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i i Marcos Henrique dos Santos e Wagner dos Santos PERÍCIA EM LOCAIS DE ACIDENTES DE TRÁFEGO CURSO DE ATUALIZAÇÃO EM PERÍCIA DE TRÂNSITO Brasília, maio de 2009

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    Marcos Henrique dos Santos e Wagner dos Santos

    PERCIA EM LOCAIS DE ACIDENTES DE TRFEGO

    CURSO

    DE

    ATUALIZAO

    EM

    PERCIA DE TRNSITO

    Braslia, maio de 2009

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    Marcos Henrique dos Santos e Wagner dos Santos

    PERCIA EM LOCAIS DE ACIDENTES DE TRFEGO

    SUMRIO

    I INTRODUO 1

    II CONCEITOS E DEFINIES 2

    III PRINCIPAIS VESTGIOS 4

    IV PRINCIPAIS TIPOS DE ACIDENTES 14

    V LEGISLAO DE TRNSITO 18

    VI EXAME DE LOCAL 37

    VII CAUSAS DETERMINANTES 53

    IX FUNDAMENTOS PARA O ESTUDO DOS ACIDENTES 65

    X CASOS ESPECIAIS DE ANLISE 92

    XI LAUDO 121

    Referncias bibliogrficas 122

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    I INTRODUO A Criminalstica, de uma maneira geral, est intimamente relacionada

    anlise da ao criminal, com seus pilares fincados no estudo dos elementos materiais encontrados em uma cena de crime ou em objetos relacionados prtica delituosa. No caso dos delitos de trnsito no diferente. O que difere, na maioria das vezes, a motivao por detrs desse tipo de evento. Embora muitos desses delitos sejam vistos como crimes, eles so em sua grande maioria de natureza culposa, ou seja, ocorrem sem a inteno direta do agente. O acidente, alm de causar transtornos aos usurios das vias, implica em prejuzos financeiros elevados, tanto para os envolvidos diretamente, como para o Estado, e, principalmente, quando h vtimas, resulta em danos fsicos e psicolgicos e, no raro, se encaminha para longas batalhas judiciais, onde, via de regra, o Laudo Pericial representa papel de grande importncia.

    O perito deve trabalhar nica e exclusivamente com os vestgios materiais. O produto do trabalho realizado, a PERCIA, resulta em um documento tcnico que fornece no s a causa do acidente, mas tambm as circunstncias relevantes envolvidas sua ocorrncia e, s vezes, s suas conseqncias.

    Diferentemente dos casos de homicdio ou furto, o acidente de trfego geralmente tem autoria conhecida, cabendo ao perito, por meio do levantamento pericial e do estudo dos vestgios observados, identificar as trajetrias dos veculos, calcular as velocidades desenvolvidas por eles antes do embate, determinar o local onde ocorreu a coliso e, assim, estabelecer a dinmica do acidente e oferecer a causa determinante do evento.

    A percia um meio de prova de grande importncia no processo judicial, mas s a anlise dos vestgios produzidos no acidente poder conduzir o Perito ao sucesso na busca dos seus objetivos. Isso significa que um bom trabalho pericial depende, e muito, da observao dos vestgios no Local do Crime ou Delito, ponto de partida de todo o trabalho. , portanto, de fundamental importncia para os trabalhos subseqentes, uma adequada preservao. De acordo com o CPP, preservar significa no alterar o estado das coisas, mantendo-as tal como foram encontradas e no exato local onde se encontram, cuidando para que nada as altere.

    O local de acidente de trfego deve ser preservado convenientemente, a fim de que os vestgios materiais produzidos no sejam alterados e possibilitem

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    avaliar as relaes causais, ou seja, quem de fato deu origem a uma ocorrncia dessa natureza. Para que se possa levar a termo tal anlise, o perito, por meio dos vestgios materiais encontrados no local de acidente,

    buscar reconstituir as movimentaes das

    unidades de trfego nos instantes imediatamente precedentes ao embate entre elas. Uma vez recuperadas as condies cinemticas, poder-se-, luz da legislao de trnsito, avaliar as condutas infratoras, bem como o seu grau de causalidade para o fato.

    Este curso tem como meta capacitar o aluno a realizar os levantamentos de dados em locais, bem como realizar todas as anlises e interpretaes pertinentes aos acidentes de trfego. Para esse mister, o aluno dever, ao final, reconhecer e identificar no local todos os vestgios produzidos nos vrios tipos de acidentes e a importncia deles para a anlise do ocorrido e para a posterior confeco do Laudo Pericial.

    No decorrer das aulas, estudaremos de forma particular alguns dos vestgios mais relevantes para a investigao pericial dos acidentes de trfego, bem como a sua interpretao e tratamento por meio de metodologias adequadas, permitindo elaborar hipteses e formular concluses.

    II CONCEITOS E DEFINIES Os termos aqui utilizados, ainda que no coincidam com o consagrado

    vocabulrio dos dicionaristas, so utilizados por grande parte dos Institutos de Criminalstica.

    TRFEGO: movimento de pedestres, veculos ou animais sobre vias terrestres, considerando-se cada unidade individualmente.

    Local preservado com cones.

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    TRNSITO: movimento ou transporte de veculos, pessoas ou cargas segundo percursos geralmente preestabelecidos, considerados quanto ao conjunto.

    UNIDADES DE TRFEGO: para fins de investigao de acidente de trfego, so considerados unidades de trfego: veculos automotores, de trao animal, de trao ou propulso humana, pedestres, animais de porte (montados, arrebanhados ou soltos).

    VECULO: unidade mvel utilizada para transportar pessoas ou objetos. Pode ser de trao animal, propulso humana, automotor.

    VIA: superfcie por onde transitam veculos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calada, o acostamento, ilha e canteiro central.

    PISTA: parte da via normalmente utilizada para a circulao de veculos, identificada por elementos separadores ou por diferena de nvel em relao s caladas, ilhas ou aos canteiros centrais.

    FAIXA DE TRNSITO: qualquer uma das reas longitudinais em que a pista pode ser subdividida, sinalizada ou no por marcas virias longitudinais, que tenham uma largura suficiente para permitir a circulao de veculos automotores. Devem ser configuradas com largura mnima de 2,5m e mxima de 4,5m.

    ACOSTAMENTO: parte da via diferenciada da pista de rolamento destinada parada ou estacionamento de veculos, em caso de emergncia, e circulao de pedestres e bicicletas, quando no houver local apropriado para esse fim.

    ACIDENTE DE TRFEGO: para fins de levantamento pericial, acidente de trfego qualquer acidente envolvendo um ou mais veculos, um dos quais, pelo menos, deve se encontrar em movimento no momento do acidente, ocorrido sobre

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    via terrestre e do qual resulte morte, ferimentos ou danos propriedade. Os acidentes envolvendo trens so acidentes ferrovirios, exceto

    aqueles ocorridos em passagens de nvel e envolvendo um veculo ou pedestre. Acidentes envolvendo avies sero acidentes de trfego se a aeronave

    estiver parada e uma unidade de trfego em movimento colidir com ele. Incndios e exploses sero considerados acidente de trfego se

    ocorrerem em conseqncia dele. Os acidentes de trfego so investigados para estabelecer a causa que

    lhes deu origem, atravs de critrios objetivos, a fim de que sejam interpretados de modo correto e uniforme para oferecer justia um instrumento que a permita aplicar medidas coercitivas e preventivas.

    III PRINCIPAIS VESTGIOS. Os vestgios encontrados no local devem ser descritos de forma

    detalhada (com suas caractersticas relevantes) e tambm fotografados pelo Perito. Neste tpico, sero apresentadas as principais caractersticas desses vestgios, bem como a forma mais utilizada para o seu registro.

    1. MARCAS PNEUMTICAS esto entre os vestgios mais importantes no local, servindo para a determinao da velocidade e do ponto da coliso. As marcas pneumticas podem ser classificadas de acordo com suas caractersticas, associadas forma de produo. No registro descritivo das marcas pneumticas deve constar: extenso em metros, localizao e referncia de pontos de incio e trmino (em relao a pontos fixos, por exemplo, outra via de um entroncamento) e caractersticas particulares como distores, interrupes, etc.. Podem ser classificadas em:

    A) Frenagem so marcas produzidas por atrito do pneumtico contra a superfcie, resultantes do travamento pelo acionamento dos freios do veculo. Ao ser freado em pavimento de asfalto ou concreto, o veculo produz marcas em geral contnuas e de cor escura, em tons variados de cinza, resultante do processo de fuso

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    da borracha, em conseqncia da elevao de temperatura gerada pelo atrito. Quando produzidas sobre superfcie de asfalto molhado, apresentam-se esbranquiadas. Se a frenagem ocorre em pavimento terra batida, por exemplo, ainda podemos encontrar o escurecimento da superfcie,

    ou simplesmente sulcos no caso de terra fofa. Sobre superfcie de grama, em geral

    podem apresentar escurecimento associado a sulcos e amarfanhamento da vegetao. Geralmente so retilneas e apresentam escurecimento progressivo do incio para o final so marcas inerciais. Quando so observadas, tem como valor investigativo determinar a trajetria e a velocidade do veculo. Esto entre os vestgios mais importantes e de mais fcil observao. Para melhor visualizao de uma marca de frenagem, principalmente em sua regio inicial, necessrio que o perito se abaixe, buscando diferentes ngulos de

    visualizao em face do tipo e intensidade de iluminao presentes quando da realizao dos exames. Os freios com

    sistema ABS tambm produzem marcas, porm mais tnues e geralmente seccionadas e, s vezes, em forma de marcas de frico no pavimento. O sistema ABS um dispositivo utilizado hoje nos freios de alguns automveis1, o qual foi projetado para evitar o travamento total das rodas no processo de frenagem, garantindo dirigibilidade do veculo mesmo em condies adversas como em pistas molhadas.

