Apostila Sesi de Envio de Projetos

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  • O DESAFIO DE ELABORAR E VIABILIZAR PROJETOS CULTURAIS SOB AS DIRETRIZES DA TECNOLOGIA SESI CULTURA

  • CONFEDERAO NACIONAL DA INDSTRIA CNIPresidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto

    SERVIO SOCIAL DA INDSTRIA SESIConselho NacionalPresidente: Jair Meneguelli

    SESI Departamento NacionalDiretor: Armando de Queiroz Monteiro Neto

    Diretor-Superintendente: Antnio Carlos Brito Maciel

    Diretor de Operaes: Carlos Henrique Ramos Fonseca

  • O D E S A F I O D E

    E L A B O R A R E

    V I A B I L I Z A R

    P R O J E T O S

    C U L T U R A I S S O B

    A S D I R E T R I Z E S D A

    T E C N O L O G I A S E S I

    C U L T U R A

    B R A S L I A2 0 0 7

  • 2007. SESI Departamento Nacional.Qualquer parte desta obra poder ser reproduzida, desde que citada a fonte.

    SESI/DNUnidade de Cultura, Esporte e Lazer UCEL

    S491d

    Servio Social da Indstria. Departamento Nacional. O desafio de elaborar e viabilizar projetos culturais sob as diretrizes da tecnologia SESI cultura. Braslia : SESI-DN, 2007.

    116p. : il

    ISBN 948-85-7710-048-4

    1. Cultura 2. Projeto 3. SESI 4. Brasil I. Ttulo

    CDU 316.72(81)

    FICHA CATALOGRFICA

    SESIServio Social da Indstria Departamento Nacional

    SedeSetor Bancrio Norte Quadra 1 Bloco C Edifcio Roberto Simonsen 70040-903 Braslia DFTel.: (61) 3317-9290Fax: (61) 3317-9316http://www.sesi.org.br

  • S U M R I O

    APRESENTAO

    INTRODUO ............................................................................................................................................................... 9

    COMO USAR O DOCUMENTO ................................................................................................................................13

    O CONTEDO DO DOCUMENTO..........................................................................................................................15

    1 ANTECEDENTES E SITUAO ATUAL DO INCENTIVO CULTURA NO BRASIL UNIO,

    ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E CAPITAIS ........................................................................................................17

    2 COMO CONCEBER E ELABORAR UM PROJETO CULTURAL ........................................................................51

    3 COMO DEFINIR O ORAMENTO DE UM PROJETO CULTURAL .................................................................59

    4 COMO INSCREVER, ACOMPANHAR A TRAMITAO E INICIAR A

    EXECUO DE UM PROJETO CULTURAL: LEI ROUANET ..............................................................................77

    5 COMO REALIZAR A CAPTAO DE RECURSOS DE UM PROJETO

    CULTURAL APROVADO: OS PASSOS DA CAPTAO DE RECUROS ...........................................................83

    REFERNCIAS ..............................................................................................................................................................87

    ANEXOS........................................................................................................................................................................91

    ANExO A REAS E SEGMENTOS CULTURAIS GOvERNO FEDERAL LEI ROUANET ....................................... 91

  • ANExO B RESUMOS DAS REGRAS E ExEMPLOS DE CONTABILIzAO DOS INCENTIvOS CULTURA

    POR MEIO DAS LEIS FEDERAIS ..........................................................................................................................................92

    ANExO C O QUE NEGOCIAO ......................................................................................................................... 93

    ANExO D 50 DICAS DE MARkETING CULTURAL .................................................................................................. 95

    ANExO E ExEMPLO DE UM PLANO DE COTAS DE PATROCNIO .................................................................... 100

    ANExO F COTAS DE PATROCNIO DO PRMIO B2B .......................................................................................... 101

    ANExO G REvISTA ISTO DINHEIRO ................................................................................................................... 104

    ANExO H ExEMPLO DE OPES DE INvESTIMENTO PARA A LEI FEDERAL IDENTIFICANDO

    OS RETORNOS FINANCEIROS PARA AS EMPRESAS ................................................................................................ 106

    ANExO I ENDEREOS DO MINC E SUAS vINCULADAS .................................................................................... 110

    ANExO J INFORMAES CADASTRAIS SISTEMAS INSTITUCIONAIS DA CULTURA ESTADOS E

    MUNICPIOS DE CAPITAIS AGOSTO A NOvEMBRO DE 2005 ............................................................................ 112

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    A P R E S E N T A O

    desafio de promover e garantir a continuidade da capacitao e profissionalizao de gestores culturais do SESI que atuam no Distrito Federal e nos diversos municpios dos vinte e seis estados

    da Federao, sob as diretrizes da tecnologia SESI Cultura, d significado produo e divulgao do presente documento, sntese da pesquisa sobre o incentivo cultura no Brasil, realizada pelo Instituto Plano Cultural em parceria com o Departamento Nacional do SESI.A linguagem mais simplificada e concisa, buscando orientar para o exerccio de elaborar e viabilizar os projetos culturais em suas principais etapas de elaborao, tramitao nos rgos pblicos, caminhos a serem percorridos aps a aprovao, que viabilizem a captao de recursos para financiamento dos projetos culturais, compreende o

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    resultado a ser perseguido neste documento.Sem dvida, o conjunto dos estudos j produzidos mais amplo e de grande relevncia como um requisito para a atuao estratgica e planejada no mercado. Recomenda-se consultar esses estudos. A legislao em vigor encontra-se atualizada nos respectivos sites dos sistemas operacionais de cultura, sendo tambm apresentada no banco de dados da Unidade de Cultura, Esporte e Lazer do Departamento Nacional do SESI, um dos pilares do sistema Tecnologia SESI Cultura. Esta legislao tambm outra fonte de pesquisa sempre mo desses gestores na consecuo de seus projetos culturais.

    Antonio Carlos Brito MacielDiretor-Superintendente do SESI/DN

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    ste documento foi concebido para dar suporte aos gestores culturais do Servio Social da Indstria que atuam na rea da cultura, buscando garantir elaborao, aprovao e realizao dos projetos culturais, mediante a utilizao dos

    mecanismos pblicos de fomento e incentivo existentes na esfera federal, estadual e de municpios de capitais, sob o pressuposto de que os referidos projetos se enquadrem nas diretrizes da tecnologia SESI Cultura.Para o SESI Cultura, o grande desafio o reconhecimento pelas empresas, pelo trabalhador da indstria e seus dependentes, pela comunidade em geral1 de sua atuao como um agente agregador de

    I N T R O D U O

    1 SESI (2005), O estado da arte da cultura no SESI, p. 17. Os sujeitos das aes socioeducativas do SESI so de gnero, idade, etnia e condies econmicas, educacionais e culturais diferentes, moradores nos 26 estados e Distrito federal, que hoje vivem em um contexto amplo, com profundas mudanas sociais, econmicas e culturais, que esto revolucionando os pilares bsicos das prticas educativas que ocorrem em diferentes tempos e espaos cotidianos. Contexto sob a influncia da globalizao econmica e cultural, no qual as fronteiras de tempo e espao se diluem, culturas se interpenetram, modelos culturais so difundidos e culturas locais vm sendo preservadas e transformadas.

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    valor, resultado da execuo do seu planejamento estratgico, mediante seus programas e aes socioeducativas voltadas para a rea da cultura; instrumentos de mudanas por meio de processos educacionais que se caracterizam pela oferta de servios nas mais diversas manifestaes artsticas e culturais. Produzir servios alinhados s necessidades das empresas e voltados para o seu fortalecimento institucional, corporativo e comunitrio, com foco na dimenso de qualidade de vida, educao formal e vida comunitria do macroambiente do entorno das empresas atingindo o trabalhador da indstria, seus dependentes e a comunidade em geral, o grande desafio da gesto integrada no SESI.Qual o papel das leis de incentivo neste contexto? Qual o papel das leis de incentivo cultura para atender cidadania e ao direito?As leis de incentivo cultura representam tentativas de estabelecer instrumentos legais na perspectiva de implantao de novo modelo de gesto do Estado no financiamento das aes culturais no Pas?Pela segunda pergunta, percebe-se que a discusso perpassa o campo de atuao do SESI, alcana o universo de atores sociais no Pas que se preocupam com o financiamento das aes culturais. Nesse universo, a opo por um modelo de financiamento de parceria pblico-privada, no qual o recurso pblico de renncia fiscal financia o marketing cultural das empresas, um vetor do financiamento cultura, complementado por recursos oramentrios das trs esferas de governo (federal, estadual e municipal), por recursos das estatais, por recursos externos de organismos internacionais e por recursos da iniciativa privada.Assim, considerando que as leis de incentivo so uma realidade no Pas e um mecanismo importante no financiamento das aes culturais, importante vislumbrar as dimenses de sua insero nas

    diretrizes da tecnologia SESI Cultura. Qual o seu papel neste contexto? Por que importante capacitar-se operacionalmente na legislao de incentivo cultura no Pas para atuar como gestor da rea de cultura no SESI?As leis de incentivo cultura constituem mecanismos importantes no mbito da tecnologia SESI Cultura se concebidas como instrumentos que: Em primeiro lugar, garantam a entrada de um maior nmero de empresas no mercado de patrocnio cultural no Pas, a definio a longo prazo de um programa de patrocnio dessas empresas, voltado para a consolidao de sua reputao e credibilidade na comunidade em que atua (marketing de relacionamento), alm da preocupao com a imagem corporativa, o benchmarking2 e o endomarketing3. Em segundo lugar, possibilitem a gestores do SESI Cultura desenvolver parcerias, participar das comisses de seleo de projetos, buscar capacitao e atuao no mercado de patrocnio como forma de ir em busca da plena utilizao dessas leis, garantindo perenidade e sustentabilidade financeira dos projetos culturais engajados nas dimenses e desafios da tecnologia SESI Cultura.Todas as leis de incentivo cultura enfatizam a necessidade de profissionalizao dos agentes culturais. Isso indica a importncia da valorizao da qualidade da ao criativa pelo uso de tcnicas e tecnologias ou a necessidade de ajustar o fazer criativo s demandas de mercado.Nos estados onde o mercado cultural mais organizado e as prticas culturais mais enriquecidas

    2 Conforme o Dicionrio Aurlio: Processo por meio do qual uma empresa adota ou aperfeioa os melhores desempenhos de outras empresas em determinada atividade. 3 Conforme o Dicionrio Aurlio: Conjunto das atividades de marketing institucional, dirigidas para o pblico interno da empresa (funcionrios, fornecedores, acionistas, revendedores, etc.).

