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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI Curso Ano Lectivo Licenciatura em Administração e Gestão de Empresas 2009 Disciplina DIREITO EMPRESARIAL Ano Semestre Carga Horária Semanal 3 Horas Carga Horária Total 48 Horas Precedências Nenhuma Área Científica Direito Docente: António Caetano de Sousa [email protected]; [email protected]; 823931941; I. TEORIA GERAL DO DIREITO DAS EMPRESAS I.1. Introdução ao Direito Empresa s I.1.1. O Direito Mercantil Moderno As relações económicas decorrentes da economia de mercado são as bases do Direito Comercial Moderno. A ordem económica e financeira tem na actividade económica, aí incluindo o APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 1

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Curso AnoLectivo

Licenciatura em Administração e Gestão de Empresas

2009

Disciplina DIREITO EMPRESARIALAno 2º Semestre 1º

Carga Horária Semanal

3 Horas Carga Horária Total

48 Horas

Precedências NenhumaÁrea Científica Direito

Docente: António Caetano de Sousa [email protected]; [email protected]; 823931941;

I. TEORIA GERAL DO DIREITO DAS EMPRESAS

I.1. Introdução ao Direito Empresas

I.1.1. O Direito Mercantil Moderno

As relações económicas decorrentes da economia de mercado são as bases do Direito Comercial Moderno. A ordem económica e financeira tem na actividade económica, aí incluindo o trabalho humano e a livre iniciativa, os pilares da propugnada justiça social. Verifica-se no art. 97 da Constituição da República o enunciado normativo, que deverá ser lido no sentido de que a organização Económica e social da República de Moçambique – deverá ser (estar) fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa dos agentes económicos, tendo por fim (fim, delas, relações económicas ou actividade económica)

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assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, que consistem na criação do bem estar material, espiritual e de qualidade de vida dos cidadãos(al. c), art. 11 CRM). Trata-se de um ramo do direito privado, coexistindo ao lado do direito civil, não obstante receba profunda influência do direito público, sobretudo no que tange a certas regras proibitivas do exercício do comércio( vide-se os art. 9º e ss do C.Com.)

I.1.2. A Empresa como base do Direito Comercial Moderno

No início, o Direito Comercial chegou a ser considerado um direito excepcional, com normas aplicáveis apenas aos comerciantes e suas relações jurídicas. Nascido das necessidades dos comerciantes, o direito comercial conquistou seu lugar ao lado do direito civil e criou sua própria matéria, isto é, o seu campo de actuação específico. Verifica-se, uma mudança de paradigma no direito comercial cujo conteúdo deixa de ter uma orientação meramente subjectiva (corporativa) do comerciante da Idade Média, cuja evolução histórica passa, com o código comercial napoleônico de 1807, a ter um sentido objectivo, extensivo a todos o exercício dos actos de comércio, para, hoje, se concentrar na actividade, critério decorrente da organização que está implícita e subjacente na prática reiterada dos actos, tendo, portanto, como base a empresa, ou seja, a organização dos factores de produção para um escopo lucrativo, ou seja, como enuncia o nº 1 do art. 3º do C.Com, a “ empresa comercial é toda a organização de factores de produção para o exercício de uma actividade económica destinada à produção,... troca sistemática e vantajosa ...”.

I.1.3. Questão de Método

É de se ponderar que o direito comercial apresenta características que o distancia do direito civil. Destinado a reger relações económicas decorrentes do chamado mercado, tendo um substracto económico acentuado apresenta-se com um método próprio e característico, o método indutivo, que parte da observação da realidade (factos económicos), chegando aos princípios gerais. Diferentemente do método do direito civil, que é essencialmente dedutivo, em que se parte do geral para o particular. Daí essa contraposição entre as normas do direito civil e do direito comercial; enquanto no primeiro elas são estáticas e dificilmente modificáveis, as do direito comercial são dinámicas, e estão sempre a sofrer as influências da vida económica.

I.1.4. Características do Direito Comercial

Não é despiciendo lembrar a importância que tem a interpretação como forma criativa do direito novo, conjugando a historicidade com a evolução, a certeza e a segurança com a efectividade. Nesse sentido pode-se concluir que é “inerente à experiência jurídica de todos os tempos e lugares, a co-implicação de dois

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elementos indispensáveis, a estrutura formal (a tipologia, a que se refere Ascarelli) e a função normativa que resulta da objectivamente do processo complexo de valoração dos factos”.

Dessa forma, é da aproximação entre a experiência concreta e as necessidades conceptuais que se integra o Direito Comercial ao um sistema geral do Direito. Ao se colocar a empresa como epicentro do Direito Comercial (modernamente chamado de Direito Empresarial ou das Empresas) não se pode negar que a empresa seja o centro nervoso da economia moderna, podendo-se afirmar que: caso se queira “indicar uma instituição social que, pela sua influência, dinamismo e poder de transformação, sirva como elemento explicativo e definidor da civilização contemporânea, a escolha é indubitável: essa instituição é a empresa”.

I.1.5. A noção moderna do Direito Comercial

O direito comercial, como já se afirmou, transmudou-se de mero regulador dos comerciantes e dos actos de comércio, passando a atender à actividade, sob a forma de empresa, que é o actual centro do direito comercial. A empresa pressupõe uma organização que, por meio de uma série coordenada de actos, destina-se a um fim determinado no setor económico(art. 3 do C.Com). Pode-se considerá-la como um “sistema de normas jurídicas que regulam as relações derivadas das actividades privadas de produção e circulação de bens e serviços destinados ao mercado”.

I.2. A Teoria Jurídica da Empresa

Em decorrência da transformação no direito comum devido à chamada “comercialização do Direito Privado” e da propugnada concretitude das normas cuja tendência se manifesta e se realiza na sua operabilidade que se verifica a transformação do Direito Comercial, além dos princípios da eticidade e da socialidade. Foi da pessoa do comerciante e do acto de comércio a base da concepção moderna da actividade que, por pressupor uma organização para executá-la irá desbordar no conceito de empresa. Concebeu-se assim a actividade económica como a série de actos coordenados entre si, pelo comerciante, visando a uma finalidade comum. Melhor dizendo, “o ponto de referência do direito comercial é a actividade, isto é, a série coordenada e unificada de actos em função de um fim económico unitário”. Numa palavra, toda a problemática do direito comercial se centraliza na “actividade”.

I.2.1. A empresa

A matéria comercial passa, assim, a ser definida pela actividade, exercida por meio de uma empresa. A teoria jurídica da empresa, fenómeno socioeconómico que é, aparece como desafio na tarefa de sua transposição para o plano jurídico. A tarefa que cabe ao estudioso perante a teoria jurídica da

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empresa “é a de reconhecendo essa importância do fenómeno económico-social, captar sua essencialidade, transpondo-o para o plano jurídico, para o fim de estatuir um regime jurídico específico voltado para fixação dos seus direitos e deveres”. A empresa tem seu nascimento na época em que o aperfeiçoamento da técnica e a melhor distribuição de mercadorias permitiram o incremento da produção, transformando o artesão em capitalista. Da indústria situada no domicílio do empresário passou-se à construção de fábricas, fazendo surgir a actividade industrial em larga escala e a divisão técnica do trabalho. O estudo deste fenómeno deu nascimento à Ciência Económica na segunda metade do século XVIII, a partir das obras fundamentais de Adam Smith e de Jean-Baptiste Say.

I.2.1.1. O termo empresa

A empresa surge com a produção voltada para o mercado. “O artesão tem, quando passa a produzir para o mercado, necessidade de buscar saída para os seus produtos, mas pode não encontrá-la. Aparece, então, o elemento que faz nascer, do ofício, a empresa: o risco para o lucro; e o fim da actividade produtiva é o ganho pela especulação”. A concepção da empresa moderna surgiu no começo do século XIX e progrediu com o liberalismo económico. Entre suas principais peculiaridades jurídicas estão a propriedade privada e a liberdade de contratar.

I.2.1.2. Os factores de produção e a empresa

A produção só pode ter lugar se para tal estiverem disponíveis os recursos necessários. Os economistas classificam os recursos como factores de produção. Os factores de produção são normalmente divididos em três categorias principais: terra (recursos naturais), trabalho (conjunto dos recursos humanos) e capital (recursos produzidos pelo homem). Os economistas identificam um quarto factor: a empresa. No entanto deve haver alguém, um indivíduo ou um grupo de pessoas, que organize aqueles três factores de modo que possa haver produção.

Alguém deve decidir: (a) o que produzir; (b) como produzir; (c) onde produzir. Aquele que toma as decisões e assume os riscos consequentes designa-se por empresário. O empresário corre riscos. Executa a produção antecipando-se à procura. Suporta os custos envolvidos para produzir. Tem de arcar com os custos das matérias-primas, os juros do capital, os salários dos trabalhadores. Se a receita da venda for superior às despesas, os empresários têm lucro, se inferior, terão que suportar o prejuízo. Organização, administração e assunção de riscos são as três funções de quem empresaria. Dessa forma pode-se definir: “Empresa é um dos regimes de produzir, onde alguém (empresário), por via contratual, utiliza factores da produção sob sua responsabilidade (riscos), a fim de obter uma utilidade, vendê-la no mercado e tirar, da diferença entre o custo da produção e o preço de venda, o maior proveito monetário possível” . O

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regime capitalista construiu a empresa sobre a propriedade e o contrato: propriedade dos bens, contrato com os trabalhadores.

Porém, o que se revela, é a falta de uma noção uma concepção unitária de empresa, em nítidos termos jurídicos. “Para achar a empresa em nossas leis é preciso procurá-la nas disciplinas que escapam, por sua autonomia, às concepções tradicionais. O direito fiscal estabelece impostos sobre os seus lucros; o do trabalho mantém os contratos, no caso de cessão da empresa; o profissional as classifica e regulamenta.

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Para melhor compreensão do exposto acima, não será um desperdício

académico relembrarmos a evolução do Direito comercial, tendo como

ponto de partida o comércio na Idade Média.

Evolução do Direito Comercial

Idade média

É na idade média onde se dá o impulso para a criação do Direito Comercial

como um ramo autónomo e resultou da existência de grémios e das corporações

que surgem nas grandes Cidades. Aliado a isto há um incremento do comércio

com as cruzadas, aumento do tráfico mercantil, comércio mais fluorescente.

Assim, desenvolveram-se pólos comerciais: Grandes cidades na Espanha, Itália,

Holanda e Portugal. Desenvolvem-se também usos e costumes para regular

questões que daí resultavam. Mas era um direito Consuetudinário: eram usos e

costumes mercantis que variavam de Cidade para Cidade.

Com a recolha desses usos e costumes aliado a actividades dos juízes que

tinham que resolver os diferendos surge o Direito Comercial.

Características do Direito Comercial na Idade Média:

Carácter costumeiro ou consuetudinário;

Carácter profissional;

Carácter internacionalista: Resolviam problemas de pessoas de diferentes

países

O Direito Comercial surge nesta época como um Direito classista, na medida

em que visava defender uma classe: a classe dos comerciantes.

Direito Comercial e a Revolução Francesa

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No sec. XVIII, com a Revolução Francesa Pôs-se em causa esse direito

classista dentro dos ideais da igualdade, liberdade e fraternidade. Foram

abolidas as corporações que tinham sido criadas para proteger uma classe.

Aboliram-se todas as Leis que privilegiavam os comerciantes. Esta Revolução

veio a proclamar a liberdade do comércio passando de direito dos comerciantes

para direito dos actos do comércio, seja comerciante ou não quem os praticasse.

Nesta perspectiva temos:

1ª Fase: Concepção subjectivista – Direito dos comerciantes (classista);

2ª Fase: Concepção objectivista – Direito dos actos de comércio.

A segunda fase emergiu da Revolução Francesa e ficou plasmada no Código

Francês de 1807 que influenciou todo o mundo. É um Código de concepção

objectivista que consagra os actos do comércio.

A partir do Código Francês de 1807 surge o Direito Comercial regulador dos

actos de comércio.

Com Luís XIV, especialmente com o seu Ministro Colbert, criaram-se as

primeiras bases das primeiras Codificações da Idade Média.

O poder desloca-se dos Municípios, dos representantes locais para o Rei, daí a

formação de normas jurídicas que são codificadas. Surgem as primeiras

codificações.

Mas a Revolução Francesa – com a liberdade e igualdade dos homens é que foi

determinante: impôs a liberdade do comércio deixando este de ser um direito

classista para ser um direito dos actos de comércio.

Direito Comercial nos tempos modernos

A concepção dos actos de comércio (objectivista) sofre algumas alterações, ou

seja, a concepção objectivista pura dos actos do comércio começou a ser posta

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em causa, por isso, muitos países começaram a adoptar uma concepção

objectiva (dos actos do comércio) e também uma concepção subjectiva (dos

comerciantes) =» Passou a defender uma Concepção Mista ou Eclética.

O Código Português, que por sinal influenciou o direito Moçambicano, adopta

uma concepção mista.

Actualmente, de há alguns anos para cá, a doutrina começa a defender que o

Direito Comercial não pode ser vista numa noção positiva (do Código) porque há

situações ou figuras não comerciais, praticadas por civis mas regulados pelo

Código e actos comerciais mas que não têm cobertura positiva.

Defendem que o núcleo fundamental do desenvolvimento económico é sempre

representado pela empresa, que constitui a actividade económica organizada,

actividade essa que é impulsionada e dirigida pelo empresário. Daí que a

doutrina moderna afirma que o Direito Comercial deve ser encarado com base

no núcleo fundamental da vida económica, volta-se à concepção subjectiva

tradicional dado que vê no empresário o núcleo da actividade.

A empresa e o Direito das Empresas

O Direito da Empresarial, segundo a visão moderna, constitui um direito

ordenador e coordenador da vida económica.

Vamos desenvolver esta concepção moderna que tem como núcleo fundamental

o empresário, ou seja, concepção subjectivista ou profissional.

Mas antes, há que relembrar as diferentes concepções:

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1ª Concepção: Direito Comercial como conjunto de normas que regulam a

actividade dos comerciantes (Subjectiva);

2ª Concepção: Direito Comercial como direito dos actos de comercio

(objectiva);

3ª Concepção: Direito Comercial como direito dos actos comerciais e dos

comerciantes

4ª Concepção: Subjectivista ou profissional que volta à concepção subjectivista

que vê no empresário/empresa o núcleo fundamental do Direito das Empresas.

A empresa

A corrente subjectivista profissional deixa de definir o Direito das Empresas

como o direito da matéria comercial. Os actos comerciais não são o fulcro do

Direito das Empresas.

Os autores dizem que a sua corrente:

Tem base secular: baseia-se no indivíduo que desenvolve o comércio, o

empresário.

Abrange diferentes actos comerciais porque se baseia no núcleo, a

empresa.

A nova corrente baseia-se no facto de que o comércio sempre foi uma actividade

profissional. Sendo assim, o importante é ver onde assenta o núcleo

fundamental da sua actividade. Esse núcleo assenta no empresário:

=» ele organiza; dirige e impulsiona a empresa, ou seja, ele é a pessoa que

impulsiona a empresa e este é o modo social de desenvolver, de agir dentro do

mercado.

A nova corrente doutrinal tem um aspecto positivo:

=» Define a empresa no sentido jurídico baseando-se em dois elementos:

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1º Que a empresa supõe uma actividade económica que tem em vista a

produção ou troca de bens e ou serviços no mercado;

2º Que a empresa Supõe uma organização.

Do exposto pode-se definir a empresa como uma actividade económica

organizada pelo empresário para produção ou troca de bens ou serviços

no mercado.

Distinção entre Empresa e empresário

Empresa e empresário estão interligados. Não há empresário sem

empresa. São dois conceitos intimamente ligados.

É frequente o uso do termo empresa para significar ou indicar o

empresário. Isto está no facto de que empresa é actividade. Mas

quem assina os contratos, quem responde e resolve os problemas é o

empresário. Assim;

Empresário é o titular dos direitos e obrigações, ou seja, é o centro de

direitos e deveres (pessoa física ou pessoa jurídica) e é elemento

fundamental na actividade económica. Por isso mesmo a Lei fala da

empresa comercial para se referir ao empresário: “a empresa vai

pagar imposto...”

Empresa constitui o exercício profissional pelo empresário de uma

actividade económica organizada, que tem em vista a produção ou

troca de bens no mercado.

Empresário é a pessoa que exerce actividade económica organizada.

Esta doutrina vem dizer o seguinte:

A produção ou troca de bens; a interposição entre produtor/consumidor

nunca é fruto de uma actividade acidental, casual. É uma actividade

profissional.

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Sendo assim, tem que ser uma actividade organizada. E essa

organização leva a que actualmente se criem organismos económicos.

Assim, ganha outro sentido.

Mas empresa é sempre no sentido de actividade.

Se empresa é uma actividade económica organizada:

=» Então, não é um único acto. Supõe uma massa de actos, uma prática

reiterada de actos.

Isto quer dizer que se tivéssemos que definir actos de comércio seria

difícil ou impossível fazê-lo. Apenas diríamos que:

Acto de comércio é um conceito de direito positivo. Baseamo-nos

na Lei;

Mas em todos eles encontramos um elemento comum;

Em todos eles há troca por meio de interposta pessoa.

Mas outros acrescentam um intuito especulativo – mas há reservas porque

há actos de comércio sem fins lucrativos. Tanto mais que mesmo aquelas

que não assentam no lucro como as empresas públicas sempre visam

algum lucro. É inconcebível uma actividade económica que vise o défice.

Alguns defendem que o intuito lucrativo é necessário mas a troca é

indispensável.

Não é por não haver lucro que um acto de comércio deixa de o ser

Sociedade comercial/Empresa

O Código Comercial fala de três tipos de Empresários( art 2º):

1º Pessoas singulares – Quando dirigida por uma pessoa ou mais sem que

seja uma pessoa jurídica.

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3º Pessoas Colectivas – Quando o exercício da empresa comercial é feita por

uma pessoa colectiva.

2º Sociedade comercial) – Quando a actividade económica organizada é

dirigida por uma pessoa colectiva.

Por outro lado, há quem diga que na moderna concepção apenas houve

mudança de nomes:

Antes comerciante, hoje empresário

Antes sociedade comercial, hoje empresa

Mas se analisarmos profundamente veremos que não há equivalência entre

aqueles termos pelo seguinte.

A sociedade comercial, que é pessoa jurídica, é sujeito de direitos e deveres;

A empresa, entanto que actividade organizada, não é sujeito de direitos e

deveres porque é actividade. Por isso, ela é objecto de direitos e pode, por

exemplo, pode ser trespassada;

Se a sociedade comercial é sujeito de direitos e deveres é empresário e não

empresa =» o empresário pode ser pessoa física ou colectiva;

No primeiro caso temos uma empresa em nome individual e no segundo em

nome colectivo;

Podemos ter um empresário, uma sociedade comercial e não termos

empresa se aquele empresário não realiza qualquer actividade económica

organizada.

Em suma:

1. Empresário: Sujeito de direitos e deveres. Dirige e assume os

riscos.

2. Empresa: Actividade. Objecto de direitos.

Comerciante/Empresário

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Analogia: ambos são sujeitos de direito.

A noção de empresário é mais ampla e complexa que a de

comerciante. Não se confundem.

A noção estritamente vinculada à noção de acto de comércio, de

comercialidade.

A noção de empresário é mais ampla porque está ligada à noção de

actividade económica que pode não ser necessariamente comercial: é

o caso das empresas agrícolas e de artesanato.

Comerciante é apenas uma pessoa que realiza profissionalmente

actos de comércio. Até se concebe que ele exerça um único acto de

comércio. No caso da sociedade comercial basta que adopte a forma

comercial para ser comerciante.

O acto de comércio é um conceito jurídico (com efeitos jurídicos) mas

não implica profissionalidade. Mesmo actos de comércio praticados

repetidamente podem não constituir actividade empresarial.

Quando temos uma empresa comercial que pratique actividades

previstas no C. Comercial, o titular dessa empresa identifica-se com o

comerciante. Apesar dessa identificação ainda há diferenças entre

empresário e comerciante.

No conceito de empresa há um elemento novo que diferencia

comerciante do empresário: Comerciante é o que faz a interposição e

empresário é não só intermediário, mas também produz bens ou

serviços.

Acepções da empresa no Direito Empresarial

1. Empresa em sentido jurídico: actividade económica organizada, e

realizada de forma profissional, dirigida à produção e troca de bens no

mercado.

2. Empresa em sentido subjectivo: coincide com o empresário (sujeito de

direitos)

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3. Empresa em sentido funcional: identifica-se com actividade organizada

e dirigida pelo empresário.

4. Empresa em sentido material ou objectivo: Identifica-se com o

estabelecimento comercial.

5. Empresa em sentido corporativo: organização do trabalho.

Estudo dos actos de comércio(art. 24º C. Com)

Noção de acto de comércio

Como fizemos referência aquando da análise da natureza jurídica da nossa

cadeira, ela é direito privado especial em face do direito civil comum; por isso

mostra-se importante a determinação de quais são os actos e relações

jurídicas que se devem considerar como comerciais, ou seja, a delimitação

das fronteiras materiais do estudo científico do direito comercial e a

determinação dos regimes jurídicos específicos das relações jurídicos

comerciais.

Para tanto, dispõe se essencialmente de um preceito: o arts 4º do C.Com.

A Lei Comercial não nos dá um conceito material unitário de acto de

comércio. O critério que nos é fornecido pelo art. 2º não permite formular o

correspondente conceito.

O art. 2º emprega a expressão acto de comércio num plano muito amplo.

Art. 4º do Código Comercial

A al.a) do art. 2º prescreve: Serão considerados actos de comércio todos

aqueles que se acharem especialmente regulados na Lei Comercial, tendo em

atenção as necessidades da empresa comercial e os actos análogos (actos

objectivos).

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O mesmo preceito, al. b), considera como actos de natureza empresarial

aqueles praticados pelo empresário no exercício da sua empresa comercial

(actos subjectivos).

Estamos perante um preceito complexo, mas de fundamental importância para

a determinação da nossa disciplina.

O artigo em apresso, compreende duas partes:

Na al. a) do art. 2º temos actos comerciais objectivos (os que estão na lei) e a

sua comercialidade reside neles próprios, não interessando a pessoa que os

pratica.

