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Aplicações em análise do discurso Simone Mendes UFMG Introdução Este artigo é fruto de uma oficina intitulada “Aplicações em Análise do Discurso”, ministrada na Semana de Letras da UFMG com o intuito de refletir, a partir de aplicações práticas, algumas categorias constitutivas do modelo proposto pela Teoria Semiolingüística de Patrick Charaudeau. Num primeiro momento, privilegiamos a exemplificação de categorias relacionadas ao contrato de comunicação, tais como: identidade, finalidade, tema e condições materiais necessárias à estruturação de uma situação comunicativa. Num segundo momento, propusemos aos alunos um trabalho em torno do tema ‘transgênicos’, através do qual eles teriam que relacionar as condições situacionais, supra citadas, o processo de construção do objeto discursivo ‘transgênicos’, por meio de procedimentos de descrição, e as estratégias argumentativas utilizadas pelas diversas instâncias enunciativas que se propõem a fazer uma discussão acerca desse assunto na sociedade, a exemplo da Multinacional Monsanto, das organizações não-governamentais Greenpeace, Centro de Informações sobre Biotecnologia (CIB) e Assessoria a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) e do Ministério da Agricultura. A seguir, faremos uma breve contextualização acerca da teoria que permeou os trabalhos desenvolvidos na oficina e, logo depois, apresentaremos a atividade que foi proposta aos alunos envolvendo o tema ‘transgênicos’. 1- Primeira parte da oficina: pressupostos teóricos da Análise do Discurso (Teoria Semiolingüística) A Teoria Semiolingüística, cujo principal representante é Patrick Charaudeau (Paris XIII), baseia-se no pressuposto de que a peculiaridade de cada enunciação precisa ser considerada na análise discursiva, já que para cada situação de comunicação, tem-se um conjunto de regras de constituição específicas: os sujeitos são históricos e suas identidades sociais ocupam um lugar significativo na troca; todo discurso possui

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Aplicações em análise do discurso

Simone Mendes UFMG

Introdução

Este artigo é fruto de uma oficina intitulada “Aplicações em Análise do Discurso”, ministrada na Semana de Letras da UFMG com o intuito de refletir, a partir de aplicações práticas, algumas categorias constitutivas do modelo proposto pela Teoria Semiolingüística de Patrick Charaudeau. Num primeiro momento, privilegiamos a exemplificação de categorias relacionadas ao contrato de comunicação, tais como: identidade, finalidade, tema e condições materiais necessárias à estruturação de uma situação comunicativa. Num segundo momento, propusemos aos alunos um trabalho em torno do tema ‘transgênicos’, através do qual eles teriam que relacionar as condições situacionais, supra citadas, o processo de construção do objeto discursivo ‘transgênicos’, por meio de procedimentos de descrição, e as estratégias argumentativas utilizadas pelas diversas instâncias enunciativas que se propõem a fazer uma discussão acerca desse assunto na sociedade, a exemplo da Multinacional Monsanto, das organizações não-governamentais Greenpeace, Centro de Informações sobre Biotecnologia (CIB) e Assessoria a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA) e do Ministério da Agricultura. A seguir, faremos uma breve contextualização acerca da teoria que permeou os trabalhos desenvolvidos na oficina e, logo depois, apresentaremos a atividade que foi proposta aos alunos envolvendo o tema ‘transgênicos’.

