Apostila- Direito Empresarial UFC

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    ndice Captulo 1- O Comrcio:

    1.1- Histria e definio do Comrcio: Captulo 2- Histria e Fontes do Direito Comercial:

    2.1- Histria do Comrcio e Direito Comercial:

    2.1.1- Na Antigidade:

    2.1.2- Em Roma:

    2.1.3- Na Idade Mdia:

    2.1.4- Cdigo de Napoleo de 1.807:

    2.2- Conceito e Definio do Direito Comercial:

    2.3- Fontes do Direito Comercial:

    2.3.1- Fontes Primrias:

    2.3.2- Fontes Secundrias:

    Captulo 3-Atos do Comrcio:

    3.1. Teoria da empresa

    3.2. Perfis da empresa

    Captulo 4- Do Empresrio (antigo Comerciante):

    4.1- Capacidade(arts. 972 a 980 do C.C.B./2.002):

    4.1.1- Menor Comerciante:

    4.1.2- Interditos:

    4.1.3- Continuao da Empresa por incapaz:

    4.1.4- Os proibidos:

    4.1.5- Os Impedidos:

    4.2- Profissionalismo (Profissionalidade):

    4.3- Organizao:

    4.4- Atividade Econmica(Economicidade):

    Captulo 5- Personalidade Jurdica das Sociedades Comerciais:

    5.1- Conceito de Pessoa Jurdica:

    5.2- Personificao das Sociedades:

    5.3- Nome Empresarial (arts. 1.155 a 1.168 do C.C.B./2.002):

    5.4- A Desconsiderao da Pessoa Jurdica:

    Captulo 6- Classificao das Sociedades Comerciais:

    6.1- Conceitos:

    6.2) Tipos de Sociedades Empresariais:

    6.2.1) Sociedade Simples (arts. 997 a 1.038 do C.C.B./2.002):

    6.2.2) Sociedade em nome coletivo (arts.1.039 a 1.044 do C.C.B./2.002):

    6.2.3) Sociedade em comandita simples (arts. 1.045 a 1.051 do C.C.B/ 2.002)

    6.2.4) Sociedade em Comandita por aes (arts. 1.090 a 1.092 do C.C.B./2.002)

    6.2.5) Sociedade em Conta de Participao (arts. 991 a 996 do C.C.B./2.002)

    6.2.6.) Sociedade Limitada (arts. 1.052 a 1.087 do C.C.B./ 2.002)

    6.2.7) Sociedades Annimas (Lei No.: 6.404/76, alterada pela Lei 10.303/2.001)

    Captulo 7- Dos Ttulos de Crdito:

    7.1- Conceito:

    Captulo 8- Falncia:

    8.1- Impontualidade:

    8.2- Sentena Declaratria:

    8.3- Dos efeitos quanto aos direitos:

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    8.4- Liquidao:

    Capitulo 9- Das Concordatas:

    9.1- Conceito:

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    Captulo 1- O Comrcio:

    1.1- Histria e Definio do Comrcio: Fran Martins, em sua obra Curso de Direito Comercial1 explicita acerca do

    comrcio como atividade especial, que, no incio da civilizao, os grupos sociais

    procuravam bastar- se a si mesmos, produzindo material de que tinham necessidade ou se

    utilizando daquilo que poderiam obter facilmente da natureza para a sua sobrevivncia. O

    natural crescimento das populaes, com o passar dos tempos, logo mostrou a

    impossibilidade desse sistema, vivel apenas nos pequenos aglomerados humanos. Passou-

    se, ento, troca dos bens desnecessrios, excedentes ou suprfluos para certos grupos, mas

    necessrios a outros pelos que esses possuam e de que no precisavam mas que eram teis

    aos primeiros.

    Ainda assim, surgiram dificuldades. As trocas, desse modo, de bens por

    bens, no se realizavam por falta de equivalncia de utilidade para as partes interessadas.

    Chegou- se, desse modo, contingncia de ser criada uma mercadoria capaz de ser

    permutada por qualquer outra e no apenas como acontecia na troca, por um bem

    determinado. Essa mercadoria, que possibilitava a permuta por qualquer outra, servindo,

    assim, de padro para as trocas, foi a moeda- inicialmente um bem qualquer (conchas,

    gado, sal, certos metais raros), depois uma mercadoria determinada, com valor intrnseco,

    mercadoria essa que, com a evoluo dos tempos, foi sucessivamente substituda por outra

    de maior valia (cobre, prata, ouro), at se chegar aos dias atuais, onde se substituiu tal

    mercadoria por um valor no intrnseco, mas fictcio, dependendo de certos fatores de

    garantia do Estado emissor.

    O aparecimento da moeda deu lugar ao surgimento de uma atividade

    especfica, inicialmente praticada por um nmero reduzido de pessoas e depois

    grandemente desenvolvida. Essa atividade consistia no fato de adquirirem tais pessoas

    quantidade de mercadorias, de diversa qualidade, que poderiam ser utilizadas pelos vrios

    grupos sociais, a fim de serem trocadas essas mercadorias por moedas com as pessoas que

    delas necessitavam. Essa operao, que se denomina venda para aquele que dispe do

    estoque de mercadorias e compra pelos que dela necessitam e as trocas por moeda ou

    dinheiro e as trocam por moeda ou dinheiro, facilitou grandemente a circulao de riquezas.

    atividade consistente em colocar em circulao as mercadorias, adotando esse

    mecanismo, se deu o nome de comrcio.

    A tais pessoas, que servem de prestadoras de servios ou de intermedirias

    entre produtores e consumidores, do ato de intermediao procurando auferir lucros, j que

    as mercadorias so adquiridas por um preo menor e vendidas por um maior, se deu o nome

    de comerciantes.

    A atividade empresarial sempre especulativa (lucrativa), isto , o

    empresrio sempre visa a vender por mais o que adquiriu por menos, muito embora,

    algumas vezes, em face de circunstncias especiais, no obtenha lucros e sim sofra

    prejuzos (venda por menos do preo de aquisio e encargos que oneram mercadorias). No

    entanto, os prejuzos no desnaturam o intuito de lucratividade que permeia o exerccio da

    atividade empresarial.

    Com o decorrer dos tempos, a interferncia estatal se fez sentir com maior

    intensidade, no apenas regulando as atividades empresariais, como tambm estabelecendo

    1 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial..25

    a- edio. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2.000.

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    normas limitativas ou mesmo impeditivas dessas atividades. De tal modo cresceu a

    influncia estatal que, atualmente, o exerccio regular do comrcio depende quase que

    inteiramente da vontade do Estado, que orienta e limita as atividades mercantis de forma

    soberana, considerando ainda que em algumas situaes especiais o prprio Estado

    desempenha diretamente a atividade econmica consoante disposto no Art. 173 da CF/882

    quando necessria aos imperativos da segurana nacional ou a relevante interesse coletivo.

    O STF3 entende que a interveno do Estado na atividade econmica deve

    ser exercida com respeito aos princpios e fundamentos da ordem econmica, cuja previso

    2 Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituio, a explorao direta de atividade econmica

    pelo Estado s ser permitida quando necessria aos imperativos da segurana nacional ou a relevante

    interesse coletivo, conforme definidos em lei. 1 A lei estabelecer o estatuto jurdico da empresa pblica,

    da sociedade de economia mista e de suas subsidirias que explorem atividade econmica de produo ou

    comercializao de bens ou de prestao de servios, dispondo sobre: (Redao dada pela Emenda

    Constitucional n 19, de 1998) I - sua funo social e formas de fiscalizao pelo Estado e pela

    sociedade; (Includo pela Emenda Constitucional n 19, de 1998) II - a sujeio ao regime jurdico prprio das

    empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigaes civis, comerciais, trabalhistas e

    tributrios; (Includo pela Emenda Constitucional n 19, de 1998) III - licitao e contratao de obras,

    servios, compras e alienaes, observados os princpios da administrao pblica; (Includo pela Emenda

    Constitucional n 19, de 1998) IV - a constituio e o funcionamento dos conselhos de administrao e fiscal,

    com a participao de acionistas minoritrios; (Includo pela Emenda Constitucional n 19, de 1998) V - os

    mandatos, a avaliao de desempenho e a responsabilidade dos administradores.(Includo pela Emenda

    Constitucional n 19, de 1998) 2 - As empresas pblicas e as sociedades de economia mista no podero

    gozar de privilgios fiscais no extensivos s do setor privado. 3 - A lei regulamentar as relaes da

    empresa pblica com o Estado e a sociedade. 4 - A lei reprimir o abuso do poder econmico que vise

    dominao dos mercados, eliminao da concorrncia e ao aumento arbitrrio dos lucros. 5 - A lei, sem

    prejuzo da responsabilidade individual dos dirigentes da pessoa jurdica, estabelecer a responsabilidade

    desta, sujeitando-a s punies compatveis com sua natureza, nos atos praticados contra a ordem econmica

    e financeira e contra a economia popular. 3 Confira-se: AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINRIO. ADMINISTRATIVO.

    INTERVENO DO ESTADO NO DOMNIO ECONMICO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO

    ESTADO. FIXAO PELO PODER EXECUTIVO DOS PREOS DOS PRODUTOS DERIVADOS DA

    CANA-DE-ACAR ABAIXO DO PREO DE CUSTO. DANO MATERIAL. INDENIZAO

    CABVEL. 1. A interveno estatal na economia como instrumento de regulao dos setores econmicos

    consagrada pela Carta Magna de 1988. 2. Deveras, a interveno deve ser exercida com respeito aos

    princpios e fundamentos da ordem econmica, cuja previso resta plasmada no art. 170 da Constituio

    Federal, de modo a no malferir o princpio da livre iniciativa, um dos pilares da repblica (art. 1 da

    CF/1988). Nesse sentido, confira-se abalizada doutrina: As atividades econmicas surgem e se desenvolvem

    por fora de suas prprias leis, decorrentes da livre empresa, da livre concorrncia e do livre jogo dos

    mercados. Essa ordem, no entanto, pode ser quebrada ou distorcida em razo de monoplios, oligoplios,

    cartis, trustes e outras deformaes que caracterizam a concentrao do poder econmico nas mos de um ou

    de poucos. Essas deformaes da ordem econmica acabam, de um lado, por aniquilar qualquer iniciativa,

    sufocar toda a concorrncia e por dominar, em conseqncia, os mercados e, de outro, por desestimular a

    produo, a pesquisa e o aperfeioamento. Em suma, desafiam o prprio Estado, que se v obrigado a intervir

    para proteger aqueles valores, consubstanciados nos regimes da livre empresa, da livre concorrncia e do livre

    embate dos mercados, e para manter constante a compatibilizao, caracterstica da economia atual, da

    liberdade de iniciativa e do ganho ou lucro com o interesse social. A interveno est, substancialmente,

    consagrada na Constituio Federal nos arts. 173 e 174. Nesse sentido ensina Duciran Van Marsen Farena