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    de tecnologias, as leis criam incentivos especficos e fixos para determinados grupos, desenvolvendo importantes parcerias que possibilitam a produo e divulgao cultural brasileira no Exterior. So vrios os exemplos nessa direo.Um segundo objetivo, no menos importante, que justifica a apresentao deste documento, compreende a percepo de seu papel como disseminador das Leis de Incentivo, complementando as publicaes anteriores, mediante a leitura sucinta de seus principais alcances e resultados.Espera-se que esse documento contribua para desmistificar o processo de elaborao dos projetos culturais, reduzindo, em ltima instncia para os proponentes, artistas e produtores culturais filiados ao SESI, os custos de elaborao desses projetos. Esses atores, muitas vezes, por desconhecimento do processo, buscam opes disponveis no mercado, mas a elevados custos financeiros e sem garantias reais de sua cobertura pelos mecanismos de incentivo cultural. O importante aprender fazendo e participar, estrategicamente, do processo de tramitao do projeto em suas etapas de elaborao, aprovao, captao, execuo e prestao de contas. Espera-se que este documento contribua para o entendimento de que a elaborao de um projeto cultural e o acompanhamento do seu processo de tramitao nas diversas instncias governamentais constituam-se em atividades-meio e contem, pelo menos em tese, com a participao das estruturas do Estado no fornecimento adequado de informaes, numa atuao proativa como facilitador do processo de financiamento das aes culturais, mediante renncia fiscal. Espera-se que este documento contribua para a compreenso de que os gargalos existentes nas diversas fases de tramitao de um projeto cultural

    nas esferas institucionais podem ser reduzidos. A participao de representantes da sociedade civil organizada, numa viso estratgica do processo, muito contribuir para o aprimoramento dos mecanismos institucionais, padronizao, coordenao e planejamento das aes junto s instncias governamentais de forma conjunta e articulada.Espera-se que este documento fornea aos gestores da rea de cultura do SESI os principais subsdios, fundamentos e argumentos que daro suporte a suas aes e participao estratgica nesse macroambiente de viabilizao de recursos pblicos para projetos culturais, mediante parceria com a iniciativa privada, por intermdio do mecanismo de renncia fiscal. Conforme documentos bsicos da pesquisa Incentivo Fiscal Cultura no Brasil, os dois grandes estrangulamentos so: o processo de aprovao dos projetos na esfera pblica e a captao de recursos com as empresas privadas. Nas vrias leis em vigor, o nmero de projetos inscritos e o volume de recursos pleiteados so sempre maiores que os relativos aprovao e captao. A busca de patrocnio no mecenato ou de financiamento mediante fundos pblicos ou investimentos diretos das empresas demanda capacitao e profissionalizao e conta tambm com a percepo empresarial de cultura como mecanismo de incluso social, portanto, de maior democratizao ao acesso ao maior nmero de artistas e produtores culturais aos benefcios da lei, e dos cidados ao cultural resultante desses mecanismos.Cultura um bom negcio, o setor prescinde de bons projetos, de projetos bem elaborados, bem planejados. Frases como essas, to usuais nos fruns de cultura nos anos 90, na realidade atual

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    demandam alcances muito mais qualificados. O mecanismo de renncia fiscal agora atinge uma fase de aprimoramento, cabendo ao conjunto dos atores sociais competncias e atuao proativa nesse processo. Do incio da implantao das primeiras leis de incentivo nas esferas subnacionais aos dias de hoje, a intermediao cresceu, e a capacitao e a profissionalizao na rea so ofertadas das mais variadas formas, principalmente financiadas pelos prprios recursos da renncia fiscal. A expanso da legislao ocorre com a liberao de documentos e formulrios nos diversos cantos do Pas. J se observa a necessidade de coordenao, padronizao e aprimoramento de procedimentos. Nesse universo, a reduo dos gargalos no processo de aprovao e captao figura como uma importante demanda. Criar expectativa de financiamento de projetos culturais mediante editais no o suficiente. De um lado, as leis passam a ser avaliadas pela sua capacidade de execuo e transparncia e, de outro, as empresas iniciam o processo de criar os seus mecanismos para processos seletivos de projetos culturais, da a pretenso do presente documento de avanar numa abordagem estratgica desse entorno.

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    C O M O U S A R O

    D O C U M E N T O

    ste documento-sntese possui captulos independentes da ordem apresentada no sumrio. Estes captulos podem ser lidos de forma seqencial, mas tambm pela ordem de interesse dos usurios.

    Nesta leitura e reviso voltada para a operacionalizao e execuo de projetos culturais, recomenda-se: a leitura dos documentos bsicos do programa Tecnologia SESI Cultura; a reviso de informaes relativas ao entorno das leis de incentivo cultura; a leitura dos quadros comparativos, da base informacional que traz a legislao; a consulta legislao atualizada dos sistemas operacionais de cultura dos diversos estados e municpios de capitais, com foco no acompanhamento dos editais e outras instrues voltadas para os procedimentos operativos dessa legislao em vigor.

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    O C O N T E D O D O

    D O C U M E N T O

    s primeiros captulos compreendem reviso da implantao e evoluo das leis de incentivo cultura no Brasil. Considera a legislao na esfera federal, estadual e nos municpios de capitais. Os captulos seqenciais

    buscam focar os seguintes pontos: como elaborar um projeto cultural, como definir o seu oramento, como acompanhar sua tramitao e como captar os recursos para a sua execuo, procurando demonstrar as possibilidades e opes de argumentao e negociao de projetos culturais.

  • 1

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    ANTECEDENTES E

    SITUAO ATUAL DO

    INCENTIVO CULTURA NO

    BRASIL UNIO, ESTADOS,

    DISTRITO FEDERAL E

    CAPITAIS1incentivo cultural, ou incentivo fiscal cultura, assume freqentemente a forma de dedues nos impostos devidos por indivduos ou empresas, pessoas fsicas ou jurdicas, como compensao por gastos efetuados

    com o apoio a prticas culturais. So trs as principais modalidades cobertas pelos incentivos fiscais: doao, patrocnio e investimento.Na primeira modalidade, a doao, existe transferncia de recursos aos produtores culturais para a realizao de obras ou produtos culturais sem que haja, por parte do incentivador, interesses promocionais, publicitrios ou de retorno financeiro. A doao corresponde ao tradicional mecenato cultural.No caso do patrocnio, que diz respeito ao marketing cultural, h transferncia de recursos a

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    recursos segundo sua origem ou destino.A particularidade mais criticada dessa lei foi a de que, por no exigir aprovao tcnica prvia dos projetos culturais, mas apenas o cadastramento como entidade cultural junto ao Ministrio da Cultura (MinC) das pessoas e firmas interessadas em captar recursos das empresas, teria favorecido irregularidades, pois qualquer nota fiscal emitida por uma entidade cadastrada poderia ser usada pelo seu destinatrio para abatimento fiscal, independentemente de se referir ou no despesa efetiva com projeto cultural.Sua revogao no incio do governo Collor, em maro de 1990, em virtude da ocorrncia de desvios em seus objetivos e da extino e fuso do Ministrio da Cultura e de diversas fundaes culturais, aliados ao agravamento da crise econmica e ausncia de qualquer tipo de incentivo para o setor, provocou grave crise no universo da produo cultural brasileira. Como conseqncia dessa situao desastrosa, a maioria das empresas incentivadoras reduziu ou cancelou seus patrocnios e doaes a projetos culturais.A criao de mecanismos de incentivo fiscal no mbito municipal foi a soluo encontrada para o fomento das atividades artstico-culturais. A Lei Mendona (Lei no 10.923/90), do municpio de So Paulo, regulamentada em 1991, constituiu medida pioneira que serviu de modelo para diversos municpios, ao permitir a deduo do Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e do Imposto sobre Servios (ISS) para os contribuintes que aplicassem recursos na rea cultural.Aps a Lei Mendona, surgiram leis municipais em diversas capitais brasileiras e outras cidades, bem como leis estaduais de incentivo cultura, as quais definem como instrumento de incentivo

    produtores culturais para a realizao de projetos culturais com finalidades promocionais, publicitrias ou de retorno institucional.Por fim, o investimento refere-se transferncia de recursos a produtores culturais para a realizao de projetos com a inteno de participao nos eventuais lucros financeiros. Nessa modalidade, a empresa considera o empreendimento cultural como um negcio.Na legislao brasileira, incentivos fiscais produo cultural sempre existiram de forma indireta, na forma de abatimentos por despesas de promoo ou publicidade. Mas, a partir de 1986, comearam a surgir legislaes especficas.A primeira lei brasileira de incentivos fiscais cultura, a Lei Federal no 7.505, mais conhecida como Lei Sarney, embora tenha sido apresentada ao Congresso Nacional em 1972, s foi aprovada em 1986. Com a constatao de que alguns produtores culturais no poderiam sobreviver somente com recursos prprios, foi criada a Lei Sarney, cujo objetivo era incentivar empresrios a investir no setor cultural, incrementar a cultura e democratiz-la.A Lei Sarney era um mecanismo de financiamento das atividades culturais por meio da concesso de incentivos fiscais aos contribuintes do Imposto de Renda que decidissem incentivar projetos culturais mediante doao, patrocnio ou investimento. Apesar de seus resultados quantitativos no terem sido divulgados devidamente nem avaliados com rigor, de acordo com Santa Rosa (1991), ela foi fundamental para o processo de reaquecimento cultural do Pas no perodo de sua existncia (1986-1989), apesar de todas as suas imperfeies. Estima-se que foram gastos cerca de US$ 450 milhes em apoio arte e cultura no Pas, dos quais US$ 112 milhes correspondem ao incentivo fiscal e o restante contrapartida dos patrocinadores. Entretanto, no se conhece a distribuio desses