1- Primeira parte da oficina: pressupostos teóricos da Análise do Discurso (Teoria Semiolingüística)

A Teoria Semiolingüística, cujo principal representante é Patrick Charaudeau (Paris XIII), baseia-se no pressuposto de que a peculiaridade de cada enunciação precisa ser considerada na análise discursiva, já que para cada situação de comunicação, tem-se um conjunto de regras de constituição específicas: os sujeitos são históricos e suas identidades sociais ocupam um lugar significativo na troca; todo discurso possui

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uma finalidade subjacente e uma temática específica. Além disso, cada situação se constitui em torno de condições materiais peculiares, tais como, presença física ou não dos interlocutores, suporte de transmissão, diagramação, etc. No entanto, a interação conta também com estratégias de individuação que fazem com que uma publicidade, por exemplo, seja diferente de uma outra publicidade. Assim, o discurso é estruturado a partir de suas condições de produção e de suas estratégias de individuação. Diante disso, a pergunta que se coloca é a seguinte: por que devemos pensar em restrições situacionais e estratégias de construção ao analisarmos um discurso?

Para tentar responder a essa pergunta, observemos o exercício abaixo, extraído do site www.gramaticaonline.com.br.

Exemplo 1:

Aponte as incoerências

No cinema, no teatro, não converse. Não mexa demais a cabeça, não fique aos beijos. Cuidado com o barulho do papel de bala, do saco de pipocas. Não os jogue no chão, quando acabar. Se o seu vizinho estiver fazendo tudo isso e incomodando, seja discreto. Peça que interrompam a sessão e acendam as luzes a fim de inibir o transgressor.

Resposta: o texto recomenda que o espectador deve ser discreto no cinema, mas se o vizinho estiver transgredindo as regras, que ele dê um escândalo. Idéias incoerentes.

A atividade acima aparece completamente descontextualizada, ou seja, não sabemos em que local (suporte) ela aparece, nem quem escreve para quem, nem com que objetivo. Embora possamos inferir algumas dessas restrições através do próprio texto como, por exemplo, uma finalidade instrucional que se faz perceber através do uso de imperativos negativos “não converse”, “não mexa”, “não fique”, “seja”, “peça”. O problema maior, ao nosso ver, é o fato de a atividade demandar o apontamento das incoerências do texto e, pior ainda, apresentar como sugestão de resposta uma suposta incoerência do texto ligada à dicotomia silêncio x escândalo. O texto explicita uma recomendação ao leitor com relação à necessidade de se manter um “bom” comportamento no cinema ou no teatro, ficando em silêncio, não se movimentando demais

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e atrapalhando quem está nas fileiras de trás, dentre outras coisas. Contudo, o texto não explicita uma recomendação para que o leitor faça um escândalo caso alguém se comporte mal no cinema ou teatro. Ao contrário, o locutor sugere uma ação polida do leitor diante desse tipo de comportamento, através dos imperativos “seja discreto” e “peça que interrompam”. Agora, se o contrato nos permite inferir uma ironia com relação a essas recomendações, isso é algo que só podemos nos certificar se tivermos mais dados da situação de comunicação. Por exemplo, se se tratar de um texto de humor, a leitura poderá seguir completamente um viés irônico. No entanto, é possível, embora não recorrente, legitimarmos a ação de pedir para acender as luzes do cinema a fim de inibir a ação de pessoas inconvenientes que estejam atrapalhando demais as outras pessoas de assistirem à sessão. Além disso, dizer que “o texto recomenda que o espectador deve ser discreto no cinema, mas se o vizinho estiver transgredindo as regras, que ele dê um escândalo”, e ainda chamar isso de uma incoerência, é impor um efeito de sentido possível, mas não único, sem ancorar ou justificar com base em outros dados que são de ordem situacional e discursiva.

Em função desse tipo de confusão é que acreditamos ser imprescindível o estudo das restrições situacionais de um texto de forma mais cuidadosa, a fim de se não totalmente, pelo menos em parte, garantir uma análise interpretativa mais embasada e menos arbitrária de um texto. Isso justifica a nossa escolha teórica e explicita a forma como conduzimos as atividades no decorrer da oficina.

2- Sobre as restrições situacionais

Apresentaremos agora, tal como fizemos na oficina, alguns exemplos para ilustrar as restrições situacionais tão necessárias à produção e à recepção de um texto. Começarei pela identidade social do locutor.