    (RPGE, 32:71) que "O instituto da interveno, em todas suas modalidades encontra previso abstrata nos

    artigos 173 e 174, da Lei Maior. O primeiro desses dispositivos permite ao Estado explorar diretamente

    a atividade econmica quando necessria aos imperativos da segurana nacional ou a relevante interesse

    coletivo, conforme definidos em lei. O segundo outorga ao Estado, como agente normativo e regulador

    da atividade econmica. o poder para exercer, na forma da lei as funes de fiscalizao, incentivo e

    planejamento, sendo esse determinante para o setor pblico e indicativo para o privado". Pela interveno

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    resta plasmada no art. 170 da Constituio Federal, de modo a no malferir o princpio da

    livre iniciativa, um dos pilares da Repblica (art. 1 da CF/1988). As atividades

    econmicas surgem e se desenvolvem por fora de suas prprias leis, decorrentes da livre

    empresa, da livre concorrncia e do livre jogo dos mercados. Essa ordem, no entanto, pode

    ser quebrada ou distorcida em razo de monoplios, oligoplios, cartis, trustes e outras

    deformaes que caracterizam a concentrao do poder econmico nas mos de um ou de

    poucos. Essas deformaes da ordem econmica acabam, de um lado, por aniquilar

    qualquer iniciativa, sufocar toda a concorrncia e por dominar, em consequncia, os

    mercados e, de outro, por desestimular a produo, a pesquisa e o aperfeioamento. Em

    suma, desafiam o prprio Estado, que se v obrigado a intervir para proteger aqueles

    valores, consubstanciados nos regimes da livre empresa, da livre concorrncia e do livre

    embate dos mercados, e para manter constante a compatibilizao, caracterstica da

    economia atual, da liberdade de iniciativa e do ganho ou lucro com o interesse social.

    Atravs dessa evoluo do comrcio, chega- se ao prprio conceito do

    Direito Comercial, qual seja, segundo Fran Martins4: Ao conjunto das normas que

    regulam os atos considerados comerciais e as atividades dos comerciantes, como pessoas

    que exercitam em carter profissional tais atos, que se d o nome de direito comercial.

    Naturalmente o direito comercial no resulta apenas de leis(...) abrange tambm certos

    usos e costumes praticados pelos comerciantes, que ainda no foram regulados pelo poder

    pblico. Compreende, at, atos que so praticados por pessoas no- comerciantes ou atos

    que so da esfera do direito comum, mas que caem no mbito do direito comercial por

    serem praticados em benefcio ou em funo da atividade mercantil. Sobre a evoluo da atividade comercial, assevera Fbio Ulhoa Coelho

    5 que

    os bens e servios que homens e mulheres necessitam ou desejam para viver (isto , vestir-

    se, alimentar-se, dormir, divertir-se etc.) so produzidos em organizaes econmicas

    especializadas. Nem sempre foi assim, porm. Na Antiguidade, roupas e vveres eram

    o Estado, com o fito de assegurar a todos uma existncia digna, de acordo com os ditames da justia social

    (art. 170 da CF), pode restringir, condicionar ou mesmo suprimir a iniciativa privada em certa rea

    da atividade econmica. No obstante, os atos e medidas que consubstanciam a interveno ho de respeitar

    os princpios constitucionais que a conformam com o Estado Democrtico de Direito, consignado

    expressamente em nossa Lei Maior, como o princpio da livre iniciativa. Lcia Valle Figueiredo, sempre

    precisa, alerta a esse respeito que "As balizas da interveno sero, sempre e sempre, ditadas pela

    principiologia constitucional, pela declarao expressa dos fundamentos doEstado Democrtico de Direito,

    dentre eles a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa"

    (DIGENES GASPARINI, in Curso de Direito Administrativo, 8 Edio, Ed. Saraiva, pgs. 629/630, cit., p.

    64). 3. O Supremo Tribunal Federal firmou a orientao no sentido de que a desobedincia aos prprios termos da poltica econmica estadual desenvolvida, gerando danos patrimoniais aos agentes econmicos

    envolvidos, so fatores que acarretam insegurana e instabilidade, desfavorveis coletividade e, em ltima

    anlise, ao prprio consumidor. (RE 422.941, Rel. Min. Carlos Velloso, 2 Turma, DJ de 24/03/2006). 4. In casu, o acrdo recorrido assentou: ADMINISTRATIVO. LEI 4.870/1965. SETOR SUCROALCOOLEIRO.

    FIXAO DE PREOS PELO INSTITUTO DO ACAR E DO LCOOL IAA. LEVANTAMENTO DE CUSTOS, CONSIDERANDO-SE A PRODUTIVIDADE MNIMA. PARECER DA FUNDAO

    GETLIO VARGAS FGV. DIFERENA ENTRE PREOS E CUSTOS. 1. Ressalvado o entendimento deste Relator sobre a matria, a jurisprudncia do STJ se firmou no sentido de ser devida a indenizao,

    pelo Estado,decorrente de interveno nos preos praticados pelas empresas do setor sucroalcooleiro. 2.

    Recurso Especial provido. 5. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF- RE 648622 AgR / DF, Relator: Min. Luiz Fux, julgamento: 20/11/2012). 4 MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial.25

    a- edio. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2.000, pgina 3.

    5 COELHO, Fbio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 16- edio. So Paulo: Saraiva, 2005, pg. 5.

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    produzidos na prpria casa, para os seus moradores; apenas os excedentes eventuais eram

    trocados entre vizinhos ou na praa.

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    Captulo 2- Histria e Fontes do Direito Empresarial:

    2.1- Histria do Comrcio e Direito Empresarial:

    Ao estudar- se o desenvolvimento do Direito Empresarial no se pode isol-

    lo da evoluo do comrcio.

    O Direito Empresarial s surgiu na Idade Mdia para regular relaes entre

    os ento denominados comerciantes, s mais tarde tendo um mbito maior, de modo a sobrepujar- se ao comrcio (este existente desde a Idade Antiga), para posteriormente

    abranger at mesmo relaes de carter civil. Inicialmente o Direito Empresarial foi como

    que uma decorrncia das transaes econmicas de indivduos que tinham por profisso

    fazer circular as mercadorias. Da a necessidade de recorrer histria do comrcio para

    conhecer- se a evoluo do Direito Empresarial.

    Conforme lio de Ricardo Negro6o Direito Empresarial desenvolveu-se

    margem do Direito Civil, de razes romanas na prtica e no exerccio do comrcio ao longo

    dos sculos. Sua sistematizao, como conjunto de regras jurdicas prprias, contudo, vem

    a ocorrer posteriormente a sua formao inicial, provavelmente na Idade Mdia, mas os

    estudiosos no conseguiram, at o momento, encontrar um ponto comum na identificao

    do seu perodo inicial no decorrer da histria humana.

    2.1.1- Na Antiguidade:

    No se pode, com segurana, dizer que houve um Direito Empresarial na

    mais remota antiguidade. Os fencios, que so considerados um povo que praticou o

    comrcio em larga escala, nos forneceram usos e costumes da navegao martima, tal

    como a prtica do alijamento (consagrado em nosso Cdigo Comercial de 1.850 como

    avaria grossa- arts. 7697, 621, parte final

    8 e 764, item 2

    o-

    9), que consiste na faculdade que

    detinham os comandantes dos navios de se livrar da carga, em caso de perigo iminente.

    Nesta situao, o prejuzo seria repartido entre o proprietrio do carregamento e o da

    embarcao.

    Na Grcia comeam a aparecer alguns contratos, que mais tarde so aceitos

    no Direito Empresarial, como o cmbio martimo10

    .

    Segundo elucida Andr Luiz Santa Cruz Ramos11

    : ao estudar-se a histria do

    Direito Empresarial, logo se percebe que o comrcio muito mais antigo que o aludido

    ramo do Direito. De fato, o comrcio existe desde a Idade Antiga. As civilizaes mais

    antigas, como os fencios, por exemplo, destacaram-se no exerccio da atividade mercantil.

    6 NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pg. 25. 7 Art. 769 - Quando for indispensvel lanar-se ao mar alguma parte da carga, deve comear-se pelas

    mercadorias e efeitos que estiverem em cima do convs; depois sero alijadas as mais pesadas e de menos

    valor, e dada igualdade, as que estiverem na coberta e mais mo; fazendo-se toda a diligncia possvel para

    tomar nota das marcas e nmeros dos volumes alijados. 8 Art.621 - Pagam frete por inteiro as fazendas que se deteriorarem por avaria, ou diminurem, por mau

    acondicionamento das vasilhas, caixas, capas ou outra qualquer cobertura em que forem carregadas, provando

    o capito que o dano no procedeu de falta de arrumao ou de estiva (artigo n. 624). Pagam igualmente frete

    por inteiro as fazendas que o capito obrigado a vender nas circunstncias previstas no artigo n. 515. O

    frete das fazendas alijadas para salvao comum do navio e da carga abona-se por inteiro como avaria grossa

    (artigo n. 764). 9 Art. 764 - So avarias grossas: (...)2 - As coisas alijadas para salvao comum...

    10 Hoje regulamentados pelos artigos 633 a 665 do Cdigo Comercial de 1.850.

    11 RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 2.

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    No entanto, nesse perodo histrico Idade Antiga, bero das primeiras civilizaes -, a despeito de at j existirem algumas leis esparsas para a disciplina do comrcio, ainda no

    se pode falar na existncia de um Direito Empresarial, entendido este como um regime

    jurdico sistematizado com regras e princpios prprios.

    Waldirio Bulgarelli12

    nos mostra que: S com o imprio da Babilnia, aparece um dos primeiros documentos legislativos que atestam a existncia de normas

    jurdicas peculiares ao comrcio, em especial, o martimo: ele o Cdigo de Hamurbi, de

    2.083 a.C., com disposies expressas sobre emprstimo a juro, o contrato de depsito, o

    contrato de sociedade e uma forma primitiva de contrato de comisso (...) no se

    prescreveu em matria de contratos de comrcio nenhum regime especial para a compra e

    venda, tudo indicando que os preceitos nele contidos no revelam direito especial para o

    comrcio. Por tais motivos, Carlos Barbosa Pimentel13 preleciona que o Cdigo de Hamurbi no considerado um precursor dos Cdigos Comerciais.

    2.1.2- Em Roma:

    Apesar de guerreiros por excelncia, os romanos conheceram o comrcio

    como atividade secundria. A sua prtica, contudo, no era exercida diretamente pelo

    nascidos em Roma e sim por intermdio dos escravos, dando incio ao comrcio por

    representao. No existiam, no direito romano, regras especiais para regular as relaes

    empresariais: as poucas existentes se encontravam incorporadas ao Direito Civil.