Na al. b) temos os actos comerciais subjectivos (atendendo aos sujeitos que os

praticam), onde se estabelece uma presunção genérica de comercialidade

para os actos dos empresários, qualquer acto de índole patrimonial se

presume mercantil, contando que tenha sido praticado por um empresário. Mas

há que ter em conta que nem todos os actos jurídicos praticados por

empresários são actos de comércio. O facto de serem praticados por estes não

é conditio sine qua non que esses actos sejam considerados comerciais; é

necessário que neles se verifique uma certa condição que se traduz nas

seguintes fórmulas:

- não sejam de natureza exclusivamente civil” e,

- Se deles e das circunstâncias que o rodearam a sua pratica não

resultar o contrário.

Do exposto resulta que temos:

Actos objectivos que devem a sua comercialidade ao facto de se

ajustarem em concreto a um dos tipos de actividade descritas

na lei mercantil e,

Actos subjectivos àqueles que devem a sua comercialidade,

essencialmente, à qualidade de empresário do sujeito que os

pratica.

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Dos actos objectivos:

- Interpretação da 1ª parte do art. 4º

Na primeira parte da al. a) do art. 4º lê-se que: “ Serão considerados actos de

comércio todos aqueles que se acharem especialmente regulados no Código

Comercial.

- Que são actos especialmente regulados no Código? Ou qual é o significado

da frase?

Vimos em sede da natureza jurídica do Direito Comercial que ele é Direito

Privado Especial. O Direito Civil Comum funciona como direito subsidiário em

relação ao Direito Empresarial.

O princípio geral é que as relações jurídicas jurídicas de direito privado

pertencem ao direito civil; só em casos especialmente definidos e regulados, é

que elas serão direito comercial. Há, assim, que considerar:

a) Os actos simultaneamente regulados na Lei Civil e na Lei Comercial, ou

seja, os actos que embora estando simultaneamente regulados no Código

Comercial e no Código Civil, reúnem os requisitos que a própria Lei Comercial

considera indispensáveis para atribuir a certa espécie deles a qualidade

mercantil e que, por isso, sujeita a regulamentação comercial.

Vejam-se os seguintes exemplos: Contratos de sociedade; mandato, transporte,

penhor, compra e venda, aluguer, depósito, fiança, empréstimo, etc.

Em princípio, tais actos serão civis; serão comerciais, entretanto, quando neles

se verificarem aquelas características que a própria Lei Comercial estabelece

com atributivas da comercialidade. Aqui, é indiferente a qualidade de empresário

da pessoa que os pratica, o que importa é analisar o destino/fim dos mesmos

actos.

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Vejamos alguns exemplos:

1. Musongoni e Muhanti não são empresários. Musongoni

emprestou um milhão de meticais a Muhanti. Em princípio é um

acto civil. Mas se Musongoni exara uma letra segundo a qual

Muhanti se compromete a pagar, estaremos perante um acto

comercial, pois letra é um acto comercial.

2. Telela e Nkensiua não são Empresários. Telela empresta a

Nkensiua três milhões para que esta compre camarão, na

Costa do Sol, destinado a revenda. O empréstimo tem carácter

comercial por o dinheiro se destinar a um acto do comércio. Se

Telela emprestasse a Nkensiua a mesma quantia ou outra para

esta adquirir uma palhota para habitação, o contrato seria civil e

não comercial.

b) Actos única e exclusivamente regulados no Código Comercial. Ex. Reporte –

art. 487º; Transporte arts. 557º e ss, etc. São os se acham directa e

explicitamente referidos de forma genérica na primeira parte do art. 4º. Nestes

casos é indiferente à classificação do acto como comercial serem ou não

empresárias as pessoas que intervêm no acto, e ter natureza comercial ou civil a

operação subjacente ao mesmo.

c) Actos regulados na legislação comercial extravagante.

Importa fixar o critério determinante do que sejam normas ou leis mercantis

avulsas que tenham impacto mercantil. Ferrer Correia diz que: “ o que realmente

interessa é que o regime traçado pela disposição em causa vá destinado a

satisfazer necessidades de comércio, a resolver problemas específicos deste

sector da vida económica”.

Assim, para definir se um acto regulado numa disposição legal avulsa ao Código

Comercial é um acto pela sua própria natureza, de molde a caber na al. a) do

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art. 4º, deverá atender-se ao critério das necessidades ou interesses que o

legislador visou satisfazer com o regime desse acto:” são actos de comércio

todos os que se acharem especialmente regulados no Código em atenção a

necessidades da empresa comercial ou interesses da vida comercial”.

a) A analogia como meio de qualificação dos actos de comércio

A última parte da alínea que temos vindo fazer referência, admite o recurso a

analogia como forma de qualificar os actos comerciais.

Esta admissão da analogia pelo legislador Moçambicano, no passado não se

mostrava pacífica, senão vejamos:

Um grupo de autores defendia que não é possível uma integração analógica do

comércio. Dizem os autores que o recurso a analogia parece incompatível com

certeza jurídica que deve rodear tal qualificação. Mais ainda, os autores

contrários ao recurso a analogia, afirmam que se se admitisse a atribuição por

via analógica da qualidade de actos de comércio objectivos criar-se-ia para

aqueles que os praticassem, bem como para as demais pessoas atingidas pelos

efeitos desses actos, um indesejável e pernicioso estado de incerteza acerca da

própria aquisição da qualidade de comerciante pelos respectivos autores bem

como quanto ao regime jurídico desses actos e às inerentes obrigações e

direitos.

Para eles, este argumento de manifesta relevância, deve levar, em princípio à

rejeição da analogia como forma de classificar actos objectivamente comerciais.

Embora possam surgir actos que, por identidade de motivos com outros

considerados pela lei de natureza mercantil, devessem ser qualificados também

de comerciais, recusa-se tal solução por manifestamente incompatível com a

necessária salvaguarda da certeza e segurança jurídicas.

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Contudo, esses autores têm entendido – embora com grave risco de ruptura do

sistema, que a oposição quanto ao recurso a analogia, comporta algumas

restrições e explicações. Vejamos:

=»Deve-se dar cobertura a diversas actividades novas que se enquadram no

âmbito do art. 230º.(Entenda-se, do C. Com passado)

=»Por vezes, é por via da interpretação extensiva da Lei Comercial que se

podem integrar essas novas actividades ou renovadas. P. ex.: o nº 5º do art.

230º, poderá abarcar a edição, publicação e venda de discos, cassetes áudio e

vídeo, DVD´s, CD´s, filmes, software para computadores; no nº 2, além de

géneros, poderá caber o fornecimento de bens de outra espécie; no nº 7,

facilmente se compreenderão os transportes aéreos.

Posição adoptada:

Ferrer Correia, em contraposição daqueles autores não favoráveis ao recurso da

analogia em matéria comercial, diz que ela pode ser aplicada tratando-se de

actos praticados pelos comerciantes, na medida em que o art. 230º assim o

permite, daí que se admita, como actividades comerciais, P. ex. Empresas de

publicidade; empresas de gestão de bens, etc.

N.B. Toda esta discussão já não se justifica com a entrada em vigor do

novo Código Comercial.

Actos Subjectivos:

- Interpretação da al. b) do art. 4º

Prescreve este preceito que são considerados actos de comércio “ todos os

actos praticados no exercício de uma empresa comercial.”

Esses actos são comerciais não pelo factor objectivo da lei, mas sim pelo

elemento subjectivo consistente em serem praticados pelos empresários no

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exercício da sua empresa; ou seja, é a qualidade do sujeito que os pratica que

lhes confere comercialidade.

Para a Lei são actos jurídicos comerciais todos aqueles que são praticados por

empresários com fundamento na presunção de que tais actos se ligam à

actividade mercantil ( Vide o nº 2 do mesmo articulado).

A Lei parte do princípio de que sendo o empresário um profissional do comércio,

actividade complexa que implica a montagem e orientação de uma organização

potencialmente absorvente, deve partir-se do pressuposto de que a sua

actividade jurídica é, em regra, inerente à sua actividade económica.

Logo, até prova em contrário, os actos dos empresários são actos de comércio

por se presumir estarem ligadas à empresa mercantil ( nº 2 do art. 4º).

Excepções do nº 2 art. 4º

“…se deles e das circunstâncias que rodearam a sua prática não resultar o

contrário”

Que significa isto?

Quanto à frase supra, Veiga Beirão entende que significa seriam comerciais

todos os actos dos empresários que não fossem exclusivamente de natureza

civil, se do próprio acto não resultasse que ele não era um acto de comércio

especialmente regulado no C. Com. Exemplificava que uma Compra e

Venda(CV) é mercantil se for para revenda. Todavia, como está regulado nos

dois códigos não é um acto exclusivamente civil. Mas será comercial se dela

própria resultar que não foi feita para revenda, isto é, que é o contrário da CV

que o C. Com. Regula.

Críticas:

-As consequências da tese acima são tão desrazoável, o que conduz ao seu

afastamento;

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

-Atendendo ao exemplo da CV seriam excluídas da comercialidade todas as

compras feitas pelos comerciantes de máquinas, equipamentos e artigos de

consumo para uso nos escritórios ou fábricas; e não seriam actos de comércio

só por não se dirigirem à revenda, o que é claramente secundário.

Posição adoptada:

-A exegese que prevalece é adoptada por Ferrer Correia( inspirada no Código

Com. Italiano): os actos dos comerciantes que não forem de natureza

exclusivamente civil serão comerciais, se deles mesmos não resultar que não

têm relação com o exercício do comércio do comerciante que os pratica.

- Os actos dos comerciantes serão considerados comerciais se deles não

resultar o contrário, isto é, que não são actos de comércio, por não terem

relação alguma com o comércio de quem os praticou, ou seja, que não têm

natureza nem causa mercantil.

- É a interpretação que atende à razão de ser da norma: à presunção de que os

actos jurídicos praticados pelos comerciantes o são no exercício do comércio.

Logo, quando do próprio acto resultar que ele não tem qualquer ligação ou

pertinência ao comércio de quem o praticou, conclui-se que ele não é um acto

de comércio.

A expressão “ do próprio acto”, não permite que tal demonstração fique sujeito a

plena liberdade de prova: podem imaginar-se os abusos a que poderia dar

origem a prova testemunhal (por exemplo) de que um determinado acto, embora

nada nos seus termos o revelasse, não fora praticado no âmbito da actividade

do comerciante que o praticou.

=» Para que o acto fique excluído do regime específico dos actos de comércio,

necessário será que das circunstâncias do próprio acto conhecidas ou

cognoscíveis pela contraparte resulte que ele não se integra na actividade

mercantil do seu autor. São aqui absolutamente adequadas as considerações

que justificam aquela doutrina no âmbito do direito civil: os interesses gerais da

contratação e a protecção da boa –fé do declaratório.

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*Em suma, o nº 2 do art. 4º abrange como actos de comércio:

-Os que estiverem regulados no C.Com. e em outras leis, em razão dos

interesses do comércio – actos objectivos.

- e os que forem praticados por comerciantes – actos subjectivos –, presumindo-

se que o são no exercício ou em ligação com o seu comércio; presunção essa

que será ilidível pela demonstração: ou de que o acto é de natureza

exclusivamente civil, por não poder ser praticado em relação com o comércio, ou

de que do próprio acto resulta que ele é alheio à actividade comercial de quem o

praticou.

Classificação dos actos de comércio

1- Actos de comércio objectivos e subjectivos

Os objectivos são os regulados na Lei Comercial em razão do seu

contudo ou circunstâncias ou, são sempre comerciais

independentemente da qualidade de comerciante de quem os pratica.

Exemplos de alguns actos que a lei comercial regula expressamente e

outros previstos em legislação avulsa ou na lei civil:

=» Contrato de sociedade: é aquele em duas ou mais pessoas (salvo

quando exija número superior – nº 1 do art.91º do C. Com) se obrigam

a contribuir com bens ou serviços para o exercício em comum de certa

actividade económica, que não seja de mera fruição, a fim de

repartirem os lucros resultantes dessa actividade (art. 980 cc).

=» Contrato de associação em participação (art. 600 e ss).

=»Mandato: dá-se quando alguma pessoa se encarrega de praticar um

ou mais actos de comércio por conta e mandado de outrem (arts. 1157º

e ss do c.c.).

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=» Comissão: é o mandato comercial em que o mandatário

transacciona por conta do mandante, mas em seu próprio nome (arts.

1157º e ss. C.C.).

=» Letra: é o título a ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual

uma pessoa (sacador) ordena a uma outra (sacado) que pague, a si ou

a terceira pessoa( tomador), determinada importância(arts. 704 e ss.

Lei Uniforme relativa às letras e Livranças).

=» Livranças: é o título a ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual

uma pessoa se compromete para com outra a pagar-lhe determinada

importância, em certa data (art.778º e ss. da Lei Uniforme).

=»Extracto de factura: é o título à ordem, sujeito a certas formalidades,

que representa o crédito proveniente duma venda mercantil, a prazo,

realizada entre comerciantes, e obrigatoriamente emitido sempre que

esta transacção não seja representada por meio de letra.

=»Cheque: é o título a ordem, sujeito a certas formalidades, pelo qual

uma pessoa, que tem qualquer importância disponível num

estabelecimento bancário ou caixa automática, dispõe dela total ou

parcialmente (art. 782º e ss, Lei Uniforme relativa ao cheque).

=»Conta corrente: dá-se quando duas pessoas, tendo de entregar

valores a outra, se obrigam a transformar os seus créditos em artigos

de «deve» e «haver», de sorte que só o saldo final seja exigível.

=»Transporte: dá-se quando uma empresa se obriga a conduzir

pessoas ou coisas, dum local para outro, mediante certa retribuição

(arts 557º e ss C.Com.).

=»Penhor: dá-se sempre que a divida que se cauciona proceda de acto

comercial (arts. 666º e ss C.C.).

=»Depósito: diz-se mercantil quando alguém se obriga, para com

outrem, a guardar e a restituir quando lhe seja exigido, géneros ou

mercadorias destinados a actos de comércio (art. 1185º e ss C.C.).

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Depósito de géneros e mercadorias nos armazéns gerais (ver arts. 408º

e ss C. Com.).

=»Escambo ou troca: é o contrato pelo qual se dá uma coisa por outra,

sempre que a coisa se destine a revenda ou tenha sido adquirida com

esse fim (art. 496º do C. Com.).

=»Aluguer: é o contrato pelo qual alguém cede a outrem, por certo

tempo e mediante certa retribuição, o uso e fruição de coisa móvel que

adquiriu com esse fim (arts. 1022º, 1023 e ss. C.C.).

Os subjectivos, são actos comerciais em atenção à qualidade de

empresário de quem os pratica ou, são aqueles que a Lei atribui

comercialidade pela circunstância de serem praticados por

empresários, com base na presunção de serem tais actos conexos com

a actividade comercial dos seus autores. Estes actos pressupõem a

qualidade de empresário – art. 4º al. b) e nº 2 do mesmo artigo.

Actos absolutos e por conexão ou acessórios

Absolutos: são os que em si mesmo têm natureza comercial intrínseca. São

comerciais tanto em razão da sua forma, tanto pelo seu objecto e por integrarem

actividades mercantis.

=»Forma: letra, livrança e cheques (devem a sua comercialidade à sua forma;

=»Objecto: os que tem natureza comercial em função do seu objecto – Ex:

Trespasse, Cessão de exploração, participação social (acções e quotas);

=»Por integrarem actividades mercantis: a sua identificação pressupõe o das

actividades que formam o corpo material do Direito mercantil, ou seja, as

actividades comerciais (referidas no art. 3º e em outras normas delimitadoras da

matéria comercial.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Actos por conexão ou acessórios: são comerciais apenas em virtude da sua

especial ligação a um acto de comércio absoluto ou a uma actividade qualificada

de comercial.

Abrange todos os actos de comércio subjectivos (conexão subjectiva), mas

também abrange diversos actos objectivos (fiança, o mandato, o penhor, o

empréstimo, o depósito) – Conexão objectiva.

Teoria do acessório

São actos de comércio acessórios os actos praticados por um comerciante

(individual ou sociedade) no exercício do seu comércio e, além disso, os actos

ligados a um acto de comércio absoluto.

Para esta teoria há duas categorias de actos:

-os actos que estão ligados à actividade comercial de um comerciante;

-e, os actos que adquirem comercialidade por terem relação com o de um acto

de comércio por natureza.

Actos substancialmente e formalmente comercial

Os actos substancialmente: são os que têm comercialidade em razão da sua

própria natureza, ou seja, por representarem, em si mesmos, actos próprios de

actividades materialmente mercantis.

Os actos formalmente: os que são regulados na Lei Comercial como um

esquema formal, que permanece aberto para dar cobertura a um qualquer

conteúdo, mas abstraem no seu regime do objecto (cheque, livrança e letra).

Actos bilateralmente comerciais ou puros; actos unilateralmente comerciais ou

mistos.

Actos bilaterais ou puros: são os que tem carácter comercial em

relação às duas partes. P. Ex. Um empresário que vai adquirir

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mercadorias num fornecedor para o seu estabelecimento. Neste

caso, temos acto comercial tanto para o fornecedor como para o

adquirente.

Actos unilaterais ou mistos: são os que apenas são comerciais em

relação a uma das partes e civis em relação a outra.

Formulemos uma hipótese corrente, para melhor compreensão: a

venda que o merceeiro nos faz quotidianamente dos géneros que

adquirimos para o nosso consumo. Este acto é objectivamente

comercial em relação ao merceeiro, por virtude da disposição do art.

477º e, é civil em relação ao comprador por ser uma compra de

coisas para o consumo.

Dos Empresários Comerciais

Importância da distinção entre Empresário e não Empresário

É sobremaneira importante determinar quem pode exercer o comércio, ou seja,

definir a qualidade de comerciante.

Justifica-se tal importância, pois se recorrermos al. a) do art. 4º da Lei Comercial

vertemos que para os actos objectivos, o legislador considerou também os actos

subjectivos, aqueles que são relativos ao seu comércio. A ajuntar a isso, a

mesma al. a), do art. 4, com acento tónico objectivista, faz cair na alçada do

Direito comercial actos e relações que tenham como sujeitos empresários e não

empresários.

Por tudo isso, repute-se de grande relevância a determinação da qualidade de

empresário, pois da Lei deriva certos favores concedidos a esta classe e,

correlativamente, impendem sobre eles um certo número de obrigações.

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Das obrigações e privilégios conferidos aos empresários podemos indicar, entre

outros:

- Entre as obrigações especiais que se impõe aos empresários, podemos

apontar a necessidade de adopção de uma firma (art. 18º); ter escrituração

mercantil (art. 42); fazer inscrever no registo comercial os actos a ele sujeitos;

dar balanço e prestar contas (art. 60º do C. Com.).

- Do ponto de vista dos privilégios, destaca-se a prova que os livros de

escrituração mercantil fazem em juízo (art. 51º C.Com.); além disso, os

comerciantes não podem ser sujeitos a arresto por dívidas mercantis, desde que

estejam matriculados e não tenham deixado de exercer o comércio há mais de

três meses (art. 403º, nº 3 CPC); ser admitido qualquer género de prova para o

empréstimo mercantil realizado entre empresários.

Do exposto infere-se, que a qualidade de comerciante reveste-se de elevada

relevância jurídica. Daí que seja necessário caracterizar com nitidez o que é um

comerciante e quais são as pessoas às quais se aplica esta qualificação legal.

O legislador não nos dá uma definição legal de empresário, oferecendo apenas

o critério para sua qualificação no art. 2º do C. Com.Este artigo, fala de duas

categorias de comerciantes, a saber:

a) Empresários em nome singular (pessoas que, tendo capacidade para

praticar actos de comércio, fazem deste profissão) e empresário em nome

colectivo ( al. a) art. 2º).

b) As sociedades comerciais.

Há que ter em conta que a aquisição da qualidade de empresário é sempre

originária, não podendo transmitir-se, nem inter-vivo, nem mortis causa.

Quem adquirir uma empresa terá que adquirir de per si a qualidade de

empresário.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Empresário Singular (al. a) do art. 2º)

Quando é que uma pessoa física se diz empresário?

Exigem-se duas condições principais para um indivíduo poder ser considerado

empresária – ter capacidade para praticar actos mercantis e fazer do comércio

profissão.

Alem destas, no entanto, uma outra condição essencial se torna necessária para

atribuir a qualidade de comerciante – o exercício do comércio em nome próprio.

Capacidade comercial

O Código Comercial debruça-se muito pouco quanto à capacidade. Por isso,

somos obrigados a procurar fora dele as normas que regulam esta matéria.

O lugar ideal, por força do art. 9º (que declara que pode praticar comércio toda a

pessoa que for civilmente capaz) da mesma Lei, onde podemos encontrar essa

matéria, é na Lei civil

Deste breve intróito, podemos concluir que quem tem capacidade civil, terá

também capacidade para praticar actos de comércio, ou melhor, terá capacidade

comercial.

Capacidade jurídica constitui a medida dos direitos e obrigações de que uma

pessoa é susceptível de ser sujeito (art. 67º, c.c.). A doutrina distingue entre

capacidade de gozo (medida dos direitos e obrigações de que o sujeito é

susceptível de ser titular) e capacidade de exercício (idoneidade para praticar

pessoal e livremente actos de constituição, modificação, exercício e extinção de

direitos e obrigações).

A capacidade de gozo é abstracta e geral, pertencendo a todo o homem só

pelo facto da sua existência e a capacidade de exercício que é para alguém a

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faculdade de pessoalmente exercer direitos e se sujeitar a obrigações ou, mais

simplesmente ainda, a faculdade de reger a sua pessoa e dispor dos seus bens.

Para melhor compreensão, analisemos a seguinte hipótese:

Mavundanhane, de 15 anos de idade, é proprietário de um prédio

rústico. No seu direito de propriedade está incluída a faculdade de

alienação (venda, doação), mas, contudo a lei não permite que

Mavundanhane, sendo menor, venda o que lhe pertence. Quer dizer,

Mavundanhane tem o direito de alienação do seu prédio rústico, mas

não pode torná-lo efectivo; tem capacidade de gozo de direitos mas não

tem capacidade de exercício (arts. 122º e 123º C.C.). Esta venda só

pode ser realizada pelos representantes legais do menor (pais ou tutor).

Do exposto, resulta que o que o legislador exige no 9º, do C.Com. é a

capacidade de exercício, tanto mais que faz alusão ao carácter profissional do

comércio, o que pressupõe uma prática habitual de actos geradores,

modificadores ou extintivos de direitos e obrigações.

