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1 Apontamentos de Psicologia Cognitiva. Psicologia cognitiva é o estudo científico dos processos e estruturas mentais envolvida na relação do organismo com o seu meio ambiente. Estes processos incluem a atenção, a percepção, a memória, a linguagem, a tomada de decisão, o raciocínio e o pensamento. Estuda processos e estruturas mentais (cognição) por método científico, especialmente através do método experimental, visa compreender o comportamento (modo como o organismo interage com o meio ambiente de forma apropriada). Cognição - os processos mentais utilizados para percepcionar, perceber, recordar, raciocinar, compreender o meio ambiente, assim como o acto de os usar. O termo cognição refere-se tanto aos processos como aos conteúdos processados. Em suma, os tópicos de estudo centram-se em como é que percepcionamos e seleccionamos a informação disponível no mundo que nos rodeia, como a armazenamos no nosso cérebro e como a utilizamos posteriormente para agir em conformidade com as nossas necessidades… Origens. 1956 o desenvolvimento dos últimos 50 anos do Behaviorismo John Watson funda o beahiorismo em 192º, como resposta ao método introspectivo usado por Wundt. Para que a psicologia possa ser considerada científica deverá, segundo Watson, restringir-se ao estudo do observável; ao estudo do Comportamento. Como os processos mentais não podem ser directamente observados, não deverão ser objecto de estudo da psicologia. O behaviorismo é “anti-mentalista”; a explicação é feita em termos de associações entre estímulos e respostas. Críticas à abordagem behaviorista. O movimento “constraints on learning” (restrições à aprendizagem) pôs em causa o modelo da aprendizagem behaviorista: não era possível ensinar qualquer coisa a qualquer organismo; os organismos têm predisposição para aprender determinadas coisas e não outras. O behaviorismo não permite explicar comportamento complexos, nomeadamente os que envolvem a linguagem, o raciocínio ou a tomada de decisão. Necessidade crescente de investigar o desempenho humano muito impulsionada na altura da Segunda Guerra Mundial; a simplicidade conceptual do behaviorismo não permitia das respostas a problemas práticos.

Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Page 1: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Apontamentos de Psicologia Cognitiva.

Psicologia cognitiva é o estudo científico dos processos e estruturas mentais envolvida

na relação do organismo com o seu meio ambiente. Estes processos incluem a

atenção, a percepção, a memória, a linguagem, a tomada de decisão, o raciocínio e o

pensamento.

Estuda processos e estruturas mentais (cognição) por método científico,

especialmente através do método experimental, visa compreender o comportamento

(modo como o organismo interage com o meio ambiente de forma apropriada).

Cognição - os processos mentais utilizados para percepcionar, perceber, recordar,

raciocinar, compreender o meio ambiente, assim como o acto de os usar. O termo

cognição refere-se tanto aos processos como aos conteúdos processados.

Em suma, os tópicos de estudo centram-se em como é que percepcionamos e

seleccionamos a informação disponível no mundo que nos rodeia, como a

armazenamos no nosso cérebro e como a utilizamos posteriormente para agir em

conformidade com as nossas necessidades…

Origens.

1956 o desenvolvimento dos últimos 50 anos do Behaviorismo – John Watson funda o

beahiorismo em 192º, como resposta ao método introspectivo usado por Wundt.

Para que a psicologia possa ser considerada científica deverá, segundo Watson,

restringir-se ao estudo do observável; ao estudo do Comportamento. Como os

processos mentais não podem ser directamente observados, não deverão ser objecto

de estudo da psicologia. O behaviorismo é “anti-mentalista”; a explicação é feita em

termos de associações entre estímulos e respostas.

Críticas à abordagem behaviorista.

O movimento “constraints on learning” (restrições à aprendizagem) pôs em causa o

modelo da aprendizagem behaviorista: não era possível ensinar qualquer coisa a

qualquer organismo; os organismos têm predisposição para aprender determinadas

coisas e não outras.

O behaviorismo não permite explicar comportamento complexos, nomeadamente os

que envolvem a linguagem, o raciocínio ou a tomada de decisão.

Necessidade crescente de investigar o desempenho humano muito impulsionada na

altura da Segunda Guerra Mundial; a simplicidade conceptual do behaviorismo não

permitia das respostas a problemas práticos.

Page 2: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Concepção behaviorista:

Toca o telefone o Rui levanta-se e dirige-se ao aparelho.

Som da campainha do telefone S → R movimento para o telefone.

Segundo os behavioristas, a explicação do comportamento é feita pela análise das

associações entre estímulos e respostas, sem ser necessário recorrer a estados ou

mecanismos mentais. A necessidade da abordagem cognitiva surge da insuficiência da

explicação behaviorista.

S → Atenção → Percepção → Memória → Pensamento → Decisão → R

Aqui a explicação do comportamento é feita analisando estados ou mecanismos

mentais que levam ao processamento do estímulo e à organização de uma resposta

adequada relativamente às exigências do meio.

Investigação experimental crescente sobre temas como a memória (George Miller), e a

atenção (Donald Broadbent) e a resolução de problemas (Herbert Simon).

Influência da linguística: opondo-se à perspectiva de Skinner, Noam Chomsky

desenvolveu uma forma de analisar a linguagem que recorria à ideia de estruturas

mentais e regras de transformações.

Desenvolvimento das ciências da computação (nomeadamente da inteligência artificial

– ramo da informática que simula em computador processos mentais), levando à

aceitação da analogia “a mente é um computador”.

Anos 60.

Psicologia

LinguagemCiências da

computação

Page 3: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Anos 90.