    As regras relativas aos contratos e s obrigaes do Direito Romano (de

    natureza civil), serviram de base aos contratos e obrigaes empresariais, quando o direito

    mercantil comeou a tomar forma na Idade Mdia.

    Deve- se, igualmente assinalar que algumas normas e institutos do Direito

    Empresarial moderno tiveram sua origem em procedimentos do Direito Romano. Assim, o

    desapontamento dos bens do comerciante falido foi modelado na cessio bonorum dos

    romanos, procedimento segundo o qual o devedor insolvente era desapossado de todos os

    seus bens pelo Estado, que os vendia em hasta pblica; a ao pauliana, para a revogao

    dos atos praticados em fraude dos credores; as aes destinadas a promover a

    responsabilidade dos proprietrios pelos atos os seus prepostos tiveram origem nas aes

    institria e exercitria dos romanos; dentre outros institutos. Esses fatos, porm, no so

    suficientes para que se afirme que em Roma existiu um direito especial, diverso do direito

    comum dos cidados, a regular as transaes comerciais.

    Para Andr Luiz Santa Cruz Ramos14

    : mesmo em Roma no se pode afirmar

    a existncia de um Direito Empresarial, uma vez que na civilizao romana as eventuais

    regras comerciais existentes faziam parte do direito privado comum, ou seja, do direito civil

    (jus privatorum ou jus civile).

    Segundo Fbio Ulhoa Coelho15

    : alguns povos da Antiguidade, como os

    fencios, destacaram-se intensificando as trocas e, com isto, estimularam a produo de

    bens destinados especificamente venda. Esta atividade de fins econmicos, o comrcio,

    expandiu-se com extraordinrio vigor. Graas a ela, estabeleceram-se intercmbios entre

    12

    BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 15a- edio. So Paulo: Editora: Atlas, 2.000, pginas 26 e

    27. 13

    PIMENTEL, Carlos Barbosa. Direito Comercial. 3a- edio. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2.004, pg.

    4. 14

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 2. 15

    COELHO, Fbio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 16- edio. So Paulo: Saraiva, 2005, pgs. 5 e 6.

  • 9

    culturas distintas, desenvolveram-se tecnologias e meios de transporte, fortaleceram-se os

    Estados, povoou-se o planeta; mas, tambm, em funo do comrcio, foram travadas

    guerras, escravizaram-se os povos, recursos naturais se esgotaram.

    Com a queda do Imprio Romano, os rabes assumiram papel preponderante

    no comrcio e deles mantemos alguns termos utilizados na prtica mercantil, tais como:

    fregus, frete, armazm, avaria, etc.

    2.1.3- Na Idade Mdia:

    O Direito Empresarial como um conjunto de normas jurdicas especiais,

    diversas do Direito Civil, para regular as atividades profissionais dos comerciantes, tem a

    sua origem na Idade Mdia.

    Formaram-se, ento, mercados e feiras, centros em que eram realizados

    grandes negcios. Os mercados eram locais, situados nas cidades, a que compareciam os

    agricultores com seus produtos, vendendo- os e adquirindo bens ou produo das cidades.

    Mais tarde, criou- se as feiras que eram o costume de os comerciantes de vrias regies, se

    reunirem em dias certos, em determinadas cidades, para fazerem as trocas de seus produtos.

    Tal incremento tomou o comrcio na Idade Mdia que, os que o praticavam

    se reuniram em corporaes, criando suas prprias leis (por meio de seus regulamentos ou

    estatutos) e tendo jurisdio particular. Elegiam um juiz, que dirimia as contendas, o

    cnsul, e este se guiava pelos usos e costumes adotados pelos comerciantes, ou seja, o

    direito comercial surgiu tanto do poder legislativo das corporaes como da sua atividade

    judiciria, convivendo com o direito comum criado pelos prprios comerciantes. As

    Corporaes de Ofcio exerceram tanta influncia sobre a sociedade mercantilizada da

    poca, que muitas cidades aproveitaram suas normas na criao das primeiras codificaes

    do Direito Empresarial.

    Vrios institutos do Direito Empresarial tornaram poderosos e um conjunto

    de normas especiais passou a regular as atividades dos banqueiros. A letra de cmbio, antes

    um simples documento que provava o depsito, por parte das pessoas, de uma certa

    importncia em mos dos banqueiros, passou a ter caracterstica diversa, servindo de ordem

    de pagamento a terceiros. O processo de falncia se estruturou melhor e comearam a

    surgir as primeiras sociedades mercantis. Criou-se ainda o contrato de seguro martimo em

    substituio ao contrato de cmbio martimo.

    Apareceram, ento, as primeiras codificaes do Direito Empresarial. As

    cidades em que o comrcio estava bem desenvolvido compilaram os costumes mercantis

    nos seus Estatutos. O direito martimo foi, sem dvida, o mais regulado, dada a relevncia

    que tinha, na poca, o comrcio martimo, suplantando o terrestre, em geral regido pelos

    Estatutos das cidades. Era o direito martimo de cunho eminentemente internacional.

    Acerca desta fase da evoluo histrica do Direito Empresarial averba Andr

    Luiz Santa Cruz Ramos16

    : durante a Idade Mdia, todavia, o comrcio j atingira um

    estgio mais avanado, e no era mais uma caracterstica de apenas alguns povos, mas de

    todos eles. justamente nessa poca que se costuma apontar o surgimento das razes do

    Direito Empresarial, ou seja, do surgimento de um regime jurdico especfico para a

    disciplina das relaes mercantis. Fala-se, ento, na primeira fase desse ramo do direito. a

    poca do ressurgimento das cidades (burgos) e do Renascimento Mercantil, sobretudo em

    razo do fortalecimento do comrcio martimo. Ocorre que na Idade Mdia no havia ainda

    16

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pgs. 2 e 3.

  • 10

    um poder poltico central forte, capaz de impor regras gerais e aplic-las a todos. Vivia-se

    sob o modo de produo feudal, em que o poder poltico era altamente descentralizado nas

    mos da nobreza fundiria, o que fez surgir uma srie de direitos locais nas diversas regies da Europa. Em contrapartida, ganhava fora o Direito Cannico, que repudiava o

    lucro e no atendia, portanto, aos interesses da classe burguesa que se formava. Essa classe

    burguesa, os chamados comerciantes ou mercadores, teve ento que organizar e construir o

    seu prprio direito, a ser aplicado nos diversos conflitos que passaram a eclodir com a efervescncia da atividade mercantil que se observava, aps dcadas de estagnao do

    comrcio. As regras do Direito Empresarial foram surgindo, pois, da prpria dinmica da

    atividade negocial.

    Na Idade Mdia surgiram ou tomaram corpo os principais contratos

    comerciais: transporte, comisso, sociedades, seguro martimo. E as primeiras regras

    escritas no direito mercantil aparecem nessa poca. Separa- se o Direito Empresarial do

    Direito Civil. Os primeiros corpos legais, porm, que aparecem traando normas

    pormenorizadas sobre as atividades comerciais foram as Ordenanas francesas baixadas por

    Lus XIV (a de 1.673 tratava do comrcio terrestre, a de 1.681 tratava do comrcio

    martimo).

    Para Fbio Ulhoa Coelho17

    nas corporaes de ofcio, como expresso da

    autonomia da atividade mercantil, foram paulatinamente surgindo normas destinadas a

    disciplinar as relaes entre seus filiados. Na Era Moderna estas normas pseudo-

    sistematizadas sero chamadas de Direito Comercial. Nesta sua primeira fase de evoluo,

    ele o direito aplicvel aos membros de determinada corporao dos comerciantes. Os usos

    e costumes de cada praa ou corporao tinham especial importncia na sua aplicao.

    2.1.4- Cdigo de Napoleo de 1.807:

    Tratou- se do primeiro Cdigo Comercial. Apesar de no haver inovado muito em matria empresarial, conservando quase tudo o que dispunham as Ordenanas,

    no obstante o desenvolvimento comercial que se verificava, dando lugar criao de

    regras jurdicas para aplicao aos casos concretos, o Cdigo do Comrcio Francs teve

    grande influncia nas legislaes, principalmente nas dos povos latinos.

    Baseado nas ideias de liberdade, o Cdigo de 1.807 adotou a chamada

    tendncia objetiva do Direito Comercial, ou seja, no mais o considerando como o direito

    dos comerciantes (critrio subjetivo- corporativista), mas o direito prprio dos atos de

    comrcio, enumerados pela lei (critrio objetivo). No obstante os estudos mais recentes,

    apontarem que essa transformao, do critrio subjetivo para o objetivo, no tenha sido

    pura, a verdade que ensejou uma verdadeira reviravolta nas concepes at ento

    existentes, permitindo a ampliao de matria comercial que passou a alcanar a indstria e

    outras atividades econmicas.

    Andr Luiz Santa Cruz Ramos18

    esclarece que: a codificao napolenica

    divide claramente o direito privado: de um lado, o direito civil; de outro, o direito

    comercial. O Cdigo Civil napolenico era, fundamentalmente, um corpo de leis que

    atendia os interesses da nobreza fundiria, pois estava centrado no direito de propriedade.

    J o Cdigo Comercial encarnava o esprito da burguesia comercial e industrial,

    valorizando a riqueza mobiliria. O Direito Comercial regularia, portanto, as relaes

    17

    COELHO, Fbio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 16- edio. So Paulo: Saraiva, 2005, pgs. 6. 18

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 5.

  • 11

    jurdicas que envolvessem a prtica de alguns atos definidos em lei como atos de comrcio.

    No envolvendo a relao a prtica destes, seria ela regida pelas normas do Cdigo Civil.

    Segundo Fbio Ulhoa Coelho19

    no incio do sculo XIX, em Frana, Napoleo,

    com a ambio de regular a totalidade das relaes sociais, patrocina a edio de dois

    monumentais diplomas jurdicos: o Cdigo Civil (1804) e o Comercial (1807). Inaugura-se,

    ento, um sistema para disciplinar as atividades dos cidados, que repercutir em todos os

    pases de tradio romana, inclusive o Brasil. De acordo com este sistema, classificavam-se

    as relaes de direito privado em civis e comerciais. Para cada regime, estabeleceram-se

    regras diferentes sobre contratos, obrigaes, prescrio, prerrogativas, prova judiciria e

    foros. A delimitao do campo de incidncia do Cdigo Comercial era feita, no sistema

    francs, pela teoria dos atos de comrcio. Sempre que algum explorava atividade

    econmica que o direito considerava ato de comrcio (mercancia), submetia-se s

    obrigaes do Cdigo Comercial (escriturao de livros, por exemplo) e passava a usufruir

    da proteo por ele liberada (direito prorrogao dos prazos de vencimento das

    obrigaes em caso de necessidade, instituto denominado concordata).