2.1- A identidade social e discursiva

A identidade social do locutor está relacionada aos papéis construídos no interior das práticas sociais a que os sujeitos estão expostos quando precisam, por exemplo, corrigir um filho no momento de uma traquinagem, participar de uma reunião de trabalho, reivindicar direitos quando estes não forem respeitados. Isso significa dizer que todos nós

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possuímos uma variedade de papéis sociais que são acionados de acordo com a situação comunicativa a que estamos expostos. O exemplo abaixo demonstra bem o que estamos dizendo e entendendo por identidade social.

Exemplo 11:

Percebam que o diálogo se baseia em duas identidades distintas de Luís Inácio Lula da Silva. O primeiro sujeito se apresenta como um Lula de “ontem”, um Lula presidente sindical, de esquerda, que lutava, juntamente com o Partido dos Trabalhadores, para chegar à presidência da república e fazer valer um governo voltado para o social com uma melhor distribuição de renda para a população. Não só o discurso, mas

1 SALLLES, Diogo. CorruPTos?...mas quem não é?. São Paulo: Editora do autor, 2006.

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também a roupa vermelha, os cabelos e a barba ainda pretos apontam para um contraste temporal, ideológico e identitário com relação ao outro sujeito do diálogo, o atual presidente Lula.

É interessante notar, nos quadrinhos, que ao assumir a identidade de presidente do Brasil, Lula muda completamente de atitude com relação aos seus ideais de sindicalista que são apontados pelo seu outro ‘eu’ no momento do diálogo, a saber: a situação do MST, a política econômica e os altos juros, um governo voltado para o social. Ao assumir a presidência, na visão do autor dos quadrinhos, Lula abandona a sua identidade social anterior à posse, para assumir uma identidade ligada à ‘situação’ de governo no lugar da oposição ao mesmo. Essa atual identidade parece totalmente indiferente aos ideais da identidade do passado, relacionada ao Lula. Assim sendo, temos duas identidades sociais que se apresentam discursivamente, através da fala de ambos os personagens, numa relação antagônica, embora se refiram à mesma pessoa. No entanto, sem querer discutir se Lula é o não coerente com suas idéias do passado, podemos dizer que a identidade de sindicalista, se tomarmos os discursos atuais de Lula, deu lugar à identidade de presidente da república, uma vez que esta é a prática social predominante de Lula no momento.

A partir desse jogo identitário, instaurado pela tirinha, com uma finalidade humorística, podemos perceber a importância e influência que o papel social exerce nas nossas interações comunicativas cotidianas.

Passemos agora a refletir sobre o tema ou propósito temático que estrutura uma situação comunicativa.

2.2- O Tema

O tema é o assunto em torno do qual se estrutura uma troca comunicativa. É o referente do discurso, aquilo de que se fala. Nas charges abaixo, podemos notar um mesmo fio condutor, embora elas possuam visualidades diferenciadas.

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Exemplo2 2:

As charges acima se referem a uma mesma temática. Trata-se do episódio ocorrido em 11 de fevereiro de 2004, em que o, na época, ministro do trabalho Ricardo Berzoini recebeu uma torta no rosto jogada por uma ativista do Crítica Radical, grupo com atuação estadual que se autodenomina “contra o capitalismo”. Na ocasião, o Partido

2 <www.chargesonline.com.br>.

