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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SERGIPE CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS DIVISÃO DE ENSINO SEÇÃO TÉCNICA DE ENSINO CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS/2014 APOSTILA DA DISCIPLINA: ( MÓDULO I ) DIREITO PENAL E DIREITO PENAL MILITAR Facilitadores Ten- Cel Paulo Cesar Góis Paiva Major Marconi Sobral Andrade Maj Luis Eduardo Góis Paiva Cap. Edson Oliveira da Silva Cap. Leonardo dias Carvalho Junior Cap. Rogério do Prado Souza 1º Ten. Evelyn Gomes de Lima 1º Ten. Adrianno Lennon Vieira de Freitas 2º Ten Valmir Gomes dos Santos Cb Carlos César Nepomunceno Figueroa Carga-horária: 30 horas/aula ARACAJU/SE, 15 de Agosto de 2014

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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SERGIPE

CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS

DIVISÃO DE ENSINO – SEÇÃO TÉCNICA DE ENSINO

CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS/2014

APOSTILA DA DISCIPLINA: (MÓDULO I)

DIREITO PENAL E DIREITO PENAL MILITAR

Facilitadores

Ten- Cel Paulo Cesar Góis Paiva

Major Marconi Sobral Andrade

Maj Luis Eduardo Góis Paiva

Cap. Edson Oliveira da Silva

Cap. Leonardo dias Carvalho Junior

Cap. Rogério do Prado Souza

1º Ten. Evelyn Gomes de Lima

1º Ten. Adrianno Lennon Vieira de Freitas

2º Ten Valmir Gomes dos Santos

Cb Carlos César Nepomunceno Figueroa

Carga-horária: 30 horas/aula

ARACAJU/SE, 15 de Agosto de 2014

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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SERGIPE

CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DE PRAÇAS

DIVISÃO DE ENSINO – SEÇÃO TÉCNICA DE ENSINO

CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADO - 2014

Disciplina: Direito Penal e Direito Penal Militar (MÓDULO I)

Facilitador: _____________________________________________

Carga-horária: 30 horas/aula

DIREITO PENAL COMUM

UNIDADE I

INTRODUÇÃO

1.1 Conceitos de Direito Penal

1.2 Finalidade e Objeto

UNIDADE II

2.1 Princípios penais de garantia

2.1.1 Princípio da intervenção mínima

2.1.2 Princípio da adequação social

2.1.3 Princípio da fragmentariedade

2.1.4 Princípio da insignificância

2.1.5 Princípio da individualização da pena

2.1.6 Princípio da responsabilidade pessoal

2.1.7 Princípio da limitação das penas

2.1.8 Princípio da presunção de inocência

2.1.9 Princípio da legalidade

2.2 Aplicação da Lei Penal (Art. 1º ao 12º CPB)

2.2.1 Lei penal no tempo e no espaço

2.2.2 Lugar de crime

UNIDADE III

Noções sobre a teoria do crime

3.1 Conceito de Crime

3.2 Diferença entre crime e contravenção

Page 3: Apostila Direito Penal Modulo l

UNIDADE IV

Conduta

4.1 Conceito de Conduta

4.2 Elementos da Conduta

4.3 Conduta dolosa, culposa e preterdolosa

4.4 Crime Comissivo/Omissivo

4.5 Resumo Gráfico

UNIDADE V

TIPO PENAL

5.1 Tipicidade

5.2 Funções do tipo

5.2.1 Tipo doloso

5.2.2 Tipo Culposo

5.2.3 Elementos do Crime Culposo

5.3 Resumo Gráfico

UNIDADE VI

CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

6.1 Crime Consumado

6.2 Tentativa

UNIDADE VII

CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE

7.1 Estado de necessidade

7.2 Legítima defesa

7.3 Exercício regular do direito

7.4 Estrito cumprimento do dever legal

UNIDADE VIII

CULPABILIDADE

8.1- Conceito

8.2- Imputabilidade

8.3- Potencial Consciência da Ilicitude

8.3.1 Obediência Hierárquica

8.3.2 Coação Moral Irresistível

Page 4: Apostila Direito Penal Modulo l

UNIDADE IX

CONCURSO DE PESSOAS

9.1 Autoria, co-autoria e participação.

UNIDADE X

PENAS

10.1 Penas privativas de liberdade

10.2 Penas restritivas de direito

10.3 Pena de multa

10.4 Medida de segurança

UNIDADE XI

DOS CRIMES CONTRA A PESSOA

11.1 Dos crimes contra a vida

11.1.2 Homicídio

11.1.3 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio.

11.1.4 Infanticídio

11.1.5 Aborto

11.2 Lesão corporal

11.3 Da periclitação da vida e da saúde

11.3.1 Perigo de contágio

11.3.2 Perigo de contágio venéreo

11.3.3 Perigo para a vida ou a saúde de outrem

11.3.4 Abandono de incapaz

11.3.5 Omissão de socorro

11.3.6 Maus tratos

11.4 Da rixa

11.5 Dos crimes contra a honra

11.5.1 Calúnia

11.5.2 Difamação

11.5.3 Injúria

11.6 Dos crimes contra a liberdade individual

11.6.1 Constrangimento ilegal

11.6.2 Ameaça

11.6.3 Seqüestro e cárcere privado

Page 5: Apostila Direito Penal Modulo l

11.6.4 Redução à condição análoga à de escravo

11.7 Violação de domicílio

11.8 Violação de correspondência

UNIDADE XII

DOS CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO

12.1 Furto

12.2 Roubo

12.3 Extorsão

12.4 Dano

12.5 Apropriação indébita

12.6 Estelionato

12.7 Receptação

UNIDADE XIII

DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL

13.1 Estupro

13.2 Assédio sexual

13.4 Ato obsceno

UNIDADE XIV

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA

14.1 Incitação ao crime

14.2 Apologia de crime ou criminoso

UNIDADE XV

DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA

15.1 Moeda falsa

15.2 Falsificação de documento público

15.3 Falsificação de documento particular

15.4 Falsidade ideológica

15.5 Uso de documento falso

15.6 Falsa identidade

Page 6: Apostila Direito Penal Modulo l

UNIDADE XVI

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

16.1 Peculato

16.2 Concussão

16.3 Corrupção passiva

16.4 Prevaricação

16.5 Usurpação de função pública

16.6 Resistência

16.7 Desobediência

16.8 Desacato

16.9 Corrupção ativa

16.10 Contrabando e descaminho

UNIDADE XVII

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

17.1 Denunciação caluniosa

17.2 Comunicação falsa de crime

17.3 Falso testemunho ou falsa perícia

17.4 Exercício arbitrário das próprias razões

17.5 Favorecimento pessoal

17.6 Favorecimento real

17.7 Exercício arbitrário ou abuso de poder

17.8 Arrebatamento de preso

DIREITO PENAL MILITAR

UNIDADE I

INTRODUÇÃO

1.1 Crimes militares em tempo de guerra

1.2 Crimes militares em tempo de paz

Page 7: Apostila Direito Penal Modulo l

UNIDADE II

PENAS

2.1 Penas principais

2.2 Pena de dois anos aplicada a militar

2.3 Pena superior a dois anos aplicada a militar

2.4 Penas acessórias

UNIDADE III

CRIMES CONTRA A AUTORIDADE OU DISCIPLINA MILITAR

3.1 Do motim e da revolta

3.1.1 Motim

3.1.2 Revolta

3.1.3 Organização de grupo para prática de violência

3.1.4 Omissão de lealdade de militar

3.2 Da aliciação e do incitamento

3.2.1 Conspiração

3.2.2 Aliciação para motim ou revolta

3.2.3 Incitamento

3.2.4 Apologia de fato criminoso ou do seu autor

3.3 Da violência contra superior ou militar de serviço

3.3.1 Violência contra superior

3.3.2 Violência contra militar de serviço

3.4 Do desrespeito a superior e a símbolo nacional ou a farda

3.4.1 Desrespeito a superior

3.4.2 Desrespeito a símbolo nacional

UNIDADE IV

DA INSUBORDINAÇÃO

4.1 Recusa de obediência

4.1.1 Oposição de ordem de sentinela

4.1.2 Reunião ilícita

4.1.3 Publicação ou crítica indevida

4.2 Da usurpação e do excesso ou abuso de autoridade

4.2.1 Assunção de comando sem ordem ou autorização

4.2.2 Conservação ilegal de comando

Page 8: Apostila Direito Penal Modulo l

4.2.3 Uso indevido de uniforme de superior

4.2.4 Uso indevido de uniforme por qualquer pessoa

4.2.5 Rigor excessivo

4.2.6 Violência contra inferior

4.2.7 Ofensa aviltante a inferior

4.3 Da resistência

4.3.1 Resistência mediante ameaça ou violência

4.4 Da fuga, evasão, arrebatamento e amotinamento de presos.

4.4.1 Fuga de preso ou internado

4.4.2 Evasão de preso ou internado

4.4.3 Arrebatamento de preso ou internado

4.4.4 Amotinamento

UNIDADE V

DOS CRIMES CONTRA O SERVIÇO E O DEVER MILITAR

5.1 Da deserção

5.1.1Deserção

5.1.2 Concerto para deserção

5.1.3 Favorecimento a desertor

5.2 Do abandono de posto e de outros crimes em serviço

5.2.1 Abandono de posto

5.2.2 Descumprimento de missão

5.2.3 Retenção indevida

5.2.4 Embriaguez em serviço

5.2.5 Dormir em serviço

5.3 Dos crimes sexuais

5.3.1 Pederastia

5.4 Dos crimes contra o patrimônio

5.4.1 Furto de uso

5.5 Do dano

5.5.1 Desaparecimento, consunção ou extravio.

5.5.2 Modalidade culposa do dano

5.6 Uso de documento falso

5.7 Falsa identidade

Page 9: Apostila Direito Penal Modulo l

UNIDADE VI

DOS CRIMES CONTRA INCOLUMIDADE PÚBLICA

6.1 Dos crimes contra a administração militar

6.1.1 Desacato a superior

6.1.2 Desacato a militar

6.1.3 Desobediência

6.2 Dos crimes contra o dever funcional

6.2.1 Inobservância de lei, regulamento ou instrução.

6.2.2 Violação ou divulgação indevida de correspondência ou comunicação

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APOSTILA DE DIREITO PENAL E DIREITO PENAL MILITAR – CFSd/2014

―[...] o problema grave do nosso tempo, com relação aos

direitos do homem, não era mais o de fundamentá-los, e sim

o de protegê-los.‖. (Noberto Bobbio)

1- INTRODUÇÃO

A epígrafe utilizada no início desta apostila extraída do livro ―A era dos

direitos‖, de Bobbio (1992) destaca que o grande problema da atualidade não se

refere mais a preconizar direitos, mas, sim garantir a efetividade desses direitos. Um

pressuposto básico para garantir o gozo dos direitos é a proteção estatal e, um dos

meios para a referida proteção é o Direito Penal.