Logo, o exercício de uma profissão, que se traduz numa contínua e habitual

prática de actos e negócios jurídicos, não pode recair num incapaz, porque se

trata de uma situação absorvente e reponsabilizante, algo que é incompatível

com a incapacidade. Aliás, deve se entender que a incapacidade tem por

objectivos de proteger o próprio incapaz e os seus familiares dos prejuízos que

potencialmente lhes adviriam se o incapaz pudesse praticar pessoal e livremente

todos ou determinados actos jurídicos. O exercício do comércio colocaria em

grave risco o património do incapaz, dadas as próprias circunstâncias geradoras

da incapacidade (menoridade, anomalia psíquica, surdez e mudez, cegueira,

prodigalidade, abuso de bebidas alcoólicas ou de estupefacientes, etc.).

A incapacidade por menoridade existe por si só, independentemente de

reconhecimento judicial, pois afecta todas as pessoas desde que não tenham

atingido determinada idade.

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Relativamente às outras indicadas, a incapacidade deve ser reconhecida pelo

Tribunal, mediante sentença de interdição (para os casos de incapacidade total)

ou sentença de inabilitação (para os casos de incapacidade parcial), excepto

tratando-se das incapacidades por prodigalidade, por abuso de bebidas

alcoólicas ou de estupefacientes, em que só pode ser decretada a inabilitação,

visto considerar-se sempre incapacidade parcial.

Além destas incapacidades, a lei prevê outras incapacidades especiais

chamadas de limitações de capacidade, que podem resultar da lei.

O que afloramos acima, quererá dizer que os incapazes não podem nunca ser

comerciantes?

=» A questão não parece que deva ter uma resposta liminarmente negativa, pois

há situações em que os interesses em jogo, quer dos incapazes quer dos seus

familiares, poderão justificar a permissão do exercício do comércio, desde que

seja acauteladas as consequências nocivas que a lei quis obstar. Veja-se que o

incapaz pode receber, p.ex., por herança ou doação, um estabelecimento

comercial; seria desrazoável que este tivesse forçosamente de ser alienado ou

liquidado, o que poderia acarretar perdas consideráveis.

A solução preferível será de admitir quanto a quaisquer incapazes, que estes

possam adquirir e manter a qualidade de comerciante se o comércio for

executado pelos seus representantes legais, em nome e interesse dos

incapazes.

Assim, a inclusão dos menores e interditos no 9º deve entender-se que a prática

habitual de actos de comércio, não será feita directamente pelos incapazes, mas

pelos seus representantes em nome e por conta daqueles. Isto, evidentemente,

desde que os representantes obtenham a autorização judicial. O que não poderá

admitir-se é que os incapazes adquiram a qualidade de comerciante através da

prática pessoal ou por intermédio de quem não seja representante legal.

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Exercício profissional do comércio

Vimos anteriormente que para a aquisição da qualidade de comerciante em

nome individual é necessário a prática de actos de comércio e que se faça deste

profissão. No fundo, o que se exige é o exercício profissional do comércio e este

exercício concretiza-se através da prática dos actos de comércio. Mas não

qualquer prática: só a prática em termos de profissão.

Que quer isto dizer?

=»Quer dizer, em primeiro lugar, que não basta a prática de actos de comércio

isolados ou ocasionais: para se adquirir a qualidade de comerciante é

indispensável a prática regular, habitual, sistemática, de actos comerciais.

=»Em segundo lugar, não basta a prática, mesmo habitual, de quaisquer actos

de comércio. Nem todos estes actos têm a mesma potencialidade de atribuir a

quem os prática a qualidade de comerciante.

Desde logo, ficam excluídos os actos subjectivos, porque estes pressupõem já

adquirida pelo seu autor a qualidade de comerciante e, portanto, não podem

atribuí-la.

Há que ter em conta, também, que nem todos os actos objectivos são idóneos

para esse fim. Não o são os actos acessórios, porque estes não são

intrinsecamente comerciais, não definem por si mesmos a comercialidade das

actividades em que se inserem, antes devem o seu regime mercantil à relação

que tem com certas operações mercantis ou com o comércio em geral.

Também não são adequados para o fim em vista os actos formalmente

comerciais, cuja prática não indica o exercício profissional do comércio, nem os

actos abstractos, que podem ter e muitas vezes têm causa não mercantil.

Em terceiro lugar é necessário exercer o comércio como modo de vida e tem

que ser uma das actividades previstas no art. 3º do C.Com.

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A noção de comerciante implica a ideia de que quem exerce o comércio visa

obter dele recursos que asseguram a sua subsistência, ou para ela contribuírem.

Não é indispensável que seja a única actividade proveitosa do empresário, nem

mesmo que seja a actividade principal, aquela a que ele dedique mais tempo ou

esforço. Mas é necessário que o comerciante dela aufira ou espere auferir lucros

com os quais vá ocorrer às despesas da sua economia pessoal e familiar: a

actividade comercial é uma actividade de especulação, pois implica a assunção

de riscos com vista à consecução de lucros.

Em quarto lugar a actividade deve ser exercida de forma pessoal, independente

e autónomo, isto é, em nome próprio, sem subordinação a outrem. O

representante de um incapaz não adquire a qualidade de comerciante, os seus

actos se reportam e inserem-se na esfera jurídica do representado (este é que

será o comerciante) e não na do representante.

Enfim, em quinto lugar, é indispensável que o comerciante organize factores de

produção – seja de forma rudimentar ou elaborada – com vista à produção das

utilidades económicas resultantes de uma daquelas actividades que a lei

considera como comerciais.

Em suma, é comerciante quem possui e exerce uma empresa comercial: quem é

titular de uma organização daquelas que a lei qualifica como empresas

comerciais, para através dela exercer uma actividade comercial.

Quanto às sociedades comerciais, o exercício profissional do comércio não é

condição da aquisição da qualidade de empresário.

As sociedades comerciais constituem se precisamente para exercer o comércio

e a sua personalidade jurídica é a resultante do preenchimento de requisitos

formais (arts. 83º C.Com, art. 980º C.C.).

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 32

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As sociedades comerciais são empresárias natas, antes mesmo de iniciarem o

exercício do comércio.

Situações duvidosas quanto à aquisição da qualidade de empresário

À luz do que deixamos exposto quanto aos requisitos de acesso à qualidade de

empresário, e em especial quanto ao exercício profissional do comércio,

podemos agora apreciar se certos tipos de profissões constituem ou não quem

as exercer na qualidade de empresário. Assim:

Auxiliares do empresário (art. 62 e ss)

São mandatários comerciais com poderes de representação do empresário para

trabalharem subordinadamente. Logo, como actuam em nome de outrem, a sua

actividade, não sendo pessoal e independente, não é apta para lhes atribuir a

qualidade de empresário. Quem exerce a actividade mercantil, por intermédio ou

com a colaboração deles, é mandante.

Incompatibilidades e indisponibilidades

São resultantes da lei – proíbe-se a certas pessoas o exercício da actividade

comércio, em razão de tais pessoas terem certas funções ou posição, que

poderiam ser prejudicadas pelo exercício do comércio, ou que devem obstar à

plenitude de tal exercício.

Os impedimentos reportam se às funções ou posição detida por uma pessoa, que reflectem interesses que importa salvaguardar. Os actos por eles praticados não são nulos ou anuláveis – Há responsabilização civil extracontratual (dever de indemnizar os danos causados), ou a responsabilidade disciplinar ou antes sanções especiais.

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A razão disso, tem a ver com a ponderação e protecção dos interesses de terceiros de boa fé que contrataram com uma pessoa na suposição de não estar impedido de realizar o comércio.

Exemplos:

Proibições absolutas: o art. 14º do C.Com. proíbe que sejam comerciantes: - “as associações ou corporações que não tenham por objecto fins materiais”, isto é, as associações profissionais, associações políticas, religiosas, literárias, científicas, artísticas, etc.

Neste número incluem-se ainda as pessoas colectivas – Estado, Distrito, Conselho, misericórdias, asilos e mais institutos de piedade e beneficência – a que o art. 17º do C. Com., especial e expressamente proíbe o exercício profissional do comércio, facultando-lhes só a prática de actos de comércio isolados1.

As pessoas que por lei ou disposições especiais não possam comerciarem, encontrando-se nessas circunstâncias os magistrados judiciais (juízes), Magistrados do Ministério Público (Procurador Geral e seus adjuntos, procuradores da República), oficiais de justiça, notários, etc.As proibições apontadas acima, têm como fundamento a necessidade de manter em completa independência certas classes de pessoas que com o comércio têm relações. Assim se procura obter o maior escrúpulo, isenção e imparcialidade, nos actos profissionais das aludidas pessoas.

Proibições relativas: São as que impendem de comerciar apenas em certos ramos de negócio, ou fazem depender o exercício do comércio da autorização de certas entidades.

- O gerente duma casa comercial de certo género não pode negociar por conta própria, efectuando transacções desse mesmo género ou espécie, a não ser que para tal seja devidamente autorizado pelo comerciante (art. 253º).-Os directores das sociedades anónimas não podem exercer qualquer actividade comercial, por conta própria ou alheia, ou ser membros dos órgãos de administração ou fiscalização de qualquer sociedade, sem autorização da sociedade;-Os caixeiros das sociedades não podem negociar a não ser por conta da entidade patronal;- Os sócios das sociedades em nome colectivo não podem exercer actividade concorrente com a da sociedade, nem ser sócios de responsabilidade ilimitada

1 Deve ter-se em conta, que o Estado, em geral sob a forma de “empresas públicas” ou “nacionalizadas” e também os municípios, exerce muitas vezes o comércio como profissão.

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de outra sociedade por conta alheia ou própria, salvo autorização dos outros sócios.

O estabelecimento comercial (Art. 69º C. Com)

Vimos anteriormente, que o empresário tem como instrumento auxiliar primacial a empresa. Empresa que em sentido jurídico significa uma actividade organizada pelo empresário, com carácter profissional para produção ou troca de bens no mercado e em sentido económico constitui uma unidade económica de produção de bens ou serviços.

O empresário, pessoa singular ou jurídica, exercita a empresa em nome próprio ou através de representante. Esse exercício pode ser feito com o suporte do Estabelecimento Comercial.

O Código Comercial, oferece-se uma inovação da noção de Estabelecimento Comercial, indicando-nos os seus elementos constitutivos, como o capital e o trabalho, que tem como suporte a organização, com o fim último do exercício eficiente da actividade do empresário.

O empresário coordena os seus instrumentos e serviços para o exercício da sua actividade. Vai servir-se de um conjunto de meios e serviços para o exercício da sua empresa. Se atendermos a essa questão de ter que coordenar e reunir serviços e bens, concluiremos que melhor exercerá a sua actividade empresarial para obter lucro.

A este conjunto de bens e serviços que o empresário vai reunir, coordenar e expor para melhor exercício de sua actividade de modo a obter maiores lucros, esta organização implícita na actividade do empresário é o que se chama Estabelecimento Comercial. No estabelecimento temos que ter em conta sempre a ideia de organização. Portanto, estabelecimento comercial não deve ser entendido como um armazém, loja ou imóvel (art. 68º).

Estabelecimento Comercial será:

Um complexo de bens e serviços congregados ou reunidos e organizados pelo empresário para o exercício de comércio (= produção e troca de bens e serviços no mercado para atrair a clientela e obter um lucro).

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Os elementos do Estabelecimento não são meramente reunidos (alguém (o empresário) pensou neles) mas sim congregados. Estão relacionados e postos de forma hierarquizada segundo as suas especificidades, natureza e funções para que do seu conjunto possa emergir um resultado global que é a actividade visada.

Elementos diferenciadores entre empresa e estabelecimento: -Na empresa temos a ideia de dinamismo, de empreendimento;-No estabelecimento está subjacente a organização como meio de que o empresário se serve para exercer a empresa.-A empresa é um suporte objectivo do estabelecimento; ou seja, conjunto de elementos díspares que são congregados pelo empresário com o objectivo de exercer a actividade comercial.

Como diferenciar se um bem pertence ou não a um estabelecimento?

- Todos os bens que encontramos num estabelecimento comercial visam o exercício do comércio. Só que eles têm que estar organizados e quem os tem que organizar é o empresário. É o empresário que vai definir a utilidade de determinados bens ou instrumentos. Essa possibilidade de unir ou congregar esses bens cria aptidão para gerir lucros, atrair a clientela – só com a organização é possível.

Pode um Empresário não ter estabelecimento comercial?

As sociedades comerciais são empresários natos e não carecem, para o serem, de exercer efectivamente o comércio. Pode, por isso, conceber-se que não tenham um estabelecimento, ou seja, uma organização adstrita à actividade mercantil, por ainda não a terem iniciado, ou por terem alienado o seu estabelecimento e ainda não terem montado outro, etc.

- Quanto aos empresários em nome singular, afigura-se-nos que não é possível que mantenham essa qualidade sem terem um estabelecimento, por muito embrionário que seja. É que só é singular quem exerce profissionalmente o comércio. Se cessa de o exercer, perde a qualidade de comerciante. Logo, enquanto for empresário e para o ser, o indivíduo necessita de ter um estabelecimento.

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Elementos do Estabelecimento Comercial

Elementos corpóreos

Nesta categoria devem considerar-se:- O imóvel em que se situam as instalações quando pertençam ao estabelecimento;- Mercadorias: matérias-primas, produtos acabados e semi – acabados;- Outros bens móveis: mobília das instalações, dinheiros em caixa, aparelhagens; máquinas, etc.

Elementos incorpóreos

Aqui deveremos considerar os direitos resultantes de contrato ou de outras fontes, que dizem respeito à vida do estabelecimento. São nomeadamente, os casos de: -Direito ao arrendamento ou resultante de comodato do imóvel ou imóveis destinados às instalações; direitos reais de gozo (V.g., o usufruto de um imóvel, de patente de invenção, etc.); os créditos resultantes de vendas, empréstimos, locações, etc.;-Os contratos resultantes de certos contratos estritamente relacionados com a esfera de actividade mercantil, como no de agência, de distribuição ou concessão, de franchising, os direitos emergentes dos contratos de edição e de autorização de produção fonográfica e videográfica;-Os direitos emergentes dos contratos de trabalho e de prestação de serviços com colaboradores do empresário no estabelecimento;-Em especial, os direitos de propriedade industrial, sobre patentes, modelos, marcas, nome e insígnia do próprio estabelecimento;- Igualmente são também incorpóreos as dívidas resultantes da sua actividade comercial (máxime para com fornecedores), quer as demais obrigações que formam o correspectivo ou a face oposta dos direitos acima referenciados.

Estes elementos corpóreos ou incorpóreos podem ser mudados, renovados segundo as exigências da empresa, da actividade – Há um princípio da mutabilidade.

Assim, estabelecimento será um conjunto de coisas corpóreas e incorpóreas. É também um conjunto de bens e serviços, organizados pelo empresário convista ao exercício da sua actividade mercantil.O que compõe o estabelecimento são os elementos aptos ao desempenho da actividade do comerciante e que este agregou para a realização da empresa.

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A clientela

É freguesia de um estabelecimento. Essa freguesia nos dá o índice da capacidade lucrativa do empresário, dependendo da organização que ele tiver feito.

Assim, clientela:

É um índice de aviamento. Isto porque quanto mais perfeita for a organização do empresário, maior será a eficiência dos meios organizados e maior será a clientela.

Clientela é o fluxo de pessoas a um estabelecimento comercial.

Esse fluxo de pessoas decorre de negócio jurídico de natureza contratual. Essa clientela é sempre renovada consoante os produtos que se tiver. Se num mês o comerciante tem certos produtos vai ter certos clientes; havendo mudança de produtos pode mudar a clientela.

Em relação à clientela pergunta-se:- Será que há um direito à clientela?

Em relação a isto podemos dizer que não existe um direito à clientela. E se isto é assim, podemos dizer que a clientela não se apresenta como elemento do estabelecimento comercial.

Num sistema de livre concorrência não pode haver um direito à clientela. Neste tipo de sistema é lícito cada comerciante lutar pela sua clientela.Há autores que sustentam que deveria haver um direito à clientela. Defendem que a clientela é inerente ao estabelecimento comercial e é um elemento de qualidade do mesmo.

Clientela não é só aquela que num determinado momento está no estabelecimento comercial porque há sempre uma expectativa de novos clientes. A que se deve essa expectativa?-Deve se ao desejo do lucro. Assim, o empresário organiza cada vez mais e melhor a sua actividade para atrair essa clientela.

A clientela depende do aviamento

Toda a empresa, enquanto organização de factores de produção é uma fonte potencial de lucros para o respectivo empresário. Essas perspectivas de lucro representam economicamente um valor. Esse valor não é apenas igual à soma do activo. Para além destes há que ter em conta: a organização.Sempre que há trespasse de um estabelecimento, o factor organização nunca deve ser descurado isto porque ela é que determina a clientela do mesmo.

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A organização de um estabelecimento implica para cada um dos elementos uma valorização especial. Por ex. se as máquinas estão bem apetrechadas isso aumenta a cotação; o mesmo com as matérias – primas.

Quando compramos um produto numa loja não pagamos o custo do produto só, mas também a organização. Numa casa de luxo as coisas são normalmente mais caras do que quando obtidos num outro sítio com menos luxo – V.g. nas Barracas ou na Rua.

O valor do conjunto é muito superior ao valor das coisas individualmente.Em caso de trespasse, esse maior valor depende de os produtos estarem mais organizados, essa mais valia será mais elevada do que quando vistos os bens isoladamente. Essa diferença entre o valor dos bens isoladamente e o valor dos bens na organização dá-se designação de mais valia.

Aviamento: É valor de todo o organizado. É a reputação, o bom-nome.Nem sempre a melhor reputação significa maior lucro. V.g. os hotéis situados em na Praia do Bilene, muitos deles excelentemente organizados, pode acontecer que no Inverno não produzam o lucros suficientes para se aguentar durante o tempo em que não vai funcionar em pleno, visto que o período de pico é no verão ou em datas festivas como o Natal e o fim do ano. Teoricamente: Maior aviamento é igual a maior clientela e maior lucro.

A cliente não é elemento do estabelecimento comercial mas sim um índice da capacidade do mesmo.

O aviamento (expressão de origem Italiana) significa reputação. Também pode significar a eficiência ou capacidade de realizar o fim lucrativo do Estabelecimento, ou seja, é a capacidade de produzir rendimentos.

Nesta base, o aviamento do estabelecimento comercial não será elemento deste, mas sim qualidade sua. Não se pode considerar o valor do aviamento sem o próprio estabelecimento, pois aquele resulta da organização deste pelo empresário.

O aviamento é a aptidão que determinada empresa tem de gerar mais lucro e produzir mais valia. Ele constitui qualidade do estabelecimento e é inseparável deste.

O aviamento é constituído por um conjunto de condições que propiciam um lucro. Também engloba a promessa de um lucro futuro.

Factores do aviamento:

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a) Factores objectivos – Notoriedade do estabelecimento: onde se encontra situado? É visível ou não?b) Factores subjectivos – Habilidades pessoais do empresário; forma de atendimento; eficiência da organização; certas práticas de oferecimento de brindes. P. Ex. quando se compra um bem e oferece-se um determinado bem a mais.

É destes factores que deriva o aviamento. Eles formam o aviamento. Eles determinam, V. g. que num trespasse o estabelecimento valha mais do que a soma de cada um dos seus elementos.

O aviamento confere uma mais valia ao estabelecimento, acima do valor dos bens existentes: os elementos patrimoniais. Esta mais valia é sempre tida em conta no valor global do estabelecimento comercial.

Neste contexto, aviamento refere-se a uma certa capacidade técnica; uma capacidade de fornecimento de serviços. É a força de energia incorporada que tende a aumentar.

Um estabelecimento quando existe tem um aviamento próprio e ele se extingue quando fecha.A clientela é um dos índices da capacidade do estabelecimento e é um dos factores do aviamento (é o principal factor).

Natureza jurídica do estabelecimento comercial

Economicamente o estabelecimento comercial apresenta-se como uma unidade dos elementos constitutivos da actividade comercial.

O estabelecimento apresenta-se como um acervo ou complexo de elementos heterogéneos e complementares entre si. Mas não é uma soma desses elementos, ou seja, o valor do conjunto supera a soma dos valores das partes; a função económica de todo não poderia ser desempenhada pelos componentes meramente justapostos e não organizados; o estabelecimento permanece uno e idêntico para além e apesar das alterações que possam sofrer o acervo que o integra e as pessoas dos colaboradores, até mesmo do seu titular.

O estabelecimento comercial é uma organização e não um conjunto dos bens: porque o seu valor é maior do que a soma dos seus elementos.

O estabelecimento é um conjunto de elementos afectados pelo empresário/comerciante ao exercício da sua empresa. Esses bens que integram o estabelecimento estão ao serviço da actividade do empresário.

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Teorias formuladas em volta da natureza jurídica

Teoria da personalidade:

Para os defensores desta teoria à autonomia do estabelecimento comercial corresponde uma vida jurídica própria e ele é dotado de uma vida diferente da do empresário. O estabelecimento seria um sujeito de direitos e obrigações, isto é, uma pessoa jurídica e que o titular seria um mero representante.

Críticas:

É inaceitável. Dizem os seus críticos, por várias razões: O estabelecimento não é sujeito mas objecto de direitos. O sujeito de

direitos é o empresário em cuja esfera jurídica pertence os direitos e obrigações inerentes à actividade mercantil. Porquê?=» Tanto é assim que os credores, por actos do empresário que são alheios à sua actividade comercial, podem se fazer pagar por bens incluídos no estabelecimento;=»Também, esses credores podem-se fazer pagar por bens que não integram a actividade comercial mesmo sendo resultantes de actos mercantis.

O titular do estabelecimento, tal como o criou, organizou, tem direito de livremente destruí-lo, aliená-lo, liquidá-lo. Se ele pode praticar estes actos, é porque o estabelecimento não é uma pessoa mas sim um objecto de direitos.

A personalidade só cabe, como regra, às pessoas físicas e que, fora a estas pessoas, sempre que se atribui personalidade jurídica é uma abstracção jurídica de carácter excepcional que só pode resultar da norma expressa da lei, sem a qual não temos estabelecimento comercial com personalidade jurídica própria.

Teoria do património autónomo

Por património autónomo entende-se uma massa patrimonial que a lei afecta a determinado fim e que, enquanto tal afectação se mantém, só responde preferencialmente pelas dívidas pertinentes a essa actividade. Exemplos: herança indivisa; massa falida; património da pessoa colectiva falida ou não liquidada, etc.

Os autores que sustentam esta teoria baseiam-se no art. 2560º do cc Italiano que dispõe:=»“ No caso de trespasse do estabelecimento, os débitos referentes ao estabelecimento se transferem para o adquirente, sem que o alienante fique deles desvinculado, salvo se houver consentimento dos credores”.Assim, haveria uma aderência do passivo ao activo do estabelecimento. Esta adesão é que justifica o estabelecimento como património autónomo.