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    fiscal um percentual do Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS). Entretanto, em ambos os nveis, o processo de implantao das leis tem sido lento e, muitas vezes, seus resultados no correspondem s expectativas e demandas dos artistas e produtores culturais.Em substituio Lei Sarney e em resposta s presses dos setores artsticos, o governo Collor acabou por admitir retomar o financiamento da cultura, sancionando a Lei no 8.313/91, mais conhecida como Lei Rouanet. Esta lei introduziu a aprovao prvia de projetos por parte de uma comisso formada por representantes do governo e de entidades culturais. Criou um conjunto de aes na rea federal, chamado de Programa Nacional de Apoio Cultura (Pronac), que recuperou e ampliou alguns mecanismos da Lei Sarney, ao estabelecer os seguintes instrumentos de fomento a projetos culturais: Fundo Nacional da Cultura (FNC), Fundos de Investimento Cultural e Artstico (Ficart) e Incentivo a Projetos Culturais (Mecenato).O Fundo Nacional da Cultura financia at 80% do custo total de projetos culturais, atendendo prioritariamente queles de carter regional, apresentados por pessoas fsicas ou jurdicas de natureza pblica ou privada, desde que sem fins lucrativos. O fundo concretizou a alocao de recursos oramentrios da Unio para o financiamento da cultura por meio de emprstimos reembolsveis ou cesso a fundo perdido e criou mecanismos que, se bem utilizados, podero contribuir para diminuir as desigualdades regionais e democratizar o processo cultural.O segundo instrumento estabelecido pelo Pronac os Ficart ainda no foi operacionalizado com o devido sucesso. Sua constituio, funcionamento e administrao ficaram a cargo da Comisso de valores Mobilirios (CvM), que passaria a atuar mediante a venda de cotas de projetos artsticos a

    investidores por meio de instituies credenciadas.O Incentivo a Projetos Culturais mediante o Mecenato, por sua vez, possibilita s pessoas fsicas e jurdicas a aplicao de parcelas do Imposto de Renda, a ttulo de doaes ou patrocnios, em apoio a projetos culturais previamente aprovados pela Comisso Nacional de Incentivo Cultura. O incentivador poder deduzir do IR devido os seguintes percentuais: 80% do valor das doaes e 60% do valor dos patrocnios, no caso de pessoas fsicas, observado o limite percentual de 6% do Imposto de Renda devido; 40% do valor das doaes; e 30% do valor dos patrocnios, no caso de pessoas jurdicas tributadas com base no lucro real, tendo como limite o percentual de 4% do imposto devido. A pessoa jurdica poder tambm abater o total das doaes e patrocnios como despesa operacional, reduzindo o valor tributvel e, em conseqncia, diminuindo os valores de Contribuio Social e do Imposto de Renda.Alm das vantagens tributrias, o patrocinador pode, dependendo do projeto que apoiar, obter retorno em produtos (livros, discos, esculturas, gravuras) para brinde ou obter mdia espontnea. O recebimento do produto artstico gerado pelo projeto est limitado legalmente a 25% do total produzido e deve se destinar distribuio gratuita.Para garantir que no se repetissem as distores de que foi acusada a aplicao da Lei Sarney, a nova regra criou normas e empecilhos, tais como: impediu a remunerao de intermedirios; enrijeceu o processo de avaliao de projetos; estabeleceu em nvel muito baixo o percentual de imposto que as empresas poderiam direcionar cultura. Aliadas ao desconhecimento e ao preconceito dos empresrios em relao lei, as novas regras no conseguiram mobilizar parcela significativa dos recursos postos disposio pela renncia fiscal pelo governo federal entre 1992 e 1994.

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    competitividade no mercado de captao de recursos, a Medida Provisria no 1.589/97 estabeleceu o abatimento de 100% do valor aplicado do imposto devido, desde que no ultrapasse os 4% do valor de IR devido, para investimento em determinados setores contemplados pela Lei Rouanet, a saber: artes cnicas, livros de valor artstico-literrio ou humanstico, msica erudita ou instrumental, circulao de exposies de artes plsticas, doaes de acervos para bibliotecas pblicas e museus.Na seqncia, a Medida Provisria no 1.636/97 reduziu o limite de renncia fiscal definido na Lei Rouanet de 5% para 4% do Imposto de Renda a pagar, o que reduziu a capacidade de investimento das empresas, tornando necessrio um maior nmero de parceiros para conseguir o mesmo volume de recursos de antes.Segundo Castello (2002, p. 636), na gesto Weffort no MinC, surgia ainda, formalmente, a figura do agente cultural, profissional encarregado da venda de projetos e que pode cobrar comisso pela intermediao de recursos. O custo com os agentes podia ser includo no oramento. Permitiu-se, alm disso, que os projetos fossem encaminhados ao MinC no mais em prazos rgidos, mas durante todo o ano e o tempo fixado para a apreciao dos projetos pelo ministrio caiu de noventa para sessenta dias. Estava implantado, assim, um mercado de patrocnios, intermediado pelos agentes culturais, profissionais capacitados para lidar com operaes financeiras e dotados de conhecimentos sobre a rea tributria, as finanas e o marketing. Pesquisas idneas j mostravam que o principal motivo que leva as empresas a investir no patrocnio a perspectiva de ganho em sua imagem institucional. Ao investir na cultura, a empresa deseja, antes de tudo, absorver uma parte da imagem positiva e da aura que a cercam. Ficava

    Nesse contexto desfavorvel ao financiamento dos projetos e atividades culturais em parceria com a iniciativa privada, no incio de 1995, procedeu-se reforma da Lei Rouanet como ao prioritria do Ministrio da Cultura. As mudanas na legislao vigente tiveram por objetivo torn-la mais gil, desburocratizar e dinamizar o processo de anlise dos projetos, aumentar o percentual de desconto do Imposto de Renda de 2% para 5% e reconhecer o trabalho de profissionais especializados na elaborao de projetos e captao de recursos junto s empresas, alm de promover campanhas de divulgao e de esclarecimento da legislao em vigor. Essas medidas resultaram em um crescimento significativo do nmero de projetos incentivados e dos recursos canalizados cultura a partir de ento.Uma outra lei de incentivo cultura em nvel federal a Lei do Audiovisual, Lei no 8.685, sancionada no governo do presidente Itamar Franco, em 20 de julho de 1993, que foi a grande responsvel pelo incremento verificado no financiamento ao cinema e no nmero de filmes produzidos e em processo de produo nos ltimos anos. Esta lei permite ao contribuinte investidor em produo de obras audiovisuais nacionais previamente aprovadas pelo Ministrio da Cultura o abatimento de 100% do valor das cotas adquiridas no Imposto de Renda devido at o limite mximo de 3% para pessoas jurdicas e 5% para pessoas fsicas, sendo que o investidor torna-se scio da produo, com participao nos lucros. A Lei do Audiovisual foi concebida para vigorar por um perodo de dez anos, na tentativa de alavancar o renascimento da indstria cinematogrfica brasileira mediante um fomento inicial do mercado investidor para que, posteriormente, esse segmento pudesse sobreviver sem o incentivo fiscal.Para estimular o fomento de reas culturais especficas, dando-lhes condies de maior

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    criado, assim, no s um mercado de bens culturais, mas um mercado de imagens institucionais.Ainda para esse autor, duas idias so importantes para se entender a poltica cultural gerida pelo ministro Francisco Weffort ao longo dos oito anos do governo FHC. Primeiro, a de que sem dinheiro no existe produo cultural; logo, mercado e produo cultural no podem ser contrapostos, mas, ao contrrio, devem estar associados. Segundo, a idia de que necessrio construir no Brasil uma forte indstria cultural, at para que, margem dessa indstria, possa vir a surgir uma vanguarda que dela se desligue e a ela se contraponha, quanto mais a zona de racionalidade se expande, mais se expande, necessariamente, a fronteira com o desconhecido e o experimental. Uma opo clara pela retomada da Lei Rouanet, entretanto, com a aprovao prvia dos projetos mais burocrticos, o que no chega a ser, contudo, garantia de controle das presses do mercado.Na gesto Weffort no MinC, verifica-se agilidade na captao de recursos pela Lei Rouanet. Se ao longo do governo Itamar Franco apenas 72 empresas se valeram da Lei Rouanet para investir na cultura, s no primeiro ano do governo FHC (1995) esse nmero saltou para 235; 614 empresas em 1996; 1.133 empresas em 1997; 1.061 em 1998; 1.040 em 1999. Enquanto a expanso significativa entre 1995 e 1998 no reside em novidades legais, mas, antes disso, em um fator poltico empenhado no sucesso da poltica de incentivos, o presidente fez recomendao expressa s empresas estatais para que passassem a investir na cultura, no que contou com o arrebatamento pessoal e apoio de Srgio Motta, Ministro das Comunicaes, responsvel pelo entusiasmo pela cultura notado entre as estatais do setor. O declnio verificado a partir de 1998 tambm foi motivado pelo mesmo fator que, antes, atuara de modo favorvel. Ocorre que, em

    1997, tomou fora o processo de privatizaes das estatais; as novas empresas privatizadas se desinteressaram da cultura e s viriam a retomar os investimentos a partir de 2000, e mesmo assim impulsionadas por novos estmulos oferecidos pelo Estado.Quanto s distores no processo, Castello (2002, p. 638) assinala que no primeiro ano do governo FHC a distribuio de patrocnios por meio da Lei Rouanet concentrou mais da metade dos recursos de R$ 50,55 milhes em apenas dez projetos, quase todos de empresas que criaram as prprias instituies culturais, em particular alguns grandes bancos. Segundo Dria (2003, p. 61), em 2000, apenas dezessete empresas responderam por 61% dos incentivos fiscais federais que chegaram ao mercado (R$ 213 milhes de um total de R$ 353 milhes), contra 2.629 empresas pequenas que aportaram apenas 2%, equivalentes a R$ 7 milhes. Na concentrao regional, verifica-se que 320 empresas localizadas em So Paulo e Rio de Janeiro concentraram 94% dos incentivos.Ainda em 1996, embora trabalhando com 18% a menos de verbas que no ano anterior, o Ministrio da Cultura anunciou investimentos da ordem de R$ 200 milhes na restaurao do patrimnio histrico em quinze estados verba proveniente de um acordo entre o governo federal e o BID, com R$ 100 milhes prometidos para 1998 e outros R$ 100 milhes para 1999.Se o oramento do MinC veio crescendo ao longo dos anos, a aplicao desses recursos continuava ocorrendo em decorrncia de fatores casuais e, mesmo, aleatrios. Foram R$ 104 milhes em 1995; R$ 214 milhes em 1996; R$ 249 milhes em 1997. Em 1998, embora o oramento direto tenha cado cerca de 15%, o total chegou a algo em torno de R$ 427,10 milhes, a preos correntes de 2004. A partir desse exerccio, quedas seqenciais so