Pressupostos da Psicologia, perspectiva cognitiva.

Os processos mentais existem e podem ser estudados cientificamente (em termos da

sua duração – tempos de reacção – e dos seu produtos, por exemplo: acuidade na

realização de tarefas). Os seres humanos são processadores activos de informação; o

sistema cognitivo humano tem como função processar a informação ambiental.

Processamento de informação (Donald Broadbent, 1926 – 1993 foi o primeiro autor a

conceber as funções mentais como sistema de processamento de informação):

O sistema cognitivo humano é um sistema de processamento de informação

semelhante a um computador. É importante especificar os processos e as estruturas

subjacentes às funções cognitivas. O processamento cognitivo da informação ocorre

numa sequência de estádios, através de uma série de módulos de processamento, que

alteram a informação de forma sistematizada.

Os módulos são concebidos:

a) tipo de informação neles arquivada e manipulada (caixas)

b) modo como a informação circula entre módulos (setas)

Psicologia

Linguistica

Neurociências

Ciências Socioculturais

Filosofia

Ciências da computação

Page 4: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

4

O pressuposto de que a cognição ocorre numa sequência de etapas independentes e

não sobrepostas, actualmente é questionável, podem haver etapas que ocorrem

simultaneamente.

“A mente é um computador”

…não é feita como um computador mas ela também processa informação (computa),

analogia bastante frutuosa, ajuda os psicólogos a pensar sobre os estados internos,

não directamente observáveis. A analogia também é adequada, não só em termos dos

aspectos funcionais (software), como nos aspectos estruturais (hardware).

Limitações da analogia: ao contrário do computador, a mente processa a informação

com significado para o indivíduo e não bits vazios de sentido para quem os processa. O

significado e não a informação neutra, é o foco da vida mental humana (Bruner, 1990).

Distinção entre “cognição quente” e “cognição fria” (Simon, 1983; Zajonc, 1980).

Pressupostos gerais da psicologia cognitiva sobre o sistema de processamento da

informação:

Codificação – a informação exterior tem de ser codificada para que o nosso sistema

cognitivo a consiga processar.

Capacidade – a nossa capacidade para processar a informação é limitada; só podemos

processar algumas informações de cada vez.

Estímulo

Atenção

Percepção

Cognição-pensamento

Decisão

Resposta ou acção

Page 5: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Arquivos de informação – representações permanentes do conhecimento adquirido

(memória para objectos, léxico, episódios biográficos…).

Unidade de processamento central – para do sistema responsável pela manipulação da

informação.

Memória de trabalho – é necessário manter activa algumas informações por algum

tempo, enquanto outras operações ocorrem.

Processamento bottom-up (processamento directamente afectado pelo estímulo)

versus top-down (processamento afectado pelo que o indivíduo traz para a situação de

estimulação – ex. expectativas determinadas pelo contexto, expectativas passadas… ).

Processamento em série um processo é terminado antes do seguinte começar.

É evidente que muitos processos ocorrem em paralelo. Efeitos do contexto de

facilitação do “priming”. Não são adequados para descrever processos cognitivos

complexos, como a resolução de problemas.

Processamento em paralelo. Todos ou alguns processos envolvidos numa tarefa

cognitiva ocorrem simultaneamente.

Quatro abordagens distintas ao estudo da cognição.

Psicologia cognitiva experimental:

Estudo de indivíduos normais em situação de laboratório. Os processos mentais são

geralmente estudados indirectamente através dos denominados métodos

comportamentais (metodologia herdada do behaviorismo). Esta abordagem tem sido

Top (sistema central -crenças, conceitos, expectativas)

Bottom (sistema periférico -informação sensorial)

Page 6: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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criticada em termos de validade ecológica dos resultados (o controlo experimental dos

estímulos apresentados, das respostas pedidas e do contexto torna a maior parte das

experiências artificiais). Outras críticas apontam que os processos mentais são

estudados indirectamente (apenas acede à acuidade da resposta ou ao tempo que

essa resposta demorou a ser dada) e que não são levadas em conta as diferenças

individuais.

Neuropsicologia cognitiva:

Estudo das perturbações do funcionamento cognitivo em indivíduos com lesão

cerebral: se um indivíduo com lesão em determinada área cerebral mostra um défice

cognitivo específico, então essa área poderá estar envolvida na função cognitiva

afectada. Assume que o sistema cerebral se organiza em módulos que funcionam de

forma relativamente independente, pelo que a lesão de um deles não afecta

necessariamente o funcionamento dos outros. Daí a existência de défices específicos e

dissociações duplas. Dá preferência ao estudo de casos (casos únicos e individuais). O

estudo aprofundado de indivíduos com lesão cerebral permite compreender o

funcionamento cognitivo normal.

Ciências cognitivas:

Estudo da cognição através do desenvolvimento de modelos computacionais que

simulam o funcionamento cognitivo. Distinguir de inteligência artificial, que

desenvolve modelos computacionais que produzem resultados inteligentes, mas que

os processos envolvidos geralmente não se assemelham à cognição humana.

Modelação computacional sistemas desenvolvidos que modelam ou imitam aspectos

da cognição humana. Modelos computacionais que concretizam detalhadamente

modelos teóricos, permitindo especificar de forma precisa predições testáveis sobre o

funcionamento cognitivo. Modelos conexionistas, também chamados modelos de

processamento paralelo distribuído (PDP), o processamento nestes modelos é

massivamente paralelo, contêm uma série de núcleos/unidades interligadas

encontrando-se a informação representada pela interligação entre todas as unidades,

por isso denominam-se modelos distribuídos. Podem aprender, ou seja os modelos

melhoram o seu desempenho à medida que vão enfrentando situações novas.

