom que os professores dediquem-se a explicar os textos ou que ofereçam textos-comentário sobre a obra de um pensador. Por quê? Porque a explicação é reducionismo, é a imposição de uma determinada leitura, imposição de um olhar de quem explica. A explicação é um outro texto, é um discurso inventado pelos professores sobre o texto em questão, assim como os textos didáticos dos livros-manual de filosofia, os textos-comentário (ASPIS e GALLO, 2009, p. 94).
A proposta apresentada aponta para uma questão essencial, a autonomia da
leitura e da compreensão de texto sem a mediação do professor. Isso ocorre porque cada
ser humano possui uma bagagem de experiências que contribui para o entendimento do
texto. A impressão da leitura de cada um é única, então, nada mais justo do que viabilizar
ao aluno a sua impressão da leitura daquele texto escrito por determinado filósofo. Cabe
ao docente intervir posteriormente.
37
Essa proposta de trabalho é enriquecedora, possibilitando a abertura para o
diálogo e a troca de impressões e reflexões. O professor deve ter em mente que o ensino
de filosofia no nível médio não tem a pretensão de formar filósofos. Devido a esse fato,
as exigências de leituras devem ter objetivos claros, tal como a promoção do
desenvolvimento do pensamento filosófico. É interessante destacar também que “uma
leitura não é filosófica apenas porque os textos são filosóficos; pode-se ler textos
filosóficos sem filosofar e ler textos artísticos, políticos, jornalísticos, etc. filosoficamente”
(FAVARETTO, 1995, pp. 80-81).
3.3 – Outros recursos
São vários os recursos que, dependendo da maneira como são utilizados, podem
somar à prática do professor de filosofia, levando o aluno ao ato de filosofar. "Muitos
professores fazem uso de recursos não tradicionais, como o uso de textos literários,
vinhetas, filmes, notas de jornal etc. e buscam também novas formas de avaliação”
(OBIOLS, 2002, p. 71). Um excelente ponto de partida é a escolha de recursos que se
aproximem da realidade do aluno. Conseguindo estabelecer essa conexão, o estudante
passa a compreender que “o estudo da filosofia está diretamente ligado ao tratamento
dos problemas humanos” (ASPIS e GALLO, 2009, p. 76). Sendo assim, a filosofia torna-
se mais próxima e real, deixando para trás aquele preconceito de que a filosofia só vive
em devaneios, não fazendo parte da realidade dos alunos.
A utilização de recursos diferenciados possibilita essa aproximação. Lidia
Rodrigo defende a ideia de que “é preciso conceber estratégias didáticas capazes de
estabelecer alguma forma de relação entre esse saber e as referências culturais e
experiências de que os estudantes já são portadores ao ingressar na escola” (RODRIGO,
2009a, p. 38). Trata-se da valorização daquilo que pertence ao aluno, de não
menosprezar o seu saber e de se apropriar de recursos que lhe chamam a atenção e
fazem parte do seu cotidiano.
O planejamento ajuda o docente a organizar os conteúdos a serem ensinados.
Para o bom aproveitamento dos diversos recursos existentes, é preciso planejar com
antecedência, pois trata-se de uma ação fundamental que deve ser desenvolvida no início
38
do ano letivo. Ao desenvolver o planejamento, o professor define o que irá trabalhar e
como, planejando, também, as estratégias, metodologias e recursos que serão utilizados
em suas ações.
É neste momento que o docente deve buscar a possibilidade do desenvolvimento
de um trabalho que envolva vários saberes, pois, ao planejar as suas aulas em conjunto
com professores de outras disciplinas, o professor afasta o improviso da sua prática. A
filosofia dialoga muito bem com as outras disciplinas, basta o professor de filosofia
planejar e permitir.
O trabalho que articula várias disciplinas amplia as possibilidades de
aprendizagem, tornando o processo de ensino-aprendizagem rico e interessante. Porém,
nem sempre é necessária a participação direta do docente de outras disciplinas, pode o
trabalho ser desenvolvido por apenas um professor. O importante, neste contexto, é
saber articular, de forma clara, todos os saberes envolvidos.
[...] seria necessário considerar a necessidade de estabelecer conexões de tipo interdisciplinar com as restantes disciplinas do currículo, com todas as quais a filosofia pode e deve estabelecer ricas relações: com os estudos de língua, pela filosofia da linguagem; com a matemática, pela lógica formal; com as áreas das ciências naturais ou ciências sociais, pela epistemologia; com a área de expressão plástica e musical, pela estética; com a formação ética e cidadã, pela ética e pela filosofia política etc. Realmente, como se disse, “a filosofia é a própria interdisciplinaridade”, pois a filosofia, como quer que seja concebida, supõe sempre uma relação com outros saberes e práticas, uma reflexão de segunda ordem ou um conhecimento ou, ao menos, uma vocação à totalidade, tudo o que deveria localizar a filosofia no centro da cena curricular. Pensar as conexões e projetar experiências interdisciplinares é também uma tarefa pendente (OBIOLS, 2002, p. 136).
Estabelecer conexões desse tipo permite o diálogo da filosofia com os outros
saberes, mostrando para os alunos, na prática, que os assuntos trabalhados na escola
possuem relações, que estes saberes devem compor um conhecimento não
fragmentado, mas sim, saberes que compõem a parte de um todo. Cada professor pode
contribuir para essa construção com o seu saber de especialista, mas é importante deixar
claro que os assuntos tratados pertencem à humanidade e não a uma determinada
disciplina que é vista como detentora daquele saber.
[...] é importante salientar que este procedimento não constitui nenhuma intromissão do professor de filosofia em domínio alheio, mas sim, intercâmbio entre áreas distintas, e que poderá resultar em benefício para todos, guardadas, evidentemente, as especialidades de cada professor. Sob este aspecto, tornar-
39
se-ia indispensável que, durante o planejamento dos cursos, se estabelecesse com clareza a maneira pela qual se poderia fazer a relação interdisciplinar, com propostas de trabalhos que exigissem a passagem por disciplinas diferentes. Por exemplo, o contato dos estudantes com as ciências em geral, com a arte, com a língua portuguesa e a literatura, poderia servir de referência para as áreas da filosofia, tais como a filosofia das ciências naturais, a filosofia da linguagem, a teoria do conhecimento, a teoria das ciências humanas, a lógica e a estética. Por outro lado, as outras áreas da filosofia, como a ética, a filosofia política, a própria história da filosofia, com seu conteúdo específico, só poderão contribuir ainda mais para o alargamento do horizonte das possibilidades de investigação dos estudantes de segundo grau (NASCIMENTO, 1986, p. 117).
O desenvolvimento desse tipo de trabalho requer planejamento para estreitar os
conteúdos das diferentes disciplinas, tornando os conteúdos claros e objetivos por meio
da utilização dos mais variados recursos, pois estes podem auxiliar na promoção dos
saberes.
Outra estratégia que amplia as possibilidades de trabalho é o debate, no entanto,
essa prática exige cautela do docente. Nessa situação, o planejamento é imprescindível,
pois o controle da situação é obrigatório para o desenvolvimento das reflexões do debate.
Cabe ao professor manter o foco dos alunos na discussão que se encontra em pauta e
estabelecer a ordem para que o debate, de fato, ocorra.
Preocupados em manter um ambiente descontraído e informal em suas aulas de filosofia, alguns professores usam e abusam dos debates, quase sempre deixando a cargos dos alunos a sua condução. Podem conseguir, sem dúvida, uma aula movimentada, mas que facilmente descambará para a “bagunça”. O levantamento de opiniões sobre o assunto que vai ser tratado não só é vantajoso, mas também necessário para despertar o interesse e a atenção dos alunos. O processo de filosofar tem início na problematização da experiência vivida dia após dia pelos jovens. O ensino de filosofia só existe como tal quando rompe, não com o mundo cotidiano propriamente dito, mas com o modo cotidiano, rotineiro, familiar de perceber o mundo e pelo qual tudo lhe parece claro, óbvio, conhecido. Isto só pode ser feito por meio do diálogo e do debate que transformam a sala de aula em uma “comunidade de investigação dialógica cooperativa”. Para tanto, não é possível confiar na improvisação: o bate-papo em sala de aula, as conversas devem ser estimuladas pelo espírito de investigação e guiadas por considerações lógica e filosóficas (SOUZA, 2004, p. 165).
A ideia apresentada por Sônia Maria Ribeiro de Souza (2004) é pertinente, pois
revela as vantagens e perigos da presença do debate nas aulas de filosofia. A partir dessa
ideia, é possível refletir que o desenvolvimento dessa estratégia deve ser compreendido
como parte do processo de ensino-aprendizagem. Para que o debate torne-se uma
prática pedagógica efetiva, é necessário que o docente proporcione ações que vão além
40
dele e que investigue o conteúdo em pauta de forma mais aprofundada, promovendo
considerações filosóficas.
O desenvolvimento das tecnologias também ampliou as estratégias didáticas,
exemplo disso são os programas de televisão, úteis para introduzir assuntos polêmicos,
que, geralmente, são abordados em telenovelas e seriados. A internet também é um meio
que promove o contato direto com muitos materiais: vídeos, filmes, curtas,
documentários, músicas, videoclipes, sites de pesquisa, sites de relacionamento, jogos,
artigos de revista, de jornal, charges, história em quadrinhos, imagens, obras de arte e,
até, mesmo propagandas. O docente de filosofia pode recorrer, também, ao uso de textos
literários, poesias, crônicas, contos, letras de músicas, enfim, há um amplo repertório. O
professor pode, ainda, utilizar diferentes livros didáticos de filosofia, almanaques,
dicionários de língua portuguesa e específicos de filosofia, assim como textos filosóficos,
etc. Infinitos são os recursos, basta utilizá-los com criatividade e cautela.
Observadas essas condições, os recursos didáticos que podem ser utilizados, visando despertar o interesse dos alunos pela filosofia e motivar a sua participação nas aulas, são os mais variados: dinâmicas de grupo, audiovisuais, dramatizações, apresentação de filmes, seminários, debates, trabalhos de pesquisa, textos diversos entre outros. Essa motivação é importante e, na medida do possível, deve sempre ser buscada, pois, afinal, se a filosofia é trabalho árduo de reflexão, é também amor, desejo (philo) pelo saber. Nesse sentido, é importante que as aulas de filosofia consigam seduzir os alunos e despertar neles o prazer da reflexão, da busca da verdade, da crítica rigorosa, para que tomem gosto pela prática do filosofar e se disponham a continuá-la após o término do processo pedagógico (SILVEIRA, 2000, p. 143).
O importante nesse contexto é a compreensão do professor sobre a necessidade
de possuir um amplo repertório para promover as intervenções necessárias nos
momentos de sensibilização e problematização. Enfim, o docente precisa saber que a
busca por diversas formas de abordagem é necessária para a construção de uma postura
filosófica, sendo o conhecimento do que se pretende ensinar aspecto essencial para
garantir a relação de ensino-aprendizagem.
41
3.4 – Caderno do Professor e Caderno do Aluno da Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo – SEE/SP
Dos subsídios apresentados até o momento, os Cadernos dos Professores e
Cadernos dos Alunos8 são materiais específicos da Secretaria de Educação do Estado
de São Paulo. Estes foram elaborados para subsidiar o trabalho do professor da rede
pública estadual, em paralelo com a Proposta Curricular e o Currículo, tendo sido
implementados a partir de 2008. De forma articulada com os temas e conteúdos
propostos nesses documentos, os Cadernos do Professor e os Cadernos do Aluno
trazem diferentes estratégias e possibilidade de trabalho.
Esse material de apoio visa a abordagem temática e histórica da disciplina,
apresentando os conteúdos atrelados às competências e habilidades, utilizando
metodologias para o ensino, apresentando fragmentos de textos filosóficos, imagens,
sugestões de filmes, de pesquisas, enfim, incentivando a promoção de um ensino
reflexivo. Ao desenvolver e estruturar esses cadernos, a SEE/SP criou mais um subsídio
para auxiliar a prática docente9.
Diante do exposto, é pertinente apontar que a iniciativa da SEE/SP em buscar a
unificação do ensino, por meio da implementação de um currículo, é diferente da tentativa
de promover a unificação das estratégias didáticas e metodológicas. Os Cadernos dos
Professores e Cadernos dos Alunos são materiais didáticos construídos para apoiar e
subsidiar o desenvolvimento da ação do professor. Desse modo, estes podem ser
considerados mais uma possibilidade de trabalho, a qual tem a intenção de oferecer
8 Os Cadernos do Professor e os Cadernos do Aluno estão divididos por séries e volumes. Até o ano de 2013, constam quatro volumes para cada série que compõe o Ensino Médio. A partir de 2014, a SEE/SP começou a distribuir o material em apenas dois volumes, realizando a junção dos volumes 1 e 2, de 2013, no volume 1, de 2014; e os volumes 3 e 4, de 2013, foram transformados em volume 2, de 2014. 9 O programa São Paulo Faz Escola foi criado em 2007 e tem como foco a implantação de um currículo pedagógico único para todas as mais de 5 mil escolas da rede pública estadual. Com o programa, todos os alunos da rede estadual recebem o mesmo material didático e seguem o mesmo plano de aula. O fato de todas as unidades escolares contarem com o mesmo currículo pedagógico auxilia na melhora da qualidade de ensino da rede pública, uma vez que coloca todos os alunos da rede estadual no mesmo nível de aprendizado. SÃO PAULO, SEE/SP (Disponível em: http://www.educacao.sp.gov.br/portal/projetos/sao-paulo-faz-escola. Acesso em 11 de jul. de 2013.).
42
sugestões de sequências didáticas em que os conteúdos e as habilidades viabilizam o
aprendizado de competências.
No entanto, é importante destacar que essa proposta de unificação do ensino por
meio de materiais de apoio trata-se apenas de uma sugestão, sendo arriscado afirmar
que os professores seguirão o mesmo plano de aula como expõe o texto que apresenta
o Programa São Paulo Faz Escola. Nesse ponto, é importante ter claro que um currículo
que unifica e direciona os conteúdos e temas, assim como as competências e
habilidades, tem um significado distinto do material de apoio construído pela SEE/SP.
Expondo de forma mais clara e objetiva, o Currículo implementado deve ser seguido de
forma obrigatória, mas o material de apoio precisa ser compreendido como mais um
subsídio.
Desde a implementação do Currículo, a interpretação equivocada da
obrigatoriedade do uso dos materiais de apoio - Caderno do Professor e Caderno do
Aluno - tem sido objeto de discussão na rede. Em um primeiro momento, os cadernos
chegaram às escolas como material de uso obrigatório. No entanto, o texto presente na
página de apresentação do material, elaborado por Maria Inês Fini - Coordenadora Geral
Projeto São Paulo Faz Escola, não apresenta essa afirmação:
Caros (as) professores (as), este volume dos Cadernos do Professor completa o conjunto de documentos de apoio ao trabalho de gestão do currículo em sala de aula enviados aos professores em 2009. Com esses documentos, a Secretaria espera apoiar seus professores para que a organização dos trabalhos em sala de aula seja mais eficiente. Mesmo reconhecendo a existência de classes heterogêneas e numerosas, com alunos em diferentes estágios de aprendizagem, confiamos na capacidade de nossos professores em lidar com as diferenças e a partir delas estimular o crescimento coletivo e a cooperação entre eles. A estruturação deste volume dos Cadernos procurou mais uma vez favorecer a harmonia entre o que é necessário aprender e a maneira mais adequada, significativa e motivadora de ensinar aos alunos. Reiteramos nossa confiança no trabalho dos professores e mais uma vez ressaltamos o grande significado de sua participação na construção dos conhecimentos dos alunos (SÃO PAULO, 2009b, 1ªsérie Volume 4 p. 5).
Embora o texto não apresente a obrigatoriedade do uso deste material, este
continuou sendo interpretado como obrigatório em muitas unidades escolares. Com a
intenção de deixar claro que os Cadernos do Professor e Cadernos do Aluno são
materiais de apoio, no trecho abaixo, o Secretário da Educação do Estado de São Paulo,
Herman Voorwald, apresenta, na nova versão de 2014, a proposta do material.
43
Enfim, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo faz Escola, apresenta orientações didático-pedagógicas e traz como base o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São Paulo, que pode ser utilizado como complemento à Matriz Curricular. Observem que as atividades ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias, dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade da sua escola e de seus alunos. O Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam a construção do saber e a apropriação dos conteúdos das disciplinas, além de permitir uma avaliação constante, por parte dos docentes, das práticas metodológicas em sala de aula, objetivando a diversificação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagógico (SÃO PAULO, 2014, 1ª série Volume 2 p. 3).
Como se trata de um subsídio, o Caderno do Professor deve ser encarado como
mais um material que apoia o trabalho do docente em sala de aula. Neste capítulo, foram
abordados vários recursos que podem contribuir para o desenvolvimento de aulas mais
didáticas e promover um ensino emancipador. Observou-se que não existem materiais
prontos e acabados, assim como não existe um método ideal. O ensino de filosofia lida
com uma complexidade de elementos que o tornam difícil a prática pedagógica do
professor de tal disciplina, mas não impossível. Os desafios são muitos, no entanto, os
recursos também. Diante desse contexto, cabe ressaltar que não existe material perfeito
e que todos precisam de adequações de acordo com a realidade de atuação do docente.
Para que o professor possa tornar-se protagonista ou sujeito da sua prática didático-pedagógica, é preciso conceder-lhe liberdade para construir seu discurso didático em consonância com sua formação, convicções filosóficas e ideias pedagógicas. Semelhante liberdade, entretanto, não quer dizer absoluto livre-arbítrio ou autonomia independente de qualquer limite. Como disciplina escolar, a Filosofia está inserida num sistema regulamentado pelo Estado, fazendo parte de uma grade curricular que precisa garantir certos conteúdos mínimos comuns às diversas instituições escolares (RODRIGO, 2011, p. 13).
A Filosofia e seu ensino são norteados por documentos oficiais que regulam e
ordenam o que minimamente deve ser desenvolvido nas instituições de ensino. É
evidente que o professor deve ter autonomia para construir a sua prática da melhor
maneira possível, porém essa autonomia não pode ser confundida, pois, na medida que
o docente constrói sua prática, este não pode ignorar aspectos fundamentais para o
desenvolvimento do ensino de filosofia, ensinando o que lhe vier à cabeça, sem seguir
as orientações de conteúdos e temas dos documentos oficiais, afinal, trata-se do ensino
de filosofia para os alunos do nível médio e não de um curso livre de filosofia. A utilização
44
de vários recursos enriquece os aspectos didáticos do ensino de filosofia, mas todas
essas ações devem sempre estar atreladas ao que está previsto nos documentos oficiais.
45
Capítulo II – O Curso Específico de Formação em Filosofia da EFAP/SP
Este capítulo tem como objetivo explicar a origem histórica, as justificativas e a
estruturação do Curso Específico de Formação oferecido pela EFAP/SP – Escola de
Formação e Aperfeiçoamento de Professores Paulo Renato Costa Souza, assim como
apresentar os objetivos da SEE/SP em relação ao desenvolvimento dessa formação.
Para tanto, será realizada uma breve exposição sobre a implementação da Proposta
Curricular do Estado de São Paulo, no ano de 2008, sobre os subsídios criados para
auxiliar este processo, sobre os cursos que abordaram os conteúdos e que refletiram
sobre a prática deste Currículo, sobre o percurso de formação, aprimoramento e estudo,
até chegar no Currículo de Ciências Humanas e suas Tecnologias, lançado em 2010.
Neste capítulo, também será realizada a verificação dos objetivos do Curso Específico
de Formação, partindo da análise da estrutura do curso, o qual fora criado para oferecer
formação continuada ao docente que ingressa, via concurso público, na SEE/SP10.
1 – A estrutura do Curso Específico de Formação no quadro da Proposta Curricular do
Estado de São Paulo
Este tópico tem como finalidade apresentar o surgimento do curso no quadro da
Proposta Curricular, contextualizando as etapas de formação continuada dos professores
com relação à consolidação do Currículo implementado. Também serão apresentados os
objetivos da EFAP/SP no que tange à promoção da formação continuada dos
professores, por meio do Curso Específico de Formação, expondo sua relação com o
concurso público realizado no ano de 2010. Este item apresenta também, de forma breve,
a estrutura do curso que se encontra dividido em duas etapas: Formação didático
pedagógica e Formação específica.
10 Na gestão do governador José Serra do PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira.
46
1.1 – O surgimento do curso no quadro da Proposta Curricular
Conhecer a origem histórica do curso demanda a compreensão da estrutura que
antecede a criação da EFAP/SP11. O ensino de filosofia no Estado de São Paulo, por
muitos anos, ficou orientado pela Proposta Curricular para o ensino de filosofia: 2º grau
de 1992. Depois da elaboração desse documento, a educação brasileira obteve a LDB –
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, os PCNs – Parametros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, em 1998, os PCN+ Orientações
Educacionais Complementares aos parâmetros Curriculares Nacionais, em 2002 e as
Orientações Curriculares para o Ensino Médio, em 2006. Mesmo depois de dezesseis
anos, o documento oficial do Estado, que norteava a ação docente para o ensino de
filosofia, continuava sendo o mesmo. No ano de 2008, a SEE/SP lançou a Proposta
Curricular do Estado de São Paulo: Filosofia, trazendo novas orientações para o ensino
de filosofia no nível médio.
Essa Proposta Curricular, elaborada para todas as disciplinas, foi entregue aos
docentes acompanhada dos Cadernos do Professor e dos materiais didáticos elaborados
para auxiliar sua implementação. Tais materiais contemplavam, em sua estrutura,
situações de aprendizagens que consideravam os conteúdos previstos na Proposta
Curricular.