    1 Os sistemas de freios ABS (Anti-lock Brakes System) que hoje j so oferecidos como equipamentos de srie para veculos

    mais luxuosos (em geral como opcionais ainda relativamente caros para os carros mais acessveis), foi originalmente desenvolvido para conferir maior segurana para aeronaves durante o pouso.

    Marcas de frenagem, com distores.

    Marcas de frenagem.

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    1,2m

    9,2m

    1,8m

    18,8m

    B) Derrapagem so produzidas pelos pneumticos sem o travamento total, ou seja, continuam em movimento rotativo em curvas ou em movimento curvilneo, com deslocamento divergente da orientao indicada pelo eixo longitudinal do veculo. Ao derrapar

    ou girar, os veculos produzem na superfcie de rolamento marcas de forma curvilnea e hachuradas (com listras oblquas ou perpendiculares ao eixo tangente curva definida pelas marcas) devido composio dos movimentos de giro do pneumtico e de deslocamento lateral. Da mesma forma que as marcas de frenagem, tambm permitem a determinao de trajetrias e de velocidades.

    Amarrao de marcas de frenagem.

    Marcas de derrapagem.

    Marcas de derrapagem com cruzamento de rodas indicando a rotao do veculo.

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    De acordo com o sentido das hachuras, poderemos tambm determinar se essas marcas foram produzidas em acelerao, em desacelerao, ou ainda neutras, conforme ilustram as figuras abaixo.

    1,2m

    8,6m 20,0m

    2,1m1 2

    34

    5 6 7

    8

    As marcas de derrapagem podem ser tambm coletadas utilizando-se o raio de curvatura, conforme se discutir mais adiante.

    C) Marcas de Acelerao so marcas muito semelhantes s marcas de frenagem, entretanto, com caractersticas diferentes em suas regies iniciais. Pela aplicao de grande quantidade de torque nas rodas motrizes, em geral so observadas distores no comeo e clareamento progressivo, ou seja, so mais escuras no incio.

    Amarrao de marcas de derrapagem.

    Frenagem ou Acelerao. Derrapagem em Acelerao.

    Derrapagem em Desacelerao. Derrapagem Neutra ou Livre.

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    2. IMPRESSES DE ROLAMENTO so produzidas pelo rolamento dos pneumticos sobre a superfcie da pista; podem ser produzidas por impresso (superfcie mole), por depsito (transporte de material pelos pneus) e por desenho (leo, sangue ou outra substncia mais ou menos aderente). Seu principal valor investigativo est na determinao de trajetrias ou na identificao de determinado pneumtico ou mesmo do veculo. Para fim de registro descritivo, deve-se utilizar o mesmo procedimento adotado para as marcas pneumticas.

    3. MARCAS DE FRICO so produzidas quando partes da estrutura de um veculo deslizam contra a superfcie, sem retirada de material da superfcie. Em geral apresentam-se acompanhadas de aderncia de material do revestimento da superfcie (pintura ou borracha) ou de marcas de sulcagem. Estas marcas tambm podem ser utilizadas para o clculo de velocidades dos veculos, desde que conhecidos os coeficientes de atrito entre a parte do veculo que as produziu e a superfcie-suporte em que se formaram.

    4. MARCAS DE SULCAGENS so produzidas quando partes da estrutura de um veculo atingem a superfcie da pista de forma violenta.

    So vestgios muito comuns em colises frontais entre veculos (abaixamento da estrutura), definindo o ponto de coliso (PC), em colises envolvendo motocicletas e bicicletas (tombamento ou capotamento). Podem tambm ocorrer quando da passagem do veculo sobre regies mais elevadas do pavimento, como lombadas, meios-fios ou outras salincias ou desnveis, ou, ainda, em capotamentos. Nessas circunstncias, com base no princpio da correspondncia de caractersticas, podem definir pontos da trajetria descrita pelo veculo. Essas

    marcas devem tambm ter sua extenso e posies de incio e trmino registradas, da maneira j descrita.

    Marcas de sulcagens.

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    5. FRAGMENTOS os acidentes envolvendo veculos geralmente provocam deformao em suas estruturas, com desprendimento de fragmentos, assim como o quebramento de peas, vidros, plsticos ou fibra.

    Os fragmentos desprendidos dos veculos so importantes para a determinao do ponto em que ocorreu a coliso, identificao do veculo (nos casos de veculo evasor), avaliao de velocidades, etc. Os mais frequentemente encontrados so os de vidro (pra-brisa, faris, vidros em geral), plstico (sinaleiras, conjuntos pticos, grades frontais, capas de pra-choques,

    calotas, etc.), camada de pintura (com ou sem massa plstica), fragmentos de retrovisores e at de partes da carroceria dos veculos. Esses vestgios tambm auxiliam na determinao de trajetrias, do ponto de coliso e no estabelecimento da dinmica do acidente. Os fragmentos podem auxiliar tambm na identificao do veculo nos casos de veculo evasor, podendo justapor-se na regio avariada de um veculo suspeito. Para fins do levantamento descritivo, aqueles de importncia particular devem ser amarrados por meio de sistema de coordenadas, utilizando-se duas coordenadas para os de menor dimenso e as medidas de referncia para uma rea de disperso (formato triangular, de crculo, retangular, etc.).

    3,1

    6,6m1 9,7m

    3,4

    2,1

    Amarrao de rea de disperso de fragmentos.

    Fragmentos resultantes de coliso.

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    6. MARCAS DE FRICO DE CORPO FLCIDO marcas de frico (de deslizamento ou de arrastamento) de corpo flcido so produzidas geralmente aps o choque entre veculo e pedestre e a conseqente queda dele com deslizamento ou arrastamento sobre a superfcie da pista.

    Essas marcas tm a aparncia de alimpaduras esbranquiadas quando produzidas sobre superfcie asfltica. Podem tambm estar associadas presena de sangue e tecidos. Nesse caso, tm grande importncia no s para a determinao de trajetrias posteriores ao impacto, mas tambm para a coleta de material biolgico, quando necessrio. Exemplo:

    ocorrncias com veculos evasores do local. Para registro, utiliza-se o mesmo procedimento previsto para as marcas pneumticas.

    7. GOTCULAS DE SANGUE no embate entre veculo e pedestre, ciclista ou motociclista, s vezes, o ferimento na vtima produz o espargimento de sangue que, ao cair, forma gotas ou gotculas na superfcie da pista. Essas, por sua vez, trazem caractersticas importantes para auxiliar na determinao do ponto onde houve o atropelamento ou coliso, e tambm e principalmente em que direo foram produzidas, tornando-se importantes para a reconstruo da movimentao das unidades de trfego. Para registro, utiliza-se o mesmo procedimento previsto para os fragmentos.

    8. CONCENTRAES DE SANGUE as vtimas de acidentes, feridas, ao imobilizar-se sobre a superfcie asfltica, produzem concentraes de sangue. So vestgios que auxiliam na identificao do ponto onde a vtima permaneceu cada e na sua identificao (tipo sangneo e DNA), podendo servir, ainda, para

    Marcas de deslizamento de corpo flcido.

    Concentrao de sangue.

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    a identificao de veculo que tenha se evadido do local.

    A presena dessas concentraes indica, em geral, a posio em que o corpo se imobilizou. Para registro, assinalamos seu formato aproximado, a posio em que se encontra, bem como as dimenses principais de extenso e largura.

    9. CROSTAS normalmente, quando de uma coliso, desprendem-se do veculo crostas de terra que se acumulam nas regies inferiores do veculo ou de ferrugem que se desenvolvem nas partes metlicas (veculos mais velhos). So importantes na determinao de pontos de coliso ou de trajetrias dos veculos. Para registro, utiliza-se o mesmo procedimento empregado para os fragmentos.

    10. FLUIDOS medida que as colises so mais graves, comum, devido ao impacto, haver vazamentos de leos do motor, da direo hidrulica, da transmisso automtica, de gua do radiador e de fluido de freio. A localizao desses vestgios pode ser relevante para as investigaes, por exemplo, para a determinao de um ponto ou rea de coliso.

    11. POSIES DE REPOUSO FINAL as posies finais que os veculos assumem aps um acidente, so denominadas posies de repouso, sendo elas tambm importantes para o estabelecimento da dinmica do acidente e a determinao das velocidades com que os veculos trafegavam. Comparadas com o ponto de coliso, definem as movimentaes residuais dos veculos na fase ps-coliso. So tambm muito importantes para o estudo das velocidades das unidades de trfego. Para registro da PRF de um veculo, utilizam-se

    Crostas de terra.

    Derramamento de fluidos.

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    trs coordenadas em sistema cartesiano, amarrando um dos ngulos do com duas coordenadas e mais um com apenas uma, conforme ilustra o diagrama apresentado adiante. Nem sempre a posio do veculo encontrada pela equipe pericial a de repouso. Cabe ao Perito ter essa percepo atravs do quadro de vestgios. Quando os veculos so retirados do local, comum acreditar que o local est desfeito, utilizando-se de termos como inidneos, mas a realizao da percia depende do quadro global do local. A presena de vestgios como marcas pneumticas, frices, sulcagens e projeo de fragmentos pode permitir que o local seja periciado com boas chances de obteno de xito.

    12. AVARIAS as avarias observadas nos veculos envolvidos em acidentes so o resultado das deformaes produzidas pelo contato de suas estruturas. A descrio de avarias envolve primeiramente a determinao da sede de impacto.

    PA parte anterior (D, M, E); PP parte posterior (D, M, E); LD lateral (A, M. P) direita; LE lateral (A, M, P) esquerda. A ngulo (A, P) (D,E)

    D direita; E esquerda; M mdia; A anterior; P posterior.

    Amarrao de objeto e de veculo.

    APEAAE

    AAD APDLAD LMD LPD

    LAE LME LPE

    PAMPAE

    PAD PPD

    PPEPPM

    Sedes de impactos.