    Tanto o Cdigo Comercial francs como os demais que o seguiram foram

    constantemente modificados, em vista das peridicas inovaes surgidas na evoluo do

    Direito Empresarial. Essas leis posteriores muitas vezes no apenas alteraram disposies

    dos cdigos como revogaram inteiramente as mesmas, passando a regular a matria de

    modo diverso.

    Influenciado por ele, surgiu o Cdigo Comercial Brasileiro de 1.850 (Lei

    No.: 556, de 25 de Junho de 1.850), atualmente em vigor somente em sua parte segunda,

    que trata do comrcio martimo, a primeira parte que tratava do comrcio em geral,

    atualmente se encontra regulada pelo Cdigo Civil Brasileiro de 2.002 (Lei No.: 10.406, de

    10 de Janeiro de 2.002) e a sua parte terceira, que tratava das quebras, atualmente encontra-

    se regulada pela Lei de Falncias (Lei No.: 11.101, de 09 de Fevereiro de 2005).

    Conforme lio de Ricardo Negro20

    com a promulgao do Cdigo

    Napolenico, ou Code de Commerce, influenciado pela legislao de Savary e, por sua vez,

    influenciado por toda a legislao comercial da poca, inclusive o Cdigo Comercial

    brasileiro (Lei No.: 556, de 25/06/1850), surge o conceito objetivo de comerciante,

    definindo-o como aquele que pratica, com habitual profissionalidade, atos de comrcio.

    Afasta-se nesse perodo o ponto central do conceito vigente na fase precedente- a ideia de

    ser um direito dos comerciantes- para se estabelecer o Direito Comercial como direito dos

    atos de comrcio. Nessa concepo, a relevncia da cincia do direito est posta sobre

    aspectos exteriores da personalidade: a prtica de determinados atos, que, exercidos com

    profissionalidade, tero a proteo de uma legislao especial, de natureza comercial.

    2.2- Conceito e Definio do Direito Empresarial:

    O Direito Comercial a parte do Direito Privado que tem principalmente por objeto regular as relaes jurdicas que surgem do exerccio do comrcio. Esta definio, proposta pelo italiano Cesare Vivante, foi criticada por no contemplar atos

    praticados por no- comerciantes, mas regulados por leis comerciais (exemplo da emisso

    de cheque).

    19

    COELHO, Fbio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 16- edio. So Paulo: Saraiva, 2005, pgs. 7. 20

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pg. 33.

  • 12

    Waldemar Ferreira props: Direito Comercial o conjunto sistemtico de normas jurdicas disciplinadoras do comerciante e seus auxiliares e do ato de comrcio e

    das relaes dele oriundas. Carvalho de Mendona trilhou caminho parecido, ao afirmar que: O Direito Comercial a disciplina jurdica reguladora dos atos de comrcio e, ao mesmo tempo, dos

    direitos e das obrigaes das pessoas que os exercem profissionalmente e dos seus

    auxiliares. Dessas duas ltimas definies surgiu uma, de autoria de Fran Martins

    21, que

    sintetiza a disciplina: Direito Comercial o conjunto de regras jurdicas que regulam as atividades das empresas e dos empresrios comerciais, bem como os atos considerados

    comerciais, mesmo que esses atos no se relacionem com as atividades das empresas. Dessa definio devem ser excludos os atos realizados pelos empresrios

    que no sejam necessrios ou relativos ao exerccio da sua profisso. Ex.: o empresrio

    adquire do produtor mercadoria para o seu uso particular- no para sua empresa, ou seja,

    com o intuito de revender para obter lucro- no pratica ato de comrcio, e, por essa razo,

    no estava sujeito outrora vigente lei comercial.

    Na sistemtica dos atos de comrcio, havia determinados atos que,

    isoladamente, eram reputados civis, mas praticados pelo comerciante para atender s

    contingncias do seu comrcio, tornavam-se comerciais. Ex.: quando um comerciante

    adquiria uma vitrina, no para revender, com intuito de lucro, como acontece em sua

    profisso, mas para aparelhar seu estabelecimento comercial, esse ato tornava-se mercantil

    em virtude de estar ligado s atividades do comerciante, no exerccio de sua profisso, e por

    isso era denominado de ato de comrcio por conexo, por dependncia ou acessrio.

    Para Ricardo Negro22

    : busca-se, hoje, uma nova conceituao para o Direito

    Comercial, como sendo o Direito de Empresa. A terminologia foi adotada pelo Codice

    Civile de 1942, na Itlia, e integra o Livro II da Parte Especial do Cdigo Civil de 2002

    (Do Direito de Empresa). O Direito Comercial o ramo do direito privado que regula a atividade do antigo comerciante e do moderno empresrio, bem como suas relaes

    jurdicas, firmadas durante o exerccio profissional das atividades mercantis e empresariais.

    O Direito Comercial, no desaparece com o novo Cdigo, mas renasce como Direito de

    Empresa.

    Se quisermos adotar o conceito do Direito Comercial (ou Direito

    Empresarial, como tem sido denominado atualmente) levando em conta a empresa

    mercantil, teremos que considerar essa como uma organizao destinada a atividades de

    produo e circulao de bens e servios, chefiada ou dirigida por uma pessoa natural

    (fsica) ou jurdica que denominada de empresrio.

    Andr Luiz Santa Cruz Ramos23

    analisa: hodiernamente, portanto, o direito

    comercial no cuida apenas do comrcio, mas de toda e qualquer atividade econmica

    exercida com profissionalismo, intuito lucrativo e finalidade de produzir ou fazer circular

    bens ou servios. Dito de outra forma: o direito comercial, hoje, cuida das relaes

    21

    MARTINS, Fran. Curso de Direito Comercial. 25a- edio. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2.000, pgina

    16. 22

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pgs. 33 e 34. 23

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 18.

  • 13

    empresariais, e por isso alguns tm sustentando que, diante dessa nova realidade, melhor

    seria usar a expresso direito empresarial.

    Segundo Fbio Ulhoa Coelho24

    Direito Comercial a designao tradicional do

    ramo jurdico que tem por objeto os meios socialmente estruturados de superao dos

    conflitos de interesse entre os exercentes de atividades econmicas de produo ou

    circulao de bens ou servios necessrios sobrevivncia humana. Note-se que no

    apenas as atividades especificamente comerciais (intermediao de mercadorias, no atacado

    ou varejo), mas tambm as industriais, bancrias, securitrias, de prestao de servios e

    outras, esto sujeitas aos parmetros (doutrinrios, jurisprudenciais e legais) de superao

    de conflitos estudados pelo direito comercial. Seu nome mais adequado, hoje, fosse Direito

    Empresarial.

    Da definio acima exposta, tem- se que as normas do Direito Empresarial

    alcanam no apenas os empresrios, mas aqueles que, mesmo sem se revestirem dessa

    qualidade, praticam atos aos quais a lei atribuiu caractersticas tais que se tornaram regidas

    pela disciplina ora em anlise. Exemplo deste a emisso de um cheque, feita por quem

    no se reveste da qualidade de empresrio, da mesma forma que uma letra de cmbio ou

    uma nota promissria ou, at, uma garantia prestada por aval. Todos esses atos possuem

    regulamentao em legislaes prprias, concernentes aos ttulos de crdito, e fazem parte

    do campo de abrangncia do Direito Empresarial, independentemente de haverem sido

    praticados por empresrio ou representante de sociedade empresria.

    2.3- Fontes do Direito Empresarial:

    Quando se conceituam as fontes do direito, normalmente a definio

    restringe- se prpria expresso do direito, ou seja, forma como ele se manifesta. No

    entanto, importante entender-se que antecedem norma os anseios da sociedade (fatos

    sociais). Estes so mutantes, variando com as geraes, mas se revelam determinantes para

    o surgimento do ordenamento jurdico de uma nao.

    Muitos autores costumam classific- las em fontes materiais e formais. As

    primeiras esto relacionadas aos fatores polticos, sociais, religiosos, econmicos,

    componentes do grupo social e compreendem os rgos criadores ou reveladores das

    normas jurdicas (exs.: assembleias e o povo como criador do costume jurdico), enquanto

    as fontes formais so a forma, os meios e o modo pelo quais se manifestam as normas

    jurdicas. E so estas ltimas que constituem o objeto do nosso estudo.

    Dividem- se as fontes formais em primrias e secundrias. As primeiras

    posicionam- se em ordem de preferncia em relao s outras, traduzindo- se numa

    obrigatoriedade de esgot-las, antes de invocar- se uma fonte secundria.

    2.3.1- Fontes Primrias:

    So as leis, regulamentos e tratados internacionais.

    Leis: A principal fonte primria de nosso Direito Empresarial a

    Constituio Federal de 1988 (por exemplo quando trata da ordem econmica e financeira-

    art. 170 e seguintes) e a lei. Existe uma profuso delas, a comear pelo prprio Cdigo

    Comercial de 1.850, que, embora com a revogao da maioria de seus artigos, permanece

    vivo em sua Segunda Parte, tratando do comrcio martimo. Outras, apenas para citar

    algumas, so as Leis No.: 6.404/76, que disciplina as sociedades por aes e No.: 7.357/85,

    que dispe sobre os cheques. Importa ressaltar que o Cdigo Civil de 2.002, na parte que

    24

    COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume I: direito de empresa. 16- edio. So

    Paulo: Saraiva, 2012, pg. 43.

  • 14

    trata sobre Direito de Empresa, considerado fonte primria do Direito Empresarial, bem

    como a Lei No.: 11.101/2005 (Lei de Falncias). Sendo o Direito Empresarial um ramo da

    cincia jurdica eminentemente direito dinmico e progressista, a lei, que o assegura, deve

    estar em constante evoluo, a fim de no perturbar o desenvolvimento econmico dos

    povos. Alguns autores25

    , consideram como fonte primria somente a lei empresarial e as

    disposies de outros cdigos (civil, processo civil) que regulam particularmente matria

    comercial, colocando a lei civil como a primeira fonte subsidiria do direito empresarial.

    Ressalte-se que foi apresentado o Projeto de Lei No.: 1.572/2011, em

    14/06/2011, que atualmente encontra-se em trmite na Cmara dos Deputados, cujo escopo

    a instituio de um novo Cdigo Comercial. Acerca do mesmo anota Andr Luiz Santa

    Cruz Ramos26: Eu, pessoalmente, entendo que um novo Cdigo Comercial necessrio,

    basicamente, por dois motivos: (I) corrigir os tristes erros do Cdigo Civil em relao ao

    direito empresarial e, sobretudo, (II) defender o livre mercado. Regulamentos: so considerados fontes primrias justamente porque servem

    atribuio de eficcia s leis empresarial. So baixados pelo Poder Pblico a respeito de

    determinadas matrias.

    Tratados Internacionais: a matria empresarial tambm incorporou alguns

    Tratados Internacionais que o pas tenha adotado ou a que tenha aderido, a exemplo da Lei Uniforme de Genebra, introduzida na legislao brasileira pelo Decreto No.: 57.663/66, subsidiado pelo Decreto No.: 2.044/1.908, tratando do cheque, letra de cmbio e nota

    promissria.