Desse modo, a elaboração dos Cadernos do Professor apresentava uma divisão
por séries e volumes e visava o desenvolvimento de atividades distribuídas em situações
de aprendizagens que possuíam uma sequência didática composta de diferentes
estratégias, estas visavam contemplar as competências específicas para cada conteúdo
trabalhado. Este material apresenta também “orientações para a gestão da sala de aula,
para a avaliação12 e recuperação, bem como de sugestões de métodos e estratégias de
11 Em cinco de maio de 2009, a EFAP/SP - Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores Paulo Renato Costa Souza foi criada por meio do Decreto nº 54.297. A principal intenção da SEE/SP ao criar esta escola foi promover a oferta de cursos e certificar o aproveitamento dos professores participantes, então, a EFAP/SP, passou a oferecer cursos de formação continuada aos docentes da rede de forma centralizada, promovendo essas ações nas modalidades semipresencial e à distância, tudo atrelado ao currículo vigente.
12 Dentro deste contexto, é válido destacar que o Caderno do Professor elaborado pela SEE/SP conta com um aspecto agravante, pois as suas propostas de avaliação seguem o modelo tradicional conteudista e rompem com a ideia de uma avaliação emancipadora que promova o aprendizado do aluno. Se a Secretaria
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trabalho nas aulas, experimentações, projetos coletivos, atividades extraclasse e estudos
interdisciplinares” (SÃO PAULO, 2008, p.9). A principal intenção da SEE/SP ao construir
estes cadernos foi possibilitar aos docentes o acesso a um material pronto que
promovesse o ensino da forma desejada por ela, possibilitando a construção do
conhecimento de forma gradual e contemplando a relação ensino-aprendizagem.
No entanto, além da criação dos cadernos, foi preciso o desenvolvimento de
algumas estratégias que ampliassem a implementação dessa nova Proposta Curricular.
A construção do sítio13 do Programa São Paulo Faz Escola foi uma delas. Nesse espaço,
a SEE/SP centralizou informações referentes à implementação da Proposta Curricular,
como os materiais existentes para subsidiá-la e os vídeos que explicam os seus objetivos.
Foram criados, também, cursos que trabalharam de forma direta o material, construídos
para subsidiar essa implementação.
A SEE/SP propôs um Currículo para os níveis de ensino fundamental, anos finais
e ensino médio, desejando, por meio deste, “contribuir para a melhoria da qualidade das
aprendizagens de seus alunos” (SÃO PAULO, 2008, p. 8), e “garantir a todos uma base
comum de conhecimentos e competências” (SÃO PAULO, 2008, p. 8). A apresentação
geral dessa nova proposta enfatizou que o foco está na aprendizagem e que os
conteúdos estão atrelados às competências, seguindo, assim, as tendências
pedagógicas da atualidade.
Essa Proposta Curricular apresenta a ideia de que a escola pública é
viabilizadora do acesso à educação para as camadas mais pobres da sociedade e a
qualidade desta deve possibilitar a superação desses desafios. Para compor um
Currículo comprometido com essas demandas, seis princípios nortearam a proposta: I
Uma escola que também aprende; II O Currículo como espaço de cultura; III As
competências como referência; IV Prioridade para a competência da leitura e da escrita;
V Articulação das competências para aprender e VI Articulação com o mundo do trabalho.
da Educação visa a promoção de um ensino baseado na promoção de competências e habilidades como a esta se propõe a promover uma avaliação conteudista? Mas essa é apenas uma observação crítica sobre a proposta do material, até mesmo porque o este é apresentado como possibilidade de trabalho e, não, como um manual pronto e acabado que deve ser seguido à risca. 13 Acesso ao sítio através de: http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/HOME/tabid/1208/Default.aspx
48
Estes princípios são apresentados por meio do entendimento que a SEE/SP possui das
carências da educação paulista.
Com a intenção de apresentar alguns aspectos importantes, no início do texto da
parte específica da Proposta Curricular de Filosofia o primeiro apontamento realizado
expõe a ideia que o senso comum tem da disciplina:
No senso comum, filosofar é tirar os pés do chão e ficar em devaneios em cima das nuvens. Essa imagem do pensador com olhar e mente distantes, flutuando sobre os mortais, foi criada com a ajuda dos próprios filósofos e professores de Filosofia, durante anos especializados numa espécie de trava-línguas do pensamento e alheios às demais manifestações e dimensões da Cultura (SÃO PAULO, 2008, p. 41).
Na sequência da apresentação da Proposta Curricular de Filosofia, são
apontadas as seguintes indagações: Qual o papel que a filosofia deve desempenhar? E
qual a função do ensino de filosofia no desenvolvimento de competências e habilidades?
Buscando responder de forma direta e objetiva os questionamentos
mencionados, é apresentada a seguinte ideia acerca do ensino de filosofia:
[...] propõem reflexões que permitem compreender melhor as relações histórico-sociais e, ao mesmo tempo, inserir o educando no universo subjetivo das representações simbólicas, elevando a Educação a um nível político-existencial, capaz de superar a mera transmissão e aquisição de conteúdos, feitas de modo mecânico e inconsciente (SÃO PAULO, 2008, p.41).
Dessa maneira, o ensino de Filosofia é apresentado como algo dinâmico, vivo e
com papel importante para o desenvolvimento do senso crítico e da cidadania. No
entanto, não cabe apenas à disciplina filosofia tais atributos, estes dependem, também,
das demais disciplinas, do universo escolar, dos ambientes sociais e da formação
familiar. O ensino de filosofia também pode contribuir nesse sentido, mas não pode deixar
de lado os seus conteúdos específicos, os quais precisam ser trabalhados para o
desenvolvimento de conhecimentos filosóficos.
A Proposta Curricular aponta que a relação ensino-aprendizagem pode ser mais
dinâmica se o professor trabalhar de forma interdisciplinar, o que pode tornar o
aprendizado mais contextualizado e interessante. Para promover um ensino significativo,
o docente deve ter consciência da importância da contextualização para viabilizar e
promover a reflexão filosófica, o desenvolvimento do senso crítico e da cidadania.
49
Posteriormente à apresentação da Proposta Curricular de Filosofia, alguns
problemas foram levantados para o desenvolvimento da promoção de um ensino de
qualidade. Entre eles, estão presentes algumas questões: como formar professores para
o ensino de filosofia no ensino médio? Será que os cursos superiores preparam,
adequadamente, esses professores? Qual a qualidade do material didático disponível?
Como despertar o interesse dos alunos e incentivá-los a pensar filosoficamente? Todas
essas perguntas são pertinentes, pois apontam aspectos fundamentais para a ação
docente, os quais vão desde a qualidade da formação inicial para os professores que
atuarão no ensino médio, até a dificuldade do desenvolvimento de ações didáticas que
incentivam os estudantes a pensarem de forma filosófica. Essas indagações demonstram
os obstáculos do caminho a ser percorrido no desenvolvimento desse ensino, procurando
gerar um incômodo no professor que entra em contato com a Proposta Curricular.
As duas primeiras perguntas remetem ao objeto de estudo dessa pesquisa: a
formação continuada do docente graduado em filosofia sendo “preparado” pelo curso
obrigatório da EFAP/SP para a sua ação no ensino médio. Mais adiante, no Capítulo III
deste trabalho, essas indagações serão abordadas, buscando compreender a formação
inicial e as contribuições do curso da EFAP/SP para a atuação docente. Com relação às
perguntas que abordam a qualidade dos materiais e o interesse dos alunos na
aprendizagem dos conteúdos, podemos dizer que tais indagações possibilitam reflexões
sobre as ações necessárias na prática docente para a promoção de um ensino
significativo, transformador e filosófico, tanto é que estas já foram abordadas no Capítulo
I deste trabalho.
Com relação aos materiais, como já exposto no início deste trabalho, não existe
material perfeito, nem tampouco fórmula mágica e receita pronta para o ensino de
filosofia, estes são subsídios que, frequentemente, precisam ser adaptados. Os
problemas levantados neste trabalho, são, no conjunto, essenciais para a reflexão sobre
o ensino de filosofia, pois cada um deles perpassa aspectos que necessitam de atenção
especial para o seu desenvolvimento.
Na sequência, a Proposta Curricular enfatiza a importância do desenvolvimento
do ensino contextualizado e pertinente. Apresentando um exemplo claro: o educando que
não se sentir sensibilizado e não compartilhar do problema filosófico que lhe é
50
apresentado - se para ele aquilo for apenas a estrutura do pensamento de um filósofo,
sem nexo e conexão com o tempo e a história - o ensino de filosofia estará fadado ao
fracasso, isto porque, a contextualização do ensino traz consigo significados que tornam
possível a aproximação dos discentes com os conteúdos filosóficos.
Além destes, outros dois assuntos são tratados pela Proposta Curricular de
Filosofia antes de apresentar os conteúdos por série e bimestre. Um deles refere-se à
História da Filosofia, que, nesta proposta, “não deve constituir a principal orientação para
o ensino da disciplina na escola pública” (SÃO PAULO, 2008, p. 43), pois o foco do ensino
tem o “olhar voltado para o mundo que se aprende a pensar filosoficamente” (SÃO
PAULO, 2008, p. 43). A proposta apresenta a ideia de que, para ser pertinente, o ensino
de filosofia deve partir da realidade do aluno, uma das estratégias para se atingir tal
proposta é a de recolher “material nas ruas que o aluno percorre para chegar à escola”
(SÃO PAULO, 2008, p. 43). Sendo assim, o docente pode explorar assuntos da realidade
do discente e relacioná-los aos conteúdos previstos, atrelando-os aos filósofos e à
História da Filosofia. Nesse contexto, a História da Filosofia torna-se apenas uma
referência para o desenvolvimento do ensino, o qual deve partir da realidade do aluno.
O outro assunto refere-se à importância da prática cotidiana da leitura, a qual
deve ter uma relação direta com a prioridade da competência da leitura e da escrita,
princípio apresentado como referência da Proposta Curricular. Essa questão é exposta
de forma breve no documento, de modo que a Proposta Curricular de Filosofia poderia
ter dado maior ênfase a este aspecto, explicando de forma mais aprofundada as
possibilidades de trabalho dessas competências.
É válido destacar que, na Proposta Curricular, existe um problema relacionado
às competências e habilidades, que, embora sejam referenciais, não aparecem de forma
direta e articulada aos temas e conteúdos previstos. Tais competências são
apresentadas apenas no material de apoio que foi criado especialmente para subsidiar
essa implementação. Perante essa informação, fica evidente que, neste contexto, os
Cadernos do Professor são mais do que um apoio, pois o uso destes torna-se necessário
para o desenvolvimento de um ensino baseado em competências e habilidades como
visa esta Proposta. Devido a este fato, a autonomia docente pode tornar-se impeditiva.
51
Da Proposta Curricular de 2008 para o Currículo de 2010, houve poucas
modificações na parte geral que apresenta o documento. A novidade está relacionada
aos documentos que subsidiam a prática docente, pois, no ano de implementação da
Proposta Curricular, existiam apenas os Cadernos do Professor. No ano seguinte, a
SEE/SP ampliou o material didático, construindo uma versão deste voltada para o aluno.
Tal material fora construído para ser distribuído a todos os estudantes da rede, sendo
dividido por disciplina, série e bimestre, trata-se do Caderno do Aluno.
O atual Currículo aponta para a importância do retorno da filosofia no ensino
médio “para ampliar o significado e os objetivos sociais e culturais da educação” (SÃO
PAULO, 2010, p. 26). Percebe-se que a filosofia é uma disciplina importante para
desenvolver com os alunos reflexões sobre a realidade e um de seus papeis é tirar os
educandos do “status quo” e possibilitar a eles o desenvolvimento do senso crítico.
Nesse documento, a apresentação da importância da leitura é feita de forma mais
adequada, ficando evidente que há uma relação direta do ensino da área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias e da Filosofia com os princípios norteadores do Currículo:
[...] Ora, considerando que os objetivos fundamentais dos atuais programas curriculares consistem no desenvolvimento, pelos estudantes, de competências e habilidades de leitura, reflexão e escrita, contextualizadas social e culturalmente no mundo do trabalho, a problematização dos temas tratados em sala deve ser amparada pela leitura de textos (SÃO PAULO, 2010, p. 27).
O Currículo apresenta a leitura como competência necessária que precisa ser
desenvolvida na escola e que encontra na área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
um “espaço” válido e importante para o seu desenvolvimento.
Comparando a Proposta Curricular de Filosofia de 2008 ao novo Currículo, é
possível perceber que a apresentação da disciplina foi desenvolvida de forma mais
completa, contemplando aspectos importantes para a compreensão e o desenvolvimento
do trabalho docente. Nesse documento, estão presentes itens essenciais para o
desenvolvimento do ensino de Filosofia, tais como: breve histórico da disciplina,
fundamentos para o ensino de filosofia, filosofia para o ensino médio, assim como as
reflexões sobre a organização dos conteúdos básicos, sobre a metodologia de ensino-
aprendizagem dos conteúdos básicos, sobre os subsídios para a implementação do
Currículo proposto, sobre a organização das grades curriculares (série/ano e bimestres),
52
sobre os conteúdos associados a habilidades e, até mesmo, sobre a referência
bibliográfica.
No item Filosofia para o Ensino Médio, foram levantadas reflexões sobre a
promoção do debate filosófico dentro da escola, de forma contextualizada, direta e
objetiva, sem criar distanciamentos acadêmicos, defendendo a ideia de que a filosofia
deve fazer parte da vida dos educandos. Tal procedimento se dá no momento em que os
conteúdos da disciplina passam a se relacionar com as influências que os alunos
armazenam em seus ambientes sociais e familiares. O Currículo apresenta a ideia de
que é preciso construir valores atrelados à cidadania de forma conjunta e articulada.
Na parte da Metodologia, o Currículo versa acerca da participação do professor,
a qual deve acontecer de forma ativa no momento da formação de valores e na produção
do conhecimento dos educandos. O documento destaca a importância do trabalho
desenvolvido de forma interdisciplinar e aponta que a filosofia pode assumir uma de suas
principais funções, “a de ser uma ferramenta conceitual, produtora de síntese, animando
o debate multidisciplinar e elevando os padrões da educação básica” (SÃO PAULO,
2010, p. 117).
Sobre a metodologia de ensino-aprendizagem dos conteúdos básicos, está
presente a reflexão sobre o ensino por meio de uma abordagem histórica (centro ou
referencial) e por meio de uma abordagem temática. Fica evidente que o Currículo aborda
a metodologia de ensino de forma um pouco mais completa do que a Proposta Curricular,
pois o atual documento expõe, de forma mais elaborada, a necessidade da articulação
entre a parte histórica e a parte temática, sendo esta relação necessária para o
desenvolvimento de um ensino mais completo.
O Currículo de Filosofia de 2010 apresenta os conteúdos previstos associados a
habilidades, relacionando-os e organizando-os em grades curriculares, de acordo com
as séries e bimestres. Esses quadros, que descrevem conteúdos e habilidades,
possibilitam ao docente maior clareza à sua prática, libertando o professor da
obrigatoriedade do uso do material de apoio criado pela SEE/SP, pois, a partir do
momento que é estabelecido um parâmetro, o professor pode construir suas próprias
situações de aprendizagem, contemplando os conteúdos previstos atrelados às
competências e habilidades necessárias previstas no documento.
53
Na nova versão do documento, também foram apresentadas as referências
bibliográficas14, estas possibilitam a compreensão do caminho percorrido para a
construção do documento, transparecendo o referencial que fomentou a sua estrutura,
além do fato dessas referências ampliarem a possibilidade de estudo do docente que
atua na rede pública estadual paulista, trazendo subsídios para a sua pesquisa.
No decorrer dos anos de 2008, 2009 e 2010, a SEE/SP realizou uma série de
ações que auxiliaram a consolidação da implementação do novo Currículo Oficial. Uma
dessas ações foi a oferta do curso de formação continuada de sessenta horas - A Rede
Aprende com a Rede, oferecido pela SEE/SP, por meio do sítio São Paulo faz Escola, no
ano de 2008. Este procurou desenvolver o aprofundamento dos conceitos e teorias que
norteiam as Propostas Curriculares, bem como as metodologias indicadas nos materiais
de apoio fornecidos aos professores. Porém, o curso não contemplou todos os
professores de filosofia que atuam na rede. Em continuidade de suas ações, no ano de
2009, a SEE/SP promoveu novamente o mesmo curso, no entanto, mais uma vez não foi
possível contemplar todos os professores envolvidos com o ensino de filosofia da rede
pública estadual.
Com o objetivo de dar continuidade ao estudo do currículo vigente, a SEE/SP
promoveu seu último concurso de maneira diferenciada, gerando mais uma tentativa de
trabalhar o aprimoramento do ensino. Tal ação possibilitou aos professores ingressantes
uma formação complementar sobre a sua estrutura e a do Currículo atual.
No próximo item deste trabalho, Os objetivos da EFAP/SP, falaremos a respeito
de como a SEE/SP se preparou para ampliar suas ações de formação continuada na
rede, por meio da criação da EFAP/SP e da oferta de cursos, dentre eles, o Curso
Específico de Formação para os ingressantes.
1.2 – Os objetivos da EFAP/SP
Os objetivos da EFAP/SP estão voltados para a contribuição da melhoria da
qualidade do ensino. Para viabilizar o acesso às informações e, também, aos cursos, a
14 Anexo 01 - Quadro com as referências bibliográficas apresentadas no Currículo de Filosofia.
54
SEE/SP criou o sítio15 da EFAP/SP. Entre os cursos oferecidos, encontra-se o Curso
Específico de Formação, foco de análise desta pesquisa. É importante ter em mente que
este curso foi obrigatório para os professores ingressantes do concurso público de 2010.
1.3 – A relação do Concurso com o Curso Específico de Formação
Em janeiro de 2010, houve a abertura de concurso público para o cargo de
professor de filosofia, conforme determina o artigo 7º, da Lei Complementar 1094, de 16
de julho de 2009. O concurso foi realizado em três etapas sucessivas: prova, títulos e
Curso Específico de Formação, o qual fora seguido de prova de aptidão. O Curso
Específico de Formação teve duração aproximada de quatro meses. Essa medida da
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo foi mais uma tentativa de trabalhar o
aprimoramento do ensino nas salas de aula da sua rede, possibilitando aos professores
ingressantes uma formação complementar sobre a estrutura da SEE/SP.
Dessa maneira, o professor de filosofia, que ingressou no concurso a partir do
contexto apresentado, teve que passar, obrigatoriamente, pela EFAP/SP. Aos olhos da
SEE/SP, essa formação visa a promoção e o aprimoramento da prática docente do
ensino de Filosofia por meio do curso. Sua estrutura pretende promover a formação
continuada do docente, viabilizando formações didáticas complementares,
pressupondo16 que carências fazem parte da formação inicial dos professores. A
EFAP/SP pretende, também, ao longo do curso, apresentar a estrutura da SEE/SP,
situando o docente em seu ambiente de trabalho e colocando-o frente ao Currículo atual.
Antes de explorar os módulos presentes nas duas diferentes propostas de
formação do Curso Específico de Formação, é interessante conhecer quais são os seus
objetivos e a sua estrutura. O curso visa apresentar aos docentes ingressantes de todas
as disciplinas o Currículo adotado pelo Estado, as formas de trabalho e a realidade das
15Acesso ao sítio da EFAP/SP por meio do endereço eletrônico: http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/Default.aspx?alias=www.rededosaber.sp.gov.br/portais/efap
16 Este pressuposto pode ser compreendido a partir de uma exposição de preconceito da SEE/SP em relação à formação inicial dos professores, pois, ao criar um curso específico de formação, como etapa obrigatória no concurso público, seguido de prova de aptidão, fica explícita a necessidade da promoção da formação continuada. Nesse sentido, a SEE/SP generaliza a formação inicial dos professores ingressantes, obrigando-os a passar por um curso que irá prepará-los para a ação docente.
55
escolas estaduais. O curso está estruturado por atividades a distância, as quais totalizam
trezentas e sessenta horas, ao longo de três encontros presenciais, além de tais práticas,
é realizada uma prova objetiva presencial. A participação mínima do docente exigida no
curso é de setenta e cinco por cento e foi incentivada pela SEE/SP por meio do
pagamento de bolsa de estudos. O curso pretende dar subsídios para que o docente
passe na prova de aptidão e para que este conclua a última etapa do concurso.
Durante o período de formação, os docentes entraram em contato com os
conteúdos digitais que foram divididos em módulos. Dentro dos módulos, foram
apresentadas referências bibliográficas, atividades e exercícios, pesquisas, etc. Tais
atividades propostas ocorreram no AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem,
desenvolvido pela EFAP/SP.
1.4 – A estrutura do curso – Formação didático-pedagógica e Formação
específica
Este item tem como objetivo apresentar de forma breve a estrutura proposta para
o Curso Específico de Formação17. A carga horária e os conteúdos do curso foram
divididos em dezoito módulos, sendo que cada um deles possuía vinte horas e duraram
uma semana. Os módulos foram organizados em duas etapas18. A primeira, denominada
Núcleo Básico oferece para os ingressantes de todas as disciplinas a parte geral do
curso, a qual trata de assuntos gerais que perpassam a formação didático-pedagógica.
Essa parte do curso encontra-se dividida em oito módulos: Módulo 1: A Secretaria da
Educação do Estado de São Paulo; Módulo 2: Profissão professor; Módulo 3: A carreira
17 A apresentação da estrutura se dará a partir do relato da experiência vivenciada como docente ingressante na rede no ano de 2011. 18 A primeira etapa contempla oito semanas e é comum aos professores de todas as disciplinas que fizeram parte do concurso. Aborda a função e a identidade do professor, a identidade e diversidade dos alunos e sua relação com a aprendizagem e o conhecimento, além da cultura escolar e familiar. A segunda etapa tem duração de dez semanas e os professores terão aulas sobre as respectivas especialidades, ou seja, as disciplinas sobre as quais lecionarão. SÃO PAULO, SEE/SP. Disponível em: http://www.rededosaber.sp.gov.br/portais/ingress/SobreoCurso/Formato/tabid/1439/language/pt-BR/Default.aspx Acesso em 22 jul. 2013.