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    A sede de impacto representa na verdade o ponto (ou regio) inicial do impacto na estrutura do veculo. Para melhor definio da sede de impacto, devemos nos orientar sempre pela direo de aplicao da fora de impacto gerada na coliso. Assim, por exemplo, podemos ter na mesma regio anterior direita, trs possveis sedes de impacto: PAD, AAD e LAD. O que nos orienta para a escolha da sede correta a linha de ao da fora. Aps a identificao da sede, faz-se a descrio das avarias propriamente ditas. Tipos principais de avarias: amassamento, quebramento, ruptura, empenamento, deformao, etc. Tratamos como amassamentos as avarias ocorridas em partes metlicas dcteis, sujeitas deformao permanente sem processo de ruptura, como as peas de lataria. Os quebramentos, por sua vez, ocorrem nas peas sujeitas fratura frgil, ou seja, sem deformao plstica como as peas metlicas de ferro fundido ou as peas de plstico rgido. Os

    termos ruptura e deformao so mais utilizados para o caso de peas no metlicas, como pneumticos e capas de pra-choque. No exemplo ao lado, temos: amassamento dos pra-lamas, do cap, do pra-choque e do pra-choque de impulso (quebra-mato); quebramento da grade, da capa do pra-choque, dos faris, dos faris auxiliares e das lanternas sinaleiras (setas).

    Avarias na parte anterior.

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    IV PRINICIPAIS TIPOS DE ACIDENTES

    Neste tpico, alm de definir os tipos de locais de acidentes de trfego, discutiremos o valor investigativo dos vestgios encontrados, detalhando algumas particularidades encontradas nesses locais, bem como recomendaes especficas.

    IV.1 COLISO Coliso a denominao empregada para o embate entre veculos,

    entre veculos e obstculos fixos ou entre veculos e corpos rgidos no fixos. Assim teremos coliso entre veculos, coliso de veculo com obstculo fixo e coliso

    com corpo rgido (no fixo). A coliso de veculo com obstculo fixo denominada choque na classificao da ABNT. No IC DF, utilizamos mais a primeira terminologia, por maior preciso do termo (choque termo mais comum quando falamos de eletricidade). As colises de veculos com obstculos fixos caracterizam-se pelo choque de

    veculo com anteparos situados fora da pista, tais como postes, rvores, muros, paredes, grades, guarda-corpo de pontes, etc., enquanto as colises com corpos rgidos no fixos, correspondem a embates com containeres de lixo, lixeiras, material depositado no leito da via ou na margem dela, dentre outros.

    Nas colises entre veculos, os vestgios podem variar de acordo com a intensidade da coliso. Em geral, so mais comuns:

    1. marcas de frenagem, de derrapagem e de acelerao; 2. impresses de rolamento; 3. marcas de frices e sulcagens; 4. fragmentos diversos; 5. crostas; 6. posies de repouso final.

    Coliso entre veculos.

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    Em alguns locais pode ocorrer ausncia de marcas pneumticas, que so, conforme mencionado anteriormente, os vestgios mais freqentes para a determinao da velocidade. Nesses casos, a distncia de projeo dos fragmentos

    do veculo que colidiu, a altura que o fragmento se encontrava antes de se desprender e a intensidade das suas avarias que permitiro a avaliao da velocidade com que trafegava, assumindo grande importncia, neste caso a preservao da localizao dos vestgios, com ateno especial para a sua origem (farol, lanterna,

    pra-brisa, retrovisor, etc.).

    IV.2 ATROPELAMENTO. Atropelamento a denominao do embate entre veculo e

    semoventes (pedestres e animais). Assim, teremos atropelamento de pedestre ou atropelamento de animal. No raro encontrarmos o emprego errneo do termo para as colises envolvendo veculos e bicicletas, ciclomotores ou motocicletas, que so, ao contrrio do que algumas pessoas acreditam, colises entre veculos e no atropelamentos.

    Dentre os locais de acidentes de trfego pode-se afirmar que os atropelamentos so os que exigem maior cuidado na preservao, pois caracterizam-se pela produo de vestgios de pequenas dimenses e em pequenas quantidades, os quais devem ser preservados para a devida apreciao

    Coliso com obstculo fixo poste de concreto.

    Atropelamento de pedestre.

    Atropelamento de animal.

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    quando do levantamento pericial. Dentre eles, podem ser citados: 1. marcas de frenagem; 2. fragmentos de vidros, de plsticos e crostas (pelcula) de

    pintura os primeiros fragmentos de vidro, de plstico ou crostas de pintura cados, considerando o sentido de deslocamento do veculo, geralmente so menores e tambm os mais importantes para a determinao do local da pista onde ocorreu o atropelamento. Tambm para a observao desses pequenos fragmentos de vidro, em geral necessrio que o perito busque uma posio de ngulo mais favorvel para a visualizao, em geral contra a luz (quase sempre agachado deve-se ter a ateno redobrada para evitar risco de ser atropelado em local mal preservado).

    3. gotculas de sangue; 4. concentraes de sangue; 5. marcas de deslizamento (ou de arrastamento) de corpo

    flcido.

    IV.3 CAPOTAMENTO. Capotamento o acidente no qual o veculo experimenta um semigiro

    ou giro(s) completo(s), seja em torno do seu eixo transversal-horizontal, seja em torno do seu eixo longitudinal-horizontal. Nesse tipo de caso, o veculo tem sua posio invertida, com a parte superior (capota) tocando o pavimento. O veculo pode ser encontrado desvirado para socorro de vtimas.

    Veculo envolvido em capotamento.

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    IV.4 TOMBAMENTO. Tombamento, por sua vez, o acidente no qual o veculo tambm

    experimenta um semigiro, mas de apenas cerca de noventa graus em torno do seu eixo longitudinal-horizontal. Assim, o veculo tem apenas uma de suas laterais em contato com o pavimento. Tambm aqui, o veculo pode ser encontrado desvirado para o socorro de vtimas.

    IV.5 SADA DE PISTA. Ocorre nos casos em que o veculo sai da pista sem, contudo, colidir

    com obstculos exceo dos meios-fios.

    IV.6 OUTROS.

    Demais tipos de acidentes no relacionados nos itens anteriores.

    Veculo envolvido em tombamento.

    Veculo na margem da pista aps sair dela.

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    V LEGISLAO DE TRNSITO. A primeira legislao de trnsito de abrangncia nacional foi o Cdigo

    Nacional de Trnsito do Brasil, de 1941. Em 1966, foi editado o Cdigo Nacional de Trnsito, regulamentado em 1968, com vigncia at o incio de 1998, quando foi sancionado o atual Cdigo de Trnsito Brasileiro (Lei N. 9.503, de 23 de Setembro de 1997).

    A legislao de trnsito, tanto a nacional, quanto a internacional, trata das regras gerais de circulao, da sinalizao das vias pblicas, das condies necessrias para que um veculo possa transitar e, especialmente, das exigncias relacionadas ao condutor, prevendo de um lado, tudo que necessrio para a sua habilitao e, de outro, os deveres a que est sujeito, o que lhe proibido fazer, atribuindo penalidades pelo no cumprimento de qualquer preceito.

    Alm do Cdigo de Trnsito Brasileiro, o Decreto N. 86.714, de 10 de dezembro de 1981, promulga a Conveno sobre Trnsito Virio, firmado entre a Repblica Federativa do Brasil e outros pases, em Viena, em 8 de novembro de 1968.

    O estudo dos delitos de trnsito para as finalidades da percia deve estar embasado no exame dos vestgios coletados no local, em face da legislao de trnsito, pois, o que se busca verificar quem detinha a prioridade antes da ocorrncia do acidente.

    A seguir trechos de interesse para a percia, extrados do Cdigo de Trnsito Brasileiro.

    1 Classificao das vias quanto ao seu uso: Art. 60. As vias abertas circulao, de acordo com sua utilizao,

    classificam-se em: I - vias urbanas: a) via de trnsito rpido; b) via arterial; c) via coletora; d) via local; II - vias rurais:

    a) rodovias;

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    b) estradas. Art. 61. A velocidade mxima permitida para a via ser indicada por

    meio de sinalizao, obedecidas suas caractersticas tcnicas e as condies de trnsito.

    1 Onde no existir sinalizao regulamentadora, a velocidade mxima ser de:

    I - nas vias urbanas: a) oitenta quilmetros por hora, nas vias de trnsito rpido: b) sessenta quilmetros por hora, nas vias arteriais; c) quarenta quilmetros por hora, nas vias coletoras; d) trinta quilmetros por hora, nas vias locais; II - nas vias rurais:

    a) nas rodovias: 1) cento e dez quilmetros por hora para automveis, camionetas e

    motocicletas; 2) noventa quilmetros por hora, para nibus e micronibus; 3) oitenta quilmetros por hora, para os demais veculos; b) nas estradas, sessenta quilmetros por hora. 2 O rgo ou entidade de trnsito ou rodovirio com circunscrio

    sobre a via poder regulamentar, por meio de sinalizao, velocidades superiores ou inferiores quelas estabelecidas no pargrafo anterior.

    Art. 62. A velocidade mnima no poder ser inferior metade da velocidade mxima estabelecida, respeitadas as condies operacionais de trnsito e da via.

    Esta classificao deve orientar o Perito para que uma via qualquer, no sinalizada (placas de velocidade), tenha efetivamente sua velocidade mxima estabelecida para efeitos de aplicao correta da causa determinante.

    2 Regras Gerais de circulao: As regras gerais a que esto sujeitos todos os condutores de veculos

    automotores, ciclistas e pedestres esto contidas nos artigos do Cdigo a seguir elencados.

    Art. 26. Os usurios das vias terrestres devem:

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    I - abster-se de todo ato que possa constituir perigo ou obstculo para o trnsito de veculos, de pessoas ou de animais, ou ainda causar danos a propriedades pblicas ou privadas;

    II - abster-se de obstruir o trnsito ou torn-lo perigoso, atirando, depositando ou abandonando na via objetos ou substncias, ou nela criando qualquer outro obstculo.