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    verificadas, com um alcance de apenas R$ 213,4 milhes em 2005, aps o contingenciamento.As despesas realizadas pelo Ministrio da Cultura e suas entidades supervisionadas atingem R$ 427,10 milhes; R$ 410,94 milhes; R$ 366,94 milhes; R$ 398,70 milhes, respectivamente, em 1995, 1998, 2002 e 2004, valores expressos a preos mdios de 2004. Comparando os valores dos dois primeiros anos do segundo governo FHC com os dois primeiros anos do governo Lula, verifica-se que ocorreu uma reduo real nessas despesas da ordem de 20,42% entre os dois perodos, uma vez que entre 1999 e 2000 o montante atingiu R$ 881,24 milhes contra R$ 708,71 milhes no perodo 2003-2004.J em 2005, como assinalado, com o Decreto no 5.379, de 25 de fevereiro de 2005, o governo federal alcanou fortemente o Ministrio da Cultura em cortes oramentrios, passando de uma previso na Lei Oramentria Anual (LOA) de 2005 de R$ 480,00 milhes para R$ 213,40 milhes, com uma reduo nominal de 55,64% em termos de contingenciamento de gastos para cumprir as metas de resultado primrio. J o oramento de investimento do Ministrio da Cultura, cuja previso na Lei Oramentria Anual de 2004 era de R$ 97,76 milhes, apresentou uma execuo em termos de despesa empenhada de R$ 45,21 milhes e de despesa paga de apenas R$ 13,66 milhes.Para 2006 a previso de recursos a serem despendidos pelo Ministrio da Cultura e suas entidades supervisionadas, desde que no sofra contingenciamento, alcana um montante de R$ 585,69 milhes em valores correntes do exerccio. Desse total, a maior previso encontra-se no IPHAN, que detm 25,8% do total, seguido das Secretarias na estrutura da Administrao Direta do Ministrio com 24,7% e do Fundo Nacional de Cultura com 19,6% do total. A Agncia Nacional

    de Cinema vem na quarta posio com 10,2% da previso total de despesas, seguida pelas Fundaes do Sistema de Cultura do Pas, com respectivamente 7,8%, 6,8%, 3,1% e 1,9% na Funarte, FBN, FCRB e Fundao Palmares. Espera-se que o oramento de 2006 para o Ministrio da Cultura no passe por contingenciamento, como ocorreu em 2005.Quanto ao incentivo cultural federal mediante a Lei Rouanet, grosso modo, esses nmeros evidenciam que a despeito das restries oramentrias, o Estado investe no s por intermdio dos mecanismos da renncia fiscal (na renncia fiscal, no a iniciativa privada que investe, mas, indiretamente, o prprio Estado), mas tambm por meio do dinheiro investido pelas estatais e pelo Ministrio. O que cabe pesquisar, complementarmente, so os dados atuais dos investimentos privados em cultura. No Brasil, quanto alcanam esses montantes relativos a investimentos diretos da iniciativa privada na rea cultural?

    Para Faria (2000, p. 44), as leis de incentivo cultura foram criadas na dcada de 1990 visando estimular a iniciativa privada a investir em cultura num momento em que o Estado brasileiro fechava os rgos culturais mais representativos, reduzia seu oramento e comeava a construir um Estado mnimo e um mercado mximo. Com as leis culturais, abria-se mo das polticas pblicas de cultura e realizava-se a cultura com o dinheiro pblico na esfera privada [...]. Hoje, aps onze anos, ainda no temos um quadro dos principais resultados dessas leis, quais projetos contemplados, suas reas e linguagens, as regies e cidades que foram atendidas. inacreditvel que esses dados no estejam organizados.

    J segundo Dria (2003, p. 195), as leis de incentivo federal, tal como so

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    praticadas, acabam por constituir uma espcie de esfera pblica no-estatal, como uma privatizao de parte da antiga funo cultural do Estado brasileiro. Na verdade, o Estado se retirou da gesto direta do dinheiro pblico, garantindo que ele iria para a cultura se e quando os produtores culturais conseguissem sensibilizar o empresariado e os cidados com suas propostas. Assim, o Estado abriu mo do papel eletivo que consiste em determinar quais produtores e propostas mereciam apoio e dinheiros pblicos [...]. D-se ento uma inverso no-desejada: a privatizao da poltica cultural com recursos pblicos (renncia fiscal crescente, ao passo que os recursos privados a eles agregados so decrescentes).

    Essa posio do autor no consensual e no se fundamenta em dados empricos relativos a pesquisas especficas em empresas sobre investimentos diretos em cultura ou contrapartidas realizadas mediante patrocnio cultural. Pesquisas empricas realizadas em alguns estados com empresas patrocinadoras que utilizam leis estaduais em conjunto com a Lei Rouanet j apontam expanso de investimentos nessa direo (BARACHO; FLIx, 2002; SOUSA; STARLING, 2004; SANTANA, 2004).Assim, para fundamentar essa discusso, a lacuna a ser preenchida, como assinalado anteriormente, cabe s pesquisas que busquem estimar o montante de recursos privados aplicados diretamente no setor cultural no Brasil, tanto no que se refere s contrapartidas na utilizao das leis quanto em termos de investimentos diretos na rea cultural, sem a utilizao de leis de incentivo.Ainda quanto utilizao de leis de incentivo cultura em vigor ou em implantao em esferas subnacionais, segundo Berman, Durand e Gouveia

    (1995, p. 7), em meados de 1995, j dispunham de leis aprovadas de incentivo fiscal cultura o Distrito Federal e mais quatro estados (Par, Pernambuco, Rio de Janeiro e So Paulo) e oito capitais estaduais (Aracaju, Belo Horizonte, Curitiba, Rio de Janeiro, Salvador, So Paulo, Teresina e vitria). Complementando esses autores, vale mencionar outro significativo nmero de municpios, como Londrina, So Bernardo do Campo, Uberlndia, Santo Andr, So Jos dos Campos e muitos outros, nos quais leis de incentivo e de fundos foram criadas na dcada de 1990.Na presente pesquisa, os resultados do levantamento mostram que no foram considerados os estados do Amazonas, Rondnia, Roraima, Maranho e Alagoas. Nesses estados, o levantamento no identificou a existncia de legislao de incentivo cultura. No Amazonas, o oramento da Cultura com percentuais acima de 1,25% ocupa a quarta posio no total dos oramentos estaduais de cultura, atrs apenas dos estados de So Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Nesse estado, onde no existe legislao estadual voltada para o incentivo cultural, o foco do patrocnio cultural est, essencialmente, na utilizao de leis federais. No Maranho, o sistema operacional da cultura funciona na estrutura da administrao direta com incentivos em programas constantes do Oramento estadual e tambm operacionalizados mediante editais, numa ao centralizada por departamentos das reas culturais. Em Rondnia, foi criada, pelo Decreto no 8.528, de 30 de outubro de 1998, a Fundao Cultural e Turstica do Estado de Rondnia (Funcetur). J em Roraima, a Lei no 55, de 9 de dezembro de 1993, cria o Conselho Estadual de Cultura. Essa lei teve sua redao alterada pela Lei no 264, de 12 de julho de 2000. No levantamento realizado, no foram encontradas legislaes de incentivos fiscais

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    cultura nesses dois estados da regio norte. J na regio nordeste, o estado de Alagoas criou, em 30 de julho de 1985, um Fundo de Desenvolvimento de Cultura, sendo pioneiro em relao a todos os estados da Federao. Todavia, pelo levantamento da pesquisa, esse estado apresenta retrocessos na conduo de aes e programas pblicos voltados para a rea cultural.No Acre e Rio de Janeiro, a lei de incentivo cultura apresenta-se agregada legislao para apoio ao esporte. A diferena bsica entre esses dois estados refere-se ao volume de recursos movimentados e como esses recursos se distribuem entre cultura e esporte. Em seis anos de funcionamento, a Lei do Acre movimentou uma mdia de R$ 1 milho/ano, dividido mais ou menos igualmente entre projetos desportivos e culturais. No Rio de Janeiro, estimativas mostram que aproximadamente R$ 40 milhes so movimentados anualmente mediante lei de incentivo cultura e ao esporte, sendo que ocorre concentrao desses recursos em projetos culturais.No Esprito Santo, encontra-se em fase de regulamentao o Fundap Social, fundo pblico de natureza financeira, sem personalidade jurdica, cujos recursos sero geridos pelo Banco de Desenvolvimento do Esprito Santo S.A. (Bandes), registrados em conta prpria e utilizados em financiamento a micro e pequenas empresas industriais, comerciais e de servios, a microempreendedores, incluindo do setor informal, e a projetos sociais e culturais, numa estrutura de financiamento reembolsvel.Essa experincia, embora numa fase bastante inicial, inclui a cultura em uma tendncia j observada nos diversos bancos de fomento do Pas, que atuam como mandatrios dos estados na gesto de fundos de natureza rotativos, visando expandir o crdito de fomento, a custos abaixo

    dos de mercado, para setores que geram emprego e renda na expanso da atividade econmica.No Amap, Minas Gerais e Rio Grande do Norte existe legislao de incentivo cultura referente apenas lei (sem nenhuma referncia a fundos, sistemas ou programas), em que se relacionam aspectos de renncia fiscal; alocao de recursos de empresas mediante doao, patrocnio ou investimento; e mecanismos de seleo e controle dos projetos culturais (Quadro 1).

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    Fonte: Dados Bsicos: Governos Estaduais.Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa.

    Sendo: (B) Estados onde existem apenas Leis de Incentivo (LEIS DE INCENTIvO); (C) Estados onde existem apenas Leis de Fundo (LEIS DE FUNDO); (D) Estados onde existem Leis de Incentivo e o Fundo um artigo na Lei de Incentivo (PROGRAMA CULTURA); (E) Estados onde existe um Sistema Estadual de Cultura (SISTEMA DE CULTURA); (F) Estados onde existe Lei de Incentivo Cultura vinculada a outros setores (CULTURA E OUTROS). O (A) foi retirado porque se refere inexistncia de leis de incentivo.* Legislao ainda no-regulamentada ou em fase de regulamentao.No foi considerado o PL no 1.127/2003 do Estado de So Paulo com a previso de criao de um fundo cultural com oramento previsto em R$ 110 milhes, uma vez que ainda est em fase de projeto de lei em discusso. Em So Paulo, tambm no foi includa a Lei no 10.242, de 22/3/1999, que autoriza o Poder Executivo Estadual a estabelecer na Loteria Estadual de SP a Loteria da Cultura, com sede na Capital, a ser explorada e administrada pelo Estado, pela Nossa Caixa Nosso Banco S.A., sendo que o resultado lquido do servio da Loteria da Cultura ser creditado em fundo especial da Secretaria da Cultura do Estado de SP no ms subseqente ao ms da extrao.