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dos Trabalhadores estava fazendo 24 anos de existência, o que acabou dando margem a uma série de comentários sobre o ocorrido. Na primeira charge vemos uma representação do ministro tomando a torta no rosto. No entanto, o chargista apresenta, estrategicamente, um outro contexto para esse acontecimento. Ele apaga a autora do episódio e ajusta o foco para a logomarca do programa ‘Fome Zero” do Governo Federal, tecendo uma crítica a esse programa à medida que coloca a torta no prato vazio que aparece na logomarca e no rosto do ministro do trabalho do governo Lula. A segunda charge explora uma relação metonímica ao representar o episódio da torta com a estrela símbolo do PT no lugar do rosto do então ministro Berzoini. O efeito de sentido produzido também vai ao encontro de uma crítica a todo o governo do Lula, que tem como base o governo do PT. A terceira charge ajusta o foco sobre o aniversário de 24 anos do PT, mas a zebra, a torta em forma de estrela e a data em que a charge foi publicada também fazem, ao nosso ver, com que ela dialogue com a temática da torta no rosto do Berzoini. A última charge também apresenta uma relação metonímica em que a imagem de Berzoini e a torta em seu rosto é representada por integrantes do governo que recebem uma torta gigante em cima das cabeças. O título da charge “Fome zero 2004” resgata também a relação com o programa de erradicação da fome no Brasil, proposto pelo governo.

Essa breve exemplificação nos permitiu observar o episódio da torta enquanto fio condutor ou temática privilegiada em boa parte das charges, salvo a que privilegiou o aniversário do PT, e nos permitir perceber também que toda situação de comunicação se estrutura a partir de um tema ou de um encadeamento de temas que são apresentados, a partir de estratégias de individuação, dependendo de quem produz, para quem produz, dos objetivos subjacentes, do suporte material em que o texto irá ser apresentado, etc.

2.3- A Finalidade

Com relação à finalidade subjacente à troca comunicativa, podemos dizer que ela está presente nos dois exemplos anteriores sob a forma de provocar um efeito de humor no interlocutor, além de criticar a atual política governamental do país. No panfleto abaixo, por exemplo, embora tenhamos também uma temática relacionada ao discurso político, não podemos dizer que a finalidade seja a mesma dos exemplos anteriores. Vejamos o porquê.

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Exemplo 3:

O texto acima é o popularmente conhecido como ‘santinho’ de candidato político. É uma espécie de panfleto no qual normalmente o candidato se apresenta e apresenta algumas de suas propostas de governo. No caso específico do panfleto de Roberto de Carvalho, candidato a Deputado Federal pelo PT, nas eleições de 2006, percebemos uma finalidade que pretende persuadir o leitor ou eleitor a votar nesse candidato. O Slogan “A esperança é o sonho que caminha” já nos coloca diante de um discurso propagandístico que visa promover a imagem do candidato em questão. A Presença de Lula, candidato à reeleição na ocasião, também se apresenta a nós enquanto uma espécie de argumento de autoridade que diz algo como: “esse candidato eu aprovo, eu confio, eu indico”, o que contribui para finalidade persuasiva subjacente. O texto, que aparece no verso do panfleto, também traz um argumento de autoridade através da fala do Prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel “A reeleição de Roberto de Carvalho é importantíssima para BH, para Minas e para continuar apoiando o Governo Lula”. Notemos que Pimentel reforça a reeleição de Lula e a necessidade da reeleição de

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Roberto de Carvalho para garantir a governabilidade e dar continuidade ao governo que está se candidatando novamente.

Além disso, as próprias condições materiais em que o texto se encontra, uma outra categoria imprescindível à produção e à recepção de textos, já apontam para a finalidade persuasiva subjacente à troca comunicativa via panfleto eleitoral. Ao nos depararmos com esse suporte, com essa diagramação que mescla foto do candidato, informações sobre ele, sobre suas propostas e dados do partido a que ele se vincula, já podemos pressupor uma tentativa de persuadir o eleitor a votar no candidato alvo do panfleto.