    Art. 28. O condutor dever, a todo momento, ter domnio de seu veculo, dirigindo-o com ateno e cuidados indispensveis segurana do trnsito.

    Art. 29. O trnsito de veculos nas vias terrestres abertas circulao obedecer s seguintes normas:

    I - a circulao far-se- pelo lado direito da via, admitindo-se as excees devidamente sinalizadas;

    II - o condutor dever guardar distncia de segurana lateral e frontal entre o seu e os demais veculos, bem como em relao ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade e as condies do local, da circulao, do veculo e as condies climticas;

    III - quando veculos, transitando por fluxos que se cruzem, se aproximarem de local no sinalizado, ter preferncia de passagem:

    a) no caso de apenas um fluxo ser proveniente de rodovia, aquele que estiver circulando por ela;

    b) no caso de rotatria, aquele que estiver circulando por ela; c) nos demais casos, o que vier pela direita do condutor; IV - quando uma pista de rolamento comportar vrias faixas de

    circulao no mesmo sentido, so as da direita destinadas ao deslocamento dos veculos mais lentos e de maior porte, quando no houver faixa especial a eles destinada, e as da esquerda, destinadas ultrapassagem e ao deslocamento dos veculos de maior velocidade;

    V - o trnsito de veculos sobre passeios, caladas e nos acostamentos, s poder ocorrer para que se adentre ou se saia dos imveis ou reas especiais de estacionamento;

    VI - os veculos precedidos de batedores tero prioridade de passagem, respeitadas as demais normas de circulao;

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    VII - os veculos destinados a socorro de incndio e salvamento, os de polcia, os de fiscalizao e operao de trnsito e as ambulncias, alm de prioridade de trnsito, gozam de livre circulao, estacionamento e parada, quando em servio de urgncia e devidamente identificados por dispositivos regulamentares de alarme sonoro e iluminao vermelha intermitente, observadas as seguintes disposies:

    a) quando os dispositivos estiverem acionados, indicando a proximidade dos veculos, todos os condutores devero deixar livre a passagem pela faixa da esquerda, indo para a direita da via e parando, se necessrio;

    b) os pedestres, ao ouvir o alarme sonoro, devero aguardar no passeio, s atravessando a via quando o veculo j tiver passado pelo local;

    c) o uso de dispositivos de alarme sonoro e de iluminao vermelha intermitente s poder ocorrer quando da efetiva prestao de servio de urgncia;

    d) a prioridade de passagem na via e no cruzamento dever se dar com velocidade reduzida e com os devidos cuidados de segurana, obedecidas as demais normas deste Cdigo;

    VIII - os veculos prestadores de servios de utilidade pblica, quando em atendimento na via, gozam de livre parada e estacionamento no local da prestao de servio, desde que devidamente sinalizados, devendo estar identificados na forma estabelecida pelo CONTRAN;

    IX - a ultrapassagem de outro veculo em movimento dever ser feita pela esquerda, obedecida a sinalizao regulamentar e as demais normas estabelecidas neste Cdigo, exceto quando o veculo a ser ultrapassado estiver sinalizando o propsito de entrar esquerda;

    X - todo condutor dever, antes de efetuar uma ultrapassagem, certificar-se de que:

    a) nenhum condutor que venha atrs haja comeado uma manobra para ultrapass-lo;

    b) quem o precede na mesma faixa de trnsito no haja indicado o propsito de ultrapassar um terceiro;

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    c) a faixa de trnsito que vai tomar esteja livre numa extenso suficiente para que sua manobra no ponha em perigo ou obstrua o trnsito que venha em sentido contrrio;

    XI - todo condutor ao efetuar a ultrapassagem dever: a) indicar com antecedncia a manobra pretendida, acionando a luz

    indicadora de direo do veculo ou por meio de gesto convencional de brao; b) afastar-se do usurio ou usurios aos quais ultrapassa, de tal forma

    que deixe livre uma distncia lateral de segurana; c) retomar, aps a efetivao da manobra, a faixa de trnsito de

    origem, acionando a luz indicadora de direo do veculo ou fazendo gesto convencional de brao, adotando os cuidados necessrios para no pr em perigo ou obstruir o trnsito dos veculos que ultrapassou;

    XII - os veculos que se deslocam sobre trilhos tero preferncia de passagem sobre os demais, respeitadas as normas de circulao.

    1 As normas de ultrapassagem previstas nas alneas a e b do inciso X e a e b do inciso XI aplicam-se transposio de faixas, que pode ser realizada tanto pela faixa da esquerda como pela da direita.

    2 Respeitadas as normas de circulao e conduta estabelecidas neste artigo, em ordem decrescente, os veculos de maior porte sero sempre responsveis pela segurana dos menores, os motorizados pelos no motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres.

    Art. 32. O condutor no poder ultrapassar veculos em vias com duplo sentido de direo e pista nica, nos trechos em curvas e em aclives sem visibilidade suficiente, nas passagens de nvel, nas pontes e viadutos e nas travessias de pedestres, exceto quando houver sinalizao permitindo a ultrapassagem.

    Art. 33. Nas intersees e suas proximidades, o condutor no poder efetuar ultrapassagem.

    Art. 34. O condutor que queira executar uma manobra dever certificar-se de que pode execut-la sem perigo para os demais usurios da via que o seguem, precedem ou vo cruzar com ele, considerando sua posio, sua direo e sua velocidade.

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    Art. 36. O condutor que for ingressar numa via, procedente de um lote lindeiro a essa via, dever dar preferncia aos veculos e pedestres que por ela estejam transitando.

    Art. 38. Pargrafo nico. Durante a manobra de mudana de direo, o condutor dever ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos veculos que transitem em sentido contrrio pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de preferncia de passagem.

    Art. 43. Ao regular a velocidade, o condutor dever observar constantemente as condies fsicas da via, do veculo e da carga, as condies meteorolgicas e a intensidade do trnsito, obedecendo aos limites mximos de velocidade estabelecidos para a via, alm de:

    I - no obstruir a marcha normal dos demais veculos em circulao sem causa justificada, transitando a uma velocidade anormalmente reduzida;

    Art. 44. Ao aproximar-se de qualquer tipo de cruzamento, o condutor do veculo deve demonstrar prudncia especial, transitando em velocidade moderada, de forma que possa deter seu veculo com segurana para dar passagem a pedestre e a veculos que tenham o direito de preferncia.

    Art. 49. O condutor e os passageiros no devero abrir a porta do veculo, deix-la aberta ou descer do veculo sem antes se certificarem de que isso no constitui perigo para eles e para outros usurios da via.

    Art. 52. Os veculos de trao animal sero conduzidos pela direita da pista, junto guia da calada (meio-fio) ou acostamento, sempre que no houver faixa especial a eles destinada, devendo seus condutores obedecer, no que couber, s normas de circulao previstas neste Cdigo e s que vierem a ser fixadas pelo rgo ou entidade com circunscrio sobre a via.

    Art. 57. Os ciclomotores devem ser conduzidos pela direita da pista de rolamento, preferencialmente no centro da faixa mais direita ou no bordo direito da pista sempre que no houver acostamento ou faixa prpria a eles destinada, proibida a sua circulao nas vias de trnsito rpido e sobre as caladas das vias urbanas.

    Pargrafo nico. Quando uma via comportar duas ou mais faixas de trnsito e a da direita for destinada ao uso exclusivo de outro tipo de veculo, os ciclomotores devero circular pela faixa adjacente da direita.

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    Art. 58. Nas vias urbanas e nas rurais de pista dupla, a circulao de bicicletas dever ocorrer, quando no houver ciclovia, ciclofaixa, ou acostamento, ou quando no for possvel a utilizao destes, nos bordos da pista de rolamento, no mesmo sentido de circulao regulamentado para a via, com preferncia sobre os veculos automotores.

    3 Pedestres e condutores de veculos no motorizados. Art. 68. assegurada ao pedestre a utilizao dos passeios ou

    passagens apropriadas das vias urbanas e dos acostamentos das vias rurais para circulao, podendo a autoridade competente permitir a utilizao de parte da calada para outros fins, desde que no seja prejudicial ao fluxo de pedestres.

    1 O ciclista desmontado empurrando a bicicleta equipara-se ao pedestre em direitos e deveres.

    2 Nas reas urbanas, quando no houver passeios ou quando no for possvel a utilizao destes, a circulao de pedestres na pista de rolamento ser feita com prioridade sobre os veculos, pelos bordos da pista, em fila nica, exceto em locais proibidos pela sinalizao e nas situaes em que a segurana ficar comprometida.

    3 Nas vias rurais, quando no houver acostamento ou quando no for possvel a utilizao dele, a circulao de pedestres, na pista de rolamento, ser feita com prioridade sobre os veculos, pelos bordos da pista, em fila nica, em sentido contrrio ao deslocamento de veculos, exceto em locais proibidos pela sinalizao e nas situaes em que a segurana ficar comprometida.

    5 Nos trechos urbanos de vias rurais e nas obras de arte a serem construdas, dever ser previsto passeio destinado circulao dos pedestres, que no devero, nessas condies, usar o acostamento.

    6 Onde houver obstruo da calada ou da passagem para pedestres, o rgo ou entidade com circunscrio sobre a via dever assegurar a devida sinalizao e proteo para circulao de pedestres.