Neurociências cognitivas.

Procura integrar dados relativos às funções cognitivas com a avaliação directa das

funções cerebrais. Utiliza diferentes técnicas de neuroimagem e de registo da

actividade neuroeléctrica para estudar o funcionamento cerebral de forma a

identificar os processos e estruturas subjacentes ao funcionamento cognitivo,

procurando saber quando e onde está o cérebro activo quando estamos a executar

determinada tarefa que envolva determinada função cognitiva.

Page 7: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Métodos de Investigação em Psicologia Cognitiva.

Métodos Comportamentais:

Desempenho em tarefas especialmente concebidas para evidenciar processos mentais

específicos; registo dos tempos de reacção (tempos de decisão, de leitura, de

compreensão, …); registo de acuidade do desempenho (nº de respostas correctas,

análise das erradas, …); registo dos movimentos oculares sua duração e localização;

avaliação e julgamentos de questionário…; observação directa do comportamento.

Métodos Fisiológicos:

Registo de actividade somática; miografia (registo gráfico da contracção muscular);

resposta galvânica da pele; registo de batimentos cardíacos.

Métodos de Neuroimagem e Electrofisiológicos:

Registo da actividade eléctrica cerebral. Os métodos funcionais registam a actividade

do cérebro ao realizar uma tarefa. PET - Imagem da diferença da actividade cerebral

entre duas condições experimentais, boa resolução espacial, pobre resolução

temporal. Métodos funcionais: Eletroencefalograma (EEG); Magnetoencefalograma

(MEG); Potenciais Eevocados (Evoked Potentials ou Ever Related Potentials - EP). Os

métodos estruturais permitem identificar estruturas cerebrias, os seus tamanhos, as

densidades da matérias branca (axiónios) e de matéria cinzenta (núcleos de

neurónios), a presença de lesões ou transformações. Métodos estruturais: Tomografia

Axial Computadorizada (TAC); MRI. Métodos funcionais: Tomografia de Emissão de

Protões (PET); fMRI.

O Registo Encefalográfico (EEG) é realizado por períodos mais ou menos longos, para

analisar a actividade cerebral numa tarefa prolongada como o sono, o sonho ou ler.

Os Potenciais Evocados (EP ou ERP) destinam-se a analisar a actividade cerebral

ocorrida imediatamente após a apresentação de um estímulo.

Psicologia Experimental Cognitiva.

S → Processos Cognitivos → R

Nos métodos comportamentais, os processos mentais são inferidos das respostas

obtidas perante estímulos devidamente manipulados. Por isso a investigação em

psicologia cognitiva experimental passa por um planeamento cuidado das tarefas

(estímulos e respostas) a apresentar aos sujeitos.

Page 8: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Os estímulos podem ser verbais, verbais em forma visual ou auditiva ou visuais

(desenhos, fotografias ou palavras escritas). Estímulos com significado vs. sem

significado. Permitem estudar o processamento da informação, independentemente

do seu significado. Os estímulos classificados em função da mobilidade sensorial, visão,

audição, tacto… caso especial dos estímulos verbais.

As respostas podem ser motoras (carregar em botões, apertar), vocais (nomear,

repetir), oculares (mover os olhos), escritas (reproduzir material memorizado), através

de questionários padronizados (escalas de avaliação, testes de avaliação de

capacidades) ou protocolos verbais (narrar aquilo a que se teve conscientemente

acesso acerca do processamento em estudo).

A analise das respostas é feita sob perspectivas fundamentais:

Tempos de resposta (tempo de latência ou tempo de reacção);

Correcção da resposta;

Por vezes é dada atenção à intensidade de resposta.

Psicofísica.

A psicofísica designa o estudo da relação entre estímulos físicos e as sensações que

eles provocam. Surge com o interesse crescente sobre o papel dos sentidos na origem

do conhecimento.

Estímulos sensoriais ↓ Activação dos receptores sensoriais

Transdução ↓ Activação do SNC ↓ Sensação

Gustav Theodor Fechner (1801-1887).

Foi o fundador da Psicofísica, cunhou o termo, estudo da relação entre dois mundos

distintos sensação (psique) e estímulos físicos (física). Estabeleceu o método psicofísico

clássico como método de investigação experimental. Formulou as primeiras leis da

psicofísica.

Page 9: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Problema da detecção – qual é a intensidade mínima de estimulação necessária para

que haja sensação.

Métodos que permitem estimar experimentalmente o Limiar Absoluto.

Método dos estímulos constantes – a intensidade do estímulo que corresponde a 50%

de detecções.

Método dos Limites.

I A B C D

1 não não não não

2 não não sim não

3 sim não sim não

4 sim Sim sim não

5 sim Sim sim sim

(2,5+3,5+1,5+4,5)/5= 3

Método dos estímulos adaptados. Média dos pontos de inversão.

Sistemas sensoriais e Psicologia.

Numa perspectiva darwinista, os processos mentais desenvolveram-se nos organismos

para permitir uma interacção eficaz com o meio ambiente complexo em que vivem

(eficácia em termos de sobrevivência). A interacção entre o organismo e o meio

exterior dá-se através do tecido sensorial (órgãos dos sentidos). Os processos de

sensação e percepção correspondem a mecanismos básicos da psicologia, é atravez

deles que a informação ambiental chega à nossa mente. O estudo das sensações e

percepções confunde-se com a origem da psicologia científica – foram estes os

primeiros processos psicológicos a serem estudados experimentalmente pela

psicologia moderna (Weber, Fechner e Wundt).