56
docente: procedimentos da ação pedagógica; Módulo 4: Identidade e diversidade cultural;
Módulo 5: Aprendizagem e relação com o conhecimento; Módulo 6: Cultura escolar e
cultura familiar; Módulo 7: Educação inclusiva e Módulo 8: Currículo e avaliação.
A segunda etapa, denominada Formação Específica, oferece aos ingressantes
assuntos referentes à formação específica de cada disciplina. No caso específico da
disciplina Filosofia, os módulos são os seguintes: Módulo 9: Filosofia, raciocínio lógico e
intelecto; Módulo 10: Preconceito e áreas do saber; Módulo 11: O indivíduo, a sociedade
e o Estado; Módulo 12: Política; Módulo 13: Teoria do conhecimento na modernidade;
Módulo 14: Filosofia e ciência; Módulo 15: Liberdade; Módulo 16: Ética, valores e
concepções; Módulo 17: Ideologia, alienação e cultura e Módulo 18: Estética.
O Núcleo Básico foi designado a todos os docentes ingressantes, já que os seus
conteúdos têm como objetivo a promoção de uma formação didático-pedagógica, assim
como a apresentação da SEE/SP e seu contexto. Trata-se de uma etapa fundamental,
pois, por meio dela, o docente tem a oportunidade de refletir sobre o Currículo
implementado e conhecer a estrutura da rede.
Os módulos possuem conteúdos que são apresentados por meio de diferentes
estratégias de ensino, dentre elas, estão presentes atividades do tipo: quiz (série de
questões para avaliar conhecimentos sobre um determinado tema), questões
dissertativas, questões objetivas, atividades de vivência, fóruns destinados para a troca
de experiências, reflexões sobre os conteúdos apresentados, compartilhamento de
ideias, questionamentos, argumentações e posicionamentos. Além disso, são
apresentadas sugestões de pesquisas, leituras, vídeos e referências bibliográficas.
Como o objetivo central da análise deste trabalho está voltado para a formação
continuada em Filosofia, a primeira etapa do curso será apresentada de forma breve,
apontando apenas os temas que foram contemplados pelos módulos do Núcleo Básico.
O Módulo 1 da formação tem caráter introdutório apresenta a proposta geral do
curso e a sua estrutura, descrevendo as partes que constituem a SEE/SP, promovendo
reflexões sobre alguns conceitos do Currículo vigente.
O Módulo 2 inicia-se com a reflexão sobre a profissão de professor, expondo a
existência de diferentes características da atividade docente diante de variados períodos
e contextos. O enfoque do módulo está na demonstração da atuação docente no Brasil
57
do século XXI. Este apresenta o perfil desejado pela SEE/SP de forma ponderada e
reflete sobre a importância da construção conjunta do Projeto Político Pedagógico. O
módulo apresenta, também, a necessidade do contrato didático como uma estratégia de
trabalho, sendo esta uma ação que assegura a boa relação de convivência entre os
professores e os alunos, aspecto primordial para desenvolver a relação ensino-
aprendizagem.
O Módulo 3 aborda procedimentos para o desenvolvimento da ação pedagógica,
perpassando o planejamento, o plano anual de ensino e o plano de aula. Em tal módulo
reflete-se sobre os desafios existentes em relação ao tempo e espaço, sobre o
desenvolvimento dos trabalhos em grupos e sobre a elaboração de projetos.
O Módulo 4 tem como objetivo a promoção da compreensão do docente sobre
as principais características dos jovens que estudam nas escolas públicas estaduais.
Pretende-se desenvolver reflexões sobre “quem são os alunos da rede”. Então, nesse
sentido, enfatiza-se a ideia de que é preciso compreender as características dos jovens
para conseguir estabelecer, com eles, uma relação de aprendizagem. O módulo salienta
a importância do protagonismo juvenil e das intervenções adequadas nos momentos de
conflito.
O Módulo 5 trata do principal objetivo do professor na escola: a promoção da
aprendizagem dos alunos e a compreensão de como eles se relacionam com o
conhecimento. Para desenvolver reflexões sobre o tópico, o módulo aborda as
competências e habilidades, as necessidades de aprendizagem, os conteúdos e o seu
papel. Enfatiza-se que o maior objetivo do professor é fazer o aluno aprender, adquirir
conhecimentos, ser competente, ter domínio de habilidades e estar apto a conseguir
prosseguir os estudos encontrando a sua vocação e realização profissional.
O Módulo 6 trata das relações que devem existir entre escola e família. Aponta-
se a necessidade do docente de compreender as diversas possibilidades de famílias que
se encontram, hoje, em contínua transformação. Os modelos de família apresentados
pelo módulo apenas sugerem a ampla possibilidade de constituição dos pais ou
responsáveis pela educação das crianças e jovens que frequentam as instituições de
ensino. Apresenta-se, ainda, a ideia de que é essencial que as famílias dos alunos sejam
58
compreendidas e atraídas para o ambiente escolar, participando e se envolvendo na
formação dos alunos.
O Módulo 7 situa o docente sobre as mudanças ocorridas na educação referente
à inclusão. Para tanto, explora algumas noções de deficiência e de educação especial.
Além de abordar a concepção de educação escolar inclusiva, trata da questão do
preconceito e do estigma como fatores presentes na vida dos que são diferentes.
O Módulo 8 é o último da primeira etapa, e aborda o papel da avaliação no
Currículo. Este reflete sobre duas perspectivas de avaliação: interna e externa. O módulo
evidencia que pretende promover reflexões sobre os principais aspectos que envolvem a
avaliação, apresentando, também, os sistemas de avaliação externa no Brasil e no
Estado de São Paulo.
A apresentação breve e sintetizada da estrutura da primeira etapa do Curso
Específico de Formação demonstra as pretensões de formação da SEE/SP. No entanto,
o próximo item deste capítulo, a Formação Específica em Filosofia, se dará de forma mais
aprofundada, pois, por meio deste, existe a intenção de explorar os detalhes oferecidos
por esta formação, buscando identificar as possíveis contribuições dessa etapa para a
complementação da formação inicial e para o aprimoramento da prática docente
relacionada ao ensino de filosofia no nível médio.
2 – A Formação específica em Filosofia
A segunda etapa do Curso Específico de Formação é denominada Formação
Específica. Seus módulos são destinados exclusivamente para os docentes aprovados
no concurso de Filosofia. Nessa etapa, o cursista se aproxima das discussões teórico-
práticas relativas ao exercício docente, a partir de conteúdos específicos. A pretensão
dessa etapa é apresentar o Currículo elaborado para a Filosofia, criar condições para que
o docente implemente este Currículo e utilize os materiais de apoio - Cadernos do
Professor e Cadernos do Aluno -, além de fomentar reflexões sobre as metodologias de
trabalho e as situações de aprendizagem.
59
A formação específica está dividida em dez módulos, totalizando uma carga
horária de duzentas horas, separadas em dez semanas. De forma geral, o curso defende
a ideia do professor pesquisador e visa preservar as principais características da filosofia,
tais como: aprimorar o senso crítico, a capacidade dialógica, a tolerância à diversidade,
a reflexão estética, o interesse por princípios éticos e o compromisso com a cidadania.
Os objetivos específicos dessa etapa visam apresentar recursos e subsídios que
estabeleçam o vínculo da prática docente com a realidade da escola, aproximando a
formação acadêmica das necessidades cotidianas do universo escolar. Outro objetivo
consiste na busca por discutir e abordar temas importantes da filosofia, os quais estão
presentes no Currículo, ampliando o repertório da prática docente, possibilitando que o
professor promova e ofereça aos alunos amplas situações de aprendizagens filosóficas,
enriquecendo a relação ensino-aprendizagem.
Na apresentação inicial desta etapa do curso, a filosofia é exposta como uma
disciplina que possui inúmeras possibilidades de análise, sendo este um dos desafios
encontrados no desenvolvimento e na elaboração de um curso de formação continuada
em filosofia. O desafio enfrentado pelos organizadores do curso foi o de tentar manter
ativa a problemática de cada filósofo para estimular o cursista a pensar na pertinência de
trabalhar os filósofos com os alunos. Os temas abordados são diversos, no entanto,
nenhum deles é dado como assunto resolvido. A principal intenção do curso foi
familiarizar os docentes ingressantes na rede com os materiais disponíveis.
Verifica-se que, ao explorar a descrição dos módulos, a principal ideia do curso
foi de apontar os conteúdos propostos sem discursar sobre eles, não tendo como objetivo
ensinar conteúdos para os professores cursistas, mas, sim, verificar como os conteúdos
filosóficos trabalhados no decorrer do curso podem auxiliar na compreensão das relações
diretas ou indiretas com o material de apoio da rede e o seu Currículo.
A intenção de cada módulo foi a de ampliar os conhecimentos do professor na
prática de ensino-aprendizagem, tentando estreitar a relação com o material de apoio. A
dinâmica de abordagem do curso se deu por meio dos temas e conteúdos presentes nos
materiais do curso, sendo a principal ideia de cada módulo tentar aproximar a formação
acadêmica do professor à realidade dos alunos da escola pública.
60
Enfatiza-se que, no decorrer da apresentação dos módulos, serão apontadas
apenas as linhas de pensamento e as ideias principais, assim como os filósofos indicados
para as reflexões e algumas das muitas sugestões de leitura. Na exposição, não há o
intuito de aprofundar a explicação dos conteúdos e termos destacados, pois a intenção
da análise está voltada para a estrutura proposta pelo curso. O foco está direcionado
para a compreensão de como os conteúdos e as sugestões destes podem auxiliar e
contribuir na formação continuada dos docentes ingressantes na rede.
2.1 – Módulo 9: Filosofia, raciocínio lógico e intelecto
Este módulo inicia a formação específica apresentando aos docentes a Proposta
Curricular, o Currículo e os materiais de apoio, Cadernos do Professor e Cadernos do
Aluno de Filosofia. Sua principal intenção é introduzir o ingressante no universo de sua
atuação. No início do módulo, é recomendada a leitura integral da Proposta Curricular e
do Currículo do Estado de São Paulo. O módulo ressalta a necessidade de o professor
conhecer bem o Currículo de Filosofia, assim como os materiais de apoio que podem
subsidiar a sua prática.
Ao introduzir os materiais existentes, o módulo destaca que o docente é
possuidor de conhecimentos filosóficos que foram adquiridos por meio da graduação e
de outros estudos. O módulo aponta que estes conhecimentos irão auxiliá-lo na
compreensão da estrutura do Currículo e dos materiais de apoio. Enfatiza-se, também,
que as adaptações aos materiais de apoio, a consulta de outros materiais e livros
didáticos são ações que fortalecem e possibilitam a boa atuação do docente no Ensino
Médio.
Neste módulo, apresenta-se a ideia de que o ensino de filosofia no nível médio é
desafiador e fazer com que os jovens se interessem pelos filósofos requer do professor
sensibilidade na abordagem dos conteúdos, tal sensibilidade pressupõe uma prática
pedagógica que leve em consideração o contexto do alunado. O trecho abaixo da
Proposta Curricular de Filosofia, exposto no módulo, revela um dos desafios presentes
na prática docente.
61
A solução para superar as consequências desse perfil de formação consiste na adoção, pelo docente, de um compromisso com a pesquisa constante. Cabe a ele, principalmente, a responsabilidade de procurar seus próprios caminhos, aplicando a seu modo as sugestões contidas nestes materiais. Contudo, deve ser dito que, seja qual for o percurso adotado pelo docente, os resultados dependerão, sempre, da prática cotidiana da leitura. Muitas vezes, o docente desanima, ao constatar que “os alunos não leem” (SÃO PAULO, 2008 p. 44).
Então, o módulo enfatiza que o desafio está na construção do conhecimento por
meio da leitura, uma vez que a disciplina necessita de sua prática para se desenvolver.
O docente deve preocupar-se continuamente com o perfil de seus alunos e adaptar a sua
aula para atender essa demanda, transformando os conteúdos em linguagens
interessantes e significativas, para, gradualmente, inserir o hábito da leitura na vida
escolar dos discentes.
A intenção deste módulo é, também, apresentar os materiais específicos de
filosofia existentes na rede, deixando claro que estes são subsídios que existem para
auxiliar o professor na sua prática. Em continuidade, visa o módulo demonstrar como o
material pode ser utilizado em sala de aula. Para elucidar tal ação, essa etapa da
formação elabora situações hipotéticas de análise e de estudo do material, apresentando
sugestões de manuseio. Apresenta-se, também, a possibilidade da criação de
alternativas e adequações necessárias junto aos materiais de apoio da SEE/SP.
A temática utilizada para o desenvolvimento da análise deste módulo foi “o
raciocínio lógico e o intelecto”, tema contemplado neste módulo pelos filósofos Aristóteles
e Descartes. A abordagem é referente à possibilidade do desenvolvimento do raciocínio
lógico com base nas quatro causas de Aristóteles. O módulo apresenta a ideia de que,
por meio delas, o aluno tem a oportunidade de compreender raciocínios científicos e seus
métodos. Para tornar o estudo do conteúdo mais completo, o módulo indica a leitura da
obra Metafísica. Além das quatro causas, o módulo perpassa outras ideias de Aristóteles,
entre elas estão os silogismos, o intelecto e a alma. Este se encerra com uma abordagem
muito superficial sobre o intelecto na modernidade, fazendo referência ao filósofo Renê
Descartes e sua obra Discurso do Método. Indica-se, também, a leitura complementar da
obra Descartes: a metafísica da modernidade, de Franklin Leopoldo e Silva.
Para promover a análise do tema, o módulo recorreu à indicação de consulta e
leitura dos Cadernos dos Professores e Cadernos dos Alunos. Nestes, estão presentes
62
os temas que foram abordados. A intenção desse exercício foi a de promover o
movimento de busca e consulta dos conteúdos do módulo no material de apoio, fazendo
com que o docente conheça-os melhor.
A dinâmica do Módulo 9 repete-se em todos os outros, buscando desenvolver o
estudo dos temas dos módulos de forma articulada aos conteúdos do material de apoio.
Este apresenta orientações sobre como o professor deve proceder quando encontrar
problemas ou dificuldades nas atividades propostas pelo material, deixando claro que a
autonomia do docente faz parte do processo, sendo possível o desenvolvimento de
intervenções sempre quando necessário.
A maneira que o módulo apresenta o tema é limitada e fica restrita à experiência
da investigação sobre o uso do material de apoio. O módulo não explora outras
alternativas didáticas e não se preocupa em ampliar o repertório docente para além do
material. Ele expõe de forma superficial algumas informações dos filósofos e aponta
sugestões de leitura no item intitulado “Para saber mais”, que complementa o estudo
relacionado ao filósofo em destaque. No final do módulo, o cursista responde a questões
objetivas e discursivas, as quais testam o aprendizado do conteúdo apresentado.
Tais questões são extremamente conteudista e são propostas ao final do
processo, dado curioso, pois a etapa anterior do curso defendeu, além da ideia de uma
educação baseada em competências e habilidades atreladas aos conteúdos, uma
avaliação que vai além da verificação dos conteúdos apreendidos. Ao contrário do que
foi defendido, os temas foram abordados de forma conteudista e a avaliação visou a
constatação do aprendizado de conteúdos, sendo esta aplicada somente no final do
processo.
2.2 – Módulo 10: Preconceito e áreas do saber
O Módulo 10 desenvolve a sua abordagem relacionando o preconceito a três
áreas do saber: mito, filosofia e ciência. Inicia-se a exposição pela apresentação do
conceito do pensamento mítico do homem grego e seu caráter narrativo. Contrapõe esta
explicação apresentando a filosofia como um pensamento universal de caráter
argumentativo.
63
Em continuidade, o módulo explora a relação do homem moderno com o
pensamento mítico, apresentando algumas possibilidades de abordagem na área. A
relação do preconceito com o mito não fica explícita e a intenção proposta não aparece.
Na sequência, o módulo explora a origem do preconceito. Este é contextualizado a partir
do conceito de etnocentrismo, no entanto, essa abordagem também se dá de forma
superficial e não articulada à proposta inicial.
Dando andamento aos conteúdos, o módulo expõe a característica cosmológica
do mito e a importância da postura crítica. Tais questões seguem-se relacionadas,
minimamente, com o preconceito. Aborda-se, também, de forma totalmente isolada, a
ideia de preconceito, relacionada à etnia e à classe, utilizando vídeos com relatos reais.
Esta ação acaba por ofuscar a proposta do módulo, pois a reflexão proposta não possui
qualquer relação com os objetivos do mesmo.
No módulo 10, do qual seguimos falando, a área do saber conhecida como
ciência não teve uma apresentação adequada, assim como a filosofia e o mito. O
destaque da reflexão se deu em relação ao conceito de ideologia cientificista, que foi
abordada pela ideia equivocada que o senso comum tem sobre a ciência. Explorou-se,
também, a relação do senso comum com os resultados científicos, buscando
desmistificar a ideia de que a ciência cria verdades absolutas.
De forma geral, os conteúdos do módulo foram apresentados sem muita
conexão, o que não contribuiu para que a exposição destes se fizesse clara. Houve
mistura da concepção de preconceito com senso comum, gerando mais dúvidas do que
esclarecimentos. A ideia de relacionar o preconceito às áreas (mito, filosofia e ciência)
causou confusão, deixando a desejar a exposição dos conceitos e a articulação do
preconceito com estas.
Se a ideia do curso foi de não se debruçar em conceituações, este deveria, ao
menos, ter se preocupado em explorar de forma didática os conteúdos utilizados para a
reflexão. No entanto, não realizou-se tal ação, pois os conceitos foram apresentados de
forma superficial e houve pouca relação com a proposta. Não foram utilizadas ou
apresentadas estratégias diferenciadas para abordar o assunto. Se pensarmos no fio
condutor deste módulo, certamente verificaremos uma situação conteudista, confusa,
seguida da avaliação no final do processo. Exatamente o indesejável na prática do
64
professor ingressante, de acordo com os conteúdos apresentados na primeira etapa do
curso.
2.3 – Módulo 11: O indivíduo, a sociedade e o Estado
Os temas: indivíduo, sociedade e Estado foram apresentados no módulo de
forma separada. De maneira geral, o módulo apresentou-se mais organizado do que o
anterior, pois utilizou diferentes estratégias para mostrar os conteúdos, entre elas: um fio
condutor para desenvolver os temas, vídeos que contribuíram para a ampliação da
compreensão, testes de conhecimentos adquiridos do decorrer do processo e sugestões
de abordagem dos assuntos tratados, por meio de sensibilização, utilizando problemas
pertinentes e reais para os alunos.
Com relação ao “indivíduo”, a primeira reflexão do módulo apresenta o
pensamento de Max Horkheimer por meio das ideias presentes no capítulo “Ascenção e
declínio do indivíduo”, em sua obra Eclipse da Razão. Nesta, o conceito de indivíduo é
apresentado de forma a ser relacionado à figura do herói grego. Em continuidade, o
módulo explorou a ideia defendida por Platão, em sua obra A República, que descreve a
sociedade dividida em três classes - artesão, guardião e rei-filósofo -, de acordo com a
ideia de que os indivíduos nascem com aptidões inatas, sustentando, assim, o equilíbrio
e a harmonia entre indivíduo e sociedade, de modo que cada um dos indivíduos referidos
deva realizar aquilo que consegue fazer da melhor maneira.
Em continuidade, são discutidos alguns aspectos fundamentais dos filósofos
contratualistas, Jonh Locke, Thomas Hobbes e Jean Jacques Rousseau. A partir do
legado teórico destes, apresenta-se de forma superficial a conceitualização, não só da
ideia de individualidade, mas da noção de como os indivíduos se organizam na sociedade
civil. São apresentadas, ainda, as ideias dos filósofos contratualistas em relação ao
indivíduo e à sua ligação com a sociedade. Estas são expostas de forma resumida e
apontam para a ideia da vida social garantida pelo poder absoluto para Hobbes, pela
vontade geral para Rousseau e pela propriedade privada para Locke.
Para encerrar as reflexões sobre o indivíduo, o módulo recai sobre o utilitarismo,
aos olhos do filósofo Jeremy Bentham, apresentando que este vê a liberdade do homem,
65
não a partir de um estado natural, mas a partir do desenvolvimento intelectual dos
indivíduos, destacando a subjetividade de cada um.
Em relação ao tema “sociedade”, o módulo apresenta a reflexão de Michel
Foucault sobre a subjetividade dos indivíduos constituída a partir dos meios
disciplinadores do corpo impostos pela sociedade e por suas instituições. O módulo indica
a leitura da obra Vigiar e Punir para melhor compreensão das ideias do filósofo. Essas
reflexões procuram demonstrar como a sociedade e suas instituições tratam os
indivíduos.
A “cultura de massa” também foi apresentada para trazer reflexões sobre a
relação dos indivíduos com a sociedade. Foram abordadas as condutas massificadas e
a indústria cultural, cuja principal corrente teórica é a conhecida como teoria crítica. O
módulo destaca que o primeiro a utilizar este termo foi Max Horkheimer, filósofo
frankfurtiano. Indica-se a leitura da obra Dialética do Esclarecimento, de Adorno e
Horkheimer, para ampliar o conhecimento sobre cultura de massa e indústria cultural.
O “Estado” é apresentado por meio das reflexões de Thomas Hobbes. O módulo
apresenta, assim, trechos da obra Leviatã para promover e aquecer a discussão acerca
do Estado, defendendo a importância do exercício do poder soberano. O módulo explora
as reflexões de Rousseau abordando a ideia de liberdade (liberdade natural, liberdade
civil e liberdade moral), da união dos homens por meio do contrato social e do Estado
como instituição máxima de representação da vontade geral. Defende-se, ao longo do
módulo, a ideia de que a liberdade dos indivíduos fica garantida pelas leis que asseguram
o bem-estar geral, bem como destaca-se que, para melhor compreender estes termos e
conceitos, é essencial a leitura da obra Do contrato social.
