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Interpretação de texto Prof.: Maria Tereza

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Interpretação de texto

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O que é “intelecção de textos”?

Segundo dicionário, “intelecção” significa “ato de entender, de perceber; ação pela qual o espírito concebe”. Portanto, “inteleccionar” significa “entender,

compreender”.

PROCEDIMENTOS Considerando-se a complexidade da leitura e o número significativo de elementos

que interferem em sua realização, não se pode estabelecer uma lista fechada de itens

que funcionem como um “programa” eficaz de leitura e de compreensão. No entanto, é possível listar alguns procedimentos que podem auxiliar o aluno a se comportar criticamente diante do texto:

1. observação da fonte bibliográfica, do autor e do título; 2. identificação do tipo de texto (artigo, editorial, notícia, crônica, textos

literários, científicos, etc.); 3. identificação do “tópico frasal”: intenção textual percebida, geralmente, no 1º e 2º períodos do texto;

4. identificação de termos cujo aparecimento frequente denuncia determinado enfoque do assunto.

EXEMPLIFICANDO

COMO NÃO PENSEI NISSO ANTES? Para ser um inventor, basta enxergar os problemas como matéria-prima para a

criatividade e apostar nas próprias ideias. 01. “No meio do caminho tinha uma pedra/ tinha uma pedra no meio do caminho.” O 02.poeta Carlos Drummond de Andrade criou um dos textos mais famosos da literatura 03.brasileira ao buscar inspiração num obstáculo. De forma parecida, muita gente, 04.famosa ou anônima, no decorrer da história, tem convertido suas dificuldades em 05.criações. 06. Não é difícil perceber que, na origem de todos os objetos criados pelo homem, 07.havia um problema. Foi de tanto machucar os pés ao caminhar descalço que algum 08.remoto ancestral inventou o calçado, por exemplo. Cansado de beber água usando as 09.próprias mãos, alguém concebeu o copo. E por aí vai. 10. Diante de uma pedra no caminho, pode-se lamentá-la ou tentar removê-la. A 11.primeira opção é a mais fácil, mas não leva a nada. A segunda nos permite não só dar 12.um fim ao empecilho, mas também deixar uma contribuição para a humanidade. Foi 13.esse rumo que o motorista de caminhão aposentado José Roberto Rodrigues, de 55 14.anos, escolheu. 15. Há 15 anos, em um acampamento, José viu um botijão de gás ir pelos ares. 16.Impressionado com o acidente, pôs na cabeça que poderia fazer algo para evitá-lo. 17.Anos depois, teve a ideia: se acondicionasse o botijão dentro de uma estrutura 18.fechada e a conectasse com a área externa da casa, o problema estaria resolvido. 19.Afinal, a explosão só acontece se há acúmulo de gás dentro da cozinha. Estava 20.concebida a cápsula antiexplosão. 21. Para construir a engenhoca, ele pegou um balde grande de plástico, desses usados 22.como lixeira, e fez dois furos: um para a mangueira do botijão e outro para permitir a

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23.conexão com o exterior da casa. Se o gás vazar, sai para o ambiente externo. “Fiz 24.tudo sozinho”, orgulha-se José. 25. Tempos depois, inspirado pelas filhas, que volta e meia deixavam a comida 26.queimar, aperfeiçoou o invento. Adicionou-lhe um dispositivo capaz de controlar o 27.tempo pelo qual o fogão permanece aceso. Para isso, comprou um timer, aparelho 28.encontrado em lojas de material elétrico, e o acoplou à válvula do botijão. Funciona 29.como um relógio de corda: em quinze minutos, quando completa a volta, o 30.equipamento trava a saída de gás. Se o cozimento for demorado, é só reprogramar o 31.dispositivo.(...) 32. A história de José mostra que não é preciso pós-doutorado para transformar 33.problemas do dia a dia em solução. O necessário é ter autoconfiança, persistência, 34.motivação e capacidade de pensar por si próprio, como enumera a psicóloga Eunice 35.Alencar, da Universidade Católica de Brasília. “Todos temos essas características. O 36.que precisamos é saber cultivá-las para despertar nossa capacidade de criação”, diz 37.Eunice.(...) 38. A satisfação de ver a própria invenção ser usada por várias pessoas é algo que 39.Beatriz Zorovich, de 78 anos, conhece há muitas décadas. Um belo dia, quando estava 40.na cozinha, ela percebeu que, se a bacia que usava para lavar o arroz tivesse furinhos, 41.ficaria fácil escorrer os grãos. Com a ajuda do marido, o engenheiro Sólon Zorovich, 42.construiu um protótipo em uma espécie de papel alumínio grosso.(...) Deu certo: 43.lançado na Feira de Utilidades Domésticas de 1962, o escorredor de arroz ganhou as 44.cozinhas de todo o País. Beatriz não sabe calcular exatamente quanto ganhou com o 45.produto. Mas lembra que os lucros equivaliam ao seu salário de dentista. A patente 46.expirou em 1978.(...)

COSTA, Rachel. Sorria 13. abr./mai. 2010.

01. O texto “Como não pensei nisso antes?” tem como tema as(os)

(A) invenções movidas pelo desespero do cotidiano. (B) origens dos objetos de inventores famosos. (C) problemas da vida de pessoas ilustres. (D) inventores que saíram do anonimato. (E) obstáculos do dia a dia transformados em invenções.

• Observação da fonte bibliográfica: trata-se de uma revista vendida nas

farmácias da rede Droga Raia. As reportagens, com histórias reais de pessoas comuns, abordam temas como sustentabilidade, cidadania, relacionamentos

afetivos e outros prazeres simples da vida. • Identificação do tipo de texto: trata-se de um artigo – texto

opinativo/argumentativo, assinado, no qual o autor expressa a sua opinião.

Geralmente, aborda assuntos atuais. Seu objetivo é o de persuadir, convencer o leitor, via de regra por meio de argumento de prova concreta.

• identificação do tópico frasal: percebido, geralmente, no 1º e no 2º parágrafos,

por meio das palavras-chave: obstáculo – dificuldades – criações. • identificação de termos cujo aparecimento frequente denuncia determinado

enfoque do assunto: expressões sublinhadas.

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EXERCITANDO

O fenômeno urbano: passado, presente e futuro

As cidades surgiram como parte integrante das sociedades agrícolas. Cerca de dois mil anos antes da era cristã, as cidades egípcias de Mênfis e Tebas já se constituíam em núcleos urbanos que abrigavam milhares de habitantes. Outras

surgiram nos vales fluviais da Mesopotâmia, da Índia e da China. Elas se caracterizavam por concentrar atividades não agrícolas, sendo locais de culto e de

administração. No entanto, comportavam-se apenas como complemento do mundo rural, pois não tinham funções ligadas à produção. Isso foi válido também para as cidades gregas e romanas e mesmo para as cidades da Idade Média. Com o tempo e o

surgimento do comércio de longa distância, os núcleos urbanos passaram a ter a função de entrepostos comerciais.

A Revolução Industrial representou uma transformação radical das cidades.

Com a indústria, o núcleo produtivo das sociedades concentrou-se geograficamente e transferiu-se para o meio urbano. À nova função de produção de mercadorias

juntaram-se as funções urbanas anteriores, de administração e comércio. Essas “novas” cidades difundiram-se inicialmente pela Europa e pela América do Norte, e depois por todos os continentes. Elas passaram a abrigar uma parte crescente da força

de trabalho, originária principalmente das áreas rurais. No século XX, as cidades transformaram-se ainda mais, como consequência do

crescimento das atividades industriais e da expansão do setor de serviços. Mais do que nunca, no raiar do século XXI, a cidade se tornou um polo irradiador de comércio, serviços e informações. Com essas funções, ela se consolidou como centro de

organização do espaço geográfico. O mundo atual vive um acelerado processo de urbanização. Atualmente, mais

da metade dos quase 7 bilhões de habitantes do planeta já reside em centros urbanos. Por volta de 1950, apenas 30% das pessoas do mundo moravam nas cidades. No início do século XIX, as cidades não abrigavam sequer 2% da população mundial. Segundo a

ONU, em 2025 pouco mais de 60% do contingente demográfico total do mundo morará em cidades. [...] OLIC, Nelson B. O fenômeno urbano: passado, presente e futuro. Disponível em:

<http://www.clubemundo.com.br/revistapangea/show_news.asp?n=393&ed=4>.Acesso: 6 maio 2012. Adaptado.

02. Com base nas informações contidas no texto, conclui-se que

(A) a transformação das cidades, no século passado, gerou graves problemas, entre os

quais, o aumento da criminalidade. (B) a Revolução Industrial foi um dos fatores de crescimento dos centros urbanos e da

migração de pessoas do campo para a cidade. (C) as novas cidades industrializadas se organizaram exclusivamente a partir da produção de bens para o consumo.

(D) as cidades da antiguidade se desenvolveram a partir de suas vocações econômicas, fato que já ocorria cerca de dois mil anos antes de Cristo. (E) o processo de concentração de habitantes em centros urbanos tende a se

estabilizar em 60% por volta de 2025.

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5. Observação do autor: ter conhecimento prévio de quem escreveu o texto que nos é apresentado constitui-se numa estratégia de compreensão, visto

que facilita a identificação da intenção textual. 6. Identificação do tipo de texto: os cronistas retratam a realidade subjetivamente. A crônica é a fotografia do cotidiano, realizada por olhos

particulares. Geralmente, o cronista apropria-se de um fato atual do cotidiano, para, posteriormente, tecer críticas ao status quo, baseadas quase

exclusivamente em seu ponto de vista. A linguagem desse tipo de texto é predominantemente coloquial. 7. Observação do título: o título pode constituir o menor resumo possível de

um texto. Por meio dele, certas vezes, identificamos a ideia central do texto, sendo possível, pois, descartar afirmações feitas em determinadas alternativas.

EXEMPLIFICANDO

A vida sem celular

O inevitável aconteceu: perdi meu celular. Estava no bolso da calça. Voltei do

Rio de Janeiro, peguei um táxi no aeroporto. Deve ter caído no banco e não percebi. Tentei ligar para o meu próprio número. Deu caixa postal. Provavelmente eu o

desliguei no embarque e esqueci de ativá-lo novamente. Meu quarto parece uma trincheira de guerra de tanto procurá-lo.

Agora me rendo: sou um homem sem celular. O primeiro sentimento é de

pânico. Como vou falar com meus amigos? Como vão me encontrar? Estou desconectado do mundo. Nunca botei minha agenda em um programa de computador,

para simplesmente recarregá-la em um novo aparelho. Será árduo garimpar os números da família, amigos, contatos profissionais. E se alguém me ligar com um assunto importante? A insegurança é total. Reflito. Podem me achar pelo telefone fixo.

Meus amigos me encontrarão, pois são meus amigos. Eu os buscarei, é óbvio. Então por que tanto terror?

Há alguns anos - nem tantos assim – ninguém tinha celular. A implantação

demorou por aqui, em relação a outros países. E a vida seguia. Se alguém precisasse falar comigo, deixava recado. Depois eu chamava de volta. Se estivesse aguardando

um trabalho, por exemplo, eu ficava esperto. Ligava perguntando se havia novidades. Muitas coisas demoravam para acontecer. Mas as pessoas contavam com essa demora. Não era realmente ruim. Saía tranquilo, sem o risco de que me encontrassem a

qualquer momento, por qualquer bobagem. A maior parte das pessoas vê urgência onde absolutamente não há. Ligam

afobadas para fazer uma pergunta qualquer. Se não chamo de volta, até se ofendem. — Eu estava no cinema, depois fui jantar, bater papo. — É... Mas podia ter ligado!

Como dizer que podia, mas não queria? Vejo motoristas de táxi tentando se desvencilhar de um telefonema. — Agora não posso falar, estou dirigindo.

— Só mais uma coisinha...

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Fico apavorado no banco enquanto ele faz curvas e curvas, uma única mão no

volante. Muita gente não consegue desligar mesmo quando se explica ser impossível falar. Dá um nervoso!

A maioria dos chefes sente-se no direito de ligar para o subordinado a qualquer hora. Noites, fins de semana, tudo submergiu numa contínua atividade profissional. No relacionamento pessoal ocorre o mesmo.

— Onde você está? Estou ouvindo uma farra aí atrás. — Vendo televisão! É um comercial de cerveja!