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Críticas:

1- O estabelecimento e os bens a ele afectos respondem indistintamente pelas dívidas do comerciante quer que digam respeito à respectiva exploração ou não, isto é, mercantis ou não. E os demais bens do comerciante também respondem pelas dívidas relativas ao estabelecimento. Porquê?=» Porque é na esfera jurídica do comerciante que pendem direitos e deveres mercantis.Se assim é, não existe no estabelecimento pressupostos de autonomia patrimonial. Teoria da Universalidade

Os mentores desta teoria concebem o estabelecimento como uma universalidade.Para Galvão Teles, Universalidade ” é o complexo de coisas jurídicas pertencentes ao mesmo sujeito e tendentes ao mesmo fim, que a ordem jurídica reconhece e trata como formando uma coisa só”.Esta concepção é também crítica na medida em que não se apresenta absolutamente homogénea e inquestionável:

Para uma Concepção Atomística as universalidades consistiriam apenas nas coisas singulares de que são formados. Para eles existem vários direitos sobre as várias coisas. Logo, se há vários direitos, então não existe um direito global sobre o conjunto.

Em contrapartida, para a Teoria Unitária admite-se a existência de universalidades sujeitos a um direito único e diferente dos seus elementos integrantes. Por isso mesmo:

Os objectos do negócio jurídicos incidem sobre o todo e não sobre cada um dos componentes do estabelecimento comercial.

Em relação a estas duas concepções, o nosso direito admite a universalidade segundo a concepção Unitária. E esta Universalidade pode ser:

Universalidade de facto =» art. 206º cc (coisa composta); Universalidade de direito =» art. 603, al. i), CPC

O art. 603 faz referência quando trata do preço do estabelecimento comercial. Aquele valor não será a soma dos elementos separados mas sim do seu todo, incluindo a organização. Tem em conta o activo e o passivo com base no último balanço. Esta é que é o valor do estabelecimento.O facto de o estabelecimento ser objecto de um direito específico e unitário, não obsta a que os bens que o compõem possam responder pelas dívidas não comerciais do comerciante; também esses bens podem responder pelas dívidas daquele resultantes da sua actividade mercantil, embora seja uma unidade.

Teoria da Coisa Imaterial

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Os adeptos desta teoria partem do princípio de que para a caracterização do estabelecimento não interessam as coisas e as relações jurídicas que a actividade comercial envolve. Para eles, o acento tónico da natureza jurídica do estabelecimento comercial está na sua unidade, no todo. A organização é um elemento essencial ao estabelecimento.-A organização é uma situação de facto apta a proporcionar melhor lucro – para eles esta organização é um elemento imaterial que tem um valor autónomo independente dos demais elementos envolvidos na exploração mercantil, isto é, do estabelecimento comercial.Em relação a esta corrente encontramos uma posição que defende que.-Em caso de negociação do estabelecimento o seu valor não se determina em função das várias coisas mas ainda e principalmente em função da sua capacidade lucrativa (mais valia);- quando queremos vender um estabelecimento temos que ter em conta: a capacidade lucrativa e o aviamento.O verdadeiro elemento definidor do estabelecimento não são os bens afectos à organização mas sim uma certa situação de facto apta a produzir lucro. Esta situação de facto é a organização que é um bem imaterial criado pelo empresário.A organização, que é um bem imaterial, corporiza-se nos bens e nas pessoas mas não se confunde com esses bens ou essas pessoas. São elementos diferentes. Esta organização é uma unidade jurídica autónoma e com valor autónomo em relação aos diferentes elementos.

Teoria Eclética

É uma tese que junta a teoria Imaterial e da Universalidade. Os autores afirmam: A tese da universalidade tomada isoladamente não explica a mais

valia atribuída à organização, isto é, a aptidão lucrativa do estabelecimento. Por outro lado;

Se se atender apenas a organização sem se atender aos elementos que integram a universalidade, é o mesmo que deixar de lado a própria realidade concreta que o estabelecimento constitui.

Conclusão:Tem que se ter em conta as duas teorias. Por isso, as duas devem ser conjugadas porque se integram – constituem duas faces da mesma moeda, isto porque:

O estabelecimento é um conjunto unificado de elementos corpóreos e incorpóreos; elementos de direito e de facto mas que no conjunto formam uma universalidade de direito.

É necessário aceitar que existe um elemento aglutinador que justifica este tratamento unitário que o direito confere ao estabelecimento. Esse elemento aglutinador reside na organização que aviamento ou aptidão para gerar lucro.

Esta é a tese correcta.

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Direitos e relações jurídicas sobre o estabelecimento

A primeira questão que se coloca é a de qual seja a natureza do direito ou direitos que podem incidir sobre o estabelecimento, mormente a de saber se pode ser objecto de direitos reais e, no caso afirmativo, quais. Tem prevalecido que o estabelecimento é objecto possível de propriedade e, consequentemente, de posse, de usucapião, de acção de reivindicação e possessória, de usufruto, de penhor, etc.A posição infra, foi em certos momentos posta em causa, com fundamento de que o direito de propriedade só se aplica a coisas corpóreas, pelo que não abrangeria o estabelecimento comercial, por esta não ter aquela natureza. Todavia, Ferrer Correia e Brito Correia, sustentam que o direito de propriedade previsto no C. Civil abarca também bens imateriais.Logo, o estabelecimento pode ser objecto de um direito de propriedade. Ao lado dos bens incorpóreos, temos um substrato material com certa relevância para a vida do estabelecimento.

Trespasse

Diz-se Trespasse todo e qualquer negócio jurídico pelo qual seja transmitido definitivamente e inter vivos um estabelecimento, como unidade. O alienante diz-se trespassante, e o adquirente denomina-se trespassário.Cabe no trespasse de estabelecimento a compra e venda, a troca, doação, a realização de entrada numa sociedade, a adjudicação a um sócio na liquidação da sociedade. Ficam excluídos do trespasse a transmissão mortis causa.O essencial, para que haja trespasse, é que o estabelecimento seja alienado como um todo unitário, abrangendo a globalidade dos elementos que o integram. Pode, no entanto, algum ou alguns desses elementos ser especificamente retirados e subtraídos à transmissão, que ainda assim haverá trespasse. Cessão de Exploração

A usualmente denominada Cessão de Exploração ou concessão de exploração do estabelecimento comercial é senão um contrato de locação do estabelecimento como unidade jurídica, isto é, um negócio jurídico pelo qual o titular do estabelecimento proporciona a outrem, temporariamente e mediante retribuição, o gozo do estabelecimento, isto é, a sua exploração mercantil. O cedente ou locador demite-se temporariamente do exercício da actividade comercial, e quem assume é o cessionário ou locatário.A cessão não incide sobre o imóvel em si, mas sobre o estabelecimento como um bem unitário; e a sua destinação ao prosseguimento de uma dada actividade comercial.O cedente deve transferir os elementos constitutivos do estabelecimento e o cessionário deve continuar com a mesma.

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Obrigações especiais dos empresários comerciais

O art. 16º do C. Com define os principais deveres profissionais dos comerciantes. “Os comerciantes são especialmente obrigados”.

a) Adoptar uma firma;b) Ter escrituração mercantil;c) A fazer inscrever no registo comercial os actos a ele

sujeitos;d) Dar balanço e prestar contas.

As obrigações acima referenciadas, que impendem sobre o empresário, são os meios de que a lei se serve para garantir o exercício do comércio em condições de equilíbrio e segurança. Os fins primários que se pretende, são fundamentalmente três:

a) Distinguir claramente os comerciantes uns dos outros, bem como os seus estabelecimentos e os seus produtos (isto consegue-se pela regulamentação da firma, nome do estabelecimento, marcas, etc.);

b) Dar a conhecer, em qualquer altura, a situação económica e financeira do comerciante, e fazer a prova das suas operações (alcança-se através da escrituração, balanço e prestação de contas);

c) Dar publicidade a certos actos importantes que podem influir na vida mercantil do comerciante (o registo comercial satisfaz esta necessidade).

Dessas obrigações também derivam benefícios directos e imediatos para todos os comerciantes em particular, como sejam o de poderem apreciar, através da escrituração comercial, a situação financeira do seu estabelecimento; ou poderem acreditar o seu nome, e torná-lo conhecido através duma firma que qualquer outro não pode utilizar.

Desta matéria nos ocuparemos agora da FIRMA(art. 18º e ss)

A firma

Definição e justificação da firma

Qualquer actividade comercial é exercida sob uma designação nominativa que constitui a firma. A firma individualiza a pessoa do empresário. É, pois, o nome com que o comerciante singular ou colectivo exerce o seu comércio.

O comércio é executado sob uma designação nominativa, que constitui a firma. Há, porém, no direito comparado duas concepções diversas de firma:

Para o conceito objectivo, a firma é um sinal distintivo do estabelecimento comercial. Daí decorrem, como corolários, a possibilidade de tal designação ser composta livremente e ser transmitida com o estabelecimento, independentemente de acordo expresso.

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Para o conceito subjectivo, a firma é um sinal distintivo do comerciante – o nome que ele usa no exercício da sua empresa: é o nome comercial do comerciante. Daí que, em relação ao comerciante individual, nesta concepção, a firma deva ser formada, a partir do seu nome civil e, em princípio intransmissível.

O art. 16º CCom2, está relacionado com o estatuto de empresário. Considera-se a firma o nome comercial do comerciante, sinal que os identifica ou individualiza também o faz para alguns não comerciantes – sociedades civis não comerciais.Com esse nome deve agir em toda orbita da sua exploração mercantil, celebrando as suas transacções, assinando os respectivos documentos, subscrevendo a sua correspondência.

A este respeito, o art. 18º preceitua que todo o empresário, quer singular quer colectivo, “ será designado, no exercício do seu comércio, sob um nome comercial, que constituirá a sua firma, e com ele assinará todos os documentos àquele respectivos”.

Compreende-se a razão da necessidade e da obrigação da firma para todo o comerciante.

Na vida civil, todo o indivíduo é sempre designado por um nome que o identifica. A cada ser humano deve ser atribuído um nome próprio, ao qual se juntarão os apelidos de seus pais (art. 72º cc).

Se assim se passa na vida civil, natural e também a mesma necessidade surja no meio comercial, para identificação das pessoas que se dedicam ao comércio.No comércio o nome pode representar um importante e autêntico valor económico, pois, mercê das qualidades técnicas do empresário, da sua intuição para o negócio, da sua honradez ou fino trato, forma-se à volta do seu nome comercial uma auréola de prestígio que muitas vezes, vale bem mais do que o dinheiro, por se traduzir em facilidades de crédito, multiplicidade de transacções e outros benefícios.

 Constituição da firma( art. 26º)

A firma consoante os casos, pode ser formada com o nome de uma ou mais pessoas (firma-nome), com uma expressão relativa ao ramo de actividade, aditada ou não de elementos de fantasia (firma-denominação ou simplesmente denominação), ou englobar uns e outros desses elementos (firma mista).

Em todo o caso, ele será um sinal nominativo e nunca emblemático: sempre uma expressão verbal, com exclusão de qualquer elemento figurativo.

2 Obrigações especiais dos empresários comerciais

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Sinais distintivos das diversas pessoas colectivas:

Firma do Pequeno Empresário( art. 27º)

Na firma é obrigatório fazer-se menção da expressão “Pequeno Empresário”.

Firmas de empresários individuais (art. 28º)

Tem de ser composta pelo seu nome completo ou abreviado para identificação, não podendo colocar em regra a abreviação de um só vocábulo; pode ter expressões ou siglas; pode aditar uma alcunha ou expressão alusiva à actividade comercial. O art. 28º, estabelece a firma deste tipo de empresário pode conter o aditamento “empresário individual” ou, “EI”.

Firma das Sociedades em nome colectivo (art. 29º)

Esta firma deve conter o aditamento “Sociedade em nome Colectivo”ou, “SNC”. No entanto, este preceito chama a atenção no sentido de que aquele que não sendo sócio consentir a inclusão do seu nome nesta firma responde solidariamente com os sócios pelas obrigações sociais.

Firma das Sociedades em Comandita (art. 30º)

A firma da sociedade em Comandita simples deve conter “ Sociedade em Comandita” ou, “SC” e a firma por acções deve conter “Sociedade em Comandita por Acções” ou, “SCA”.

Firma das Sociedades de Capital e indústria

A firma

Firmas das Sociedades por Quotas (art. 32º)

A firma das sociedades por deve conter o aditamento “Limitada”ou, abreviadamente , Lda”.

e)     Sociedades comerciaisPoderão ter a alusão à actividade comercial (art. 177º/1 CSC). O art. 200º

CSC, a firma que as sociedades por cotas devem ser formadas com ou sem sigla, nome completo ou abreviado de todos ou alguns dos sócios, tem de quer sempre o aditamento Lda.

Tem de dar a conhecer quanto possível o objecto da sociedade (art. 10º/3 CSC). Deve aludir ao objecto social. Vale integralmente para as Sociedades Anónimas (art. 275º CSA) e para as sociedades em comandita, a firma tem de

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ser composta pelo nome completo ou abreviado por todos os sócios comanditados (art. 467º CSC).

 25. Princípios gerais (informadores) da constituição de firmas

a)     Princípio da verdade (art. 32º RNPC)A firma deve corresponder à situação real do comerciante a quem pertence,

não podendo conter elementos susceptíveis de a falsear ou de provocar confusão, quer quanto à identidade do comerciante em nome individual e ao objecto do seu comércio, quer, no tocante às sociedades, quanto à identificação dos sócios, ao tipo e natureza da sociedade, à (s) actividade (s) objecto do seu comércio e outros aspectos a ele relativos.

b)    Princípio da distintividade ou capacidade distintivaA firma deve possuir distintividade, esta não se limita a ser uma designação

genérica.O art. 32º/3 RNPC, exclui os vocábulos de uso corrente. Quanto às firmas

dos comerciantes individuais e às firmas nome, mistas das sociedades e dos ACE’s, são compostos por nomes de pessoas ou pelos sócios dos associados, têm a capacidade distintiva.

As firmas de denominação por quotas das Sociedades Anónimas, dos ACE’s, das Empresas Públicas, das Cooperativas e dos AEIE, as denominações devem dar a conhecer o respectivo objecto, sob pena de incapacidade distintiva, a referência ao objecto não se basta com designações genéricas (como sociedade de seguros) nem com vocábulos de uso corrente ou de proveniência.

c)     Princípio da novidade (art. 33º RNPC)Marca a prioridade da firma já registada ou licenciada procurando evitar

surgir outra firma com a mesma denominação da existente.É aferida no âmbito da exclusividade, podendo haver firmas semelhantes se

tiver âmbito de exclusividade diferente, a racio legis, é não haver firmas iguais.O juízo de confundabilidade (fundamentação de recurso) tem que ser de

fundamentação global, tem que atender aos elementos fundamentais da firma. É o nome da firma que o juízo de valor tem-se de fundamentar.

d)     Princípio da exclusividade (art. 35º RNPC)A firma goza dum âmbito territorial de protecção, não é necessariamente o

âmbito nacional.No comerciante individual, se ele usar o seu nome, o âmbito de protecção é

correspondente territorial da conservatória onde está registado (art. 38º/4 RNPC).

Se ele aditar ao nome uma expressão distintiva já pode ser reconhecida extensão em todo o território nacional.

A firma das Sociedades Comerciais goza de um âmbito nacional de protecção (art. 37º/2 RNPC). Os arts. 39º e 40º RNPC, estendem a outros empresários individuais a responsabilidade limitada as regras fundamentais relativas ao comerciante individual.

As associações e fundações, o âmbito de protecção se não for local tem protecção nacional, se nos estatutos referir que é local, então só têm protecção local.

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e)     Princípio da unidadeO comerciante deve gerir a sua actividade sob uma única firma. O

empresário individual não pode usar mais do que uma firma (art. 38º/1 RNPC).Este princípio tem de ser confrontado com o fenómeno da transmissão da

firma, se houver transmissão de firma, afecta os princípios que a lei refere?Poria-se em causa o princípio da novidade se o alienante continuar a usar a

firma alienada. Pressupõe-se que o alienante perde a firma anterior, para continuar, tem que formar uma nova firma – princípio da novidade.

O princípio da unidade é atingido se o alienante puder continuar a utilizar a firma anterior? Resposta negativa, se alguém quiser adquirir a firma do alienante, deve criar nova firma. Pode continuar a firma que tem, tendo que exercer simultaneamente a exploração da firma adquirida. Só pode utilizar a firma do alienante se continuar a explorar a firma do alienante (art. 38º/2 RNPC), não se permitindo a subsistência de firmas independentes. A lei permite a transmissão da firma (art. 44º RNPC), mas para isso à que preencher determinados requisitos:

·        Transmissão tem que ocorrer em conexão com a transmissão do estabelecimento (art. 44º/4 RNPC);

·        Acordo das partes nesse sentido (negócio entre vivos);·        A indicação tem que ser dada ao novo titular de que sucedeu ao antigo

titular;·        A subsistência do estabelecimento adquirido, exigindo-se a indicação da

transmissão (art. 38º/2 RNPC).Por transmissão “mortis causa” (art. 38º/2 RNPC), os sucessores também

devem continuar gerir o estabelecimento. A lei exige que haja/impõe uma conexão da firma ao estabelecimento para que a continuidade na identificação não se torne enganosa.

Preocupação de defesa de terceiros, porque eles recebem a garantia de que se trata do exercício do mesmo estabelecimento.

 26. Formalização da firma

Depende do requisito, e só há direitos exclusivos, após o registo definitivo (art. 35º/1 RNPC).

O Estado em relação às firmas passou a ter uma tutela administrativa (essencialmente), por isso é necessário que as pessoas tenham um certificado de admissibilidade de firma ou de denominação. Em todo o processo administrativo necessário para a firma, este certificado é o elemento estratégico essencial, em termos de direito para se poder iniciar os trâmites necessários para a constituição de firma ou sociedade.

O certificado serve para atestar que os requisitos estão preenchidos, é deste certificado que depende tudo, escritura pública, elementos destinados à constituição de pessoas colectivas de responsabilidade limitada (art. 54º/1 RNPC).

A consequência da não existência do certificado é a nulidade (art. 55º RNPC), também a modificação do objecto da sociedade obriga a um novo certificado (art. 54º/2 RNPC).

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A firma está sempre ligada ao estabelecimento (tendência real); a firma liga-se ao comerciante (tendência pessoal).A firma surge à partida com o nome comercial, designação usada pelo comerciante no exercício do seu comércio.

A firma e outros sinais distintivos

A par da firma, há outros sinais distintivos em comércio, como a insígnia, nome do estabelecimento e marca.A firma, como vimos, destina-se a individualizar o empresário.A marca serve para individualizar os produtos ou serviços, objecto do comércio do comerciante.O nome e a insígnia do estabelecimento individualizam o estabelecimento comercial.

Nome e Insígnia do Estabelecimento

Estes sinais tem a missão de identificar e propagandear o estabelecimento. Não se confundem com a firma. A firma é um sinal subjectivo de uso obrigatório, o nome e a insígnia são sinais objectivos, já que dizem respeito ao estabelecimento, que é objecto de direito e o seu uso é facultativo. Isto quer dizer que a firma é o nome por que o empresário se torna conhecido no exercício do seu comércio, e que corresponde ao nome civil que ele usa nas suas relações particulares, o nome do estabelecimento é a designação porque se torna conhecido o estabelecimento e costuma inscrever-se nas tabletes, fachadas, montras, papeis de correspondência e propaganda.

E tanto é assim, que pode suceder um comerciante ter vários estabelecimentos com nomes diferentes, circunstância que não pode verificar-se com a firma, sempre e apenas uma para cada comerciante, singular ou colectivo.

Suponhamos uma sociedade cuja firma é “Phonhane & Phundwine, Lda” – cujo objecto social é a comercialização de telefones móveis, com três lojas abertas ao público em locais diferentes: “ Telefonia Móvel Fala Fala”; “ Celulares Estoo...” e “Telefone Rápido”. O nome do empresário é só um: a sua firma (”Phonhane & Phundwine, Lda”); os nomes dos estabelecimentos são três.

Em suma:

O nome e a insígnia do estabelecimento individualizam o estabelecimento; enquanto a insígnia é um sinal figurativo ou emblemático, composto por desenhos combinados ou não com palavras, o nome do estabelecimento é um sinal nominativo apenas podendo conter palavras ou designação fantasiosa. Trata-se de sinais destinados a identificar e a propagandear o estabelecimento.

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Nome e Insígnia do Estabelecimento (art. 138º e ss do Código de Propriedade Industrial)

Estes sinais tem a missão de identificar e propagandear o estabelecimento. Não se confundem com a firma.

A firma é um sinal subjectivo de uso obrigatório, o nome e a insígnia são sinais objectivos, já que dizem respeito ao estabelecimento, que é objecto de direito e o seu uso é facultativo. Isto quer dizer que a firma é o nome por que o empresário se torna conhecido no exercício do seu comércio, e que corresponde ao nome civil que ele usa nas suas relações particulares, o nome do estabelecimento é a designação porque se torna conhecido o estabelecimento e costuma inscrever-se nas tabletes, fachadas, montras, papeis de correspondência e propaganda.

E tanto é assim, que pode suceder um empresário ter vários estabelecimentos com nomes diferentes, circunstância que não pode verificar-se com a firma, sempre e apenas uma para cada comerciante, singular ou colectivo.

Suponhamos uma sociedade cuja firma é “Phonhane & Phundwine, Lda” – cujo objecto social é a comercialização de telefones móveis, com três lojas abertas ao público em locais diferentes: “ Telefonia Móvel Fala Fala”; “ Celulares Estoo...” e “Telefone Rápido”. O nome do empresário é só um: a sua firma (”Phonhane & Phundwine, Lda”); os nomes dos estabelecimentos são três.

Em suma:

O nome e a insígnia do estabelecimento individualizam o estabelecimento; enquanto a insígnia é um sinal figurativo ou emblemático, composto por desenhos combinados ou não com palavras, o nome do estabelecimento é um sinal nominativo apenas podendo conter palavras ou designação fantasiosa. Trata-se de sinais destinados a identificar e a propagandear o estabelecimento.

Marcas (art. 110 e ss do Dec. 4/2006)

A marca é um sinal utilizado por um empresário para distinguir os produtos sobre os quais incide a sua actividade mercantil. É, portanto, um sinal que serve para individualizar os produtos distinguindo-os de outros idênticos ou semelhantes. Aliás, a al. a) do art. 110º do Dec. 4/2006, de 12 de Abril, diz que a marca “permite a distinção dos produtos ou serviços de outras empresas,...”