Page 10: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Qual a cadeia de acontecimentos que leva um estímulo exterior a ser percebido?

Interacção com o tecido sensorial;

estímulo é qualquer forma de energia que

excite os órgãos sensoriais

Fenómenos ambientais

Transdução (Conversão da energia

do estímulo em impulsos nervosos)

Estímulos sensoriais

Condução dos

impulsos nervosos até ao sistema central

Excitação dos nervos sensoriais

Níveis de processamento

bioquímico

↓ Activação do SNC sensorial

------------------------------- ↓ --------------------------------- ------------------------------ ↓ Sensação ↓

Percepção Níveis de

processamento psicológico

Cognição ↑

Sensação vs. Percepção.

Distinção introduzida pela primeira vez por Thomas Reid (1785):

Sensação

vs. Percepção

Processo primário de informação ambiental

(activação dos receptores sensoriais)

Processo pelo qual o cérebro dá sentido à

informação recebida pelos orgãos dos sentidos.

Recepção de energia do ambiente e a sua

codificação em sinais eléctricos (Transdução)

Cognição – processo que envolve a manipulação das

percepções

Selecção, organização e interpretação das

sensações.

Page 11: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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Sistemas sensoriais.

Modalidade sensorial: tipos de sensação (aquilo a que chamamos “sentidos”);

modalidade correspondente a uma sensação que pode variar em intensidade mas que

percebemos como homogénea (exemplo visão).

Órgãos sensoriais ou sensores: órgãos capazes de recolher a informação do mundo

exterior e que contêm células especiais – os receptores (por exemplo o olho).

Receptores: células sensoriais especializadas que convertem a energia ambiental em

impulsos nervosos, que depois será processada pelo SNC (por exemplo as células da

retina convertem as ondas de luz em actividade neuronal). Ao conjunto dos receptores

chama-se Tecido Sensorial.

Qualidade sensorial: aspectos da sensação que não correspondem a variações de

quantidades (por exemplo, no caso da visão, a luminosidade do estímulo é uma

qualidade, na audição, o timbre de um instrumento musical é uma qualidade).

Quantidade sensorial: variações quantitativas (de intensidades) da sensação. No caso

da visão as variações da luminosidade.

Características dos sistemas sensoriais:

São especializados;

Cada mobilidade sensorial tem órgãos específicos, com receptores próprios,

que convertem a energia ambiental em impulsos nervosos.

Os receptores respondem preferencialmente a uma forma específica de

energia, por exemplo as células da retina reagem sobretudo à estimulação

electromagnética e não às vibrações sonoras.

Cada sistema sensorial tem uma determinada parte do cérebro especializada

para interpretar os impulsos nervosos que recebe dos receptores, a

especificidade não está na energia nervosa mas sim nas áreas corticais

sensoriais.

Os receptores sensoriais estão localizados em sítios particularmente expostos

aos estímulos a que reagem, por exemplo os receptores do paladar encontram-

se na cavidade bocal.

Têm limiares de activação;

Para que ocorra sensação, é necessário que exista determinado nível de

estimulação dos órgãos dos sentidos. Cada sistema sensorial só irá responder

provocando uma sensação se a intensidade de estimulação for superior a

Page 12: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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determinado nível (Limiar Absoluto de Activação). Trata-se de um problema de

quantidade sensorial.

Para que nos apercebamos de sensações diferentes, é necessário que exista

uma diferença mínima entre dois estímulos. Cada sistema sensorial só irá

responder diferentemente se a diferença de intensidade da estimulação for

superior a determinado nível (Limiar da Discriminação). Trata-se também de

um problema de quantidade sensorial.

Os receptores sensoriais reagem apenas a uma determinada gama de

estimulação, é um problema de qualidade sensorial e não de quantidade.

Habituam-se;

Quando estimulados continuamente, os receptores sensórias deixam de reagir

a essa estimulação (habituação), só voltado a reagir passado um período sem

estimulação ou se a intensidade da estimulação aumentar.

Variam marcadamente entre espécies.

Diferentes espécies animais são sensíveis a gamas de estimulação distintas das

do ser humano. Existem uma série de mudanças energéticas e ambientais que não nos

damos conta delas, mas outros animais possuem células especializadas na detecção

dessas variações energéticas a que nós somos insensíveis.

A visão.

Órgão sensorial: o Olho.

Page 13: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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A pupila regula a quantidade de luz que entra no olho através da abertura da íris

(controlada pelos músculos ciliares). Os raios de luz vindos dos objectos que estão no

nosso campo de visual atravessam uma estrutura que é o cristalino (ou lente), que tem

por função focar os raios de luz na retina (acomodação).

Miopia ou hipermetropia surge quando a forma do globo ocular dificulta a tarefa do

cristalino em focar a imagem sobre a retina. Astigmatismo resulta de irregularidades

na curvatura da córnea, dificultando a convergência dos raios.

A retina é a camada que forra o interior do olho e que recebe os raios de luz e os

converte em impulsos eléctricos que, por sua vez, irão ser levados ao cérebro pelo

nervo óptico.

A estrutura celular da retina (à direita, 1 cone e 9 bastonetes; ao centro, 2 células bipolares; à esquerda, 3

axónios de células ganglionares que pertencem ao nervo óptico)

A retina é formada pela expansão do nervo óptico e contém três camadas principais: a

camada dos receptores (a mais externa), a camada de associação e uma camada

ganglionar (a mais interna):

Receptores: células fotoreceptoras (cones e bastonetes) que convertem a

energia da luz em impulsos nervosos, essa conversão resulta de uma reacção

química que envolve a transformação dos pigmentos visuais.