    Art. 69. Para cruzar a pista de rolamento o pedestre tomar precaues de segurana, levando em conta, principalmente, a visibilidade, a

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    distncia e a velocidade dos veculos, utilizando sempre as faixas ou passagens a ele destinadas sempre que estas existirem numa distncia de at cinqenta metros dele, observadas as seguintes disposies:

    I - onde no houver faixa ou passagem, o cruzamento da via dever ser feito em sentido perpendicular ao de seu eixo;

    II - para atravessar uma passagem sinalizada para pedestres ou delimitada por marcas sobre a pista:

    a) onde houver foco de pedestres, obedecer s indicaes das luzes; b) onde no houver foco de pedestres, aguardar que o semforo ou o

    agente de trnsito interrompa o fluxo de veculos; III - nas intersees e em suas proximidades, onde no existam faixas

    de travessia, os pedestres devem atravessar a via na continuao da calada, observadas as seguintes normas:

    a) no devero adentrar na pista sem antes se certificar de que podem faz-lo sem obstruir o trnsito de veculos;

    b) uma vez iniciada a travessia de uma pista, os pedestres no devero aumentar o seu percurso, demorar-se ou parar sobre ela sem necessidade.

    Art. 70. Os pedestres que estiverem atravessando a via sobre as faixas delimitadas para esse fim tero prioridade de passagem, exceto nos locais com sinalizao semafrica, onde devero ser respeitadas as disposies deste Cdigo.

    Pargrafo nico. Nos locais em que houver sinalizao semafrica de controle de passagem ser dada preferncia aos pedestres que no tenham concludo a travessia, mesmo em caso de mudana do semforo liberando a passagem dos veculos.

    Art. 71. O rgo ou entidade com circunscrio sobre a via manter, obrigatoriamente, as faixas e passagens de pedestres em boas condies de visibilidade, higiene, segurana e sinalizao.

    4 Sinalizao de trnsito. Art. 87. Os sinais de trnsito classificam-se em: I - verticais;

    II - horizontais; III - dispositivos de sinalizao auxiliar;

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    IV - luminosos; V - sonoros;

    VI - gestos do agente de trnsito e do condutor. Art. 88. Nenhuma via pavimentada poder ser entregue aps sua

    construo, ou reaberta ao trnsito aps a realizao de obras ou de manuteno, enquanto no estiver devidamente sinalizada, vertical e horizontalmente, de forma a garantir as condies adequadas de segurana na circulao.

    Pargrafo nico. Nas vias ou trechos de vias em obras dever ser afixada sinalizao especfica e adequada.

    Art. 90. No sero aplicadas as sanes previstas neste Cdigo por inobservncia sinalizao quando esta for insuficiente ou incorreta.

    1 O rgo ou entidade de trnsito com circunscrio sobre a via responsvel pela implantao da sinalizao, respondendo pela sua falta, insuficincia ou incorreta colocao.

    5 infraes. Art. 165. Dirigir sob a influncia de lcool ou de qualquer substncia

    entorpecente ou que determine dependncia fsica ou psquica. Infrao - gravssima; Penalidade - multa (dez vezes) e suspenso do direito de dirigir; Medida administrativa - reteno do veculo at a apresentao de

    condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitao. Pargrafo nico. A embriaguez tambm poder ser apurada na forma

    do art. 277. Art. 169. Dirigir sem ateno ou sem os cuidados indispensveis

    segurana:

    Infrao - leve; Penalidade - multa. Art. 176. Deixar o condutor envolvido em acidente com vtima: I - de prestar ou providenciar socorro vtima, podendo faz-lo; II - de adotar providncias, podendo faz-lo, no sentido de evitar

    perigo para o trnsito no local;

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    III - de preservar o local, de forma a facilitar os trabalhos da polcia e da percia;

    IV - de adotar providncias para remover o veculo do local, quando determinadas por policial ou agente da autoridade de trnsito;

    V - de identificar-se ao policial e de lhe prestar informaes necessrias confeco do boletim de ocorrncia:

    Infrao - gravssima; Penalidade - multa (cinco vezes) e suspenso do direito de dirigir; Medida administrativa - recolhimento do documento de habilitao. Art. 177. Deixar o condutor de prestar socorro vtima de acidente de

    trnsito quando solicitado pela autoridade e seus agentes: Infrao - grave; Penalidade - multa. Art. 178. Deixar o condutor, envolvido em acidente sem vtima, de

    adotar providncias para remover o veculo do local, quando necessria tal medida para assegurar a segurana e a fluidez do trnsito:

    Infrao - mdia; Penalidade - multa. Art. 186. Transitar pela contramo de direo em: I - vias com duplo sentido de circulao, exceto para ultrapassar outro

    veculo e apenas pelo tempo necessrio, respeitada a preferncia do veculo que transitar em sentido contrrio:

    Infrao - grave; Penalidade - multa; II - vias com sinalizao de regulamentao de sentido nico de

    circulao: Infrao - gravssima; Penalidade - multa. Art. 192. Deixar de guardar distncia de segurana lateral e frontal

    entre o seu veculo e os demais, bem como em relao ao bordo da pista, considerando-se, no momento, a velocidade, as condies climticas do local da circulao e do veculo:

    Infrao - grave;

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    Penalidade - multa. Art. 201. Deixar de guardar a distncia lateral de um metro e

    cinqenta centmetros ao passar ou ultrapassar bicicleta: Infrao - mdia; Penalidade - multa. Art. 214. Deixar de dar preferncia de passagem a pedestre e a veculo

    no motorizado: I - que se encontre na faixa a ele destinada; II - que no haja concludo a travessia mesmo que ocorra sinal verde

    para o veculo; III - portadores de deficincia fsica, crianas, idosos e gestantes: Infrao - gravssima; Penalidade - multa. IV - quando houver iniciado a travessia mesmo que no haja

    sinalizao a ele destinada; V - que esteja atravessando a via transversal para onde se dirige o

    veculo: Infrao - grave; Penalidade - multa. Art. 236. Rebocar outro veculo com cabo flexvel ou corda, salvo em

    casos de emergncia: Infrao - mdia; Penalidade - multa.

    6 Definies.

    Para o estudo dos acidentes de trfego, devemos adotar as definies previstas no Cdigo de Trnsito Brasileiro, listadas a seguir:

    ACOSTAMENTO - parte da via diferenciada da pista de rolamento destinada parada ou estacionamento de veculos, em caso de emergncia, e circulao de pedestres e bicicletas, quando no houver local apropriado para esse fim.

    AGENTE DA AUTORIDADE DE TRNSITO - pessoa, civil ou policial militar, credenciada pela autoridade de trnsito para o exerccio das

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    atividades de fiscalizao, operao, policiamento ostensivo de trnsito ou patrulhamento.

    AUTOMVEL - veculo automotor destinado ao transporte de passageiros, com capacidade para at oito pessoas, exclusive o condutor.

    AUTORIDADE DE TRNSITO - dirigente mximo de rgo ou entidade executivo integrante do Sistema Nacional de Trnsito ou pessoa por ele expressamente credenciada.

    BALANO TRASEIRO - distncia entre o plano vertical passando pelos centros das rodas traseiras extremas e o ponto mais recuado do veculo, considerando-se todos os elementos rigidamente fixados ao mesmo.

    BORDO DA PISTA - margem da pista, podendo ser demarcada por linhas longitudinais de bordo que delineiam a parte da via destinada circulao de veculos.

    CALADA - parte da via, normalmente segregada e em nvel diferente, no destinada circulao de veculos, reservada ao trnsito de pedestres e, quando possvel, implantao de mobilirio urbano, sinalizao, vegetao e outros fins.

    CAMINHO-TRATOR - veculo automotor destinado a tracionar ou arrastar outro.

    CAMINHONETE - veculo destinado ao transporte de carga com peso bruto total de at trs mil e quinhentos quilogramas.

    CAMIONETA - veculo misto destinado ao transporte de passageiros e carga no mesmo compartimento.

    CANTEIRO CENTRAL - obstculo fsico construdo como separador de duas pistas de rolamento, eventualmente substitudo por marcas virias (canteiro fictcio).

    CARREATA - deslocamento em fila na via de veculos automotores em sinal de regozijo, de reivindicao, de protesto cvico ou de uma classe.

    CARRO DE MO - veculo de propulso humana utilizado no transporte de pequenas cargas.

    CARROA - veculo de trao animal destinado ao transporte de carga.

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    CATADIPTRICO - dispositivo de reflexo e refrao da luz utilizado na sinalizao de vias e veculos (olho-de-gato).

    CHARRETE - veculo de trao animal destinado ao transporte de pessoas.

    CICLO - veculo de pelo menos duas rodas a propulso humana. CICLOFAIXA - parte da pista de rolamento destinada circulao

    exclusiva de ciclos, delimitada por sinalizao especfica. CICLOMOTOR - veculo de duas ou trs rodas, provido de um motor

    de combusto interna, cuja cilindrada no exceda a cinqenta centmetros cbicos (3,05 polegadas cbicas) e cuja velocidade mxima de fabricao no exceda a cinqenta quilmetros por hora.

    CICLOVIA - pista prpria destinada circulao de ciclos, separada fisicamente do trfego comum.

    CONVERSO - movimento em ngulo, esquerda ou direita, de mudana da direo original do veculo.

    CRUZAMENTO - interseo de duas vias em nvel. ESTACIONAMENTO - imobilizao de veculos por tempo superior

    ao necessrio para embarque ou desembarque de passageiros. ESTRADA - via rural no pavimentada. FAIXAS DE DOMNIO - superfcie lindeira s vias rurais, delimitada

    por lei especfica e sob responsabilidade do rgo ou entidade de trnsito competente com circunscrio sobre a via.

    FAIXAS DE TRNSITO - qualquer uma das reas longitudinais em que a pista pode ser subdividida, sinalizada ou no por marcas virias longitudinais, que tenham uma largura suficiente para permitir a circulao de veculos automotores.

    FOCO DE PEDESTRES - indicao luminosa de permisso ou impedimento de locomoo na faixa apropriada.

    FREIO DE ESTACIONAMENTO - dispositivo destinado a manter o veculo imvel na ausncia do condutor ou, no caso de um reboque, se este se encontra desengatado.

    FREIO DE SEGURANA OU MOTOR - dispositivo destinado a diminuir a marcha do veculo no caso de falha do freio de servio.

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    FREIO DE SERVIO - dispositivo destinado a provocar a diminuio da marcha do veculo ou par-lo.