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O termo “produtos” deve ser entendido no sentido amplo, pois abrange quer os produtos corpóreos, usualmente referidos como produtos ou mercadorias, quer os de carácter incorpóreo, ou seja, os serviços.

A marca serve, antes de mais, para identificar os produtos ou serviços em si mesmos, distinguindo-os dos demais seus congéneres. Esta função identificadora e distintiva é extremamente importante, pois é através dela que a marca favorece e protege a empresa no jogo da concorrência. A identificação dos produtos através da marca permite, de forma eficaz, referenciar os produtos por um índice de qualidade e prestígio, e por isso ela é um factor de publicidade indispensável: retendo na memória a marca dos produtos ou serviços, o consumidor irá ter a propensão para preferi-los aos da mesma espécie, desde que tenha ficado satisfeito com eles, ou por ter a marca com referência de renome difundido ou de qualidade consagrada.

Esta função identificadora pode até levar a situações extremas de favorecimento da empresa, sempre que acontece que a marca de um certo produto é adoptada na linguagem corrente como palavra designativa dos próprios produtos em si. Quando genérica assim acontece, a marca pode passar uma designação genérica dos produtos de uma dada espécie.

Alguns autores, como Carlos Olavo, entendem que a marca tem como função única e exclusiva de identificar a proveniência de um produto ou serviço, pois é através dela que o consumidor pode relacionar o bem marcado com a empresa que o fornece.

Tal posição não parece defensável, na medida em que, se bem que nas situações da vida quotidiana o consumidor através da marca poderá chegar ao produtor, não deixa também de ser verdade que em numerosíssimos produtos e serviços, a identidade do fornecedor ou produtor é irrelevante para o consumidor, que apenas está interessado na marca, por ser através dela que referencia as qualidades do produto. Elege-se, p.ex.,uma determinada marca de Cerveja ou de Cigarros, porque se procuram aquelas características do produto e não outras, nada importando saber quem o fabrica ou vende.

Não se pode considerar, também, que a função da marca seja a de garantia das qualidades do produto. O produtor pode perfeitamente alterar as características do produto, mantendo-lhe a marca. E não é obrigado a anunciá-lo. Apenas corre o risco de desagradar a parte dos seus clientes, que irão procurar produtos análogos de outra proveniência. Mas nem por isso a marca perderá a verdadeira função, que é identificadora e publicitária.

Vantagens do uso de marcas

O uso das marcas é altamente vantajoso, quer para os produtores, quer para o público consumidor. Para aqueles, tem a vantagem incontestável de tornar

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conhecidos e acreditar os seus produtos, mediante processos aperfeiçoados do seu fabrico e a qualidade das matérias-primas empregadas; e para o público tem o mérito enorme de lhe permitir a aquisição dos produtos que melhor satisfaçam as suas necessidades, assegurando-lhe a sua origem e qualidade. Examinemos um caso concreto.=»Uma pessoa que deseja um bom relógio, se souber que a marca “Ómega”, por exemplo, é reputada por todos uma das melhores marcas existentes, e é a garantia segura de um bom funcionamento, dirige-se ao seu relojoeiro e não tem que hesitar, nem se lhe levanta a grande dificuldade de escolha: compra um relógio dessa marca.

Registo da Marca e sua protecção:

A propriedade da marca resulta do seu registo, que, entre nós, tem eficácia constitutiva ou atributiva daquele direito. O processo de pedido de registo, a ser efectuado em Moçambique, está regulado nos arts. 112º e ss do Código da Propriedade Industrial.

O pedido de registo de marca será feito em requerimento formulado em impresso próprio, redigido em língua portuguesa e depositado no órgão de administração da propriedade industrial (art. 112º, nº 1).

O registo da marca, segundo o nº 1 do art. 120º, confere ao seu titular o direito ao seu uso exclusivo, pelo prazo de 10 anos, podendo ser renovado indefinidamente por períodos iguais mediante o pagamento da respectiva taxa de renovação.

Com o registo da marca, o dono da marca passa a gozar de um direito de propriedade, podendo fazer todos os usos dos quais a marca seja susceptível: nos produtos, nos actos e instrumentos de prestação de serviços, em papel timbrado, na publicidade, etc., isto é, em todos e quaisquer aspectos da actividade da empresa titular.

Como consequência desta natureza do seu direito, o titular tem também o direito de impedir que, sem seu consentimento, quaisquer terceiros façam uso de uma marca idêntica, confundível ou associável com a sua (art. 108º, nº 1), isto é, de uma marca que usada em produtos idênticos ou fins daqueles para os quais a do titular foi registada: imitação da sua, por ser confundível com ela, ou por, em consequência da identidade ou semelhança dos sinais ou da afinidade dos produtos ou serviços, criar, no espírito do consumidor, um risco de confusão que compreenda o risco de associação entre sinal e a marca. Classificação de marcas:

As marcas classificam-se em industriais e comerciais.

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Diz-se marca industrial aquela com que o industrial, agricultor e o artífice assinalam os seu produtos; e marca comercial aquela com que o comerciante assinala os produtos do seu comércio, ainda que seja outro o produtor.As marcas industriais são muito mais importantes que as comerciais, porquanto “ acompanham a mercadoria desde a sua origem até ao consumo”, ao passo que estas últimas apenas “indicam a casa comercial que as expediu ou pôs a venda” e “ podem ser suprimidas ou substituídas por todos os sucessores revendedores”.

Registo Internacional: (art. 128 e ss Código de Propriedade Industrial)

O titular de um registo de marca, de nacionalidade moçambicana ou domiciliado ou estabelecido em Moçambique pode assegurar, nos termos do Acordo de Madrid Relativo ao Registo Internacional de marcas a protecção da marca nos Estados que aderiram ou que vierem a aderir a esse Acordo. O processo inerente ao registo especial da marca internacional está previsto no art. 129 do referido Decreto e o pedido é formulado em impresso próprio apresentado ao IPI( art. 130º).

Estudo da 2a obrigação dos comerciantes – (art. 42º e ss)

ESCRITURAÇÃO MERCANTIL

Depois de analisarmos a firma como uma das obrigações especiais do empresário,

cabe a vez de falarmos da escrituração mercantil que para além de ser uma

obrigação imposta ao empresário para a garantia da actividade comercial, constitui

também uma necessidade imperiosa para a regular e conscienciosa direcção dos

seus negócios.

E compreende-se bem porquê. Quando as relações comerciais atingem um certo

limite, impõe ao empresário, o registo das suas operações mercantis. É que o capital

com que se inicia o comércio tende a sofrer alterações diversas com o andar do

tempo; e tanto maiores e mais numerosas quanto maior e mais importante for a

exploração mercantil.

Como determinar o resultado de todas as variações do património de um empresário,

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sem o auxílio de uma contabilidade? Como apreciar, com exactidão, as sucessivas

transacções efectuadas, sem o registo metódico e cronológico obtido pela

escrituração mercantil?

Os comerciantes necessitarem de conhecer os seus direitos e obrigações e a

situação patrimonial (“ …conhecimento cronológico de todas as suas operações …”-

art. 42º do C.Com.);

a) Ser importante meio de prova dos factos registados (art. 53º do C.Com.);

b) Ser um meio de verificação da regularidade da conduta do empresário, v.g.

no caso de falência e em todos os casos em que isso estiver em causa;

c) Servir de base à liquidação de impostos e à fiscalização do cumprimento das

normas tributárias.

Não deve confundir-se com a escrituração a contabilidade: Esta é apenas a

compilação, registo, análise e apresentação, em termos de valores pecuniários, das

operações comerciais. É, pois, uma parte importante da escrituração; mas esta

abrange outros registos e arquivos: actas, contratos, correspondência e demais

documentação do comerciante.

Livros obrigatórios

A lei considera indispensáveis alguns livros; deixa ao arbítrio de cada empresário a

adopção e o uso de quaisquer outros. Daqui a divisão em duas classes importantes

– Livros obrigatórios (ou indispensáveis: aqui incluem se outros livros fixado por lei) e

livros facultativos.

São obrigatórios, de harmonia com o nº 1 art. 43º do C.Com, os seguintes livros:

1. Livro de inventário e balanços;

2. Livro do diário: é obrigatório e regista em ordem todas as compras e vendas.

Quando o montante do negócio é grande permite-se o registo semanal;

3. Livro de actas (para as sociedades);

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4. Livros previstos no Código do IVA.

Os fins a que se destinam os livros obrigatórios estão expressamente consignados

na lei:

O livro de Inventário e Balanços

Começará pelo arrolamento de todo o activo e passivo do empresário, fixando a

diferença entre aquele e este, o capital com que entra em comércio, e servirá para

nele se lançarem, dentro dos prazos legais, os balanços a que tem de procede.

Dispõe o art. 44º do C. Com que os livros do inventário e diário serão, antes de

escritos, apresentados à entidade competente para a sua legalização de modo a

serem numeradas e rubricadas as folhas e lançados os termos de abertura e de

encerramento.

O Diário

Servirá para os comerciantes registarem, dia a dia, e por ordem de datas, em

assento separado, cada um dos seus actos que modifiquem ou possam vir modificar

a sua fortuna .

Na prática, o diário selado é sempre sintético, para diminuir o encargo do selo,

relativamente pesado. Este procedimento está de acordo com a lei, desde que haja

livros auxiliares onde fiquem claramente registadas as operações. Do mesmo modo,

também não se impõe, aos empresários de retalho, o lançamento de todas as

vendas separadamente, no diário, bastando que lancem o total recebido e o fiado em

cada dia.

Livros facultativos

Indicámos os livros obrigatórios. Quanto aos livros facultativos, a sua escolha e

adopção ficam inteiramente ao arbítrio dos comerciantes, de harmonia com o seu

critério e as necessidades do seu comércio. Eles são, por isso, de numerosa

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espécie, que variam consoante os ramos de negócios explorados e o

desenvolvimento da empresa a que se destinam.

Limitar-nos-emos a indicar, apenas, alguns dos mais importantes e vulgares:

Caixa

Diário de compras (ou livro de compras);

Diário de vendas (ou livro de vendas);

Diário de operações diversas;

Diário-Razão (ou Diário Americano);

Mercadorias;

Depósitos à ordem (ou depósitos em Bancos);

Devedores e Credores;

Clientes;

Fornecedores;

Balancetes;

PRECEITOS A OBSERVAR NA ESCRITURAÇÃO

Embora a forma de arrumação dos livros fique ao critério do empresário (Princípio

geral da liberdade de arrumação dos livros arts. 45º e 46º), eles devem ser

escriturados por forma a prosseguirem o escopo de dar a conhecer fácil, clara e

precisamente as operações e a situação patrimonial do empresário. Dito de outro

modo, o princípio da liberdade é limitado pela obrigatoriedade duma regular

arrumação dos mesmos livros. E o que entender-se por uma regular arrumação, por

livros regularmente arrumados?

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A regular arrumação é a estrita observância, não só dos preceitos legais em

matéria de livros, como também preceitos técnicos de escrituração.

Na escrituração é fundamental a observância das regras do art. 49º:

“ A escrituração dos livros comerciais deverá ser feita sem intervalos em

branco, entrelinhas, rasuras ou transportes para margens.

Se se houver cometido erro ou omissão em qualquer assento, será ressalvado

por meio de estorno”.

Os intervalos em branco são proibidos com o objectivo de evitar que mais tarde,

venham a ser preenchidos com o intuito fraudulento. Mas o certo é que existe, e têm

de existir, em todos ou quase todos os livros de contabilidade, sobretudo quando um

lançamento não cabe numa página e é forçoso passar para a seguinte, deixando

algumas linhas em branco. Simplesmente a prática ensina que basta cortar, com

traço em diagonal, todas as linhas não utilizadas, para elas deixarem de se

considerar em branco.

As rasuras, entrelinhas e os transportes para margens, também não são permitidos;

qualquer erro ou omissão deve ser ressalvado por meio de estorno.

Concluindo: sempre que estorno seja tecnicamente possível, qualquer erro ou

omissão não podem ser corrigidos por outra forma.

A Conservação dos livros será por um período de 10 anos (art. 52o), a partir do

último assento realizado nos livros.

Sigilo da escrituração – Exibição e exame dos livros

No mundo empresarial é comum proclamar se “ o segredo é a alma do negócio”.

Tem de se reconhecer que esta expressão vai perdendo gradualmente o seu

sentido; e a tal ponto que, se muitas transacções feitas em outros tempos eram na

verdade preparadas e realizadas no meio do mais absoluto sigilo, são hoje levadas a

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efeito sem quaisquer recatos, à luz do dia, e às vezes dentro de maior publicidade.

Com isto não se pretende dizer que em certos casos, não se possa atender à velha

máxima. Pretende-se apenas fazer sentir que os inconvenientes de

mostrar a escrituração eram muito maiores antigamente. Isto além de várias

considerações de interesse público que exigem a fiscalização de certas actividades

comerciais por parte do Estado, tem feito perder ao segredo da escrituração o

carácter quase absoluto e rígido que anteriormente revestia.

O art. 54º do C.Com, estabelece o princípio do segredo ou sigilo mercantil. Mas, esta

regra sofre numerosos desvios (excepções), em face de certas disposições do

Código Comercial e de diplomas especiais, bem como da necessidade de

fiscalização por parte do Ministério das Finanças, através da ATM.

Podemos afirmar, em suma, que a escrituração dos comerciantes é secreta. E assim

sucede de ordinário, mas logo que uma questão é posta nos tribunais, logo que se

torna necessário fazer em juízo a prova de certos factos de carácter secreto dos

livros tem de ser desprezado.

A publicidade dos livros reveste duas formas: Exibição e Exame.

1. A exibição abrange os livros comerciais por inteiro, isto é, torna pública

toda a escrituração do comerciante. Por este atributo de generalidade,

e também porque os livros têm de sair da posse do comerciante, só em

casos especiais pode ser ordenada a exibição: em caso de Falência,

de sucessão universal e de comunhão ou sociedade.

2. O exame é sempre parcial, diz respeito unicamente a pontos restritos

que procuram esclarecer-se, como, por exemplo, os lançamentos

efectuados em certa data e em certos livros. Além disso, o exame faz –

se sempre no escritório do empresário, na sua presença (ou quem o

represente), e deve ser ordenado em todos os casos que não sejam os

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apontados para a exibição.

Força probatória dos livros

A lei atribui aos livros mercantis força probatória. No art. 53º dispõe-se que “ os livros

de escrituração comercial podem ser admitidos em juízo, a fazer prova entre

empresários, pelos factos relativos às suas empresas”..., as alíneas do mesmo artigo

se especificam as condições em que tal prova é admitida.

A prova pode ser contra ou a favor do próprio comerciante a aquém pertencem os

livros.

Quanto ao primeiro casa, os lançamentos, mesmo numa escrita

irregularmente arrumada, fazem fé contra o próprio comerciante, mas quem

queira valer-se deles terá também de aceitar tudo que lhe seja prejudicial.

Quanto ao segundo caso, para que os lançamentos provem a favor dum

comerciante, necessário se torna que os seus livros se encontrem

regularmente arrumados, e que outro comerciante não apresente lançamentos

opostos, em livros também regularmente arrumados, ou prova em contrário.

O balanço e Prestação de Contas

O art. 60º do C. Com dispõe que: “Todo o empresário é obrigado a dar balanço anual

ao seu activo e passivo nos três primeiros meses do ano imediato e a lançá-lo no

livro de inventário e balanços, assinando-o devidamente.”

O documento final da escrituração – balanço – exprime a relação entre o activo,

passivo e a situação líquida de um comerciante, e mostra –nos portanto a situação

económica e financeira da sua exploração mercantil no momento a que se refere.

O balanço faz fé, até prova em contrário, quanto à existência dos credores e é aos

exponentes que compete provar que existem mais credores e créditos balanceados.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 60

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A falta de assinatura de um sócio nas actas da sociedade donde conste a aprovação

dos balanços anuais não invalida as mesmas actas, porque o sócio pode ter se

retirado antes de lavrada a acta e só os assistentes assinarão.

O registo comercial

O registo comercial é uma obrigação especial do empresário e encontra-se

fundamentalmente nos arts. 58º e 59º.

O registo tem como finalidade dar publicidade à qualidade de empresário das

pessoas singulares e colectivas, bem como os factos jurídicos, especificados na lei,

referentes aos empresários e aos navios mercantes.

O registo comercial compreende:

1. A matrícula dos comerciantes em nome individual;

2. A matrícula das sociedades;

3. A inscrição dos factos jurídicos a ele sujeitos, referentes aos empresários em

nome individual, às sociedades...

A matrícula é facultativa para os empresários em nome individual e obrigatória para

as sociedades. Caso contrário, na falta do registo, a sociedade não se considera

regularmente constituída (matriculada).

As sociedades não matriculadas não poderão prevalecer-se da qualidade de

comerciante em relação a terceiros, mas não poderão invocar a falta de matrícula

para se subtraírem às responsabilidades e obrigações inerentes a essa qualidade.

O comerciante em nome individual apesar de ser facultativa a sua matrícula, a falta

desta presume-se a ausência dessa qualidade, podendo acarretar certos prejuízos

para este, ou seja, para o comerciante em nome individual, a matrícula é presunção

jurídica( Júris tantum) da qualidade de comerciante.

Para além da natureza obrigatória, a matrícula tem de facto interesse para o próprio

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comerciante, seja singular ou colectivo, porquanto:

1º Só o empresário matriculado pode fazer inscrever no registo comercial os actos a

ele sujeitos, o que constitui uma das obrigações especiais dos comerciantes;

2º Só o empresário matriculado tem direito à especial protecção da firma.

3º Sobre os bens do empresário matriculado não poderá, em princípio, proceder-se

ao arresto para a segurança de dívidas mercantis ( art. 403º, nº 3 do C.P.C).

Consórcio

1. Noção, Forma, Conteúdo, Finalidades, Deveres e Repartição de Ganhos

e Perdas

1.1 Noção

O nosso código comercial, no nº 1 do artigo 613°, define o consórcio

como sendo “ (..) o contrato pelo qual duas ou mais pessoas, singulares ou

colectivas, que exerçam uma actividade económica se obrigam reciprocamente,

de forma concertada, a realizar certa actividade ou efectuar certa contribuição

com o fim de prosseguir (..) ” qualquer dos objectos referidos nas alíneas do nº.

1 do artigo supra citado.

O consórcio não tem personalidade jurídica3 própria, distinguindo-se por

isso da sociedade. As sociedades comerciais adquirem a personalidade jurídica

a partir do seu acto constitutuivo. Gozam de tal personalidade tanto em relação

a terceiros como em relação aos próprios sócios. O consórcio não tem

personalidade jurídica e as consorciadas somente se obrigam nas condições

previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas obrigações,

3 Cfr nº. 2 do artigo 614 C. Com

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sem presunção de solidariedade. A falência de uma consorciada não se estende

às demais, subsistindo o consórcio com as outras contratantes. Os créditos que

por ventura tiver a falida, serão apurados e pagos na forma prevista no contrato

de consórcio.

Pode-se citar como exemplo de um consórcio, o contrato pelo qual duas

sociedades de construção civil se obrigam, para a abertura de uma estrada, de

forma concertada.

1.1.1 Elementos da Noção

A definição legal requer, em primeiro lugar, duas ou mais pessoas

singulares ou colectivas, não estipulando limites máximos.

Em segundo lugar, as pessoas em causa devem exercer uma actividade

económica. A lei pretende acentuar a natureza lucrativa e, dai, comercial, da

figura. As pessoas interessadas no contrato vão obrigar-se, pelo consórcio, a

agir de forma concertada. Este aspecto é essencial: postula uma organização

comum. Trata-se dum ponto decisivo, pois possibilita a qualificação do consórcio

como um contrato de organização (para além do consórcio fazem parte deste

grupo de contratos, a representação, o mandato, contrato de engenharia e

algumas modalidades de empreitada). As partes apresentam-se nele, com

interesses comuns e não contrapostos4.

Em terceiro, a concertação referida reporta-se ao desenvolvimento de

uma certa actividade ou à efectivação de certa contribuição. Esses elementos, a

actividade e/ou contribuição, são divididos por cada um dos consorciados5.

1.2 A Forma do Contrato de Consórcio

A forma a que deve revestir o contrato de consórcio está prevista no

artigo 614º do C.Com.

4 CORDEIRO, António Menezes , Manual de Direito Comercial- Págs.455 e 456. 5 CORDEIRO, António Menezes , Manual de Direito Comercial - Pág. 456.

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

A forma de constituição do consórcio é simplificado, basta o escrito

particular, salvo se entrarem bens imóveis, caso em que será necessário realizar

a escritura pública6.

1.3 Conteúdo

As prestações a realizar devem consistir em coisa corpórea, ou no uso de

coisa corpórea. As contribuições em dinheiro só são permitidas quando se

previrem para todos contribuições dessa espécie, isto de acordo com os nº. 2 e

3 do artigo 615º C.Com.

No que se refere as alterações ao contrato, de acordo com o artigo 618º

C.Com, deve-se utilizar ou adoptar a mesma forma da celebração inicial,

devendo ser aprovado por todos os contraentes, salvo quando o próprio contrato

preveja outra fórmula.

Toda a regulamentação prevista na lei é apenas um modelo, que a lei põe

a disposição das partes. Nos termos dos artigos 614º/1 C.Com ex vi 405º C.Civil,

as partes gozam de plena liberdade contratual, podem celebrar consórcios

atípicos, acrescentar cláusulas suas ao modelo legal ou afastar soluções legais

supletivas.

1.4 Finalidade do Consórcio

finalidade do consórcio, é a organização e a cooperação entre pessoas,

de modo simplificado e flexível, sem pôr em causa a autonomia jurídica e a

independência económica de cada um dos consorciados7.

1.5 Deveres dos Membros

Os deveres dos consorciados, nas dimensões da proibição da

concorrência e da prestação de informações e a proibição da criação de fundos

comuns, estão previstos no artigo 616º C.Com. . Ela visa facilitar a definição das

relações entre as partes..

6 ASCENÇÃO Oliveira . Direito Comercial, - Pág. 334 .7 MARTINEZ, Romano Contratos Comerciai - Pág.39

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1.6 Repartição dos Ganhos e Perdas

Num consórcio, as partes concertam-se para desenvolver determinada

actividade económica. Sendo que o consórcio não tem personalidade jurídica, e

que a contratação é feita em nome de algum ou alguns dos consorciados, todos

os direitos em causa no consórcio são plenamente disponíveis pois, estamos no

domínio patrimonial privado.