3- Segunda parte da oficina: proposta de atividade “O discurso so-bre os transgênicos: restrições situacionais, construção do objeto e argumentação”3

Na segunda parte da oficina propusemos uma atividade que relacionava as restrições situacionais já apreendidas, a construção descritiva do objeto discursivo transgênicos, por diversas instituições, e as estratégias argumentativas utilizadas para persuadir o interlocutor e formar a sua opinião a respeito dessa temática, no intuito de refletir sobre o processo de descrição\referenciação que gira em torno do objeto “transgênicos”. A partir de seqüências ou trechos extraídos do discurso de cinco instituições, os alunos deveriam: a) grifar os vocábulos ou sintagmas referentes ao processo de descrição ou de referenciação acerca dos transgênicos; b) apresentar apenas uma das seqüências analisadas, relacionando-as a alguma das cinco instituições em questão e c) observar a apresentação dos demais grupos, comentando os resultados alcançados, tecendo críticas acerca da relação entre referenciação, construção do objeto transgênicos e posicionamento argumentativo das instituições. Antes de começar as atividades, escrevemos o nome de cada instituição em uma folha A4, colamos no quadro para que os alunos tivessem uma referência no desenvolvimento das atividades, já que eles teriam que tentar associar as seqüências às instituições que ali se encontravam. Optamos por trabalhar com os discurso mais representativos da polêmica em torno da transgenia no Brasil, a saber: da multinacional Monsanto, principal comerciante de transgênicos no Brasil; do Ministério da

3 A atividade se encontra no anexo.

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Agricultura, responsável pelo texto do Projeto de Lei de Biossegurança, aprovado em 2005; do Conselho de Informações sobre Biotecnologia, organização não-governamental custeada pela Monsanto; da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, ONG que está a serviço da agroecologia e da agricultura familiar; e do Greenpeace, ONG ativista na luta pelo meio ambiente.

Considerações finais

Ao final das atividades, os alunos puderam perceber a estreita relação entre restrições situacionais, construção discursiva de um objeto\tema e estratégias argumentativas utilizadas para convencer o leitor de um dado posicionamento. Os alunos puderam perceber também que embora os textos estivessem sem a referência de quem os produziu, era possível inferir, através de dados lingüísticos discursivos, a identidade do produtor e o respectivo posicionamento argumentativo, favorável ou contrários os transgênicos.

Referências

CHARAUDEAU, P. Une analyse sémilingüístique du discours. In: MAINGUENEAU, D. Les analyses du discours en France. Revue Langages, Paris, Larousse, n. 17, mars 1995.CHARAUDEAU, P. Visadas discursivas, gêneros situacionais e construção textual. In: MACHADO, Ida Lúcia; MELLO, Renato. Gêneros: Reflexões em Análise do Discurso. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2004a.SALLLES, Diogo. CorruPTos?...mas quem não é?. São Paulo: Editora do Autor, 2006.<www.cib.com.br>. Acesso em: 25 jul. 2005.<www.chargesonline.com.br>. Acesso em: 13 fev. 2004.<www.greenpeace.com.br>. Acesso em: 25 jul. 2005.<www.ministerioagricultura.gov.br>. Acesso em: 14 jun. 2005.<www.monsanto.com.br>. Acesso em: 17 jun. 2005.

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Anexo I

SEQÜÊNCIA 1

1- Leia o(s) trecho(s) abaixo, relativos às seqüências 1, 2, 3, 4 e 5, e grife alguns vocábulos ou sintagmas mais representativos da caracterização do objeto “transgênicos”, em termos a) da descrição ou construção referencial do objeto (nomear, qualificar e localizar); b) da forma como a instituição caracteriza os termos engenharia genética, biotecnologia, transgenia em oposição aos termos melhoramento tradicional, recombinação genética de plantas, dentre outros relacionados; e b) da orientação argumentativa indicativa do posicionamento da instituição responsável pelo(s) trecho(s).

2- Depois da leitura, indique o provável nome da instituição responsável pela enunciação do(s) trecho(s) selecionados ______________________________. Resposta: AS-PTA

O que são plantas e organismos transgênicos?