Na disciplina de que trata este material versaremos sobre as noções

introdutórias do Direito Penal Comum e Militar, ou seja, abordaremos os conceitos

principais destes ramos do direito e, apresentaremos os tipos penais que ocorrem

com maior frequência nas ocorrências atendidas pela Polícia Militar do Estado de

Sergipe e, por isso, a abordagem destes tipos durante o Curso será de grande

relevância para a formação do Soldado da PMSE.

Dentro desta perspectiva, consideramos que o conteúdo da disciplina em tela

é vastíssimo e complexo, mas, de suma importância para o exercício da atividade

policial militar, vez que a Lei Penal, seja ela comum ou militar, é um dos principais

fatores reguladores e limitadores da conduta humana e, por consequência, da ação

policial, sendo, portanto, um dos mais imprescindíveis instrumentos para o exercício

da função do operador de segurança pública.

No que concerne aos objetivos que se pretende atingir ao final da disciplina,

destacamos os seguintes, constantes na ementa da disciplina:

a. Conhecer os conceitos básicos do Direito Penal Comum e Militar;

Page 11: Apostila Direito Penal Modulo l

b. Conhecer e interpretar a parte geral do Código Penal Comum e Militar,

bem como os crimes propriamente militares insertos na parte especial do Código

Penal Militar; e

c. Aplicar os conhecimentos de Direito Penal Comum e Militar na atividade

policial militar e na vida pessoal.

Para a consecução destes objetivos iniciaremos com a definição de Direito

Penal, para a partir daí apresentar a finalidade e o objeto deste ramo do direito,

como veremos a seguir.

1.1 Conceitos de Direito Penal

A ementa da disciplina Direito Penal e Penal Militar do Curso de Formação de

Soldados (Edição – 2014) apresenta o seguinte conceito para o Direito Penal: ―é o

ramo do Direito Público que define um conjunto de normas jurídicas pelas quais o

Estado prescreve determinadas condutas de natureza criminal e as medidas

aplicáveis a quem as pratica.‖ Segundo ela o Direito Penal estabelece princípios

gerais e pressupostos para aplicação das penas. A referida ementa destaca que

este ramo do direito determina, de forma abstrata, qual é o objeto da prevenção e da

repressão policial.

Como preleciona Zaffaroni et al (2003, p. 40), podemos definir Direito Penal

como ―[...] o ramo do saber jurídico que, mediante a interpretação das leis penais,

propõe aos juízes um sistema orientador de decisões que contém e reduz o poder

punitivo, para impulsionar o progresso do estado constitucional de direito.‖. Já, na

concepção de Capez (2011, p. 1), o Direito Penal é entendido como:

o segmento do ordenamento jurídico que detém a função de selecionar os comportamentos humanos mais graves e perniciosos à coletividade, capazes de colocar em risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-los como infrações penais, cominando-lhes, em consequência, as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras complementares e gerais necessárias à sua correta e justa aplicação.

Page 12: Apostila Direito Penal Modulo l

Na concepção de Mirabete (2009, p. 23) ao recorremos a alguns

doutrinadores podemos definir o Direito Penal das seguintes formas: "é o conjunto

de normas jurídicas que o Estado estabelece para combater o crime, através das

penas e medidas de segurança‖, é ―o conjunto de normas jurídicas que regulam o

poder punitivo do Estado, tendo em vista os fatos de natureza criminal e as medidas

aplicáveis a quem os pratica.‖ é ―o conjunto de normas que ligam ao crime, como

fato, a pena como conseqüência, e disciplinam também as relações jurídicas daí

derivadas, para estabelecer a aplicabilidade de medidas de segurança e a tutela do

direito a liberdade em face do poder punitivo do Estado‖; é ―o conjunto de normas e

disposições jurídicas que regulam o exercício do poder sancionador e preventivo do

Estado, estabelecendo o conceito d ecrime como pressuposto da ação estatal,

assim como a responsabilidade do sujeito ativo, e associando à infração da norma

uma pena finalista ou uma medida de segurança.‖.

Diante do que já fora exposto podemos dizer que o Direito penal pode ser

entendido como um o ramo do direito público que engendra um conjunto de

princípios e leis destinado ao enfrentamento do crime e da contravenção penal,

mediante a imposição da sanção penal. Todos estes conceitos são exemplos da

diversidade de significados que o ―Direito Penal‖ no rementem.

1.2 Finalidade e Objeto do Direito Penal

A finalidade do Direito Penal, conforme ensina Greco (2010, p. 4), ―[...] é

proteger os bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da

sociedade, [...].‖. Neste contexto, o referido autor ressalta que, a finalidade do direito

penal que nos vem de imediato é a de proteger bens jurídicos. Deste modo, segundo

o citado doutrinador penalística o Direito Penal é: valorativo, finalista e sancionador.

Já, segundo Mirabete (2009, p. 23) pode-se dizer, que o fim do Direito Penal

―é a proteção da sociedade e, mais precisamente, a defesa dos bens jurídicos

fundamentais (vida, integridade física e mental, honra, liberdade, patrimônio,

costumes, paz pública etc.)‖. Como observado há uma forte similaridade entre os

conceitos de Greco e Mirabete, no que concerne a finalidade do Direito Penal.

Page 13: Apostila Direito Penal Modulo l

Nem todos os bens jurídicos são protegidos pelo Estado através do Direito

Penal. Como no exemplo citado por Mirabete (2009, p. 23), do indivíduo que,

culposamente, ―destrói coisa alheia, o que pratica um ato obsceno em lugar privado

não aberto ou exposto ao público desde que não constitua um crime contra a honra

etc.‖.

O referido autor ainda menciona que o Direito Penal é uma ciência cultural e

normativa. Sendo considerada uma ciência cultural porque indaga o ―dever ser‖,

transformando-se em regras de conduta social que devem ser seguidas por todos os

indivíduos visando preservar os interesses da coletividade.

Neste contexto, ainda, Mirabete (2009, p. 22) ressalta que: ―Embora Direito

Criminal seja expressão mais abrangente, relacionada que está com o fato principal

do fenômeno jurídico (crime), alongando-se a seus efeitos jurídicos, um dos quais é

a pena, será utilizada aqui a denominação já tradicional de Direito Penal, em

consonância com a legislação pátria [...]‖.Para se atingir a finalidade do Direito Penal

algumas funções são exercidas pelo citado ramo do direito, de modo que, entre

estás funções destacamos as seguintes:

Direito Penal como Proteção dos Bens Jurídicos;

Direito Penal como Garantia;

Função Simbólica do Direito Penal; e

Função de Redução da Violência Estatal.

Na visão de Grecco (2010, 4), a finalidade do Direito Penal é ―proteger os

bens mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade,

[...].‖, logo, a finalidade do direito penal que nos vem de imediato na mente é a

proteger bens jurídicos. Deste modo, segundo o autor o Direito Penal é valorativo,

finalista e sancionador.

Já no que tange ao objeto do Direito Penal Capez (2011, p. 4) salienta que:

―No tocante ao seu objeto, tem-se que o Direito Penal somente pode dirigir os seus

comandos legais, mandando ou proibindo que se faça algo, ao homem, pois

somente este é capaz de executar ações com consciência do fim.‖. A partir de agora

veremos alguns dos princípios aplicados ao Direito Penal.

Page 14: Apostila Direito Penal Modulo l

2.1 Princípios penais de garantia

Antes de adentrar a fundo na pesquisa faz necessário fazer uma breve

reflexão sobre a definição de princípios. Na concepção de Saraiva (2011, p. 30),

―Princípios são proposições genéricas, abstratas, que fundamentam e inspiram o

legislador na elaboração da norma.‖, como observamos os princípios guiam o

legislador na construção das leis.

Dentre as funções desempenhadas pelos princípios destacamos a função

integradora da norma, pois cabe também a eles suprir as lacunas e omissões

presente no ordenamento jurídico. Além disso, os princípios auxiliam o operador do

direito na interpretação das normas, por isso, podemos dizer que os princípios

desempenham uma tríplice função: informativa, normativa e interpretativa.

(SARAIVA, 2011)

Os princípios penais de garantia orientam a busca dos objetivos constantes

no ementário desta disciplina, ao longo das 30 horas/aulas. Vale ressaltar que, a

interpretação das normas penais deve estar em consonância com os referidos

princípios e com a Constituição brasileira promulgada no ano de 1988, que no seu

art. 1º, caput, enuncia que: ―A República Federativa do Brasil, formada pela união

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado

Democrático de Direito [...].‖ (grifo nosso).

Como consta nos grifos, o texto constitucional proclama que o Brasil funda-se

em um ―Estado Democrático de Direito‖, em que deve ser respeitada a dignidade da

pessoa humana e uma diversidade de direitos fundamentais constantes na própria

constituição e tutelados pelo Direito Penal. Vale ressaltar que, muitos dos direitos

fundamentais tutelados encontram como fundamento de sua defesa os princípios

penais de garantia, dentre os quais passaremos a expor neste momento.

2.1.1 Princípio da intervenção mínima

Na concepção de Grecco (2006, p. 53) o princípio da Intervenção Mímina, ou

ultima ratio, é ―[...] o responsável não só pela indicação dos bens de maior relevo

que merecem a especial atenção do Direito Penal, mas se presta, também, a fazer

com que ocorra a chamada descriminalização.‖.

Page 15: Apostila Direito Penal Modulo l

Logo, o princípio da intervenção mínima não se relaciona com a relevância da

ofensa ao bem jurídico, mas à relevância do próprio bem jurídico. Todos os meios

políticos e jurídicos de controle social devem ser esgotados antes que se busque a

tutela do bem pela via do Direito Penal.

Para Bitencourt apud Grecco (2006, p. 54), o princípio da ultima ratio, ―limita e

orienta o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma

conduta só se legitima se constituir meio necessário para a proteção de determinado

bem jurídico.‖.

É indubitável que, o Direito Penal só deve preocupar-se com a proteção dos

bens mais relevantes e imprescindíveis à vida em sociedade, pois, é impossível

tutelar bens de pequena importância no convívio social, pois, o Direito Penal deve

interferir o mínimo possível na convivência social. Deste modo, em consonância com

o que prescreve o referido princípio, o legislador ao criar a norma seleciona os bens

jurídicos a serem protegidos pelo Direito Penal.

Como exemplo do princípio da intervenção mínima, a Lei nº. 11.106/05, que

descriminalizou o adultério. Com a descriminalização, o cônjuge traído que tiver

interesse, poderá ingressar no juízo civil com uma ação de indenização, para ver

reparado o dano moral, não cabendo a esfera penal a resolução deste conflito.

Neste contexto, as ideias que norteiam o princípio da intervenção mínima,

conforme ensina Mirabete (2009, p. 119), ―[...] servem para inspirar o legislador, que

deve buscar na realidade fática o substancial deve-ser para tornar efetiva a tutela

dos bens e interesses considerados relevantes quando dos movimentos de

criminalização, neocriminalização, descriminalização e despenalização.‖.

2.1.2 Princípio da adequação social

Sobre o princípio da adequação social Grecco (2006, p. 62) destaca que este

princípio tem dupla função, ou seja, ―[...] a de restringir o âmbito de abrangência do

tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas,

socialmente adequadas e aceitas pela sociedade.‖.