    2.3.2- Fontes Secundrias:

    Ricardo Negro27

    ao explanar acerca das fontes secundrias, dispe: no imprio

    do Cdigo Comercial, o aplicador da lei utiliza como fonte secundria- na omisso ocorrida

    nas fontes primrias do Cdigo e das leis civis a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito. Os ltimos, chamados por alguns de fonte complementar. A promulgao

    do novo Cdigo Civil, entretanto, eleva-o categoria de fonte primria, naqueles aspectos

    que regulamenta: o direito contratual e o direito de empresa.

    Inexistindo, portanto, em um caso concreto, norma primria sobre a matria,

    fica o juiz autorizado a lanar mo de uma norma secundria, de forma subsidiria28

    . So

    elas:

    Usos e Costumes Comerciais: constituem-se em importante fonte do

    Direito Empresarial. Alis, no princpio (Idade Mdia), ele era consuetudinrio. Tambm

    no mbito do Direito Civil, a Lei de Introduo s normas do Direito Brasileiro (antiga

    LICC- Lei de Introduo ao Cdigo Civil), em seu art. 4o-

    29, concede analogia, aos

    costumes, ou mesmo, aos princpios gerais do Direito a qualificao de fontes subsidirias

    do Direito. Os costumes, para serem aceitos como fonte do Direito Empresarial, necessitam

    25

    Nesse sentido: MARTINS, Fran, ob.cit., pg. 31 e 32 e BULGARELLI, Waldirio, ob.cit., pg. 76 e77. 26

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 30. 27

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pg. 40. 28

    Art. 126 do Cdigo de Processo Civil: O juiz no se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe- aplicar as normas legais; no as havendo, recorrer

    analogia, aos costumes e aos princpios gerais de direito. 29

    Art. 4o- da Lei de Introduo s normas do Direito Brasileiro- Art. 4o Quando a lei for omissa, o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princpios gerais de direito.

  • 15

    revestir- se de alguns requisitos. Primeiro, preciso que se trate de uma prtica reiterada e

    uniforme, que seja assimilada por todos como se fora lei. De outra forma, dever estar

    previsto na prpria lei. No pode, contudo, ser contra a lei, pois violaria a prpria

    concepo de fonte subsidiria lei. Assim, ns temos os costumes: (a) prater legem, que

    decorrem da prtica mercantil, aceitos e aplicados para suprirem as lacunas legislativas, a

    exemplo do cheque visado, citado por Bulgarelli30

    ; (b) secundum legem, pois so previstos

    na prpria lei para complement-la, como no art. 113 do Cdigo Civil de 2.002, que

    enuncia: Os negcios jurdicos devem ser interpretados conforme a boa- f e os usos do lugar de sua celebrao; (c) contra legem, esses no so tolerados pelo ordenamento jurdico e, consequentemente, no aceitos como fonte do Direito, j que s se admite a

    revogao ou modificao de uma lei por outra lei, a exemplo do cheque ps-datado

    (vulgarmente denominado pr- datado), que vai de encontro prpria natureza do documento, que um ttulo de crdito vista

    31 (art. 32 da Lei do Cheque- Lei No.:

    7.357/8532

    ). O Superior Tribunal de Justia (STJ33

    ) assentou que a frustrao no pagamento

    de cheque pr-datado no caracteriza o crime de estelionato, seja na forma do caput do art.

    171 do Cdigo Penal, ou na do seu 2, inciso VI34

    , isto porque o cheque ps-datado,

    30

    BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 15a- edio. So Paulo: Editora: Atlas, 2.000, pgina 78.

    31 A doutrina assim conceitua o cheque: O cheque ttulo revestido de determinadas formalidades legais

    contendo uma ordem de pagamento vista, passada em favor do prprio ou de terceiro.(grifos nossos) in ALMEIDA, Amador Paes de. Teoria e Pratica dos Ttulos de Crdito. 19

    a- edio, So Paulo Saraiva,

    1.999, pg. 95. No mesmo sentido, tem-se o art. 32 da Lei do Cheque (Lei No.: 7.357/85): Art . 32 O cheque pagvel vista. Considera-se no-estrita qualquer meno em contrrio. Pargrafo nico - O cheque

    apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emisso pagvel no dia da

    apresentao. 32

    Art . 32 O cheque pagvel vista. Considera-se no-estrita qualquer meno em contrrio. Pargrafo nico - O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como data de emisso pagvel no dia

    da apresentao. 33

    Neste sentido, confira-se: HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. ART. 171, CAPUT, DO CDIGO PENAL. FRUSTRAO NO PAGAMENTO DE CHEQUE PR-DATADO. PEDIDO DE TRANCAMENTO.

    ATIPICIDADE. PROCEDNCIA. 1. Esta Sexta Turma do Superior Tribunal de Justia tem proclamado que

    a frustrao no pagamento de cheque pr-datado no caracteriza o crime de estelionato, seja na forma do

    caput do art. 171 do Cdigo Penal, ou na do seu 2, inciso VI. 2. Isso porque o cheque ps-datado,

    popularmente conhecido como pr-datado, no se cuida de ordem de pagamento vista, mas, sim, de

    garantia de dvida. 3. Ressalva do entendimento do Relator no sentido de que a frustrao no pagamento de

    cheque ps-datado, a depender do caso concreto, pode consubstanciar infrao ao preceito proibitivo do art.

    171, caput, desde que demonstrada na denncia, e pelos elementos de cognio que a acompanham, a

    inteno deliberada de obteno de vantagem ilcita por meio ardil ou o artifcio. 4. Ordem concedida. (STJ- HC 121628 / SC, Relator: Min. Og Fernandes, julgamento: 09/03/2010). 34

    Estelionato Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilcita, em prejuzo alheio, induzindo ou mantendo algum em erro, mediante artifcio, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento: Pena - recluso, de

    um a cinco anos, e multa. 1 - Se o criminoso primrio, e de pequeno valor o prejuzo, o juiz pode aplicar

    a pena conforme o disposto no art. 155, 2. 2 - Nas mesmas penas incorre quem: Disposio de coisa

    alheia como prpria I - vende, permuta, d em pagamento, em locao ou em garantia coisa alheia como

    prpria; Alienao ou onerao fraudulenta de coisa prpria II - vende, permuta, d em pagamento ou em

    garantia coisa prpria inalienvel, gravada de nus ou litigiosa, ou imvel que prometeu vender a terceiro,

    mediante pagamento em prestaes, silenciando sobre qualquer dessas circunstncias; Defraudao de

    penhor III - defrauda, mediante alienao no consentida pelo credor ou por outro modo, a garantia

    pignoratcia, quando tem a posse do objeto empenhado; Fraude na entrega de coisa IV - defrauda

    substncia, qualidade ou quantidade de coisa que deve entregar a algum; Fraude para recebimento de

    indenizao ou valor de seguro V - destri, total ou parcialmente, ou oculta coisa prpria, ou lesa o prprio

    corpo ou a sade, ou agrava as conseqncias da leso ou doena, com o intuito de haver indenizao ou valor

    de seguro; Fraude no pagamento por meio de cheque VI - emite cheque, sem suficiente proviso de fundos

  • 16

    popularmente conhecido como pr-datado, no se cuida de ordem de pagamento vista,

    mas, sim, de garantia de dvida. Em 2009, o STJ editou a Smula No.: 370, consoante a

    qual: Caracteriza dano moral a apresentao antecipada de cheque pr-datado. Em situaes peculiares decidiu o STJ em que pese a jurisprudncia aceitar a tese da falta de

    justa causa, para trancar a ao penal por estelionato, quando o cheque dado como

    garantia de dvida a espcie guarda peculiaridades que afastam essa premissa35

    .

    Normalmente, no Direito Empresarial, os costumes, para serem admitidos como

    prova, necessitam estar assentados na Junta Comercial36

    , que emitem certido a respeito37

    .

    No entanto, o juiz tem direito livre convico na anlise das provas, desde que no se

    afaste das premissas bsicas quanto legalidade das mesmas. Como se trata de direito

    consuetudinrio, deve-se observar o disposto no art. 337 do CPC: Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinrio, provar-lhe- o teor e a

    em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento. 3 - A pena aumenta-se de um tero, se o crime cometido

    em detrimento de entidade de direito pblico ou de instituto de economia popular, assistncia social ou

    beneficncia. 35

    Confira-se: PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ESTELIONATO. CHEQUE. SUSTAO (CONTRAORDEM). AO PENAL. TRANCAMENTO. FALTA DE JUSTA CAUSA. AFERIO.

    MATRIA IMPRPRIA VIA ELEITA. COMPETNCIA. LUGAR ONDE DEU-SE O PREJUZO PARA

    A VTIMA. SUSPENSO CONDICIONAL DO PROCESSO. MATRIA NO DECIDIDA NA ORIGEM.

    1 - Em que pese a jurisprudncia aceitar a tese da falta de justa causa, para trancar a ao penal por

    estelionato, quando o cheque dado como garantia de dvida a espcie guarda peculiaridades que afastam

    essa premissa. 2 - No caso concreto, o cheque foi devolvido em virtude de contraordem (sustao), defendida

    na impetrao em razo de servios mecnicos mal executados pela suposta vtima, obrigando o paciente a

    refazer o trabalho em outra oficina, com custos adicionais. 3 - No foram juntadas provas pr-constitudas que

    possam possibilitar a aferio desta tese, estando mal instrudo o habeas corpus. 4 - Splica que, de resto,

    demanda revolvimento ftico-probatrio no condizente com a via angusta do habeas corpus, pois, conforme

    corrente doutrinria e jurisprudencial majoritria, somente se justifica a interrupo, desde logo, da marcha

    processual quando perceptvel, primo ictu oculi, a falta de justa causa para a persecutio criminis, evidenciada

    pela simples enunciao dos fatos a demonstrar a ausncia de mnimo suporte ftico que d base acusao.

    5 - O estelionato se consuma onde ocorreu o prejuzo para a vtima que, no caso concreto, deu-se em Picos/PI.