O módulo recai sobre a análise dos Cadernos do Professor e Cadernos do Aluno,
indicando a leitura de trechos, analisando as atividades propostas para os alunos,
promovendo, assim, o estudo do material de apoio. Este foi o primeiro módulo que deu
ênfase à sensibilização, ao trabalhar, de forma prática, a importância da construção de
um plano de aula bem estruturado e organizado. Neste, a avaliação dos conhecimentos
adquiridos se deu em várias etapas do processo e não, apenas, ao final. Pode-se
considerar tal módulo um exemplo de estrutura a ser reproduzida na atuação dos
ingressantes. No entanto, em alguns momentos, este assemelhou-se à uma colcha de
66
retalhos, pois não explicou de forma clara a relação dos filósofos apresentados com a
temática proposta. Faltou evidenciar ao leitor cursista que o elo dos apontamentos
realizados está na reflexão de cada filósofo com o tema do módulo.
2.4 – Módulo 12: Política
Neste módulo, três abordagens foram utilizadas sobre o tema política. Na
primeira, as ideias de Hannah Arendt, na segunda, as ideias de Maquiavel e, na terceira,
as ideias de Montesquieu. Tais abordagens foram apresentadas por meio de trechos de
obras dos referidos filósofos, de forma extremamente conteudista, e as possibilidades
didáticas foram minimamente exploradas.
A concepção de política, a partir de Hannah Arendt, aborda o conceito de
pluralidade humana. A filósofa define o termo política como o espaço no qual a
coexistência e a associação entre diferentes homens é garantida. Toda apresentação é
feita relacionando a política às ideias da Grécia antiga. O módulo utiliza trechos da obra
A Política, do filósofo Aristóteles, para contextualizar a organização da pólis. O módulo
também apresenta trechos das obras A promessa da política e A Condição Humana,
ambas de Hannah Arendt, como leituras que ampliam o conhecimento do docente em
relação à política na contemporaneidade.
Na sequência, apresenta-se a ideia da política como ciência autônoma. Para
abordar este assunto, o módulo utiliza o pensamento do filósofo Nicolau Maquiavel,
fundador da ciência política, sendo este o primeiro a pensar a política como categoria
autônoma e área da ação humana que possui as suas próprias regras e que é
independente da religião, da ética e da ordem natural.
Para dar continuidade às reflexões de Maquiavel, são apresentadas suas
perspectivas sobre a ação política, a virtù, a fortuna e a conquista de um principado. Para
ampliar o repertório do professor, o módulo apresenta a sugestão de leitura da obra O
Príncipe, e apresenta dois vídeos, os quais trazem a entrevista de Renato Janine Ribeiro
sobre os conceitos de fortuna e virtù e sobre o exercício do poder.
São apresentadas, também, as contribuições de Montesquieu para a política. A
obra utilizada para tal apresentação é O Espírito das Leis. O filósofo analisa a diversidade
67
das legislações de diferentes tipos de governos e cria uma teoria de governo apontando
como a autoridade deve ser distribuída por meios legais, de modo a evitar a arbitrariedade
e o abuso da violência. Com isso, o filósofo abre caminho para refletir sobre a separação
dos três poderes: executivo, legislativo e judiciário; apresentando a ideia de que cada
esfera destes deve ter autonomia e equilíbrio no exercício do poder, tendo harmonia e
proporcionando liberdade no campo da ação política.
O módulo encerra-se com a exibição do vídeo, que aborda a importância do voto
e reflete sobre o valor da democracia. É apresentada, ainda, a análise de uma atividade
em grupo, presente no Caderno do Aluno e um seminário atrelado aos conteúdos dos
três poderes. A última ação presente no módulo está relacionada à atividade didática e à
avaliação dos conhecimentos, a qual se dá a partir de testes envolvendo todos os
assuntos discutidos no módulo. Reforça-se, mais uma vez, a ideia de avaliar somente ao
final do processo.
No decorrer do módulo, foram utilizados trechos de textos filosóficos presentes
nos Cadernos dos Alunos. Esta utilização é válida, pois apresenta para o docente a
possibilidade de uso do texto filosófico a partir dos materiais de apoio. Essa apresentação
pode ser considerada um aspecto positivo do módulo, no entanto, o uso do trecho de
texto filosófico e a sugestão de sua leitura não são suficientes para assegurar que os
docentes trabalhem a temática proposta de maneira adequada.
2.5 – Módulo 13: Teoria do conhecimento na modernidade
Este módulo aborda três perspectivas do pensamento moderno em relação à
teoria do conhecimento: o racionalismo, o empirismo e o criticismo. No racionalismo,
exploram-se as ideias de Renê Descartes, que defende a razão humana como um
caminho seguro para o conhecimento. Para apresentar o empirismo, foram utilizados os
filósofos Bacon, Locke e Hume, que defendem a experiência sensível como base do
conhecimento humano. Apresentou-se, também, Kant e a elaboração da síntese das
duas correntes, o criticismo.
O módulo desenvolve uma contextualização histórica apresentando
conhecimentos anteriores da ciência moderna. Aponta-se a diversidade de elaboração
68
do conhecimento na antiguidade, a qual apresenta alguns elementos concordantes,
sendo o mais característico de todos a crença na possibilidade do homem conhecer as
causas das ocorrências dos fenômenos naturais. Afirma-se que, a partir do século XVII,
mudanças colocaram em xeque a possibilidade de conhecer e de formar novos
questionamentos filosóficos, dentre eles, qual o alcance de nosso conhecimento? Quais
métodos podemos usar para conhecer? A partir de tais questões, o racionalismo, o
empirismo e o criticismo se colocaram como tentativas de respostas a esses novos
questionamentos.
Antes de abordar as correntes supramencionadas, o módulo contextualiza a
construção do conhecimento nos mosteiros, fundamentado pela religião cristã, e
contextualiza o conhecimento místico, fundamentado pela alquimia, magia e bruxaria.
Apresenta-se, também, a escolástica e Santo Agostinho, bem como a estrutura de estudo
que promovia o conhecimento naquele tempo, o trivium (introdução à gramática, à lógica
e à retórica) e o quadrivium (composto por música, geometria, aritmética e física).
O módulo apresenta, por meio de vídeo, um trecho do Curso Livre de
Humanidades, proferido pelo professor Carlos Arthur Nascimento, que expõe as ideias
dos filósofos Thomas de Aquino, John Duns Scott e Galileu Galilei, apresentando-os
como os continuadores do trabalho iniciado por Aristóteles. Apresenta-se, também, a
reflexão sobre a relativização da fé e o conflito existente na relação entre fé e razão.
Depois de realizar uma breve contextualização, o módulo apresenta o
conhecimento Racionalista e expõe algumas ideias do filósofo Renê Descartes. Aponta-
se a importância da leitura de suas obras: O Discurso do Método e Meditações.
Apresenta-se a dúvida como método e resume-se o pensamento do filósofo, destacando
suas ideias, as quais buscavam encontrar a clareza e a distinção, a análise, a ordem e a
síntese. Aponta-se, de forma muito resumida, a trajetória percorrida por Descartes até
atingir o cógito: “penso, logo existo”.
Com a intenção de ampliar as possibilidades de reflexão e de trabalho, o módulo
apresenta sugestões de leitura de outros filósofos racionalistas, entre eles: Baruch
Espinosa, e sua obra Tratado da reforma da inteligência, Blaise Pascal, e sua obra
Pensamentos, e Gottfried Wilhelm Leibniz, e sua obra Novos ensaios sobre o
entendimento humano. Essas indicações são importantes, pois contribuem para ampliar
69
o repertório e apresentar o racionalismo por meio da utilização de pensamentos de
diversos filósofos, deixando clara a ideia da aquisição do conhecimento pela via da razão.
Antes de seguir para a próxima reflexão, o módulo apresenta a leitura de um trecho do
texto Discurso do Método, presente no Caderno do Aluno, e desenvolve um teste de
conhecimento sobre o racionalismo.
Na sequência, é apresentada a filosofia Empirista, em que o conhecimento se dá
por meio das percepções. O módulo expõe superficialmente algumas ideias da filosofia
dos empiristas ingleses, Francis Bacon, John Locke e David Hume. Para complementar
as reflexões, o módulo indica o filme O enigma de Kaspar Hauser e aponta que este
ocupa um lugar privilegiado nas discussões feitas pela teoria do conhecimento,
explorando as questões sobre raciocínio lógico, a cognição e a experiência, entre outros
assuntos. Para o empirismo, são apresentadas atividades de leitura de trecho do texto
Ensaio sobre o entendimento humano, que encontra-se no Caderno do Aluno, e análise
da atividade proposta como exercício, assim como um teste dos conhecimentos
adquiridos sobre o empirismo.
Para encerrar, o módulo apresenta a síntese kantiana, conhecida como
criticismo. Essa corrente, que foi elaborada pelo filósofo Immanuel Kant, reúne o que é
considerado essencial no racionalismo e no empirismo, por meio da elaboração da
síntese dessas correntes. No entanto, dada a complexidade do assunto, a apresentação
feita pelo módulo é muito breve, não contemplando de forma suficiente as ideias
apresentadas pelo criticismo, resumindo o conceito como a Revolução Copernicana da
filosofia.
A estratégia de avaliar os conhecimentos no decorrer do processo ocorreu em
cada uma das teorias, porém, as sugestões didáticas foram insuficientes, tornando o
módulo extremamente superficial. Mais uma vez o conteúdo filosófico e a prática docente
não foram explorados de forma pertinente. O termo superficial insere-se nessa discussão
porque a leitura de um bom manual poderia ter dado conta de apresentar as correntes
filosóficas de forma mais aprofundada que o próprio módulo. Se a intenção do curso é
possibilitar subsídios para o aprimoramento da prática, este módulo apenas apresentou
conteúdos, não articulando-os às ações desejáveis na prática docente. Pode-se ver,
também, que não foram apresentadas novas possibilidades de trabalho.
70
2.6 – Módulo 14: Filosofia e ciência
Neste módulo, foram exploradas posições modernas sobre o conhecimento
cientifico a partir de três visões: o indutivismo, o falsificacionismo e o historicismo. Os
filósofos escolhidos para subsidiar essas reflexões foram David Hume, Karl Popper e
Thomas Kuhn. Após apresentar de forma superficial a teoria do conhecimento filosófico,
o módulo explora algumas posições modernas sobre o conhecimento científico. Entre
elas, apresentam-se como problematização as seguintes indagações: Como se produz
ciência? Quais métodos utilizamos e quais deveríamos utilizar? Verdades são passiveis
de serem mensuradas em um conhecimento científico? Como são os métodos, os
instrumentos e as teorias científicas? Essas reflexões apresentam as estratégias que o
módulo utiliza para problematizar o tema antes de dar início aos conteúdos que serão
estudados.
O indutivismo é apresentado como a forma mais popular do conhecimento
científico. O módulo expõe a observação como ponto de partida. As observações
particulares representam o primeiro passo na construção dessa ciência, para a qual o
ponto de chegada é o universal. Para criar teorias por meio da observação, são
necessárias três condições básicas: a realização de um grande número de observações,
a variação das condições de observação e que todas as observações confirmem a teoria,
sendo que nenhuma deve desmenti-la. Depois de formulada, uma teoria serve para
explicar acontecimentos, servindo, também, como previsão científica. Essa previsão é
chamada de dedução. O método indutivo é apresentado como prática não totalmente
segura, pois as condições básicas podem variar, além do fato das deduções estarem
sujeitas à falhas e do fato da não justificação do método indutivo.
O módulo apresenta as sugestões de leitura dos livros Filosofia da ciência:
introdução ao jogo e suas regras, de Rubem Alves, e O que é ciência afinal?, de Alan F.
Chalmers. São apresentadas, também, a análise das atividades presentes no Caderno
do Professor e do Aluno, assim como a leitura e reflexão de textos presentes no mesmo
material. Ainda sobre o tema indução, é apresentado o teste que avalia os conhecimentos
adquiridos.
71
O módulo apresenta o falsificacionismo, o progresso da ciência, e os critérios
deste método. Seu criador foi Karl Popper e as obras do autor que tratam da temática
são A lógica da investigação científica e Conjecturas e refutações. Explica-se, de forma
resumida, que uma teoria vem a ser uma hipótese, que deve ser verificada, podendo esta
ser aceita ou falseada. Se falseada, deve ser substituída por uma nova hipótese, e deve-
se, assim, reiniciar-se o processo até que uma hipótese seja considera aceita. Ao
encontrar uma hipótese verdadeira, os testes permanecem, continuamente, buscando
falsear aquela hipótese considerada satisfatória. Esta pode ser refutada a qualquer
momento e substituída por outra teoria. Também são apresentadas leituras e reflexões
de textos e análise das atividades do Caderno do Professor e do Aluno, assim como o
teste que avalia os conhecimentos adquiridos.
O historicismo é apresentado pelo módulo por meio da perspectiva do físico e
filósofo Thomas Kuhn, e seu livro A estrutura das revoluções científicas. Este aborda a
ciência por um viés historicista, que busca mostrar a insuficiência de entendê-la apenas
pelas abordagens indutivistas e falsificacionistas. O filósofo defende o desenvolvimento
da ciência por etapas. A primeira, é chamada de Pré-ciência, a segunda, de Ciência
Normal e, após um período de crise, é dada a fase Ciência Extraordinária.
O diferencial do módulo está nas perguntas realizadas no início de sua
apresentação, que sensibilizaram e problematizaram os temas abordados no decorrer do
módulo. Já a apresentação dos conteúdos e estratégias didáticas foram abordadas de
forma insuficiente, pois apontaram superficialmente os temas. Nesse sentido,
novamente, é possível afirmar que a ideia da leitura de um bom manual poderia ter dado
conta de apresentar esses conteúdos de forma mais aprofundada e contextualizada do
que o próprio módulo, sendo assim, este não contribuiu muito para a ampliação do
conhecimento dos docentes.
2.7 – Módulo 15: Liberdade
O Módulo 15 trata do conceito de liberdade a partir dos seguintes temas: noções
da liberdade, libertarismo e determinismo e a concepção de liberdade e responsabilidade
aos olhos do filósofo Sartre. Apresenta-se, em sua introdução, a intenção de relacionar a
72
liberdade a três diferentes pontos: liberdade de escolha, liberdade e sociedade, liberdade
e situação, no entanto, essa relação se dá apenas na intenção apresentada, pois, no
decorrer do módulo, as ideias e os conceitos são apresentados sem muita relação, por
meio de muito conteúdo, e poucas sugestões didáticas. A estrutura do módulo parece
repetir um ritual já estabelecido, tendo uma ordem para a exposição dos conteúdos. Tal
sequência se dá da seguinte maneira: apresentação de textos e vídeos, que
complementam as informações dos textos, análise da atividade proposta no material de
apoio e testes que avaliam o conhecimento, todos esses procedimentos seguidos da
avaliação final.
Inicia-se o módulo com a apresentação de reflexões sobre a liberdade de escolha
e reforça-se que essa temática desperta o interesse dos jovens. O módulo estimula o
docente a sensibilizar os alunos por meio da pergunta: “Liberdade é fazer tudo o que
quer?”. Nesse contexto, cabe o desenvolvimento da reflexão que o aluno não está
sozinho no mundo e não pode perceber, apenas, si mesmo, é preciso agir com alteridade
e perceber, também, a existência do outro e de sua liberdade. O módulo aponta reflexões
sobre a existência de uma liberdade comum a todos, que pode ser chamada de liberdade
civil ou moral, assim, pode-se depreender-se a existência do livre-arbítrio, o
condicionamento e a causa determinante. São apresentadas algumas noções de
liberdade, segundo Rousseau, e de livre-arbítrio, segundo Santo Agostinho. Utiliza-se um
trecho da obra A cidade de Deus para tratar da ideia de livre-arbítrio, este encontra-se
presente no Caderno do Aluno. Na sequência, apresenta-se o vídeo do professor Franklin
Leopoldo e Silva sobre as ideias de Sartre, mais propriamente acerca da ideia de
essência e de existência. Em continuidade, apresenta-se a proposta de análise da
atividade, presente no Caderno do Aluno, a qual compreende um exercício que leva o
cursista ao encontro do material de apoio.
O tema é apresentado relacionando o conceito de liberdade à sociedade, mas de
forma superficial, sem muita relação, refletindo sobre até que ponto um indivíduo é livre
para escolher, observando se as escolhas não estão condicionadas às necessidades
atreladas à sobrevivência. Propõe-se, novamente, a análise e a reflexão de uma atividade
presente no Caderno do Aluno e segue-se apresentando novos conteúdos sobre
73
liberdade e ideologia, a partir do vídeo do professor Renê José Trentin Silveira, que
aborda essa questão.
O módulo expõe uma concepção dialética da liberdade, tratando de forma muito
superficial o pensamento de Marx e os conceitos do materialismo histórico dialético, da
ideologia e da opressão. Apresentam-se algumas ideias do filósofo Maurice Merleau-
Ponty em relação à liberdade e à fenomenologia. Os conceitos de libertarismo e
determinismo também são explorados, estes constituem duas formas distintas de ver o
mundo e a liberdade humana. Apresenta, na abordagem do libertarismo, a obra A Ética
à Nicomaco, de Aristóteles, texto presente no Caderno do Aluno como a primeira
importante teoria que discute o tema da liberdade. Defende-se, na obra, a ideia de que o
homem é livre à medida que contém em si o princípio para agir e criar aquilo que tem
vontade. Já sobre o conceito de determinismo, é apontada a ideia de uma causalidade
universal, que está sujeita à relação de causa e efeito. Para completar a apresentação, é
exibido o vídeo que demonstra, a partir das palavras do professor Franklin Leopoldo e
Silva, as ideias de Sartre sobre a liberdade e a responsabilidade.
Para encerrar, o módulo apresenta as ideias do existencialista Jean Paul Sartre
e indica a leitura de sua obra O existencialismo é um humanismo. Este defende a ideia
de que “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”. A partir deste
ponto, o módulo expõe diversos trechos da obra e promove reflexões sobre a liberdade
de escolha, existência e essência, ser-no-mundo, enfim, apresenta a ideia de que o
indivíduo só é livre à medida em que é responsável pelas suas próprias escolhas. São
apresentadas pelo módulo algumas sugestões de leitura que podem ampliar o repertório
do professor sobre os conhecimentos de Sartre, entre elas: Existência e liberdade: uma
introdução à filosofia de Sartre de Perdigão; Sartre uma biografia de Cohen-Solal e
Existencialismo de Collette. Além destas sugestões, foram indicadas a leitura dos três
volumes da coleção Filósofos em sala de aula, organizada pelo professor Vinicius
Figueiredo, no entanto, nenhuma relação didática foi apresentada com a leitura da
coleção. Esta fora uma indicação sem conexão, que pouco instiga o cursista a conhecer
mais acerca do assunto tratado.
O diferencial deste módulo está na sugestão da construção de uma situação de
aprendizagem pelo docente que tem como finalidade a promoção de um debate, porém,
74
essa sugestão não teve um direcionamento claro. Se a intenção era auxiliar o docente
na construção de uma situação de aprendizagem diferente das que estão presentes no
material de apoio, incentivando a autonomia do docente ao gerir as suas práticas, esta
foi insuficiente, pois não expôs a metodologia necessária para a sua elaboração e
execução. Uma sugestão desse tipo tem muito pouco a contribuir para o aprimoramento
da prática docente.
2.8 – Módulo 16: Ética, valores e concepções
O Módulo 16 trata de questões tradicionais no campo da discussão ética, entre
elas: valor, moral, virtude e ação do sujeito da moral. Para o seu desenvolvimento, são
utilizadas duas abordagens filosóficas: o pensamento de Aristóteles e de Nietzsche. Ao
iniciar o módulo, apresenta-se a necessidade do trabalho didático para este tema,
alegando não ser simples iniciar uma reflexão sobre a ética. Curiosa apresentação, uma
vez que, nenhuma reflexão filosófica é simples e fácil, requerendo sempre especial
atenção ao trabalho didático, ainda mais, quando ensinada a disciplina no nível médio.
Destaca-se a importância de não ensinar a ética como uma tábua de valores
morais ou como uma pregação de normas, mas como um estudo das questões que a
moral envolve. O módulo apresenta reflexões sobre o que é o valor e demonstra que
existem diferentes tipos de valores, por exemplo: os valores estéticos, a valoração sobre
o conhecimento, o valor religioso, o valor econômico, o valor sentimental e o valor moral
e as discussões éticas que se dão baseadas no valor do campo de ação do certo e do
errado, do justo e do injusto, do bem e do mal e da virtude e do vício. O módulo destaca,
ainda, a diferença entre os conceitos de ética e moral, que são confundidos com
frequência, e traz exemplos para elucidar essas diferenças. Ao terminar a exposição
inicial, exibe-se o vídeo da TV Escola, “A violência que rola”, e são sugeridos os vídeos
do Café Filosófico, “Ética em tempo de mudanças”, “Vida ética, vida boa” e “Dilemas
éticos”, todos com a participação do professor Renato Janine Ribeiro, da TV Cultura. A
análise da atividade proposta no Caderno do Aluno também se faz presente neste
módulo, assim como os testes de conhecimento no final de cada assunto abordado.
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Em continuidade, o filósofo grego Aristóteles é utilizado novamente, agora por
meio de sua obra Ética a Nicômaco. O módulo perpassa algumas de suas ideias e deixa
claro que o objetivo da ética, para Aristóteles, é a felicidade. Com a intenção de ampliar
os conhecimentos dos cursistas, são sugeridas leituras, entre elas: Estudos de moral
moderna, de Apel, Ética e cidadania. Caminhos da filosofia: elementos para o ensino de
filosofia, Gallo, Textos básicos de ética: de Platão a Foucault de Marcondes, Quatro lições
sobre a ética de Aristóteles, de Perine, Ética para meu filho, de Savater, O que é ética,
de Valls, e Ética, de Vázquez.