Já, a segunda função está voltada para orientar ―[...] o legislador quando da

seleção das condutas que se deseja proibir ou impor, com finalidade de proteger os

bens considerados mais importantes.‖ e, além disso, serve para ―[...] fazer com que o

legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre

Page 16: Apostila Direito Penal Modulo l

aqueles bens cuja condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da

sociedade.‖.

É importante salientar que, ―[...] apesar de uma conduta se subsumir ao

modelo legal não será considerado típico se for socialmente adequada ou

reconhecida, isto é, se estiver de acordo com a ordem social da vida historicamente

condicionada‖ (PRADO apud MIRABETE, 2009, p. 61)

Ainda, como preconiza o citado doutrinador, o princípio da adequação social

tem as seguintes funções:

[...] restringir o âmbito de abrangência do tipo penal, limitando a sua interpretação, e dele excluindo as condutas consideradas socialmente adequadas e aceitas pela sociedade. [...] dirigida ao legislador em duas vertentes [...] orienta o legislador quando da seleção das condutas que deseja proibir ou impor, com finalidade de proteger os bens considerados mais importantes; [...] A segunda vertente destina-se a fazer com que o legislador repense os tipos penais e retire do ordenamento jurídico a proteção sobre aqueles bens cujas condutas já se adaptaram perfeitamente à evolução da sociedade; [...]. (MIRABETE, 2009, p. 62)

Dentro desta perspectiva, o princípio da adequação social não tem o objetivo

de revogar tipos penal incriminadores, pois, os tipos penais só podem ser revogados

por lei, conforme a própria previsão legal.

2.1.3 Princípio da fragmentariedade

No que concerne ao caráter fragmentário do Direito Penal, Grecco (2006, p.

65) ressalta que: ―[...] uma vez escolhidos aqueles bens fundamentais, comprovada

a lesividade e a inadequação das condutas que os ofendem, esses bens passarão a

fazer parte de uma pequena parcela protegida pelo Direito Penal, originando-se,

assim, a sua natureza fragmentária.‖.

Conforme podemos perceber o princípio da fragmentariedade é uma

decorrência da adoção dos princípios da intervenção mínima, da lesividade e da

adequação social, que colaboraram no processo de criação dos tipos penais. Mas,

como percebemos não é tudo que o Direito Penal vai regular e proteger, mas

somente uma parte, ou seja, um fragmento do que é mais relevante para a

sociedade, daí a denominação de ―princípio da fragmentariedade‖.

Page 17: Apostila Direito Penal Modulo l

2.1.4 Princípio da insignificância

Como já fora mencionado, o Direito Penal tutela os bens mais significantes

para a sociedade. Logo, aquilo que é considerado irrelevante para a sociedade, não

seria objeto do Direito Penal, conforme preconiza o princípio da insignificância.

Sobre o tema, Grecco (2006, p. 74) considera como condutas que se

enquadram no princípio da insignificância aquelas que, ―[...] não deviam merecer a

atenção do Direito Penal, em que virtude da sua inexpressividade, razão pela qual

são reconhecidas como de bagatela.‖, ou seja, consideradas insignificantes sob a

ótica do Direito Penal. Vale salientar que, parte da doutrina rejeita a aplicação do

princípio da insignificância.

Como exemplo de uma casuística em que se aplica o princípio da

insignificância temos o caso do indivíduo que retira rapidamente o carro da garagem

e lesiona levemente o transeunte, que encontra previsão legal no artigo 303 da Lei

9503/97 (Código de Trânsito Brasileiro).

2.1.5 Princípio da individualização da pena

É um dos princípios de matriz de constitucional que se apresenta de forma

explícita na Carta magna de 1988. Na interpretação de Greco (2010, p. 75) do texto

constitucional o mesmo conclui que: ―[...] primeiro momento da chamada

individualização da pena ocorre com a seleção feita pelo legislador, quando escolhe

para fazer parte do pequeno âmbito de abrangência do Direito Penal aquelas

condutas, positivas ou negativas, que atacam nossos bens mais importantes.‖, o

referido autor, também, cita um segundo momento ressaltando que: ―[...] uma vez

feita essa seleção, o legislador valora as condutas, combinando-lhes penas que

variam de acordo com a importância do bem a ser tutelado.‖. Vale ressaltar que, o

processo de individualização da pena se desenvolve em três momentos

complementares: o legislativo, o judicial, e o executório ou administrativo.

Neste segundo momento tem-se uma fase seletiva, realizada pelos tipos

penais no plano abstrato, que denomina-se cominação. Na visão de Greco (2010, p.

76) este momento é ―[...] a fase na qual cabe ao legislador, de acordo com um

critério político, valorar os bens que estão sendo objeto de proteção pelo Direito

Penal, individualizando as penas de cada infração penal, [...].‖.

Page 18: Apostila Direito Penal Modulo l

O artigo 5º, inciso XLVI, Constituição Federal, no inciso XLVI dispõe que: ―a

lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: a)

Privação ou restrição da liberdade; b) Perda de bens; c) Multa; d) Prestação social

alternativa; e) Suspensão ou interdição de direitos.‖. Dentro desta perspectiva, a

individualização da pena na fase da aplicação da reprimenda, ocorre como disposto

no artigo 59 do Código Penal Brasileiro.

2.1.7 Princípio da limitação das penas

Sobre o princípio da limitação das penas, a Carta Constitucional de 1988

preconiza no art. 5º, inciso XLVII que: ―não haverá penas: a) de morte, salvo em

caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de

trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis.‖, um dos fundamentos que sustentam

o referido princípio é a proteção constitucional a dignidade da pessoa humana. Pois,

não se admite que nenhuma pena possa ofender a dignidade humana, que é um dos

fundamentos da CF/1988. Este princípio mantém uma intrínseca correlação com o

princípio da humanidade, onde prescreve que nenhuma pena pode ser cruel,

desumana ou degradante.

2.1.7 Princípio da presunção de inocência

Do Estado Democrático de Direito consolidado na Carta Magna de 1988,

também, podemos abstrair o princípio da presunção da inocência previsto no art. 5º,

inciso LVII, da constituição brasileira onde versa que ―ninguém será considerado

culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.‖, logo, presume-

se a inocência do acusado antes da condenação definitiva.

Segundo ainda preconiza Acquaviva (2009, p. 671), de forma resumida, a

―presunção de inocência‖ é o ―Direito que tem o acusado tem de não ser

considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença.‖. Como percebemos a

presunção de inocência é um dos direitos e garantias individuais previstos no rol do

art. 5º da constituição de 1988, sendo considero cláusula pétrea, ou seja, constante

no núcleo rígido da constituição, conforme prever o art. 60, § 4º, inciso IV da CF/88.

Dentro desta perspectiva reconhecemos que o princípio da presunção de

inocência inserido no rol de direitos fundamentais tem aplicabilidade imediata, como

Page 19: Apostila Direito Penal Modulo l

disposto na Constituição Federal de 1988 no seu art. 5º, §1º, ―As normas definidoras

dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata.‖.

O autor em epígrafe interpreta o princípio da presunção da inocência previsto

na constituição como ―estado de inocência‖ e relata que segundo a Carta Magna

temos que, ―[...] o acusado é inocente durante o desenvolvimento do processo e seu

estado só se modifica por uma sentença final que o declare culpado.‖ (MIRABETE,

2009, p. 23)

Na visão do doutrinador penalista Julio Fabbrini Mirabete, o princípio da

presunção de inocência é uma consequência direta do princípio do devido processo

legal ressaltando que:

De acordo com o artigo 9º da Declaração dos Direitos do Homem e do

Cidadão, de 1789, toda pessoa se presume inocente até que tenha sido declarado

culpada, preceito reiterado no artigo 26 da Declaração Americana de Direitos e

Deveres, de 2-5-1948, e no artigo 11 da Declaração Universal dos Direitos

Humanos, da ONU. Nesses termos, haveria uma presunção de inocência do

acusado da prática de uma infração penal até que uma sentença condenatória

irrecorrível o declarasse culpado. (MIRABETE, 2009, p. 22-23)

2.1.8 Princípio da legalidade

É um dos principais princípios que norteia direito penal e mantém uma intima

relação com o texto constitucional, ou melhor, podemos dizer que o princípio da

legalidade é o mais importante princípio do Direito Penal. Sobre a citada relação

Greco (2010, p. 97), ―O Estado de direito e princípio da legalidade são dois conceitos

intimamente relacionados, pois que num verdadeiro Estado de Direito, criado coma

função de retirar o poder absoluto das mãos do soberano, exige cominação legal

(art. 59, XXXIX).‖. O art. 5º, II da CF/88, preconiza que: ―Ninguém será obrigado a

fazer ou deixar de fazer uma alguma coisa senão em virtude de lei.‖, o dispositivo

fala da lei em sentido amplo.

Na concepção de Grecco (2006, p. 202), ―A legalidade penal se completa com

o princípio geral de legalidade, que Pontes Miranda preferia chamar de

‗legaliteralidade‘ e também costuma ser designado por princípio de reserva, segundo

o qual ―ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei‖.

Page 20: Apostila Direito Penal Modulo l

Na interpretação do princípio da legalidade, a doutrina tem identificado a

simbiose com uma série de outros princípios, como o da intervenção mínima, da

proporcionalidade, da humanidade, da culpabilidade, dentre outros, que fazem parte

de um todo indivisível juntamente com o princípio da legalidade.

No art. 5º, inciso XXXIX da Carta Magna de 1988, o legislador descreveu o

denominado ―Postulado da Reserva Legal‖ ao citar que: ―não há crime sem lei

anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.‖, como verificamos é

necessária a lei para que haja o tipo penal.

2.2 Aplicação da Lei Penal (Art. 1º ao 12º CPB)

2.2.1 Lei penal no tempo e no espaço

É importante ressaltar que, com relação à aplicação da lei penal no tempo, de

modo geral, a norma aplicada é a que se encontra em vigência. Contudo, há

exceções a essa regra, conforme dispõe o art. 5º, XL, da CF/1988, onde preconiza

que, ―a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu‖ e, de acordo com o art.

2º, do Código Penal, ―Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de

considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da

sentença condenatória.‖. No que concerne à anterioridade penal, o Código Penal

transcreve isso no seu art. 1º ao ressaltar que: ―Não há crime sem lei anterior que o

defina. Não há pena sem prévia cominação legal.‖.

Ainda, no que tange a ―Lei penal no tempo‖, o art. 2º no parágrafo único do

Código Penal dispõe que: ―A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente,

aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória

transitada em julgado.‖. Para Nucci (2009, p.115) a regra geral da lei penal no tempo

é a de que: ―aplica-se a lei vigente à época do cometimento da infração penal ainda

em vigor no momento da sentença (tempus regit actum).‖, isto, corrobora com o que

já fora exposto.

No caso da lei excepcional ou temporária, o art. 3º precreve que, ―A lei

excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas

as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua

Page 21: Apostila Direito Penal Modulo l

vigência.‖. No que tange ao tempo do crime, o art. 4º cita que ―considera-se

praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento

do resultado.‖.