    6 - No decidida a matria referente suspenso condicional do processo, porque limitou-se o acrdo da

    origem a dizer que ainda h tempo para ser formulada no primeiro grau de jurisdio, no h nada a decidir

    sobre o tema nesta Corte, ainda mais porque, neste particular, tambm encontra-se mal instrudo o pedido, no

    havendo demonstrao de que o paciente preenche os requisitos da benesse. 7 - Ordem denegada. (STJ- HC 136595 / PI, Relatora: Min. Maria Thereza Assis Moura, julgamento: 02/08/2012). 36

    Lei No.: 8.934/94: Art.8o- s Juntas Comerciais incumbe: (...) VI- o assentamento dos usos e prticas mercantis. 37

    Decreto No-.: 1.800/1.996: Art.87. O assentamento de usos ou prticas mercantis efetuado pela Junta Comercial. 1 Os usos ou prticas mercantis devem ser devidamente coligidos e assentados em livro

    prprio, pela Junta Comercial, ex officio, por provocao da Procuradoria ou de entidade de classe

    interessada. 2 Verificada, pela Procuradoria, a inexistncia de disposio legal contrria ao uso ou

    prtica mercantil a ser assentada, o Presidente da Junta Comercial solicitar o pronunciamento escrito das

    entidades diretamente interessadas, que devero manifestar-se dentro do prazo de noventa dias, e far

    publicar convite a todos os interessados para que se manifestem no mesmo prazo. 3 Executadas as

    diligncias previstas no pargrafo anterior, a Junta Comercial decidir se verdadeiro e registrvel o uso ou

    prtica mercantil, em sesso a que compaream, no mnimo, dois teros dos respectivos vogais, dependendo

    a respectiva aprovao do voto de, pelo menos, metade mais um dos Vogais presentes. 4 Proferida a

    deciso, anotar-se- o uso ou prtica mercantil em livro especial, com a devida justificao, efetuando-se a

    respectiva publicao no rgo oficial da Unio, do Estado ou do Distrito Federal, conforme a sede da Junta

    Comercial. Art. 88. Qinqenalmente, as Juntas Comerciais processaro a reviso e publicao da coleo

    dos usos ou prticas mercantis assentados na forma do artigo anterior.

  • 17

    vigncia, se assim o determinar o juiz. Sobre o tema anota Ricardo Negro38: observa-se, entretanto, que a certido expedida pela Junta Comercial no faz prova absoluta, cabendo

    ao juiz, no conjunto das provas e sob o princpio da livre convico, apreciar seu valor

    probatrio e, eventualmente, aceitar contraprova de quem a fizer.

    Distingue- se, entretanto, o uso do costume. O uso a simples repetio de

    fato da mesma espcie; se esse uso tem por objeto estabelecer relaes jurdicas entre

    pessoas, classifica- se como costume. O uso, portanto, a base do costume; se o uso se

    repete, estabelecendo a forma ou o modo de realizar algum ato, ento chama- se costume.

    Para Andr Luiz Santa Cruz Ramos39

    : os usos e costumes surgem quando se

    verificam alguns requisitos bsicos: exige-se que a prtica seja (I) uniforme, (II) constante;

    (III) observada por certo perodo de tempo, (IV) exercida de boa-f e (V) no contrria

    lei. Esclarece ainda que a doutrina distingue os usos em usos de direito (ou usos

    propriamente ditos) e usos de fato ( ou usos convencionais). Os primeiros so aqueles que

    decorrem da prpria lei, razo pela qual sua eficcia no decorre da vontade das partes, mas

    de imposio legal. Os segundos, por outro lado, so aqueles que surgem como decorrncia

    da prtica espontnea dos empresrios em suas relaes jurdicas cotidianas, como os

    contratos mercantis que se firmam constantemente. Exemplo de uso de direito o disposto

    no art. 488 do Cdigo Civil: Convencionada a venda sem fixao de preo ou de critrios para a sua determinao, se no houver tabelamento oficial, entende-se que as partes se

    sujeitaram ao preo corrente nas vendas habituais do vendedor. Pargrafo nico. Na falta

    de acordo, por ter havido diversidade de preo, prevalecer o termo mdio. Analogia: na ausncia de outra fonte formal do direito, permite- se a

    aplicao da analogia, considerada como a possibilidade de utilizar- se entendimento a

    respeito de um caso concreto similar, j julgado, a fim de dirimir uma lide.

    Para Ricardo Negro40

    : a analogia, mais do que uma fonte de direito, um

    processo, um mtodo de interpretao legislativa. Caber ao julgador estabelecer as

    identidades entre as relaes, objetos e situaes jurdicas e aplicar a lei ao caso concreto,

    dada a omisso particular.

    Jurisprudncia: uniformidade das decises dos tribunais a respeito de

    determinada matria. Isso no implica a obrigao de o juiz segui- la, pois ele pode

    desenvolver a sua prpria convico, mesmo que diversa daquela. H autores que no

    consideram esta uma fonte do Direito Comercial, por entenderem que ela no fonte

    geradora do Direito, j que se trata da observao de fatos pretritos41

    . Assim, porm, no a

    consideram Fran Martins42

    e Carlos Barbosa Pimentel43

    . Porm, com a aprovao da

    Reforma do Poder Judicirio (materializada atravs da Emenda No.: 45/2004), passou-se a

    adotar a Smula vinculante (art. 103-A da CF/8844

    e Lei No.: 11.417/2006), atuando as

    38

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pg. 44. 39

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 29. 40

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pg. 41. 41

    BULGARELLI, Waldirio. Direito Comercial. 15a- edio. So Paulo: Editora: Atlas, 2.000, pgina 81.

    42 Martins, Fran. Curso de Direito Comercial. 25

    a- edio. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2.000, pgina

    35. 43

    Pimentel, Carlos Barbosa. Direito Comercial. 3a- edio. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2.004, pg. 14.

    44 Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poder, de ofcio ou por provocao, mediante deciso de dois

    teros dos seus membros, aps reiteradas decises sobre matria constitucional, aprovar smula que, a partir

  • 18

    decises reiteradas do Supremo Tribunal Federal, como verdadeiras leis, pacificando o

    entendimento da jurisprudncia como fonte do direito.

    Princpios Gerais do Direito: So os norteadores da construo do prprio

    Sistema Jurdico Positivo vigente.

    Ressalte- se que a doutrina e o contrato no so fontes do direito.

    Segundo Ricardo Negro45

    : exemplo de princpio geral do direito o da pars

    conditio creditorum, ou tratamento paritrio entre os credores na execuo coletiva

    falimentar. Na falncia figura, no arcabouo legislativo, a ideia do tratamento equnime dos

    credores, determinando-se o pagamento segundo sua classe e, dentro desta, por rateio.

    Estampa-se como a prpria razo da execuo coletiva e, portanto, eventual omisso da lei

    deve-se ater a essa regra, no escrita, mas presente como cenrio de fundo ou como marca

    dgua sob as letras da lei. Sobre o aludido princpio explana Fbio Ulhoa Coelho

    46: a par condicio

    creditorum (tratamento paritrio dos credores) corresponde a um valor secular, cultivado

    pelo direito falimentar. Por ele, j que o empresrio falido no ter recursos para honrar a

    totalidade das suas obrigaes, o justo e racional que os credores mais necessitados

    (como os trabalhadores, por exemplo) sejam satisfeitos antes dos demais, e que, entre

    credores titulares de crdito da mesma natureza, no sendo suficientes os recursos

    disponveis para o pagamento da totalidade de seus direitos, proceda-se ao rateio

    proporcional ao valor destes. O princpio do tratamento paritrio dos credores legal,

    especial e implcito.

    A jurisprudncia do STJ47

    reconhece que o juzo laboral no detm autonomia

    para dispor dos depsitos recursais efetivados por empresa cuja quebra venha a ser

    de sua publicao na imprensa oficial, ter efeito vinculante em relao aos demais rgos do Poder Judicirio

    e administrao pblica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder sua

    reviso ou cancelamento, na forma estabelecida em lei. 1 A smula ter por objetivo a validade, a

    interpretao e a eficcia de normas determinadas, acerca das quais haja controvrsia atual entre rgos

    judicirios ou entre esses e a administrao pblica que acarrete grave insegurana jurdica e relevante

    multiplicao de processos sobre questo idntica. 2 Sem prejuzo do que vier a ser estabelecido em lei, a

    aprovao, reviso ou cancelamento de smula poder ser provocada por aqueles que podem propor a ao

    direta de inconstitucionalidade. 3 Do ato administrativo ou deciso judicial que contrariar a smula

    aplicvel ou que indevidamente a aplicar, caber reclamao ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a

    procedente, anular o ato administrativo ou cassar a deciso judicial reclamada, e determinar que outra seja

    proferida com ou sem a aplicao da smula, conforme o caso." 45

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pg. 44. 46

    COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume I: direito de empresa. 16- edio. So

    Paulo: Saraiva, 2012, pg. 100. 47

    Observe-se: PROCESSO CIVIL. CONTAS DE DEPSITO RECURSAL TRABALHISTA. MOVIMENTAO E ADMINISTRAO. LEGITIMIDADE. MANDADO DE SEGURANA.

    IMPETRAO. PRAZO. 1. A movimentao das contas de depsito recursal trabalhista regidas pelo art.

    899, 1 a 7, da CLT da alada exclusiva do juzo laboral. 2. O juzo laboral no detm autonomia para

    dispor dos depsitos recursais efetivados por empresa cuja quebra venha a ser decretada. A destinao do

    numerrio, inclusive em observncia da par conditio creditorum, h de ser dada pelo juzo universal da

    falncia. 3. O acesso aos depsitos realizados nas contas recursais trabalhistas no se d de forma direta, mas

    mediante expedio de ofcio ao respectivo juzo laboral para que, oportunamente - isto , aps o trnsito em

    julgado da reclamao trabalhista -, transfira o valor consignado para conta judicial disposio do juzo

    falimentar, essa sim de sua livre movimentao. 4. Nos termos do art. 23 da Lei n 12.016/09, o prazo para

  • 19

    decretada. A destinao do numerrio, inclusive em observncia da par conditio

    creditorum, h de ser dada pelo juzo universal da falncia.

    O falido no tem o poder de dispor de seus bens, por isso qualquer alienao

    realizada aps a decretao da falncia, salvo as excees legais, considerada nula, pois

    infringe os princpios norteadores da par conditio creditorum, motivo pelo qual pode ser

    reconhecida ex officio.

    impetrao do mandado de segurana de 120 dias, contados da cincia, pelo interessado, do ato reputado

    coator. 5. Recurso ordinrio no provido. (STJ- RMS 32864 / SP, Relatora; Min. Nancy Andrighi, julgamento: 28/02/2012).

  • 20

    Captulo 3- Teoria dos Atos de Comrcio:

    Observa-se que o Direito Empresarial o conjunto de regras jurdicas que

    regulam as atividades dos empresrios e das sociedades empresrias, bem como os atos

    considerados comerciais, mesmo que esses atos no se relacionem com as atividades das

    empresas.

    Abstrai-se desse conceito como elementos caracterizadores do direito

    Empresarial: o empresrio (agente da operao mercantil, constituem- se de pessoas fsicas

    ou jurdicas que, de maneira profissional, procuram fazer circular as riquezas ou prestar

    servios, com o intuito de obter lucro nessas operaes, outrora denominado comerciante) e

    os atos de comrcio (atos praticados por esses empresrio comerciantes- ou pelas empresas, em funo de sua profisso, e aqueles que a lei, discricionariamente, reputa

    comerciais, so delimitadores da matria mercantil).