Um amigo se recusa a ter celular. — Fico mais livre. Às vezes um colega de trabalho reclama:

— Precisava falar com você, mas não te achei. — Não era para achar mesmo. Há quem desfrute o melhor. Conheço uma representante de vendas que

trabalha na praia durante o verão. Enquanto torra ao sol, compra, vende, negocia. Mas, às vezes, quando está para fechar o negócio mais importante do mês, o aparelho

fica fora de área. Ela quase enlouquece! Pois é. O celular costuma ficar fora de área nos momentos mais terríveis.

Parece de propósito! Como em um recente acidente automobilístico que me aconteceu.

Eu estava bem, mas precisava falar com a seguradora. O carro em uma rua movimentada. E o celular mudo! Quase pirei! E quando descarrega no melhor de um

papo, ou, pior, no meio da briga, dando a impressão de que desliguei na cara? Na minha infância, não tinha nem telefone em casa. Agora não suporto a ideia

de passar um dia desconectado. É incrível como o mundo moderno cria necessidades.

Viver conectado virou vício. Talvez o dia a dia fosse mais calmo sem celular. Mas vou correndo comprar um novo!

CARRASCO, Walcyr. A vida sem celular. Veja São Paulo, São Paulo, n.2107, 08 abr. 2009. Disponível em: <http://vejasp.abril.com.br/revista/ edicao-2107/avida-sem-celular> Acesso: 26 dez. 2011. Adaptado.

03. O texto apresenta vários aspectos negativos em relação ao uso do celular.

O fragmento que exemplifica um desses aspectos é

(A) “Deve ter caído no banco e não percebi”. (B) “Podem me achar pelo telefone fixo”.

(C) “A implantação demorou por aqui em relação a outros países”. (D) “Se não chamo de volta até se ofendem”. (E) “Na minha infância, não tinha nem telefone em casa”.

04. Os exemplos de uso dos celulares, tanto pelos chefes quanto no relacionamento

pessoal, indicam que, para o autor, tais aparelhos favorecem relações de (A) controle (B) desconfiança

(C) exploração (D) hipocrisia (E) proximidade

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05. De acordo com o texto, um exemplo de pessoa/setor da sociedade que consegue

claramente tirar proveito do celular é o(a) (A) motorista de táxi

(B) próprio narrador (C) trabalhador subordinado (D) representante de vendas

(E) família tradicional

06. Ao longo do texto, o cronista reflete sobre aspectos diversos relativos à inserção do celular no cotidiano. Pela leitura global do texto, sintetiza-se o conjunto da reflexão do cronista da seguinte maneira:

(A) Apesar dos aspectos negativos, hoje o celular é uma necessidade. (B) Sem a existência do celular, as pessoas eram tolerantes. (C) Para as pessoas de hoje, o celular traz novas oportunidades.

(D) Com o advento dessa tecnologia, a comunicação ficou acelerada. (E) Em certas situações cotidianas, essa tecnologia é dispensável.

07. “E quando descarrega no melhor de um papo, ou, pior, no meio da briga, dando a impressão de que desliguei na cara?”

O vocábulo que poderia substituir o termo destacado e expressar o mesmo sentido básico é

(A) disfarçadamente (B) abruptamente (C) secretamente

(D) paulatinamente (E) demoradamente

EXERCITANDO

De quem são os meninos de rua? Eu, na rua, com pressa, e o menino segurou no meu braço, falou qualquer

coisa que não entendi. Fui logo dizendo que não tinha, certa de que ele estava

pedindo dinheiro. Não estava. Queria saber a hora. Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não era um Menino De

Rua. É assim que a gente divide. Menino De Família é aquele bem-vestido com tênis da moda e camiseta de marca, que usa relógio e a mãe dá outro se o dele for roubado por um Menino De Rua. Menino De Rua é aquele que quando a gente passa perto

segura a bolsa com força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão. Ouvindo essas expressões tem-se a impressão de que as coisas se passam

muito naturalmente, uns nascendo De Família, outros nascendo De Rua. Como se a rua, e não uma família, não um pai e uma mãe, ou mesmo apenas uma mãe os tivesse gerado, sendo eles filhos diretos dos paralelepípedos e das calçadas, diferentes,

portanto, das outras crianças, e excluídos das preocupações que temos com elas. É por isso, talvez, que, se vemos uma criança bem--vestida chorando sozinha

num shopping center ou num supermercado, logo nos acercamos protetores,

perguntando se está perdida, ou precisando de alguma coisa. Mas, se vemos uma

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criança maltrapilha chorando num sinal com uma caixa de chicletes na mão,

engrenamos a primeira no carro e nos afastamos pensando vagamente no seu abandono.

Na verdade, não existem meninos DE rua. Existem meninos NA rua. E toda vez que um menino está NA rua é porque alguém o botou lá. Os meninos não vão sozinhos aos lugares. Assim como são postos no mundo, durante muitos anos também são

postos onde quer que estejam. Resta ver quem os põe na rua. E por quê. [...]

Quem leva nossas crianças ao abandono? Quando dizemos “crianças abandonadas”, subentendemos que foram abandonadas pela família, pelos pais. E, embora penalizados, circunscrevemos o problema ao âmbito familiar, de uma família

gigantesca e generalizada, à qual não pertencemos e com a qual não queremos nos meter. Apaziguamos assim nossa consciência, enquanto tratamos, isso sim, de cuidar amorosamente de nossos próprios filhos, aqueles que “nos pertencem”.

Mas, embora uma criança possa ser abandonada pelos pais, ou duas ou dez crianças possam ser abandonadas pela família, 7 milhões de crianças só podem ser

abandonadas pela coletividade. Até recentemente, tínhamos o direito de atribuir esse abandono ao governo, e responsabilizá-lo. Mas, em tempos de Nova República*, quando queremos que os cidadãos sejam o governo, já não podemos apenas passar

adiante a responsabilidade. COLASANTI, Marina. A casa das palavras. São Paulo: Ática, 2002. Adaptado.

* Nova República: termo usado à época em que a crônica foi escrita (1986) para designar o Brasil no período após o fim do regime militar.

08. Com base na leitura do texto, conclui-se que o principal objetivo da autora é (A) resolver o problema das crianças abandonadas.

(B) comparar meninos de rua com meninos de família. (C) narrar a história do menino que a interpelou na rua. (D) convencer o leitor de que não existem meninos na rua.

(E) discutir a responsabilidade pela existência de crianças nas ruas. 09. O fragmento abaixo apresenta um ponto de vista que é justificado por um

argumento apresentado no texto. “Talvez não fosse um Menino De Família, mas também não era um Menino De Rua.”

A passagem do texto que justifica esse ponto de vista é (A) “certa de que ele estava pedindo dinheiro.” (B) “Menino De Rua é aquele que quando a gente passa perto segura a bolsa com

força porque pensa que ele é pivete, trombadinha, ladrão.” (C) “Na verdade, não existem meninos DE rua. Existem meninos NA rua.”

(D) “Os meninos não vão sozinhos aos lugares.” (E) “7 milhões de crianças só podem ser abandonadas pela coletividade.”

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A cultura da fila

É uma cena comum em aeroporto; já antes da chamada para o embarque, às vezes muito antes, passageiros começam a formar uma fila. O que não deixa de ser

estranho; afinal, os lugares já estão previamente marcados, não há necessidade de pressa. Nem mesmo a disputa pelo lugar no compartimento de bagagens serve como explicação, pois muitos dos que estão na fila não têm qualquer bagagem de mão. Uma

razão para esse comportamento poderia ser a natural ansiedade desencadeada pela viagem em si. Mas, ao menos no caso do Brasil, há um outro, e curioso motivo. É que

gostamos de fazer fila. Algo surpreendente, num país sempre caracterizado pelo pouco apreço à ordem e à disciplina; a regra parece ser chegar primeiro a qualquer custo, combinando esperteza e o poder dos cotovelos.

Contudo, a fila não é só uma maneira de organizar uma determinada demanda, seja por ingressos, seja pelo acesso a um determinado lugar. A fila é um estilo de vida, e isso fica muito visível nos fins de semana, nas casas de diversão. Passem pela

Goethe num sábado à noite e vocês constatarão isso. A fila representa uma forma de convívio. Normalmente as pessoas deveriam estar todas voltadas numa mesma

direção, o cara de trás olhando a nuca do cara da frente. Mas não é assim. Na fila formam-se, por assim dizer, nódulos de convivência; pessoas,

especialmente os jovens, que, sem se afastar de seus lugares, ou afastando-se muito

pouco, conseguem conversar, e conversar animadamente. E certamente não fazem isso para matar o tempo, enquanto aguardam a hora de entrar; não, a conversa na fila

é um objetivo em si, e podemos apostar que para alguns, pelo menos, um objetivo mais interessante que entrar no lugar diante do qual está formada a fila. [...]

Para psicólogos, sociólogos e até cientistas políticos, as filas representariam um

interessante campo de estudo, quem sabe até uma especialidade, gerando teses de mestrado e de doutorado. Enquanto isso não acontece, as filas continuam se

formando. Quando chegar o Juízo Final e vocês virem uma fila às portas do Céu, não duvidem: ali estarão os brasileiros.

SCLIAR, Moacyr. A cultura da fila. Zero Hora, Rio Grande do Sul, 12 dez. 2011.

10. O fragmento que confirma a ideia expressa no título do texto é (A) “a natural ansiedade desencadeada pela viagem em si.”

(B) “num país sempre caracterizado pelo pouco apreço à ordem e à disciplina” (C) “combinando esperteza e o poder dos cotovelos.”

(D) “A fila é um estilo de vida, e isso fica muito visível nos fins de semana” (E) “Normalmente as pessoas deveriam estar todas voltadas numa mesma direção”

11. O trecho: “É que gostamos de fazer fila. Algo surpreendente, num país sempre caracterizado pelo pouco apreço à ordem e à disciplina” revela, em relação ao povo

brasileiro, uma (A) contradição (B) esperteza

(C) virtude (D) versatilidade (E) sutileza

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ESTRATÉGIAS

Outro procedimento que pode auxiliar bastante o aluno a se comportar criticamente diante do texto (permitindo-lhe trabalhar as alternativas por

eliminação) é a identificação das estratégias linguísticas utilizadas pelo autor do texto (textos longos, enunciados, alternativas,...). São elas

1. se encontrar palavras desconhecidas, não interromper a leitura; é provável que paráfrases esclareçam o significado;

2. optar pela alternativa mais completa, quando duas parecerem corretas;

3. não permitir que ideias pessoais prevaleçam sobre as do autor

(preconceitos); 4. atentar para artigos (sobretudo definidos); 5. atentar para adjuntos adverbiais;

6. observar expressões de certeza ou ênfase: certamente, inegavelmente, etc.;

7. destacar expressões de relevância: sobretudo, primordialmente, etc.; 8. observar expressões restritivas, de cunho categórico: só, somente,

todos, tudo, nada, sempre, nunca, etc;

9. observar ideias implícitas, sugeridas, que podem ser depreendidas a partir da leitura do texto, visto que ele autoriza certas deduções; são

as que respondem às perguntas do tipo “Infere-se”, Deduz-se”, “Depreende-se”, etc.

EXEMPLIFICANDO

RETRATOS DE UMA ÉPOCA

Mostra exibe cartões-postais de um tempo que não volta mais Em tempos de redes sociais e da presença cada vez maior da internet no cotidiano, pouca gente se

recorda de que nem sempre tudo foi assim tão rápido, instantâneo e impessoal. Se os adultos esquecem logo, crianças e adolescentes nem sabem como os avós de seus avós se comunicavam.

Há 15 dias, uma educadora no Recife, Niedja Santos, indagou a um grupo de estudantes quais os meios de comunicação que eles conheciam. Nenhum citou

cartões-postais. Pois eles já foram tão importantes que eram usados para troca de mensagens de amor, de amizade, de votos de felicidades e de versos enamorados que hoje podem parecer cafonas, mas que, entre os séculos XIX e XX, sugeriam apenas o

sentimento movido a sonho e romantismo. Para se ter uma ideia de sua importância, basta lembrar um pouco da história: nasceram na Áustria, na segunda metade do século XIX, como um novo meio de correspondência. E a invenção de um professor de

Economia chamado Emannuel Hermann fez tanto sucesso que, em apenas um ano, foram vendidos mais de dez milhões de unidades só no Império Austro-Húngaro.