Ainda com relação ao art. 5º, o parágrafo 2º cita que: ―É também aplicável a

lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações

estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território

nacional ou em vôo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar

territorial do Brasil.‖.

Outra exceção à regra é a da ―retroatividade da lei penal‖, onde prescreve que

se aplica a lei penal mais benéfica, já revogada, a casuísticas ocorridas durante o

período de sua vigência. Vale ressaltar que está última exceção é uma criação

doutrinária.

Em regra, conforme o princípio tempus regit actum, a lei rege, os casos

ocorridos durante sua vigência. Não pode, de forma geral, tratar de casos

perpetrados em período anterior a sua entrada em vigor, assim como não ser

aplicada àqueles ocorridos após sua revogação. (MIRABETE, 2009)

Ainda, segundo Mirabete (2009, p. 58) por disposição expressa do próprio

diploma legal, é possível que haja ―[...] a ocorrência da retroatividade e da

ultratividade da lei. Denomina-se retroatividade o fenômeno pelo qual uma norma

jurídica é aplicada a fato ocorrido antes do início de sua vigência e ultratividade à

aplicação dela após sua revogação.‖, isto relacionado a lei penal no tempo.

Já no que tange ao tempo do crime, conforme cita Capez (2011, p. 101)

temos 03 (três) teorias que são as seguintes:

Teoria da Atividade: Considera-se que o crime foi praticado no intante

da conduta, seja, ela ação ou omissão. Neste contexto, o tempo do

crime seria o da ação ou omissão. Como exemplo, temos o art. 4º do

CP brasileiro.

Teoria do Resultado: Considera-se que o crime foi praticado no

instante do resultado, seja ele proveniente de ação ou omissão, ou

seja, é o momento da produção do resultado.

Page 22: Apostila Direito Penal Modulo l

Teoria Mista ou da Ubiquidade: Considera-se que o crime foi praticado

no conduta, seja, ela ação ou omissão, do mesmo modo, que no

momento do resultado. Isto significa que, para está teoria o tempo do

crime é indiferente, ou seja, podendo ser o da conduta ou do resultado.

O Código Penal Brasileiro adota a ―Teoria da Atividade‖, pois, no seu art. 4º

preconiza que: ―Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,

ainda que outro seja o momento do resultado.‖. Ainda, no que concerne a aplicação

da lei penal quanto ao tempo, encontra-se em vigor o princípio tempus regit actum

que se amolda com a garantia da reserva legal. Assim, no caso da ocorrência de um

fato criminoso sob a vigência de determinada lei penal, nenhuma questão surgirá se

for objeto de sentença e se esta for executada enquanto essa norma jurídica estiver

em vigor. Entretanto, praticada a conduta durante a vigência da lei penal,

posteriormente modificada por novos preceitos, surge um conflito de leis penais no

tempo se ainda não se esgotaram as conseqüências jurídicas da prática dessa

infração penal. (MIRABETE, 2009)

Segundo o que prescreve o princípio da anterioridade da lei penal (art. 1°),

está estabelecido que não há crime ou pena sem lei anterior. Como verificamos, o

texto legal configura a regra geral da irretroatividade da lei penal.

Por um lado, o referido princípio, somente se aplica à lei mais severa que a

anterior, pois a lei nova mais benigna (lex mitior) vai alcançar o fato praticado antes

do início de sua vigência, ocorrendo, assim, a retroatividade da lei mais benigna. De

modo que, não caberá a retroatividade quando entrar em vigor lei mais severa que a

anterior.

Conforme cita Mirabete (2009, p. 59-60) é importante esclarecer alguns

termos que tratam da aplicação de penal:

Novatio Legis In Mellius ou Lex Mitior: Ocorre quando uma lei penal é

mais favorável ao réu, beneficiando-o de algum modo apesar de continuar

considerando a casuística como ilícito penal.

Novatio Legis In Pejus: Ocorre quando uma nova lei penal é mais severa

que a anterior, de modo, que se aplica o princípioda irretroatividade da lei

penal, conforme previsão do art. 5º, inciso XL, da CF/1988.

Page 23: Apostila Direito Penal Modulo l

Abolitio Criminis: Neste caso, a lei penal nova é mais favorável ao réu,

ao ponto de não considerar determinada conduta como ilícito penal. O art.

2º do Código Penal traz no seu bojo a ideia expressa na ―abolitio criminis‖.

Neste contexto destacamos as seguintes normas gerais que influenciam na

aplicação da norma penal ao caso concreto:

Segundo o princípio da anterioridade penal a norma penal tem que ser

anterior a prática criminosa.

A lei penal necessita ser escrita, ou seja, não se admite um direito

costumeiro incriminador.

A norma penal tem que ser estrita, apenas se admitindo analogia a favor

do réu (In Bonam Partem), nunca analogia desfavorável ao réu (In Malam

Partem).

A lei penal deve ser taxativa, isto é, não pode suscitar dúvidas devendo

ser objetiva e clara.

Com relação à aplicação da lei penal no tempo destacamos que, de modo

geral, a norma aplicada é a que se encontra em vigência. Há exceções a

essa regra, conforme dispõe o art. 5º, XL, da CF/88, onde preconiza que,

―a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu‖ e o art. 2º, do

Código Penal, ―Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa

de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos

penais da sentença condenatória.‖. Outra exceção é a retroatividade da lei

penal, onde prescreve que se aplica a lei penal mais benéfica, já

revogada, a casuísticas ocorridas durante o período de sua vigência. Vale

ressaltar que está última exceção é uma criação doutrinária. (MIRABETE,

2009)

No que concerne a aplicação da lei penal no espaço é necessário verificar se

o crime violou interesses de dois ou mais países. Pois, por exemplo, pode a ação

criminosa ter sido praticada em um país e, a consumação ter ocorrido em outro.

Como cita Fernando Capez (2011, p. 73) destacamos 05 (cinco) princípios

correlacionados a aplicação da lei penal no espaço:

Page 24: Apostila Direito Penal Modulo l

Princípio de territorialidade: Onde se prevê a aplicação da lei

nacional ao fato praticado no território do próprio país. No que tange a

extraterritorialidade há a previsão legal no art. 7º, do Código Penal.

Princípio da nacionalidade (ou de persoalidade): Onde se cogita a

aplicação da lei penal do país de origem do agente (autor), não se levando

em consideração o local onde foi praticado o ilícito penal.

Princípio de proteção (da competência real, de defesa): Por este

princípio aplica-se a lei do país ao fato que atinge bem jurídico nacional, sem

nenhuma consideração ao local onde foi perpetrado o crime ou da

nacionalidade do agente.

Princípio da competência universal: Em que prevê que o autor do

crime deve ser julgado e punido onde foi preso, conforme as leis desse país,

não se levando em consideração o lugar do ilícito penal, a nacionalidade do

agente ou o bem jurídico ofendido.

Princípio da representação: Que tem caráter subsidiário e, que atua

determinando a aplicação da lei do país quando da deficiência legislativa ou

desisteresse de outro que deveria agir na repressão criminal e, este não o faz,

e diz respeito aos crimes cometidos em aeronaves ou embarcações.

Neste contexto, sobre a territorialidade o art. 5º cita que: ―Aplica-se a lei

brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao

crime cometido no território nacional.‖, sobre o tema o parágrafo 1º expressa que:

Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.

Após a abordagem dos principais temas que envolvem a lei penal no tempo e

no espaço passaremos a discorrer, de forma breve, sobre o ―lugar de crime‖, no que

se refere aos seus aspectos gerais.

Page 25: Apostila Direito Penal Modulo l

2.2.2 Lugar de crime

Para abordar o tema ―lugar de crime‖ recorremos ao que preconiza o art. 6º

do Código Penal onde versa que é considerado o ilícito penal praticado no lugar em

que: ―[...] ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se

produziu ou deveria produzir-se o resultado.‖.

Ainda, no que concerne ao lugar de crime se adota a Teoria Mista ou da

Ubiquidade. O lugar do crime encontra-se transcrito no art. 6º do CP, onde preconiza

que: ―Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão,

no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o

resultado.‖. Sobre o tema de modo contrário dispõe o art. 70 do Código de Processo

Penal, onde estabelece como regra a competência ratione loci focalizando o lugar

em que se consumar a infração.

Apesar disso, é importante destacar o que dispõe o art. 5º, do Código Penal

Brasileiro, onde expõe que: ―Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções,

tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.‖

(grifo nosso)

Na concepção de Nucci (2009, p. 119) sobre lugar de crime podemos

destacar três teorias, como veremos a seguir:

a) teoria da atividade: considerando praticado o delito no momento da conduta, não importando o instante do resultado; b) teoria do resultado, reputando cometido o crime no momento do resultado; c) teoria mista ou da ubiquidade, adotando que o momento do crime pode ser tanto o da conduta, quanto o do resultado. (grifo nosso)

Segundo Prado (2008, p. 190) há várias teorias sobre lugar do delito, contudo,

o referido autor destaca que a lei brasileira adota a teoria pura da ubiquidade, mista

ou unitária, onde versa que: ―lugar do delito tanto pode ser o da conduta como o do

resultado ou o lugar do bem jurídico atingido.‖, justificando a escolha desta teoria em

face do que dispõe o art. 6º do Código de Penal.

Page 26: Apostila Direito Penal Modulo l

3- NOÇÕES SOBRE TEORIA DO CRIME

3.1- CONCEITO DE CRIME

Há três enfoques para o conceito de crime:

MATERIAL - Refere-se ao conteúdo do ilícito penal, com análise da conduta

danosa e sua consequência social. Crime é, portanto, o comportamento

humano que causa lesão ou perigo de lesão a bem jurídico.

FORMAL – Este conceito leva em consideração o antagonismo entre a

conduta e a norma. Logo, crime é a conduta humana proibida pela lei penal.

ANALÍTICO – O critério cientifico, empregado pelos operadores do direito,

com o intuito de estudar a estrutura dogmática do crime. Busca, sob um

prisma jurídico, estabelecer os elementos estruturais que integram o crime.

Neste aspecto, crime é fato típico, antijurídico e culpável.

3.2- CRIME X CONTRAVENÇÃO

Infração Penal é um gênero que se divide em duas espécies: Crimes e

contravenção Penal

De acordo com o art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal, constitui crime

a infração apenada com reclusão ou detenção, acompanhada ou não de multa, e

contravenção penal aquela punida com prisão simples ou somente com pena de

multa

Page 27: Apostila Direito Penal Modulo l

Segundo Guilherme de Souza Nucci, não há diferença substancial entre

crime e contravenção Penal. O legislador, quando editou o Código Penal de 1940,

buscou diferenciar as condutas de acordo com sua reprovabilidade social, punindo o

Crime, mais grave com reclusão e detenção e a Contravenção Penal, mais leve, com

prisão simples.

Além da distinção acima exposta, pode-se citar:

AÇÃO PENAL- Os Crimes podem ser de Ação Penal Pública

(condicionada ou incondicionada) ou de Ação Penal Privada- CP, art.