    ILHA - obstculo fsico, colocado na pista de rolamento, destinado ordenao dos fluxos de trnsito em uma interseo.

    INFRAO - inobservncia a qualquer preceito da legislao de trnsito, s normas emanadas do Cdigo de Trnsito, do Conselho Nacional de Trnsito e a regulamentao estabelecida pelo rgo ou entidade executiva do trnsito.

    INTERSEO - todo cruzamento em nvel, entroncamento ou bifurcao, incluindo as reas formadas por tais cruzamentos, entroncamentos ou bifurcaes.

    LOGRADOURO PBLICO - espao livre destinado pela municipalidade circulao, parada ou estacionamento de veculos, ou circulao de pedestres, tais como calada, parques, reas de lazer, calades.

    LOTAO - carga til mxima, incluindo condutor e passageiros, que o veculo transporta, expressa em quilogramas para os veculos de carga, ou nmero de pessoas, para os veculos de passageiros.

    LOTE LINDEIRO - aquele situado ao longo das vias urbanas ou rurais e que com elas se limita.

    LUZ DE FREIO - luz do veculo destinada a indicar aos demais usurios da via, que se encontram atrs do veculo, que o condutor est aplicando o freio de servio.

    LUZ INDICADORA DE DIREO (pisca-pisca) - luz do veculo destinada a indicar aos demais usurios da via que o condutor tem o propsito de mudar de direo para a direita ou para a esquerda.

    LUZ DE MARCHA R - luz do veculo destinada a iluminar atrs do veculo e advertir aos demais usurios da via que o veculo est efetuando ou a ponto de efetuar uma manobra de marcha r.

    LUZ DE NEBLINA - luz do veculo destinada a aumentar a iluminao da via em caso de neblina, chuva forte ou nuvens de p.

    LUZ DE POSIO (lanterna) - luz do veculo destinada a indicar a presena e a largura do veculo.

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    MANOBRA - movimento executado pelo condutor para alterar a posio em que o veculo est no momento em relao via.

    MARCAS VIRIAS - conjunto de sinais constitudos de linhas, marcaes, smbolos ou legendas, em tipos e cores diversas, apostos ao pavimento da via.

    MICRONIBUS - veculo automotor de transporte coletivo com capacidade para at vinte passageiros.

    MOTOCICLETA - veculo automotor de duas rodas, com ou sem side-car, dirigido por condutor em posio montada.

    MOTONETA - veculo automotor de duas rodas, dirigido por condutor em posio sentada.

    MOTOR-CASA (MOTOR-HOME) - veculo automotor cuja carroaria seja fechada e destinada a alojamento, escritrio, comrcio ou finalidades anlogas.

    NIBUS - veculo automotor de transporte coletivo com capacidade para mais de vinte passageiros, ainda que, em virtude de adaptaes com vista maior comodidade destes, transporte nmero menor.

    PARADA - imobilizao do veculo com a finalidade e pelo tempo estritamente necessrio para efetuar embarque ou desembarque de passageiros.

    PASSAGEM DE NVEL - todo cruzamento de nvel entre uma via e uma linha frrea ou trilho de bonde com pista prpria.

    PASSAGEM POR OUTRO VECULO - movimento de passagem frente de outro veculo que se desloca no mesmo sentido, em menor velocidade, mas em faixas distintas da via.

    PASSARELA - obra de arte destinada transposio de vias, em desnvel areo, e ao uso de pedestres.

    PASSEIO - parte da calada ou da pista de rolamento, neste ltimo caso, separada por pintura ou elemento fsico separador, livre de interferncias, destinada circulao exclusiva de pedestres e, excepcionalmente, de ciclistas.

    PERMETRO URBANO - limite entre rea urbana e rea rural.

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    PISCA-ALERTA - luz intermitente do veculo, utilizada em carter de advertncia, destinada a indicar aos demais usurios da via que o veculo est imobilizado ou em situao de emergncia.

    PISTA - parte da via normalmente utilizada para a circulao de veculos, identificada por elementos separadores ou por diferena de nvel em relao s caladas, ilhas ou aos canteiros centrais.

    PLACAS - elementos colocados na posio vertical, fixados ao lado ou suspensos sobre a pista, transmitindo mensagens de carter permanente e, eventualmente, variveis, mediante smbolo ou legendas pr-reconhecidas e legalmente institudas como sinais de trnsito.

    PONTE - obra de construo civil destinada a ligar margens opostas de uma superfcie lquida qualquer.

    REBOQUE - veculo destinado a ser engatado atrs de um veculo automotor.

    REGULAMENTAO DA VIA - implantao de sinalizao de regulamentao pelo rgo ou entidade competente com circunscrio sobre a via, definindo, entre outros, sentido de direo, tipo de estacionamento, horrios e dias.

    REFGIO - parte da via, devidamente sinalizada e protegida, destinada ao uso de pedestres durante a travessia da mesma.

    RENACH - Registro Nacional de Condutores Habilitados. RENAVAM - Registro Nacional de Veculos Automotores. RETORNO - movimento de inverso total de sentido da direo

    original de veculos. RODOVIA - via rural pavimentada. SEMI-REBOQUE - veculo de um ou mais eixos que se apoia na sua

    unidade tratora ou a ela ligado por meio de articulao. SINAIS DE TRNSITO - elementos de sinalizao viria que se

    utilizam de placas, marcas virias, equipamentos de controle luminosos, dispositivos auxiliares, apitos e gestos, destinados exclusivamente a ordenar ou dirigir o trnsito dos veculos e pedestres.

    SINALIZAO - conjunto de sinais de trnsito e dispositivos de segurana colocados na via pblica com o objetivo de garantir sua utilizao

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    adequada, possibilitando melhor fluidez no trnsito e maior segurana dos veculos e pedestres que nela circulam.

    TARA - peso prprio do veculo, acrescido dos pesos da carroaria e equipamento, do combustvel, das ferramentas e acessrios, da roda sobressalente, do extintor de incndio e do fluido de arrefecimento, expresso em quilogramas.

    TRAILER - reboque ou semi-reboque tipo casa, com duas, quatro, ou seis rodas, acoplado ou adaptado traseira de automvel ou camionete, utilizado em geral em atividades tursticas como alojamento, ou para atividades comerciais.

    TRNSITO - movimentao e imobilizao de veculos, pessoas e animais nas vias terrestres.

    TRANSPOSIO DE FAIXAS - passagem de um veculo de uma faixa demarcada para outra.

    TRATOR - veculo automotor construdo para realizar trabalho agrcola, de construo e pavimentao e tracionar outros veculos e equipamentos.

    ULTRAPASSAGEM - movimento de passar frente de outro veculo que se desloca no mesmo sentido, em menor velocidade e na mesma faixa de trfego, necessitando sair e retornar faixa de origem.

    UTILITRIO - veculo misto caracterizado pela versatilidade do seu uso, inclusive fora de estrada.

    VECULO ARTICULADO - combinao de veculos acoplados, sendo um deles automotor.

    VECULO AUTOMOTOR - todo veculo a motor de propulso que circule por seus prprios meios, e que serve normalmente para o transporte virio de pessoas e coisas, ou para a trao viria de veculos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo compreende os veculos conectados a uma linha eltrica e que no circulam sobre trilhos (nibus eltrico).

    VECULO DE CARGA - veculo destinado ao transporte de carga, podendo transportar dois passageiros, exclusive o condutor.

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    VECULO DE COLEO - aquele que, mesmo tendo sido fabricado h mais de trinta anos, conserva suas caractersticas originais de fabricao e possui valor histrico prprio.

    VECULO CONJUGADO - combinao de veculos, sendo o primeiro um veculo automotor e os demais reboques ou equipamentos de trabalho agrcola, construo, terraplenagem ou pavimentao.

    VECULO DE GRANDE PORTE - veculo automotor destinado ao transporte de carga com peso bruto total mximo superior a dez mil quilogramas e de passageiros, superior a vinte passageiros.

    VECULO DE PASSAGEIROS - veculo destinado ao transporte de pessoas e suas bagagens.

    VECULO MISTO - veculo automotor destinado ao transporte simultneo de carga e passageiro.

    VIA - superfcie por onde transitam veculos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calada, o acostamento, ilha e canteiro central.

    VIA DE TRNSITO RPIDO - aquela caracterizada por acessos especiais com trnsito livre, sem intersees em nvel, sem acessibilidade direta aos lotes lindeiros e sem travessia de pedestres em nvel.

    VIA ARTERIAL - aquela caracterizada por intersees em nvel, geralmente controlada por semforo, com acessibilidade aos lotes lindeiros e s vias secundrias e locais, possibilitando o trnsito entre as regies da cidade.

    VIA COLETORA - aquela destinada a coletar e distribuir o trnsito que tenha necessidade de entrar ou sair das vias de trnsito rpido ou arteriais, possibilitando o trnsito dentro das regies da cidade.

    VIA LOCAL - aquela caracterizada por intersees em nvel no semaforizadas, destinada apenas ao acesso local ou a reas restritas.

    VIA RURAL - estradas e rodovias. VIA URBANA - ruas, avenidas, vielas, ou caminhos e similares

    abertos circulao pblica, situados na rea urbana, caracterizados principalmente por possurem imveis edificados ao longo de sua extenso.

    VIAS E REAS DE PEDESTRES - vias ou conjunto de vias destinadas circulao prioritria de pedestres.

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    VIADUTO - obra de construo civil destinada a transpor uma depresso de terreno ou servir de passagem superior.

    Da leitura do Cdigo percebe-se que no h artigo especfico para as motocicletas. Assim, estas devem ser tratadas da mesma forma que os demais veculos automotores, submetendo-se s mesmas regras.

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    VI EXAME DE LOCAL.