Em continuidade, ao apresentar a moral nietzschiana, o módulo promove um
contraponto às ideias apresentadas por Aristóteles. Tal contraposição mostra aos
educandos que, na filosofia, existem diversas maneiras de interpretação. Nietzsche
valoriza os instintos e impulsos inconscientes como força vital do ser humano e
desenvolve uma crítica à moral ocidental. Para complementar os conteúdos
apresentados, o módulo apresentou o vídeo “Nietzsche e seu pensamento sobre a
moral”.
Antes de encerrar com os testes de conhecimento e a avaliação final, o módulo
recorre à apresentação da importância da ética no ensino de filosofia, por meio do inciso
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico; artigo 35 da LDB -
9394/96, tal apresentação reforça a necessidade do trabalho com essa temática na
escola.
O módulo, ao ser iniciado, destaca que o trabalho com o tema ética não é simples
de ser desenvolvido, no entanto, esqueceu-se de destacar que trata-se de um tema muito
interessante. Para romper com esse desafio, deveria-se ter explorado melhor as
possibilidades a partir da realidade e da atualidade dos professores e alunos. Poder-se-
ia ter utilizado assuntos presentes em jornais, revistas, na telenovela e, até mesmo, na
política, porém ficou o módulo restrito às breves apresentações filosóficas, seguindo uma
espécie de padrão, que se fez presente em quase todos os módulos, contando com
apresentações superficiais e pouco elaboradas.
As apresentações revelaram-se pouco articuladas entre si e com a realidade do
aluno. Neste módulo, houve a tentativa de desenvolver um elo de ligação entre os
76
conteúdos, temas e os filósofos apresentados, mas o mesmo não deu conta de promover
esta junção. Faltou desenvolver de forma clara os caminhos para uma ação docente que
valoriza a relação ensino-aprendizagem e que promova a articulação do desenvolvimento
de competências e habilidades.
2.9 – Módulo 17: Ideologia, alienação e cultura
Este módulo aborda os conceitos de ideologia, alienação e cultura, a partir de
uma perspectiva marxista. Explora-se de forma conteudista a cultura burguesa,
apresentando sua estrutura ideológica e alienante. A abordagem inicial se dá por meio
da investigação do conceito de ideologia. O módulo perpassa a história da filosofia e
expõe que, com Marx e Engels, o conceito ganhou um sentido mais crítico. Indica-se a
leitura da obra A Ideologia alemã como subsídio para estudo e aprimoramento das ideias.
Em continuidade, explora-se o conceito de alienação, apresentando-o como processo no
qual o indivíduo deixa de reconhecer-se naquilo que faz, sobretudo na sua atividade
principal: o trabalho.
São apresentadas análises de propostas de atividades que se encontram
presentes no Caderno do Aluno, sugestões de leituras, entre elas O que é ideologia, da
Marilena Chauí e dois vídeos apresentados pelo professor Francisco Alambert, que
abordam os conceitos de ideologia e indústria cultural. Os testes de conhecimento
também encontram-se presentes no final de cada conceito apresentado, assim como a
avaliação final ao termino do módulo.
Os conceitos da mais-valia, do dinheiro, do capital, do trabalho alienado e da
divisão social do trabalho são apresentados superficialmente, tendo poucas sugestões
para o desenvolvimento de um trabalho contextualizado e articulado de forma didática. O
módulo se encerra abordando a “cultura”, ao resgatar a etimologia da palavra e ao
apresentar o conceito de cultura dominante, de acordo com os pensamentos de Marx.
Em continuidade, apresentam-se as relações entre ideologia e cultura, cultura e trabalho,
a cultura como mercadoria e cultura e alienação.
A estrutura do módulo pouco contribui para o aprimoramento da prática,
apresentando os temas de forma conteudista, sem sugestões de estratégias
77
diferenciadas, seguindo a mesma estrutura dos módulos anteriores. Não há avanços e
comete-se as mesmas falhas no desenvolvimento da formação continuada do docente.
Por se tratar do penúltimo módulo, fica evidente que, de maneira geral, as intenções de
formação apresentadas no início do curso pouco foram contempladas. Se a intenção era
promover a ampliação do conhecimento sobre o Currículo vigente, poucos foram os
momentos que possibilitaram essas reflexões, principalmente, no que se refere às
competências e habilidades previstas para cada conteúdo apresentado.
2.10 – Módulo 18: Estética
Neste módulo, a concepção estética é abordada a partir do ponto de vista de
Kant, de Hegel e dos filósofos frankfurtianos. Ao iniciar o módulo, apresenta-se o
significado da palavra estética expondo que, geralmente, esta é associada às produções
artísticas. No entanto, destaca-se a estética como disciplina filosófica, a qual analisa as
produções da sensibilidade humana por meio de um produto artístico ou cultural. Aponta-
se que tais produções afetam as sensações, os sentimentos e as emoções humanas
como um todo. Destaca-se que o principal objeto da pesquisa estética é o de identificar
como as produções da sensibilidade estabelecem ligação com o conhecimento,
principalmente com a razão e a ética.
Apresenta-se o tópico de que a estética tornou-se disciplina filosófica graças a
Kant e à sua obra Crítica da faculdade de julgar. O módulo expõe que a imaginação
diminui a distância entre a sensibilidade e a razão e explora conceitos de forma filosófica
apresentando o significado de: entendimento, imaginação, juízo determinante, juízo
reflexionante e juízo de gosto.
O módulo versa acerca da estética hegeliana, que propõe uma forma sistemática
de pensar. Apresenta-se a obra que aborda a temática - Cursos de Estética. Vê-se que
Hegel apresenta a estética dividindo toda arte humana em três grandes períodos: forma
de arte simbólica, clássica e romântica. O encerramento do módulo se dá por meio de
reflexões estéticas do ponto de vista frankfurtiano, sendo apresentada de forma
superficial a Escola de Frankfurt. São destacados alguns filósofos que fizeram parte
desta, entre eles: Walter Benjamim, Adorno, Horkheimer e Hebert Marcuse. O fio
78
condutor da reflexão está diretamente ligado à indústria cultural e à relação da cultura
com a estética.
As sugestões de leitura foram muitas, entre elas: Kant e o fim da Metafísica, de
Lebrum, Belo, sublime e Kant de Duarte, Duas introduções à crítica do juízo de Kant, A
poesia na estética de Hegel, de Werle, Magia e técnica, arte e política, Charles
Baudelaire, um lírico no auge do capitalismo e Rua de mão única, todas de Walter
Benjamin, Eclipse da razão, de Horkheimer, e Dialética do esclarecimento, de Adorno e
Horkheimer, A indústria cultural de hoje, obra organizada por Durão. Vaz, e Zuim; além
das obras de Hebert Marcuse, Eros e civilização: uma interpretação filosófica do
pensamento de Freud, A dimensão estética, Marxismo soviético: uma análise crítica e
Ideologia da sociedade industrial. Esta extensa e rica lista de sugestões serve para
ampliar o repertório, no entanto, é preciso se apropriar desses saberes para desfrutar
deles na prática. Ação que requer leitura e estudo para ser significativa.
Com a intenção de ampliar os conhecimentos sobre a estética, foi apresentado,
em duas partes, o vídeo que aborda o nascimento da estética, proferido pelo professor
Mario Fernando Bolognesi. Já com relação às sugestões de atividades, estas se deram
a partir de leituras de textos e reflexões, de elaboração de perguntas, das leituras
realizadas e a partir da construção de textos interpretativos, os quais partiram da leitura
de imagens de obras de arte apresentadas pelo módulo.
Neste módulo, não houve a leitura e análise do Caderno do Aluno porque o tema
não é abordado de forma direta pelo Currículo de Filosofia da SEE/SP,
consequentemente, não é contemplado pelo material de apoio. O curioso deste módulo
refere-se ao fato do conteúdo ser exposto sem nenhuma justificativa, já que todos os
demais estão atrelados ao Currículo.
Não fica claro o motivo da escolha do tema, que não se faz presente de forma
explícita na proposta do Estado. Se a intenção do curso era a de promover a aproximação
do professor ingressante com o Currículo vigente, qual a intenção do curso em abordar
um tema que não é contemplado por este? Além de não mencionar e esclarecer o fato
do tema não estar presente nos documentos da SEE/SP, não é dito que o tema encontra-
se presente no PCN+ - Orientações Educacionais Complementares aos parâmetros
Curriculares Nacionais - Ciências Humanas e suas tecnologias, sendo contemplado no
79
tema 3 “Filosofia e estética”19, com os sub temas: Os diversos tipos de valor; A arte como
forma de conhecer o mundo e Estética e desenvolvimento da sensibilidade e imaginação.
Então, dos dez módulos específicos, este se revela o mais desconexo de todos no que
concerne à proposta inicial do curso, encerrando a atividade de formação continuada sem
um desfecho, sendo apresentado de forma aleatória, confusa e pouco significante para o
aprimoramento da prática.
3 – Considerações críticas sobre o Curso Específico de Formação em Filosofia
Este item tem como objetivo apontar algumas considerações críticas sobre o
Curso Específico de Formação em Filosofia. Porém, antes de considerar os aspectos
específicos de filosofia, vale destacar algumas considerações do âmbito geral dessa
formação.
Ao analisar a primeira etapa, foi possível constatar que os seus conteúdos
possuem pouca relação com os conteúdos do Currículo vigente no Estado de São Paulo.
Ao realizar a leitura do Currículo, é possível perceber a importância da parte dos
“Princípios para um currículo comprometido com o seu tempo” (SÃO PAULO, 2010, p.
10), texto que apresenta eixos centrais como: “Uma escola que também aprende, O
currículo como espaço de cultura, As competências como referência, Prioridade para a
competência da leitura e da escrita, Articulação das competências para aprender e a
Articulação com o mundo do trabalho” (SÃO PAULO, 2010, pp. 10 a 20). No entanto,
esses itens não foram abordados no curso de forma direta, clara e objetiva.
Ao invés de realizar o estudo e a análise da importância de cada princípio para a
formação do educando, a primeira etapa do curso percorreu outro caminho, investindo
em outros aspectos pedagógicos que, também, são relevantes à rede estadual. A
abordagem escolhida permitiu ao cursista conhecer, debater e compreender um pouco
do contexto educativo no qual o Currículo se desenvolve. Diante do exposto, essa ação
de formação não contempla uma das propostas iniciais do curso: possibilitar uma
19 Descrição presente na pág. 53 do documento: BRASIL. PCN+ Orientações Educacionais
Complementares aos parâmetros Curriculares Nacionais - Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília: Ministério da Educação/Secretaria da Educação Média e tecnológica. 2002.
80
formação específica que contribui de forma significativa para a construção do
conhecimento do Currículo.
Apontando o que foi abordado na estrutura do curso, percebe-se que este poderia
ter explorado de forma mais detalhada a construção e o desenvolvimento do plano de
curso, do plano de ensino, do plano de aula, assim como a importância das reuniões
pedagógicas existentes na escola, entre elas: planejamento, replanejamento, avaliação
final, auto avaliação, o dia do Saresp na Escola, o conselho de escola e a gestão
democrática participativa, os conselhos de classe / ano /série e as ATPCs – Aula de
Trabalho Pedagógico Coletivo, etc. Poderia, também, o curso ter explorado o papel do
Professor Coordenador na escola e dos Professores Coordenadores do Núcleo
Pedagógico nas diretorias de ensino. A abordagem detalhada desses itens possibilitaria
uma formação mais completa, provocando reflexões sobre ações necessárias para o
desenvolvimento de um ensino de qualidade, apontando a importância desses subsídios
para o bom desenvolvimento da prática docente.
No entanto, passou-se por esses itens de forma breve e superficial, apenas
dando indícios da existência deles nas unidades escolares. Talvez, a grande quantidade
de temas e conteúdos tenha atrapalhado o desenvolvimento desses estudos. De forma
geral, essa primeira etapa expôs questões que existem na SEE/SP, mas deixou de
detalhar aspectos importantes que subsidiam a atuação docente.
Já em relação às estratégias didáticas utilizadas na primeira etapa, pode-se
considerar que estas foram significativas e serviram para elucidar a importância da
utilização de recursos diferenciados para a promoção do ensino. O ideal seria se a
estrutura proposta nos módulos servisse de exemplo aos docentes cursistas,
estimulando-os a construir em sua prática estratégias didáticas, com a intenção de
enriquecer a relação ensino-aprendizagem. Nesse sentido, os módulos recorreram a
diferentes subsídios e estratégias, tentando tornar os assuntos abordados mais
atraentes.
Já as considerações críticas da segunda etapa do Curso Específico de Formação
em Filosofia, apontam para a falta de articulação dessa etapa com a primeira, seguido
do fato dos temas terem sido apresentados de forma conteudista, sem articulação com
as competências e habilidades previstas no Currículo.
81
A maneira como os módulos foram apresentados é preocupante, pois estes
reforçam uma concepção tradicional de ensino, baseada pura e simplesmente em
conteúdos que contam com avaliações no final do processo. A relação ensino-
aprendizagem não se faz presente nos módulos, assim como as competências e
habilidades, que são os princípios norteadores do Currículo. Fica evidente que estas
foram deixadas de lado e não foram tratadas como deveriam.
Nessa etapa, ficou evidente a falta de um fio condutor para os conteúdos
abordados dentro dos módulos e entre os módulos, pois estes se deram de forma
aleatória, não seguindo a história da filosofia, nem, tampouco, os conteúdos da maneira
como estão organizados no Currículo. Para tentar elucidar melhor o contexto
apresentado, no início de cada módulo, foi feita uma introdução apresentando os temas,
os filósofos envolvidos e os Cadernos do Professor e Cadernos do Aluno que subsidiam
o estudo. Porém, tal ação não foi suficiente para transparecer as estratégias escolhidas
para a organização dos conteúdos do curso.
Com a intenção de apresentar as faltas cometidas nesta estrutura, foi construída
a tabela Apresentação dos conteúdos do Currículo contemplados pelo Curso20. Esta
apresenta em quais módulos os conteúdos do Currículo de Filosofia foram contemplados,
apresentando um ir e vir de um estudo superficial e confuso, que, sequer, contempla
todos os conteúdos previstos.
Se a ideia do curso era promover a apresentação do Currículo e ampliar as
possibilidades de trabalho docente de forma didática, este pouco conseguiu cumprir o
seu papel, deixou-se a desejar. A maneira como cada módulo apresentou as
possibilidades de trabalho ficou restrita aos determinados conteúdos e limitada a leituras
e interpretações de textos, assim como à apresentação de partes do material de apoio.
Se, nesta segunda etapa, a ideia primeira era a de apresentar para os cursistas
a ampliação dos conhecimentos, sem recair em conteúdos específicos típicos da
graduação, tal ação não aconteceu, pois o curso reproduziu fragmentos de reflexões sem
muita contribuição para o aprimoramento da prática. Não se apresentou de forma clara a
articulação dos temas trabalhados aos filósofos utilizados, assim como o que motivou-o
20 Anexo 02 - Apresentação dos conteúdos do Currículo contemplados pelo Curso.
82
a utilizar diferentes filósofos para um mesmo tema. De forma geral, os módulos utilizaram
poucas estratégias didáticas debruçando-se em “velhos” conteúdos.
Pensando na implicação direta dessa formação continuada para a melhora no
ensino de filosofia no nível médio, e resgatando a pergunta que faz parte do problema
central do projeto: de que maneira o Curso Específico de Formação para os professores
ingressantes de filosofia na rede, pode contribuir para os estudos e o aprimoramento da
prática docente e como isto pode refletir no aprendizado dos alunos no que se refere ao
ensino de filosofia? , é possível afirmar que o curso quase nada contribuiu para o
aprimoramento da prática docente.
O curso deveria ter explorado melhor a própria estrutura do Currículo de Filosofia,
que descreve o ensino de Filosofia no Brasil por meio de um breve histórico. Poderia este
ter abordado os fundamentos para o ensino de Filosofia, refletindo sobre a importância
da disciplina para o ensino médio, poderia, ainda, ter se debruçado sobre a organização
dos conteúdos básicos e sobre a metodologia de ensino-aprendizagem destes. Outras
questões a serem exploradas pelo curso deveriam ser os subsídios para implantação do
currículo proposto e a organização das grades curriculares (série/ano por bimestre) e dos
conteúdos associados a habilidades, bem como a apresentação do quadro de conteúdos
e habilidades de Filosofia.
No entanto, nada disso foi feito. Os módulos dessa etapa foram lançados sem
um nexo e sem maiores explicações com relação aos seus propósitos de formação. Dos
conteúdos que foram explorados, faltaram sugestões didáticas que fossem atuais, que
partissem da realidade dos alunos, que problematizassem, que sensibilizassem, enfim,
que promovessem o interesse real na aprendizagem.
O próximo capítulo deste trabalho pretende explorar as contribuições do Curso
Específico de Formação para o aprimoramento da prática docente, analisando a
formação inicial do professor de filosofia, o ponto de vista dos docentes que fizeram o
curso da EFAP/SP e as contribuições deste como formação continuada.
83
Capítulo III – Contribuições do Curso Específico de Formação para o
aprimoramento da prática docente
O presente capítulo visa investigar as possíveis contribuições do Curso
Específico de Formação para o aprimoramento da prática docente. Com a intenção de
compreender essas possibilidades, é preciso entender a formação desde seu início, ou
seja, desde a formação inicial do professor de filosofia, a qual se dá na graduação.
Um fator necessário para assegurar uma educação de qualidade está
relacionado à boa formação docente. Esta pode se dar em dois momentos, num primeiro,
denominado formação inicial, correspondente à graduação e, num segundo, conhecido
como formação continuada, que abrange um grande leque de possibilidades, desde
estudos individuais até cursos diversos. O processo de formação do professor deve
acontecer de forma constante, sendo este um procedimento que pode durar a vida inteira.
Essa ação resulta da necessidade, do interesse e da vontade pela busca de novos
conhecimentos.
Compreendendo a importância da formação continuada, o capítulo pretende
analisar o propósito da SEE/SP, junto da EFAP/SP, buscando promover uma formação
obrigatória para os professores ingressantes. Com a intenção de ampliar a análise da
pesquisa, foi desenvolvido e aplicado um questionário para os professores ingressantes
da Diretoria de Ensino Região de Campinas Oeste que passaram pela formação21. A
intenção da aplicação do questionário foi buscar identificar diferentes pontos de vista
sobre o curso e suas possíveis contribuições para a prática docente.
A partir das informações que relacionam a formação inicial e continuada,
pretende-se realizar a análise e o balanço crítico sobre as práticas de formação em
filosofia no Brasil, mais especificamente no Estado de São Paulo.
21 Consta como Anexo 03, o Parecer Consubstanciado do CEP – APROVADO, autorizando o desenvolvimento da pesquisa.
84
1 – Formação do professor
Daniela Barros e Maria Brighenti (2004) apontam que os futuros professores
deveriam ser mais preparados para lidarem com os anseios educacionais e os aspectos
do cotidiano escolar. Tal preparo promoveria uma formação um pouco mais completa,
pois a sociedade espera dos professores conhecimentos que formam e transformam
pessoas. Para que isso ocorra, é preciso que exista a formação desses profissionais.
Pensando na qualidade da educação oferecida, as instituições que promovem a
formação dos docentes deveriam assegurar estudos de conteúdos que contemplassem,
de forma ampla, as demandas da atualidade, proporcionando, assim, a formação de um
profissional qualificado e preparado para atuar na educação básica.
Na realidade, essa almejada formação geral dos indivíduos somente será alcançada se as instituições formadoras de professores estiverem proporcionando aos licenciandos reflexões sobre os anseios educacionais; proporcionarem comparações com as práticas que vêm sendo realizadas em nossas salas de aula; inserirem os futuros professores em reais situações do cotidiano escolar e de pesquisa, e, ainda, proporcionarem o conhecimento tecnológico e científico atual (BARROS e BRIGHENTI, 2004. p. 129 e130).
Para promover uma formação a contento, faz-se necessária a atualização
contínua das instituições, além do constante diálogo com as Secretarias de Educação,
tanto na esfera estadual quanto na municipal. As instituições deveriam dar importância
para o desenvolvimento da relação teoria e prática, valorizando a atuação do professor
em sala de aula, assim como a relação ensino-aprendizagem, promovendo ações de
formação significativas e atualizadas.
Para refletir sobre o preparo do professor, é preciso observar e compreender qual
é o objetivo de sua formação inicial, bem como é necessário pensar sobre como as
instituições devem instrumentalizar o futuro educador para “transmitir, produzir e
socializar conhecimento” (BRZEZINSKI, 1998 p. 162). Cesar Augusto Minto, em seu
artigo As leis e a formação de educadores, afirma que a Constituição da República
Federativa de 1988, em seu artigo 207, prevê que:
[...] “As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” – tem relação com a qualidade escolar.
85
Pressupõe formar professores com atributos intelectuais necessários e suficientes para propiciar um ensino construtor/reconstrutor crítico de conhecimento filosófico, científico, artístico e político (MINTO, 1998. p. 176).
No entanto, o fato da Constituição da República ter um artigo específico para
garantir a qualidade do ensino prestado pelas universidades, não assegura o nível
desejado. Pensando nisso, a formação dos professores deveria acontecer em diferentes
espaços e contar com as novas tecnologias para promover e desenvolver a
indissociabilidade entre o ensino, a pesquisa e a extensão, mas nem sempre isso ocorre.
Se o intuito é promover um ensino reflexivo e contextualizado, as instituições deveriam
desenvolver um preparo mais substancioso que formasse o estudante para atuar com
qualidade em sua futura profissão.
Dentro dos parâmetros atuais, faz-se necessário formar professores que venham a refletir sobre a sua própria prática, na expectativa de que possam analisar e interpretar sua própria atividade didático-pedagógica, tornando a reflexão um instrumento de desenvolvimento de pensamento e ação (VIANNA, 2004. p. 45).