100. As contravenções, por sua vez, são sempre de Ação Penal

Pública Incondicionada- LCP, art. 17.

TENTATIVA- A tentativa é punível nos crimes- CP, art 14,II, o que não

ocorre nas Contravenções- LCP, art 4º.

ELEMENTO SUBJETIVO- O crime pode ser doloso ou culposo- CP,

art 18-, enquanto na contravenção basta que a conduta seja voluntária-

LCP, Art. 3º.

LIMITE DE CUMPRIMENTO- O limite para cumprimento das penas

privativas de liberdade decorrentes de crime é de 30 (trinta) anos,

enquanto o limite para as contravenções é de 05 (cinco) anos;

EXTRATERRITORIALIDADE- Existe a possibilidade de punição por

crime cometido fora do território nacional, contudo, as contravenções

só serão punidas se ocorrerem dentro do território brasileiro.

4- CONDUTA

4.1-CONCEITO DE CONDUTA

A conduta enquanto manifestação da pessoa será considerada, então, como

um comportamento humano voluntário, dotado de razão e consciência, que se

manifesta dentro de certo contexto social, se manifestando através de um ou mais

atos, em se tratando de uma ação, ou através de uma omissão.

O Código Penal adotou a teoria finalista da ação, ou seja, como todo

comportamento do homem tem uma finalidade, a conduta é uma atividade final

Page 28: Apostila Direito Penal Modulo l

humana e não um comportamento simplesmente causal. Como ela é um fazer (ou

não fazer) voluntário, implica necessariamente uma finalidade. Não se concebe

vontade de nada ou para nada, e sim dirigida a um fim.

4.2- ELEMENTOS DA CONDUTA

São elementos essenciais constitutivos da conduta:

a) VONTADE

b) FINALIDADE

c) EXTERIORIZAÇÃO

d) CONSCIÊNCIA

A ausência de um desses elementos essenciais acarreta a própria ausência

de conduta, portanto, podem eliminar a conduta:

ATOS INCONSCIÊNTES- Sonambulismo, narcolepsia,

EX.: Pessoa em estado de sonambulismo que mata alguém

ATOS INVOLUNTÁRIOS- Coação física irresistível, atos reflexos e

hipnotismo.

EX.: Pessoa mais forte que obriga outra a matar alguém, empurrando seu braço que

esta empunhando uma faca.

4.3- CONDUTA DOLOSA, CULPOSA E PRETERDOLOSA

Diz doloso o crime quando o agente quis o resultado ( dolo direto) ou quando

assumiu o risco de produzi-lo (dolo eventual). Já o crime culposo ocorre quando o

Page 29: Apostila Direito Penal Modulo l

agente pratica uma conduta visando determinado resultado e, por agir com

imprudência, negligência ou imperícia, ele causa um resultado não pretendido.

Preterdoloso é o crime cujo resultado total é mais grave que o pretendido

pelo agente. Há uma conjugação de dolo no antecedente e culpa no consequente.

Ex.: João, objetivando causar lesões corporais em Pedro, desfere-lhe um

soco no rosto. Pedro, com o impacto do soco, cai, bate a cabeça em um pedra e

vem a obito. João responderá por lesão corporal (antecedente) seguida de morte

(consequente).

4.4- CRIME COMISSIVO E OMISSIVO

O Crime Comissivo consiste na realização de uma ação positiva, visando um

resultado tipicamente ilícito, ou seja, no fazer o que a lei proíbe. A maioria dos

crimes previstos no código penal e na legislação extravagante é constituída por

delitos de ação, isto é, pelos delitos de Comissivos.

O Crime Omissivo próprio, por sua vez, consiste no fato de um agente

deixar de realizar uma conduta a qual estava obrigado por lei, configurando-se com

a simples abstenção da conduta devida, quando podia e devia realiza-la,

independente do resultado que venha a ocorrer.

Ex.: Omissão de Socorro

O Crime Omissivo Impróprio ou Comissivo por Omissão, a omissão é

utilizada como meio para atingir um resultado. Nessa modalidade criminosa o agente

não responde pela simples abstenção, mas pelo resultado que vier a ocorrer, o qual

o agente estava obrigado a impedir que ocorresse.

Page 30: Apostila Direito Penal Modulo l

4.5- RESUMO GRÁFICO

5- TIPO PENAL

5.1- TIPICIDADE

Tipicidade penal é a perfeita adequação entre o fato concreto e o tipo

incriminador (modelo abstrato). Adotamos atualmente a teoria de um tipo penal

complexo, com parte objetiva e subjetiva.

Page 31: Apostila Direito Penal Modulo l

O juízo de tipicidade comporta, assim, análise objetiva e subjetiva. Subjetiva

quando se refere ao aspecto interno do sujeito (previsão do resultado, consciência

da conduta, vontade, objetivos etc.). Objetiva quando externo ao sujeito, perceptível

diretamente pelo observador (o movimento corpóreo, o lugar da conduta, o resultado

naturalístico etc.).

A tipicidade penal pode ser dolosa, quando presente no tipo o elemento

subjetivo do tipo dolo. Pode também ser culposa, quando necessário tão somente o

elemento normativo culpa. Sem dolo ou culpa, não há crime, conforme o já estudado

princípio da culpabilidade, que rege o Direito Penal brasileiro.

A adequação típica pode ser: imediata, nos casos em que o fato concreto se

adapta diretamente à hipótese típica, ou seja, o tipo espelha a conduta realizada no

mundo exterior; e mediata ou indireta, nos casos em que o fato não encontra

correspondente direto na narrativa típica.

Exemplo: não há um tipo que narre “tentar matar alguém”. A adequação

típica apenas ocorrerá de forma mediata, ou seja, será preciso recorrer a uma norma

de ampliação da adequação típica da tentativa para que o homicídio na forma

tentada seja considerado típico. O mesmo acontece com o concurso de agentes.

O vocábulo tipo é utilizado com o sentido de modelo. O tipo penal

incriminador seria o modelo de conduta proibida, em princípio. Ao invés de

descrever a própria proibição da conduta (“não matar, sob pena de ...“), o sistema de

modelos (tipos) traz a descrição da conduta proibida no preceito primário, e no

secundário, a sanção.

Nos tipos penais podem ser discriminadas:

a) elementares: são os dados essenciais da fi gura típica, sem os quais ocorre

atipicidade absoluta ou relativa. Há atipicidade absoluta quando, com a

eliminação hipotética do dado, a conduta deixa de ser relevante penal (retire

hipoteticamente o termo “outrem” do crime de lesão corporal e o fato deixa de ter

relevância penal, pois a autolesão não é, em princípio, punível). Consideramos

que houve tipicidade relativa quando a exclusão hipotética do dado resulta na

alteração da classifi cação típica, ou seja, o fato passa a ser capitulado em outro

Page 32: Apostila Direito Penal Modulo l

tipo (elimine a violência ou grave ameaça do roubo e o fato passa a constituir

furto);

b) Circunstâncias: são todos os dados acessórios da figura típica que orbitam as

elementares e têm como função influir na dosagem da pena. São objetivas

quando se referem a aspectos externos ao sujeito e subjetivas quando tratam do

agente.

5.2- FUNÇÕES DO TIPO

5.2.1- TIPO DOLOSO

Dolo é a vontade e a consciência de realizar os elementos constantes do tipo

legal. Mais amplamente, é a vontade manifestada pela pessoa humana de realizar a

conduta. Costuma-se designar seus elementos como intenção e vontade.

Há duas importantes teorias acerca dos elementos constitutivos do

dolo:

a) teoria normativa do dolo: dolo é consciência, vontade e consciência da

ilicitude;

b) teoria psicológica do dolo: dolo é consciência e vontade de estar

concretizando/concretizar os elementos do tipo.

5.2.2- TIPO CULPOSO

Culpa é o elemento normativo da conduta. É a quebra do dever de cuidado

objetivo decorrente da imprudência, da negligência ou da imperícia:

Imprudência: ação descuidada. Implica sempre um comportamento

positivo;

Page 33: Apostila Direito Penal Modulo l

Negligência: é a inação, inércia e passividade. Decorre de inatividade

material (corpórea) ou subjetiva (psíquica). Reduz-se a um

comportamento negativo;

Imperícia: é a demonstração de inaptidão técnica em profissão ou

atividade. Consiste na incapacidade, na falta de conheci mento ou

habilidade para o exercício de determinado mister.

Os tipos que definem os crimes culposos são, em geral, abertos; neles,

portanto, não se descreve em que consiste o comportamento culposo. O tipo limita-

se a dizer: “se o crime é culposo, a pena será de...”, não descrevendo como seria a

conduta culposa.

A culpa, portanto, não está descrita, nem especificada, mas apenas prevista

genericamente no tipo. Isso acontece porque seria impossível o legislador elencar

todas as maneiras de se praticar conduta culposa.

5.2.2.1- Elementos do Crime Culposo

a) conduta (sempre voluntária);

b) resultado involuntário;

c) nexo causal;

d) tipicidade;

e) previsibilidade objetiva. É a possibilidade de qualquer pessoa dota da de

prudência mediana prever o resultado. Anota Mirabete: “a rigor, porém, quase todos

os fatos naturais podem ser previstos pelo homem, inclusive de uma pessoa poder

atirar-se sob as rodasdo automóvel que está dirigindo. Não se pode confundir o

dever de prever, fundado na diligência ordinária de um homem qualquer, como

poder de previsão”;

f) ausência de previsão (cuidado: na culpa consciente inexisteesse elemento);

Page 34: Apostila Direito Penal Modulo l

g) quebra do dever de cuidado objetivo, manifestada por meio da imprudência,

imperícia ou negligência.

5.2.3- DOLO EVENTUAL X CULPA CONSCIENTE

Na Culpa Consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita

sinceramente na sua não ocorrência; o resultado previsto não é querido ou mesmo

assumido pelo agente.

No dolo eventual, embora o agente não queira efetivamente o resultado,

assume o risco de vir a produzi-lo, ou seja, se este vier a acontecer, pouco importa

para o agente.

5.3- RESUMO GRÁFICO

Page 35: Apostila Direito Penal Modulo l

6- CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO

6.1- Crime Consumado

Segundo preconiza o próprio Código Penal, em seu Art.14, I, diz-se que o crime

foi consumado quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição. Ex.: no

crime de furto, no momento que o agente consegue subtrair para si ou para outrem,

coisa alheia móvel, retirando-a da esfera do domínio do seu proprietário, acontece a

consumação.

No exemplo acima citado, o crime foi consumado no momento que o agente

consegue produzir o resultado, que foi a saída do bem furtado da esfera de guarda

do seu proprietário, no entanto, é importante observar que nem todos os crimes

exigem a produção de um resultado para que seja consumado. Os crimes formais e

os crimes de mera conduta, por exemplo, não prescindem de tal necessidade.

Os crimes de mera conduta, como o próprio nome adianta, não possuem um

resultado naturalístico, basta que o agente aja conforme a descrição do tipo legal

para que haja a consumação do mesmo. Ex.: No crime de violação de domicílio (Art.