    Os atos de comrcio tm preeminncia sobre os empresrios (comerciantes),

    pois no existiro estes desde que se verifique a ausncia de atos de comrcio. Desde que se

    d a preeminncia aos atos de comrcio, verifica- se que, se para ser empresrio

    (comerciante) indispensvel a prtica profissional de atos de comrcio, estes existem sem

    que os que os praticam possam ser considerados comerciantes. A adoo da teoria dos atos

    de comrcio corolrio do sistema francs.

    So os atos de comrcio que, realmente, caracterizam e delimitam a matria

    comercial. Por tal motivo, primeiramente estudaremos os atos de comrcio e, s aps,

    passaremos ao estudo dos empresrios (comerciantes).

    Andr Luiz Santa Cruz Ramos48

    esclarece a teoria de Rocco (predominante

    sobre os atos de comrcio), consoante a qual: todos os atos de comrcio possuam uma

    caracterstica comum, qual seja, a funo de intermediao na efetivao da troca. Em

    suma: os atos de comrcio seriam aqueles que ou realizavam diretamente a referida

    intermediao (ato de comrcio por natureza, fundamental ou constitutivo) ou facilitavam a

    sua execuo ( ato de comrcio acessrio ou por conexo).

    Uma das mais recentes teorias relativas aos atos de comrcio a que os

    classifica como atos de empresas. O Cdigo Civil italiano de 1.942 (inspirador do atual

    Cdigo Civil Brasileiro de 2.002), ao fazer a unificao do Direito Privado, tomou como

    agente da profisso comercial, no o comerciante, pessoa fsica ou jurdica, mas a empresa

    comercial, ou seja, o conjunto de pessoas, capital e trabalho, que se dedica s atividades de

    produo e circulao dos bens. Os atos praticados pelas empresas comerciais seriam

    sempre atos comerciais.

    Fran Martins49

    assim nos assevera: (...) a empresa, no sentido econmico, significa uma unio do capital e do trabalho para a produo e circulao dos bens; j as

    atividades comerciais se caracterizam, sobretudo, pela intermediao, sendo o

    comerciante, precipuamente, um intermedirio, se bem que haja excees. Por tal razo, no podemos dizer que todos os atos das empresas so atos de

    comrcio, apesar da forte corrente doutrinria que aceita, totalmente, a empresa comercial

    como substituta do comerciante e, consequentemente, d ao Direito Comercial o sentido de

    Direito das Empresas.

    48

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 6. 49

    Ob. cit., p. 57.

  • 21

    O atual Cdigo Civil Brasileiro de 2.002, que unificou o direito privado,

    substituiu o comerciante pelo empresrio e o definiu da seguinte maneira:

    luz da jurisprudncia do STJ o enquadramento na qualidade de empresrio

    (art. 966 caput do CCB) ou no (art. 966, nico do CCB) justifica a repercusso em uma

    tributao diferenciada: PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTRIO. IMPOSTO SOBRE SERVIOS DE QUALQUER NATUREZA - ISS. BASE DE CLCULO. TRATAMENTO

    DIFERENCIADO CONFERIDO AOS PROFISSIONAIS LIBERAIS E S

    SOCIEDADES UNIPROFISSIONAIS. ARTIGO 9, 1 E 3, DO DECRETO-

    LEI 406/68. NORMA NO REVOGADA PELA LEI COMPLEMENTAR

    116/2003. PRECEDENTES. EMPRESRIO INDIVIDUAL OU SOCIEDADE

    EMPRESRIA. INAPLICABILIDADE. PRECEDENTES DA PRIMEIRA

    SEO. EXERCCIO DE PROFISSO INTELECTUAL COMO ELEMENTO

    DE EMPRESA. CONFIGURAO. 1. A Primeira Seo consolidou o

    entendimento de que "as sociedades uniprofissionais somente tm direito ao

    clculo diferenciado do ISS, previsto no artigo 9, pargrafo 3, do Decreto-Lei n

    406/68, quando os servios so prestados em carter personalssimo e, assim,

    prestados no prprio nome dos profissionais habilitados ou scios, sob sua total e

    exclusiva responsabilidade pessoal e sem estrutura ou intuito empresarial"

    (EREsp 866.286/ES, Rel. Ministro Hamilton Carvalhido, julgado em 29/09/2010,

    DJe 20/10/2010). 2. Segundo o artigo 966 do Cdigo Civil, considera-se

    empresrio aquele que exerce atividade econmica (com finalidade lucrativa) e

    organizada (com o concurso de mo-de-obra, matria-prima, capital e tecnologia)

    para a produo ou circulao de bens ou de servios, no configurando atividade

    empresarial o exerccio de profisso intelectual de natureza cientfica, literria ou

    artstica, ainda que com o concurso de auxiliares ou colaboradores, que no

    constitua elemento de empresa. 3. A tributao diferenciada do ISS no se aplica

    pessoa fsica ou jurdica cujo objeto social o exerccio de profisso intelectual

    como elemento integrante da atividade empresarial (vale dizer, o profissional

    liberal empresrio e a sociedade empresria profissional). No caso, configurado o

    carter empresarial da atividade desempenhada, fica afasta a incidncia do artigo

    9, 1 e 3, do Decreto-Lei 406/68. 4. Recurso especial desprovido. (STJ- REsp 1028086 / RO, Relator: Min. Teori Albino Zavascki, julgamento:

    20/10/2011).

    Os empresrios, em princpio, devem ser inscritos no Registro Pblico de

    Empresas Mercantis (Junta Comercial) da respectiva sede, antes do incio de sua atividade

    (art. 967 do C.C.B./2.00250

    ); mas ficam facultados de requerer tal inscrio (que na

    verdade, um arquivamento) o empresrio rural e o pequeno empresrio (art.970 do

    C.C.B./2.002)51

    . As sociedades, salvo excees expressas, so consideradas empresrias,

    50

    Art. 967. obrigatria a inscrio do empresrio no Registro Pblico de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do incio de sua atividade. 51

    Art. 970. A lei assegurar tratamento favorecido, diferenciado e simplificado ao empresrio rural e ao pequeno empresrio, quanto inscrio e aos efeitos da decorrentes.

    Art. 966. Considera-se empresrio quem exerce profissionalmente atividade econmica

    organizada para a produo ou a circulao de bens ou de servios. Pargrafo nico.

    No se considera empresrio quem exerce profisso intelectual, de natureza cientfica,

    literria ou artstica, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o

    exerccio da profisso constituir elemento de empresa.

  • 22

    quando tm por objeto atividade prpria do empresrio sujeito a registro (art.982 do

    C.C.B./2.00252

    ).

    Ao analisar a regra contida no art. 982, nico entende o STJ53

    tratar-se de uma

    presuno absoluta, desse modo, o enquadramento da sociedade como annima apenas gera

    a presuno absoluta de que ela uma sociedade empresarial, no que o seu objeto seja o

    comrcio propriamente dito, ou seja, a atividade de colocar bens em circulao. Portanto,

    para se saber se a sociedade empresria exerce atividade comercial ou de prestao de

    servios, seria necessrio analisar o seu objeto social.

    Observa- se que o Cdigo Civil de 2002, ampliou o que antes se denominava

    campo da matria comercial, substituiu o comerciante pelo empresrio registrado,

    considerando simples as atividades do empresrio no sujeito ao registro.

    Esquematicamente, assim observamos:

    Quem exerce a atividade

    empresarial

    Sistema do Cdigo

    Comercial de 1850

    Sistema do Cdigo Civil

    de 2002

    Pessoa Natural Comerciante individual Empresa individual

    Pessoa Jurdica Sociedade comercial Sociedade Empresria

    Quem no exerce a atividade

    empresarial

    Sistema do Cdigo

    Comercial de 1850

    Sistema do Cdigo Civil de

    2002

    Pessoa Jurdica Sociedade Civil Sociedade Simples

    Consoante aduz Fbio Ulhoa Coelho54

    a teoria dos atos de comrcio resume-se,

    a uma relao de atividades econmicas, sem que entre elas se possa encontrar qualquer

    elemento interno de ligao, o que acarreta indefinies no tocante natureza mercantil de

    algumas delas. Embora haja quem considere a impreciso inerente teoria dos atos de

    comrcio (Vicente y Gella), vrios comercialistas dedicaram-se tentativa de localizar o

    seu elemento de identidade no prprio elenco de atos mercantis. Uma delas, de menor

    inconsistncia, a de Rocco, para quem os atos comerciais so os que realizam ou facilitam

    uma interposio na troca.

    Como crticas teoria dos atos de comrcio Andr Luiz Santa Cruz Ramos55

    elenca que, alm de no abarcar todas as atividades econmicas, outro problema detectado

    decorria dos atos mistos (ou unilateralmente comerciais), aqueles que eram comerciais

    52 Art. 982. Salvo as excees expressas, considera-se empresria a sociedade que tem por objeto o exerccio

    de atividade prpria de empresrio sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. Pargrafo nico.

    Independentemente de seu objeto, considera-se empresria a sociedade por aes; e, simples, a cooperativa

    53 TRIBUTRIO E PROCESSUAL CIVIL. SOCIEDADE POR AES. OBJETO IRRELEVANTE.

    NATUREZA MERCANTIL. ACRDO QUE CONCLUIU SER A EMPRESA PRESTADORA DE

    SERVIOS. ANLISE DE PROVAS. SMULA 7/STJ. 1. O fato de a empresa agravante ser sociedade

    annima apenas gera a presuno absoluta de que ela uma sociedade empresarial, no que o seu objeto seja

    o comrcio propriamente dito, ou seja, a atividade de colocar bens em circulao. 2. Portanto, no caso, para se

    saber se a sociedade empresria exerce atividade comercial ou de prestao de servios, seria necessrio

    analisar o seu objeto social. 3. Tendo consignado a Corte de origem, aps a anlise das provas constantes nos

    autos, que a empresa agravante exclusivamente prestadora de servios, no h como este Tribunal Superior

    rever tal concluso, sob pena de violao da Smula 7/STJ. Agravo regimental improvido (STJ- AgRg no AREsp 71606 / DF, Relator: Min. Humberto Martins, julgamento: 02/02/2012). 54

    COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume I: direito de empresa. 16- edio. So

    Paulo: Saraiva, 2012, pg. 31. 55

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 7.

  • 23

    apenas para uma das partes (na venda de produtos aos consumidores, por exemplo, o ato

    era comercial para o comerciante vendedor, e civil para o consumidor adquirente). Nesses

    casos, aplicavam-se as normas do Cdigo Comercial para a soluo de eventual

    controvrsia, em razo da chamada vis atractiva do Direito Comercial.