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    Em 2006, Minas Gerais promulgou sua lei de fundos, com previso de movimentao de R$ 8 milhes, mediante mecanismo a fundo perdido e de emprstimos reembolsveis. Entretanto, no foi objeto de estudo dessa pesquisa, por ter sido criada nesse ltimo ano.Em outros estados, o enquadramento das legislaes ocorre s como fundos pblicos de cultura, como Sergipe, ou em leis de incentivo e leis de fundos, como Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, ou ainda em categorias mais amplas de programas e sistemas em que leis de incentivo e artigos relativos aos fundos interagem numa legislao nica, como Par, Tocantins, Cear, Paraba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piau, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Distrito Federal e Gois.Essa ltima categoria da classificao parece ser a tendncia mais atual de expanso das estruturas de fomento das aes culturais mediante renncia fiscal e outras fontes de recursos comuns em instituio e funcionamento de fundos pblicos (Quadro 1).Em Sergipe, a primeira experincia de implantao de uma lei de fundo de cultura data de 30 de setembro de 1975, e a segunda, de 21 de dezembro de 2001. Esta ltima encontra-se ainda em fase de regulamentao.No Paran, a experincia da Conta Cultura, em que o Estado entra para viabilizar parcerias entre a iniciativa privada e os produtores culturais que j tiveram seus projetos aprovados pela Lei Rouanet, apresenta, desde a sua implantao em 2000, avanos e retrocessos em razo de alternncias polticas na administrao pblica estadual. Em So Paulo, a lei criada no incio dos anos 90 no entrou em vigor. A partir de 2003, deu-se incio a um movimento para a implantao de Fundo de Cultura no montante de R$ 110 milhes, o que ainda no ocorreu. Embora no-includo no levantamento inicial da presente pesquisa, em 20

    de fevereiro de 2006, pela Lei no 12.268, entra em vigncia o Programa de Ao Cultural do estado de So Paulo, com previso de movimentar cerca de R$ 40 milhes/ano, metade desse valor mediante renncia fiscal. Este programa ser viabilizado por trs mecanismos: O primeiro instrumento permitir ao pblica direta, por meio de editais pblicos em que se levaro em conta as necessidades de cada setor da atividade cultural e seu poder de ao diante dos mecanismos de financiamento e viabilizao. Sero priorizadas atividades mais carentes, experimentais, primeiras obras, enfim, atividades que mais dependam do apoio estatal para se viabilizarem e que possuam, sempre, um carter tambm pblico, no sentido de se destinarem ao uso ou consumo pblico o mais amplo, propiciando a incluso cultural. Tendo em vista uma poltica de regionalizao da cultura, os convnios com municpios sero ativados para que, em parceria, seja possvel atender s demandas de todo o Estado.O segundo instrumento, um complemento do primeiro, o Fundo Estadual de Cultura, que recebe renda de loterias, projetos comerciais, doaes, etc. Ele servir como base de apoio complementar ao primeiro e contar com receitas prprias, incluindo rendas auferidas na explorao comercial de produes ou eventos patrocinados pelo Programa de Apoio Cultura (PAC) (rendas correspondentes, mesmo que reduzidas, participao percentual do PAC no total dos custos dessas produes). Tambm se alimentar de doaes e outras fontes, como a Loteria Cultural em processo de reativao, cujos recursos sero aplicados de acordo com a legislao prpria.O terceiro instrumento, o Incentivo Fiscal, permitir aos produtores independentes buscar o apoio empresarial contando com a deduo dos valores investidos nos dbitos do ICMS destas empresas

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    at um limite total mximo de 0,2% da arrecadao anual e um mximo entre 0,01% e 3% para os dbitos da empresa, numa tabela progressiva de acordo com os nveis de dbitos do contribuinte. Esse mecanismo servir para que a produo cultural do estado se fortalea, se aproxime do mundo empresarial, busque sua aprovao e seu interesse pelos projetos, como comisso de seleo com representantes de setores da sociedade civil e do governo vinculados rea da cultura.A pesquisa procedeu e apresentou em seus documentos bsicos quadros-sntese com as diversas leis contendo pontos como: objetivos e finalidades; origem dos recursos; proponentes e beneficirios; existncia de cadastro de produtores culturais; percentuais de doao, patrocnio e investimentos no mbito da renncia fiscal e a previso de contrapartidas no mbito de recursos prprios ou recursos privados; documentao bsica exigida na inscrio de projetos ou no cadastro de proponentes; impedimento e vedaes das diversas leis; e composio e representatividade de comisses e conselhos que avaliam projetos. E tambm, quadro com decretos, portarias, regulamentos, instrues normativas, resolues de cada uma das leis por data de publicao. As informaes sobre o nmero-limite de inscrio de projetos culturais por proponente e por edital no foram sintetizadas em um quadro, porque no foi necessrio. Tanto porque algumas leis no funcionam mediante a divulgao de editais, como Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paran, quanto porque, quando o processo ocorre mediante editais, os limites do nmero de projetos esto entre 1 e 3 para o nmero mximo de projetos por proponente. Por exemplo, para o estado do Acre (um projeto por proponente por edital), Minas Gerais (dois projetos por proponente por edital), So Paulo e Rio Grande do Sul (trs projetos por editais).

    verifica-se que a legislao estadual relativa a cadastro de empreendedores culturais ainda bastante incipiente e necessita de avanos e aprimoramentos para viabilizar a implantao dos cadastros de empreendedores culturais pessoas fsicas e jurdicas, que so importantes no processo de evoluo do modelo de incentivo cultural no Brasil, nas esferas subnacionais por duas importantes razes: a primeira para impactar favoravelmente nos custos de inscrio anual, semestral ou quadrimestral de projetos, conduzindo a uma reduo nos custos; a segunda para facilitar o processo seletivo de representaes da classe artstica nas formaes de comisses, fruns, comits, entre outras instncias decisrias da rea da cultura.Em cinco estados (Amap, Pernambuco, So Paulo, Distrito Federal e Mato Grosso), existem cadastros mais bem estruturados em termos legais. Em Minas Gerais, iniciou-se o cadastro para a rea do audiovisual. No Paran, o cadastro volta-se para aspectos de representao no contexto do Programa Conta Cultura, que, como visto anteriormente, vem enfrentando grandes dificuldades no processo de implantao. Finalmente na Bahia e no Mato Grosso do Sul, o cadastro encontra-se includo no de fornecedores que assinam convnios com a administrao pblica.Exigncias includas nas leis, em seus decretos de regulamentao ou em seus editais, que se referem comprovao de residncia ou domiclio, vo de exigncias de seis meses a trs anos, sendo que a legislao do Par e do Rio Grande do Norte alcana os residentes e domiciliados no territrio nacional. Em Curitiba, se um representante do proponente ou empreendedor possui domiclio no municpio, o projeto cultural pode ser apresentado.As datas para cadastramento de produtores culturais, bem como para inscrio de projetos para cada um dos estados, no foram apresentadas em

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    um quadro-resumo, porque essas informaes vm sendo modificadas, at mesmo no decorrer de um exerccio financeiro. Essas informaes e outros temas que ainda constituem abordagens comuns no conjunto da legislao estadual de incentivo cultura, como previses de recursos para cobertura de custos de elaborao, agenciamento e divulgao, especificidades (includas no texto de objetivo); abrangncia (reas culturais); dados cadastrais do proponente; outros procedimentos e local de inscrio dos projetos; pblico-alvo; prazo de editais, processo de avaliao (comisses e critrios); o que pode ser feito quando o projeto reprovado; aspectos relativos execuo do projeto aprovado, exigncias para a liberao dos recursos; possibilidade de remanejamento de recursos; comprovao de patrocnio; divulgao institucional; cota institucional dos bens produzidos; desobedincias da legislao e processo de prestao de contas, so detalhados nas leis ou na legislao de regulamentao das leis estaduais de incentivo cultura, e principalmente nos editais anuais e nas cartilhas, fornecidas eletronicamente. Assim, recomenda-se a manuteno atualizada desses editais e outras regulamentaes disponveis nos sites das gerncias de cultura no mbito das administraes estaduais e do Distrito Federal da rea cultural no Pas.vale mencionar, a ttulo de curiosidade, que algumas leis so conhecidas por nomes especficos, a saber: Programa Fazendo Cultura, no Acre, Lei Semear, no Par, Lei Jereissati, no Cear, Fazcultura, na Bahia, Lei Goyazes, em Gois, Lei Hermes de Abreu, no Mato Grosso, Lei Maranho (extinta) e Lei Augusto dos Anjos (em vigncia), na Paraba, Funcultura, em Pernambuco, Lei Cmara Cascudo, no Rio Grande do Norte. Alm disso, distintamente do governo federal, a rea de audiovisual figura com outras reas culturais no conjunto da legislao estadual.

    Em relao s reas culturais numa abordagem comparativa, o que se verifica a inexistncia de padronizao, o que, de um lado, reflete a diversidade cultural brasileira, mas, de outro, dificulta a insero da cultura em cadastros e cdigos de atividades relativos a reas financeiras, produtivas, tecnolgicas, relacionando-se a outros setores da atividade econmica. Se existisse uma padronizao pelo menos das reas culturais comuns s diversas instncias federativas, apenas com reas distintas ligadas s diferenas regionais mantidas em separado, os legisladores estaduais e municipais que formulam leis de incentivo, sistemas de incentivo, programas de incentivo ou fundos culturais estariam contribuindo para uma insero integrada do setor cultural em suas relaes com outros setores da administrao pblica e da atividade econmica.Com base em uma classificao distinta da utilizada na legislao federal, mas que apresenta o maior nmero de ocorrncia na legislao do conjunto dos estados e Distrito Federal, a despeito de algumas pequenas diferenas na denominao e incluso das reas, temos: 1) Teatro, dana, circo, pera e congneres; 2) Cinema, vdeo, fotografia e congneres; 3) Msica; 4) Literatura, incluindo obras de referncia, revistas e catlogos de arte; 5) Folclore e artesanato; 6) Pesquisa e documentao; 7) Preservao e restaurao do patrimnio histrico e cultural; 8) Bibliotecas, arquivos, museus e centros culturais; 9) Bolsas de estudo na rea cultural e artstica; 10) Seminrios e cursos de carter cultural ou artstico, destinados formao, especializao e ao aperfeioamento de pessoal na rea de cultura, em estabelecimento de ensino sem fins lucrativos; e 11) Transporte e seguro de objeto de valor cultural destinado a exposies pblicas.Quando os estados no se encaixam nessa classificao bsica que a de Minas Gerais,