Depois, espalharam-se pelo mundo e eram aguardados com ansiedade. – A moda dos cartões-postais, trazida da Europa, sobretudo da França, no início

do século passado para o Recife de antigamente, tornou-se uma mania que invadiu

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toda a cidade – lembra o colecionador Liedo Maranhão, que passou meio século

colecionando-os e reuniu mais de 600, 253 dos quais estão na exposição “Postaes: A correspondência afetiva na Coleção Liedo Maranhão”, no Centro Cultural dos Correios,

na capital pernambucana. O pesquisador, residente em Pernambuco, começou a se interessar pelo

assunto vendo, ainda jovem, os postais que eram trocados na sua própria família.

Depois, passou a comprá-los no Mercado São José, reduto da cultura popular do Recife, onde eram encontrados em caixas de sapato ou pendurados em cordões para

chamar a atenção dos visitantes. Boa parte da coleção vem daí. [...] – Acho que seu impacto é justamente o de trazer para o mundo

contemporâneo o glamour e o romantismo de um meio de comunicação tão usual no

passado – afirma o curador Gustavo Maia. – O que mais chama a atenção é o sentimento romântico como conceito, que

pode ser percebido na delicadeza perdida de uma forma de comunicação que hoje está

em desuso – reforça Bartira Ferraz, outra curadora da mostra. [...] LINS, Letícia. Retratos de uma época. Revista O Globo, Rio de Janeiro, n. 353, p. 26-

28, 1º maio 2011. Adaptado. 12. A ideia contida nos dois primeiros parágrafos é a de que

(A) a necessidade de comunicação interpessoal desenvolveu-se só com a internet. (B) os cartões-postais eram, à sua época, considerados cafonas.

(C) a atividade interpessoal realizada hoje pela internet era realizada, antes, similarmente por meio dos cartões-postais. (D) a importância dos cartões-postais se deveu ao fato de terem sido criados na

Europa e, então, trazidos para o Brasil. (E) os cartões-postais eram o principal meio de correspondência entre os professores

na Áustria. 13.Pela leitura do texto, infere-se que a época do surgimento dos cartões-postais se

caracterizava por (A) lentidão e fugacidade (B) vagareza e permanência

(C) indiferença e celeridade (D) rapidez e solidariedade

(E) pessoalidade e velocidade 14.As afirmações abaixo relacionam-se ao professor Emannuel Hermann.

I – Deixou de ser professor de Economia, após vender mais de dez milhões de postais. II – Inventou os cartões-postais.

III – Nasceu na segunda metade do século XIX. Está contido no texto o que se afirma em (A) I, apenas.

(B) II, apenas. (C) III, apenas. (D) I e II, apenas.

(E) II e III, apenas.

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15.Em um cartão-postal, lê-se o seguinte:

“Teu celestial sorriso / Me alegra, encanta e fascina, / Prometendo um paraíso, / Onde serás luz divina:”

A relação entre o trecho destacado e a explicação ao seu lado está correta em (A) “Teu celestial sorriso” - o sorriso de quem remete o cartão. (B) “[...] encanta e fascina” - o destinatário é encantado, fascinado pelo sorriso.

(C) “Prometendo um paraíso” - o remetente infere no sorriso uma promessa. (D) “Onde serás luz [...]” - a palavra onde remete ao sorriso.

(E) “[...] serás luz divina” - a luz é proveniente do céu e inerente ao paraíso.

EXERCITANDO

Eu tinha dois anos de idade quando meus pais compraram um pequeno sítio:

cinco alqueires de terra coberta de mato a oito quilômetros da nossa cidade, Santo

Anastácio, no oeste paulista. Sob a orientação do meu avô paterno, que tinha sido fazendeiro, profissionais reformaram a cerca de aroeira, ergueram um curral, um

galpão para as ferramentas e uma casa de tábuas, furaram um poço e formaram três pastos – um de pangola para os cavalos, o Cassino e a Rebeca, e dois de braquiária para uma dúzia de cabeças de gado tucura.

Com a ajuda da minha mãe e das minhas avós, meu pai cultivou um pomar – em que metade das árvores eram pés de limão-taiti, sua fruta predileta – e uma horta.

Atrás da casa, fez uma roça de milho e plantou melancias. Mais tarde, mandou construir uma casa de tijolos – sem forro, mas com lareira e um fogão a lenha.

Duas mangueiras enormes, que, segundo meu avô, deviam ter mais de 60

anos, sombreavam o pátio dos fundos. Não muito longe, a cachoeira. Passando o rio, o ermitão. Em dias de chuva forte, a Ponte Alta ameaçava desabar. Íamos para lá nos

finais de semana e nas férias. Às quartas ou quintas, meu avô levava sal para o gado, e eu ia com ele.

Meu sonho era me tornar adulto, casar, ter filhos e morar ali até morrer. Minha

mãe, que assim como meu pai era dentista, me aconselhava a parar de pensar besteira e continuar estudando, mas eu ouvia as histórias de peão que meu avô contava e achava inferior a vida na cidade. Na adolescência, decidi que era poeta, e

todas as coisas do mundo, ao mesmo tempo em que ganhavam cores mais intensas e reveladoras, foram rebaixadas a um segundo plano.

No ano em que vim morar em São Paulo, meus pais estavam precisando de dinheiro e venderam o sítio. Minha mãe perguntou se aquilo me incomodava. Eu disse que não – o que mais eu poderia dizer? Meu avô morreu dois anos depois, e,

ruminando sua morte, escrevi meus primeiros poemas com alguma marca própria. De lá para cá, publiquei nove livros, (...)

Em geral, durmo antes das dez e levanto às seis. Gosto dessa rotina, me ajuda a escrever melhor; e, se é assim, não tenho o direito de me queixar. Mas, a verdade é que, às vezes, me canso de tudo. Da cidade, das pessoas e de mim. Nesses

momentos, me lembro do sítio – reconstruo na cabeça cada um dos seus detalhes, me comovo e, no fim, prometo a mim mesmo não esquecer o que vivi e o que sonhei naquele lugar. Venho cumprindo essa promessa.

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CORSALETTI, Fábio. Globo Rural. São Paulo: Ed. Globo. n. 296. jun. 2010, p. 122.

Adaptado.

16. De acordo com o texto, a importância que o sítio tinha para o menino revela-se no trecho (A) “Eu tinha dois anos de idade quando meus pais compraram um pequeno sítio:

cinco alqueires de terra coberta de mato a oito quilômetros da nossa cidade, Santo Anastácio, no oeste paulista.”

(B) “Sob a orientação do meu avô paterno, que tinha sido fazendeiro, profissionais reformaram a cerca de aroeira, ergueram um curral, um galpão para as ferramentas e uma casa de tábuas,”

(C) “Com a ajuda da minha mãe e das minhas avós, meu pai cultivou um pomar – em que metade das árvores eram pés de limão-taiti, sua fruta predileta – e uma horta.” (D) “Duas mangueiras enormes, que, segundo meu avô, deviam ter mais de 60 anos,

sombreavam o pátio dos fundos.” (E) “Íamos para lá nos finais de semana e nas férias. Às quartas ou quintas, meu avô

levava sal para o gado, e eu ia com ele. Meu sonho era me tornar adulto, casar, ter filhos e morar ali até morrer.”

17.“Pangola” e “braquiária” são (A) árvores frondosas

(B) plantas com folhas grossas (C) tipos de capim (D) espécies de orquídeas

(E) flores do campo

18.De acordo com o texto, a pergunta do autor no trecho “Eu disse que não – o que mais eu poderia dizer?” significa que ele (A) tinha dúvidas sobre o que responder.

(B) entendera que, diante da venda já realizada, o melhor a fazer era nada dizer. (C) esperava que a mãe lhe respondesse. (D) gostaria de, primeiro, ter ouvido a opinião do avô.

(E) apresenta sentimentos de indiferença.

19. Em “Meu avô morreu dois anos depois, e, ruminando sua morte, escrevi meus primeiros poemas com alguma marca própria.”, a expressão em negrito pode ser substituída adequadamente por

(A) sofrendo e elaborando a sua morte. (B) procurando evitar o sofrimento da sua morte.

(C) sonhando com a sua morte. (D) ignorando a sua morte. (E) esquecendo a sua morte.

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20. “Venho cumprindo essa promessa.” A promessa a que se refere o texto é

(A) não esquecer as experiências no sítio. (B) viver na cidade.

(C) tornar-se adulto, casar e ter filhos. (D) ter como profissão escritor. (E) seguir o conselho materno de estudar.

21. No texto, o autor se utiliza, em alguns momentos, do processo de descrição para o

que deseja apresentar. Um exemplo de descrição no texto é (A) “Eu tinha dois anos de idade quando meus pais compraram um pequeno sítio:” (B) “Mais tarde, mandou construir uma casa de tijolos – sem forro, mas com lareira e

um fogão a lenha.” (C) “Duas mangueiras enormes, que, segundo meu avô, deviam ter mais de 60 anos, sombreavam o pátio dos fundos.”

(D) “Íamos para lá nos finais de semana e nas férias.” (E) “Na adolescência, decidi que era poeta, e todas as coisas do mundo, ao mesmo

tempo em que ganhavam cores mais intensas e reveladoras, foram rebaixadas a um segundo plano.”

OUTRAS TIPOLOGIAS POSSÍVEIS

Além do artigo e da crônica, as provas também apresentam outros (a maioria extraída da mídia impressa ou eletrônica).

1. EDITORIAL: texto opinativo/argumentativo, não assinado, no qual o autor (ou autores) não expressa a sua opinião, mas revela o ponto de

vista da instituição. Geralmente, aborda assuntos bastante atuais. Busca traduzir a opinião pública acerca de determinado tema, dirigindo-se (explícita ou implicitamente) às autoridades, a fim de

cobrar-lhes soluções.

EXEMPLIFICANDO

Inferno e paraíso

1. Por certo, existe o Carnaval. Mas a ideia de que o Brasil é uma espécie de paraíso onde pouco se trabalha corresponde, em boa medida, a um preconceito, quando se tomam em comparação os padrões vigentes nas sociedades europeias, por

exemplo. 5. Já se a métrica for a realidade de países asiáticos, não há razão para tomar

como especialmente infelizes as declarações do empresário taiwanês Terry Gou, presidente da Foxconn, a respeito da operosidade dos brasileiros. O Brasil – país em que a empresa de componentes eletrônicos planeja investir uma soma bilionária para

fabricar telefones e tablets –, tem grande potencial, disse Terry Gou numa entrevista à 10.TV taiwanesa. Mas os brasileiros “não trabalham tanto, pois estão num paraíso”, acrescentou o investidor.

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A frase, relatada pelo correspondente da Folha em Pequim, Fabiano

Maisonnave, insere-se entre outras ressalvas feitas pelo empresário quanto à possibilidade de o Brasil tornar-se fornecedor internacional de componentes

15.eletrônicos. Quaisquer que sejam os seus julgamentos sobre o Brasil, as declarações do

empresário embutem um paradoxo típico da era globalizada. Refletem o clássico

modelo da ética do trabalho – antes associada aos países anglo-saxônicos, agora proeminente nas economias do Oriente. Ocorre que, na sociedade de consumo

20.contemporânea, a esse modelo veio sobrepor-se outro – o da ética empresarial. Nem sempre os modelos coincidem. Haja vista as frequentes denúncias a

respeito de superexploração de mão de obra nas economias asiáticas, que já se

voltaram, por exemplo, contra empresas de artigos esportivos e agora ganham projeção no mundo da informática. A tal ponto que a Apple, preocupada com o 25.impacto moral negativo em sua imagem, instituiu um sistema de inspeções de

fornecedores para precaver-se de acusações dessa ordem. A própria Foxconn, de Terry Gou, foi objeto de severas reportagens e denúncias a respeito.

É de perguntar em que medida a globalização dos mercados – e dos próprios hábitos culturais – permitirá, no futuro, a coexistência entre regimes “infernais” e 30.“paradisíacos” nas relações de trabalho. Sob crescente pressão pública, é possível

que noções como a de Terry Gou venham, aos poucos, parecer bem menos modernas do que os produtos que fabrica.

(Folha de S.Paulo. Editoriais. A2 opinião. Domingo, 26 de fevereiro de 2012. p. 2)

22. O editorialista

(A) confronta a Foxconn com a Apple, com o objetivo de defender a segunda como modelo que garante, em escala global, todos os direitos do trabalhador em empresa de

eletrônicos. (B) admite desconhecer os verdadeiros motivos de o taiwanês Terry Gou ter declarado que o Brasil é um país paradisíaco.