As instituições de ensino que promovem a formação docente deveriam
preocupar-se com a dinâmica dos parâmetros atuais e adequar-se à estrutura dos cursos
com as demandas da atualidade. No entanto, os moldes educacionais parecem
engessados, condenados a manter as disciplinas de forma estanque. Essa situação vem
sendo reproduzida há anos, sem maiores reformulações, seguindo um modelo que não
dialoga com os princípios educacionais da atualidade, principalmente com o ensino para
a educação básica. O desafio para o desenvolvimento da formação de professores com
qualidade está em encontrar maneiras de romper com essa estrutura padrão que vem se
repetindo sem muitos questionamentos.
Os processos de formação docente hoje são ainda essencialmente disciplinares. As licenciaturas preparam aqueles que, nas escolas, ensinarão as diferentes disciplinas. E que, por sua vez, são também ensinados através de um conjunto de disciplinas. Não se estimula o trânsito por entre os saberes, mas sim o respeito às hierarquias e às fronteiras (GALLO, 2004. p. 116).
As metodologias de ensino, por meio de disciplinas segregadas, que não
dialogam entre si, reforçam um modelo de educação que deveria estar ultrapassado.
Esse tipo de formação, oferecida pelas instituições de ensino superior, serve como
exemplo para uma prática não desejada, pois a formação inicial não deveria promover
86
esse tipo de imagem, mas, sim, recorrer às diferentes estratégias de ensino, servindo
como exemplo e base para a futura atuação docente. O professor Silvio Gallo, em seu
artigo Transversalidade e formação de professores, defende que:
[...] a formação docente precisa assumir, paulatinamente, um caráter não disciplinar ou, pelo menos, transdisciplinar, de forma que os futuros professores tenham oportunidade de navegar pelos diferentes saberes, construindo seus currículos e respectivos processos de formação de forma aberta e plural (GALLO, 2004. p. 116 e 117).
Por meio destes apontamentos é possível perceber que o processo de formação
do professor, de forma geral, requer uma série de mudanças para atingir as necessidades
educacionais da atualidade. No entanto, fica restrito a este trabalho a análise da formação
do filósofo / professor de filosofia.
Pretende-se, neste capítulo, analisar a estrutura e a organização dos cursos de
graduação, sem a pretensão de ir a fundo na temática, apontando, apenas, aspectos
essenciais dessa formação. É válido lembrar que o objetivo da análise está relacionado
à busca da compreensão e da justificativa da necessidade da formação continuada,
assim como as intenções do curso oferecido pela EFAP/SP, que promove tal ação de
forma obrigatória para os docentes de filosofia ingressantes na SEE/SP, nos anos de
2010 e 2011.
1.1 – Formação inicial
A análise da formação inicial começa a partir dos documentos que abordam as
Diretrizes Curriculares para os cursos de graduação em Filosofia, entre eles os pareceres
CNE/CES 492/2001 e CNE/CES 1363/2001, assim como a resolução CNE/CES 12/2002.
Estes expõem a estrutura necessária para o desenvolvimento do projeto pedagógico, da
formação acadêmica e profissional. Nessa estrutura, constam direcionamentos
referentes ao perfil dos formandos, às competências e habilidades, aos conteúdos
curriculares das disciplinas básicas e das áreas escolhidas, aos conteúdos definidos para
a educação básica, à estrutura do curso, ao formato dos estágios, às características das
atividades complementares e às formas de avaliação.
87
O Parecer CNE/CES 492/2001 expõe cada um desses direcionamentos como
requisitos mínimos necessários para os cursos de graduação contemplarem a formação
de profissionais aptos.
1. Perfil dos Formandos: Sólida formação de história da filosofia, que capacite para a compreensão e a transmissão dos principais temas, problemas, sistemas filosóficos, assim como para a análise e reflexão crítica da realidade social em que se insere. O licenciado deverá estar habilitado para enfrentar com sucesso os desafios e as dificuldades inerentes à tarefa de despertar os jovens para a reflexão filosófica, bem como transmitir aos alunos do Ensino Médio o legado da tradição e o gosto pelo pensamento inovador, crítico e independente. O bacharel deverá estar credenciado para a pesquisa acadêmica e eventualmente para a reflexão transdisciplinar. Os egressos podem contribuir profissionalmente também em outras áreas, no debate interdisciplinar, nas assessorias culturais etc. 2. Competências e Habilidades: Capacitação para um modo especificamente filosófico de formular e propor soluções a problemas, nos diversos campos do conhecimento; Capacidade de desenvolver uma consciência crítica sobre conhecimento, razão e realidade sócio-histórico-política; Capacidade para análise, interpretação e comentário de textos teóricos, segundo os mais rigorosos procedimentos de técnica hermenêutica; Compreensão da importância das questões acerca do sentido e da significação da própria existência e das produções culturais; Percepção da integração necessária entre a filosofia e a produção científica, artística, bem como com o agir pessoal e político; Capacidade de relacionar o exercício da crítica filosófica com a promoção integral da cidadania e com o respeito à pessoa, dentro da tradição de defesa dos direitos humanos. Capacidade de leitura e compreensão de textos filosóficos em língua estrangeira. Competência na utilização da informática. 3. Conteúdos Curriculares: O elenco tradicional das cinco disciplinas básicas (História da Filosofia, Teoria do Conhecimento, Ética, Lógica, Filosofia Geral: Problemas Metafísicos, - além de duas matérias científicas), tem se comprovado como uma sábia diretriz. Tal elenco vem permitindo aos melhores cursos do País um ensino flexível e adequado da Filosofia. Entretanto, tendo em vista o desenvolvimento da Filosofia nas últimas décadas, algumas áreas merecem ser consideradas, como: Filosofia Política, Filosofia da Ciência (ou Epistemologia), Estética, Filosofia da Linguagem e Filosofia da Mente. No caso da licenciatura, deverão ser incluídos os conteúdos definidos para a educação básica, as didáticas próprias de cada conteúdo e as pesquisas que as embasam. 4. Organização do Curso: Os cursos deverão formar bacharéis ou licenciados em Filosofia. O bacharelado deve caracterizar-se principalmente pela pesquisa, em geral direcionada aos programas de pós- graduação em Filosofia, bem como ao magistério superior. A licenciatura, a ser orientada também pelas Diretrizes para a Formação Inicial de Professores da Educação Básica em cursos de nível superior, volta-se sobretudo para o ensino de Filosofia no nível médio. Ambos os cursos devem oferecer substancialmente a mesma formação, em termos de conteúdo e de qualidade, organizada em conteúdos básicos e núcleos temáticos. 5. Estruturação do Curso: Os cursos devem incluir no seu projeto pedagógico os critérios para o estabelecimento das disciplinas obrigatórias e optativas, das atividades acadêmicas do bacharelado e da licenciatura, e a sua forma de organização: modular, por crédito ou seriado. 6. Estágios e Atividades Complementares: Devem integralizar a estrutura curricular, com computação de carga horária, atividades acadêmicas autorizadas pelo Colegiado tais como: estágios, iniciação científica, laboratórios, trabalho em
88
pesquisa, trabalho de conclusão de curso, participação em eventos científicos, seminários extraclasse, projetos de extensão. 7. Conexão com a Avaliação Institucional: Os cursos deverão criar seus próprios critérios para avaliação periódica, em consonância com os critérios definidos pela IES à qual pertencem (BRASIL, Parecer CNE/CES 492, 2001a).
Essas diretrizes norteiam, de forma ampla e genérica, as ações necessárias para
a estruturação dos cursos de graduação em filosofia. O perfil dos formandos apresenta
aspectos essenciais para a ação docente do licenciado e à pesquisa do bacharel, seguido
das competências e habilidades necessárias para o desenvolvimento dessas práticas.
Os conteúdos curriculares são minimamente apresentados e o documento não deixa
claro o que deve ser enfatizado em cada disciplina. As diretrizes asseguram a construção
de um projeto pedagógico coerente e completo, uniformizando e padronizando,
assegurando o mínimo necessário para o desenvolvimento dos cursos de graduação em
filosofia.
A diretriz Organização do Curso merece destaque, pois apresenta a igualdade
da formação oferecida para os bacharéis e licenciados e prevê que “os cursos devem
oferecer substancialmente a mesma formação, em termos de conteúdo e de qualidade”.
(BRASIL, Parecer CNE/CES 492, 2001a). Esse ponto pode ser interpretado como o
momento crítico da formação inicial, pois, na prática, os conteúdos filosóficos oferecidos
para os bacharéis e aos licenciados serão idênticos e se darão de forma conjunta. Isto é,
os alunos da graduação em filosofia, independentemente de serem estudantes de
bacharelado ou de licenciatura, cursarão juntos as mesmas disciplinas que irão promover
o ensino dos conteúdos filosóficos. Tal ação pode comprometer o desenvolvimento de
um ensino que articule a teoria com a prática, devido ao fato dos conteúdos filosóficos
serem apresentados por disciplinas que não possuem ligação e articulação com os
conteúdos didáticos, disciplinas especialmente oferecidas para os alunos das
licenciaturas. Assim, inicia-se o problema estrutural da formação inicial do docente, tendo
em vista a falta de preparo para a atuação didática atrelada aos conteúdos filosóficos.
No Brasil, a formação do professor de filosofia se dá nos cursos universitários de graduação, onde ainda é bastante comum a formula 3+1, ou seja, três anos de disciplinas específicas, de conteúdo filosófico, e um ano reservado as disciplinas de natureza pedagógica. Em algumas universidades, a parte pedagógica concentra-se no final do curso, em outras se encontra distribuída ao longo da grade curricular, nos quatro anos da graduação, ficando, habitualmente, sob a responsabilidade da Faculdade de Educação das respectivas instituições. Há,
89
portanto, uma divisão de trabalho, ou uma dicotomia entre formação específica e formação pedagógica: na faculdade ou departamento de filosofia o professor aprende ‘o que ensinar’, na faculdade de educação aprende ‘como ensinar’. Não é raro que estas duas frentes de trabalho possuam concepções divergentes e até mesmo conflitantes sobre o perfil do professor de filosofia no nível médio (RODRIGO, 2009a. p. 67 e 68).
A partir da reflexão presente no texto de Rodrigo (2009a), é possível perceber
um dos maiores problemas da formação inicial do futuro professor de filosofia, isso devido
à concepção de ensino que segrega o conteúdo específico da formação didática. Essa
falta de formação adequada faz com que o professor, pouco capacitado, comece sua
atuação docente sem estar devidamente preparado.
Assim, a formação de professores constitui matéria de difícil consenso nas nossas universidades; é campo conflituoso: que professor formar e como formá-lo? Questões como a necessidade da articulação dos saberes e das competências profissionais, ou mesmo quais seriam elas, muitas vezes não são nem mesmo enfrentadas. A relação teoria-prática na formação do professor, o tempo de formação dedicado as práticas de ensino, o espaço da didática e das metodologias de ensino têm sido motivo de debate e desacordo ao longo dos últimos 20 anos ou mais nas universidades e centros de formação de professores (MULLER e EITERER, 2003. p. 271).
A graduação em filosofia tem desenvolvido a formação de bacharéis e licenciados
de forma concomitante, mas essa ação tem gerado obstáculos, pois os interesses de
formação são diferentes, assim como os objetivos. A exemplo disso, o bacharel não está
interessado e não precisa aprender a desenvolver estratégias didáticas. Por esse motivo,
as disciplinas de natureza pedagógica são oferecidas à parte, sendo, na maioria das
vezes, apresentadas de forma totalmente desarticulada aos conteúdos filosóficos.
Seria interessante para o licenciado vivenciar a formação pedagógica articulada
ao ensino de filosofia, pois esta será a sua prática ao concluir a graduação. Percebe-se
que, na estrutura da formação inicial apresentada, o bacharel não fica tão prejudicado
quanto o licenciado, pois o estudante de licenciatura fica com uma parte da sua formação
fragmentada e comprometida.
O documento Proposta de diretrizes para a formação de professores da
educação básica em cursos de nível superior aponta uma série de exigências mínimas
necessárias para o bom desenvolvimento da prática docente, no entanto nem sempre
essas exigências são desenvolvidas na formação inicial dos professores.
90
Tudo isso delineia um cenário educacional com exigências para cujo atendimento os professores não foram, nem estão sendo preparados. Dentre as exigências que se colocam para o papel docente destacam-se: - orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos; - responsabilizar-se pelo sucesso da aprendizagem dos alunos; - assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos; - incentivar atividades de enriquecimento curricular; - elaborar e executar projetos para desenvolver conteúdos curriculares; - utilizar novas metodologias, estratégias e materiais de apoio; - desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe (BRASIL, 2000. p. 05 ).
Essas exigências são importantes para o bom desenvolvimento do ensino-
aprendizagem e da articulação dos conteúdos específicos às teorias pedagógicas que
fundamentam ações essenciais para a prática docente. Se está previsto que compete ao
professor orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos, é evidente que a
responsabilidade pela aprendizagem do aluno passa a ser do professor. Sendo assim,
este precisa estar amparado de conhecimentos didático-pedagógicos para desenvolver
o seu papel. Seguindo as orientações da Proposta de diretrizes para a formação de
professores da educação básica em cursos de nível superior, a formação inicial também
deveria prepará-lo para saber assumir e lidar com a diversidade existente entre os alunos,
incentivando-os, por meio de atividades diferenciadas a fim de proporcionar aos
discentes um contexto oportuno para a aprendizagem. Sendo assim, o papel do professor
é desafiador e a formação inicial deveria promover o preparo para a atuação em meio a
esses desafios.
Se a aprendizagem é o foco principal na ação docente, fica evidente a
necessidade do desenvolvimento de ações de formação que venham de encontro com
este objetivo. A formação inicial precisa contribuir e auxiliar o professor para o
desenvolvimento de um ensino expressivo, sendo indispensável a apresentação de
conteúdos filosóficos e pedagógicos, assim como estratégias metodológicas, para o
desenvolvimento de um ensino que leve à aprendizagem.
Melhorar a formação docente implica instaurar e fortalecer processos de mudança no interior das instituições formadoras, respondendo aos entraves e aos desafios apontados. Para isso, não bastam mudanças superficiais. Faz-se necessária uma revisão profunda dos diferentes aspectos que interferem na formação inicial de professores, tais como: a organização institucional, a definição e estruturação dos conteúdos para que respondam às necessidades da atuação do professor, os processos formativos que envolvem aprendizagem e desenvolvimento das competências do professor, a vinculação entre as escolas de formação inicial e os sistemas de ensino (BRASIL, 2000. p. 12 ).
91
Trata-se de um problema estrutural, que precisa ser reelaborado e reavaliado.
Um exemplo desse cenário está na própria estrutura da graduação em filosofia, que fica
dividida em duas partes: uma filosófica e outra pedagógica.
Em relação à parte filosófica, esta, geralmente, fica dividida entre dois modelos:
um mais acadêmico, que se aprofunda em poucos autores e outro com ênfase no
conhecimento filosófico, numa perspectiva ampla, porém fragmentada e superficial. Os
dois modelos possuem aspectos positivos e negativos. O primeiro investiga e analisa de
forma intensa um autor por vez, debruçando-se sobre uma ou duas obras, realizando um
estudo intenso e significativo destes, porém, em detrimento disso, o fator tempo não
possibilita a análise de muitos filósofos. Já o segundo modelo passa de forma superficial
por escolas e autores, sem se aprofundar nos conteúdos que foram desenvolvidos por
cada um deles, no entanto, possibilita um panorama geral da história da filosofia. O ideal
seria reunir os dois modelos, mas o tempo previsto para a graduação não permite tal
façanha. Seria necessário que as instituições pensassem na síntese desses dois
modelos com a intenção de aprimorar a formação oferecida.
Já a parte pedagógica é cursada somente pelos alunos de licenciatura, estes
tomam contato com uma pedagogia que “costuma contemplar mais a formação do
educador em sentido amplo - com base em conteúdos que tratam da educação em geral
- do que a formação do professor pelo ângulo da área que irá atuar” (RODRIGO, 2009a.
p.69). Nesse sentido, fica clara a falta de articulação dos conteúdos filosóficos com a
formação pedagógica, esta deixa de contemplar aspectos didáticos que seriam melhor
desenvolvidos se fossem conexos.
A formação pedagógica é essencial para o desenvolvimento da ação docente,
pois compreender a importância das contribuições do conhecimento pedagógico é
fundamental para a promoção do trabalho na escola. Segundo a Proposta de diretrizes
para a formação inicial de professores da educação básica, em cursos de nível superior:
Este âmbito refere-se ao conhecimento de diferentes concepções sobre temas próprios da docência, tais como, transposição didática, currículo e desenvolvimento curricular, planejamento, organização de tempo e espaço, gestão de classe, contrato didático, interação grupal, criação, realização e avaliação das situações didáticas, avaliação das aprendizagens dos alunos, inclusão de portadores de necessidades especiais, trabalho diversificado, relação professor-aluno, análises de situações educativas e de ensino complexas, produção de conhecimento pedagógico, entre outros. São deste âmbito, também,
92
as pesquisas dos processos de aprendizagem dos alunos e os procedimentos para produção de conhecimento pedagógico pelo professor (BRASIL, 2000. p. 58).
Mas nem sempre a formação pedagógica consegue contemplar e desenvolver,
na formação inicial do docente, todo preparo necessário. As instituições de ensino
superior desenvolvem diversas formas de abordagem pedagógica e os cursos de
graduação organizam os conteúdos a serem desenvolvidos de acordo com o interesse e
a disponibilidade da instituição, promovendo um ensino que dialoga muito pouco com as
reais demandas escolares. Ainda, segundo o mesmo documento:
Nos cursos atuais de formação de professor, ou se dá grande ênfase à transposição didática dos conteúdos, sem sua necessária ampliação e solidificação – “pedagogismo”, ou se dá atenção exclusiva a conhecimentos que o estudante deve aprender – “conteudismo”, sem considerar sua relevância e sua relação com os conteúdos que ele deverá ensinar na educação básica (BRASIL, 2000. p. 26 ).
Este fato compromete a formação inicial e não desenvolve aspectos que seriam
essenciais. Diante do exposto, ao concluir a graduação, o recém-formado professor
encontrará em sua prática profissional o desafio de transformar o saber filosófico em algo
ensinável e possível de ser aprendido. Então, pode-se concluir que, para promover tal
ação, será preciso saber articular o conhecimento específico à parte pedagógica.
A professora Simone Gallina (2002), em seu artigo Formação de professores: a
filosofia e o ensino médio, apresenta reflexões relacionadas à teoria e à prática do
professor de filosofia, reforçando o problema referente à formação inicial. O fato da
graduação desenvolver uma base sólida na formação dos conteúdos filosóficos e um
preparo didático isolado para o desenvolvimento de seu ensino pode ser considerado
apenas “uma parte da complexidade que caracteriza a formação para a prática de ensino”
(GALLINA. 2002. p. 465). Ser um bom conhecedor de conteúdos filosóficos e
pedagógicos é essencial para desenvolver a prática da melhor forma possível, mas é
preciso saber desenvolver esses conhecimentos para promover uma boa prática.
[...] A ideia de que a atividade pedagógica do professor é uma atividade prática, para a qual não é possível determinar a priori teorias e procedimentos que dêem conta da sua atividade, deve nortear os programas de formação. Somente deste modo é possível formar professores que estejam interados com as dificuldades inerentes à atividade pedagógica em sala de aula (GALLINA. 2002. p. 462).
93
A formação inicial precisa começar a focar, de forma mais intensa, essas ações.
Diante do contexto apresentado, outra reflexão pertinente está relacionada às práticas
de ensino. O cursista da graduação, na maioria das vezes, toma contato com os
conteúdos por meio de aulas expositivas. Este modelo de aula possui grandes chances
de ser reproduzido em sala, pois é comum as práticas de aprendizagem serem
reproduzidas como práticas de ensino.
Uma das formas mais tradicionais de agenciamento da perspectiva tradicional nos cursos de licenciatura é o recurso da prática de aulas expositivas, nas quais o professor, munido de um conjunto de informações, transmite aos estudantes os conhecimentos que ele supõe serem fundamentais para a intervenção em aula. Mas esta concepção de que a modalidade expositiva permite ao estudante aprender como ensinar não deixa de ser problemática, pois o que está em questão é justamente o aprendizado de uma prática (GALLINA. 2002. p. 459).
Esta seria mais uma mudança desejada na formação inicial, pois, se os
professores da graduação focassem em diferentes estratégias de ensino e não
promovessem apenas às aulas expositivas, possibilitariam outros exemplos de atividades
práticas e promoveriam amplo repertório no desenvolvimento das atividades
pedagógicas, que, certamente, seriam reproduzidas pelos estudantes quando estes
estivessem em sala de aula.
A formação inicial, de forma geral, requer mudanças para contribuir de maneira
significativa no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem de qualidade, pois
os “cursos de formação em que teoria e prática são abordadas em momentos diversos,
com intenções e abordagens desarticuladas, não favorecem esse processo” (BRASIL,
2000. p. 37 ). Enquanto essa questão estrutural não for resolvida22, este continuará sendo
um problema que fomenta a necessidade do docente, recém-formado, recorrer às
formações complementares, buscando, assim, o aprimoramento de uma prática que não
foi desenvolvida em sua formação inicial, assim como o desenvolvimento de
22 É preciso assinalar que o enfrentamento das questões relativas à formação do futuro docente de filosofia recebeu um reforço importante com a criação do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência), criado em dezembro de 2007, financiado pela CAPES, que tem conseguido dinamizar as discussões e formular alternativas pedagógicas e materiais didáticos para as aulas da disciplina no nível médio.
94
competências relacionadas ao processo ensino-aprendizagem, às metodologias de
ensino e à formação continuada.