150, do CP), basta que o agente entre ou permaneça em domicílio alheio, contra a

vontade de quem de direito para que o crime seja consumado, não havendo um

resultado concreto desse crime. Outro exemplo é o do crime de desobediência (Art.

330, do CP). Desobedecendo a ordem legal de funcionário público, consumado

estará o crime, sem que haja um resultado para tal ilícito.

Já nos crimes formais, apesar do tipo mencionar um comportamento e um

resultado, não há a exigência da sua produção para que o crime seja consumado.

Ex.: O crime de extorsão (Art. 158, do CP) consuma-se com a ação que constranger

a vítima, com o intuito de obter indevida vantagem econômica, não sendo

necessária qualquer mudança no mundo material para tanto.

Page 36: Apostila Direito Penal Modulo l

6.2- Tentativa

Considera-se que um determinado crime foi tentado quando, iniciada a

execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. Tal

regra foi delineada no Art. 14, II, do CP, que deve ser sempre combinado com o

artigo da parte especial que tipifica o crime tentado pelo agente, para que se possa

responsabilizá-lo pela sua conduta criminosa. Geralmente, como reza o parágrafo

único do próprio Art. 14, do CP, a tentativa deve ser punida com a pena cominada

para o crime efetivamente consumado, diminuída de um a dois terços. Ex.: Com a

intenção de matar Pedro, João esconde-se atrás de uma moita e desfere dois tiros

contra o peito do mesmo, quando ele passa displicente. Como no momento de atirar

João perdeu um pouco o equilíbrio, os disparos atingem o ombro da vítima, que

escapa viva do atentado.

Os crimes de mera conduta, como não exigem a produção de um resultado para

a sua consumação, não admitem a tentativa, pois já efetivam-se simplesmente com

o início da ação do autor.

Também não admitem tentativa os crimes culposos, posto que sempre faltará ao

agente a vontade de obter o resultado, e os crimes preterdolosos, uma vez que o

resultado final também não era pretendido pelo agente.

Convém, ainda, salientar que as tentativas de contravenção não são puníveis.

7- EXCLUDENTES DE ANTIJURIDICIDADE OU DE ILICITUDE

Para ser considerado crime, além de típico o fato precisa ser antijurídico, ou

seja, contrário ao ordenamento jurídico que o proíbe, demonstrando reprovação

àquela conduta. No entanto, o legislador previu situações em que uma conduta

inicialmente descrita como típica, pode ser realizada pelo agente, sem que haja

agressão ao ordenamento jurídico.

Dessa forma, no Art. 23, do CP, encontram-se enumeradas as circunstâncias

que excluem a ilicitude ou a antijuridicidade de condutas tipificadas como delituosas.

Page 37: Apostila Direito Penal Modulo l

São elas: o estado de necessidade, a legítima defesa, o estrito cumprimento do

dever legal e o exercício regular de direito.

7.1. Estado de Necessidade

Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de

perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,

direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-

se (Art. 24, do CP).

São exemplos dessa excludente: violação de domicílio para acudir vítimas de

crime ou desastre; subtração de automóvel para transportar um doente em perigo de

vida para o hospital; lançamento de mercadorias ao mar para salvar o navio e seus

passageiros de um naufrágio; bombeiro que deixa de atender a um incêndio, para

atender a outro; aeronave em pane que aterrissa numa rodovia, avariando diversos

veículos.

Requisitos para a verificação do estado de necessidade, numa situação de

perigo ou situação de necessidade:

a) um perigo atual;

b) ameaça de direito próprio ou alheio;

c) situação não causada voluntariamente pelo sujeito;

d) inexistência de dever legal de arrostar o perigo (Art. 24, § 1º, do CP).

Requisitos para a verificação do estado de necessidade, quando temos uma

conduta lesiva:

a) inevitabilidade de comportamento lesivo;

b) inexigibilidade do sacrifício do interesse ameaçado;

c) conhecimento da situação de fato justificante.

Page 38: Apostila Direito Penal Modulo l

7.2. Legítima Defesa

Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios

necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem

(Art. 25, do CP). Como se pode notar a própria descrição legal encerra uma série de

requisitos para que a legitima defesa se verifique, quais sejam:

a) reação a uma agressão humana (a agressão de animais irracionais configuram o

estado de necessidade);

b) agressão injusta, atual ou iminente;

c) defesa de direito próprio ou alheio;

d) repulsa com o uso moderado dos meios necessários (é punível o excesso doloso

ou culposo – Art. 23, parágrafo único, do CP);

e) conhecimento da agressão e da necessidade de defesa (elemento subjetivo)

Assim como no estado de necessidade, a legitima defesa também admite a

modalidade putativa, ou seja, quando o agente, por erro excusável ou invencível

(qualquer pessoa erraria), acredita estar agindo em legítima defesa. Ex.: Zé, jurado

de morte por seu inimigo, encontra-o numa rua deserta e mal iluminada. Reagindo

ao fato do seu inimigo ter levado a mão ao bolso de forma impetuosa, como se fosse

sacar uma arma, Zé saca o seu revólver e dispara contra seu inimigo, matando-o.

Logo após, percebe que o mesmo não estava armado.

Como prevê o Art. 20, § 1º, primeira parte, a legitima defesa putativa não é

excludente de ilicitude, mas sim de punibilidade. Quem age nessas circunstâncias

comete o crime, no entanto não lhe é atribuída nenhuma pena.

Os ofendículos, entendendo-se como tal os aparatos utilizados para defender o

patrimônio, o domicílio ou qualquer outro bem jurídico de ofensa ou ataque, são

considerados pela melhor doutrina como formas de legítima defesa, posto que

encontram-se presentes todos os requisitos. Ex.: cacos de vidro no muro, cerca de

arame farpado, cercas eletrificadas e etc.

Page 39: Apostila Direito Penal Modulo l

7.2.1. Diferença básicas entre o estado necessidade e a legítima defesa.

a) no estado necessidade, há conflito de interesses lícitos, enquanto na legítima

defesa há conflito entre interesses lícitos, de um lado, e ilícitos, de outro.

b) No estado necessidade, o perigo pode advir de força da natureza, ataque de

animal ou de ação lícita de outrem. Na legítima defesa há agressão humana.

c) No estado necessidade, há uma ação (ataque) a bem jurídico. Na legítima

defesa, há reação (defesa) do interesse ameaçado.

d) Na legítima defesa há injustiça da agressão, o que não ocorre no estado

necessidade, em que há perigo.

Não existe legítima defesa contra estado de necessidade porque quem agride

o bem jurídico de outrem para salvar-se não realiza um injusto; há estado de

necessidade simultâneo e recíproco.

7.3. Estrito Cumprimento do Dever Legal

No dizer do Art. 23, III, primeira parte, do CP, não há crime quando o agente

pratica o fato em estrito cumprimento do dever legal, sendo, portanto, situação que

exclui a ilicitude do fato típico. É bom frisar que é necessário o conhecimento do

dever por parte do agente, tornando consciente a conduta.

São clássicos exemplos da aplicação da presente excludente:

a) o carrasco que fuzila ou administra uma injeção letal no condenado;

b) o policial que efetuando uma prisão em flagrante delito ou por determinação

judicial é obrigado a utilizar da força necessária à condução;

c) o soldado que mata o inimigo no campo de batalha.

7.4. Exercício Regular de Direito

O Art. 23, III, parte final, do CP, determina que não há crime quando o agente

pratica o fato no exercício regular de direito, sendo, portanto, situação que exclui a

Page 40: Apostila Direito Penal Modulo l

ilicitude do fato típico. Além do necessário conhecimento, por parte do autor, de

estar agindo no exercício de um direito seu, também se faz imprescindível que tal

conduta obedeça rigorosamente aos requisitos traçados pelo poder público, para

caracterizar o exercício regular desse direito.

São clássicos exemplos da aplicação da presente excludente:

a) a prisão em flagrante realizada por pessoa do povo;

b) o dono do hotel que retém a bagagem do hospede para garantir o pagamento

pelo aluguel do aposento (direito garantido pelo Código Civil);

c) o pai que castiga o filho com a finalidade de corrigi-lo.

8- CULPABILIDADE

8.1. Conceito

Para que uma conduta seja punível, além da tipicidade e da antijuridicidade,

é necessário que ela apresente um coeficiente pessoal de censurabilidade,

reprovação: este juízo normativo de censura que se dirige ao autor do

comportamento contrário ao Direito é o núcleo da noção de culpabilidade.

Destarte, o juízo de censurabilidade exige duas condições: que se realize

um fato típico e antijurídico e que ele seja praticado por alguém com capacidade de

decidir, i.e., que tenha autonomia de vontade para decidir conforme o direito, no

caso concreto. São elementos da culpabilidade:

a) imputabilidade;

b) exigibilidade de conduta diversa;

c) potencial consciência da ilicitude.

Page 41: Apostila Direito Penal Modulo l

8.2. Imputabilidade

Imputabilidade penal é o conjunto de condições pessoais que dão ao agente

a capacidade para lhe ser juridicamente imputada (atribuída) a prática de um fato

punível. A imputabilidade é, portanto, a regra, na medida em que, a princípio, todos

são imputáveis. Mas como toda regra, a imputabilidade sofre algumas exceções, o

que criou a figura dos inimputáveis.

As causas de exclusão da imputabilidade são:

a) doença mental (Art. 26, do CP);

b) desenvolvimento mental incompleto (Art. 26, do CP);

c) desenvolvimento mental retardado (Art. 26, do CP);

d) menoridade penal (Art. 27, do CP);

e) embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou de força maior

(Art. 28, § 1º, do CP);

Os casos de inimputabilidade não excluem o caráter criminoso das condutas

cometidas, apenas impedem a atribuição da pena, ou funcionam como causas de

diminuição da pena (Art. 26, parágrafo único e Art. 28, § 2º, ambos do CP)

OBSERVAÇÃO:

Os estados emocionais ou passionais não excluem a imputabilidade (art. 28,

I, CP), até porque a emoção e a paixão não são classificadas como enfermidades

mentais, sendo situações freqüentes da vida de qualquer indivíduo equilibrado.

Todavia, quando elas já se apresentam como sérias perturbações crônicas da saúde

mental ou manifestações sintomalógicas de outras psicopatias, podem levar à total

ou parcial imputabilidade. Todavia, a emoção não é totalmente indiferente ao Direito

Penal. Pode servir como causa de diminuição de pena no homicídio, quando

causada por injusta provocação da vítima, além da a atenuante genérica do art. 65,

II, c, quando provocada por ato injusto da vítima.

Page 42: Apostila Direito Penal Modulo l

8.3. Potencial Consciência da Ilicitude

O juízo de reprovação somente incide se, no caso concreto, ao agente

capaz era possível saber que estava atuando contra o ordenamento jurídico: a

vontade deve orientar-se pela consciência da ilicitude do comportamento. Mas o que

é a consciência da ilicitude?