(C) apresenta as razões que o fazem defender a competência do Brasil em tornar-se fornecedor internacional de componentes eletrônicos. (D) interpreta a fala de Terry Gou como expressão do específico momento histórico em

que o intercâmbio econômico e cultural entre países é uma realidade.

(E) analisa as implicações econômicas da falta de coerência dos empresários internacionais ao avaliarem a capacidade produtiva de um país que deseja ingressar no mercado globalizado.

23. No primeiro parágrafo, quando o autor

(A) vale-se da expressão Por certo, está tornando patente que a frase constitui uma resposta ao empresário taiwanês, que supostamente pôs em dúvida essa expressão cultural brasileira, o carnaval.

(B) emprega a expressão uma espécie de, está antecipando o detalhamento que fará do grupo a que pertence o Brasil em função de seus hábitos culturais.

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(C) refere-se ao Carnaval, está apresentando um fato que poderia, em parte, ser

tomado como justificativa para a ideia de que o Brasil é uma espécie de paraíso onde pouco se trabalha.

(D) menciona um preconceito, está expressando seu entendimento de que a ideia de que o Brasil é uma espécie de paraíso onde pouco se trabalha é um prejulgamento absolutamente inaceitável.

(E) cita os padrões vigentes nas sociedades europeias, está remetendo a uma base de comparação que considera sinônimo de excelência.

24. O editorial abona o seguinte comentário: (A) Se o parâmetro de avaliação do Brasil por Terry Gou for a realidade de países

asiáticos, o peso de seus comentários sobre o trabalho nesse país está por si só minimizado. (B) Considerado o ramo de componentes eletrônicos, os países asiáticos são

reconhecidamente insuperáveis no que se refere a sua capacidade de trabalho e à excelência dos seus produtos.

(C) Apesar do grande potencial que o Brasil tem de ser um líder mundial na fabricação de eletrônicos, o atual contexto da globalização não lhe é favorável, dado o especial desenvolvimento dos países do Oriente.

(D) São muitas, e as mais variadas, as opiniões que empresários estrangeiros têm a respeito dos brasileiros no trabalho, mas todas coincidem no que se refere à pouca

produtividade do Brasil quando comparado aos outros países. (E) A relevância da economia dos países orientais se deve a seu apego ao modelo clássico de produção e distribuição de produtos, ainda que com adaptações à realidade

contemporânea.

25. Afirma-se com correção que o editorialista (A) lança dúvidas sobre o futuro do mercado globalizado, dado que os específicos hábitos culturais dos países que o integram impedem uma estrutura organizacional

adequada a cada um deles. (B) lança a hipótese de que a influência coativa da população pode tornar ultrapassados regimes de trabalho que ele denomina “infernais”, como o das

economias asiáticas. (C) defende a harmonia entre o produto comercializado e o regime de trabalho

adotado para sua manufatura, do que decorre, necessariamente, a coexistência de distintos sistemas produtivos. (D) defende a superposição da ética do trabalho e da ética empresarial, sob a condição

de que os empresários vigiem para que sua mão de obra não especializada não afete a imagem do produto.

(E) mostra que o povo, informado pelos meios de comunicação, poderá monitorar a presença simultânea dos regimes ditos “infernais” e “paradisíacos”, visando à adequada adoção de cada um deles.

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2. NOTÍCIAS: são autorais, apesar de, nem sempre, ser assinadas.

Apresentam uma estrutura “fechada”, na qual são respondidas (geralmente) seis perguntas básicas: o quê? quem? onde? quando?

como? por quê? Tais respostas têm lugar, via de regra, no primeiro parágrafo – informações básicas. Difere do editorial e do artigo, pois seu objetivo é tão somente o de informar, não o de convencer.

EXEMPLIFICANDO

SORTE: TODO MUNDO MERECE

Afinal, existe sorte e azar?

No fundo, a diferença entre sorte e azar está no jeito como olhamos para o acaso. Um bom exemplo é o número 13. Nos EUA, a expedição da Apollo 13 foi uma das mais desastrosas de todos os tempos, e o número levou a culpa. Pelo mundo,

existem construtores que fazem prédios que nem têm o 13º andar, só para fugir do azar. Por outro lado, muita gente acha que o 13 é, na verdade, o número da sorte.

Um exemplo famoso disso foi o então auxiliar técnico do Brasil, Zagallo, que foi para a Copa do Mundo de (19)94 (a soma dá 13) dizendo que o Mundial ia terminar com o Brasil campeão devido a uma série de coincidências envolvendo o número. No

final, o Brasil foi campeão mesmo, e a Apollo 13 retornou a salvo para o planeta Terra, apesar de problemas gravíssimos.

Até hoje não se sabe quem foi o primeiro sortudo que quis homenagear a sorte com uma palavra só para ela. Os romanos criaram o verbo sors, do qual deriva a “sorte” de todos nós que falamos português. Sors designava vários processos do que

chamamos hoje de tirar a sorte e originou, entre outras palavras, a inglesa sorcerer, feiticeiro.

O azar veio de um pouco mais longe. A palavra vem do idioma árabe e deriva do nome de um jogo de dados (no qual o criador provavelmente não era muito bom). Na verdade, ele poderia até ser bom, já que azar e sorte são sinônimos da mesma

palavra: acaso. Matematicamente, o acaso – a sorte e o azar – é a aleatoriedade. E, pelas leis da probabilidade, no longo prazo, todos teremos as mesmas chances de nos depararmos com a sorte. Segundo essas leis, se você quer aumentar as suas chances,

só existe uma saída: aposte mais no que você quer de verdade. Revista Conhecer. São Paulo: Duetto. n. 28, out. 2011, p. 49. Adaptado.

26. De acordo com o texto, a pergunta feita no subtítulo “Afinal, existe sorte e azar?” é respondida da seguinte maneira:

(A) Depende das pessoas, umas têm mais sorte. (B) A sorte e o azar podem estar, ou não, no número 13.

(C) Sorte e azar são frutos do acaso ou da aleatoriedade. (D) Como são ocorrências prováveis, pode-se ter mais azar. (E) A fé de cada um em elementos, como os números, pode dar sorte.

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27. No trecho “Os romanos criaram o verbo sors, do qual deriva a ‘sorte’ de todos nós

que falamos português”, sorte designa (A) uma ideia

(B) uma palavra (C) um conceito (D) o contrário de azar

(E) o adjetivo do verbo sortear

EXERCITANDO

O futuro segundo os brasileiros

Em 2050, o homem já vai ter chegado a Marte, e comprar pacotes turísticos para o espaço será corriqueiro. Em casa e no trabalho, vamos interagir regularmente com máquinas e robôs, que também deverão tomar o lugar das pessoas em algumas

funções de atendimento ao público, e, nas ruas, os carros terão um sistema de direção automatizada. Apesar disso, os implantes corporais de dispositivos eletrônicos não

serão comuns, assim como o uso de membros e outros órgãos cibernéticos. Na opinião dos brasileiros, este é o futuro que nos aguarda, revela pesquisa da empresa de consultoria OThink, que ouviu cerca de mil pessoas em todo o país entre setembro e

outubro do ano passado. [...] De acordo com o levantamento, para quase metade das pessoas ouvidas (47%)

um homem terá pisado em Marte até 2050. Ainda nesse ano, 49% acham que será normal comprar pacotes turísticos para o espaço. Em ambos os casos, os homens estão um pouco mais confiantes do que as mulheres, tendência que se repete quando

levadas em conta a escolaridade e a classe social. As respostas demonstram que a maioria da população tem acompanhado com

interesse esses temas – avalia Wagner Pereira, gerente de inteligência Estratégica da OThink. – E isso também é um sinal de que aumentou o acesso a esse tipo de informação pelos brasileiros. [...]

– Nossa vida está cada vez mais automatizada e isso ajuda o brasileiro a vislumbrar que as coisas vão manter esse ritmo de inovação nos próximos anos – comenta Pereira. – Hoje, o Brasil tem quase 80 milhões de internautas e a revolução

que a internet produziu no nosso modo de viver, como esse acesso maior à informação, contribui muito para esta visão otimista do futuro.

Já a resistência do brasileiro quando o tema é modificar o corpo humano é natural, analisa o executivo. De acordo com o levantamento, apenas 28% dos ouvidos creem que a evolução da tecnologia vai levar ao desenvolvimento e uso de partes do

corpo artificiais que funcionarão melhor do que as naturais, enquanto 40% acham que usaremos implantes eletrônicos para fins de identificação, informações sobre histórico

médico e realização de pagamentos, por exemplo. – Esse preconceito não é exclusividade dos brasileiros – considera Pereira. –

Muitos grupos não gostam desse tipo de inovação. Romper a barreira entre o artificial

e o natural, a tecnologia e o corpo, ainda é um tabu para muitas pessoas. [...] BAIMA, Cesar. O futuro segundo os brasileiros. O Globo, 14 fev. 2012. 1o Caderno,

Seção Ciência, p. 30. Adaptado.

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28. A frase em que o uso das palavras acentua a oposição de ideias que o autor quer

marcar é (A) “Em 2050, o homem já vai ter chegado a Marte”

(B) “Na opinião dos brasileiros, este é o futuro que nos aguarda” (C) “Esse preconceito não é exclusividade dos brasileiros” (D) “Muitos grupos não gostam desse tipo de inovação

(E) “Romper a barreira entre o artificial e o natural, a tecnologia e o corpo

29. O trecho “Em ambos os casos” se refere a (A) homens mais confiantes e mulheres menos confiantes. (B) escolaridade dos entrevistados e classe social dos entrevistados.

(C) quase metade das pessoas ouvidas e 47% das pessoas entrevistadas. (D) pessoas que acreditam que o homem chegará a Marte em breve e pessoas que não acreditam nisso.

(E) entrevistados sobre o homem em Marte e entrevistados sobre pacotes turísticos para o espaço.

3. BREVE ENSAIO: é autoral; trata-se de texto opinativo/argumentativo,

assinado, no qual o autor expressa a sua opinião. Geralmente, aborda

assuntos universais.

EXEMPLIFICANDO 1. O tempo, como o dinheiro, é um recurso escasso. Isso poderia sugerir que ele

se presta, portanto, à aplicação do cálculo econômico visando o seu melhor proveito. O uso racional do tempo seria aquele que maximiza a utilidade de cada hora do dia.

Diante de cada opção de utilização do tempo, a pessoa delibera e escolhe exatamente 5.aquela que lhe proporciona a melhor relação entre custos e benefícios.

Ocorre que a aplicação do cálculo econômico às decisões sobre o uso do tempo

é neutra em relação aos fins, mas exigente no tocante aos meios. Ela cobra uma atenção alerta e um exercício constante de avaliação racional do valor do tempo gasto. O problema é que isso tende a minar uma certa disposição à entrega e ao abandono,

10.os quais são essenciais nas atividades que envolvem de um modo mais pleno as faculdades humanas. A atenção consciente à passagem das horas e a preocupação

com o seu uso racional estimulam a adoção de uma atitude que nos impede de fazer o melhor uso do tempo.

Valéry investigou a realidade dessa questão nas condições da vida moderna: “O

15.lazer aparente ainda permanece conosco e, de fato, está protegido e propagado por medidas legais e pelo progresso mecânico. O nosso ócio interno, todavia, algo muito

diferente do lazer cronometrado, está desaparecendo. Estamos perdendo aquela vacuidade benéfica que traz a mente de volta à sua verdadeira liberdade. As demandas, a tensão, a pressa da existência moderna perturbam esse precioso

20.repouso.” O paradoxo é claro. Quanto mais calculamos o benefício de uma hora “gasta”

desta ou daquela maneira, mais nos afastamos de tudo aquilo que gostaríamos que ela

fosse: um momento de entrega, abandono e plenitude na correnteza da vida. Na

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amizade e no amor; no trabalho criativo e na busca do saber; no esporte e na fruição

25.do belo − as horas mais felizes de nossas vidas são precisamente aquelas em que perdemos a noção da hora.