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    verifica-se que surgem novas denominaes de reas culturais atreladas a reas especficas de determinada regio, ou a outros setores a que a lei se refere, como desporto ou comunicao social. Alm disso, o que ocorre mais comumente que outras denominaes so utilizadas, desmembrando essas reas bsicas ou agregando-as de outras formas. Exemplificando: msica figura em separado, ou com dana, ou com CD, ou com peras. Para uma percepo abrangente desse universo de reas culturais, complementando as onze reas listadas anteriormente, cabe relacionar as que se seguem, retiradas dos artigos do conjunto da legislao apresentada no Quadro 1:Msica e Dana; Teatro e Circo; Artes Plsticas e Artes Artesanais; Folclore e Ecologia; Esportes profissionais e amadores, desde que federados; Rdio e Televiso educativa e cultural, de carter no-comercial; Teatro e Dana; Mmica; Cinema; Memria, Cultura Popular e Folclore; Artes Plsticas e Museus; Artes visuais; Audiovisual; Circo; Cultura Popular; Dana; pera; Teatro; Artes Cnicas, Plsticas e Grficas; Literatura de Cordel; Saberes e Fazeres; Filatelia e Numismtica; Editorao e Publicaes; Museus; Artesanato, Folclore e Tradies Populares; Bibliotecas e Arquivos. Compra de ingressos para eventos artstico-culturais considerados, aps anlise da Comisso Tcnica de Avaliao de Projetos, de interesse cultural para fins de aprendizagem e capacitao nas reas de arte, cultura e educao.verifica-se que as reas de Patrimnio e Literatura esto presentes no conjunto das leis e, em geral, como uma nica rea cultural, sendo a do Patrimnio quase sempre rea 7 ou 8 e a de Literatura 3, 4, 5 ou 6.Alguns estados incluem nos editais o enquadramento do projeto por rea cultural, seguido de um enquadramento mediante

    classificao por categorias ou modalidades. Caso essa dinmica alcance um maior nmero de leis estaduais, descendo mais a nveis na desagregao da classificao das atividades e projetos culturais, poder contribuir para uma padronizao que seja abrangente, que inclua atividades e projetos especficos.Santa Catarina, da mesma forma que Minas Gerais, tambm traz a possibilidade de utilizao de recursos da dvida ativa para o incentivo cultura, mediante renncia fiscal no mbito do ICMS.No Amap, embora exista uma legislao anterior, Lei no 105, de 8 de setembro de 1993, que no vingou, a experincia iniciada com a Lei no 777, de 14 de outubro de 2003, resultante do Projeto de Lei no 92, do mesmo ano, mais recente e j alcana a fase de regulamentao. Essa lei sofreu alteraes, estabelecidas na Lei no 912, de 1o de agosto de 2005, no que se refere delimitao de percentuais de 1,5%, 2%, 2,5%, 3%, 4% e 5%, limites por faixas de recolhimento mensal do ICMS de empresas, potenciais patrocinadoras. Alm disso, outras exigncias da situao legal das empresas diante do Fisco estadual constam das alteraes. As evidncias relativas a prazos apontam para a percepo de que, no Amap, o processo de regulamentao e implantao do incentivo fiscal cultura, mediante lei de incentivo, encontra-se em fase inicial, com a legislao mais abrangente e inovadora datada de agosto de 2005. interessante observar os avanos que a legislao de incentivo fiscal cultura do Amap apresenta em termos de sua vinculao e disposies legais consoantes aos conceitos e linguagens muito mais adequados aos setores do Fisco estadual que especificamente ou apenas rea da cultura, o que denota avanos no tratamento legal e coordenado nesse estado.Na Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso e Mato

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    Grosso do Sul existem Leis de Incentivo no mbito do ICMS, em separado das Leis de Fundo, em que as origens de recursos abrangem outras fontes alm do ICMS. Na Bahia e no Rio de Janeiro, as leis de fundo so de 2005, ps-LC no 42, e ainda no foram regulamentadas. J a Lei Estadual de Incentivo Cultura do Rio de Janeiro existe desde 1992 (Lei no 1.954, de 26 de janeiro de 1992, com as alteraes da Lei no 3.555, de 27 de abril de 2001, e do Decreto no 28.444, de 29 de maio de 2001). A grande novidade nesse estado que a lei no funciona por meio de editais, mas por ordem de protocolo dos projetos e exerccio financeiro do ICMS. Existem editais apenas para a divulgao de resultados de aprovao de projetos em cada uma das reunies das comisses de avaliao.A Lei da Bahia mais recente, de meados da dcada de 1990, de 9 de dezembro de 1996, e compreende o programa Fazcultura, cujos resultados mostram-se importantes para a cultura baiana. Esse programa assegura que os eventos decorrentes dos projetos culturais incentivados devem ter o lanamento no estado da Bahia, sendo obrigatoriamente, mas no exclusivamente, realizados na Bahia. Dispe tambm que 75% dos profissionais envolvidos devem ter domiclio e residncia comprovada no estado da Bahia h, pelo menos, trs anos, sendo obrigatria a apresentao da declarao de anuncia ao projeto cultural (Resoluo no 280/2001). Outro aspecto inovador a distribuio de recursos por reas culturais, da mesma forma que a proposio do Fundo do Estado de So Paulo, que foi incorporado pela Lei de Incentivo no 12.268, de 20 de fevereiro de 2006. verifica-se que a lei de incentivo cultura do Mato Grosso no obteve xito no incio de sua primeira experincia (Lei no 5.893-A, de 12 de dezembro de 1991), que s foi regulamentada e entrou em funcionamento em fins dos anos 90. A nova legislao, fundamentada nos dispositivos da anterior de 1991,

    que compreende as Leis no 6.913, de 4 de julho de 1997, no 7.042, de 15 de outubro de 1999, e no 7.179, de 19 de outubro de 1999, regulamentadas pelo Decreto no 1.140, de 26 de janeiro de 2000, foi substituda pela Lei no 8.257, de 22 de dezembro de 2004, ainda no-regulamentada, que apresenta gerenciamento inovador e de alcance em termos de contedo, estrutura e divulgao favorveis, com cartilhas e manuais bem elaborados. Uma inovao nesse estado, segundo as leis de 1999, que o fundo capitalizado pela movimentao dos recursos do mecenato, nos seguintes termos: ser creditado em favor do Fundec/MT o correspondente a 7% do valor captado de cada projeto aprovado pela Lei Estadual de Incentivo Cultura, a ttulo de taxa de administrao, de acordo com procedimentos a serem estabelecidos no decreto de regulamentao desta lei.No Mato Grosso do Sul, as Leis no 2.366, de 4 de dezembro de 2001, e no 2.645, de 11 de julho de 2003, foram regulamentadas pelo Decreto no 11.299, de 16 julho de 2003. Uma inovao na legislao de fundos pblicos desse estado compreende a fixao do valor da contrapartida pela populao do municpio de onde procede o projeto. Em relao Lei de Incentivo no 1.872, de 17 de julho de 1998, desse estado, no foi possvel levantar sua regulamentao. Assim, acredita-se que essa lei ainda no esteja em vigor.As experincias de legislao voltadas para a implementao de fundos pblicos nesses quatros estados so recentes e ainda em fase inicial, demandando aprimoramentos e avanos para se consolidarem.As legislaes mais antigas de fundos pblicos nos estados brasileiros mostram a legislao pertinente ao fundo concebida na estrutura da lei de renncia fiscal e, nesse caso, os resultados j se mostram mais consolidados, como ocorre na Lei Jereissati no Cear (Lei no 12.464, de 29 de junho de 1995)

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    e na de So Paulo (Lei no 8.819, de 10 de junho de 1994). Ambos os estados tambm buscam conceber outras legislaes de fundos mais abrangentes e especficas, mas que ainda se encontram em discusso no Legislativo: no Cear, como lei; e em So Paulo, como projeto de lei, por isso no figuram no Quadro 1.Na legislao de incentivo cultura, em vigor, no estado de So Paulo (LIC), dois pontos merecem destaque. Primeiro, verifica-se que o nico estado brasileiro em que a representao do setor pblico na comisso que avalia os projetos a serem executados compreende a indicao de tcnicos com notoriedade em cada uma das reas, como ocorre nas outras leis para os representantes do setor privado e no para os do setor pblico que, em outros estados, so indicados pelos cargos pblicos que ocupam em entidades da rea da cultura. A proficincia e a capacitao adequada voltada para o setor cultural no necessariamente so uma condio para integrar a comisso de avaliao de projetos na maioria dos estados. A condio a ocupao de cargos pblicos na rea da cultura e fora dela, em rgos e entidades de outras reas, como Fazenda, Planejamento, Cincia e Tecnologia, Esportes, entre outras. Segundo, que da mesma forma como ocorre, mais recentemente, na legislao em vigor no estado de Pernambuco, tambm em So Paulo percentuais de aplicao de recursos por reas culturais so definidos na legislao e incidem sobre o montante global definido para o fomento cultura em cada exerccio financeiro. Ainda quanto ao primeiro aspecto pontuado, observa-se que no estado do Paran, a despeito das dificuldades no processo de implementao da legislao estadual de incentivo cultura, tambm a representao volta-se para a instalao de cmaras setoriais por reas culturais. J em Santa Catarina, a representao na Executiva de

    Apoio Cultura, a representao mais centralizada apenas do setor pblico, de forma paritria entre secretarias de cultura e fazenda.Pernambuco, Piau, Rio Grande do Sul e Gois buscam estruturar o Sistema de Incentivo Estadual Cultura. Em Pernambuco e no Rio Grande do Sul essas experincias, iniciadas respectivamente em 1993 e 1998, so bastante ricas e encontram-se consolidadas em termos dos resultados alcanados. As de Gois e Piau so relativamente mais recentes. O Piau promulgou em 8 de setembro de 2004 o Sistema de Incentivo Estadual Cultura (SIEC). O Sistema possibilitar o investimento mensal de R$ 100 mil em projetos culturais. O recurso provm do Fundo e da Lei de Incentivo Cultura do Estado, por meio de iseno fiscal. O SIEC tambm prev a aplicao de 30% dos recursos destinados cultura em projetos do interior do estado. J em Gois, o programa Goyazes de 10 de maio de 2000 e ainda trilha seus primeiros passos de funcionamento.O Distrito Federal, embora tenha sua estrutura legal de fomento cultura fundamentada em impostos distritais, foi includo pela pesquisa nas partes relativas aos estados, por se constituir em uma Unidade da Federao no mesmo patamar poltico das esferas estaduais.Segundo informaes disponibilizadas por Terra (2005), a Lei no 158, de 29 de julho de 1991, e demais decretos de regulamentao foram extintos; atualmente, no mbito do Distrito Federal, est em vigor a Lei Complementar no 267, de 15 de dezembro de 1999, que dispe sobre a criao do Programa de Apoio Cultura (PAC), que criou o Fundo da Arte e da Cultura (FAC) e foi regulamentado pelo Decreto no 21.251, de 12 de julho de 2000, que posteriormente foi alterado pelo Decreto no 23.213, de 9 de setembro de 2002. O FAC possui como fontes de recursos contribuies mensais do ramo de atacadistas, que so empresas