1.2 – Formação continuada
A formação continuada acaba sendo uma etapa necessária na formação do
professor que deseja completar os “déficits” da formação inicial. Esta pode ocorrer de
diversas maneiras: por meio do estudo de um texto, ou cursos de qualificação
profissional, de extensão, especialização e aprimoramento; pode ser por meio de cursos
diversos oferecidos por instituições de ensino públicas ou particulares, pode se dar com
a participação em eventos, como palestras, congressos, seminários, colóquios,
simpósios, etc. Também pode ocorrer pela via acadêmica, a partir da pós-graduação
stricto sensu, mestrado, doutorado, pós-doutorado, etc. Todas essas possibilidades
ampliam o repertório da ação docente e promovem a intensificação da formação inicial
que não supri as demandas educacionais.
Portanto, se quiser fazer um trabalho de qualidade, o professor terá de encontrar formas de superar as deficiências de sua formação inicial, buscando cursos e eventos científicos que proporcionem um aprimoramento na área e, principalmente, fazendo do estudo pessoal uma constante em sua vida profissional (RODRIGO, 2009a. p. 69).
No entanto, a formação continuada depende da iniciativa do professor, que
percebe a necessidade de buscar atualização à sua formação inicial. Muitas vezes, esse
movimento se inicia com o estudo pessoal, com a pesquisa, tendo em vista a superação
de algumas dificuldades que se fizeram presentes no primeiro momento de sua formação.
A pesquisa pode ser compreendida como um ponto de partida para o aprimoramento da
prática, pois, por meio dela, o docente toma contato com diferentes situações e
experiências que foram vivenciadas e descritas por outros professores pesquisadores.
Por essas razões, a pesquisa (ou investigação) que se desenvolve no âmbito do trabalho de professor não pode ser confundida com a pesquisa acadêmica ou pesquisa científica. Refere-se, antes de mais nada, a uma atitude cotidiana de busca de compreensão dos processos de aprendizagem e desenvolvimento de seus alunos e à autonomia na interpretação da realidade e dos conhecimentos que constituem seus objetos de ensino (BRASIL, 2000. p. 45).
95
A pesquisa deve ser compreendida como um estudo contínuo que investiga e
procura conhecer aquilo que será ensinado. O conhecimento do professor precisa ser
continuamente fomentado, pois sempre haverá algo novo e diferente para ser aprendido
e ensinado. A pesquisa e a ação docente devem caminhar juntas, pois, por meio delas,
o professor vivencia experiências de sucesso e de fracasso, ele cria, transforma, estuda
novas possibilidades de ação, enfim, fica inserido em um processo de contínua formação.
Este movimento constante de formação faz com que o estudo pessoal leve ao
aperfeiçoamento. O artigo Tecnologia da Informação e Comunicação & Formação de
Professores: tecendo algumas redes de conexão, escrito por Daniela Barros e Maria
Brighenti, aponta que:
A formação de um profissional de educação se dá durante todo o tempo. Ações como pesquisar, raciocinar, usar a criatividade, ser capaz de interagir com outras pessoas e de utilizar as diferentes tecnologias relativas às suas áreas de atuação, são fatores importantes para essa formação (BARROS e BRIGHENTI, 2004. p. 134).
Sendo assim, as ações de formação continuada também podem ocorrer em
ambientes virtuais de aprendizagem. Hoje em dia, essas ferramentas encontram-se cada
vez mais presentes no processo ensino-aprendizagem. Essas ações ocorrem por meio
de cursos EaD - Educação a Distância. No entanto, a qualidade destas depende da
estrutura do ambiente virtual, a qual deve favorecer o desenvolvimento de competências
virtuais de navegação, de forma que o cursista possa se apropriar dessa modalidade de
ensino. A professora Ilca Vianna, em seu artigo A formação de docentes no Brasil:
História, desafios atuais e futuros (2004), aponta algumas reflexões sobre os desafios
dessa modalidade de ensino.
Um dos grandes desafios do processo de ensino-aprendizagem e também para a formação de docentes é a escola virtual, especialmente o ensino à distância, que exige do docente cultura geral e especializada bastante aprofundada, criatividade, uso competente dos recursos da tecnologia e, especialmente, capacidade para adequar seus conhecimentos e técnicas de ensino de forma a motivar o aluno a desenvolver aprendizado responsável, contínuo e construtivo, mesmo à distância (VIANNA, 2004. p. 48 e 49).
O ensino EaD - Educação a Distância tem sido usado cada vez mais
frequentemente. Suas contribuições são importantes para viabilizar a formação
continuada, pois, por meio desses cursos, as distâncias são encurtadas e pessoas com
96
interesses comuns, mesmo de longe, conseguem reunir-se e trocar experiências com
outros profissionais que buscam o aprimoramento de diferentes conteúdos.
Além do desafio da distância física, os cursos EaD - Educação a Distância
enfrentam a dificuldade de construir uma estrutura que envolva os avanços tecnológicos
e que desenvolva os conteúdos pretendidos por meio de um fio condutor claro e objetivo,
por isso a construção de cursos em ambientes virtuais necessita de objetividade para
poder serem estes, bem executados e para contribuírem de forma significativa no
processo de formação.
Os avanços tecnológicos, especialmente das tecnologias de informação e comunicação (TICs), provocam uma difusão das informações e um aumento da produção do conhecimento jamais vivenciados pela humanidade, demandando do profissional sua constante atualização (ALMEIDA e COSTA, 2011. p. 13).
Atualmente, o ensino deve contar com os recursos das TICs - Tecnologias de
Informação e Comunicação, já que a utilização dessas é necessária para o
desenvolvimento da formação EaD - Educação a Distância. A partir do uso dessas
tecnologias, desenvolve-se um ensino mais atraente no âmbito presencial. Quando um
professor passa por uma experiência de formação que utiliza as TICs, ele passa a ter
uma nova experiência de aprendizagem e esta, por sua vez, poderá servir como um novo
referencial para a construção de suas práticas de ensino.
Todavia, não é apenas o docente que deve investir em sua formação continuada.
As instituições de ensino, sejam elas particulares ou privadas, deveriam empregar
recursos, com frequência, para viabilizar esse tipo de formação, apoiando os professores,
oferecendo ou patrocinando cursos, disponibilizando tempo, enfim, apoiando este
aprimoramento tão necessário. O artigo Comentários sobre a formação de professores
em São Paulo, escrito pelo professor José Azanha, incide sobre a importância do
processo de formação, refletindo sobre a instituição Escola, ambiente em que se faz
presente a relação ensino-aprendizagem.
[...] Uma das “ideias feitas” subjacentes às políticas de aperfeiçoamento do pessoal docente é a de que a sua formação deve ser continuada após os anos acadêmicos. Espera-se com isso corrigir eventuais falhas na formação regular e atualizar o professor com relação aos avanços de novas tecnologias. Essa linha de atuação parece muito clara e razoável. Contudo, cremos que dissimula alguns equívocos. Mesmo sem duvidar que o professor, cliente habitual desses cursos de aperfeiçoamento, seja efetivamente aperfeiçoado, não há garantia nenhuma de que esse progresso pessoal seja variável relevante para a melhoria do ensino
97
na situação concreta de uma dada escola. Na verdade, a escola é uma unidade de uma outra ordem, é uma instituição. A questão da qualidade do ensino é, pois, uma questão institucional (AZANHA, 1998. p. 57 e 58).
A presente reflexão aponta que a formação continuada ajuda e amplia, de forma
positiva, o repertório dos professores, mas deixa claro que esse processo não pode ser
compreendido como uma solução mágica que irá resolver todos os problemas
relacionados à qualidade da educação. Azanha (1998) aponta que a escola deve ser
responsável pelo desenvolvimento da melhora na qualidade do ensino e da
aprendizagem e que, enquanto instituição de ensino, precisa desenvolver o
planejamento, o acompanhamento e a avaliação das práticas docentes, assim como
possibilitar momentos de contínua formação. Trata-se de um conjunto de ações
essenciais que precisam ser executadas na tentativa de assegurar a existência do ensino
de maior qualidade.
Foi com a intenção de possibilitar essas ações de formação continuada para o
aprimoramento da prática docente que a SEE/SP criou a EFAP/SP, no entanto, como já
foi destacado no capítulo anterior, os cursos oferecidos pela EFAP/SP possuem número
restrito de vagas. Esse fato faz com que apenas uma pequena parcela dos docentes
atuantes na rede seja contemplada em cursos de formação continuada.
No entanto, dentre estes, encontra-se o Curso Específico de Formação, curso
obrigatório para todos os professores ingressantes no concurso público de 2009. O curso,
que teve a sua parte específica apresentada de forma detalhada no Capítulo II, possui
em si o desafio da formação continuada por meio da EaD - Educação a Distância, com a
utilização das TICs como meio de ensino, entre outros grandes desafios. Assim, com a
intenção de tornar público o desafio de estruturar e implementar este curso, foi publicado,
em 2011, pela Fundação Padre Anchieta o documento Quantidade é Qualidade, que
apresenta alguns pontos que ampliam a compreensão do que foi o desenvolvimento do
material citado:
- Ambientação do preparo para o trabalho pedagógico, que apresenta a rede escolar estadual em suas dimensões de recursos humanos, materiais e financeiros, diversidade, estrutura organizacional e problemas gerais, explicitando o papel dos professores e demais educadores (coordenadores, diretores e supervisores) na formação escolar, ao promover a aprendizagem, conduzir a avaliação, administrar problemas e mediar conflitos. - Visão do currículo da rede pública paulista, em seus aspectos gerais, como as ênfases na
98
competência para ler e escrever e na construção da autonomia, promovidas por estímulo à produção pessoal e à participação ativa dos alunos, assim como discussão da cadência bimestral de ensino e avaliação e da natureza da avaliação, pautada pelo uso dos Cadernos do Professor e do Aluno, em associação com os livros adotados.- Discussão acerca da importância da implementação coletiva do projeto pedagógico, da forma específica pela qual se dá realidade à proposta curricular nas circunstâncias de cada escola. Ou seja, a compreensão de que, em diferentes entornos sociais e culturais, não são idênticas as maneiras de se pôr em prática um mesmo currículo (ALMEIDA e COSTA, 2011. p. 107 e 108).
As pretensões de formação do curso apresentadas pelo documento são
audaciosas e tocam em conteúdos e em aspectos necessários para o bom
desenvolvimento da ação docente em uma rede tão complexa como a do Estado de São
Paulo. No entanto, a grande quantidade de conteúdos e temas a serem abordados nessa
formação continuada podem ser considerados excessivos para um curto período de
tempo, principalmente em um curso EaD - Educação a Distância. Nesse caso, a formação
continuada oferecida pela SEE/SP precisa ser observada com criticidade, pois este
excesso de pretensões pode comprometer de forma significativa a qualidade da
aprendizagem dos professores ingressantes.
Embora o Capítulo II tenha explorado os objetivos e a estrutura do curso, tal ação
apresenta apenas a minha perspectiva acerca dessa ação formativa da SEE/SP. Com a
intenção de explorar melhor as contribuições do curso, foi desenvolvida uma pesquisa
com os docentes que passaram por essa formação. Na pesquisa, foram levantadas
questões que buscam investigar e compreender as contribuições do curso para o
aprimoramento da prática docente. Acreditamos que, a partir do ponto de vista desses
professores, é possível conhecer um pouco mais dessas possibilidades de formação
continuada.
2 – O ponto de vista dos docentes que passaram pela formação da SEE/SP
Com a intenção de constatar as possíveis contribuições do Curso Específico de
Formação, foi realizado o levantamento de informações consideradas pertinentes, via
questionário23, o qual foi encaminhado aos professores ingressantes de filosofia da
23 O modelo do questionário aplicado consta como Anexo 04.
99
Diretoria de Ensino Região de Campinas Oeste24, os quais passaram pela formação
continuada da SEE/SP. Cientes dos objetivos deste estudo, envolveram-se, como
sujeitos da pesquisa, dezoito docentes. Estes vivenciaram a experiência do curso na
primeira e na segunda edição25, e se dispuseram a engajar-se nesta jornada, bem como
estiveram abertos a contribuir com os seus depoimentos.
Com a intenção de identificar as possíveis contribuições do curso, referentes ao
aprimoramento da prática docente e à melhora na qualidade do ensino de filosofia, foi
desenvolvida a análise de conteúdo das respostas. Estas expressam o ponto de vista dos
docentes que responderam ao questionário. Tal análise corresponde ao conjunto de
ideias que apontam aspectos positivos e negativos da experiência que a formação
continuada possibilitou, representando a compreensão que alguns professores tiveram
do curso.
O questionário foi dividido em cinco partes. A primeira delas compreende os
dados pessoais que asseguram o anonimato dos participantes na pesquisa; a segunda
reflete sobre a complementação da formação inicial; a terceira sobre a compreensão do
currículo de filosofia; a quarta investiga o aprimoramento da prática docente e a última
parte busca investigar a relevância da estrutura da formação continuada oferecida pelo
curso.
A elaboração da estrutura do questionário visou fomentar a exposição da
experiência e da opinião crítica dos docentes ingressantes, por isso que as perguntas
das cinco partes foram construídas de forma aberta, aspecto que dificultou a tabulação
dos dados, mas que possibilitou o contato com opiniões significativas para a reflexão
crítica sobre o aproveitamento do curso para cada professor que respondeu a pesquisa.
Com a intenção de ilustrar os dados tabulados dos questionários aplicados, serão
apresentados gráficos. No entanto, é válido reforçar que estes servirão, apenas, para
demonstrar a análise qualitativa dos dados, baseada em análise categorial e de conteúdo.
A primeira parte dos questionários aplicados permite identificar o perfil dos
docentes que responderam à pesquisa com relação ao sexo, idade, instituição onde
24 Ingressaram vinte e seis professores de filosofia de acordo com os dados do Diário Oficial - São Paulo, 08 de maio de 2010, Suplemento – Executivo I - página 90. 25 A primeira edição ocorreu no ano de 2010, a segunda, no ano de 2011. Na terceira edição, de 2012, não houve ingressante de filosofia, pois a lista de classificados estava encerrada.
100
cursou a graduação, seguida do ano de conclusão, identificando, também, em qual etapa
o docente realizou o curso26.
Dos dezoito professores que responderam à pesquisa, foi possível perceber que
a maioria é do sexo masculino, sendo perceptível a diversidade da idade, das instituições
de ensino27 onde os docentes realizaram a graduação e o ano de conclusão, sendo
notável que a maioria dos participantes realizaram o Curso Específico de Formação na
segunda etapa. No entanto, trata-se do mesmo curso, que aconteceu em diferentes
épocas na chamada do concurso.
Essa primeira parte da pesquisa aponta dados que apresentam o perfil dos
docentes que a responderam, sendo possível, a partir destes, perceber a existência da
diversidade entre os profissionais de filosofia que atuam na rede.
A segunda parte do questionário reflete sobre a complementação da formação
inicial, por meio da pergunta O curso ofereceu alguma abordagem relacionada a
conteúdos filosóficos e/ou conteúdos pedagógicos que contribuíram para complementar
a sua formação inicial em Filosofia?
Gráfico 01
26 Os gráficos que apontam esses dados encontram-se no Anexo 05. 27 Foi possível perceber que a maioria das instituições onde os docentes realizaram a graduação são particulares.
101
A partir da análise dos dados presentes no Gráfico 1, pode-se afirmar que 39%
dos docentes consideraram que o curso viabilizou possíveis contribuições para
complementar a formação inicial, seguido de 28% dos apontamentos, que indicam que o
curso contribuiu de forma parcial. Se, somado os dois percentuais, pode-se concluir que
grande parte dos docentes considerou válida a formação oferecida pelo curso para a
complementação de sua formação inicial.
Embora a maioria dos docentes que responderam à pesquisa tenham
considerado o curso como uma forma de complementação da formação inicial, 28%
destes apontaram que o mesmo não viabilizou possíveis contribuições. Então, com a
intenção de apresentar uma justificativa para este percentual, é destacada a resposta de
um dos docentes participantes da pesquisa:
“Não considero que o Curso tenha oferecido conteúdos complementares à minha formação, seja em Filosofia ou Educação. O que encontrei foi um rearranjo do que vi em maior profundidade no curso de graduação, sem clara relação com o trabalho docente em sala de aula e sem propor temáticas filosóficas para a abordagem da disciplina. Os temas pontuados se limitaram a exemplificar a perspectiva de filósofos ícones da História da Filosofia. Sugiro que se faça o caminho inverso: pontuar a contribuição inquestionavelmente relevante desses filósofos, mas como exemplos da abordagem de temas ainda em aberto para a Filosofia. Daí estruturar-se-ia um Curso com capacidade de interacionar temas filosóficos, pedagógicos e históricos que envolvem o componente curricular” (Professor nº5).
O apontamento efetuado pelo cursista identifica falhas na estrutura do curso
oferecido pela EFAP/SP, com seus dezoito módulos em suas duas etapas. É possível
perceber a falta de articulação entre os temas filosóficos e pedagógicos, além do fato
deste não oferecer clara relação do trabalho docente em sala de aula. A partir da resposta
dada pelo professor, é possível perceber que o curso não contempla o seu objetivo em
relação ao estudo do aprimoramento da prática na sala de aula, ficando a formação
limitada a repetir o que a graduação já realizou. A ideia apontada pelo professor, de
pontuar a contribuição inquestionavelmente relevante dos filósofos com os temas
filosóficos e a história, tudo isto de forma didática e pedagógica, com certeza, seria uma
contribuição relevante para o curso.
Embora a maioria dos participantes da pesquisa tenham afirmado que o curso
contribuiu para a complementação da formação inicial, a sugestão apresentada pelo
cursista que não considerou significativo o curso destaca uma crítica fundamental, pois o
102
seu apontamento vem ao encontro da proposta de um trabalho articulado entre temas e
história da filosofia, ideia já apresentada no Capítulo I deste trabalho, no subitem
abordagem temático-histórica.
A terceira parte do questionário aplicado visa investigar a compreensão que os
docentes ingressantes possuem do Currículo de Filosofia da SEE/SP, por meio da
pergunta “Os conteúdos apresentados no curso contribuíram para o entendimento do
Currículo e dos materiais de apoio à sua implementação (cadernos do professor,
cadernos do aluno e livros didáticos)? Para melhor compreender e explorar as respostas,
estas foram divididas em dois blocos: no primeiro deles, as contribuições foram positivas
e, no segundo, foram consideradas as contribuições negativas.
Gráfico 02
Pode-se concluir que a maioria dos cursisitas, ou seja, 61% consideraram que o
curso ofereceu contribuições para o entendimento do Currículo e dos materiais de apoio,
cumprindo com um dos objetivos previstos em sua apresentação inicial. Tal diagnóstico
comprova a carência da formação inicial com relação ao estudo dos documentos oficiais
da União e do Estado, os quais norteiam o ensino de filosofia. Este diagnístico mostra,
também, que os documentos são construídos à revelia dos docentes. Este apontamento
103
reforça a importância da própria rede em aprimorar a divulgação e a promoção da
formação dos docentes em relação aos documentos existentes.
A quarta parte da pesquisa está relacionada ao tema do aprimoramento da
prática docente e foi dividida em duas perguntas: A primeira delas é a seguinte: “Os
conteúdos apresentados na Etapa I (Módulos 1 ao 8), os quais compreendem a formação
na área pedagógica e na Etapa II (Módulos 9 ao 18), os quais compreendem a formação
específica no conteúdo da disciplina de Filosofia, contribuíram para o aprimoramento da
sua prática didático pedagógica?
Gráfico 03
Por meio das respostas obtidas, foi possível observar que 50% dos cursistas
consideraram que os módulos das duas etapas contribuíram para o aprimoramento da
prática. Já 33% dos cursistas consideraram que não houve contribuição significativa. Em
continudade, a segunda pergunta dessa parte busca compreender: “Como você relaciona
as práticas didáticas apresentadas na Etapa I (Módulos 1 ao 8) com os conteúdos
filosóficos da Etapa II (Módulos 9 ao 18) na sala de aula? Na sua opinião, o curso articula
e relaciona essas duas etapas?” O questionário busca investigar o entendimento que os
104
cursistas tiveram da relação entre os conteúdos das duas etapas do Curso Específico de
Formação. Diante das opiniões apresentadas, houve equilíbrio, como aponta o Gráfico 4,
sendo válido apontar que, para essa pergunta, nem todas as respostas permitiram a
compreensão clara da articulação entre as duas etapas, sendo estas enquadradas como
“Resposta não contempla a pergunta”28.
Gráfico 4
Diante do equilíbrio apresentado no Gráfico 4, o apontamento desenvolvido por
um dos professores que respondeu a pesquisa toca em um ponto crítico, que é
fundamental para a análise da estrutura do curso:
“Aqui eu preciso ser enérgico. Decisivamente não encontro uma relação real entre as duas etapas, apesar de ambas terem suas qualidades e defeitos, como já pontuei. Falta ainda os profissionais responsáveis pela elaboração do Curso de Formação se debruçarem sobre o material produzido na área de Filosofia da Educação para fazer um diálogo entre Educação e Filosofia. O que vimos na
28 Estes cursistas, cujas respostas não contemplaram a pergunta, não se fizeram claros em sua opinião, deixando uma interrogação com relação ao seu posicionamento, este é um fato que acaba ocorrendo quando se aplica um questionário com questões abertas, no entanto, o contato com a opinião positiva e/ou negativa de cada cursista pode ser considerado uma experiência válida.
105
Etapa I é destilado da produção em Pedagogia. O que vimos na Etapa II advém da produção em Ensino de Filosofia ou História da Filosofia. Falta ainda tecer a relação entre o pedagógico e o filosófico que, embora estejam eminentemente ligados um ao outro, precisam ser trabalhados juntos, não como aportes, mas como leituras por vezes dissonantes e por vezes complementares. Isto é, faz-se necessário adentrar a Educação com uma agenda filosófica, deixando para segundo plano nesse momento a esquematização didática – que é importante, mas não é tudo – e permitir abordar as questões filosóficas como parte do processo educativo. Só assim vejo que se faz possível a Filosofia contribuir para a formação não só do professor de Filosofia, mas dos alunos e da escola como um todo” (Professor nº5).