Camada de associação: células bipolares que ligam os cones e bastonetes às

células gaglionares.

Camada ganglionar: células ganglionares cujas fibras (axónios) formam o início

do nervo óptico que vai até ao cérebro.

Cones – sensíveis à cor; funcionam apenas em condições de luminosidade (intensidade luminosa); concentram-se

no centro da retina (fóvea)

Bastonetes – insensíveis à cor; funcionam melhor com pouca luminosidade (pouca intensidade luminosa); especialmente

sensíveis na detecção de movimentos na visão periférica

Convertem a energia da luz em impulsos nervosos através de uma reacção química que envolve a transformação de pigmentos; os receptores têm diferentes reacções

por possuírem diferentes pigmentos.

Page 14: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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A fóvea (mácula) é uma zona da retina com cerca de 0,5 mm2 que contém apenas

cones (os bastonetes abundam na periferia da fóvea). A acuidade visual é máxima

quando as imagens estão focadas sobre a fóvea. A fóvea está alinhada com o centro da

pupila pelo que quando olhamos directamente um objecto a sua imagem é projectada

na fóvea.

Visão fotópica - sistema de visão adaptado â luz do dia, que permite a visão a cores os

receptores sensoriais são os cones.

Visão escotópica - sistema de visão adaptado à escuridão; os receptores sensoriais são

os bastonetes.

Visão mesóptica - designação dada à combinação da visão fotópica e da visão

escotópica que ocorre em situações de luminosidade baixa, mas não tão baixa que

elimine de todo a componente fotópica da visão.

Os músculos oculares garantem movimentos variados e de grande precisão, movendo

os dois olhos em paralelo.

Movimentos voluntários: permitem que os olhos se fixem em determinadas regiões do

campo visual.

Movimentos involuntários: sacadas (duram entre 25 e 100 ms) e fixações (são

pequenas pausas entre sacadas – o olho extrai a informação durante as fixações).

Page 15: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

15

A audição.

Órgão sensorial: Ouvido.

Ouvido Externo

Ouvido Médio Ouvido Interno

As ondas sonoras são captadas pelo pavilhão auricular e conduzidas através do canal auditivo até ao tímpano.

As ondas sonoras fazem o tímpano vibrar e essa vibração é transmitida à cadeia de ossículos (martelo bigorna e estribo). O estribo conduz essa vibração até ao ouvido interno. A trompa de Eustáquio estabelece ligação entre o ouvido médio e a faringe.

As vibrações são transmitidas à cóclea, órgão do ouvido interno que contem os receptores auditivos (células ciliares do órgão de corti). O aparelho vestibular (constituído pelos canais semi-circulares) não está relacionado com a audição, mas sim com o sentido de equilíbrio (detecta mudanças de direcção e de intensidade dos movimentos da cabeça).

Receptor sensorial: Órgão de Corti.

As vibrações vindas dos ossículos são transmitidas pela janela oval ao fluído que circula

na cóclea (perilinfa). As variações de pressão deste líquido ao longo do tubo coclear

fazem ondular a membrana basilar que assim estimula as células ciliares do órgão de

corti. Esta estimulação vai provocar impulsos nervosos que serão levados pelo nervo

auditivo até ao córtex auditivo.

Page 16: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

16

Tacto.

Temos quatro tipos de sensibilidade cutânea, cada um com receptores específicos

provocando desiguais tipos de sensação:

Térmica: sensação de frio e calor,

Dolorosa: informação sobre a dor;

Táctil: informação sobre a textura dos objectos e do seu movimento em contacto com

a pele;

Proprioceptiva e cinestésica: informação sobre a posição dos nossos membros e dos

nossos movimentos.

Estímulos semioquimicos: são substâncias químicas que transmitem informação a um

organismo sobre outro organismo. Podem ser usados como avisos ou para

comunicação entre organismos. Derivam de processos fisiológicos já em utilização pelo

organismo e são subsequentemente alterados no decurso da evolução, de forma a

ganhar novas funções enquanto sinais.

Feromonas – (intra-específicos) semioquimicos que actuam entre indivíduos da mesm

a espécie;

Aleloquímicos – (inter-específicos).

Page 17: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

17

Olfato.

A modalidade olfactiva é um sentido químico, pois reage a moléculas de substâncias

que passam pelo sistema olfactivo. Os receptores olfactivos encontram-se na nossa

cavidade nasal. Os neurónios dos receptores olfactivos enviam informação para o

bulbo olfactivo que se situa na base dos lobos cerebrais.

Paladar.

Também é um sentido químico, os receptores do paladar (botões gustativos)

encontram-se na língua e nas paredes da cavidade bocal (cerca de 10000). Considera-

se que existem quatro sensações primárias do paladar: Doce; Salgado; Amargo, e

Azedo. A que correspondem receptores específicos situados em diferentes regiões da

língua. O sabor resulta da mistura da activação destes diferentes receptores, bem

como da influência de outros factores como o odor, a temperatura ou a textura.

Percepção Visual.

Mecanismos cognitivos que permitem uma percepção visual tridimensional e estável

do mundo exterior.

Percepção da Profundidade/Distância

Mecanismos de constância perceptiva

Percepção da profundidade.

Para além da percepção da profundidade do espaço, conseguimos avaliar distâncias:

Distância a que um objecto está de nós – Distância Absoluta;

Distância que dois objectos têm entre si – Distância Relativa.