    O processo de investigao no local consiste em observar detalhadamente e detectar qualquer evidncia fsica (vestgio), que permita esclarecer, de alguma forma, o ocorrido e estabelecer a dinmica do evento. Para que este objetivo seja alcanado de forma precisa, h que se adotar uma sistemtica de investigao. A idoneidade dos elementos materiais produzidos no local do acidente muito importante e ela s ser assegurada com uma preservao adequada. Portanto a primeira providncia, da qual depender o sucesso da investigao, a de estabelecer o perfeito isolamento e preservao do local, seja para permitir e facilitar a observao dos vestgios, seja para assegurar a integridade fsica das pessoas presentes no local. Preservar o local, portanto, no se resume em isolar os veculos, mesmo porque estes, em muitos casos, assumem suas posies de repouso fora da pista e, principalmente, so apenas parte de um conjunto de vestgios a serem observados no local. No raras vezes, os veculos produzem marcas pneumticas que, com o trnsito intenso de veculos podem desaparecer antes mesmo da chegada da equipe pericial. O mesmo ocorre com os fragmentos desprendidos dos veculos avariados.

    A importncia de cada vestgio produzido varia para cada tipo de local. Os locais, por mais que se paream, sempre trazem alguma peculiaridade que pode ou no ser importante. Cabe ao Perito verificar o grau de importncia de cada vestgio em cada caso particular.

    VI.1 Preservao Nos casos de acidente de trfego, embora o CPP estabelea a

    responsabilidade do comparecimento e medidas preliminares pela Autoridade Policial, geralmente as primeiras equipes que comparecem aos locais so as da Polcia Militar, do Corpo de Bombeiros ou do DETRAN.

    A equipe pericial, em geral, a ltima a comparecer, e at que isso ocorra, poder passar um lapso de tempo considervel, por uma srie de motivos.

    Durante esse tempo indispensvel a preservao do local. O perodo compreendido entre a ocorrncia do sinistro e a chegada do

    primeiro policial o mais crtico pelo total desconhecimento por parte das pessoas

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    envolvidas e demais usurios da via, dos prejuzos causados para a percia e demais segmentos investigativos, pelo simples fato de transitarem no local do evento.

    A presena do policial no local ainda no garantia de preservao da cena do crime, na maioria das vezes pelo pouco conhecimento deste policial quanto s rotinas a serem adotadas para uma preservao eficiente. Mas cabe a ele a responsabilidade pela preservao. A Autoridade Policial, essa sim a verdadeira responsvel legal pela preservao, dever corrigir as possveis falhas.

    VI.2 Exames de local.

    1 Levantamento Topogrfico

    Para efeito de exame de local de acidente de trfego, no que se refere situao topogrfica, a constituio das pistas deve ser analisada sob trs aspectos, considerados mais importantes:

    a) A verificao do seu traado e respectiva sinalizao, visando ao entendimento de como o trfego se processa, de acordo com o que determina a legislao. Nesse estudo, sero observadas as condies fsicas das vias, no tocante a inclinaes, curvas, delimitaes, largura, nmero de faixas de rolamento, demarcaes, sinalizaes. Na ausncia de sinalizao especfica, aplicar-se-o as regras gerais de circulao, estabelecidas no Regulamento do Cdigo Nacional de Trnsito e demais normas pertinentes. A inclinao da pista pode ser obtida sem a utilizao de aparelhos de preciso, da seguinte forma: com o emprego de uma prancheta, uma linha e um peso, como ilustrado a seguir.

    Medio de inclinao da pista.

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    b) O segundo aspecto a ser observado diz respeito a falhas de construo, buracos, depresses ou outras irregularidades que ofeream perigo ao trfego de veculos. Devem ser observadas, tambm, as condies de visibilidade da prpria pista e dos obstculos que a margeiam, representados pelos cartazes, muros de arrimo, tapumes, rvores, vegetao, placas publicitrias, etc.

    c) Finalmente, resta o exame da superfcie da pavimentao, referente capacidade de aderncia. A pesquisa neste sentido visa estabelecer o coeficiente de atrito, em razo de ser um dos elementos bsicos para precisar-se a velocidade por intermdio das marcas pneumticas. No caso, as condies da pista, se seca ou molhada, devem ser comprovadas, por terem real importncia, considerando-se que, estando molhada, seja qual for o seu coeficiente de atrito, a aderncia varia sempre para menos.

    A reproduo do local dever ser feita atravs de um croqui ilustrativo que contenha caractersticas topogrficas do local, dimenses e distncias, condies climticas, os veculos envolvidos e os vestgios descritos e relacionados, condies de sinalizao e outras particularidades, alm de registro atravs de fotografias dos pontos considerados mais relevantes. Tudo dever ser anotado, no se devendo confiar na memria. Para um bom levantamento de local, faz-se necessrio a utilizao de alguns equipamentos como trenas, mquinas fotogrficas, flashes, trips, bssolas, filmadoras, inclinmetros, etc.

    As medidas (dimenses e distncias) devem ser tomadas preferencialmente utilizando-se de um sistema cartesiano ortogonal, com as dimenses retratadas no sentido longitudinal e transversal da pista. O ponto de referncia para as medidas deve ser escolhido entre aqueles pontos fixos como edificaes, vias secundrias, viadutos, ou qualquer obra de engenharia no provisria. Para a elaborao do croqui, o tcnico deve escolher uma escala apropriada para melhor representar o local do evento, dentre as seguintes: 1:200; 1:250; 1;300; 1:400; 1:500.

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    O rascunho do croqui efetuado no local do levantamento deve conter todos os elementos necessrios para que posteriormente permita, atravs dos apontamentos, que seja elaborado um trabalho definitivo. A utilizao de recursos grficos de computador possvel, desde que observados todos os elementos de padronizao. Esses recursos enriquecem a apresentao do trabalho.

    A seguir apresenta-se uma cpia de um croqui elaborado em local de acidente de trfego, por perito do Instituto de Criminalstica da Polcia Civil do Distrito Federal, segundo a metodologia apresentada anteriormente.

    Do rascunho do croqui executado durante os exames do local do acidente, foi elaborado um croqui definitivo, utilizando-se de uma escala de 1:200 e

    Representao grfica do veculo no croqui com a identificao de suas regies de impacto.

    Representao de como medir um objeto em relao a um referencial.

    APEAAE

    AAD APDLAD LMD LPD

    LAE LME LPE

    PAMPAE

    PAD PPD

    PPEPPM

    TRENA

    TRENA TREN

    A

    MESA

    SALA

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    de recursos de computao grfica, cujo resultado pode-se observar a seguir.

    CROQUI

    Croqui efetuado no local (rascunho).

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    CROQUI

    V1

    V1V2V2

    F

    GARAGEM

    RAM

    PA

    REA DE ESTACIONAMENTO

    EDIFCIODA SSP

    ENTRADA PARA O PTIO DA SSP

    N

    V1 Fiat, UnoV2 Chevrolet, MonzaF Fragmentos de plstico sentido de deslocamento sentido dos veculos

    LEGENDA

    0 2m 4m 6m 8m 10mescala 1:200

    MEIO-FIO

    MEIO-FIO

    MEI

    O-FI

    O

    MEIO-FIO

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    Relembrando !!!!!!!!!!!!!!!!!!! A localizao de qualquer ponto faz-se tomando duas medidas: uma

    paralela ao eixo longitudinal da via e outra perpendicular a este eixo. Um veculo, cujas dimenses so conhecidas, necessita de pelo menos 3 medidas feitas no local para estar devidamente localizado no croqui.

    Vestgios como fragmentos devem ser representados no croqui e a medida mais importante a do incio da projeo, dos primeiros fragmentos, daqueles que caram mais prximos do ponto de coliso, medida tomada longitudinalmente pista. A medida transversal deve ser tomada em relao aos referenciais adotados, bem como ao ncleo da sua rea de projeo.

    As medidas de curvatura da pista em trechos de curvas e de interseces e as marcas pneumticas curvilneas de derrapagem e de acelerao podem ser efetuadas por meio do raio de curvatura.

    Para que se obtenha o raio de curvatura no local do acidente, procede-se da seguinte forma: marcam-se dois pontos na borda interna da curva, mede-se a distncia C (corda) entre eles e, na metade da distncia entre eles, mede-se perpendicularmente corda, a distncia M (flecha), que a distncia da corda regio curva. Efetuadas essas medidas, pode-se ento calcular o raio de curvatura, utilizando a relao de Pitgoras para um tringulo retngulo:

    R2 = (C/2)2 + (R-M)2 Isolando-se o valor de R, teremos o raio de curvatura

    R = [C2/(8.M)] + (M/2) (6.1)

    2 LEVANTAMENTO DESCRITIVO.

    O QUE INVESTIGAR NO LOCAL (?????) Os principais elementos de investigao a serem observados e

    registrados no local de acidente de trfego so os seguintes:

    a) Natureza do acidente

    Diagrama para medio do raio de curva.

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    Verificar a natureza do acidente (atropelamento, coliso, capotamento, etc.) e ouvir os condutores dos veculos e testemunhas, caso estejam presentes no local. Esse procedimento no obrigatrio, entretanto, demonstra uma responsabilidade e polidez para com as partes envolvidas e ainda serve de orientao na busca dos vestgios necessrios comprovao das primeiras hipteses cogitadas.

    b) veculos Primeiramente identific-los (marca, modelo, placa de identificao) Deve-se distinguir todas as sedes de impacto, numer-las e descrever

    todas as avarias presentes naquela sede de impacto, classificando-as pela sua gravidade. A classificao da gravidade uma forma de avaliar a velocidade de danos. Para uniformizar as descries, adota-se como sede de avarias nos veculos: parte anterior (direita, mediana e esquerda), parte posterior (direita, mediana e esquerda), lateral direita (anterior, mediana e posterior), lateral esquerda (anterior, mediana e posterior), ngulo anterior (direito e esquerdo), ngulo posterior (direito e esquerdo), parte superior (interna e externa) e parte inferior (interna e externa).