(...)segundo Nodari e Guerra, dois autores brasileiros, temos que“Do ponto de vista legal, no Brasil, OGM – Organismo Geneticamente Modificado – é o organismo cujo material genético (DNA/RNA) tenha sido modificado por qualquer técnica de engenharia genética. (...)Desta forma pode-se definir plantas transgênicas como plantas que têm em seu genoma, uma ou mais seqüências de DNA manipuladas em laboratório por técnicas de DNA recombinante ou engenharia genética. Alternativamente, plantas transgênicas poderiam ser definidas como organismos que tiveram seu material genético alterado por métodos que não aqueles naturais, considerando-se como métodos naturais em plantas o acasalamento sexual e a recombinação genética”(NODARI; GUERRA, 2001. p. 83-84).

Ticciati, L. & Ticciati, R. traduzem este conceito de forma mais “ilustrativa”, deixando clara, inclusive, a diferença entre as técnicas de transgenia e as de melhoramento genético tradicional:

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“De uma forma mais simples, podemos dizer que ‘a engenharia genética’ usa o que chama de técnica do DNA recombinante para alterar as características de um organismo(...)

Defensores dessa tecnologia asseguram que a engenharia genética é simplesmente uma extensão do melhoramento genético tradicional que a natureza e os agricultores vêm fazendo há milhares de anos. Em verdade, a técnica é radicalmente diferente. Os mecanismos de melhoramento genético tradicional só são capazes de combinar material genético da mesma espécie ou de espécies muito próximas. Por exemplo, couve-flor pode ser cruzada com brócolis, mas não com abobrinha. Além disso, mecanismos de reprodução natural combinam o DNA de organismos parentais de uma maneira muito precisa e sistemática.

A mistura de genes por cruzamento natural é claramente sujeita a regras muito bem definidas – você não pode misturar espécies não relacionadas e nem inserir um gene sozinho, você tem que pegar o pacote de DNA inteiro. Onde há regras há limites. A engenharia genética não está sujeita a essas regras e ultrapassa todos os limites colocados pela lei natural.” (Ticciati & Ticciati, 1998. p. 1-3).

SEQÜÊNCIA 2

2- Indique o provável nome da instituição_________________________________Resposta: Monsanto

O que são alimentos transgênicos?Os alimentos transgênicos são derivados das plantas que foram modificadas geneticamente com o objetivo de acrescentar genes que conferem características desejáveis que não seriam obtidas através do cruzamento convencional. Um exemplo de planta transgênica é o Arroz Dourado, no qual foi adicionado um gene que estimula a produção de precursores da vitamina A e auxilia a absorção de ferro pela planta. Esse produto poderá ajudar a combater problemas de anemia. Outros alimentos geneticamente modificados são derivados de soja tolerante a herbicida ou milho resistente a insetos, em cujo cultivo foram empregados menos agroquímicos. Por exemplo, no caso da soja tolerante ao herbicida glifosato, há uma considerável

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redução no uso de herbicidas seletivos, o que gerou, segundo o pesquisados da Universidade Federal de Viçosa, uma redução em 42, 3 % na utilização de herbicidas seletivos entre 1999 e 2003.

Biotecnologia: Perguntas mais freqüentesO novo é desconhecido. E, justamente por isso, vem acompanhado de controvérsias e discussões até que passe a ser totalmente conhecido, assimilado pela sociedade e, finalmente, superado por outra novidade.

Assim é a história dos avanços da ciência. Toda tecnologia desconhecida inicialmente gera uma grande preocupação, um desconforto natural que prossegue até que se conheça inteiramente a novidade. Mesmo tecnologias fundamentais para a sobrevivência da humanidade sofreram grande resistência de grupos da sociedade até que fossem completamente conhecidas e aceitas.