Não há nenhuma regra que proíba estabelecer regimes de solidariedade passiva

ou activa, isto é, regimes nos quais uma mesma dívida passe a ser exigível, por

inteiro, a um único dos vários co-devedores ou um mesmo crédito a ser

liberatoriamente pagável a um único dos vários co-credores8. Ao abrigo da

autonomia da vontade as partes podem estabelecer regras de responsabilidade

limitada, aquém da responsabilidade pura. Por exemplo, pode-se contratar que

uma entidade responda até 30% de determinada dívida. De igual modo se

poderá combinar que uma entidade possa receber, em termos liberatórios, até

30% do crédito.

2 Princípios que Regem os Contratos Mercantis9

2.1 Princípio da Autonomia da Vontade

Consiste na liberdade de contratar e no poder de escolher o tipo e o

objecto do contrato, moldando-lhe o conteúdo de acordo com os interesses a

serem tutelados. Este princípio dá a faculdade de utilizar um contrato de um

outro ordenamento jurídico, sendo que nos casos omissos aplica-se a nossa lei,

pode-se também associar várias regras dos contratos previstos na lei e criar um

novo contrato, e também pode-se criar um contrato novo.

2.2 Princípio do Consensualismo

8 CORDEIRO António Menezes. Manual de Direito Comercial.Pág. 4599 “Resumo de Direito Comercial, ficha do docente da cadeira de Direito das Empresas, dr. Isaías Sitoi. Pág. 46.

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Consiste em considerar formados os contratos mediante o simples acordo

de vontades, sem qualquer solenidade, excepto nos casos em que a lei exija

forma determinada.

2.3 Princípio da Obrigatoriedade das Convenções

Consiste na submissão das partes contratantes àquilo que foi livremente

acordado entre elas – “ pacta sunt servanda”.

2.4 Princípio da Relatividade das Convenções

Consiste em considerar que os efeitos do contrato devem permanecer

circunscritos às partes contratantes, não se projectando para o exterior, nem

beneficiando, nem prejudicando terceiros.

2.5 Princípio da boa-fé

Consiste no pressuposto de que ambas as partes estão agindo com

lealdade e espírito de colaboração, na redacção e na interpretação das

cláusulas contratuais, bem como em seu comportamento, durante a execução

do acordo.

3.Formas ou Tipos de Consórcios

De acordo com o artigo 619º do C. Com, o consórcio pode ser interno ou

externo.

3.1 Consórcio Interno

O artigo 628º do C.Com, prevê que o consórcio será interno quando as

actividades ou bens são fornecidos a um dos consorciados pelo outro, e só este

estabelece relações com terceiros, ou quando as actividades ou bens são

fornecidos a terceiros por cada um dos consorciados sem expressa invocação

dessa qualidade.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 66

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

3.2 Consórcio Externo

Nos termos do artigo 620º C.Com, “ o consórcio é externo quando as

actividades ou bens são fornecidos directamente a terceiros por cada um dos

membros do consórcio, com expressa declaração dessa qualidade”.

A estrutura deste tipo de consórcio assenta num conselho fiscal (artigo

621º/1 C.Com) e num chefe do consórcio (nº. 2 do artigo 621º C.Com). Os

poderes do chefe do consórcio são conferidos mediante procuração, e ele é o

responsável nas relações com terceiros (artigo 624º/1 C.Com).

No que tange a cessão da participação, de acordo com o artigo 625º

C.Com, qualquer membro pode ceder, total ou parcialmente, quer a outro

membro quer a terceiro mediante autorização prévia concedida pela

unanimidade dos demais participantes

Para haver admissão de novos consorciados, é necessário a concordância

unânime dos membros do consórcio, isto em conformidade com o artigo 626º/1

C.Com. .

A denominação do consórcio externo vem expressa no artigo 622º C.Com

A denominação do consórcio tem regras, ela tem que se fazer designar por

consórcio empresarial, por extenso ou em forma abreviada CE, sendo

antecedida ou seguida por uma denominação particular.

Pode-se inferir do artigo 623º C.Com, que os lucros devem ser repartidos

de acordo com o contrato de consórcio, e no seu silêncio, na proporção da

participação de cada consorciado no empreendimento.

4. Cessação do Contrato de Consórcio

O consórcio origina uma situação jurídica duradoura. O C.Com (artigo

630º), distinguiu, no que se refere à sua cessação três modalidades:

a) a exoneração dos seus membros (artigo 631º C.Com);

b) a resolução do contrato (artigo 632º C.Com)

c) a extinção do consórcio (artigo 630º C.Com).

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 67

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

a) A exoneração dos membros do consórcio corresponde a uma posição

potestativa que o consorciado tenha de pôr cobro aos seus compromissos,

excluindo-se do consórcio.

b) A resolução equivale a uma posição potestativa que o consorciado tenha de

excluir os outros do consórcio. De acordo com o artigo 632º C.Com, ela deve

ocorrer havendo justa causa, nos termos do nº. 2 do artigo supracitado. Este

artigo exige “declarações escritas emanadas de todos os outros” (membros).

c) Os cenários de extinção do consórcio alinham-se no artigo 630º C. Com, e

englobam:

- acordo unânime dos seus membros;

- pela realização do objecto ou por ele se tornar impossível;

- pelo decurso do prazo fixado no contrato, não havendo prorrogação;

- por se extinguir a pluralidade dos seus membros;

- por qualquer outra causa prevista no contrato;

- se não for por nenhuma destas causas o consórcio se extinguirá decorridos

dez anos sobre a data da sua celebração, sem prejuízo das eventuais

prorrogações expressas.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 68

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Coligação de sociedades e

Consolidação de contas

Coligação de Sociedade

I. Conceitualização

Sociedade coligada é a participação de uma ou mais sociedade com o

capital social de 10% de outra ou de outras sociedade sem controlá-la.

Coligação no sentido empresarial e uma agregação ou aliança de

organização que se aliam visando um fim comum.

Regime:

O regime das sociedades coligadas só se aplica as relações entre

sociedades por quotas, anónima e em comandita por acções.

A coligação de sociedades classificam-se em quatro classes de relações:

- Sociedade em relação de simples participação;

- Sociedade em relação de participações recíprocas;

- Sociedade em relação de domínio;

- Sociedade em relação de grupo.

I. Sociedade em relação de simples participação

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Uma sociedade esta em relação de simples participação com outra,

quando uma sociedade é sócia de outra e uma delas detêm quotas ou acções

desta que representam 10% ou mais do capital.

II. Sociedade em relação de participações recíprocas

Duas sociedades estão em relação de participação recíproca, quando

qualquer delas detêm quotas ou acções da outra.

III. Sociedade em relação de domínio

Considera-se que duas sociedades estão em relação de domínio quando

uma delas, dita dominante, pode exercer sobre outra dita dependente, uma

influência dominante ou indirectamente se:

a) Detêm uma participação maioritária no capital;

b) Dispõe de mais de metade dos votos;

c) Tem a disponibilidade de designar mais de metade dos membros do

órgão de administração ou fiscalização.

- As sociedades dominadas, conservam a sua individualidade jurídica, mas

ficam sob tutela administrativa da sociedade dominante, constituindo em seu

conjunto um grupo económico.

- Os títulos das sociedades dominantes é constituída geralmente por acções

de um reduzido número de sociedades subscritas ou adquiridas com objectivo

de alcançar a maioria dos votos nas Assembleias-gerais das respectivas

empresas, e a obtenção de cargos directivos para que influam na condução dos

negócios sociais de empresas que exerçam actividades idênticas ou conexas;

Ou trata-se de eliminar como concorrente incómoda e transforma-la em sucursal

jurídica independente, isto chama-se concentração; Outras de a aproveitar como

fornecedor complacente ou cliente submisso, isto chama-se integração; Outras

ainda de explorar em certa escala a industria por ela exercida sem nela inverter

todo capital necessário, isto chama-se agregação.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 70

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

1. Formas de domínio:

O domínio de uma sociedade alcança-se por formas diversas:

a) Quando a empresa-mãe participa directamente no capital da empresa

subsidiária ou empresas subsidiárias. E o domínio directo pode ser simples

ou radial consoante se exerça sobre uma ou várias empresas.

b) Quando por sua vez uma empresa subsidiária domina outra empresa

mediante uma participação no seu capital diz-se que a empresa-mãe exerça

um domínio indirecto sobre esta última (simples ou radial).

c) Quando existe uma combinação simultânea de domínio directo e indirecto

de tal forma que a empresa-mãe domina directamente por intermédio desta,

uma empresa associada, trata-se de domínio triangular.

d) Quando as empresas subsidiárias participam no capital da empresa-mãe

estamos perante o domínio recíproco.

e) Quando existe uma série de domínio directos que ligam a empresa-mãe

com uma empresa subsidiária, esta com outra empresa subsidiária e

assim sucessivamente até uma outra empresa subsidiária que participa

no capital da empresa-mãe fechando assim o circulo, trata-se do domínio

circular.

2. Percentagem de participação e de controlo

Nas sociedades em relação de domínio convêm distinguir a percentagem

de participação e de controlo:

Percentagem de participação é a parte do capital detido pela sociedade

mãe directa ou indirectamente, numa sociedade dependente (subsidiária).

Esta serve de base aos cálculos da consolidação de contas.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 71

Page 72: Apontamentos ESEG Versao Em Uso.maio.2008

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Percentagem de controlo deriva dos direitos de voto, exprime o elo de

dependência directa ou indirecta entre a sociedade-mãe e uma empresa

subsidiária. Esta é determinante na escolha do método a utilizar na

consolidação das contas.

IV. Sociedade em relação de grupo

Grupo de sociedade é a união de sociedade controladora e controladas

ou coligadas, que se obrigam a somar esforços para realizar seus objectivos

ou participar de empreendimentos comuns, sem adquirir personalidade

jurídica nem património próprio.

Os grupos de sociedade podem ser de quatro espécies, que são: domínio

total inicial, domínio total superveniente, grupo paritário e de subordinação.

i) Domínio total inicial, resulta da constituição por uma sociedade anónima

cujas acções aquela é a única titular.

ii) Domínio total superveniente, resulta de uma sociedade passar a deter a

totalidade das participações correspondente ao capital da participada por

esta não ter outro sócio.

iii) Grupo paritário, forma-se quando duas ou mas sociedades entre as quais

não existam relações de domínio, mas que tem uma direcção única.

iv) Grupo de subordinação resulta da celebração entre duas sociedades a

directora e a subordinada, onde a segunda submete-se a gestão social a

direcção da primeira passando a dispor de um poder de direcção da

segunda.

II. Grupos Económicos

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 72

Page 73: Apontamentos ESEG Versao Em Uso.maio.2008

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

1. Noção:

Grupo económico é um conjunto de sociedades que tendo personalidade

jurídica autónoma estão submetidas a um único centro de decisão, formando

uma unidade económica. Estes têm a sua expressão máxima nas chamadas

empresas multinacionais.

O conceito da sociedade em relação de grupo não deve ser confundido

com este conceito de grupo económico, pois, este é mais amplo, abrangendo

as sociedades em relação de domínio.

1.1. Classificação dos grupos económicos

A

Grupos – pressupõem uma direcção única, mas podem constituir-se

com uma estrutura vertical ou horizontal podendo incluir um ou vários

grupos.

Subgrupos - são grupos de ordem inferior dentro de grupos de ordem

superior.

Empresas associadas - são aquelas que não fazem parte do grupo,

mas nelas as empresas do grupo exercem uma influência significativa

na gestão política financeira.

Empresas multigrupos - são aquelas que fazem parte de dois ou mais

grupos que as controlam e exploram.

B

Grupos verticais - são constituídos por uma empresa

dominante(empresa-mãe) e todas suas empresas dependentes

colocadas sob direcção única.

C

Grupos horizontais - são constituídos por empresas não vinculadas

como dependentes por relação de domínio, mas que tem direcção única.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 73

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III

Consolidação de contas

Noção:

Consolidação de contas é um processo contabilístico que permite agregar

as demonstrações financeiras de um conjunto de sociedades ligadas por

interesses comuns (vinculo de dependência) ou sujeitas a um centro de

decisão comum (direcção única), cada uma gozando de personalidade

jurídica própria.

Objectivos da consolidação

As contas consolidadas têm por fim apresentar:

A situação financeira e os resultados daquele conjunto de sociedade

como se fosse uma única entidade.

Constitui uma ferramenta de gestão que permite medir os resultados

do grupo e avalia-los e função de diferentes critérios de rentabilidade;

Ė indispensável para os analistas de investimento, numa época

caracterizada pela tendência para internacionalização do mercado;

Contribui para a normalização de procedimentos no grupo.

Demonstrações Financeiras consolidadas

As contas consolidadas constituem um todo e compreendem:

- O balanço consolidado

- A demonstração de resultados consolidados

- O anexo ao balanço e a demonstração de resultados consolidados.

O objectivo das demonstrações financeiras é que estas devem dar uma

imagem verdadeira da situação financeira e dos resultados do conjunto

de empresas na consolidação.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 74

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Métodos de consolidação

Os métodos de consolidação são os seguintes, onde a sua aplicação é

em função da natureza e importância das participações:

Método de consolidação - consiste na integração no balanço e na

demonstração dos resultados da empresa consolidante dos elementos do

balanço e das demonstrações dos resultados das empresas consolidadas,

evidenciando os direitos de terceiros10, designado interesses minoritários. Este

método baseia-se no conceito de empresa-mãe, onde as contas consolidadas

do grupo são a extensão das contas da empresa-mãe, a qual sem domínio total

controla todo património das empresas consolidadas.

Método de consolidação proporcional baseia-se no conceito de

proprietário, segundo o qual nas contas consolidadas apenas devem figurar os

elementos do património do proprietário (do grupo). Este método consiste na

integração no balanço e na demonstração dos resultados da empresa

consolidante da parte proporcionalmente lhe corresponder nos elementos do

balanço e das demonstrações de resultados das empresas consolidadas.

Método da equivalência patrimonial, consiste na substituição no balanço

da empresa consolidante do valor contabilístico das partes de capital por ela

detidas pelo valor que proporcionalmente lhe corresponde nos capitais próprios

da empresa participada11.

A consolidação de contas visa substituir no balanço da empresa

consolidante o valor das partes de capital por elas detidas pelo valor que lhe

corresponde no património das empresas consolidadas.

Agrupamento Das Empresas

10 O método de consolidação integral também se pode basear o conceito de entidade económica, pelo qual se consideram os interesses dos accionistas minoritários e maioritárias.11 Conforme 3.1.3do cap.V,da obra de F.V.Gonçalves da Silva e J.M.Esteves Pereira, Contabilidade das Sociedades.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 75

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

1. Agrupamento de empresas

1.1. Conceito

A questão do agrupamento de empresas é também tratada em doutrina

como coligação de empresas ou união de empresas.

Temos então coligação de empresas como a participação de uma

empresa ou mais sociedades no capital social de uma outra empresa ou outras

sociedades. Portanto, é vedada a possibilidade de uma ligação entre um

indivíduo singular e uma sociedade.

Na coligação de sociedades existe a sociedade controladora e a

controlada. A primeira é aquela que detém, sob seu controlo, a titularidade dos

direitos dos sócios, assegurando a preponderância nas decisões da sociedade e

o poder de eleger maior parte dos administradores. As controladas são

subjugadas pelas controladoras. Esta coligação faz então um grupo de

sociedades.

As uniões geralmente têm como objectivo somar esforços para realização

de seu escopo, como empreendimentos sem, contudo, adquirir personalidade

jurídica nem património comuns. Portanto, cada sociedade mantém seu objecto,

sua personalidade jurídica. O vínculo será pelo controlo que caberá à empresa

controladora.

A união de sociedades engloba duas formas:

A forma contratual, em que as sociedades se obrigam por meio de um

acordo ou contrato para fazerem face ao mercado, sem constituírem uma

empresa e sem personalidade jurídica. Não se cria nova sociedade.

Como sociedade, duas ou mais sociedades decidem formar uma nova

sociedade na qual cada sociedade participa com certo capital.

1.2. Modos de uniões de sociedades

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 76

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Existem três modos de uniões de empresas, nomeadamente o modo

contratual, o modo de união financeira e união pessoal.

1.2.1. União contratual

Neste modo há um acordo que uni as sociedades diferentes. Esta união

pode ser em sentido horizontal como pode ser em sentido vertical.

A horizontal é quando se unem sociedades análogas em concorrência.

Caso exemplar deste modo de união é o da OPEP.

A vertical seria quando as sociedades são unidas economicamente nas

diferentes actividades que realizam. É apenas uma aglutinação de natureza

económica ou financeira. No nosso meio podemos ter como exemplo, empresas

que unem se e fazem um grupo, nomeadamente o grupo BIM..

1.2.2. União financeira

Quando há participação financeira de uma sociedade noutras. É enlace

capitalista que visa a concentração de capital. Podemos apontar para este tipo

de união as sociedades Holdings.

Vantagens

Permite o aumento ou diminuição de capital através de participação de

uma empresa noutra.

1.2.3. União pessoal

Este modo verifica-se quando a união incide sobre os membros ou

elementos de duas sociedades, ou seja, os administradores de uma empresa

passam a ser membros de da administração de outra empresa. Uma das

empresas domina a outra através do pessoal.

Cartel ou sindicato

O cartel consiste em duas ou mais empresas interessadas em dominar o

mercado fazerem uma coligação. Assim formam um órgão central ou nova

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 77

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

sociedade que emite ordem às empresas unidas. É uma união de modo

contratual que manifesta-se pela concentração de capital.

A par dos acordos de uniões de empresas existem outros que também

não mexem com a personalidade jurídica das sociedades, havendo casos em

que a união se efectua paralelamente ao pacto social. Vamo-nos referir então

aos acordos parassociais.

2. Acordos parassociais

2.1. Conceito

São convenções celebradas entre os sócios de uma sociedade, pelas

quais estes se obrigam reciprocamente a exercer em determinados termos, os

direitos inerentes às participações sociais.

Os acordos parassociais podem ser celebrados antes ou depois de

constituir-se a sociedade, mas a prática revela que primeiro é criada a sociedade

depois criados os acordos.

É importante deixar presente que estes acordos vigoram à margem do

acordo principal de sociedade, sendo-lhe extrínseco. Os acordos parassociais

interferem na vida da sociedade, na medida em que influenciam o

comportamento dos sócios no exercício dos seus direitos.

Os acordos parassociais têm suas modalidades, nomeadamente o

sindicato de voto / voting trust e sindicato de bloqueio.

2.2.O sindicato de voto

É o acordo pelo qual os sócios se obrigam entre si a votar de maneira

unânime nas deliberações sociais.

A pretensão pode resultar de uma determinada posição de uma maioria

de sócios agrupados no sindicato. Pode também resultar de um terceiro

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 78

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mandatado pelos sócios para exercer o direito de votar. Pode ainda ser por

quem é confiado as participações dos sócios para efeitos do acordo.

O objecto do sindicato de voto pode consistir em organizar o controlo da

sociedade, quando reúne-se maior número de voto - sindicato de controlo ou de

comando, e pode também em defender interesses de uma minoria - sindicato de

defesa.

2.3. Sindicato de bloqueio

Neste acordo os outorgantes se obrigam a não alienar as suas

participações sociais sem o consentimento dos restantes, ou lhes é concedido o

direito de preferência quando pretenderem aliená-las.

2.4. Regime jurídico

No ordenamento jurídico moçambicano o regime jurídico dos acordos

parassociais encontra-se previsto no artigo 98º do Código Comercial aprovado

pelo decreto-lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro.

Este preceito dispõe que a conduta dos outorgantes deste acordo não

pode ser proibida por lei, ou seja, não podem realizar actos contrários à lei.

Também não podem ser base de constrangimentos para os actos da sociedade

ou dos sócios nas suas actividades. (vide o nº 1 do art.98º C.Com.). Estas

posições coincidem com a estabelecida na lei portuguesa, a qual preceitua que

o objecto destes acordos não pode ser proibida por lei e que não podem servir

de impugnação dos actos dos sócios.

O número 3 deste dispositivo estabelece algumas situações de proibições

:

- quando um dos sócios obriga – se a votar sob instruções da sociedade ou de

um dos órgãos;

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 79

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

- quando algum sócio subscritor aprova constantemente as propostas

levantadas pelos órgãos;

- quando um dos sócios votando ou abstendo – se, pretende como contrapartida

vantagens especiais, por outra a venda de voto.

Falência

1. Noção da falência

A Falência é o estado de incapacidade do comerciante de cumprir as suas

obrigações perante os credores. Não basta, contudo, a alegação genérica de

que o comerciante é incapaz de solver as suas dívidas, é necessário que

estejam preenchidos alguns requisitos previstos na lei.12

Portanto, considera-se impossibilitado, o comerciante que esteja vinculado a

cumprir imediatamente com as suas obrigações e entra em mora ilícita por não

possuir bens patrimoniais para o honrar com os compromissos obrigacionais

assumidos, ou porque tem stock de mercadorias que não consegue colocar no

mercado devido a concorrência, não conseguindo deste modo saldar as suas

dívidas.

1.1Falência & Insolvência

Importa fazer a destrinça da figura da falência com o instituto da insolvência.

Estas duas figuras diferem no âmbito da sua aplicação bem como na sua

definição. A falência só se aplica aos comerciantes quer em nome individual

quer em nome colectivo e é uma situação não meramente quantitativa, portanto

é a impossibilidade do comerciante de cumprir as suas obrigações, art. 1135º

CPC; já a insolvência consiste numa situação meramente quantitativa em que

uma pessoa tem dívidas de valor global superior ao seu património art.1313º nº1

do CPC e este instituto aplica-se aos sujeitos não comerciantes.13

12 Ascensão, José de Oliveira “Direito Comercial”, pág. 186, 199413 Mendes, João de Castro, Teoria Geral do Direito Civil, pág.251, 1995

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 80

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

1.2. Modalidades da falência

Importa realçar, que para o alcance do sucesso empresarial, é necessário que

haja uma boa gestão, que passa necessariamente definir planos para determinar

antecipadamente o que deve ser feito, como fazer, quando, por quem e com que

meios. Portanto, só definindo estratégias, políticas e regras de procedimentos a

ser cumpridas em diferentes níveis poderão alcançar-se bons resultados.

A maior parte das empresas não sobrevivem por um lado, por falta de planos e

por outro devido a falta de capital e mão – de – obra qualificada.