A percepção da profundidade constitui uma característica útil para a nossa

sobrevivência, conseguir ter uma representação tridimensional do mundo exterior,

permite: caminhar sobre o mundo, evitar ou saltar obstáculos, alcançar objecto ou

calcular a distância a que se encontra um determinado estímulo.

Page 18: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

18

O cérebro combina a informação proveniente de diferentes fontes para chegar a uma

representação 3D do ambiente. Essa informação denomina-se “Índices de

Profundidade” e pode ser classificada em três categorias:

Índices Visuais – informação proveniente da imagem retiniana (denominada também

por índices secundários);

Índices Oculomotores – informação proveniente dos receptores nervosos situados nos

músculos oculares (índices primários já que se relacionam com a fisiologia dos

processos perceptivos visuais);

Índices Cognitivos – conhecimento prévio sobre os objectos percepcionados.

Características dos índices:

Visuais (secundário):

Índices Visuais Monoculares (mesmo quando só vimos de um olho):

Não Pictóricos, Dinâmicos – só podem ser utilizados para percepcionar a

profundidade quando existe movimento (dinâmico). Paralaxe de

movimento – velocidade angular dos objectos é inversamente

proporcional à distância a que estão do observador. Reflecte-se no

movimento dos objectos projectados na retina. Exemplo: quando estou

a andar de comboio, estou em movimento, olho pela janela e vejo duas

árvores, uma está próxima de retina e a outra mais afastada, à medida

que o comboio ande a árvore que está mais perto movimenta-se mais

depressa do que a outra, o cérebro interpreta estarmos na presença de

duas profundidades.

Pictóricos, Estáticos – o efeito pode ser avaliado por um olho fixo - os

pintores procuram manipular as imagens a fim de criar nas telas

bidimensionais a impressão de tridimensionalidade.

Sobreposição/interposição/Oclusão – um objecto mais próximo pode

cobrir parcialmente a visão de um objecto mais distante, mas não o

contrário. Percepciona-se o objecto tapado como mais longe. O objecto

que sobrepõe o outro é percebido como mais próximo do observador.

Tamanho da imagem retiniana – um objecto distante projecta na retina

uma imagem mais pequena que um objecto próximo. A imagem

retiniana de um objecto diminui à medida que um objecto se afasta e

vice-versa. Assim o tamanho da imagem retiniana de um objecto é

indicador da distância a que ele se encontra; objectos a que

correspondem imagens retinianas pequenas aparentam estar mais

Page 19: Apontamentos de Psicologia Cognitiva

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distantes que objectos idênticos a que correspondem imagens

retinianas grandes. O tamanho da imagem retiniana é, por si só, um

índice de distância ambíguo – uma mesma imagem retiniana tanto pode

corresponder a um objecto grande que se encontra longe como a um

objecto pequeno que está próximo. No entanto, essa ambiguidade

desaparece quando estamos familiarizados com o objecto e com o seu

tamanho; nesse caso é possível estimar a sua distância com base na

dimensão da imagem retiniana e no conhecimento que temos do

tamanho real do objecto (portanto aqui há uma interacção entre índices

visuais e cognitivos).

Perspectiva linear – linhas paralelas que apontam para longe parecem

convergir, unindo-se no infinito (ponto de fuga). Por outro lado, o

tamanho dos objectos e o espaço eles diminui à medida que eles estão

mais distantes.

Textura – a maioria dos objectos possui textura. Essa textura aparenta

ser mais densa em objectos mais afastados. Uma superfície que se

prolongue espacialmente exibe um gradiente de textura que nos

permite avaliar a distância em que as suas diferentes partes se

encontram. Uma mudança abrupta no gradiente de textura é percebida

como uma descontinuidade no plano.

Altura no plano – os objectos situados mais altos no plano aparentam

estar mais longe.

Perspectiva aérea – a luz dispersa-se quando atravessa a atmosfera

(devido às partículas em suspensão); por esta razão, o céu tem cor azul,

pois esta fracção de luz dispersa-se mais que as restantes. Assim, os

objectos mais distantes têm menos contraste e parecem ligeiramente

nebulosos e azulados, uma vez que a luz tem de percorrer maior

distância. Reduzir o contraste em objectos leva-nos a julgá-los mais

distantes.

Focagem – se uma imagem apresenta uma região cuja textura está

focada e outra região cuja textura está desfocada, as regiões são

percebidas a diferentes níveis de profundidade.

Sombreado - apenas os objectos 3D tendem a mostrar gradiente de

luminosidade, uma vez que os objectos bidimensionais não apresentam

sombras. Assim, a existência de sobras também é um índice utilizado

pelo sistema visual para atribuir características tridimensionais aos

objectos.

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Gradientes da cor – gradientes de luminosidade e de saturação das

cores podem provocar percepção de profundidade.

Índices Visuais Binoculares.

Só estão disponíveis quando utilizamos os dois olhos para percepcionar

o objecto.

Disparidade binocular ou retiniana (stereopsis), pelo facto de termos

dois olhos ligeiramente afastados um do outro, o mesmo objecto

projecta nas duas retinas imagens ligeiramente diferentes. Quanto mais

próximo estiver o objecto do observador, mais díspares serão essas

imagens. A disparidade binocular e a sua relação com a percepção de

profundidade são utilizadas para obter imagens 3D – fotos e filmes.

Índices Oculomotores – Binoculares e Monoculares. São índices

primários que resultam da acção dos músculos ciliares – que controlam

a contracção do cristalino durante a focagem (acomodação) – e dos

músculos oculares - que controlam os movimentos dos olhos de forma a

projectar a imagem na fóvea (convergência). O cérebro processa a

informação sobre o grau de contracção destes músculos para avaliar a

distância a que se encontra o objecto para o qual estamos a olhar.