(Adaptado de Eduardo Giannetti. O valor do amanhã. São Paulo, Cia. das Letras, 2005, p.206-209)

30. O posicionamento crítico adotado pelo autor em relação ao emprego do cálculo econômico sobre a utilização do tempo está em

(A) O uso racional do tempo seria aquele que maximiza a utilidade de cada hora do dia. (B) Diante de cada opção de utilização do tempo, a pessoa delibera e escolhe

exatamente aquela que lhe proporciona a melhor relação entre custos e benefícios. (C) A atenção consciente à passagem das horas e a preocupação com o seu uso racional estimulam a adoção de uma atitude que nos impede de fazer o melhor uso do

tempo. (D) Isso poderia sugerir que ele se presta, portanto, à aplicação do cálculo econômico

visando o seu melhor proveito. (E) O lazer aparente ainda permanece conosco e, de fato, está protegido e propagado por medidas legais e pelo progresso mecânico.

31. O paradoxo a que o autor se refere está corretamente resumido em

(A) O tempo despendido na busca de conhecimento é recompensado pelo saber. (B) Os momentos de relaxamento pleno advêm do bom planejamento do uso do tempo.

(C) A criatividade confere maior qualidade ao tempo despendido com o trabalho. (D) O controle do uso do tempo compromete o seu aproveitamento prazeroso.

(E) As horas de maior prazer são aquelas empregadas em atividades bem planejadas.

EXERCITANDO

O romance policial, descendente do extinto romance gótico, conserva

características significativas do gênero precursor: a popularidade imensa e os meios

para obtê-la. “Romances policiais”, reza um anúncio do editor de Edgar Wallace, “são lidos por homens e mulheres de todas as classes; porque não há nada que seja tão

interessante como a explicação de um crime misterioso. Não há nada que contribua com eficiência maior para divertir os espíritos preocupados”.

Os criminosos e detetives dos romances policiais servem-se dos instrumentos

requintados da tecnologia moderna para cometer e revelar horrores: sociedades anônimas do crime, laboratórios científicos transformados em câmaras de tortura. Os

leitores contemporâneos acreditam firmemente na onipotência das ciências naturais e da tecnologia para resolver todos os problemas e criar um mundo melhor; ao mesmo tempo, devoram romances nos quais os mesmíssimos instrumentos físicos e químicos

servem para cometer os crimes mais abomináveis. Leitores de romances policiais não são exigentes. Apenas exigem

imperiosamente um final feliz: depois da descoberta do assassino, as núpcias entre a

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datilógrafa do escritório dos criminosos e o diretor do banco visado por eles, ou então

a união matrimonial entre o detetive competente e a bela pecadora arrependida. Não adianta condenar os romances policiais porque lhes falta o valor literário.

Eles são expressões legítimas da alma coletiva, embora não literárias, e sim apenas livrescas de desejos coletivos de evasão.

(Adaptado de Otto Maria Carpeaux. Ensaios reunidos 1942-1978. Rio de Janeiro:

UniverCidade e TopBooks, v.1, 1999. P. 488-90)

32. O leitor de romances policiais, tal como caracterizado no texto, (A) pertence a determinada classe social e despreza a técnica literária. (B) é difícil de satisfazer e descrente da moral contemporânea.

(C) confia na soberania da ciência e é condescendente com enredos inverossímeis. (D) é leigo em tecnologia e demonstra alto grau de erudição. (E) usa a leitura como fonte de entretenimento e prescinde de finais felizes.

EXERCITANDO

Um dos mitos narrados por Ovídio nas Metamorfoses conta a história de

Aglauros. A jovem é irmã de Hersé, cuja beleza extraordinária desperta o desejo do

deus Hermes. Apaixonado, o deus pede a Aglauros que interceda junto a Hersé e favoreça os seus amores por ela; Aglauros concorda, mas exige em troca um punhado

de moedas de ouro. Isso irritou Palas Atena, que já detestava a jovem porque esta a espionara em outra ocasião. Não admitia que a mortal fosse recompensada por outro deus; decide vingar-se, e a vingança é terrível: Palas Atena vai à morada da Inveja e

ordena-lhe que vá infectar a jovem Aglauros. A descrição da Inveja feita por Ovídio merece ser relembrada, pois serviu de

modelo a todos os que falaram desse sentimento: “A Inveja habita o fundo de um vale onde jamais se vê o sol. Nenhum vento o atravessa; ali reinam a tristeza e o frio, jamais se acende o fogo, há sempre trevas espessas. A palidez cobre o seu rosto e o

olhar não se fixa em parte alguma. Ela ignora o sorriso, salvo aquele que é excitado pela visão da dor alheia. Assiste com despeito aos sucessos dos homens, e este espetáculo a corrói; ao dilacerar os outros, ela se dilacera a si mesma, e este é seu

suplício”. (Adaptado de Renato Mezan. “A inveja”. Os sentidos da paixão. São Paulo: Funarte

e Cia. Das Letras, 1987. P.124-25) 33. Atente para as afirmações abaixo. I. O autor sugere que se rememore a descrição da Inveja feita por Ovídio com base no

fato de que antes dele nenhum autor de tamanha magnitude havia descrito esse sentimento de maneira inteligível.

II. A importância do mito de Aglauros deriva do fato de que, a partir dele, se explica de maneira coerente e lógica a origem de um dos males da personalidade humana. III. Ao personificar a Inveja, Ovídio a descreve como alguém acometido por

ressentimentos e condenado à infelicidade, na medida em que não tolera a alegria de outrem.

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Está correto o que se afirma APENAS em

(A) I e II. (B) I e III.

(C) II e III. (D) I. (E) III.

EXERCITANDO

Numa dessas anotações que certamente contribuíram para lhe dar a reputação

de grande fotógrafo da existência humana em sua época, Stendhal observou que a

Igreja Católica aprendeu bem depressa que o seu pior inimigo eram os livros. Não os reis, as guerras religiosas ou a competição com outras religiões; isso tudo podia atrapalhar, claro, mas o que realmente criava problemas sérios eram os livros. Neles as

pessoas ficavam sabendo coisas que não sabiam, porque os padres não lhes contavam, e descobriam que podiam pensar por conta própria, em vez de aceitar que

os padres pensassem por elas. Abria-se para os indivíduos, nesse mesmo movimento, a possibilidade de

discordar. Para quem manda, não pode haver coisa pior − como ficou comprovado no

–aso da Igreja, que foi perdendo sua força material sobre países e povos, e no caso de todas as ditaduras, de ontem, de hoje e de amanhã. Stendhal estava falando, na sua

França de 200 anos atrás, de algo que viria a evoluir, crescer e acabar recebendo o nome de "opinião pública". Os livro“ ou, mais exata”ente, a possibilidade de reproduzir de forma ilimitada palavras e ideias foram a sua pedra fundamental.

(J.R.Guzzo. Veja, 3 de agosto de 2011, p. 142) Stendhal escritor francês (1783-1842) que valorizava o perfil psicológico das personagens.

34. Segundo o texto, (A) a livre e ampla divulgação do conhecimento resulta naquilo que se entende por

"opinião pública", reflexo “o acesso à info”mação e do desenvolvimento do espírito crítico. (B) Stendhal foi o criador do termo "opinião pública", para se “eferir à atuaçã” da

Igreja Católica na França quanto ao controle da divulgação do conhecimento, o que em sua época era feito pelos padres.

(C) a grande força da Igreja Católica, em todos os tempos e lugares, se deve à educação esmerada recebida pelos padres, única fonte do conhecimento transmitido aos fiéis.

(D) a competição pelo poder é marcada, há alguns séculos, pela oposição entre valores políticos, relativos aos reis, e religiosos, especialmente quanto à atuação da Igreja Católica em todo o mundo.

(E) escritores de todas as épocas, como Stendhal, aprofundaram-se na discussão de problemas da sociedade de seu tempo e, por consequência, voltaram-se para a análise

do poder que a Igreja sempre manteve sobre os governantes.

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5. PEÇA PUBLICITÁRIA: a propaganda é um modo específico de apresentar

informação sobre produto, marca, empresa, ideia ou política, visando a influenciar a atitude de uma audiência em relação a uma causa, posição ou

atuação. A propaganda comercial é chamada, também, de publicidade. Ao contrário da busca de imparcialidade na comunicação, a propaganda apresenta informações com o objetivo principal de influenciar uma

audiência. Para tal, frequentemente, apresenta os fatos seletivamente (possibilitando a mentira por omissão) para encorajar determinadas

conclusões, ou usa mensagens exageradas para produzir uma resposta emocional e não racional à informação apresentada. Costuma ser estruturado por meio de frases curtas e em ordem direta, utilizando

elementos não verbais para reforçar a mensagem.

EXEMPLIFICANDO

35. Leia este texto, divulgado pela internet.

Disponível: 22TTP://img149.imageshack.us/i/diamanteafroms8.jpg/Acesso em 30 jun

2009

A respeito dessa paródia do rótulo de um chocolate conhecido, assinale a afirmativa

correta. (A) O jogo de palavras desse texto aponta para uma censura à sociedade de consumo. (B) No texto, expõe-se uma crítica à linguagem publicitária, marcada pelo jogo

persuasivo. EU A imagem é uma metáfora usada para identificar um tipo especial de barra de

chocolate. (D) O texto é um desrespeito à população afrodescendente. (E) No texto, há uma crítica alusiva à atual preocupação com o uso de termos

politicamente corretos.

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6. PIADA: dito ou pequena história espirituosa e/ou engraçada.

EXEMPLIFICANDO

36. Na piada acima, o efeito de humor

(A) deve-se, principalmente, à situação constrangedora em que ficou um dos amigos quando a mulher o cumprimentou.

(B) constrói-se pela resposta inesperada de um dos amigos, revelando que não havia entendido o teor da pergunta do outro.

(C) é provocado pela associação entre uma mulher e minha esposa, sugerindo ilegítimo relacionamento amoroso.

(D) firma-se no aproveitamento de distintos sentidos de uma mesma expressão

linguística, devo muito. (E) é produzido prioritariamente pela pergunta do amigo, em que se nota o

emprego malicioso da expressão sua protetora. 37. É legítima a afirmação de que, na piada,

(A) ouve-se exclusivamente a voz de personagens, exclusividade que é condição desse tipo de produção humorística. (B) 23TTsença efetiva de um narrador, expediente típico desse tipo de texto.

(C) as falas das personagens constituem recurso para a defesa de um ponto de vista, sinal da natureza dissertativa desse específico texto.

(D) os elementos caracterizadores da mulher, dados na descrição, são contrastados com a sua profissão. (E) ocorre uma inadequação, dadas as normas da narrativa: a introdução à fala da

primeira personagem está no próprio trecho em que se compõe a cena introdutória.

7. CHARGE: é um estilo de ilustração que tem por finalidade satirizar algum acontecimento atual com uma ou mais personagens envolvidas. A palavra é de origem francesa e significa carga, ou seja, exagera traços do caráter de

alguém ou de algo para torná-lo burlesco. Apesar de ser confundida com cartum, é considerada totalmente diferente: ao contrário da charge, que

tece uma crítica contundente, o cartum retrata situações mais corriqueiras da sociedade. Mais do que um simples desenho, a charge é uma crítica político-social mediante o artista expressa graficamente sua visão sobre

determinadas situações cotidianas por meio do humor e da sátira.

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EXEMPLIFICANDO

Disponível

em:<24TTP://www.tecnologianaeducacaopdg.blogspot.com/2011/09/formacao-do-

professor-para-o-uso.html>. Acesso em: 05 mar. 2012.

38. A relação entre o conjunto da charge e a frase “Brasil tem 25 milhões de telefones celulares” fica clara porque a imagem e a fala do personagem sugerem o(a)

(A) sentimento de vigilância permanente (B) aperfeiçoamento dos aparelhos celulares EU inadequação do uso do telefone

(D) popularização do acesso à telefonia móvel (E) facilidade de comunicação entre as pessoas

39. No texto, a frase do personagem produz o humor porque dá um sentido surpreendente para a palavra trânsito. O emprego da palavra trânsito é

surpreendente nesse contexto porque a charge (A) não mostra vias públicas.

(B) não revela outros condutores. (C) não sugere fluxo de automóveis. (D) não envolve veículos particulares.

(E) não apresenta proprietários de carros.

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EXERCITANDO

Leia os textos com atenção. As questões de número 40 a 42 referem-se a eles.

Texto I

Xilogravura “A Grande Onda de Kanagawa”, de Katsushika Hokusai (1760-1849)

Texto II

Charge de João Montanaro, publicada na Folha de S.Paulo, 12/03/2011, um dia depois

da tragédia que assolou o Japão.