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    que fazem opo pelo Termo de Acordo de Regime Especial, e receita das bilheterias dos espaos culturais da Secretaria de Cultura do Distrito Federal. O Fundo conta hoje com um oramento anual da ordem de R$ 7 milhes e desde sua criao tem executado 100% de seu oramento, tendo apoiado at hoje um total de 1.356 projetos culturais, no valor de R$ 21,88 milhes.No Cear, a Lei de Incentivo Cultura permite aos empresrios investir em projetos culturais mediante transferncia de recursos financeiros, deduzindo mensalmente at 2% do ICMS devido. A Lei Jereissati criou, tambm, um fundo para incentivo e financiamento de atividades culturais tradicionalmente no-absorvidas pelo mercado formal. O Fundo Estadual de Cultura (FEC) financia especialmente projetos na rea de patrimnio, produes de grupos populares e associaes comunitrias.Em Pernambuco, segundo Melo (2005), a experincia mostra que a implantao do incentivo cultura passou por trs fases. Uma primeira, de 1993 a 2000, sob a vigncia da Lei no 11.005, de 20 de dezembro de 1993, que criou o Sistema de Incentivo Cultura (SIC), composto de dois mecanismos financiadores: o Fundo de Incentivo Cultura (FIC) e o Mecenato de Incentivo Cultura (MIC). O FIC, administrado pelo Banco do Estado de Pernambuco (Bandepe), era composto por receitas do oramento do estado e doaes de governos e empresas e financiava at 80% do valor dos projetos aprovados a taxas de juros de 3% ao ano, atualizao monetria pela TJLP e prazos de seis a dez anos. Alguns projetos, como os de melhoria de acervo de museus e bibliotecas pblicas, chegaram a ser financiados a fundo perdido. Nos projetos apoiados pelo MIC os financiadores possuam trs opes: doao, patrocnio e investimento. Nessa primeira fase, a poltica de incentivo cultura em Pernambuco era definida pelas grandes

    corporaes, sendo que o gargalo era grande, muitos projetos eram aprovados e poucos incentivados. No segundo momento, definido como de integrao e controle, o estado procurou construir uma poltica de incentivo com os empreendedores culturais, menos projetos passaram a ser aprovados e aumentou o nmero de empresas incentivadoras, atingindo empresas menores. O terceiro momento, iniciado segundo explicitao de denncias sobre distores e falhas do mecenato, de negociao do Executivo estadual com produtores e com a Assemblia Legislativa para a modificao do sistema, culminou com a edio da Lei no 12.310, de 19 de dezembro de 2002, regulamentada pelo Decreto no 25.343, de 31 de maro de 2003. Posteriormente, essa lei foi alterada pela Lei no 12.629, de 12 de julho de 2004, e o Decreto no 25.343/2003 foi alterado pelo Decreto no 26.321, de 21 de janeiro de 2004, e pelo Decreto no 27.101, de 9 de setembro de 2004, que possibilitaram a unificao dos mecanismos, mediante a instituio do Funcultura, com o governo estadual assumindo a responsabilidade pelo financiamento cultura em Pernambuco. A Lei no 12.310/2002, alm de instituir o Funcultura, cria duas comisses, sendo que a Comisso Deliberativa tripartite, institui o plano de mdia nos projetos, destina 1% dos recursos para a administrao do Funcultura e cria o sistema de fiscalizao do Fundo. J a Lei no 12.629/2004 inclui duas novas reas culturais (artes integradas e formao e capacitao), extingue a isonomia de recursos para as duas comisses, prev a apresentao de lista trplice para cada vaga na Comisso Deliberativa por seus prprios membros. Outras mudanas que o novo sistema trouxe foram a garantia de financiamento dos projetos aprovados, o maior controle por parte do estado, a exigncia de prestaes de contas parciais e a definio de limites

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    de valores para projetos de cada rea e categoria, a fixao de pisos e tetos para o montante de recursos destinados a cada rea, bem como a introduo de critrios de mrito no processo de avaliao dos projetos, como tambm ocorre em Minas Gerais, segundo o edital de 2005.Em Minas Gerais, os critrios de avaliao dos projetos apresentados mostram grandes avanos e so agrupados em trs categorias: a) eliminatrios, que prevem a desclassificao de projetos que no tiverem carter estritamente cultural ou no se enquadrarem em uma das reas previstas em lei ou no se destinarem exibio, utilizao ou circulao pblica de bens culturais; b) tcnicos, que se referem: em primeiro lugar, exemplaridade da ao e seu reconhecimento e considerao como modelo, em sua rea artstico-cultural, por seu conceito e contedo, por seu conjunto de atributos tcnicos e pela possibilidade de preencher alguma lacuna ou suprir carncia constatada; em segundo, ao potencial de realizao, que compreende a capacidade de o empreendedor e demais profissionais envolvidos realizarem, com xito, o projeto proposto, comprovada mediante currculos, documentos e materiais apresentados; em terceiro, adequao da proposta oramentria e viabilidade do projeto, o que compreende a especificao detalhada dos itens de despesas do projeto e sua compatibilizao com os preos de mercado; c) de fomento, que se referem descentralizao do acesso, descentralizao da produo, ao efeito multiplicador do projeto, acessibilidade do projeto ao pblico, valorizao da memria e do patrimnio cultural material e imaterial do estado de Minas Gerais, permanncia da ao, ao incentivo formao, capacitao e difuso de informao e ao incentivo pesquisa (Minas Gerais, Edital 2005, p. 6 e 7). tambm a Lei de Minas Gerais que permite os recursos destinados aos projetos apresentados pelas entidades da Administrao Pblica Indireta

    Estadual, que desenvolvem atividades relacionadas com a rea artstico-cultural, bem como por pessoas jurdicas de direito privado sem fins lucrativos, criadas com a finalidade de dar suporte a museu, biblioteca, arquivo ou unidade cultural pertencente ao Poder Pblico, no podem exceder a 35% (trinta e cinco por cento) da parcela da receita do ICMS disponibilizada anualmente pelo estado para projetos culturais. O estado considera essa forma de competio vlida, desde que qualquer projeto do Poder Pblico concorra de forma igualitria com os demais projetos apresentados por particulares. No entanto, o que tem ocorrido na realidade a substituio dos recursos diretos que o estado deve repassar a essas instituies pelos recursos obtidos pela lei de incentivo (BARACHO; TRRES, 2001).J o Acre considera, para os projetos em cultura e desportos no mbito do Fazendo Cultura, os critrios de viabilidade; oramento; originalidade; continuidade das aes; gerao de renda; firmao de parcerias e foco em pblicos especficos (indgenas, ribeirinhos, portadores de necessidades especiais, vulnerabilidade social, sendo facultada aos proponentes tambm a explanao pblica do projeto apresentado).No Rio Grande do Sul, a Lei no 10.846, de 19 de agosto de 1996, institui o Sistema Estadual de Financiamento e Incentivo s Atividades Culturais, modificada pelas Leis no 11.024/97, no 11.137/98, no 11.598/2001 e no 11.706/2001, regulamentadas por diversos decretos, sendo o ltimo o Decreto no 42.219/2003. Como em outros estados, a lei inicial e suas alteraes subseqentes possuem como base o ICMS. A empresa pode compensar at 75% do valor aplicado com o ICMS a recolher, at o limite de 3% do saldo devedor de cada perodo de apurao. No caso de empresa de economia mista, a compensao pode ser de 90%. Os outros 10% ou 25% constituem-se na contrapartida da empresa, sem iseno fiscal, o que, na verdade,

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    representa pouco diante das vantagens aferidas. Como j argumentado anteriormente, a associao da empresa a projetos culturais intensifica sua imagem institucional e constitui um diferencial no mercado. Fixa a marca e confere uma imagem de atualidade, j que h efetiva participao no desenvolvimento cultural da comunidade. Uma lei de iniciativa do governador do estado fixa, anualmente, o montante global que pode ser utilizado em aplicaes culturais no RS. Esse valor deve ser equivalente a, no mnimo, 0,5% da receita lquida. Os projetos podem ser inscritos durante todo o ano fiscal. As avaliaes coletivas de projetos, realizadas a cada trs meses, evitam acmulos de tarefas em determinados perodos nas comisses de avaliao, como ocorre nos estados onde a inscrio se realiza por meio de editais anuais. Dois conjuntos de diretrizes so considerados na avaliao dos projetos.Inicialmente, em 30 dias, contados da data da inscrio, o Setor de Anlise Tcnica (SAT) analisa o seu interesse pblico, em seus aspectos tcnicos e legais, como: clareza da proposta; adequao entre objetivos e metas; exeqibilidade, considerada a estratgia proposta; viabilidade econmica e financeira; pertinncia dos custos em relao ao mercado, projetos semelhantes e edies anteriores da proposta; forma de distribuio e comercializao dos bens e servios culturais produzidos; currculos do proponente e equipe; adequao s finalidades do Sistema LIC; contrapartida em bens e servios culturais destinados Secretaria de Estado da Cultura; observncia de outros aspectos normatizados na legislao em vigor; repercusso na sociedade e benefcios sociais resultantes e auto-sustentabilidade progressiva do projeto. Os projetos aprovados nessa primeira etapa so enviados ao Conselho Estadual de Cultura. Nesta instncia, um conselheiro faz a primeira anlise e recomenda ou no o projeto. Depois, em reunio

    coletiva, so escolhidos os projetos a serem incentivados de acordo com os seguintes critrios: mritos relativos qualidade e abrangncia dos projetos; coerncia com as finalidades do Sistema e as diretrizes e prioridades para o desenvolvimento cultural do estado estabelecidas pelo Conselho Estadual de Cultura, poltica cultural do estado; montante mximo de recursos definido pelo secretrio de Estado da Cultura, como passvel de captao, para o ms; local de origem e de execuo dos projetos, de modo a distribuir os benefcios em todo o territrio do estado; reas e segmentos culturais, evitando privilegiar um em detrimento de outro; no-concentrao de recursos ou de projetos num mesmo beneficirio.No Piau, as aes governamentais de incentivo cultura concentravam-se na Secretaria de Cultura do Estado, at 1975. A partir de ento, foram criadas mais duas instituies, com atuaes especficas: a Fundao Cultural do Piau (Fundac), com atuao principalmente no resgate das manifestaes folclricas e da memria do estado, e a Fundao de Assistncia Geral aos Desportos do Piau (Fagepi), com o objetivo de fomentar o esporte piauiense nas mais diversas categorias. Em 1997, foi criada a Fundao Estadual de Cultura e do Desporto do Piau (Fundec), pela fuso da Fundac e da Fagepi. Em 2003, houve a separao das fundaes, criando-se ento a Fundao Estadual de Esportes do Piau (Fundespi) e a Fundac. verificam-se dois componentes importantes nesse estado em relao ao Sistema Institucional da Cultura: relativa vinculao com as reas de desporto e turismo, e entidades da administrao indireta em posies importantes na conduo da ao pblica de cultura no estado. Especificamente quanto legislao de incentivo, recente a Lei no 5.405, de 8 de setembro de 2004, sendo que outras tentativas anteriores no foram regulamentadas e no entraram em operao. Estima-se que a legislao