____________________________________________________________________

SEQÜÊNCIA 3

2- Indique o provável nome da instituição________________________________Resposta: Greenpeace

O que são transgênicos ou organismos geneticamente modificados (OGMs)?Um ser vivo se torna transgênicos ou geneticamente modificado quando, por meio da engenharia genética, recebe genes de outra espécie. Assim, o ser vivo cujo código genético foi modificado, passará a ter novas características específicas que não possuía antes. Este processo é feito em laboratórios e essa técnica pode ser aplicada em qualquer ser vivo. Há um salmão, por exemplo, que recebeu genes de porco para engordar mais rápido. A soja Roundup Ready recebeu genes de bactérias para se tornar resistente a agrotóxicos. O alimento transgênico é aquele que contém qualquer ingrediente derivado de uma planta ou animal transgênicos.

Qual a diferença entre melhoramento genético e modificação genética?São duas técnicas completamente diferentes. Os transgênicos são produzidos pela modificação genética, e nunca por melhoramento genético.

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O melhoramento genético é uma técnica de biotecnologia empregada há milênios para diversos propósitos. Está baseado na combinação genética de duas plantas da mesma espécie por meio de cruzamento sexual ou, em alguns casos, entre plantas de espécies diferentes, mas do mesmo gênero, com grandes semelhanças entre si. Os descendentes desse cruzamento são selecionados, escolhendo-se apenas aqueles indivíduos que tenham as características desejadas, como maior produtividade, resistência a insetos ou doenças. O melhoramento genético trabalha com a diversidade genética dentro de uma mesma espécie. Já a modificação genética ou transgenia, também conhecida como engenharia genética, é uma técnica de biotecnologia que foi introduzida em 1973. Na transgenia, seqüências do código genético são removidos de um ou mais organismos e inseridos em outro organismo, de espécie diferente. A principal implicação da transgenia é a quebra da barreira sexual entre diferentes espécies, permitindo cruzamentos impossíveis de ocorrerem naturalmente, como entre uma planta e um animal, uma bactéria e um vírus, um animal e um inseto.

SEQÜÊNCIA 4

2- Indique o provável nome da instituição ________________________________Resposta: Ministério da Agricultura

O que são organismos geneticamente modificados (GM) e alimentos GM?

Organismos geneticamente modificados (OGMs) podem ser definidos como organismos nos quais o material genético (DNA) foi alterado de uma maneira que não ocorreria naturalmente. Normalmente, esta tecnologia é denominada “biotecnologia moderna” ou “tecnologia genética”, algumas vezes também pode ser denominada “tecnologia de recombinação de DNA” ou ainda “engenharia genética”. Esta tecnologia permite que genes individuais selecionados sejam transferidos de um organismo para outro, inclusive entre espécies não relacionadas.

Estes métodos são usados para criar plantas GM – que são então usadas para o cultivo de alimentos.

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SEQÜÊNCIA 5

2- Indique o provável nome da instituição________________________________Resposta: Conselho de Informações sobre Biotecnologia

O que são organismos geneticamente modificados (OGMs) ou transgênicos?

Organismos geneticamente modificados são aqueles que receberam gene ou genes de outros organismos ou que tiveram alguma modificação em algum gene específico, passando, então, a expressarem uma nova característica.

O que é biotecnologia?

A palavra biotecnologia é formada por três termos de origem grega: bio, que quer dizer vida; logos, conhecimento e tecnos, que designa a utilização prática da ciência. Com o conhecimento da estrutura do material genético - o DNA (ácido desoxirribonucléico) - e o correspondente código genético, teve início, a partir dos anos 70, a biotecnologia dita moderna, através de uma de suas vertentes, a Engenharia Genética, ou seja, a técnica de empregar genes em processos produtivos, com a finalidade de se obter produtos úteis ao homem e ao meio ambiente. Os métodos modernos permitem que os cientistas transfiram genes (e, consequentemente, características desejadas) de maneira antes impossíveis, com grande segurança e precisão.

O que é transgenia?

Transgenia é a inserção, no genoma de um organismo receptor, através de técnicas de Engenharia Genética, de um ou mais genes obtidos de indivíduos diferentes, que podem ser da mesma espécie do indivíduo receptor, ou de espécie diferente.

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