40. Sobre as relações entre os textos I e II, não é possível afirmar que (A) para que haja produção de sentido quando da leitura do texto II, faz-se necessário o (re)conhecimento do texto I.

(B) o deslocamento da xilogravura de Hokusai, o que se dá pela associação a novos elementos, produz efeito de tragicidade.

EU a leitura do texto II pressupõe um rico repertório de leituras, tanto da xilogravura quanto de fatos recentes no noticiário internacional. (D) há, no texto II, reprodução do estilo do autor do texto I, o que confere à charge

menor intensidade emocional.

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41. O movimento realizado pelo leitor no processo de (re)produção do diálogo entre a

charge de Montanaro e a xilogravura de Hokusai se confirma, exceto (A) pelo acréscimo de informações inusitadas sobre o texto I.

(B) pela supressão de elementos significativos na composição do texto I. (C) pela substituição de elementos triviais por fundamentais. (D) pela transposição de conhecimentos não pertencentes à xilografura.

42. Quanto à produção dos textos I e II, só não é possível afirmar que

(A) são diferentes manifestações textuais, pois sua forma de estruturação e de circulação é distinta.

(B) sua compreensão depende da primazia dada à produção individual

relativamente ao caráter social dos textos. (C) são práticas sociocomunicativas que atendem a intencionalidades diferentes:

efeito estético e denúncia.

(D) sua leitura é orientada por competências do leitor, por exemplo, a de discernir a composição dos textos.

8. QUADRINHOS: hipergênero, que agrega diferentes outros gêneros, cada um com suas peculiaridades.

EXEMPLIFICANDO

43. No Texto II, a mãe identifica no discurso do menino

(A) contradição (B) crueldade (C) tristeza (D) generosidade (E) acerto 44. O fragmento do Texto II que NÃO apresenta linguagem informal é:

(A) “Mãe, o que é esse tal de efeito estufa?” (B) “Dizem que os poluentes que lançamos no ar irão reter o calor do sol”

(C) “Claro que você já vai ter batido as botas” (D) “Que belo planeta vocês estão deixando para mim, hein?” (E) “Ei, não me falaram nada sobre as calotas polares, tá?”

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9. CARTA DO LEITOR: um leitor expressa opiniões (favoráveis ou não) a respeito de

assunto publicado em revistas, jornais, ou a respeito do tratamento dado ao assunto.

Nesse gênero textual, o autor pode também esclarecer ou acrescentar informações ao

que foi publicado; apesar de ter um destinatário específico – o diretor da revista ou o

jornalista que escreveu determinado artigo –, a carta do leitor pode ser publicada e

lida por todos os leitores do meio de comunicação para o qual ela foi enviada; na carta

do leitor, a linguagem pode ser mais pessoal (empregando pronomes e verbos em 1ª

pessoa) ou mais impessoal (empregando pronomes e verbos na 3ª pessoa) ou ainda

pode utilizar os dois tipos de linguagem; a menor ou maior impessoalidade depende da

intenção do autor.

EXEMPLIFICANDO Fico impressionada com os comentários maldosos contra o cartunista João

Montanaro. Ao ver a charge, não a li como uma sátira. Meus olhos apenas a receberam como uma realidade.

Quem imaginaria que a xilogravura do artista Hokusai serviria de base para

reforçar uma tragédia que ocorreu no Japão? Que me conste, estamos no ano 2011 e a liberdade de expressão é direito de qualquer ser humano. João Montanaro apenas

retratou o que acontece hoje no mundo em que vivemos, e nós, habitantes deste planeta, somos os responsáveis pelas tragédias que ocorrem e ocorrerão.

(Maria Rita Marinho, gerente da Secretaria Geral de Fundação Bienal, São Paulo, SP) 45. Marque (V) para Verdadeiro ou (F) para Falso diante de cada afirmativa sobre o

texto. ( ) O texto é carregado de elementos que desnudam o grau de estupefação de seu enunciador, como se vê pelo uso de “impressionada”. ( ) O autor se revela estrategicamente em intensa carga significativa, por exemplo por meio da repetição do vocábulo “tragédias”. ( ) O uso da metonímia presente em “meus olhos” promove a coesão com a frase

anterior, onde está presente o verbo “ver”. ( ) A palavra ‘apenas’, no primeiro parágrafo, promove sentido diferente daquele

presente no último – somente e unicamente, respectivamente. Assinale a sequência CORRETA, de cima para baixo.

(A) F; F; F; V. (B) F; V; F; V.

(C) V; V; V; F. (D) V; F; V; F.

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10. TEXTOS LITERÁRIOS

EXEMPLIFICANDO

Science fiction

O marciano encontrou-me na rua e teve medo de minha impossibilidade humana. Como pode existir, pensou consigo, um ser que no existir põe tamanha anulação de existência? Afastou-se o marciano, e persegui-o. Precisava dele como de um testemunho. Mas, recusando o colóquio, desintegrou-se no ar constelado de problemas. E fiquei só em mim, de mim ausente.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Science fiction. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988, p. 330-331.

46. De acordo com a primeira estrofe do poema, o medo do marciano origina-se no fato de que

(A) a aparência do homem em conflito consigo mesmo o apavora. (B) as contradições existenciais do homem não lhe fazem sentido.

(C) o homem tinha atitudes de ameaça ao marciano. (D) o homem e o marciano não teriam chance de travar qualquer tipo de interação. (E) o encontro na rua foi casual, tendo o marciano se assustado com a aparência física

do homem.

47. Já no título do texto (ficção científica, em português), anuncia-se a possibilidade de utilizar termos correlatos a “espaço sideral”. É o que ocorre logo na 1a linha, comªo uso da palavra marciano.

Outra palavra, empregada no texto, que apresenta relação com esse mesmo campo de significação, é (A) impossibilidade (v. 2)

(B) anulação (v. 4) (C) testemunho (v. 6)

(D) colóquio (v. 7) (E) constelado (v. 8)

EXERCITANDO

Asa Branca Quando olhei a terra ardendo Qual a fogueira de São João Eu perguntei a Deus do céu, ai Por que tamanha judiação Que braseiro, que fornalha Nem um pé de plantação

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Por falta d’água perdi meu gado Morreu de sede meu alazão Até mesmo a asa branca Bateu asas do sertão Então eu disse, adeus, Rosinha Guarda contigo meu coração Hoje longe, muitas léguas Numa triste solidão Espero a chuva cair de novo Pra mim voltar pro meu sertão Quando o verde dos teus olhos Se espalhar na plantação Eu te asseguro não chore não, viu Que eu voltarei, viu, meu coração

GONZAGA, Luiz; TEIXEIRA, Humberto. Asa Branca. Intérprete: Luiz Gonzaga. In: O canto jovem de Luiz Gonzaga [S.L.]: RCA, p.1971. Faixa 6. Adaptado.

48. No texto, a asa branca é uma pomba que simboliza a partida do personagem que canta. Essa partida é sentida por esse personagem como um(a)

(A) sofrimento, pois ele perdeu muitas coisas e está deixando seu amor. (B) alívio, pois ele não quer encontrar mais Rosinha.

(C) alegria, pois ele está esperando a chuva cair. (D) alegria, pois ele irá para longe. (E) felicidade, pois ele está deixando a terra para ficar sozinho.

TIPOLOGIA

EXEMPLIFICANDO

TEMPO DE ESCOLHER “Um homem não é grande pelo que faz, mas pelo que renuncia.”

(Albert Schweitzer)

Muitos amigos leitores têm solicitado minha opinião acerca de qual rumo dar às suas carreiras. Alguns apreciam seu trabalho, mas não a empresa onde estão. Outros

admiram a estabilidade conquistada, mas não têm qualquer prazer no exercício de suas funções. Uns recebem propostas para mudar de emprego, financeiramente desfavoráveis, porém, desafiadoras. Outros têm diante de si um vasto leque de

opções, muitas coisas para fazer, mas não conseguem abraçar tudo. Todas estas pessoas têm algo em comum: a necessidade premente de fazer escolhas. Lembro-me

de Clarice Lispector: “Entre o ‘sim’ e o ‘não’, só existe um caminho: escolher.” Acredito que quase todas as pessoas passam ao longo de sua trajetória pelo

“dilema da virada”. Um momento especial em que uma decisão clara, específica e

irrevogável tem que ser tomada simplesmente porque a vida não pode continuar como está. Algumas pessoas passam por isso aos 15 anos, outras, aos 50. Algumas talvez nunca tomem esta decisão, e outras o façam várias vezes no decorrer de sua

existência.

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Fazer escolhas implica renunciar a alguns desejos para viabilizar outros. Você

troca segurança por desafio, dinheiro por satisfação, o pouco certo pelo muito duvidoso. Assim, uma companhia que oferece estabilidade com apatia pode dar lugar a

outra dotada de instabilidade com ousadia. Analogamente, a aventura de uma vida de solteiro pode ceder espaço ao conforto de um casamento.

PRAZER E VOCAÇÃO Os anos ensinaram-me algumas lições. A primeira delas vem de Leonardo da

Vinci, que dizia que “A sabedoria da vida não está em fazer aquilo que se gosta, mas em gostar daquilo que se faz”. Sempre imaginei que fosse o contrário, porém, refletindo, passei a compreender que quando estimamos aquilo que fazemos, podemos

nos sentir completos, satisfeitos e plenos, ao passo que se apenas procurarmos fazer o que gostamos, estaremos sempre numa busca insaciável, porque o que gostamos hoje não será o mesmo que prezaremos amanhã.

Todavia, é indiscutivelmente importante aliar prazer às nossas aptidões; encontrar o talento que reside dentro de cada um de nós, ao que chamamos de

vocação. Oriunda do latim vocatione e traduzida literalmente por “chamado”, simboliza uma espécie de predestinação imanente a cada pessoa, algo revestido de certa magia e divindade.(...)

Escolhas são feitas com base em nossas preferências. E aí recorro novamente à etimologia das palavras para descobrir que o verbo preferir vem do latim praeferere e

significa “levar à frente”. Parece-me uma indicação clara de que nossas escolhas devem ser feitas com os olhos no futuro, no uso de nosso livre arbítrio.

O mundo corporativo nos guarda muitas armadilhas. Trocar de empresa ou de

atribuição, por exemplo, são convites permanentes. O problema de recusá-los é passar o resto da vida se perguntando “O que teria acontecido se eu tivesse aceitado?”. Prefiro não carregar comigo o benefício desta dúvida, por isso opto por assumir riscos evidentemente calculados e seguir adiante. Dizem que somos livres para escolher, porém, prisioneiros das conseqüência30TTP30quênciaseles insatisfeitos com seu

ambiente de trabalho, uma alternativa à mudança de empresa é postular a melhoria do ambiente interno atual. Dialogar e apresentar propostas são um bom caminho. De nada adianta assumir uma postura meramente defensiva e crítica. Lembre-se de que

as pessoas não estão contra você, mas a favor delas. Por fim, combata a mediocridade em todas as suas vertentes. A mediocridade

de trabalhos desconectados com sua vocação, de empresas que não valorizam funcionários, de relacionamentos falidos. Sob este aspecto, como diria Tolstoi, “Não se pode ser bom pela metade”. Meias-palavras, meias-verdades, meias-mentiras, meio

caminho para o fim. Os gregos não escreviam obituários. Quando um homem morria, faziam uma pergunta: “Ele viveu com paixão?”.

QUAL SERIA A RESPOSTA PARA VOCÊ?COELHO, Tom. Disponível em: <http://www.c30TTP.com.br/jcs/inputer_view.phtml?id=6415>. Acesso em: 07 mai.

2008.(adaptado)

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49. Quanto ao tipo, o texto classifica-se predominantemente, como

(A) expositivo. (B) injuntivo.

(C) descritivo. (D) narrativo. (E) argumentativo.