Trata-se de conhecimento leigo, vulgar, que está ao alcance de qualquer

indivíduo capaz que tenha acesso aos meios de informação. E o ordenamento não

impõe o dever de conhecer a ilicitude, mas o dever de se informar, somente exigindo

o cumprimento desse dever quando, nas circunstâncias concreta do agir, verifique-

se que o sujeito tem possibilidade de informar-se, com a reflexão ordinária, sobre a

antijuridicidade de um comportamento.

Destarte, o primeiro requisito da culpabilidade (e seu segundo elemento) é a

consciência potencial, não necessariamente atual, da ilicitude. Incidindo o erro de

proibição sobre ela, pode fazer excluir a culpabilidade se invencível ou atenuá-la, se

vencível.

A conduta do sujeito, ao realizar um fato típico e antijurídico, somente pode

ser considerada autônoma (reprovável, punível) se a decisão de realizá-la foi

proveniente de um processo de normal motivação de sua vontade. Por outro lado, se

qualquer interferência convence de que a vontade foi anormalmente motivada, a

decisão não se considera autônoma, e a culpabilidade estará excluída.

Se, nas circunstâncias em que o fato ocorreu, era impossível ao indivíduo

decidir de outra forma, por sua vontade estar anormalmente motivada, não poderá

recair sobre ele o juízo de reprovação, pois ninguém pode ser culpado por uma

conduta que não podia deixar de ser praticada. A inexigibilidade de conduta

conforme o Direito fundamenta duas situações legais (art. 22, CP) quais sejam:

a) a obediência hierárquica,

b) a coação irresistível.

Page 43: Apostila Direito Penal Modulo l

8.3.1- Obediência Hierárquica:

Do poder hierárquico que informa a Administração, decorre que, via de

regra, as ordens emanadas dos superiores devem ser cumpridas pelos subalternos

tendo em vista o princípio da presunção da legitimidade e veracidade. Daí porque se

diz que, muitas vezes, não é dado ao funcionário agir de outro modo, ainda que a

execução de uma ordem superior importe na realização de um fato típico e

antijurídico. Excluída a sua culpabilidade, responde pelo fato apenas seu superior.

Requisitos da obediência hierárquica, sem o que fica afastada a exclusão da

culpabilidade:

a) relação de Direito Público entre superior e subordinado;

b) que a ordem não seja manifestamente ilegal – o cumprimento estrito

de uma ordem legal corresponde a uma justificativa penal (art. 23, III). Se a ordem

for manifestamente ilegal (quando não observa aos requisitos formais extrínsecos,

ou emitida por autoridade incompetente ou tem objeto ilícito), a dirimente é afastada,

respondendo o obediente como co-autor ou partícipe, incidindo a atenuante prevista

no art. 65, III, c, CP.

c) que o fato seja cumprido dentro de estrita obediência à ordem – se houver

excesso, o executor responde por isso.

8.3.2- Coação Moral Irresistível:

Em Direito Penal, coação é o constrangimento imposto a uma pessoa para

compeli-la a realizar um fato típico e antijurídico. A coação moral, que pode se dar

por meio da violência ou ameaça, interfere no processo psicológico de decisão,

fazendo com que o sujeito decida em circunstâncias anormais (sua vontade é

viciada). Sendo a coação moral irresistível, isenta-se de pena o coacto, respondendo

pelo delito o coator; se resistível, ambos respondem em concurso, podendo o coacto

se beneficiar da atenuante prevista no art. 65, III, c, CP.

Page 44: Apostila Direito Penal Modulo l

UNIDADE IX

CONCURSO DE PESSOAS

9.2 Autoria, co-autoria e participação.

Conceito: É a colaboração empreendida por duas ou mais pessoas para a realização de um

crime ou contravenção penal.

As regras inerentes ao concurso de pessoas encontram-se disciplinadas pelos arts 29

a 31 do Código Penal:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este

cominadas, na medida de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a

um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a

pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o

resultado mais grave.

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo

quando elementares do crime.

Art. 31 - O ajuste, a determinação ou instigação e o auxílio, salvo disposição expressa em

contrário, não são puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.

Adotou-se, como regra, a teoria unitária ou monista: quem concorre para um crime

por ele responde, ou seja, todos que colaboram na prática delitiva respondem pela mesma

infração.

Excepcionalmente, contudo, o Código Penal abre espaço para a teoria pluralista onde

cada colaborador deve responder por uma infração diversa. As condutas são separadas e os

agentes respondem por tipos penais diversos, embora busquem um mesmo resultado.

Exemplos:

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1) aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante: ao terceiro executor

imputa-se o crime tipificado pelo art. 126, enquanto que para a gestante incide o crime

previsto pelo art. 124;

2) corrupção passiva e ativa: o funcionário público pratica corrupção passiva ativa (art 317),

e o particular, corrupção ativa (art. 333).

REQUISITOS PARA O CONCURSO DE PESSOAS

Os requisitos para que se configure o concurso de pessoas são:

a) Pluralidades de agente: depende de pelo menos duas pessoas.

b) Liame subjetivo: significa que o partícipe deve ter ciência de estar colaborando para o

resultado criminoso visado pelo outro. É desnecessário o prévio ajuste entre as

partes, bastando a unidade de desígnios, ou seja, que uma vontade adira à outra.

Ex.: por desanvenças anteriores, uma pessoa deixa a porta da casa da vítima aberta e o

ladrão se aproveita desse fato para praticar um furto. O autor da subtração não sabe que foi

ajudado, mas quem ajudou é partícipe do furto.

c) Relevância causal: Se a colaboração é querida , mas não tem qualquer relevância,

não será punida.

Ex.: É o caso de José que, sabendo que João quer matar seu cunhado, empresta a seu pedido

arma de fogo. Cego de ódio, João nem se lembra da arma e mata seu cunhado aos pontapés.

Não relevância na atuação de José.

A atuação deve ser anterior à consumação do delito. Se posterior resta afastada a

hipótese de concursos de pessoas.

d) Unidade de crimes para todos os envolvidos: havendo liame subjetivo, todos os

envolvidos devem responder pelo mesmo crime.

AUTORIA, COAUTORIA E PARTICIPAÇÃO

Autoria: O Código penal adotou a teoria restritiva, segundo a qual autor é apenas aquele

que executa a conduta típica descrita na lei, ou seja, quem realiza o verbo contido no tipo

penal. Ex.: no homicídio a conduta é “matar alguém” e, assim, autor do crime é aquele que,

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por exemplo, efetua disparos conta a vítima, coloca em sua bebida etc. (autor propriamente

dito)

Autoria mediata: considera-se mediato aquele que se serve de um inculpável ou de pessoa

que atua sem dolo ou culpa para cometer a conduta criminosa.

Ex.: O sujeito que manda criança de 5 anos de idade cortar o pescoço do avô.

Autoria colateral: trata-se da prática coincidente do mesmo crime por mais de um agente,

sem que haja liame subjetivo (consequentemente, sem concurso de pessoas).

Ex.: Dois sujeitos sem se conhecerem e nem saber de suas intenções, ficam cada um de um

lado de um desfiladeiro aguardando que a vítima comum passe. No mesmo instante os dois

atiram. Como falta liame subjetivo para que haja concurso de pessoas, cada qual responderá

pelo resultado que causar, se causar ( se o disparo de “A” foi letal, “B” responderá apenas

por homicídio tentado)

Autoria incerta em autoria colateral: Se, no caso anterior, não for possível distinguir, pela

deficiência de provas, quem foi o autor do disparo letal, ambos respondem por tentativa, que

é o limite da certeza da conduta de cada um. Isso porque não é possível punir apenas um

pela consumação, pois não se sabe qual foi e também não se pode punir ambos pelo

resultado, pois não houve concurso de pessoas.

Coautoria: existe quando duas ou mais pessoas, conjuntamente, praticam a conduta descrita

no tipo penal. Ex.: se duas pessoas, concomitantemente, efetuam disparos de arma de fogo

conta a vítima, são elas coautoras do homicídio.

Participação: o agente não comete qualquer das condutas típicas, mas de alguma outra

forma concorre para o crime. O partícipe responde pelo mesmo crime que o autor ou

coautores.

Ex.: “A” empresta duas armas para “B” e “C” matarem “D”. Nesse caso “B” e “C” são

coautores e “A” é partícipe.

A participação pode ser moral ou material.

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a) Moral: Feita através de induzimento ou instigação. No induzimento, o agente faz

nascer a idéia do crime na mente do sujeito. Na instigação, o agente reforça a idéia

do crime já existente no sujeito.

b) Material: O agente auxilia na prática do crime, de forma secundária. Ex.: emprestar

uma arma para o homicida.

COMUNICABILIDADE E INCOMUNICABILIDADE DE ELEMENTARES E CIRSCUNSTÂNCIAS

Circunstâncias incomunicáveis são as que não se estendem, isto é, não se transmitem

aos coautores ou partícipes de uma infração penal, pois se referem exclusivamente a

determinado agente, incidindo apenas em relação a ele.

Nesse sentido o art. 30 do Código Penal estabelece; “Não se comunicam as

circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo se elementares do crime”.

Elementares: são os dados fundamentais de uma conduta criminosa. São os fatores

que integram a definição básica de uma infração penal. No homicídio simples (art. 121,

caput, CP), por exemplo, as elementares são “matar” e “alguém”.

Circunstâncias: são os fatores que se agregam ao tipo fundamental, para o fim

aumentar ou diminuir a pena. Ex.: no homicídio que tem como elementares “matar” e

“alguém”, são circunstâncias o “relevante valor” (§ 1º) o “motivo torpe” (§ 2º, I) e o “motivo

fútil” (§ 2º, II), dentre outras.

Em suma, as elementares compõem a definição da conduta típica, enquanto as

circunstâncias são exteriores ao tipo fundamental, funcionando como qualificadoras ou

causas de aumento ou de diminuição da pena.

Espécies de elementares e de circunstâncias

O art. 30 do CP é claro que: há elementares e circunstâncias de caráter pessoal, ou subjetivo.

Consequentemente, também existem elementares e circunstâncias de caráter real, ou

objetivo.

Page 48: Apostila Direito Penal Modulo l

Subjetivas, ou de caráter pessoal, são as que se relacionam à pessoa do agente, e não ao

fato praticado por ele. Ex.: a condição de funcionário público, no peculato, é uma elementar

de caráter pessoal (art. 312, CP). E os motivos do crime são circunstâncias de igual natureza

no tocante ao homicídio (art. 121, §§ 1º e 2º, I, II e IV).

Objetivas, ou de caráter real, são elementares e circunstâncias que dizem respeito ao fato, à

infração cometida, e não ao agente. Ex.: o emprego de violência contra a pessoa, no roubo, é

uma elementar objetiva (art. 157, caput, CP), e desse naipe é também o meio cruel como

circunstância para a execução do homicídio (art. 121, §2º, III, CP).

Paralelamente as elementares e circunstâncias, o art. 30 do CP trata ainda das condições de

caráter pessoal.

Condições pessoais são as qualidades, os aspectos subjetivos inerentes a determinado

indivíduo, que o acompanham em qualquer situação, isto é, independem da prática da

infração penal. É o caso da reincidência e da condição de menor de 21 anos.