    Verificar todos os sistemas de segurana do veculo quanto ao seu funcionamento e eficcia. Esses exames referem-se aos sistemas de freio, eltrico e de direo. O exame no sistema de freios pode ser realizado estaticamente (com os veculos parados) ou dinamicamente (com os veculos em funcionamento). No sendo possvel realizar os referidos exames e sendo eles essenciais, o veculo deve ser recolhido para exames posteriores, em geral realizados pelos Peritos no ptio da DITRAN (Diviso de Transportes da PCDF), com o apoio de servidores dessa Diviso (mecnicos que auxiliam na desmontagem dos sistemas). Os cintos de segurana devem ser examinados quanto ao seu funcionamento, seu estado e, se possvel determinar se ele foi utilizado ou no e finalmente, o estado dos pneus tambm deve ser observado. Existe nos pneumticos fabricados atualmente marcas de referncia com a sigla TWI2, que mostra quando o pneumtico atingiu o seu limite de uso seguro.

    2 A sigla TWI representa Tread Wear Indicators e significa indicadores de desgaste pelo uso. Um pneu deve ser

    substitudo quando seus sulcos atingirem a profundidade de 1,6 milmetros (de acordo com o Cdigo de Trnsito Brasileiro, por exemplo). Essa profundidade apontada quando o desgaste atigir as ranhuras inferiores, indicadas pela sigla T.W.I. (Tread Wear Indicator). Caso haja bolhas ou deformaes, o pneu deve ser prontamente substitudo, independentemente da profundidade dos seus sulcos, pois o pneu est estruturalmente comprometido.

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    c) marcas pneumticas d) fragmentos e) sulcagens e frices f) fluidos

    Alguns vestgios so importantes para a identificao de veculos evasores, como fragmentos de tinta, de plstico e de vidros, etc. Esses vestgios devem ser recolhidos para exames complementares. Mesmo que os fragmentos em alguns casos no permitam identificar precisamente o veculo, podem permitir a identificao de caractersticas gerais, restringindo o universo dos suspeitos (ano de fabricao, marca, modelo, etc.). Outros vestgios, pela sua simples presena no local ou em exames posteriores no outro veculo envolvido, podem permitir a identificao precisa de um veculo evasor.

    So exemplos de vestgios identificadores, as placa de licenciamento e os pra-brisas ou outros vidros contendo o NIV.

    A anlise dos vestgios produzidos no local, antes, durante e aps a coliso deve permitir a determinao das trajetrias dos veculos nos momentos que antecederam o acidente, como o sentido de deslocamento, a faixa de trnsito, a forma da trajetria (se reta ou em curva).

    3 LEVANTAMENTO FOTOGRFICO A fotografia assinala detalhes e particularidades de uma a cena de

    crime e de suas evidncias materiais. Como nos demais casos da Criminalstica, nos locais de delitos de trnsito, os peritos devem fazer fotografias do local antes que sejam tocados ou movidos vestgios ou cadveres de suas posies originais, com o objetivo de perpetuar a situao encontrada.

    As fotos a serem operadas nos locais se dividem em quatro tipos:

    (1) Vistas gerais. Devero ser operadas fotografias das pistas, feitas por diferentes ngulos, de preferncia mostrando os pontos de

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    vista dos condutores, segundo suas trajetrias originais;

    (2) Vistas de aproximao mdia. Em seguida, devem ser feitas fotos em aproximaes mdias, evidenciando posies de repouso final de veculos, marcas pneumticas, fragmentos e demais vestgios encontrados no local. Com esse tipo de fotografia, buscamos relacionar os vestgios ao local;

    (3) Aproximaes. Em seguida, devem ser feitas fotos de aproximaes, ilustrando de forma particular os vestgios de maior importncia, com suas respectivas referncias mtricas. A figura ao lado mostra a forma mais comum para a ilustrao das avariadas, por oferecer melhor proporo dimensional. s vezes conveniente

    variar um pouco o ngulo, em fotos noturnas, para evitar o reflexo do flash sobre a lente.

    Tomadas fotogrficas de Avarias.

    Visada frontal para a pista. Visada para a borda direita da pista.

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    (4) Detalhes. Finalmente, so realizadas as fotos de detalhes, assinalando caractersticas particulares dos vestgios. A figura ao lado mostra a

    posio mais adequada para a ilustrao de avarias em close-ups. Aqui tambm vale a observao quanto ao reflexo do flash em fotos noturnas, quando se deve evitar a tomada frontal direta. Nesses casos, as

    vistas em ngulos ou diagonais evitam o problema.

    Concluindo, uma foto vale mais que mil palavras. Na investigao criminalstica devem-se fazer fotografias com a finalidade de mostrar o local do fato e suas evidncias, de forma que qualquer pessoa que as veja possa captar com preciso os vestgios e suas caractersticas e estabelecer hipteses ou reflexes indutivas e dedutivas.

    4 EXAMES COMPLEMENTARES

    Em geral, quando se fala de exames complementares, estamos tratando do encaminhamento de vestgios para exames em laboratrio, o que deve ser feito pelo Perito Criminal responsvel pelo levantamento. O objetivo que se busca com o encaminhamento das evidncias ao Laboratrio process-las tcnica e cientificamente para efeitos de associao, identificao e reconstruo do fato em estudo.

    De fato, nos casos de delitos de trnsito, os exames complementares em material biolgico, principalmente sangue e tecidos esto entre os mais comuns. Nesses casos, o objetivo pericial a determinao da origem de determinada amostra coletada. Ou seja, podemos estar interessados nos seguintes resultados:

    1 sangue ou tecido biolgico de origem humana ou animal buscamos aqui diferenciar se houve um atropelamento de pedestre ou de animal;

    2 identificar se o material encontrado no local ou em um veculo ou no proveniente de uma determinada pessoa; neste caso, o

    Tomadas fotogrficas em detalhe de Avarias.

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    que se busca a relao de um suspeito com o local de acidente ou com a vtima, principalmente em casos de evaso; pode-se buscar, ainda, relacionar uma vtima a um vestgio ou dinmica e circunstncias do fato, em caso de multiplicidade de vtimas.

    Outros tipos de exames complementares comuns so os exames complementares em sistemas de freios, de iluminao e de direo, em suspenses ou outros componentes eventualmente relacionados dinmica dos fatos, bem como s concluses que sero oferecidas. Ao se examinar o sistema de freios, o que desejamos determinar se o veculo apresentava eficincia de frenagem quando do acidente. Quanto aos sistemas de direo e de suspenso, se eles tiveram influncia na ocorrncia. Quanto ao sistema de iluminao, normalmente relevante verificar, principalmente nos acidentes ocorridos noite, se o sistema estava ligado, se operava normalmente, ou seja, se os faris ou lanternas de determinado veculo estavam ou no ligados. As relaes causais relacionadas s falhas ocorridas nos veculos sero abordadas no captulo VII.

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    4.1 Exames em sistemas de freios. O Sistema de Freios parte de vital importncia em qualquer tipo de

    veculo. Ele o responsvel pela reduo da velocidade. projetado para dar o mximo de rendimento com um mnimo de manuteno e deve ser corretamente conservado e ajustado para garantir frenagem segura, sob as mais diversas condies de trfego. o sistema que est mais intensamente sujeito a esforos e altas temperaturas, em decorrncia das frenagens. o dissipador da Energia Cintica. Se, por um lado o conjunto motor e transmisso o responsvel por colocar o veculo em movimento, o sistema de freios o responsvel para fazer reduo da sua velocidade e para traz-lo de volta condio de repouso.

    O exame nos sistemas de freios de veculos visa determinar se os sistemas de freios de um veculo apresentavam eficincia quando de sua solicitao antes da ocorrncia do acidente. Em alguns casos, a ineficincia ou eficincia parcial do sistema estar diretamente relacionada causa material do fato, vez que o condutor deve manter o seu veculo nas condies de segurana adequada, a fim de no causar risco a si e aos demais usurios do sistema virio, implicando inclusive em responsabilidade penal nos casos de sinistros com vtimas.

    Os sistemas de freios utilizados nos veculos automotores so de trs tipos bsicos, segundo o tipo de circuito de fluido utilizado: hidrulico, que o mais convencional, usado nos veculos de passeio e comerciais leves; pneumtico, mais utilizado em veculos de maior porte como caminhes e nibus); misto, mais raro, tambm usado em veculos de mdio porte como alguns pequenos caminhes e micronibus.

    Exame complementar em sistema de freios.

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    A atuao nas rodas pode ser por meio de tambor ou de disco. O exame nos componentes do sistema dar condies para a

    avaliao do desgaste e das condies de uso do sistema nos instantes anteriores ao acidente.

    4.2 Exames em sistemas de suspenso e de direo. Os sistemas de suspenso e de direo tambm so partes

    importantes na utilizao do veculo, por representarem papel quanto sua segurana. Enquanto o Sistema de Direo responsvel pela manuteno da trajetria, o de suspenso garante o equilbrio do veculo principalmente quando da realizao das manobras de mudana de direo. importante lembrar que um sistema de suspenso, alm das molas e dos

    amortecedores, pode apresentar outros componentes menos conhecidos, como as buchas, suportes, tensores, eixos, barras e os prprios pneumticos.

    Os sistemas de direo renem eixos, barras, engrenagens e articulaes (ou terminais) que permitem os movimentos das rodas dianteiras do veculo com pequenos esforos do motorista ao manobrar o volante. Isso possvel graas a um conjunto de peas articuladas constitudo basicamente por: volante de direo coluna, rvore, caixa de direo, barras de direo terminais e braos de direo. Existem basicamente dois tipos de sistemas de acionamento para os sistemas de direo: mecnico e hidrulico.

    O exame do estado dos componentes dos dois sistemas e das avarias eventualmente encontradas neles dar as condies para avaliar o seu grau de participao para a ocorrncia do fato.

    Conjunto de suspenso.

    Terminal de direo.

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