Acomodação – é um índice monocular – só é útil para objectos próximos

(menos de dois metros) e à nossa frente; é uma fonte de informação

adequada apenas para avaliar distâncias pequenas. Este índice de

profundidade resulta do feedback somático correspondente à tensão

muscular (músculos ciliares) que regula a espessura do cristalino, que é

aumentada para focar sobre a fóvea a imagem de objectos próximos.

Convergência – é um índice binocular – os olhos curvam-se para dentro

para focar um objecto que está próximo, de forma a trazer a imagem do

objecto para a fóvea de cada olho. Quanto mais próximo estiver o

objecto, maior a convergência. Só é útil para objectos situados à nossa

frente e próximos (menos de 10 metros). Funciona em conjunto com a

acomodação.

Índices Cognitivos – são uma componente Top-Down. Referem-se às expectativas que

o observador possui quanto ao tamanho do objecto observado, quanto à sua posição e

velocidades habituais, quanto à sua cor e à sua textura, etc. Desenvolvem-se com base

na aprendizagem e funcionam sempre em conjunto com os restantes índices.

Integração da informação sobre a distância. É importante saber como funciona a

integração dos diferentes índices que estão sempre presentes. Estratégia de

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aditividade – a informação dos diferentes índices é adicionada se for congruente. Esta

estratégia assegura uma percepção mais precisa de distância pois baseia-se na

integração da informação proveniente de diferentes índices. O que acontecerá quando

dois índices estão em conflito? Também aqui a informação é integrada de forma

aditiva. No entanto, alguns índices parecem ser menos poderosos que outros, pelo que

vão ser denominados pelos índices mais poderosos.

Mecanismos de Constância perceptiva.

São processos cognitivos que compensam a informação sensorial com base em

informação ambiental para garantir uma percepção estável do estímulo.

Garantem que possamos perceber determinado objecto como tendo o mesmo

tamanho, a mesma forma, ou a mesma cor, independentemente da distância a que ele

se encontra, da sua orientação ou da velocidade a que se movimenta. São exemplos

flagrante da diferença entre percepção e sensação, reflectindo aspectos top-down do

nosso sistema cognitivo.

Existem vários tipos de constância perceptiva:

Constância de tamanho:

Utiliza a informação sobre a distância para compensar a percepção das

dimensões do objecto. Permite-nos perceber um objecto como tendo sempre o

mesmo tamanho da sua imagem retiniana à medida que ele se afasta ou se

aproxima. Duas pessoas sentadas no corredor são percebidas como tendo o

tamanho normal, mas estando uma mais distante que a outra. Devemos

também ter em conta o índice cognitivo “familiaridade” com o objecto: um

carro visto à distância tem uma imagem retiniana pequena mas nós

percebemo-lo como um carro normal distante e não como um carro pequeno

próximo. Podemos ter dificuldade na avaliação do tamanho se o objecto em

avaliação for desconhecido.

Constância de forma:

A forma da projecção do objecto na retina depende da orientação em que o

objecto se encontra. Funciona de modo a garantir uma percepção estável da

forma do objecto, independentemente do ponto de vista de onde olhamos para

ele. Utiliza, portanto, a informação sobre a orientação do objecto para

compensar as alterações de forma que a sua imagem sofre devido à perspectiva

do observador. O mecanismo da constância da forma, reflecte o nosso

conhecimento prévio sobre a forma dos objectos, pode funcionar

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inadequadamente com objectos desconhecidos distorcendo a percepção da sua

forma.

Constância de brilho:

A luminosidade de um objecto depende da quantidade de luz que ele reflecte.

Um objecto branco colocado à sombra reflecte menos luz do que um objecto

escuro exposto à luz solar directa (cerca de 10 vezes menos), no entanto,

continuamos a considerar o primeiro mais brilhante do que o segundo. Este

mecanismo utiliza a luminosidade do meio ambiente para compensar o brilho

do objecto em avaliação. Assim, a constância de brilho parece funcionar mesmo

em objectos desconhecidos.

Constância de cor:

Um objecto exposto a luzes diferentes vai reflectir radiações distintas. No

entanto, a sua cor percebida não muda. A cor percebida de um objecto não

depende unicamente do tipo de radiação que ele reflecte, depende também de

outros factores como a luz envolvente, e familiaridade, etc. Tal como no brilho,

o mecanismo de constância, utiliza a informação luminosa do campo visual para

puder compensar potenciais mudanças no padrão reflector de um objecto e

assim garantir a constância da sua cor.

Constância de movimento.

A estabilidade da percepção é garantida pelo mecanismo de constância do

movimento. Existem duas formas do nosso sistema visual avaliar o movimento. 1 –

quando os olhos estão parados, a imagem de um objecto em movimento desloca-se ao

longo da retina, estimulando sequencialmente os receptores e informando o cérebro

da existência de movimento (informação relativa ao sistema imagem-retina). 2 –

quando os olhos seguem um objecto em movimento a imagem está fixada na fóvea,

mas a rotação dos olhos informa o cérebro da existência de movimento (informação

relativa ao sistema olho-cabeça). Duas teorias procuraram esclarecer a forma como

interage a informação proveniente desses dois mecanismos: a teoria centrípeta de

Charles Sherrington, e a teoria centrífuga de Hermann von Helmholte. Das duas

teorias, duas situações empíricas sugerem a teoria centrífuga a mais correcta. a) se se

paralizaqrem os músculos oculares do sujeito e se lhe pedir para mover os olhos, estes

não se moverão mas o sujeito perceberá um estímulo parado como em movimento; b)

se movermos passivamente o olho, perceberemos estímulos parados como estando

em movimento. nestas duas situações, a percepção ilusória de movimento resulta de

um mecanismo top-down – a informação vinda do periferia (retina) é interpretada

centralmente à luz da expectativa do sujeito sobre movimentos oculares.