As circunstâncias e condições de caráter pessoal, ou subjetivas, não se comunicam: pouco

importa se tais dados ingressaram ou não na esfera de conhecimento dos demais agentes.

Ex.: “A”, ao chegar em casa, constata que sua filha foi estuprada por “B”. Imbuído por

motivo de relevante valor moral, contrata “C”, pistoleiro profissional para matar o

estuprador. O serviço é regularmente executado. Nesse caso, “A” responde por homicídio

privilegiado (art. 121, §1º, do CP), enquanto que a “C” é imputado o crime de homicídio

qualificado por motivo torpe (art. 121, §2º, I).

Comunicam-se as circunstâncias de caráter real, ou objetivas: é necessário, porém, que

tenham ingressado na esfera de conhecimento dos demais agentes, para evitar a

responsabilidade penal objetiva. Ex.: “A” contrata “B” para matar “C”, seu inimigo. “B”

informa a “A”que fará uso de meio cruel, e este último concorda com essa circunstância.

Ambos respondem pelo crime tipificado no art. 121, §2º, III, do CP. Trata-se de circunstância

objetiva que a todos se estende. Se todavia, “B” fizesse uso de meio cruel sem a ciência de

“A”, somente a ele seria imputada a qualificadora.

Page 49: Apostila Direito Penal Modulo l

Comunicam-se as elementares, sejam objetivas ou subjetivas: mais uma vez, exige-se que as

elementares tenham entrado no âmbito de conhecimento de todos os agentes, para afastar

a responsabilidade penal objetiva. Ex.: “A” funcionário público, convida “B”, seu amigo, para

em concurso subtraírem um computador que se encontra na repartição pública em que

trabalha, valendo-se das facilidades proporcionadas pelo cargo. Ambos respondem por

peculato-furto ou peculato impróprio (art. 312,§1º, CP), pois a elementar “funcionário

público” transmite-se a todos. Entretanto se “B” na conhecesse a condição funcional de “A”,

responderia por furto.

UNIDADE X – DAS PENAS

10. SANÇÃO PENAL

Sanção penal é a resposta estatal, no exercício do ius puniendi e após o

devido processo legal, ao responsável pela prática de um crime ou de uma

contravenção penal. Divide-se em duas espécies: penas e medidas de segurança.

As penas têm como pressupostos a culpabilidade. Com efeito, crime é o fato

típico e ilícito, e a culpabilidade funciona como pressuposto de aplicação da pena.

Destinam-se aos imputáveis e aos semi-imputáveis não-perigosos.

As medidas de segurança têm como pressuposto a periculosidade, e dirigem-

se aos inimputáveis e aos semi-imputáveis dotados de periculosidade, pois

necessitam, no lugar da punição, de especial tratamento curativo.

DAS PENAS

Pena é a retribuição imposta pelo Estado em razão da prática de um ilícito penal e

consiste na privação de bens jurídicos determinada pela lei, que visa à readaptação

do criminoso ao convívio social e à prevenção em relação à prática de novas

transgressões.

Princípios

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As penas previstas na legislação devem respeitar os seguintes princípios

constitucionais:

a) Da legalidade: Não há pena sem prévia cominação legal (art. 5º, XXXIX, CF e

art. 1º, CP). Significa que a pena deve estar prevista em lei vigente à época da

prática do delito.

b) Da anterioridade: A lei que comina apena deve ser anterior ao fato que se

pretende punir. (art. 5º, XXXIX, CF e art. 1º, CP)

c) Da pessoalidade: A pena não pode passar da pessoa do condenado (art. 5º,

XLV, CF). É possível, porém, que a obrigação de reparar o dano e a decretação de

perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles

executadas até o limite do valor do patrimônio transferido.

d) Da humanização das penas: a pena deve respeitar os direitos fundamentais

do condenado enquanto ser humano. Não pode assim violar sua integridade física

ou moral (art. 5º, XLIX, CF). Da mesma forma, o Estado não pode dispensar nenhum

tipo de tratamento cruel, desumano ou degradante ao preso. Com esse propósito, o

art. 5º, XLVII, da CF, proíbe as penas de morte, de trabalhos forçados, de banimento

e cruéis, bem como a prisão perpétua.

e) Da proporcionalidade: A pena deve ser proporcional ao crime cometido (art.

5º, XLVI e XLVII, da CF). A resposta penal deve ser justa e suficiente para cumprir o

papel de reprovação do ilícito, bem como para prevenir novas infrações penais.

f) Da individualização da pena: A lei deve regular a individualização da pena de

acordo com a culpabilidade e os méritos do acusado (art. 5º, XLVI, da CF)

CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS

O art. 32 do Código Penal adotou as seguintes espécies de pena:

a) Privativas de liberdade: retira do condenado seu direito de locomoção, em

razão da prisão por tempo determinado. Não se admite a privação perpétua da

liberdade, mas somente a de natureza temporária, pelo período máximo de 30

(trinta) anos para crimes (art. 75, CP) ou de 5 (cinco) anos para contravenções

penais (art. 10, LCP).

Page 51: Apostila Direito Penal Modulo l

b) Restritivas de direitos: limita um ou mais direitos do condenado, em

substituição à pena privativa de liberdade. Está prevista pelo art. 43 do Código Penal

e por alguns dispositivos da legislação extravagante.

c) Multa: incide sobre o patrimônio do condenado (art. 49, CP)

Penas privativas de liberdade

O direito brasileiro adotou três espécies de penas privativas de liberdade:

a) Reclusão: cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.

b) Detenção: cumprida em regime semi-aberto ou aberto.

c) Prisão simples: prevista para as contravenções penais (art. 5º, LCP) e pode

ser cumprida nos regimes semi-aberto ou aberto.

Em relação ao regime de cumprimento da pena, o art. 33, §1º, do Código Penal

estabelece as seguintes regras.

a) Fechado: a pena privativa de liberdade é executada em estabelecimento de

segurança máxima ou média. Pena superior a 8 anos.

b) Semi-aberto: a pena privativa de liberdade é executada em colônia agrícola

ou estabelecimento similar. Pena maior que 4, mas que não exceda a 8 anos.

c) Aberto: a pena privativa de liberdade é executada em casa de albergado ou

estabelecimento adequado. Pena igual ou inferior a 4 anos.

Penas restritivas de direitos

As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem a pena privativa de

liberdade por certas restrições ou obrigações. São também chamadas de penas

alternativas, pois têm o propósito de evitar a desnecessária imposição da pena

privativa de liberdade nas situações expressamente indicadas em lei, relativas a

indivíduos dotados de condições pessoais favoráveis e envolvidos na prática de

infrações penais de reduzida gravidade.

Espécies de penas restritivas de direitos:

a) Prestação pecuniária;

b) Perda de bens e valores;

c) Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

Page 52: Apostila Direito Penal Modulo l

d) Limitação de fim de semana;

e) Interdições temporárias de direitos.

Requisitos para a aplicação das penas restritivas de direitos (art. 44, CP):

I. Crimes dolosos praticados sem violência ou grave ameaça à pessoa, quando

a pena privativa de liberdade aplicada não for superior a 4 (quatro anos) anos, ou

qualquer que seja a pena se o crime for culposo.

II. Que o condenado não seja reincidente em crime doloso. Excepcionalmente,

admite-se a substituição ao réu reincidente, desde que o juiz verifique a presença de

dois requisitos: ser a medida recomendável no caso concreto em face da

condenação anterior e que não se tenha operado em virtude da prática do mesmo

crime.

III. A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do

agente, bem como os motivos a as circunstâncias indicarem que essa substituição

seja suficiente para a prevenção e repressão do crime.

PENA DE MULTA

É a espécie de sanção penal, de cunho patrimonial. Consistente no

pagamento de determinado valor em dinheiro em favor do Fundo Penitenciário

Nacional.

O juiz deve inicialmente, fixar o número de dias-multa, que será no mínimo de

10 e no máximo de 360 (art. 49, CP). Na sequência, deve fixar o valor de cada dia

multa, não podendo este ser inferior a 1/30 do maior salário mínimo mensal vigente

no país, nem superior a 5 vezes esse salário. Na fixação desse valor, o juiz deve

atentar a situação econômica do réu.

Hoje, o não pagamento da pena de multa permite apenas que ela seja

considerada dívida de valor, sendo, então, aplicadas as normas da legislação

relativa à dívida ativa da Fazenda Pública. Assim, está vedada a conversão da pena

de multa em detenção. (Lei nº 9.268/96).

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MEDIDA DE SEGURANÇA

Conceito: é a modalidade de sanção penal com finalidade exclusivamente

preventiva e de caráter terapêutico, destinada a tratar inimputáveis e semi-

imputáveis portadores de periculosidade, com o escopo de evitar a prática de futuras

infrações penais.

PRESSUPOSTOS PARA A APLICAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

a) Prática de injusto penal: deve estar demonstrada a prática de fato típico e

antijurídico. Se não praticar infração penal, não se impõe medida de segurança

apenas pelo fato de ter doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou

retardado.

b) Periculosidade: costuma ser entendida como a potencialidade para a prática

de novos atos lesivos ou como probabilidade que o agente tem de praticar novas

infrações.

c) A não imputabilidade: incapacidade plena ou parcial para ser

responsabilizado, ou seja, o sujeito deve ser portador de doença mental ou

desenvolvimento mental incompleto ou retardado, capaz de afastar ou diminuir a

capacidade de compreender o caráter ilícito do que faz ou portar-se de acordo com

tal entendimento, no momento da prática daconduta.

Espécies de Medida de Segurança

a) Detentiva. Consistente em internação em hospital de custódia e tratamento

psiquiátrico. Importa em privação da liberdade do agente. (art. 96, I, CP).

b) Restritiva. Sujeição a tratamento ambulatorial. O agente permanece médico

adequado. (art. 96, II, CP).

Prazo mínimo da Medida de Segurança

A sentença que aplica medida de segurança deve, obrigatoriamente, fixar o

prazo mínimo de internação ou tratamento ambulatorial, entre um a três anos, nos

termos do art. 97, §1º, do CP.

O prazo se destina á realização do exame de cessação da periculosidade.

Page 54: Apostila Direito Penal Modulo l

Referência bibliográfica:

ACQUAVIVA, Marcus Claúdio. Dicionário Jurídico Acquaviva. 3. Ed. atual. e ampl.

– São Paulo: Editora Rideel, 2009.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. vol. 1, parte geral : (arts. 1º a 120) —

15. ed. — São Paulo: Saraiva, 2011.

GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 12. ed. rev. atual.e ampl. Rio de Janeiro:

Impetus, 2009.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 27ª ed. São Paulo: Saraiva,

2009.

PRADO, Luiz Regis. Curso de Direito Penal brasileiro. 5. ed. rev. atual.e ampl.

São Paulo: RT, 2000.

Sites Pesquisados:

˂ E-BOOKSPDF˃ Disponível no site: http://www.e-bookspdf.org/download/mirabete-

direito-penal-pdf.html , acesso em 30 JUL 14.