O cursista fez um apontamento significativo, pois transpareceu em sua resposta
o maior problema apresentado na estrutura do curso, a falta de consonância entre a
pedagogia e a filosofia. Se adiante foi visto que na formação inical em filosofia existe a
falta de articulção entre a parte pedagógica e a parte filosófica, fica evidente que o Curso
Específico de Formação oferecido pela EFAP/SP como formação continuada falhou no
mesmo aspecto, reproduzindo e reforçando o mesmo erro cometido pela graduação. A
falta de articulação entre teoria e prática serviu como exemplo da não prática e pouco
contribuiu à promoção da ampliação dos conhecimentos para o aprimoramento da
didática e para o melhor desenvolvimento da prática em sala de aula.
Talvez, 44% dos docentes tenham respondido que houve articulação entre os
conteúdos das duas etapas por falta de conhecimentos e análise crítica do que seria a
articulação entre as práticas didáticas presentes na parte pedagógica do curso e os
conteúdos filosóficos presentes na parte específica. Ou então, tenham considerado de
forma significativa as sugestões de desenvolvimento de atividades como relação e
articulação entre as duas etapas.
A quinta e última parte do questionário refere-se à estrutura da formação
continuada. Essa parte foi dividida em três perguntas, a primeira delas “Com relação à
quantidade, à qualidade dos conteúdos e às atividades propostas em todos os Módulos,
estes estão articulados entre si de forma a favorecer uma formação continuada? Sobre
a resposta para essa pergunta, 61% consideraram que o curso favoreceu uma formação
continuada:
106
Gráfico 5
Se a principal ideia do Curso Específico de Formação oferecido pela EFAP/SP
era de promover uma formação continuada, pode-se afirmar que, com base nos dados
obtidos, por meio das respostas dos professores que participaram da pesquisa, tal ação
foi desenvolvida.
Diante do contexto da formação do professor apresentado no início deste
capítulo, é possível afirmar a existência de um problema na estrutura da formação inicial.
Este pode ser compreendido como uma deficiência que implica de forma direta na
qualidade do desenvolvimento da ação docente. Essa falha na estrutura é tão intensa,
que, qualquer ação de formação continuada, apresenta contribuições significativas para
o aprimoramento da prática. Tanto é que a segunda pergunta da quinta parte: “O curso
possibilitou o aprimoramento da sua prática docente?” investiga se o curso ofereceu a
ampliação de conhecimentos, de métodos e de recursos para a ação docente. Conforme
apresenta o Gráfico 6, a maioria dos cursistas consideraram que sim, ou seja,
perceberam o aprimoramento da sua prática docente.
107
Gráfico 6
Com a intenção de disponibilizar um espaço aberto para o diálogo e sugestões,
no final do questionário, consta: “Outras considerações relevantes que gostaria de
sugerir:”. Poucas sugestões foram apresentadas a esta, entre elas, foi sugerida a
importância do estudo contínuo e regular, a troca de experiência entre docentes, o estudo
de metodologias de trabalho e a formação continuada, buscando a ampliação do
conhecimento livre das ideologias e interesses da SEE/SP.
As respostas dos cursistas que passaram pela formação apresentaram uma
diversidade de opiniões, mas, em um balanço geral, 53% das impressões e pontos de
vista apontaram indícios de que o curso contribuiu para desenvolver um momento de
estudo, de aprimoramento da prática e de reflexões sobre o ensino de Filosofia no nível
médio. Embora a estrutura do curso contenha em si uma série de fragilidades, foi possível
perceber que este possibilitou contatos com conteúdos e situações que seriam
inexistentes no ingresso de um professor em outro contexto, pois, antes da existência
deste curso, os docentes iniciavam a sua atuação na rede sem a mínima noção de sua
estrutura, sem conhecer os seus objetivos, seu Currículo e, tampouco, os materiais de
apoio.
108
De forma geral, analisando os dados obtidos, por meio da aplicação do
questionário, é possível afirmar que 31% dos docentes consideraram que o Curso
Específico de Formação da EFAP/SP não teve peso significativo enquanto formação
continuada, não possibilitando o aprimoramento da prática. Dado considerável e
relevante se levarmos em conta que em 16% das respostas os cursistas não se fizeram
entender claramente e/ou opinaram de forma parcial.
3 – Balanço crítico sobre as práticas de formação
Para apresentar um balanço crítico sobre as práticas de formação em filosofia, é
pertinente considerar os apontamentos que destacam a formação do professor, os quais
foram realizados no início deste capítulo. Tais apontamentos apresentam pontos
fundamentais que esclarecem a estrutura da formação inicial e suas fragilidades, assim
como as possibilidades de formação continuada que fomentam e possibilitam o
aprimoramento da prática docente.
Diante do que foi exposto, é possível constatar que a formação inicial não
cumpre, de forma plena, o preparo para o desenvolvimento da profissão docente. Entre
as fragilidades apresentadas, ganha destaque a falta de estudo e de análise dos
documentos oficiais, principalmente os estaduais e municipais, como aponta a Proposta
de diretrizes para formação inicial de professores da educação básica, em cursos de nível
superior:
[...] o estudo e a análise de propostas curriculares de Secretarias Estaduais e/ou municipais e de projetos educativos das escolas também ficam, em geral, ausentes da formação dos professores dos respectivos estados e municípios. O resultado é que a grande maioria dos egressos desses cursos desconhecem os documentos que tratam desse assunto ou os conhecem apenas superficialmente, bem como as instituições responsáveis por sua definição e implementação (BRASIL, 2000. p. 24 ).
Essa citação faz referência a um problema estrutural presente em alguns cursos
de graduação, principalmente das licenciaturas, pois, se tais documentos não são
apresentados na formação inicial, em que momento estes terão espaço para estudo e
análise na vida docente? As secretarias socializarão esses documentos de que forma?
109
A diversificação e ampliação das formas de socialização desses documentos por parte das instituições que os produzem e a inclusão dos mesmos nos cursos de formação, para conhecimento, análise e aprendizagem de sua utilização, é condição para que os professores possam inserir-se no exercício profissional com autonomia (BRASIL, 2000. p. 24 ).
Nesse sentido, é possível afirmar que o Curso Específico de Formação tentou
suprir essas faltas, apresentando, para os professores ingressantes, os documentos
oficiais da SEE/SP que norteiam a ação docente. No entanto, essa apresentação se deu
de forma superficial, pois o curso apenas apontou a existência dos documentos e sugeriu
a leitura na íntegra, não desenvolvendo o estudo e a análise de forma detalhada da
Proposta Curricular de Filosofia e do Currículo de Ciências Humanas e suas Tecnologias.
O ideal seria o trabalho, de forma detalhada, dos conteúdos que compõem esses
documentos. Talvez, essa falha tenha sido cometida devido à escassez de tempo para o
desenvolvimento desse estudo, como aponta o documento Quantidade é qualidade, que
destaca alguns pontos que facilitaram a aplicabilidade do Curso Específico de Formação,
mas que também o comprometeram em alguns momentos, tornando-o frágil e deficiente
em algumas ações.
Seria recomendável que todas as atividades pontuassem efetivamente o trabalho do cursista e necessitassem de reflexão. Além disso, deveria haver mais questões que oferecessem um retorno qualitativo à formação do professor ingressante. Se for considerado mais adequado manter uma quantidade menor de atividades pontuadas, essas deveriam ser mais abrangentes, avaliando a percepção sintética da totalidade dos módulos, em lugar de dar peso a aspectos muito específicos de alguns assuntos (ALMEIDA e COSTA, 2011. p. 116).
O apontamento realizado destaca uma questão fundamental, pois, se o Curso
Específico de Formação tivesse em sua estrutura menos conteúdos, talvez teria tempo
para melhor explorá-los. Por efeito da falta de tempo, o curso teve a sua qualidade
comprometida. A exemplo disso, podemos notar a estratégia de apresentar a parte geral
da área pedagógica na primeira etapa para todos os cursistas ingressantes, elemento
que comprometeu a possibilidade de desenvolver uma formação continuada superando
os problemas da formação inicial. Essa escolha dos organizadores do curso
comprometeu o desenvolvimento de seus objetivos, pois a estrutura deste ficou baseada
em conteúdos pedagógicos e filosóficos, sem articulação. O curso reproduz exatamente
110
a mesma falha estrutural da formação inicial, tratando de forma desarticulada assuntos
que deveriam ter sido trabalhados juntos.
Outra falta grave cometida pelo curso foi realizar a apresentação dos conteúdos
sem desenvolver de forma conjunta as competências, ações previstas nas
recomendações da SEE/SP. Além de ter faltado tempo para trabalhar as competências,
faltou tempo para desenvolver com os docentes cursistas estratégias e metodologias de
ensino que reforçam a importância do conhecimento de conteúdos. Outros pontos
essenciais não foram contemplados, como a valorização da autonomia do professor, o
estímulo à construção de situações de aprendizagem, por meio de recursos diversos, e
as melhoras nas estratégias de ensino. Nesse sentido, Almeida e Costa apontam a
seguinte sugestão para que o próximo curso organizado pela SEE/SP
explicite melhor as competências desenvolvidas com base nas atividades propostas nos Cadernos do professor e do Aluno, em associação com os livros didáticos adotados, deixando mais claro que os cadernos não são apostilas e que a formação pretendida não se resume à aquisição de conhecimentos (ALMEIDA e COSTA, 2011. p. 117).
Partindo desse diagnóstico presente na última parte do documento Quantidade
é qualidade, percebe-se o apontamento de eixos que deveriam ter sido centrais no
desenvolvimento do curso, cujo objetivo era promover a apresentação da SEE/SP e seu
funcionamento. Sendo assim, se o Currículo vigente prioriza um ensino baseado em
competências e habilidades, por que o Curso Específico de Formação não desenvolveu
os seus conteúdos dessa maneira? Outra reflexão pertinente: se a intenção do curso era
ampliar o conjunto de ações do professor, por que o curso ficou limitado a poucos
exemplos e não valorizou o desenvolvimento da autonomia docente?
Percebe-se que o Curso Específico de Formação possibilitou contribuições para
uma formação profissional, mas esta se deu de forma superficial. Se o desejo da rede
era apresentar a sua estrutura, o seu Currículo e os materiais disponíveis para os seus
futuros professores, é possível afirmar que, mesmo minimamente, o curso cumpriu o seu
papel.
Agora, afirmar que o curso tenha contribuído de forma direta para o
desenvolvimento de uma formação continuada e para o aprimoramento da prática dos
docentes cursistas é algo arriscado, pois tal ação pode depender da qualidade da
formação inicial recebida pelo docente. O aproveitamento do curso pode ser considerado
111
relevante e significativo em relação à retomada de alguns conteúdos filosóficos e
pedagógicos, contudo é possível afirmar que o curso possibilitou poucas reflexões
necessárias para o desenvolvimento do ensino de filosofia no nível médio, deixando a
desejar enquanto formação continuada que aprimora a prática docente.
Num balanço geral sobre as práticas de formação, o que deve ser priorizado está
relacionado à ideia de educador, o qual investiga, problematiza e pensa de forma
conjunta com seus alunos, construindo saberes. Se a formação, seja ela inicial ou
continuada, promover esse movimento, possivelmente, a ação docente terá êxito,
contudo:
Uma abordagem nesse sentido pressupõe que os processos de ensino e de aprendizagem sejam experiências reflexivas, e de que a formação do professor deve ter como norte a ideia de que ele é um educador, um pensador que, no exercício de sua prática, contempla a tarefa de investigar e de problematizar as condições que regulam e orientam a sua própria atividade. Mesmo que estas características não expressem a totalidade da atividade do professor de filosofia, pelo menos resgatam um importante aspecto da sua auto-organização enquanto educador. Sabemos que são vários os fatores que estão implicados numa ação, a saber, comportamentos, conhecimentos, habilidades, intenções e uma gama de outros valores oriundos do processo de socialização, pois, como os professores das demais disciplinas, a ação do professor de filosofia não deixa de ser uma ação social e, como tal, a reflexão sobre o seu agir acaba sendo uma reflexão sobre todos estes aspectos que compõem a sociedade na qual ele vive (GALLINA. 2002. p. 466).
Sendo o professor de filosofia um educador que deve promover reflexões críticas,
vivas e pertinentes, quanto maior for a sua desenvoltura, ou seja, quanto mais preparado
estiver para o desenvolvimento de sua prática, melhores serão os resultados alcançados.
113
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A reflexão sobre o aprimoramento da prática docente no ensino de filosofia no
nível médio, por meio do Curso Específico de Formação da EFAP/SP, promovida pelo
presente trabalho, tem por interesse verificar a contribuição dessa formação continuada,
oferecida de forma obrigatória pela SEE/SP, para a formação inicial dos docentes
ingressantes, e, principalmente, para a melhora da qualidade do ensino de filosofia
oferecido nas escolas públicas estaduais paulistas.
Com a intenção de apresentar o contexto do ensino de filosofia no nível médio,
foram descritas algumas concepções do ensino, entre elas: modalidades de abordagem,
aspectos didáticos e subsídios para um ensino que leve ao filosofar. O propósito dessas
descrições está em destacar aspectos essenciais para o desenvolvimento da prática
docente, apresentando, assim, elementos que estão diretamente ligados à relação de
ensino-aprendizagem.
A SEE/SP, ao promover o Curso Específico de Formação pela EFAP/SP, acabou
assumindo que os docentes ingressantes precisavam passar por uma formação
continuada que complementaria a sua graduação, esta ação viabiliza questionamentos,
uma vez que o candidato à vaga de professor no concurso público já possui diploma de
licenciatura, formação que o habilita a atuar como profissional da educação segundo os
artigos 61 e 62 da LDB – 9.394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
As intenções dessa formação continuada, oferecida pela Secretaria Estadual da
Educação, visam apresentar documentos e conteúdos que podem contribuir, de alguma
forma, para o aprimoramento da prática docente, no entanto, a passagem por essa
formação não é garantia na melhora da aprendizagem dos educandos.
É arriscado afirmar, de forma pontual, sobre a ineficiência da formação inicial e o
sucesso da formação continuada. Ao terminar a graduação em filosofia e ao iniciar suas
ações de educador, o docente encontra os desafios da prática. A formação continuada
pode ser um caminho para a atualização profissional, no entanto, este estudo contínuo
também não pode ser compreendido como garantia do aprimoramento da prática.
114
No que se refere ao ensino de filosofia no nível médio, saber apenas a teoria e/ou
os conteúdos filosóficos não garante o desenvolvimento de um ensino de qualidade, pois,
para que uma aprendizagem desse nível ocorra, o professor precisa instrumentalizar o
aluno para a emancipação. Tal ação requer atitude e postura, preparo e domínio do
conhecimento, autoria na construção das aulas, confiança naquilo que se ensina, além
da utilização de assuntos pertinentes que façam parte da realidade do aluno,
sensibilizando e provocando neles a vontade de aprender.
O Curso Específico de Formação apresentou, em sua estrutura, muita teoria,
revisitando conteúdos filosóficos tratados na graduação. A articulação entre teoria e
prática pouco se fez presente. Diante desse contexto, cabe questionar como este tipo de
formação continuada pode contribuir e viabilizar o aprimoramento da prática docente e o
desenvolvimento de um ensino de qualidade.
Diante do que foi apresentado neste trabalho, fica evidente que existem diversas
formas para promoção e desenvolvimento de um ensino que possibilite a aprendizagem,
onde o estudo contínuo dos docentes e a participação de formações continuadas possam
auxiliar e contribuir para este aprimoramento.
Sendo a formação continuada uma contribuição importante para o aprimoramento
da prática docente, pergunto: por que a SEE/SP não desenvolve uma estratégia mais
efetiva para o desenvolvimento dessas formações? Sabemos que sua estrutura é
gigantesca e a rotatividade de profissionais também (professores ingressam e exoneram,
mudam de rede, aposentam, etc.), mas isso não é pretexto para que a SEE/SP deixe de
lado a capacitação contínua de todos os docentes que atuam em sua rede, não focando
apenas nos professores ingressantes com cursos que pouco relacionam a teoria com a
prática. Seria interessante pensar em uma ação de formação, que fosse permanente e
“obrigatória”, e que essas ações tivessem continuidade e permanência, mas, nesta rede,
ainda falta pontualidade e tradição.
115
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123
ANEXOS
Anexo 01: Quadro com as referências bibliográficas apresentadas no Currículo de
Filosofia
Referências bibliográficas
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(SÃO PAULO, 2010, P. 118 - 119)
124
Anexo 02: Apresentação dos conteúdos do Currículo contemplados pelo Curso29
Série/Bimestre
Conteúdos do Currículo Módulos do Curso
1ª / 1º Por que estudar Filosofia? As áreas da Filosofia. 9 / 13 / 14
1ª / 2º
A Filosofia e outras formas de conhecimento. Mito, Cultura, Religião, Arte, Ciência.
10 / 13 / 14
1ª / 3º
Introdução à Filosofia Política Teorias do Estado. Socialismo, anarquismo e liberalismo.
11 / 12 / 17
1ª / 4º Filosofia Política. Democracia e cidadania: origens, conceitos e dilemas. Desigualdade social e ideológica. Democracia e justiça social. Os direitos humanos. Participação política.
Nenhum módulo.
2ª/ 1º
Introdução à ética. O eu racional. Autonomia e liberdade.
9 / 13 / 15 / 16
2ª/ 2º Introdução à Teoria do Indivíduo. John Locke, Jeremy Bentham e Stuart Mill. Tornar-se indivíduo. Paul Ricoeur e Michel Foucault. Condutas massificadas Alienação moral.
11 / 17
2ª/ 3º
Filosofia, Política e Ética. Humilhação, velhice e racismo. Homens e mulheres. Filosofia e educação.
Nenhum módulo.
2ª/ 4º
Desafios éticos contemporâneos. A Ciência e a condição humana. Introdução à Bioética.
17
3ª/1º O que é Filosofia. Superação de preconceitos em relação à Filosofia e definição e importância para a cidadania. O homem como ser de natureza e de linguagem.
10
3ª/2º Características do discurso filosófico. Comparação com o discurso religioso. O homem como ser político A desigualdade entre os homens como desafio da política.
11 / 12 / 13 / 16
3ª/3º
Características do discurso filosófico. Comparação com o discurso científico. Três concepções de liberdade. Libertarismo, determinismo e dialética
14 / 15
3ª/4º Características do discurso filosófico. Comparação com o discurso da literatura. Valores contemporâneos que cercam o tema da felicidade e das dimensões pessoais e sociais da felicidade.
Nenhum módulo.
29 Neste quadro constam dados extraídos do Currículo de Ciências Humanas e suas Tecnologias e dos módulos do Curso Específico de Formação em Filosofia. Cada módulo apresentou a série e o volume do Caderno do Professor e Caderno do Aluno mencionados na tabela.
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Anexo 03: Parecer consubstanciado do CEP
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Anexo 04: Modelo do questionário aplicado junto aos professores ingressantes
Caros professores e professoras,
As questões abaixo visam a coleta de manifestações de vários pontos de vista, inclusive
observações críticas com relação ao Curso Específico de Formação para os
professores ingressantes de Filosofia na Rede de Ensino do Estado de São Paulo,
oferecido pela EFAP – Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores. A partir
da sua contribuição, através de respostas com olhar crítico que revelem as reais
impressões com relação ao conteúdo e a estrutura do curso, pretendo desenvolver a
pesquisa de mestrado referente à contribuição deste, para o aprimoramento da prática
docente no ensino de Filosofia.
DADOS PESSOAIS
- Sexo:
- Idade:
- Nome da Instituição onde realizou a graduação em Filosofia:
- Ano de conclusão na graduação em Filosofia?
- Sua participação no Curso Específico de Formação para os professores ingressantes
de Filosofia na Rede foi em qual etapa?
( ) 1ª etapa em 2010 ( ) 2ª etapa em 2011
COMPLEMENTAÇÃO DA FORMAÇÃO INICIAL
- O curso ofereceu alguma abordagem relacionada aos conteúdos filosóficos e/ou
conteúdos pedagógicos que contribuíram para complementar a sua formação inicial em
Filosofia? Descreva estas possíveis contribuições. Em caso negativo quais seriam as
sugestões?
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COMPREENSÃO DO CURRÍCULO DE FILOSOFIA
- Os conteúdos apresentados no curso contribuíram para o entendimento do Currículo e
dos materiais de apoio à sua implementação (cadernos do professor, cadernos do aluno
e livros didáticos)? Descreva estas possíveis contribuições. Em caso negativo quais
seriam as sugestões?
APRIMORAMENTO DA PRÁTICA DOCENTE
- Os conteúdos apresentados na Etapa I (Módulos 1 ao 8) que compreende a formação
na área pedagógica e na Etapa II (Módulos 9 ao 18) que compreende a formação
específica no conteúdo da disciplina de Filosofia contribuíram para o aprimoramento da
sua prática didático pedagógica? Descreva estas possíveis contribuições. Em caso
negativo quais seriam as sugestões?
- Como você relaciona as práticas didáticas apresentadas na Etapa I (Módulos 1 ao 8)
com os conteúdos filosóficos da Etapa II (Módulos 9 ao 18) na sala de aula? Na sua
opinião o curso articula e relaciona estas duas etapas?
ESTRUTURA DA FORMAÇÃO CONTINUADA
- Com relação a quantidade, a qualidade dos conteúdos e atividades propostos em todos
os Módulos, estes, estão articulados entre si de forma a favorecer uma formação
continuada? Descreva a relevância destas contribuições. Em caso negativo quais seriam
as sugestões?
- O curso possibilitou o aprimoramento da sua prática docente?
- Outras considerações relevantes que gostaria de sugerir:
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Anexo 05: Gráficos com os dados pessoais dos professores ingressantes entrevistados30
30 Importante salientar que estes dados presentes nos gráficos do Anexo 05 são referentes aos dezoito docentes que responderam ao questionário.
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