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Ilusões.

Distorções introduzidas pelo sistema perceptivo. Existem ilusões para todas as

modalidades sensoriais, mas as ilusões visuais são as mais conhecidas e as mais

importantes.

Ilusões de Distorção;

Ilusões de Ambiguidade;

Ilusões Paradoxais;

Ilusões de Ficção.

Memória.

É uma função mental que nos permite conservar informação sobre acontecimentos

passados e aceder a essa informação a qualquer momento.

Aprendizagem e Memória – dois conceitos interrelacionados.

Aprendizagem – mudança permanente do comportamento devido a experiências

passadas.

Memória – retenção de uma aprendizagem ou experiência de forma a possibilitar a sua

recuperação.

Processos mnésicos vs. Estruturas mnésicas.

Processos mnésicos – actividades que ocorrem dentro do sistema de memória,

exemplo, registo arquivo e recuperação da memória.

Estruturas mnésicas – os diversos componentes do sistema de memória; memória a

curto termo, memória semântica, memória episódica.

Processos envolvidos na memória:

Registo – processo que ocorre durante a apresentação do material a ser aprendido, é

relacionado com a atenção;

Arquivo – processo que resulta na transformação da informação, de modo a que possa

ser armazenada;

Recuperação – processo que permite a extracção da informação arquivada no sistema

memória.

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William James (1890):

- memória primária – estava presente na consciência;

- memória secundária – estava fora do alcance da consciência, mas podia ser

levada até ela com esforço (recordar).

Modelo Multi-Arquivo (Atkinson e Shiffrin; 1968, 1971)

- Arquivos sensoriais (MS): arquivos associados a modalidades sensoriais específicas (e.g., visão, audição), onde a informação se mantém por um período de tempo muito breve antes de ser apreendida pela atenção e dar entrada nos armazéns mnésicos seguintes. - Arquivo a curto prazo (MCP): arquivo com capacidade muito limitada que mantém activa a informação por alguns segundos e ao qual a consciência tem acesso directo e sem esforço. - Arquivo a longo prazo (MLP): arquivo com capacidade ilimitada que pode manter a informação por períodos de tempo muito longos e cuja recuperação exige algum esforço.

Memória Sensorial: Todo o estímulo desencadeia uma actividade receptora sensorial que perdura um período de tempo muito curto, mesmo depois da estimulação ter desaparecido. Na verdade, a informação sensorial necessita ser retida durante algum tempo para que o sistema cognitivo possa registá-la e posteriormente processá-la, de forma garantir o seu armazenamento mais duradouro.

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Tipos de memória sensorial. Ulric Neisser (1967). A memória sensorial funciona como buffer do sistema cognitivo, existindo um buffer para as principais modalidades sensoriais. Arquivo Icónico: armazena a informação sensorial relativa à modalidade visual. Arquivo Ecóico: armazena a informação sensorial relativa à modalidade auditiva. Arquivo Háptico: armazena a informação sensorial relativa à modalidade táctil e proprioceptiva. A memória icónica permite-nos “tirar uma fotografia” rápida do ambiente e manter essa informação por um curto período de tempo de forma a que os processos atencionais extraiam aquilo que é pertinente. A memória icónica é bastante importante no nosso funcionamento cognitivo porque representa a entrada da informação visual nesse sistema. É sobre a memória icónica que trabalha a atenção quando estamos a processar imagens; a memória icónica parece igualmente intervir nos processos de constância visual (nomeadamente, garantir uma visão estável e contínua do mundo, apesar dos movimentos sacádicos e do piscar de olhos). Memória écoica - Uma situação típica que ilustra a utilização desta memória ecóica é o processo a localização de fontes sonoras através da diferença acústica entre os dois ouvidos (é por possuirmos dois ouvidos, que recebem o mesmo som com uma ligeira diferença temporal, que conseguimos localizar a fonte sonora). Para avaliar a localização do som, é preciso que a informação sonora fique retida algum tempo para que se possa fazer a comparação entre ouvido esquerdo e ouvido direito. O armazém sensorial do modelo atencional de Broadbent corresponde a esta memória sensorial ecóica. Memória a Curto Prazo. Porquê existir esta memória temporária? A informação que vem chegando do exterior ao nosso sistema cognitivo tem de ser temporariamente armazenada para depois decidimos se que aspectos vamos armazenar de forma mais segura (MLP) ou ignorar (esquecimento). Por outro lado, possuímos muita informação na MLP: recordações de acontecimentos da nossa vida pessoal, informação que adquirimos ao longo da vida, competências motoras (andar de bicicleta, por exemplo)... Muito poucas dessas informações são realmente relevantes para aquilo que estamos a fazer num dado instante. A memória a curto prazo serve para manter temporariamente disponíveis as informações relevantes para uma dada tarefa. Memória a Longo Prazo. Arquivo com uma capacidade ilimitada e com uma grande duração temporal. Capacidade: ilimitada; contém todo o tipo de informação (e.g., conhecimento acerca do mundo físico e da linguagem, crenças sobre as pessoas, dados biográficos, normas

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sociais, competências motoras, competências para a resolução de problemas, vocabulário, etc.). Duração: por vezes, mais de 50 anos. Codificação: Código semântico; Código visual (imagery); Código acústico.