    Consoante o esclio de Ricardo Negro56

    h os que entendem que os

    ingredientes marcantes dos atos de comrcio so a mediao e a especulao, conforme

    ensina Waldemar Ferreira; outros, como o jurista italiano Rocco, entendem que a

    caracterstica preponderante a interposio de pessoas na troca, seja esta a compra para

    ulterior revenda, seja a troca mediata de dinheiro presente contra dinheiro futuro (operaes

    bancrias) ou a troca mediata dos resultados do trabalho contra outros bens econmicos

    (operao empresarial) ou, finalmente, a troca mediata de um risco individual contra uma

    cota proporcional de um risco coletivo (seguros).

    Para Andr Luiz Santa Cruz Ramos57

    : enquanto na doutrina aliengena se

    destacou a formulao de Rocco, no Brasil ganhou destaque a formulao de Carvalho de

    Mendona, que dividia os atos de comrcio em trs classes: (I) atos de comrcio por

    natureza, que compreendiam as atividades tpicas de mercancia, como a compra e venda,

    as operaes cambiais, a atividade bancria; (II) atos de comrcio por dependncia ou

    conexo, que compreendiam os atos que facilitavam ou auxiliavam a mercancia

    propriamente dita; e (III) atos de comrcio por fora ou autoridade de lei, como, por

    exemplo, o art. 2-, 1- da Lei No.: 6404/7658

    .

    3.1. Teoria da empresa

    No ambiente econmico, ps-revoluo industrial, se desenvolveu a teoria da

    empresa, como uma nova tentativa de ampliao do Direito Comercial, agora para aceitar

    um novo modo de produo - a economia de mercado, ou a economia das organizaes.

    Com a positivao da teoria da empresa no Codice Civile de 1942, a teoria dos atos de

    comrcio foi completamente abandonada. O comerciante foi substitudo pelo empresrio e

    a sociedade comercial pela sociedade empresria. Porm, esta substituio operou uma

    grande ampliao do mbito de incidncia das normas jurdicas especiais, para abarcar

    atividades antes excludas e para acompanhar a evoluo da economia de mercado.

    Apenas com o advento do Codice Civile Italiano, em 1942, ocorreu a referida

    sistematizao, sendo por assim dizer o primeiro instrumento legislativo a positivar a

    Teoria da Empresa como basilar do Direito Empresarial. Em geral, a nova tese logrou

    aceitao ampla, e foi positivada no ordenamento jurdico brasileiro, em 2002, com o

    advento do Cdigo Civil, cabendo notar, contudo, que o ento Direito Comercial brasileiro,

    paulatinamente, j ia se transformando de um direito dos atos de comrcio para o direito da

    empresa. Forte a tese de que o Cdigo Civil de 2002 teve o condo de ser o ponto final da

    mudana de perspectiva pela qual vinha passando o Direito Empresarial ptrio.

    56

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pg. 54. 57

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 9.

    58 Art. 2 Pode ser objeto da companhia qualquer empresa de fim lucrativo, no contrrio lei, ordem

    pblica e aos bons costumes. 1 Qualquer que seja o objeto, a companhia mercantil e se rege pelas leis e

    usos do comrcio. 2 O estatuto social definir o objeto de modo preciso e completo. 3 A companhia

    pode ter por objeto participar de outras sociedades; ainda que no prevista no estatuto, a participao

    facultada como meio de realizar o objeto social, ou para beneficiar-se de incentivos fiscais.

  • 24

    No Codice Civile italiano, o empresrio foi definido no art. 2.08259

    e a atividade

    empresarial no art. 2.19560

    . O primeiro artigo traa o conceito geral de empresrio ao passo

    que o segundo dispositivo prev um rol de atividades consideradas empresrias. Sob forte

    influncia do diploma italiano, a teoria da empresa foi consolidada no Brasil, pelo advento

    do Cdigo Civil de 2002. No obstante, a teoria j havia sido bastante difundida na

    legislao e na doutrina ptrias, de forma paulatina.

    Andr Luiz Santa Cruz Ramos61

    trata acerca da teoria da empresa como o novo

    paradigma do Direito Empresarial: com a edio do Cdigo Civil Italiano e a formulao da

    teoria da empresa, o Direito Comercial deixou de ser, como tradicionalmente o foi, o

    direito do comerciante (perodo subjetivo das corporaes de ofcio) ou o direito dos atos

    de comrcio ( perodo objetivo da codificao napolenica), para ser o direito da empresa,

    o que o fez abranger uma gama muito maior de relaes jurdicas. Para a teoria da empresa,

    o Direito Empresarial no mais se limita a regular apenas as relaes jurdicas em que

    ocorra a prtica de um determinado ato definido em lei como ato de comrcio (mercancia).

    A teoria da empresa faz com que o direito Empresarial no se ocupe apenas com alguns

    atos, mas com uma forma especfica de exercer a atividade econmica: a forma

    empresarial. Assim, em princpio qualquer atividade econmica, desde que seja exercida

    empresarialmente, est submetida disciplina das regras do Direito Empresarial.

    Fbio Ulhoa Coelho62

    define a empresa a partir do sistema italiano (teoria da

    empresa), nos seguintes termos: Empresa a atividade econmica organizada para a produo ou circulao de bens ou servios. Sendo uma atividade, a empresa no tem a natureza jurdica de

    sujeito de direito nem de coisa. Em outros termos, no se confunde com o

    empresrio (sujeito) nem com o estabelecimento empresarial (coisa).

    3.2. Perfis da empresa

    A centralidade conferida empresa, pelos legisladores italiano e brasileiro,

    contrasta com a ausncia de um regime prprio para a atividade econmica organizada,

    ocasionando esforos doutrinrios enfocados no enquadramento da produo em larga

    escala aos institutos jurdicos tradicionais. Neste sentido, destacou-se a abordagem dos

    perfis da empresa, proposta pelo jurista italiano Alberto Asquini em 1943, que buscou

    decompor analiticamente o fenmeno empresarial, retratando suas diferentes dimenses

    atravs das categorias jurdicas j existentes nos ordenamentos romano-germnicos.

    O jurista italiano Alberto Asquini observou a empresa como um fenmeno

    polidrico, com quatro perfis distintos quando transposto para o direito: a) o perfil

    subjetivo, pelo qual a empresa seria uma pessoa (natural ou jurdica, ressalte-se), ou seja, o

    empresrio; b) o perfil funcional, pelo qual a empresa seria uma particular fora em

    59

    Art. 2082 Imprenditore E' imprenditore chi esercita professionalmente un'attivit economica organizzata (2555, 2565) al fine della produzione o dello scambio di beni o di servizi (2135, 2195). 60

    Art. 2195 Imprenditori soggetti a registrazione Sono soggetti all'obbligo dell'iscrizione nel registro delle imprese gli imprenditori che esercitano: 1) un'attivit industriale diretta alla produzione di beni o di servizi;

    2) un'attivit intermediaria nella circolazione dei beni; 3) un'attivit di trasporto per terra, o per acqua o per

    aria; 4) un'attivit bancaria o assicurativa; 5) altre attivit ausiliarie delle precedenti (1754). Le disposizioni

    della legge che fanno riferimento alle attivit e alle imprese commerciali si applicano, se non risulta

    diversamente, a tutte le attivit indicate in questo articolo e alle imprese che le esercitano (att 100, 200). 61

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 10. 62

    COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume I: direito de empresa. 16- edio. So

    Paulo: Saraiva, 2012, pg. 35.

  • 25

    movimento que a atividade empresarial dirigida a um determinado escopo produtivo, ou seja, uma atividade econmica organizada; c) o perfil objetivo (ou patrimonial), pelo qual a

    empresa seria um conjunto de bens afetados ao exerccio da atividade econmica

    desempenhada, ou seja, o estabelecimento empresarial; e d) o perfil corporativo, pelo qual

    a empresa seria uma comunidade laboral, uma instituio que rene o empresrio e seus

    auxiliares ou colaboradores, ou seja, um ncleo organizado em funo de um fim econmico comum. De todas essas acepes de empresa mencionadas por Asquini, esta ltima, que a considera sob um perfil corporativo, est ultrapassada, pois s se sustentava a

    partir da ideologia fascista que predominava na Itlia quando da edio do Cdigo Civil de

    194263

    .

    A sistemtica dos diversos perfis da empresa, elaborado com o escopo de

    inseri-la em um quadro normativo clssico, recolhendo do direito positivo o suporte

    jurdico para o fato econmico, precisa ser confrontado com as modernas discusses dos

    economistas sobre os motivos pelos quais se origina a organizao empresarial, evoluindo-

    se na proposio de uma disciplina mais consentnea s exigncias do trfico negocial.

    Diante disto, importante contribuio dos estudos econmicos, em especial os de Ronald

    Coase (Law and Economics), ao tratamento jurdico da atividade produtiva, consiste na

    anlise da empresa como um instrumento, constitudo por relaes contratuais, criado para

    solucionar problemas impostos pelos mercados.

    Conforme lio de Ricardo Negro64

    o perfil objetivo ou patrimonial refere-se

    empresa como patrimnio aziendal. O exerccio da atividade empresarial (perfil funcional)

    pelo empresrio (perfil subjetivo) exige um instrumento eficaz para a obteno de seu fim.

    Este nada mais que o estabelecimento empresarial, tambm denominado azienda ou fundo

    aziendal, definido como complexo de bens mveis e imveis, corpreos e incorpreos,

    utilizado pelo empresrio para o exerccio de sua atividade empresarial. O estabelecimento

    , por definio, objeto de direito.

    O conceito de estabelecimento empresarial encontra-se disposto no art. 1.142

    do Cdigo Civil de 2002: Art. 1.142. Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exerccio da empresa, por empresrio, ou por sociedade

    empresria. Sobre os perfis da empresa averba Andr Luiz Santa Cruz Ramos

    65: o mais

    adequado sentido tcnico-jurdico para a expresso empresa aquele que corresponde ao

    seu perfil funcional, isto , empresa uma atividade econmica organizada.

    Segundo Fbio Ulhoa Coelho66

    deve-se situar o direito brasileiro, no que diz

    respeito aos modelos de disciplina privada da atividade econmica, entre os que adotam o

    sistema italiano, caracterizado pelo estabelecimento de regime geral marginalmente

    excepcionado.

    63

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 11. 64

    NEGRO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, volume I. 9- edio. So Paulo:

    Saraiva, 2012, pgs. 66 e 67. 65

    RAMOS, Andr Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2- edio. Rio de Janeiro:

    Forense, 2012, pg. 11. 66

    COELHO, Fbio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume I: direito de empresa. 16- edio. So

    Paulo: Saraiva, 2012, pg. 42.

  • 26

    Para Ricardo Negro67

    relacionam-se o empresrio, o estabelecimento e a

    empresa de forma ntima: o sujeito de direito que exercita (empresrio), por meio do objeto

    de direito (estabelecimento) e os fatos jurdicos decorrentes (empr