EXERCITANDO

Rio Grande do Norte: a esquina do continente

Os portugueses tentaram iniciar a colonização em 1535, mas os índios

potiguares resistiram e os franceses invadiram. A ocupação portuguesa só se efetivou no final do século, com a fundação do Forte dos Reis Magos e da Vila de Natal. O clima pouco favorável ao cultivo da cana levou a atividade econômica para a pecuária. O

Estado tornou-se centro de criação de gado para abastecer os Estados vizinhos e começou a ganhar importância a extração do sal – hoje, o Rio Grande do Norte

responde por 95% de todo o sal extraído no país. O petróleo é outra fonte de recursos: é o maior produtor nacional de petróleo em terra e o segundo no mar. Os 410 quilômetros de praias garantem um lugar especial para o turismo na economia

estadual. O litoral oriental compõe o Polo Costa das Dunas − com belas –raias, falésias,

dunas e o maior cajueiro do mundo –, do qual faz parte a capital, Natal. O Polo Costa Branca, no oeste do Estado, é caracterizado pelo contraste: de um lado, a caatinga; do outro, o mar, com dunas,

falésias e quilômetros de praias praticamente desertas. A região é grande produtora de sal, petróleo e frutas; abriga sítios arqueológicos e até um vulcão extinto, o Pico do

Cabugi, em Angicos. Mossoró é a segunda cidade mais importante. Além da rica história, é conhecida por suas águas termais, pelo artesanato reunido no mercado São João e pelas salinas.

Caicó, Currais Novos e Açari compõem o chamado Polo do Seridó, dominado pela caatinga e com sítios arqueológicos importantes, serras majestosas e cavernas misteriosas. Em Caicó há vários açudes e formações rochosas naturais que desafiam a

imaginação do homem. O turismo de aventura encontra seu espaço no Polo Serrano, cujo clima ameno

e geografia formada por montanhas e grutas atraem os adeptos do ecoturismo. Outro polo atraente é Agreste/Trairi, com sua sucessão de serras, rochas e lajedos nos 13 municípios que compõem a região. Em Santa Cruz, a subida ao Monte Carmelo

desvenda toda a beleza do sertão potiguar – em breve, o local vai abrigar um complexo voltado principalmente para o turismo religioso. A vaquejada e o Arraiá do

Lampião são as grandes atrações de Tangará, que oferece ainda um belíssimo panorama no Açude do Trairi.

(Nordeste. 30/10/2010, Encarte no jornal O Estado de S. Paulo).

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Professora Maria Tereza Faria Página 32

50. O texto se estrutura notadamente

(A) com o objetivo de esclarecer alguns aspectos cronológicos do processo histórico de formação do Estado e de suas bases econômicas, desde a época da colonização.

(B) como uma crônica baseada em aspectos históricos, em que se apresentam tópicos que salientam as formações geográficas do Estado. (C) de maneira dissertativa, em que se discutem as várias divisões regionais do

Estado com a finalidade de comprovar qual delas se apresenta como a mais bela. (D) sob forma narrativa, de início, e descritiva, a seguir, visando a despertar interesse

turístico para as atrações que o Estado oferece. (E) de forma instrucional, como orientação a eventuais viajantes que se disponham a conhecer a região, apresentando-lhes uma ordem preferencial de visitação.

51. O trecho “Há 15 dias, uma educadora no Recife, Niedja Santos, indagou a um grupo de estudantes quais os meios de comunicação que eles conheciam. Nenhum

citou cartões postais.” classifica-se como do tipo textual narrativo PORQUE

a narração se caracteriza pela apresentação de um evento marcado temporalmente, com a participação dos personagens envolvidos. Analisando-se as afirmações acima, conclui-se que

(A) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda justifica a primeira. (B) as duas afirmações são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.

(C) a primeira afirmação é verdadeira e a segunda é falsa. (D) a primeira afirmação é falsa e a segunda é verdadeira. (E) as duas afirmações são falsas.

NÍVEIS DE LINGUAGEM

EXEMPLIFICANDO

− Ã-hã, quer entrar, pode entrar... Mecê sabia que eu moro aqui? Como é que

sabia? Hum, hum...Cavalo seu é esse só? Ixe! Cavalo tá manco, aguado. Presta mais

não. (João Guimarães Rosa. Trecho de "Meu tio o I“uaretê", adaptado.”Estas estórias. Rio

de Janeiro, José Olympio, 1969, p.126) 52. Observando-se a variedade linguística de que se vale o falante do trecho acima, percebe-se uso de

(A) linguagem marcada por construções sintáticas complexas e inapropriadas para o contexto, responsáveis por truncar a comunicação e dificultar o entendimento.

(B) linguagem formal, utilizada pelas pessoas que dominam o nível culto da linguagem, sendo, portanto, adequada à situação em que o falante se encontra. (C) gírias e interjeições, como ixe e aguado, prioritariamente utilizadas entre os jovens,

sendo, assim, incompatíveis com a situação em que o falante se encontra. (D) coloquialismos e linguagem informal, como mecê e tá, apropriados para a situação de informalidade em que o falante se encontra.

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GABARITO

01. E 02.B 03.D 04.A 05.D 06.A 07.B 08.E 09.C 10.D

11.A 12.C 13.B 14.B 15.C 16.E 17.C 18.B 19.A 20.A

21.C 22.D 23.C 24.A 25.B 26.C 27.B 28.E 29.E 30.C

31.D 32.C 33.E 34.A 35.E 36.D 37.B 38.D 39.C 40.D

41.C 42.B 43.A 44.B 45.C 46.B 47.E 48.A 49.E 50.D

51.A 52.D

Trata-se de estabelecer relações com os

componentes envolvidos em dado enunciado, a fim

de que se estabeleçam a apreensão e a

compreensão por parte do leitor.

COMPREENSÃO DE TEXTOS

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Observação de1. fonte bibliográfica2. autor3. título

PROCEDIMENTOS

EXEMPLIFICANDO

Poesia: a melhor autoajuda.

Calma, esperançoso leitor, iludida leitora, não

fiquem bravos comigo, mas ler autoajuda geralmente só é

bom para os escritores de autoajuda. Pois não existe

receita para ser feliz ou dar certo na vida. Sabe por quê?

Porque, na maior parte das vezes, apenas você sabe o

que é bom e serve para você. O que funciona para um

nem sempre funciona para outro.

Os únicos livros de autoajuda que merecem

respeito, e são úteis mesmo, são aqueles que ensinam

novas receitas de bolo, como consertar objetos

quebrados em casa ou como operar um computador. Ou

seja, lidar com as coisas concretas, reais, exige um

conhecimento também real, tintim por tintim, item por

item. [...]

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Não adianta fugir de seus medos, suas dores, suas

fragilidades, suas tristezas. Elas sempre correm juntinho,

coladas em você. Tentar ser perfeito, fazer o máximo,

transformar-se em outro dói mais ainda. Colar um sorriso

no rosto, enquanto chora por dentro, é para palhaço de

circo.

Portanto, entregue-se, seja apenas um ser

humano cheio de dúvidas e certezas, alegrias e aflições.

Aproveite e use algo que, isso sim, com certeza é igual

em todos nós: a capacidade de imaginar, de voar, se

entregar. Se nem Freud explica, tente a poesia. [...] A

poesia vai resolver seus problemas existenciais?

Provavelmente, não. [...] Poesia está mais para lição de

vida que lição de casa.

TAVARES, Ulisses. Discutindo Literatura. Escala

Educacional. São Paulo, ano 2, n. 8. p. 20-21. Adaptado.

1/2. Observação da fonte e do autor: o conhecimento

prévio de quem escreveu o texto constitui-se numa

estratégia de compreensão, visto que facilita a

identificação da intenção textual. Ao reconhecermos o

autor do texto – Ulisses Tavares, conhecido poeta e

cronista –, bem como o veículo de publicação – revista

periódica sobre Literatura – podemos afirmar que ele é

uma crônica (linguagem predominantemente coloquial) e

que, portanto, estamos diante da fotografia do cotidiano,

realizada por olhos particulares. Geralmente, o cronista

apropria-se de um fato atual do dia a dia, para,

posteriormente, tecer críticas ao status quo, baseadas

quase exclusivamente em seu ponto de vista.

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3. Observação do título: o título pode constituir o menor

resumo possível de um texto. Por meio dele, certas

vezes, identificamos a ideia central do texto, sendo

possível, pois, descartar afirmações feitas em

determinadas alternativas. No texto em questão, o título –

Poesia: a melhor autoajuda –, somado a expressões

que remetem ao ato de ler (leitor, leitora, livros, ser feliz

ou dar certo na vida...), permite-nos inferir que o texto

remete ao fato de que a leitura de poesia auxilia seus

leitores.

1. Para o autor, o verdadeiro livro de autoajuda

(A) auxilia em tarefas do cotidiano.

(B) explica como fazer para ser feliz.

(C) funciona como um manual para a vida.

(D) está disponível em programas de computador.

(E) se atém a generalidades, sem entrar em detalhes.

2. O autor diz que o leitor e a leitora podem ficar bravos porque ele

(A) costuma ler livros de autoajuda.

(B) desdenha dos livros de autoajuda.

(C) tem esperança ou ilusão de melhorar a vida.

(D) tem a calma como uma de suas qualidades.

(E) se inclui entre os autores de autoajuda.

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PROCEDIMENTOS

4. identificação do “tópico frasal”.

EXEMPLIFICANDO

5. identificação de termos deaparecimento frequente (camposemântico/lexical).

Games: bons para a terceira idade

Jogar games de computador pode fazer bem à saúde dos

idosos. Foi o que concluiu uma pesquisa do laboratório, na

Universidade da Carolina do Norte, nos EUA.

Os cientistas do laboratório reuniram um grupo de 39 pessoas

entre 60 e 77 anos e testaram funções cognitivas de todos os

integrantes, como percepção espacial, memória e capacidade de

concentração. Uma parte dos idosos, então, levou para casa o RPG on-

line “World of Warcraft”, um dos títulos mais populares do gênero no

mundo e com 10,3 milhões de usuários na internet. Eles jogaram o

game por aproximadamente 14 horas ao longo de duas semanas (em

média, uma hora por dia).

Outros idosos, escolhidos pelos pesquisadores para integrar o

grupo de controle do estudo, foram para casa, mas não jogaram

nenhum videogame. Na volta, os resultados foram surpreendentes. Os

idosos que mergulharam no mundo das criaturas de “Warcraft” voltaram

mais bem dispostos e apresentaram nítida melhora nas funções

cognitivas, enquanto o grupo de controle não progrediu, apresentando

as mesmas condições. [...] MACHADO, André. Games: bons para a terceira idade. O Globo, 28

fev. 2012. 1o Caderno, Seção Economia, p. 24. Adaptado.

Page 39: APOSTILA PORTUGUES2

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3. O primeiro parágrafo do texto apresenta características de

argumentação porque

(A) focaliza de modo estático um objeto, no caso, um game.

(B) traz personagens que atuam no desenvolvimento da história.

(C) mostra objetos em minúcias e situações atemporalmente.

(D) apresenta uma ideia central, que será evidenciada, e uma

conclusão.

(E) desenvolve uma situação no tempo, mostrando seus

desdobramentos.

4. A leitura do texto permite concluir, relativamente ao tempo gasto no

game com os idosos da pesquisa, que eles

(A) jogaram o game durante 14 horas seguidas.

(B) jogaram a mesma quantidade de horas todos os dias durante 14

dias.

(C) passaram duas semanas jogando 14 horas por dia.

(D) gastaram o mesmo tempo que os outros 10,3 milhões de usuários.

(E) despenderam cerca de 14 horas de atividade no jogo ao longo de 14

dias.

RESPOSTA CORRETA:

paráfrase* MAIS COMPLETA

daquilo que foi afirmado no

texto.

*versão de um texto, geralmente mais extensa e explicativa, cujo

objetivo é torná-lo mais fácil ao entendimento.

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Estratégias Linguísticas

1. PALAVRAS DESCONHECIDAS =

PARÁFRASES e CAMPO SEMÂNTICO

EXEMPLIFICANDO

5. A palavra destacada significa

(A) problemas

(B) núcleos

(C) desajustes

(D) dispersões

(E) adequações

A fila representa uma forma de convívio. Normalmente as

pessoas deveriam estar todas voltadas numa mesma

direção, o cara de trás olhando a nuca do cara da frente.

Mas não é assim. Na fila formam-se, por assim dizer,

nódulos de convivência; pessoas, especialmente os

jovens, que, sem se afastar de seus lugares, ou

afastando-se muito pouco, conseguem conversar, e

conversar animadamente.

Page 41: APOSTILA PORTUGUES2

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2. PALAVRAS DE CUNHO CATEGÓRICO NAS

ALTERNATIVAS:

advérbios;

artigos;

expressões restritivas, de ênfase e de

certeza.