A falência da sociedade pode resultar por motivos alheios a vontade do

comerciante ou por culpa deste. Assim, considera-se causal, aquela que ocorre

mesmo quando o empresário toma todas as diligências necessárias na gestão

da empresa, esta não consegue sobreviver devido às forças próprias do

mercado, sendo por isso o seu estado de incapacidade alheia a sua vontade.

Considera-se fraudulenta, a falência que provém de actos imprudentes do

comerciante, como a aplicação aleatória do património social, sem que antes

tivesse pondero; realização de despesas manifestamente exageradas, não

planificadas, dissipação do património social, actos de negligência no exercício

da sua profissão, como a falta de escrituração comercial organizada, exigida nos

termos do art.42 do C.Com, neste caso, havendo intenção do comerciante em

prejudicar os direitos do credor, a Lei qualifica como crime e pune com pena de

prisão maior de 8 a 12 anos, nos termos do artº447 do Código Penal.

1.3. Génese da Falência

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 81

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

A Falência remonta a Lei das XII Tábuas e os subsequentes esquemas de

responsabilidade patrimonial por dívidas. O instituto de falência surge na idade

média na Itália e a sua regulamentação era fragmentada;14

A França tentou codificar a falência através do Ordenança de 1673, No entanto,

só em 1807 foi feita uma regulamentação cabal, através do Código Comercial de

Napoleão. No entanto, as normas eram tão severas para o comerciante, que

acabava prejudicando os credores. Os comerciantes em dificuldades financeiras

retardavam ao máximo a sua apresentação as instâncias competentes para

decretar a falência, o que conduzia a situações irrecuperáveis do património.

Por exemplo, o prazo para o comerciante apresentar o balanço era de 3 dias

após a cessação de pagamento, o processo judicial era lento, custas judiciárias

elevadas, havia maior probabilidade do comerciante em estado de falência de

ficar privado da sua liberdade, o que levava a fuga dos mesmos.

No século XX, o instituto das falências conheceu profundas reformas. O

processo passou a ser mais célere, diminuíram-se os custos e o falido de boa-fé

passou a conservar a gestão do seu património, embora com assistência de um

liquidador.15 O legislador moçambicano acolheu esta filosofia tendo previsto no

art.1162º CPC, a manutenção do comerciante na gestão dos seus negócios,

prevendo, inclusive, possibilidades de recuperação da sociedade, como forma

de se evitar a falência.

1.4. Requisitos Essências para Decretar Falência

Para que uma sociedade seja considerada falida não basta a alegação genérica

de incapacidade financeira, na medida em que a impossibilidade de

cumprimento das obrigações não coincide com a situação patrimonial deficitária,

visto que, por um lado, pode ocorrer uma situação em que o valor do seu acervo

patrimonial seja superiores as dívidas, mas não dispor de dinheiro líquido para

14 Cordeiro, António Menezes, “Manual de Direito Comercial”, pág. 339, 200115 Cordeiro, António Menezes , Manual de Direito Comercial, pág. 343, 2001

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

pagar os seus credores, por outro, pode o comerciante estar numa situação em

que o seu passivo é superior relativamente ao seu património, mas cumprir

pontualmente as suas obrigações por meio de créditos16.

Assim, para efeitos da declaração de falência, é necessário que estejam

preenchidos um dos requisitos previstos no art. 1174º CPC, sem os quais não é

possível decretar a falência, nomeadamente:

Cessação de pagamentos;

Fuga ou ausência do Comerciante sem deixar representação;

Dissipação de bens ou outro comportamento abusivo que faça prever

intencional impossibilidade de cumprimento das obrigações;

Insuficiência manifesta do activo nas sociedades de responsabilidade

limitada.

2. Recuperação da sociedade

Nem sempre a declaração de falência é a solução mais adequada para os

credores, bem como para a economia de um país. Há casos em que os danos

causados pela falência são muito maiores, relativamente aos custos da sua

recuperação, uma vez que reduz postes de trabalho, consequentemente eleva o

número de desempregados, contribuído deste modo para insegurança social,

devidos aos índices elevados de actos criminais de indivíduos a procura de

sobrevivência, isto por um lado, por outro reduz o número de sujeitos passivos,

diminuindo deste modo receitas para o Estado, para despesas públicas, como a

construção de estradas, escolas, hospitais e outras despesas de carácter

público, diminui, em suma, o (PIB) Produto Interno Bruto do país.

Assim, toda a empresa em situação de falência pode ser objecto de providência

de recuperação, devendo a falência ter lugar especialmente nos casos em que a

empresa se mostre economicamente inviável.17 Estas providências podem ser a

16 Pinto, Carlos Alberto da Mota ,”Teoria Geral do Direito Civil”, pág. 246, 3ª edição, 199917 Viega, Vasco Soares, “Direito Bancário”, pág. 396, 1997, Coimbra

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 83

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

concordata, acordos de credores, reestruturação financeira, gestão controlada,

que passo a citar:

Ex. O grupo João Ferreira dos Santos, tem dívidas avultadas na banca, e neste

momento está com problemas de liquidez para fazer face às dívidas.18 Tratando-

se de um interesse estratégico para a economia, o Estado tenta evitar a falência

tomando providência que visem saneamento financeiro. Para o efeito, houve

negociações com a banca no sentido de acordar novos prazos de pagamento,

tendo sido assumidos compromissos, no sentido do devedor alienar parte do seu

património social para a satisfação dos seus interesses.

a) Concordata, é o meio de recuperação da empresa em estado de falência, que

consiste no acordo entre o comerciante e os respectivos credores, no qual

consentem no retardamento do pagamento da dívida ou no pagamento parcial

dos seus débitos, podendo a modificação limitar-se a simples moratória, artº.

1147º/1 CPC. No entanto, só é permitida concordata aos comerciantes falidos

de boa-fé, art.º1147º/3 do mesmo código.

Homologada a concordata pelo Juiz, o devedor recupera o direito de dispor

livremente os seus bens e de gerir o seu património, sob fiscalização dos

credores, art.1162º CPC.

Quando se trate de sociedade em nome colectivo e uma vez que se caracteriza

por responsabilidade ilimitada, os credores podem conceder concordata à

sociedade a um sócio ou mais sócios, uma vez que a falência da sociedade

implica a falência dos sócios. Nas sociedades em comandita, pode ser

concedida concordata ao sócio com responsabilidade ilimitada.19

Contudo, os credores poderão requerer a declaração da falência se, após

aprovação da concordada, verificarem-se um dos requisitos previstos no nº1 do

art.1174º CPC. Declarada a falência, os credores só poderão concorrer à massa

falida pela importância que não hajam recebido, artº 1165º/1 CPC.

18 http://dn.sapo.pt/suplemento-negocios/agricultura-moçambique19 Prata, Ana, “Dicionário Jurídico”

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 84

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

b) Reestruturação financeira, que consiste nas providências tomadas no sentido

de modificar o passivo da sociedade ou capital social, de modo a que o activo

seja superior ao passivo, para assegurar um fundo de maneio positivo.

Homologada a reestruturação financeira, a empresa mantém a mesma

administração, entretanto, estabelece-se uma assembleia de credores que

tomam as seguintes medidas, de modo garantir e a assegurar a recuperação da

empresa:

b.1. Providências em relação ao passivo

Redução do valor do crédito;

Modificação dos prazos de vencimento ou das taxas de juros

Dação em cumprimento com bens da empresa para extinção total ou

parcial dos seus débitos.

b.2. Providência em relação ao activo

No que se refere ao capital social da sociedade, a Assembleia de Credores,

pode ainda assegurar que:

Haja aumento do capital social, recorrendo-se a novas entradas ou por

incorporação de reservas disponíveis, nos termos do art.177º/1 do C.

Com., dando preferência aos sócios, mediante contrato de suprimento,

art. 307º/1, C. Com, que é o contrato mediante o qual um ou mais sócios

emprestam dinheiro ou outra coisa fungível a sociedade, ficando esta

obrigada a restituir outro tanto do mesmo género e qualidade ou mediante

prestações suplementares se estiver previsto no contrato, art.311º/1 C.

Com ;

Redução do capital social para cobertura dos prejuízos, nos termos da

alínea a) do nº1 do art.185º C. Com.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 85

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

c) Acordo de credores, consiste numa actuação global dos credores, com vista a

recuperar a empresa de uma situação deficitária através de uma nova

administração com um regime próprio de fiscalização.20

Os credores podem deliberar para constituição de uma sociedade por quotas,

para administrar a sociedade deficitária, podendo estes representarem total ou

parcialmente os seus créditos, deduzido as responsabilidades subsistentes para

com aqueles credores que não subscreveram. Este acordo só produz efeitos se

for aprovado por maioria dos credores, art. 1167ºCPC.

A nova sociedade fica obrigada no prazo de 3 anos satisfazer os créditos não

subscritos.

Tanto as sociedades comerciais, como as instituições de créditos (bancos), o

Acordo de Credores produz efeitos, independentemente da homologação

judicial, da leitura do art. 1167º CPC e art. 4º do Decreto Lei nº 30689, de 27 de

Agosto de 19940 para os bancos.

2.1. Prazo de reconstituição

No que diz respeito aos estabelecimentos bancários, constituído o acordo de

credores, deverá recuperar no prazo de 90 dias, findos dos quais a Supervisão

Bancária, dará a conhecer ao Ministro das Finanças, propondo que seja retirada

a licença do exercício da actividade bancária, e declara-se falência art.11º ex vi

art.1 parágrafo 1º.

2.2. Legitimidade para requerer a declaração da falência

A declaração da falência, pode ser solicitadas por:

Qualquer credor no prazo de 10 dias previstos no nº1 do art. 1140º CPC

Ministério Público em caso de fuga do comerciante alínea b) do

art.1176CPC;

A requerimento do comerciante ou seus herdeiros art. 1140 CPC

20 Cordeiro, António Menezes,”Manual de Direito Comercial”, pág. 352, 2001

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 86

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Entretanto, a declaração de falência deve ser solicitado no prazo de 2 anos,

contados a partir dos factos previstos no art. 1174º CPC, fim dos quais o direito

prescreve, nos termos do nº1 do art. 1175º do mesmo código.

3. Reestruturação financeira de empresas alienadas pelo Estado moçambicano

Em Moçambique, vigou dois modelos económicos distintos, sendo o primeiro

após a independência, até meados dos da década 80 e o segundo, de 1987 em

diante.

O primeiro modelo caracterizava-se por ser um sistema de economia de

planificação centralizada, orientado para uma ideologia socialista, em que o

Estado era o principal agente económico. O Estado chamava a si toda

actividade económica, para promover igualdade entre os Homens, sem

diferenças de classes sociais. As empresas eram designadas empresa estatais,

lojas do povo e cooperativos do povo.

Com o Programa de Reajustamento Estrutural – PRE, nos meados de 1980, o

Estado moçambicano, passa do Estado centralizado para o neoliberal,

caracterizado pela liberalização do mercado. Tendo para efeito conduzido a

profundas mudanças de um Estado intervencionista para um Estado regulador,

passando a intervir na economia através de políticas económicas, tendo

transferido exercício da actividade económica sobe sua gestão ao sector

privados, por meio de processos de privatização, que consistiu na alienação de

empresas estatais a título oneroso.

O processo de alienação de empresas foi regulado por Decreto nº nº21/89, de

23 de Maio, conjugado com a nova redacção dada pelo Decreto nº10/97, de 6

de Maio. Onde previa, de entre as várias disposições, o prazo máximo de 10

anos para as indústrias e 5 anos para o sector de prestação de serviço e

comércio, para os adjudicatários efectuarem o pagamento da dívida ao Estado,

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 87

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

à taxa de juros de 9,9%, para além dos valores adjudicados terem fixados em

moeda externa (Dólar Americano).

Estas condições contratuais, apesar de terem favorecido o empresariado

nacional, as empresas foram alienadas numa situação económica deficitária,

“equipamentos obsoletos”, o que requeria avultadas somas em dinheiro para

investimento.

O empresariado nacional para além de ter adquirido empresas nessas

condições, não poderia recorrer ao crédito, atendo e considerando que as

instituições de crédito solicitavam como garantia o imóvel, e este ainda era

pertença do Estado.

Assim, as empresas não conseguiram produzir até o limite das suas

capacidades produtivas, consequentemente, não conseguiram cumprir com as

suas obrigações em tempo útil, e aliado ao facto da desvalorização do metical

face ao Dólar, tornou extremamente oneroso para os adjudicatários. A título

exemplificativo aquando da alienação das empresa, o Dólar rondava os 12 mil

Mtn, e hoje esta quase a 30 mil Mtn/USD.

Dadas as dificuldades financeiras com que de debatem as empresas alienadas,

e como forma de estimular o empresariado nacional na recuperação e expansão

dos seus negócios, o Governo moçambicano decidiu modificar a situação do

passivo dos seus credores, e ao abrigo do Decreto nº23/2006, de 10 de Julho,

tomou as seguintes medidas:

Dilatou os prazos anteriormente fixados para pagamento da dívida de 10

para 15 anos;

Reduziu o valor da dívida, passando a considerar totalmente pago o

devedor que, à data da publicação do Decreto, tiver pago 75% do valor da

dívida;

Fixou em meticais os valores da adjudicação.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 88

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

4. Falência e seus efeitos

Não sendo possível a recuperação da sociedade comercial, declara-se

judicialmente a falência, passando a fase de dissolução e liquidação do

património, ou seja apuramento do activo e pagamento das dívidas aos

credores.

4.1 Restrições de ordem pessoal

O falido fica inibido de administrar e dispor dos seus bens havidos ou que

no futuro venha a ter, sendo os seus actos representados por

administrador de falência, nomeado pelo Juiz, salvo no exercício dos seus

direitos exclusivamente pessoais, estranhas à falência, art. 1189º CPC,

bem como de administrar bens do menor art. 1970º do CC.

Por ex. Pode o falido impugnar o direito de uso e habitação, previsto no

art. 1484º e ss, do CC;

É proibido de praticar actos relativos a massa falida. Considera-se massa

falida, o conjunto de bens e direitos pertencentes a esfera patrimonial do

falido21. Sendo neste caso nulos, os negócios jurídicos por ele realizados,

a não ser que sejam homologados pelo administrador, ao abrigo do nº 1 e

2 do art. 1190º do CPC;

Fica proibido de praticar actos de comércio, directamente ou por

interposta pessoa, bem como de exercer as funções de gerente, director

ou administrador de qualquer sociedade, seja civil ou comercial, para

permitir a protecção e credibilidade da vida comercial. A proibição é

extensivo aos administradores22;

Nos casos de sociedade ilimitada, os Administradores, gerentes, devem

manter-se em residência fixa enquanto durar a acção, art. 1192º, nº 1 e 3,

do CPC;

21 Cordeiro, António Menezes, “Manual de Direito Comercial”, Pág. 357, I Vol. 200122 Revista da Ordem dos Advogados, Pág. 648, 1995

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 89

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

O falido é obrigado a apresentar-se pessoalmente ao tribunal, não sendo

possível a representação. O não cumprimento desta disposição, é

qualificado como desobediência, art. 1194ºCPC;

4.2 Direitos do falido

Não obstante o falido ter limitações em exercer alguns actos, a lei atribui-lhe

direitos nomeadamente:

Em caso do falido carecer de meios de subsistência, pode o Juiz, ouvido

o administrador, atribuir-lhe temporariamente um subsídio para a sua

sobrevivência;

Ao falido é lícito adquirir, pelo seu trabalho, meios de subsistência, art.

1189º, nº2 do CPC;

Pode praticar actos por conta de outrem, por meio de contrato de

mandato, na medida em que a falência não implica interdição absoluta,

podendo praticar actos isolados;

Pode o falido praticar actos relativos a massa falida com autorização do

Juiz, e ser por isso remunerado (ajudar a administrar a massa falida).

A titularidade do bens é do falido, concluído o pagamento das dívidas aos

credores, o saldo patrimonial é lhe restituído.23

4.3 Trabalhadores do falido

Após a declaração da falência, os contratos dos trabalhadores não se extingue

automaticamente. No período falimentar, portanto, antes do encerramento

definitivo do estabelecimento, os trabalhadores mantêm os seus direitos, sendo

por isso obrigado o liquidatário judicial a satisfazer integralmente as obrigações

contratuais.24

23 Ascensão, José de Oliveira, “Direito Comercial”, Pág. 197, Vol. I, 199424 Viega, Vasco Soares, “ Direito Bancário”, Pág. 439, 1997

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 90

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4.4 Direitos do credor

Declarado o estado de falência da sociedade, encerra-se os livros da empresa,

procede-se a apreensão dos bens, incluindo os penhorados, para posterior

liquidação, art. 1205º CPC, para constituir a massa falida. No entanto, o falido

não deixa de ter o seu património, considerado o património geral que se

contrapõe a massa falida, como autónomo e separado.

Do património geral, inclui-se os bens impenhoráveis, nomeadamente os

proventos que o falido angariar da remuneração que lhe for atribuída em

consequência do auxílio que presta ao liquidatário judicial, os alimentos que lhe

forem atribuídos e os rendimentos provindos dos cargos sociais autorizado a

exercer.

A massa falida é separada para posterior satisfação dos credores, o qual dar-se-

á preferência aos credores que tenha constituído garantia real com o devedor,

contudo, o seu crédito não será integralmente paga, ficando o saldo incluído na

lista dos credores comuns, sendo estes pagos rateadamente art. 1254º ex vi art.

1255º CPC.

Entretanto, para além dos efeitos substantivo, a que se ter em conta, que a

massa falida tem uma vida institucional, que lhe permite ser o suporte de

negócios que sobre ela validamente de celebram. Para que possa atingir as

próprias finalidades é necessário que sejam celebrados actos e sobre ela

passem a recair novas dívidas. Neste caso, as novas dívidas passam a ter

privilégio relativamente as anteriores, na medida em que se não houvesse essa

garantia, ninguém arriscaria a negociar com o liquidatário.25

25 Revistas da Ordem dos Advogados, Pág. 685, 1995

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 91

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Arbitragem

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

I. Razão de ordem

A arbitragem têm sido recorrida muitas das vezes no que concerne a resolução

de conflitos emergentes às relações internacionais, essencialmente as de

natureza comercial. Por esta via tem se resolvidos vários diferendos neste

campo.

Do universo das razões para o recurso da arbitragem, apontadas por A. Ferrer

Correia elegemos as seguintes por se mostrar as mais importantes:

a) As normas de conflitos dos diferentes ordenamentos jurídicos mostram-se

adversas entre si, por conseguinte se os litígios fossem submetidos a

eles, teriam várias soluções para o mesmo caso, assim se justifica a

arbitragem com vista a busca de uniformidade de casos julgados;

b) Confiar a decisão à individualidades dotadas de habilitações particulares;

c) Da razão acima apontada decorre a neutralidade nas decisões;

d) Maior simplicidade do processo arbitral e maior liberdade para os árbitros

na fixação da lei aplicável ao fundo da causa;

e) Maior confidencialidade e celeridade do processo;

f) Possibilidade de obtenção de uma sentença final e definitiva, através da

cláusula de renúncia aos recursos.

Aqui subjaze as actuais tendências de harmonização das legislações nacionais

em matéria de arbitragem, “provando-se que esta tem vindo a assumir papel

importante no Campo do Direito Internacional Privado26”.

26? BACHIR Mohomed, Temas de Direito, pág. 34

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 93

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

II. Origem da arbitragem

Segundo Visconde Carnaxide27 a origem da arbitragem não é nova. Se no

crescimento das sociedades todas as questões os interessados não conseguiam

resolver de per si remetiam à decisão dos vizinhos, parentes ou amigos comuns.

Este procedimento foi alargando-se e aponta-se a França como o país que

elevou e consagrou a arbitragem tornando-a obrigatória para certas pessoas e

questões.

Na arena internacional, em 1899 durante a Conferência da paz, a Rússia propôs

a arbitragem obrigatória para os litígios derivados das convenções relativas à

protecção da propriedade literária, artística e industrial, bem como às sucessões,

extradição e assistência judiciária.

Já na segunda conferencia, em 1907, os Estados Unidos da América

apresentaram uma proposta da arbitragem obrigatória e mais tarde a Inglaterra

se junto a esta.

Esta assente que na jurisdição internacional refere-se a questões de índole

internacional caracterizadas por elementos de exterioridade que a lei interna de

cada país e as convenções internacionais devem definir, designadamente pelo

critério da diferente residência habitual das partes ou qualquer outro.

III. Convenção de arbitragem seus efeitos e Cláusula compromissória

Em primeiro lugar há que se considerar arbitragem não se tem

desenvolveu, devido à insegurança jurídica que o sistema possa transmitir às

partes, uma vez que, por exemplo, mesmo que o compromisso de arbitragem

contivesse a cláusula "sem recurso" as partes poderiam recorrer ao tribunal

27 Citado por BACHIR Mohmad, ob. citada

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 94

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

superior. Ademais, entendia-se anteriormente que, embora as partes tivessem

acordado de instituírem o juízo arbitral, através da cláusula compromissória, e,

posteriormente, uma parte desistisse de celebrar o compromisso arbitral, geraria

para a outra parte apenas o direito a perdas e danos.

Por intermédio da convenção de arbitragem28, as partes, livres e

voluntariamente, podem resolver suas controvérsias, relativas a direito

patrimonial disponível, submetendo-se ao juízo arbitral.

Consideramos assente que a convenção de arbitragem é a fonte ordinária

do direito processual arbitral, espécie destinada à solução privada dos conflitos

de interesses e que tem por fundamento maior a autonomia da vontade das

partes. Estas, espontaneamente, optam em submeter os litígios existentes ou

que venham a surgir nas relações negociais à decisão de um árbitro, dispondo

da jurisdição estatal comum.

No concernente a autonomia da vontade das partes consideramos o Princípio da

Autonomia da Vontade que é a mola propulsora da arbitragem em todos os seus

quadrantes, desde a faculdade de as partes em um negócio envolvendo direitos

patrimoniais disponíveis disporem quanto a esta via opcional de conflitos29.O

objectivo do princípio da autonomia do pacto arbitral é salvar a cláusula

compromissória, para que, em virtude dela, possa se julgar a validade, ou não,

do contrato arbitrável.

A convenção arbitral tem como efeito a renúncia das partes a iniciar processo

judicial sobre matérias ou controvérsias, sendo que a solicitação de medidas

provisórias feita por um tribunal judicial não é incompatível com a convenção

arbitral.