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    atual do Sistema Estadual de Incentivo Cultura no Piau (SIEC) possibilitar o investimento mensal de R$ 100 mil em projetos culturais. O recurso provm do Fundo e da Lei de Incentivo Cultura do estado, mediante iseno fiscal. O SIEC tambm prev a aplicao de 30% dos recursos destinados cultura em projetos do interior do estado; os projetos culturais so elaborados pelos artistas da regio e analisados pelo Conselho Deliberativo do SIEC. Este Conselho, presidido pela Fundac, formado por dez membros, com a participao de artistas, professores universitrios, entre outros representantes da sociedade civil.Gois o nico estado onde o Sistema Institucional da Cultura tem como rgo mximo a Agncia de Cultura Goiana Pedro Ludovico Teixeira (Agepel), j no mbito de um processo de reforma do Estado brasileiro voltado para parcerias com a iniciativa privada. A Lei no 13.613, de 11 de maio de 2000, conhecida como Lei Goyazes, foi o principal mecanismo de apoio s iniciativas culturais criado pelo governo do estado, pela Agepel. Resultado de um trabalho de pesquisa realizado em todo o Pas por comisso especialmente nomeada pelo governo de Gois, a Lei procurou adequar-se realidade do estado e produzir o que h de mais moderno e abrangente em termos de normatizao do incentivo produo cultural. Na Lei Goyazes, os projetos culturais podem ser protocolados nos dez primeiros dias teis dos meses de janeiro, abril, julho e outubro, fixados os limites de cem projetos em cada perodo de recebimento, perfazendo um total de quatrocentos projetos por ano. Esto previstas as aes de apoio cultural, crdito cultural, mecenato, benefcios fiscais e participao do estado em projetos e empreendimentos conjuntos. Para evitar a cumulatividade de incentivos e benefcios em relao ao mesmo projeto cultural, a Lei Goyazes exige que esses recursos somados no sejam superiores ao valor de custo do projeto,

    considerando nessa cumulatividade o apoio financeiro recebido diretamente da Agepel e de outras leis de apoio e incentivo cultura. Quanto a esse aspecto, cabe ressaltar que a institucionalizao de um cadastro nacional de empreendedores culturais e seus respectivos projetos culturais se mostra como a nica opo que possibilitaria o controle da referida cumulatividade. At o presente momento, os mecanismos e instrumentos existentes e em operao no Pas no permitem fazer o levantamento por esferas da administrao pblica, no governo federal, nas unidades da Federao (estados e Distrito Federal) e nos municpios onde existem leis de incentivo em que os projetos esto inscritos, so aprovados e recebem recursos pblicos ou privados. Um esforo de formao de uma base de informao contnua, atual e integrada em relao a cadastro de proponentes, de projetos e de prestao de contas compreende uma das grandes tarefas para o Sistema Nacional de Informaes Culturais no que se refere ao incentivo cultural mediante renncia fiscal no Pas.No que se refere movimentao financeira, tanto os recursos oramentrios quanto os de incentivo pelo conjunto das leis estaduais de incentivo cultura e outros mecanismos de apoio somam, em valores de 2004, R$ 846,0 milhes e R$ 314,7 milhes, respectivamente. Observa-se que o ltimo valor inferior R$ 235,0 milhes do valor potencial das estimativas e projees da renncia na esfera estadual, pressupondo a incidncia de 0,5% na receita lquida da arrecadao do ICMS, conforme art. 216, 6o (CF, Emenda Constitucional no 42, de 19 de dezembro de 2003), que atinge R$ 549,77, conforme volume 1 dos resultados da pesquisa sobre Leis de Incentivo (SESI 2005).

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    Fonte: Dados Bsicos: Secretarias Estaduais de Fazenda, Balanos Gerais; Secretarias Estaduais de Cultura: Pesquisa.Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa.1 valor estimado para 2005.2 valor previsto no projeto de lei para 2005, sujeito reviso e a alteraes.

    Cabe reiterar que a hiptese principal que norteia a formulao da pesquisa e a elaborao do estudo de que o novo modelo de financiamento das atividades culturais, mediante leis de incentivo cultura, inaugurado pela Lei Rouanet, necessita de aperfeioamentos. Isso consensual nos mais diversos fruns nos quais se discute a cultura brasileira, como tambm caminhos e solues apontados passam pelas esferas subnacionais e

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    pela implantao, divulgao e aprimoramento de mecanismos de incentivos fiscais nas instncias estaduais e municipais. Nessa linha de enfoque, so considerados a seguir alguns resultados da legislao de capitais.Os municpios de Manaus, Porto velho, Boa vista, Fortaleza, So Lus e Campo Grande no foram includos, pela no-obteno das informaes a despeito dos diversos contatos por e-mail, correio e telefone. Conforme Moreira de Lemos (2005), o municpio de Macap no dispe de Lei de Incentivo Cultura, estando em fase de elaborao. Tambm em Palmas, a legislao de incentivo cultura est em fase de estudo preliminar. A Secretaria Municipal de Cultura de Palmas, no Tocantins, informou que encaminhou ao Legislativo Municipal projeto de lei que contempla o Fundo Pr-Cultura do Municpio de Palmas. Este fundo ter como base aportes financeiros do governo municipal no montante de 3,5% do total arrecadado de ISS, ITBI e IPTU, cuja estimativa para o exerccio de 2005, caso j institudo o FpC, alcanaria R$ 750 mil no ano (ROCHA, 2005).Assim, a despeito dessas informaes preliminares, tambm Macap e Palmas no foram includas. Somando-os aos seis anteriores, temos oito municpios que no foram considerados no estudo. Todavia, mediante levantamento de informaes em fontes secundrias, desses oito, apenas Fortaleza, So Lus e Campo Grande possivelmente possam apresentar mecanismos de fomento cultura. Nos restantes, Manaus, Porto velho, Boa vista, Macap e Palmas, no existem leis de incentivo cultura.

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    Nos municpios de capitais, verifica-se que apenas em nove existe a Lei de Incentivo. So eles: Macei, Salvador, Natal, Aracaju, vitria, Rio de Janeiro, So Paulo, Florianpolis e Goinia. Em Cuiab e Porto Alegre existem a Lei de Incentivo e a Lei de Fundo, em separado. Em Curitiba, Belo Horizonte e Teresina verifica-se que na Lei de Incentivo existem artigos e pargrafos que dispem tambm sobre a existncia de fundos (Quadro 3).

    Fonte: Dados Bsicos: Prefeituras.Elaborao: Instituto Plano Cultural Diretoria de Pesquisa.*Legislao ainda no-regulamentada ou em fase de regulamentao.

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    Em Aracaju, a Lei Municipal de Incentivo Cultura no 1.719, de 18 de julho de 1991, foi criada com a finalidade de estimular a produo cultural e as artes nas diversas reas. Segundo Sampaio (2005), ela permite aumentar a quantidade e a qualidade das produes artsticas locais, reduz as relaes clientelistas do municpio com os artistas, proporciona a abertura do mercado de trabalho para artistas e produtores culturais nas diversas reas de atuao, amplia o acesso da populao aos eventos artsticos e culturais, contribuindo para a formao de pblico.Os beneficirios diretos, que podem se inscrever na lei, so os produtores culturais, artistas, entidades e associaes culturais e artsticas com ou sem fins lucrativos, estudantes, professores, desde que domiciliados em Aracaju e sem vnculo empregatcio com a prefeitura (SAMPAIO, 2005).Os projetos culturais para a Lei de Aracaju podem ser elaborados nas reas de msica e dana, teatro e circo, cinema, fotografia e vdeo, literatura, artes plsticas, grficas e filatelia, folclore e artesanato, acervo e patrimnio histrico e cultural, podendo compreender uma ou mais reas.Pela Lei no 1.719/91, a Comisso de Averiguao, Avaliao e Aprovao (CAAA), que aprecia os projetos inscritos, formada por oito membros, sendo um representante das artes cnicas; um da msica; um das artes visuais; um da literatura; um das quadrilhas juninas; o secretrio municipal de Educao; o secretrio municipal de Finanas; e o presidente da Funcaju. Essa comisso avaliar os projetos considerando critrios como o alcance social da proposta e sua relao custo-benefcio. O resultado da avaliao comunicado ao artista mediante expediente oficial.Para os projetos aprovados, sero emitidas declaraes que credenciaram os proponentes para iniciar a captao do recurso com as empresas

    patrocinadoras, no-inscritas na dvida ativa dos tributos municipais.A Lei Municipal de Incentivo Cultura de Aracaju permite que uma empresa repasse para os projetos apenas 20% do total do valor que pagaria de impostos aos cofres municipais. Existe abertura na legislao para as empresas serem doadoras, patrocinadoras ou investidoras diretas. O doador o contribuinte que doa 20% do total do valor do imposto que ele pagaria prefeitura. Sendo doador, no poder ter nenhum tipo de promoo publicitria nem nenhum retorno financeiro no produto final do projeto. O patrocinador aquele que repassa, mediante renncia fiscal, 70% dos 20% estabelecidos pela lei. Os 30% restantes so contrapartidas a serem acrescentadas pelo incentivador. Isso lhe dar o direito de promoo publicitria e retorno institucional. O investidor o contribuinte que repassa 50% dos 20% da lei e o restante equivale contrapartida de recursos prprios. Com isso, poder participar dos resultados financeiros do projeto.O artista pode desempenhar tambm o papel de empreendedor em seu projeto. S permitida a inscrio por edital de um projeto por pessoa fsica ou jurdica. Para o incio da execuo do projeto, a legislao recomenda que esta deve ocorrer aps a captao de, pelo menos, 50% dos recursos.Em Belm, a legislao para a rea da cultura ampla, envolvendo promulgao de legislao ordinria para fixao de dias e semanas de comemorao de determinada data, para realizao de emprstimos com o BNDES, para criao de conselhos e de programas, alm da legislao mais especfica referente ao incentivo cultural no bojo do IPTU e do ISS arrecadados no municpio. possvel observar que a redao, o contedo das leis ordinrias voltadas para a rea cultural do municpio de Belm completo, abrangente e

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    formulado em detalhes. Merece destaque o Pr-Arte, voltado para a rea de artesanato e folclore, alm do Fundo Monumenta (Lei no 8.295, de 30 de dezembro de 2003), divulgado e regulamentado prioritariamente pelo municpio de Belm; bem como a Lei no 7.850, de 17 de outubro de 1997, conhecida como T Teixeira e Guilherme Paraense, que dispe sobre incentivo fiscal para realizao de projetos culturais ou esportivos, amadores, no mbito dos impostos IPTU e ISS, do municpio de Belm, tendo sido regulamentada em 2000 e a partir da encontra-se em funcionamento mediante editais anuais. Informaes relativas ao desempenho fsico-financeiro dessa lei municipal no foram disponibilizada