EXEMPLIFICANDO

O monstro – porque é um circo-monstro, que viaja em três vastos trens –

chegou de manhã e partiu à noite. Ao som das últimas palmas dos

espectadores juntou-se o ruído metálico do desmonte da tenda capaz de

abrigar milhares de pessoas, acomodadas em cadeiras em forma de x,

que, como por mágica, foram se fechando e formando grupos exatos. E

com as cadeiras, foram sendo transportadas para outros vagões jaulas

com tigres; e também girafas e elefantes que ainda há pouco pareciam

enraizados ao solo como se estivessem num jardim zoológico. A verdade

é que quem demorasse uns minutos mais a sair veria esta mágica

também de circo: a do próprio circo gigante desaparecer sob seus olhos.

6. Analise as afirmações abaixo.

I – O circo era mágico pois desaparecia literalmente num piscar de olhos.

II – O desmonte do circo era tão organizado que parecia um truque de

mágica.

III – Apenas alguns minutos eram necessários para desmontar todo o

circo.

É correto APENAS o que se afirma em

(A) I. (B) II. (C) III. (D) I e III. (E) II e III

advérbios

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Professora Maria Tereza Faria Página 41

Mas, como toda novidade, a nanociência está assustando. Afinal, um

material com características incríveis poderia também causar danos

incalculáveis ao homem ou ao meio ambiente. No mês passado, um

grupo de ativistas americanos tirou a roupa para protestar contra calças

nanotecnológicas que seriam superpoluentes.

7. Assinale a opção correta.

(A) Coisas novas costumam provocar medo nas pessoas.

(B)Produtos criados pela nanotecnologia só apresentam pontos

positivos.

(C)Os danos ao meio ambiente são provocados pela nanotecnologia.

(D)Os ativistas mostraram que as calças nanotecnológicas provocam

poluição.

artigos

É preciso voltar a gostar do Brasil

Muitos motivos se somaram, ao longo da nossa história, para dificultar a tarefa

de decifrar, mesmo imperfeitamente, o enigma brasileiro. Já independentes,

continuamos a ser um animal muito estranho no zoológico das nações:

sociedade recente, produto da expansão europeia, concebida desde o início

para servir ao mercado mundial, organizada em torno de um escravismo

prolongado e tardio, única monarquia em um continente republicano, assentada

em uma extensa base territorial situada nos trópicos, com um povo em

processo de formação, sem um passado profundo onde pudesse ancorar sua

identidade. Que futuro estaria reservado para uma nação assim?

Durante muito tempo, as tentativas feitas para compreender esse enigma e

constituir uma teoria do Brasil foram, em larga medida, infrutíferas. Não

sabíamos fazer outra coisa senão copiar saberes da Europa (...) Enquanto o

Brasil se olhou no espelho europeu só pôde construir uma imagem negativa e

pessimista de si mesmo, ao constatar sua óbvia condição não-europeia.

Houve muitos esforços meritórios para superar esse impasse. Porém, só na

década de 1930 começamos a puxar consistentemente o fio da nossa própria

meada. Devemos a Gilberto Freyre, em 1934, com Casa-grande & Senzala,

uma revolucionária releitura do Brasil [...] Devemos a Sérgio Buarque, apenas

dois anos depois, com Raízes do Brasil, um instigante ensaio que tentava

compreender como uma sociedade rural experimentaria o inevitável trânsito

para a modernidade urbana e “americana” do século 20.

Page 43: APOSTILA PORTUGUES2

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 42

8. O aspecto enigmático da sociedade brasileira consiste

(A) em se desvendar a razão de não se gostar muito do Brasil.

(B) na fragilidade do olhar investigativo dos estudiosos.

(C) na ineficácia dos esforços de se entender o Brasil em decorrência

de sua situação geográfica.

(D) na incapacidade brasileira de copiar os saberes europeus.

(E) nas contradições existentes mesmo em etapas diferentes de sua

constituição política.

expressões de certeza ou de ênfase

Geralmente, a alternativa correta

(ou a mais viável) é construída

por meio de palavras e de

expressões “abertas”, isto é,

que apontam para

“possibilidades”, “hipóteses”.

Page 44: APOSTILA PORTUGUES2

Compreensão de Textos -

CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 43

As Questões Propostas

Compreensão do texto:

resposta correta = paráfrase

textual.

e

Inferência: “entrelinhas”.

INFERÊNCIA = ideias implícitas, sugeridas, que

podem ser depreendidas a partir da leitura do

texto.

Enunciados = “Infere-se”, Deduz-se”,

“Depreende-se”, etc.

EXEMPLIFICANDO

Page 45: APOSTILA PORTUGUES2

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 44

“É a felicidade necessária?” é a chamada de capa da última revista New Yorker

para um artigo que analisa livros recentes sobre o tema. No caso, a ênfase está

nas pesquisas sobre felicidade e no impacto que exercem, ou deveriam exercer,

nas políticas públicas. Um dos livros analisados constata que nos últimos 35

anos o PIB per capita dos americanos aumentou de 17.000 dólares para 27.000,

o tamanho médio das casas cresceu 50% e as famílias que possuem

computador saltaram de zero para 70% do total. No entanto, a porcentagem dos

que se consideram felizes não se moveu. Conclusão do autor: se crescimento

econômico não contribui para aumentar a felicidade, “por que trabalhar tanto,

arriscando desastres ambientais, para continuar dobrando e redobrando o PIB”?

Outro livro informa que os nigerianos, com seus 1.400 dólares de PIB per capita,

atribuem-se grau de felicidade equivalente ao dos japoneses, com PIB per capita

25 vezes maior, e que os habitantes de Bangladesh se consideram duas vezes

mais felizes que os da Rússia, quatro vezes mais ricos. Surpresa das surpresas,

os afegãos atribuem-se bom nível de felicidade, e a felicidade é maior nas áreas

dominadas pelo Talibã.

9. As conclusões das pesquisas mencionadas pelo autor parecem mostrar que

(A) os habitantes de países pobres são mais felizes.

(B) pessoas que trabalham muito não são mais felizes.

(C) bom desenvolvimento econômico não traz felicidade.

(D) o PIB per capita é o principal índice de grau de felicidade.

(E) há uma relação intrínseca entre economia e sensação de felicidade.

Extratextualidade = a questão

formulada por meio do texto encontra-

se fora do universo textual, exigindo

do aluno conhecimento mais amplo de

mundo.

EXEMPLIFICANDO

Page 46: APOSTILA PORTUGUES2

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 45

10. Nessa historinha, o efeito humorístico origina-se de uma situação

criada pela fala da Rosinha no primeiro quadrinho, que é

a) Faz uma pose bonita!

b) Quer tirar um retrato?

c) Sua barriga está aparecendo!

d) Olha o passarinho!

e) Cuidado com o flash!

11.

Page 47: APOSTILA PORTUGUES2

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 46

Denotação é a significação objetiva da palavra - valor referencial;

é a palavra em "estado de dicionário“

Conotação é a significação subjetiva da palavra; ocorre quando a

palavra evoca outras realidades devido às associações que ela

provoca.

DENOTAÇÃO CONOTAÇÃO

palavra com significação restrita

palavra com significação ampla

palavra com sentido comum do dicionário

palavra cujos sentidos extrapolam o sentido

comum

palavra usada de modo automatizado

palavra usada de modo criativo

linguagem comumlinguagem rica e

expressiva

Denotação X Conotação

12. A realidade é constituída por contrastes e também por

semelhanças. A metáfora é uma das formas de estabelecimento de

semelhanças por comparações. Qual das sentenças indicadas abaixo

apresenta uma metáfora?

(A) “sabe-se lá por que arcaico crime por eles cometido.”

(B) “O insone é um imortal de olheiras.”

(C) “O momento mais temido pelo insone, (...) é a hora de ficar a

sós...”

(D) “Escolhia um filme desinteressante...”

(E) “um murmúrio indiscernível,”

Denotação X Conotação

Page 48: APOSTILA PORTUGUES2

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 47

Sinônimos: palavras que possuem significados

iguais ou semelhantes.

A bruxa prendeu os irmãos.

A feiticeira prendeu os irmãos.

Porém os sinônimos podem ser

•perfeitos: significado absolutamente igual, o que

não é muito frequente.

Ex.: morte = falecimento / idoso = ancião

•imperfeitos: o significado das palavras é

apenas semelhante.

Ex.: belo~formoso/ adorar~amar / fobia~receio

Sinônimos X Antônimos

Afinal, existe sorte e azar?

No fundo, a diferença entre sorte e azar está no

jeito como olhamos para o acaso. Um bom

exemplo é o número 13.13. O período em que a expressão no fundo está usada

com o mesmo sentido com que é empregada na primeira

linha do texto é

(A) A horta está no fundo do quintal.

(B) Procure na mala toda, até no fundo.

(C) No fundo do corredor, está a melhor loja.

(D) No fundo, acredito que tudo sairá bem.

(E) No fundo do poço, ninguém vê saída para problemas.

Page 49: APOSTILA PORTUGUES2

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 48

Antônimos: palavras que possuem significados

opostos, contrários. Pode originar-se do acréscimo

de um prefixo de sentido oposto ou negativo.Exemplos:

mal X bem

ausência X presença

fraco X forte

claro X escuro

subir X descer

cheio X vazio

possível X impossível

simpático X antipático

14. A palavra mesmo está sendo empregada com o

sentido igual ao que se verifica em “o Brasil foi campeão

mesmo”

na seguinte frase:

(A) O diretor preferiu ele mesmo entregar o relatório ao

conselho.

(B) Mesmo sabendo que a proposta não seria aceita, ele a

enviou.

(C) Fui atendido pelo mesmo vendedor que o atendeu

anteriormente.

(D) Você sabe mesmo falar cinco idiomas fluentemente?

(E) Ele ficou tão feliz com a notícia que pensou mesmo em

sair dançando.

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 49

TIPOLOGIA TEXTUALNarração: modalidade na qual se contam um ou mais fatos – fictício ou não -

que ocorreram em determinado tempo e lugar, envolvendo certos

personagens. Há uma relação de anterioridade e posterioridade. O tempo

verbal predominante é o passado.

Descrição: é a modalidade na qual se apontam as características que

compõem determinado objeto, pessoa, ambiente ou paisagem. Usam-se

adjetivos para tal.

Argumentação: modalidade na qual se expõem ideias e opiniões gerais,

seguidas da apresentação de argumentos que as defendam e comprovem.

Exposição: apresenta informações sobre assuntos, expõe ideias, explica e

avalia e reflete Não faz defesa de uma ideia, pois tal procedimento é

característico do texto dissertativo. O texto expositivo apenas revela ideias

sobre um determinado assunto. Por meio da mescla entre texto expositivo e

narrativo, obtém-se o que conhecemos por relato.

Injunção: indica como realizar uma ação. Também é utilizado para predizer

acontecimentos e comportamentos. Utiliza linguagem objetiva e simples. Os

verbos são, na sua maioria, empregados no modo imperativo.

Amar é...

Noite de chuva

Debaixo das cobertas

As descobertas

Ricardo Silvestrin

15. De acordo com a tipologia textual, o texto é

(A) descritivo.

(B) expositivo.

(C) argumentativo.

(D) injuntivo.

(E) narrativo.

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CESGRANRIO

Professora Maria Tereza Faria Página 50

EDITORIAL: texto opinativo/argumentativo, não assinado, no qual o autor

(ou autores) não expressa a sua opinião, mas revela o ponto de vista

da instituição. Geralmente, aborda assuntos bastante atuais. Busca

traduzir a opinião pública acerca de determinado tema, dirigindo-se

(explícita ou implicitamente) às autoridades, a fim de cobrar-lhes

soluções.

ARTIGOS: são os mais comuns. São textos autorais – assinados –, cuja

opinião é da inteira responsabilidade de quem o escreveu. Seu

objetivo é o de persuadir o leitor.

NOTÍCIAS: são autorais, apesar de nem sempre serem assinadas. Seu

objetivo é tão somente o de informar, não o de convencer.

CRÔNICA: fotografia do cotidiano, realizada por olhos particulares.

Geralmente, o cronista apropria-se de um fato atual do cotidiano, para,

posteriormente, tecer críticas ao status quo, baseadas quase

exclusivamente em seu ponto de vista. A linguagem desse tipo de

texto é predominantemente coloquial.

GÊNEROS TEXTUAIS

GABARITO

01.A 02.B 03.D 04.E 05.B

06.B 07.A 08.E 09.C 10.D

11.D 12.B 13.D 14.D 15.A