Relativamente à cláusula compromissória entendemos que é o primeiro acordo

de vontade das partes, substituindo no contrato a clássica cláusula que designa

28 A convenção arbitragem deve ser reduzida a escrito, n.º 1 do aert 10 da Lei n.º 11/92 de 7 de Julho29 n.º 1 do ar. 4 da Lei supra

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 95

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

o Foro Judicial, para que, numa possível e futura controvérsia, o conflito venha a

ser dirimido pelo juízo arbitral. Isto é, as partes ao acordarem sobre a cláusula

compromissória. O artigo 11 da Lei n.º 11/99 de 7 de Julho dispõe que “a

cláusula compromissória goza de autonomia quanto as restantes do contrato em

que estiver inserta e a nulidade deste contrato não implica automaticamente a

nulidade daquela.”.

IV. Conceito da arbitragem comercial

Pela disposição do artigo 52º da Lei da arbitragem, a arbitragem será de

natureza internacional quando põe em jogo interesses de comércio

internacional; este posicionamento, obriga-nos a escalpelizar o conceito:

Arbitragem Comercial Internacional.

Se da definição, o conceito de arbitragem parece-nos pacífica, o termo comercial

já não é, revestindo uma ambiguidade, contudo não pretendemos levantar

qualquer debate dado o escopo do nosso trabalho.

Várias discussões30 tem se levantado sobre a conceitualização da arbitragem,

mas interessa para o nosso estudo a arbitragem internacional que por força do

n.º 1, do artigo 52º, da Lei supracitada entendemos esta haverá quando a

situação ou caso estiverem colocado em jogo dos interesses de comércio

internacional e o contacto com mais de um estado.

Princípios da arbitragem internacional

O n.º 4 do artigo 34º da Lei dispõe que por convenção das partes poderá a

arbitragem poderá subordinar-se aos seguintes princípios:

a) Princípios gerais de Direito

b) Usos e costumes;

c) Regras internacionais de comércio.

30 Ver BACHIR Mohamed, pag. 42, ob. citdada

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 96

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Determinação do direito aplicável

As partes de um contrato do comércio internacional quando não convencionam nada sobre as normas a reger a arbitragem comercial internacional será aplicadas as regras relativas à arbitragem em geral31.

Relativamente a determinação do direito aplicável, este por via de regra é anteriormente estipulado pelas partes. O n.º 1 do artigo 54º dispõe que “o tribunal arbitral decide o litígio de acordo com as regras de Direito escolhidas pelas partes para serem aplicadas ao fundo da causa”.

A par da determinação do direito aplicável, a designação da lei ou sistema jurídico de um determinado país considerado é válido. Contudo, essa designação restringe-se apenas as regras jurídicas materiais desse país e “não as suas regras de conflito das leis32”.

Faltando a designação do direito aplicável, cabe aos os juizes do tribunal “aplica

a lei designada pela regra dos conflitos de leis que julgar aplicável na espécie33”

Com vista a decisão, o tribunal decide de acordo com a equidade ou juízo de

equidade34 ou com base na amiable compositeur para tanto é necessário que as

partes dêem a sua anuência.

A decisão do tribunal35l arbitral decide de acordo com as estipulações do

contrato e terá em conta os usos do comércio aplicáveis à transação.

Nomeação dos árbitros

31 n.º 1 do art, 53 da, Lei n.º 11/99, de 7 de Julho32 n.º 1 do art. 53 in fine, da Lei n.º 11/99, de 7 de Julho33 n.º 2 do artigo 53, da Lei n.º 11/99, de 7 de Julho34 ex aequo et bono35 n.º 4 do, art. 54 da, Lei n.º 11/99 de, 7 de Julho

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 97

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Decorrente da liberdade da vontade, as partes podem determinar livremente o

número de árbitros, quando faltar será em número de três, n.º 1 e 2 do artigo 57º

,da Lei n.º 11/99, de 7 de Julho.

Não havendo acordo para nomeação dos mesmos observar-se-ia o estipulado

nos n.º 2 e 3 da mesma disposição legal.

Ocorrência de acordo entre as partes

Se, durante o decurso da arbitragem36, as partes chegarem a um acordo quanto

ao litígio, poderão elas formalizar tal acordo por um contrato simples, pondo fim

ao procedimento arbitral, ou poderão requerer sua formalização pelo árbitro,

através de uma sentença arbitral que deverá observar os elementos impostos no

artigo 39º da Lei n.º 11/99 de, 7 de Julho.

A vantagem de reconhecer o pactuado através de uma sentença é que este

adquire a força legal de coisa julgada, podendo inclusive ser executado.

Sentença e efeitos

Com os requisitos impostos no artigo 39º, da Lei n.º 11/99, de 7 de Julho, a

sentença proferida37 será enviada a cada uma das partes uma cópia assinada

pelo árbitro ou árbitros designados.

A sentença arbitral por não depender de homologação judicial, esta por si só,

produz "entre as partes e seus sucessores, os mesmos efeitos da sentença

proferida pelos órgãos do Poder Judiciário", constituindo, inclusive, título

executivo, na hipótese desta ser condenatória, conforme dispõe o artigo 43º da

Lei de Arbitragem.

36 n.º 1 do, art. 38 da, Lei n.º 11/99 de, 7 de Julho37 art. 59, Lei n.º 11/99, de 7 de Julho

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 98

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Recursos na arbitragem

A Lei de Arbitragem, em seu artigo 44º determina expressamente que a

sentença apenas admite o recurso de anulação, isto é, não existe um tipo de

recurso apto a reformar o mérito da decisão prolatada pelo árbitro.

 Conforme o acima anunciado, uma vez expedida a sentença arbitral, torna-se a

mesma irrecorrível, fazendo coisa julgada entre as partes quanto à matéria

decidida. Não existe, portanto, um mecanismo legal que possa remeter a

matéria decidida a novo julgamento, e reformar a decisão do árbitro, como

ocorre nas decisões judiciais.

A sentença arbitral só pode ser anulada pelo tribunal judicial verificadas as

provas arroladas na alínea a) do n.º 2 do 44º da Lei n.º 11/99, de 7 de Julho,

com fundamento e prazos estipulados no artigo 45 da lei supracitada.

V. Fontes da arbitragem comercial

Segundo John Gilissen citado por BACHIR, Mohamed são “fontes formais de

direito aqueles instrumentos de elaboração do direito num grupo sócio-político

dado numa dada época”

Finda a I Guerra foram várias as convenções multi-estaduais subscritas:

- Em 1923 foi celebrado o Protocolo de Genebra relativo às cláusulas de

arbitragem

- Em 1927 celebrou-se a Convenção de Genebra para a Execução das

sentenças Arbitrais Estrangeiras, mais conhecida por Convenção de

Genebra, ratificada pela Resolução n.º 22/98 de 2 de Junho.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 99

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

- Convenção Sobre o Reconhecimento e a Execução de Sentenças Arbitrais

Estrangeiras, comumente chamada por Convenção de Nova Yorque, sob

auspícios da ONU, em 10 de Junho de 1958

- A Convenção de Nova Yorque veio a ser completada pela Convenção

Europeia sobre a Arbitragem Comercial Internacional, de 21 de Abril de 1961,

designada por Convenção de Genebra de 1961 e outras se seguiram.

Ao nível do ordenamento moçambicano temos os seguintes instrumentos:

- Lei n.º 11/99, de de 8 de Julho

- Lei n.º 9/2001, de 7 de Julho

Capítulo IVColigação de sociedades e

Consolidação de contas

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 100

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Coligação de Sociedade

I. Conceitualização

Sociedade coligada é a participação de uma ou mais sociedade com o

capital social de 10% de outra ou de outras sociedade sem controlá-la.

Coligação no sentido empresarial e uma agregação ou aliança de

organização que se aliam visando um fim comum.

Regime:

O regime das sociedades coligadas só se aplica as relações entre

sociedades por quotas, anónima e em comandita por acções.

A coligação de sociedades classificam-se em quatro classes de relações:

- Sociedade em relação de simples participação;

- Sociedade em relação de participações recíprocas;

- Sociedade em relação de domínio;

- Sociedade em relação de grupo.

I. Sociedade em relação de simples participação

Uma sociedade esta em relação de simples participação com outra,

quando uma sociedade é sócia de outra e uma delas detêm quotas ou acções

desta que representam 10% ou mais do capital.

II. Sociedade em relação de participações recíprocas

Duas sociedades estão em relação de participação recíproca, quando

qualquer delas detêm quotas ou acções da outra.

III. Sociedade em relação de domínio

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 101

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Considera-se que duas sociedades estão em relação de domínio quando

uma delas, dita dominante, pode exercer sobre outra dita dependente, uma

influência dominante ou indirectamente se:

f) Detêm uma participação maioritária no capital;

g) Dispõe de mais de metade dos votos;

h) Tem a disponibilidade de designar mais de metade dos membros do

órgão de administração ou fiscalização.

- As sociedades dominadas, conservam a sua individualidade jurídica, mas

ficam sob tutela administrativa da sociedade dominante, constituindo em seu

conjunto um grupo económico.

- Os títulos das sociedades dominantes é constituída geralmente por acções

de um reduzido número de sociedades subscritas ou adquiridas com objectivo

de alcançar a maioria dos votos nas Assembleias-gerais das respectivas

empresas, e a obtenção de cargos directivos para que influam na condução dos

negócios sociais de empresas que exerçam actividades idênticas ou conexas;

Ou trata-se de eliminar como concorrente incómoda e transforma-la em sucursal

jurídica independente, isto chama-se concentração; Outras de a aproveitar como

fornecedor complacente ou cliente submisso, isto chama-se integração; Outras

ainda de explorar em certa escala a industria por ela exercida sem nela inverter

todo capital necessário, isto chama-se agregação.

3. Formas de domínio:

O domínio de uma sociedade alcança-se por formas diversas:

a) Quando a empresa-mãe participa directamente no capital da empresa

subsidiária ou empresas subsidiárias. E o domínio directo pode ser simples

ou radial consoante se exerça sobre uma ou várias empresas.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 102

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

b) Quando por sua vez uma empresa subsidiária domina outra empresa

mediante uma participação no seu capital diz-se que a empresa-mãe exerça

um dominio indirecto sobre esta última (simples ou radial).

c) Quando existe uma combinação simultânea de domínio directo e indirecto

de tal forma que a empresa-mãe domina directamente por intermédio desta,

uma empresa associada, trata-se de domínio triangular.

i) Quando as empresas subsidiárias participam no capital da empresa-mãe

estamos perante o domínio recíproco.

j) Quando existe uma série de domínio directos que ligam a empresa-mãe

com uma empresa subsidiária, esta com outra empresa subsidiária e

assim sucessivamente até uma outra empresa subsidiária que participa

no capital da empresa-mãe fechando assim o circulo,trata-se do dominio

circular.

4. Percentagem de participação e de controlo

Nas sociedades em relação de domínio convêm distinguir a percentagem

de participação e de controlo:

Percentagem de participação é a parte do capital detido pela sociedade

mãe directa ou indirectamente, numa sociedade dependente (subsidiária).

Esta serve de base aos cálculos da consolidação de contas.

Percentagem de controlo deriva dos direitos de voto, exprime o elo de

dependência directa ou indirecta entre a sociedade-mãe e uma empresa

subsidiária. Esta é determinante na escolha do método a utilizar na

consolidação das contas.

IV. Sociedade em relação de grupo

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 103

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Grupo de sociedade é a união de sociedade controladora e controladas

ou coligadas, que se obrigam a somar esforços para realizar seus objectivos

ou participar de empreendimentos comuns, sem adquirir personalidade

jurídica nem património próprio.

Os grupos de sociedade podem ser de quatro espécies, que são: domínio

total inicial, domínio total superveniente, grupo paritário e de subordinação.

j) Domínio total inicial, resulta da constituição por uma sociedade anónima

cujas acções aquela é a única titular.

ii) Domínio total superveniente, resulta de uma sociedade passar a deter a

totalidade das participações correspondente ao capital da participada por

esta não ter outro sócio.

iii) Grupo paritário, forma-se quando duas ou mas sociedades entre as quais

não existam relações de domínio, mas que tem uma direcção única.

iv) Grupo de subordinação resulta da celebração entre duas sociedades a

directora e a subordinada, onde a segunda submete-se a gestão social a

direcção da primeira passando a dispor de um poder de direcção da

segunda.

II. Grupos Económicos

1. Noção:

Grupo económico é um conjunto de sociedades que tendo personalidade

jurídica autónoma estão submetidas a um único centro de decisão, formando

uma unidade económica. Estes têm a sua expressão máxima nas chamadas

empresas multinacionais.

O conceito da sociedade em relação de grupo não deve ser confundido

com este conceito de grupo económico, pois, este é mais amplo, abrangendo

as sociedades em relação de domínio.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 104

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

1.1.Classificação dos grupos económicos

A

Grupos – pressupõem uma direcção única, mas podem constituir-se

com uma estrutura vertical ou horizontal podendo incluir um ou vários

grupos.

Subgrupos - são grupos de ordem inferior dentro de grupos de ordem

superior.

Empresas associadas - são aquelas que não fazem parte do grupo,

mas nelas as empresas do grupo exercem uma influência significativa

na gestão política financeira.

Empresas multigrupos - são aquelas que fazem parte de dois ou mais

grupos que as controlam e exploram.

B

Grupos verticais - são constituídos por uma empresa

dominante(empresa-mãe) e todas suas empresas dependentes

colocadas sob direcção única.

C

Grupos horizontais - são constituídos por empresas não vinculadas

como dependentes por relação de domínio, mas que tem direcção única.

III

Consolidação de contas

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 105

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Noção:

Consolidação de contas é um processo contabilístico que permite agregar

as demonstrações financeiras de um conjunto de sociedades ligadas por

interesses comuns (vinculo de dependência) ou sujeitas a um centro de

decisão comum (direcção única), cada uma gozando de personalidade

jurídica própria.

Objectivos da consolidação

As contas consolidadas têm por fim apresentar:

A situação financeira e os resultados daquele conjunto de sociedade

como se fosse uma única entidade.

Constitui uma ferramenta de gestão que permite medir os resultados

do grupo e avalia-los e função de diferentes critérios de rentabilidade;

Ė indispensável para os analistas de investimento, numa época

caracterizada pela tendência para internacionalização do mercado;

Contribui para a normalização de procedimentos no grupo.

Demonstrações Financeiras consolidadas

As contas consolidadas constituem um todo e compreendem:

- O balanço consolidado

- A demonstração de resultados consolidados

- O anexo ao balanço e a demonstração de resultados consolidados.

O objectivo das demonstrações financeiras é que estas devem dar uma

imagem verdadeira da situação financeira e dos resultados do conjunto

de empresas na consolidação.

Métodos de consolidação

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 106

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Os métodos de consolidação são os seguintes, onde a sua aplicação é

em função da natureza e importância das participações:

Método de consolidação - consiste na integração no balanço e na

demonstração dos resultados da empresa consolidante dos elementos do

balanço e das demonstrações dos resultados das empresas consolidadas,

evidenciando os direitos de terceiros38, designado interesses minoritários. Este

método baseia-se no conceito de empresa-mãe, onde as contas consolidadas

do grupo são a exensão das contas da empresa-mãe, a qual sem domínio total

controla todo património das empresas consolidadas.

Método de consolidação proporcional baseia-se no conceito de

proprietário, segundo o qual nas contas consolidadas apenas devem figurar os

elementos do património do proprietário (do grupo). Este método consiste na

integração no balanço e na demonstração dos resultados da empresa

consolidante da parte proporcionalmente lhe corresponder nos elementos do

balanço e das demonstrações de resultados das empresas consolidadas.

Método da equivalência patrimonial, consiste na substituição no balanço

da empresa consolidante do valor contabilístico das partes de capital por ela

detidas pelo valor que proporcionalmente lhe corresponde nos capitais próprios

da empresa participada39.

A consolidação de contas visa substituir no balanço da empresa

consolidante o valor das partes de capital por elas detidas pelo valor que lhe

corresponde no património das empresas consolidadas.

38 O metodo de consolidacao integral tambem se pode basear o conceito de entidade economica,pelo qual se concideram os inteesses dos accionistas miniritarios e maioritarios.39 Conforme 3.1.3do cap.V,da obra de F.V.Gonçalves da Silva e J.M.Esteves Pereira, Contabilidade das Sociedades.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 107

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Capítulo V

Agrupamento Das Empresas

1. Agrupamento de empresas

1.1. Conceito

A questão do agrupamento de empresas é também tratada em doutrina

como coligação de empresas ou união de empresas.

Temos então coligação de empresas como a participação de uma

empresa ou mais sociedades no capital social de uma outra empresa ou outras

sociedades. Portanto, é vedada a possibilidade de uma ligação entre um

indivíduo singular e uma sociedade.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 108

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

Na coligação de sociedades existe a sociedade controladora e a

controlada. A primeira é aquela que detém, sob seu controlo, a titularidade dos

direitos dos sócios, assegurando a preponderância nas decisões da sociedade e

o poder de eleger maior parte dos administradores. As controladas são

subjugadas pelas controladoras. Esta coligação faz então um grupo de

sociedades.

As uniões geralmente têm como objectivo somar esforços para realização

de seu escopo, como empreendimentos sem, contudo, adquirir personalidade

jurídica nem património comuns. Portanto, cada sociedade mantém seu objecto,

sua personalidade jurídica. O vínculo será pelo controlo que caberá à empresa

controladora.

A união de sociedades engloba duas formas:

A forma contratual, em que as sociedades se obrigam por meio de um

acordo ou contrato para fazerem face ao mercado, sem constituírem uma

empresa e sem personalidade jurídica. Não se cria nova sociedade.

Como sociedade, duas ou mais sociedades decidem formar uma nova

sociedade na qual cada sociedade participa com certo capital.

1.2. Modos de uniões de sociedades

Existem três modos de uniões de empresas, nomeadamente o modo

contratual, o modo de união financeira e união pessoal.

1.2.1. União contratual

Neste modo há um acordo que uni as sociedades diferentes. Esta união

pode ser em sentido horizontal como pode ser em sentido vertical.

A horizontal é quando se unem sociedades análogas em concorrência.

Caso exemplar deste modo de união é o da OPEP.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 109

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

A vertical seria quando as sociedades são unidas economicamente nas

diferentes actividades que realizam. É apenas uma aglutinação de natureza

económica ou financeira. No nosso meio podemos ter como exemplo, empresas

que unem se e fazem um grupo, nomeadamente o grupo BIM..

1.2.2. União financeira

Quando há participação financeira de uma sociedade noutras. É enlace

capitalista que visa a concentração de capital. Podemos apontar para este tipo

de união as sociedades Holdings.

Vantagens

Permite o aumento ou diminuição de capital através de participação de

uma empresa noutra.

1.2.3. União pessoal

Este modo verifica-se quando a união incide sobre os membros ou

elementos de duas sociedades, ou seja, os administradores de uma empresa

passam a ser membros de da administração de outra empresa. Uma das

empresas domina a outra através do pessoal.

Cartel ou sindicato

O cartel consiste em duas ou mais empresas interessadas em dominar o

mercado fazerem uma coligação. Assim formam um órgão central ou nova

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 110

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sociedade que emite ordem às empresas unidas. É uma união de modo

contratual que manifesta-se pela concentração de capital.

A par dos acordos de uniões de empresas existem outros que também

não mexem com a personalidade jurídica das sociedades, havendo casos em

que a união se efectua paralelamente ao pacto social. Vamo-nos referir então

aos acordos parassociais.

2. Acordos parassociais

a. Conceito

São convenções celebradas entre os sócios de uma sociedade, pelas

quais estes se obrigam reciprocamente a exercer em determinados termos, os

direitos inerentes às participações sociais.

Os acordos parassociais podem ser celebrados antes ou depois de

constituir-se a sociedade, mas a prática revela que primeiro é criada a sociedade

depois criados os acordos.

É importante deixar presente que estes acordos vigoram à margem do

acordo principal de sociedade, sendo-lhe extrínseco. Os acordos parassociais

interferem na vida da sociedade, na medida em que influenciam o

comportamento dos sócios no exercício dos seua direitos.

Os acordos parassociais têm suas modalidades, nomeadamente o

sindicato de voto / voting trust e sindicato de bloqueio.

APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – ANTONIO CAETANO DE SOUSA 111

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2.2.O sindicato de voto

É o acordo pelo qual os sócios se obrigam entre si a votar de maneira

unânime nas deliberações sociais.

A pretensão pode resultar de uma determinada posição de uma maioria

de sócios agrupados no sindicato. Pode também resultar de um terceiro

mandatado pelos sócios para exercer o direito de votar. Pode ainda ser por

quem é confiado as participações dos sócios para efeitos do acordo.

O objecto do sindicato de voto pode consistir em organizar o controlo da

sociedade, quando reúne-se maior número de voto - sindicato de controlo ou de

comando, e pode também em defender interesses de uma minoria - sindicato de

defesa.

2.3. Sindicato de bloqueio

Neste acordo os outorgantes se obrigam a não alienar as suas

participações sociais sem o consentimento dos restantes, ou lhes é concedido o

direito de preferência quando pretenderem aliená-las.

2.4. Regime jurídico

No ordenamento jurídico moçambicano o regime jurídico dos acordos

parassociais encontra-se previsto no artigo 98º do Código Comercial aprovado

pelo decreto-lei nº 2/2005 de 27 de Dezembro.

Este preceito dispõe que a conduta dos outorgantes deste acordo não

pode ser proibida por lei, ou seja, não podem realizar actos contrários à lei.

Também não podem ser base de constrangimentos para os actos da sociedade

ou dos sócios nas suas actividades. (vide o nº 1 do art.98º C.Com.). Estas

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APONTAMENTOS DE DIREITO EMPRESARIAL – ESEG – CAETANO DE SOUSA / ISAIAS SITOI

posições coincidem com a estabelecida na lei portuguesa, a qual preceitua que

o objecto destes acordos não pode ser proibida por lei e que não podem servir

de impugnação dos actos dos sócios.

O número 3 deste dispositivo estabelece algumas situações de proibições

:

- quando um dos sócios obriga – se a votar sob instruções da sociedade ou de

um dos órgãos;

- quando algum sócio subscritor aprova constantemente as propostas

levantadas pelos órgãos;

- quando um dos sócios votando ou abstendo – se, pretende como contrapartida

vantagens especiais, por outra a venda de voto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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- Código Comercial;

- Código do Processo Civil;

- Código Civil;

- Decreto-Lei nº30 689, de 27 de Agosto de 1940;

- Decreto nº21/89, de 23 de Maio;

- Decreto nº10/97, de 6 de Maio;

- Decreto nº 23/2006, de 10 de Julho

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